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4- Método na Ciência Econômica: o artigo de Friedman e o debate subsequente

4.1- Racionalidade, comportamento econômico e a questão do realismo dos


pressupostos
4.1.1- A Controvérsia Marginalista
4.1.2- A Teoria da Racionalidade Limitada
4.2- Os Argumentos de Friedman (1953)
4.3- Interpretações e desdobramentos

4.1- Racionalidade, comportamento econômico e a questão do realismo dos pressupostos

4.1.1- A Controvérsia Marginalista

A Controvérsia Marginalista foi um debate muito acirrado que se deu nas revistas econômicas
na década de 40. Um conjunto de autores critica a Teoria Convencional da Firma e outro
conjunto tenta defendê-la.

Pressuposto básico da Teoria Convencional da Firma: empresas maximizam lucros (fazem Rmg
= Cmg). Os críticos vão questionar se esse pressuposto é válido ou não, sendo que toda a
Teoria da Firma é construída a partir desse pressuposto. Há diversos outros pressupostos que
também são feitos, como concorrência perfeita etc., porém eles não entrarão no debate.

Rmg = Cmg → Regra Marginalista de Decisão para a maximização dos lucros (é daí que sai o
nome de controvérsia marginalista).

Críticas:

1. Alguns defendem que as empresas não conhecem a função de receita marginal (Rmg),
porque eles não sabem como os agentes e nem como as outras firmas reagirão.
Defendem ainda que as empresas também não conhecem a função de custo marginal
(Cmg), posto que o processo produtivo é muito complexo, de modo que a empresa
não conhece, na margem, o seu custo. Ou seja, esse grupo de críticos defende que as
empresas não conhecem a função de Cmg nem a de Rmg, de modo que as firmas não
maximizam lucro, posto que elas não tem como saber qual é a relação preço x
quantidade que maximiza o lucro. As empresas buscam lucro, mas não o maximizam.
2. Bearle & Means fazem uma análise a respeito de empresas de capital aberto, onde a
gestão é separada da propriedade. Eles defendem que o gestor, dado que não é o
proprietário, pode se preocupar com outros fatores que não sejam a maximização do
lucro (objetivo que seria buscado se fosse o proprietário). O gestor pode almejar o
crescimento da firma etc., de modo que as empresas não maximizam lucro.
3. Outros criticam outros pressupostos, como a livre entrada, produto homogêneo etc.

Em suma, há evidências empíricas que violam o defendido, de modo que é necessário


reformular a teoria econômica e a construí-la a partir de pressupostos mais realistas: o mundo
é monopolizado, oligopolizado (isto é, não há livre entrada); o produto não é homogêneo na
maioria dos mercados etc.

Algumas respostas surgem às criticas feitas:


1. Friedman dá uma resposta metodológica, voltada para as regras do debate, e não para
o conteúdo, para os argumentos em si. Ele questiona quais são os critérios para julgar
se a teoria é boa ou não. Friedman conclui que os pressupostos não interferem. (4.2).
2. Argumento “as if”: Teoria da Firma Neoclássica não propõe que as firmas
efetivamente conhecem as curvas de Receita Marginal e Custo Marginal, e sim que
elas se comportam como se conhecessem. Dois autores desenvolvem esse argumento:
a. Machlud: empresas são capazes de aprender por tentativa e erro, elas estão
testando, tentando descobrir o que gera maior lucro, de modo que as
empresas vão se aproximando com o passar do tempo do ponto de
maximização. É assim que as firmas maximizam mesmo sem conhecer Cmg e
Rmg. A Teoria Neoclássica, para Machlud, não descreve o processo e sim o
resultado do processo, o empresário não faz as contas para saber se Rmg =
Cmg, ele atinge tal ponto via tentativa e erro.
b. A. Alchian: Ao invés de supor que o mecanismo é via aprendizado, Alchian faz
uma analogia com a evolução. Supondo um mercado com um número grande
de empresas, cada empresa escolhe uma técnica de produção (combinação
capital x trabalho). Se acontecer uma mudança nos preços relativos (alterar o
preço do capital e/ou do trabalho), as firmas estabelecem qual a nova técnica
de produção a ser utilizada. Mas o autor defende que as firmas não conhecem
todas as informações (há assimetria de informações), de modo que quando há
uma mudança nos preços relativos, cada empresa reage de uma maneira
diferente → Dado um mercado competitivo, haverá um processo de seleção,
aquela que obtém o maior lucro se dá melhor (a empresa pode acertar por
sorte ou estudo). As empresas que se comportam como se maximizassem são
aquelas que se dão melhor. As que por azar ou por falta de estudo “erram”, se
dão mal, é a seleção natural.

4.1.2- A Teoria da Racionalidade Limitada

a) Comportamento e ação social: uma tipologia & b) Racionalidade como otimização

O comportamento social do indivíduo pode ser (inicialmente) classificado de duas maneiras:

Intencional: agente tem determinada ação visando atingir determinado objetivo.


Não Intencional: indivíduo toma determinada atitude sem visar atingir um
determinado resultado, e sim porque é guiado por valores, pelo o que ele acha certo,
não está relacionado com racionalidade. Exemplo: dar gorjeta em um restaurante que
você não voltará mais. As chamadas normas sociais levam a esse tipo de
comportamento, as pessoas fazem aquilo porque acham que devem fazer, sem
almejar atingir um resultado. As pessoas adotam comportamentos que podem ser
contrários aos interesses próprios.
Comportamento Social

Intencional Não Intencional

Normas Sociais
Racional Irracional

Otimização Racionalidade
Limitada

Continuação da classificação:

Comportamento Racional: decide o que vai fazer almejando determinado resultado e


há adequação entre o objetivo e o comportamento.
o Racionalidade com otimização: otimização significa que o agente sempre
escolhe a alternativa que maximiza seus objetivos (sua função objetivo). Na
racionalidade com otimização, o que interessa é o resultado do processo de
escolha, o como é irrelevante.

Processo
Resultados
de Decisão

Análise focada nos resultados

o Racionalidade Limitada: leva a uma decisão racional (adequada à função


objetivo), mas que não é otimizadora. Em diferentes graus incorpora “normas
sociais”.
Comportamento Irracional: decide o que vai fazer almejando determinado resultado,
mas há alguma contradição entre o objetivo e o comportamento. Por exemplo, quer
viver até os 80 anos, mas não para de fumar → é intencional, mas não há adequação
entre o objetivo e o comportamento.

c) A Racionalidade Limitada segundo Herbert Simon

Definição e Pressupostos: O agente tem Racionalidade Limitada quando busca ser racional,
mas não possui capacidade de maximizar a sua função objetivo. Há 3 situações onde se vê
Racionalidade Limitada: quando há limites cognitivos (os agentes possuem limites na sua
capacidade de coletar e processar informações); quanto as situações são complexas (processo
decisório complexo); e quando existe incerteza (desconhecimento das probabilidades de
ocorrência de eventos futuros).
Para poder definir como um agente toma uma decisão, é necessário definir uma função
objetivo. Como as decisões são complexas, dificilmente tem-se essa função objetivo. Dentro
de uma firma há diversas decisões sendo tomadas a partir de um conjunto de submetas.

Simon defende que as firmas tomam decisões a partir de submetas (que devem ter alguma
relação causal sobre a meta final), posto que há racionalidade limitada. A partir das submetas
as firmas visam atingir suas metas finais (Ex.: atuar sobre diversos fatores para atingir, ao fim,
um lucro maior).

Simon também defende informações demais são prejudiciais, posto que os agentes não têm
capacidade para processar uma quantidade muito grande de conteúdo.

Em ambientes complexos, frequentemente os agentes não conhecem, de início, todas as


alternativas, sendo necessário simplificar o ambiente para depois conhecer as alternativas.

Como existe incerteza, depois de identificar as alternativas os agentes não conseguem de


forma probabilística dizer quais serão as consequências de escolher cada alternativa. Como
não há um objetivo bem definido, não há escolha ótima.

Ser racional, para Simon, não é fazer a escolha ótima, e sim ser objeto de deliberação
apropriada. Simon desloca a análise para o processo de decisão, e não mais para o resultado.

Processo
Resultados
de Decisão

Análise focada no processo de


decisão, e não mais no
resultado.

A decisão é racional se ela é tomada a partir de um processo que segue uma deliberação
adequada. Diferente da Racionalidade com Otimização, onde o foco da análise é no resultado.
Simon chama essa ideia de Racionalidade Procedural / Processual / Procedimental: o que
torna racional é o Processo de Decisão.

O Processo de Decisão de Simon tem basicamente três procedimentos:

1. Procedimento de Busca: Agentes não conhecem o ambiente como um todo (posto


que ele é complexo), por isso primeiro precisam buscar alternativas. As alternativas
encontradas são função do procedimento de busca adotado. Os Procedimentos de
Busca variam de agente para agente. Exemplo: Empresas inovam de maneira
diferente, apostam em coisas diferentes. Procedimento de Busca só faz sentido
quando há racionalidade limitada.
2. Regras/procedimentos para avaliar as alternativas: Uma vez que a empresa identifica
o leque de alternativas, ela adota procedimentos para analisar qual será a
consequência de escolher cada alternativa.
3. Critérios de escolha: O procedimento adotado é de escolher a alternativa que satisfaz
os seus objetivos (escolha da alternativa satisfatória). Agente define qual é o seu nível
de aspiração, pesquisa alternativas, compara-as com o seu nível de aspiração e escolhe
qual satisfaz o nível → não necessariamente é o ótimo.

Representação do processo decisório: Exemplo: quer um apartamento com largura X e


altura Y, de acordo com o seu nível de aspiração.

2 4

1 3
3
X

Neste caso, ele não compra os apartamentos com tamanho nas áreas 1, 2, 3. Qualquer
apartamento na área 4 é considerado satisfatório e será escolhido → Não é a escolha
ótima, é a escolha satisfatória.

comportamentos
no mercado

Processos de geram
Ações Resultados
Decisão determinadas

Geram determinado feedback para os Processos de


Decisão. Os Processos vão se adaptando ao longo do
tempo, são modificados com o aprendizado.

Ou seja, o Processo de Decisão para Simon também envolve aprendizado, mudando os


processos de busca e os níveis de aspiração. Se o agente ficou satisfeito muito facilmente,
ele aumenta o seu nível de aspiração.

Ser racional é adotar Processos de Decisão que são apropriados. Ser apropriado é ser
apropriado à luz de um processo de aprendizado (à luz da história). Ser irracional é não
aprender. Simon mantém a racionalidade, mas sem ter que recorrer à otimização.

A abordagem de Simon trata o Processo de Decisão como uma atividade que consome
recursos, diferente da abordagem feita pela Teoria da Firma.

É possível comparar, mas é difícil comensurar.

4.2- Os Argumentos de Friedman (1953)

a) Caracterização da Economia Positiva


b) Critérios de validação das hipóteses da Economia Positiva
c) A Questão do Realismo dos Pressupostos
Friedman intervém na controvérsia marginalista, defendendo a Teoria Neoclássica. Ele faz uma
intervenção metodológica: trabalhará no debate sobre como devem ser avaliadas teorias
alternativas (quais são os argumentos que devem ser considerados válidos, quais são as regras
do jogo etc.). Friedman desloca o foco do debate para as regras metodológicas que avaliam as
teorias alternativas.

Ele se aproxima de Popper e dos Positivistas na ideia do monismo metodológico (só há um


método científico universal, válido a priori).

Friedman defende que as críticas feitas estão metodologicamente equivocadas, posto que eles
estariam criticando um ponto que é irrelevante para a qualidade da teoria. Deste modo,
Friedman “encerra” a controvérsia marginalista.

a) Caracterização da Economia Positiva

Análise Positiva / Economia Positiva Análise Normativa / Economia Normativa


Fatos Valores
Descreve/estuda aquilo que é Descreve/estuda aquilo que deve ser
Objetiva Subjetiva
Avalia se é Verdadeiro ou Falso Avalia se é Bom ou Ruim
Análise Empírica (baseada na experiência) Análise ética/moral
Testável Não testável
Teoria Política

Friedman faz uma distinção entre Economia Positiva e Economia Normativa. Economia
Positiva é um estudo daquilo que é, se contrapõe à ideia de Economia Normativa, que é um
estudo daquilo que deve ser.

Os positivistas também faziam essa distinção: proposições relacionadas a fatos versus


proposições relacionadas a valores.

Friedman discutirá a Economia Positiva, isto é, vai discutir teorias sobre como a economia é, e
não sobre como ela deveria ser (por isso Friedman discute método).

b) Critérios de validação das hipóteses da Economia Positiva

Critério fundamental para avaliar uma hipótese/teoria alternativa: comparação de suas


previsões com a realidade (em relação a classe de fenômenos que o modelo se propõe a
explicar), isto é, o seu sucesso preditivo.

Critério para comparar e julgar dois modelos/teorias alternativas: compara-se primeiramente


sua capacidade preditiva. Se houver empate, há dois critérios alternativos para o desempate:
simplicidade (faz previsões corretas e com um input de informação necessária menor) e
fecundidade/fertilidade (inclui dentro desse critério a precisão das previsões, a amplitude da
área na qual a teoria faz previsões (escopo) e a sugestão de linhas de pesquisa adicionais).
Critérios para validação/avaliação das hipóteses/teorias alternativas:

1. Poder Preditivo ou Sucesso Preditivo (sucesso em realizar previsões);


2. Se há empate, usam-se os critérios de desempate:
a. Simplicidade: teorias mais simples, que permitem fazer previsões corretas
com um input de informações necessárias menor são preferíveis;
b. Fertilidade/Fecundidade: precisão das previsões, amplitude da área na qual a
teoria faz previsões (escopo) e sugestão de linhas de pesquisa adicionais.

Críticos supõem que há um critério adicional implícito na análise de Friedman, o realismo dos
pressupostos. Posteriormente Friedman dirá que esse critério adicional não é legítimo.

c) A Questão do Realismo dos Pressupostos

Após fazer sua análise sobre quais são os critérios para avaliação e escolha entre teorias,
Friedman retorna para a Controvérsia Marginalista, a fim de rebater o suposto quarto critério,
o Realismo dos Pressupostos.

montamos permitem Previsões (sobre a classe de


Pressupostos Hipóteses que façamos fenômenos que a teoria se
propõe a explicar)

Friedman defende que o realismo dos pressupostos não é um critério para avaliar as teorias,
por que:

Nenhuma teoria é uma descrição inteiramente verdadeira da realidade, isto é,


nenhuma teoria é totalmente realista, há simplificações etc. Nunca se trabalha com
um mapa em escala 1x1, por exemplo. Ou seja, toda teoria é, num certo sentido,
irrealista, ser realista é uma questão de grau;
Friedman defende também que ser mais realista (ter um maior grau de realismo) não
significa que a teoria será necessariamente melhor, posto que uma das características
de uma boa teoria é ela ser simples (conseguir explicar muito a partir de pouco). O
irrealismo não é sempre maléfico, uma teoria irrealista não é necessariamente pior, o
objetivo é a partir de uma teoria simples conseguir explicar muito, ou seja, não dá pra
dizer que é sempre melhor se mover para o realismo (ser o mais realista possível);
A questão, para Friedman, é qual é o grau adequado de realismo ou irrealismo. Nunca
se estará nos extremos (inteiramente realista ou irrealista). O ponto adequado
depende dos seus objetivos, é necessário escolher um grau de realismo ou irrealismo
que é adequado aos seus interesses (isto é, não é possível dizer que mais realista é
necessariamente melhor, por exemplo).
o O grau adequado de realismo ou irrealismo é função do seu sucesso/poder
preditivo. Portanto, o grau de realismo/irrealismo já é contemplado no
sucesso preditivo, não sendo necessário o quarto critério. Em outras palavras,
o grau de realismo ou irrealismo dos pressupostos é sempre avaliado de
maneira indireta, como função do poder preditivo da teoria. Por exemplo, se
não há um aumento no poder preditivo, tanto faz estar mais realista ou não.
4.3- Interpretações e Desdobramentos

a) Friedman como um instrumentalista


b) Interpretação alternativa: realismo e “preditivismo”
c) Críticos ao argumento metodológico
d) Críticas ao argumento “como se” (as if)

4.3- Interpretações e Desdobramentos

a) Friedman como um instrumentalista

L. Boland (1977) e B. Caldwell (1982) tentam defender que Friedman faz sentido quando é
analisado a partir da visão instrumentalista. Tal visão defende que as teorias têm objetivos
pragmáticos e não epistêmicos, isto é, as teorias têm objetivos práticos, visando serem úteis,
e não de conhecer o mundo.

Raciocínio Instrumentalista:

Pressupostos Hipóteses Previsões

Em muitos desses pressupostos temos elementos não observáveis, de modo que não eles
podem ser testados diretamente, então se analisa a previsão (consequência observável
daquele pressuposto). Mas o sucesso da previsão, para os instrumentalistas, não faz com que
o pressuposto seja válido.

Caldwell defende que a posição instrumentalista de Friedman decorre de uma decisão


metodológica, posto que ele decide não testar diretamente os pressupostos, por isso chama-
se de Instrumentalismo Metodológico. Em outras palavras, apesar de na economia muitas
vezes ser possível testar os pressupostos, Friedman decide por não testá-los, o que o
caracteriza como um instrumentalista metodológico.

b) Interpretação alternativa: realismo e “preditivismo”

Esta interpretação defende que Friedman é um realista preditivista e que ele não estava
preocupado com o debate realismo versus instrumentalismo. Há diversas passagens em seus
textos nas quais fica difícil enxergar Friedman como um instrumentalista. O essencial é ver o
lado preditivista de Friedman, o debate se ele é realista ou instrumentalista não é o foco.

Preditivismo: o critério importante para escolher entre teorias é o poder preditivo e a ideia do
realismo dos pressupostos é irrelevante.

O mais radical na defesa de Friedman é afirmar que não se deve analisar o processo de
simplificação em si, deve-se apenas olhar para o poder preditivo.

c) Críticos ao argumento metodológico


Agora serão analisadas críticas ao argumento metodológico de Friedman, seu argumento
central. Ele defende que o realismo dos pressupostos é irrelevante e que o critério mais
importante para escolha entre teorias é o poder preditivo.

Críticas:

1. Wade Hands: O poder preditivo das teorias nas Ciências Sociais (Economia, por
exemplo) é sempre muito baixo, de modo que não se pode avaliar todas as teorias a
partir do poder preditivo (ao contrário do defendido por Friedman).
2. Friedman não faz uma distinção adequada entre tipos de irrealismo e tipos de
pressupostos. Diferentes tipos de pressupostos implicam em diferentes tipos de
irrealismo. Há pressupostos heurísticos, por exemplo, que podem ser removidos sem
perda após desenvolver a teoria, mantendo-se a estrutura básica do modelo.
3. Daniel Hausman: Acredita que identificou uma falácia (conclusões que não decorrem
das premissas dos argumentos) no argumento de Friedman.

Para provar que o argumento de Friedman é falacioso, Daniel o reconstruirá.

Reconstrução do Argumento de Friedman

[V] P1: Toda boa teoria faz previsões corretas sobre a classe de fenômenos
que se propõe a explicar (há controvérsias sobre este ponto, como a de
Se P1 é V, P2
necessariamente número 1, mas este não será o foco de Daniel (assume como verdade));
é V.

[V] P2: O único teste relevante para a avaliação de uma teoria é a observação
da correção (se são corretas ou não) de suas previsões;

[V] P3: Qualquer teste adicional – incluindo uma avaliação do realismo dos
pressupostos – é irrelevante para avaliar a teoria.

Exemplo:

[V] P1: Um bom carro usado “funciona bem”;

P2: A única forma de avaliar um carro usado é dirigindo para verificar seu funcionamento;

P3: Qualquer outro procedimento de avaliação – incluindo uma inspeção mecânica – é


irrelevante para a avaliação do carro.

A crítica de Daniel consiste em afirmar que P1 não implica em P2, e que P2 é falsa posto que
não condiz com a realidade, de modo que P3 também é falsa. O foco da crítica de Daniel sobre
P2 está na restrição imposta pela palavra “único”, posto que os agentes também levam outros
fatores em consideração para avaliar as teorias.

Sua crítica é feita sobre a posição extrema de Friedman, indo de P1 para único, ainda que
aceite que P1 é verdadeiro, não há como aceitar que P2 é verdadeiro, é neste ponto que se
encontra a falácia.
d) Críticas ao argumento “como se” (as if) – S. Winter

Argumento as if: as firmas se comportam como se maximizassem, vão aprendendo


tacitamente ou algum mecanismo de seleção vai eliminando as empresas menos eficientes →
não faz crítica metodológica.

Representação do argumento “as if” por S. Winter:

1. O Sistema Econômico pode ser analisado como estando aproximadamente em


equilíbrio;
2. Os agentes se defrontam com situações decisórias similares e repetidas (os agentes
tomam decisões em certo grau rotineiro, é essa repetição que viabiliza o
aprendizado);
3. Os agentes possuem preferências estáveis. Em outras palavras, os agentes avaliam
suas decisões a partir de um critério estável → tal hipótese também é necessária para
que se tenha aprendizado;
4. Os agentes aproveitam as oportunidades de obter melhores resultados em suas
decisões – e a competição ameaça eliminar aqueles que não o fazem;
5. Em equilíbrio, os agentes sempre estão maximizando sua função objetivo;
6. Se o Sistema Econômico está aproximadamente em equilíbrio, os agentes deverão
estar tomando decisões compatíveis com o pressuposto de maximização;
7. Os detalhes do processo adaptativo descrito no item 4 variam muito caso a caso – por
uma questão de parcimônia (“menos é melhor”), a teoria deve descrever apenas os
resultados do processo.

Críticas:

1. Crítica geral à premissa de todo o argumento as if: A premissa 1 limita muito o escopo
da Teoria Econômica, o que é maléfico. Todas as situações onde há inovação, ruptura,
instabilidade (onde não faria sentido supor o equilíbrio) estariam fora do escopo da
Teoria Econômica. Ou seja, o argumento pode ser consistente, mas limita muito o
escopo da teoria.
2. Críticas a aplicabilidade/generalidade do argumento as if: Quais são as premissas
implícitas nesse argumento que podem eliminar sua aplicabilidade?
a. Processo de Aprendizado: Muitas decisões econômicas não podem ser
caracterizadas, por natureza, na situação de um aprendizado por repetição. Há
eventos que não se repetem ou se repetem com mudanças radicais, isto é,
algumas decisões econômicas são únicas e irreversíveis, de modo que nem
sempre o processo de aprendizado leva a uma convergência em direção ao
ótimo.
Além disso, a capacidade de aprendizado pode variar de um agente para o
outro, o que difere do defendido no argumento as if. Deste modo, não se pode
supor, a priori, que o argumento é geral, o que se contrapõe à ideia do item 7.
b. Processo de Seleção: Nem sempre a seleção atua conforme espera o item 4. A
seleção não atua sobre todos os agentes (não atua sobre os consumidores, por
exemplo). Além disso, uma estrutura monopolizada, oligopolizada, limita as
ações dos mecanismos de seleção sobre as empresas.
A seleção e o aprendizado podem, em certas condições, levar à decisão otimizadora → não é
um argumento geral que vale para todas as situações, é necessário analisar.

A crítica feita por Winter difere de Hausman, posto que agora vimos uma crítica dentro da
teoria econômica.

5- Ciência, Valores e Ideologia

5.1- A dicotomia entre fatos e valores e a análise normativa da economia


5.2- Ideologias na Ciência Econômica

5.1- A dicotomia entre fatos e valores e a análise normativa da economia

Análise Positiva / Economia Positiva Análise Normativa / Economia Normativa


Fatos Valores
Descreve/estuda aquilo que é Descreve/estuda aquilo que deve ser
Objetiva Subjetiva
Avalia se é Verdadeiro ou Falso Avalia se é Bom ou Ruim
Análise Empírica Análise ética/moral
Testável Não testável
Teoria Política

Friedman defende que é possível fazer uma distinção nítida entre análise positiva e análise
normativa, isto é, defende que é possível fazer uma distinção nítida entre o que é e o que deve
ser. O que deve ser sempre envolve alguma posição valorativa.

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