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Bare minimum monday: por dentro da


tendência que viralizou entre a Geração Z
Por Ana Paula Sousa · 29 mai 2023

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Bare minimum monday: tendência prega realizar menos tarefas às segundas-feiras para diminuir a pressão do início

da semana

Do preguiçoso Garfield com seu café e a clássica frase “Odeio segunda-feira" à

“síndrome da música do Fantástico", quando a vinheta de encerramento do

tradicional programa de domingo faz lembrar que o fim de semana acabou, o

que não faltam são referências sobre o quanto as segundas-feiras podem ser

difíceis para alguns profissionais.


A empreendedora Marisa Jo Mayes conhece bem esse sentimento.

Recentemente, a americana viralizou no TikTok ao compartilhar o seu método

para lidar com a pressão que antecede o início da semana: o bare minimum

monday, ou segunda-feira mínima, em tradução livre do inglês. No vídeo de 30

segundos, Marisa explica que reduz os esforços no trabalho no início da semana,

realizando apenas as atividades essenciais.

O vídeo, que já acumula mais de 100 mil visualizações, não demorou para

viralizar e levar a discussão para redes sociais e manchetes de jornais ao redor

do mundo.

Leia também - Burnout digital, a nova preocupação do RH

O que é o Bare Minimum Monday? E como ele impacta as


empresas e o RH?

Na esteira de outros fenômenos como o “quiet quitting”, que também começou

nas redes sociais, o bare minimum monday surge como uma resposta à cultura

workaholic que impera para muitas pessoas. Em um dos vídeos sobre o tema,

Marisa conta que a segunda-feira mínima começou após pedir demissão de um

trabalho que havia lhe causado burnout.

BareMinimumMonday 🤝 the part of me that's dying to be set free from hustle

culture

Ao se tornar autônoma, ela diz que percebeu que o problema não era a antiga

empresa ou chefe. A raiz do esgotamento e da ansiedade que Marisa sentia às

segundas-feiras estava na ‘cultura hustle’, que prega uma vida apressada e

excessivamente ocupada, além do perfeccionismo. Por isso, mesmo sem chefe,

Marisa sentia que os domingos continuavam assustadores.


Para fugir da pressão de cumprir uma lista infindável de tarefas profissionais,

ela criou o que chama de estratégia de prevenção de burnout, ou seja, fazer o

mínimo de trabalho possível às segundas. A ideia, segundo Marisa, é focar em

duas ou três atividades urgentes do trabalho e intercalá-las com coisas que

façam nos se sentir bem, como meditação e exercícios.

Marisa reconhece, no entanto, que fazer menos na segunda pode gerar acúmulo

de trabalho nos outros dias da semana, incluindo sábados e domingos. Então, é

preciso avaliar prós e contras.

Bare minimum monday e sua relação com a Geração Z

Sylvia Hartman, especialista em novos modelos de trabalho e conselheira de

carreira, explica que a cultura “hustle” surgiu no final da Segunda Guerra

Mundial, como consequência do american way of life. “Ela encoraja o trabalho

árduo e a conquista de bem sociais, associando-os a uma vida feliz”, afirma.

A pandemia de Covid-19, quando muitos profissionais reavaliaram o significado

e o papel do trabalho, e a entrada da Geração Z no mercado de trabalho ajudam

a explicar por que esse modus operandi está sendo questionado.

Isso porque, enquanto millennials estão mais habituados à cultura hustle, os

Genz têm expectativas diferentes em relação ao trabalho e ao que significa

sucesso profissional. São eles, então, os mais propensos a aderir a movimentos

como o bare minimum monday.

O problema, pontua João Pedro Xaubet, head de Inovação & Tecnologia na

APSIS Consultoria, é aderir a movimentos no impulso, sem ponderar prós e

contras. “Cerca de 80% das pessoas que se demitiram em outra grande


tendência que surgiu recentemente, a chamada ‘Grande Renúncia’,

arrependeram-se, segundo um estudo da Paychex, nos EUA.”

Qual é a diferença entre o bare minimum monday e a demissão


silenciosa?

À primeira vista, o bare minimum monday e o quitting parecem a mesma coisa.

Afinal, ambos surgem com o objetivo de aumentar o equilíbrio entre vida

pessoal e profissional e diminuir os impactos negativos do trabalho na saúde

mental.

Mas as semelhanças param por aí. Em resumo, a demissão silenciosa ou quiet

quitting consiste em fazer o mínimo esperado no trabalho de maneira geral: o

objetivo é evitar horas extras e privilegiar a vida pessoal, fugindo da ideia de

viver para o trabalho. Já o bare minimum monday tem como foco reduzir o peso

do trabalho apenas no início da semana.

“Muitos estão confundindo bare minimum monday com não fazer nada neste

dia — e o conceito não é esse. A ideia do movimento está mais ligada a não

iniciar a semana já com uma carga enorme de trabalho e menos com não

trabalhar ou entregar resultados”, diz João Pedro, da APSIS.

Como as empresas podem lidar com o novo movimento

Os especialistas concordam que um passo importante para as empresas é

compreender que a raiz do movimento mora na insatisfação dos profissionais

com o modelo de trabalho vigente. E que, portanto, é preciso investigar como

tornar essa relação mais motivadora e saudável.


“A questão vai muito além das segundas-feiras. Muitos profissionais

desenvolvem suas carreiras em atividades e modelos de trabalho que não

atendem às suas necessidades pessoais. Então suas carreiras são dirigidas pelos

movimentos de mercado, por decisões de empresas e de outras pessoas, e não

representam suas vontades”, diz Sylvia. “É preciso investir em saúde mental e

autoconhecimento para reverter a situação”.

Entre as ações que as empresas podem tomar está ampliar os canais de diálogo

e investir em treinamentos para capacitar as lideranças e prepará-las para lidar

com os anseios dos trabalhadores. Além do principal, que é criar alternativas

que estimulem maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

“Empresas podem repensar os modelos de trabalho, oferecendo mais

flexibilidade tanto de horário quanto de local. Atualmente há diversas formas

de adequar modelos flexíveis sem impactar resultados, cultura organizacional e

colaboração”, diz Sylvia. Nesse contexto, a automação de tarefas repetitivas e

manuais pode ajudar a reduzir a sobrecarga dos trabalhadores e ajudá-los a se

dedicar em tarefas com mais valor e propósito.

João Pedro pontua que o movimento pode ser positivo tanto para colaboradores

quanto para as organizações. Afinal, funcionários com mais equilíbrio entre vida

pessoal e profissional tendem a ter menos impactos negativos na saúde mental,

algo que está ligado com melhores performances e engajamento dos times.

Porém, ele alerta para que os profissionais não utilizem essas tendências de má-

fé. “Os movimentos são genuínos, mas é importante não se aproveitar disso para

simplesmente não trabalhar. Esses movimentos podem jogar luz para questões

de saúde mental, no entanto, as empresas precisam continuar apresentando

resultados”, afirma.

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