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Samuel considera uma economia composta por dois setores: O setor A que realiza
atividades essenciais e o Setor B que realiza atividades não essenciais.
Por simplificação assume-se que cada setor emprega metade dos trabalhadores, que toda a
produção é realizada apenas com trabalho (não há capital) e, portanto, toda a renda gerada
é constituída de salários.
A pandemia do coronavirus, que obriga o governo a adotar medidas de DS para os
trabalhadores do setor não essencial. Imediatamente a produção do setor não essencial é
zerada, o que implica na redução do consumo dos trabalhadores do setor essencial em
50%, devido ao choque de oferta no setor não essencial. Nesse contexto, se a renda dos
trabalhadores não essenciais também for reduzida a zero, então eles não poderão comprar
os bens produzidos pelos trabalhadores do setor essencial, reduzindo assim a demanda
pelos bens essenciais em 50%.
Teremos então um choque de demanda negativo no setor essencial, que fará com que a
renda dos trabalhadores desse setor se reduza em 50%. Em suma, no cenário no qual o
governo fica sentado olhando a crise e não faz nada, temos uma contração de 100% da
renda do setor não essencial e de 50% da renda do setor essencial, uma queda de 75% da
renda da economia no período de duração das medidas de DS.
Supondo que o governo introduza um programa de garantia de renda dos trabalhadores do
setor não essencial, se dispondo a arcar com 100% da renda desses trabalhadores.
Nesta hipótese, os trabalhadores do setor não essencial poderão manter inalterada a sua
demanda por bens produzidos no setor essencial, anulando assim o choque de demanda. A
produção do setor essencial será mantida intacta, de forma que a queda da produção ficará
restrita ao setor não essencial. A queda da produção dessa economia hipotética durante a
duração das medidas de DS será de “apenas” 50%, valor muito inferior ao que ocorreria no
cenário de não intervenção do governo. Isso porque, embora o governo não possa fazer
nada para conter o choque de oferta, ele tem os instrumentos necessários para anular o
choque de demanda.
Em conclusão, não há justificativa de ordem econômica para a redução dos salários dos
servidores públicos. Creio que o pensamento de Pessoa e outros economistas do mercado
financeiro contra os servidores públicos é de natureza estritamente ideológica. É
necessário que se crie uma narrativa de que os servidores públicos são uma casta
privilegiada, para desviar o foco do debate público sobre medidas de reforma tributária
como, por exemplo, a cobrança de imposto de renda sobre lucros e dividendos
distribuídos, a criação do Imposto sobre grandes fortunas e o aumento do IPTU e do ITR.
O discurso de ódio aos servidores públicos é a grande “arma de distração de massas” no
debate econômico brasileiro.