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Sobre o Autor

James Watkins, PhD, leciona anatomia funcional e biomecânica na


Scottish School of Sports Studies, na University of Strathclyde, em
Glasgow, Escócia, onde trabalhou como chefe de departamento de
1989 a 1994.
Suas publicações contabilizam mais de 70 trabalhos em revis-
tas acadêmicas e quatro livros. É membro do conselho consultivo
do Journal of Sports Sciences e do conselho editorial do European Journal
of Physical Education e do British Journal of Physical Education. Perten-
ceu ao conselho da seção de Biomecânica da British Association of
Sport and Exercise Sciences de 1993 a 1996.
Seu PhD em biomecânica foi conferido pela University of Leeds,
Inglaterra, em 1975.

W336e Watkins, James.


Estrutura e função do sistema musculoesquelético [recurso
eletrônico] / James Watkins ; tradução: Jacques Vissoky ;
revisão técnica: Aylton José Figueira Júnior. – Porto Alegre :
Artmed, 2014.

Editado também como livro impresso em 2001.


ISBN 978-85-8271-141-5

1. Anatomia – Músculos. 2. Articulação. 3. Biomecânica.


I. Título.

CDU 611.73

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094


202 JAMES WATKINS

No aspecto anterior do carpo, os principais ligamentos são o radiocarpal anterior (palmar) e o


ulnocarpal (Figura 7.6b). O ligamento radiocarpal anterior tem duas bandas oblíquas. A banda
inferior passa para baixo e medialmente a partir da borda anterior e inferior do processo estilóide
do rádio, para prender-se no capitato. A banda superior passa para baixo e medialmente, a
partir da borda anterior e lateral da extremidade distal do rádio (medialmente à inserção da
banda inferior), para prender-se no piramidal. O ligamento ulnocarpal (palmar) também tem
duas bandas, que se originam a partir do aspecto anterior e lateral do processo estilóide da
ulna. As bandas superior e inferior alargam-se para inserirem-se, respectivamente, no semilunar
e no capitato.
No aspecto posterior do carpo, os principais ligamentos são o radiocarpal posterior (dorsal),
o transverso (dorsal), o medial e o lateral (Figura 7.6c). O ligamento radiocarpal posterior con-
siste de bandas superior e inferior originando-se de um ponto comum no piramidal. As bandas
espalham-se para cima e lateralmente para inserirem-se na borda posterior da extremidade
distal do rádio. O ligamento transverso origina-se a partir do piramidal; divide-se em três
bandas ao passar lateralmente, inserindo-se no escafóide, no trapezóide e no trapézio. O liga-
mento medial origina-se a partir do aspecto inferior do processo estilóide da ulna; alarga-se ao
passar quase diretamente e para baixo, para inserir-se no pisiforme e no piramidal. O ligamen-
to lateral origina-se a partir do aspecto posterior e inferior do processo estilóide do rádio; des-
dobra-se ao passar quase diretamente para baixo ao inserir-se no trapezóide e no trapézio.
Com relação à posição anatômica, a borda lateral da articulação do punho situa-se inferi-
ormente à borda medial, de forma que o deslocamento lateral do carpo ao nível do punho está
consideravelmente restringido pelo processo estilóide do rádio (Figura 7.6a). Em comparação,
o deslocamento medial do carpo na articulação do punho é relativamente irrestrito. A estabili-
dade do carpo nessa direção parece ser uma das principais funções dos ligamentos radiocarpais
anterior e posterior, obliquamente orientados, que restringem os movimentos do carpo medial
(e para baixo) com relação à articulação do punho.

Movimentos do Punho
Os principais movimentos do complexo do punho são a flexão, a extensão, a abdução, a adução
e a circundução. Todos esses movimentos ocorrem como resultado de uma combinação com-
plexa de movimentos nas articulações do punho e mediocarpal. Com relação à posição
anatômica, as amplitudes de flexão e de extensão são limitadas a aproximadamente 85°. Os
ligamentos posteriores restringem a flexão e os anteriores, a extensão. A abdução está restringida
em aproximadamente 15° pela orientação oblíqua da articulação do punho e pelo ligamento
medial. Em comparação, a adução é relativamente irrestrita, e tem uma amplitude de movi-
mento de 45°. Embora os movimentos do complexo do punho, além das amplitudes de movi-
mento, possam resultar em lesão, ela ocorre mais freqüentemente como resultado de abdução
excessiva, habitualmente em combinação com a extensão. Tais movimentos podem resultar em
fratura do escafóide ou do processo estilóide do rádio (Recht, Burk e Dalinka, 1987).

O complexo do punho é sinovial e consiste das articulações do punho (basicamente


elipsóide) e mediocarpal (série de articulações deslizantes). O complexo do punho é
estabilizado pelos ligamentos interósseos entre alguns dos ossos carpais, pelos liga-
mentos estendidos que se desdobram em várias seções do carpo, e por músculos que
movem o carpo, o qual facilita a circundução da mão.

Articulação do Quadril
A articulação do quadril é uma junção sinovial tipo bola-e-soquete. A cabeça do fêmur é como
um hemisfério e articula-se com o acetábulo, relativamente profundo. A incisura acetabular é
transposta por um ligamento transverso que é reforçado com a borda acetabular. A borda
acetabular e o ligamento transverso formam uma superfície articular em forma de anel, tendo
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a borda interna do anel um recesso em relação à borda externa, tal como uma arruela de metal
afundada. O recesso da fossa acetabular forma o centro do anel. O acetábulo é aprofundado
consideravelmente por um anel de fibrocartilagem ao redor de sua orla e da borda inferior do
ligamento transverso. O anel de fibrocartilagem é chamado de labro acetabular, e é estrutural e
funcionalmente similar ao labro glenóide do ombro. A articulação do ombro está envolvida
por uma cápsula articular cilíndrica, que é reforçada pelos ligamentos capsulares. O aspecto
anterior é reforçado por três ligamentos, a saber, o iliofemoral superior, o iliofemoral inferior e
o pubofemoral (Figura 7.7a). O aspecto posterior da cápsula é reforçado pelo ligamento
isquiofemoral (Figura 7.7b). Diferentemente da articulação do ombro, o quadril tem um liga-
mento intracapsular, conhecido como ligamento redondo (Figura 7.7c), que prende a cabeça do
fêmur (em um ponto chamado fóvea), e o ligamento transverso. Com o deslizamento da cabe-
ça do fêmur na borda acetabular, o ligamento redondo move-se dentro da fossa acetabular.
O formato da superfície articular, junto com a cápsula, com os ligamentos capsulares e o
ligamento intracapsular torna a articulação do quadril uma junção muito estável. Em compa-
ração ao ombro, a articulação do quadril é mais estável, mas menos flexível. Com relação à
posição anatômica, todos os ligamentos capsulares do quadril direito correm em um sentido
horário, do osso inominado até o fêmur, quando vistos de um aspecto lateral. Similarmente,
todos os ligamentos capsulares do quadril esquerdo correm em um sentido anti-horário a par-
tir do osso inominado até o fêmur, quando vistos de um aspecto lateral. Imagina-se que isso
ocorra a partir da evolução de uma postura quadrúpede para uma postura ereta (Williams et
al., 1995). A orientação dos ligamentos é tal que eles rapidamente se tornam retesados durante
a extensão do quadril e frouxos durante a sua flexão. Conseqüentemente, os ligamentos res-
tringem a extensão do quadril, mas não a sua flexão. Entretanto, a amplitude de flexão e de
extensão do quadril também depende do ângulo da articulação do joelho. Os músculos
isquiotibiais e quadríceps cruzam tanto o quadril como o joelho (ver Figura 2.5). Com o joelho

b
a Ligamento iliofemoral Ligamento
inferior isquiofemoral
Ligamento
iliofemoral
superior

c
Ligamento
pubofemoral

Ligamento
redondo

Ligamento
transverso

Cápsula

Figura 7.7. Ligamentos da articulação do quadril direito; (a) aspecto anterior; (b) aspecto posterior; (c) secção coronal.
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estendido, a extensão do quadril fica limitada a aproximadamente 30° pelo retesamento do


quadríceps, bem como dos ligamentos capsulares, e a flexão do quadril é limitada em aproxi-
madamente 70° pelo retesamento dos isquiotibiais. Com o joelho flexionado, a extensão do
quadril fica reduzida a virtualmente nada pelo retesamento do quadríceps e a sua flexão é
aumentada a aproximadamente 120° pelo relaxamento de ambos os grupos musculares, bem
como dos ligamentos. A amplitude de flexão do quadril é habitualmente maior que a da exten-
são, sem importar o ângulo do joelho. Nesse aspecto, a articulação do quadril é similar à do
ombro, em que a amplitude de flexão é muito maior que a amplitude de extensão (no que diz
respeito à posição anatômica).
Durante a abdução do quadril, os ligamentos pubofemoral e isquiofemoral tornam-se
retesados, e o ligamento iliofemoral superior afrouxa-se; a amplitude normal da abdução do
quadril é de aproximadamente 40°. Durante a adução do quadril, afrouxam-se os ligamentos
pubofemoral e isquiofemoral; o ligamento iliofemoral superior fica retesado. A amplitude nor-
mal da adução do quadril é de aproximadamente 30°. Durante a rotação lateral (externa) do
quadril, todos os ligamentos anteriores tornam-se retesados, e o ligamento isquiofemoral afrou-
xa-se; a amplitude normal de rotação lateral é de aproximadamente 45°. Durante a rotação
medial (interna) do quadril, todos os ligamentos anteriores afrouxam-se, e o ligamento
isquiofemoral retesa-se; a amplitude normal de rotação medial é de aproximadamente 30°.
Assim como os movimentos envolvendo a articulação do ombro estão associados com
movimentos da cintura escapular, os movimentos do quadril estão associados com os movi-
mentos da coluna vertebral. Por exemplo, a abdução do quadril está habitualmente associada
com a flexão lateral do tronco, como ao ficar em pé em uma perna, com a outra perna abduzida
(Figura 7.8a). Similarmente, a flexão do quadril está habitualmente associada com a flexão do
tronco, como no exercício abdominal (Figura 7.8b). Conseqüentemente, a flexibilidade reduzi-
da no quadril é parcialmente compensada por movimentos da coluna vertebral. Nesse aspec-
to, as articulações do quadril e da coluna vertebral podem ser consideradas como um grupo
funcional similar ao complexo do ombro.
As lesões na articulação do quadril e em suas estruturas ligamentares de sustentação
ocorrem bem menos freqüentemente que as lesões no ombro, no joelho e no tornozelo (Lloyd-
Smith et al., 1985; Weiker e Munnings, 1994). Isso provavelmente reflete, pelo menos em parte,
o alto nível de estabilidade da articulação do quadril em relação ao ombro, ao joelho e ao

Figura 7.8. Ações envolvendo o movimento na articulação do quadril e na coluna vertebral; (a) abdução
do quadril e flexão lateral da coluna vertebral; (b) flexão do quadril e flexão da coluna vertebral.
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tornozelo. A dor musculoesquelética na região do quadril é habitualmente o resultado de le-


sões a estruturas associadas com o movimento da articulação, mais do que o quadril em si;
essas lesões incluem sacroileíte, osteíte púbica, fraturas de estresse do colo femoral, bursite e
estiramentos musculares ou tendinosos (Brody, 1980).

A articulação do quadril é uma junção sinovial e a área de articulação é aumentada


consideravelmente pelo labro acetabular. A articulação do quadril é sustentada interna-
mente pelo ligamento redondo e externamente por uma cápsula articular cilíndrica re-
forçada anteriormente pelos ligamentos iliofemoral e pubofemoral e posteriormente pelo
ligamento isquiofemoral. A articulação do quadril é mais estável, mas menos flexível,
que a articulação do ombro.

Complexo do Joelho
O complexo do joelho consiste de duas articulações: a tibiofemoral e a patelofemoral (Figura 7.9). Complexo do joelho: as arti-
culações tibiofemoral e patelo-
Ambas são sinoviais, e dividem a mesma cápsula articular. O movimento da articulação femoral
tibiofemoral determina grande parte do movimento patelofemoral. Os movimentos anormais
na articulação tibiofemoral tendem a causar movimentos anormais na articulação patelofemoral.
Em situações envolvendo carga dinâmica, a pressão nas duas articulações costuma ser alta, e
mesmo movimentos levemente anormais podem sobrecarregar partes articulares (Huberti e
Hayes, 1984). Conseqüentemente, a incidência de lesão no complexo do joelho é relativamente
alta em certos grupos de indivíduos, como aqueles envolvidos em esportes e em ocupações
que envolvam a elevação de cargas pesadas (LaBrier e O’Neill, 1993).

Articulação Tibiofemoral
Embora os côndilos tibiais sejam virtualmente achatados, os côndilos femorais têm um forma-
to de polia convexa. Conseqüentemente, a partir de um ponto de vista esquelético, a articula-
ção tibiofemoral é muito instável. Entretanto, essa falta de estabilidade esquelética é compen-
sada em um grau considerável por dois meniscos, fortes ligamentos extracapsulares, e podero-
sos músculos. O formato e a orientação dos meniscos e dos ligamentos permitem que a articu-
lação tibiofemoral funcione como uma dobradiça modificada, tendo a flexão e a extensão como
o principal plano de movimento.

a
b c
Fêmur

Patela

Tíbia

Figura 7.9. O complexo do joelho; (a) em extensão completa; (b) em 20° de flexão; (c) em 140° de flexão.

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