Identificação do artigo

Título: Uma canoa na tempestade: o acolhimento psicológico emergencial na pandemia da

COVID-19.

Autores: Ana Maria Campos da Rocha, Lana Yasmin Leal da Silva, Daniel Castro Silva e
Patrícia do Socorro Magalhães Franco do Espírito Santo.

Ano de produção: 2021. (Publicado em 25 de junho de 2021)

Revista: NUFEN. Vol.13 no.2. Belém maio/ago. 2021. Publicação de Universidade Federal do
Pará. Núcleo de Pesquisas Fenomenológicas.

Link de acesso: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-

25912021000200009&lng=pt&nrm=iso

Data de acesso do artigo: 29 de agosto de 2023.

Tipo de artigo: Relato de Experiência.

ROCHA, Ana Maria Campos da et al. UMA CANOA NA TEMPESTADE: O

ACOLHIMENTO PSICOLÓGICO EMERGENCIAL NA PANDEMIA DA COVID-19. Rev.
NUFEN, Belém, v. 13, n. 2, p. 95-107, ago. 2021. Acesso em 29 ago. 2023.Disponível em
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-
25912021000200009&lng=pt&nrm=iso

Resumo
Alunos e professores se uniram para criar uma estratégia de enfrentamento diante do caos -
pandemia. A proposta foi de “integrar um saber e um fazer já consolidados na perspectiva do
Plantão Psicológico Centrado na Pessoa” dentro das possibilidades do cenário pandêmico. Com
suspensão do contato direto – presença - foi preciso repensar a clínica. Surgiu, então, o Plantão
Psicológico Remoto, com a hipótese de que a potência da psicoterapia, sob a ótica da psicologia
centrada na pessoa, a qual enxerga o ser humano não como parte, mas, como um todo, poderia
funcionar como uma ferramenta de acolhimento. O objetivo do Plantão é receber os alunos no
momento exato de sua necessidade para ajudá-los a compreender melhor sua emergência.

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Contextualização

Trata-se de um relato de experiência. O artigo encontra-se dentro de um marco histórico: a

pandemia da COVID-19. O contexto era de medo, ansiedade, desespero, isolamento social,
perdas de entes queridos. O contato humano, o tato, o toque, o abraço, a presença, o sentir, tudo
que dantes era sólido, concreto, agora é volátil. O real precisou construir uma ponte e conectar-
se – literalmente – ao virtual. A adaptação do Plantão Psicológico de presencial para a
modalidade remota tem sua justificativa no próprio contexto. As correntes que enrijeciam a
capacidade criativa do cérebro humano de criar soluções - sobretudo quando emergenciais -
logo foram destruídas pela tendência atualizante humana. O Plantão Psicológico se adaptou e
persistiu. O objetivo da experiência foi ofertar uma escuta ativa e qualificada a fim de amparar
os alunos em vulnerabilidade emocional. Isso foi feito por meio da disponibilização de
atendimento remoto em uma plataforma acessível via chamadas de vídeo. Todo esse
movimento teve como hipótese a crença de que “a orientação da ACP poderia ser aplicada na
modalidade remota com a mesma qualidade que era realizado de forma presencial”. Isso porque
acreditam na potência da psicoterapia à luz da psicologia centrada na pessoa, a qual enxerga a
potência do ser humano e sua tendência natural pelo desenvolvimento. Diante do cenário
pandêmico, “ofertar serviços de assistência e suporte emocional é uma necessidade cada vez
mais emergente” .

Metodologia

Foi criada uma modalidade de acolhimento psicológico online para estudantes universitários
baseada no projeto "Plantão Psicológico". Os princípios do plantão foram mantidos, utilizando
a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) para oferecer suporte emocional e encaminhamentos,
quando e se necessário. O serviço funcionava quatro dias por semana, com dois dias para
agendamento e dois para atendimentos individuais. As sessões tinham 50 minutos de duração,
permitindo até quatro retornos por semestre. A participação era opcional. Além disso, a equipe
se reunia semanalmente com a coordenadora do projeto para avaliação e orientação. É de se
ressaltar a importância da supervisão no contexto, haja vista que quem acolhe também é um
aluno em vulnerabilidade emocional na universidade, e, também, a magnitude da relevância da
prática da escrita de Versão de Sentido pelos estagiários que estavam na posição de acolhedores.

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Resultado/discussão

O objetivo do artigo é descrever essa vivência no período pandêmico por meio de um relato que
traz, consigo, todos os elementos que fizeram parte da elaboração de uma prática inédita:
Adequar-se ao contexto com a construção de alternativas que corroborassem com a perpetuação
do cuidado - levando em consideração as limitações da conjuntura. Busca discutir sobre como
se deu o processo de adequação do atendimento psicológico - aos universitários da
Universidade Federal do Pará - fornecido pelo programa de Assistência Estudantil. Com o
objetivo de amparar os alunos nesse momento tão violento, a UFPA decidiu agir. O programa
de Assistência Estudantil, à luz do artigo, “preocupa-se em não apenas atender às necessidades
básicas do estudante...”. A preocupação atravessa o básico em busca do cuidado e da promoção
do bem-estar físico e mental. Somado a isso, o relato traz como ideia a utilização de uma base
para sustentar o projeto de acolhimento aos alunos. O marco teórico encontra sentido na
Abordagem Centrada na Pessoa. Esse conhecimento proporcionou a implantação de uma
semente – o Plantão remoto - em um terreno fértil – todos os envolvidos. Assim, germina o
projeto do Plantão Psicológico remoto. O foco foi na assistência aos alunos e na garantia de que
o atendimento fosse centrado no indivíduo. Leva-se em consideração a singularidade, a potência
e a tendência atualizante do ser humano. Os autores acreditaram na ideia de que o “plantão
também pode auxiliar o outro a descobrir o que é curador em si mesmo, sendo também um
instrumento de empoderamento”. Adaptar o atendimento, a fim de mantê-lo vivo, é uma ideia
que surge a partir da possibilidade de transformação do Plantão. Assim,instaurou-se o Plantão
Psicológico remoto, sob a hipótese de haver “...possibilidade de um modelo clínico de
psicologia que ultrapasse o consultório para chegar à comunidade...” na modalidade virtual,
que, à época, era a única opção disponível e viável. Também havia a proposição de “que a
orientação da ACP poderia ser aplicada na modalidade remota com a mesma qualidade que era
realizado de forma presencial”. É importante salientar que foram produzidas Versões de Sentido
(VS) sobre as sessões como instrumento para observar aspectos do atendimento e realizar
supervisões. Em vistas desses aspectos, é possível constatar que o Acolhimento Psicológico
Emergencial viabilizou o amparo e a promoção de saúde mental aos discentes de graduação da
UFPA. O serviço buscou não apenas acolher e identificar as demandas, mas também orientar
os alunos acerca das redes de apoio internas e externas à UFPA.

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Conclusão
De acordo com os autores, foi possível afirmar que a experiência relatada foi uma das poucas
vezes em que a equipe e os clientes compartilhavam de experiências similares - mesmo estando
em posições diferentes. A escolha do referencial teórico utilizado no trabalho, segundo os
autores, foi fundamental para se sentirem seguros durante o desenvolvimento do projeto. Assim
como para estabelecer o formato de supervisão adotada que proporcionou não apenas a
continuidade da formação, mas, também, um espaço para o desenvolvimento pessoal. A
transição para o meio virtual teve benefícios e desafios. Entre os benefícios, destaca-se a
capacidade de alcançar um público mais amplo, incluindo alunos de outras cidades
universitárias da instituição. Entre os desafios, dificuldades relacionadas à limitação
tecnológica e problemas de conexão que prejudicaram o andamento das sessões e o contato com
os clientes. Tudo o que envolvia o cenário, como a condição do isolamento, o afastamento da
universidade e a tentativa de adaptação à nova realidade trouxe à superfície fragilidades e
sofrimentos que até então pareciam estar enterrados, ignorados ou, até mesmo, escondidos e
desconhecidos. Para além disso, as questões que já se faziam manifestas agravaram e o
ambiente propiciado pela escuta terapêutica individual, mesmo com as intercorrências do
virtual, abriu espaço para o confronto do cliente consigo mesmo, sem desvios. Encarar-se é uma
experiência forte - e não é forte somente para o cliente. A busca por dar conta de todas as
questões que surgiam no plantão foi afetando negativamente a saúde daqueles que se
disponibilizaram a acolher e foi preciso delegar e acionar toda a rede disponível conhecida para
centrar no que podia ser feito dentro do tempo de estágio, dos objetivos do serviço criado e das
limitações de cada um. Reconhecer o momento de parar e deixar que a instituição tomasse conta
das situações de ordem maior se mostrou necessário.

Em Relação a mim, Victoria Vargas, a escolha do artigo se deu por atender aos critérios que
foram estabelecidos nas diretrizes do trabalho. Mas, claro, não somente por isso. Mas por se
tratar de um contexto no qual eu estive inserida, vivi, e cá estou como sobrevivente. Sim,
carrego em mim reverberações de tal catástrofe. Dessa forma, não posso me abster de evidenciar
de que a escolha se deu, de certa forma, por identificação e, também, pela curiosidade de saber
como conseguiram sustentar um projeto de acolhimento dentro do caos pandêmico. A minha
experiência de leitura foi marcante. Achei impressionante todo o processo, a organização e a
vontade genuína do movimento em direção ao humano, para o humano e por humanos. Isso,
com certeza, é uma inspiração que me toca enquanto acadêmica da área. Em relação ao processo
de escrita, posso dizer que, em partes, funcionou de maneira mais mecânica quando tive que
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escrever sobre a metodologia e sobre as conclusões dos autores. Mas fluida quando o comando
da questão forneceu espaço para a minha expressão pessoal, o que é raro dentro do mundo
acadêmico. E, por isso, agradeço pela oportunidade e possibilidade de usar este espaço de fala.
Isto, inclusive, me remete à Versão de Sentido, técnica tão usada no projeto “Canoa Quebrada”.
Essa leitura permitiu-me adentrar na história e fazer-me sentir pertencente à equipe, sentindo-
me empática aos alunos acolhidos da UFPA e aos estagiários envolvidos. Por fim, foi um
deleite.