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108 FISIOLOGIA ARTICULAR

SIGNIFICADO

A pronação-supinação é o movimento de talar" na extremidade móvel, o carpo por exem-


rotaçc7odo antebraço ao redor do seu eixo lon- plo, proeminências apofisiárias que pudessem
gitudinal. serÚr como braço de alavanca aos músculos ro-
tadores; além disso, seria mecanicamente im-
Este movimento precisa da intervenção de
DUAS ARTICULAÇÕES MECANICAMEN- possível que os tendões dos músculos do ante-
braço "franqueassem" o punho, devido à torção
TE UNIDAS (fig. 3-1):
que realizaria sobre si mesmo durante a rotação
- a articulaçc70 rádio-ulnar superior ao redor do seu eixo longitudinal; conseqüente-
(RUS), que pertence anatomicamente à mente a maior parte dos músculos extrínsecos se
articulação do cotovelo; encontrariam na mão de tal maneira que a sua
- a articulaçc70 rádio-ulnar inferior potência diminuiria e a mão seria pesada e volu-
(RUI) que é diferente anatomicamente mosa.
da articulação rádio-carpeana. Esta rotação longitudinal no antebraço é a
Esta rotação longitudinal de antebraço in- solução lógica e elegante, cuja única conseqüên-
troduz um terceiro grau de liberdade no com- cia é complicar um pouco o esqueleto deste seg-
plexo articular do punho. Deste modo, a mão, mento, introduzindo um segundo osso, o rádio,
como "extremidade realizadora" do membro su- que suporta a mão e a ulna gira ao seu redor, gra-
perior, pode-se situar em qualquer ângulo para ças às duas articulações rádio-ulnares.
poder pegar ou segurar um objeto. Se refletimos Esta estrutura do segundo segmento do
corretamente, a presença de uma articulação ti- membro apareceu na filogenia a 400 milhões de
po enartrose com três graus de liberdade no pu- anos atrás, quando alguns peixes abandonaram o
nho, complicaria extraordinariamente os proble- mar e colonizaram a terra se convertendo em an-
mas mecânicos: neste caso seria necessário "ins- fíbios tetrápodes.
1. MEMBRO SUPERlOR 109

Fig.3-1
110 FISIOLOGIA ARTICULAR

DEFINIÇÃO

Só é possível analisar a pronação-supina- - a mão em posição de supinação (fig. 3-6)


ção com o cotovelo flexionado a 90° e encosta- se situa no plano horizontal; assim sendo,
do no corpo. De fato, se o cotovelo está estendi- a amplitude de mm'imento de supinação
do, o antebraço se encontra no prolongamento é de 90°.
do braço e na rotação longitudinal do antebraço - a mão em posição de pronação (fig. 3-7)
se acrescenta a rotação do braço ao redor do seu só chega até o plano horizontal; a ampli-
eixo longitudinal, graças aos movimentos de ro- tude de pronação é de 85° ( mais adian-
tação externa e interna do ombro. te poderemos ver por que não chega até
Com o cotovelo em flexão de 90°: os 90°)
- a posição de supinação (fig. 3-2) se Em resumo, a amplitude total da verdadei-
realiza quando a palma da mão se dirige ra pronação-supinação, isto é, quando unica-
para cima com o polegar para fora; mente participa a rotação axial do antebraço, é
de aproximadamente 180°.
- a posição de pronação (fig. 3-3) se rea-
liza quando a palma da mão "se orienta" Quando também participam os movimentos
para baixo e o polegar para dentro; de rotação do ombro, com o cotovelo em exten-
são total, esta amplitude total alcança:
- a posição intermédia (fig.3-4) é deter-
minada pela direção do polegar para ci- - 360° quando o membro superior está
ma e da palma para dentro, ou seja, nem vertical ao longo do tronco;
pronação, nem supinação. As amplitu- - 360° quando o membro superior está em
des dos movimentos de pronação-supi- abdução de 90°;
nação se medem a partir desta pósição - 270° em flexão de 90° e em extensão
intermédia ou posição zero. de 90°;
De fato, quando observamos o antebraço e - ultrapassa um pouco os 180° quando o
a mão alinhados e de frente, quer dizer, no pro- membro superior está vertical, em posi-
longamento do eixo longitudinal: ção de máxima abdução. Isto confirma
- a mão em posição intermédia (fig. 3-5) se que o ombro tem uma amplitude de ro-
situa no plano vertical, paralela ao plano tação axial quase nula em abdução de
sagital, plano de simetria do corpo; 180°.
. 1. MEMBRO SUPERIOR 111

Fig.3-3
Fig.3-2

Fig.3-4

Fig.3-6 Fig:--3-5 Fig.3-7


112 FISIOLOGIA ARTICULAR

UTILIDADE DA PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO

Dos sete graus de liberdade que comporta a toda a palma da mão em contato com o cabo
cadeia articular do membro superior, começan- (fig. 3-10), a pronação-supinação modifica a
do pelo ombro e terminando na mão, a prona- orientação da ferramenta através do mecanismo
ção-supinação é um dos mais importantes, da rotação cônica: como conseqüência da assi-
porque é indispensável para o controle da atitu- metria da mão, o cabo pode-se situar no espaço
de da mão. De fato, este controle permite que a sobre um segmento de cone centralizado pelo
mão esteja perfeitamente colocada para alcançar eixo de pronação-supinação, de modo que o
um objeto num setor esférico de espaço centra- martelo bate no prego sob uma incidência regu-
lizado no ombro e levá-Io à boca (função de ali- lável.
mentação). Também permite que a mão chegue Neste caso, podemos comprovar um dos
a qualquer ponto do corpo com a finalidade de aspectos do encaixe funcional entre a pronação-
proteção ou higiene (função de limpeza). Além supinação e a articulação rádio-carpeana, onde
disso, a pronação-supinação desempenha um podemos observar outro exemplo na variação da
papel essencial em todas as ações da mão, prin- abdução-adução do punho em função da prona-
cipalmente durante o trabalho. ção-supinação: a atitude normal da mão em pro-
Graças à pronação-supinação, a mão pode nação ou em posição intermédia é o desvio ulnar
(fig 3-8) segurar uma bandeja ou um objeto, em que "centraliza" a pinça tridigital sobre o eixo
supinação, ou comprimir um objeto para baixo e da pronação-supinação, enquanto na supinação
inclusive se apoiar em pronação. a mão se coloca mais em desvio radial, favore-
Também permite que se realize um movi- cendo a preensão de sustentação, como quando
mento de rotação nas preensões centradas e ro- carregamos uma bandeja.
tativas, como no caso em que utilizamos uma Este encaixe funcional obriga a integração
chave de fenda (fig. 3-9) na qual o eixo do uten- fisiológica da articulação rádio-ulnar inferior
sílio coincide com o eixo de pronação-supina- com a do punho, embora mecanicamente esteja
ção. Por causa da obliqiiidade da preensão com unida à articulação rádio-ulnar superior.

r--
1. MEMBRO SUPERIOR 113

Fig.3-8

Fig.3-9

Fig. 3-10
114 FISIOLOGIA ARTICULAR

DISPOSIÇÃO GERAL

Em posição de supinação (figs. 3-11, 3-12 • ligamento posterior da articulação rá-


e 3-13 e diagramas a e b, figo3-17): dio-ulnar posterior (2);
A ulna e o rádio estão um ao lado do outro, • ligamento anular (3) reforçado pelo fas-
a ulna por dentro e o rádio por fora. Os seus ei- cículo médio do LLE do cotovelo (4);
xos longitudinais são paralelos (fig. 3-17, a). Po- - em vista externa (fig. 3-13) o rádio ocul-
demos observar:
ta em parte a ulna, e podemos compro-
- no esquema frontal (fig. 3-11), onde ve- var que há uma leve concavidade ante-
mos: rior do rádio, acentuada no desenho e
• a membrana interóssea, com a camada esquematizada no diagrama b da figura
3-17.
superior (1) cujas fibras são oblíquas
para baixo e para dentro e sua camada Em posição de pronação (figs. 3-14, 3-15
posterior (2) de obliqüidade inversa, e 3-16 e diagramas c e d da figo3-17):
realiza o principal da ligação mecâni- A ulna e o rádio não estão paralelos, mas
ca em sentido longitudinal e transver- estão cruzados: isto pode ser apreciado tanto no
sal: impede o deslocamento do rádio esquema frontal (fig. 3-14) quanto no dorsal
para baixo, porque o deslocamento pa- (fig. 3-15), e está esquematizado no diagrama
ra cima é bloqueado pelo côndilo ume- da figura 3-17. Em pronação (fig. 3-17, d) o rá-
ral, e inclusive após uma secção dos li- dio está:
gamentos das duas articulações rádio-
ulnares, é por si mesma suficiente para - por cima, externo com relação à ulna, e
manter os dois ossos em contato. De
- por baixo, interno com relação à ulna.
modo que é a grande desconhecida do
antebraço; Em vista de perfil externo (fig. 3-16) pode-
mos observar que o rádio é deslocado pela fren-
• a corda de Weitbrecht (3), elemento fi-
te da ulna. A sua concavidade, dirigida para trás,
broso;
lhe permite "cavalgar" literalmente sobre a ul-
• o ligamento anterior da articulação rá- na. Ver esquema do diagrama c da figura 3-17.
dio-ulnar inferior (4).
Assim sendo, podemos entender que a pro-
Estes três elementos estão em ten-
nação só pode~se aproximar de 90° de amplitu-
são durante a supinação e a limitam; de, sem conseguir alcançar esta cifra, graças à
• o ligamento anular (5), reforçado pelo curva do rádio no plano sagital. Também pode-
• fascículo anterior do ligamento lateral mos entender que os músculos flexores, que se
externo do cotovelo (6) (LLE) e pelo localizam pela frente do esqueleto na supinação
(fig. 3-18, a), se interpõem entre o rádio e a ul-
• fascículo anterior do ligamento lateral na (fig. 3-18, b) durante a pronação, para cons-
interno do cotovelo (7) (LLI); tituir, ao final desta (fig. 3-18, c), um "colchão"
• ligamento triangular (8) visto em sec- que amortece o contato entre ambos os ossos.
ção; Simultaneamente a membrana interóssea se en-
rola ao redor da ulna, de modo que, junto com
- no esquema dorsal (fig. 3-11):
o "acolchoado" muscular, desloca a ulna por
• a membrana interóssea (1) com suas trás do rádio, produzindo a subluxação poste-
duas camadas; rior da cabeça ulnar no fim da pronação.
1. MEMBRO SUPERIOR 115

Fig.3-15
Fig.3-13

4
3

Fig.3-12
a

I
b c d

Fig.3-17

Fig.3-18 Fig.3-14 Fig.3-16


116 FISIOLOGIA ARTICULAR

ANATOMIA FISIOLÓGICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR SUPERIOR


(os números das explicações se correspondem em todas as figuras)

A ,articulação rádio-ulnar superior é uma • ligamento anular (5), intato na figura


TROCOIDE, as suas superfícies são cilíndricas 3-19 e seccionado na figura 3-21. Fai-
e possui só um grau de liberdade: rotação ao re- xa fibrosa inserida nas margens ante-
dor do eixo dos dois cilindros encaixados. Pode- rior e posterior da pequena cavidade
mos comparar, em mecânica, com um simples sigmóide, a sua superfície interna está
amortecedor ou, melhor ainda, com um verda- preenchida por uma cartilagem, pro-
deiro rolamento de bolas (fig. 3-20). longamento da pequena cavidade que
Portanto, está constituída por duas superfí- ao mesmo tempo é:
cies cilíndricas: * um meio de união: rodeia a cabeça ra-
- a cabeça radial (fig. 3-21) com o seu dial e a encaixa contra a pequena cavi-
contorno cilíndrico (1) preenchido de dade sigmóide;
cartilagem, mais ampla pela frente e por * uma superfície articular: se articula
dentro e que se corresponde com o anel com o contorno da cabeça radial e ao
central (1) do amortecedor ou rolamen- revés da pequena cavidade sigmóide,
to de bolas. Outras particularidades: se deforma.
• a abóbada (2), côncava, que se articula
O ligamento quadrado de Dénucé (4),
(fig. 3-25, secção sagital) com o côndilo
segundo meio de união, está seccionado na fi-
umeral (9). Dado que o côndilo não se
gura 3-21, intato na figura 3-22 (ligamento
expande para trás, a abóbada entra em
contato com ele durante a extensão só anular seccionado e rádio deslocado, segundo
Testut) e na figura 3-23 (vista superior, olécra-
pela metade anterior da sua superfície;
no e ligamento anular seccionados, segundo
• o biseI (3) do contorno (ver figo3-21). Testut). É uma faixa fibrosa que se insere na
- um anel osteofibroso, claramente visí- margem inferior da pequena cavidade sigmóide
vel na figura 3-19 (segundo Testut), no da ulna e na base do contorno interno da cabe-
qual a cabeça radial está removida. Se ça radial (fig. 3-24, secção central). Estas duas
corresponde com o anel periférico (5 e margens estão reforçadas (figs. 3-21 e 3-22)
6) do rolamento de bolas (fig. 3-20) e es- por fibras originadas da margem superior do li-
tá constituído por: gamento anular.
• pequena cavidade sigmóide da ulna O ligamento quadrado representa um refor-
(6) preenchida de cartilagem, côncava ço da parte inferior da cápsula; o resto desta (10)
de diante para trás, separada da grande une as articulações do cotovelo em um conjunto
cavidade (8) por uma crista romba (7): anatômico.
1. MEMBRO SUPERIOR 117

5-6

Fig.3-20
Fig.3-19

Fig.3-21

2
1

Fig.3-22

2 Fig.3-23

1
5

Fig.3-25
118 FISIOLOGIA ARTICULAR

ANATOMIA FISIOLÓGICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR


(estrutura e constituição mecânica da porção inferior da ulna)

Como a articulação rádio-ulnar superior, a rolada" num cilindro, com uma haste pela fren-
articulação rádio-ulnar inferior também é uma te e outra por trás, que "limitam" o processo es-
trocóide: as suas superfícies são cilíndricas e so- tilóide da ulna (8), deslocado-a em direção pós-
mente possui um grau de liberdade, ou seja, a tero-interna da epítise. Na verdade, esta superfí-
rotação em tomo ao eixo dos dois cilindros en- cie não é totalmente cilíndrica (tig. 3-27) já que
caixados. o seu gerador está levemente convexo para fora,
A primeira destas superfícies cilíndricas o que lhe dá uma forma de barrilÚnho inclinado
(tig.3-26) está presa pela cabeça da ulna. Pode- para baixo e para dentro, embora esteja inscrita
mos considerar que a porção inferior da ulna es- num cone de vértice inferior cujo eixo é parale-
tá formada (a) pela penetração de um cilindro lo ao eixo diatisário da ulna d. A superfície peri-
diatisário (1) num cone epitisário (2). Mas, é ne- férica da cabeça da ulna (A, vista de perfil, B,
cessário ressaltar que o eixo do cone está deslo- vista anterior) apresenta uma altura máxima (h)
cado para fora com relação ao do cone do cilin- para frente e levemente para fora.
dro. Por cima desta sólida composição (b), o A superfície inferior da cabeça da ulna (D)
plano horizontal (3) desprende um tronco de co- apresenta uma superfície semilunar cuja largu-
ne (c) e forma a superfície inferior (4) da cabe- ra máxima corresponde com o ponto de máxi-
ça da ulna. A seguir (d), um segundo cilindro se- ma altura (h) da superfície periférica. Desta
cante (5) desprende uma meia-lua sólida (6) e maneira, sobre o plano de simetria (seta) estão
determina (e) a formação da superfície cilíndri- alinhados: a inserção do LU da rádio-ulnar
ca (7) da cabeça da ulna. É necessário destacar (quadrado) sobre o processo estilóide, a inser-
que o cilindro secante (5) não é concêntrico ao ção principal do vértice do ligamento triangu-
cilindro diatisário (1), nem ao cone epitisário lar (estrela), o centro da curva da superfície pe-
(2), estando deslocado para fora. Isto explica a riférica (cruz) e o ponto de máxima altura do
forma da superfície articular: uma meia-lua "en- contorno.
1. MEMBRO SUPERIOR 119

8~
\
c

Fig.3-26

B A

Fig.3-27
120 FISIOLOGIA ARTICULAR

ANATOMIA FISIOLÓGICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR


(continuação)
(as explicações são as mesmas para todas as figuras)

A segunda superfície, a cavidade sigmóide Desta forma, o ligamento triangular ao


do rádio (3), está presa pela epífise do rádio mesmo tempo é:
(figs. 3-28 e 3-29), onde está incluída nos ramos - um meio de união da articulação rádio-
de desdobramento da margem interna (2). Esta ulnar inferior;
superfície (3) está "orientada" para dentro (fig.
3-29), é côncava de diante para trás, plana ou le- - uma supeifície articular; acima se arti-
vemente côncava de cima para baixo, está ins- cula com a cabeça ulnar e abaixo com o
crita na superfície de um cone de vértice inferior côndilo carpeano. Devemos ressaltar
(fig. 3-27, c). A sua máxima altura se localiza na que a cabeça ulnar não se articula com
parte média e se articula com a superfície cilín- o côndilo carpeano;
drica (4) da cabeça radial. - um septo entre a articulação rádio-ulnar
Na sua margem inferior se insere o liga- inferior (acima) e a articulação rádio-
mento triangular (5) situado no plano horizon- carpeana (abaixo) (fig. 3-30), que são
tal (fig. 5-30, secção frontal). O seu vértice se in- anatomicamente diferentes, menos nos
sere por dentro, em três níveis: casos em que:
- a fossa localizada entre o processo es- • o ligamento triangular, muito bicônca-
tilóide e a superfície inferior da cabeça vo, esteja perfurado no seu centro;
da ulna; • a inserção da sua base esteja incomple-
- a superfície externa do processo estilói- ta (figs. 3-28 e 3-29) e .deixe uma pe-
de da ulna; quena fenda (6), mais freqüente com a
idade, o que, para alguns autores, seria
- a superfície profunda do LU da articu-
a prova de sua origem atrófica.
lação rádio-carpeana.
Forma uma cavidade receptora (fig. 3-29)
Assim sendo, o ligamento triangular ocupa
para a cabeça radial junto com a cavidade sig-
o espaço entre a cabeça da ulna e o piramidal,
móide do rádio. Parte desta cavidade receptora
constituindo uma "almofada elástica" que se
tem a propriedade de se deformar.
comprime no curso da adução do punho. As suas
margens anterior e posterior são mais espessas, Funcionando como um autêntico "menisco
apesar de a secção ser bicôncava (fig. 3-29, vis- suspenso" entre a articulação rádio-cubital infe-
ta ântero-superior interna). A sua superfície su- rior e a rádio-carpeana, o ligamento triangular
perior, preenchida de cartilagem, prolonga a ca- está submetido a importantes forças (fig. 3-31):
vidade glenóide do rádio (8) para dentro, limita- tração (seta horizontal), compressão (setas verti-
da por fora pelo processo estilóide radial (1), e cais), movimento de ziguezague (setas horizon-
se articula com o côndilo carpeano (13). tais) Freqüentemente, estas forças se combinam.
1. MEMBRO Sl.JPERIOR 121

5
Fig.3-29
Fig.3-28

Fig.3-31

Fig.3-30
122 FISIOLOGIA ARTICULAR

DINÂMICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR SUPERIOR


(nas figuras 3-32, 3-33, 3-34 e 3-35, a fileira superior (a) corresponde à supinação, a inferior (b) à pronação;
os números das explicações são os mesmos)

o movimento principal (fig. 3-32) é um se afaste da ulna no momento ideal para


movimento de rotação da cabeça radial (1), ao que a tuberosidade bicipital possa pas-
redor do seu eixo xx', no interior de um anel (2) sar pela fossa supinadora (nela se inse-
osteofibroso, ligamento anular-pequena cavida- re o músculo supinador). A seta branca
de sigmóide. da figura 3-32, b, indica esta insinuação
Este movimento está limitado (fig. da tuberosidade bicipital "entre" o rádio
e a ulna.
3-33) pela tensão do ligamento quadrado de Dé-
nucé (3) que, desta forma, atua como freio. 4) o plano da superfície da cabeça radial
Por outro lado, não é cilíndrica, mas leve- se inclina para baixo e para fora, duran-
mente ovalada: o seu eixo maior (fig. 3-34, a), te a pronação (fig. 3-37). Isto se deve ao
oblíquo de diante para trás, mede 28 mm, em movimento de rotação do rádio ao redor
comparação com os 24 mm do eixo menor. Isto da ulna durante a pronação:
explica que o anel que aperta a cabeça radial não - no início do movimento, em supina-
pode ser ósseo, rígido. Está constituído, nas ção (a), o eixo diafisário do rádio é
suas três partes, pelo ligamento anular, flexível, vertical e paralelo ao da ulna;
o que permite que se deforme, ao mesmo tempo
- no fim do movimento, em pronação
que proporciona à cabeça radial uma fixação
(b), o eixo do rádio é oblíquo para
permanente.
baixo e para dentro: o plano da abó-
Os movimentos secundários são quatro: bada radial, que é perpendicular a es-
1) abóbada radial (1) gira ao contato do te eixo, se inclina para baixo e para
côndilo umeral (fig. 3-36); fora e forma um ângulo (y) com o
plano horizontal.
2) o bisel radial (2) (ver pág. 92) se desliza
por baixo da cabeça conóide (fig. 3-36); Neste movimento, o eixo diafisário do rá-
3) o eixo da cabeça radial se desloca para dio "varre" uma porção da superfície cônica cu-
jo eixo (pontilhado fino) é o eixo comum para as
fora durante a pronação (fig. 3-35). Este
fato se deve à forma "ovalada" da cabe- duas articulações rádio-ulnares.
ça radial: na pronação (b) o eixo maior Observamos também que a ulna valga (ver
da abóbada está transversal, deslocando também figo 3-26, pág. 95) que, em supinação
o eixo xx' para fora, a uma distância (e) aparece claramente (c), pode desaparecer em
igual à metade da diferença entre os dois pronação (d) devido à mudança de obliqüidade
eixos da abóbada e equivalente a 2 mm. do eixo diafisário do rádio: em pronação, o eixo
A importância deste deslocamento me- global do antebraço se localiza no prolonga-
cânico é primordial: permite que o rádio mento do eixo do braço.
1. MEMBRO SUPERIOR 123

2
a a

~ b
b
Fig.3-33 Fig.3-34 Fig.3-35

X'

Fig.3-32

Fig.3-37
124 FISIOLOGIA ARTICULAR

DINÂMICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR

Podemos começar pensando que a nIna - o deslocamento circular (seta tracejada,


permanece fixa e que só o rádio é móvel. Nes- figo 3-40, manivela em supinação) em
te caso (fig. 3-38), o eixo de pronação-supina- torno de um cilindro, que corresponde à
ção na mão se localiza no nível do lado ulnar e cabeça ulnar;
do quinto dedo (o eixo está indicado por uma - rotação sobre si mesma, manifestada pe-
cruz preta). Isto acontece quando o antebraço, la mudança de direção da seta branca
apoiado sobre uma mesa, realiza movimentos de (fig. 3-41): o processo estilóide radial
pronação-supinação sem perder o contato com a "se orienta" para fora durante a supina-
mesa. ção e para dentro durante a pronação.
O principal movimento (fig. 3-39) é uma Quando o rádio gira ao redor da ulna, pas-
translação circunferencial da porção inferior do sando da supinação à pronação, a congruência
rádio ao redor da ulna. articular (concordância geométrica das superfí-
- supinação: rádio e ulna vistos de baixo cies) varia.
após ablação do carpo e do ligamento Isto é devido a:
triangular. Amplitude de 90°. - por um lado, as superfícies articulares
- pronação: amplitude de 85°. não são superfícies de revolução; o seu
raio de curva varia: é mais curto no cen-
Este movimento de translação circunferen-
cial fica explícito quando o rádio é comparado a tro que nas extremidades;
uma manivela (figs. 3-40 e 3-41): a trajetória de - por outro lado, o raio de curva da cavi-
um ramo (o outro permanece fixo) é uma trans- dade sigmóide é levemente maior que o
lação circunferencial: da cabeça ulnar.
1. 1-lEMBRO SUPERIOR 125

SUPINAÇÃO PRONAÇÃO

Fig.3-39

Fig.3-38

I --
I
Fig.3-40 Fig.3-41
126 FISIOLOGIA ARTICULAR

DINÂMICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR


(continuação)

Portanto, existem posições incongruen- das superfícies associada com tensão ligamentar
tes (fig. 3-42), em supinação (B), a cabeça ulnar máxima. Neste caso não é uma posição de blo-
só entra em contato com a cavidade sigmóide queio intermédio, embora possamos observar a
através de uma pequena parte da sua superfície distribuição de funções entre o ligamento trian-
e os raios de curva são pouco concordantes, daí gular e a membrana interóssea:
vem esta escassa congmência; e em máxima
- em máximas pronação e supinação, o li-
pronação (C), está agravada por uma verdadeira
gamento triangular está estendido, po-
subluxação posterior da cabeça ulnar, e uma po- rém a membrana interóssea está tensa.
sição de máxima congruência que, em geral se
Observamos que os ligamentos anterior
corresponde com a posição intermédia ou posi-
e posterior da articulação rádio-ulnar in-
ção zero (nula): a máxima altura da superfície
ferior, pequenos espessamentos capsu-
periférica coincide com a altura máxima da ca-
lares, não desempenham nenhuma fun-
vidade sigmóide de maneira que, simultanea-
ção nem na coaptação, nem na limitação
mente, o contato entre as superfícies é máximo
dos movimentos;
enquanto coincidam os raios da curva.
Durante os movimentos de pronação-su- - em posição de estabilidade máxima,
pinação, o ligamento triangular "varre" literal- perto da posição intermédia, o ligamen-
mente a superfície inferior da cabeça ulnar (fig. to triangular está tenso e a membrana
3-43) como se fosse um limpador de pára-brisas, interóssea está distendida, a menos que
mas o que provoca a descentralização do seu os músculos que se inserem nela provo-
ponto de inserção ulnar é o que proporciona a quem a sua tensão novamente.
notável variação do seu estado de tensão: Em resumo, podemos afirmar que a coapta-
- a tensão é mínima em máximas supina- ção da articulação rádio-ulnar inferior está fixa
ção e pronação (B e C); por duas formações anatômicas desconhecidas
freqüentemente no tratamento das lesões trau-
- pelo contrário, a tensão é máxima na máticas desta zona: a membrana interóssea, cu-
posição de máxima congruência, que se
ja função é primordial, e o ligamento triangular.
corresponde com a maior altura da su-
perfície periférica da cabeça ulnar, A pronação está limitada pelo impacto de
porque o ligamento "percorre" o cami- rádio contra a ulna, daí vem a importância da le-
nho mais longo entre a sua inserção e o ve concavidade da diáfise radial para frente, de
contorno da cabeça (D). maneira que atrasa o contato.
De maneira que podemos nos referir a uma A supinação está limitada pelo impacto do
posição de estabilidade máxima da articulação extremo posterior da cavidade sigmóide contra o
rádio-ulnar inferior, que se corresponde, em ge- processo estilóide ulnar através do tendão do ex-
ral, co~ a posição intermédia de pronação-supi- tensor ulnar do carpo. Nenhum ligamento pode
nação. E o que denominamos "c1ose-packed po- deter este movimento que, apesar disso, consegue
sition" de Mac Conai11: congmência máxima amortecer o tônus dos músculos pronadores.
1. MEMBRO SUPERIOR 127

B
c

Fig.3-42

B
D

Fig.3-43
128 FISIOLOGIA ARTICULAR

o EIXO DE PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO

Até agora tratamos a fisiologia da articula- Quando estas duas articulações deixam de
ção rádio-ulnar inferior (RUI) isoladamente, ser co-axiais, devido a uma fratura mal reduzi-
mas é fácil compreender que existe um par fun- da de um ou de ambos os ossos, a pronação-su-
cional entre a articulação rádio-ulnar inferior e a pinação se encontra comprometida dado que
superior, porque estas duas articulações estão não existem duas charneiras para o mesmo
mecanicamente unidas de maneira que uma não segmento móvel: é o caso de uma porta cujas
pode funcionar sem a outra. dobradiças deixam de estar alinhadas e que ne-
Este par funcional se encontra em dois ní- cessitaria se partir em duas para poder abrir to-
talmente.
veis: o dos eixos e o da congruência.
As duas articulações rádio-ulnares são co- Se a pronação-supinação se realiza ao re-
axiais: o seu funcionamento normal necessita de dor de um eixo que passa pela coluna do pole-
que o eixo de uma seja o prolongamento do eixo gar, o rádio gira ao redor do processo estilóide
da outra (fig. 3-44) sobre uma mesma reta XX' radial (fig. 3-46), ao redor de um eixo que não
que constitui a charneira de pronação-supinação é a charneira da pronação-supinação, e a extre-
e passa pelo centro das cabeças ulnar e radial. midade inferior da ulna sofre urna translação
seguindo um semicírculo que a desloca para
Durante o seu movimento com relação à ul-
baixo e para fora, sem deixar de permanecer
na, ao redor deste eixo, o rádio se desloca sobre
paralela a si mesma. O componente vertical
um segmento de superfície cônica, aberto por
deste movimento pode-se explicar por um mo-
trás, de base inferior e cujo vértice se situa no ní-
vimento de extensão seguido por um movi-
vel da articulação côndilo-radial.
mento de flexão na articulação úmero-ulnar.
Estando a cabeça ulnar fixa, a pronação-su- Com relação ao deslocamento para fora, pare-
pinação se realiza por rotação da epífise radial ce difícil, em vista da sua amplitude (quase
inferior ao redor do eixo da articulação rádio-ul- duas vezes a amplitude do punho) explicar, co-
nar inferior que também é o da rádio-ulnar supe- mo fazemos até agora, por um movimento de
rior. Esta situação é a única em que o eixo de lateralidade numa articulação troclear tão fe-
pronação-supinação se confunde com a chernei- chada quanto a da úmero-ulnar. M.C. Dbjay
ra de pronação-supinação. propôs recentemente uma explicação mais me-
As duas articulações rádio-ulnares são co- cânica e satisfatória: a rotação externa asso-
axiais igual às duas dobradiças de uma porta ciada com o úmero sobre o seu eixo longitudi-
(fig. 3-45): os seus eixos estão sobre uma mes- nal (fig. 3-47) que provoca o deslocamento ex-
ma reta. Neste caso a porta pode-se abrir sem di- terno da cabeça ulnar (A) enquanto o rádio gi-
ficuldade (a). ra sobre si mesmo (B).
1. MEMBRO SUPERIOR 129

Fig.3-46

A B
Fig.3-45

Fig.3-44
130 FISIOLOGIA ARTICULAR

o EIXO DE PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO
(continuação)

Para confirmar esta hipótese seriam neces- perto da cavidade sigmóide (fig. 3-49): o rádio
sárias radiografias precisas ou registros eletro- gira sobre si mesmo aproximadamente 180° e a
miográficos dos rotadores, para ser objetivos, ulna desloca, sem nenhuma rotação, por uma
demonstrando que a sua amplitude é de 5° a 20°. trajetória em arco de círculo de igual centro, in-
Se a experiência a confirmasse, esta hipótese so- tegrando um componente de extensão E e um
mente seria válida no caso da pronação-supina- componente de lateralidade externa L.
ção com o cotovelo flexionado em um ângulo
O eixo de pronação-supinação ZZ', sem
reto, quando alcança a sua amplitude máxima materializar, é na verdade totalmente diferente
(supinação de 90° e pronação de 80-85°). Com o da charneira de pronação-supinação (fig. 3-50)
cotovelo em extensão total, a ulna está imobili-
que, deslocado de XX' para YY' pela cabeça ul-
zada devido ao encaixe do olécrano na sua fossa nar descreve um segmento de superfície cônica
e se o cotovelo for imobilizado com firmeza po- cuja cavidade está "orientada" para frente.
demos comprovar que a pronação é quase nula,
Definitivamente, não existe uma pronação-
enquanto a supinação se mantém intata em toda
supinação, mas várias pronações-supinações,
a sua amplitude. A pronação perdida é compen-
das quais a mais comum se realiza sobre um ei-
sada por uma rotação interna do úmero. No cur-
xo que passa pelo rádio e ao redor do qual "gi-
so da extensão do cotovelo existiria um "ponto
ram" os dois ossos. O eixo de pronação-supina-
de transição" no qual a rotação associada com o
úmero seria nula. ção, geralmente diferente da charneira de pro-
nação-supinação, é um eixo sem materializar,
Que podemos dizer sobre a limitação da variável e evolutivo.
pronação em 45° com o cotovelo completamen-
O fato de que este eixo de pronação-supina-
te tlexionado? Parece que o úmero não pode gi-
ção esteja sem materializar e não esteja fixo não
rar sobre o seu eixo longitudinal, de maneira que
significa de jeito nenhum que não exista; neste
é necessário um deslocamento para fora da ca- caso também não existiria o eixo de rotação da
beça ulnar mediante um movimento de laterali- Terra. O fato de que a pronação-supinação seja
dade externa na tróc1ea do cotovelo.
uma rotação permite deduzir exatamente que o
Entre os dois casos extremos, em que o ei- eixo de pronação-supinação existe, real embora
xo de pronação-supinação passa pelo lado ulnar imaterial, e que se confunde com a chameira de
ou pelo lado radial do punho, a pronação-supi- pronação-supinação excepcionalmente, mas a
nação normal baseada na preensão tridigital sua posição com relação ao esqueleto depende
(fig. 3-48) se realiza ao redor de um eixo inter- tanto do tipo de pronação~supinação quanto do
mediário que passa pela epífise inferior do rádio, seu estado em cada instante.
1. MEMBRO SUPERIOR 131

Fig.3-48

iI
~111111111111111111111111111111l~
1

I
I ,
I
I
I
I
I

s
Fig.3-49

Y' Z''f p
Fig.3-50
132 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS DUAS ARTICULAÇÕES RÁDIO-ULNAR SÃO CO-CONGRUENTES

o par funcional das articulações rádio-ul- nação e a posição de estabilidade máxi-


nar se destaca pela sua congruência simultânea: ma coincide com a posição intermédia
a posição de estabilidade máxima da articulação de pronação-supinação;
rádio-ulnar inferior (RUI) e a da articulação rá-
b) o processo estilóide está situado por trás
dio-ulnar superior (RUS) se consegue com o
e levemente para dentro: o plano de si-
mesmo grau de pronação-supinação (fig. 3-51).
metria da cabeça ulnar (S) forma um ân-
Ou seja, quando a cabeça da ulna se situa na sua
gulo aberto para frente e para fora de 20°
altura máxima (h) na éavidade sigmóide do rá-
com o plano sagital (F). Se avalia em
dio, o contorno da cabeça radial também alcan-
-20° e se diz que existe um "atraso de
ça a sua altura máxima (y) na pequena cavidade
20° da pronação". A posição de estabili-
sigmóide da ulna. O plano de simetria da cavi-
dade sigmóide do rádio (s) e o da cabeça radial dade máxima não coincide com a posi-
ção intermédia. Está em supinação de
(T), que passam pelo ponto de maior altura do
contorno, formam um ângulo diedro para dentro 20° de maneira que a pronação completa
e para frente ou um ângulo de torção do rádio é menos ampla que no caso anterior;
igual ao ângulo de torção da ulna determinado c) o processo estilóide está situado por trás
da mesma maneira pelo plano de simetria da ca- e levemente para fora: desta vez existe
beça ulnar (passando pelo ponto de maior altura um ângulo de "avanço da pronação",
do contorno) e pelo da pequena cavidade sig- por exemplo de 15°, avaliado + 15°, e a
móide da ulna. posição de estabilidade máxima é a de
Porém, este ângulo varia dependendo de 15° de pronação, e a amplitude da pro-
cada pessoa (fig. 3-52). Para se convencer é su- nação máxima é maior que nos dois ca-
ficiente observar uma ulna "em escapada" pela sos anteriores.
sua extremidade inferior. Para cada um dos três casos existe um ân-
Dependendo da posição do estilóide ulnar e gulo diferente de torção da ulna, sendo mais
do ponto de máxima altura no contorno da cabe- agudo quanto mais acentuado seja o "avanço da
ça, podem aparecer três casos: pronação". Embora em todos os casos o ângulo
a) o processo estilóide está situado exata- de torção da ulna (u) seja igual ao ângulo de tor-
mente por trás: o plano de simetria (S) ção do rádio (r), o que determina a congruência
da cabeça ulnar coincide com o plano sa- simultânea das duas articulações rádio-ulnares.
gital (F), que contém a crista romba da Um estudo estatístico sobre numerosos ca-
grande cavidade sigmóide. Não existe sos permitiria, sem dúvida, conhecer as varia-
nem "avanço" nem "atraso" para a pro- ções e as distribuições dos ângulos.
1. MEMBRO SUPERIOR 133

t)

Fig.3-51

SnF Fn +150

B A c
Fig.3-52
134 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MOTORES DA PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO: OS MÚSCULOS

Para poder compreender a forma de atuar Os músculos pronadores-supinadores são


dos músculos rotadores devemos analisar, desde quatro, associados de dois em dois. Para cada um
um ponto de vista mecânico, a forma do rádio dos movimentos existem:
(fig. 3-53). ,- um músculo curto e plano, cuja ação é a
Este osso está constituído por três segmen- de "desenrolar" (ver seta 1);
tos cuja união representa, de maneira aproxima- - um músculo longo que se insere no vérti-
da, uma manivela. ce de uma curva (ver seta 2).
- o colo (segmento superior, oblíquo para Músculos motores da supinação (figs.
baixo e para dentro) forma com o seg- 3-55 e 3-56; secções, lado direito, vista do frag-
mento médio (porção média da diáfise, mento inferior). São os seguintes:
oblíqua para baixo e para fora) um ângu- 1) o supinador (1), enrolado em tomo do co-
lo obtuso aberto para fora, cujo vértice lo do rádio (fig. 3-56, a): atua ao "desenro-
(seta 1) está ocupado pela tuberosidade lar-se";
bicipital, inserção do bíceps. Estes dois 2) o bíceps (2), que se insere no vértice da
segmentos descrevem, em conjunto, a curva supinadora no nível da tuberosidade
"curva supinadora" do rádio; bicipital (fig. 3-56, b): atua por tração e
- o segmento médio constitui, com o seg- mostra a sua máxima eficácia quando o co-
mento inferior (oblíquo para baixo e pa- tovelo está em ftexão de 900• E o músculo
ra dentro), um ângulo obtuso aberto pa- mais potente de todos os que intervêm na
ra dentro, cujo vértice (seta 2) é o ponto pronação-supinação, o que explica que se
de inserção do pronador redondo. Am- enrole como um parafuso "supinando",
bos os segmentos descrevem, em con- com o cotovelo ftexionado.
junto, a "curva pronadora" do rádio. Músculos motores da pronação (figs.
É preciso ressaltar que a "manivela radial" 3-57 e 3-58). São os seguintes:
é oblíqua com respeito ao seu eixo (esquema pe- 1) o pronador quadrado (1), enrolado ao re-
queno): de fato, este eixo xx', que é o eixo de dor da extremidade inferior da ulna: atua
pronação-supinação, passa pelos extremos dos "desenrolando" a ulna com relação ao rá-
ramos e não pelos próprios ramos. De maneira dio (fig. 3-58, vista inferior, lado direito);
que os vértices das duas curvas se localizam a 2) o pronador redondo (2), que se insere no
um lado e a outro do eixo. vértice da curva pronadora, atua por tra-
O eixo xx' é comum para as duas articula- ção, mas o seu momento de ação é fraco,
ções rádio-ulnares; esta coincidência dos dois ei- especialmente com o cotovelo em exten-
são.
xos é indispensável para poder realizar a prona-
ção-supinação. Isto requer que os dois ossos es- Os músculos pronadores são menos potentes
tejam íntegros, sem fraturas, seja em conjunto ou que os supinadores: na tentativa de desaparafusar
em separado. um parafuso bloqueado, é necessária a ajuda da
Existem duas formas de mover essa mani- pronação obtida mediante a abdução do ombro.
Apesar do seu nome, o braquiorradial não é
vela (fig. 3-54):
supinador, mas ftexor do cotovelo. Não é supina-
- "desenrolar" um tracionador enrolado em
dor inclusive na posição zero, a não ser a partir da
um dos ramos (seta 1);
pronação completa. Paradoxalmente, a partir da
~ puxar do vértice de uma das curvas (seta supinação completa, é pronador até a posição zero.
2). Existe somente um nervo para a pronação: o
Esta é a forma de atuar dos músculos prona- mediano. Dois nervos para a supinação: o radial é
dores-supinadores. o músculo-cutâneo (no caso do bíceps).
1. tvfEMBRO SUPERIOR 135

Fig.3-57

Fig.3-58

Fig.3-54 Fig.3-56
136 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS ALTERAÇÕES MECÂNICAS DA PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO

Fraturas dos dois ossos do antebraço (figs. da ulna, pela parte de cima (fig. 3-61)
3-59 e 3-60, segundo Merle D'Aubigne). (operação de M. Kapandji e Sauvé);
O deslocamento dos fragmentos é diferente 2) luxação da cabeça radial
dependendo da localização das linhas de fratura; Associa-se com freqüência (fig. 3-62) a
está condicionado pelas ações musculares. uma fratura por impacto direto (seta bran-
1) se a linha de fratura radial se localiza ca) da ulna (fratura de Monteggia). A lu-
no terço superior (fig. 3-59), separa xação da cabeça radial para cima (seta
fragmentos sobre os que atuam múscu- preta) se produz quando o bíceps se con-
los com a mesma função: supinadores no trai (seta tracejada): para realizar a opo-
fragmento superior, pronadores no frag- nência desta ação luxante do bíceps, é ne-
mento inferior. Neste caso, o desloca- cessário reconstruir cirurgicamente um li-
mento (rotação dos fragmentos um com gamento anular.
relação ao outro) será máximo: o frag- Fraturas da porção inferior do rádio
mento superior estará em pronação má- Durante as fraturas da porção inferior do rá-
xima e o inferior em supinação máxima;
dio (fig. 3-63), a basculação externa da epífise ra-
2) se a linha de fratura radial se localiza na dial (A) provoca uma incongruência da articula-
porção média (fig. 3-60), o deslocamento ção rádio-ulnar inferior e uma tensão exagerada
será normal. De fato:
do ligamento triangular. Se não reduzimos o des-
- a pronação do fragmento inferior é locamento com precisão e se a consolidação se
realizada exclusivamente pelo prona- realiza com um calo vicioso, a pronação-supina-
dor quadrado; ção pode estar gravemente alterada.
- a supinação do fragmento superior é Quando o traumatismo é suficientemente in-
moderada pelo pronador redondo. tenso para arrancar o ligamento triangular, fato
O deslocamento fica reduzido pela me- que observamos em radiografias, o resultado é o
tade. mesmo.
A redução deve corrigir o desvio angular e Em alguns casos (B), o ligamento triangular
também restabelecer as curvas de ambos os ossos, arranca a sua inserção interna, isto é, a estilóide ra-
principalmente do rádio: dial (fratura de Gerard-Marchant). Isto provoca
- curva no plano sagital, de concavidade duas conseqüências:
anterior. Se desaparece ou fica invertida, a - uma luxação da articulação rádio-ulnar
pronação é menos ampla; inferior com diástase, limitada unicamen-
~ curvas no plano frontal, na prática a CUI- te pela membrana interóssea;
va pronadora, sem a qual a pronação fi- - uma entorse grave do ligamento lateral
ca limitada pela ineficácia do pronador interno da articulação rádio-carpeana.
redondo.
A basculação posterior das fraturas da porção
Luxações das articulações rádio-ulnares inferior do rádio (fig. 3-64) também prejudica a
1) luxação da articulação rádio-ulnar inferior pronação-supinação:
Pode ocorrer de forma isolada ou associa- a) em estado normal os eixos das superfícies
da com uma fratura da diáfise radial. O radial e ulnar se confundem;
seu tratamento é complicado e pode pro- b) quando o fragmento epifisário inferior do
vocar a ressecção da cabeça ulnar (opera- rádio realiza a basculação para trás, o eixo
ção de Darrach) ou a sua reposição. da superfície radial forma com o da super-
Somente podemos repor e fixar com para- fície ulnar um ângulo aberto para baixo e
fuso se provocamos uma pseudo-artrose para trás: a congruência das superfícies ar-
intencionada por ressecção segmentária ticulares desaparece.
s

.•..••..•
"1
I
,
f

III
II
I
I
p

Fig.3-59

Fig.3-61

Fig.3-63

Fig.3-62
138 FISIOLOGIA ARTICULAR

COMPENSAÇÕES E POSIÇÃO FUNCIONAL

"A supinação se realiza com o antebra- - e a posição de semi-pronação (figs. 3-68


ço" (fig. 3-65) e 3-69): segurar uma colher ou escre-
ver.
De fato, como a posição normal do membro
superior é ao longo do corpo com o cotovelo fle- A posição funcional corresponde a um es-
xionado, não existe outra possibilidade de reali- tado de equilíbrio natural entre os grupos
zar a supinação se não for nas articulações rádio- musculares antagonistas e, portanto, com o mí-
ulnares exclusivamente: verdadeira supinação. nimo gasto muscular possível.
. É o movimento que se realiza quando abri- O movimento de pronação-supinação é im-
mos uma fechadura com chave. prescindível para levar os alimentos à boca. De
O fato de que o ombro não intervém na supi- fato, quando pegamos um alimento de um plano
nação explica a dificuldade para compensar a para- horizontal (uma mesa ou o chão), a mão realiza a
lisia da supinação. Contudo, isto se atenua porque sua aproximação em pronação, para pegar o ob-
a paralisia completa da supinação é rara, porque o jeto por cima e o cotovelo se estende. Para levar
o alimento até a boca é necessário flexionar o co-
bíceps possui uma inervação diferente (nervo mús-
culo-cutâneo) da do supinador (nervo radial). tovelo ao mesmo tempo que se apresenta o ali-
mento realizando um movimento de supinaçâo.
"A pronação se realiza com o ombro"
É necessário fazer duas advertências:
(fig. 3-66)
Porém, no caso da pronação, a ação dos - a supinação "poupa" a flexão do co-
tovelo: se fosse necessário levar o
músculos pronadores puros pode-se ampliar
com relativa facilidade ou pode-se compensar mesmo objeto até a boca mantendo
com uma abdução do ombro. É O movimento uma atitude de pronação, para realizar
realizado para virar o conteúdo de uma panela. este gesto precisamos de uma maior
flexão do cotovelo;
Posição funcional
- o bíceps é o músculo que melhor se
Esta posição se situa entre: adapta a este movimento "alimen-
- a posição intermédia (fig. 3-67) utilizada, tar", já que é flexor do cotovelo e su-
por exemplo, para segurar um martelo; pinador.
1. MEMBRO SUPERIOR 139

Fig.3-66

Fig.3-68
Fig.3-67

~.

Fig.3-69

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