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QUESTÃO DISCURSIVA

QUESTÃO

MARIA sofreu assédio sexual no trabalho e ajuizou Reclamação Trabalhista contra o seu
empregador. Como não tinha provas em vídeo, escutas e/ou testemunhas que tenham visto ou
passado por situação semelhante, juntou aos autos prints de WhatsApp, sem que tenha, porém,
obedecido à Privacy By Design e Privacy By Default. Em defesa, o empregador refutou o assédio
mediante alegação de que seu celular houvera sido furtado, o que comprovou mediante
apresentação de boletim de ocorrência lavrado antes do início das conversas assediosas. Ao
receber o processo, em observância ao contraditório pleno e à democracia/cooperação
processual, a juíza consultou as partes acerca da necessidade de ofício à provedora de conexão
para emissão do registro ERB dos dois aparelhos. A Reclamada impetrou mandado de segurança
preventivo para que a juíza não adotasse tal providência. Encerrada a fase instrutória nesses
termos, discorra sobre a viabilidade da utilização dos prints enquanto meio hábil de prova.
MODELO DE RESPOTA

No que tange às provas digitais, os arts. 13 e 15 da Lei 12.965/2014 (Lei do Marco Civil da
Internet) estabelecem que os provedores de conexão e de aplicações devem guardar os registros
de acesso e os dados pessoais dos usuários (por 1 ano e por 6 meses), os quais deverão ser
disponibilizados, por ordem judicial (art. 10, §1º, 13, §§3º e 4º, 15, §1º). Ainda, a Lei 13.709/2018
(LGPD) autoriza o tratamento de dados no exercício de direitos em processos judiciais (art. 7º, VI
e 11, II, “a”).
Quanto aos prints de WhatsApp, por seu turno, a juntada em processo, de acordo com
entendimentos recentes de tribunais, deve obedecer à cadeia de custódia como forma de garantir
sua integridade. Sugere-se, portanto, que a parte se valha da blockchain como forma de observar
a privaxy by design (privacidade desde a concepção) e a privacy by default (privacidade por
padrão).
Em se tratando de uma ofensa que leva em consideração a dignidade sexual da vítima,
temos, porém, que o entendimento deve ser diverso, de modo a não sobrepor o direito processual
ao direito material, especialmente porque, consoante entendimento do STF no julgamento da
ADC19, a Lei 11.340/2.006 inaugurou um microssistema de proteção à mulher e à família.
Logo, em se tratando de tutela da dignidade sexual da mulher, ancorado na tese do
constitucionalismo feminista e, sobretudo, considerando a dificuldade probatória, por se tratar
de lesão intramuros, entendo pela possibilidade de utilização dos prints, máxime porque o valor
probandi do boletim de ocorrência é meramente relativo e a parte Reclamada não pugnou pela
produção de outras provas. Inteligência dos artigos 369, 370 e 400, do NCPC.
PONTUAÇÃO

INTRODUÇÃO arts. 13 e 15 da Lei 12.965/2014 (Lei do Marco


Civil da Internet);

art. 10, §1º, 13, §§3º e 4º, 15, §1º (Marco Civil da
Internet).

Lei 13.709/2018 (LGPD) autoriza o tratamento de


dados no exercício de direitos em processos
judiciais (art. 7º, VI e 11, II, “a”).
DESENVOLVIMENTO Conceitos de privacy by design e privacy by
default;

ADC 19;

Microssistema de tutela à mulher e à família pela


11.340/06;

Violência à dignidade sexual;

Lesão intra muros;


CONCLUSÃO artigos 369, 370 e 400, do NCPC;

Ausência de indícios;

B.O. como prova de valor meramente relativo.

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