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/ Os processos de democratização nos países africanos estão pouco estudados. O significado e
os limites de democracia política e económica, as acessibilidades à burocracia e aos serviços, as relações
entre os poderes formais e informais, a democratização e os mecanismos de reprodução dos poderes
tradicionais, a organização e capacidade reivindicativa da sociedade civil, a transparência no exercício do
poder e o estabelecimento das incompatibilidades entre a “coisa pública” e as actividades privadas, etc.,
são aspectos abertos e pouco consolidados nas jovens democracias africanas à ocidental e “impostas”
(“sugeridas”) como condição para a cooperação, a ajuda alimentar, o financiamento externo, etc.
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/ As funções das IBW têm sofrido alterações devido à evolução económica e financeira
internacional. Embora aparentemente as duas instituições parecem possuir competências delimitadas,
existem autores que não encontram claridade nas delimitações de competências. Tarp (1991: 54) afirma:
“A linha divisória inicial entre o FMI e o Banco Mundial implica que o Fundo receba orientações do BM
em questões de desenvolvimento e o Banco siga o FMI sobre as políticas macroeconómicas domésticas e
nas taxas de câmbio, ajustamento temporal dos desequilíbrios da balança de pagamentos e programas de
estabilização. Esta definição tornou-se confusa durante os turbulentos anos da ruptura dos acordos de
Bretton Woods devido à crise do sistema de valores de 1968 a 1973 devido ao início da crise da dívida.
Esta deficiente claridade entre as perspectivas do FMI e do BM é reforçada pelas recentes
facilidades “especiais” do FMI (como por exemplo o suporte da balança de pagamentos pelo Banco
Mundial) para ajudar os países de baixo rendimento.
Outros autores referem-se à divisão do trabalho entre o Fundo e o Banco, como por exemplo,
Crook (1991).
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/ Existem evidências que os países com capacidade financeira e de obtenção de recursos
externos, geralmente não optam pelos PAE das IBW (ou pelo menos resistem à sua aplicação, ou as
negociações realizam-se com diferentes poderes/capacidades negociais por parte dos governos
interessados).
Livro de MOSCA, João (2005): Economia de Moçambique, século XX. Lisboa Editora Piaget
Capítulo 3 – O Período do Ajustamento Estrutural 319
3.3 Os programas de ajustamento estrutural
3.3.2 Objectivos
3.3.3 Formulação
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/ No caso de Moçambique, aquilo que ficou conhecido como a “guerra do caju” (veja na
secção 3.1), demonstra bem esta orientação das IBW. Alguns autores apresentam dúvidas sobre a
imunidade do BM e do FMI relativamente a lobbies económicos.
Livro de MOSCA, João (2005): Economia de Moçambique, século XX. Lisboa Editora Piaget
Capítulo 3 – O Período do Ajustamento Estrutural 321
3.3 Os programas de ajustamento estrutural
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/ Hicks (1989), ao analisar as mudanças verificadas nas despesas dos países pobres altamente
endividados (PPAE) entre 1974 e 1984, conclui que os principais cortes se verificaram nos investimentos
públicos enquanto que nas despesas ordinárias, os salários sobem e os “outros bens e serviços”
decrescem. Por sectores, nota-se uma redução nas despesas “serviços gerais”, defesa, infra-estruturas e
uma retracção nos gastos sociais.
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Vários estudos demonstram que, regra geral, nos períodos de crescimento da produção, as
receitas são superiores às despesas, verificando-se o contrário nos períodos de recessão.
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Capítulo 3 – O Período do Ajustamento Estrutural 322
3.3 Os programas de ajustamento estrutural
3.3.4 Pressupostos
O modelo explicativo dos PAE assume também que o tipo de câmbios é fixo,
que a oferta monetária é controlada e que os preços externos são estáveis (ou
constantes). Deste modo, as variações da economia internacional não são consideradas
ou podem-se adaptar automaticamente através do mecanismo monetário. Este
pressuposto significa que as economias nacionais estão relacionadas com o mercado
mundial, condição para uma perfeita integração; assim se entendem os objectivos da
paridade entre os preços e das taxas de juro internas com as do mercado mundial e a
eliminação dos mecanismos proteccionistas.
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/ As políticas sectoriais são elaboradas pelo Banco Mundial. Muitos autores, como por
exemplo, Baker (1989), Crook (1991) e Tarp (1991), fazem análises críticas sobre a evolução das
estratégias sectoriais do BM.
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/ Considera-se que o lucro é o principal motor do crescimento. Assume-se o princípio
schumpteriano que a “acção criadora do empresário é o impulsionador do progresso económico …
através da inovação tecnológica” (Furtado, 1974: 48).
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Capítulo 3 – O Período do Ajustamento Estrutural 323
3.3 Os programas de ajustamento estrutural
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/ As mais importantes são: balança de pagamentos, balança fiscal (orçamento público),
balança de acumulação (relação entre a poupança e o investimento), além da inflação e do mercado de
valores.
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/ Fitzgerald e Rob Vos (1989a: 26), afirmam: “ao nível macroeconómico, o factor da
distribuição do rendimento não é considerado como relevante para os Novos Ortodoxos...”. O documento
do UNDP (1989: 24), diz: “sem serem especificamente desenhados para serem assim, os programas de
estabilização têm também a expectativa de influir nas variáveis sociais, como por exemplo, sobre a
pobreza, o emprego, o bem-estar das crianças etc.”. Cook (1988), especifica: “uma análise dos objectivos
de trinta programas do FMI apoiados por créditos elevados entre 1964 e 1979, revelou que o objectivo
primordial era o fortalecimento da situação da balança de pagamentos, enquanto que a inflação e o
crescimento eram secundários. A distribuição dos rendimentos quase que não figurou entre os objectivos
mencionados”. Mosca (1993: 88) afirma: “As medidas de estabilização e de ajustamento não constituem
um modelo de desenvolvimento. Não possuem, de forma explícita, objectivos de desenvolvimento
económico e social e as políticas sectoriais estão apenas implícitas nos possíveis efeitos das medidas
aplicadas”. Esta afirmação é concordante com o pressuposto neoclássico segundo o qual, o mercado
determina por si os equilíbrios macroeconómicos e o desenvolvimento sectorial depende das respectivas
vantagens competitivas da economia.
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Capítulo 3 – O Período do Ajustamento Estrutural 324
3.3 Os programas de ajustamento estrutural
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/ Mosca (1993) apresenta as relações entre os modelos económicos neoclássicos com os ideais
filosóficos do liberalismo.
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/ Há muitas variantes teóricas do monetarismo. Dornbusch e Fischer, afirmam que quase
todos (imagina-se que dirigindo-se aos economistas), somos algo monetaristas e que, segundo os mesmos
autores (pp. 795), num extremo estão os “duros que se localizam para além de Friedman até ao
keynesianismo ecléctico”. Em resumo, a base da teoria considera o dinheiro como o elemento mais
importante para a gestão macroeconómica, tanto para os equilíbrios como para o crescimento (efeitos
sobre o PNB). A afirmação de Friedman ´o dinheiro é o único que importa nas variações do rendimento
nominal e nas variações de curto prazo do rendimento real´, é um exagero porque transmite o sentido
correcto das nossas conclusões”, em Dornbush e Fischer (1991: 796).
O debate dos monetaristas e dos economistas que dão grande importância ao modelo de
equilíbrio IS-LM, é que estes defendem que enquanto a quantidade de moeda influi as taxas de juro, e
possui efeitos sobre a procura agregada e portanto no PNB, concluem que é necessário gerir as taxas de
juro. Os monetaristas contestam este ponto de vista alegando principalmente: 1) que a taxa de juro
nominal não é um bom instrumento de direcção da economia, mas sim a taxa real, pelos seus efeitos sobre
as restantes variáveis (consumo, poupança, investimentos, etc.); (2) mencionam a possibilidade que as
reserva desestabilizem a economia se existe o objectivo de manter as taxas nominais baixas, (Dornbush e
Fischer (1991: 798 e 799).
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/ BP é a balança de pagamentos; In, a inflação; ∆TC, as variações da taxa de câmbio; ∆Ci as
variações do crédito interno (inclui o crédito aos sectores privado e público e novas emissões de moeda);
e, a, b e c, são índices constantes relacionadas com cada economia onde se aplica o modelo. Note-se que
as letras existentes no modelo inicial foram modificadas pela tradução do autor.
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/ O próprio modelo do FMI contradiz um dos pressupostos/objectivos essenciais do
ajustamento estrutural: a não intervenção do Estado na economia. Este “desvio” monetarista
relativamente aos neoclássicos, reflecte-se na não utilização da taxa de juro como o mais importante
instrumento de política economia.
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/ Este aspecto é um dos que mais diferencia os modelos monetaristas dos neoclássicos.
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Capítulo 3 – O Período do Ajustamento Estrutural 325
3.3 Os programas de ajustamento estrutural
A ênfase monetarista indica que a solução dos problemas externos passa por
medidas monetárias dado que têm uma origem monetária interna. Assim, para a solução
dos desequilíbrios internos e externos “é necessário combinar políticas de alteração das
despesas que alterem a procura entre os bens internos e os importados, com políticas de
redução das despesas”, Dornbusch e Fischer (1991:885). Geralmente, são aplicadas
políticas internas restritivas o que significa a redução das despesas orçamentais, de
consumo privado e/ou do investimento.
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/ O conceito de equilíbrio é diferente entre os neoclássicos e Keynes. Os primeiros apenas o
consideram quando existe pleno emprego e Keynes defende que são possíveis equilíbrios com diferentes
níveis de utilização dos recursos.
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/ No caso de Moçambique, as dificuldades de obtenção de crédito é referida pelos empresários
- veja-se por exemplo os documentos de Carvalho Neves (2004) e de Rui Ribeiro (1995).
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Capítulo 3 – O Período do Ajustamento Estrutural 326
3.3 Os programas de ajustamento estrutural
reduz a base monetária e portanto a oferta monetária. A taxa de juros sobe, implicando a
redução da procura de dinheiro e a correspondente redução da procura de bens.
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/ As opções de desenvolvimento assentes nos sectores “modernos”, agravam esta
dependência.
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/ A desvalorização é aplicada para garantir: (1) a paridade dos preços internos com os externos
de forma a dar competitividade às economias (para ter feito, os salários e os preços não devem subir
proporcionalmente); (2) desviar as despesas em bens importados para os internos e incrementar as
exportações.
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Capítulo 3 – O Período do Ajustamento Estrutural 327
3.3 Os programas de ajustamento estrutural
Alguns autores consideram que apenas os défices financiados com maior oferta
de moeda conduzem ao défice externo e à inflação. Ramos e Eyzaguirre (1991),
referem-se aos défices “nominal” e “operativo”. O “operativo” é aquele que exclui a
componente inflacionária da taxa de juros, argumentando que “ é esta que explica a
aceleração ou desaceleração da inflação”164.
a) Crescimento económico
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/ O comportamento da economia moçambicana não é a regra dos PAE. Ground (1987), faz uma
análise sobre os países da América Latina entre 1981 e 1985 e conclui que o crescimento negativo é o
dominante: de 23 países estudados, 12 tiveram crescimento negativo em 1981, 22 em 1982, 18 em 1983,
11 em 1984 e 13 em 1985. O BM procura demonstrar o bom comportamento das economias com PAE,
fazendo referência aos países do oriente (Taiwan, Singapura, Coreia do Sul, Filipinas, etc.) e alguns
africanos (Quénia e Costa do Marfim) e do Uruguai. O documento da ECA (1989), contesta as análises
do BM para a ASS e afirma o contrário. Posteriormente, o Relatório do Desenvolvimento Mundial de
Banco Mundial de 1991, termina por aceitar os maus resultados dos PAE relativamente ao crescimento
económico. Embora o estudo de Ground se refira à década de oitenta, a interpretação do modelo teórico
do PAE permite concluir que as políticas recessivas não são incentivadoras da recuperação da produção.
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/ Uma das principais críticas que se fazem aos PAE, é a limitada entrada de capitais para
incentivar a economia. No caso de Moçambique, existem muitos projectos cuja limitação financeira tem
origem interna devido às políticas recessivas.
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Capítulo 3 – O Período do Ajustamento Estrutural 330
3.3 Os programas de ajustamento estrutural
b) A secundarização da agricultura
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/ Em Moçambique como na maioria dos países africanos, os produtos de exportação não
representam a maioria do rendimento agrário (veja secção 1.3).
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/ Maxwell e Adriano (1989), afirmam: “A associação entre agricultura comercial e crescimento
continua sendo um tema controvertido. Há evidências recentes que fazem duvidar da existência de uma
associação universal. Não obstante, a agricultura de rendimento (cash crops) pode oferecer uma via para
o desenvolvimento”.
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/ Estudos realizados no âmbito do MA em cooperação com as universidades de Michigan e
Arizona.
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/ O Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial do BM de 1986, na página 82, afirma: “Mas
a questão-chave não é segurança alimentar mas a vantagem comparativa. Se um país pode fazer um
melhor uso dos seus recursos em exportações – agrícolas ou não -, não há razões para desperdiçar
recursos na busca da auto-suficiência em alimentos ... a auto-suficiência alimentar permanece um
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Capítulo 3 – O Período do Ajustamento Estrutural 332
3.3 Os programas de ajustamento estrutural
c) O investimento e a poupança
objectivo popular anti-económico e alguns países estão dispostos a exporem-se a altos custos para
alcançá-la”
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/ São muitos os trabalhos sobre este fenómeno; veja-se por exemplo, Wolf (1970),
Meillassoux (1973), Servolin (1979 e 1986), Shanin (1979 e 1983), Friedman (1980), Bernestein (1986),
entre muitos.
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/ Para um estudo crítico sobre as “revoluções verdes”, veja-se por exemplo Griffin (1974);
sobre o conceito de “modernizaçao” na agricultura, Graziano da Silva (1980) numa aplicação ao Brasil e
Bernstein (1990) aborda teoricamente esta questão.
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/ Singer (1988), faz uma forte crítica à outward orientation recomendada pelas IBW e à forma
como é formulada no Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 1987. Em resumo, considera que as
conclusões do BM são retiradas a partir de casos muito específicos, alguns dos quais são cidades-estados.
Singer faz referência a Helleiner (1986: 146): “… as influências externas relacionam-se com o suposto
que o grau de orientação externa está associado a indicadores de crescimento, tanto em África como nos
países pobres em geral e suporta-se principalmente na constatação que a grande instabilidade dos volumes
de importações está associada com menores crescimentos”.
Livro de MOSCA, João (2005): Economia de Moçambique, século XX. Lisboa Editora Piaget
Capítulo 3 – O Período do Ajustamento Estrutural 333
3.3 Os programas de ajustamento estrutural
advém dos níveis de rendimento. Nurkse (1951: 66), afirmava: “pelo lado da oferta na
questão da formação do capital, o círculo vicioso da pobreza vai de (1) o baixo nível dos
rendimentos; (2) a escassa capacidade de poupança; (3) a falta de capital que conduz; a
(4) baixa produtividade e desta forma outra vez a um baixo nível do rendimento per
capita.
d) O papel do Estado
f) Custo sociais
Estes custos, bem como a afectação social e espacial desigual são elementos
intrínsecos do modelo. Por essas razões, as IBW prevêem programas paralelos para
redução da pobreza e dos efeitos sociais mais visíveis. Os equilíbrios e a profundidade
dos custos dependem de vários factores: da capacidade negocial dos governos locais se
estes têm preocupações sociais; do poder de pressão e reivindicativo da sociedade civil;
dos riscos de tornar os PAE ilegítimos e socialmente insustentáveis. As IBW pretendem
aparentar uma face humana; no entanto, foram as ONG e algumas organizações do
sistema das nações unidas (como por exemplo a UNICEF), os movimentos sociais
nacionais e internacionais que durante décadas pressionaram as IBW e as políticas
liberais aplicadas sem respeito pelas realidades sócio-culturais, agredindo a soberania
dos estados.