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Por que criar? Criar o quê?

Para quê?
Por Erika Mendel
A criatividade diz respeito à inovação, construção, imaginação,
exploração. Durante toda a história da humanidade o ser humano
buscou se expressar e deixar suas marcas. Da mesma forma, o ser
humano sempre desejou se conhecer, desenvolver, construir.

A arteterapia é o uso da arte como base de um processo


terapêutico que tem como propósito propiciar um
autoconhecimento e facilitação na resolução de conflitos
interiores. Ela é uma forma de terapia expressiva que propicia
reflexão ao mesmo tempo promove criatividade através do
contato com o potencial criativo.
 A criatividade é um potencial inerente ao ser humano, mas que
necessita ser cultivado e desenvolvido, através do uso da
imaginação, do conhecimento, da motivação para criar e do uso
de técnicas para fazer desabrochar o ato criativo, de forma que o
indivíduo realize suas potencialidades como ser humano e traga
uma efetiva contribuição para si mesmo como pessoa, para seu
ambiente mais próximo ou para a sociedade na qual se encontra
inserido. (Virgolim, 1991).
 Para Jung, a criatividade artística era um processo psíquico
natural e estruturante que poderia conceder uma transformação
do inconsciente em manifestação de imagens simbólicas. A
arteterapia de orientação junguiana possui um trabalho
secundário em relação a produção artística. O processo de
produção tem como finalidade oportunizar ao indivíduo uma
compreensão maior sobre as mensagens subliminares referentes
ao material simbólico produzido por ele.
A
Criatividade
como instinto
 Criatividade é um potencial inerente ao ser humano e que Jung
considera como um instinto. Instinto vem do latim instinctu, que
significa impulso. Para a Biologia, instinto é um padrão de
comportamento herdado, peculiar para cada espécie.
Representa uma inteligência no seu grau mais primitivo. Mas
pensando na complexidade do ser humano, a psicologia vai mais
longe. Jung propõe que os instintos são forças motivadoras do
processo psíquico que são movidos por uma necessidade
interior, que se repetem tanto nos comportamentos de uma
pessoa como de um grupo de pessoas.
 Os instintos são formas típicas de comportamento, e todas as
vezes que nos deparamos com formas de reação que se repetem
de maneira uniforme e regular, trata-se de um instinto, quer
esteja associado a um motivo consciente ou não. (Jung, CW 08)
Para Jung, nós temos 5 instintos básicos:

 autoconservação (fome, nutrição);

 Sexualidade (procriação);

 Atividade (ação, luta pela sobrevivência, agressividade);

 Reflexão (religioso e a busca de significado) e

 Criatividade (ligada ao Daimon) e a criatividade.


 Recapitulando, gostaria de frisar que, do ponto de
vista psicológico é possível distinguir cinco grupos principais
de fatores instintivos, a saber: a fome, a sexualidade, a
atividade, a reflexão e a criatividade. (Jung, CW 08, §246)
O instinto de reflexão consiste nas inúmeras associações,
desdobramentos que o ser humano faz automaticamente quando
confrontado com alguma situação, o que leva a uma maior
variabilidade de suas respostas, funcionando como uma espécie de
raciocínio instintivo, que está na base das produções culturais mais
complexas. A partir da reflexão, como consequência a angústia. O
instinto de criatividade se relaciona com instinto de reflexão no
sentido que visa acabar com esta angústia.
 Para Rolando Toro, criador da Biodanza, “Criatividade é uma
atividade que forma parte integrante da transformação cósmica.
Um caminho do caos a ordem”. Jung nos diz que “se você não
tiver absolutamente nada para criar, então talvez crie a si
próprio”. A criatividade é, assim como a função sexual uma
extensão do processo de viver. Rolando Toro compartilha desse
posicionamento:
 Se o ato de viver é uma manifestação sutil do portentoso
movimento de um universo biologicamente organizado e em
permanente “criação atual”, a criatividade humana poderia ser
considerada como uma extensão destas mesmas forças
biocósmicas expressas através de cada indivíduo. Nós somos a
mensagem, a criatura e o criador ao mesmo tempo. (Toro)
 James Hillman denomina “criatividade psicológica” o cultivo da
alma, objetivo maior da terapia.
 Usamos a expressão instinto criativo, porque este fator
dinamicamente, pelo menos à semelhança de um instinto. É
compulsivo, como o instinto, mas não é universalmente difundido
nem é uma organização fixa e herdada invariavelmente. Prefiro
designar a força criativa como sendo um fator psíquico de
natureza semelhante à instinto. …A criação é ao mesmo tempo
destruição e construção. (Jung, CW 8, §245)
 Do ponto de vista biológico, a função criativa é o impulso inato
para expressar a nossa superabundância. Neumann assinalou
que a característica do homem criativo é, precisamente, a
superabundância de sua imaginação. Tal riqueza interior e
abundância de potenciais profundos, existe em todas as pessoas
sendo o artista seria apenas aquele que tem a coragem de
expressar tais potencialidades.
 O artista é um indivíduo que tem a necessidade e a coragem de
frutificar. A vida é superabundância de vida, é riqueza gratuita, luxo e
luxúria. Esta plenitude nasce do conjunto orgânico das energias vitais
desdobrando-se com pleno sentido no mundo. Assim, a criatividade
pode ser exercida em uma conversação, em uma dança espontânea,
no ato sexual, na celebração do desjejum, tanto como nas formas mais
altivas e majestosas da arte universal. O requintado ato de preparar
os alimentos ou de elaborar uma cantata provém da mesma fonte
genética. A assertividade, a percepção seletiva, a liberdade para
induzir mudanças, a fluidez, que são características próprias do ato
criador, são também atributos dos sistemas vivos. (TORO)
 A criação tem, com frequência o aspecto compulsivo da vida.
Biologicamente, a criatividade está presente em nossas células.
Elas sempre encontram uma solução. Embora cada célula tenha
um conjunto de funções únicas (as células do fígado, por
exemplo, podem desempenhar muitas tarefas diferentes), estas
conjugam-se de formas criativas. Uma pessoa pode digerir
alimentos que nunca comeu antes, ter pensamentos que nunca
lhe ocorreram, dançar de uma forma que nunca antes se viu.
 A criatividade irá se expressar em um tripé: arte, ciências e
religiosidade. A criatividade nas artes nos propicia o contato com
o belo, com um aspecto simbólico que é relativo a cada um. A
criatividade na religiosidade nos coloca em contato com o
numinoso, e a criatividade nas ciências nos coloca em relação
com o verdadeiro. A criatividade nos leva em busca deste três
aspectos e que nos possibilita a tentativa de sanar a angústia
iniciada pela reflexão.
 Compreende-se o processo criativo como ativação inconsciente
da imagem arquetípica e sua elaboração e configuração até
atingir uma obra acabada. Sendo assim, a criatividade ocupa um
lugar de fundamental importância para Psicologia Junguiana.
Jung percebia a necessidade de tornar o núcleo criativo do
inconsciente acessível ao consciente - função transcendente. O
símbolo seria então a expressão visível do desenvolvimento
criativo. Para Jung as fontes da capacidade de criação estão
contidas no inconsciente coletivo, de onde emerge o novo.
 A arteterapia junguiana busca agregar ao ato criativo o caráter
revelador do objeto realizado, privilegiando tanto a elaboração
artística quanto a reflexão sobre o simbolismo encontrado nela,
os efeitos no criador reverberam uma identidade específica a
essa modalidade terapêutica
 Para entender as manifestações simbólicas do inconsciente
individual e coletivo, Jung convidava seus pacientes para
desenhar ou pintar o que eles quisessem, a fim de revelar suas
emoções ou conflitos vivenciados. Como o desenvolvimento a
arteterapia, e os recorrentes estudos, podemos e devemos
utilizar de tais recursos na clínica junguiana mas, na prática da
arteterapia, o conhecimento das diferentes técnicas e materiais
e suas aplicações poderão otimizar o processo terapêutico.

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