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DEPARTAMENTO DE GESTÃO DO RISCO E COMPLIANCE

Relatório de Gestão dos Riscos Financeiros - Fevereiro


de 2023

Luanda, 31 de Março de 2023


ÍNDICE

1. Introdução ........................................................................................................................2

2. Metodologia ......................................................................................................................2

2.1.Contexto............................................................................................................................3

2.2.Identificação do Risco ......................................................................................................3

2.3.Avaliação do Risco ...........................................................................................................4

2.4.Tratamento .......................................................................................................................5

2.5.Monitorização ...................................................................................................................5

2.6.Reporte dos Riscos...........................................................................................................5

3. Análise de Risco ...............................................................................................................5

3.1. Risco de Crédito ...............................................................................................................5

3.2. Risco de Mercado .............................................................................................................6

3.3. Risco de Liquidez..............................................................................................................7

3.4. Limites Operacionais ........................................................................................................8

4. Conclusão .........................................................................................................................8

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1. Introdução

O Banco Nacional de Angola (BNA) tem como objectivo o de assegurar o funcionamento


das suas operações, relacionadas com a definição, execução, acompanhamento e controlo
das políticas monetária, de crédito e cambial, gestão de reservas, gestão do Sistema de
Pagamentos Angolano e actuação como Banqueiro do Estado; estando exposto a vários
riscos, com realce os riscos financeiros (crédito, mercado e liquidez), decorrentes da sua
responsabilidade enquanto Banco Central.

Dada a sua natureza, o BNA é avesso ao


risco, tendo um apetite geral de risco
conservador. Isto reflecte a ideia de que o
cumprimento satisfatório do seu papel e
das suas responsabilidades não visa
operações de alto risco ou perturbações
significativas nas suas operações e/ ou
danos à sua reputação e imagem.

No que tange à gestão das reservas


internacionais brutas, no final do mês de fevereiro de 2023, o volume fixou-se em USD
13 692,1 milhões, representando uma redução de 1,32% em relação ao observado no
mês anterior, resultante da redução da carteira de depósitos a ordem. Referir que do total
das reservas externas, 91% são activos sob gestão interna e, apenas, 9% sob gestão
externa, performance verificada, igualmente, no período homólogo.

O presente relatório expõe informações sobre os principais riscos financeiros identificados


e monitorizados, suas causas e impactos, com o objectivo de suportar o processo de
tomada de decisão, contribuindo, desta forma, para o alcance dos Objectivos Estratégicos
do BNA.

2. Metodologia

A monitorização dos riscos financeiros é feita através de informações disponibilizadas pelo


Departamento de Mercados (DME), que operacionaliza a sua gestão com base na Política
de Investimento, nas Linhas Mestras de Gestão das Reservas Internacionais e no Manual
de Selecção e Contratação de Contrapartes, Custodiantes e Gestores Externos.

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Esta avaliação é uma actividade regular que analisa o cumprimento dos limites
operacionais aplicáveis à gestão das reservas e o nível de exposição aos riscos financeiros
que poderão ter impacto nas demonstrações de resultado do Banco.

Uma pesquisa do Reserve Bank da Índia aponta o VaR como uma das principais
metodologias utilizadas na avaliação do risco financeiro (vide tabela 1). O BNA utiliza,
como principais medidas para a mensuração do risco financeiro, o Value at Risk (VaR) e o
Stress Test. No entanto, não existem, formalmente, limites definidos para estes
indicadores.

Tabela 1 – Metodologias de Gestão de Risco

# País Metodologia
1 Australia Teste de Stress e análise historica substituiram o VaR em 2017.
2 Austria ES (99%) introduzido em 2012. VaR é também utilizado.
3 Belgica ES introduzido em 2015. VaR é também utilizado.
4 Canada Teste Stress baseado em cenários adicionado ao VaR.
5 Chile VaR
6 Dinamarca ES
7 Banco Central Europeu ES (99%) principal medida desde 2017. VaR é também utilizado.
8 Filândia ES (99%) desde 2016. VaR é também utilizado.
9 Alemanhã ES adicionado ao VaR
10 Hong Kong VaR 95% desde 2005.
11 India S-VaR 99.99% adoptado em 2015.
12 Italia ES adicionado ao VaR
13 Noruega ES
14 Holanda ES em 2012. A análise de cenários é também utilizada.
15 Nova Zelândia VaR/ S-VaR 99.9% adoptado em 2014.
16 Polônia VaR
17 Espanhã VaR 99% à 99.9%
18 Suiça VaR
19 Reino Unido Stress tests substituiu o S-VaR em 2017.
20 Normas de Basíleia para O BCBS sugeriu a utilização do ES 97.5% em substituição do S-
os Bancos Comerciais VaR 99% em 2016 (Que também substituiu o VaR em 2009). O
próprio BIS, usa o S-VaR 99.995% desde 2010 –11.

2.1. Contexto
Em fev/23, os índices bolsistas apresentaram desempenho negativo na última semana,
pressionados pela divulgação da taxa de inflação norte-americana referente ao mês de
Jan/23, que se fixou em 5,4%, acima dos 5,3% de dezembro. O tecnológico Nasdaq
(EUA) reduziu 3,33%. Enquanto, o alemão Dax 40 desceu 1,76%. Relativamente ao
mercado cambial o USD índex aumentou 1,30%, por sua vez, o euro e a libra
depreciaram 1,37% e 0,77%, ao atingirem os EUR/USD 1,055 e GBP/USD 1,194,
respectivamente.
A FED e o BCE continuam a pressionar a yield da dívida pública de longo prazo. Na
semana passada, a yield da dívida a 10 anos dos EUA fixou-se em 3,94%, um aumento
de 12,84 pontos bases, a mesma tendência registou-se na Zona Euro, com um aumento
de 9,70 pontos bases, para 2,54%, devido as expectativas em relação à manutenção dos
aumentos das taxas de juro.

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Identificação do Risco

Na tabela abaixo, são apresentados os principais eventos de risco financeiros


identificados, relacionados com as operações de gestão de reservas:

Risco
Evento de risco Risco de Risco de Risco de
Crédito Mercado Liquidez
DME01 - Incapacidade (ou dificuldade) de uma contraparte, gestor externo
ou custodiante cumprir as suas obrigações financeiras para com o BNA, 
decorrente da emissão de títulos, depósitos ou qualquer outra obrigação
contratual ou compromisso financeiro
DME02 - Dificuldade em vender um activo ou fechar uma posição num
DME 
dado momento sem incorrer em perdas significativas;
DME03 - Variação adversa do preço dos activos ou posições financeiras 
que compõem as reservas internacionais
DME04 - Desfasamento entre a performance de rentabilidade das carteiras 
e os benchmarks definidos nas linhas mestres/política de investimento
DME05 - Variação adversa das taxas de câmbio dos activos ou posições 
financeiras que compõem as reservas internacionais
DME06 - Variação adversa das taxas de juro dos activos ou posições 
financeiras que compõem as reservas internacionais.

2.2. Avaliação do Risco


A avaliação do risco determina o nível de risco (baixo, médio e alto), associado a cada
evento de risco. Os três principais riscos inerentes à actividade de Gestão das Reservas do
BNA são:

 Os desvios da performance da carteira em relação aos benchmarks (DME04);

 Efeitos adversos no retorno da carteira, resultante de flutuações na taxa de


câmbio (DME05) e taxa de juros (DME06).

Probabilidade
Impacto

GRÁFICO DE EXPOSIÇÃO AO RISCO


FINANCEIROS DAS RESERVAS

DGR01 Crédito 5,0 1,0


04
01 06
05
Muito Alto

Alto
DGR02 Liquidez 3,0 2,0
DGR03 Mercado - Variação adversa do preço dos activos 3,0 3,0
Org.

02 03
Médio

Baixo
DGR04 Mercado - Performance das carteiras V's benchmarks 5,0 3,0
DGR05 Mercado - Taxa de Câmbio 5,0 4,0
Muito Baixo
DGR06 Mercado - Taxa de Juro 5,0 3,0
Muito Baixo Médio Alto Muito
Baixo Alto
Probabilidade

Os principais riscos associados à gestão das reservas são, essencialmente, riscos de


mercados. Os riscos de crédito e de liquidez foram considerados médios, dado à baixa
probabilidade de ocorrência, fundamentado pelo facto de o BNA ser avesso ao risco e ter
grande parte da sua carteira investida em activos de boa qualidade creditícia, bem como
ter aplicações em activos de alta liquidez.

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2.3. Tratamento

O Comité de Investimento, de forma periódica, avalia os riscos associados à gestão da


carteira de investimento, introduzindo medidas de tratamento aos riscos que julgar
conveniente em linha com a Política de investimento e o apetite ao risco do BNA.

2.4. Monitorização
A monitorização permite verificar se a gestão da carteira de investimento está alinhada
com os princípios estabelecidos na política de investimento e nas Linhas Mestres da
gestão das reservas, utilizando os indicadores-chaves de riscos que envolvem limites
operacionais definidos.

2.5. Reporte dos Riscos

O reporte dos riscos é realizado com base em relatórios mensais disponibilizados ao DRC
pelo DME, que incluem a informação da carteira de investimento sobre a gestão interna e
externa e o comportamento dos KRI´s.

3. Análise de Risco
Os riscos financeiros do BNA estão, essencialmente, relacionados às operações de gestão
das reservas internacionais, considerando as dimensões dos riscos de crédito, de mercado
e de liquidez.

3.1. Risco de Crédito


Risco de perda devido à incapacidade da
contraparte em honrar com as
obrigações de um acordo. Este risco
pode ser mitigado com a alocação de
investimento em contrapartes com
elevada notação de rating de crédito.

Conforme pode ser observado no gráfico acima, 81,80% da carteira de Reservas


Internacionais estão investidas em activos com grau de investimento (igual ou
acima de A-). No entanto, ainda, temos aplicações equivalentes a 0,10% alocados
em activos especulativos (igual ou abaixo de BB+).

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3.2. Risco de Mercado
Risco de perda devido às variações nos preços ou parâmetros de mercado,
como valores de activos, acções, commodities, taxas de juros e de
câmbios. Para a medição do risco de mercado, os indicadores utilizados são
o VaR total e cambial, stress test cambial e da taxa de juros para activos
sujeitos a flutuações nestas variáveis.

VAR Total e Cambial


O VAR total mensal é um indicador estatístico que mede a perda máxima esperada num
horizonte temporal de 30 dias, dado um nível de confiança de 95% da carteira global do
BNA.
O gráfico (ao lado), mostra a perda máxima esperada, calculada em janeiro para o mês
de fevereiro, que foi de USD 110
milhões, portanto, o valor conheceu
um aumento de USD 10 milhões, em
relação ao período anterior.
Complementarmente, o BNA mensura
a sensibilidade dos activos externos
em função de mudança severa das
condições de mercado.
Fonte: DME

Relativamente ao VaR Cambial, pode-se observar que a perda máxima esperada


calculada no mês de jan/23, resultante de uma variação das outras moedas que
compõem a cesta do BNA em relação ao
dólar (EUA), considerando 95% de
confiança, reduziu para USD 79 milhões,
face aos USD 80 milhões do período
anterior. As posições em GBP, EUR, CNY
e XAU face ao USD justificam grande parte
das flutuações no VaR Cambial.
Fonte: DME

3.2.1 Testes de Stress Taxa de Câmbio e Taxa de Juros

Para a mensuração do risco de mercado das posições das reservas internacionais,


resultantes de flutuações nas taxas de juros e câmbios, utilizou-se o teste de stress.
Trata-se de um procedimento que busca quantificar o impacto negativo de choques e
eventos económicos desfavoráveis às posições financeiras do BNA.
Sendo assim, são determinados cenários de crise/stress para os principais factores de
risco, aos quais as reservas estão expostas, e onde é calculada a perda potencial.
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O gráfico ilustra o impacto no
resultado das reservas internacionais
decorrente de variações de 0% a +/-
30% na taxa de câmbio,
considerando as posições de fev/23.
Uma depreciação do dólar em 5%
pode resultar em perda de Reservas
Internacionais no montante de USD
67 milhões.

No que diz respeito à taxa de juros, um


aumento de 5 p.b pode representar uma
perda de reservas sob a carteira da gestão
interna equivalentes a USD 380 milhões e
USD 26 milhões da gestão externa, conforme
o gráfico ao lado.

3.3 Risco de Liquidez


Risco de perda financeira decorrente da incapacidade de obtenção de financiamento e/ ou
satisfação das suas obrigações sem incorrer a custos ou perdas inaceitáveis.
Atendo-se ao conservadorismo do BNA, no que tange às classes de activos a investir, a
carteira consolidada de investimentos,
em fev/23, apresentou uma performance
de elevada liquidez, facto que se
demonstra, também, pela maturidade
média da carteira consolidada, calculada
em 4,68 anos. Referir que 13% da
carteira consolidada não se insere no
conceito de maturidade (ouro, etc.)
Fonte: DME

Em termos de liquidez a carteira apresentou uma performance de alta liquidez, o que


denota que as regras de resgate permitem o saque a qualquer momento sem grandes
penalidades para o BNA, conforme espelha o gráfico, abaixo:

Fonte: DME

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1.1. Limites Operacionais
As linhas mestras de investimento definem os princípios gerais relativos à gestão de
reservas. Considerando as informações de fev/23, relativas à alocação estratégica dos
activos por moedas, por exemplo, verificou-se que detém duas operações alocadas
Commerzbank (Frankfurt) e uma no Credit Agricole (Genebra) que perfazem o montante
avaliado em USD 580 mil, cerca de 0,04% da tranche de liquidez, correspondiam a
aplicações na moeda libra esterlina (GBP), facto que contraria o estipulado no Despacho
Nº 75/2022, da página 16, que prevê, para esta tranche, apenas, investimentos em USD
e EUR. Por outro lado, também, se observaram fora do limite definido para a tranche de
liquidez ligeiros desvios em outras moedas, mas sem grande materialidade.

Tabela 1 – Exposição por Moedas


T ra nc he de Liquide z T ra nc he de T ra ns iç ã o T ra nc he de Inv e s t im e nt o T o tal
A lo c a ç ã o de A c t iv o s Lim it e Lim it e Lim it e
V a lo r do P e rio do V a lo r do P e rio do V a lo r do P e rio do
P o r M o e da s O pe ra c io na l O pe ra c io na O pe ra c io na l
US D % US D % US D % US D %

USD 903 595 548,71 66,82% Max 95% 3 871 630 891,71 90,24% Max 90% 5 481 145 111,53 68,09% Max 80 10 256 371 552 74,91%
EUR 447 369 102 33,08% Max 15% 0,00 0,00% -1 022 195,99 -0,01% 0,00% 446 346 906 3,26%
GBP 580 314,08 0,04% 0,00% 418 831 862,97 9,76% Max 10% 578 262 007,05 7,18% Max 10 997 674 184 7,29%
DKK 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% -134 130,60 0,00% 0,00% -134 131 0,00%
ZAR 1 663,64 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 1 664 0,00%
JPY 629 087,94 0,05% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 481 299,79 0,01% 0,00% 1 110 388 0,01%
CNY 55 147,45 0,00% 0,00% 0,00 0,00% Max 15% 903 917 304,19 11,23% Max 15% 903 972 452 6,60%
AUD 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 1 403 053,21 0,02% 0,00% 1 403 053 0,01%
NOK 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 1 166 551,82 0,01% 0,00% 1 166 552 0,01%
CAD 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 707 224,55 0,01% 0,00% 707 225 0,01%
NZD 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% -827 104,63 -0,01% 0,00% -827 105 -0,01%
SEK 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% -29 037,26 0,00% 0,00% -29 037 0,00%
SGD 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 1 323,48 0,00% 0,00% 1 323 0,00%
NAD 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 0 0,00%
HKD 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 0 0,00%
CHF 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% -278 017,11 0,00% 0,00% -278 017 0,00%
OURO 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 1 084 628 824,55 13,47% Max 15% 1 084 628 825 7,92%
TOTAL 1 352 230 864,07 100% 4 290 462 754,69 100% 8 049 422 214,59 100% 13 692 115 833,34 100%

Fonte: DME

Relativamente aos investimentos que constam na tranche de liquidez na moeda Libra


Esterlina (GBP), contemplam os depósitos a prazo na mesma moeda, conforme a PDAE,
que segundo o DME, aquando da entrada da nova Política de Investimentos, os referidos
depósitos não foram realocados para outras tranches (transição ou investimentos), tendo
em consideração o critério da maturidade.

Por outro lado, em função da deliberação


do Comité de Investimento relativa à
necessidade da redução da exposição da
carteira sobre gestão externa, verificou-se,
em fev/23, a gestão interna, abarcava
91% da carteira de investimento, portanto,
permanecendo constante quando
comparado com o período anterior.
Fonte: DME

2. Conclusão
A avaliação dos limites operacionais, conforme previstos nas Linhas Mestras e tendo como
base os princípios contidos na Política de Investimentos, permitiu aferir incumprimento
dos seus pressupostos decorrentes, por parte do Departamento de Mercados (DME), na
medida em que se verificou operações de investimentos em moedas não elegíveis na
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tranche de liquidez (GBP). Sequencialmente, verifica-se uma exposição acima do previsto
de 15% (máximo) em termos de exposição na moeda EUR.

Por outro lado, ressalta-se o facto de que a maior parte da gestão dos activos está sob
alçada da gestão interna, facto que denota maior conservadorismo nos investimentos.

Departamento de Gestão do Risco e Compliance

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