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DEPARTAMENTO DE GESTÃO DO RISCO E COMPLIANCE

Relatório de Gestão dos Riscos Financeiros - Janeiro


de 2023

Luanda, 28 de Fevereiro de 2023


ÍNDICE

1. Introdução............................................................................................................................. 2

2. Metodologia .......................................................................................................................... 2

2.1.Contexto ................................................................................................................................ 3

2.2.Identificação do Risco ......................................................................................................... 3

2.3.Avaliação do Risco ............................................................................................................... 4

2.4.Tratamento ........................................................................................................................... 4

2.5.Monitorização........................................................................................................................ 5

2.6.Reporte dos Riscos .............................................................................................................. 5

3. Análise de Risco ................................................................................................................... 5

3.1. Risco de Crédito ................................................................................................................... 5

3.2. Risco de Mercado ................................................................................................................. 5

3.3. Risco de Liquidez ................................................................................................................. 7

3.4. Limites Operacionais............................................................................................................ 8

4. Conclusão .............................................................................................................................. 9

1
1. Introdução

O Banco Nacional de Angola (BNA) tem como objectivo o de assegurar o funcionamento


das suas operações, relacionadas com a definição, execução, acompanhamento e controlo
das políticas monetária, de crédito e cambial, gestão de reservas, gestão do Sistema de
Pagamentos Angolano e actuação como Banqueiro do Estado; estando exposto a vários
riscos, com realce os riscos financeiros (crédito, mercado e liquidez), decorrentes da sua
responsabilidade enquanto Banco Central.

Dada a sua natureza, o BNA é avesso ao


risco, tendo um apetite geral de risco
conservador. Isto reflecte a ideia de que o
cumprimento satisfatório do seu papel e
das suas responsabilidades não visa
operações de alto risco ou perturbações
significativas nas suas operações e/ ou
danos à sua reputação e imagem.

No que tange à gestão das reservas


internacionais brutas, no final do mês de janeiro de 20223, o volume fixou-se em USD
13 872,5 milhões, representando uma redução de 2,1% em relação ao observado no mês
anterior, resultante da redução da carteira de depósitos a ordem.
Referir que do total das reservas externas, 91,47% são activos sob gestão interna e,
apenas, 8,53% sob gestão externa, performance verificada, igualmente, no período
homólogo.

O presente relatório expõe informações sobre os principais riscos financeiros identificados


e monitorizados, suas causas e impactos, com o objectivo de suportar o processo de tomada
de decisão, contribuindo, desta forma, para o alcance dos Objectivos Estratégicos do BNA.

2. Metodologia

A monitorização dos riscos financeiros é feita através de informações disponibilizadas pelo


Departamento de Mercados (DME), que operacionaliza a sua gestão com base na Política
de Investimento, nas Linhas Mestras de Gestão das Reservas Internacionais e no Manual
de Selecção e Contratação de Contrapartes, Custodiantes e Gestores Externos.

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Esta avaliação é uma actividade regular que analisa o cumprimento dos limites operacionais
aplicáveis à gestão das reservas e o nível de exposição aos riscos financeiros que poderão
ter impacto nas demonstrações de resultado do Banco.

Uma pesquisa do Reserve Bank da Índia aponta o VaR como uma das principais
metodologias utilizadas na avaliação do risco financeiro (vide tabela 1). O BNA utiliza, como
principais medidas para a mensuração do risco financeiro, o Value at Risk (VaR) e o Stress
Test. No entanto, não existem, formalmente, limites definidos para estes indicadores.

Tabela 1 – Metodologias de Gestão de Risco

# País Metodologia
1 Australia Teste de Stress e análise historica substituiram o VaR em 2017.
2 Austria ES (99%) introduzido em 2012. VaR é também utilizado.
3 Belgica ES introduzido em 2015. VaR é também utilizado.
4 Canada Teste Stress baseado em cenários adicionado ao VaR.
5 Chile VaR
6 Dinamarca ES
7 Banco Central Europeu ES (99%) principal medida desde 2017. VaR é também utilizado.
8 Filândia ES (99%) desde 2016. VaR é também utilizado.
9 Alemanhã ES adicionado ao VaR
10 Hong Kong VaR 95% desde 2005.
11 India S-VaR 99.99% adoptado em 2015.
12 Italia ES adicionado ao VaR
13 Noruega ES
14 Holanda ES em 2012. A análise de cenários é também utilizada.
15 Nova Zelândia VaR/ S-VaR 99.9% adoptado em 2014.
16 Polônia VaR
17 Espanhã VaR 99% à 99.9%
18 Suiça VaR
19 Reino Unido Stress tests substituiu o S-VaR em 2017.
20 Normas de Basíleia para O BCBS sugeriu a utilização do ES 97.5% em substituição do S-
os Bancos Comerciais VaR 99% em 2016 (Que também substituiu o VaR em 2009). O
próprio BIS, usa o S-VaR 99.995% desde 2010 –11.

2.1. Contexto
O ano de 2023 iniciou-se com desempenhos positivos na maioria dos mercados, no de
acções evidenciaram ganhos, suportados pela percepção de que os principais bancos
centrais poderão estar próximos do fim do ciclo de aumentos das taxas de juros. No que
respeita à classe de rendimento fixo, os índices de dívida pública averbaram ganhos, num
período marcado pela descida das yields, a qual foi mais pronunciada nos prazos mais
longos. No mercado cambial, o euro apresentou um perfil de apreciação face à maioria
das moedas mais transacionadas a nível global, as do G10, como o dólar e o iene, mas de
depreciação comparativamente às principais moedas de países emergentes.
A moeda única tem sido apoiada pela retórica de maior restritividade por parte do BCE. Já
o dólar evidenciou perdas tanto face às do G10 como às de emergentes. No
mercado monetário da Área Euro, a taxa Euribor subiu nos principais prazos de referência,
a de 3 meses +38p.b. para 2,51%, a de 6 meses +30p.b. para 2,99% e a de 12 meses
+12p.b. para 3,41%.

3
Identificação do Risco

Na tabela abaixo, são apresentados os principais eventos de risco financeiros identificados,


relacionados com as operações de gestão de reservas:

Risco
Evento de risco Risco de Risco de Risco de
Crédito Mercado Liquidez
DME01 - Incapacidade (ou dificuldade) de uma contraparte, gestor externo
ou custodiante cumprir as suas obrigações financeiras para com o BNA, ✓
decorrente da emissão de títulos, depósitos ou qualquer outra obrigação
contratual ou compromisso financeiro
DME02 - Dificuldade em vender um activo ou fechar uma posição num
DME ✓
dado momento sem incorrer em perdas significativas;
DME03 - Variação adversa do preço dos activos ou posições financeiras ✓
que compõem as reservas internacionais
DME04 - Desfasamento entre a performance de rentabilidade das carteiras ✓
e os benchmarks definidos nas linhas mestres/política de investimento
DME05 - Variação adversa das taxas de câmbio dos activos ou posições ✓
financeiras que compõem as reservas internacionais
DME06 - Variação adversa das taxas de juro dos activos ou posições ✓
financeiras que compõem as reservas internacionais.

2.2. Avaliação do Risco


A avaliação do risco determina o nível de risco (baixo, médio e alto), associado a cada
evento de risco. Os três principais riscos inerentes à actividade de Gestão das Reservas do
BNA são:

• Os desvios da performance da carteira em relação aos benchmarks (DME04);

• Efeitos adversos no retorno da carteira, resultante de flutuações na taxa de câmbio


(DME05) e taxa de juros (DME06).

Probabilidade
Impacto

GRÁFICO DE EXPOSIÇÃO AO RISCO


FINANCEIROS DAS RESERVAS

DGR01 Crédito 5,0 1,0


04
01 06
05
Muito Alto

Alto
DGR02 Liquidez 3,0 2,0
DGR03 Mercado - Variação adversa do preço dos activos 3,0 3,0
Org.

02 03
Médio
DGR04 Mercado - Performance das carteiras V's benchmarks 5,0 3,0
Baixo

DGR05 Mercado - Taxa de Câmbio 5,0 4,0


Muito Baixo
DGR06 Mercado - Taxa de Juro 5,0 3,0
Muito Baixo Médio Alto Muito
Baixo Alto
Probabilidade

Os principais riscos associados à gestão das reservas são, essencialmente, riscos de


mercados. Os riscos de crédito e de liquidez foram considerados médios, dado à baixa
probabilidade de ocorrência, fundamentado pelo facto de o BNA ser avesso ao risco e ter
grande parte da sua carteira investida em activos de boa qualidade creditícia, bem como
ter aplicações em activos de alta liquidez.

2.3. Tratamento

4
O Comité de Investimento, de forma periódica, avalia os riscos associados à gestão da
carteira de investimento, introduzindo medidas de tratamento aos riscos que julgar
conveniente em linha com a Política de investimento e o apetite ao risco do BNA.

2.4. Monitorização
A monitorização permite verificar se a gestão da carteira de investimento está alinhada com
os princípios estabelecidos na política de investimento e nas Linhas Mestres da gestão das
reservas, utilizando os indicadores-chaves de riscos que envolvem limites operacionais
definidos.

2.5. Reporte dos Riscos

O reporte dos riscos é realizado com base em relatórios mensais disponibilizados ao DRC
pelo DME, que incluem a informação da carteira de investimento sobre a gestão interna e
externa e o comportamento dos KRI´s.

3. Análise de Risco
Os riscos financeiros do BNA estão, essencialmente, relacionados às operações de gestão
das reservas internacionais, considerando as dimensões dos riscos de crédito, de mercado
e de liquidez.

3.1. Risco de Crédito


Risco de perda devido à incapacidade da contraparte em honrar com as
obrigações de um acordo. Este risco pode ser mitigado com a alocação de
investimento em contrapartes com elevada notação de rating de crédito.

Conforme pode ser observado no gráfico acima, 83,50% da carteira de Reservas


Internacionais estão investidas em
activos com grau de investimento
(igual ou acima de A-). No entanto,
ainda, temos aplicações
equivalentes a 0,10% alocados em
activos especulativos (igual ou
abaixo de BB+).

Fonte: DME

3.2. Risco de Mercado

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Risco de perda devido às variações nos preços ou parâmetros de mercado,
como valores de activos, acções, commodities, taxas de juros e de câmbios.
Para a medição do risco de mercado, os indicadores utilizados são o VaR
total e cambial, stress test cambial e da taxa de juros para activos sujeitos a
flutuações nestas variáveis.

VAR Total e Cambial


O VAR total mensal é um indicador estatístico que mede a perda máxima esperada num
horizonte temporal de 30 dias, dado um nível de confiança de 95% da carteira global do
BNA.
O gráfico (ao lado), mostra a perda
máxima esperada, calculada em
dezembro para o mês de janeiro, que foi
de USD 100 milhões, portanto, o valor
conheceu uma ligeira redução de USD 20
milhões, em relação ao período anterior.
Complementarmente, o BNA mensura a
sensibilidade dos activos externos em
função de mudança severa das
condições de mercado.
Fonte: DME

Relativamente ao VaR Cambial, pode-se observar que a perda máxima esperada calculada
no mês de dez/23, resultante de uma variação das outras moedas que compõem a cesta
do BNA em relação ao dólar (EUA),
considerando 95% de confiança, aumentou
para USD 80 milhões, face aos USD 75
milhões do período anterior. As posições em
GBP, EUR, CNY e XAU face ao USD
justificam grande parte das flutuações no
VaR Cambial.

Fonte: DME

3.2.1 Testes de Stress Taxa de Câmbio e Taxa de Juros

Para a mensuração do risco de mercado das posições das reservas internacionais,


resultantes de flutuações nas taxas de juros e câmbios, utilizou-se o teste de stress. Trata-
se de um procedimento que busca quantificar o impacto negativo de choques e eventos
económicos desfavoráveis às posições financeiras do BNA.

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Sendo assim, são determinados cenários de crise/stress para os principais factores de risco,
aos quais as reservas estão expostas, e onde é calculada a perda potencial.

O gráfico ilustra o impacto no


resultado das reservas
internacionais decorrente de
variações de 0% a +/-30% na taxa
de câmbio, considerando as
posições de janeiro de 2023. Uma
depreciação do dólar em 5% pode
resultar em perda de Reservas
Internacionais no montante de USD
67 milhões.

No que diz respeito à taxa de juros, um


aumento de 5 p.b pode representar uma perda
de reservas sob a carteira da gestão interna
equivalentes a USD 380 milhões e USD 26
milhões da gestão externa, conforme o gráfico
ao lado.

3.3 Risco de Liquidez


Risco de perda financeira decorrente da incapacidade de obtenção de financiamento e/ ou
satisfação das suas obrigações sem incorrer a custos ou perdas inaceitáveis.
Atendo-se ao conservadorismo do BNA, no que tange
às classes de activos a investir, a carteira consolidada
de investimentos, em jan/23, apresentou uma
performance de elevada liquidez, facto que se
demonstra, também, pela maturidade média da
carteira consolidada, calculada em 4,67 anos. Referir
que 13% da carteira consolidada não se insere no
conceito de maturidade (ouro, etc.)
Fonte: DME

Em termos de liquidez a carteira apresentou uma performance de alta liquidez, o que denota
que as regras de resgate permitem o saque a qualquer momento sem grandes penalidades
para o BNA, conforme espelha o gráfico, abaixo:

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Nível de Liquidez da Carteira Consolidada

Baixo
4,70% Médio
8,25%

Alto
87,05%

Fonte: DME

1.1. Limites Operacionais


As linhas mestras de investimento definem os princípios gerais relativos à gestão de
reservas. Considerando as informações de jan/23, relativas à alocação estratégica dos
activos por moedas, por exemplo, verificou-se que detém duas operações alocadas
Commerzbank (Frankfurt) e uma no Credit Agricole (Genebra) que perfazem o montante
avaliado em USD 156,9 milhões, cerca de 17,82% da tranche de liquidez, correspondiam a
aplicações na moeda libra esterlina (GBP), facto que contraria o estipulado no Despacho Nº
75/2022, da página 16, que prevê, para esta tranche, apenas, investimentos em USD e
EUR. Por outro lado, também, se observaram fora do limite definido para a tranche de
liquidez ligeiros desvios em outras moedas, mas sem grande materialidade.

Tabela 1 – Exposição por Moedas


T ra nc he de Liquide z T ra nc he de T ra ns iç ã o T ra nc he de Inv e s t im e nt o T o tal
A lo c a ç ã o de A c t iv o s Lim it e Lim it e Lim it e
V a lo r do P e rio do V a lo r do P e rio do V a lo r do P e rio do
P o r M o e da s O pe ra c io na l O pe ra c io na O pe ra c io na l
US D % US D % US D % US D %

USD 585 553 002,71 66,49% Max 95% 4 642 882 385,71 94,65% Max 90% 5 420 904 477,41 67,03% Max 80 10 649 339 866 76,77%
EUR 137 457 680 15,61% Max 15% 0,00 0,00% -1 241 800,80 -0,02% 0,00% 136 215 879 0,98%
GBP 156 954 084,93 17,82% 0,00% 262 229 653,88 5,35% Max 10% 592 254 078,08 7,32% Max 10 1 011 437 817 7,29%
DKK 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% -56 950,01 0,00% 0,00% -56 950 0,00%
ZAR 1 749,65 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 1 750 0,00%
JPY 706 789,00 0,08% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 246 172,10 0,00% 0,00% 952 961 0,01%
CNY 5,49 0,00% 0,00% 0,00 0,00% Max 15% 927 789 895,70 11,47% Max 15% 927 789 901 6,69%
AUD 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 1 331 481,31 0,02% 0,00% 1 331 481 0,01%
NOK 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 732 089,74 0,01% 0,00% 732 090 0,01%
CAD 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 1 189 804,19 0,01% 0,00% 1 189 804 0,01%
NZD 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% -1 037 982,62 -0,01% 0,00% -1 037 983 -0,01%
SEK 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 544 534,11 0,01% 0,00% 544 534 0,00%
SGD 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 56 768,35 0,00% 0,00% 56 768 0,00%
NAD 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 0 0,00%
HKD 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 0 0,00%
CHF 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 8 561,39 0,00% 0,00% 8 561 0,00%
OURO 0,00 0,00% 0,00% 0,00 0,00% 0,00% 1 144 078 977,74 14,15% Max 15% 1 144 078 978 8,25%
TOTAL 880 673 311,45 100% 4 905 112 039,59 100% 8 086 800 106,70 100% 13 872 585 457,74 100%

Fonte: DME

Relativamente aos investimentos que constam na tranche de liquidez na moeda Libra


Esterlina (GBP), contemplam os depósitos a prazo na mesma moeda, conforme a PDAE,
que segundo o DME, aquando da entrada da nova Política de Investimentos, os referidos

8
depósitos não foram realocados para outras tranches (transição ou investimentos), tendo
em consideração o critério da maturidade.

Por outro lado, em função da deliberação do


Comité de Investimento relativa à necessidade
da redução da exposição da carteira sobre
gestão externa, verificou-se, em jan/23, a
gestão interna, abarcava 91% da carteira de
investimento, portanto, ligeiramente inferior
(1%) quando comparado com o período
anterior.

Fonte: DME

2. Conclusão
A avaliação dos limites operacionais, conforme previstos nas Linhas Mestras e tendo como
base os princípios contidos na Política de Investimentos, permitiu aferir incumprimento dos
seus pressupostos decorrentes, por parte do Departamento de Mercados (DME), na medida
em que se verificou operações de investimentos em moedas não elegíveis na tranche de
liquidez (GBP).

Por outro lado, ressalta-se o facto de que a maior parte da gestão dos activos está sob
alçada da gestão interna, facto que denota maior conservadorismo nos investimentos.

Departamento de Gestão do Risco e Compliance

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