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Modelos racionais
Começando com uma definição de decisão como uma escolha entre alternativas,
Simon afirma que a escolha racional, que envolve a seleção de alternativas “que
conduzem à realização de metas ou objetivos dentro de organizações”, é de
importância fundamental para dar significado ao comportamento administrativo.
Isto é, o comportamento administrativo é propositado se for guiado por metas. Em
qualquer organização deve haver vários modos de se atingir metas e, quando
colocado face a face com a necessidade de realizar uma escolha entre
alternativas, o tomador de decisões racional deve escolher a mais apta a alcançar
o resultado desejado. Em suma, então, a tomada racional de decisões envolve a
seleção da alternativa que maximizará os valores do tomador de decisões, sendo
a seleção realizada em função de uma análise compreensiva das alternativas e de
suas conseqüências.
Isto leva a uma segunda dificuldade com a abordagem de Simon, ou seja, o fato
de que pode não fazer sentido se referir às metas de uma organização. Esta
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Há uma quarta dificuldade para se conseguir isto, a saber, como separar fatos de
valores, e meios de fins, no processo de tomada de decisões. O modelo racional
ideal postula a especificação prévia dos fins pelo administrador e a identificação
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dos meios para se atingir estes fins. Simon observa uma série de problemas com
o esquema meios-fins, inclusive o de separar fatos de valores. Como ele discute,
os meios para alcançar fins não são destituídos de valores e uma forma de se
enfrentar isto tem que ser encontrada na tomada de decisões. A solução proposta
por Simon é “Uma teoria de decisões em termos de possibilidades alternativas de
comportamento e suas conseqüências” (p. 66) na qual “A decisão envolve três
passos:
1
NT: bounded rationality, no original, foi traduzido como “racionalidade restrita”.
2
NT: rules of thumb, no original, foi traduzido como “regras de polegar”.
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Incrementalismo
1a Clarificação de valores ou
objetivos distintos da, e geralmente
pré-requisitos, à análise empírica de
políticas alternativas
2a A formulação de políticas é
portanto abordada mediante a análise 4a A análise é compreensiva;
meios-fins: primeiro os fins são cada fator relevante é levado em
isolados, então se procura os meios conta
para atingi-los
4b A análise é drasticamente
limitada:
i) resultados possíveis
importantes são negligenciados
5b Uma sucessão de
comparações reduz grandemente, ou
elimina, a dependência da teoria
Este tema foi retomado muito vigorosamente por Gregory (1989), discordando do
ataque ao “racionalismo” feito por Goodin (1982), e questionando o valor da
adoção de uma abordagem “ideal” que desafie abertamente as realidades
políticas. Na verdade, visto que este é um caso em que questionaríamos o uso da
própria palavra “racionalismo”, a ele retornaremos.
1
NT: A expressão muddling through, usada no original em sentido figurado, significa “alcançar
resultados apropriados sem ter um plano claro ou usando os melhores métodos”.
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2
NT: disjointed incrementalism, no original, foi traduzido como “incrementalismo desarticulado”.
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3
NT: partisan mutual adjustment, no original, foi traduzido como “ajuste mútuo entre partidários”.
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4
NT: Foi mantida a expressão original, que significa “debate livre entre participantes a fim de se
angariar idéias acerca de um dado tema”.
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Este ponto é explorado por Etzioni, que, como Dror, procura um meio-termo entre
a racionalidade e o incrementalismo. Etzioni aceita a força do argumento de que
uma série de pequenos passos poderia levar a mudanças significativas, mas
acrescenta que “não há nada nesta abordagem para guiar a acumulação; os
passos podem apresentar uma trajetória circular - levando de volta ao ponto de
onde começaram - ou dispersos - apontando em várias direções, mas sem chegar
a lugar nenhum” (1967, p. 387). Como alternativa ao incrementalismo, Etzioni
esboça o modelo de tomada de decisões da exploração mista5, um modelo que
ele afirma ser uma boa descrição de como decisões são tomadas em vários
campos e uma estratégia que pode guiar a tomada de decisões.
5
NT: mixed scanning, no original, foi traduzido como “exploração mista”. “Esquadrinhamento misto”
seria também uma tradução aceitável.
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Voltando a Etzioni, uma das questões que precisam ser levantadas sobre a
exploração mista é se as decisões fundamentais são tão significativas quanto ele
dá a entender. Enquanto em algumas situações decisões fundamentais são
importantes na determinação de rumos gerais, em outras situações a tomada de
decisões processa-se de forma muito menos estruturada. Em muitas organizações
e áreas de políticas (policy areas), a ação justifica-se porque “as coisas sempre
foram feitas assim” que por referência a decisões fundamentais que servem como
6
NT: pay-offs, no original, foi traduzido como “rendimentos”.
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contexto para a ação. Quando isto ocorre, impulsos não planejados, mais do que
projetos deliberados, caracterizam o processo de elaboração de políticas; e os
impulsos não planejados podem ser mais comuns do que Etzioni assume.
O Incrementalismo revisitado
Análise estratégica:
vôo cego e vôo cego com
Incompleteza mal escolha informada
semi-estratégias estratégias estudadas e atenciosa de
considerada na
análise, frequente- métodos de
mente embaraçosa A maioria de nós encontra-se nesta simplificação
faixa ampla: alguns aqui em direção do problema
à direita (nós devemos estar nesta faixa)
política e a análise para a política, mas também uma questão filosófica sobre o
que o racionalismo realmente exige numa sociedade democrática. Talvez seja
desastroso que um lado do debate que revisamos aqui tenha tentado adotar esta
palavra ambígua para dar valor a sua própria teoria, desconsiderando, em
particular, a relação entre racionalidade com respeito a fins e racionalidade com
respeito a meios adotados para se tentar atingir aqueles fins (veja Albrow, 1990,
sobre as dificuldades de Max Weber com este conceito).
Lindblom reconhece a força dos argumentos de Etzioni. Até onde o primeiro deles
concerne, em Politics and Markets (Política e Mercados, 1977), Lindblom aceita
que o pluralismo esteja inclinado a favor de certos grupos, particularmente
negócios e empresas. No entanto, ele resiste ao argumento de que o
planejamento centralizado seria um meio preferível de tomada de decisões. Mais
propriamente, Lindblom afirma que os poderes de veto tão prevalecentes no
sistema político dos Estados Unidos, que evitam mesmo mudanças incrementais
ocorrendo em algumas áreas de políticas, precisam ser contestados por
intermédio de uma reestruturação do ajuste mútuo. Especificamente, ele propõe
que planejadores deveriam ser levados à elaboração de políticas para dar uma
voz aos ausentes. O objetivo global deveria ser “a elaboração estratégica de
políticas, tanto analítica quanto inter-ativa, grandemente melhorada” (1977, p.
346).
Do segundo argumento, Lindblom aceita que o ajuste partidário mútuo seja ativo
apenas em questões ordinárias de políticas. Certas questões grandes, tais como a
existência de empresa e propriedade privadas e a distribuição de renda e riqueza
não são resolvidas por ajustes. Contrariamente, devido a “um alto grau de
homogeneidade de opinião” (1979, p. 523), grandes questões não são incluídas
na agenda. Lindblom acrescenta que esta homogeneidade de opinião é
pesadamente doutrinada e em Politics and Markets ele explora a operação daquilo
a que, no capítulo anterior, nos referimos como ideologia. O argumento de
Lindblom é que em qualquer sociedade estável há um conjunto unificador de
crenças que são comunicadas à população por intermédio da Igreja, da mídia, das
escolas e de outros mecanismos (1977, cap. 15). Estas crenças parecem ser
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espontâneas por serem tão largamente aceitas como verdade, mas na análise de
Lindblom elas são vistas como favorecendo os grupos sociais dominantes e, de
certa forma, emanando deles.