O documento defende que as pessoas têm direito de propriedade sobre seus próprios órgãos e, portanto, deveriam ter o direito de vendê-los voluntariamente. Legalizar o comércio de órgãos traria benefícios como aumento da oferta, redução de preços e fim do tráfico ilegal, ao mesmo tempo em que não obrigaria ninguém a vender. Proibir a venda significa que o Estado exerce propriedade parcial sobre os órgãos das pessoas.
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Título original
07. [J. M. THEODORO] Seus Órgãos São Seus e Não Do Estado (Crticidade Voraz)
O documento defende que as pessoas têm direito de propriedade sobre seus próprios órgãos e, portanto, deveriam ter o direito de vendê-los voluntariamente. Legalizar o comércio de órgãos traria benefícios como aumento da oferta, redução de preços e fim do tráfico ilegal, ao mesmo tempo em que não obrigaria ninguém a vender. Proibir a venda significa que o Estado exerce propriedade parcial sobre os órgãos das pessoas.
O documento defende que as pessoas têm direito de propriedade sobre seus próprios órgãos e, portanto, deveriam ter o direito de vendê-los voluntariamente. Legalizar o comércio de órgãos traria benefícios como aumento da oferta, redução de preços e fim do tráfico ilegal, ao mesmo tempo em que não obrigaria ninguém a vender. Proibir a venda significa que o Estado exerce propriedade parcial sobre os órgãos das pessoas.
dinheiro, numa transação voluntária. Em outras palavras, significa ser a favor do direito de propriedade dos indivíduos sobre seus órgãos. Se todo direito deve ser ético, então será por meio da Ética que se justificará ou não um direito. Assim, devemos verificar se o direito dos indivíduos sobre seus órgãos é eticamente legítimo. Minha abordagem terá como base a Ética Argumentativa de Hans-Hermann Hoppe, segundo a qual existe uma ética implícita no próprio ato de argumentar. Em seguida, faremos uma abordagem consequencialista. Toda argumentação, invariavelmente, tem a autopropriedade como pressuposto. Negar tal premissa levaria a uma contradição performativa, isto é, sua negação reivindicaria necessariamente sua validade. É impossível negar ser dono do próprio corpo sem, no entanto, admitir isso como verdadeiro através do ato mesmo de usar o corpo. Toda argumentação também possui como pressuposto o respeito aos corpos dos outros: dizer, no curso de um litígio, "eu não respeito seu corpo" é tão contraditório quanto dizer "eu não estou falando". Sem esse respeito, sequer haveria discussão. Vê-se, portanto, que existem regras implícitas no próprio ato de argumentar, de modo que qualquer outra regra que seja criada deva ser compatível com as já aceitas, caso contrário se estaria caindo numa autocontradição. Assim, se o sujeito tem direito de propriedade sobre seu corpo, ele o tem sobre seus órgãos, podendo fazer com eles o que quiser, desde que não agrida a propriedade de outros indivíduos. Por conseguinte, o comércio de órgãos é uma atividade eticamente legítima, e impedi-la com ameaça do uso de força caracterizaria uma agressão contra indivíduos pacíficos, uma ação antiética, um crime. Ainda que o comércio de órgãos trouxesse consequências ruins, o que não é o caso, nada daria a ninguém o direito de se intrometer nesse tipo de troca voluntária entre dois sujeitos pacíficos usando violência física para obstruí-la. Qualquer um que fizesse isso seria um criminoso. A Ciência Econômica nos ensina que qualquer tipo de controle de preços é pernicioso, e é isso que acontece no mercado de órgãos: o preço destes é artificialmente reduzido a zero, o que leva à queda drástica da oferta desse bem, não alterando, porém, sua demanda. Como sucederia com qualquer outro bem ou serviço nessas condições, seu preço se eleva de maneira descomunal. Num tal arranjo, o roubo e o tráfico de órgãos tornam-se práticas viáveis e atraentes, porquanto a lucratividade é altíssima, e cria-se escassez artificial de órgãos para os necessitados, já que as doações são insuficientes e ninguém venderia um órgão por zero reais. Com a liberação desse comércio, a oferta de órgãos aumentaria, diminuindo seu preço, e o tráfico seria eliminado, por tornar-se inviável. Além disso, haveria, por parte das empresas responsáveis pela venda de órgãos, um incentivo para que as pessoas vendessem os seus. Isso favoreceria a empresa, as pessoas que queriam vender seus órgãos e os compradores destes, que gozarão melhor qualidade de vida ou escaparão da morte. A liberação desse mercado não obrigaria ninguém a vender seus órgãos, mas traria às pessoas uma nova opção segura para salvar-se de uma crise financeira ou mesmo ajudar um familiar em estado grave de saúde. Há um caso de 2003 em que um pai colocou o rim à venda no eBay para salvar a vida da filha com o dinheiro obtido. Essa transação favoreceu, ao mesmo tempo e sem desfavorecer ninguém, três pessoas: o pai, que salvou a filha, a filha e o sujeito que comprou o órgão. O comércio legal de órgãos não impediria doações, tal como o comércio de alimentos também não estorva as doações de alimentos. As listas de espera para transplante de órgãos doados continuariam existindo, mas diminuiriam de tamanho, uma vez que os mais ricos prefeririam comprar logo seus órgãos a sofrer o suplício da espera indefinida. Mas mais interessante que essa sucinta análise dos benefícios da liberação do comércio de órgãos é observar o pressuposto adotado por aqueles que rejeitam essa liberdade: se o estado pode proibir um sujeito de vender seus órgãos, isso significa que o estado é parcialmente dono dos órgãos. Quem é contra tal direito está pressupondo isso e defendendo, na verdade, uma socialização dos órgãos das pessoas. Obviamente, não estou me referindo a socialismo aqui no sentido de que os órgãos de todos pertencem a todos, mas sim no de que há socialização dos órgãos na medida em que o estado exerce certa regulação sobre eles em nome de algum "bem coletivo". O estado não só impede-nos de comercializar os órgãos, como também nos proíbe de consumir substâncias que façam mal ao organismo. Isso já representa um nível perigoso de socialismo. No estado do Espírito Santo, de onde escrevo, passou-se uma lei que proíbe os bares e restaurantes de deixarem saleiros sobre as mesas, sob a alegada justificativa de que esse costume estimularia o consumo de sal e, portanto, promoveria a hipertensão. O estado já estatizou os nossos órgãos. Ele já regula o que podemos ou não comer e beber. Os próximos passos serão restringir nossa dieta a uma ração estatal obrigatória, forçar-nos a fazer exercícios físicos diários e, em nome da saúde mental, decidir o que podemos ou não ver, ler e, finalmente, o que não podemos pensar! As perspectivas são essas, mas o curso da história é definido, em última instância, por ideias. Um movimento forte em defesa do direito de propriedade privada deve ser fomentado para revertermos essa tendência lúgubre. Façamos cumprir nosso direito sobre nossos corpos, ou seremos escravizamos para sempre.