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"(...) verá então bruscamente certa Beleza de natureza maravilhosa, aquela que era, justamente,
a razão de ser de todos (...). Verá algo que, em primeiro lugar, é eterno; que não nasce nem
morre; que não aumenta nem diminui; que, além disso, não é em parte feio e em parte belo,
agora belo, depois feio, belo em comparação com isto e feio em comparação com aquilo, belo
aqui e feio ali, belo para alguns e feio para outros. Conhecerá a Beleza que não se apresenta
como rosto, ou como mão, ou como qualquer outra coisa corporal, nem como palavra, nem
como ciência, nem como coisa alguma que exista em outra, como por exemplo, num ser vivo, ou
na terra, ou no céu. Beleza, ao contrário, que existe em si mesma e por si mesma, sempre
idêntica, da qual participam todas as demais coisas belas. Estas coisas belas, que participam da
Beleza suprema, ora nascem, ora morrem; mas essa Beleza jamais aumenta ou diminui, nem
sofre alteração de qualquer espécie".
A Beleza absoluta
Banquete
"De um corpo para dois: de dois para todos os belos corpos; dos belos corpos para as belas
ocupações; destas aos belos conhecimentos, até que, de ciência em ciência, se eleve por fim o
espírito à ciência das ciências, que nada mais é do que o conhecimento da Beleza Absoluta".
Fedro
"Quanto à Beleza, já te disse, ela brilhava entre todas aquelas Ideias Puras, e, na nossa estada
na terra, ela ainda ofusca com seu brilho todas as outras coisas. A visão é, ainda, a mais sutil de
todos os nossos sentidos. Mas não poderia perceber a sabedoria. Despertaria amores
veementes, se oferecesse uma imagem tão clara e distinta quanto aquelas que podíamos
contemplar além do céu. Somente a Beleza tem esta ventura de ser a coisa mais perceptível e
enlevadora".
Belo e bom (kalokagathia)
República
"Não é então por este motivo, ó Gláucon, que a educação pela música é capital, porque
o ritmo e a harmonia penetram mais fundo na alma e afetam-na mais fortemente,
trazendo consigo a perfeição, e tornando aquela perfeita, se se tiver sido educado? E,
quando não, o contrário? E porque aquele que foi educado nela, como devia, sentiria
mais agudamente as omissões e imperfeições no trabalho ou na conformação natural, e,
suportando-as mal, e com razão, honraria as coisas belas, e, acolhendo-as
jubilosamente na sua alma, com elas se alimentaria e tornar-se-ia um homem belo e
bom (Perfeição); ao passo que as coisas feias, com razão as censuraria e odiaria desde
a infância, antes de ser capaz de raciocinar, e, quando chegasse à idade da razão,
haveria de saudá-la e reconhecê-la pela sua afinidade com ela, sobretudo por ter sido
assim educado".
Teoria Aristotélica da Beleza - Harmonia e proporção
Poética
"A Beleza - seja a de um ser vivo, seja a de qualquer coisa que se componha de
partes - não só deve ter estas partes ordenadas mas também uma grandeza que
obedeça a certas condições".
Conduzir o enredo é o principal objetivo da tragédia - imitação das ações e composição dos
atos. A ação e seu nexo, sua trama, constituem a finalidade da tragédia. É necessário então,
assim como em outras artes miméticas, a mimese de um objeto uno. Deste modo, o enredo, já
que é mimese de uma ação, deve imitar uma ação una e inteira, compor as partes de forma a,
transposta uma parte ou retirada, diferir e alterar o todo: pois aquilo cujo acréscimo ou supressão
não traz alteração visível não é parte do todo.
Teoria Plotiniana da Beleza
Contra Aristóteles:
"Todo mundo, por assim dizer, afirma que a harmonia das partes entre si e em relação
ao todo, acrescido de um bom toque de cor, constitui a Beleza para a vista. E, para os
objetos da vista, assim como para todos os demais (objetos), a Beleza consiste em que
sejam harmoniosos e proporcionados. De acordo com isso, só o composto, e não o
simples, é que seria necessariamente belo. Para esses (que acreditam nisso), será belo
o todo, mas as partes, cada uma de per si, não terão beleza alguma, senão enquanto
estejam integrando o todo, para que (assim) sejam belas. E contudo é necessário que,
se o todo seja belo, sejam belas também as partes. Um todo belo não se integra de
partes feias: todas hão de ter aprisionado a Beleza. Além disso, para essas pessoas, as
cores belas, assim como a luz do Sol, sendo, como são, simples e não lhes vindo a
Beleza de harmonia nenhuma (de partes), estariam excluídas da Beleza".
Influências Platônicas
"Uma coisa material bela surge por participação numa ideia saída do divino".
Outra tradução: "o corpo belo surge pela comunicação com um logos vindo dos
deuses".
"Estas têm que ser as emoções que surgem ante qualquer coisa bela: exultação,
arroubo, anelo, amor, deleitável arrebatamento".
"Sendo a alma por natureza o que é e estando muito próxima da Essência
suprema entre os seres, ante qualquer coisa que ela veja pertencer a seu mesmo
gênero ou que possua uma marca de parentesco, regozija-se e se transporta,
atrai-a para si e volta a recordar-se de si e de tudo o que é seu (que pertence à
sua natureza".
Plotino e Kant
"A beleza mesma é conhecida por aquela faculdade da alma que à Beleza está
ordenada, faculdade que não reconhece rival em discernir o que se refere à
Beleza, mesmo quando outra faculdade da alma contribua com um juízo
complementar". (Juízo de gosto?).
- Enunciado cartesiano que de algum modo nos remete a Platão e sua crítica a todo
sensualismo. Porém, em Platão, como acontece também com a temática do corpo nos
Diálogos dos últimos anos, a sensibilidade não será mais excluída e até mesmo se tornará
indispensável para uma vida equilibrada e participa da edificação da sabedoria. O Filebo
reabilitou o prazer, preconizando até a "mistura da inteligência e da sensação", o que antes
era condenado. Ele abre, assim, um novo caminho entre o relativismo heraclítico (o múltiplo)
e o imobilismo eleático (o uno) para louvar a filosofia que une os dois, condicionada apenas
a ser regrada e ordenada. Essa mudança de visão é de extrema importância, pois o corporal
condiciona a vida do sábio que se entrega bastante aos prazeres sensoriais mais diversos:
os visuais (formas e cores), os auditivos (sons harmoniosos) e, até, os gustativos e olfativos,
"ainda que o prazer propiciado pelos odores pertença a um gênero menos divino". A seu
modo, Baumgarten, bastante influenciado por Leibniz, também reabilita o corpo e um
conhecimento dos sentidos.
Barroco
"O barroco é inseparável de um novo regime de luz e das cores. Inicialmente,
pode-se considerar a luz e as trevas como 1 e 0, como dois andares do mundo,
separados por uma tênue linha demarcando os bem-aventurados e os condenados.
Todavia, não se trata de uma simples oposição. Se se instala no andar de cima, em
um compartimento sem porta e sem janela, constata-se que ele é já muito sombrio.
Tintoretto e Caravaggio substituem o fundo branco de giz ou de gesso, que
preparava o quadro, por um fundo sombrio marrom-vermelho; sobre esse fundo,
eles colocam as sombras mais espessas, pintando diretamente e degradando no
sentido das sombras. O quadro muda de estatuto, as coisas surgem do plano de
fundo, as cores brotam do fundo comum que testemunha sua natureza obscura, as
figuras definem-se pelo seu recobrimento mais do que pelo seu contorno". Gilles
Deleuze. A dobra: Leibniz e o Barroco.
Tintoretto - Moisés e Caravaggio - Narciso
- O barroco se interessa por lugares nos quais o que se tem para ver está
dentro: cela, cripta, igreja. Há um jogo, autonomia do interior, um interior sem
exterior e, como correlato, a independência da fachada, um exterior sem
interior.
- Ao se emancipar de regras ou padrões absolutos, imutáveis, o artista busca
efeitos decorativos e visuais através de curvas e contra-curvas,
planejamentos ondulados, movimentação de formas, colunas retorcidas. O
dinamismo na composição aparece na eliminação da linha reta e predomínio
do vertical sobre o horizontal, formas livre e fuga do geométrico.
- Dobra como uma liberação que vai ao infinito. O barroco inventa a dobra
"infinita", seu grande desafio é não findar a dobra. A dobra é a constatação
de que tudo se volta sobre si mesmo, se desdobra, redobra, transforma-se
em outra dobra, de tal modo que uma dobra remete a outras, num processo
sem fim.
Diferenças entre Leibniz e Descartes
- O múltiplo heterogêneo é inseparável de uma continuidade, pois ele não é só
o que tem muitas partes, mas o que é dobrado de muitas maneiras -
diferentemente - Descartes procurou o segredo do contínuo em processos
retilíneos e o segredo da liberdade em uma retidão da alma, ignorando a
inclinação da alma e a curvatura da matéria.
- O erro de Descartes foi acreditar que a distinção real entre as partes trazia
consigo a separabilidade: o que define um fluido absoluto é, precisamente, a
ausência de coerência e coesão, isto é, separabilidade das partes, que, de
fato, só convém a uma matéria abstrata e passiva. (Partes mecânicas)
- "A divisão do contínuo deve ser considerada não como a da areia em grãos,
mas como a de uma folha de papel ou de uma túnica em dobras, de tal modo
que possa haver nela uma infinidade de dobras, umas menores que outras,
sem que o corpo jamais se dissolva em partes ou mínimos". Leibniz. Diálogo:
Paquídio e Filaleto.
- A unidade da matéria, o menor elemento do labirinto é a dobra, não o ponto,
que nunca é uma parte, mas uma extremidade da linha.
- Se duas coisas realmente distintas podem ser inseparáveis, duas coisas
inseparáveis podem ser realmente distintas, pertence a dois andares. (A
distinção real não traz consigo a separabilidade).
O êxtase de Santa Tereza - Gian Lorenzo Bernini - Revela uma mística cheia de
sensualidade
- No limite, como disseram os estóicos, nada é separável ou está separado,
mas tudo conspira, aí compreendidas as substâncias, que conspiram entre si
em virtude dos requisitos.
- Trata-se não de uma variação da verdade de acordo com um sujeito, mas da
condição sob a qual a verdade de uma variação aparece ao sujeito.
- Ao contrário de Descartes, Leibniz parte do obscuro e do indistinto a partir de
um processo genético. O claro e o distinto não param de imergir no obscuro e
no confuso, toda interrupção é arbitrária. Claro-escuro, distinto-confuso, é o
mais ou menos claro e distinto, tal como o sensível o revela.
Hegel sobre Baumgarten
"Foi Baumgarten quem denominou de estética a ciência das sensações, esta
teoria do belo. Só aos alemães esta palavra é familiar. Os franceses dizem théorie
des arts ou des belles lettres. Os ingleses incluem-na na critic. O princípios
críticos de Henry Home (Lord Kames) gozaram de grande prestígio no tempo em
que este autor publicou a sua obra. Na verdade, o termo não é o mais
conveniente. Já se propuseram outras denominações - "teoria das belas
ciências", "das belas-artes" - que não foram aceitas, e com razão. Empregou-se
também o termo 'calística', mas do que se trata é não do belo em geral, mas do
belo como criação da arte. Conservemos, pois, o termo estética, não porque o
nome nos importe pouco, mas porque este termo adquiriu direito de cidadania na
linguagem corrente, o que já é um argumento em favor da sua conservação."
Hegel. Estética.
Uma nova Ciência
- A novidade da ciência baumgartiana consiste justamente em definir
rigorosamente os campos de atuação da razão e da sensibilidade como
faculdade inferior de conhecimento.
Discurso do Método.
- Porém, mesmo contra o inatismo cartesiano, o tipo de idealismo de que
Baumgarten é partidário não permite a infração da regra que, como que
estabelecida por um desígnio trágico, não assegura àquele que conhece
as leis universais que regem a produção artística o êxito na própria
atividade criadora.
"Uma vez que a psicologia propõe princípios solidamente estabelecidos, não duvidamos nem
um pouco que possa existir uma ciência que dirija a faculdade do conhecimento inferior, ou
ainda, uma ciência do mundo sensível do conhecimento de um objeto”. Baumgarten. Estética
- a lógica da arte e do poema. p. 53.
A dupla capacidade da faculdade inferior – tanto perceptiva quanto produtora
O sensível não é mais apenas aquilo que diz respeito aos sentidos, mas a uma faculdade
complexa que concentra oito aptidões, de funções tanto receptivas quanto criadoras.
"(...) a) agudamente perceber pelos sentidos (...) b) a aptidão natural para fantasiar, que
possibilite ao talento refinado ser rico de imaginação (...) c) a aptidão natural para a perspicácia,
pela qual, através do sentido e da fantasia, etc. todas as coisas devem ser sugeridas, bem como
lapidadas pela sutileza do espírito e pelo talento. (...) d) a aptidão natural para reconhecer e a
memória (...) e) a aptidão poética, exigida em tal monta, que granjeou à classe mais eminente
dos estetas práticos o nome de poetas. (...) f) a aptidão para o gosto fino e apurado e não para o
vulgar. O gosto fino e apurado, juntamente com a perspicácia, será o juiz inferior das
percepções sensíveis, das representações imaginárias, das criações, etc., sempre que for
supérfluo, no que concerne à beleza, submeter cada detalhe ao julgamento do intelecto. g) a
disposição de prever e de pressentir o futuro (possíveis, um certo deslocamento do presente).
(...) h) a aptidão para expressar suas percepções (...)". Baumgarten. Estética - a lógica da arte e do
poema. p. 103 e 104.
As oito habilidades da faculdade inferior
(a - sensus, b - phantasia, c - perspicácia e d - memória): relacionam-se diretamente à
tradição da psicologia da alma, pois resumem-se às características naturalmente perceptivas
da parte meramente receptora dessa faculdade, que não exige qualquer ação.
( e - aptidão poética): capacidade criadora do espírito), (f - a aptidão para o gosto fino ou juízo):
capacidade de julgar entre as perfeições e as imperfeições dos objetos) - tradição da
Poética.
As duas últimas (g e h) - inspiram-se na tradição da Retórica, afinal referem-se às habilidades
semióticas de formulações semânticas a respeitos dos objetos percebidos.
Assim, conclui-se que a faculdade inferior possui dupla função: uma receptora, composta por
quatro habilidades, e outra produtiva, cujas habilidades são também em número de quatro.
São justamente essas funções que conferem à sensibilidade o caráter de conhecimento,
em relação àquilo que é captado pelos sentidos e os efeitos que essas impressões causarão.
Beleza e Perfeição
"A Estética (como teoria das artes liberais, como gnoseologia inferior, como arte
de pensar de modo belo (ajuizar), como arte do análogon da razão) é a ciência do
conhecimento sensitivo". (Parágrafo 1)
"O fim visado pela Estética é a perfeição do conhecimento sensitivo como tal.
Esta perfeição é a beleza". (Parágrafo 14)
A teoria de Baumgarten trata não de uma teoria da arte especificamente (de como um
artista pode consumar a beleza numa produção artística, ou como se compõe,
objetivamente, a beleza), mas, de fato, de uma teoria acerca das operações tipicamente
humanas (psicológicas), internas, envolvidas na percepção, meramente como recepção, de
algo considerado como “belo”. Assim, apesar de admitir a possibilidade de uma beleza
objetiva, que não se limita somente às obras de arte, seu interesse maior é delimitar como
ocorre o conhecimento de uma beleza em modo subjetivo.
O Consenso
Pautadas no conceito de “consenso”, essas condições referem-se,
primeiramente, ao estabelecimento de uma unidade entre as coisas e os
pensamentos a respeito dessas coisas, seguido pela ordenação desse
consenso, e, por fim, sobre o uso de signos para designar essa ordem.
Essas operações humanas de apreensão da beleza, relativas às quatro
últimas aptidões da sensibilidade, devido ao fato de proporcionarem a
formação de associações entre os objetos (conforme as habilidades
específicas do juízo e da semiótica), tornam possível realizar a equiparação
dessa faculdade à razão; por isso é que Baumgarten denomina a Estética
como a “arte do análogon da razão”.
A apreensão sensível em sua forma singular, específica e concreta – o belo.
Devido a essa complexa associação entre o produtivo e o criativo, fica claro que a
percepção estética (cognitio sensitiva) se diferencia de uma mera percepção dos
objetos. Baumgarten funda a percepção estética, chamada, ainda de forma
bastante reducionista, de belo.
Um Racionalismo?
É possível inferir a partir disso que a estética de Baumgarten, apesar de lidar com
a sensibilidade, mantém-se uma teoria decerto racionalista? Sim, pois ele não
reduz o conhecimento da percepção sensível ao campo dos sentidos, como o
fazem os empiristas, mas busca compreender e adequar essa percepção a
processamentos lógicos.
Visto que a faculdade sensível passa a constituir fonte de ciência, com todos os
seus devidos pormenores, e uma vez que toda forma de conhecimento pressupõe a
descoberta de uma verdade, torna-se então possível inquirir a respeito de uma
“verdade estética”. Definida por Baumgarten como sendo “a verdade enquanto
aquela que é conhecida sensitivamente”, nessa teoria, é um dos principais objetivos
do filósofo, ao conceituá-la em analogia com a verdade lógica.
- não se trata de uma simples oposição, há um movimento em
grada ção
- Caravaggio substitue o fundo branco de giz ou de gesso, que
preparava o quadro, por um fundo sombrio marrom-vermelho.
- Sobre esse fundo, ele coloca as sombras mais espessas,
pintando diretamente e degradando no sentido das sombras.
- O quadro muda de estatuto, as coisas surgem do plano de
fundo.
- As cores brotam do fundo comum que testemunha sua natureza
obscura.
- Claro e escuro não apresentam qualquer ideia de oposição, pois eles
formariam uma “unidade harmônica
- a luz intensa da parede não pode advir dos vidros da janela à esquerda da
tela, porque eles estão demasiados embaçados para produzir uma tal
luminosidade
- A luz da parede, intensa e profunda, seria produzida ali mesma, por ela
mesma: ela seria, assim, figuração pictórica da causa imanens, da causa que
não se separa do efeito após causá-lo.
"Para melhor julgar sobre as pequenas percepções que somos incapazes de distinguir
em meio à multidão delas, costumo utilizar o exemplo do bramido do mar, que nos
impressiona quando estamos na praia. Para ouvir este ruído como se costuma fazer, é
necessário que ouçamos as partes que compõem este todo, isto é, os ruídos de cada
onda, embora cada um desses pequenos ruídos só se faça ouvir no conjunto confuso de
todos os outros conjugados, isto é, no próprio bramir, que não se ouviria se esta onda
que o produz estivesse sozinha. Com efeito, é necessário afirmar que somos afetados,
por menos que seja, pelo movimento desta minúscula onda, e que temos alguma
percepção de cada um dos seus ruídos, por menores que sejam; se assim não fosse,
não teríamos a percepção de cem mil ondas, pois cem mil ondas nunca poderiam
produzir alguma coisa. Jamais dormimos tão profundamente, que não tenhamos algum
sentimento fraco e confuso; e jamais seríamos despertados pelo maior ruído do mundo,
se não tivéssemos alguma percepção do seu início, que é pequeno, da mesma forma
como jamais romperíamos uma corda com a maior força do mundo, se ela não
começasse a ser esticada um pouco por esforços iniciais menores, ainda que esta
primeira pequena distensão da corda não apareça."
Essas pequenas percepções, devido às suas conseqüências, são por conseguinte mais
eficazes do que se pensa. São elas que formam este não sei quê, esses gostos, essas
imagens das qualidades dos sentidos, claras no conjunto, porém confusas nas suas
partes individuais, essas impressões que os corpos circunstantes produzem em nós,
que envolvem o infinito, esta ligação que cada ser possui com todo o resto do universo.
Pode-se até dizer que, em conseqüência dessas pequenas percepções, o presente é
grande e o futuro está carregado do passado, que tudo é convergente (symphonia
pánta, como dizia Hipócrates), e que, na mais insignificante das substâncias, olhos
penetrantes como os de Deus poderiam ler todo o desenrolar presente e futuro das
coisas que compõem o universo. Leibniz. Novos ensaios sobre o entendimento humano.
"A divisão do contínuo deve ser considerada não como a da areia em grãos, mas como
a de uma folha de papel ou de uma túnica em dobras, de tal modo que possa haver nela
uma infinidade de dobras, umas menores que outras, sem que o corpo jamais se
dissolva em partes ou mínimos". Leibniz. Diálogo: Paquídio e Filaleto.
O que o sensível revela? Será o corpo capaz de estabelecer conhecimento?
O conceito de gênio: "Gênio é o talento (dom natural) que dá a regra à arte. Uma vez que o
talento, como faculdade produtiva inata do artista, pertence ele mesmo à natureza, poderíamos nos
exprimir assim: gênio é a disposição inata da mente - ânimo (ingenium) através da qual a natureza
dá a regra à arte."O que quer que seja desta definição, e quer ela seja arbitrária ou adequada ao
conceito que estamos habituados a associar à palavra "gênio", ou não, pode-se provar de antemão,
em todo caso, que, de acordo com o significado da palavra aqui assumido, as belas artes devem
ser necessariamente consideradas artes do gênio. (Parágrafo 46) Uma definição muito diferente da
arte como imitação.
O Primeiro Momento (Juízo de gosto segundo a qualidade)(§ 1-5)
Os juízos do belo são diferentes também dos juízos de conhecimento, que são
determinados por “sensações objetivas”, a percepção de que as folhas de uma árvore são
verdes. Nestes juízos, meu interesse é ligar substâncias e propriedades. Por exemplo, a
síntese entre o verde e a folha da árvore pode ser testada e verificada. Já em um juízo
acerca do belo de uma folha ou de uma cor, não se está de forma alguma associando
propriedades e substâncias. Apenas se quer expressar um sentimento que deriva de uma
determinada sensação.
"A faculdade de gosto é independente de todo interesse".
Kant também diferencia esses julgamentos estéticos dos julgamentos acerca do Bem. Juízos acerca da
beleza não pressupõem um fim que um objetivo que deva satisfazer ou alcançar. A “intencionalidade”
dos juízos acerca do belo não se relaciona com o objeto visando obter dele um bem moral qualquer.
Não há porque estabelecer, como fazem alguns comentadores e analistas, que no juízo estético kantiano
existe uma fundamentação moral. Esse terceiro movimento deixa claro a diferença entre os juízos
acerca do belo e os juízos finalistas da intenção moral. Nestes momentos, em que se procura pela
especificidade do juízo estético, kant se esforça em estabelecer uma autonomia para esse tipo de
juízo.
É claro que existe uma semelhança entre o imperativo moral kantiano, de tomar o homem com fim em si
mesmo e não como um meio, e o juízo estético, pois ambos formulam o conceito de “valor-em-si”. Porém
o valor-em-si ético pressupõe um finalismo, o homem como um fim.
Explicação - Terceiro Momento
"Beleza é a forma da conformidade a fins de um objeto, na medida em que ela é
percebida nele sem representação de um fim."
Trad: Valerio Rohden e António Marques
"Belo é aquilo que se conhece, sem conceitos, como efeito de uma satisfação
necessária."
2. O sublime não pode ser medido. Não é especializado ou extenso, pois não pode ser
3. O sublime não é grande. Mesmo que esse objeto fosse “o maior de todos” os objetos
da natureza ainda se poderia imaginar algo maior do que ele, devido à capacidade
alcançável por nenhum objeto da natureza e é sempre maior que qualquer objeto
Portanto, Kant conclui que o sublime não está em nenhuma coisa a não ser no próprio
espírito do homem, na medida em que temos consciência de ser superiores a
natureza, mesmo que ela ameace a nossa existência, podemos nos imaginar fazendo
resistência, e contra isso ela não pode lutar.
Da modalidade do juízo sobre o sublime da natureza - A Necessidade
Aqui se funda, porém, a necessidade da concordância do juízo dos demais sobre
o sublime com o nosso - no qual incluímos essa necessidade. Pois, do mesmo
modo como acusamos de falta de gosto aquele que é indiferente ao julgamento
de um objeto da natureza que achamos belo, assim dizemos, de quem não é
movido por aquilo que julgamos ser sublime, que ele não tem sentimento. Mas
são duas coisas que exigimos de todo ser humano, e nele pressupomos quando
tem alguma cultura; com a diferença, contudo, de que a primeira - em que a
faculdade de julgar só refere a imagem ao entendimento enquanto faculdade dos
conceitos - exigimos diretamente de todos, ao passo que a segunda - em que a
faculdade de julgar refere a imaginação à razão enquanto faculdade das ideias -
exigimos apenas sob uma pressuposição subjetiva (que, no entanto, acreditamos
poder legitimamente esperar de todos), qual seja, a do sentimento moral no ser
humano; e com isso atribuímos necessidade também a esse juízo estético.
Belo clássico - Forma/matéria
Sublime - Força/material.
Tal como na moral, na estética importa descobrir não os fundamentos daquilo que
ocorre, mas leis para aquilo que deve ocorrer, mesmo que jamais ocorra.
Um puro Formalismo?
Espelhando-se unicamente no modelo de validade do imperativo categórico, a
nova doutrina estética correria o risco de desabar num mero formalismo.