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Saúde e Sociedade

ACOLHIMENTO DE VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL EM


SERVIÇOS DE SAÚDE BRASILEIROS: REVISÃO INTEGRATIVA

Journal: Saúde e Sociedade

Manuscript ID SAUSOC-2022-0253.R2

Manuscript Type: Original Research Article


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Keyword: violência sexual, saúde pública, serviço de atendimento


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4 ACOLHIMENTO DE VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL EM SERVIÇOS DE
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6 SAÚDE BRASILEIROS: REVISÃO INTEGRATIVA
7 RECEPTION OF VICTIMS OF SEXUAL VIOLENCE IN BRAZILIAN HEALTH
8
9 SERVICES: INTEGRATIVE REVIEW
10
11
12
13 Resumo
14 Objetiva-se compreender como vítimas de violência sexual são acolhidas no sistema de saúde
15
16 pública brasileiro após as mudanças legislativas de 2013. Realizou-se revisão integrativa de
17
18 artigos disponíveis na Scielo, PubMed e BVS, publicados de 2013 a fevereiro/2022. Após
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leitura dos títulos, resumos e textos completos, foram excluídas publicações que não relacionam
20
21 violência sexual ao atendimento em saúde pública. Realizou-se metassíntese em 3 eixos:
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23 capacitação profissional, protocolos de atendimento e acesso e acessibilidade. Como resultado,
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dos mais de 2 mil artigos inicialmente identificados, apenas 14 atendiam aos critérios.
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26 Apresentam pesquisas em 21 municípios das 5 regiões brasileiras, a maior parte realizada em
27
28 centros especializados no atendimento a vítimas de violência sexual. A maioria dos
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30 profissionais afirma não ter formação adequada. Prevalece o desconhecimento dos protocolos
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de atendimento, com exceção de alguns centros especializados e profissionais interessados no
33 tema. Preconceito, falta de articulação entre serviços, má distribuição das redes de atendimento
34
35 e fatores socioeconômicos dificultam o acesso e a acessibilidade das vítimas. Conclui-se que
36
violência sexual é amplamente abordada em publicações, mas há poucos artigos que a
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relacionam ao atendimento em saúde pública no Brasil. O despreparo e desconhecimento
39
40 profissional ainda prevalecem, indicando a necessidade de mais estudos e capacitação
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42 qualificada.
43
44 Palavras chave: violência sexual, serviço de atendimento, saúde pública.
45 Abstract
46
47 The objective of this study is how victims of sexual violence are accepted in the Brazilian public
48
49 health system after the legislative changes of 2013. An integrative review of articles available
50
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in Scielo, PubMed and BVS was performed, published from 2013 to february/2022. After
52 reading titles, abstracts and texts, publications that do not relate sexual violence to public health
53
54 care were excluded. A meta-synthesis was executed in 3 axes: professional training, care
55
56 protocols and access and accessibility. As a result, more than 2 thousand articles was initially
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identified, but only 14 met the criteria. Presents results in 21 municipalities of the 5 Brazilian
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59 regions, most of them performed in centers specialize in assisting victims of sexual violence.
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4 Most professionals say they do not have adequate training. Ignorance of care protocols
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6 predominate, with the exception of some specialize centers and interested professionals.
7 Prejudice, lack of coordination between services, poor distribution of care networks and
8
9 socioeconomic factors make it difficult for victims to access and accessibility. Sexual violence
10
11 is widely addressed in publications, but there are few articles that relate to public health care in
12
13 Brazil. Professional unpreparedness and lack of knowledge still prevail, indicating the need for
14 more studies and qualifications.
15
16 Key words: sexual violence, answering service, public health
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Introdução
20
21 O abuso sexual é uma das formas de violência contra a mulher atingindo indistintamente
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23 todas as classes sociais, culturas, etnias e religiões (DREZZET, 2002). Culturalmente, ainda é
24
banalizado por muitas sociedades e constitui uma das desigualdades de gênero baseada na
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26 relação entre sistemas de dominação e produção de diferenças, imposta em especial às
27
28 mulheres, crianças e adolescentes do sexo feminino (GIFFIN, 1994). No Brasil, o número de
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30 notificações de violência sexual registradas no DATASUS apenas no ano de 2021 foi de 3.931
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(BRASIL, 2021), ainda assim, estima-se que 90% dos casos não são reportados às autoridades
33 (LEAL et al., 2021).
34
35 A violência sexual gera consequências graves não apenas para a vítima, como também
36
para seus familiares e para o próprio sistema de saúde, uma vez que envolve lesões físicas e
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mentais, pode gerar gravidez indesejada e aborto, além da possibilidade de transmissão de
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40 doenças (DELZIOVO et al., 2017). No Brasil, já se reconhece há décadas que o abuso sexual é
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41
42 uma questão de saúde pública, segurança e justiça, e que, por isso, exige políticas e ações
43
44 integradas de todos esses setores do Estado (NASCIMENTO; DESLANDES, 2016).
45 Nesse contexto, desde 1980 o Ministério da Saúde (MS) em conjunto com o Ministério
46
47 da Justiça (MJ) normatizam o atendimento de pessoas em situação de violência sexual e, ao
48
49 longo do tempo, atualiza diretrizes, desenvolve protocolos clínicos e normas técnicas com
50
51
intuito de qualificar os profissionais da saúde (BRASIL, 2015). Dentre os marcos temporais de
52 avanços nessas políticas, destaca-se o ano de 2013, no qual foram publicados a Lei 12.845, a
53
54 qual institui o atendimento obrigatório, emergencial, integral e multidisciplinar às pessoas em
55
56 situação de violência sexual em todos os hospitais integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS)
57
(BRASIL, 2013b), e o decreto 7.958, que estabelece diretrizes para o atendimento às vítimas
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59 de violência sexual pelos profissionais de segurança pública e da rede de atendimento do
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4 Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2013a). Além disso, vale ressaltar o ano de 2014, quando
5
6 se tornou obrigatório a notificação compulsória imediata por parte do profissional de saúde em
7 casos de violência sexual (BRASIL, 2015).
8
9 Contudo, a existência de protocolos e normas que regularizam esse atendimento, não
10
11 garante que ele ocorra da maneira estabelecida. Para transformar um cenário estruturado há
12
13 décadas nos serviços de saúde, muitas ações se fazem necessárias. A Política Nacional de
14 Humanização é uma destas estratégias, que busca implementar os princípios do SUS nas
15
16 práticas dos serviços de saúde a fim de provocar mudanças na forma de gerir e cuidar (BRASIL,
17
18 2013c). Dentre as diretrizes desta política, encontra-se o acolhimento, que é definido da
19
seguinte forma:
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22 Acolher é reconhecer o que o outro traz como legítima e singular


23 necessidade de saúde. O acolhimento deve comparecer e sustentar a
24 relação entre equipes/serviços e usuários/populações. Como valor das
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25
práticas de saúde, o acolhimento é construído de forma coletiva, a partir
26
27 da análise dos processos de trabalho e tem como objetivo a construção de
28 relações de confiança, compromisso e vínculo entre as equipes/serviços,
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29 trabalhador/equipes e usuário com sua rede sócio afetiva. (BRASIL,


30 2013c, p. 7)
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32 O acolhimento nada mais é do que uma ação de aproximação, um “estar com” e um


33
34 “estar perto de”, ou seja, uma medida de inclusão (BRASIL, 2010). É tido como primordial
35
36
para a realização de um atendimento de qualidade, constituindo-se como base para o processo
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37 de trabalho dentro de um serviço de saúde, em especial, a Estratégia Saúde da Família


38
39 (PASSOS; MARTINS, 2019). De acordo com Franco, Bueno e Merhy (1999), procura-se nas
40
práticas em saúde produzir a responsabilização clínica e sanitária além de uma intervenção
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41
42
resolutiva, entretanto, sem acolher e vincular, isso não seria possível. O mesmo vale para o
43
44 atendimento às vítimas de abuso sexual: é preciso que os profissionais de saúde estejam aptos
45
46 a acolhê-la, considerando tudo que o termo encerra, inclusive o cumprimento dos protocolos.
47
48 De fato, seguir os protocolos e estabelecer fluxos de atendimentos eficazes faz parte do
49 processo de acolhimento, impactando diretamente na resolutividade da ação. Contudo, não se
50
51 deve reduzir o acolhimento apenas à uma dimensão espacial ou às ações de triagem e
52
53 encaminhamento, uma vez que pode resultar no rompimento do vínculo entre usuário e equipe,
54
55
que é o alicerce da promoção em saúde (BRASIL, 2010). Segundo este documento, acolher não
56 é uma etapa do processo, mas sim uma ação que ocorre em todos os locais e momentos do
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58 serviço.
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4 Apesar da vasta literatura abordando violência sexual (cf. GIFFIN, 1994; DELZIOVO
5
6 et al., 2017; NASCIMENTO; DESLANDES, 2016), a mudança da legislação brasileira sobre
7 o acolhimento ainda é relativamente recente, suscitando o interesse por mapear as pesquisas já
8
9 realizadas com vistas a estabelecer um panorama amplo da realidade nacional neste quesito,
10
11 identificando potencialidades e fragilidades a serem trabalhadas. Por isto, para compreender
12
13 como vítimas de violência sexual são acolhidas no sistema de saúde pública brasileiro após as
14 mudanças legislativas de 2013, o presente trabalho busca sistematizar e analisar publicações
15
16 sobre o tema no contexto brasileiro.
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Metodologia
20
21 A pesquisa consistiu em revisão bibliográfica integrativa, realizada nas bases de dados
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22
23 Scielo, PubMed e BVS, seguida de metassíntese qualitativa dos achados, ou seja, uma síntese
24
interpretativa dos dados (LOPES; FRACOLLI, 2008). Apesar de não se tratar de uma revisão
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26 sistemática, a metodologia inspirou-se no checklist do protocolo PRISMA (PAGE et al., 2020).
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30 Busca nas bases de dados
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32
Na busca dos artigos nas bases de dados, foram utilizados os descritores e suas traduções
33 correspondentes, pertencentes ao Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): abuso sexual
34
35 (sexual abuse), violência sexual (sexual violence) e saúde pública (public health), serviços de
36
saúde (health services), pessoal de saúde (health personnel), serviços de atendimento
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(answering services).
39
40 Para refinar a seleção, foram adotados os seguintes critérios de inclusão: artigos de
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41
42 acesso gratuito, publicados entre janeiro de 2013 e fevereiro de 2022 em português, inglês ou
43
44 espanhol. Foram estabelecidos os seguintes critérios de exclusão: artigos que não tratavam da
45 realidade brasileira; artigos que não relacionavam violência sexual e saúde pública; trabalhos
46
47 que não abordavam o acolhimento das vítimas de violência sexual em serviços de saúde.
48
49 A primeira busca (1 Grupo de descritores na figura 1) foi realizada apenas nas bases de
50
51
dados Scielo e PubMed, com a combinação dos descritores “abuso sexual” AND “violência
52 sexual” AND “saúde pública” e retornou a princípio um grande volume de publicações, mas
53
54 apenas 3 eram relevantes para a pesquisa. Devido ao pequeno número de artigos encontrados
55
56 nesta primeira etapa, uma segunda busca foi realizada nas bases de dados Scielo, PubMed e
57
BVS por meio de duas combinações de descritores: 1. “serviços de saúde” AND “pessoal de
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4 saúde” AND “abuso sexual” (2 Grupo de descritores na figura 1); 2. “abuso sexual” AND
5
6 “serviços de atendimento” (3 Grupo de descritores na figura 1).
7 A busca com o primeiro grupo de descritores ocorreu do dia 30 de outubro de 2020 até
8
9 o dia 09 de novembro de 2020. Posteriormente, a segunda busca, com o segundo e terceiro
10
11 grupo de descritores, ocorreu do dia 21 ao dia 25 de janeiro de 2021. A fim de padronizar a
12
13 pesquisa e incluir artigos publicados até o fim de 2021, os autores repetiram a busca com os
14 três grupos de descritores no período de 22 de janeiro de 2022 a 28 de fevereiro de 2022.
15
16 É importante salientar que apesar de terem sido realizadas 3 buscas diferentes, todas
17
18 filtraram artigos publicados até fevereiro de 2022, utilizando os mesmos critérios de inclusão e
19
exclusão, os descritores em português e, posteriormente, suas traduções correspondentes em
20
21 inglês. Os artigos filtrados pelas ferramentas automáticas das bases de dados (artigo completo
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22
23 gratuito, ano e idioma de publicação, país/região como assunto) foram direcionados para o
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gerenciador de referências Mendeley®, no qual os trabalhos duplicados foram removidos.
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25
26 Os artigos inicialmente identificados foram filtrados por três juízes, que trabalharam de
27
28 forma independente, cada um analisando um grupo de descritores, a partir da leitura dos títulos,
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30 resumos e posteriormente, do texto completo. Os artigos já selecionados na primeira busca,
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32
com o primeiro grupo de descritores, foram excluídos pelos pesquisadores nas demais buscas.
33 A Figura 1 sintetiza como a amostra final de 14 artigos foi alcançada.
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Avaliação de qualidade
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Para a avaliação de qualidade dos artigos foi utilizado o checklist para pesquisas
39
40 qualitativas do Critical Appraisal Skills Program (CASP, 2018), que consiste em 10 perguntas,
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41
42 sendo as duas perguntas iniciais de caráter seletivo (Os objetivos da pesquisa estão bem
43
44 definidos? A metodologia qualitativa é adequada?) e oito questões de percurso e caráter da
45 pesquisa (O desenho da pesquisa foi adequado para alcançar os objetivos? A estratégia de
46
47 recrutamento foi adequada para os objetivos da pesquisa? Os dados foram coletados de forma
48
49 a alcançar os objetivos da pesquisa? A relação entre pesquisador e participantes foi
50
51
adequadamente considerada? As questões éticas foram levadas em consideração? A análise de
52 dados foi suficientemente rigorosa? Os resultados foram claramente descritos? Quão relevante
53
54 é a pesquisa?).
55
56 Foram utilizadas as recomendações do CASP (2018) quanto às respostas: as duas
57
primeiras perguntas guiadoras, se respondidas com sim, permitiriam maior validade para
58
59 continuação das próximas oito. Todos os artigos selecionados passaram por essa etapa e foram
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4 analisados nos demais tópicos do checklist. Concluído o checklist, nenhum artigo foi retirado
5
6 pela análise de qualidade, mesmo alguns apresentando pequenas falhas na descrição de suas
7 metodologias e relação entre participantes, os autores chegaram em um acordo de que tais falhas
8
9 não tinham valor relevante para a exclusão dos artigos em questão. A Tabela 1 sintetiza a
10
11 avaliação de qualidade dos trabalhos selecionados.
12
13
14 Abstração de dados
15
16 Na primeira etapa de análise, foi realizado um fichamento (GIL, 2022) e os 14 artigos
17
18 foram categorizados segundo os parâmetros: data de publicação; data de coleta dos dados;
19
modalidade (teórica ou empírica), metodologia aplicada (entrevista, análise de prontuário ou
20
21 revisão bibliográfica); local de realização da pesquisa; forma como a violência sexual é
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22
23 abordada (identificação, manejo ou capacitação para lidar com casos na saúde pública); perfil
24
da população investigada.
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28 Análise dos dados
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30 A síntese dos dados de cada publicação e a integração das evidências foi realizada de
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modo qualitativo, analisando individualmente os parâmetros categorizados no fichamento,
33 avaliando suas diferenças e semelhanças e agrupando-os considerando sua contribuição para a
34
35 compreensão da interface entre violência sexual e saúde pública. Essa etapa teve como objetivo
36
relacionar os estudos, preservando seus dados originais, a fim de desenvolver uma análise
On

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crítica da realidade do atendimento à vítima de violência sexual no Brasil. Neste processo, foi
39
40 possível a organização das contribuições das 14 publicações nos seguintes eixos temáticos:
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42 Capacitação profissional; Protocolos de atendimento; Acesso e acessibilidade. A escolha dos
43
44 eixos foi feita de acordo com os temas em comum entre os artigos.
45
46
47 Resultados e Discussão
48
49 Na Tabela 2 estão presentes todos os artigos selecionados pelos pesquisadores, com
50
51
alguns dados importantes para uma visão geral das produções. Publicadas de 2013 a novembro
52 de 2021, essas pesquisas foram realizadas em 22 municípios, situados em 8 estados distintos
53
54 em todas as 5 regiões brasileiras, com coletas de dados realizadas principalmente por meio de
55
56 entrevistas ou análise de prontuários.
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4 É importante pontuar que os autores são vinculados a 21 instituições e apenas os artigos
5
6 de número 6, 7 e 13 pertencem ao mesmo grupo de pesquisa. Portanto, é possível afirmar que
7 não há endogenia nas publicações analisadas.
8
9 Em relação à metodologia empregada, todos os artigos descrevem pesquisas empíricas.
10
11 A Tabela 3 reúne os métodos de coleta de dados e a quantidade total de participantes (ou
12
13 materiais consultados) em cada modalidade. Pode-se perceber que grande parte das
14 investigações foi realizada em serviços especializados no atendimento à vítima de violência
15
16 sexual.
17
18 É importante salientar que os artigos analisados apresentavam uma limitação relevante.
19
Apesar de todos tratarem do atendimento às vítimas nos serviços de saúde pública brasileiro,
20
21 eles abordam esse acolhimento baseando-se em um viés técnico. Nenhum dos estudos traz um
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22
23 olhar sobre o processo de acolhimento como um todo, ou seja, abarcando tudo que o termo
24
abrange, sendo possível realizar apenas uma análise fragmentada de como ocorre o atendimento
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25
26 das vítimas de violência sexual no país.
27
28 Capacitação profissional
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29
30 Dentre os 14 artigos analisados, 8 abordam o tema da capacitação dos profissionais. Os
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32
trabalhos de Batista, Schraiber e D'Oliveira (2018) e Deslandes et al. (2015) são os que mais se
33 aprofundam no tema, trazendo informações detalhadas sobre a oferta de cursos e a visão dos
34
35 profissionais das regiões analisadas: São Paulo e Fortaleza, respectivamente. Já as pesquisas de
36
Costa et al. (2017), Vieira et al. (2016), Pinto et al. (2017) e Leal et al., (2021) - sendo as duas
On

37
38
primeiras realizadas no norte do Rio Grande do Sul e Teresina, respectivamente, e a terceira
39
40 realizada em município do interior do Brasil não identificado na publicação - apenas citam em
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41
42 seus estudos se os profissionais são ou não capacitados para atuar com vítimas de violência
43
44 sexual. Ribeiro e Trevisol (2021) comentam sobre a capacitação apenas ao analisarem a
45 realização de notificação compulsória por parte dos profissionais de saúde.
46
47 Como já mencionado anteriormente, o acolhimento não trata apenas da escuta ativa, envolve
48
49 uma série de atitudes e medidas que levam o profissional a estar apto a ouvir, perceber e agir
50
51
sobre as necessidades dos usuários (BRASIL, 2013c). Dito isso, a capacitação pode ser
52 considerada uma dessas medidas, uma vez que abarca ações intencionais e planejadas a fim de
53
54 fortalecer conhecimentos, habilidades, atitudes e práticas não ofertadas de forma suficiente
55
56 pelos serviços e instituições educacionais (BRASIL, 2009).
57
Contudo, a maioria dos estudos aponta a falta de capacitação como uma limitação. De
58
59 acordo com Batista, Schraiber e D’Oliveira (2018), em sua pesquisa realizada em São Paulo
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4 com 32 gestores de saúde, apenas 7 referiram ter participado de algum processo de capacitação
5
6 ou de sensibilização sobre violência contra a mulher e direitos humanos, mesmo estando à
7 frente de serviços que prestam atendimento a essas mulheres. Esse achado está em concordância
8
9 com Vieira et al. (2016), que descrevem uma limitada abordagem sobre o tema durante a
10
11 graduação dos profissionais de saúde, agravada pela falta de treinamento no contexto dos
12
13 serviços.
14 Outro ponto importante a ser discutido é a notificação compulsória aos centros de vigilância
15
16 epidemiológica, que tem por objetivo coletar dados para implementar melhorias em políticas
17
18 públicas. Ribeiro e Trevisol (2021) apontam falhas dos profissionais ao completarem a ficha de
19
notificação, indicando que a maior parte das fichas analisadas não possuíam os dados
20
21 completos. Este fato também aparece em outros estudos, como o de Taquette et al. (2021), que
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22
23 aborda casos de abuso sexual de meninas de 10 a 13 anos. Os autores relatam que muitas vezes
24
o profissional, por medo de retaliações por parte do agressor ou por entender a relação sexual
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25
26 como consentida, não realiza a notificação, o que sinaliza a importância de uma melhor
27
28 capacitação desses profissionais para lidar com o tema. Outros estudos que tratam da
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29
30 incompletude do preenchimento das fichas (SOUSA et al., 2019; SANTOS et al., 2016;
31
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32
ABATH et al., 2014), destacam que quando se trata de violência sexual, as mesmas possuem
33 um grau de incompletude considerado regular ou ruim, dificultando políticas de prevenção e
34
35 combate a violência, ações para acolhimento, assistência oportuna e encaminhamento a serviços
36
apropiados.
On

37
38
Nesse aspecto, duas das publicações documentam realidades distintas. De acordo com
39
40 Deslandes et al. (2015), a Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, desde 2007, tem
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41
42 oferecido capacitação sobre violência em geral e sobre violência sexual para os hospitais
43
44 municipais, equipes de saúde da família e Centro de Atenção Psicossocial. Porém, segundo a
45 maioria dos gestores entrevistados nessa mesma pesquisa, a violência sexual não é abordada
46
47 nas capacitações. Já de acordo com Pinto et al. (2017), que realizaram entrevistas com 6
48
49 profissionais que prestam atendimento no Serviço de Atendimento à Mulher Vítima de
50
51
Violência (SAMVVIS), em Teresina, todos relataram receber capacitações ao longo do período
52 em que lá atuaram para atender essas vítimas, situação que chama atenção pois se aproxima do
53
54 que é preconizado pela legislação (BRASIL, 2015) e se distancia do que é retratado nos demais
55
56 artigos.
57
Um dado curioso apresentado por Batista, Schraiber e D’Oliveira (2018) é que a formação
58
59 em saúde da mulher não garantiu aproximação com os temas da violência contra a mulher e
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4 direitos humanos. Contudo, os profissionais que já passaram por alguma sensibilização ou
5
6 capacitação, quando comparados aos demais, se mostraram mais apropriados ao fazerem suas
7 colocações sobre o assunto e também mais comprometidos com o enfrentamento da violência.
8
9 Ainda nesse estudo, foi relatado que alguns gestores não dominam o conceito de gênero, no
10
11 sentido de identificar os conteúdos significativos que o termo encerra.
12
13 As publicações analisadas permitem afirmar possuir algum tipo de sensibilização e/ou
14 capacitação em violência contra a mulher faz com que os profissionais sejam mais assertivos
15
16 em suas observações durante as entrevistas e mais comprometidos em enfrentar a violência,
17
18 demonstrando a importância do conhecimento especializado para melhor atuação dos
19
profissionais. É possível verificar que existe formação especializada em alguns lugares, com
20
21 destaque para a região sul, que foi a mais citada quanto à oferta de capacitações, porém, elas se
Fo

22
23 restringem a poucos serviços e/ou a um conhecimento individualizado, no qual o profissional,
24
por interesse próprio, busca aprimoramento sobre o tema. Esse dado sinaliza a importância de
rR

25
26 inclusão do tema nos currículos dos cursos de graduação em ciências da saúde e ampliação da
27
28 oferta de capacitações introdutórias e continuadas para profissionais em serviço.
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Protocolos de atendimento
33 Protocolos de atendimento implementados nas instituições onde as pesquisas foram
34
35 realizadas são abordados em 10 artigos. Em todos eles há uma descrição detalhada de como é
36
feito o acolhimento. Alguns apresentam análises de acordo com a vivência da vítima - como no
On

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trabalho de Machado et al. (2015), realizado em centros universitários de Campinas - enquanto
39
40 outros fazem um apanhado dos protocolos e tipos de serviços encontrados em cada instituição
ly

41
42 investigada (BATISTA; SCHRAIBER; D’OLIVEIRA, 2018; DINIZ et al., 2014;
43
44 DESLANDES et al., 2016; VIEIRA et al., 2016).
45 De acordo com Lima (2014), no Brasil, desde 1980, a temática violência contra a mulher
46
47 faz parte do cenário das políticas públicas, sendo que, na década de 2000, chama atenção a
48
49 intensidade da produção de legislação sobre o tema. Ainda assim, alguns profissionais afirmam
50
51
desconhecer os documentos protocolares, outros falam que conhecem as leis e normas técnicas
52 apenas por “ouvir falar”, além de não estarem incluídas em suas formações e em capacitações
53
54 posteriores (BATISTA; SCHRAIBER; D’OLIVEIRA, 2018; VIEIRA et al., 2016). Já em Leal
55
56 et al. (2021), dentre as 34 instituições analisadas, em 97% os médicos e técnicos de enfermagem
57
relatam não possuir protocolos para atender pessoas em situação de violência sexual, número
58
59 expressivo que demonstra a falha para estabelecer os protocolos na prática em saúde. Para além
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4 de uma falha no estabelecimento de protocolos, pode-se dizer que este fato é também
5
6 considerado uma lacuna no cumprimento da integralidade do atendimento, que segundo Gomes
7 e Pinheiro (2005) se traduz na resolubilidade da equipe, utilização de protocolos e
8
9 reorganização dos serviços.
10
11 Sobre os fluxos de atendimento, em pesquisa que analisa a atenção à saúde de crianças e
12
13 adolescentes em situação de violência sexual, Deslandes et al. (2016) apresentam informações
14 sobre quatro capitais brasileiras: Belém, Porto Alegre, Campo Grande e Fortaleza. As unidades
15
16 de referência em Belém realizam apenas acolhimento básico e notificação, encaminhando os
17
18 pacientes para outro serviço. Além disso, segundo os representantes, não há fluxo intersetorial
19
pactuado e vigente. Em Porto Alegre, destaca-se um serviço de atendimento integrado ao
20
21 Instituto Médico Legal (IML) e, em Fortaleza, existe um fluxo intersetorial para atendimento
Fo

22
23 às situações de violência que inclui a violência sexual e prevê portas de entrada na rede, além
24
de fluxo específico para adolescentes. Já em Campo Grande inexistia fluxo de atendimento
rR

25
26 pactuado vigente à época da realização da pesquisa.
27
28 Outros estudos apresentam o panorama de diferentes cidades brasileiras. Segundo Pinto et
ev

29
30 al. (2017), o Serviço de Atendimento à Mulher Vítima de Violência (SAMVVIS) em Teresina,
31
iew

32
realiza assistência integral à vítima e possui sistemas de informação interligados ao IML. Já
33 Trentin et al. (2020) destacam a existência do serviço em Passo Fundo e Porto Alegre, porém,
34
35 na visão dos entrevistados, sobressai a desarticulação entre eles. Tal problema também foi
36
abordado por Vieira et al. (2016) ao destacar a fragmentação e a inadequação da rede em
On

37
38
Fortaleza, verbalizadas por alguns profissionais e observadas em uma unidade de saúde. Nesta,
39
40 era possível encontrar medicamentos para profilaxia e anticoncepção de emergência e demais
ly

41
42 procedimentos, mas não havia atendimento de emergência às mulheres, o que torna inviável o
43
44 estabelecimento de qualquer fluxo de acolhimento.
45 Outro assunto abordado são os protocolos utilizados especificadamente no atendimento da
46
47 mulher vítima de estupro, que incluem a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, a
48
49 anticoncepção de emergência e o aborto. No geral, é possível dizer que há a realização desses
50
51
serviços nas regiões analisadas, contudo, algumas importantes ressalvas devem ser feitas.
52 Segundo Deslandes et al. (2016), em Campo Grande, todas as unidades ofereciam os
53
54 medicamentos de HIV/AIDs e de anticoncepção de emergência hormonal (AEH). Porém, sobre
55
56 estes últimos, enfatizou-se que havia uma baixa utilização em virtude do preconceito dos
57
profissionais que omitiam a disponibilidade do medicamento, além de uma articulação política
58
59 com a ala religiosa para que o mesmo não fosse ofertado. Em Ribeiro e Trevisol (2021), a oferta
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4 da contracepção de emergência também chama atenção, pois foi indicada em apenas 38,1% dos
5
6 casos analisados de um Hospital Geral da região Sul do Brasil, embora o motivo não tenha sido
7 discutido pelos autores.
8
9 A respeito do aborto, Diniz et al. (2014) analisou como os profissionais de saúde, em cinco
10
11 capitais brasileiras, “constroem a verdade” (p. 292) do estupro em serviços de aborto legal no
12
13 Brasil. Os autores observaram que, ao contrário do que é determinado pelo Ministério da Saúde,
14 as mulheres passam por uma perícia com vários profissionais para provarem que sofreram a
15
16 violência para, somente assim, terem garantido o acesso ao procedimento. Em concordância,
17
18 Machado et al. (2015) e Melchiors et al. (2015) citam que algumas vítimas disseram ser
19
desgastante e desconfortável a quantidade de entrevistas e exames realizados. Entretanto,
20
21 segundo Melchiors et al. (2015), a maioria das mulheres entrevistadas descreveram a equipe
Fo

22
23 como acolhedora diante da situação. Já os profissionais entrevistados por Vieira et al. (2016),
24
relatam que nos serviços em que era realizado o procedimento, havia uma descontinuidade da
rR

25
26 oferta e resistência das equipes.
27
28 Portanto, apesar de ser uma potencialidade os serviços pesquisados oferecerem alguns dos
ev

29
30 procedimentos previstos em lei, as investigações apontam que a maioria não cumpre o que é
31
iew

32
preconizado pelas entidades de saúde. Alguns serviços também contam com profissionais
33 despreparados, que ainda moldam seus atendimentos às suas crenças pessoais. Com isso, até
34
35 mesmo em locais de referência para a realização de procedimentos, como o aborto legal, os
36
protocolos muitas vezes não são seguidos, precarizando o atendimento às vítimas.
On

37
38
Se, por um lado, onde fluxos de atendimento e protocolos não estão bem estabelecidos é
39
40 evidente a precariedade no acolhimento às vítimas de violência sexual, por outro, apenas a
ly

41
42 existência de protocolos não garante que o atendimento seja de qualidade. Este não deve se
43
44 restringir ao cumprimento de técnicas, é necessário um acolhimento da vítima por meio de uma
45 escuta qualificada às necessidades do paciente, somada à percepção das necessidades para além
46
47 da verbalização, com uma postura ética, que implica compartilhamento de saberes,
48
49 necessidades, possibilidades, angústias ou maneiras alternativas de enfrentar os problemas
50
51
(BRASIL, 2013d). Em nenhuma das publicações analisadas foi possível identificar serviços
52 brasileiros em que todas essas dimensões estejam contempladas.
53
54
55
56 Acesso e acessibilidade
57
Todos os 14 artigos analisados abordam de alguma forma o acesso e a acessibilidade do
58
59 atendimento às vítimas de violência sexual. Para melhor compreensão, é importante diferenciar
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4 tais termos. Acessibilidade se refere a características da oferta de serviços de saúde e à
5
6 capacidade de produzi-lo. Acesso pode ser definido como a entrada no sistema de saúde e a
7 aderência ao tratamento, sendo, portanto, ligado a fatores da realidade do paciente (TRENTIN
8
9 et al., 2020).
10
11 A respeito da acessibilidade, Batista, Schraiber e D'Oliveira (2018), abordam uma
12
13 questão que pode influenciar diretamente nesse quesito: a distinção entre norma ética e norma
14 legal. A primeira trata sobre a moral e costumes e é gerada pela sociedade, já a segunda, é
15
16 produzida pelo Estado e pelas leis. Ambas podem influenciar no tipo de acolhimento que as
17
18 vítimas recebem, como a não realização de um protocolo correto de atendimento (norma legal)
19
devido a um preconceito (norma ética). Diniz et al. (2014) também analisam tal problemática
20
21 quando relata a dificuldade de acesso ao aborto legal devido a um regime interno de suspeição
Fo

22
23 da vítima de estupro, o que vai contra o que é preconizado legalmente.
24
Outro ponto relevante sobre acessibilidade é a falta de articulação entre os serviços de
rR

25
26 acolhimento. A exemplo disso, a fala de um entrevistado de Trentin et al. (2020) chama atenção:
27
28 “Acho que não existe aquele fluxo, não existe uma interligação entre todas as instituições que
ev

29
30 trabalham com isso”. Este depoimento se aproxima dos achados de Pinto et al. (2017), os quais
31
iew

32
indicam que os erros de encaminhamento de vítimas são um impedimento à coleta dos vestígios
33 da violência em tempo hábil. Também Diniz et al. (2014) apontam que a sintonia entre a rede
34
35 pública de saúde do município e a política pública de atendimento às mulheres vítimas de
36
violência sexual é essencial: uma boa ligação é uma potencialidade do sistema, enquanto a
On

37
38
dissintonia é uma fragilidade preocupante. Além desses autores, Leal et al. (2021) afirmam que
39
40 todas as 34 instituições analisadas não possuíam fluxograma de encaminhamento para redes de
ly

41
42 unidades parceiras.
43
44 Em relação ao acesso, a pesquisa de Vieira et al. (2016) realizada nas capitais Rio de
45 Janeiro e Fortaleza aborda a distribuição desigual das redes especializadas no acolhimento das
46
47 vítimas de violência sexual. De acordo com os autores, há uma maior concentração dessas redes
48
49 no Sudeste, o que não condiz com a necessidade. De fato, dados do Anuário Brasileiro de
50
51
Segurança Pública (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2020), mostram
52 que os estados do Norte e Centro-Oeste brasileiros apresentam números expressivos de
53
54 estupros. Tem-se, portanto, um problema de acesso e acessibilidade: as vítimas que
55
56 normalmente necessitam de maior apoio não estão próximas às redes especializadas.
57
Ainda sobre o acesso, Pinto et al. (2017) citam os fatores socioeconômicos das vítimas
58
59 em conjunto com a falta de apoio financeiro e emocional como obstáculos para se locomoverem
60

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4 até os centros de atendimento e darem continuidade ao acompanhamento. Nesse aspecto, os
5
6 autores Ribeiro e Trevisol (2021), Melchiors et al. (2015), Pinto et al. (2016) e Facuri et al.
7 (2013) relatam que a maioria das vítimas são adolescentes, o que pode ser considerado um
8
9 problema de acesso, já que por motivo de medo, vergonha e/ou desinformação, essas vítimas
10
11 podem optar por não irem a um serviço de saúde. O artigo de Costa et al. (2017), o único que
12
13 aborda o acesso e a acessibilidade de mulheres do meio rural, também elenca empecilhos como:
14 escassa possibilidade de obter informações, distância dos recursos de apoio, acesso restrito ao
15
16 transporte, dependência do companheiro, desatenção dos profissionais e desarticulação das
17
18 redes de apoio. Importante ressaltar que nenhum dos artigos discutem sobre o acesso e
19
acessibilidade de mulheres de alta renda.
20
21 Dessa forma, as pesquisas documentam problemas presentes tanto na estrutura do
Fo

22
23 atendimento às vítimas de violência sexual - como o despreparo profissional e a desarticulação
24
e distribuição desigual do sistema - quanto no contexto pessoal e social dessas mulheres. A esse
rR

25
26 respeito, Fontoura et al. (2006) afirmam que a integralidade é diretamente afetada pelo acesso
27
28 e acessibilidade no atendimento e é a característica menos perceptível na trajetória do sistema
ev

29
30 de saúde.
31
iew

32
Por fim, para os autores de todas as publicações analisadas, as questões levantadas
33 podem ser superadas com uma melhor análise dos protocolos e seguimento das diretrizes
34
35 estabelecidas pelo Ministério da Saúde.
36
On

37
38
Conclusão
39
40 Na presente revisão, de 2.809 artigos encontrados com o uso dos descritores, apenas 14
ly

41
42 foram selecionados para compor a amostra final, sinalizando que apesar da violência sexual ser
43
44 um tema amplamente abordado em publicações científicas, ao que tudo indica a grande maioria
45 não trata do acolhimento dessas vítimas ao chegarem no sistema de saúde pública brasileiro.
46
47 Dada a necessidade de propor três combinações diferentes de descritores para chegar a um
48
49 número razoável de artigos selecionados, é possível supor que não existe padronização nos
50
51
descritores utilizados pelos pesquisadores da área. Isso levanta o questionamento se artigos que
52 se enquadrariam nos critérios de seleção não ficaram de fora da amostra, o que poderia ser uma
53
54 limitação do presente estudo.
55
56 Com a análise empreendida, é possível perceber que o atendimento às vítimas de
57
violência sexual apresenta potencialidades, mas ainda possui fragilidades importantes que
58
59 distanciam a realidade brasileira do que é previsto legalmente. Dentre as potencialidades,
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3
4 destacam-se a presença de serviços especializados no atendimento às vítimas de violência
5
6 sexual, os quais correspondem à maioria das instituições investigadas pelos autores. A
7 existência desses serviços, ainda que sejam poucos e concentrados geograficamente, atesta que
8
9 há preocupação do setor público em prestar atendimento qualificado às vítimas. Outro ponto
10
11 importante é a presença dos serviços de aborto, prevenção de ISTs e anticoncepção de
12
13 emergência encontrados em algumas dessas instituições. Além disso, segundo relatos das
14 pacientes, a maior parte delas se sentiram acolhidas e recomendariam os serviços a outras
15
16 mulheres que estivessem passando pela mesma situação.
17
18 Sobre as fragilidades encontradas, a primeira é o despreparo dos profissionais para o
19
acolhimento às vítimas. Poucos relataram terem sido capacitados e/ou conhecerem os
20
21 protocolos e diretrizes de atendimento, mesmo estando à frente de serviços especializados. Em
Fo

22
23 segundo lugar, destaca-se a precariedade do abortamento legal: apesar da existência formal do
24
serviço e oferta das medicações, é necessário que a vítima passe por processo desgastante e
rR

25
26 demorado de confirmação da violência dentro das unidades, o que contraria os protocolos de
27
28 atendimento. Além disso, em alguns lugares os medicamentos de anticoncepção são pouco
ev

29
30 utilizados devido a influências políticas e religiosas.
31
iew

32
Outras fragilidades importantes a serem destacadas são a desarticulação entre os
33 serviços de atendimento às vítimas e a dificuldade de acesso a esses serviços, o que se deve a
34
35 dois fatores: unidades localizadas em regiões de menor incidência de casos de abuso sexual e
36
fatores socioeconômicos, os quais dificultam a chegada das vítimas até as redes de apoio e sua
On

37
38
aderência às condutas médicas. A carência de dados sobre as dificuldades de acesso dos
39
40 diferentes grupos sociais é um fator que dificulta o entendimento e a melhoria da prestação
ly

41
42 desse serviço, fato esse que pode estar relacionado à estimativa de que apenas 10% dos casos
43
44 de violência sexual no Brasil são notificados.
45 Uma limitação do presente trabalho se vincula à falta de pesquisas que avaliem o
46
47 processo de acolhimento como um todo. Todos os artigos selecionados tratam de alguma parte
48
49 específica e a maioria com um viés técnico do atendimento, sem aprofundar na complexidade
50
51
de dimensões concernentes ao acolhimento integral (BRASIL, 2013c). Dessa forma, o objetivo
52 pretendido por esta pesquisa, compreender como vítimas de violência sexual são acolhidas no
53
54 sistema de saúde pública brasileiro após as mudanças legislativas de 2013, só pode ser
55
56 parcialmente alcançado. Decorrente do fato de esta ser uma pesquisa de revisão bibliográfica
57
integrativa, pode-se entender essa limitação como um convite aos pesquisadores da área, para
58
59 que incluam a concepção ampla de acolhimento em futuras pesquisas.
60

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1
2
3
4 Conclui-se que apesar de leis e diretrizes destinadas a melhorar o atendimento das
5
6 vítimas de violência sexual existirem no Brasil há quase uma década, as publicações disponíveis
7 sobre o tema indicam que este acolhimento ainda não ocorre como o esperado. É preciso que
8
9 os profissionais de saúde recebam capacitação adequada para estarem à frente dos serviços e
10
11 estejam atualizados dos protocolos de atendimento. Também é necessário que os serviços de
12
13 saúde e de segurança estejam conectados para realizar um acolhimento completo, humanizado
14 e eficaz.
15
16 Como dito acima, é de extrema importância a realização de mais estudos sobre como
17
18 ocorre o acolhimento dessas vítimas nos serviços de saúde pública, para que haja uma melhor
19
compreensão da real situação desse serviço no Brasil. Por fim, novas revisões que façam
20
21 comparações entre a realidade brasileira e a de outros países poderão lançar novas luzes sobre
Fo

22
23 potencialidades e fragilidades do acolhimento no país, quiçá abrindo caminhos para melhoria
24
dos serviços nacionais.
rR

25
26
27
28
ev

29
30
31
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32
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34
35
36
On

37
38
39
40
ly

41
42 REFERÊNCIAS
43
44 ABATH, M. DE B. et al. Avaliação da completitude, da consistência e da duplicidade de
45 registros de violências do Sinan em Recife, Pernambuco, 2009-2012. Epidemiologia e
46
47 Serviços de Saúde, v. 23, n. 1, p. 131–142, 2014.
48
49 BATISTA, K. B. C.; SCHRAIBER, L. B.; D’OLIVEIRA, A. F. P. L. Health administrators
50
51
and public policies to deal with gender violence against women in São Paulo, Brazil.
52 Cadernos de Saúde Pública, São Paulo, v. 34, n. 8, p. 1–11, 2018.
53
54 https://doi.org/10.1590/0102-311X00140017
55
56 BRASIL. Ministério da Justiça. Ministério da Saúde. Decreto nº 7958, de 13 de março de
57
2013. Estabelece diretrizes para o atendimento às vítimas de violência sexual pelos
58
59 profissionais de segurança pública e da rede de atendimento do Sistema Único de Saúde.
60

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1
2
3
4 Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 14 mar. 2013a. Disponível
5
6 em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d7958.htm. Acesso
7 em: 15 fev. 2022.
8
9 BRASIL. Ministério da Justiça. Ministério da Saúde. Lei nº 12845, de 1 de agosto de 2013.
10
11 Dispõe sobre o atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de violência sexual.
12
13 Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 02 ago. 2013b. Disponível
14 em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12845.htm. Acesso em:
15
16 15 fev. 2022.
17
18 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
19
Básica. Saúde sexual e saúde reprodutiva. 1. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2013d.
20
21 Disponível em:
Fo

22
23 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_sexual_saude_reprodutiva.pdf. Acesso em:
24
15 jul. 2022.
rR

25
26 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política
27
28 Nacional de Humanização. Acolhimento nas práticas de produção de saúde. 2. ed. Brasília:
ev

29
30 Editora do Ministério da Saúde, 2010. Disponível em:
31
iew

32
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/acolhimento_praticas_producao_saude.pdf.
33 Acesso em: 15 jul. 2022.
34
35 BRASIL. Ministério da Justiça. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas Para as Mulheres.
36
Norma Técnica: atenção humanizada às pessoas em situação de violência sexual com
On

37
38
registro de informações e coleta de vestigios. Brasília: Autor, 2015. Disponível em:
39
40 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_humanizada_pessoas_violencia_sexual_
ly

41
42 norma_tecnica.pdf. Acesso em: 22 jan 2022.
43
44 BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização - HumanizaSUS.
45 Brasília: Autor, 2013c. Disponível em:
46
47 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_humanizacao_pnh_folheto.pdf.
48
49 Acesso em: 21 jan. 2022.
50
51
BRASIL.Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde.
52 Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Política Nacional de Educação
53
54 Permanente em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível em:
55
56 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pacto_saude_volume9.pdf. Acesso em: 21 jan
57
2022.
58
59
60

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1
2
3
4 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigilância em saúde no
5
6 Brasil 2003|2019: da criação da Secretaria de Vigilância em Saúde aos dias atuais. Boletim
7 epidemiológico, Brasília, v. 50, n. esp., p. 1-154, 2019. Disponível em:
8
9 https://ameci.org.br/wp-content/uploads/2019/09/boletim-especial-21ago19-web.pdf. Acesso
10
11 em: 21 jan 2022.
12
13 BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Informações de Agravos de Notificação:
14 violência doméstica, sexual e/ou outras violências. Brasília: Autor, 2021. Disponível em:
15
16 http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/violencia/bases/violebrnet.def. Acesso
17
18 em: 15 fev 2022.
19
CRITICAL APPRAISAL SKILLS PROGRAMME [CASP]. CASP Checklist: 10 questions
20
21 to help you make sense of a Qualitative research. Oxford: Autor, 2018. Disponível em:
Fo

22
23 https://casp-uk.b-cdn.net/wp-content/uploads/2018/03/CASP-Qualitative-Checklist-
24
2018_fillable_form.pdf. Acesso em: 14 jul 2022.
rR

25
26 COSTA, M. C. et al. Mulheres rurais e situações de violência: fatores que limitam o acesso e
27
28 a acessibilidade à rede de atenção à saúde. Revista gaúcha de enfermagem, Porto Alegre, v.
ev

29
30 38, n. 2, p. 1–8, 2017. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2017.02.59553
31
iew

32
DELZIOVO, C. R. et al. Características dos casos de violência sexual contra mulheres
33 adolescentes e adultas notificados pelos serviços públicos de saúde em Santa Catarina, Brasil.
34
35 Cadernos de Saúde Pública, v. 33, n. 6, p. e00002716, 2017. https://doi.org/10.1590/0102-
36
311X00002716.
On

37
38
DESLANDES, S. F. et al. Atendimento à saúde de crianças e adolescentes em situação de
39
40 violência sexual, em quatro capitais brasileiras. Interface - Comunicação, Saúde, Educação,
ly

41
42 Botucatu, v. 20, n. 59, p. 865–877, 15 ago. 2016. https://doi.org/10.1590/1807-
43
44 57622015.0405
45 DESLANDES, S. et al. Capacitação profissional para o enfrentamento às violências sexuais
46
47 contra crianças e adolescentes em Fortaleza, Ceará, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio
48
49 de Janeiro, v. 31, n. 2, p. 431–435, fev. 2015. https://doi.org/10.1590/0102-311X00078514
50
51
DINIZ, D. et al. A verdade do estupro nos serviços de aborto legal no Brasil. Revista
52 Bioética, Brasília, v. 22, n. 2, p. 291–298, 2014. https://doi.org/10.1590/1983-
53
54 80422014222010
55
56 D’OLIVEIRA, A. F. P. L. et. al. Obstáculos e facilitadores para o cuidado de mulheres em
57
situação de violência doméstica na atenção primária em saúde: uma revisão sistemática.
58
59
60

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1
2
3
4 Interface - Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v.24, p. 1–17, 2020.
5
6 https://doi.org/10.1590/Interface.190164
7 DOS SANTOS, T. M. B. et al. Completitude das notificações de violência perpetrada contra
8
9 adolescentes em Pernambuco, Brasil. Ciencia e Saude Coletiva, v. 21, n. 12, p. 3907–3916,
10
11 2016.
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13 DREZETT, J. Aspectos biopsicossociais da violência sexual. In: PEREIRA, I. G. et. al.
14 (Org.). Abordo legal: implicações éticas e religiosas. Rio de Janeiro: Católicas pelo direito
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16 de decidir, 2002. p.115-123.
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18 FRANCO, T. B.; BUENO, W. S.; MERHY, E. E. “User embracement” and the working
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21 Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, v. 15,
Fo

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23 n. 2, p. 345–353, 1999.
24
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança
rR

25
26 Pública 2020. São Paulo: Autor, 2020. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-
27
28 content/uploads/2020/10/anuario-14-2020-v1-interativo.pdf Acesso em: 23 jan 2022.
ev

29
30 FONTOURA, R. T.; MAYER, C. N. Uma breve reflexão sobre a integralidade. Revista
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iew

32
Brasileira de Enfermagem, v. 59, n. 4, p. 532–536, 2006.
33 GIFFIN, K.Violência de gênero, sexualidade e saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 10,
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35 suppl 1, p. S146-S155, 1994. https://doi.org/10.1590/S0102-311X1994000500010.
36
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2022. 1 recurso
On

37
38
online. ISBN 9786559771653.
39
40 GOMES, M. C. P. A.; PINHEIRO, R. Acolhimento e vínculo: práticas de integralidade na
ly

41
42 gestão do cuidado em saúde em grandes centros urbanos. Interface - Comunicação, Saúde,
43
44 Educação, v. 9, n. 17, p. 287–301, 2005.
45 GUERRERO, P. et al. O acolhimento como boa prática na atenção básica à saúde. Texto e
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47 Contexto Enfermagem, v. 22, n. 1, p. 132–140, 2013.
48
49 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA [IBGE]. Perfil dos
50
51
municípios brasileiros 2009. Rio de Janeiro, 2010.
52 LIMA, C. A.; DESLANDES, S. F. Violência sexual contra mulheres no Brasil: Conquistas e
53
54 desafios do setor saúde na década de 2000. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 23, n. 3, p. 53–
55
56 66, 2014. https://doi.org/10.1590/S0104-12902014000300005
57
LOPES, A. L. M..; FRACOLLI, L. A. Revisão sistemática de literatura e metassíntese
58
59 qualitativa: considerações sobre sua aplicação na pesquisa em enfermagem. Texto &
60

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1
2
3
4 Contexto - Enfermagem, Florianópolis, v. 17, n. 4, p. 771–778, dez. 2008.
5
6 https://doi.org/10.1590/S0104-07072008000400020
7 MACHADO, C. L. et al. Gravidez após violência sexual: vivências de mulheres em busca da
8
9 interrupção legal. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 31, n. 2, p. 345–353, fev.
10
11 2015. https://doi.org/10.1590/0102-311X00051714
12
13 MELCHIORS, L. et al. Análise da experiência de mulheres atendidas em um serviço de
14 referência para vítimas de violência sexual e aborto previsto em lei, Caxias do Sul, Brasil.
15
16 Reprodução & Climatério, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 54–57, 17 julho 2015.
17
18 https://doi.org/10.1016/j.recli.2015.06.001
19
NASCIMENTO, A. F.; DESLANDES, S. F. A construção da agenda pública brasileira de
20
21 enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 26,
Fo

22
23 n. 4, p. 1171-1191, 2016. https://doi.org/10.1590/S0103-73312016000400006.
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PAGE, Matthew J. et al . A declaração PRISMA 2020: diretriz atualizada para relatar revisões
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26 sistemáticas. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília , v. 31, n. 2, e2022107, jun. 2022 .
27
28 Disponível em <http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-
ev

29
30 49742022000201700&lng=pt&nrm=iso>.
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iew

32
PASSOS, C. S.; MARTINS, B. E. P. Desafios à prática do acolhimento na atenção primária
33 em saúde no Brasil. REVISE, v. 3, p. 56–70, 2019.
34
35 PINTO, L. S. S. et al. Políticas públicas de proteção à mulher: avaliação do atendimento em
36
saúde de vítimas de violência sexual. Ciência & Saúde Coletiva, Manguinhos, v. 22, n. 5, p.
On

37
38
1501–1508, maio 2017. https://doi.org/10.1590/1413-81232017225.33272016
39
40 SOUSA, C. M. DE S. et al. Incompletude do preenchimento das notificações compulsórias de
ly

41
42 violência - Brasil, 2011-2014. Cadernos Saúde Coletiva, v. 28, n. 4, p. 477–487, 2020.
43
44 TAQUETTE, S. R. et al. A invisibilidade da magnitude do estupro de meninas no Brasil. Rev.
45 Saúde Pública, v. 55, p. 1–9, 2021.
46
47 TRENTIN, D. et. al. Mulheres em situação de violência sexual: potencialidades e fragilidades
48
49 da rede intersetorial. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 73, n. 4, p. 1–8, 2020.
50
51
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0856
52 VIEIRA, L. J. E. S. et al. Protocolos na atenção à saúde de mulheres em situação de violência
53
54 sexual sob a ótica de profissionais de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Manguinhos, v. 21,
55
56 n. 12, p. 3957–3965, dez. 2016. https://doi.org/10.1590/1413-812320152112.15362015
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1
2 Perguntas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
3
4 N. artigo A numeração dos artigos está de acordo com a Tabela 2.
5
6
7 1 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Muito
8 relevante
9
10
2 Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Relevante
11
12
13
14 3 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não sei Sim Sim Relevante
15 dizer
16
17
18 4 Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Muito
19 relevante
20
21
Fo

22 5 Sim Sim’ Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Relevante
23
24
rR

25
6 Sim Sim Sim Sim Não Não Sim Não sei Sim Relevante
26
dizer
27
28
ev

29 7 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Muito
30 relevante
31
iew

32
33 8 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Relevante
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9 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Muito
On

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38 relevante
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10 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Muito
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relevante
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44 11 Sim Sim Sim Não Sim Não Sim Sim Sim Relevante
45
46
47
48 12 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Muito
49 relevante
50
51
52 13 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Muito
53 relevante
54
55
14 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Muito
56
relevante
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3 Tabela 2. Dados dos artigos selecionados
4
5 N. Título do artigo Referência Cidade - IF Coleta de dados
6
A verdade do estupro nos DINIZ et al., Belém - PA Entrevistas com 82
7
8 serviços de aborto legal no 2014 Recife - PE profissionais de saúde.
9 1 Brasil São Paulo - SP
10 Cuiabá - MT
11 Porto Alegre - RS
12 Abuso sexual infanto- ESPINDOLA; Blumenau - SC Análise de 30 prontuários.
13
juvenil: a atuação do BATISTA,
14
15 2 programa 2013
16 sentinela na cidade de
17 Blumenau/SC
18 Análise da experiência de MELCHIORS Caxias do Sul - RS Análise de depoimentos de
19 mulheres atendidas em um et al., 2015 14 vítimas e 9 parentes de
20 serviço de referência vítimas, disponíveis em
21 3
Fo

22
para vítimas de violência documentos do serviço de
23 sexual e aborto previsto em saúde.
24 lei, Caxias do Sul, Brasil
rR

25 Assessing the care of LEAL et al., Não indicado. Entrevistas com 134
26 doctors, nurses, and nursing 2021 profissionais de saúde.
27 4 technicians for people in
28
ev

29
situations of sexual violence
30 in Brazil
31 Atendimento à saúde de DESLANDES Porto Alegre - RS Análise de documentos das
iew

32 crianças e adolescentes em et al., 2016 Belém - PA Secretarias de Governo


33 5 situação de violência sexual, Fortaleza - CE Municipais.
34 em quatro capitais Campo Grande - Entrevistas com 20 Gestores
35
Brasileiras MS /Representantes da SMS.
36
Capacitação profissional DESLANDES Fortaleza - CE Entrevistas com 22 gestores.
On

37
38 para o enfrentamento às et al., 2015
39 6 violências sexuais contra
40 crianças e adolescentes em
ly

41 Fortaleza, Ceará, Brasil.


42
Gravidez após violência MACHADO et Campinas - SP Entrevistas com 10 mulheres
43
44 sexual: Vivências de al., 2015 vítimas.
7
45 mulheres em busca da
46 interrupção legal
47 Health administrators and BATISTA; São Paulo - SP Entrevistas com 32 gestores.
48 public policies to deal with SCHRAIBER;
49 8
gender violence against D’OLIVEIRA,
50
51 women in São Paulo, Brazil 2018
52 Mulheres em situação de TRENTIN et. Passo Fundo - RS Entrevistas com 30
53 violência sexual: al., 2020 Porto Alegre - RS profissionais de saúde.
54 9 potencialidades e
55 fragilidades da rede
56
intersetorial
57
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3 Mulheres rurais e situações COSTA et al., Palmeira das Entrevistas com 26
4
de violência: fatores que 2017 Missões - RS profissionais de saúde
5
6 limitam o acesso e a Frederico
10
7 acessibilidade à rede de Westphalen - RS
8 atenção à saúde Jaboticaba - RS
9 Palmitinho - RS
10 Políticas públicas de PINTO et al., Teresina - PI Revisão de artigos.
11
proteção à mulher: 2017 Entrevistas com 6
12
13 11 Avaliação do atendimento profissionais de saúde.
14 em saúde de vítimas de Análise de 135 prontuários.
15 violência sexual
16 Protocolos na atenção à VIEIRA et al., Fortaleza - CE Entrevistas com 140
17 saúde de mulheres em 2016 Rio de Janeiro - RJ profissionais de saúde.
18
12 situação de violência sexual
19
20
sob a ótica de profissionais
21 de saúde
Fo

22 Sexual violence: a FACURI et al., Campinas - SP Análise de 687 prontuários.


23 descriptive study of rape 2013
24 13 victims and care in a
rR

25 university referral center in


26
27
São Paulo state, Brazil
28 Violência sexual e adesão RIBEIRO; Tubarão - SC Análise de fichas de
ev

29 ao protocolo de atendimento SHUELTER- notificação e prontuários


14
30 de um hospital do sul do TREVISOL, eletrônicos de 118 pacientes.
31 Brasil 2021
iew

32 Fonte: elaboração própria.


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3 Tabela 3. Métodos e locais de coleta de dados
4
5 Serviços Serviços não
6 Metodologia da coleta de dados Quantidade
Especializados especializados
7
8 Estudos empíricos 14
9 Entrevistas com vítimas 10 100% 0%
10 Entrevistas com gestores/profissionais de saúde 492 50,4% 49,6%
11
12
Análise de prontuários de vítimas 993 88,1% 11,9%
13 Fonte: elaboração própria.
14
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16
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2
3 Fluxograma de revisão integrativa do Fluxograma de revisão integrativa do Fluxograma de revisão integrativa do
4 1 Grupo de descritores 2 Grupo de descritores 3 Grupo de descritores
5
6
7 Artigos removidos: Artigos removidos: Artigos removidos:
8 Por
Identificação

Por Por
Artigos identificados de: Artigos identificados de: ferramentas de
9 Artigos identificados de: ferramentas de ferramentas de
PubMed (n = PubMed (n = 6) filtro automáticas
10 PubMed (n = filtro automáticas filtro automáticas
1021) Scielo (n = 10) (n = 28)
18469) (n = 2285) (n = 170)
11 Scielo (n = 4)

Fo
Scielo (n = 165) Artigos Artigos BVS (n= 329) Artigos
12 BVS (n= 699) duplicados
duplicados duplicados
13 (n = 33) (n = 4) (n = 5)

rR
14
15

ev
16
17 Análise pela leitura de Análise pela leitura de Análise pela leitura de
Artigos removidos Artigos removidos Artigos removidos

iew
18 títulos títulos títulos
(n = 16)
(n = 2229) (n = 149) (n = 23)
19 (n = 2252) (n = 166)
20
21

On
22
23 Análise pela leitura de Análise pela leitura de Análise pela leitura de Artigos removidos
Artigos removidos Artigos removidos
resumos resumos resumos
Triagem

24 (n = 12) (n = 9) (n = 1)

ly
(n = 23) (n = 17) (n = 7)
25
26
27
28 Análise pela leitura na Artigos removidos Análise pela leitura na Artigos removidos Análise pela leitura na Artigos removidos
29 íntegra (n = 8) íntegra (n = 2) íntegra (n = 1)
30 (n = 11) (n = 8) (n = 6)
31
32
33
34
35
36
37 Artigos incluídos na revisão integrativa
38
Incluídos

da literature (n = 14)
39
40 1 Grupo de descritores (n = 3)
41 2 Grupo de descritores (n = 6)
42 3 Grupo de descritores (n = 5)
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