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CEFET-MG, Belo Horizonte, Brasil, 15 de dezembro de 2017

Operação do Motor de Indução sob Carga


Gilberto M. C. Júnior, Maíra X. S. Assis, Matheus R. Resende

enrolamento de estator. Já R2 é a resistência elétrica do



Resumo — O experimento tratado neste relatório tem como
objetivo principal obter as curvas características do motor de
entrolamento de rotor referida ao estator. A divisão desta
indução. Para isso, foi utilizado um gerador CC conectado a um
banco de resistores para aplicar diversos conjugados de carga no última pelo escorregamento modela a carga mecânica
eixo do motor de indução e assim avaliar seu comportamento em desenvolvida pela máquina de forma que a potencia dissipada
diferentes condições de operação. em R2 / scorresponda às perdas no enrolamento de estator
mais a potencia mecanica desenvolvida pelo rotor da máquina.
Palavras Chave — Motor de Indução, Carga, Gerador CC, Com intuito de separar estas duas potências distintas é comum
Curvas Características. separar este parâmetro em duas parcelas como na Equação 1.

R2 R ( 1−s )
I. INTRODUÇÃO =R 2+ 2 (1)
s s
Em um motor de indução trifásico, o estator cria uma onda
de fluxo que gira sincronicamente, induzindo no rotor Essa potência mecânica gerada pelo rotor é devido ao
correntes com a frequencia de escorregamento. Essas torque eletromagnético da máquina. Contudo este torque não
correntes induzidas também criam uma onda de fluxo em está totalmente disponível no eixo da máquina. Para se obter o
sincronismo com a onda de fluxo do estator, a interação dessas conjugado útil é preciso subtrair do conjugado
duas provoca a produção de um conjugado. Um aumento no eletromagnético o conjugado necessário para vencer as forças
conjugado de carga diminui a velocidade do rotor provocando de atrito e ventilação, Equação 2.
um aumento do escorregamento e um aumento das correntes
induzidas, o que eleva a produção de conjugado do motor. T util=T mec −T rot (2)
Devido à variação da velocidade conforme o conjugado de
carga a frequencia da corrente no rotor varia com o Um motor opera em regime permanente quando seu
escorregamento. Isso implica que o valor da reatância escorregamento permanece invariável. Para isso acontecer o
associada ao circuito de rotor também varia com a velocidade. torque de carga deve ser fixado e aguardado o tempo
Para criar um modelo de circuito com o rotor acoplado ao transitório até que o motor chegue no seu ponto de operação.
estator deve-se fazer dois ajustes. O primeiro é relativo ao A Figura 2 representa o comportamento típico da produção
valor da tensão induzida no circuito de rotor não ser igual a do de conjugado de um motor em função da sua velocidade e
estator, o segundo é relativo a diferença das frequencias das também mostra a curva que representa um conjugado de
correntes que circulam nos circuitos. Para contornar essas carga. No momento da partida o conjugado do motor é maior
diferenças o modelo acoplado reflete os parametros do rotor que o da carga o que provoca uma aceleração do rotor até o
para o estator, esse modelo é visto na Figura 1. momemto em que os dois se igualam. Neste momento define-
se o ponto de operação do motor para aquela carga e o motor
atinge o regime permanente.

Figura 1: Circuito equivalente referido ao estator.

As reatâncias X 1 e X 2 representam reatâncias de dispersão


do estator e do rotor respectivamente. A reatância X m
representa a reatância mútua entre rotor e estator. A resistência
Rc é utilizada para modelar as perdas magnéticas no núcleo da Figura 2: Curva de conjugado do motor e de carga.
máquina como as perdas devido à histerese e às correntes de
Foucault. O parâmetro R1 é a resistencia elétrica do O ponto onde o conjugado produzido pelo motor é máximo
divide a curva em duas regiões. Para velocidades menores que
 a velocidade em que o conjugado é máximo tem-se uma
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região instável de funcionamento. Para um ponto de operação II.METODOLOGIA


nesta região, qualquer pequena variação no conjugado de
carga pode provocar um desequilíbrio entre os conjugados de Visando avaliar o comportamento de um Motor de Indução
forma a tornar o conjugado resultante positivo e fazer o motor Trifásico (MIT) operando sob carga, foi acoplado ao seu eixo
acelerar até o próximo ponto em que o conjugado de carga for uma máquina de corrente contínua operando como gerador. As
igual ao do motor. Este próximo ponto certamente se encontra Tabelas I e II, apresentam as especificações das máquinas
à direita do ponto de maior torque na região conhecida como utilizadas nos experimentos.
região estável. Neste ponto de operação qualquer variação TABELA I
branda na carga é compensada por uma variação na produção DADOS DA MÁQUINA CC
de conjugado do motor no sentido de manter o mais invariável Tensão (V) 120
possível o ponto de operação. Corrente (A) 16.7
Potência de Saída (kVA) 2
Ao conectar o eixo de um motor de qualquer natureza ao Velocidade (rpm) 1800
eixo de uma máquina de indução de modo que a faça girar
acima da velocidade síncrona, se esta for ligada à rede ou a TABELA II
qualquer outro esquema que seja capaz de fornecer DADOS DA MÁQUINA DE INDUÇÃO
magnetização pelo estator, ela opera como gerador. A Figura 3 Tensão (V) 220/380 ∆∆/YY
exibe a curva de conjugado para os modos de operação de uma Corrente (A) 8,8/5,1
Potência de Saída (kVW) 2,24
máquina de indução. Velocidade (rpm) 1705
Rotor ou campo (V) 77Y
Tipo Rotor Bobinado

Foram curto circuitadas os terminais das bobinas do MIT do


tipo rotor bobinado. Para aplicar diversos conjugados de carga
no eixo do motor de indução, um banco de resistores foi
conectado na armadura do gerador CC. O experimento foi
realizado inicialmente com o MIT operando com carga
máxima, em seguida, a carga foi sendo retirada até a operação
a vazio. O procedimento foi realizado desta forma com
objetivo de evitar a operação com correntes cada vez maiores.
É importante ressaltar que devido a limitação do banco de
resistores o motor de indução não atingiu o conjugado máximo
no experimento realizado.
Para cada variação de carga foram medidas a potência de
entrada do sistema por meio do analisador de qualidade de
Figura 3: Regiões de operação para máquina de indução.
energia da FLUKE, a corrente e a tensão na armadura do
gerador CC utilizando o Multímetro Fluke 179, true RMS e a
Quando o rotor opera acima da velocidade síncrona, o velocidade através de um Tacômetro ICEL (modelo TC-5030).
campo de estator passa a induzir correntes com frequência de A Figura 4 apresenta o esquemático de ligação do
escorregamento no rotor, diferentemente da operação motora, experimento.
a onda de fluxo criada pelo rotor tem sentido de rotação
contrária à do rotor. A interação dos dois campos provoca um
conjugado contrário ao movimento no eixo da máquina. Assim
a máquina absorve potencia mecânica do sistema e a
transforma em potência elétrica que flui pelos terminais do
estator.
De volta à operação motora, as variáveis elétricas e
mecânicas alteram seu comportamento de acordo com a carga
acoplada no eixo da máquina. Com o aumento da carga
podemos esperar um aumento exponencial na corrente de
entrada da máquina, um aumento logarítmico no fator de
potencia, um aumento nas potencias de entrada e saída
semelhante ao da corrente, um aumento logarítmico na Figura 4: Diagrama de Ligação MIT conectado ao gerador CC.
eficiência do motor atingindo seu valor máximo próximo de
100% de carga, um aumento nas perdas semelhante ao da Após coletar os dados do experimento, foram estimadas as
corrente e uma diminuição quase linear na velocidade da variáveis que não puderam ser medidas diretamente, como o
máquina. conjugado de carga e o do motor de indução. Utilizando os
dados medidos, estimados e os parâmetros do circuito
equivalente (Tabela III), obtidos através dos ensaios a vazio e
de rotor bloqueado realizados em experimentos anteriores,
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foram traçadas as curvas características do motor de indução


(Tem x nr, Tmec x nr, is x nr, ir x nr, Fp x nr, Pin x nr, Pem x 60 Pútil
nr, Putil x n). Tútil= (4 )
2 πn

Pem=Pútil+ Pav ( 5 )
TABELA III
PARÂMETROS DO MODELO DA MÁQUINA DE INDUÇÃO 60 Pem
X1 2,162 Ω Tem= (6)
2 πn
X2 2,162 Ω
R1 0.822 Ω Utilizando as equações descritas acima e os dados coletados
via medição direta, foi desenvolvido um código no Matlab,
R2 1,622 Ω apresentado no Apêndice I. Os resultados para as variáveis
Xm 28,1 Ω estimadas estão listadas na Tabela VI.
RC 598,74 TABELA VI
VARIÁVEIS ESTIMADAS
Tmec(Nm
TL(Nm)
Pin(W) Pmec(W Pout(W) FP η
) )
III. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
11,9341 7,6128 2410 2107 1769 0,78 0,73
10,5561 6,8661 2120 1879 1541 0,76 0,72
A Tabela IV apresenta os valores de tensão corrente e 8,9435 5,9086 1790 1607 1269 0,72 0,71
velocidade medidos no gerador CC para diferentes cargas 7,2674 4,7748 1450 1317 979 0,66 0,68
aplicadas. Os valores de potência de entrada por fase e 5,5617 3,4031 1110 1016 678 0,58 0,61
corrente de entrada medidos no motor de indução podem ser 3,3877 1,8092 690 626 288 0,40 0,41
1,7926 0 380 335 0 0,24 0
observados na Tabela V.

TABELA IV Os gráficos destas variáveis pela rotação do motor estão


GERADOR CC apresentados nas Figuras 5, 6, 7 e 8.
Vcc (V) Icc (A) n (rpm)
172,8 8,71 1686
178,5 7,52 1700
183,9 6,22 1716
190,4 4,8 1730
194,9 3,31 1745
200,2 1,7 1764
205,1 0,002 1783

TABELA V
MOTOR DE INDUÇÃO
Pin (W) I (A) Vf (V)
803.333 8.0667 124.867
706.667 7.2667 124.970
596.667 6.5000 125.367
483.333 5.7000 125.633
370.000 5.0000 126.033
230.000 4.5667 126.433
126.667 4.1333 126.667

Figura 5: Conjugado Eletromagnétco e conjugado de carga para o MIT.


A partir da tensão aplicada e dos parâmetros do circuito
equivalente apresentados na Tabela III foram calculadas as
correntes de rotor e estator do motor de indução com objetivo
de determinar a potência útil do sistema, conforme Equação
(3).
2
3V n
Pútil=3 Pin−R s I s2−3 Rr I 2r −Pav− (3)
Rc
Por meio da potência útil determina-se o conjugado útil, a
potência eletromecânica e consequentemente o conjugado
eletromecânico, como pode ser observado nas Equações (4),
(5) e (6).
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Com relação as curvas teóricas onde a potência útil na


rotação nominal de 1705 rpm foi de 1207 W, as curvas obtidas
a partir do ensaio com carga indicaram um valor próximo de
1400 W nesta velocidade. Essa diferença foi causada
possivelmente por uma imprecisão na obtenção dos
parâmetros reais da maquina nos ensaios a vazio e com rotor
travado.

IV. CONCLUSÃO
As máquinas de indução são muito utilizadas atualmente
devido a seu baixo custo, alta robustez, além de necessitar de
pouca manutenção em relação aos outros tipos de máquinas.
Por meio dessa prática foi possível avaliar o comportamento
de uma MIT funcionando com carga. Foi verificado o
aumento do escorregamento quando era exigido mais
conjugado da máquina. Utilizando o Matlab e os dados
Figura 6: Corrente de estator para o MIT. coletados, plotou-se curvas de conjugado, potência e
rendimento da máquina. Essas curvas são necessárias para
avaliar como a máquina se comporta quando submetida a uma
carga com uma curva de conjugado característica. Assim
pode-se traçar estratégias de partida, aceleração,
desaceleração, bem como de controle de velocidade para
otimizar a operação.

V. REFERENCIAS

[1] UMANS, S.D.. Máquinas Elétricas de Fitzgerald e


Kingsley. 7. Ed. Porto Alegre, 2014.

Figura 7: Potência de entrada, eletromagnética e útil do MIT.

APÊNDICE

Rs = 0.822;
Ra = 2.122;

VMCC = [172.8 178.5 183.9 190.4 194.9 200.2 205.1];


IMCC = [8.71 7.52 6.22 4.8 3.31 1.7 0];
n = [1686 1700 1716 1730 1745 1764 1783];
Pin = 3*[803.333 706.667 596.667 483.333 370 230
126.677];
Is = [8.0667 7.2667 6.5 5.7 5 4.5667 4.1333];

%Calcular perdas rotacionais


Prot = 3*126.677 - 3*Rs*4.1333^2;
Figura 8: Rendimento e fator de potência do MIT. %Conjugado de perdas rotacionais
Trot = Prot/(2*pi*1783/60);
%Potencia de carga oferecida pelo MCC
Pmcc = VMCC.*IMCC - Ra*IMCC.^2;
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%Conjugado de carga oferecido pelo MCC


Tmcc = Pmcc./(n*2*pi/60);
%Conjugado total
TL = Tmcc + Trot;
%Potencia no gap
Pg = Pin-3*Rs*Is.^2;
%Potencia eletromagnética
Pmec = Pg.*(n./1800);
%Conjugado eletromagnético
Tmec = Pmec./(n*2*pi/60);
%Potencia util
Putil = Pmec - Prot;
%Fator de potencia
FP = Pin./(3*127*Is);
%Rendimento
N = Putil./Pin;

%GRAFICOS
%Torques
figure(1)
hold on
plot (n,Tmec)
plot (n,Tmcc)
legend('Torque eletromagnético MIT','Torque MCC')
xlabel('rotação (rpm)')
ylabel('conjugado (Nm)')
grid on
title('Conjugado')

%Corrente de estator
figure(2)
hold on
plot (n,Is)
xlabel('rotação (rpm)')
ylabel('corrente (A)')
grid on
title('Corrente de estator')

%Potencias
figure(3)
hold on
plot (n,Pin)
plot (n,Pmec)
plot (n,Putil)
legend('Potência de entrada','Potência
eletromagnética','Potência útil')
xlabel('rotação (rpm)')
ylabel('potência (W)')
grid on
title('Potências')

%Rendimento e FP
figure(4)
hold on
plot (n,FP)
plot (n,N)
legend('Fator de potência','Rendimento')
xlabel('rotação (rpm)')
ylabel('')
grid on
title('Rendimento e FP')

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