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simplificada
RUSS HARRIS, MD
Dedicatória
Ao meu irmão Genghis: por todo seu amor, apoio, inspiração e encorajamento durante anos;
por me empurrar quando eu necessitava ser empurrado, por servir como âncora quando eu
necessitava de estabilidade, por me mostrar o caminho quando eu estava perdido; e por tra-
zer tanta luz, tanto amor e tanto riso para a minha vida.
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO .................................................................................. 4
2
Prefácio
A terapia de aceitação e compromisso (ACT) é estranhamente contraintuitiva. A mente luta
contra ela. Até mesmo terapeutas experientes na ACT e clientes que obtiveram sucesso com ela,
conseguem se conectar com o trabalho, avançar e, então, algumas semanas mais tarde subita-
mente descobrem que a vitalidade desta conexão se esvaiu porque eles a reformularam mental-
mente para algo mais "normal", mas também muito menos útil.
A ACT não tem nada a ver com treinar o modo normal da mente. Ela é sobre sair da mente e
entrar na vida. A mente não gosta deste tipo de plano.
Este fenômeno explica parcialmente porque a ACT é uma nova terapia para a maioria dos
clínicos, apesar de ela ter sido desenvolvida há quase trinta anos atrás.
Nós deliberadamente passamos um longo período desenvolvendo o processo e a teoria subja-
centes na esperança de que estes serviriam como um guia quando perdêssemos o rumo. Con-
seguimos expressar, em uma linguagem comportamental precisa, o que queremos dizer por
"mente". Conseguimos pesquisar, em experimentos comportamentais precisos, de que forma
a desfusão alterou o impacto da cognição ou como a aceitação mudou o papel da emoção.
Esta estratégia ajudou, de fato, a manter o trabalho focado, mas ela atrasou enormemente apre-
sentações meticulosas deste trabalho. (O primeiro livro sobre a ACT foi concluído somente há
dez anos, quase vinte anos depois que a ACT começou.) Ela também fez com que os primeiros
textos sobre a ACT fossem muito complexos. Clientes tiveram dificuldade de mudar de um
modo baseado em resolução de problemas para um modo de apreciação baseado em mindful-
ness. A teoria subjacente explica por que e o que fazer em relação a isto – e nós estávamos
prontos com essas explicações científicas detalhadas (e esquisitas) mesmo que durante algumas
épocas elas parecessem ilegíveis para aqueles não versados em análise do comportamento.
Felizmente, o coração da obra conseguiu se fazer visível para alguns pelo menos. Clínicos e
escritores criativos, incluindo o autor deste belíssimo novo livro, começaram a encontrar ma-
neiras mais simples e mais claras de ajudar outros a se conectarem com o trabalho. O advento
de livros de autoajuda da ACT acelerou este processo ainda mais à medida que alguns escrito-
res foram aprendendo a escrever de uma forma tal que as pessoas conseguissem compreender.
Atualmente a literatura referente à ACT é vasta, com dezenas de livros e centenas de artigos.
Os clínicos necessitam um espaço para explorar este território. Minha previsão é que eles aca-
baram de encontrá-lo.
Russ Harris é brilhante em sua habilidade em reconhecer pelo cheiro complexidades desneces-
sárias e apresentar ideias clínicas complexas de modo acessível. ACT Simplificada é ACT. In-
questionavelmente. Cada uma das páginas do livro é de fácil compreensão. Russ dedicou anos a
compreender a obra profundamente (inclusive a esquisita teoria científica subjacente dos qua-
dros relacionais) e aprender a aplicá-la e ampliá-la com integridade. Neste livro, ele utilizou seu
talento para formular uma apresentação e formulação claras da ACT; ele também fez uso de sua
criatividade clínica para apresentar novos métodos e novas maneiras para se chegar ao coração
dessas questões com os clientes.
Isto é uma combinação grandiosa e uma contribuição significativa. Especialmente se você for
um novato em relação ao tema, este livro irá lhe proporcionar um trabalho de mestre ao lhe
desvendar o modelo da ACT para que você possa explorá-lo. Ele é exatamente o que seu títu-
lo afirma: ACT Simplificada.
− Steven C. Hayes, Ph. D.
Universidade de Nevada
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INTRODUÇÃO
1 ACT são as iniciais de Acceptance and Commitment Therapy – Terapia de Aceitação e Compromisso
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ce sua vida. A finalidade da ACT é ajudá-lo a criar uma vida rica, plena e cheia de sentido, ao
mesmo tempo em que aceita a dor que a vida inevitavelmente traz. A ACT faz isso ao nos
ensinar habilidades psicológicas para manejar pensamentos e sentimentos dolorosos
de forma efetiva, de uma maneira tal que eles tenham muito menos impacto e influên-
cia – essas habilidades são conhecidas como habilidades de atenção plena (mindful-
ness skills); e
ajudando-nos a tornar claro o que é verdadeiramente importante e tem sentido para
nós – ou seja, a tornar claros nossos valores – e a usar este conhecimento para nos gui-
ar, inspirar e motivar para definir objetivos e a adotar as ações que enriquecem nossa
vida.
A ACT está assentada sobre uma teoria subjacente da linguagem e cognição humanas deno-
minada Teoria dos Quadros Relacionais (relational frame theory - RFT), uma teoria que atu-
almente conta com mais de cento e cinquenta artigos publicados e revisados por pares que dão
suporte a seus princípios. Não iremos abordar a RFT neste livro porque ela é extremamente
técnica e nos exigiria uma boa quantidade de dedicação para entendê-la, enquanto que a fina-
lidade deste livro é introduzi-lo na ACT, simplificar seus conceitos principais e ajudá-lo a
começar a usá-la rapidamente.
A boa notícia é que você pode se tornar um/a terapeuta da ACT eficiente mesmo sem saber
qualquer coisa sobre a RFT. Se a ACT fosse como dirigir um carro, a RFT seria como saber
como seu motor funciona: você pode ser um excelente motorista mesmo sem saber absoluta-
mente nada sobre mecânica de carros. (Tendo dito isso, é importante que você saiba que mui-
tos terapeutas da ACT afirmam que entender a RFT os ajudou a melhorar sua efetividade clí-
nica. Assim, se você tiver interesse, o apêndice 2 irá lhe dizer aonde se dirigir para obter mais
informações sobre a RFT.)
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da teoria subjacente ao mesmo. A seguir, nos capítulos 4 e 5, vamos abordar os elementos bási-
cos sobre como começar, incluindo como praticar terapia experiencial, obter consentimento
livre e esclarecido, e estruturar as sessões subsequentes. Nos capítulos 6 ao 12, vamos ir passo a
passo através dos seis processos nucleares da ACT e aprender como aplicá-los a um espectro
mais amplo de questões clínicas. A ênfase em cada capítulo terá como base a simplicidade e a
praticidade, de modo que você possa começar a usar esta abordagem imediatamente. (Por favor,
não esqueça: novatos devem ler o livro inteiro, do começo ao fim, antes de começar a aplicá-lo).
Na última seção do livro, nos capítulos 13 ao 15, iremos abordar um amplo espectro de tópi-
cos importantes, incluindo armadilhas comuns para os terapeutas, superação de barreiras à
mudança, melhoria das relações cliente-terapeuta, dançar ao redor dos seis processos centrais,
incorporar a ACT na vida cotidiana, misturar e combinar a ACT com outros modelos, e para
onde se dirigir depois em sua jornada como terapeuta da ACT. A partir do capítulo 5 você
encontrará caixas de texto contendo uma "dica prática":
COMEÇANDO
Poucas pessoas chegam à ACT e mergulham de cabeça. Você, como a maioria, talvez comece
por mergulhar apenas um dedo do pé na água. Em seguida, você pode colocar um pé inteiro.
Depois um joelho. Depois uma perna inteira. Agora você se encontra nessa estranha posição
com uma perna dentro da água e a outra fora. E geralmente você vai permanecer assim por
algum tempo, meio dentro, meio fora, ainda sem uma certeza se a ACT é para você. Final-
mente, algum dia, você mergulha. E quando você faz isso, descobre que a água é quente, aco-
lhedora e revigorante; você se sente liberado, flutuante e cheio de recursos; e você quer passar
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bem mais tempo nela. Uma vez que isso aconteça, geralmente não há mais como voltar ao seu
modo antigo de trabalhar. (Assim, se isto ainda não aconteceu com você, tenho esperança de
que irá acontecer quando terminar o livro).
Uma das razões para essa incerteza inicial sobre a ACT é que ela desafia a sabedoria conven-
cional e subverte as grandes regras de grande parte da psicologia ocidental. Por exemplo, a
maioria dos modelos de terapia são extremamente focados na redução de sintomas. Elas par-
tem do pressuposto de que os clientes necessitam reduzir os sintomas antes que consigam
viver uma vida melhor. A ACT assume uma postura radicalmente diferente. A ACT presume
que (a) qualidade de vida depende primordialmente de ação consciente e baseada em valores,
e (b) isto é possível independentemente de quantos sintomas você apresenta – com a ressalva
de que você responda aos seus sintomas com consciência plena (mindfulness).
Dizendo isso de outra maneira, o resultado almejado na ACT é uma vida com consciência
plena, congruente com valores, e não redução de sintomas. Assim, embora a ACT geralmente
reduza os sintomas, isto não se constitui num objetivo. (A propósito, geralmente se usa a ex-
pressão "viver com base em valores").
Assim, na ACT, quando ensinamos habilidades de atenção plena a nossos clientes, o objetivo
não é reduzir seus sintomas, mas fundamentalmente mudar as relações que eles têm com seus
sintomas de modo que estes não mais os impeçam de viver uma vida com base em seus valo-
res. O fato de que seus sintomas se reduzam é considerado como um "bônus" em vez de o
ponto principal da terapia.
É claro que não dizemos para nossos clientes "Nós não vamos tentar reduzir seus sintomas!" Por
que não? Porque (a) isto criaria todo tipo de barreiras terapêuticas desnecessárias, e (b) nós sabe-
mos que a redução de sintomas é altamente provável. (Embora nunca almejemos por ela, em pra-
ticamente todos os testes e estudos realizados sobre a ACT, ocorre uma significativa redução de
sintomas – apesar de que às vezes ela ocorra mais lentamente que em outros modelos.)
Para quem vem para a ACT proveniente de modelos que são focados em reduzir sintomas, isto
representa verdadeiramente uma mudança maciça de paradigma. Felizmente a maioria das pes-
soas – tanto terapeutas quanto clientes – consideram isso como sendo libertador. Entretanto,
devido ao fato de a ACT ser tão diferente da maioria das demais abordagens psicológicas, mui-
tos praticantes sentem-se estranhos, ansiosos, vulneráveis, confusos ou inadequados no começo.
Foi o que aconteceu comigo. (E às vezes ainda acontece!) As boas notícias são que a ACT dará
a você os meios para lidar de forma efetiva com esses sentimentos perfeitamente naturais. E
quanto mais você praticar a ACT em você mesmo para enriquecer e melhorar sua própria vida e
resolver suas próprias questões dolorosas, mais eficaz você vai se tornar em aplicá-la com os
seus clientes. (Isto serve como bônus?) Assim, chega de preâmbulo: vamos começar.
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CAPÍTULO 1
A Linguagem e a Mente
A linguagem humana é um sistema altamente complexo de símbolos que inclui palavras, ima-
gens, sons, expressões faciais e gestos físicos. Os seres humanos usam a linguagem em duas
áreas: pública e privada. O uso público da linguagem inclui falar, conversar, fazer mímica, gesti-
cular, escrever, pintar, esculpir, cantar, dançar, atuar, e assim por diante. O uso privado da lin-
guagem inclui pensar, imaginar, devanear, planejar, visualizar, analisar, preocupar-se, fantasiar, e
assim por diante. (Um termo comumente usado para o uso privado da linguagem é cognição).
É claro que a mente não é uma "coisa" ou um "objeto". Usamos a palavra mente para descre-
ver um conjunto incrivelmente complexo de processos cognitivos interativos, tais como anali-
sar, comparar, avaliar, planejar, relembrar, visualizar, e assim por diante. E todos esses pro-
cessos complexos dependem do sofisticado sistema de símbolos que chamamos linguagem
humana. Desta forma na ACT, quando usamos a palavra "mente", nós a usamos como uma
metáfora para "linguagem humana".
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O lado obscuro da linguagem está no fato de a usarmos para mentir, manipular, e enganar;
para espalhar calúnia, injúria, ignorância; para incitar ódio, preconceito e violência; para fa-
bricar armas de destruição em massa e indústrias de poluição em massa; para nos obcecar e
"reviver" eventos dolorosos do passado; para nos assustar, imaginando um futuro desagradá-
vel; para comparar, julgar, criticar e condenar tanto a nós mesmos como os demais; e para
criar regras para nós mesmos que muitas vezes podem restringir ou limitar nossa vida ou se-
rem destrutivas. Pelo fato de a linguagem ser ao mesmo tempo uma benção e uma maldição,
muitas vezes dizemos na ACT que "Sua mente não é sua amiga – e também não é sua inimi-
ga". Agora, como já sabemos o que é uma "mente", vamos nos voltar para uma questão muito
importante.
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O QUE É MINDFULNESS?
"Mindfulness" (ou atenção plena) é um conceito antigo, encontrado em um amplo espectro de
tradições espirituais e religiosas, incluindo o budismo, taoísmo, hinduísmo, judaísmo, isla-
mismo e o cristianismo. A psicologia ocidental começou a reconhecer os muitos benefícios de
se desenvolver habilidades de atenção plena. Se você for ler alguns livros sobre o tema, você
irá encontrar "mindfulness" definida em uma variedade de diferentes maneiras, mas todas elas
basicamente se resumem a isto:
Esta definição simples nos diz três coisas importantes. Primeiro, mindfulness é um processo
de consciência, não um processo de pensamento. Ele envolve trazer consciência ou prestar
atenção a sua experiência neste momento em oposição a ficar "preso" em seus pensamentos.
Segundo, mindfulness envolve um tipo particular de atitude: uma atitude de abertura e curio-
sidade. Mesmo que sua experiência neste momento seja difícil, dolorosa ou desprazerosa,
você pode estar aberto a ela e curioso em relação a ela em vez de fugir dela ou lutar contra
ela. Terceiro, mindfulness envolve flexibilidade da atenção: a habilidade de conscientemente
dirigir, ampliar ou focar sua atenção em diferentes aspectos da sua experiência.
Podemos usar a atenção plena para "despertar", conectar-nos com nós mesmos, e apreciar a
plenitude de cada momento da vida. Podemos usá-la para melhorar nosso autoconhecimento –
para aprender mais sobre como sentimos, pensamos e reagimos. Podemos usá-la para nos co-
nectar profunda e intimamente com as pessoas que são importantes para nós, inclusive nós
mesmos. E podemos usá-la para conscientemente influenciar nosso próprio comportamento e
aumentar nossa gama de respostas em relação ao mundo em que vivemos. É a arte de viver
conscientemente – uma maneira profunda de melhorar a resiliência psicológica e incrementar
a satisfação com a vida.
É claro que há muito mais na ACT do que só mindfulness. Ela também é sobre viver com base em
valores: agir, em uma base contínua, guiado por e alinhado com valores centrais. De fato, ensina-
mos habilidades de atenção plena na ACT com o propósito expresso de facilitar a ação baseada
em valores: ajudar as pessoas a viver a partir de seus valores. Em outras palavras, o resultado que
almejamos na ACT é o viver com base em valores e com atenção plena. Isto irá se tornar mais
claro na próxima seção, onde vamos dar uma olhada nos seis processos centrais da ACT.
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nosso redor. Podemos gastar um monte de tempo absortos em nossos pensamentos sobre o
passado e o futuro. Ou em vez de estarmos plenamente conscientes de nossa experiência, po-
demos operar no piloto automático, meramente "atravessando o que vier pela frente". Entrar
em contato com o momento presente significa flexivelmente trazer nossa consciência, ou para
o mundo físico ao nosso redor ou para o mundo psicológico em nosso interior, ou para ambos
simultaneamente. Significa também prestar atenção à nossa experiência aqui-e-agora ao invés
de ficar à deriva em nossos pensamentos ou operar em "piloto automático".
CONTATO COM O
MOMENTO PRESENTE
Esteja Aqui Agora
ACEITAÇÃO VALORES
Abra-se Saiba O Que Importa
FLEXIBILIDADE
PSICOLÓGICA
Esteja presente,
abra-se e faça o que
importa
DESFUSÃO AÇÃO
Cuide O Que Pensa COMPROMETIDA
Faça O Que For
Preciso
EU-COMO-CONTEXTO
Percepção Pura
Figura 1.1 – O Hexaflex (hexágono da flexibilidade) da ACT
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Aceitação (Abra-se)
Aceitação significa abrir-se e criar espaço para sentimentos, sensações, compulsões e emo-
ções que sejam dolorosos. Paramos de lutar com eles, damos a eles algum espaço para respi-
rar e permitimos que sejam como são. Em vez de combatê-los, abrimo-nos a eles e permiti-
mos que sejam. (Nota: Isto não significa gostar deles ou querê-los. Significa apenas criar es-
paço para eles!)
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Flexibilidade Psicológica: Um Diamante com Seis Faces
Lembre-se que os seis processos centrais da ACT não são processos separados. Embora fale-
mos deles desta forma com um propósito pragmático – para ajudar terapeutas e clientes a
aprender e a aplicar o modelo da ACT – é mais útil pensar neles como as seis faces de um
único diamante. E o próprio diamante é a flexibilidade psicológica.
Flexibilidade psicológica é a habilidade de ser/estar no presente momento com completa cons-
ciência e abertura a nossa experiência, e de agir guiado por nossos valores. Falando em termos
técnicos, o alvo primário da ACT é elevar a flexibilidade psicológica. Quanto maior for nossa
habilidade de ser plenamente consciente, de estar aberto a nossa experiência e de agir conforme
nossos valores, tanto maior será nossa qualidade de vida porque conseguiremos responder mui-
to mais eficazmente aos problemas e desafios que a vida inevitavelmente traz. Além do mais,
quando nos engajamos completamente em nossa vida e permitimos que nossos valores nos gui-
em, desenvolvemos um senso de sentido e propósito, e vivenciamos um senso de vitalidade.
Usamos a palavra "vitalidade" com muita frequência na ACT, e é importante reconhecer que
vitalidade não é um sentimento; é um senso de estar completamente vivo e abraçando o aqui e
agora, não importando como possamos nos estar sentindo neste momento. Podemos experienci-
ar vitalidade em nosso leito de morte ou durante um momento de extremo pesar porque "há vida
tanto num momento de dor quanto num momento de alegria" (Strosahl, 2002, p.43).
O TRIFLEX DA ACT
Os seis processos centrais podem ser "aglomerados" em três unidades funcionais, tal como na
figura 1.2 abaixo. Tanto a desfusão quanto a aceitação referem-se a separar-se de pensamentos e
sentimentos, vendo-os pelo que estes realmente são, criando espaço para os mesmos, e permi-
tindo que venham e vão por sua própria vontade. Em outras palavras: "Abrindo-se".
Tanto o eu-como-contexto (ou seja, o eu observador) como contatar o momento presente en-
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volvem entrar em contato com aspectos verbais e não-verbais de sua experiência aqui-e-agora.
Em outras palavras: "Estar presente".
Valores e ação com compromisso envolvem o uso eficaz da linguagem para facilitar ações
que melhorem a vida. Em outras palavras: "Faça o que é importante".
Assim, flexibilidade psicológica é a habilidade de "estar presente, abrir-se, e fazer o que importa".
O ACRÔNIMO DA ACT
Existe um acrônimo bem simples que resume o modelo completo, e que muitas vezes é útil para
ser compartilhado com clientes. Este acrônimo é – surpresa, surpresa – ACT:
A = Aceite seus pensamentos e sentimentos, e esteja presente
C = EsColha uma direção com base em valores (Choose a valued direction)
T = Tome uma atitude
(E com esta observação, devo mencionar que neste livro vou usar a expressão "pensamentos e
sentimentos" como uma forma de taquigrafia. Por "pensamentos" quero me referir a todas as for-
mas de cognições, incluindo memórias e imagens, e o termo "sentimentos" inclui emoções, sensa-
ções e impulsos).
SEÇÃO 1
Terapeuta: É difícil de explicar o que é a ACT simplesmente descrevendo-a, e isso prova-
velmente não faria muito sentido, mesmo que eu tentasse. Será que eu poderia
mostrar para você do que ela trata através do uso de uma metáfora?
Cliente: Pode ser.
Terapeuta: Ótimo. (O terapeuta apanha uma prancheta ou livro grande de capa dura e
mostra para o cliente.) Eu vou pedir a você para imaginar que esta prancheta
representa todos os pensamentos, sentimentos e memórias difíceis com que
você tem andado lutando por tanto tempo. Eu gostaria que você o segurasse e o
prendesse tão firmemente quanto conseguir, de modo que eu não possa puxá-lo
para longe de você. (Cliente segura a prancheta ou livro firmemente.) Agora
eu gostaria que você a segurasse na frente de seu rosto de maneira tal que não
consiga mais me ver – e o trouxesse tão próximo de você de modo que quase
esteja tocando o seu nariz. (O cliente segura a prancheta diretamente na frente
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de sua face, bloqueando sua visão tanto do terapeuta quanto do espaço em re-
dor.)
Terapeuta: Agora me diga: como é tentar manter uma conversa comigo enquanto você
está preso em seus pensamentos e sentimentos?
Cliente: Muito difícil.
Terapeuta: Você se sente conectado comigo, comprometido comigo? Você consegue ler
as expressões em meu rosto? Se eu estivesse cantando e dançando agora, você
seria capaz de ver isso?
Cliente: (rindo) Não.
Terapeuta: E como parece ser sua vista da sala enquanto você está preso por este material?
Cliente: Eu não consigo ver nada a não ser a prancheta.
Terapeuta: Assim, enquanto você está completamente absorvido nesta coisa, você está per-
dendo um monte de outras coisas. Você está desconectado do mundo ao seu re-
dor, e você está desconectado de mim. Observe, também, que enquanto você está
segurando firmemente esta coisa, você não consegue fazer as coisas que fazem
sua vida funcionar. Verifique por si mesmo – segure a prancheta tão firmemente
quanto consegue. (O cliente segura com mais firmeza.) Agora se eu te pedisse pa-
ra fazer um carinho em um bebê, ou abraçar a pessoa que você ama, ou dirigir um
carro, ou cozinhar uma refeição, ou digitar em um computador enquanto você
continua a segurar isto com firmeza, será que você conseguiria fazê-lo?
Cliente: Não.
Terapeuta: Ou seja, enquanto você está preso nesta coisa, você não apenas perde contato
com o mundo ao seu redor e se desconecta de suas relações, mas você também
se torna incapaz de fazer as coisas que fazem sua vida funcionar.
Cliente: (assentindo) Concordo.
SEÇÃO 2
Terapeuta: Tem algum problema pra você se eu puxar minha cadeira de modo que eu fi-
que sentado ao seu lado? Existe mais uma coisa que quero demonstrar aqui.
Cliente: Pode ser.
Terapeuta: (Empurra sua cadeira para o lado da cadeira do cliente) Pode me alcançar a
prancheta por um momento? (Terapeuta pega a prancheta de volta.) Só che-
cando – você não problemas no pescoço ou nos ombros?
Cliente: Não.
Terapeuta: Certo. Estou só checando porque isto que vamos fazer envolve um pouco de
esforço físico. Eu quero que você coloque as palmas de suas mãos em um dos
lados da prancheta, enquanto eu vou colocar as minhas no outro lado, e quero
que você empurre a prancheta para longe de você. Empurre com firmeza, mas
não tão forte a ponto de me derrubar. (À medida que o cliente tenta empurrar a
prancheta para longe de si, o terapeuta empurra de volta. Quanto mais forte o
cliente empurra, tanto mais o terapeuta se inclina na direção dele.) Continue a
empurrar. Você detesta esse negócio, certo? Você detesta esses pensamentos e
sentimentos. Por isso, empurre o mais forte que conseguir – tente fazê-los ir em-
bora. (O terapeuta mantém a oposição de modo que o cliente continue a empur-
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rar enquanto o terapeuta empurra de volta.) Aí está você, tentando duramente
empurrar para longe todos esses pensamentos e sentimentos dolorosos. Você
tem feito isso por anos, e será que eles estão indo embora? Certo, você está man-
tendo-os a um braço de distância, mas qual é o custo disso para você? Como vo-
cê sente os seus ombros?
Cliente: (rindo) Na verdade, nem tão mal assim. É um bom exercício.
Terapeuta: (empurrando com mais força) Certo, isso está bom no momento, estamos ten-
tando por alguns segundos, mas como você estaria se sentindo se fizéssemos
isto por um dia inteiro?
Cliente: Eu estaria bem cansado.
Terapeuta: (ainda empurrando a prancheta pra frente e pra trás com o cliente) E se eu te
pedisse agora para digitar algo em um computador, ou dirigir um carro, ou fa-
zer carinho num bebê, ou abraçar alguém que você ama enquanto está fazendo
isso, você iria conseguir fazê-lo?
Cliente: Não.
Terapeuta: E como é tentar manter uma conversa comigo enquanto você está fazendo isso?
Cliente: Muito perturbador.
Terapeuta: Você se sente um pouco fechado ou isolado?
Cliente: Sim.
SEÇÃO 3
O terapeuta agora para de resistir. Ele alivia a pressão e pega a prancheta de volta.
Terapeuta: Ok, agora vamos tentar uma outra coisa. Tudo bem se eu colocar a prancheta
no seu colo, e a deixarmos ali? (Cliente concorda. O terapeuta coloca a pran-
cheta no colo do cliente.) Não há bem menos esforço agora? E como estão
seus ombros agora?
Cliente: Bem melhores.
O terapeuta coloca sua cadeia de volta para trás.
Terapeuta: Observe que agora você está livre para investir sua energia em fazer algo cons-
trutivo. Se eu te pedisse agora para cozinhar uma refeição, tocar piano, fazer
carinho num bebê, ou dar um abraço em alguém que você ama – agora você
poderia fazê-lo, certo?
Cliente (rindo) Sim.
Terapeuta: E como é tentar manter uma conversa comigo agora em oposição a fazer isso?
(faz de conta que está empurrando a prancheta para longe) ou isto (faz de conta
que está segurando a prancheta na frente do seu rosto)?
Cliente: Mais fácil.
Terapeuta: Você se sente em contato comigo? Consegue ler minha face agora?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Observe, também, que agora você tem uma visão clara da sala ao seu redor.
Você pode ter acesso a tudo. Se eu começasse a cantar e dançar, você seria ca-
paz de ver isso.
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Cliente (sorri) Sim. (Ele aponta para a prancheta.) Mas ela ainda está aqui. Eu não a
quero mais.
SEÇÃO 4
Terapeuta: Realmente. Ela ainda está aí. E, é claro, você não a quer; quem iria querer to-
dos esses pensamentos e sentimentos dolorosos? Mas observe, agora este ma-
terial está tendo muito menos impacto sobre você. Tenho certeza de que no
mundo ideal você gostaria de fazer isto. (O terapeuta simula estar jogando a
prancheta no chão.) Mas aí está a coisa: você tem tentado fazer isso por anos.
Vamos fazer uma breve recapitulação. Você tentou drogas, álcool, livros de
autoajuda, terapia, retirar-se do mundo, ficar deitado na cama, evitar situações
desafiadoras, autoagredir-se, culpar seus pais, distrair-se, remoer o passado,
tentar entender porque você é assim, manter-se ocupado, fazer cursos de auto-
desenvolvimento, e um monte de outras coisas mais, eu aposto. Então ninguém
pode chamar você de preguiçoso! Você com certeza gastou um monte de tem-
po, esforço e dinheiro tentando se livrar desses pensamentos e sentimentos. E
ainda assim, após todo esse esforço, eles ainda continuam aparecendo. Eles
ainda estão aqui hoje. (O terapeuta aponta para a prancheta no colo do clien-
te.) Algumas dessas coisas que você faz conseguem manter esses pensamentos
e sentimentos afastados por um breve período, mas logo eles voltam de novo,
não é mesmo? E não é fato de que agora eles estão maiores e mais pesados do
que estavam a alguns anos, quando você começou a brigar com eles? Agora há
mais pensamentos, sentimentos e memórias dolorosos do que havia a cinco
anos, certo?
Cliente: Sim, é verdade.
Terapeuta: Assim, mesmo que isso seja o que cada instinto em seu corpo lhe diz para fazer
(simula jogar a prancheta no chão), esta estratégia claramente não está tendo os
efeitos que você gostaria que ela tivesse. Na verdade, ela está fazendo as coisas
ficarem piores. E não vamos querer fazer mais do que não funciona, certo?
Cliente: É, eu acho que não.
SEÇÃO 5
Terapeuta: E agora chegamos a aquilo a que a ACT se refere. Você vai aprender algumas
habilidades, chamadas habilidade de atenção alerta (ou habilidades de mindful-
ness) que vão capacitar você a lidar com pensamentos e sentimentos dolorosos
de um modo muito mais eficaz – de um modo tal que eles tenham muito menos
impacto e influência sobre você. Assim, ao invés de fazer isto (pega a prancheta
e a segura na frente de seu rosto) ou isto (simula estar empurrando a prancheta
para longe de si), você pode fazer isso (larga a prancheta no colo e para de se-
gurá-la). Observe que isto não somente permite que você se mantenha conecta-
do com o mundo ao seu redor e de se engajar naquilo que está fazendo, mas
também libera você para agir de forma eficaz. Quando você não está mais bri-
gando com seus pensamentos e sentimentos, absorvido neles, ou preso a eles,
você é livre. (O terapeuta abre os braços em um gesto de liberdade). E agora
você vai poder gastar sua energia fazendo as coisas que melhoram sua qualidade
de vida – como, por exemplo, abraçar pessoas, andar de bicicleta ou tocar guitar-
ra. (O terapeuta simula estas atividades). Como isso soa para você?
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Obviamente nem sempre as coisas acontecem de uma forma tão suave – e quando na terapia
alguma vez as coisas transcorrem tão suavemente como nos livros-texto? – mas esperamos
que esta metáfora possa lhe dar uma noção do que a ACT busca: criar uma vida rica e plena
de sentido ao mesmo tempo em que aceitamos a dor que vem junto com ela. Também demons-
tra que ensinamos as habilidades de atenção plena não como se fossem um caminho para a ilu-
minação, mas tão somente com o objetivo de facilitar a ação eficaz. (Infelizmente não temos
espaço aqui para descrever as maneiras como os clientes às vezes se opõem a esta metáfora e
como podemos responder de forma eficaz a estas objeções. Entretanto você pode fazer o down-
load de uma descrição destas objeções e as repostas para as mesmas no seguinte endereço eletrô-
nico: www.actmindfully.com.au.
Dissecando a Metáfora
A ACT especula que há dois processos psicológicos nucleares – "fusão cognitiva" e "esquiva ex-
periencial" – que são responsáveis pela maior parte do sofrimento psicológico. A Seção 1 da
transcrição é uma metáfora para a fusão cognitiva: ser fisgado pelos nossos pensamentos, ficar
preso neles ou aderir a eles rigidamente.
A Seção 2 é uma metáfora para a esquiva experiencial: a luta contínua para evitar, suprimir ou se
livrar de pensamentos, sentimentos e memórias não desejados e de outras "experiências privadas".
(Por experiência privada entendemos qualquer experiência que você tenha e sobre a qual nin-
guém mais consegue saber algo a não ser que você conte para eles: emoções, sensações, memó-
rias, pensamentos, e assim por diante). Nota: Você não deve transformar este exercício em um
teste de força ou uma competição para ver que empurra mais forte. Se você suspeitar que seu cli-
ente está empurrando a prancheta de uma forma agressiva, então antecipe-se a ele. Diga: "Quando
eu te pedir para empurrar, não empurre com força demais. Não tente me derrubar, apenas empurre
suavemente!" Modifique também sua pressão contrária; após alguns instantes você poderá dimi-
nuir sua pressão e deixar a prancheta descansando no ar, delicadamente imprensada entre as suas
mãos e as mãos do cliente.
A Seção 3 é uma metáfora para a aceitação, a desfusão e o estar em contato com o momento pre-
sente. Em vez de usarmos o termo "aceitação" muitas vezes falamos sobre "abandonar a luta",
"sentar-se com o sentimento", "permitir que algo seja", "criar espaço para algo", "disposição para
ter algo". Como você pode perceber, esses termos se encaixam muito bem na metáfora física de
deixar a prancheta deitada no colo do cliente. Em vez do termo "desfusão", muitas vezes falamos
sobre "deixar ir", "recuar", "distanciar-se", "separar-se", "desembaraçar-se", ou "soltar a história"
– e, novamente, à medida que o cliente se separa da prancheta e a deixa de lado, a metáfora se
ajusta bem com estas maneiras de se expressar.
A Secção 4 destaca a ineficácia e os custos da esquiva experiencial; na ACT nos referimos a este
processo como desesperança criativa ou confrontar o plano. Por que usamos nomes tão estra-
nhos? Porque estamos tentando criar um senso de desesperança em relação ao hábito do cliente de
controlar seus pensamentos e sentimentos. Isto abre caminho para um plano alternativo de atenção
plena e aceitação, que é exatamente o oposto do controle.
Finalmente, a Seção 5 destaca a conexão entre atenção plena, valores e ação comprometida. Apre-
sentar a ACT inteira em uma Metáfora Sintetizada como um exercício geralmente não leva mais
do que cinco minutos.
18
E o que vem a seguir?
No próximo capítulo vamos dar uma olhada mais detalhada na fusão cognitiva e na esquiva expe-
riencial e ver como elas conduzem rapidamente aos seis processos patológicos que são o "outro
lado da moeda" dos seis processos terapêuticos centrais. Mas antes de continuar a ler, por que não
tentar aplicar o Exercício da ACT Sintetizada em um amigo ou colega para verificar se você con-
segue apresentar de forma resumida sobre o que a ACT objetiva? Recomendo que, antes de mais
nada, você faça um ensaio da mesma em voz alta várias vezes: percorra cada passo com um clien-
te imaginário, como se você fosse um ator ensaiando uma peça. Depois tente de verdade.
Suspeito que talvez você esteja relutante em fazer isto; você pode pensar que é bobo, pouco im-
portante, ou que não faz seu estilo. Entretanto, mesmo que você nunca venha a fazer isso com um
cliente real, aplicar toda a metáfora desta forma pode se mostrar uma valiosa experiência de
aprendizagem. Não apenas vai lhe possibilitar a se apropriar do modelo, mas também irá lhe aju-
dar se você em algum momento quiser explicá-lo para amigos tenham curiosidade acerca do
mesmo, colegas, parentes, ou convidados em seu próximo jantar. Assim, embora você possa se
sentir relutante, por que não dar-lhe uma chance? Você poderá ficar agradavelmente surpreso com
os resultados.
19
CAPÍTULO 2
FUSÃO COGNITIVA
Por que usamos o termo "fusão"? Bem, pense em duas placas de metal que estão fundidas. Se
você não pudesse usar o termo "fundidas", como você as descreveria? Soldadas? Misturadas?
Coladas? Juntadas? Anexadas? Presas? Todos estes termos apontam para a mesma ideia: sem
separação. Em um estado de fusão cognitiva, nós somos inseparáveis de nossos pensamentos:
estamos soldados a eles, colados a eles, tão presos neles que não estamos nem mesmo conscien-
tes que estamos pensando. Desta forma, desfusão significa nos separarmos, desapegarmos, ou
tomar distância de nossos pensamentos: dar um passo atrás e vê-los pelo que eles realmente são:
nada mais ou nada menos do que palavras e imagens.
Fusão cognitiva significa, basicamente, que nossos pensamentos dominam nosso comportamento.
Assim, na ACT podemos falar com os clientes sobre "serem empurrados pra lá e pra cá por seus
pensamentos" ou "permitir que os pensamentos lhes digam o que fazer". Às vezes nos referimos
aos pensamentos como intimidadores ou os comparamos a um ditador fascista. Podemos também
perguntar-lhes "O que acontece quando você permite que o pensamento conduza sua vida?" Da
mesma forma, quando nossos pensamentos dominam a nossa atenção, muitas vezes nos referimos
a isso como ficar "enganchado", "enredado", "preso" ou "levado" por eles. (Um lembrete rápido:
quando usamos os termos "pensar", "pensamentos", "cognição" e "mente" na ACT, nós os utiliza-
mos como metáforas para "linguagem humana", que inclui crenças, pressuposições, pensamentos,
atitudes, memórias, imagens, palavras, gestos, fantasias, e alguns aspectos das emoções).
Os seres humanos vivem em dois mundos diferentes. Ao nascer, vivemos tão somente no
"mundo da experiência direta", o mundo tal como o conhecemos diretamente através dos cinco
sentidos: o mundo que podemos ver, ouvir, tocar, sentir e cheirar. Mas à medida que vamos
ficando mais velhos, aprendemos a pensar e, à medida que nossa habilidade aumenta, começa-
mos a gastar mais e mais tempo no segundo mundo, o "mundo da linguagem". Fusão significa
que estamos empacados no mundo da linguagem: estamos tão perdidos no meio de todas aque-
las palavras e imagens que cruzam nossa cabeça que perdemos contato com o mundo da experi-
ência direta. A atenção plena (mindfulness) é como uma nave que nos transporta do mundo da
linguagem para o mundo da experiência direta.
20
As Mãos Como Uma Metáfora Do Pensamento
Imagine por um instante que suas mãos são seus pensamentos. Quando você chegar no final deste
parágrafo, eu gostaria que você largasse o livro e juntasse suas mãos, com as palmas abertas, como
se elas fossem as páginas de um livro aberto. Então, devagar, mas firmemente, levante suas mãos
em direção ao seu rosto. Continue até que elas cubram seus olhos. Agora, por alguns segundos,
olhe para o mundo ao seu redor através das aberturas no meio de seus dedos e observe o quanto
isto afeta sua visão do mundo. Por favor, faça este exercício agora, antes de continuar a leitura.
* * *
Como seria se tivesse que viver todo o dia com suas mãos cobrindo seus olhos desta maneira?
O quanto isto limitaria você? O quanto você iria perder? O quanto isso iria reduzir sua habilida-
de de responder ao mundo ao seu redor? Isto é como a fusão: ficamos tão emaranhados em nos-
sos pensamentos que perdemos contato com muitos aspectos de nossa experiência aqui-e-agora,
e nossos pensamentos acabam por ter uma influência tão grande sobre nosso comportamento
que nossa habilidade para agir de modo eficaz é reduzida de forma significativa.
Agora, novamente, quando chegar no fim desse parágrafo, gostaria que você cobrisse os seus
olhos com suas mãos, mas desta vez, vá afastando-os de seu rosto bem, bem devagar. À medida
que a distância entre suas mãos e seu rosto vai aumentando, observe quão mais fácil fica conec-
tar-se com o mundo ao redor. Por favor, faça isto antes de continuar a leitura.
* * *
O que você acaba de fazer é semelhante à desfusão. Não é muito mais fácil agir eficazmente
sem as mãos cobrindo seu rosto? Quanto mais informações você consegue absorver? E quão
mais conectado com o mundo exterior você está?
Esta metáfora (Harris, 2009), que você pode usar com seus clientes para explicar a fusão e a
desfusão, demonstra o propósito da desfusão: engajar-se de forma completa em sua experiência
e facilitar a ação eficaz. As pessoas muitas vezes se sentem melhor quando elas se desfundem
de pensamentos e memórias dolorosos, mas na ACT consideramos isto como um bônus ou sub-
produto; não é nossa intenção nem nosso objetivo. (Lembre-se que não estamos tentando redu-
zir ou eliminar nossos sintomas. Estamos fundamentalmente tentando transformar nossa relação
com os pensamentos e sentimentos dolorosos de modo que deixemos de percebê-los como "sin-
tomas".) Assim, a desfusão não é uma ferramenta inteligente para controlar sentimentos: é uma
maneira de nos tornarmos presentes e agir de forma eficaz. Queremos que isto fique bem claro
para nossos clientes, porque se eles começarem a usar as técnicas de desfusão para tentar con-
trolar seus sentimentos, eles logo irão ficar desapontados.
Facilitamos a desfusão através de exercícios vivenciais. Se tentarmos explicá-la conceitualmen-
te antes de realizá-la vivencialmente, provavelmente iremos ficar atolados em todo tipo de dis-
cussões intelectuais estéreis.
21
algo muito importante que exige toda sua atenção;
algo que você não vai deixar ir embora mesmo que piore sua vida.
Em um estado de desfusão, você consegue ver um pensamento pelo que ele é: nada mais e nada
menos do que um monte de palavras ou imagens "dentro de sua cabeça". Em um estado de des-
fusão, você reconhece que um pensamento
pode ser verdadeiro ou não;
definitivamente não é uma ordem que você tem que obedecer ou uma regra que você
tem que seguir;
definitivamente não é uma ameaça para você;
não é algo que está acontecendo no mundo físico – são tão somente palavras ou ima-
gens em sua cabeça;
pode ser importante ou não – você tem a opção de quanto quer prestar atenção nele;
pode ser autorizado a vir e a ir embora por si próprio sem nenhuma necessidade de
você se agarrar a ele ou de mandá-lo embora.
Funcionalidade
Todo o modelo da ACT repousa sobre um conceito chave: "funcionalidade"2. Por favor, grave
esta palavra – funcionalidade – em seu córtex cerebral, porque ela está no coração de cada in-
tervenção que fazemos. Para determinar a funcionalidade, fazemos a seguinte pergunta: "Aquilo
que você está fazendo está funcionando para tornar sua vida rica, plena e com sentido?" Se a
resposta é sim, então dizemos que tem "funcionalidade", e, portanto, não há necessidade de mu-
dá-lo. Se a resposta é não, então dizemos que isto não tem "funcionalidade", e neste caso pode-
mos considerar alternativas que funcionam melhor.
Assim, na ACT não nos focamos em verificar se um pensamento é verdadeiro ou falso, mas sim
se ele tem funcionalidade. Em outras palavras, queremos saber se um pensamento ajuda um
cliente a ir rumo a uma vida mais rica, completa e com mais sentido. Para determinar isto, po-
demos fazer perguntas como estas: "Se você deixar que este pensamento guie seu comporta-
mento, isto vai ajudá-lo a criar uma vida mais rica, com mais plenitude e mais sentido? Se você
se agarrar firmemente a este pensamento, isto vai lhe ajudar a ser a pessoa que você quer ser e
fazer as coisas que você quer fazer?"
A seguir temos uma transcrição que exemplifica esta abordagem:
Cliente: Mas isto é verdadeiro. Eu de fato sou gorda. Olhe pra mim. (Ela agarra dois
grandes "pneus" de gordura em torno de seu abdômen e os aperta para enfati-
zar seu ponto.)
Terapeuta: Uma coisa posso lhe garantir: nesta sala nós nunca vamos discutir sobre o que é
verdadeiro ou falso. Estamos interessados no que é útil ou que vai nos ajudar a
viver uma vida melhor. Assim, quando sua mente começa a lhe dizer "eu sou
gorda", o que acontece quando você fica presa nestes pensamentos?
Cliente: Sinto nojo de mim mesma.
Terapeuta: E o que acontece depois?
2NT: No original foi usada a palavra workability que não possui um equivalente exato em português.
Pode ser traduzida como "funcionalidade", "aplicabilidade", "viabilidade" ou "exequibilidade".
22
Cliente: Então eu fico deprimida.
Terapeuta: E se eu estivesse vendo um vídeo de você, o que eu veria você fazer quando está
deprimida e enojada de si mesma?
Cliente: Eu provavelmente estaria sentada na frente da TV e tomando sorvete.
Terapeuta: Então, ficar presa no pensamento "Eu sou gorda" não parece muito útil, parece?
Cliente: Não, mas é verdadeiro!
Terapeuta: Bem, vou dizer isto de novo: nesta abordagem estamos interessados não em sa-
ber se um pensamento é verdadeiro ou falso, mas se ele é útil. Quando este pen-
samento aparece em sua cabeça, será que ajuda ficar preso nele? Isto motiva vo-
cê a se exercitar, a comer de forma adequada, ou usar seu tempo para fazer as
coisas que tornam sua vida rica e recompensadora?
Cliente: Não.
Terapeuta: E o que você acha de fazermos algo aqui que possa fazer a diferença? E se você
pudesse aprender uma habilidade para que na próxima vez em que sua mente
começar a lhe contar a história do "Eu sou gorda" você não tivesse mais que fi-
car absorvida ou presa nessa história?
Quando usamos a estrutura básica da "funcionalidade", nunca necessitamos julgar o comporta-
mento de um cliente como "bom" ou "mau", "certo" ou "errado"; em vez disso podemos pergun-
tar, sem julgamentos e de forma compassiva: "Isso está funcionando para proporcionar a você a
vida que você quer?" Da mesma forma, nunca necessitamos julgar os pensamentos como irracio-
nais ou disfuncionais, ou entrar em discussões sobre se são verdadeiros ou falsos. Em vez disso,
podemos simplesmente perguntar: "Agarrar-se tão firmemente a esses pensamentos ajuda você a
viver a vida que você verdadeiramente deseja?" ou " Ficar preso nestes pensamentos ajuda você a
fazer as coisas que você quer fazer?" ou ainda "Se você deixar que estes pensamentos fiquem lhe
empurrando pra lá e pra cá, isto vai lhe ajudar a ser a pessoa que você quer ser?"
Observe que na transcrição acima, o terapeuta não faz nenhuma tentativa para mudar o conteú-
do dos pensamentos. Na ACT, o conteúdo de um pensamento não é considerado problemático;
é somente a fusão com o pensamento que cria o problema. Em muitos livros-texto de psicologia
podemos encontrar esta citação de William Shakespeare: "Não há nada bom ou nada mau, mas
o pensamento o faz assim." A postura da ACT seria fundamentalmente diferente: "Pensar não
torna nada bom ou mau. Mas se você se fundir com seu pensamento, isto pode criar problemas".
ESQUIVA EXPERIENCIAL
Esquiva experiencial (ou vivencial) significa tentar evitar, livrar-se de, reprimir, ou escapar de
"experiências privadas" indesejáveis. (Conforme mencionei anteriormente, a ACT utiliza a ex-
pressão experiência privada para se referir a qualquer experiência que você tem e que ninguém
mais conhece a não ser que você conte a eles: por exemplo, pensamentos, sentimentos, imagens,
impulsos e sensações.) A esquiva experiencial é algo que vem naturalmente para todos os seres
humanos. Por quê? Bem, eis como descrevemos isso para os clientes...
23
ção significa evitá-lo ou livrar-se dele. No mundo físico, resolver ou solucionar problemas ge-
ralmente funciona muito bem. Um lobo do lado de fora de sua casa? Livre-se dele: jogue pedras
ou lanças nele, ou atire nele. Neve, chuva, granizo? Bem, você não consegue se livrar dessas
coisas, mas você pode evitá-las abrigando-se numa caverna, construindo um abrigo, ou usando
roupas de proteção. Solo seco, árido? Você pode se livrar dele usando a irrigação e a fertiliza-
ção, ou você pode evitá-lo mudando-se para um local melhor.
Assim, nossa mente é como uma máquina de resolver problemas, e ela é muito boa em sua fun-
ção. E visto que solucionar problemas funciona tão bem no mundo material, é perfeitamente
natural que nossa mente tente fazer a mesma coisa com o mundo interior: o mundo dos pensa-
mentos, sentimentos, memórias, sensações e impulsos. Infelizmente, muitas vezes quando ten-
tamos evitar ou nos livrar de pensamentos ou sentimentos indesejáveis, isto não funciona – ou,
se funciona, acabamos criando uma dose extra de dor para nós mesmos neste processo.
25
go prazo. Se tomamos um copo de vinho tinto à noite com o objetivo primário de nos vermos
livres de tensão e estresse, isto também é esquiva experiencial – mas a não ser que tenhamos
certas condições médicas, provavelmente não será danoso, tóxico, nem uma distorção de nossa
vida. Pelo contrário, isto fará bem para nosso coração. No entanto, se tomarmos duas garrafas
inteiras todas as noites, obviamente isto será uma história diferente.
O mesmo é verdadeiro para a fusão. Há certos contextos – embora poucos e distantes entre si –
onde a fusão de fato ajuda a melhorar a vida, tais como quando nos permitimos "nos perder" em
um romance ou em um filme. E há outros contextos onde nos fundimos com nossos pensamen-
tos e, embora não melhorem nossa vida, geralmente também não são problemáticos – por
exemplo, quando ficamos devaneando enquanto estamos numa fila de supermercado. Mas fa-
lando em termos gerais, estamos melhores quando nos desfundimos de nossos pensamentos
pelo menos um pouco. (Para clarificar isto, relembre o Exercício das Mãos como Pensamentos
que você fez anteriormente. Mesmo uma pequena brecha entre seu rosto e suas mãos permite
que muito mais informação sobre o mundo chegue a você).
Se o controle é possível e contribui para uma vida baseada em valores, então "vá nessa". Por fa-
vor, lembre-se deste ponto. Ele é muitas vezes esquecido ou mal compreendido por praticantes
novatos da ACT, e relembrá-lo irá lhe poupar de um bocado de confusão.
Fusão
Conforme descrito acima, fusão significa emaranhamento com nossos pensamentos de modo
que eles dominem nossa percepção consciente e tenham uma grande influência sobre nosso
comportamento. Clientes deprimidos se fundem com todo tipo de pensamentos ineficazes e
contraproducentes: Sou mau, eu não mereço algo melhor, eu não consigo mudar, eu sempre
fui desse jeito, a vida é uma merda, tudo é muito difícil, a terapia não vai funcionar, isto nun-
ca vai melhorar, eu não consigo sair da cama quando eu me sinto assim, estou muito cansado
para fazer alguma coisa. Eles muitas vezes se fundem com memórias dolorosas envolvendo
coisas como rejeição, desapontamento, fracasso ou abuso. (Fusão extrema com uma memória
– em tal extensão que isto parece estar acontecendo aqui e agora – é geralmente referida como
um flashback.) Na depressão clínica, a fusão se manifesta muitas vezes como preocupação,
ruminação, tentativas de descobrir "por que eu sou assim" ou comentários negativos contí-
nuos: "Esta festa é uma merda. Eu preferiria estar na cama. Qual é o sentido de estar aqui?
Todos estão se divertindo. Ninguém realmente me quer aqui."
26
Domínio do Passado e do
Futuro Conceitual;
Autoconhecimento Limitado
Carência de Cla-
Esquiva reza e Contato
Experiencial com Valores
Inflexibilidade
Psicológica
Fusão
Cognitiva Ação
Disfuncional
Apego ao Eu
Conceitual
Esquiva experiencial
Tal como mencionei anteriormente, esquiva experiencial significa livrar-se de, evitar ou esca-
par de experiências privadas indesejáveis tais como pensamentos, sentimentos e memórias.
Isto é o oposto da aceitação (que é uma abreviação para "aceitação experiencial"). Como
exemplo, vamos dar uma olhada na esquiva experiencial na depressão. Seus clientes deprimi-
dos comumente tentam duramente evitar ou livrar-se de emoções dolorosas tais como ansie-
dade, tristeza, fadiga, raiva, culpa, solidão, letargia, e assim por diante. Por exemplo, eles
muitas vezes se afastam de socializar-se com o objetivo de evitar pensamentos e sentimentos
desconfortáveis. Isto pode não ser perceptível à primeira vista, então vamos refletir sobre isso.
À medida que um compromisso social vai chegando cada vez mais perto, é provável que eles
se fundam com todo tipo de pensamentos tais como eu sou chato, eu sou um peso, eu não
tenho nada para dizer, eu não vou gostar, estou cansado demais, não vale o incômodo, bem
como memórias de eventos sociais anteriores que foram insatisfatórios. Ao mesmo tempo,
seus sentimentos de ansiedade aumentam e eles muitas vezes relatam uma sensação de "pa-
vor" antecipatório. No entanto, no momento em que cancelam o compromisso, ocorre um
27
alívio instantâneo: todos aqueles pensamentos e sentimentos desprazerosos instantaneamente
desaparecem. Mesmo que este alívio não dure por muito tempo, ele é muito reforçador, o que
aumenta a chance de um retraimento social futuro.
Fusão e esquiva geralmente andam de mãos dadas. Por exemplo, clientes depressivos muitas ve-
zes tentam tenazmente empurrar para longe os mesmos pensamentos e memórias com os quais
continuam a se fundir – por exemplo, pensamentos dolorosos tais como Eu não tenho valor ou
Ninguém gosta de mim, ou memórias desprazerosas de rejeição, desapontamento e fracasso. Eles
podem tentar de tudo desde drogas, álcool, cigarros, assistir TV a dormir em excesso, em tentati-
vas vãs de evitar esses pensamentos dolorosos.
28
contribuição, autodesenvolvimento, ser ativo, ou conectar-se com outros.
Qual destas formas de motivação provavelmente irá trazer o maior senso de vitalidade, senti-
do e propósito?
Ação Inviável
Uma ação inviável significa padrões de comportamento que nos afastam de um viver atento e
baseado em valores, padrões de comportamento que não funcionam para tornar nossas vidas
mais ricas e mais plenas, mas que, ao invés disso, nos fazem empacar ou aumentar nossas
lutas. Isto inclui ações que são impulsivas, reativas ou automáticas em oposição a serem de
atenção plena, deliberadas, com propósito, e inação ou procrastinação onde é necessária uma
ação eficaz para melhorar a qualidade de vida. Exemplos comuns de ações inviáveis na de-
pressão incluem o uso excessivo de drogas ou álcool, afastamento da vida social, ser fisica-
mente inativo, parar previamente com atividades agradáveis e divertidas, evitar trabalhar,
dormir ou assistir TV excessivamente, tentar suicídio, procrastinação excessiva em tarefas
importantes, e a lista continua.
Apego ao Eu Conceitual
Todos nós temos uma história sobre quem somos. Esta história é complexa e tem muitos ní-
veis. Ela inclui alguns fatos objetivos tais como nosso nome, sexo, background cultural, esta-
do civil, ocupação, e assim por diante. Também inclui descrições e avaliações dos papéis que
desempenhamos, as relações que temos, o que gostamos e o que não gostamos, sonhos e aspi-
rações. Se mantivermos essa história de forma leve, ela pode nos dar um senso de eu que aju-
de a definir quem somos e o que queremos na vida. No entanto, se nos fundimos com a histó-
ria – se começarmos a pensar que somos a história – isso rapidamente irá criar todo tipo de
problemas. A maioria dos livros-texto da ACT se refere a esta história como eu conceitual ou
eu-como-conteúdo. Eu prefiro o termo autodescrição, uma expressão cunhada pela psicóloga
Patty Bach, porque é essencialmente isso que ela é: um modo de nos descrevermos. E quando
nos fundimos com nossa autodescrição, parece que nós somos essa descrição, que todos aque-
les pensamentos são a própria essência do que nós somos: eu-como-descrição.
Note que até mesmo a fusão com uma autodescrição muito positiva provavelmente poderá ser
problemática. Por exemplo, qual poderia ser o perigo de nos fundirmos com a descrição "Eu
sou forte e independente"? Ela indubitavelmente me trará uma autoestima elevada, mas o que
acontecerá se eu realmente necessitar de ajuda e estiver tão fundido com minha autodescrição
positiva que não me permita mais pedir ajuda ou aceitá-la? E qual seria o perigo potencial de
me fundir com "Eu sou um motorista brilhante; eu consigo dirigir de forma excelente mesmo
que esteja bêbado"? Novamente, isto me confere uma autoestima muito positiva mas pode me
levar facilmente a um acidente.
Na depressão, os clientes geralmente se fundem com uma autodescrição muito "negativa":
"Eu sou (mau/sem valor/sem esperança/indigno de amor/burro/feio/gordo/incompetente/fra-
cassado/desagradável/chato)", e assim por diante. No entanto, podemos encontrar também
elementos "positivos" na mesma – por exemplo, "Eu sou uma pessoa forte, eu não deveria
estar reagindo desta forma", ou "Eu sou uma pessoa boa; por que isso está acontecendo comi-
go? " ou ainda "Eu não preciso de nenhuma ajuda. Eu consigo resolver isso sozinho."
30
gem da psicopatologia humana, selecione dois ou três transtornos do DSM-IV e identifique a
fusão, a esquiva e a ação inviável ocorrendo: Com que tipo de conteúdo mental os pacientes
estão se fundindo (em termos de preocupação, ruminação, autoimagem, crenças autoderrotis-
tas e atitudes)? Que sentimentos, impulsos, sensações, pensamentos e memórias os pacientes
relutam em ter ou ativamente tentam evitar? Que ações inviáveis os pacientes tipicamente
adotam? Com que valores centrais eles perdem contato?
E finalmente, execute este exercício em você mesmo. Se você quer aprender a ACT, a melhor
pessoa para praticar é com você mesmo. Assim dedique algum tempo a isto seriamente: iden-
tifique com o que você se funde, o que você evita, com que valores você perdeu contato, e que
ações inviáveis você costuma tomar. Quanto mais você aplicar este modelo a seus próprios
problemas e observar como ele funciona em sua vida, mais experiência você terá para se valer
no consultório.
31
AVALIAÇÃO DA INFLEXIBILIDADE PSICOLÓGICA:
SEIS PROCESSOS CENTRAIS
2. Fusão: Com que tipo de conteúdo cognitivo inútil o seu paciente está se fundindo – regras
rígidas, crenças autolimitantes, críticas e julgamentos, justificações, ter razão, ideias de
desesperança e inutilidade, ou outros?
4. Apego ao eu conceitual: Qual é o "eu conceitual" de seu cliente? Por exemplo, ele/ela se
vê como inutilizado/estragado/indigno de amor/fraco/burro, etc., ou ele/ela se vê como for-
te/superior/bem-sucedido? Quão fundido/a ele/ela está com esta autoimagem? Ele/ela se de-
fine em termos de seu corpo, ou traço de caráter, ou de uma determinada função, ocupação
ou diagnóstico?
5. Falta de clareza dos valores ou falta de contato com valores: Em relação a que valo-
res centrais o/a cliente não tem clareza ou negligencia ou age de modo inconsistente? (Por
exemplo, valores comumente negligenciados incluem conexão, cuidados, contribuição, au-
tenticidade, abertura, autocuidado, autocompaixão, amorosidade, carinho, viver no presente.)
32
CAPÍTULO 3
A Casa da ACT
Por que demorou tanto para que a ACT se tornasse popular, dado que já em 1986 havia ensaios
clínicos randomizados mostrando que ela era equivalente e até mesmo superior à terapia cogniti-
vo-comportamental tradicional (TCC) para o tratamento da depressão? Steven Hayes, o criador da
ACT, responde esta questão desta forma:
“Se a ACT tivesse se popularizado há vinte anos atrás, ela não teria resistido a uma análise rigoro-
sa. O modelo não estava bem desenvolvido e seus fundamentos eram fracos. Estávamos dispostos
a dispender anos em filosofia, teoria básica, mensurações, e teoria aplicada antes de publicarmos a
abordagem em forma de livro (1999). Mas exatamente por termos esperado e trabalhado nos fun-
damentos, agora, quando as pessoas vão “descascando” as camadas que a envolvem, elas conse-
guem se dar conta do quanto foi feito nas bases da obra." (Hayes, 2008 a.)
Como resultado de todo este trabalho de base, a ACT é agora como o último andar de uma casa
de três andares. No andar logo abaixo, encontraremos a teoria das molduras relacionais (RFT –
Relational Frame Theory), que é uma teoria comportamental da linguagem e cognição humanas.
Depois, no andar térreo, encontraremos a análise comportamental aplicada (ABA – Applied
Behavioral Analysis), um modelo poderoso para a predição e influência do comportamento, que
tem tido um impacto enorme sobre praticamente todos os ramos da psicologia moderna. E o ter-
reno sobre a qual a casa toda repousa é uma filosofia denominada contextualismo funcional (FC –
Functional Contextualism).
Enquanto o restante do livro está focado principalmente na ACT, neste capítulo iremos dar
uma olhada na análise comportamental (ABA), na teoria das molduras relacionais (RFT) e no
contextualismo funcional (FC). Eu não vou conseguir fazer justiça a qualquer um destes tópi-
cos em um capítulo tão curto, e por isso vou apenas lhe dar alguns "gostinhos", na esperança
de que isso irá abrir o seu apetite e estimulá-lo a explorar posteriormente estes temas de uma
forma mais profunda. (Eu espero que os puristas que forem ler este livro me perdoem a lin-
guagem "mais solta" que uso aqui.)
Antes que você continue a ler, cabe lembrar que a ACT é como dirigir seu carro, enquanto
que a teoria das molduras relacionais (RFT), a análise comportamental (ABA) e o contextua-
lismo funcional (FC) representam como o motor de seu carro funciona. Você consegue dirigir
seu carro mesmo sem saber praticamente nada sobre o seu motor – assim, há muitos bons te-
rapeutas ACT que sabem pouco ou nada sobre RFT, ABA e FC. No entanto, se você sabe
algo sobre como o motor funciona, estará melhor equipado e preparado case seu carro sofra
uma pane. Por isso, não é de surpreender o fato de que muitos terapeutas ACT relatam que se
tornaram mais eficazes à medida que foram aprendendo mais sobre RFT, ABA e FC. Por isso,
embora o material apresentado neste capítulo não seja essencial para a prática da ACT, tenho
a esperança de que ele estimule você a explorar para além dele. (Uma palavra de advertência:
há um monte de jargões neste capítulo. Por favor, não permita que isso o leve a postergar ou
abandonar o estudo. Você não terá de lembrar de tudo e, depois desse capítulo, o restante do
livro é virtualmente livre de jargões.)
33
CONTEXTUALISMO FUNCIONAL
Vamos começar de baixo para cima, com o contextualismo funcional – a filosofia que subjaz
à ABA, RFT e ACT. Gostaria que você imaginasse uma cadeira que tem quatro pernas. Ima-
gine que algo aconteceu com esta cadeira de forma que, no momento em que alguém senta
nela, uma das pernas cai. Você descreveria esta cadeira como “quebrada”, “defeituosa” ou
“danificada”? Você a chamaria de “cadeira disfuncional” ou até mesmo de “cadeira desadap-
tativa”? Fiz esta pergunta para centenas de terapeutas, e eles sempre responderam sim para
pelo menos uma das descrições acima. O problema é que esta resposta instintiva – “Sim, tem
algo de errado, defeituoso ou falho com esta cadeira” – deixa de levar em consideração o pa-
pel sumamente importante do contexto. Assim, convido você agora a pensar lateralmente:
pense em pelo três ou quatro contextos nos quais podemos dizer que essa cadeira funciona de
forma muito eficaz para servir a nossos propósitos.
* * *
Você conseguiu pensar em algo? Eis aqui alguns nos quais eu pensei:
Fazer uma brincadeira
Criar uma mostra de arte de móveis quebrados
Encontrar adereços para uma apresentação de palhaços ou um show de comédia
Demonstrar falhas de projeto numa disciplina sobre fabricação de móveis
Melhorar o equilíbrio, a coordenação e a força muscular (ou seja, tentar sentar-se sem que
a perna se desprenda da cadeira).
Tentar se machucar no trabalho para conseguir uma indenização.
Em todos estes contextos, esta cadeira funciona de modo muito efetivo para servir aos nossos
propósitos. Este exemplo ilustra como o contextualismo funcional recebe o seu nome: ele
observa como as coisas funcionam em contextos específicos. Do ponto de vista do contextua-
lismo funcional, nenhum pensamento, sentimento ou memória é inerentemente problemático,
disfuncional ou patológico: em vez disso, tudo depende do contexto. Em um contexto que
inclua fusão cognitiva e esquiva experiencial, nossos pensamentos, sentimentos e memórias
muitas vezes funcionam de uma forma que é tóxica e prejudicial, e que desfigura nossa vida.
No entanto, em um contexto que inclui desfusão e aceitação (ou seja, mindfulness) estes
mesmos pensamentos, sentimentos e memórias funcionam de forma muito diferente: eles têm
muito menos impacto e influência sobre nós. Eles ainda podem ser dolorosos, mas já não são
mais tóxicos e prejudiciais, nem conseguem desfigurar nossa vida; e, o que é ainda mais im-
portante, não conseguem nos impedir de viver uma vida baseada em valores.
A maioria dos modelos psicológicos é baseada em uma filosofia chamada "mecanicismo". Os
modelos mecanicistas tratam a mente como se fosse uma máquina feita de muitas partes sepa-
radas. Pensamentos e sentimentos "problemáticos" são vistos como partes defeituosas da má-
quina, ou como erros na estrutura da máquina. O objetivo nestes modelos é consertar, substi-
tuir ou remover estas partes defeituosas, de modo que a máquina possa funcionar normalmen-
te. Os modelos mecanicistas de psicologia partem do pressuposto de que existem coisas como
pensamentos, sentimentos e memórias inerentemente "disfuncionais", "desadaptativos" ou
"patológicos". Em outras palavras, há memórias, pensamentos, sentimentos, emoções, impul-
sos, esquemas, narrativas, estados de ego, crenças centrais, etc., que são fundamentalmente
problemáticos, disfuncionais ou patológicos, e que, de forma análoga à "cadeira defeituosa",
necessitam ser consertados ou removidos.
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O mecanicismo tem sido a filosofia da ciência mais bem-sucedida na maioria dos campos
científicos; por isso, não é surpreendente que a maioria dos modelos em psicologia estejam
baseados em alguma forma de filosofia mecanicista. E não há nada de "errado", "ruim", "infe-
rior" ou "primitivo" com o mecanicismo. Estou meramente enfatizando que o contextualismo
funcional é uma abordagem radicalmente diferente daquelas da corrente predominante, levan-
do naturalmente a uma diferente maneira de fazer terapia.
Produtos Danificados?
Nossos clientes muitas vezes vêm para a terapia com ideias mecanicistas. Eles acreditam que
são defeituosos, danificados ou lesados, e que necessitam ser consertados. Algumas vezes
chegam até mesmo a se referirem a si próprios como "produtos ou mercadorias danificados".
Muitas vezes acreditam que carecem de componentes importantes – tais como "confiança" ou
"autoestima". Ou creem que têm partes defeituosas que necessitam ser removidas – tais como
sentimentos de ansiedade, pensamentos negativos ou memórias dolorosas. A maioria dos mo-
delos mecanicistas facilmente reforça estas noções, através de dois processos:
1) Eles usam palavras que sugerem que temos componentes defeituosos ou danificados
em nossas mentes – por exemplo, termos como "disfuncional", "desadaptativo", “irra-
cional” ou “negativo”.
2) Eles fazem uso de uma ampla variedade de ferramentas e técnicas projetadas para di-
retamente reduzir, substituir ou remover esses pensamentos e sentimentos indesejáveis
(normalmente com base na pressuposição de que isto é um passo essencial para me-
lhorar a qualidade de vida).
Na ACT, nossa atitude é bem diferente. Não nos propomos reduzir ou eliminar "sintomas";
em vez disso, nosso objetivo é fundamentalmente transformar a relação do cliente com seus
pensamentos e sentimentos, de forma que não mais os perceba como "sintomas". Afinal, no
instante em que rotulamos um pensamento ou sentimento como um "sintoma", isto implica
que ele é "ruim", "prejudicial", "anormal", e por isso é algo de que precisamos nos livrar para
sermos normais e saudáveis. Esta atitude facilmente nos induz a uma luta com nossos pensa-
mentos e sentimentos – uma luta que muitas vezes tem consequências desastrosas.
Suponha que existe uma planta que você julga como "feia" e que está crescendo bem no centro
do jardim defronte a sua casa. E suponha também que não há nenhuma forma de você se livrar
dela sem destruir completamente seu jardim. (Você deve estar pensando: "Mas têm de haver
uma maneira de se livrar dessa planta." Se isto estiver ocorrendo, volte e por apenas um minuto
permita-se dar um salto hipotético: imagine, para o propósito deste exercício, que você realmen-
te não consegue se livrar desta planta sem destruir seu jardim). Agora, se você ver essa planta
como uma "erva daninha", o que provavelmente irá acontecer em sua relação com ela? Existem
boas possibilidades de que você não irá gostar dela e nem irá querer que ela permaneça ali. Pro-
vavelmente você irá ficar chateado ou irritado com ela. Você poderá facilmente desperdiçar um
monte de tempo pensando sobre quão melhor o seu jardim ficaria sem essa planta. Você poderá
até mesmo hesitar em deixar as pessoas entrarem em seu jardim com medo de que o julguem
por conta dessa planta. Talvez você até mesmo pode começar a sair pelos fundos de sua casa
para não ter que olhar para essa "erva daninha horrorosa". Em outras palavras, essa "erva dani-
nha horrorosa" tornou-se UMA COISA MUITO IMPORTANTE EM SUA VIDA – tanto as-
sim, que ela agora tem um impacto significativo sobre seu comportamento.
Mas o que aconteceria se em vez de olhar para a planta como uma "erva daninha horrorosa", você
a visse apenas com um fato desafortunado da vida: uma parte natural do meio ambiente nativo,
um exemplo comum da flora nativa americana? Ela continua a ser a mesma planta, na mesma
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localização, mas agora sua relação com ela mudou fundamentalmente. Você já não necessita mais
lutar com ela e não precisa mais ficar perturbado ou envergonhado dela, nem desperdiçar tanto
tempo pensando nela. Agora você pode, sem hesitação, deixar as pessoas entrar em seu jardim
bem como sair de sua casa pela porta da frente. A planta em si mesma não mudou, mas você não
faz mais dela UMA COISA MUITO IMPORTANTE EM SUA VIDA. Ela agora tem bem menos
impacto ou influência sobre você.
A atenção plena nos permite fazer uma mudança de atitude similar em relação a todos aqueles
pensamentos, sentimentos, sensações e memórias que tão prontamente costumamos julgar como
"problemáticos"; permite-nos escolher o tipo de relação que queremos ter com os mesmos. Me-
diante a mudança de um contexto de fusão e esquiva para um de desfusão e aceitação (ou seja,
de atenção plena), alteramos a função destes pensamentos e sentimentos, de modo que tenham
bem menos impacto e influência sobre nós. Em um contexto de atenção plena eles deixam de
ser "sintomas" ou "problemas ou "coisas que nos impedem de viver uma vida rica e plena"; eles
são nada mais e nada menos do que pensamentos, sentimentos, sensações, memórias, etc.
Em certo sentido, a atenção plena é a ferramenta máxima de reenquadramento: ela move todos
estes pensamentos e sentimentos do antigo enquadramento de "sintomas anormais patológicos
que são obstáculos para uma vida rica e significativa" para o novo enquadramento de "experi-
ências humanas normais que são parte natural de uma vida rica e significativa".
* * *
Eis algumas possibilidades:
Conseguir atenção
Autopunição
Liberar tensão
Distração de emoções dolorosas
Criar arte corporal
Tentar sentir algo se você está "totalmente entorpecido"
Tentar ser admitido em um hospital
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Note que em todos esses cenários a forma do comportamento é a mesma – cortar-se no próprio
braço – mas a função do comportamento (o propósito ao qual ele serve) é diferente.
Agora vamos supor que seu parceiro está perdido em seus pensamentos, e seu propósito é conse-
guir a atenção dele; pense em cinco diferentes formas de comportamento que podem ajudá-lo a
alcançar este propósito.
* * *
Aqui vão algumas ideias:
Acenar para ele
Gritar "Alô, tem alguém aí dentro?"
Derramar um copo de água sobre sua cabeça
Bater com força em algum móvel
Dizer "Querido, posso ter sua atenção por um momento, por favor?"
Neste exemplo, você pode ver que muitas formas diferentes de comportamento têm todas a mes-
ma função: elas têm como propósito conseguir atenção. No contextualismo funcional estamos
interessados na função de um comportamento em vez de na sua forma. Mas note que somente
podemos conhecer a função de um comportamento se conhecermos o contexto no qual ele ocorre.
Se alguém levanta o seu braço bem alto no ar, a que propósito isto se destina? Será que ele está
em uma sala de conferência, fazendo uma pergunta? Está apontando para um avião no céu? Ou
talvez tentando chamar um táxi? Sem conhecermos o contexto, não conseguiremos saber a função
do comportamento – e vice-versa. E isto levanta uma outra questão: o que entendemos por "com-
portamento"?
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O behaviorismo tem exercido um profundo impacto sobre a psicologia clínica. Através de
estudos científicos rigorosos, os behavioristas descobriram um amplo espectro de métodos
poderosos para influenciar de forma confiável e efetiva o comportamento humano (tanto pú-
blico quanto privado): métodos que incluem exposição, reforço, modelação, extinção, e con-
dicionamento clássico e operante. Muitos modelos de terapia foram extremamente influencia-
dos por estas ideias – embora muitas não o reconheçam, ou mesmo se deem conta disso. De
fato, é difícil imaginar um terapeuta ou treinador eficaz que não utilize pelo menos alguns
desses princípios básicos, uma vez que os mesmos se têm se provado muito eficazes para faci-
litar a mudança de comportamento.
Muitas dessas ideias tiveram também uma influência enorme na vida diária. Por exemplo, em
programas de liderança empresarial, gerentes são aconselhados a notar seus colegas "fazendo
algo corretamente" e elogiá-los de forma sincera por isto. Da mesma forma, em programas de
educação de pais, estes são aconselhados a ativamente notar quando seus filhos estão se com-
portando bem, e recompensá-los por isto de alguma forma. Este conselho sadio é baseado no
poderoso princípio comportamental do reforço positivo.
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ocorre na presença de quê?" Os antecedentes podem incluir pensamentos, sentimentos, memó-
rias ou outras experiências privadas, além de estados físicos como doenças, fome ou fadiga,
bem como fatores ambientais tais como a disponibilidade de drogas ou álcool. O B representa o
comportamento (behavior) – especificamente, o comportamento que estamos analisando. O C
representa as consequências do comportamento: "Que efeitos este comportamento tem sobre o
eu, os outros, ou sobre o ambiente? O que acontece como resultado deste comportamento?"
Quando conhecemos o A e o C, podemos então determinar a função do comportamento (ou
seja, o efeito dele ou o propósito dele). Eis um exemplo simples de uma análise ABC:
Antecedentes: sentimentos de ansiedade e tristeza, pensamento tais como "Sou um fracassado"
e "a vida é uma droga", fatores ambientais incluindo a TV, a geladeira cheia de cerveja, e estar
sozinho.
Comportamento: assiste TV e bebe grandes quantidades de cerveja até adormecer, intoxicado
Consequências: a) curto prazo: alívio de pensamentos e sentimentos dolorosos b) longo prazo:
prejudica a saúde física, aumenta a dor emocional
Na ACT, frequentemente solicitamos a nossos clientes que façam uma análise ABC do compor-
tamento problemático como um primeiro passo rumo à mudança do mesmo. Não usamos ter-
mos técnicos, no entanto. Eis um exemplo de como uma análise de comportamento funcional
seria na prática:
Terapeuta: Então, você está em casa, sozinho, sentindo-se muito mal, e sua mente começa
a dizer para você "Sou um fracassado" (Antecedentes). E o que acontece então?
Cliente: O que você quer dizer?
Terapeuta: Bem, suponha que nós seguimos você com uma equipe de vídeo e gravamos
tudo o que você fez. O que eu veria neste vídeo que me faria saber que você foi
fisgado pela história do "Sou um fracassado"?
Cliente: Hmmm. Eu acho que... bem... acho que você me veria andando para cima e
para baixo um pouco, ou talvez jogado no sofá (Comportamento).
Terapeuta: E depois?
Cliente: Hmm. Bem, depois você iria me ver indo até a geladeira e pegar uma cerveja
(Comportamento).
Terapeuta: E depois disso?
Cliente: Então eu tomaria a cerveja (Comportamento).
Terapeuta: E aí?
Cliente: E aí eu continuaria a beber até desmaiar no sofá (Consequência)
Terapeuta: E isso faz você se livrar de todos aqueles pensamentos e sentimentos dolorosos?
Cliente: Sim, mas só enquanto estou bêbado.
Terapeuta: Ok, então ficar bêbado faz você se sentir melhor por algum tempo (Consequên-
cia – curto prazo). Como você se sente na manhã seguinte?
Cliente: Uma bosta! (Consequência – longo prazo)
Terapeuta: Ressaca?
Cliente: Ohhh sim! Uma bem forte.
Terapeuta: E aqueles pensamentos – "Sou um fracassado", "A vida é uma bosta", e outros
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do mesmo naipe – eles voltam?
Cliente: Oh sim. E voltam até piores do que antes. (Consequência – longo prazo)
Terapeuta: Não é interessante? Você se sente péssimo, sua mente o chama de fracassado
(Antecedentes) e você decide ficar bêbado (Comportamento). E no curto prazo
isto dá a você um pouco de alívio daqueles pensamentos e sentimentos dolorosos
(Consequências – curto prazo). Mas a longo prazo, na verdade você acaba se
sentindo pior do que antes (Consequências – longo prazo).
No exemplo acima, a análise ABC mostra claramente a função do comportamento: proporcio-
nar alívio dos pensamentos e sentimentos dolorosos. Ou, usando a terminologia da ACT, a ação
de beber deste cliente é motivada por esquiva experiencial.
Conhecer o ABC de um comportamento nos dá bastante material sobre o qual trabalhar. Assim,
no que se refere ao exemplo acima, poderíamos trabalhar sobre como responder de forma dife-
rente aos pensamentos e sentimentos antecedentes, usando desfusão e aceitação. Poderíamos
também remover um antecedente ambiental: por exemplo, poderíamos nos certificar de que não
houvesse cerveja na casa. Alternativamente, poderíamos também focar nas consequências. Por
exemplo, poderíamos apresentar ao cliente a noção de funcionalidade: "A curto prazo, ficar
bêbado faz você se sentir um pouco melhor, mas a longo prazo, ajuda você a aprimorar e enri-
quecer sua vida? Será que conduz a sua vida na direção que você quer?
Poderíamos, então, explorar e clarificar os valores do cliente, e levá-lo a propor mais algumas
atividades consistentes com seus valores para fazer em suas noites, em vez de beber até esque-
cer da vida como, por exemplo, assistir a uma aula noturna ou jogar tênis. Espera-se que os va-
lores do cliente possam agora se tornar antecedentes para um comportamento novo e mais efi-
caz – ou seja, um comportamento que tem mais consequências que contribuem para a melhoria
da qualidade de vida do que comportamento antigo. Em termos ideais, o cliente será então re-
compensado pelas consequências positivas deste seu novo comportamento, e isto irá aumentar a
chance de que ele volte a adotar estes comportamentos mais vezes no futuro (ou seja, reforça-
mento positivo).
À medida que você for lendo as transcrições de extratos de sessões de terapia neste livro, você
verá que existe uma grande dose de análise comportamental sendo realizada. Isto é mais eviden-
te quando começamos a falar sobre funcionalidade. Claro, existe mais análise comportamental
do que isto, mas infelizmente não teremos tempo para isso; temos que avançar para o próximo
andar.
* * *
Para a maioria de nós, no prazo de trinta segundos de repetição, a palavra perde todo o seu sig-
nificado. Em vez disso, torna-se um som estranho: lem-ão. Ao mesmo tempo, todas as imagens,
gostos, cheiros, pensamentos e memórias que estavam previamente relacionadas com este som,
desaparecem. (Este exercício é conhecido como Repetição de Titchener, em homenagem ao
psicólogo que observou este efeito: Titchener, E. B., 1916).
Quando você ainda era um bebê ou uma criança pequena, nas primeiras vezes em que ouviu o
som lem-ão ele era mais ou menos parecido com o da sua experiência neste último exercício.
Nesse ponto em sua vida, lem-ão não tinha qualquer significado para você; era simplesmente
um som que você podia ouvir e você não conseguia ainda relacionar esse som com outros even-
tos tais como o sabor, o cheiro, a textura, a forma ou a cor dessa fruta.
Bem, o que aconteceu a você de lá para cá? Há muitos anos lem-ão era apenas um ruído. Mas
agora você relaciona o som lem-ão a muitos outros eventos; ele se tornou parte de uma vasta
rede relacional que inclui não apenas os aromas, sabores, texturas e cores de limões, mas tam-
bém pensamentos, imagens, sentimentos e memórias sobre limonadas, tortas de limão, bolos de
limão, limoeiros, limões inteiros, limões fatiados, limões de plástico e assim por diante. Como
você aprendeu a fazer isso? A RFT fornece as respostas.
Aprendendo Linguagem
Desde o momento em que você nasce, as pessoas com as quais você convive começam a ensi-
ná-lo a usar a linguagem deles. Inicialmente, eles fazem isto falando com você, o que faz com
que você se familiarize com os sons de sua linguagem. Depois, à medida que você vai crescen-
do, eles o encorajam a fazer sons semelhantes por si próprio. Inicialmente estes sons se relacio-
nam com o mundo fora de você, como, por exemplo, "mamãe" e "papai" e "mamá". Entretanto,
você rapidamente aprende a relacionar estes sons com o mundo dentro de você: com sabores,
cheiros, sentimentos, sensações e desejos (por exemplo, "fome", "sede", "gostoso", "caca", "do-
dói", "quer", "não quer", "sim", "não).
E não são apenas os sons que eles encorajam você a imitar, mas também gestos e expressões
faciais – por exemplo, enrugar seu rosto quando algo tem gosto de "caca", ou bater palmas para
mostrar sua aprovação a algo. Ao mesmo tempo, através do uso de livros, desenhos e fotografi-
as, eles lhe ensinam como relacionar imagens com sua experiência: ou seja, eles ensinam você a
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relacionar uma fotografia ou desenho de um cachorro com um cachorro real, ou uma fotografia
de uma criança chorando com seus próprios sentimentos de tristeza.
É claro que muitos animais são capazes de relacionar eventos desta maneira. Por exemplo, al-
gumas espécies de macacos conseguem fazer mais de vinte gritos de alerta diferentes: ou seja,
diferentes sons relacionados com formas específicas de perigo, de águias aos leopardos e ao
fogo. Da mesma forma, você pode facilmente ensinar o seu cão que o som "passeio" refere-se a
ir para uma caminhada, ou o som "dindins" relaciona-se com o jantar sendo servido. Mas quan-
do a criança chega na idade de 14 a 16 meses, a linguagem humana começa a se diferenciar
fundamentalmente da linguagem de todos os outros animais. Como assim? Porque os seres hu-
manos aprendem a fazer algo chamado de "relações derivadas". Eu percebo que não parece algo
muito excitante, mas peço a você que mantenha a leitura de qualquer maneira. No final do capí-
tulo, você verá como isso é clinicamente relevante.
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Sua mãe então diz: "menino inteligente". Ela acabou de treinar diretamente uma relação: gravu-
ra de um grifo o som "grifo". Depois a sua mãe diz: "Mostre-me o grifo".
Neste ponto de sua vida, só há uma chance em três de que Joãozinho vai apontar para o grifo;
ele tem a mesma probabilidade de apontar para o dragão ou a sereia. Se por acaso ele acerta, a
mãe diz, "Menino inteligente. Isso é um grifo." Se ele erra, ela diz:" Não. Este é o grifo". De
qualquer forma, ela está treinando diretamente uma segunda relação: o som "grifo" a imagem
de um grifo.
A mãe em seguida passa a fazer o mesmo com o dragão. Primeiro: "Isso é um 'dragão'. Você
consegue dizer 'dragão'? Menino inteligente. " Depois ela diz: "Agora me mostre o dragão."
Finalmente, ela diz: "É isso mesmo. Menino inteligente" ou "Não, esse aqui é o dragão."
Então, aqui novamente a mãe dele treina diretamente duas relações:
1) gravura de um dragão o som "dragão";
2) o som "dragão" gravura de um dragão.
Até aqui, parece algo bem monótono – mas em breve esta situação irá mudar dramaticamente.
Dentro de dois a quatro meses a mãe de Joãozinho já não precisará dar a ele todo esse treina-
mento direto nas relações. Veja bem, uma vez que as crianças humanas alcançam catorze a de-
zesseis meses de idade (partindo do pressuposto que elas tiveram uma educação humana nor-
mal, com muita prática de relacionar eventos desta maneira), eles começam a derivar relações
espontaneamente. Por exemplo, suponha que a mãe mostra a seu Joãozinho de dezesseis meses
de idade uma imagem com três animais exóticos que ele nunca viu antes: um tatu, um porco-
espinho, e um porco da terra. A mãe dele aponta para o porco da terra, e diz: "Isso é um 'porco
da terra'. Você consegue dizer 'porco da terra'? "
Joãozinho diz: "Porco da terra". Sua mãe diz então: "Menino inteligente. Agora me mostre o
'porco da terra'."
Joãozinho irá agora apontar para o porco da terra com 100% de exatidão, e não para os outros
dois animais. Sua mãe o treinou diretamente que a gravura de um porco da terra se relaciona
com o som "porco da terra" (gravura de um porco da terra o som "porco da terra") e Joãozi-
nho então espontaneamente derivou que o som se relaciona com a gravura (o som "porco da
terra" gravura de um porco da terra).
A habilidade de derivar relações espontaneamente separa os seres humanos de todos os outros
animais. Não-humanos não conseguem aprender a derivar relações espontaneamente nesta for-
ma – nem mesmo com treinamento intensivo. Sim, nem mesmo aqueles inteligentes chimpan-
zés "treinados em linguagem" conseguem fazê-lo. (Dugdale and Lowe, 2000).
"Sim, sim, sim," ouço você dizer enquanto educadamente tenta abafar um grande bocejo, "então
os humanos podem derivar relações e outros animais não podem. E daí? O que há de tão especi-
al nisso?" Boa pergunta.
Transformação de funções
Diga a palavra "zubuma" para si mesmo, e note o efeito que isto tem sobre você. Não muito,
eu apostaria - exceto, talvez, o de estimular alguma curiosidade ou diversão. O fato é que você
provavelmente não sabe que uma zubuma é uma fruta tropical rara. A zubuma tem aparência
e gosto muito parecido com um limão, exceto que é cerca de três vezes maior. Agora imagine
o seguinte cenário tão vividamente quanto você pode: você pega uma zubuma, corta-a ao
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meio, abre a boca, e espreme todo o suco daquela zubuma diretamente sobre a sua língua.
Imagine sua boca se enchendo com todo aquele suco de zubuma fresco. E você continua es-
premendo e espremendo aquela zubuma, até que sua boca esteja literalmente transbordando.
* * *
O que aconteceu quando você leu aquelas últimas poucas linhas? Existe uma boa chance de que
você tenha salivado ou tenha sentido um formigamento na língua, ou ainda que tenha sentido
um picante sabor cítrico em sua boca. Desta forma a palavra "zubuma" começou a ter alguns
efeitos sobre você semelhantes àqueles que um limão real iria produzir.
Este processo é conhecido como uma "transformação de funções". Por quê? Porque as funções
da palavra "zubuma" (ou seja, os efeitos que ela tem sobre você) se transformaram (mudaram).
A palavra "zubuma" tem agora algumas das funções de um limão real (ou seja, ela afeta você
até certo ponto como faria um limão real).
A propósito, não existe tal coisa como uma zubuma; inventei a palavra para os propósitos deste
exercício. E, como resultado da leitura deste capítulo, você aumentou o número de eventos na
vasta rede relacional ligada à palavra "limão"; especificamente, você adicionou em "citron",
"sitruuna", "limone" e "zubuma". E todas estas novas palavras terão agora algumas das funções
de um verdadeiro limão.
Juntando Tudo
Este comportamento humano único de: a) derivar relações entre eventos, b) agrupá-las em
vastas redes relacionais, e c) transferir funções entre os eventos relacionados, é conhecido na
RFT como "enquadramento relacional". A RFT propõe que o enquadramento relacional é a
base da linguagem e cognição humanas.
E qual é a relevância clínica de tudo isso? Da mesma forma que eu posso relacionar a palavra
"limão" a um pedaço de fruta, também posso relacionar as palavras "nojento", "inútil" a mim
mesmo. E no momento em que faço isto, algumas das funções de "nojento" e "inútil" serão
transferidas para mim.
Vamos pegar um outro exemplo. As palavras "minha vida" fazem parte de uma rede relacional
gigantesca. Elas estão relacionadas com um número incontável de eventos, incluindo todos os
tipos de pensamentos, sentimentos e memórias sobre tudo, desde o meu trabalho e minha vida
social até a minha saúde e minha família. Agora suponha que eu relacione as palavras "horrível"
e "inútil" com as palavras "minha vida". Quando faço isso, algumas das funções de "horrível" e
"inútil" serão transferidas transversalmente. Essas funções serão transferidas não só para as pa-
lavras "minha vida", mas também para todos os eventos dentro dessa vasta rede relacional. En-
tão, agora, tudo na minha vida parece horrível e sem sentido. Você, sem dúvida, já notou esse
tipo de enquadramento relacional em seus clientes deprimidos.
Na linguagem cotidiana, nos referimos ao enquadramento relacional como "pensar", "cogni-
ção", "linguagem humana" ou "a mente". O enquadramento relacional nos dá uma enorme van-
tagem como uma espécie. Ele nos permite analisar, conversar, planejar, imaginar, comparar,
inventar, resolver problemas, e assim por diante. No entanto, como discutimos anteriormente, a
nossa mente é uma faca de dois gumes. Uma vez que tenhamos adquirido a habilidade do en-
quadramento relacional, é como se ele assumisse uma vida própria – e à medida que envelhe-
cemos, vivemos cada vez mais dentro do mundo da linguagem e nos afastamos do mundo da
experiência direta. E é aqui, é claro, onde ACT vem para nos socorrer.
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Fim do passeio
Estamos agora de volta no andar superior da casa da ACT. Se consegui aguçar o seu apetite por
mais conhecimento, recomendo que você leia The ABCs Of Human Behavior: Behavioral
Principles For The Practicing Clinician escrito por Jonas Ramnero e Niklas Törneke. Trata-se
de um livro excelente que leva você passo a passo, de forma simples e clara, através dos deta-
lhes da FC, da ABA e da RFT, amarrando-os todos juntos com ACT através de numerosos
exemplos clínicos e transcrições comentadas de terapia. Há também um tutorial online gratuito
sobre RFT, disponível em: www.contextualpsychology.org
Espero que este passeio não tenha deixado você exausto. Se deixou, porque não descansar um
pouco? Você merece. Afinal de contas, você acaba de ter sido fortemente bombardeado por
um grande número de termos técnicos, muitos dos quais podem ser novos para você. E isso
não é realmente o que você espera de um livro chamado "ACT Simplificada". Por isso, a cer-
teza: o restante do livro faz jus ao seu título. Então, vamos nos ver no próximo capítulo, de-
pois de ter descansado!
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CAPÍTULO 4
Tornando-se Vivencial
A Prova do Pudim
Existe um antigo ditado que diz que “a prova do pudim está em comê-lo”. Você pode falar o
quanto quiser, tentando descrever o pudim que você quer que eu experimente, mas até eu não
colocá-lo em minha boca, não terei como saber qual é o sabor dele. Uma das armadilhas com que
nos defrontamos quando estamos começando a usar a ACT é tentar descrever ou explicar proces-
sos da ACT em vez de realmente praticá-los. Se não tivermos cuidado, podemos facilmente nos
atolar em conversas prolixas e desperdiçar muito tempo em discussões intelectuais em vez de
fazer algo que é prático ou útil.
Por causa disso, é melhor passar por um processo vivencialmente e então falar sobre ele mais
tarde, em vez de fazer o contrário. E se você escolher explicar um exercício antecipadamente,
então faça isso de preferência através de uma metáfora; vou lhe dar muitos exemplos à medida
que avançarmos.
Relevância e Fundamentação
Queremos que nossas metáforas e exercícios sejam diretamente relevantes em relação às
questões com que estamos lidando na sessão em vez de aplicarmos algum exercício tão so-
mente por que gostamos dele, porque está fresco em nossa memória ou porque funcionou
bem com algum cliente anterior. Para exercícios mais longos, muitas vezes é útil providenciar
uma fundamentação. Por exemplo:
Terapeuta: Então, em resumo, parece que você gosta de gastar um monte de tempo preso
em todos estes pensamentos de preocupação, e isto está tornando você extre-
mamente infeliz.
Cliente: Sim. Eu sei que é burrice, mas não consigo evitar. Esta é a forma que eu sou.
Na minha família somos todos muito preocupados. Minha mãe é a pior.
Terapeuta: E se você pudesse aprender uma nova habilidade de modo que quando estes
pensamentos de preocupação aparecem na sua cabeça, você pudesse deixá-los
ir e vir – como se fossem apenas carros, passando do lado de fora de sua casa –
em vez de ficar preso neles. Será que isto seria algo que te interessaria?
Cliente: Eu entendo o que você está dizendo, mas (rindo) eu realmente não penso que
eu seja capaz de fazer isso.
Terapeuta: Bem, será que você poderia dar uma chance para esta habilidade, e ver como
ela funciona? É um exercício bem simples — você pode realizá-lo com os
olhos abertos ou fechados, o que for da sua preferência.
Cliente: Eu posso tentar, eu acho.
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comigo durante o exercício, mas você pode falar comigo se você quiser, e pode me interrom-
per sempre que quiser.”
Assim que a gente tiver feito alguns exercícios de atenção plena, podemos dizer “ Se estiver
bem para você, eu gostaria de iniciar cada uma de nossas sessões com um breve exercício de
atenção plena, bem parecido com este que acabamos de fazer. Você concorda com isso?” Se o
seu cliente concordar — como a maioria fará — você agora terá uma maneira amorosa de abrir
cada uma das sessões e que irá levar você e seu cliente para dentro do espaço da atenção plena.
É claro, se você não quiser estruturar suas sessões desta forma, isto não é de forma alguma es-
sencial; é meramente uma sugestão, não uma ordem. E, é claro, alguns clientes irão odiar esta
ideia. Portanto, se o seu cliente não estiver interessado, qualquer coisa que faça, não o pressio-
ne. Lembre-se: se nos dermos conta de que estamos pressionando, persuadindo, coagindo, con-
vencendo, debatendo ou discutindo com nossos clientes, então não estamos praticando ACT.
Melhorando a Prática
À medida que for trabalhando com este livro, não fique somente na leitura dos exercícios.
Recomendo fortemente que você os leia em voz alta e faça de conta que está, de fato, traba-
lhando com um cliente. Talvez isto pareça estranho para você, mas é um modo simples e efe-
tivo de construir suas habilidade e confiança. Quando você ensaia consigo mesmo, isto lhe
prepara para o ambiente de terapia: suas palavras irão fluir mais suavemente, e você terá que
exercer menos esforço consciente. (Melhor ainda, encontre um colega com quem praticar.)
Eu costumava praticar textos de atenção plena gravando-os em um gravador (e com o avanço
da tecnologia, com um gravador de MP3). Então os reproduzia e os analisava. Depois traba-
lhava sobre os trechos que não estavam bons até que eu soubesse o que estava fazendo. Isto
significava que quando eu estivesse lendo de um texto na sessão, este texto se tornava apenas
um guia em torno do qual eu improvisava e não algo que eu tinha que seguir de forma rígida
palavra por palavra. Isto permite uma flexibilidade e uma espontaneidade que torna o texto
vivo e não algo que soe empolado, desajeitado e não natural.
O mesmo é verdadeiro para as muitas metáforas que a ACT utiliza. Algumas pessoas são con-
tadoras natas de histórias. Elas ouvem uma metáfora uma vez, a recontam à sua própria ma-
neira e o resultado é maravilhoso. Elas têm muita sorte. A maioria de nós não é tão talentosa.
Nós necessitamos de prática. Sugiro que você tente contar uma metáfora em voz alta algumas
vezes. Então, uma vez que você tenha internalizado a mesma, tente contá-la para alguém.
Como regra geral, exercícios de atenção plena são melhor transmitidos em um ritmo lento, deli-
berado e com uma voz calma e tranquila. Geralmente é melhor ir devagar demais do que rápido
demais. Em muitos dos roteiros neste livro, tenho indicado pausas de cinco, dez, quinze ou vinte
segundos, mas estas são apenas orientações rudimentares; por isso, por favor, não tente se ater às
mesmas rigidamente mas procure encontrar seu próprio ritmo natural. Para a maioria das pesso-
as, uma respiração profunda, inspirando e exalando, demora cerca de dez segundos. Gravei al-
guns CDs e MP3 que você pode utilizar como orientação, se assim o desejar (veja o apêndice 2).
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Se você desejar ler a partir de um roteiro durante a sessão, pode ser uma boa ideia dizer ao
cliente algo como "Existe um exercício através do qual eu realmente gostaria de conduzir vo-
cê, mas eu ainda não o memorizei completamente, por isso pergunto se você se incomodaria
se eu o lesse utilizando este livro?" Entretanto, tome o cuidado de não ler o texto palavra por
palavra tal como está escrito pois isto pode soar empolado e antinatural; tente improvisar a
partir do mesmo.
Finalmente, lembre-se de ser você mesmo. Quero encorajá-lo a alterar as palavras e expres-
sões em cada exercício e metáfora contidos neste livro e adaptá-los a seu próprio estilo, sua
própria maneira de falar e também aos da clientela com a qual você trabalhar.
O EXERCÍCIO DO HEXAFLEX
Vamos agora dar uma olhada no exercício do Hexaflex, que cobre todos os elementos do he-
xaflex (veja no capítulo 1) de uma só vez. Costumo utilizá-lo em todos os meus workshops,
palestras e aulas, no início das sessões de grupo e como um breve "curso de reciclagem" em
sessões mais adiantadas com meus clientes individuais. Tal como está descrito aqui, ele leva
de dez a quinze minutos, dependendo de quão rápido você fala e quão longas forem as suas
pausas. Por favor, pratique-o algumas vezes antes de continuar com a leitura do livro porque
(a) ele lhe ajudará a entender o modelo, e (b) lhe dará uma base para muitos dos exercícios
que veremos depois.
Este exercício, usado em sua forma completa, é longo demais para alguns cli-
entes. Mas você pode facilmente utilizar versões abreviadas ou "pedaços" do
mesmo. Numerei as diferentes seções do exercício de forma a podermos dis-
secá-lo e voltar a nos referir a ele em capítulos futuros.
Agora, por favor, leia o exercício em voz alta. Leia-o em uma voz lenta, calma, estável, fazendo
de conta que você está fazendo isso com um cliente.
SEÇÃO 1
Terapeuta: Sente-se de forma ereta, deixe seus ombros caírem e gentilmente pressione
seus pés contra o chão... obtendo uma sensação do piso abaixo de você... você
fixar seus olhos em algum ponto da sala, ou fechá-los, o que você preferir.
Agora, por um momento, note como você está sentado. (Pausa de 5 segundos) E
note sua respiração. (Pausa de 5 segundos) Note o que você pode ver. (Pausa de
5 segundos) Note o que você pode ouvir. (Pausa de 5 segundos) Note o que vo-
cê consegue sentir contra sua pele. (Pausa de 5 segundos) Note aromas ou odo-
res que você consegue sentir em suas narinas. (Pausa de 5 segundos) Note o que
você está sentindo. (Pausa de 5 segundos) Note o que você está pensando. (Pau-
sa de 5 segundos) Note o que você está fazendo. (Pausa de 5 segundos)
SEÇÃO 2
Terapeuta: Há uma parte dentro de você que consegue notar tudo o que você vê, ouve, toca,
saboreia, cheira, pensa e sente. (Pausa de 5 segundos) Não temos uma palavra
para essa parte de você em nossa linguagem cotidiana. Vou chamar essa parte de
você de "eu observador", mas você não precisa necessariamente chamá-la assim.
Você pode chamá-la como achar melhor. (Pausa de 5 segundos)
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A vida é como um show em um palco. E nesse palco estão todos os seus pen-
samentos e sentimentos, e tudo o que você pode ver, ouvir, tocar, saborear e
cheirar. O eu observador é aquela parte de você que pode tomar distância e
olhar esse show no palco: pode focar em qualquer parte do mesmo, ou dar um
passo atrás e ver tudo ao mesmo tempo. (Pausa de 5 segundos)
SEÇÃO 3
Terapeuta: Agora, por um momento, reflita porque você veio aqui hoje. Existe algo com
que você se importa, algo que é importante no fundo de seu coração que moti-
vou você a vir aqui... É sobre melhorar sua vida? ... Crescimento pessoal? ....
Aprender novas habilidades? .... Construir relações melhores? .... Seria sobre
melhorar as coisas em seu trabalho, ou com sua família, ou seus amigos? .... Ou
talvez se relacione com a sua saúde: nutrir seu corpo ou melhorar seu bem-estar?
.... Faça uma busca, bem no fundo de seu coração, para clarificar quais são os
valores que trouxeram você aqui hoje. (Pausa de 15 segundos.)
SEÇÃO 4
Terapeuta: E agora, por um momento, reflita sobre como você chegou até aqui hoje. Você
não chegou até aqui por mágica. Você está aqui devido a ação comprometida.
Você teve de agendar esse compromisso. Teve de reagendar outras coisas. Te-
ve de investir tempo e esforço para chegar aqui. E existe a possibilidade de que
vir para cá hoje tenha feito emergir alguns pensamentos e sentimentos que são
desconfortáveis para você. E, ainda assim... você está aqui. (Pausa de 10 se-
gundos.) Reconheça que exatamente agora, neste momento, você está agindo.
Você está sentado aqui numa cadeira, fazendo um exercício que provavelmente
parece um pouco estranho ou incomum ... e você provavelmente está tendo to-
do tipo de pensamentos zunindo em sua cabeça ... e todo tipo de sentimentos
passando por seu corpo. (Pausa de 5 segundos.) E existe um monte de coisas
que você poderia estar fazendo agora que são muito mais divertidas do que is-
so que estamos fazendo, e ainda assim, você está aqui, agindo para melhorar e
enriquecer a sua vida. (Pausa de 10 segundos.)
SEÇÃO 5
Terapeuta: E agora, nas próximas respirações, gostaria que você focasse em esvaziar seus
pulmões: empurre todo ar para fora dos pulmões até que não reste mais ne-
nhum ar dentro dos mesmos, e então gentilmente permita que eles se encham
sozinhos. (Pausa de 5 segundos.) Observe atentamente a sua respiração – note
como ela flui para dentro e para fora. Preste atenção como se você fosse um ci-
entista curioso que nunca se deparou com a respiração antes. (Pausa de 10 se-
gundos.) Observe como quando seus pulmões estão vazios, eles automatica-
mente voltam a se encher, por conta própria, sem qualquer auxílio de sua parte.
(Pausa de 5 segundos.) Você até pode fazer uma inspiração profunda se quiser,
mas note que isso na verdade não é necessário: a respiração acontece sozinha.
(Pausa de 10 segundos.) Agora convido você para um desafio: pelos próximos
dois minutos, mantenha sua atenção focada em sua respiração, observando
como ela flui para dentro e para fora. (Pausa de 10 segundos.)
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SEÇÃO 6
Terapeuta: Provavelmente você vai achar isso difícil de fazer porque sua mente é uma talen-
tosa contadora de histórias. Ela vai contar para você todo o tipo de histórias para
roubar a sua atenção e afastar você do que está fazendo. (Pausa de 5 segundos.)
Veja se consegue deixar esses pensamentos ir e vir, como se fossem apenas car-
ros passando – apenas carros passando do lado de fora de sua casa – e mantenha
sua atenção focada na respiração. (Pausa de 10 segundos.) Note sua respiração
entrando e saindo. (Pausa de 10 segundos.) Observe seu abdômen se expandin-
do e se contraindo. (Pausa de 10 segundos.) Observe como seu peito sobe e des-
ce. (Pausa de 10 segundos.) Permita que a conversa de sua mente se distancie
como se fosse um rádio tocando ao longe. Não tente desligar o rádio; isso não é
possível – nem mesmo mestres Zen conseguem fazer isso. Apenas deixe-o to-
cando no fundo, e mantenha sua atenção na respiração. (Pausa de 10 segundos.)
De vez em quando sua mente vai conseguir distrair você: ela vai te fisgar com
alguma boa história e você vai se distrair e se esquecer de sua respiração. Isto é
normal e natural, e vai acontecer repetidas vezes. No momento em que você se
aperceber de que isto aconteceu, note por um momento qual foi o anzol que
fisgou você, e então gentilmente volte a focar a atenção em sua respiração.
(Pausa de 10 segundos.)
De novo e de novo, você vai se perder em seus pensamentos. É normal e natural.
Acontece com todo mundo. Assim que perceber isso, gentilmente tome consci-
ência disso e volte a prestar atenção em sua respiração. (Pausa de 10 segundos.)
SEÇÃO 7
SEÇÃO 8
Terapeuta: A vida é semelhante a show em um palco. E neste palco estão os seus pensa-
mentos e sentimentos, tudo o que você pode ver, ouvir, tocar, saborear e chei-
rar. Neste exercício, você diminuiu as luzes no palco e focou um holofote em
sua respiração. E agora é hora de aumentar a intensidade das demais luzes. Es-
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ta respiração que você está observando acontece em um corpo; então, agora,
vamos focar as luzes em seu corpo: sente-se de forma ereta em sua cadeira, e
observe seus braços, suas pernas, sua nuca, seu peito, e seu abdômen. (Pausa
de 5 segundos.) E seu corpo se encontra dentro de uma sala, e assim vamos
aumentar a luz na sala em torno de você. Olhe ao seu redor e observe o que
você consegue ver e ouvir, sentir o cheiro, o sabor e sentir com seu tato. (Pau-
sa de 10 segundos.) Observe o que está sentindo. (Pausa de 20 segundos.) E
observe o que está pensando. (Pausa de 5 segundos.) Note que há uma parte
em você que pode observar tudo: o que você vê, ouve, toca, saboreia, cheira,
pensa, sente, ou faz em qualquer momento.
E isto conclui o exercício. Se quiser, pode se espreguiçar e esticar seu corpo, e
depois vamos falar sobre o que fizemos.
Analisando separadamente
Vamos analisar agora o Exercício do Hexaflex, seção por seção. Por favor, volte e releia cada
seção do exercício em voz alta antes de ler a explicação abaixo.
Antes de conduzir o cliente através dessa seção, é uma boa ideia fornecer uma
breve explicação sobre as duas partes da mente – o eu pensador e o eu obser-
vador – pois assim o termo “eu observador” não as pegará de surpresa. O tex-
to seguinte exemplifica isso.
O EU PENSADOR E O EU OBSERVADOR
Terapeuta: Uma das coisas que é importante em nosso trabalho aqui é reconhecer que há
duas partes muito distintas de nossa mente. Existe uma parte com a qual todos
estamos familiarizados – aquela parte que pensa, imagina, lembra, analisa, pla-
neja, fantasia, etc. Vamos chamar essa parte de “eu pensador”. Mas há uma ou-
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tra parte da mente sobre a qual virtualmente nunca se fala – na verdade não
temos nem mesmo uma palavra para a mesma em nossa linguagem comum do
dia-a-dia. É a parte da mente que não pensa, não consegue pensar – ela apenas
nota ou observa. Ela nota o que você está pensando, sentindo, fazendo, vendo,
ouvindo, saboreando, etc. As palavras mais próximas que temos para ela em
nossa linguagem cotidiana são “consciência”, “atenção” ou “foco”. Na ACT,
geralmente a chamamos de “eu observador” porque ela não pensa – ela mera-
mente observa. Para dar um exemplo, você já se deparou com um pôr do sol
magnífico e por um momento seu eu pensador ficou quieto. Não havia pensa-
mentos – você ficou apenas observando silenciosamente este maravilhoso pôr
do sol. Isto é seu eu observador em ação – notando silenciosamente. Mas o si-
lêncio não dura muito. Em segundos, o eu pensador se manifesta: “Ó, mas que
cores mais lindas. Eu queria ter uma câmera aqui comigo. Isto me lembra de
minha viagem para o Havaí.” E então, à medida que você começa a ficar mais
enredado em seus pensamentos, você começa a se desconectar do pôr do sol.
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Enfatizamos também de novo e de novo que é “normal e natural” a pessoa repetidamente ficar
à deriva em seus pensamentos (ou seja, fundida com eles). Isto é importante porque muitos
clientes (assim como muitos terapeutas) têm um traço perfeccionista, e poderão ficar desapon-
tados se tiverem a expectativa de conseguir manter um foco total. De fato, muitos clientes (e
terapeutas) ficam chocados com o quão difícil é permanecer focado por mais do que alguns
segundos.
SEÇÃO 7: ABRA-SE
A seção 7 aborda a aceitação: abrir-se e criar espaço para experiências privadas dolorosas.
(Nota: Aceitação é abreviatura de “aceitação experiencial”, o oposto de esquiva experiencial.)
Aqui introduzimos a noção de permitir que seus sentimentos e sensações sejam como são sem
tentar mudá-los e se livrar deles. Quando silenciosamente nomeamos e reconhecemos um
sentimento doloroso, isto muitas vezes facilita a aceitação e por isso é uma técnica simples e
útil para inserir nesta seção. E podemos também passá-la para o cliente como uma técnica
para ser praticada entre as sessões.
Você também deve ter notado que enfatizamos que isto não é uma técnica de relaxamento.
Isto é importante porque muitos clientes irão achar esta experiência relaxante, e podem consi-
derar como se este fosse o propósito do exercício, quando, na verdade, isto é apenas um efeito
colateral benéfico.
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CAPÍTULO 5
Começando a ACT
A PRIMEIRA SESSÃO
Os terapeutas chegam até a ACT de uma vasta gama de “backgrounds” e por isso muitas vezes
tem ideias muito diferentes sobre a primeira sessão. Por exemplo, muitos terapeutas gostam de
fazer uma “sessão introdutória” ou uma “ sessão pré-tratamento” antes da primeira sessão “ativa”.
Isto pode envolver alguns ou todos dos seguintes itens: obtenção de uma história detalhada, pre-
enchimento de formulários de avaliação, condução de avaliações especiais tais como exame do
estado mental, obtenção do informe consentido, e/ou assinatura de um contrato terapêutico.
Alguns dos livros textos da ACT ativamente recomendam uma sessão de pré-tratamento, e outros
o assumem implicitamente. Entretanto, praticantes com um “background” em terapia breve mui-
tas vezes preferem não fazer uma sessão de pré-tratamento; ao invés disso, eles se lançam ativa-
mente na terapia já no primeiro encontro. Há prós e contras em ambas as abordagens, e este livro
não é o lugar para discuti-las; provavelmente você já tem sua própria abordagem, e se ela está
funcionando, não há necessidade de mudá-la. Por uma questão de clareza, neste livro vou me refe-
rir à sessão I como o primeiro encontro entre terapeuta e cliente (ou seja, não há sessão pré-
tratamento). Se você não costuma trabalhar dessa maneira, acrescente uma sessão pré-tratamento
ou “alongue” a primeira sessão em duas.
Na sessão 1, de preferência, objetivamos
estabelecer vínculo
fazer a anamnese
obter um consentimento livre e esclarecido
acordar os objetivos iniciais do tratamento; e
acordar o número de sessões.
Além disso, se o tempo permitir, também poderemos
fazer um breve exercício experiencial, e
atribuir algum “tema de casa” simples.
Com clientes com elevado grau de funcionamento ou com aqueles que têm um problema muito
específico, pode-se muitas vezes completar todos os itens acima em uma sessão. Entretanto, com
clientes com um funcionamento mais baixo ou aqueles com problemas múltiplos e histórias de
vida mais complexas, isto poderá facilmente se estender para duas sessões, especialmente se qui-
sermos que o cliente preencha uma bateria de formulários de avaliação.
Tenha também em mente que se se seu cliente tem uma longa história de trauma ou experiências
recorrentes de abuso ou traição em relações íntimas, poderão ocorrer problemas significativos no
que se refere à confiança. Caso isto ocorra, você pode querer usar duas ou três sessões fazendo
sobretudo a anamnese e construindo o relacionamento — indo devagar e dedicando tempo para
gradualmente estabelecer uma relação de confiança.
Estabelecer Vínculo
Todos os modelos de terapia dão importância à relação terapêutica; na ACT, isso é especialmente
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verdade. A maioria dos livros-texto pedem aos leitores que apliquem a ACT a si próprios. Por que?
Porque a ACT é muito mais efetiva quando nós, os praticantes, realmente a incorporamos na sala
de terapia. Quando estamos plenamente presentes com nossos clientes, abertos a todo e qualquer
conteúdo emocional que emerja, desfundidos de nossos próprios julgamentos, e em contato com
nossos valores centrais no que se refere a conexão, compaixão e contribuição, então iremos natu-
ralmente facilitar uma relação calorosa, aberta e autêntica. De fato, quando damos nossa atenção
completa a outro ser humano com abertura, compaixão e curiosidade, isto é terapêutico por si só.
A posição da ACT é a de que como terapeutas estamos no mesmo barco que nossos clientes: am-
bos ficamos rapidamente enredados em nossas mentes, perdemos contato com o presente, e nos
envolvemos em batalhas fúteis com nossos próprios pensamentos e sentimentos; repetidamente
perdemos contato com nossos valores centrais e agimos de maneiras autoderrotistas; e ambos
iremos encontrar lutas muito semelhantes em nossas vidas, incluindo desapontamento, rejeição,
fracasso, traição, perda, solidão, doença, lesão, sofrimento, ressentimento, ansiedade, insegurança
e morte. Tudo isto é parte da experiência humana. Assim, dado que cliente e terapeuta são com-
panheiros de viagem na mesma jornada humana, ambos podem aprender muito um do outro.
Na ACT, uma relação terapêutica compassiva, aberta e respeitosa é de extrema importância. Sem
isso, muitas de nossas ferramentas, técnicas, estratégias e intervenções irão falhar, produzir efeitos
negativos ou se mostrar como insensíveis ou invalidantes. Em especial, necessitamos estar alerta
em relação a qualquer vestígio de demonstrações de superioridade em nós; isto seria inconsistente
com a posição da ACT de que o terapeuta e o cliente são iguais. A Metáfora das Duas Montanhas
(Hayes, Strosahl, & Wilson, 1999) transmite de forma efetiva esta posição, e geralmente costumo
compartilhar a mesma com os clientes mais ou menos na metade da primeira sessão.
Fazer a anamnese
Juntar a história de um cliente pode levar desde alguns poucos minutos até uma hora, dependendo
da situação. Por exemplo, o excelente livro ACT in Practice (Bach & Moran, 2008) recomenda que
se utilize uma sessão completa para levantar um histórico detalhado e conceituar cuidadosamente
os problemas do cliente. Por outro lado, a ACT está sendo utilizada de forma crescente em ambien-
tes de cuidados primários onde o terapeuta poderá dispor de apenas duas ou três sessões de quinze
a trinta minutos cada, e isto obviamente torna necessário um histórico breve (Robinson, 2008).
Assim, mais uma vez, a mensagem é esta: adapte a ACT a sua própria maneira de trabalhar, a seu
próprio estilo, e a sua própria clientela. Como parte do levantamento do histórico, você pode utili-
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zar qualquer instrumento de avaliação padronizado que você goste. Apenas uma palavra de alerta:
muitos instrumentos populares de avaliação medem mudanças através do número ou severidade
dos sintomas (ou seja, alterações na forma do sintoma) mas falham em medir mudanças no im-
pacto psicológico ou na influência dos sintomas (ou seja, alterações na função do sintoma). En-
tretanto, na ACT, nosso interesse está em mudar a função do sintoma em vez da forma do sin-
toma. Embora não haja necessidade absoluta do uso de instrumentos de avaliação específicos da
ACT, tais como o AAQ (Acceptance and Action Questionnaire), eles podem ser muito úteis.
Não vou discutir estes instrumentos neste livro, mas você pode fazer o download de uma ampla
variedade deles em www.contextualpsychology.org/act-specific_measures.
Antes de avançarmos para as porcas e parafusos da anamnese, dê uma olhada na figura 5.1 abai-
xo. Esta figura sintetiza a essência da maioria das questões clínicas a partir da perspectiva da
ACT.
Esta figura nos lembra que o resultado que queremos da ACT é uma vida atenta e baseada em
valores. Em outras palavras, queremos reduzir a luta e o sofrimento (através da desfusão e da acei-
tação) e criar uma vida rica, plena e significativa (através de ação atenta e orientada por valores).
Quando fazemos uma anamnese, nossos clientes geralmente acham mais fácil descrever seu so-
frimento e suas lutas do que descrever o que seria uma vida rica, plena e significativa. Entretanto,
necessitamos saber ambos os conjuntos de informação. Felizmente existem muitos tipos de ins-
trumentos e técnicas para ajudar as pessoas a clarificar seus valores, como veremos mais tarde.
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da perspectiva da ACT. Vamos dar uma olhada nelas mais detalhadamente.
Para que direção baseada em valores o cliente quer se mover? Aqui buscamos clarificar
valores: como o/a cliente quer crescer e se desenvolver? Que fortalezas pessoais ou qualida-
des ele quer cultivar? Como ela quer se comportar? Como ele quer tratar a si mesmo? Que
tipo de relacionamentos ela quer construir? Como ele quer tratar os outros nestes relaciona-
mentos? O que ele quer que sua vida represente? O que ele almeja representar e defender
diante de crises e situações desafiadoras? Que áreas da vida são mais importantes para ela?
Que objetivos congruentes com valores ele tem atualmente?
Uma vez que possamos responder a questão “Para que direção baseada em valores o cliente
quer se mover?” podemos usar este conhecimento para definir objetivos baseados em valores,
e guiar, inspirar e manter uma ação continuada baseada em valores. E se não conseguimos
responder esta questão, isto nos diz que temos de fazer um trabalho de clarificação de valores.
O que está se interpondo no caminho do cliente? Esta pergunta é sobre as três principais
barreiras ao viver atento e com base em valores: fusão, esquiva, e ação disfuncional. Podemos
dividi-la em três questões menores:
Estas três questões revelam a essência de qualquer problema clínico: fusão, esquiva experien-
cial, e ações disfuncionais. (Um lembrete rápido: “disfuncional” significa que não funciona
para tornar a vida rica, plena e significativa a longo prazo, interferindo com um viver que seja
vital e baseado em valores. Quando uma ação é fortemente influenciada pela fusão e pela es-
quiva, provavelmente será disfuncional.)
59
inicialmente o Tiro ao Alvo com clientes que têm um funcionamento inferior, e a Bússola da
Vida com clientes de funcionamento mais elevado. O formulário Dissecando o Problema
desmembra a "luta e sofrimento" do cliente em seus componentes chave: fusão, esquiva, e
ação disfuncional. Peço a meus clientes que completem esses formulários da melhor forma
que podem e os tragam-nos junto para a primeira sessão. Explico a eles que mesmo que es-
crevam somente algumas poucas palavras, este é um bom começo. Você pode preencher estes
formulários durante a sessão ou dá-los ao cliente como "tema de casa" para completar após a
sessão.
Agora vamos para o histórico propriamente dito. O que segue é um roteiro bem básico para
tomar um histórico. Cada uma das seções numeradas pode ser abordada em alguns poucos
minutos ou explorada mais profundamente num espaço maior de tempo, dependendo de suas
necessidades. Não há necessidade de perguntar todas as questões em cada sessão. (Nota: a
expressão "pensamentos e sentimentos" é uma abreviação de "pensamentos, memórias, ima-
gens, sensações, desejos e impulsos"). Você pode fazer o download (em inglês) de uma ver-
são simplificada em www.actmindfully.com.au. Leia o roteiro agora, e depois explore-o mais
detalhadamente.
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2. Avaliação Inicial de Valores
Você pode fazer ao cliente algumas (ou todas) das seguintes perguntas. Além disso
(ou como uma alternativa), você pode pedir ao cliente para preencher um instru-
mento simples de avaliação tal como o Tiro ao Alvo ou a Bússola da Vida. (Você
encontrará estes formulários no final deste capítulo.)
1. Se você pudesse agitar uma varinha mágica de modo que todos esses pen-
samentos e sentimentos problemáticos não tivessem mais nenhum impacto
em você, o que você começaria a fazer, ou faria mais vezes? O que você pa-
raria de fazer, ou faria menos? Como você mudaria seu comportamento em
relação a seus amigos, parceiro/a, filhos, pais, parentes, colegas de trabalho,
etc.? Como você agiria diferentemente em casa, no trabalho, no lazer?
2. Você sente às vezes um senso de propósito, significado, vitalidade ou reali-
zação – ainda que seja só por um breve instante? Quando está fazendo o
quê? O quê, quando, onde, como e com quem?
3. Se, no processo de lidar com uma questão difícil ou dolorosa, você pudesse
desenvolver algumas fortalezas pessoais bem como qualidades e habilidades
que ajudariam você de alguma forma a se tornar uma “pessoa melhor”, ou a
“crescer como ser humano”, ou a “fazer diferença na vida dos outros”, quais
seriam essas fortalezas, qualidades ou habilidades?
4. O que você está fazendo em sua vida atualmente que não é coerente com a
pessoa que, no fundo de seu coração, você realmente quer ser? O que você
gostaria de fazer de forma diferente?
5. Se o trabalho que estamos fazendo aqui pudesse ter um impacto positivo so-
bre os relacionamentos mais importantes em sua vida, que relacionamentos
melhorariam? E como? Como você gostaria de ser nestes relacionamentos
se você pudesse ser o você ideal?
1. “Eu não aguento mais me sentir assim.” Esta resposta aponta para a agenda de
esquiva experiencial. Você pode dar seguimento perguntando sobre quais pen-
samentos/sentimentos/memórias são as mais difíceis de sentir, ou as mais inde-
sejáveis, ou quais têm o maior impacto.
2. "Eu apenas quero ser normal." Esta resposta aponta para a fusão com o eu
conceitual. O cliente possivelmente está fundido com " Eu sou anormal/ estra-
nho/fraco [ou outros]." Você pode dar seguimento perguntando: "Então, o que
sua mente diz sobre o que esse problema significa para você?"
3. "Isso me impede de ser ou fazer X, Y, Z." Esta resposta muitas vezes aponta pa-
ra valores e objetivos. Você pode dar seguimento solicitando mais informação
sobre X, Y e Z.
Observações sobre a seção 2: Avaliação Inicial de Valores. Incluí muitas questões nesta
seção para dar a você uma variedade de opções para eliciar valores. Não há necessidade de
fazer todas estas perguntas para cada cliente; você deve escolher as que são mais relevantes
ou provavelmente mais úteis para cada cliente. (Se você receber respostas como "Eu não sei"
para cada questão que você fizer, e seu cliente não quer ou não sabe preencher os formulários
Tiro ao Alvo ou Bússola da Vida, isto é informação útil; isto é uma indicação de que você
está lidando com um cliente que está no ápice do espectro da esquiva experiencial, e você
provavelmente terá de ajudá-lo a desenvolver habilidades de desfusão e aceitação antes que
possa chegar nos valores em profundidade.) O Tiro ao Alvo é uma ferramenta de avaliação
mais simples do que a Bússola da Vida e é uma escolha inicial melhor se você suspeitar de
que seu cliente tem esquiva experiencial elevada.
Observações sobre a seção 3: O Contexto de Vida Atual, História Familiar, História So-
cial, Outras Ferramentas de Avaliação. O contexto de vida inclui saúde, medicações, traba-
lho, finanças, relações, família, cultura, etc. Procure também por fatores que reforçam o pro-
blema – por exemplo, receber atenção, manipular outros, obter benefícios por incapacitação,
evitar medo de rejeição/intimidade/fracasso, adesão a crenças culturais, etc. Identifique estes
fatores o quanto antes pois eles provavelmente irão gerar barreiras para o avanço da terapia.
Mantenha seus olhos e ouvidos abertos para "ganhos secundários". Por exemplo, quando o pai
somente ajuda a mãe com suas três crianças pequenas quando ela está acamada sentindo-se
"deprimida demais para fazer algo", então este ganho secundário pode ser uma barreira para a
recuperação da mãe.
A história familiar e a história social também incluem relações significativas do passado e do
presente, e como o cliente percebe como foi impactado por esta história. Aqui estamos olhan-
do para o contexto mais amplo da vida do cliente tal como é hoje, bem como para eventos
chave do passado que moldaram o comportamento atual do cliente e contribuíram para pen-
samentos, sentimentos, memórias problemáticas, etc. que aparecem na sua vida atualmente.
Em particular, note fatores sociais e financeiros que desempenham um papel nos problemas
atuais do cliente.
Pessoalmente tendo a passar bem rapidamente por estes aspectos com a maioria dos meus
clientes pois sei que posso coletar mais informações quando se fizer necessário. Entretanto,
63
como tudo na ACT, você pode modificar isso de acordo com as suas preferências e necessi-
dades. Assim, se você quiser fazer uma conceituação mais profunda sobre como o comporta-
mento atual foi moldado pela experiência passada, então aconselho você a demorar mais para
explorar a história passada do cliente.
Observações sobre a seção 4: Inflexibilidade Psicológica. Esta seção é bem autoexplicativa:
estamos à procura de processos patológicos centrais nos quais iremos mirar depois com aten-
ção plena e ações baseadas em valores.
Observações sobre a seção 5: Fatores Motivacionais. A esta altura você já deverá ter junta-
do muitas dessas informações através das seções 1, 2 e 3. É claro, com alguns clientes você
inicialmente terá poucas respostas úteis para estas questões sobre valores e objetivos. Mas isto
está bem: isto apenas diz a você que este cliente provavelmente necessita ser trabalhado para
desenvolver habilidades de desfusão e aceitação antes que se possa trabalhar valores com ele.
O próprio fato de este cliente ter procurado terapia aponta na direção de valores. Por exemplo,
em um caso extremo como de um cliente que recebeu uma sentença em que tem como opções
fazer terapia ou ir para a prisão, o próprio fato de ele ter vindo ver você aponta para valores
relacionados a liberdade. (Você também pode usar o acrônimo FEAR para identificar obstácu-
los à mudança: para maiores detalhes veja o capítulo 12.)
Observações sobre a seção 6: Flexibilidade Psicológica e Pontos Fortes do Cliente. Ava-
lie as áreas de vida nas quais o cliente já exibe flexibilidade psicológica através de desfusão,
aceitação, um sentido de eu-como-contexto, contato com o momento presente, conexão com
valores e adoção de ação comprometida. Isto é uma parte extremamente importante da anam-
nese. Se imaginamos a flexibilidade psicológica numa escala de 0 a 100, provavelmente não
haveria nenhum cliente que pontuasse zero. Vamos descobrir então quais elementos da flexi-
bilidade psicológica ele já está usando, em que contextos, e com que resultados. Talvez você
queira fazer-lhe perguntas diretas, como as seguintes:
Você alguma vez percebeu que é capaz de se desligar de seus pensamentos ou não le-
vá-los tão a sério? Você já percebeu sua mente lhe criticando, mas você não se dei-
xando influenciar por isso?
Você já se deu conta de que consegue tolerar seus sentimentos mesmo quando são
muito desagradáveis?
Você já teve uma percepção de ser capaz de “dar um passo atrás” e apenas observar
pensamentos e sentimentos dolorosos em vez de lutar contra eles?
Você tem alguma prática espiritual, religiosa ou meditativa? (Você pode perguntar es-
pecificamente sobre yoga, tai chi, artes marciais, meditação, prece, etc.)
Quando você se sente conectada com a vida, consigo mesmo ou com mundo? Quando
você tem sensações de significado, propósito e vitalidade? Fazendo que tipo de ativi-
dades? Aonde? Quando? Com quem? Quando você tem uma sensação de que está fa-
zendo o máximo em sua vida, ou contribuindo para algo importante, ou se conectando
com algo que “puxa você para fora de si mesmo”?
Quando você se “puxa” e faz o que precisa fazer independente de como está se sentindo?
Quando você está plenamente presente – ou seja, consciente e engajado no que está
fazendo em vez de estar “perdido em sua cabeça”? Fazendo que tipo de atividades?
Com quem? Aonde? E quando?
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Obter um Consentimento Livre e Esclarecido
O consentimento livre e esclarecido inclui alguma argumentação sobre:
o modelo da ACT: o que é a ACT e o que isso envolve;
a importância dos exercícios vivenciais e da prática de habilidades; e
possíveis experiências adversas.
Para passar da anamnese para o consentimento livre e esclarecido, você pode dizer algo como
“Existe bastante coisa que eu poderia lhe perguntar sobre isso, mas você já me forneceu material
suficiente para começarmos. O que eu gostaria de fazer neste ponto é falar-lhe um pouco sobre a
linha terapêutica que eu utilizo, o que ela envolve, possível duração da mesma, e basicamente me
certificar de que é a abordagem apropriada para você. Pode ser?
Observe a frase em itálico: lidar com nossos pensamentos e sentimentos dolorosos mais efeti-
vamente de formas que eles tenham menos impacto e influência sobre nós. Esta redação é
muito importante. A ACT não tem nada a ver com reduzir, evitar, eliminar ou controlar estes
pensamentos e sentimentos – ela tem a ver com reduzir seu impacto e influência sobre o com-
portamento (com vistas a facilitar o viver com base em valores).
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Dica Prática: Você não precisa necessariamente usar as palavras mindfulness ou
“atenção plena”. Isto está bem para a maioria dos clientes, mas algumas associ-
am estas palavras com hipnose, religião, ou o movimento New Age. Assim, em
vez de usar essas palavras, você falar sobre “habilidades psicológicas” ou “no-
vas maneiras de lidar com seus pensamentos e sentimentos”; você pode tam-
bém usar expressões alternativas como “observar”, “notar”, “abrir-se”, “cen-
trar-se”, “estar presente”, “focar”, “prestar atenção”, etc.
Quando os clientes querem mais detalhes. Neste ponto, alguns clientes poderão solicitar mais
detalhes sobre o que está envolvido. Se isto ocorrer, você pode dizer algo como o que segue (ajus-
tando sua resposta para responder de forma mais específica a pergunta do cliente):
Terapeuta: Bem, o que fazemos pode variar enormemente de uma sessão para outra. Em
algumas sessões vamos focar em como ajudar você a deixar ir pensamentos,
memórias ou preocupações dolorosas, ou a se libertar de crenças autolimitan-
tes. Às vezes iremos olhar para novas formas de lidar com sentimentos fortes
como medo, raiva, tristeza ou culpa. Outras vezes iremos focar em entrar em
contato com o que é mais importante para você, estabelecer objetivos, ou
elaborar um plano de ação efetivo. Ou seja, o que iremos fazer poderá variar
muito dependendo de qual é o problema, de como você está conseguindo li-
dar com ele e do que você considerou útil.
Um pequeno número de clientes talvez peça mais informações nesse ponto sobre que tipo de habi-
lidades eles irão aprender ou que exercícios irão fazer. Se isso ocorrer, você poderia responder com
algo assim:
Terapeuta: Penso que é legal que você esteja impaciente para saber mais, mas tentar des-
crever exatamente o que fazemos na ACT é mais ou menos como tentar des-
crever como é esquiar, mergulhar ou andar de cavalo: você pode falar sobre
isso extensivamente, mas você nunca saberá de fato como são até que come-
ce a praticá-los. Da mesma forma, não vou conseguir transmitir em palavras
o que a ACT realmente é. Mas o que pretendo fazer daqui a pouco é conduzir
66
você em um exercício curto para lhe dar um gosto do que está envolvido. Ca-
so não sobre tempo hoje, então vamos deixar para a próxima sessão. Isto está
bem para você?
(Outra possibilidade seria conduzir o cliente através da Metáfora da ACT Resumida que está no
capítulo 1. Entretanto, antes que faça isso, há algumas coisas a serem consideradas. Primeiro,
a metáfora é apropriada para este cliente neste ponto da terapia? Estou tendo a cautela neces-
sária ao utilizá-la com pacientes com baixo funcionamento ou com aqueles que suspeito se-
rem extremamente evitativos experiencialmente porque eles podem interpretar mal a mesma,
criticá-la, ou insistir que não funcionará com eles? Em contraste, pacientes com funcionamen-
to mais elevado tipicamente começam a gostar de fazê-lo. Segundo, você está com tempo
suficiente nesta sessão? Você deve reservar alguns minutos para executar este exercício e se
assegurar de que terá pelo menos outros cinco minutos para abordar perguntas e preocupações
do cliente. E, por último, mas não menos importante, não defendo o uso dessa metáfora como
parte do consentimento livre e esclarecido enquanto você não tiver um pouco mais de prática
na ACT e uma compreensão mais acurada do modelo de modo que possa abordar qualquer
dúvida ou preocupação que vierem a surgir em maneira efetiva e consistente com a ACT.)
Quando o cliente tem dúvidas. Vamos supor que seu cliente diga: “Acho que isto não vai
funcionar pra mim”. Pensamentos como este são perfeitamente naturais, e somente são pro-
blemáticos se o cliente se funde com eles. Se isto ocorrer, você tem em suas mãos uma opor-
tunidade perfeita para estabelecer um contexto de aceitação e desfusão. Por exemplo, você
pode dizer: “Este é um pensamento perfeitamente natural. Muitas pessoas sentem dúvidas no
começo. E o fato é que não existe nenhum tratamento que possa garantir que vai funcionar
com todas as pessoas. Então eu não posso prometer que isto vai funcionar com você. Eu pos-
so te dizer que funcionou com muitas outras pessoas, e eu posso puxar todos os estudos e arti-
gos de pesquisa que foram publicados, mas mesmo isto não vai garantir que vai funcionar
para você. Entretanto, existe uma coisa que eu posso garantir: se pararmos com a sessão toda
vez que você tiver o pensamento Isto não vai funcionar, então eu posso garantir com absoluta
certeza de que NÃO chegaremos a lugar algum. Então, mesmo que você tenha o pensamento
de que isto não vai funcionar, você está disposto a fazer uma tentativa mesmo assim?”.
Observe que não estamos desafiando o pensamento do cliente. Em vez disso, estamos vali-
dando o mesmo como natural e normal. E estamos estabelecendo um contexto onde (a) é ok
para o cliente ter esse pensamento (aceitação), e (b) o pensamento é apenas um pensamento e
não controla as ações do cliente (desfusão).
POSSÍVEIS EXPERIÊNCIAS ADVERSAS
Depois passamos a discutir possíveis consequências adversas da terapia. Gosto de usar a metá-
fora da montanha russa: “Se quisermos aprender novas habilidades para lidar com pensamentos
e sentimentos dolorosos, vamos ter que trazer à tona alguns desses pensamentos e sentimentos
durante a sessão de modo que você algo com que praticar. Isto significa que de vez em quando
a terapia pode ficar um pouco parecida com andar de montanha russa. Mas eis minha garantia:
Vou estar na montanha russa com você no carrinho a seu lado.” Se você sabe que seu cliente é
uma pessoa com esquiva experiencial muito elevada ou tem a tendência de largar a terapia, en-
tão pode ser útil dizer algo do tipo: “Você pode de vez em quando vir a sentir um forte impulso
de parar com a terapia. Isto é completamente natural e normal, e se isto vier a ocorrer, então
quase sempre vai ser quando você estiver se defrontando com uma questão muito importante –
geralmente algo que pode ter um impacto enorme em sua vida. Então, sempre que você come-
çar a se sentir assim, espero que esteja disposto a compartilhar isso comigo de formas que a
gente possa trabalhar sobre esses sentimentos durante nossas sessões.”.
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Acordo em Relação aos Objetivos de Tratamento
Conseguir um acordo sobre aos objetivos e formular um plano de tratamento pode não vir de
forma natural para você, mas é importante; de outra forma, como você saberia que rumo se-
guir em suas sessões? É claro que enquanto vocês elaboraram o consentimento livre e esclare-
cido, vocês já combinaram alguns objetivos básicos do tratamento: que durante as sessões o
cliente aprenderia habilidades de atenção plena, clarificaria valores, e utilizaria valores para
guiar a mudança comportamental, e entre uma sessão e outra, praticaria e aplicaria estas novas
habilidades. Para alguns clientes isto pode ser tão aproximadamente detalhado quanto se con-
segue numa primeira sessão.
Se o seu cliente preencheu o formulário Tiro ao Alvo ou o Bússola da Vida, você pode per-
guntar para ele: “Se você tivesse que escolher apenas uma dessas áreas da vida para começar
a trabalhar sobre a mesma, qual delas vocês escolheria? Como você gostaria de melhorá-la?”
Com um pouco de sorte, isto vai lhes dar alguns objetivos úteis e baseados em valores para
utilizarem como objetivos do tratamento. Entretanto, alguns clientes no começo irão lhe for-
necer “objetivos emocionais”, “objetivos de pessoa morta” ou “objetivos de insight”. Vamos
agora dar uma rápida olhada em cada um dos mesmos.
OBJETIVOS EMOCIONAIS
“Eu só quero ser feliz”, “não quero ficar deprimido”, “quero parar de me sentir ansioso”,
“quero me sentir autoconfiante”, “quero ter uma autoestima mais elevada”, “quero seguir em
frente”, “quero me sentir mais calmo”, “quero parar de me preocupar”. Na ACT chamamos
isto de “objetivos emocionais” porque em cada caso o objetivo é ter controle sobre como nos
sentimos: livrar-se de pensamentos e sentimentos “ruins” e substituí-los por “bons”.
Se concordamos com estes objetivos, estaremos reforçando a esquiva experiencial, um pro-
cesso patológico central e que é o oposto da atenção plena. Entretanto, se dissermos isto ao
nosso cliente sem rodeios, isto provavelmente vai ser contraproducente. Então é melhor dizer
algo do tipo: “Ok. Você me permite dizer isso dessa forma? Existem pensamentos e sentimen-
tos dolorosos com os quais você tem estado lutando, e um dos objetivos da terapia é aprender
novas maneiras de lidar com eles.”
Tendo dito tudo isso, existem algumas poucas circunstâncias especiais nas quais é melhor ser
muito claro e específico de que nosso objetivo é exatamente não eliminar pensamentos e sen-
timentos indesejáveis. Por exemplo, suponha que você tem um cliente com TEPT que lhe diz:
“Eu apenas quero me livrar dessas memórias”. Uma resposta útil para isto poderia incluir a
Metáfora do Filme de Terror.
68
teragindo – conversando, rindo, comendo, se divertindo. O filme é exatamente
o mesmo – está passando na TV no canto da sala – mas está exercendo muito
menos efeito em você. As habilidades de atenção plena irão capacitar você a
fazer este tipo de coisa. Não conheço nenhuma maneira de deletar permanen-
temente estas memórias, mas você pode mudar a relação que tem com elas de
modo a poder continuar a viver sua vida e fazer aquelas coisas que você real-
mente quer fazer.
69
na terapia. O que iríamos ver ou ouvir no novo vídeo que indicaria que a tera-
pia foi útil? O que iríamos ver ou ouvir você dizendo? O que notaríamos de
diferente na maneira em que você interage com outras pessoas ou na maneira
em que você gasta seu tempo?
OBJETIVOS DE INSIGHT
“Quero entender por que sou assim”, “Preciso descobrir por que continuo fazendo isso”,
“Quero descobrir quem realmente sou”. Objetivos de tratamento como estes costumam levar
facilmente para a “paralisia da análise” – para uma sessão após outra de discussões intelec-
tuais/teóricas/conceituais e reflexões sem fim sobre o passado em vez de sobre o desenvol-
vimento de novas habilidades para viver com atenção plena e com base em valores.
Como sempre acontece na ACT, os clientes irão desenvolver uma grande quantidade de
compreensão e de insight sobre seu próprio comportamento, pensamentos, sentimentos, per-
sonalidade e identidade. Eles geralmente terão percepções poderosas sobre quem são, como
suas mentes funcionam, o que realmente querem na vida, como o passado os influenciou, e
por que fazem as coisas que fazem. Mas na ACT desenvolvemos estes insights através do
trabalho vivencial, e não através de longas discussões analíticas. Além disso, este insight
não é um fim em si mesmo: é simplesmente algo que acontece na jornada rumo ao desejado
resultado de uma vida com atenção plena e baseada em valores.
Para ir para um objetivo de tratamento mais útil, digo: “Como parte do trabalho que fazemos jun-
tos, você certamente receberá muito mais insight sobre quem você é, e sobre o que você realmente
quer na vida. Tudo isto já é uma situação estabelecida; acontece como parte do processo na ACT.
Quando pergunto o que você quer da terapia, o que quero dizer é, uma vez que você tem o insight
e a compreensão, o que você quer fazer de forma diferente? Se você tivesse esse conhecimento, o
que você faria que você não está fazendo agora? Como você se comportaria de modo diferente? O
que outras pessoas notariam de diferente em você?
70
Observe como o terapeuta divide a questão em três elementos: (1) ficar preso em pensamen-
tos, (2) lutar com sentimentos, e (3) ações disfuncionais. Isto é intencional. Podemos sutil-
mente estabelecer as bases para dois insights chave:
Dica Prática: Alguns clientes têm tantas questões a resolver que eles não sabem
por onde começar, ou se sentem sufocados. Nestes casos, os formulários do Tiro
ao Alvo ou da Bússola de Vida são muito úteis. Você pode dizer ao cliente: "Esco-
lha um desses domínios e vamos começar por ali. O que você faria de forma di-
ferente nesta área de sua vida?"
71
Objetivos de tratamento genéricos. Às vezes, apesar dos seus melhores esforços, seu cli-
ente será incapaz ou não estará disposto a lhe fornecer qualquer objetivo específico orienta-
do por valores. Ele pode continuar respondendo "Não sei", "Nada me importa" ou "Só quero
parar de me sentir assim", ou "Apenas quero me sentir feliz". Nestes casos, não force nada;
apenas aceite que por agora seus objetivos de tratamento serão vagos e genéricos. A seguir
apresento duas alternativas que você poderia utilizar nestes casos.
Terapeuta: Então, que tal se concordássemos com o seguinte? O trabalho que faremos aqui
será baseado em duas coisas. Primeiro, aprender novas maneiras de lidar com
seus pensamentos e sentimentos de forma mais efetiva de modo que não pos-
sam mais impedir você de viver a vida que você quer viver. Segundo, embora
agora você não tenha nenhuma ideia sobre o que você quer e se sinta como se
nada importasse, vamos fazer disto um lugar onde você pode descobrir o que
importa para você e que tipo de vida você quer ter. E uma vez que tivermos
descoberto isso, vamos começar a fazer isso acontecer.
Terapeuta: Então, por enquanto, vamos apenas dizer que o trabalho que faremos aqui será
sobre dar a você uma vida que te empolga, uma vida que você sente que é dig-
na de ser vivida. Neste momento, você ainda não sabe como seria essa vida,
mas isso está bem. Vamos descobrir isso à medida que formos avançando. As-
sim, uma das metas de nosso trabalho aqui será descobrir o que é importante
para você e que tipo de vida você quer viver. E uma outra meta será aprender
maneiras melhores de lidar com a dor que a vida está te trazendo atualmente. E
ambas as metas em última instância servem a um só propósito: criar uma vida
rica e significativa.
Dica Prática: Observe em todos estes exemplos como o terapeuta utiliza ter-
mos e expressões como "lidar com" a dor em vez de "controlar", "reduzir" ou
"eliminar". A atenção plena não é um caminho para controlar, reduzir ou elimi-
nar pensamentos e sentimentos; é uma maneira de "lidar com eles gentilmente"
ou "acolhê-los compassivamente" ou "segurá-los com leveza". Outros termos
que você pode usar incluem "retirar-se da batalha", "parar com a luta" ou "mu-
dar sua relação" com seus pensamentos e sentimentos.
72
publicado de ACT para estresse crônico e dor é baseado em um protocolo de oito ho-
ras (Dahl et al., 2004)
Terapia Muito Breve: por exemplo um estudo publicado sobre ACT para esquizofre-
nia crônica consiste em apenas três ou quatro sessões de uma hora. Esta intervenção
muito breve levou a uma redução de 50 por cento nas taxas de readmissão hospitalar.
(Obviamente, com estas intervenções de ACT muito breves, não é como se o cliente abra-
çasse total e plenamente a vida consciente, baseada em valores e nunca mais tivesse pro-
blemas. Trata-se mais de fornecer os elementos centrais da ACT – estar presente, abrir-se,
fazer o que importa – de uma forma rápida e com benefícios significativos. O cliente então
se torna seu próprio terapeuta ACT, e todos os tipos de problemas e desafios que a vida lhe
trouxer irão lhe oferecer oportunidades para desenvolver suas habilidades.)
Alguns livros-texto de ACT sugerem que se faça um acordo para doze sessões inicialmente,
mas não há nada mágico sobre esse número, assim você pode ajustá-lo de acordo com sua
clientela. Por exemplo, na Austrália, o país em que eu moro e pratico, não há a mesma aber-
tura para a terapia que existe nos Estados Unidos, e por isso costumo combinar apenas seis
sessões inicialmente.
Neste ponto, dizemos ao cliente que a terapia não é uma jornada suave, mas envolve altos e
baixos. Por exemplo, você pode dizer: "Uma coisa que devo mencionar é que a terapia nem
sempre progride sem problemas. Às vezes você dá um grande salto para frente; e às vezes
você dá um grande passo para trás. Então, porque pode ser um pouco para cima e para bai-
xo, eu me pergunto se você se comprometeria com seis sessões inicialmente – e no final
desse período vamos avaliar como a terapia está indo e verificar se você precisa de mais
sessões. E vai ser você quem vai tomar essa decisão, não eu. Você vai avaliar se estamos
fazendo progressos ou não. Agora, obviamente, algumas pessoas não precisam de todas as
seis sessões, e outras acabam precisando de mais do que isso. Neste ponto, é difícil para
mim prever quantas sessões você irá necessitar, então pergunto se você estaria disposto a
comprometer-se inicialmente com seis sessões?"
73
Dica Prática: Muitas pessoas não gostam do som da expressão "lição de casa".
Ela carrega todo tipo de conotações negativas. Eu prefiro o termo "prática" ou
"experiência". Por exemplo, você pode dizer: "Você estaria disposto a praticar
algo entre agora e a próxima sessão?" Ou "Você estaria disposto a experimentar
isso e ver o que acontece? ".
Formulários
Este livro contém muitos formulários para clientes. Muitas vezes, eles são úteis porque atuam
como um lembrete da sessão, aumentam as chances de seu cliente concluir as tarefas, e forne-
cem bons materiais para a próxima sessão. (Mas eles não são essenciais e você certamente
pode fazer ACT de forma efetiva sem usar formulários, se você preferir não usá-los.)
No final da primeira sessão, se você não obteve muita informação sobre valores, e não conse-
guiu que o cliente preenchesse um formulário (Bussola de Vida ou Alvo), então você poderia
pedir-lhe que o fizesse como lição de casa. Por exemplo, você pode dizer: "Já falamos muito
sobre seus problemas hoje – os pensamentos e sentimentos com os quais você luta e as coisas
que você faz que pioram a sua vida – mas não falamos muito sobre o tipo de vida que você
quer viver, ou seja, sobre o que realmente interessa a você no quadro maior. Então, estou pen-
sando, se entre esta e próxima sessão, você estaria disposto a preencher este formulário, que
pede que você pense nessas coisas?" Outros formulários que você pode fornecer são o Diário
de Vitalidade versus Sofrimento ou o Formulário Problemas e Valores. Você pode explicar
que esses formulários ajudam a reunir mais informações para orientar a terapia. (Os formulá-
rios estão no final deste capítulo, ou podem ser baixadas gratuitamente (em inglês) a partir de
www.actmindfully.com.au ).
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ultrapassa a mera leitura. E porque você é a melhor pessoa para praticar, muitos desses exer-
cícios pedem que você trabalhe em seus próprios problemas.
Então, aqui estão algumas coisas que eu recomendo:
1. Leia em voz alta e parafraseie todas as falas do terapeuta nas transcrições acima – es-
pecialmente sobre o consentimento informado – para se acostumar a falar a linguagem
da ACT.
2. Faça algumas conceituações de casos rápidos. Escolha dois clientes e escreva respos-
tas breves para estas quatro perguntas: Qual é a direção de valor para o qual o cliente
deseja se mover? Com o que ele está fundido? O que ele está evitando? De que forma
não funcional ele está agindo?
3. Pratique resumindo os objetivos do tratamento. Escolha dois clientes e imagine como
você resumiria os objetivos do tratamento, usando as sugestões dadas neste capítulo.
À medida que você faz esses exercícios e todos os outros apresentados neste livro, por favor,
conceda-se permissão para fazê-los mal. Você está aprendendo um novo modelo de terapia,
então permita-se ser um iniciante, um novato, um aprendiz. Os iniciantes cometem erros (e os
especialistas também). Errar é uma parte essencial do processo de aprendizagem. E se a sua
mente começa a espancar você, então tome nota do que ela diz, para que você possa trabalhar
com esses pensamentos no capítulo 7.
SESSÕES SUBSEQUENTES
Uma das decisões mais difíceis para os novos profissionais de ACT é esta: após a sessão 1,
aonde eu começo no hexaflex? Não existe uma resposta "correta" para esta questão. Em reali-
dade não existe um ponto de partida "certo" ou "errado", pois todos os seis processos princi-
pais estão interligados e sobrepostos. (Se você é novo na ACT, essa interconectividade talvez
não fique clara até que você termine de ler este livro.) Na verdade, à medida que você se fa-
miliarizar com a ACT, você normalmente se encontrará lidando com a maioria ou com todos
os pontos do hexaflex na maioria ou em todas as sessões. À medida que você faz isso, alguns
processos serão explícitos, ou seja, você se concentrará diretamente neles na sessão – enquan-
to os outros permanecem implícitos – isto é, presentes, mas "em segundo plano".
Em termos de sessões subsequentes, os protocolos tradicionais da ACT seguem uma sequên-
cia específica:
1. Desfusão e aceitação
2. Contato com o momento presente
3. Eu-como-contexto
4. Valores e ações comprometidas
Uma sequência bem menos comum, mas que eu recomendo para couching, trabalho com ca-
sais, clientes em terapia por determinação judicial, ou clientes sem motivação, é esta:
1. Valores e ações comprometidas
2. Desfusão e aceitação
3. Contato com o momento presente
4. Eu-como-contexto
Há também um componente opcional da ACT chamado desesperança criativa, que significa
entrar em contato com os custos e a inutilidade da esquiva experiencial. A desesperança cria-
75
tiva só é essencial se e quando os clientes estão tão intimamente apegados à agenda de contro-
le emocional que não estão abertos à atenção plena e à aceitação. Você pode utilizar a deses-
perança criativa em qualquer ponto na terapia onde ela se tornar necessária -– no entanto, os
protocolos tradicionais da ACT começam com ela para estabelecer as bases para a aceitação.
Como eu sou um tipo de cara tradicional (você notou meu eu conceitual aí?), nos próximos
sete capítulos, eu vou levá-lo através da sequência tradicional, começando com a desesperan-
ça criativa. No entanto, tenha em mente que não há divisões precisas entre os diferentes com-
ponentes do modelo: quando falamos sobre a "sequência de componentes", é uma maneira
conveniente de descrever a ênfase principal em cada uma dessas sessões. Por exemplo, é difí-
cil imaginar uma sessão centrada exclusivamente na aceitação sem um elemento de valores ou
uma sessão focada puramente em valores sem alguma desfusão.
Lembre-se também que, uma vez que você sabe o que está fazendo, você pode "dançar" em
torno do hexaflex em qualquer sequência que possa ser clinicamente eficaz. Por exemplo, se
você tem um cliente que se dissocia facilmente, você pode começar uma terapia ativa traba-
lhando o contato com o momento presente, ensinando-lhe exercícios de atenção plena simples
para que se "aterre" e se centre.
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Onde o comportamento inviável é insensato ou desatento (isto é, feito impulsivamente
ou no piloto automático), podemos trabalhar com a atenção plena: ajudar o cliente a se
tornar plenamente consciente e envolvido no que ele está fazendo.
Onde o comportamento inviável e fortemente influenciado pela fusão com crenças
inúteis, podemos trabalhar tanto na desfusão das crenças quanto na clarificação de va-
lores como fonte alternativa de motivação.
Onde o comportamento inviável é fortemente influenciado pela esquiva de experiên-
cias privadas indesejadas, podemos trabalhar na disposição de ter essas experiências
privadas.
Onde o comportamento inviável é devido à ineficácia, ou seja, devido a déficits de ha-
bilidades ou falha em usar habilidades apropriadas, podemos trabalhar na construção e
aplicação das habilidades necessárias.
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terior.) Se você não estiver seguindo um protocolo, você pode retomar de onde parou na ses-
são anterior ou trabalhar sobre um novo problema que tenha acabado de surgir.
Tarefa de casa. É importante enfatizar repetidamente aos clientes que o que fazem entre ses-
sões é o que realmente vai fazer toda a diferença em suas vidas. As habilidades de atenção
plena exigem prática. A ação baseada em valores requer esforço. Você precisa combinar de
forma colaborativa, antes do final de cada sessão, o que o cliente irá praticar, fazer ou experi-
mentar entre sessões. (Mas seja cuidadoso - não fique muito insistente ou use valores coerci-
tivamente.)
RESUMO
Para resumir, as tarefas principais para uma primeira sessão são construir vínculo, obter o
consentimento informado e fazer uma avaliação básica. Ao avaliar os problemas atuais, pro-
cure por fusão, esquiva e ação inviável. E ao avaliar os resultados desejados da terapia, procu-
re valores e metas congruentes com valores. E basicamente é isso; essa é a principal informa-
ção que você precisa para ajudar seu cliente a se mover do sofrimento para a vitalidade.
Claro, não é tão fácil quanto parece em um resumo de quatro frases. Fazer ACT efetivamente
exige prática – e muita prática. E o fato é que há um monte de informações neste capítulo, e
maioria dos leitores não vai absorver tudo isso de primeira. Então, sugiro fortemente que, as-
sim que você terminar o livro, volte e leia este capítulo novamente. E garanto que tudo irá
parecer muito mais simples então.
Os formulários para clientes mencionados neste capítulo são apresentados abaixo:
O Alvo
Dissecando o Problema
Bússola de Vida
Formulário de Problemas e Valores
Diário de Vitalidade versus Sofrimento
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O ALVO
SEUS VALORES: O que você quer fazer com o seu tempo neste planeta? Que tipo de pessoa quer
ser? Quais são as forças ou qualidades pessoais que você deseja desenvolver? Escreva algumas pa-
lavras abaixo de cada título abaixo.
2. Relacionamentos: inclui o seu parceiro, filhos, pais, parentes, amigos, colegas de trabalho.
4. Lazer: como você joga, relaxa ou se diverte; atividades de descanso, recreação, diversão e criati-
vidade.
O ALVO: faça um X em cada área da placa de dardo, para representar onde você se encontra hoje.
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DISSECANDO O PROBLEMA
Este formulário é para ajudar a coletar informações sobre a natureza do principal desafio, problema ou difi-
culdade que você enfrenta. Primeiro, sintetize, em 1 ou 2 frases, qual a principal questão ou problema:
Agora, descreva, em 1 ou 2 frases, como isso afeta sua vida e o que isso impede de fazer ou ser:
Independentemente de qual seja seu problema - seja uma doença física, um relacionamento difícil, uma situ-
ação no trabalho, uma crise financeira, uma questão de desempenho, a perda de um ente querido, uma le-
são grave ou um transtorno clínico como a depressão - quando dissecamos o problema, geralmente encon-
tramos quatro elementos importantes que contribuem significativamente para o problema. Estes são repre-
sentados nas caixas abaixo. Escreva o máximo possível em cada caixa, sobre os pensamentos, sentimentos e
ações que contribuem ou agravam o desafio, problema ou problema que você enfrenta.
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BÚSSOLA DE VIDA
Na parte principal de cada caixa grande, escreva algumas palavras-chave sobre o que é importante
ou significativo para você nesta área da vida: que tipo de pessoa você quer ser? Que tipo de fortale-
zas e qualidades pessoais você quer cultivar? O que você quer que a sua vida represente? O que
você quer fazer? Como você quer se comportar em termos ideais?
(Se uma caixa parece irrelevante para você, tudo bem, basta deixá-lo em branco. Se você ficar "pre-
so" em uma caixa, então pule a mesma, e volte a ela mais tarde. E tudo bem se as mesmas palavras
aparecerem em várias ou em todas as caixas: Isso ajuda você a identificar valores fundamentais que
perpassam muitas áreas de sua vida.)
Depois de ter feito isso para todas as caixas, repasse todas elas e no quadrado pequeno superior
dentro de cada caixa, marque uma escala de 0 a 10 de quão importante esses valores são para você,
neste momento da sua vida: 0 = sem importância, 10 = extremamente importante. (Tudo bem se
vários quadrados tiverem o mesmo resultado.) Finalmente, no quadrado pequeno inferior dentro de
cada caixa, marque uma escala de 0 a 10 de como efetivamente você está vivendo por esses valores
agora. 0 = nada 10 = vivendo por eles completamente (Novamente, tudo bem se vários quadrados
tiverem a mesma pontuação).
Finalmente, dê uma boa olhada no que escreveu. O que isso diz sobre: a) O que é importante em
sua vida? b) O que você está atualmente negligenciando?
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PROBLEMAS E VALORES
A Terapia de Aceitação e Compromisso visa reduzir o sofrimento e enriquecer a vida, conforme
mostrado no diagrama abaixo. Para ajudar neste processo, existem quatro tipos de informações
(representadas pelas quatro colunas abaixo) que são particularmente importantes. Entre agora e a
próxima sessão, veja o que você pode escrever ou adicionar a cada coluna.
82
DIÁRIO - VITALIDADE versus SOFRIMENTO
Entre esta sessão e a próxima, mantenha um registro do que você faz
quando surgem pensamentos e sentimentos dolorosos, e note se essas
ações levam a uma maior vitalidade ou a um aumento do sofrimento.
Pensamentos e sentimentos As coisas que eu fiz quando esses As coisas que eu fiz quando esses
dolorosos, ímpetos, pensamentos e sentimentos apare- pensamentos e sentimentos apare-
sensações e/ou memórias que ceram - que levaram à VITALIDADE ceram e que levaram ao SOFRI-
(ou seja, enriqueceram minha vida, MENTO (ou seja, restringiram ou
apareceram hoje
ou melhoraram minha saúde, bem- pioraram minha vida, drenaram
estar ou relacionamentos no longo minha saúde e bem-estar, ou pre-
prazo) judicaram meus relacionamentos a
longo prazo)
83
CAPÍTULO 6
Desesperança o Quê??!!
A DESESPERANÇA CRIATIVA DE FORMA RESUMIDA
Em Linguagem Simples: Desesperança criativa significa abrir-se completamente à realidade de
que tentar exageradamente controlar como nos sentimos obstrui o caminho rumo a uma vida rica
e plena.
Objetivo: Aumentar a consciência da agenda de controle emocional; vivenciar que ela não funci-
ona e descobrir porque isso é assim.
Sinônimo: Confrontando a agenda.
Método: Olhe para o que o cliente fez para tentar controlar como ele se sente, examine se isto
melhorou ou piorou a vida dele, e o coloque em contato com a não funcionalidade de suas ações.
Isto cria a abertura necessária para um modo alternativo de lidar com pensamentos e sentimentos.
Quando usar: Quando o cliente está fortemente apegado a uma agenda de controle emocional.
Em muitos protocolos da ACT, é um precursor para o restante do trabalho.
CONFRONTANDO A AGENDA
Desesperança criativa (que não é um termo que utilizamos com os clientes) ou DC, também é
conhecido como “confrontando a agenda”, que é um resumo da expressão “confrontando a agen-
da de controle emocional”. A agenda de controle emocional baseia-se na seguinte ideia: quanto
mais você consegue controlar como você se sente, melhor será a sua vida. Durante qualquer ses-
são necessitamos, às vezes, confrontar a agenda de controle de nosso cliente.
84
julgamos estas estratégias como boas ou más, certas ou erradas, positivas ou negativas; nosso
propósito é pura e simplesmente ver como estas estratégias estão funcionando em termos de criar
uma vida melhor.
85
remos que ele se conecte com a realidade de que o que ele está fazendo muitas vezes funciona
a curto prazo para fazê-lo se sentir melhor, mas que isto não funciona a longo prazo para tor-
nar sua vida mais rica, plena e significativa.
Primeiro perguntamos: “O que você tentou fazer para se livrar desses pensamentos e senti-
mentos difíceis?” Pedimos ao cliente para nos contar sobre toda e qualquer estratégia de con-
trole que ele tenha usado.
Em seguida perguntamos "Como isso tem funcionado a longo prazo?" Perguntamos ao cliente
para avaliar se no longo prazo isto realmente funcionou: Isto reduziu a sua dor? Tornou sua
vida mais rica?
Finalmente perguntamos "Qual foi o custo para você por ter ter confiado excessivamente nestes
métodos?" Perguntamos ao cliente que observe os custos (quando esses métodos são usados ex-
cessiva ou inapropriadamente) em termos de saúde, bem-estar, relações, trabalho, lazer, energia,
dinheiro e tempo desperdiçado.
D - Distração: como você tentou se distrair desses pensamentos e sentimentos (por exem-
plo, TV, compras, etc.)?
O – Opting out (Autoexclusão): muitas vezes nos autoexcluímos (saímos, nos esquivamos ou
nos afastamos) de pessoas, lugares, atividades e situações quando não gostamos dos pen-
samentos e sentimentos que eles trazem para nós. Quais são algumas das coisas que você
exclui ou situações em que se autoexclui?
T –Thinking strategies (Estratégias de pensamento): como você tentou pensar em sua saída
para fora dos problemas? Sublinhe ou circule qualquer uma das seguinte possibilidades e
acrescente qualquer outro não listado:
Culpando os outros ou mundo, preocupando-se, revivendo o passado, fantasiando, pensan-
do positivo, afirmações positivas, resolvendo problemas, planejando, se autocriticando, ana-
lisando, tentando encontrar um sentido, fazendo de conta de que têm um sentido neles,
debatendo consigo mesmo, negando-se, se autoagredindo, etc. Ruminando pensamentos do
tipo "E se?", "Se apenas ...", "Por que eu?", "Não é justo!", ou outros semelhantes?
S - Substâncias, Automutilação, Outras estratégias: que substâncias você tentou ingerir (in-
cluindo alimentos e medicação prescritos)? Alguma vez você já tentou atividades de auto-
mutilação, como tentativas de suicídio ou correr riscos de forma imprudente? Outras estra-
tégia como, por exemplo, dormir excessivamente?
Quando você usou essas estratégias de forma excessiva, rígida ou inadequada, o que isso lhe
custou em termos de saúde, vitalidade, energia, relacionamentos, trabalho, lazer, dinheiro,
oportunidades perdidas, tempo desperdiçado?
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Alternativamente, você pode usar apenas o acrônimo DOTS como uma ajuda de memória para
você. Como a maioria dos clientes não consegue descartar uma lista de estratégias de controle,
você geralmente precisa induzi-las. DOTS ajuda você a lembrar as estratégias mais comuns usa-
das, a saber:
D – Distração
O – Opting out (Autoexclusão)
T – Thinking - Estratégias de Pensamento)
S – Substâncias, Automutilações, Outras estratégias
Há uma sobreposição considerável entre esses elementos: comer "porcariazitos" e beber vinho
pode estar sob distração ou substâncias. Sob "outras estratégias", você pode colocar qualquer coi-
sa desde dormir o dia inteiro a ficar socando a parede, fazer yoga ou terapia. Com esta sigla em
sua mente, você pode continuar perguntando ao cliente: "Você já tentou fazer isso?" Certifique-se
de perguntar sobre as terapias anteriores tentadas.
Como uma alternativa para o Ligue os Pontos (Join the DOTS), você pode preferir o formulário
Soluções Tentadas e Seus Efeitos de Longo Prazo (adaptado de Hayes et al., 1999).
88
Pergunta 1: O que você tentou?
Aqui, o terapeuta ajuda o cliente a identificar estratégias de controle, usando o acrônimo
DOTS (Ligando os Pontos).
Terapeuta: Resumindo, quando você tentou parar de beber no passado, isto nunca durou
muito, você tinha fissuras muito fortes ou você tinha sentimentos de ansiedade
e depressão e então você voltava a beber para fazê-los ir embora. Assim, nos-
sos objetivos aqui na terapia são (a) aprender algumas habilidades novas de
modo que você possa lidar com essas fissuras e esses sentimentos de uma for-
ma mais efetiva, (b) construir uma relação melhor com sua esposa, e (c) come-
çar a cuidar de seu fígado e torná-lo tão saudável quanto possível. Confere?
Cliente: Para ser honesto, eu na verdade não consigo pensar em nada.
Terapeuta: Bem, deixe-me ajudá-lo aqui. Uma das coisas mais comuns que as pessoas
fazem é tentar distrair-se para tirar esses pensamentos e sentimentos da cabeça.
Que tipo de coisas você faz para distrair-se de como você está se sentindo?
Cliente: Vejo TV. Escuto música. Fumo maconha.
Terapeuta: Computador?
Cliente: Sim, computador, navegar na Internet, muito tempo no YouTube assistindo
bobagem.
Terapeuta: E o que mais?
Cliente: (fica quieto, meneia a cabeça)
Terapeuta: Bem, outra coisa que as pessoas costumam fazer é começar a se esquivar de
coisas que fazem emergir sentimentos dolorosos. Há pessoas, lugares, situa-
ções ou atividades das quais você se afastou ou está mantendo distância?
O terapeuta continua desta maneira, trabalhando pontos do acrônimo DOTS. Uma vez con-
cluída esta primeira questão, passa para a questão seguinte.
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Terapeuta: Ok, então posso adicionar isso à lista – ficar pensando sobre o quanto você
odeia esses sentimentos?
Cliente: Bem, você não faria o mesmo?
Terapeuta: Bem, realmente não conheço ninguém que goste de sentimentos dolorosos. A
questão que nos interessa aqui é esta: qual a melhor forma de lidar com eles?
Os esforços que você fez para se livrar desses sentimentos levaram você na di-
reção de uma vida rica, plena e significativa, ou eles o levaram na direção da
luta e do sofrimento?
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Cliente: Sim, estou cansado.
Terapeuta: (aliviando a pressão) Ok, bem, vou diminuir a pressão aqui, mas você estaria
disposto a se manter pressionando suavemente por uns instantes mais? (O cli-
ente pressiona suavemente contra a prancheta.) Agora eu quero que você ob-
serve – enquanto você está fazendo isso – se eu pedisse pra você fazer seu tra-
balho de forma eficaz ou interagir com seus amigos, ou fazer o jantar, você
conseguiria fazer isso?
Cliente: Não, de jeito nenhum.
Terapeuta: E como é tentar conversar comigo enquanto você está fazendo isso?
Cliente: Irritante.
Terapeuta: Irritante. Frustrante. Cansativo. Certo? E você se sente um pouco fechado ou
desconectado do mundo ao seu redor?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Então tentar afastar todos esses sentimentos consome muito esforço e energia.
Agora, deixe-me pegar a prancheta de volta por um momento. (O terapeuta
pega a prancheta de volta e senta-se.) Então, é isso que você tem estado fa-
zendo por muito, muito tempo – tentando se livrar desses pensamentos e sen-
timentos. E mesmo assim, eles ainda estão aparecendo, ainda empurrando você
para lá e para cá, ainda tendo um impacto sobre sua vida.
Cliente: Sim, eu sei disso. Então como faço para me livrar deles?
Terapeuta: Bem, vamos chegar a isso já, já. Mas primeiro vamos dar uma olhada no que
custou a você tentar tão duramente se livrar dessas coisas. Qual foi o custo dis-
so em termos de saúde, relacionamentos, dinheiro, perda de tempo? (O tera-
peuta agora ajuda o cliente a se dar conta dos diferentes custos de suas estra-
tégias de controle.)
Terapeuta: Então, tentar se livrar de todas essas coisas (segura a prancheta nas bordas e
empurra para fora na frente do paciente tão longe quanto ele consegue esti-
car) não é apenas cansativo, não somente tem um custo elevado, mas nem
mesmo funciona. Esses pensamentos e sentimentos continuam aparecendo! E
cada vez que você me pergunta como se livrar disso, você está me pedindo pa-
ra ajudá-lo a fazer mais disso. Você realmente quer continuar fazendo isso
mesmo sabendo que não funciona?
Cliente: Não. Mas não entendo o que você me diz. Minha única opção é aguentar isso?
Terapeuta: De forma alguma. Aguentar isso seria mais do mesmo. É como se você ainda
estivesse tentando empurrar para longe, mas você está tão cansado que para de
empurrar com tanta força. Aguentar seria como fazer isso. (O terapeuta nova-
mente empurra a prancheta para a frente dela, mas desta vez seus braços es-
tão meio dobrados em vez de totalmente estendidos.) Ainda é cansativo, ainda
tem custos para você, ainda está se interpondo no caminho da sua vida.
Cliente: Mas o que posso fazer então?
Terapeuta: Boa pergunta. Já vou chegar lá. Por ora, vamos apenas reconhecer que você já
tentou resolver isso com todas as suas forças. Você com certeza não foi pre-
guiçoso. E você também não foi burro; a maioria das coisas que você tentou
são estratégias de senso comum que quase todo mundo usa. E algumas delas,
91
como, por exemplo as técnicas de distração que você usou, são frequentemente
recomendados por médicos e psicólogos. E, ainda assim, não parece estar fun-
cionando. Você está tentando duramente, mas isto não está gerando o efeito
que você deseja.
Dica Prática: Para que este trabalho seja eficaz, precisamos chegar ao cliente a
partir de um espaço de compaixão, de igualdade e de respeito. Nossa meta é
validar a experiência do cliente – ele está se esforçando muito, mas o que ele es-
tá fazendo não está funcionando. Se chegarmos a ele a partir de um espaço de
individualismo ou de arrogância, se formos críticos ou viermos com julgamen-
tos, se adotarmos o papel do especialista que tem "todas as respostas", então
nosso cliente se sentirá irritado, diminuído ou menosprezado.
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presos em um círculo vicioso de sofrimento crescente. Duas metáforas populares são o Ca-
bo de Guerra com um Monstro e Escapando da Areia Movediça (Hayes et al., 1999).
OUTRAS METÁFORAS
Existem inúmeras outras metáforas que você poderia usar. Basicamente você pode usar
qualquer coisa que transmita esta mensagem: quanto mais você faz o que vem naturalmente
e instintivamente nesta situação problemática, pior a situação. Exemplos bem conhecidos
incluem pisar nos freios quando o carro derrapa, nadando contra a correnteza, tentando es-
cavar uma saída para fora de um buraco e coçar uma erupção cutânea desagradável.
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se livrar de sentimentos indesejados, (b) como isso funciona e (c) o quanto isto custa. Claro,
como com qualquer coisa no ACT, você não precisa fazer isso da maneira tradicional, en-
tão, se você tiver tempo na sessão, você pode preferir ir direto para os próximos dois com-
ponentes: a normalidade do controle e a ilusão de controle. (E mesmo se você pular comple-
tamente a DC, esses componentes geralmente são muitas vezes úteis para serem utilizados
em sessões posteriores).
A Normalidade do Controle
Nesta parte da DC abordamos por que o controle ocorre naturalmente.
Terapeuta: Eu odiaria que você tivesse a impressão errada aqui — que estou criticando você de
alguma maneira pelo que você tem feito. Se assim for, peço sinceras desculpas por-
que a verdade é que estamos todos no mesmo barco. A maioria das coisas na sua lista
são coisas que eu também faço às vezes, que quase todos fazem. Todos somos pegos
na mesma agenda. Vivemos em uma sociedade que quer se sentir bem: todos gostam
de se sentir bem, ninguém gosta de se sentir mal. Então, nos esforçamos para nos li-
vrar de sentimentos desagradáveis. E todos continuamos fazendo isso — fazendo tu-
do o que podemos fazer para nos esquivar de ou eliminar pensamentos e sentimentos
desagradáveis — mesmo que isto não funcione a longo prazo e muitas vezes acabe-
mos tendo o sofrimento como resultado. E há pelo menos quatro razões pelas quais
fazemos isso. Um, porque todos nós caímos na "armadilha da felicidade", acredita-
mos no mito de que os seres humanos são naturalmente felizes, e que devemos estar
nos sentindo bem a maior parte do tempo. Dois, porque as coisas que fazemos para
controlar nossos sentimentos muitas vezes funcionam muito bem a curto prazo. Três,
porque acreditamos que esses métodos funcionam para outras pessoas. E quatro — e
esta é a única razão que está acima e além de todas as outras: é a maneira como nossa
mente evoluiu para resolver problemas. (Neste ponto, o terapeuta pode fazer uso da
Metáfora da Máquina de Solução de Problemas do capítulo 1).
A Ilusão de Controle
Nesse parte, tentaremos quebrar o mito ou a ilusão de que os seres humanos podem controlar co-
mo eles se sentem. Você pode expor isso dizendo algo assim: " Então, estamos todos andando por
aí, tentando controlar como nos sentimos, e isso simplesmente não funciona. Não é que não temos
nenhum controle, mas temos muito menos do que gostaríamos de ter. E o que eu gostaria de fazer
agora, se isso estiver bem para você, é conduzi-lo através de alguns pequenos exercícios para que
você possa verificar isso por si mesmo e ver quanto controle você realmente possui." Você pode,
então, conduzir o cliente através de qualquer ou todos os seguintes exercícios, em qualquer com-
binação ou ordem. (Exceto pelos dois primeiros, todos eles vêm de Hayes et al., 1999.)
ADORMECER A PERNA
Terapeuta: Agora faça a sua perna esquerda ficar completamente adormecida ou entorpe-
cida. Tão entorpecida que eu poderia cortá-la com uma serra e você não sentis-
se nada. (Pausa) Conseguiu?"
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NÃO PENSAR EM ...
Terapeuta: Neste próximo exercício, você não deve pensar sobre o que eu digo. Nem
mesmo por um microssegundo. Não pense em ... sorvete. Não pense no seu sa-
bor favorito. Não pense em como ele derrete na sua boca em um dia bem quen-
te no verão. (Pausa) Como você está se saindo?"
APAIXONANDO-SE
Terapeuta: Vamos supor que eu lhe ofereça um bilhão de dólares — um bilhão — se você
conseguir fazer o que vou lhe pedir. Vou trazer alguém para este quarto — al-
guém que você não conhece — e se você conseguir se apaixonar perdidamente
por essa pessoa, então eu vou lhe dar o dinheiro. Você conseguiria fazer isso? "
Cliente: Se fosse o Brad Pitt, eu conseguiria.
Terapeuta: É um homem mais velho, em um cadeira de rodas, e que não tomou banho por
três meses.
Cliente: Acho que não conseguiria.
Terapeuta: Nem mesmo por um bilhão de dólares?
Cliente: Eu poderia tentar.
Terapeuta: Claro. Você poderia fazer uma encenação. Poderia abraçá-lo e beijá-lo e dizer:
"Eu te amo, eu te amo". Você tem controle sobre suas ações, mas será que con-
seguiria controlar seus sentimentos?
Cliente: Não, não conseguiria.
95
to mais apegado à agenda de controle do que havíamos avaliado, não há problema; podemos sim-
plesmente voltar à DC e fazer uma intervenção mais ampla.
RESUMO
A Desesperança Criativa é um componente opcional da ACT que usamos quando um cliente
parece excessivamente apegado à agenda de controle emocional. Basicamente, queremos que
o cliente dê uma boa e sincera olhada em como a agenda de controle está funcionando: ela
está o levando rumo a uma vida rica, plena e significativa, ou o está levando rumo à luta e ao
sofrimento? Podemos fazer isso mediante uma intervenção mais extensa, utilizando uma ses-
são inteira, ou com uma intervenção breve de apenas alguns minutos. A DC se resume a fazer
três perguntas simples: O que você tentou? Como funcionou? O que custou?
Lembre-se que ao trabalharmos com a Desesperança Criativa, seja de forma breve ou longa,
não tentamos convencer o cliente de que algo não funciona. Em última instância, cabe a ele
julgar por si mesmo, com base em sua própria experiência, se o controle está ou não enrique-
cendo sua vida.
96
CAPÍTULO 7
Método: Notar o processo de pensar; aprender experiencialmente que nossos pensamentos não
controlam nossas ações.
Quando usar: Quando os pensamentos funcionam como obstáculos para o viver baseado em
valores.
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"Se você deixar que este pensamento te diga o que fazer, será que isto vai levar
você para uma vida rica, plena e significativa, ou a ficar estagnado e sofrendo?"
"Se pararmos a sessão só porque a sua mente está lhe dizendo Isto não vai funcio-
nar ou Eu não consigo fazer isso, será que isto vai ajudar você a mudar sua vida
ou será que isto irá manter você preso e estagnado ?"
3. Pedimos aos clientes que observem quando estão fundidos com seus pensamentos e quan-
do estão desfundidos dos mesmos:
"Neste momento, quanto você está preso neste momento?"
"Você conseguiu observar como sua mente te "pegou" naquele momento?"
Se quisermos fazer da desfusão o foco principal de uma sessão, podemos fazer isso de múltiplas
maneiras. Por exemplo, se começamos a terapia identificando valores e estabelecendo metas es-
pecíficas, então poderíamos fazer perguntas do tipo: "Então, o que está em seu caminho e fazendo
com que você não consiga agir?" "O que está impedindo você de agir com base em seus valores
ou ser a pessoa que você quer ser e de construir as relações que são importantes para você?" "O
que sua mente está lhe dizendo que te paralisa e faz com que sua vida seja difícil?"
Alternativamente, se descobrirmos na primeira sessão que toda e qualquer tentativa de clarificar
valores acaba por ser bloqueada, então a desfusão é uma boa escolha para o primeiro passo na
terapia (quando o cliente tiver desenvolvido boas habilidades de desfusão e de aceitação, podemos
retornar ao trabalho sobre valores e objetivos).
Quando suspeitamos ou sabemos que nosso cliente está profundamente apegado à agenda de con-
trole, uma outra boa opção é fazer o trabalho de desesperança criativa antes de focarmos ativa-
mente na desfusão. Neste caso, após a intervenção de desesperança criativa, podemos dizer algo
do tipo: " Você provavelmente deve estar se perguntando se o tentar livrar-se desses pensamentos
não funciona, qual é a alternativa?"
Identificando a Fusão
Quando levantamos uma história, procuramos por fusão em seis áreas-chave: regras, razões, jul-
gamentos, passado, futuro e o self. Vamos dar uma rápida olhada em cada uma dessas áreas agora.
Regras. Que tipo de regras rígidas o cliente tem sobre sua vida, seu trabalho, seus relacionamen-
tos, e assim por diante? Em especial, procure por regras sobre como alguém tem que se sentir
antes que possa agir. Procure por palavras-chave tais como deveria, preciso, tenho que, certo,
errado, não posso, e expressões-chave como não deveria ter que; se sinto X, então não posso
fazer Y; se faço A, então você deveria fazer B. Estas palavras e expressões nos alertam sobre idei-
as rígidas sobre como a vida deveria funcionar ou sobre o que é necessário antes que a mudança
possa ocorrer. Estas regras normalmente criam muito sofrimento se o cliente se funde com elas.
Seguem alguns exemplos comuns: "Eu não deveria estar me sentindo assim", "Não posso ir para a
festa se estiver me sentindo ansiosa", "Se não consigo fazer isso de uma forma perfeita, não tem
sentido tentar", "Isto não deveria ser tão difícil", "Meus filhos deveria fazer o que lhes digo para
fazer", e "Pessoas normais não se sentem assim".
Razões: Que razões o cliente fornece para você sobre o porquê da mudança ser impossível, inde-
sejável ou impraticável? Os seres humanos são muito bons em apresentar razões sobre porque
elas não podem ou não deveriam mudar: "Estou ocupado/cansado/ansioso/deprimido demais",
"Posso fracassar", "Eu não deveria ter que...", "É difícil demais", "É genético", "Todos na minha
família são alcoólatras", "É um desequilíbrio químico", "Eu vou me machucar", "Eu sempre fui
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assim", "Não consigo lidar com essa solidão", "Vai dar tudo errado", "Vou fazer isso quando eu
tiver mais tempo/energia/dinheiro", e assim por diante. Se nós ou nossos clientes nos fundimos
com esses pensamentos, eles muitos vezes podem nos impedir de fazer mudanças.
Julgamentos. Os seres humanos julgam. E muitos dos julgamentos que fazemos são úteis e im-
portantes: Essa pessoa é confiável ou não é confiável? Esse carro vale o preço que estão pedindo?
Essa fruta está madura ou não? Infelizmente, no entanto, muitos de nossos julgamentos são inú-
teis. É claro, se não nos aferramos a nossos julgamentos, eles não representam um problema. Mas
se nos fundimos com estes julgamentos – "Sou mau", "Você é mesquinho", "A ansiedade é terrí-
vel", "Sou muito gordo", "Ser rejeitado é insuportável", "Ele é muito egoísta", "A vida é uma
merda", "Os homens são mentirosos" – nós rapidamente vamos terminar lutando e sofrendo. Com
que tipo de pensamento crítico ou avaliativo seu cliente está se fundindo?
Passado. Como seu cliente está se fundindo com o passado? Ruminando sobre antigas feri-
das, fracassos, erros, oportunidades perdidas? Revivendo os "velhos bons tempos" antes que a
vida se tornou ruim? Tendo "flashbacks"? (Um "flashback" costuma indicar fusão extrema
com a memória.)
Futuro. Como seu cliente está se fundindo com o futuro? Se preocupando? Fantasiando sobre
uma vida melhor? Constantemente preso pensando sobre as coisas que ele terá de fazer mais
tarde?
Self. Com que tipo de autodescrição seu cliente está se fundindo? Eis algumas das mais comuns:
"Sou fraco/inútil/indigno de amor", "Não preciso de ajuda", "Não sou ninguém sem meu traba-
lho", "Não consigo lidar com as coisas", "Não suporto pessoas idiotas", "Estou certo e eles estão
errados". Ele está se fundindo com seu diagnóstico ou sua imagem corporal ("sou bipolar", "sou
gordo")? Ou talvez com sua função profissional ou seu papel na família?
Evidentemente, poderíamos descrever muitas diferentes categorias de pensamento – pensamento
preto e branco, catastrofização, hipergeneralização, etc. – mas os seis tipos acima descritos nos
permitem manter uma descrição simples. (Vamos olhar a fusão com o passado e o futuro mais
detalhadamente no capítulo 9, a fusão com a autodescrição no capítulo 10, e a fusão com o dar
razões no capítulo 13.
99
mim e a sua para você. O que realmente é importante aqui é que acontece entre você e eu em vez
do que nossas mentes têm a dizer."
Em seguida, normalmente fazemos um pouco de psicoeducação sobre como nossas mentes evolu-
íram para pensar negativamente, tal como na transcrição abaixo. Isto monta o cenário para inter-
venções ativas de desfusão.
Terapeuta: Você me contou alguns de seus pensamento dolorosos ou inúteis que atrapalham
você ou tornam sua vida mais difícil. Estou disposto a apostar que apenas arra-
nhamos a superfície – porque se sua mente for parecida com a minha, então ela
não tem nenhuma deficiência de pensamentos negativos. Existe na verdade uma
boa razão para isso e eu vou tomar alguns minutos para explicar isso. Isso está
bem para você? (Espera a resposta do cliente?) Veja, a mente humana evolui pa-
ra pensar negativamente. Nossos primitivos ancestrais viviam num mundo de pe-
rigo constante – animais grandes com dentes enormes se escondiam e espreita-
vam em cada canto. Então, naquela época, sua mente tinha que estar constante-
mente em alerta contra o perigo, antecipando qualquer coisa que pudesse feri-los
de alguma forma: "Tome cuidado. Pode ter um urso naquela caverna. Pode ter um
lobo no meio daqueles arbustos. Aquele pessoa lá longe é um amigo ou um ini-
migo?" Se você fosse um homem das cavernas e sua mente não fizesse bem esse
trabalho, você logo estaria morto. E isso é o que herdamos de nossos ancestrais:
nossa mente moderna é basicamente uma máquina que tem a finalidade de evitar
que sejamos mortos. Ela está constantemente tentando nos alertar sobre qualquer
coisa que pode dar errado: "Você vai engordar", "Você vai se dar mal no exame",
"Ele pode rejeitar você". Isto é normal. A mente de todo mundo faz isso. Nossa
mente evoluiu para pensar negativamente. Ela apenas está tentando fazer sua tare-
fa número um, que é a de nos proteger e manter vivos.
Não há nenhuma necessidade absoluta de usar a fala acima (ou qualquer dos outros exercícios ou
metáforas neste livro) mas ela faz uma boa introdução para a aprendizagem das habilidades de
desfusão. O próximo passo é recapitular alguns dos pensamentos problemáticos do paciente, tornar
claro o que custa quando ele fica enredada nestes pensamento ou empurrados para lá e para cá por
eles, e então convidá-lo para aprender um novo modo para lidar com eles. A transcrição que segue
ilustra apenas um modo entre muitos em que você pode fazer isso; quando você ler outros livros
sobre ACT, você descobrirá muitos outros métodos.
100
Terapeuta: Então, uma das coisas que identificamos na semana passada, uma grande parte
do problema, é que você costuma ter um monte de pensamentos sobre ser sem
valor ou inútil.
Cliente: Sim, eu sinto como se fosse um desperdício de espaço. Eu nem mesmo sei
porque você está desperdiçando seu tempo.
Terapeuta: E eu noto que enquanto você diz isto, você parece estar desmoronando – quase
como se estivesse se afundando na cadeira. Estou tendo uma percepção de que
aqueles pensamentos realmente puxam você para baixo. (O cliente concorda.)
Isto deve doer muito. (O cliente assente novamente, e seus olhos se enchem de
lágrimas.) O que você está sentindo neste momento?
Cliente (meneando a cabeça) É muito bobo.
Terapeuta O que é muito bobo?
Cliente: Eu sou. Isto é. (limpando os olhos) Eu não acho que você possa me ajudar.
Terapeuta: Bem, este é um pensamento perfeitamente natural para se ter. Muitas pessoas
têm pensamentos como este, especialmente no início da terapia. E o fato é que
eu realmente não posso garantir que isto vai te ajudar. Mas eu posso garantir
que vou fazer o meu melhor para ajudar você a criar uma vida melhor. Então,
que tal darmos uma chance à terapia, mesmo que você tenha o pensamento de
que não há solução para seu problema, e ver o que acontece?
Cliente: Pode ser.
Terapeuta: Ok. Bem, nós combinamos na última sessão que uma de suas metas aqui seria
aprender novas maneiras de lidar com pensamentos e sentimentos difíceis. Isto
continua sendo importante para você?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Ok. (Ele pega um cartão branco.) Bem, o que eu gostaria de fazer agora, se
isto estiver bem para você, é anotar alguns dos seus pensamentos neste cartão
para termos algo com que trabalhar. Pode ser?
Cliente: Pode ser.
Terapeuta: Obrigado. Então, quando sua mente está te dando uma surra, ficando fixada
sobre o que está errado com você e com sua vida – se eu pudesse entrar em sua
cabeça e ouvir o que ela está falando ou dizendo pra você, o que eu ouviria?
Cliente: Ah, humm. Coisas realmente negativas, tipo "você é burro, você é preguiçoso,
ninguém gosta de você".
Terapeuta: Ok. Deixe-me anotar isso. (Ele começa a escrever os pensamentos no cartão.)
Sua mente lhe diz "Eu sou burro ... eu sou preguiçoso ... ninguém gosta de
mim". O que mais?
Cliente: Não sei.
Terapeuta: Bem, você mencionou "bobo" e "desperdício de espaço" hoje, e "sem valor" e
"inútil" na semana passada. A sua mente costuma chamar você disso com fre-
quência?
101
Cliente: Sim.
Terapeuta: (escreve no cartão) Ok. Então sua mente diz pra você "Sou bobo ... sou sem
valor...sou inútil ... sou um desperdício de espaço". O que mais?
Cliente: (rindo) Isso não é suficiente?
Terapeuta: Sim, é – mas eu estava me perguntando se sua mente não lhe conta coisas re-
almente tenebrosas ou assustadoras sobre o futuro? Você sabe, quando ela re-
almente quer que você se sinta sem esperanças, quais são as coisas mais assus-
tadoras que ela diz pra você?
Cliente: Ahá. Ela diz que sou um fu**do, que não há futuro para mim. A vida é fu**da
e aí você morre.
Terapeuta: Certo, então sua mente gosta de praguejar. Vamos anotar isso. "Eu sou um
fu**do... Não tenho futuro ... A vida é fu**da e aí você morre".
Observe como o terapeuta responde à afirmação do paciente "Eu penso que você não conse-
gue me ajudar" dizendo "Bem, este é um pensamento perfeitamente natural". Facilitamos a
desfusão sempre que descrevemos um pensamento como normal, natural, típico, ou comum, e
não fazemos nenhuma tentativa de julgá-lo, desafiá-lo, ou nos livrar dele.
A desfusão envolve separar-nos de nossos pensamentos; por isso muitas vezes consideramos
útil na ACT falar sobre a mente, brincando ou metaforicamente, como se fosse uma entidade
separada. Por exemplo, podemos fazer perguntas como "O que sua mente lhe diz sobre isso?"
ou "Quem está falando agora – você ou sua mente?" Na transcrição acima, o terapeuta tam-
bém fala sobre a mente "surrando você", "chamando você de nomes", e também observa que
ela "gosta de praguejar".
OUVINDO A MENTE
Muitas técnicas de desfusão envolvem observar ou brincar com as propriedades auditivas dos
pensamentos. Aqui o terapeuta fala sobre "ouvir a mente", "escutar o que ela está dizendo" e
"escutar como soa o que ela está dizendo".
ESCREVER OS PENSAMENTOS
Uma das maneiras mais simples de separar-se dos pensamentos é escrevê-los. Isto ajuda você
a dar um passo atrás e ver os pensamentos pelo que eles são: sequências de palavras. O tera-
peuta pode fazer as anotações e então passá-las para o cliente, ou o próprio cliente pode anotar
os pensamentos.
102
OS PENSAMENTOS COMO HISTÓRIAS
Na ACT muitas vezes falamos sobre os pensamentos como "histórias". Isto encaixa muito
bem com metáforas sobre a mente como uma contadora de histórias (mais sobre isso abaixo)
e ficando absorvida ou perdida na história. O terapeuta pergunta especificamente sobre quais-
quer "histórias tenebrosas ou assustadoras" sobre o futuro.
Dica Prática: Se estiver em um estado de humor triste, o cliente pode fazer ob-
jeções ao termo "histórias". Se isto acontecer, peça desculpas e explique: "Não
tive a intenção de ofender você. O que eu quis dizer com o termo "história" é
que se trata de um monte de palavras que transmitem informação. Se o termo
incomoda você, não terei problemas em chamar estas palavras de "pensamen-
tos", crenças", ou "cognições".
Agora, antes de ler a parte 2, quero encorajá-lo a voltar ao capítulo 1 e reler a Metáfora da
ACT Sintetizada. Na transcrição a seguir, o terapeuta adapta as seções 1 e 3 desta metáfora.
Terapeuta: E como é isso comparado com ter o cartão bem na frente de seu rosto? Você se
sente mais conectado comigo? Mais envolvido com o mundo ao seu redor?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Agora observe que estes pensamentos não foram embora. Eles ainda estão
aqui. E se você quisesse, ainda poderia ficar absorto neles. Confira por você
mesmo. Olhe para o cartão e dê toda sua atenção a ele. (Cliente olha para o
cartão que está em seu colo.) Observe como à medida que começa a ficar ab-
sorto nesses pensamentos, você se desconecta de mim – e perde contato com o
mundo ao seu redor. (Cliente faz gesto de concordância.) Agora volte a olhar
para mim. (Cliente olha para o terapeuta.) E observe a sala em que você está.
(Cliente olha para a sala.) E agora, o que você prefere: ser sugado para dentro
dos seus pensamentos lá embaixo ou estar aqui fora no mundo e interagindo
comigo?
Cliente: (Sorrindo) Eu prefiro este último.
104
Terapeuta: Eu também.
Cliente: Mas continuo com vontade de olhar para eles.
Terapeuta: Claro que continua. Nossas mentes nos treinam para acreditarmos que tudo que
dizem pra nós é muito importante e que temos de prestar atenção nelas. Mas na
verdade nada do que está escrito naquele cartão é novo, não é? Você já teve es-
tes pensamentos centenas ou até milhares de vezes.
Cliente: Talvez trilhões de vezes.
Terapeuta: Observe que você têm uma escolha. Você pode tanto olhar pra baixo, para o
cartão, e ficar absorto no material contido nele, em todos estes pensamentos
que você já teve zilhões de vezes, como pode também deixá-lo ali e se envol-
ver com o mundo. A escolha é sua. Qual você escolhe?
Cliente: Hmm ... (Ela parece insegura; olha para o cartão.)
Terapeuta: (De forma calorosa e bem humorada) Oh, eu perdi você. (Cliente olha nova-
mente para o terapeuta.) Ah, você está de volta. Veja com que facilidade estes
pensamentos conseguem fisgar e prender você.
Cliente: Sim, eu sei. Isto acontece o tempo todo.
Terapeuta: Sim – para você, para mim, e para todo mundo neste planeta. É a isso que es-
tamos nos opondo. É isso que as mentes fazem. Elas fisgam você. Mas observe
como é diferente quando você consegue se soltar desses anzóis da mente. Ob-
serve o que aconteceria se eu lhe pedisse para fazer um exame, ou ir para uma
entrevista, ou abraçar alguém que você ama – agora você conseguiria fazer isto
muito mais facilmente. E agora você também pode estar na sala e apreciar essa
mobília fantástica e esta decoração maravilhosa elaborada pela IKEA. E se eu
começar a fazer malabarismos ou um show de mímica, você vai ser capaz de
ver isso.
Cliente: Isso soa realmente muito bem, mas eu ..... eu não sei se vou conseguir fazer
isso.
Terapeuta: Bem, só existe um caminho para descobrir isso, e ele consiste em fazer uma
tentativa. Temos um nome chique para este processo. Nós o chamamos de
"desfusão". E o que eu gostaria de fazer caso você esteja disposta a isso, é con-
duzir você através de duas técnicas bem simples de desfusão e ver o que acon-
tece. Você estaria disposta a isso? A dar uma chance a isso?
Cliente: Pode ser.
Na transcrição acima, o terapeuta utiliza a termo "desfusão". No entanto, se você por alguma
razão preferir não utilizar este termo técnico, existem muitas maneiras de falar sobre desfusão
na linguagem cotidiana. Para transmitir o conceito de fusão, você pode falar sobre " morder o
anzol e ser fisgado" pelos pensamentos, ficar emaranhado ou preso em seus pensamentos, ou
se perder nos mesmos e ser varrido por eles. Você também pode falar sobre se agarrar com
força a seus pensamentos, recusando-se a deixá-los ir embora, morar em seus pensamentos,
ficar absorto neles, ou aceitar e acolher seus pensamentos como se fossem completamente
verdadeiros. Você também pode falar de lutar com seus pensamentos, ficar atolado neles, ou
permitir que eles o empurrem pra lá e pra cá. E lista continua. Todas estas formas metafóricas
de falar transmitem o mesmo tema: nossos pensamentos tem um grande impacto sobre nós, e
nós investimos um monte de tempo, energia e esforço em responder a eles.
Para transmitir o conceito de desfusão você pode falar sobre notar pensamentos, observar
pensamentos, dar um passo atrás e olhar para seus pensamentos; ou deixar os pensamentos
virem e irem, segurá-los de forma leve, ou afrouxar sua aderência a eles, desenredar-se, largar
a história, etc. Todas estas formas transmitem a ideia de separar-se de seus pensamentos e
permitir que estes façam o que fazem e sejam o que são em vez de investir seu tempo, energia
e esforço em responder a eles.
O BUFÊ DA DESFUSÃO
Uma vez que você tiver permissão do cliente para fazer um exercício vivencial, existe um
bufê de opções disponíveis para você. No entanto, à medida que você continuar a leitura, há
duas coisas que você precisa manter em mente:
1. A desfusão não é uma técnica. Existem mais de cem técnicas de desfusão descritas nos
livros textos de ACT e em artigos, e dezenas de outras que nunca foram escritas. Mas
lembre-se: a desfusão é um processo e não uma técnica. Todas estas diferentes técnicas
106
existem para ajudar a aprender o processo.
2. Tenha muito cuidado com a invalidação. Quando trabalhamos com a desfusão, necessita-
mos estar em contato com nossa compaixão e nosso respeito pelo cliente, e nos assegurar
de não adotar uma postura de superioridade em relação a ele. Quando um cliente compar-
tilha pensamentos dolorosos conosco, existe um risco potencial em referir-se aos mesmos
como "histórias" ou fazer alguma das inúmeras técnicas de desfusão (tais como dizer os
pensamentos com vozes bobas ou cantá-las. Mais adiante falaremos mais sobre isso.) Se
fizermos este trabalho sem o devido cuidado, ele pode parecer invalidante, indiferente,
banalizante, ou humilhante.
Por isso é importante que nos unamos ao paciente de forma compassiva: nos conectamos com
seu sofrimento, e validamos toda a dor que ele sofreu. Adotando uma postura de compaixão,
igualdade e respeito, formamos uma aliança com o cliente. Trabalhamos juntos como uma
equipe para encontrar uma nova maneira de responder a esses pensamentos e desenvolver uma
nova atitude que permita uma vida mais consciente e baseada em valores. Quando trabalhamos
com essa atitude, o risco de invalidar um cliente é baixo. Mas sem essa atitude, o risco é alto -
especialmente com as técnicas não convencionais, estranhas ou excêntricas. Brincadeiras de
caráter compassivo e respeitoso é a qualidade que almejamos em todas essas interações.
Um Sabor da Desfusão
Agora vou levar você através de várias técnicas de desfusão como se você fosse um cliente,
para que você possa ter um gostinho delas. Pegue uma folha de papel e anote dois ou três pen-
samentos negativos com que sua mente de tempos em tempos lhe incomoda ou ameaça. Você
precisará deles para trabalhar durante os exercícios. (Se você precisar de alguma ajuda com
algumas, considere fazer estas perguntas: O que sua mente diz sobre seu corpo quando você
se vê nu (ou nua) no espelho? O que sua mente lhe conta sobre suas habilidades como tera-
peuta quando você acabou de ter uma sessão realmente desafiadora onde nada deu certo? O
que sua mente lhe diz quando realmente quer botar você "pra baixo" e lhe dizer que você não
é bom o suficiente?)
Conseguiu fazer? Agora, escolha o pensamento que mais lhe incomoda e use-o para trabalhar
nos exercícios que apresentaremos a seguir. (No início de cada exercício, peço que você se
funda com seu pensamento por dez segundos. Geralmente, você não precisará pedir isso a
seus clientes para fazer isso, pois eles já estarão fundidos!)
Coloque seu autojulgamento negativo em uma frase bem curta — no formato "Eu sou
X". Por exemplo: Eu sou um fracassado ou Eu não sou inteligente o suficiente.
Agora funda-se com esse pensamento por dez segundos. Ou seja, fique preso neste
pensamento e acredite nele tanto quanto possível.
Agora, de forma silenciosa, repita o pensamento mas com esta expressão antes dele:
"Estou tendo o pensamento de que ... Por exemplo: Estou tendo o pensamento de que
sou um fracassado.
Agora repita-o mais uma vez mas desta vez adicione a expressão "Noto que estou ten-
do o pensamento de que..." Por exemplo: Noto que estou tendo o pensamento de que
sou um fracassado.
O que aconteceu? Você conseguiu notar uma sensação de separação ou de distanciamento do
pensamento? Caso não tenha conseguido, faça o exercício novamente mas com um pensa-
107
mento diferente. Este é um exercício simples e agradável (adaptado de Hayes et al., 1999),
que costuma dar uma experiência de desfusão a quase todos os que praticam.
Em uma sessão de terapia, você pode seguir como abaixo:
Terapeuta: Então, o que aconteceu com o pensamento?
Cliente: Meio que perdeu um pouco do seu poder de machucar.
Terapeuta: Você teve algum senso de separação ou distanciamento dele?
Cliente: Sim Ele meio que bateu em retirada.
Terapeuta: Você poderia me mostrar com suas mãos e seus braços para onde o pensamen-
to parecia se mover?
Cliente: Para fora daqui. (O cliente estica os braços na frente do peito dele.)
Terapeuta: Então, isso é uma parte do que entendemos por desfusão: você começa a se
separar de seus pensamentos e a dar-lhes algum espaço para se movimentarem.
Você poderia continuar também de outras maneiras. Por exemplo, você poderia perguntar ao
cliente: "Eu me pergunto se você estaria disposto a tentar falar dessa maneira em nossas ses-
sões. Suponha que você tenha algum tipo de pensamento angustiante, doloroso ou inútil como
Isto é muito difícil. Quando você tem um pensamento como esse, você poderia me dizer: "Es-
tou tendo o pensamento que isso é muito difícil?"
Uma vez que esta combinação tenha sido estabelecida, você pode voltar a ela repetidas vezes
e brincar com ela como uma breve intervenção. Aqui estão dois exemplos:
Claro, você pode usar essa técnica com sentimentos e impulsos também: "Estou com um sen-
timento de ansiedade" ou "Estou com vontade de fugir".
Coloque seu autojulgamento negativo em uma sentença curta — no formato "Eu sou
X" — e funda-se com ele por dez segundos.
Agora, dentro de sua cabeça, silenciosamente cante o pensamento utilizando a melodia
de "Parabéns pra Você".
Agora, dentro de sua cabeça, ouça a voz de um personagem de desenho animado, per-
sonagem de filme ou comentarista esportivo, falando o pensamento.
O que aconteceu desta vez? Você notou uma sensação de separação ou de distanciamento do
pensamento? Caso não tenha notado, faça o exercício novamente mas utilizando um pensa-
mento diferente.
108
Variações sobre o tema incluem cantar os pensamentos em voz alta, pronunciá-los em voz
alta, ou dizê-los em de forma exageradamente lenta (por exemplo, Eeeeeuuuuuu ssssooooo-
ouuuuuuu bbbuuuurrrroooo "). Tenha em mente que, no contexto certo, técnicas como essas
podem ser muito poderosas mas, no contexto errado, elas podem ser invalidantes ou até mes-
mo humilhantes. Por exemplo, você provavelmente não pediria a um cliente com um câncer
terminal para cantar seus pensamentos sobre a morte ao ritmo de "Parabéns pra Você".
Dica Prática: Com essas técnicas de desilusão, seu cliente muitas vezes vai esboçar
um sorriso ou rir. Não estamos almejando especificamente esse resultado, mas,
quando isso acontece, normalmente é um sinal de que houve uma desfusão signi-
ficativa, e geralmente é útil destacar isso para o cliente: "Você está sorrindo. O que
está acontecendo? Este é um pensamento negativo realmente desagradável, não é?
O que te levou a sorrir?" No entanto, se seu cliente começar a julgar asperamente o
pensamento — "Ele parece tão bobo" ou "É um pensamento estúpido, não é?" — ,
então queremos desfundir esses julgamentos também.
Por exemplo, podemos dizer: “Bem, o importante é notar que é apenas um monte de pala-
vras. Nós não precisamos julgar. Vamos apenas ver o que é: um monte de palavras que
A REPETIÇÃO DE TITCHENER
entraram na sua cabeça.”
Este exercício (Titchener, 1916) envolve três passos:
1. Escolha um substantivo simples, como "limão". Diga-o em voz alta uma vez ou duas ve-
zes e observe o que aparece psicologicamente — que pensamentos, imagens, cheiros,
gostos ou lembranças vêm à mente.
2. Agora repita a palavra muitas vezes, em voz alta e o mais rápido possível, por trinta se-
gundos — até que se torne apenas um som sem sentido. Por favor, tente isso agora com
a palavra "limão" (ou alguma outra palavra de sua preferência) antes de continuar a ler.
Você deve fazer isso em voz alta para que seja eficaz.
3. Agora, repita o exercício com uma palavra que evoque julgamento — uma palavra que
você tende a usar quando se julga severamente, por exemplo, "ruim", "gordo", "idiota",
"egoísta", "perdedor". "incompetente" — ou uma expressão de duas palavras, como
"mãe ruim".
Por favor, tente isso agora e observe o que acontece. A maioria das pessoas acha que a palavra
ou expressão se torna sem sentido dentro de cerca de trinta segundos. Então, conseguimos vê-
la pelo que realmente é: um som estranho, uma vibração, um movimento da boca e da língua.
Mas quando essa mesma palavra ou expressão aparece em nossa cabeça e nós nos fundimos
com ela, isso tem um grande impacto em nós.
TELA DE COMPUTADOR
Este exercício (Harris, 2006) é particularmente útil para pessoas que são boas em visualizar.
Você também pode convertê-lo em um exercício escrito, usando folhas de papel e canetas de
cores diferentes:
109
Agora, na sua imaginação, brinque com a fonte. Veja-o escrito em itálico, depois em
gráficos elegantes e, em seguida, em uma dessas fontes grandes e divertidas que cos-
tumamos ver nos livros infantis.
Agora, coloque o texto de volta como texto em preto, e desta vez brinque com o for-
mato. Junte as palavras. Depois, deixe-as bem separadas. Em seguida, coloque-as na
tela verticalmente.
Agora, retorne mais uma vez ao texto preto, e desta vez, em sua mente, anime as pala-
vras como os personagens da Vila Sésamo. Faça as palavras saltarem para cima e para
baixo, ou contorcer-se como uma lagarta, ou girar em círculo.
Novamente volte ao texto em preto, e desta vez imagine uma bola de karaokê pulando
de palavra em palavra. (E se você gosta, ao mesmo tempo, ouça "Parabéns pra Você").
Técnicas "Meditativas"
Você notará que neste livro eu falo sobre habilidades de atenção plena, e não de meditação de
atenção plena. Isso deve ao fato de que, do ponto de vista da ACT, a meditação formal é apenas
uma das formas de aprender as habilidades básicas de desfusão, aceitação e contato com o mo-
mento presente. Se os clientes quiserem praticar meditação ou outras práticas formais de atenção
plena, tais como yoga ou tai chi, isso é ótimo — quando se trata de aprender novas habilidades,
quanto mais se pratica, melhor — mas definitivamente não é algo que esperamos ou pedimos.
Dito isto, algumas técnicas de desfusão, como as duas que se seguem — Folhas na Corrente-
za (Hayes et al., 1999) e Observe seu Pensamento — trazem ao praticante uma sensação me-
ditativa. Nesses exercícios, observamos nossos pensamentos com abertura e curiosidade, —
observamos eles indo e vindo sem reagir a eles — sem julgá-los, sem nos agarrar a eles ou
querer afastá-los.
FOLHAS NA CORRENTEZA
1. Encontre uma posição confortável e feche os olhos ou fixe os olhos em um ponto, o que
preferir.
2. Imagine que você está sentado ao lado de um riacho que flui suavemente e que há fo-
lhas fluindo na superfície do riacho. Imagine como quiser, é a sua imaginação. (Pausa
de 10 segundos)
3. Agora, pelos próximos minutos, tome cada pensamento que surge em sua cabeça, colo-
que-o sobre uma folha, e deixe que ele flutue com a correnteza. Faça isso independen-
temente de os pensamentos serem positivos ou negativos, agradáveis ou dolorosos.
Mesmo que sejam os pensamentos mais maravilhosos, coloque-os sobre a folha e deixe-
os flutuar. (Pausa de 10 segundos)
4. Se seus pensamentos pararem, apenas observe a correnteza. Mais cedo ou mais tarde,
seus pensamentos começarão de novo. (Pausa de 20 segundos)
5. Permita que a correnteza flua em seu próprio ritmo. Não a acelere. Você não está ten-
tando limpar as folhas — você está permitindo que elas venham e se vão em seu próprio
momento. (Pausa de 20 segundos)
6. Se sua mente diz Isso é estúpido ou Eu não consigo fazer isso, coloque esses pensamen-
tos sobre uma folha. (Pausa de 20 segundos)
7. Se uma folha ficar presa, deixe que fique assim. Não force a flutuar. (Pausa de 20 se-
gundos)
110
8. Se surgir um sentimento difícil, como tédio ou impaciência, simplesmente reconheça isso.
Diga a si mesmo: "Aqui está um sentimento de tédio" ou "Aqui está um sentimento de im-
paciência". Em seguida, coloque essas palavras sobre uma folha e deixe a folha fluir.
9. De tempos em tempos, seus pensamentos vão fisgar você e você perderá a noção do
exercício. Isso é normal e natural e vai continuar acontecendo. Assim que você perceber
que isso aconteceu, apenas reconheça isso e comece o exercício novamente.
Após a instrução 9, continue o exercício por mais alguns minutos, periodicamente pontuando
o silêncio com este lembrete: "Seus pensamentos vão fisga-lo repetidas vezes. Isso é normal.
Assim que você perceber que foi fisgado, comece o exercício novamente desde o começo. "
Posteriormente, faça perguntas ao cliente sobre exercício: Que tipo de pensamentos fisgaram
você? Como foi deixar os pensamentos irem e virem sem ficar preso a eles? Foi difícil aban-
donar algum pensamento em particular? (Os clientes muitas vezes querem manter os pensa-
mentos positivos, mas isso anula o propósito do exercício — o objetivo é aprender como dei-
xar os pensamentos irem e virem.) Quais sentimentos apareceram? Foi útil tomar conheci-
mento do sentimento (como na instrução 8)? (Esta é uma técnica de aceitação.)
O cliente acelerou o fluxo da correnteza, tentando limpar os pensamentos ou se livrar deles?
Se assim for, ele provavelmente está transformando o exercício em uma técnica de controle,
tentando se livrar dos pensamentos. Este não é o objetivo. O objetivo é observar o "fluxo de
pensamentos" natural, permitindo que eles venham e saiam em seu próprio tempo. É por isso
que incluí a instrução 5 no exercício.
Você pode terminar o exercício com uma instrução simples como esta: "E agora, finalize o
exercício ... sente-se em sua cadeira ... e abra os olhos. Olhe ao redor na sala ... e observe o
que você pode ver e ouvir ... e se alongue. Bem-vindo de volta! "
Dica Prática: Algumas pessoas acham a visualização muito difícil. Eu sou um de-
les. Por isso, uma boa ideia, no início de qualquer exercício que exija o uso da
imaginação, é dizer: “Pessoas diferentes imaginam de maneiras diferentes. Algu-
mas veem imagens muito vivas como em uma tela de TV. Outras pessoas imagi-
nam com palavras, sons, sentimentos ou ideias. Qualquer que seja a forma como
você imagina ou visualiza algo, ela está bem."
Para o exercício das Folhas na Correnteza, eu sempre ofereço a alternativa de ima-
ginar uma “escuridão em movimento” ou uma “faixa preta em movimento” —
apenas uma sensação de algo escuro e expansivo que simplesmente continua se
movendo suavemente. Você coloca seus pensamentos na escuridão em movimen-
to e não nas folhas.
111
3. Agora mude sua atenção da sua respiração para seus pensamentos, e veja se você pode
notar seus pensamentos: Onde estão seus pensamentos? Onde eles parecem estar loca-
lizados no espaço? (Pausa de 10 segundos.) Se seus pensamentos são como uma voz,
onde esta voz está localizada? Ela está no centro da sua cabeça ou em um dos lados?
(Pausa 10 segundos.)
4. Observe a forma dos seus pensamentos: eles são mais como imagens, ou como palavras
ou sons? (Pausa de 10 segundos.)
5. Seus pensamentos estão se movendo ou estão imóveis? Se estão se movendo, a que ve-
locidade e em qual direção? Se estão imóveis, onde eles estão suspensos ou pairando?
6. O que está acima e abaixo dos seus pensamentos? Há alguma lacuna entre eles?
7. Nos próximos minutos, observe seus pensamentos indo e vindo como se você fosse um
cientista curioso que nunca tenha encontrado algo assim antes.
8. De tempos em tempos, você será fisgado pelos seus pensamentos e perderá o controle
do exercício. Isso é normal e natural e vai continuar acontecendo. Assim que você per-
ceber que isso aconteceu, reconheça isso de forma gentil, e então comece o exercício
novamente.
Você poderia continuar com isso por vários minutos, com lembretes periódicos da última ins-
trução — ou se você quiser apenas fazer um exercício rápido, você pode acabar nesse ponto,
como sugerido no último exercício. Analise o exercício depois, como com Folhas na Corren-
teza.
112
O objetivo da desfusão NÃO é se sentir melhor ou se livrar de pensamentos indesejá-
veis.
O objetivo da desfusão É reduzir a influência de processos cognitivos inúteis sobre o
comportamento e facilitar a presença psicológica e o engajamento na experiência.
Em outras palavras, o objetivo da desfusão é possibilitar uma vida consciente e basea-
da em valores.
Os clientes frequentemente descobrem que, quando se desfundem de um pensamento doloro-
so, ele desaparece, ou se sentem melhor, ou ambos. Quando isso acontece, o terapeuta precisa
esclarecer que (1) isso é apenas um bônus, não o objetivo principal, e (2) nem sempre vai
acontecer, então não espere por isso. Se o terapeuta não fizer isso, os clientes começarão a
usar a desfusão para tentar controlar seus pensamentos e sentimentos. E então, é claro, a des-
fusão não funciona mais como uma técnica de atenção plena, mas como uma técnica de con-
trole. E então é apenas uma questão de tempo até que o cliente se frustre ou se desaponte.
Aqui estão dois exemplos de como o terapeuta pode lidar com isso:
Cliente: Isso foi ótimo. O pensamento foi embora.
Terapeuta: Bem, às vezes isso acontece e às vezes não. Às vezes, um pensamento apenas
fica por perto. Nosso objetivo não é tentar fazer com que ele desapareça —
nosso objetivo é pararmos de ficar presos nele, criar algum espaço para ele,
permitir que ele esteja ali sem lutar — de modo que, se e quando, ele ficar por
ali por um tempo, ele não vai impedir você de fazer o que importa e de se en-
volver plenamente em sua vida.
***
Cliente: Isso é bom. Eu me sinto menos ansiosa agora.
Terapeuta: Sim, bem, isso acontece muitas vezes com a desfusão, mas certamente nem
sempre. A desfusão não é uma maneira mágica de controlar seus sentimentos.
O objetivo é se desenredar de seus pensamentos para que você possa estar ple-
namente no momento presente e fazer as coisas que considera importantes. En-
tão, se você se sentir melhor, com certeza aproveite isso. Mas por favor, consi-
dere isso um bônus, não o objetivo principal. Se você começar a usar essas
técnicas para controlar como você se sente, garanto que logo logo você vai fi-
car desapontada.
Se sua cliente parecer decepcionada ou surpresa quando você disser isso, significa que ela
entendeu mal o propósito da desfusão. Nesse caso, você precisará recapitular isso e talvez seja
necessário visitar (ou revisitar) a desesperança criativa. Uma maneira de fazer uma recapitula-
ção rápida é "repetir" a METÁFORA DA ACT SINTETIZADA, do capítulo 1, ou a metáfora AS
MÃOS COMO PENSAMENTOS, do capítulo 2.
MAS É VERDADE!
De tempos em tempos, um cliente irá resistir ou criticar uma técnica de desfusão, alegando
que o pensamento é verdadeiro. Geralmente é mais fácil responder este tipo de contestação
em termos de funcionalidade: "A questão é que, na ACT, não estamos muito interessados em
saber se seus pensamentos são verdadeiros ou falsos, mas se são úteis. Se você mantiver esse
pensamento firmemente, será que isso vai ajudar você a viver a vida que você quer viver?
Fazer isso vai ajudar você a alcançar seus objetivos, melhorar seus relacionamentos ou agir
como a pessoa que deseja ser? "
Nesse ponto, o terapeuta pode optar por mudar de rumo e explorar um pouco
os valores: descobrir que tipo de mãe a cliente gostaria de ser.
A Metáfora da Mala no Mar, como dada na transcrição acima, é útil tanto para
a fusão quanto para a aceitação.
114
Quando a Desfusão Apresenta Efeitos Negativos
De vez em quando pode acontecer que ao usar uma técnica de desfusão com um cliente ocorra
o efeito oposto ao que você pretendia: seu cliente ficará ainda mais fundido do que antes. Fe-
lizmente isso não irá acontecer com frequência, mas se e quando acontecer, não é realmente
um problema. Basta transformá-lo em uma oportunidade para ajudar seu cliente a discriminar
entre fusão e desfusão - por exemplo:
Terapeuta: Ah, me desculpe. Isso não saiu do jeito que eu esperava. Normalmente, esse
exercício ajuda as pessoas a darem um passo atrás e se distanciarem de seus
pensamentos, mas, nesse caso, parece ter tido o efeito oposto. Então, dado que
isso aconteceu, vamos aprender com isso. Observe como você está ainda mais
fundido com esse pensamento do que antes. Observe o impacto que está ele
tendo em você. Isto é o que queremos dizer quando falamos em "fusão".
Então, após analisar o ocorrido e conversar com o cliente sobre isso, você pode sugerir um
exercício de desfusão diferente.
Mais Técnicas
Atualmente, existem mais de cem técnicas de desfusão documentadas em livros didáticos e
livros de autoajuda da ACT, e muitas outras que nunca foram escritas. E há muitas oportuni-
dades para você ou seus clientes modificarem técnicas antigas ou criarem novas. Você pode
fazer qualquer coisa que coloque o pensamento em um novo contexto, onde você possa vê-lo
pelo que ele realmente é: nada mais e nada menos do que palavras ou imagens; nada com que
você precise lutar, se apegar ou fugir.
Por exemplo, você pode visualizar o pensamento como uma legenda em um cartão de felicita-
ções, escrito em glacê em um bolo de aniversário ou aparecendo dentro do balão de um per-
sonagem de quadrinhos. Ou você pode imaginar o pensamento vindo de um rádio, ou ouvi-lo
na voz de um conhecido político ou comentarista esportivo. Ou você pode se imaginar dan-
çando com o pensamento, andando de mãos dadas com ele pela rua, ou fazê-lo saltar para
cima e para baixo como se estivesse picando uma bola. Você pode desenhar ou pintar o pen-
samento, escrevê-lo em cores diferentes ou esculpir em argila. Você pode visualizá-lo na ca-
miseta de um atleta, imaginá-lo como uma mensagem de texto no celular ou vê-lo como um
pop-up no seu computador. Você pode cantá-lo em diferentes estilos musicais (por exemplo,
ópera, jazz, rock, etc.), dizê-lo com um sotaque estrangeiro escandaloso, ou ter um boneco
dizendo isso em voz alta. As opções são infinitas. Então, antes de continuar lendo, veja se
você consegue pensar em algumas técnicas próprias. E divirta-se com isso. (Quantas vezes
você já leu algo assim em um livro-texto?)
Mais Metáforas
Você também pode usar todos os tipos de metáforas para ajudar com a desfusão. Uma das
mais úteis é comparar a mente a "um mestre contador de histórias", porque isso se encaixa
muito bem quando nos referimos aos pensamentos como "histórias".
OUTRAS METÁFORAS
Você também pode comparar a mente com
uma máquina de gerar palavras: ela produz um fluxo interminável de palavras;
uma rádio: a Rádio Desgraça e Melancolia gosta de transmitir muita tristeza sobre o
passado, muita desgraça sobre o futuro e muita insatisfação com o presente;
um pirralho mimado: ela faz todos os tipos de exigências e faz birra se não consegue o
que quer;
uma máquina de produzir justificações: produz uma lista interminável de justificações
pelas quais você não pode ou não deve mudar;
um ditador fascista: ela constantemente lhe ordena e lhe diz o que você pode e não po-
de fazer; ou
uma fábrica de julgamentos: ela passa o dia todo fazendo julgamentos.
E assim por diante. Uma vez que você usou essas metáforas com um cliente — e partindo do
pressuposto que o cliente as adotou — você pode voltar a elas repetidas vezes em sessões
subsequentes e utilizá-las como intervenções breves de desfusão. Por exemplo, em resposta a
um cliente que traz todo um fluxo de autojulgamentos negativos, você pode dizer: "Lá vem a
fábrica de julgamentos novamente; ela está realmente muito ativa hoje". Ou em resposta a um
cliente que fica dizendo: "Eu deveria fazer X, tenho que fazer Y!" você pode dizer: "Uau! Pa-
rece que aquele pequeno ditador fascista dentro de sua cabeça está realmente estabelecendo a
lei hoje".
Você provavelmente já conhece algumas metáforas para a mente: por exemplo, o "tagarela" e
o "crítico interior" são ambos de uso comum. Antes de continuar lendo, por que não reservar
alguns momentos para ver se você pode criar uma ou duas metáforas de sua própria autoria.
116
Precisamos estar atentos aos nossos clientes, respeitosos em relação a onde eles se encontram
e abertos às suas respostas. E se ficarmos tão envolvidos em fornecer técnicas que negligenci-
amos o relacionamento, então, assim que notarmos isso, devemos nos desculpar: "Uau! Sinto
muito. Acabei de me dar conta o que tenho feito aqui. Fiquei tão enredado em meu próprio
entusiasmo, que acabei perdendo o contato com você. Podemos parar por um momento e vol-
tar um pouco, para onde estávamos antes de eu começar a bombardear você com todas essas
coisas? "
Esse tipo de interações não apenas nos ajudam a criar um relacionamento confiante e aberto;
eles também nos permitem modelar a autoconsciência e a autoaceitação. E eles demonstram
que estamos no mesmo barco que nossos clientes: que nós também podemos ser fisgados em
nossas cabeças e perder o contato com o momento presente — e podemos nos trazer de volta
ao presente e agir efetivamente!
PSICOEDUCAÇÃO
Muitos protocolos da ACT incluem quantidades significativas de psicoeducação. Sempre que
possível, isso é feito através de exercícios ou metáforas experienciais, em vez de didaticamen-
te. As metáforas são particularmente úteis para o ensino porque (a) elas transmitem muita
informação em um curto espaço de tempo; (b) os clientes tendem a aceitá-los porque são tru-
ísmos; e (c) os clientes tendem a lembrar-se deles.
Dois componentes psicoeducacionais comumente ligados à desfusão foram abordados no úl-
timo capítulo: "a ilusão de controle" e "a normalidade do controle". Dois outros componentes
frequentemente usados são "a normalidade do pensamento negativo" e "a ilusão de que os
pensamentos controlam as ações"
A INEVITABILIDADE DA COMPARAÇÃO
Terapeuta: Já falamos um pouco sobre como nossa mente evoluiu para pensar negativa-
mente, mas tem mais coisas sobre isso. Em tempos pré-históricos, algo absolu-
tamente essencial para a sobrevivência de alguém era pertencer a um grupo. Se
o grupo expulsasse essa pessoa, não demoraria muito para que os lobos a devo-
rassem. Então, como a mente agiria para impedir que isso acontecesse? Ela a
levava se comparar a todos os membros da tribo: "Estou me encaixando? Estou
fazendo a coisa certa? Estou fazendo isso bem o suficiente? Estou fazendo al-
guma coisa que poderia me levar a ser expulsa do grupo?" Como resultado,
nossa mente moderna sempre nos compara aos outros. Mas agora, não há ape-
nas um pequeno grupo ou tribo. Agora podemos nos comparar a todos no pla-
117
neta — aos ricos, famosos e lindos astros de cinema, aos melhores atletas, até
aos super-heróis fictícios. E não precisamos procurar muito para encontrar al-
guém que seja "melhor" que nós de alguma forma — mais rico, mais alto, mais
velho, mais jovem, mais cabelo, melhor pele, mais status, roupas mais estilo-
sas, carro maior e assim por diante. Como resultado de tudo isso, estamos to-
dos andando com alguma versão da história "Eu não sou bom/boa o suficien-
te". Para a maioria de nós, isto começa na infância; para algumas poucas pes-
soas, só começa na adolescência. E este é o segredo mais bem guardado do
planeta. Todo mundo tem várias versões dessa história — "Eu sou muito velho
/ gordo / estúpido / chato / falso / desagradável / preguiçoso / incompetente,
blá-blá-blá" ou "Eu não sou esperto o suficiente / rico o suficiente / magro o
suficiente, e assim por diante." Todos nós temos essa história, mas quase nin-
guém fala sobre isso.
* * *
Cliente: Eu já sei que isto vai acabar mal.
Terapeuta: Bem, é isso que sua mente vai lhe dizer. Você pode deixar sua mente lhe dizer
isso e ainda assim continuar com isso?
As transcrições que se seguem destacam uma visão mais realista da relação entre pensamen-
tos, sentimentos e ações. Eles estão escritos como podemos comunicá-los aos nossos clientes.
118
mo assim? (Depois dessa e de cada pergunta subsequente, tente extrair as res-
postas do cliente.) Você já teve pensamentos sobre gritar com alguém, termi-
nar a relação com seu parceiro, pedir demissão de seu emprego, mas não agiu
com base neles? Você já se sentiu zangada, mas agiu com calma? Você já se
sentiu assustada, mas agiu com confiança? Você já se sentiu triste, mas agiu
como se estivesse feliz? Você já se sentiu querendo fugir de uma situação
constrangedora ou estressante, mas ficou? O que isso mostra para você? Seus
pensamentos e sentimentos realmente controlam suas ações, ou você tem al-
guma escolha sobre como você age?
Resolução de Problemas
Um cliente muitas vezes se sentirá muito culpado se tiver pensamentos sobre se matar, ou
desejar morrer, ou deixar seu parceiro, ou fugir de seus filhos. Esses são pensamentos comuns
que muitas pessoas têm quando estão sob estresse, e podemos normalizá-los, validá-los e re-
formulá-los, indicando: "Esta é apenas a solução de problemas da sua mente. Foi isso que ela
evoluiu para fazer". A desfusão acontece quando o cliente consegue reconhecer o pensamento
como meramente um produto automático daquela incrível "máquina de solução de problemas"
que chamamos de mente. (Você pode vincular isso à Metáfora da Máquina para Resolução de
Problemas no capítulo 2)
Funcionalidade/Pragmatismo
As questões nessas caixas analisam a função dos pensamentos em oposição ao conteúdo. To-
dos eles fazem a mesma pergunta: como funciona para você, em termos de viver uma vida
rica e plena, se você se fundir com um pensamento - isto é, se você permitir que ele tenha uma
grande influência sobre suas ações? Isso claramente evita a questão de se os pensamentos são
verdadeiros ou falsos. Abaixo estão algumas perguntas mais úteis para os clientes se pergun-
tarem.
119
Figura 7.1 – Sumário de Técnicas de Desfusão
120
Insight/Ganhos Secundários
As questões nessas caixas também focam a função dos pensamentos. O cliente desenvolve
insight sobre como seu comportamento muda quando ele se funde com pensamentos e se tor-
na consciente dos custos e benefícios quando permite que isso aconteça. Esse foco nos pen-
samentos também evita a questão do verdadeiro/falso.
O Eu Observador
Embora nos capítulos anteriores já tenhamos falado várias vezes sobre o eu-como-contexto
(comumente conhecido como "eu observador"), não o abordaremos em profundidade até o
capítulo 10. Eu só quero mencionar aqui que, uma vez que tivermos apresentado o eu obser-
vador e percorrido alguns dos exercícios breves do capítulo 10, teremos uma maneira de faci-
litar instantaneamente a desfusão: "Você consegue olhar para esse pensamento a partir da
perspectiva do eu observador?" "Dê um passo para trás e veja se você pode olhar para os seus
pensamentos do ponto de vista do seu eu observador", "Observe, esta é a sua mente em pleno
voo — ela quer desesperadamente que você se envolva com o que ela está dizendo a você",
Veja se você consegue entrar no espaço psicológico do seu eu observador e, a partir desse
espaço, perceber o que seus pensamentos estão fazendo. " Ou o mais simples de todos: "Va-
mos olhar para esse pensamento a partir do eu observador".
121
Terapeuta: Então sua mente está lhe dizendo que você não merece algo melhor. Neste mo-
mento, o quanto você foi fisgado por este pensamento? Você está assim (segura
as mãos sobre os olhos) ou assim (descansa as mãos no colo), ou algo intermedi-
ário?
"Este é um pensamento interessante". Isto é o que eu digo quando não sei o que dizer. Quan-
do um cliente diz algo que me confunde, provoca uma forte reação, ou deixa minha mente agita-
da tentando descobrir como responder, acho que esta pequena frase me impede de ficar preso no
conteúdo. É uma frase simples que lembra tanto a mim quanto a cliente que, não importa o que
ela tenha acabado de dizer, estamos lidando com um pensamento. Ela nos convida a parar e olhar
para o pensamento em vez de pular direto para o conteúdo do pensamento. Muitas vezes faço
uma longa pausa depois de fazer esta afirmação, o que me permite concentrar-me para poder
responder de forma eficaz e consciente.
Agradeça sua Mente. Incentive seu cliente a agradecer sua mente por sua contribuição (Hayes
et al., 1999). Você pode dizer: "Sempre que sua mente diz algo para você, não importa o quão
desagradável ou assustador possa parecer, veja se você pode simplesmente responder, "obrigado
mente!" Faça isso com um senso de humor e uma apreciação da incrível capacidade da sua men-
te para fisgar sua atenção com qualquer meio à sua disposição".
Frases curtas. Quando seu cliente expressa um pensamento particularmente negativo, crítico ou
inútil, você pode dizer "Legal!" com um tipo de abertura indiferente e humorística. Ou você pode
usar outras palavras como "amável", "bonito" ou "muito criativo". Uma vez que o cliente "ob-
tém" o conceito, propósito e experiência de desfusão — e desde que exista um bom relaciona-
mento terapêutico para que não haja chance de o cliente se sentir invalidado ou depreciado —
então você pode dizer essas palavras em resposta a uma ampla variedade de críticas, julgamen-
tos, pensamentos catastróficos ou outras "histórias desagradáveis". Acompanhado por uma ex-
pressão ou careta compassiva, dizendo "Ai!" também pode funcionar bem.
122
mo você chamaria a história? E por favor, certifique-se de que o título reco-
nhece e honra o quanto você sofreu, - não escolha um título que banalize ou
faça pouco caso do seu sofrimento.
Cliente: Hmm. Poderia ser a história da "Jane inútil".
Terapeuta: Ok. E você está segura de que este título reconhece o seu sofrimento e não o
banaliza?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Ok. Pode me dar o seu cartão por um momento? (A cliente entrega o cartão.)
Vou escrever este título aqui atrás (O terapeuta vira o cartão e escreve: AHÁ!
AQUI ESTÁ ELA DE NOVO! A HISTÓRIA DA "JANE INÚTIL"!) Ok, ago-
ra aqui está o que eu gostaria que você fizesse, se você quiser. Primeiro, peço
que você leia todos esses pensamentos negativos desse lado. Em seguida, vire
o cartão e leia o que está escrito no verso e observe o que acontece.
Cliente: Você quer que eu leia em voz alta?
Terapeuta: Não. Leia apenas mentalmente. E, honestamente, não sei o que vai acontecer.
Você está disposta a fazer isso como um experimento?
Cliente: Pode ser. (O terapeuta passa o cartão para a cliente. Ela silenciosamente lê
todos os pensamentos negativos, com uma careta no rosto. Então ela vira o
cartão e lê a declaração no verso. Então ela sorri.)
Terapeuta: Você está sorrindo. Por quê?
Cliente: É divertido, eu acho. É como você disse. Eu posso ver isso como uma história.
É isso que é. É a história da "Jane inútil".
Terapeuta: E você está presa nesta história?
Cliente: Não. É como se ela estivesse no cartão.
Terapeuta: Então, deixe-me perguntar o seguinte: Está tudo bem em ter essa história? Vo-
cê tem espaço para ela?
Cliente: Sim, quando ela é assim.
Terapeuta: Quando você está desfundida dela?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Bem, é isso que estamos almejando. Você não pode se livrar da história — não
sem uma grande cirurgia no cérebro —, mas você pode aprender a mantê-la de
forma mais leve.
Cliente: Bem, eu consigo fazer isso aqui. Mas eu não sei se vou conseguir lá fora.
Terapeuta: Fico feliz que você tenha dito isso. Porque a desfusão é uma habilidade e pre-
cisa de prática. Como eu disse a você na última sessão, se você quer se tornar
um bom guitarrista, você precisa praticar entre suas aulas de violão. Então, se
você quer ficar melhor em fazer isso, você estaria disposta a praticar algumas
coisas entre esta sessão e a próxima?
Cliente: O que você gostaria que eu praticasse?
Terapeuta: Bem, a primeira coisa é praticar nomear a história. Durante a próxima semana,
sempre que aparecer um pensamento, um sentimento ou uma lembrança que
esteja ligada a essa história, no momento em que você o perceber, eu gostaria
123
que você dissesse para si mesmo: "Ahá! A história da "Jane Inútil" ou algo pa-
recido. Você precisa fazer só isso. Apenas nomear a história. Às vezes, a histó-
ria vai fisgar você antes que você perceba. Isso é normal. A gente já espera is-
so. Assim que você perceber que isso aconteceu, diga a si mesmo: "Oh. Acabei
de morder o anzol da história da "Jane Inútil". Você acha que pode fazer isso?
Cliente: Sim. Eu vou me dar uma chance.
Terapeuta: Tem mais uma coisa. E ela pode parecer um pouco estranha, então, por favor,
sinta-se à vontade para dizer não, se você não quiser fazer isso.
Cliente: Ok.
Terapeuta: Ótimo. Bem, o que eu gostaria que você fizesse é levar esse cartão em sua bol-
sa durante a próxima semana e retirá-lo pelo menos quatro ou cinco vezes por
dia. Leia todos esses pensamentos negativos e, em seguida, vire o cartão e leia
o que está escrito no verso.
Cliente: Espero que ninguém reviste a minha bolsa.
Terapeuta: (Ri) Você está disposta a fazer isso? Não tem problema se você não quiser.
Tem um monte de outras coisas que eu posso sugerir.
Cliente: Não. Está bem assim.
Terapeuta: Ótimo.
124
pessoais: para aprender a lidar com o medo e chegar a um acordo com a morte iminente. Na-
omi disse que era difícil manter o foco no workshop. Ela continuava pensando em morrer:
perder seus entes queridos, o tumor se espalhando por seu cérebro, a inevitável deterioração
para a paralisia e o coma, depois a morte.
Se você tem uma doença terminal, certamente há um momento e um lugar em que é útil pen-
sar sobre morte: se você estiver escrevendo um testamento, planejando um funeral, fazendo
planos de cuidados médicos ou compartilhando seus medos com um ente querido. Mas se
você estiver participando de um workshop para crescimento pessoal, não é útil estar tão fun-
dido com seus pensamentos sobre a morte a ponto de perder o workshop. Então, depois de
ouvir com compaixão, conversei com Naomi sobre nomear a história, e ela escolheu esse títu-
lo: a história da "morte assustadora".
Sugeri a ela que praticasse a nomeação da história da "morte assustadora" durante todo o
workshop. Na metade do segundo dia, ela havia se afastado significativamente daqueles pen-
samentos sobre a morte e o morrer. Eles não tinham mudado em nada a credibilidade da histó-
ria, mas agora ela podia deixá-los ir e vir sem ser fisgada por eles.
Quando nos desfundimos dos pensamentos, eles geralmente reduzem a credibilidade — mas,
do ponto de vista da ACT, isso não é tão importante. Afinal, acreditar em um pensamento
significa simplesmente tomá-lo como verdade. Na ACT, não estamos interessados em saber
se um pensamento é verdadeiro ou falso, mas se ele pode nos ajudar a viver uma vida baseada
em valores.
125
Dica Prática: Você pode fazer do tema de casa uma experiência do tipo ganha-
ganha. Primeiro, quando você introduz o tema de casa para seu cliente, pode di-
zer: "Faça isso como uma experiência para ver o que acontece" ou "Faça isso para
aprender mais sobre como sua mente funciona" ou "Faça isso para descobrir mais
sobre você e como você funciona". Em segundo lugar, diga algo como: “Vamos
fazer disso uma proposta ganha-ganha. Espero que você siga em frente porque,
como eu disse anteriormente, a prática é importante. No entanto, se você não fizer
isso, eu gostaria que você notasse o que impediu você de fazê-lo. Em que pensa-
mentos você ficou enredado, com quais sentimentos você entrou em luta ou que
tipo de coisas você fez que se tornaram obstáculos"
Durante a próxima sessão, se o cliente não tiver conseguido fazer o tema de casa,
você pode abordar essas barreiras tal como sugerido no capítulo 13.
A primeira coisa a fazer na próxima sessão — de preferência depois de uma breve conversa e
um exercício de atenção plena — é revisar o tema de casa e ver o que aconteceu. Talvez seja
necessário trabalhar um pouco mais o processo da desfusão ou, se o cliente tiver recaído na
agenda de controle, talvez precisemos utilizar a desesperança criativa. Se ele está progredindo
(isto é, se ele está achando mais fácil se desfundir de pensamentos inúteis), nós tradicional-
mente passamos para a aceitação e contato com o momento presente — mas podemos passar
também para qualquer outro dos cinco processos restantes do hexaflex.
É claro que não vamos cobrir a fusão inteiramente em uma ou duas sessões e depois nunca
mais mencioná-la. Como falamos no início deste capítulo, em cada sessão, ajudamos nossos
clientes a se livrarem de cognições inúteis com intervenções simples como estas: "Observe o
que sua mente está lhe dizendo. É uma história antiga ou nova?" ou "Então, se você deixar
que esse pensamento dite o que você faz, isso levar você para a vitalidade ou para o sofrimen-
to?
1. Teste todas as técnicas em si mesmo. Você é a pessoa mais indicada em quem aplicá-las.
2. Leia todos os exercícios, metáforas e componentes psicológicos educacionais em voz
alta, como se as estivesse aplicando com um cliente.
3. Analise os casos de dois ou três clientes e identifique os principais pensamentos com
os quais eles estão se fundindo. Procure especialmente a fusão com o passado, o futu-
ro, o eu, as regras, as razões e os julgamentos. Então, avalie quais técnicas de desfu-
são você poderia tentar com elas.
E se você não conseguir fazer nada disso, identifique o que está impedindo você, em termos
de fusão, esquiva experiencial e ação ineficaz. Com quais pensamentos você está se fundin-
do? (Por exemplo, "Eu não posso me incomodar" ou "Eu faço isso depois" ou "Eu não preci-
so fazer essas coisas, ler este capítulo é suficiente".) Quais sentimentos você está evitando —
relutância, impaciência, apatia, ansiedade? Que ações ineficazes você está adotando — pro-
crastinando, se distraindo, lendo superficialmente?
126
SUMÁRIO
A capacidade de pensar é muito, muito útil, mas quanto maior o grau de fusão com nossos
pensamentos, mais inflexível se torna o nosso comportamento. Facilitamos a desfusão em
todas as sessões da ACT, pedindo repetidamente aos clientes que percebam o que estão pen-
sando, discriminem e diferenciem a fusão da desfusão e analisem seus pensamentos em ter-
mos de funcionalidade. E nunca precisamos debater se um pensamento é verdadeiro ou falso
— tudo o que precisamos fazer é algo como: "Se você se apegar firmemente a esse pensamen-
to, ele o ajudará a viver a vida que você quer viver?"
MORDENDO O ANZOL
Na ACT, falamos coloquialmente em ser “fisgado pela sua mente” ou “fisgado
pelos pensamentos”. Com isso, queremos dizer que você pode ficar enredado em
seus pensamentos de tal forma que estes venham a exercer uma forte influência
sobre suas ações. Em que situações sua mente consegue fisgá-lo? Que tipo de coi-
sas ela diz para prender você? Como você consegue se desprender?
127
CAPÍTULO 8
Abrindo-se
A ACEITAÇÃO DE FORMA RESUMIDA
Em Linguagem Simples: Aceitação significa permitir que seus pensamentos e sentimentos sejam
como são, independentemente de serem prazerosos ou dolorosos; abrir-se e criar espaço para eles;
deixar de lutar contra eles; deixá-los ir e vir como naturalmente fazem.
Objetivo: Permitir-nos ter experiências privadas dolorosas se e quando fazer isso nos permite agir
de acordo com nossos valores.
Um Lembrete Rápido
Peço desculpas por continuar insistindo nisso, mas é muito importante, e muitos praticantes
novatos têm uma ideia errada: pela terceira (e última) vez, nós não somos fascistas da atenção
plena na ACT. Não defendemos a aceitação de todo e qualquer pensamento e sentimento.
Somos a favor da aceitação se e quando ela nos possibilita agir com base em nossos valores.
"Aceitação" é a forma curta para "aceitação experiencial". Refere-se a aceitar ativamente nos-
sas experiências privadas: pensamentos, sentimentos, memórias, etc. Não tem nada a ver com
aceitar passivamente nossa situação de vida. A ACT defende que tomemos medidas para me-
lhorar nossa situação de vida tanto quanto possível: aceitação e compromisso. Por exemplo,
se você estivesse numa relação abusiva, nós proporíamos que você abrisse espaço para todos
os pensamentos e sentimentos dolorosos que aparecessem (ao invés de fazer coisas autoderro-
tistas tais como beber, fumar, comer excessivamente, ruminar, preocupar-se, etc.) – e simulta-
neamente agisse com base em seus valores para melhorar seu relacionamento ou o deixasse.
128
CONSEGUINDO A ACEITAÇÃO
Em muitos protocolos, e no livro-texto original da ACT (de 1999), a "aceitação/boa vontade
para" vem depois da "desesperança criativa/confrontando a agenda". Se é de lá que você vem,
poderia fazer uma transição suave para a mesma tipo assim: "Ok, se tentar controlar o que
você sente que não funciona muito bem, então qual é a alternativa?" A metáfora do Empur-
rando a Prancheta se presta muito bem para esta transição.
Terapeuta: Vamos fazer uma rápida recapitulação. (O terapeuta recapitula rapidamente a
Metáfora da Prancheta e faz com que o cliente a empurre mais uma vez.) Então
você está empurrando, empurrando e empurrando, e isto está consumindo todo
o seu tempo e toda a sua energia. Seus ombros estão cansados e você está en-
curralado, e não consegue fazer nada útil, tal como dirigir um carro ou preparar
um jantar ou abraçar alguém que ama enquanto faz isso. Agora (empurra a
prancheta para longe), deixe-a apenas ficar ali no seu colo (O terapeuta colo-
ca a prancheta gentilmente no colo do cliente) Agora, como você está sentindo
isso? O esforço não é muito menor?
Cliente: Bem ... sim. É bem menos esforço. Mas isso ainda está lá.
Terapeuta: Com certeza. Não só isso ainda está lá, mas está ainda mais perto de você do
que antes. Mas observe a diferença: agora você é livre para fazer as coisas que
fazem sua vida funcionar. Você pode abraçar alguém que ama, pode cozinhar
ou dirigir um carro. Isso não está mais drenando sua energia, cansando, pren-
dendo, ou limitando você. Não é mais fácil que isso? (O terapeuta faz de conta
que está empurrando a prancheta para longe.) Agora, suponha que você
aprendeu como fazer isso com seus sentimentos, em vez de lutar com eles ou
organizar sua vida tentando evitá-los. Como você acha que isso pode benefici-
ar você?
Para conduzir o cliente para Aceitação a partir da Desfusão, você poderia dizer: "Até agora
estivemos olhando para pensamentos dolorosos, mas e os sentimentos?" ou "Sua mente está
lhe dizendo que esse sentimento é insuportável. Que tal verificar isso e ver se é esse o caso?"
A partir de Valores: "Então, quando você fala sobre esses valores, quais sentimentos apare-
cem para você?"
A partir da Ação Comprometida: "Quais sentimentos provavelmente irão se manifestar para
você quando você realizar essa ação?" ou "Então, quando você pensa em fazer isso, o que
você sente?" ou "De que sentimentos você precisará abrir espaço para fazer isso?"
Do Eu-como-Contexto: "Então, da perspectiva do eu observador, vamos agora dar uma olhada
em alguns desses sentimentos com os quais você tem lutado."
Um de nossos desafios é tornar a aceitação aceitável para nossos clientes. Quanto mais viven-
cialmente esquivos forem nossos clientes, mais relutantes eles serão em aceitar experiências
privadas desagradáveis. Então, precisamos ir mais devagar e de maneira mais gentil. Geral-
mente precisamos trabalhar mais com a desesperança criativa, e podemos ter que voltar a ela
várias vezes.
O trabalho com valores também é muito importante aqui. Precisamos estabelecer uma ligação
clara entre aceitação e vitalidade — que aceitar essa dor está a serviço de algo importante,
significativo e vital. A pergunta da varinha mágica costuma ser muito útil: "Se eu acenasse
com uma varinha mágica e conseguisse fazer com que esses sentimentos não mais a impedis-
sem de nenhuma maneira, o que você faria de diferente em sua vida?" Uma vez que sabemos
129
a resposta, podemos dizer: "Ok. Então, se isso é o que você quer fazer com sua vida, vamos
tornar isso possível. Eu não tenho uma varinha mágica, mas podemos aprender algumas habi-
lidades para que esses sentimentos não mais atrapalhem você."
Claro que também precisamos manter esse trabalho seguro. Queremos ter em mente que não
fazemos sermões nem coagimos nossos clientes — sempre pedimos permissão, sempre lhes
damos uma opção e os informamos de que podem interromper o que estamos fazendo a qual-
quer momento.
Aceitação de Emoções
Agora vamos começar com um longo exercício de atenção plena, que é construído a partir de
oito técnicas diferentes: observe, respire, expanda, permita, objetive, normalize, mostre auto-
compaixão e expanda a consciência. Depois, vou desembrulhá-lo. Como de costume, gostaria
que você lesse o mesmo em voz alta como se estivesse falando com um cliente. (No entanto,
reconheço que você pode não querer fazer isso se estiver em uma biblioteca!) As reticências
indicam breves pausas de um a três segundos. (Observe também: com meus clientes e ao lon-
go deste livro, eu uso as palavras "sentimentos" e "emoções" como sinônimos).
OBSERVE
Terapeuta: Convido você a sentar-se ereto em sua cadeira, com as costas retas e os pés
apoiados no chão. A maioria das pessoas acha que elas se sentem mais alertas e
acordadas sentadas assim, então confira e veja se esse é o seu caso. Feche os
olhos ou fixe-os em qualquer ponto, o que você preferir. Tome algumas respira-
ções lentas e profundas e realmente observe a respiração entrando e saindo de
seus pulmões. (Pausa de 10 segundos). Agora, rapidamente faça um escanea-
mento de seu corpo da cabeça aos pés, começando em seu couro cabeludo e des-
cendo. Observe as sensações que você está sentindo em sua cabeça ... garganta
... pescoço ... ombros ... peito ... abdômen ... braços ... mãos ... pernas ... e pés.
Agora, aumente sua atenção sobre parte do corpo em que você está sentindo essa
sensação mais intensamente. E observe a sensação de perto como se você fosse
um cientista curioso que nunca tenha encontrado ou visto algo assim antes.
(Pausa de 5 segundos.) Observe a sensação com cuidado ... Deixe seus pensa-
mentos virem e irem como se fossem carros que passam, e mantenha sua aten-
ção na sensação ... Observe onde ela começa e onde ela termina ... Aprenda tanto
sobre isso quanto você pode ... Se você desenhasse um contorno em torno dela,
que forma ela teria? ... Ela está na superfície do corpo ou dentro de você, ou am-
bos? ... Até onde ela vai dentro de você? ... Onde ela é mais intensa? ... Onde ela
é mais fraca? (Pausa 5 segundos.) Se você se perder em seus pensamentos, as-
sim que se der conta disso, volte e concentre-se novamente na sensação ... Ob-
serve-a com curiosidade ... Como ela se diferencia no centro em relação às ex-
130
tremidades? Existe alguma pulsação ou vibração dentro dela? ... Ela é leve ou é
pesada? ... Ela se move ou está parada? ... Qual é a sua temperatura? ... Há pon-
tos quentes ou pontos frios? ... Observe os diferentes elementos dentro dela ...
Observe que não há apenas uma sensação — há sensações dentro de sensações
... Observe as diferentes camadas de sensações. (Pausa de 5 segundos)
RESPIRE
Terapeuta: Enquanto você está observando esta sensação, respire para "dentro" dela ....
Imagine sua respiração fluindo para dentro e em torno desse sentimento... Res-
pire para dentro...
EXPANDA
Terapeuta: E quando você está inspirando, é como se, de alguma forma mágica, todo esse
espaço se abrisse dentro de você... Você se abre em torno dessa sensação... Dê es-
paço para ela... Expanda-se ao redor dessa sensação... Veja se você descobre um
sentido para a mesma... respirando para dentro dela e abrindo-se em torno dela...
PERMITA
Terapeuta: E veja se você consegue permitir que esse sentimento apenas esteja lá. Você
não precisa gostar dele ou querê-lo ... Apenas permita ele estar ali ... Apenas
deixe que ele esteja ... Observe, respire para dentro dele, abra-se em torno dele
e permita que ele seja como é. (Pausa de 10 segundos.) Você talvez sinta um
forte desejo de lutar com ele ou de afastá-lo. Se sim, apenas reconheça que o
desejo está presente sem agir sobre ele. E continue observando a sensação.
(Pausa de 5 segundos.) Não tente se livrar dela nem tente mudá-la. Se ela mu-
dar por si só, tudo bem. Se ela não mudar, tudo bem também. Mudá-la ou se
livrar dela não é seu objetivo. Seu objetivo é simplesmente permitir, deixá-la
ser como ela é. (Pausa de 5 segundos)
TRANSFORME-A EM UM OBJETO
Terapeuta: Imagine que essa sensação é um objeto ... Como um objeto, que forma ela
tem? ... Este objeto é líquido, sólido ou gasoso? ... Ele está se movendo ou está
parado? ... De que cor ele é? ... Transparente ou opaco? ... Se você pudesse to-
car a superfície dele, como ele seria? ... Molhado ou seco? ... Áspero ou suave?
... Quente ou frio? ... Suave ou duro? (Pausa de 10 segundos.) Observe este
objeto com curiosidade, respire para dentro dele e abra-se em torno dele ... Vo-
cê não precisa gostar dele ou querê-lo. Apenas permita que ele seja ... e note
que você é maior do que esse objeto, ... não importa quão grande ele seja, ele
nunca poderá ficar maior que você. (Pausa de 10 segundos)
NORMALIZE
Terapeuta: Essa sensação ou sentimento está lhe falando de alguma informação valiosa ...
Ela está lhe dizendo que você é um ser humano normal com um coração ... está
lhe dizendo que você se importa ... que há coisas na sua vida que são importan-
tes para você ... E isso é o que os humanos sentem quando há uma lacuna entre
o que queremos e o que temos ... Quanto maior a lacuna, maior o sentimento.
(Pausa de 5 segundos)
131
MOSTRE AUTOCOMPAIXÃO
Terapeuta: Pegue uma das suas mãos e coloque-a na parte de seu corpo onde você sente o
sentimento ... imagine que esta é uma mão que cura ... a mão de uma pessoa
amorosa, de seu pai ou de sua mãe, de um amigo/a, de uma enfermeira... e sin-
ta o calor fluindo da sua mão para o seu corpo ... não para se livrar do senti-
mento, mas para abrir espaço para ele ... para suavizá-lo e relaxar as áreas em
torno dele. (Pausa de 10 segundos.) Segure-o com cuidado, como se fosse um
bebê chorando ou um filhote assustado. (Pausa de 10 segundos.) Agora deixe a
sua mão descansar, e mais uma vez, respire para dentro do sentimento e ex-
panda-se ao redor dele. (Pausa de 10 segundos.)
EXPANDA A CONSCIÊNCIA
Terapeuta: A vida é como um show em um palco ... e nesse palco estão todos os seus pen-
samentos, todos os seus sentimentos, e tudo o que você pode ver, ouvir, tocar,
provar e cheirar ... e, durante os últimos minutos, nós diminuímos as luzes no
palco, e direcionamos a luz de um holofote sobre este sentimento ... e agora é
hora de acender o resto das luzes ... Então acenda novamente as luzes do seu
corpo ... observe seus braços, suas pernas, sua cabeça, seu pescoço ... e obser-
ve que você está no controle de seus braços e pernas, independentemente do
que você está sentindo ... Basta movê-los um pouco para verificar isso por si
mesmo ... e agora alongue-se, e observe-se alongando .. Acenda as luzes da sa-
la ao seu redor ... Abra seus olhos, olhe ao redor e observe o que você pode ver
... e observe o que você pode ouvir ... e observe que não há apenas um senti-
mento aqui ... há um sentimento dentro de um corpo, dentro de um quarto, den-
tro de um mundo cheio de oportunidades ... e, bem vindo de volta!
Dica Prática: Mantenha seus próprios olhos abertos ao fazer qualquer exercício de
atenção plena e observe atentamente o cliente. Fique atento a sinais de aflição ou de
cochilos e intervenha conforme necessário. Quando você faz esses exercícios mais
longos com clientes, é uma boa ideia fazer verificações com perguntas simples co-
mo "Como você está? Você está bem para continuar com isso?"
Você pode misturar e combinar essas oito técnicas — observar, respirar, expandir, permitir,
objetivar, normalizar, mostrar autocompaixão, expandir a consciência — da maneira que de-
sejar. Você pode aumentá-los ou diminui-los, usar qualquer um deles sozinho ou em qualquer
número de combinações. No roteiro acima, nos concentramos em apenas uma sensação — a
mais intensa. Muitas vezes isso é suficiente para que a aceitação "se espalhe" por todo o cor-
po. Mas às vezes pode haver outras sensações fortes em diferentes partes do corpo; nesse ca-
so, podemos repetir o procedimento com cada uma delas.
À medida que levamos o cliente através desse exercício, uma de duas coisas vai acontecer: ou
os sentimentos dele mudarão — ou não. Não importa qualquer que seja a maneira. O objetivo
não é mudar ou reduzir sentimentos, mas aceitá-los — permitir que eles estejam lá sem luta.
Por quê? Porque quando não estamos investindo muito tempo, energia e esforço na tentativa
de controlar a maneira como nos sentimos, podemos usar os mesmos em ações baseadas em
nossos valores.
Nossos clientes geralmente acham que, quando aceitam uma emoção ou uma sensação dolo-
rosa, esta diminui significativamente ou até mesmo desaparece. Quando isso acontece, preci-
132
samos esclarecer que (1) isso é um bônus, não o objetivo, e (2) nem sempre irá acontecer;
então, não devem esperar por isso. Poderíamos dizer: "Eis a realidade. Quando aceitamos nos-
sos sentimentos, eles podem ou não diminuir em intensidade. Não temos como prever isso.
Mas podemos prever isso: quando tentamos controlar ou evitar nossos sentimentos, é muito
provável que eles irão aumentar em intensidade e nos causar mais angústia".
Se não abordarmos explicitamente esse problema, então, tal como ocorre com a desfusão,
nossos clientes começarão a usar técnicas de aceitação para tentar controlar seus sentimentos.
E, claro, isso vai sair pela culatra em breve. O cliente ficará desapontado e voltará e reclama-
rá: "Isto não está funcionando". Respondemos a isso tal como o fizemos com problemas se-
melhantes em torno da desfusão (consulte o Capítulo 7, p. 113, NÃO ESTÁ FUNCIONANDO!).
Dica Prática: Suponha que seu cliente relate algo como "O sentimento foi embora"
ou "Eu mal posso sentir ele agora" ou "Sinto-me muito melhor agora". Se você sor-
rir e disser: "Que ótimo!", então você acabou de reforçar o agenda de controle, e as
chances são de que o cliente agora tente transformar isso em uma técnica de con-
trole. Então, em vez disso, utilize a indiferença: "Aproveite quando isso acontecer.
Mas, por favor, não pense que isso é uma varinha mágica para controlar seus sen-
timentos. Não é. O que estamos almejando é deixar de lutar com nossos sentimen-
tos para que possamos usar nossa energia para fazer as coisas que tornam a vida
significativa". Se seu cliente parece confuso ou ambivalente, você pode voltar e tra-
balhar novamente um pouco com a Desesperança Criativa. A metáfora Empurrando
a Prancheta é uma maneira rápida e eficaz para fazer isso.
SEÇÃO 2: RESPIRE
Muitos clientes — mas nem todos — descobrem que respirar para "dentro" de um sentimento
ou sensação permite-lhes abrir espaço para o mesmo. Uma respiração lenta, diafragmática,
parece particularmente útil para muitas pessoas.
A Versão de Dez Segundos
Terapeuta: Observe esse sentimento e gentilmente respire para "dentro" dele.
SEÇÃO 3: EXPANDA
Falar metaforicamente sobre abrir espaço, criar espaço, abrir-se, ou expandir-se geralmente
costuma ser útil.
133
A Versão de Dez Segundos
Terapeuta: Observe esse sentimento, e veja se você consegue abrir-se em torno dele um
pouco — dar a ele um pouco de espaço.
SEÇÃO 4: PERMITA
De novo e de novo, lembramos aos nossos clientes que a aceitação não significa gostar, que-
rer ou aprovar um pensamento ou um sentimento: significa permitir que ela seja.
A Versão de Dez Segundos
Terapeuta: Eu sei que você não gosta desse sentimento, mas veja se você consegue permi-
tir que ele esteja aí por um momento. Você não precisa gostar dele — apenas
permita que ele esteja aí.
SEÇÃO 6: NORMALIZE
Se pudermos reconhecer que é normal e natural ter sentimentos dolorosos - que isso é uma
parte inevitável do ser humano -, é mais provável que aceitemos isso. Em contraste, suponha
que seu cliente se fundiu com uma história como esta: "As pessoas normais não se sentem
assim. Deve haver algo errado comigo". Que efeito isso terá em sua atitude em relação a seus
sentimentos?
Em vez de uma versão de dez segundos, aqui estão duas intervenções mais longas que podem
ajudar a estabelecer uma visão mais realista da emoção humana.
Nove Emoções Básicas
Terapeuta: Vou percorrer uma lista das nove emoções humanas básicas. Ainda não é uma
134
questão completamente fechada, mas a maioria dos "especialistas" tende a con-
cordar com essas nove emoções básicas. À medida que eu for abordando cada
uma delas, quero que você sinalize com o polegar para cima ou para baixo. Po-
legar para cima significa que é uma emoção "boa" ou "positiva". Polegar para
baixo significa que é uma emoção "ruim" ou "negativa". Nenhuma hesitação
permitida — apenas polegar para cima ou polegar para baixo. Pronto? Amor ...
Alegria ... Curiosidade ... Raiva ... Medo ... Tristeza ... Culpa ... Choque ... Nojo.
Isso não é interessante? Você mostrou o polegar para baixo para seis das nove
emoções humanas normais. Entenda isso: seis de nove. Isso lhe diz algo sobre o
que é ser humano. Dois terços das emoções humanas básicas que todo ser hu-
mano vai experimentar repetidamente ao longo da vida não são experienciada
como boas! Vivemos em uma sociedade de bem-estar que nos diz que devemos
nos sentir bem o tempo todo, mas quão realista isso realmente é?
A Lacuna da Realidade
Eu cunhei a expressão "lacuna (fenda, brecha, hiato) da realidade" em referência à lacuna que
há entre a realidade que temos e a realidade que desejamos: quanto maior for essa lacuna, mais
dor sentimos.
Terapeuta: Há uma lacuna entre a realidade que você quer e a realidade que você tem. E não
é apenas uma pequena lacuna — é uma lacuna enorme. Então deixe-me pergun-
tar-lhe o seguinte: o que você espera que qualquer ser humano vai sentir quando
há uma lacuna tão grande entre o que você quer e o que você tem? (Normalmen-
te, o cliente irá nomear emoções semelhantes aquelas que ele tem. Caso isto não
ocorre, você mesmo pode nomear as emoções.) Isso mesmo. Então, o que você
está sentindo é uma emoção humana normal. É isso que sentimos quando há
uma lacuna na realidade. E quanto maior a lacuna, maior e mais doloroso será o
sentimento.
SEÇÃO 7: AUTOCOMPAIXÃO
A autocompaixão — ser gentil e cuidar de si mesmo — adiciona um elemento extra à aceita-
ção. Muitas vezes você vai notar isso clinicamente: você verá seu cliente suavizando a expres-
são de seu rosto e aliviando a tensão em seu corpo. Quando o cliente coloca a sua mão em um
sentimento doloroso e o "acaricia", isto muitas vezes promove a aceitação de forma muito
poderosa. Presumivelmente, as sensações da mão quente e a rica metáfora das "mãos curati-
vas" contribuem para a eficácia do processo.
A Versão de Dez Segundos
Terapeuta: Apenas coloque sua mão onde você sente isso mais intensamente — e veja se
você consegue criar um espaço em torno disso ... acaricie gentilmente.
Aumentando a Aceitação
A aceitação está implícita na atenção plena, mas você pode aumentar o "elemento" de aceita-
ção de qualquer exercício de atenção plena, adicionando instruções simples como estas:
■ "Permita que seus sentimentos sejam como são. Não tente mudá-los ou controlá-los."
■ "Se um sentimento ou sensação difícil aparecer para você, como ansiedade ou dor nas
costas, simplesmente reconheça isso. Diga a si mesmo silenciosamente: 'Aqui está
uma sensação de dor nas costas' ou 'Aqui está um sentimento de ansiedade'."
Lembre-se também de que a aceitação está sempre a serviço de uma ação baseada em valores,
e que podemos aumentá-la vinculando-a explicitamente a valores: "Você está disposto a abrir
espaço para esse sentimento se isso permitir que você faça o que realmente é importante para
você?" Do ponto de vista da ACT, não há sentido em criar espaço para nossas experiências
privadas dolorosas, a menos que isso nos permita agir de forma que nos ajude a tornar nossa
vida mais rica e mais significativa. A metáfora da Caminhada pelo Pântano (Hayes et al.,
1999) ilustra isso.
PSICOEDUCAÇÃO
A psicoeducação sobre as emoções pode desempenhar um papel expressivo na aceitação.
Muitas vezes falamos com os clientes sobre as origens evolutivas das emoções e como elas
podem ser benéficas em alguns contextos e um incômodo em outros. Por exemplo, muitas
vezes falamos sobre a resposta de luta ou fuga: como ela é desencadeada por ameaças ou de-
safios percebidos — como isso leva ao medo, ansiedade e estresse — e como, em algumas
situações, a ansiedade pode melhorar o desempenho ou fornecer motivação útil.
Quase todos os clientes que atendemos têm uma tendência a evitar a ansiedade. (Você tem
essa tendência? Eu sei que tenho!) Então, uma coisa que queremos enfatizar é que a mudança
quase sempre traz ansiedade, e se não estivermos dispostos a dar espaço para isso, teremos
dificuldade em fazer mudanças. A pergunta que fazemos é esta: "Você está disposto a abrir
espaço para essa ansiedade, a fim de fazer as mudanças que irão enriquecer a sua vida?" Po-
demos enfatizar isso, pedindo ao cliente que mantenha um diário de todas as coisas das quais
ele desiste ou que ele perde porque não está disposto a abrir espaço para a ansiedade.
Outro insight importante para todos os nossos clientes é que nossos sentimentos não contro-
lam nossas ações. Influência, sim — controle, não. Para mostrar isso, podemos usar os exercí-
cios mencionados no Capítulo 7 (p.118): SE NOSSOS PENSAMENTOS E SENTIMENTOS
CONTROLASSEM NOSSAS AÇÕES e VOCÊ JÁ TEVE PENSAMENTOS E SENTIMEN-
TOS QUE VOCÊ NÃO SEGUIU? Muito mais poderoso, porém, é trabalhar com sentimentos
fortes em sessão. Se seu cliente estiver sentindo raiva, medo, tristeza ou outras emoções for-
tes, você poderá dizer: "Observe essas emoções aparecendo — e observe que, embora sejam
intensas, você controla os braços, as pernas e a boca. Não aceite minha palavra para isso, con-
fira por você mesmo. Mova seus braços e pernas, brinque com as mãos, faça alguns gestos.
Observe que você não consegue controlar seus sentimentos, mas você consegue controlar suas
ações." Se um cliente está sentindo uma raiva muito forte, você pode pedir a ele para lhe dizer
em um sussurro sobre quanta raiva ele está sentindo — para mostrar a ele que ele tem contro-
le sobre se ele grita ou não. Se um cliente sente uma forte ansiedade, você pode pedir a ele
para caminhar para diferentes partes da sala, e até mesmo para sair e voltar, para demonstrar
que ele consegue controlar aonde ele vai e o que ele faz.
E um último componente a considerar aqui: se um cliente tem uma percepção limitada de suas
próprias emoções, podemos ensiná-lo a reconhecê-las e rotulá-las. Essa é uma habilidade es-
sencial para a inteligência emocional.
137
Figura 8.1 –Técnicas Comuns de Aceitação
O Eu Observador
Depois que fizermos algum trabalho sobre o eu-como-contexto — veremos isso em detalhes
no capítulo 10 —, teremos mais um caminho para a aceitação. Poderíamos dizer: "Veja se
você pode entrar no espaço psicológico do seu eu observador — e a partir desse espaço de
consciência olhar para esse sentimento, observar onde ele está e de que ele é feito". Ou de
forma mais simples: "Olhe para este sentimento a partir do eu observador".
Metáforas
Há um grande número de metáforas para aceitação, e as que estão nesta caixa são apenas al-
gumas poucas. Passageiros no Ônibus (Hayes et al., 1999) e Demônios no Barco (Harris,
2007) são muito versáteis, pois englobam todo o hexaflex em uma única metáfora e podem,
portanto, ser usados para acentuar qualquer processo em qualquer sessão. Ambas as metáforas
são essencialmente as mesmas. Eu mudei Passageiros no Ônibus para Demônios no Barco
por três razões: (l) demônios e barcos têm uma herança cultural muito mais rica do que passa-
geiros e ônibus, — (2) quase todos os livros da ACT têm Passageiros no Ônibus como metá-
fora chave e eu senti a necessidade como uma mudança — e (3) esse é exatamente o tipo de
cara que eu sou.
139
ta. E você sabe que é onde você realmente quer ir. Você tem mapas e planos —
há lugares que você quer ver. Então você toma coragem e gira a cana do leme e
vai em direção à costa. Mas no instante em que o barco muda de direção, todos
os demônios saem debaixo do convés e ameaçam rasgar você em pedaços. E
eles parecem maus. E eles são enormes. Dentes afiados. Chifres maciços. Gar-
ras enormes. E eles dizem: "Nós vamos rasgá-lo em pedaços. Vamos rasgá-lo
em pedaços". Então você fica aterrorizado. E você diz: "Desculpem, demô-
nios!" E você dá meia-volta no barco e volta para o mar. Assim que o barco es-
tiver à deriva mais uma vez, os demônios desaparecem. Você diz "Ufa!" e res-
pira um suspiro de alívio. E por um tempo, fica tudo bem – você navega sem
direção. Mas então você vê todos aqueles outros barcos indo em direção à cos-
ta. E você olha para seus mapas e seus planos. E você sabe onde você realmen-
te quer ir. Então você toma coragem, gira o leme e no instante em que o barco
muda de direção, os demônios voltam. Dentes enormes, enormes garras: "Nós
vamos matar você!"
Agora aqui está detalhe: embora esses demônios tenham ameaçado matá-lo a
vida toda, eles nunca o prejudicaram de verdade. Isso é porque eles não conse-
guem. Eles não têm capacidade de lhe prejudicar. Tudo o que eles podem fazer
é ameaçar você. E enquanto você acreditar que eles farão as coisas que eles di-
zem que farão, eles têm o controle do barco. Então, armado com esse conhe-
cimento, se chegar até a costa realmente é importante, o que você precisa fa-
zer? (Elicie uma resposta do cliente.) Isso é certo; você precisa manter as mãos
no leme e seguir em direção à costa. Os demônios vão se juntar e tentarão in-
timidá-lo. Mas isso é tudo que eles podem fazer. E ao deixá-los se reunir ao
seu redor, você poderá dar uma boa olhada neles sob a luz direta do sol. E você
perceberá que eles não são nem de longe tão grandes e desagradáveis quanto
pareciam, eles estavam usando efeitos especiais para parecerem dez vezes
maiores do que o tamanho real. E enquanto você mantém suas mãos naquele
leme, indo em direção à costa, você percebe que há um barco inteiro aqui. E há
o céu, o mar, o sol e o vento — e peixes, pássaros e outros navios; há todo um
mundo para explorar e apreciar, não apenas esses demônios. E observe que não
importa o quão longe você esteja da costa, no instante em que você virar esse
leme, você está em uma aventura, você está instantaneamente se movendo na
direção que deseja ir, em vez de ficar à deriva sem rumo.
Você pode usar essa metáfora como técnica auxiliar na desesperança criativa (tentar jogar os
demônios ao mar), na aceitação (permitindo que os demônios se juntem ao seu redor), na des-
fusão (vendo-os em plena luz do dia, vendo através dos efeitos especiais), na orientação de
valores (ir em direção da costa); na ação comprometida (mantendo as mãos no leme), conta-
tando o momento presente (percebendo o mar, o céu, o vento, o sol e assim por diante), e até
mesmo no eu observador (você não é o barco ou os demônios).
140
Assim, em uma técnica de desfusão, você pode dar nome aos demônios — por exemplo, o
demônio "Eu não posso fazer isso", o demônio "Eu desperdicei a minha vida, e agora é tarde
demais", ou o demônio "você não vai gostar quando chegar lá "demônio. Para trabalhar a
aceitação, você pode perguntar ao cliente: "Se ir em direção à costa é o que importa, você está
disposto a deixar que os demônios se agrupem?" Ou você pode dizer: "Qual demônio está
controlando o barco agora?" Uma vez que este tenha sido nomeado, você poderia dizer: "En-
tão, que tal darmos uma olhada neste demônio em plena luz do dia?" e depois conduzir o cli-
ente através de um exercício de desfusão ou aceitação.
O BOTÃO DE LUTA
O Botão de Luta (Harris, 2007, adaptado de Two Scales, Hayes et al., 1999) é uma metáfora
estendida que abrange tanto a desesperança criativa quanto a aceitação, e, uma vez introduzi-
da, ela se torna uma poderosa ferramenta interativa para o trabalho de aceitação.
Terapeuta: Imagine que no fundo da nossa mente existe um " botão (ou interruptor) de
luta". Quando ele está ligado, significa que vamos lutar contra qualquer dor fí-
sica ou emocional que surja em nosso caminho. Qualquer que seja o descon-
forto que viermos a sentir, tentaremos nos livrar dele ou evitá-lo. Suponha que
o que aparece é ansiedade. (Isso deve ser adaptado para o problema do cliente
— raiva, tristeza, lembranças dolorosas, desejos de beber, e assim por diante).
Se meu botão de luta estiver ativado, então eu preciso me livrar desse senti-
mento de qualquer forma! É como "Oh não! Aqui está essa sensação horrível
novamente. Por que isso continua voltando? Como consigo me livrar disso?"
Então agora eu tenho ansiedade devido a minha ansiedade. Em outras palavras,
minha ansiedade piorou. "Oh, não! Está ficando pior! Por que isso acontece?"
Agora estou ainda mais ansioso. Então eu poderia ficar com raiva da minha an-
siedade: "Não é justo. Por que isso continua acontecendo?" Ou posso ficar de-
primido devido a minha ansiedade: "De novo não. Por que eu sempre me sinto
assim?" E todas essas emoções secundárias são inúteis, desagradáveis, inúteis e
drenam minha energia e vitalidade. E então, adivinha o que? Eu fico ansioso
ou deprimido com isso! Você consegue ver o ciclo vicioso?
Mas agora suponha que meu botão de luta esteja desativado. Nesse caso, qual-
quer sentimento que apareça, não importa o quão desagradável seja, eu não lu-
to com ele. Imagine que ansiedade aparece. Mas desta vez eu não luto com ela.
É como, "Ok, aqui está um nó no meu estômago. Aqui está o aperto no meu
peito. Aqui estão as palmas das mãos suadas e as pernas trêmulas. Aqui está
minha mente me dizendo um monte de histórias assustadoras". E não é que eu
goste ou queira isso. Continua a ser desagradável. Mas eu não vou mais perder
meu tempo e minha energia lutando contra essas sensações. Em vez disso, vou
assumir o controle de meus braços e pernas e colocar minha energia em algo
que seja significativo e que melhore a minha vida.
Então, com o botão de luta desligado, nossos níveis de ansiedade estão livres
para subir e descer conforme a situação exige. Às vezes eles vão ser altos, às
vezes baixos e às vezes não haverá ansiedade alguma. Mas, o que é muito im-
portante, desta vez não estamos perdendo nosso tempo e nossa energia lutando
contra isso. Mas ligue o botão, e será como um amplificador emocional — po-
demos ter raiva da nossa raiva, ansiedade sobre a nossa ansiedade, depressão
sobre a nossa depressão ou culpa pela nossa culpa. (Neste ponto, verifique com
o cliente: "Você consegue se relacionar com isso?")
141
Quando não lutamos, temos um nível natural de desconforto físico e emocio-
nal, que depende de quem somos e do que estamos fazendo. Na ACT, chama-
mos isso de "desconforto limpo". Não há como evitar "desconforto limpo". A
vida fornece algum grau de desconforto a todos nós, de uma forma ou de outra.
No entanto, uma vez que começamos a lutar contra ele, nossos níveis de des-
conforto aumentam rapidamente. Nós chamamos esse sofrimento adicional de
"desconforto sujo". Não podemos fazer nada em relação ao desconforto limpo,
mas podemos reduzir o desconforto sujo. Adivinha como? (Aguarde a resposta
do cliente) Isso mesmo: aprendemos a desligar o botão de luta. E o que eu gos-
taria de fazer agora, se você quiser, é mostrar a você como pode fazer isso.
O próximo passo é trabalhar com uma emoção dolorosa e praticar o desligamento do botão de
luta. A transcrição a seguir ilustra isso.
142
agora é como está a luta. Em uma escala de 0 a 10, quanto você está lutando
com esse sentimento?
Cliente: Oh, em torno de 3.
Terapeuta: Aproximadamente 3. Certo. Você mencionou que sua ansiedade está um pouco
menor. Em uma escala de 0 a 10, como ela está agora?
Cliente: Em torno de 6.
Terapeuta: Ok, usufrua isso quando acontecer, — às vezes, quando você para de lutar com
a ansiedade, ela diminuiu, mas não é isso que estamos tentando alcançar aqui.
Nosso objetivo é apenas abandonar a luta. Você estaria disposta continuar?
Vamos ver se podemos fazer com que a luta diminua mais um ou dois pontos?
Dica Prática: Fique alerta em relação à pseudoaceitação. Quando seu cliente expe-
rimenta uma redução na intensidade de seus sentimentos, ele frequentemente ig-
nora ou interpreta mal que isto “é um bônus, não o objetivo.” Ele deixa a sessão
pensando: Agora eu sei uma maneira de reduzir minha ansiedade e começa a praticar
“aceitação" para se livrar de seus sentimentos desagradáveis. No entanto, isso não
é aceitação verdadeira. A verdadeira aceitação é a disposição de ter os sentimentos,
independentemente de eles aumentarem ou diminuírem. Esse é um dos pontos
mais comuns em que você e seus clientes podem ficar atolados .
143
TAREFA DE CASA E A PRÓXIMA SESSÃO
Uma forma de tarefa de casa pode ser praticar formalmente um exercício de atenção plena
com foco na aceitação de emoções. Isso é particularmente útil para transtornos de ansiedade e
luto. O ideal é fazer esses exercícios na sessão e gravá-los à medida que você for realizando
os mesmos, e então dar ao seu cliente a gravação para levar para casa.
Em www.actmindfully.com.au você pode baixar a planilha de Exercícios de Expansão (veja
no final deste capítulo) e usá-lo como um complemento para incentivar a prática.
Uma segunda coisa que você pode fazer é perguntar ao seu cliente: "Eu gostaria de saber se,
entre a sessão de hoje e a próxima sessão, você estaria disposto a praticar a criação de espaço
para seus sentimentos, como fizemos hoje. Assim que você perceber que está lutando, basta
fazer o exercício". Então, para que ele não se esqueça, escreva os principais passos que você
quer que ele pratique — por exemplo, "Observe, respire, expanda" ou "Transforme-o em um
objeto e respire para dentro dele".
Uma terceira opção é a seguinte: "Ao longo da próxima semana, observe quando você está
lutando com seus sentimentos e perceba quando estiver se abrindo e abrindo espaço para eles.
E observe quais efeitos isso tem quando você responde de uma maneira ou de outra." Você
também pode baixar a partir de www.actmindfully.com.au uma cópia da planilha Lutando
versus Abrindo-se (veja no final deste capítulo) e pedir ao cliente para preenchê-la.
Tradicionalmente, após a desfusão e a aceitação, passamos a abordar o contato com o mo-
mento presente e o eu-como-contexto, mas também podemos nos mover para qualquer parte
do hexaflex com qualquer cliente em qualquer sessão. Assim, na próxima sessão, idealmente
depois de uma breve verificação e um exercício de atenção plena, revisamos a tarefa de casa
para ver o que aconteceu. Se nosso cliente está aberto à ideia de aceitação, mas está tendo
dificuldades para colocá-lo em prática, poderíamos trabalhar um pouco mais as habilidades de
aceitação e utilizar, talvez, intervenções de desfusão ou de eu-como-contexto para ajudar. Se
o cliente está preso à agenda de controle, podemos revisitar a desesperança criativa (O que
está custando a você lutar com esses sentimentos? Como isso está funcionando para você?)
Ou voltar-se para valores (O que é importante para você na vida? Você está disposto a abrir
espaço para esses sentimentos a fim de fazer o que é importante para você?).
144
RESUMO
Aceitação é o processo de ativamente abrir espaço para experiências privadas indesejadas
(incluindo pensamentos, memórias, sentimentos, impulsos e sensações). A aceitação e a des-
fusão andam de mãos dadas: na aceitação, quando entramos em contato direto com nossas
experiências privadas, nos desfundimos de nossos pensamentos sobre elas. A desfusão e a
aceitação também andam de mãos dadas: na desfusão, quando percebemos nossos pensamen-
tos e permitimos que eles sejam como são, estamos praticando um ato de aceitação. Então
agora você deve estar começando a entender o que eu quis dizer quando disse que as diferen-
tes partes do hexaflex estão interconectadas como seis facetas de um diamante. O diamante
em si é a flexibilidade psicológica: a capacidade de "estar presente, abrir-se e fazer o que im-
porta". E assim, quando falamos de "abrir-se", isso inclui tanto a desfusão quanto a aceitação.
Nos próximos dois capítulos, iremos nos focar sobre "estar presente".
145
PLANILHA EXERCÍCIOS DE EXPANSÃO
Expansão significa abrir-se e abrir espaço para sentimentos, impulsos e sensações difíceis,
permitindo-lhes "fluir" sem esforço. Você não precisa gostar ou querer esses sentimentos —
basta abrir espaço para eles e permitir que eles estejam lá, mesmo que sejam desagradáveis.
Uma vez que você aprende essa habilidade, se esses sentimentos ressurgirem, você pode rapi-
damente abrir espaço para eles e deixá-los "fluir" para que você possa utilizar seu tempo e sua
energia em atividades que melhorem e tornem sua vida mais significativa, em vez de lutar
com ele. Procure praticar pelo menos uma vez por dia respirando para dentro destes sentimen-
tos e sensações difíceis e abrindo espaço para eles.
146
PLANILHA LUTAR versus ABRIR-SE
Preencha esta planilha uma vez por dia para ajudar a acompanhar o que acontece quando você
luta com suas emoções e o que acontece quando você se abre e abre espaço para elas..
147
CAPÍTULO 9
Método: Observe e note o que está acontecendo aqui e agora, — discrimine entre notar e pensar
—, preste atenção flexível tanto ao mundo interno quanto ao externo.
Quando usar: Quando os clientes estão excessivamente preocupados com o passado e com o
futuro, agindo impulsivamente ou de forma desatenta, "desconectados" de seus relacionamentos,
sem autoconsciência ou sem contato com sua experiência aqui e agora.
148
que estamos fazendo e observar as consequências de nossas ações.
Entrar em contato com o momento presente também é essencial para a autoconsciência e o
autoconhecimento. Quanto mais estivermos em contato com nossos próprios pensamentos e
sentimentos, melhor seremos capazes de regular nosso comportamento e fazer escolhas sábias
que levarão nossa vida na direção que queremos seguir.
O Terapeuta Consciente
Obviamente, se quisermos fazer uma terapia eficaz, nós mesmos precisaremos estar totalmen-
te presentes: sintonizados com nossos clientes, observando suas respostas físicas e verbais.
(De fato, isso é essencial para qualquer relacionamento que desejamos melhorar. Construir
relacionamentos ressonantes e vigorosos requer inteligência emocional: consciência de nossas
próprias reações emocionais bem como das pessoas com quem interagimos.) É claro que estar
totalmente presente como terapeuta é algo mais fácil de falar do que de fazer. Você já partici-
pou de uma sessão e de repente percebeu que não lembrava de uma só palavra que seu cliente
havia dito nos últimos dois minutos? E então você tentou esconder o fato dizendo algo como:
"Você pode me falar um pouco mais sobre isso?"
Uma resposta mais corajosa e mais útil nesses momentos embaraçosos é simplesmente ser
transparente: "Sinto muito por isso. Fiquei perdido em minha mente por alguns momentos e
não estava realmente ouvindo você. Se estivéssemos em uma atividade social, eu tentaria en-
cobrir isso e fingir que não tinha acontecido, mas aqui temos uma boa oportunidade para de-
monstrar que todos estamos no mesmo barco. Nossas mentes nos tiram de nossa experiência.
Espero que você me perdoe. Pode repetir o que acabou de dizer?"
Embora responder dessa maneira possa suscitar alguma ansiedade para você, ela ajuda a criar
um relacionamento mais aberto, honesto e igual e modela poderosamente a autoaceitação e o
estar presente. Ela também deixa clara a realidade de que estar presente é simples, mas não é
fácil. Embora seja fácil ficar presente por um instante — basta simplesmente notar nossa ex-
149
periência — é muito difícil permanecer presente. Nossa mente facilmente nos leva para longe.
Precisamos estar à frente dos nossos clientes nesse assunto. Precisamos permitir que eles sai-
bam que podemos melhorar o estar presente — como acontece com qualquer habilidade,
quanto mais praticamos, melhor —, mas não alcançar a perfeição. Até os mestres zen são fis-
gados por suas mentes de tempos em tempos.
152
mente a observe. Na verdade, vou pedir para você olhar para ela por cinco mi-
nutos. Mas antes de fazer isso, eu gostaria de saber, o que sua mente está pre-
vendo sobre os próximos cinco minutos?
Cliente: Parece muito tempo.
Terapeuta: Sim. E – estou tentando adivinhar - sua mente está prevendo que será entedian-
te, chato, difícil - algo assim?
Cliente: (risos) Sim, parece algo muito chato.
Terapeuta: Ok. Então, vamos dar uma olhada e ver se é esse o caso. Às vezes, nossa mente
acerta em prever as coisas. Ela consegue estar absolutamente certa. Mas muitas
vezes suas previsões também podem ser bastante erradas. Então, vamos ver o
que vai acontecer - veja se isso realmente é lento, tedioso e chato.
Na transcrição a seguir, os três pontos indicam pausas de cerca de três segundos.
Terapeuta: Convido você a colocar-se em uma posição confortável. Vire uma das mãos
com a palma da mão para cima e mantenha-a a uma distância confortável do
rosto. Nos próximos minutos, gostaria que você observasse sua mão como se
fosse um cientista curioso que nunca viu uma mão antes. E dessa perspectiva,
primeiro observe o contorno dela. Trace mentalmente o contorno da sua mão,
começando na base do polegar, e trace uma linha ao redor de todos os dedos ...
observe as formas dos espaços entre os dedos ... observe onde sua mão se afu-
nila no pulso. E agora, observe a cor da sua pele ... observe que não é apenas
uma cor ... existem diferentes tons e sombras e áreas manchadas ... muito len-
tamente, estique os dedos e empurre-os para trás à medida que avançam, e ob-
serve como a cor muda em sua pele ... e então libere lentamente a tensão e ob-
serve como a cor retorna ... e faça isso mais uma vez, muito lentamente, notan-
do que a cor desaparece ... e depois volta ... agora observe as linhas maiores na
palma da mão ... observe as formas que elas geram onde se juntam ou diver-
gem ou se cruzam ... e amplie uma dessas linhas e observe como existem mui-
tas linhas menores que a alimentam e se ramificam ... e agora desvie sua aten-
ção para uma das pontas dos dedos ... e observe o padrão em que há espiral ali
... o padrão que você sempre vê em impressões digitais ... e observe como o
padrão não para na ponta do seu dedo ... ele continua no seu dedo ... e rastreie-
o mais para baixo e observe como ele continua na palma da sua mão ... e agora,
muito devagar, traga seu dedo mindinho em direção ao polegar ... e observe a
pele na palma de sua mão se enrugando ... e agora solte lentamente ... observe a
pele se desenrugar e retomar seus contornos normais ... e agora coloque sua
mão na posição de golpe de karatê ... e observe a diferença entre a pele na pal-
ma da mão e a pele nas costas ... e olhe para o dedo indicador e observe que há
uma espécie de linha divisória, onde esses dois tipos de pele se encontram um
ao outro ... e, muito lentamente, vire a mão ... e observe a pele nas costas ... e
observe quaisquer críticas ou julgamentos que sua mente faz ... observe cicatri-
zes, manchas solares, deformidades ... observe as diferentes cores da pele ...
onde ela passa por cima de uma veia ... ou por cima de suas juntas ... e muito
lentamente enrole sua mão em um punho gentil ... e observe como o a textura
da sua pele muda ... observe quaisquer comentários que mente faz sobre isso ...
e se concentre em suas juntas ... gire suavemente o punho e observe os contor-
nos e vales do suas juntas ... e agora aperte o punho, e observe o que acontece
com as juntas ... com sua a cor e o sua proeminência ... e então, muito lenta-
mente, abra sua mão, endireite os dedos e observe como suas juntas simples-
153
mente desaparecem ... agora traga sua atenção para uma das unhas ... e observe
a textura da unha ... os diferentes tons de cor ... observe onde ela desaparece
sob a pele ... e a cutícula que que a encobre ali ... e agora, muito lentamente,
muito gentilmente, mexa os dedos para cima e para baixo ... e observe os ten-
dões se movendo sob a pele ... subindo e descendo como pistões e hastes ... e
isso nos leva a pouco mais de cinco minutos.
Cliente: (espantado) Você está brincando? Foram realmente cinco minutos?
Terapeuta: Claro que sim. E foi lento, tedioso, chato?
Cliente: Não. Foi realmente interessante.
Quase todo mundo que faz esse exercício se surpreende não apenas com a rapidez com que o
tempo passa - parece um piscar de olhos — mas também com o quão fascinante é a sua mão.
Agora, analisamos o exercício: "O que você descobriu? O que lhe interessou mais?" Então
podemos perguntar: "Então, qual é a relevância deste exercício para sua vida?" Questionando
nosso cliente — e fornecendo as respostas, se ele não apresentar nenhuma —, agora mostra-
mos (a) como tendemos a tomar as coisas como certas e deixamos de apreciá-las; e (b) como,
quando realmente prestamos atenção, a vida se torna muito mais interessante e gratificante.
Perguntas úteis que podem ser feitas incluem: "O que pode acontecer nos seus relacionamen-
tos mais próximos se você prestar atenção aos seus entes queridos da mesma maneira que
você fez com a sua mão?” "Você estaria disposto a fazer uma tentativa?" "Na próxima vez em
que sentir entediado, estressado, ansioso, ou de alguma outra forma fisgado em sua cabeça,
você estaria disposto a realmente se envolver no que estiver acontecendo, da mesma forma
como você fez com sua mão e observar o que está acontecendo?"
ESTAR PRESENTE E SATISFAÇÃO NA VIDA
Gostamos de estabelecer a conexão entre estar enredado em sua mente e estar perdendo sua
vida. Podemos fazer perguntas aos clientes como estas: "Como é para você passar tanto tempo
preocupado com o futuro ou com as dores do passado?" "É realmente onde você quer gastar
seu tempo?" "O que você perde quando está preso dentro de sua mente?" Podemos salientar
que, embora não possamos impedir nossa mente de trazer lembranças dolorosas do passado
ou de nos contar histórias assustadoras sobre o futuro, podemos aprender a deixar esses pen-
samentos irem e virem, em vez de nos prendermos a eles (ou seja, em vez de nos preocupar-
mos ou ficarmos ruminando os mesmos). Folhas na Correnteza (consulte o capítulo 7) é um
excelente exercício para esse fim.
Além disso, estabeleça que o envolvimento total em sua experiência leva a uma maior satisfa-
ção. O exercício a seguir, Comer uma Uva Passa com Atenção Plena (Kabat-Zinn, 1990),
enfatiza esse ponto com muita força. (Se o seu cliente não gosta de passas, elas podem ser
substituídas por um amendoim ou um pedacinho de chocolate.)
COMENDO UMA UVA PASSA COM ATENÇÃO PLENA
Os três pontos representam pausas de cinco segundos.
Terapeuta: No decorrer deste exercício, todos os tipos de pensamentos e sentimentos irão
surgir. Deixe-os ir e vir, e mantenha sua atenção no exercício. Sempre que você
perceber que sua atenção está se desviando, observe brevemente o que o dis-
traiu e, em seguida, volte sua atenção para a passa.
Pegue uma passa e observe-a como se você fosse um cientista curioso que nun-
ca viu uma passa antes ... Observe a sua forma, as cores, os contornos ... Ob-
154
serve que ela não tem apenas uma cor — existem muitas tonalidades diferentes
... Agora coloque-a na palma da sua mãe e observe o peso dela... e a sensação
de sua casca contra os seus dedos ... Aperte-a suavemente e observe sua textura
... Segure-a contra a luz e observe como brilha ... Agora leve-a até o seu nariz e
sinta o seu cheiro ... e agora leve-a até a boca, encoste-a nos lábios e faça uma
pausa por um momento antes de morder. .. E observe o que está acontecendo
dentro de sua boca ... Observe a salivação ... Observe a vontade de morder ... E
em um momento — não faça isso ainda — eu vou pedir para você morder me-
tade, mantendo uma metade e deixando a outra metade cair na sua língua ... E
agora, em movimentos muito lentos, morda a passa ao meio e observe o que
seus dentes fazem ... e deixe a passa ali na sua língua por um momento ... agora
feche os seus olhos, para aprimorar a experiência ... Apenas observe quaisquer
impulsos surgindo ... E então explore suavemente a passa com a língua, perce-
bendo o sabor e a textura ... E agora, com movimentos bem lentos, coma a pas-
sa e observe o que seus dentes fazem ... a sua língua ... as suas mandíbulas ...
observe o sabor e a textura das passas ... os sons da mastigação ... observe on-
de você pode sente a doçura na sua língua ... e quando surgir o desejo de engo-
lir, observe-o por um momento antes de agir com base nele ... quando engolir,
observe o movimento e o som na garganta ... observe onde a língua vai e o que
faz ... depois de engolir, faça uma pausa ... e observe como o sabor vai se des-
vanecendo gradualmente ... mas ainda permanece sutilmente ... e então, no seu
próprio tempo, coma a outra metade da mesma maneira.
Depois, comente e analise o exercício, da mesma forma como fez com o exercício da Atenção
Plena com a Mão. Os clientes geralmente comentam com espanto quanto sabor e gosto há em
uma uva passa e quanta atividade acontece na boca. Pergunte a seu cliente como ele costuma
comer passas e ele provavelmente fará o gesto de colocar um punhado inteiro na boca. Use este
exercício como uma metáfora para vida: quanto mais rica ela é quando estamos atentos e cons-
cientes. Este exercício pode ser muito útil para clientes deprimidos ou disfóricos que reclamam
que não conseguem mais encontrar prazer em atividades que anteriormente eram agradáveis; é
difícil obter prazer ou desfrutar uma atividade se você não está psicologicamente presente (ou
seja, se você estiver fundido com um fluxo contínuo de pensamentos negativos).
155
FOCO RESTRITO versus FOCO AMPLO
Pense se o problema clínico justifica um foco mais amplo ou um foco mais restrito para a
atenção plena. Por exemplo, se os clientes estão propensos a se preocupar e ficar ruminando,
você pode incentivar um foco mais restrito: faça com que eles se envolvam em alguma ativi-
dade relacionada com seus valores e concentrem sua atenção principalmente nessa atividade.
Eles podem permitir que os pensamentos entrem e saiam da consciência periférica, enquanto
repetidamente retornam sua atenção para a própria atividade. Por outro lado, se o problema
for dor crônica, convém incentivar um foco mais amplo. Enquanto a dor é reconhecida e acei-
ta, a consciência é ampliada para abranger os cinco sentidos, o ambiente circundante e a ativi-
dade atual. Desta forma, a dor se torna apenas mais um aspecto de uma experiência que é
muito mais ampla.
Na sessão, geralmente solicitamos aos clientes que se concentrem principalmente em um as-
pecto de sua experiência particular — por exemplo, em seus pensamentos, seus sentimentos
ou em suas sensações. É importante que eles percebam que isso tem como objetivo ensinar a
eles uma habilidade. No mundo da vida cotidiana, a ideia é que, quando pensamentos e senti-
mentos angustiantes surgem, eles podem ser aceitos como apenas um aspecto da consciência
(um artista entre muitos em um palco bem iluminado), em vez de dominar completamente a
consciência (um artista em pé iluminado por um holofote em um palco escuro).
156
me pergunto se você consegue notar o que está acontecendo aqui. Você já me
falou sobre isso várias vezes com bastante detalhes. Tem algo novo ou útil
acontecendo em relação a isso?
Cliente: (Longa pausa) Na verdade não.
Terapeuta: Você consegue perceber como sua mente continua fisgando você nessa ques-
tão? Puxando você de volta para o passado, de volta para toda essa dor. É ali
onde realmente você quer estar agora?
Cliente: Não. Mas não consigo parar de pensar nisso.
Terapeuta: Isto não me surpreende. Isso é algo muito doloroso para você. Você não vai
conseguir colocar um sorriso no rosto e fingir que nunca aconteceu.
Cliente: Isso mesmo. Meus amigos dizem que eu devo superar isso, mas gostaria de ver
o que eles fariam se tivessem passado por isso.
Terapeuta: Que tal isso: em vez de tentar parar os pensamentos, que tal se praticarmos
deixando-os ir e vir em vez de ficarmos apegados aos mesmos?
JOGANDO A ÂNCORA
Em qualquer momento em uma sessão em que nosso cliente pareça estar vivenciando sofri-
mento emocional, é útil entrar em contato com o presente. Por exemplo, "Eu posso ver que
você está angustiado. O que você está sentindo agora? Onde você está sentindo isso?" Em
seguida, podemos entrar em suas sensações físicas e fazer algum trabalho com aceitação. Ou
podemos mudar para a desfusão: peça para ele notar o que está pensando. Ou podemos pedir
que ele entre em contato com o mundo externo: "Preste atenção no que você pode ver e ouvir
ao seu redor neste momento. Veja se você consegue estar realmente presente aqui comigo,
mesmo tendo esse sentimento".
Uma metáfora muito útil para trabalhar com clientes angustiados é a metáfora JOGANDO A
ÂNCORA. Na transcrição abaixo, a cliente tem estado falando sobre a intenção de seu parceiro
em deixá-la e está claramente muito angustiada.
Terapeuta: Esta é uma situação muito estressante, por isso não é surpreendente que você se
sinta perturbada. A questão é que agora você está presa em uma tempestade
emocional. É como se todos esses pensamentos e sentimentos estivessem gi-
rando em torno de seu corpo, arrastando você para lá, para cá, para toda parte.
E você não pode fazer nada de útil até soltar uma âncora.
Cliente: (Falando muito rápido) O que você quer dizer? Não há nada que eu possa fa-
zer. Ele vai me deixar. Ele não vai mudar de ideia agora. Ele tem outra pessoa.
Ele já pegou a maioria das coisas dele. E eu não vou conseguir pagar o aluguel
sozinha. Além disso, está tudo em seu nome: o gás, a luz, o telefone, o ...
Terapeuta: Por favor, desculpe-me por interrompê-la, mas é importante notar o que está
acontecendo aqui. Sua mente está puxando você pra lá e pra cá. Você está sen-
do jogada em uma tempestade de pensamentos e sentimentos e, enquanto isso
acontece, você não consegue pensar nem agir com eficácia. Há uma coisa que
você precisa fazer antes de qualquer outra coisa: você precisa jogar a âncora,
você precisa ancorar-se.
Cliente: Como assim?
Terapeuta: Ok. Empurre seus pés em direção ao solo. Sinta o chão abaixo de você. Agora
157
sente-se em sua cadeira e observe como está sentada. E olhe ao redor da sala e
observe o que você pode ver. Observe o que você pode ouvir. Observe o que
você está fazendo agora — observe que você e eu estamos nesta sala conver-
sando um com o outro. Agora respire fundo algumas vezes e veja se consegue
respirar para "dentro" de seus pés. Mantenha os pés pressionados firmemente
no chão. Observe como sua mente continua tentando empurrar você para algum
outro lugar, e veja se você consegue permanecer presente. Observe a sala ao
seu redor. Observe o que estamos fazendo aqui, agora.
Quando um cliente vem para a sessão em crise ou fica altamente excitado emocionalmente
durante uma sessão, essas são oportunidades valiosas para ensiná-lo a se aterrar: um primeiro
passo essencial para responder efetivamente ao desafio que está enfrentando.
RESUMO
O contato com o momento presente está no cerne da atenção plena e, naturalmente, desempe-
nha um papel importante em todas as sessões de ACT. Para facilitar esse processo, a instrução
básica que damos aos nossos clientes é o "observe X", onde X é qualquer coisa que esteja
aqui neste momento. O contato com o momento presente está implícito tanto na desfusão
quanto na aceitação: o primeiro passo para desfundir-se de um pensamento ou aceitar um sen-
timento é notá-lo.
É claro que, às vezes, consideramos que nossa vida melhora sua qualidade quando, por assim
dizer, "escapamos do momento presente" através de devaneios, fantasias, romances e filmes.
No entanto, de modo geral, quanto mais pudermos estar em contato com nossa experiência
aqui e agora, mais efetivamente poderemos agir e mais satisfatória a vida se tornará.
159
PRÁTICAS INFORMAIS DE ATENÇÃO PLENA
1. Atenção Plena em Sua Rotina Matinal
Escolha uma atividade que faça parte de sua rotina matinal diária, como escovar os
dentes, fazer a barba, arrumar a cama ou tomar um banho. Ao fazer uma destas ativi-
dades, concentre a sua atenção de forma total no que está fazendo: os movimentos do
corpo, o paladar, o toque, o cheiro, a visão, o som e assim por diante. Observe o que
está acontecendo com uma atitude de abertura e curiosidade. Por exemplo, quando vo-
cê estiver tomando banho, observe os sons da água quando ela sai do chuveiro, quando
ela atinge seu corpo e quando ela é absorvida pelo ralo. Observe a temperatura da água
e a sensação dela em seus cabelos, ombros e descendo pelas costas, peito, pernas e
pés. Observe o cheiro do sabonete e do xampu e a sensação deles na sua pele. Observe
a visão das gotas de água nas paredes ou na cortina do chuveiro, a água escorrendo pe-
lo seu corpo e o vapor subindo. Observe os movimentos de seus braços enquanto você
lava, esfrega ou passa xampu.
Quando surgirem pensamentos, tome consciência deles e deixe-os ir e vir como carros
que estão passando. De novo e de novo, você será fisgado pelos seus pensamentos.
Assim que você perceber que isso aconteceu, gentilmente reconheça isso, observe qual
foi o pensamento que o distraiu e volte a focar a sua atenção no chuveiro.
160
MANEIRAS SIMPLES DE MANTER-SE PRESENTE
Faça 10 Respirações
Este é um exercício simples para se concentrar e se conectar ao seu ambiente. Pratique-o ao
longo do dia, especialmente quando você se vê envolvido em seus pensamentos e sentimen-
tos:
1. Faça dez respirações lentas e profundas. Concentre-se em expirar tão lentamente
quanto possível até que seus pulmões estejam completamente vazios — e depois per-
mita que eles voltem a se encher sozinhos.
2. Observe as sensações de seus pulmões esvaziando. Observe-os se enchendo. Observe
sua caixa torácica subindo e descendo. Observe o suave ascensão e queda de seus om-
bros.
3. Veja se você pode deixar seus pensamentos ir e vir como se fossem apenas carros que
estão passando do lado de fora de sua casa.
4. Expanda sua consciência: observe simultaneamente sua respiração e seu corpo. Então
olhe ao redor da sala e observe o que você pode ver, ouvir, cheirar, tocar e sentir.
Soltar âncora
Este é outro exercício simples para se concentrar e se conectar com o mundo ao seu redor.
Pratique-o ao longo do dia, especialmente quando você se vê envolvido em seus pensamentos
e sentimentos:
1. Coloque os pés firmemente no chão.
2. Empurre-os para baixo — observe o chão embaixo de você, sustentando-o.
3. Observe a tensão muscular nas pernas ao empurrar os pés para baixo.
4. Observe todo o seu corpo — e a sensação de gravidade fluindo pela cabeça, coluna e
pernas para os pés.
5. Agora olhe ao redor e observe o que você pode ver e ouvir ao seu redor. Observe onde
você está e o que está fazendo.
Observe 5 coisas
Este é mais um exercício simples para se concentrar e se envolver com o seu ambiente. Prati-
que-o ao longo do dia, especialmente quando você se sentir fisgado pelos seus pensamentos e
sentimentos:
1. Faça uma pausa por um momento.
2. Olhe em volta e observe cinco coisas que você pode ver.
3. Ouça com atenção e observe cinco coisas que você pode ouvir.
4. Observe cinco coisas que você pode sentir em contato com seu corpo (por exemplo,
seu relógio contra o pulso, as calças contra as pernas, o ar no rosto, os pés no chão, as
costas contra a cadeira).
5. Finalmente, faça todas as opções acima simultaneamente.
161
PLANILHA PRÁTICA DE RESPIRAÇÃO CONSCIENTE
A prática da respiração consciente permite que você desenvolva várias habilidades: a capaci-
dade de se concentrar e se envolver no que está fazendo; a habilidade de deixar seus pensa-
mentos irem e virem sem ser fisgado por eles; a capacidade de retomar o foco quando você
perceber que está distraído; e a capacidade de deixar que seus sentimentos sejam como são
sem tentar controlá-los. Mesmo apenas cinco minutos de prática por dia podem fazer a dife-
rença ao longo do tempo. Dez minutos duas vezes por dia ou vinte minutos uma vez por dia é
ainda melhor.
162
CAPÍTULO 10
Consciência Pura
O EU-COMO-CONTEXTO DE FORMA RESUMIDA
Em Linguagem Simples: O Eu-como-contexto não é um pensamento ou sentimento, mas um
"ponto de vista" do qual podemos observar pensamentos e sentimentos, e um "espaço" no qual
esses pensamentos e sentimentos podem se mover. Nós acessamos esse "espaço psicológico" per-
cebendo que estamos percebendo ou nos tornando conscientes de nossa própria consciência. É um
"lugar" do qual podemos observar nossa experiência sem ficarmos presos ou enredados nela.
"Consciência pura" é um bom termo alternativo, porque é tudo o que isso é: consciência de nossa
própria consciência..
Objetivo: Conectar-se a um sentido transcendente de si mesmo, separado dos pensamentos e sen-
timentos, e que fornece um ponto de vista seguro e constante a partir do qual observá-los e aceita-
los. Para ajudar as pessoas a parar de fugir de sua dor, ajudamo-las a experienciar que existe um
"lugar interno" onde, por maior que seja a dor, esta não pode prejudicá-las.
Método: Qualquer prática continuada de atenção plena geralmente leva a um sentido de eu-como-
contexto. Isso é aprimorado por exercícios que explicitamente direcionam a atenção para a nossa
própria consciência.
Quando usar: Para facilitar a aceitação, quando o cliente tem medo de ser prejudicado por suas
próprias experiências internas; para facilitar a desfusão quando o cliente está excessivamente ape-
gado ao eu conceitual; para facilitar a escolha consciente e a ação eficaz, fornecendo um espaço
no qual pensamentos e sentimentos não controlam as ações.
Três Sentidos do Eu
Embora existam muitas maneiras pelas quais podemos falar sobre o eu, a ACT tradicional-
mente se concentra em três sentidos do eu: o eu conceitual, o eu-como-percepção e o eu-
como-contexto. (Esses não são termos que usamos com nossos clientes. Quando você lê livros
que ensinam a ACT, pode ficar um pouco confuso, pois autores diferentes usam terminologia
diferente; portanto, aqui vou utilizar os termos mais usados comumente.)
O eu conceitual: todas as crenças, pensamentos, ideias, fatos, imagens, julgamentos,
memórias etc. que formam meu autoconceito, que descrevem "quem eu sou" como
pessoa: minha autodescrição. A fusão com esses pensamentos leva a um senso de eu-
como-descrição: Eu sou meus pensamentos!
O eu-como-percepção: o processo contínuo de perceber nossa experiência, entrando
em contato com o momento presente.
O eu-como-contexto: o local/espaço de onde a observação acontece; perspectiva/ponto
de vista a partir do qual a observação acontece; "eu" que percebe o que está sendo per-
cebido a qualquer momento.
163
A METÁFORA DA LÂMPADA DE FENDA
Uma metáfora adaptada do budismo ilumina esses três sentidos do eu. Imagine entrar em um
quarto escuro como breu. Em suas mãos você tem uma lâmpada de fenda. Você abre a fenda e
um feixe de luz dispara e ilumina parte da sala, revelando uma cadeira, uma cama e uma me-
sa. Os móveis são como o seu eu conceitual. O feixe de luz é como o processo contínuo de
perceber (eu-como-percepção). Quando a luz brilha em diferentes partes da sala, diferentes
móveis são revelados: uma mesa, um guarda-roupa, uma cômoda. Mas onde quer que a luz
brilhe, o que quer que ela ilumine e revele, o feixe de luz sempre vem da mesma fonte, do
mesmo local: a própria lâmpada. A lâmpada é como o eu-como-contexto.
164
garemos ao céu claro, e o veremos se estendendo em todas as direções, ilimita-
do e puro. Cada vez mais você pode aprender a acessar essa parte de você: um
espaço seguro dentro do qual você pode observar e abrir espaço para pensa-
mentos e sentimentos difíceis.
ALCANÇANDO O EU-COMO-CONTEXTO
Nos protocolos tradicionais da ACT, o eu observador é introduzido depois de várias sessões sobre
desfusão, aceitação e momento presente. No entanto, como em todos os seis processos principais,
podemos incluir o eu-como-contexto em qualquer sessão. Nos últimos anos, tenho introduzido
cada vez mais esse conceito desde o início da terapia ativa, usando o conceito do eu pensador e do
eu observador (Harris, 2007). Antes de continuar lendo, refresque sua memória sobre esse con-
ceito, retornando ao capítulo 4 e relendo a seção intitulada O Eu Pensador e o Eu Observador.
Se seguirmos um protocolo tradicional do ACT, vamos introduzir o eu-como-contexto depois de
várias sessões focadas em desfusão, aceitação e estar presente. Podemos dizer: "Então você está
fazendo todos esses exercícios de atenção plena — percebendo pensamentos, percebendo senti-
mentos, notando a respiração e assim por diante. Qual é essa parte de você que faz todos esse tra-
balho de observação? Na verdade, não temos um nome para isso em nossa linguagem cotidiana.
Na ACT, nós o chamamos de eu que nota ou eu observador. E se você estiver aberto a isso, gosta-
ria de conduzir você em um exercício agora para que possa ter uma conexão mais profunda com
essa parte de você."
Outra metáfora útil para introduzir o eu-como-contexto é a do Tabuleiro de Xadrez (Hayes et al.,
1999).
Exercícios Vivenciais
Depois de introduzirmos o eu-como-contexto através da metáfora, há muitos exercícios vi-
venciais que podemos usar. Você se lembra da instrução básica de atenção plena — "observe
X"? Para facilitar o eu-como-contexto, X se torna sua própria consciência — isto é, você ob-
serva o seu observar, ou percebe sua percepção, ou nota sua consciência. Podemos facilitar
isso adicionando instruções simples a qualquer exercício de atenção plena, tais como "observe
quem está percebendo" ou "esteja consciente de que você está percebendo". O exercício a
seguir ilustra isso.
165
LÁ VÃO OS SEUS PENSAMENTOS ...
Este exercício é simplesmente uma extensão de Observe Seus Pensamentos, a técnica de des-
fusão introduzida no capítulo 7.
Terapeuta: Encontre uma posição confortável e feche os olhos. Agora observe: onde estão
seus pensamentos? ... Onde eles parecem estar localizados: acima de você,
atrás de você, na sua frente, em um lados? (Faça uma pausa de 5 segundos.) E
observe a forma desses pensamentos: eles são figuras, palavras ou sons? (Pau-
sa de 5 segundos.) E observe — eles estão se movendo ou estão parados? ... E
se estiverem em movimento, qual é sua velocidade e qual é a sua direção?
(Pausa de 10 segundos.) Observe que temos dois processos separados aconte-
cendo aqui: há um processo de pensamento — seu eu pensador está gerando
todo tipo de palavras e imagens — e há um processo de observar — seu eu ob-
servador está observando e percebendo todos esses pensamentos. (Faça uma
pausa de 5 segundos.)
Talvez isso deixe sua mente zunindo, se debatendo e analisando, então vamos
fazê-lo novamente. Observe: onde estão seus pensamentos? ... São imagens ou
palavras, estão em movimento ou imóveis? (Pausa de 10 segundos.) Lá vão
seus pensamentos — e lá está "você", observando esses pensamentos. Seus
pensamentos continuam mudando. O "você" que os observa não muda.
Agora, mais uma vez, isso faz sua mente zunir, se debater e analisar, então va-
mos fazer isso uma última vez. Observe: onde estão seus pensamentos? ... São
imagens ou palavras, estão em movimento ou imóveis? ... (Pausa de 10 segun-
dos.) Lá vão seus pensamentos — e lá está "você", observando-os. Seus pen-
samentos mudam; você não.
FALAR E ESCUTAR
Eis mais um exercício ultrarrápido.
Terapeuta: Durante os próximos trinta segundos escute silenciosamente o que sua mente está
dizendo. E se seus pensamentos pararem, apenas continue a escutar até que eles
recomecem. (Pausa de 30 segundos) Agora você pode perceber mais claramente:
há uma parte da sua mente que fala — o eu pensador — e uma parte da sua mente
que escuta — o eu observador.
Dica Prática: Suponha que seu cliente diga: "Não entendi. Não me parece que eu
tenha um eu observador. Eu só fico pensando." Nestes casos você pode responder
(com pausas adequadas entre cada pergunta): "Você pode se observar me dizendo
isso? ... Você consegue notar seus sentimentos de confusão? ... Você consegue notar
as sensações dessa carranca na sua testa? ... Você consegue perceber todos os seus
pensamentos sobre não conseguir fazer isso? ... Você consegue me notar falando com
você? ... Você consegue notar o que está pensando agora sobre as minhas respostas?
Ok, então há uma parte sua que percebe tudo. É isso — esse é o eu observador."
O "VOCÊ" CONTÍNUO
O que se segue é uma versão muito reduzida do exercício "clássico" do observador de Hayes
e colegas (1999), conhecido como o exercício do "você contínuo" (por razões que em breve
serão óbvias). Este exercício pode inicialmente parecer complexo, mas é basicamente com-
posto por apenas quatro instruções:
1. Observe X.
1. Há X — e há você percebendo X.
3. Se você pode observar X, você não pode ser X.
4. X muda continuamente; o você que percebe X não muda.
X pode incluir alguns ou todos os seguintes itens: sua respiração, seus pensamentos, seus sen-
timentos, seu corpo físico, os papéis que você desempenha. Com a maioria dos clientes, eu
aplico o exercício inteiro de uma só vez, o que leva cerca de quinze minutos, mas você pode
dividi-lo em seções menores e analisá-las à medida que avança. Eu sempre concluo este exer-
cício com a Metáfora do Céu e do Tempo, que geralmente costuma causar um forte impacto.
Terapeuta: Convido você a sentar-se ereto, com os pés apoiados no chão. Fixe seus olhos
em algum ponto ou feche-os ... Observe a respiração fluindo para dentro e para
fora de seus pulmões ... observe o ar entrando pelas narinas ... descendo para os
pulmões ... e voltando a sair ... E enquanto faz isso, mantenha-se consciente de
que está observando ... lá vai a respiração ... e aí está você percebendo. (Pausa
de 5 segundos). Se você consegue notar sua respiração, você não pode ser sua
respiração. (Pausa de 5 segundos.) Sua respiração muda continuamente ... às
vezes ela é mais superficial, às vezes mais profunda ... às vezes rápida, às vezes
lenta ... mas a parte de você que percebe a respiração não muda. (Pausa de 5
167
segundos.) E quando você era criança, seus pulmões eram muito menores ...
mas o você que podia perceber sua respiração quando criança é o mesmo você
quando adulto.
Talvez isso deixe sua mente zunindo, analisando, filosofando, debatendo ... En-
tão, dê um passo para trás e observe: Onde estão seus pensamentos? ... Onde
eles parecem estar localizados? .... Eles estão se movendo ou estão imóveis? ...
São imagens ou palavras? ... (Pausa de 5 segundos.) E quando percebe seus
pensamentos, mantenha-se consciente de que você está percebendo ... lá vão
seus pensamentos ... e aí está você está percebendo. (Pausa de 5 segundos.) Se
você consegue perceber seus pensamentos, você não pode ser seus pensamen-
tos. (Pausa de 5 segundos.) Seus pensamentos mudam continuamente ... às ve-
zes são verdadeiros, às vezes são falsos ... às vezes são positivos, às vezes são
negativos ... às vezes são alegres, às vezes são tristes ... mas aquela parte de
você que nota e observa seus pensamentos não muda. (Pausa de 5 segundos.) E
quando você era criança, seus pensamentos eram muito diferentes dos que você
tem hoje ... mas o você que percebia seus pensamentos quando criança é o
mesmo você que os percebe como adulto. (Pausa de 5 segundos.)
Mas eu não espero que sua mente concorde com isso. Na verdade, o que espero é
que durante todo o restante deste exercício sua mente debata, analise, ataque ou
intelectualize o que eu disser; portanto, veja se você consegue deixar esses pen-
samentos ir e vir como se fossem carros passando e se envolva no exercício, por
mais que sua mente tente lhe afastar do mesmo. (Pausa de 5 segundos.)
Agora observe seu corpo na cadeira ... (Pausa de 5 segundos) E, enquanto faz
isso, esteja consciente de que você está percebendo ... lá está seu corpo ... e aí
está você percebendo. (Pausa de 5 segundos.) Não é o mesmo corpo que você
tinha como bebê, como criança ou como adolescente ... Você pode ter elimina-
do ou implantado partes ... Você tem cicatrizes e rugas, verrugas ou, manchas
... não é mais a mesma pele que você tinha em sua juventude, isso é certo ...
Mas a parte de você que pode observar seu corpo nunca muda. (Pausa de 5 se-
gundos.) Quando criança, quando você se olhava no espelho, seu reflexo era
muito diferente do que é hoje ... mas o você que percebia seu reflexo é o mes-
mo você que percebe seu reflexo hoje. (Pausa de 5 segundos.)
Agora, faça um escaneamento rápido de seu corpo desde a cabeça até os pés e ob-
serve os diferentes sentimentos e sensações ... escolha qualquer sensação que
atraia seu interesse ... e observe-a com curiosidade ... observe onde ela começa e
onde termina ... quão profundo ela vai ... qual é a sua forma ... sua temperatura ... E
enquanto você observa essa sensação ... esteja consciente de que você está perce-
bendo ... existe a sensação ... e aí você está observando. (Pausa de 5 segundos.) Se
você consegue notar ou observar essa sensação, você não pode ser essa sensação.
(Pausa de 5 segundos) Seus sentimentos e suas sensações mudam continuamente
... às vezes você se sente feliz, às vezes se sente triste ... às vezes se sente saudável,
às vezes se sente doente ... às vezes se sente estressado, às vezes relaxado ... mas a
parte de você que percebe seus sentimentos não muda. (Pausa de 5 segundos.) E
quando você está com medo, com raiva ou triste em sua vida hoje ... você que per-
cebe esses sentimentos são os mesmos que você percebia quando era criança.
Agora observe o papel que você está desempenhando neste momento ... e, ao fazer
isso, esteja consciente de que você está observando ... exatamente agora, você está
desempenhando o papel de um cliente ... mas seus papéis mudam continuamente
168
... às vezes você está no papel de mãe/pai, filho/filha, irmão/irmã, amigo, inimigo,
vizinho, rival, estudante, professor, cidadão, cliente, trabalhador, empregador, em-
pregado, etc. (Pausa de 5 segundos.)
Se você consegue perceber esse papéis, não pode ser esses papeis. (Pausa de 5
segundos.) E existem alguns papéis que você nunca mais poderá ter ... como o
papel de uma criança pequena (Pausa de 5 segundos.) Mas aquele você que
percebe seus papéis não muda ... É o mesmo você que conseguia perceber seus
papéis, mesmo quando você era muito jovem.
Não temos um bom nome na linguagem cotidiana para esse aspecto de você ...
Vou chamá-lo de eu observador, mas você não precisa chamá-lo assim ... você
pode chamá-lo como quiser ... e esse eu observador é como o céu. (Termine o
exercício com a Metáfora do Céu e do Tempo.)
Versões mais longas deste exercício exercício levam o cliente de volta a várias memórias de
diferentes períodos de sua vida e tem como objetivo ajudá-lo a se dar conta de que, em cada
um desses casos, o eu observador estava presente quando a memória era "gravada".
Muitos clientes consideram esse exercício como uma experiência espiritual profundamente
tocante. É melhor não analisá-lo posteriormente ou você corre o risco de intelectualizá-lo.
169
marido. Cerca de dez minutos depois, o terapeuta volta a focar no eu observador.
Terapeuta: Posso, por alguns momentos apenas, colocar você em contato novamente com
seu eu observador? (A cliente concorda.) Então, mais uma vez, dessa perspec-
tiva, observe os pensamentos que passam pela sua mente ... e observe os senti-
mentos que surgem no seu corpo ... e observe que o show que acontece no pal-
co mudou há alguns minutos atrás .. mas o você que está observando esse show
não mudou.
O terapeuta realiza esse breve exercício mais uma vez perto do final da sessão e pergunta à
cliente:
Terapeuta: Gostaria de saber se você está disposta a fazer esse exercício duas ou três vezes
por dia — basta só um momento para dar um passo atrás e observar o show no
palco. Observe que ele está mudando o tempo todo — há uma procissão inter-
minável de novos pensamentos e sentimentos exibindo suas coisas no palco. E,
ao fazer isso, observe que a parte de você que percebe o show — o eu observa-
dor — nunca muda.
170
deixe-me perguntar uma coisa: em seu funeral, qual destas frases você gostari-
am que seus filhos dissessem: "Mamãe tinha uma opinião muito elevada sobre
si mesma" ou "Mamãe estava realmente lá para mim quando eu precisei dela?"
Cliente: (Risos) A segunda. (Confusa) Mas a autoestima não pode me ajudar a ser uma
mãe melhor?
Terapeuta: Ok. Vamos verificar isso. (O terapeuta pega uma ficha.) Quando sua mente quer
detonar você, quais são algumas das coisas mais desagradáveis que ela lhe diz?
Cliente: (Suspira) As mesmas velhas coisas. Eu sou gorda. E eu sou burra.
Terapeuta: Ok. Então este é o "eu mau": "Eu sou gordo" e "Eu sou burro". (O terapeuta
escreve "Eu sou gordo" e "Eu sou burro" em um lado do cartão e depois vira o
cartão.) Agora, nas raras ocasiões em que sua mente é gentil com você, quais
são algumas das coisas boas que ela diz sobre você?
Cliente: Hmm. Eu sou uma boa pessoa. Sou gentil com os outros.
Terapeuta: Ok. Então esse é o "eu bom", "sou uma boa pessoa" e "sou gentil". (O terapeu-
ta as escreve no verso do cartão.) Este exercício é parecido com aquele exercí-
cio que fizemos algumas sessões atrás. Então, se você estiver disposta, gostaria
que você segurasse o cartão na frente do seu rosto para poder ler todas as coi-
sas negativas. É isso aí — segure-o bem na sua frente para que ele seja tudo o
que você possa ver. (A cliente segura o cartão na frente do rosto, tirando o te-
rapeuta de seu campo de visão.) Segure-o firmemente. Deixe-se fisgar pelo seu
"eu mau". Isso é autoestima muito baixa, não é?
Cliente: Sim.
Terapeuta: E observe — enquanto você está presa nisso, o que acontece com o seu relaci-
onamento comigo? Você se sente envolvida, conectada?
Cliente: Não. Eu não consigo ver você.
Terapeuta: Ok. Agora vire-o e veja todas as coisas positivas. É isso aí — e mantenha-o lá em
frente. (A cliente vira o cartão e continua a segurá-lo na frente do rosto dela).
Agora fique toda envolvida no seu "eu bom". Segure o cartão com força — todos
esses pensamentos positivos adoráveis. E agora você tem uma autoestima muito al-
ta. Mas como é seu relacionamento comigo? Você se sente envolvida, conectada?
Cliente: (Rindo) Não.
Terapeuta: Ok. Agora coloque o cartão no seu colo. (A cliente faz isso.) Agora, como é seu
relacionamento comigo?
Cliente: (A cliente olha para o terapeuta. Ele sorri e ela sorri de volta) Muito melhor.
Terapeuta: Engajada? Conectada?
Cliente: Sim.
Terapeuta: E observe que, desde que você o deixe no colo, não importa para que lado o
cartão está virado — o eu bom e o eu mau não importam — se você não estiver
preso ou absorvido por isso, isso não o impede de fazer o que você quer fazer.
Então, em termos de ser uma boa mãe, o que é mais importante? Tentando se
apegar a todos esses pensamentos sobre o quão boa você é, ou se envolver e se
conectar com seus filhos e realmente estar lá para eles?
Cliente: Estar lá para os meus filhos, é claro.
171
No final da sessão, o terapeuta entregou o cartão para a cliente. Ele pede que ela
(a) escreva mais cinco autojulgamentos positivos no lado do “eu bom” e mais cin-
co negativos no lado do “eu mau”; (b) leve o cartão em sua bolsa por uma sema-
na; e (c) retire-o várias vezes ao dia, leia os dois lados e coloque-o novamente na
bolsa. Durante a sessão seguinte, a cliente relatou que tinha sido muito melhor em
desfundir-se dos autojulgamentos (positivos e negativos) e que conseguiu desen-
volver um maior senso de autoaceitação.
Fig. 10.1
172
Na figura 10.1, a pessoa está fundida (apegada a) ao eu conceitual. E tanto faz se esse eu con-
ceitual é positivo ou negativo, a fusão com ele provavelmente será problemática. A fusão com
um eu positivo pode facilmente levar à arrogância, narcisismo, intolerância dos outros e recu-
sa em receber feedback negativo; a fusão com um eu negativo pode levar à depressão, ansie-
dade, sentimentos de inutilidade e assim por diante. Em ambos os casos, há falta de autocons-
ciência e inflexibilidade psicológica.
Por exemplo, considere o impacto que isso pode ter sobre um gerente se ele está fundido com
a crença "Eu trabalho duro e não tolero pessoas burras". Ou suponha que um policial esteja
absolutamente fundido com a crença "eu sou um agente da lei" — ele baseia todo o seu valor
próprio nessa identidade e, um dia, ele fica permanentemente incapacitado e incapaz de traba-
lhar. Ele então lutará para aceitar e se adaptar a essa mudança significativa na vida, e seu eu
conceitual pode agora conter elementos como "Sem meu trabalho, eu não sou ninguém".
Fig. 10.2
Na figura 10.2, a pessoa está se desfundindo dos pensamentos que compõem seu eu conceitu-
al. Esses pensamentos então têm menos influência; eles ainda aparecem, mas "ocupam menos
espaço". Ela não está mais se apegando à sua autodescrição / autoimagem / autoconceito; em
vez disso, "segura tudo de forma leve".
173
Fig. 10.3
Na figura 10.3, a pessoa está no espaço psicológico do eu-como-contexto; desta perspectiva,
há desfusão máxima. O eu conceitual é reconhecido como uma construção de pensamentos e
não como "a essência que eu sou".
174
tando criar experiências místicas na ACT; ela não é um caminho religioso ou espiritual para a
iluminação. Com a prática prolongada de atenção plena, podemos "permanecer no espaço" do
eu-como-contexto por períodos mais longos, mas de uma perspectiva da ACT, isso não é re-
almente necessário.
Na prática, a maioria das pessoas obtém apenas breves "vislumbres" desse espaço e, em se-
guida, é rapidamente "puxada para fora" por seus pensamentos. No entanto, isso é mais que
suficiente para servir a nossos propósitos. Simplesmente queremos que as pessoas experimen-
tem que existe um recurso psicológico poderoso dentro de nós, um recurso facilmente acessí-
vel, um lugar para observar e abrir espaço para nossos pensamentos e sentimentos dolorosos.
Além disso, é um espaço psicológico que nos liberta para fazer escolhas conscientes sobre o
que fazemos. Como assim? Porque a partir dessa perspectiva, podemos "ver claramente" que
nossos pensamentos e sentimentos são eventos transitórios que não definem quem somos nem
controlam nossas ações.
UM PONTO TÉCNICO
Nos roteiros de alguns exercícios da ACT, você pode ler comentários como este: "O eu obser-
vador está lá por toda a sua vida - desde o momento em que você nasceu até o momento em
que vai morrer". Para fins de treinamento ou terapia, podemos falar dessa maneira; no entan-
to, lembre-se de que isso não é tecnicamente preciso. A RFT (teoria das molduras relacionais
— a teoria da linguagem e cognição sobre a qual o ACT repousa) explica como desenvolve-
mos esse sentido transcendente do eu, tipicamente por volta dos quatro anos de idade, através
de um processo chamado "enquadramento deítico". Essa é apenas uma das muitas coisas fas-
cinantes sobre as quais você aprenderá se optar por se aprofundar na RFT.
RESUMO
O eu observador (EU-como-contexto) está implícito em todos os exercícios ou práticas de
atenção plena. Na verdade, não é realmente um "eu": é o lugar, a perspectiva ou o espaço psi-
cológico a partir do qual observamos ou notamos tudo o mais. Se "Observe X" é a instrução
básica da atenção plena, então, no trabalho de eu-como-contexto, o X que percebemos é nossa
própria consciência. Assim, o eu-como-contexto pode ser conceitualizado como a percepção
da percepção ou a consciência da consciência.
Muitos modelos de terapia baseados na atenção plena nunca tornam o eu-como-contexto ex-
plícito; eles esperam que as pessoas descubram "isso" por si mesmas através da prática contí-
nua da atenção plena. No entanto, na ACT, gostamos de tornar o eu-como-contexto explícito,
pois ele aprimora a desfusão e a aceitação e nos permite experimentar um sentido transcen-
dente do eu.
176
CAPÍTULO 11
DICA PRÁTICA: Às vezes, podemos ter a sorte de ter um cliente que res-
ponde de forma dramática às discussões sobre valores e começa imediata-
mente a fazer mudanças significativas em sua vida. Nesse caso, não precisa-
mos ficar procurando por barreiras psicológicos ou tentar "vender-lhe" habi-
lidades de atenção plena. No entanto, na maioria dos casos, quando ele come-
ça a agir de acordo com seus valores, barreiras psicológicas irão se manifestar.
A METÁFORA DA BÚSSOLA
Terapeuta: Os valores são como uma bússola. Uma bússola nos indica uma direção e nos
mantém no caminho certo quando estamos viajando. Os seus valores fazem a
mesma coisa na jornada da vida. Nós os usamos para escolher a direção em que
queremos nos mover e nos manter no caminho certo à medida que avançamos.
179
Assim, quando você age com base em um valor, é como ir em direção ao oeste.
Não importa o quanto você viaje nesta direção, você nunca chega lá – sempre ha-
verá um mais longe para ir. Mas objetivos são como as coisas que você tenta con-
seguir durante a sua viagem: são como as paisagens ou atrações turísticas que vo-
cê quer ver ou as montanhas que você quer escalar enquanto está viajando em di-
reção ao oeste.
Podemos dar aos clientes alguns exemplos para tornar mais clara a diferença. Um dos meus
exemplos favoritos é o contraste entre "casar-se" e "ser amoroso" (Hayes et al, 1999). Se você
quer ser amoroso e atencioso, isso é um valor — trata-se de uma ação continuada; você quer se
comportar dessa maneira pelo resto da sua vida. E em qualquer momento você tem uma escolha:
você pode agir com base nesse valor ou pode negligenciá-lo. Mas se você quer se casar, isso é
um objetivo. É algo que pode ser completado, alcançado, "riscado da lista". E você pode alcançar
o objetivo do casamento, mesmo que negligencie completamente seus valores em relação a ser
amoroso e carinhoso. (É claro que se você fizer isso, seu casamento pode não durar muito.)
Os valores são muito mais poderosos do que os objetivos, porque estão sempre disponíveis para
nós. A qualquer momento, podemos agir com base neles ou negligenciá-los; A escolha é nossa.
Não é assim para objetivos. Não podemos garantir que alguma vez alcançaremos a meta do ca-
samento, mas a qualquer momento podemos agir de acordo com nossos valores em torno de
amar e cuidar. Isso é possível mesmo se não tivermos um parceiro; podemos amar e cuidar de
nossos amigos, vizinhos, animais de estimação, família, plantas em vasos, meio ambiente — e, é
claro, de nós mesmos.
Um outro exemplo que geralmente dou é este: se você quer um emprego melhor, esse é um obje-
tivo. Uma vez que tenha conseguido o mesmo, é "missão cumprida". Mas se você quer ser útil,
eficiente e produtivo, esses são valores: qualidades desejadas da ação continuada. E a qualquer
momento, você pode agir com base nesses valores — mesmo que não goste do seu trabalho ou
se não tiver um trabalho atualmente.
Aqui estão mais alguns exemplos para realmente enfatizar esse ponto: perder dez quilos de
peso é uma meta; alimentar-se de modo saudável é um valor. Ir à academia é um objetivo;
cuidar de seu corpo é um valor. Ter uma casa grande é uma meta; apoiar sua família é um
valor. Obter amor e respeito dos outros é uma meta; ser amoroso e respeitoso é um valor. Sen-
tir-se menos ansioso é um "objetivo emocional", — agir com coragem é um valor. Sentir-se
feliz é uma meta emocional; ser caloroso, aberto e amigável com os outros é um valor. Parar
de criticar seu parceiro é um "objetivo da pessoa morta", — ser uma pessoa que aceita e ser
compreensivo são valores.
Vontades, necessidades e desejos. Podemos querer, necessitar ou desejar todo tipo de coisas
de outras pessoas — amor, respeito, gentileza, etc. Mas estas coisas não são valores porque
elas não são formas em que queremos nos comportar em uma base contínua. Naturalmente
validamos estas vontades/necessidades/desejos em nossos clientes. E se um cliente pode reali-
zar estas vontades/necessidades/desejos de uma maneira que seja funcional, então nós o aju-
damos a fazer isso. Da mesma forma, nós o ajudamos a aceitar a dor que se manifesta quando
há uma lacuna entre o que ele deseja e o que ele recebe.
180
Sentimentos. Valores não são sentimentos. Nossos valores irão afetar como nos sentimos
sobre qualquer evento ou situação e como respondemos à mesma, mas eles não são sentimen-
tos. Para chegarmos aos valores podemos perguntar: "Como quero me posicionar em face
disto? "Como eu gostaria de agir em resposta a esse evento ou situação?"
Virtudes, moral e ética. Valores estão além do certo ou errado, do bem ou mal. Eles são
simplesmente expressões do que é importante para nós. É claro que nossa sociedade julga
aqueles valores como bons ou maus, e os "bons" são chamados de "virtudes". Então nossa
sociedade define regras sobre a maneira certa e a maneira errada de agir com base em nossos
valores, e ela nos diz que se não agirmos da "forma certa" somos "maus". Isto dá origem à
moral, à ética e aos códigos de conduta.
Assim, se nossos clientes começam a falar sobre certo e errado ou bom e mau, sabemos que
eles saíram da esfera dos valores e foram para a esfera da moral, da ética e dos códigos de
conduta.
Vamos agora dar uma rápida passada por cada um desses pontos.
VALORES ESTÃO NO AQUI E AGORA; OBJETIVOS ESTÃO NO FU-
TURO.
Os valores estão no aqui e agora: a qualquer momento, você pode optar por agir com base
neles ou negligenciá-los. Mesmo que você tenha negligenciado totalmente um valor essencial
por anos ou décadas, neste exato momento, aqui e agora, você pode agir de acordo com ele.
Por outro lado, os objetivos ou metas estão sempre no futuro: um objetivo ou meta é algo que
você deseja atingir, é algo que você se esforça para alcançar. E no momento em que você o
alcança, ele não é mais um objetivo.
Por causa disso, as pessoas que levam uma vida muito focada em objetivos muitas vezes des-
cobrem que isso leva a um sentimento crônico de falta ou frustração. Por que? Porque eles
estão sempre olhando para o futuro e se esforçando continuamente para alcançar o próximo
objetivo na ilusão de que isso irá trazer felicidade ou conforto duradouros. Em uma vida foca-
da em valores, ainda temos objetivos, mas a ênfase está em viver de acordo com nossos valo-
res a cada momento — essa abordagem leva a uma sensação de realização e satisfação, pois
nossos valores estão sempre disponíveis. A metáfora das Duas Crianças no Carro ilustra isso
muito bem (Harris, 2007).
A METÁFORA DAS DUAS CRIANÇAS NO CARRO
Terapeuta: Imagine duas crianças na parte de trás de um carro que estão sendo levados por
sua mãe para Disneylândia. A viagem dura em torno de três horas, e uma das cri-
181
ança fica perguntando a cada cinco minutos: "Já estamos chegando? Já estamos
chegando? Já estamos chegando?" Sua mãe está ficando irritada, a criança está
frustrada, eles estão brigando um com o outro — é um estado de tensão crônica.
Enquanto isso, o outro garoto está olhando pela janela, acenando para os outros
carros, percebendo com grande interesse todas as cidades, fazendas e fábricas pe-
las quais eles vão passando. As duas crianças chegam à Disneylândia ao mesmo
tempo e se divertem muito quando chegam lá. Mas apenas uma dessas crianças
teve uma jornada recompensadora. Por que? Porque ela não estava apenas focada
no objetivo; ela também valorizou explorar, viajar, aprender sobre o mundo fora
do carro. E, mais tarde, a caminho de casa, o primeiro garoto continua dizendo:
"Já estamos em casa, já estamos em casa, já estamos em casa?" Enquanto isso, o
outro menino usufrui a viagem olhando pela janela e apreciando como tudo pa-
rece tão diferente à noite.
DICA PRÁTICA: A maioria das pessoas entende o sucesso como alcançar ob-
jetivos. Convido os clientes a considerar uma definição diferente: sucesso é
viver de acordo com nossos valores. Com essa definição, podemos ser bem-
sucedidos no momento, mesmo que nossos objetivos ainda estejam muito dis-
tantes (e mesmo que nunca venhamos a alcançá-los).
182
sos com nossos pais, mas se eles são continuamente hostis e abusivos conosco, podemos cor-
tar nosso contato com eles, porque nossos valores em torno da autoproteção e do autocuidado
têm prioridade. Nossos valores em torno de amar e cuidar não desapareceram; eles continuam
sendo importantes mas os valores relacionados ao autocuidado têm preferência.
O psicólogo John Forsyth tem uma boa analogia para isso: nossos valores são como um cubo.
Em qualquer posição, algumas faces do cubo são claramente visíveis e outras não podem ser
vistas. As faces invisíveis não deixaram de existir, apenas não são visíveis nessa posição. E
sempre que o cubo muda de posição, algumas faces aparecem em primeiro plano, enquanto
outras recuam para o segundo plano.
Cliente: Sabe, sendo bem honesta, às vezes eu penso que que seria mais fácil se... se ele
morresse (Ela desata em choro.)
Terapeuta: (pausa) Percebo que você está com muita dor agora ... e me pergunto se podemos
amenizar isso por alguns instantes ... se você poderia ver o que está acontecendo
aqui a partir do seu eu observador... apenas dê um passo atrás mentalmente e ob-
serve o que está acontecendo, como você está sentada na cadeira, a posição do seu
corpo ... e observe os sentimentos que aparecem dentro de você ... onde eles estão
no seu corpo .. e também observe os pensamentos zunindo em sua cabeça. (pausa)
E o que você está pensando agora?
Cliente: (enxugando os olhos) Eu sou um monstro. Quero dizer, que tipo de mãe eu sou?
Como eu poderia pensar em algo assim?
Terapeuta: Então sua mente está lhe dizendo que você é um monstro porque você tem pen-
samentos que lhe dizem que sua vida seria mais tranquila se seu filho estivesse
morto?
Cliente: Sim. Mas ele é meu filho. Ele é meu filho! Como eu posso pensar uma coisa des-
sas?
Terapeuta: (pausa) Lembra que conversamos sobre como sua mente é como uma supermá-
quina resolvedora de problemas?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Bem, há um grande problema aqui, não é? Quero dizer, um problema realmente
muito grande e muito doloroso. Certo? Então, em casos assim, automaticamente a
máquina de solução de problemas entra em ação. E ela começa a pôr em marcha
soluções. E vamos ser sinceros: uma solução para qualquer relacionamento pro-
blemático é fazer com que a outra pessoa desapareça. Então esse pensamento so-
bre o desaparecimento do seu filho é apenas sua mente fazendo o trabalho. E sabe
o que mais? Não há nenhuma maneira de você conseguir impedir isso.
Cliente: Mas talvez David tenha razão. Talvez eu realmente não o ame.
Terapeuta: Bem, esse é um pensamento interessante. (pausa) Aposto que sua mente gosta de
atormentá-la com esse pensamento aí.
Cliente: Sim. O tempo todo.
Terapeuta: O que você está sentindo em seu corpo agora?
184
Cliente: Eu apenas me sinto mal. Muito, muito mal.
Terapeuta: E onde você sente isso mais intensamente em seu corpo?
Cliente: Bem aqui. (Ela coloca a mão na barriga.)
Terapeuta: Ok, então observe esse sentimento por um momento ... observe onde ele está ... e
o que está fazendo. (pausa) Como você chamaria essa emoção?
Cliente: Ah, é culpa. Eu odeio isso. Eu sinto isso o tempo todo.
Terapeuta: Ok. Apenas observe a culpa por um momento ... Observe-a ... Inspire ... Feche os
olhos, se quiser ... e apenas respire para dentro dela ... e veja se você pode, de al-
guma forma, apenas abrir-se em torno dela ... dê um pouco de espaço ... E, ao
mesmo tempo, eu gostaria que você sintonizasse seu coração ... Apenas reserve
um momento para entrar em contato com o que seu filho significa para você ...
(pausa) O que esse sentimento lhe diz sobre seu filho, sobre o que ele significa
para você?
Cliente: (chorando) Eu só quero que ele seja feliz.
Terapeuta: (pausa) Então sua mente diz: "Talvez eu realmente não o ame". O que seu cora-
ção diz?
Cliente: Claro que o amo.
Terapeuta: Você disse isso. Quero dizer, se você não se importasse com ele, você não sentiria
culpa, certo?
Cliente: (choroso, mas aliviado) Sim.
Terapeuta: Então me diga, você realmente se importa com David ... então que tipo de mãe
você quer ser para ele?
Cliente: Eu só quero que ele seja feliz.
Terapeuta: Ok. Então, vamos supor que eu agite uma varinha mágica e David fique feliz para
sempre. Então que tipo de mãe você gostaria de ser?
Cliente: Não sei. Eu só quero ser uma boa mãe.
Terapeuta: Ok. Então, se você quisesse ganhar esse título - de ser uma boa mãe - como você
seria com David? Que tipo de qualidades você gostaria de ter como mãe?
Cliente: Não sei.
Terapeuta: Bem, suponha que um milagre aconteça, e David resolva sua vida, e daqui a al-
guns anos o entrevistaremos na televisão nacional e perguntamos a ele: "David,
como era sua mãe quando você estava passando pela pior fase desse vício em he-
roína?" No mundo ideal, o que você gostaria que ele dissesse?
Cliente: Eu acho que eu gostaria que ele dissesse que eu estava sendo ... hum ... amorosa ...
e gentil ... e ... hum ... que o apoiava.
Terapeuta. Algo mais?
Cliente: Que eu estava lá para ele quando ele precisou de mim.
Terapeuta: Então, ser amorosa, gentil, solidária - é isso que você deseja ser como mãe?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Ok. Então, fique sentada com isso em mente por um momento. Ser amorosa, gen-
til e solidária: é isso que importa para você como mãe.
Cliente: Sim. (Ela se senta de pé, balançando a cabeça devagar) Eu quero fazer o que é
melhor para ele. Eu quero fazer a coisa certa. E eu sei que lhe dar dinheiro, não é
185
isso.
Terapeuta: Ok (pausa) Então, da próxima vez que seu filho vier, parece que você tem uma
escolha a fazer. Por um lado, você pode deixar sua mente intimidá-la – empurrar
você para lá e para cá e lhe dizer o que fazer. E você sabe exatamente o que sua
mente vai lhe dizer - que você precisa dar o dinheiro a ele; caso contrário, você é
uma mãe ruim e dizer "não" é tão estressante e doloroso, é mais fácil dar a ele o
dinheiro, e então ele vai deixar você em paz. Essa é uma escolha. Por outro lado,
você pode optar por deixar sua mente dizer o que quiser, mas, em vez de acreditar
no que ela lhe diz, você pode ser o tipo de mãe que você realmente deseja ser -
amorosa, gentil, solidária e fazendo o que é melhor para David a longo prazo.
Qual delas você vai escolher?
Cliente: Bem, eu - eu quero ser amorosa e solidária. Eu quero ajudá-lo.
Terapeuta: Então, se você estivesse realmente agindo de acordo com esses valores, em vez de
se deixar levar pela história do "não posso dizer não", como responderia aos pedi-
dos de dinheiro de David?
Cliente: (sorri levemente) Eu diria que não.
Terapeuta: Você diria não?
Cliente: (concorda) Aham.
Terapeuta: O que você está sentindo agora, ao dizer isso?
Cliente: Estou muito nervosa. Eu estou tremendo.
Terapeuta: Eu estou percebendo isso e tenho certeza de que me sentiria da mesma maneira se
estivesse no seu lugar. Então a pergunta é: você está disposta a abrir espaço para
esses sentimentos de nervosismo e tremor, se é isso que é preciso para ser o tipo
de mãe que você realmente quer ser?
Cliente: Sim.
Dar dinheiro ao filho para "alimentar seu hábito" era realmente inconsistente com os valores
essenciais desse cliente. A ação foi motivada pela fuga (tentando se livrar da culpa e da ansie-
dade) e pela fusão (com pensamentos como "É muito difícil dizer não", "Não suporto vê-lo as-
sim" ou sou péssima. mãe, se eu não o ajudar "), não por valores. Após a intervenção acima, a
conversa se voltou para as muitas maneiras diferentes pelas quais ela poderia agir de acordo
com seus valores: como ela poderia ser amorosa, gentil e solidária com David de outras manei-
ras, sem lhe dar dinheiro (ou coisas que ele poderia vender por dinheiro).
Você pode ver nessa transcrição a sobreposição e interação entre desfusão, aceitação e valores.
Chamamos isso de "dançar ao redor do hexaflex" – mover-se de maneira flexível e fluida de um
processo para outro, conforme seja necessário.
186
TÉCNICAS PARA CLARIFICAR VALORES E ENTRAR EM CONTATO
COM ELES
Neste capítulo iremos abordar muitas técnicas. Mas lembre-se de que elas são apenas um meio para
um fim: ajudar nossos clientes a se conectarem com sua própria humanidade para encontrar seu
próprio senso de significado e propósito na vida. Portanto, ao aplicar essas técnicas, devemos fazê-
lo de forma atenta: sintonizados com nosso cliente e atentos a essas qualidades de vitalidade, abertu-
ra e liberação. A Figura 11.1 abaixo resume muitas técnicas comuns de clarificação de valores. Leia
todos eles para ter uma ideia das diversas maneiras pelas quais podemos fazer esse trabalho.
188
não mais que três ou quatro frases ... e ela fala sobre o que você fez de importante na
vida ... o que você significa para eles ... e o papel que desempenhou na vida deles ...
imagine-o dizendo as verdades profundas de seu coração, aquilo que você mais gos-
taria de ouvi-lo dizer.. (Pausa de 40 a 50 segundos)
O terapeuta agora repete isso para outras duas pessoas - sempre permitindo que o
cliente escolha quem falará - e cada vez permitindo quarenta a cinquenta segundos
de silêncio para reflexão.
Terapeuta: A maioria das pessoas acha que esse exercício traz uma ampla gama de sentimentos,
alguns afetuosos e amorosos e outros muito dolorosos. Portanto, dedique um momen-
to para perceber o que está sentindo ... e considere o que esses sentimentos lhe dizem
... sobre o que realmente importa para você ... que tipo de pessoa você quer ser ... e se,
há alguma coisa que você está negligenciando atualmente. (Pausa 30 segundos) E
agora, encerrando o exercício ... volte a observar sua respiração ... e observe seu cor-
po na cadeira ... e observe os sons que você pode ouvir ... e abra os olhos e observe o
que você pode ver ... alongue-se ... e observe-se alongando ... e seja bem-vindo de
volta!
FORMULÁRIOS E PLANILHAS
Todos os formulários e planilhas mencionados na caixa Formulários e Planilhas na figura 11.1
acima podem ser baixados gratuitamente, em www.actmindfully.com.au. Para ter uma ideia
de como esses formulários funcionam, pare de ler por alguns instantes, faça o download de
uma cópia de cada um dos mesmos e preencha-os. Espero que você já preenchido feito a
Bússola da Vida e O Alvo no capítulo 5; se ainda não preencheu os mesmos, faça-a agora.
Ambos os formulários são ferramentas simples para reunir rapidamente algumas informações
sobre os valores do seu cliente (ou os seus). Você pode preenchê-los juntamente com o cliente
durante uma sessão ou dá-los como lição de casa. O Alvo é particularmente útil como uma
ferramenta de avaliação rápida na primeira sessão. Você também pode pedir ao seu cliente
para preencher rapidamente um deles durante o check-in no início de cada sessão, — é um
guia simples para acompanhar o andamento da terapia..
A Bússola de Vida também é muito útil porque (a) fornece uma visão geral da vida do cliente;
(b) identifica valores fundamentais que abrangem muitos domínios diferentes da vida; e (c) se
o seu cliente se sente sobrecarregado com todas as alterações que deseja fazer, você pode pe-
dir que ele "escolha apenas uma caixa para começar".
189
muitos clientes com transtorno de personalidade borderline ou dependência crônica de álcool
ou narcóticos. Frequentemente, esses clientes ferem, abusam ou negligenciam repetidamente
seus corpos, seus amigos, suas famílias, seus parceiros e assim por diante. Essa é a triste con-
sequência de um comportamento não funcional de longo prazo que é impulsionado pela fusão
e pela esquiva. Não é de surpreender que isso provoque muita dor emocional. Conectar-se
com valores negligenciados, portanto, significa conectar-se com toda essa dor.
Portanto, se os clientes repetidamente resistem, evitam ou bloqueiam valores — "Eu não sei",
"Nada importa", "Eu não tenho nenhum valor", "Eu não vejo sentido nisso", "Eu não mereço
ter uma vida "," Isso é tão brega "— isso geralmente indica esquiva vivencial e requer traba-
lho com aceitação e desfusão. É claro que às vezes o cliente simplesmente não tem ideia do
que são "valores"; se ele levou uma vida de privação ou empobrecida, "valores" podem pare-
cer algo de outro planeta. Assim, em um programa para o ACT com transtorno de personali-
dade borderline, eles fornecem aos clientes uma lista de trinta valores comuns e pedem a eles
para assinalar os que ressoam pessoalmente (Brann et al., 2007-09).
DICA PRÁTICA: Contanto que você não aja como a Inquisição Espanhola, não
há problema em continuar fazendo perguntas. Os clientes raramente chegam aos
valores essenciais após apenas uma ou duas perguntas. Se estiver preocupado,
você pode dizer: "Minha mente está me dizendo que você vai ficar irritado com
todas essas perguntas. Eu continuo a perguntar por que estamos tentando chegar
a algo de importância fundamental aqui, e meu senso é que até agora consegui-
mos apenas arranhar a superfície. Então, tudo bem se continuarmos com isso um
pouco mais? "
?"
AGRADAR OS OUTROS
Alguns clientes estão tão focados em obter a aprovação de outros ou em fazer o que os pais, a
religião ou a cultura lhes mandam fazer, que se desconectam de seus próprios valores centrais.
Para ajudar a reconectá-los, eis uma pergunta útil: "Suponha que eu agitasse uma varinha má-
gica para que você tivesse automaticamente a aprovação de todos cuja opinião é importante
para você, de forma tal que, não importa o que você fizesse, eles aprovassem completamente,
quer você se tornasse um santo ou um assassino em série. Uma vez que esta varinha tivesse
sido agitada, você nunca mais precisaria impressionar ninguém ou agradar a alguém — o que
quer que você faça, eles ficarão encantados. Então — o que você faria com sua vida? E como
você agiria em seus relacionamentos?"
191
De tempos em tempos, vamos encontrar uma cliente de alto desempenho que já está fazendo
todas as coisas importantes — indo trabalhar, cuidando das crianças, mantendo a forma e as-
sim por diante — mas que está profundamente insatisfeita. Muitas vezes, sua falta de satisfa-
ção é porque, embora esteja fazendo o que importa, ela não está psicologicamente presente.
Em vez disso, ela está presa em sua mente: perdida em pensamentos sobre todas as coisas em
sua lista de "tarefas a fazer" ou imersa em um comentário sem fim sobre que não é boa o sufi-
ciente ou consumida por preocupações, ruminações ou devaneios. Com esses clientes, traba-
lharíamos sobre o "estar presente".
Leia todas as intervenções de valores em voz alta, como se estivesse conduzindo seus
clientes através das mesmas.
Pense em outras perguntas que você possa fazer. Há outros exercícios que você conhe-
ce ou outras ideias que você tem sobre maneiras de colocar os clientes em contato com
valores?
Escolha dois ou três clientes e identifique com quais valores eles perderam contato.
Considere quais exercícios você poderia fazer para ajudá-los a se reconectar com seus
valores.
Reflita sobre seus próprios valores como terapeuta: O que é importante para você, no
fundo do seu coração, sobre fazer esse trabalho? O que você quer defender como tera-
peuta? Quais forças e qualidades pessoais você deseja trazer para a sala de terapia?
Durante a próxima semana, observe o quanto você está em contato com seus valores - e como
é isso. Que diferença isso faz na sua vida?
RESUMO
Tecnicamente falando, valores são qualidades desejadas de ação continuada. Poeticamente,
eles são os desejos mais profundos do nosso coração sobre como queremos passar nosso bre-
ve tempo neste planeta. Metaforicamente, são como uma bússola: nos dão orientação e nos
mantêm nos trilhos. Ajudar nossos clientes a entrar em contato com seus valores pode ser
difícil; geralmente encontramos todo tipo de equívocos e mal-entendidos, geralmente em tor-
no da diferença entre valores e objetivos. Além disso, frequentemente enfrentamos barreiras
na forma de fusão e esquiva. Assim, frequentemente estaremos dançando para frente e para
trás entre valores, desfusão e aceitação. No entanto, com paciência e persistência, geralmente
podemos ajudar nossos clientes a entrar em contato com seus corações — e quando vemos
isso acontecer, isso é verdadeiramente mágico.
192
CAPÍTULO 12
1. Escolha uma área ou domínio da vida que seja de alta prioridade para a mudança.
193
2. Escolha os valores a serem buscados neste domínio.
3. Desenvolva objetivos que estejam baseados nestes valores.
4. Entre em ação de forma consciente, com atenção plena.
Nosso objetivo final é generalizar essa abordagem em padrões cada vez maiores de ação
comprometida baseada em valores, criando um efeito dominó que se espalha por todos os
domínios ou áreas da vida. Definindo Objetivos com Base em Valores (abaixo) é uma plani-
lha para ajudá-lo nas três primeiras etapas: escolhendo um domínio da vida, esclarecendo va-
lores e definindo metas. Por favor, leia-o agora.
Passo 1: A área da vida sobre a qual escolho trabalhar é (circule um ou dois, mas não mais):
trabalho, saúde, educação, social, educação de filhos, parceiro íntimo, família, espiritual,
comunidade, ambiente, lazer, crescimento pessoal.
■ Específico: Especifique as ações que você tomará - quando e onde fará isso e quem
ou o que está envolvido. Por exemplo, esse é um objetivo vago ou inespecífico: "Pas-
sarei mais tempo com meus filhos". Esse é um objetivo específico: "Vou levar as cri-
anças ao parque no sábado à tarde para jogar futebol". Faça com que seu objetivo
seja suficientemente específico para que você possa dizer com facilidade se o alcan-
çou ou não.
■ Significativo: Se esse objetivo for genuinamente guiado por seus valores, em vez de
seguir uma regra rígida, tentar agradar aos outros ou evitar alguma dor, ele será pes-
soalmente significativo. Se ele não tiver um senso de significado ou propósito, verifi-
que e veja se ele realmente é guiado por seus valores.
■ Adaptativo: O objetivo ajuda você a ir em uma direção que, tanto quanto você pode
prever, provavelmente irá melhorar, enriquecer ou melhorar sua qualidade de vida?
■ Realista: O objetivo deve ser realisticamente alcançável. Leve em consideração sua
saúde, demandas concorrentes em relação a seu tempo disponível, status financeiro
e se você possui as habilidades necessárias para alcançá-lo.
■ Prazo: para aumentar a especificidade de seu objetivo, defina uma data e hora para ele.
Se isso não for possível, defina o período de tempo da forma mais precisa possível.
194
Passo 3: Meus objetivos baseados em valores são ....
■ Objetivo(s) imediato(s) (algo pequeno, simples e fácil que eu posso fazer nas próxi-
mas vinte e quatro horas):
■ Objetivo(s) de médio prazo (coisas que posso fazer nos próximos dias e semanas);
■ Objetivo(s) de longo prazo (coisas que posso fazer nos próximos meses e anos):
Observação: Tome cuidado para evitar objetivos emocionais e objetivos de pessoa morta
___________________________________________________________________________
Obviamente, podemos definir toda essa tarefa de definir objetivos utilizando a conversação se
nós (ou nosso cliente) não gostarmos de formulários. No entanto, fazer isto de forma escrita e
na sessão torna isto mais tangível e fornece ao cliente um lembrete valioso para levar para a
vida. Podemos descobrir que, durante esse trabalho, nosso cliente começa a se fundir com
pensamentos inúteis sobre tudo ser muito difícil, sem esperança, sem sentido ou fadado ao
fracasso. Isso oferece uma excelente oportunidade para trabalhar a desfusão, como veremos
nesta transcrição:
Cliente: (Olha para a planilha e franze a testa) Isso é uma perda de tempo. (Ela abaixa a
caneta) Eu já fiz isso antes. Eu escrevo objetivos, mas nunca os cumpro.
Terapeuta: Então você está pensando que isso será como todas as outras vezes?
Cliente: Não é apenas um pensamento. É verdade.
Terapeuta: Bem, eu poderia tentar debater com você aqui — tentar convencê-la de que o pen-
samento não é verdadeiro. Ou eu poderia tentar motivar e inspirar você. Ou eu
poderia te ensinar como isso é importante. Ou lhe dizer para não pensar dessa ma-
neira ou dizer para pensar positivamente Você acha que alguma dessas coisas se-
ria útil?
Cliente: (dá risada) Não.
Terapeuta: Então, vamos dar uma olhada nisso do ponto de vista do eu observador. Dê um
passo para trás e observe o que seu eu pensador está lhe dizendo.
Cliente: (Ela faz uma pausa, e observa seus pensamentos) É a mesma coisa de antes. Isso
não vai funcionar. É uma perda de tempo.
195
Terapeuta. Então, se você deixar que esses pensamentos lhe digam o que fazer, isso vai levar
você mais perto da vida que deseja viver — ou para mais longe disso?
Cliente: Para mais longe.
Terapeuta: Então, o que você vai fazer aqui? Vai deixar esses pensamentos intimidá-la e lhe
dizerem o que você pode ou não fazer? Ou vai fazer algo que provavelmente vai
fazer sua vida funcionar?
Cliente: Hmm. Colocado dessa maneira... (Ela pega a caneta e começa a escrever)
Terapeuta: Agora, enquanto você continua escrevendo, observe o que sua mente está fazen-
do. Tente notar todas as maneiras em que ela tenta fazer com que você pare.
Cliente: (Ela para de escrever de novo e sorri) Ela está dizendo que isso é uma completa
perda de tempo.
Terapeuta: Coisa boa! Agora veja se você consegue fazer a mente ter uma birra de raiva -
você sabe, o conjunto completo: gritar, berrar, gritar, bater os pés!
Cliente: (sorrindo e continuando a escrever) Ah, sim ... Ela está tendo um colapso com-
pleto agora. Verdadeiramente bizarro.
Dica Prática: Você pode reforçar a desfusão oferecendo a seu cliente uma gama de
respostas alternativas a um pensamento problemático: "Eu posso debater com você
se esse pensamento é verdadeiro ou falso, dizer-lhe para não pensar dessa forma,
ensiná-lo, dizer-lhe para pensar positivamente, dar-lhe conselhos, tranquiliza-lo. Vo-
cê acha que isto faria sua mente parar de ter esse tipo de pensamentos?" Seu cliente
quase sempre lhe dirá que não, e então você pode para qualquer técnica de desfusão
que seu cliente tenha aceitado anteriormente. "Então, por que você não deixa a Rádio
Desgraça e Melancolia fazer suas transmissões e investe sua energia fazendo algo
que realmente é importe para você?"
COMPROMISSOS PÚBLICOS
É muito mais provável que as pessoas cumpram mais os compromissos públicos do que os
privados. Por isso, geralmente pedimos ao cliente que diga em voz alta exatamente com o que
ele está comprometendo. Como muitas pessoas se sentem constrangidas ao assumir compro-
missos públicos, eu gosto de dar uma justificativa, algo nesse sentido:
Terapeuta: O que estou prestes a lhe perguntar pode parecer um pouco estranho, mas a pes-
quisa mostra que quando as pessoas assumem compromissos publicamente, é
muito mais provável que elas os cumpram. Então, se você estiver disposto, gosta-
ria que você dissesse em voz alta exatamente com o que você está se comprome-
tendo — e ao dizê-lo, observe os pensamentos e sentimentos que surgirem.
Cliente: Você quer que el lhe conte o que escrevi?
Terapeuta: Sim, por favor. Diga em voz alta, como se você realmente tivesse a intenção de
cumprir isso. E observe o que aparece em sua mente e em seu corpo.
Cliente: Eu me comprometo a levar as crianças ao parque no sábado à tarde para jogar
beisebol.
Terapeuta: Ótimo. Você parecia um pouco desconfortável ao dizer isso. Que sentimentos
apareceram?
196
Cliente: Me deu um nó no estômago.
Terapeuta: E sua mente tinha algo inútil a dizer?
Cliente: Pode apostar. Estou muito ocupado com o trabalho. Eu não tenho tempo. É algo
incômodo. Deixe para o próximo mês.
Terapeuta: Então você está disposto a abrir espaço para esses pensamentos e sentimentos
para fazer o que é importante para você?
Cliente: Sim.
Quando os clientes expressam seus compromissos em voz alta, eles geralmente experimentam
pensamentos e sentimentos desconfortáveis. É útil perguntar sobre suas experiências particu-
lares e garantir que eles estejam dispostos a abrir espaço para eles.
O MENOR PASSO
Uma pergunta muito útil, depois que você identificou uma área da vida e alguns valores fun-
damentais, é a seguinte: "Qual é o menor passo, o passo mais pequeno, mais simples e mais
fácil que você pode dar nas próximas 24 horas e que levará você um pouco mais longe nessa
direção?"
Aprender a dar pequenos passos é importante. Quando os clientes se concentram demais em
objetivos grandes e de longo prazo, eles são puxados para fora da vida no presente; eles são
sugados para dentro da mentalidade do "Eu vou ser feliz quando atingir esse objetivo". E, é
claro, eles talvez nunca venham conseguir, ou pode demorar muito mais do que esperavam,
ou isso pode não fazê-los felizes, mesmo que consigam.
Então, nestas circunstâncias eu gosto de lembrar aos clientes o famoso ditado do Tao Te
Ching: "Uma jornada de mil milhas começa com um único passo". Viver nossos valores é
uma jornada que não termina nunca — continua até o momento de nosso último suspiro. E
cada pequeno passo que damos, por menor que seja, é uma parte válida e significativa dessa
jornada. (Também gosto de citar Esopo: "Devagar se vai ao longe.")
Para mostrar a você como valores, metas e ações se reúnem, vamos considerar Sarah, uma
enfermeira de trinta e oito anos, solteira há quatro anos desde o divórcio. Sarah queria muito
encontrar um novo parceiro, casar e ter filhos, e estava preocupada com o fato de que em bre-
ve ela estaria velha demais para engravidar. É claro que casar e ter filhos são objetivos — eles
podem ser cruzados da lista, alcançados, realizados! — não são valores. Então, usando a pla-
nilha acima, Sarah identificou duas áreas de vida como prioritárias: "parceiro íntimo" e "ma-
ternidade". Em seguida, analisamos os seus valores em cada uma dessas áreas.
Inicialmente, Sarah disse que o que ela queria era ser amada e cuidada. Esses são desejos co-
muns que quase todo mundo tem, mas não são valores — valores são sobre como queremos
nos comportar, não sobre o que queremos obter. Com mais investigação (e bastante trabalho
sobre aceitar a intensa tristeza que surgiu), Sarah identificou seus valores na área do "parceiro
íntimo" como conectar-se, cuidar do parceiro, ser amorosa, ser solidária, ser brincalhona, estar
presente, ser emocionalmente íntima e ser sexualmente ativa. Na área da "maternidade", seus
valores eram quase idênticos (exceto "ser sexualmente ativa").
Sarah reconheceu que "casamento e filhos" não eram realistas como objetivos imediatos (nas
próximas 24 horas) ou objetivos de curto prazo (nos próximos dias e semanas), por isso os
anotou como objetivos de médio ou longo prazo.
Em seguida, ela olhou para objetivos de curto prazo. Na área do "parceiro íntimo", ela estabe-
197
leceu metas para: (a) se inscrever em uma agência de namoro e ir a alguns encontros às cegas;
Na área da "maternidade", seus objetivos eram (a) levar a sobrinha adolescente para uma via-
gem de um dia e (b) visitar alguns amigos que tinham filhos pequenos.
Em termos de objetivos imediatos, Sarah ficou perplexa. Veja como foi a sessão:
Terapeuta: Você identificou alguns valores importantes aqui. Qual parece o mais importante?
Sarah: Hum. Eu acho que, mais do que qualquer outra coisa, conectar e ter intimidade.
Terapeuta: Ok, então qual seria uma coisa pequena, simples e fácil que você pode fazer nas
próximas vinte e quatro horas e que esteja em concordância com esses valores?
Sarah: Eu não sei.
Terapeuta: Nenhuma ideia?
Sarah: Não.
Terapeuta: Bem, a chave aqui é pensar fora da caixa. Se a conexão é importante para você,
existem centenas de maneiras diferentes de fazer isso; você pode se conectar com
animais, plantas, pessoas, seu corpo, sua religião. E vale o mesmo para ter intimi-
dade — existe todos os tipos de maneiras diferentes de fazer isso, incluindo ser ín-
timo de si mesmo.
Sarah: Eu nunca tinha pensado nisso dessa maneira.
Depois de alguma discussão nesse sentido, Sarah conseguiu identificar como um objetivo
imediato tomar um banho longo, quente e calmante: essa era uma maneira de ser íntima de si
mesma e de se conectar com seu corpo.
OBJETIVOS IMPOSSÍVEIS
Às vezes, os clientes têm o que chamamos de objetivos impossíveis. Por exemplo, Alex era
um ex-assistente social de 42 anos de idade aposentado por incapacidade. Ele foi encaminha-
do devido a uma história de quinze anos de TEPT crônico, depressão maior e síndrome da dor
crônica. Seus problemas haviam começado quinze anos antes, quando ele foi terrivelmente
agredido, o que resultou em ferimentos graves nas costas e no pescoço e que exigiram várias
cirurgias para lidar com esses ferimentos.
Antes de sofrer a agressão, Alex tinha sido um apaixonado jogador de futebol amador — agora
ele mal conseguia caminhar mesmo com o uso de uma bengala. Quando começamos a trabalhar
sobre valores e objetivos, Alex continuou falando sobre o quanto queria jogar futebol novamen-
te, apesar de muitos cirurgiões terem lhe dito que isso era impossível. Eu disse a ele: "Bem, eis
a questão, Alex. Não cabe a mim lhe dizer o que é possível e o que não é. Mas podemos con-
cordar que hoje, agora, nas próximas vinte e quatro horas, jogar futebol não é possível?"
Alex concordou com isso, então exploramos seus valores subjacentes ao objetivo de jogar fute-
bol novamente. Inicialmente, ele listou os seguintes: vencer contra outras equipes, obter respei-
to, ter uma vida social. No entanto, nenhum desses itens que ele listou são valores: eles não são
qualidades desejadas de ação continuada. Então perguntei a ele: "Suponha que eu acene uma
varinha mágica para que você alcance instantaneamente todos esses objetivos: você consegue
jogar futebol novamente, vence todos os seus jogos, recebe muito respeito e tem uma ótima vida
social. Então, como você agiria de forma diferente ... em relação a si mesmo, ao seu corpo e a
outras pessoas? Como jogador, que tipo de qualidades pessoais você gostaria de ter? Como vo-
cê gostaria de se comportar em relação às pessoas com as quais socializa?"
198
Com uma exploração mais aprofundada nesse sentido, fomos capazes de chegar a alguns va-
lores fundamentais: estar ativo, cuidar de sua saúde, contribuir para uma equipe, ser sociável,
ser competitivo, ser um "bom amigo", se conectar com outras pessoas. Então assinalei a ele
que havia muitas maneiras diferentes de ele agir com base nesses valores, mesmo que não
pudesse jogar futebol no momento. Alex protestou: "Mas isso não é a mesma coisa".
Pense por um momento antes de continuar ler: Como você teria respondido ao comentário de
Alex?
Estamos lidando aqui com uma lacuna de realidade: uma grande lacuna entre a realidade atual
e a realidade desejada. E quanto maior for essa lacuna, mais dolorosos serão os sentimentos
que irão surgir. Então, naturalmente, precisamos validar e normalizar esses sentimentos, reco-
nhecer compassivamente o quanto eles são dolorosos e ajudar nosso cliente a aceitá-los.
Portanto, minha resposta a Alex foi esta:
Terapeuta: Absolutamente. Não é mesmo. Não é a mesma coisa nem de longe. E quando há
uma enorme lacuna entre o que você quer e o que você tem, isso dói. Eu posso ver
como você está chateado agora, e só posso tentar imaginar o quanto você está so-
frendo. (pausa) E, na minha experiência, quando as pessoas sofrem do jeito que
você está sofrendo agora, é porque elas estão em contato com algo realmente im-
portante, algo que importa para elas. (pausa) Então, vamos supor que eu possa lhe
oferecer uma escolha aqui. Uma opção é que você aprenda a abrir espaço para es-
ses sentimentos dolorosos e abandone a luta contra eles, para poder colocar sua
energia em algo importante, algo que realmente importa para você, no fundo do
seu coração — algo que represente seus valores diante dessa dolorosa realidade. A
outra opção é ficar atolado nesses sentimentos dolorosos, desistir de tentar e colo-
car sua vida em modo de espera. Qual opção você deseja escolher?
Nesse momento, Alex experimentou uma enorme onda de tristeza, ressentimento e medo. Por
isso trabalhamos na aceitação, na desfusão e na autocompaixão. Alex aprendeu a aceitar os
sentimentos dolorosos relacionados às suas perdas e a se desfundir dos pensamentos que o
arrastavam para amargura e para a desesperança — "Eu nunca vou poder ter a vida que que-
ro", "Não é justo", "Não há sentido em continuar."
Depois de mais algumas sessões, voltamos a trabalhar os valores de Alex e começamos a es-
tabelecer pequenas metas realistas. Por exemplo, dois de seus principais valores eram "contri-
buição" e "ser sociável". Em vez de uma equipe de esportes, Alex começou a contribuir para
uma equipe de saúde: as enfermeiras da casa de idosos de sua localidade. Ele começou a dedi-
car seu tempo para socializar com os idosos residentes que ali residiam. Ele preparava chá
para eles, conversava sobre as notícias e até jogava xadrez com eles (o que estava em concor-
dância com seu valor de ser competitivo). Ele achou isso muito satisfatório, mesmo que fosse
muito diferente de jogar futebol.
Então, para resumir, eis o que se pode fazer quando ou objetivo é impossível ou muito distan-
te:
1. Valide a dor que surge da lacuna da realidade.
2. Responda à dor com aceitação e desfusão.
3. Encontre os valores subjacentes ao objetivo.
4. Defina novas metas com base nos valores subjacentes.
199
Barreiras à Ação — e como Lidar com Elas
Se a clarificação de valores e o estabelecimento de metas fossem suficientes para garantir uma
vida baseada em valores, a tarefa dos terapeutas do ACT seria muito mais fácil. Infelizmente,
quando se trata de fazer mudanças positivas na vida, geralmente encontramos barreiras psico-
lógicas. Os mais comuns são resumidos pela sigla FEAR (em português FMEA):
F = Fusion (Fusão)
E = Excessive goals (Metas excessivas)
A = Avoidance of Discomfort (Esquiva do desconforto)
R = Remoteness from values (Distanciamento dos valores)
Vamos dar uma olhada rápida em cada uma dessas barreiras.
F (fusion) representa fusão. Quando nos propomos a fazer mudanças, é normal que nossa
mente produza pensamentos "negativos": estou muito ocupado, não consigo, vou falhar, é
muito difícil e assim por diante. Isso não será um problema se nos desfundirmos desses pen-
samentos, mas se nos fundirmos com os mesmos, eles poderão nos impedir de seguir adiante.
E (excessive goals) representa objetivos excessivos. Se nossos objetivos excederem nossos
recursos, desistiremos ou falharemos. Os recursos necessários podem incluir habilidades,
tempo, dinheiro e saúde física.
A (avoidance of discomfort) representa esquiva do desconforto. A mudança geralmente gera
sentimentos desconfortáveis — mais comumente ansiedade. Se não estivermos dispostos a
aceitar esse desconforto, não avançaremos (isto é, permaneceremos em nossa "zona de con-
forto").
R (remoteness from values) representa distanciamento de valores. Por que estamos nos es-
forçando para fazer todo esses esforços difíceis? Se perdermos o contato com os valores sub-
jacentes a esse objetivo — se ele não parecer significativo ou importante —, prontamente
perderemos a motivação. "O afastamento dos valores" geralmente se apresenta de quatro for-
mas: (l) os clientes não podem ou não querem acessar seus valores; - (2) eles confundem re-
gras e moral com valores; - (3) eles falam dos valores (da boca pra fora), mas realmente não
se conectam a eles, - e/ou (4) eles fornecem a você os valores de sua religião, da sua cultura
ou de seus pais em vez de seus próprios valores.
(A propósito: a versão acima do acrônimo FEAR é diferente daquela que você encontrará em
outros livros didáticos do ACT. Eu mudei-o para torná-lo mais abrangente)
Então, como lidamos com essas barreiras? Bem, o antídoto para o FEAR (MEDO) é DARE
(OUSAR):
D = Defusion (Desfusão)
A = Acceptance of discomfort (Aceitação do desconforto)
R = Realistic goals (Objetivos realistas)
E = Embracing values (Abraçar valores)
Então, vamos dar uma olhada no que está envolvido para DARE.
D representa desfusão. Identificamos os pensamentos que nos travam e nos desfundimos de-
les.
A representa aceitação do desconforto. Abrimos espaço para nossos pensamentos e senti-
mentos dolorosos, não porque gostamos deles ou porque os queremos, mas para que possa-
mos fazer o que é importante para nós.
200
R representa objetivos realistas (realistic goals). Se carecemos dos recursos necessários,
temos duas opções. Opção 1: Criar um novo objetivo para adquirir os recursos necessários. Se
carecemos das habilidades necessárias, nosso novo objetivo é aprender ou desenvolver essas
habilidades. Se nos falta dinheiro, nosso novo objetivo poderia ser tomá-lo emprestado ou
fazer uma poupança. Se nossa saúde física está debilitada, nosso objetivo é melhorar nossa
saúde. E se não temos disponibilidade de tempo, nosso novo objetivo é ajustar nossa agenda
(o que pode significar abrir mão de outras atividades). Opção 2: Se não é possível conseguir
os recursos necessários, então aceitamos as limitações da realidade e mudamos nosso objetivo
para adaptar-nos da melhor forma possível.
E representa abraçar valores (embracing values). Se somos deficientes em motivação, refli-
tamos por um momento sobre porque estamos fazendo isso. O que é importante ou significa-
tivo nesta ação? Ela realmente importa? E se sim, por quê?
Se escrevermos estes acrônimos em um cartão para que nossos clientes possam levá-lo consi-
go em sua carteira ou bolsa, nós estamos provendo-os com uma forma concreta de ajudá-los a
identificar seus obstáculos e responder de forma efetiva.
DAR RAZÕES
Nós todos somos muito bons em criar motivos ou razões sobre porque não podemos ou não
devemos fazer coisas que nos tiram de nossa zona de conforto. E se nos fundimos com esses
pensamentos, eles nos travam. Há muitos formas que nos possibilitam nos desfundirmos de
dar razões (como com qualquer outra categoria de pensamento). Uma forma bem simples é
nomeá-los e antecipá-los, como veremos na transcrição a seguir:
Terapeuta: Você sabe que nossa mente é incrível. Não é apenas uma máquina de solução de
problemas e uma fábrica de julgamentos, mas também uma máquina de dar ra-
zões. Toda vez que tivermos que enfrentar qualquer tipo de desafio e sair da nossa
zona de conforto, nossa mente vai criar toda uma lista de razões para não fazê-lo:
Estou cansado demais. É tão difícil. Eu vou falhar. É muito caro. Vai demorar
muito. Eu estou muito deprimido. Eu não tenho confiança suficiente. Estou muito
ansiosa. Outros não aprovariam. Eu não mereço isso. Não é a hora certa. Eu não
deveria ter que fazer isso. Tudo vai dar errado. [Modifique esses motivos de mo-
do a serem diretamente relevantes para o problema do seu cliente] A máquina
nunca para — ela continua produzindo razão após razão após razão. Sua mente,
minha mente, a mente de todo mundo produz esse tipo de pensamento. É exata-
mente o que as mentes fazem. E isso é apenas um problema se permitirmos que
esses pensamentos nos intimidem — se permitirmos que eles nos digam o que
podemos e o que não podemos fazer. Mas se os tratarmos da mesma maneira que
todos os nossos outros pensamentos inúteis — vendo-os pelo que são, segurando-
os de forma leve, não deixando nos fisgar por eles —, eles não vão poder nos im-
pedir de fazer o que realmente é importante para nós. Então, que tipo de razões
sua mente está lhe dando agora sobre por que você não pode ou não deve fazer
aquilo sobre o que estamos falando? [Elicie o maior número possível de razões]
Tudo bem, pelo que pude ver, essas são todas razões perfeitamente válidas para
não agir. Então, agora eu convido você a dar uma boa e honesta olhada na situa-
ção e a considerar esta pergunta: se você não fizer nada aqui — se você parar de
tentar, se desistir, ficar parado, fazer mais do mesmo — isso irá melhorar sua vida
a longo prazo? [Elicie uma resposta ... geralmente a resposta será "não"] Então,
você está disposto a agir, mesmo que sua mente possa lhe dar e de fato lhe dê todo
tipo de razões perfeitamente válidas para não fazê-lo?
201
Se seu cliente disser "sim", você pode dizer o seguinte:
Terapeuta Você pode usar todos os tipos de técnicas de desfusão. Você pode nomear o pro-
cesso: "Ahá. Aqui temos dar razões!" Você pode dizer para si mesmo: "Estou ten-
do o pensamento de que não posso fazer isso porque estou muito cansado." Você
pode dizer para si mesmo: "Obrigado mente. Boa razão." Você pode cantar as ra-
zões, escrevê-las em cartões, observá-las de forma desapaixonada, tratá-las como
uma transmissão da Rádio Desgraça e Melancolia, e assim por diante.
Se o seu cliente disser "não", você pode dizer — muito devagar, de forma gentil e compassiva:
Terapeuta: Bem, aqui está o ponto. Se você está esperando chegar o dia em que sua mente
vai parar de lhe dar razões, provavelmente você vai ficar esperando para sempre,
porque é isso que as mentes fazem. Elas lhe dão razões para não tomar medidas.
Então, imagine que você volte para me ver daqui a dez anos ... e você me diz que
nada mudou em sua vida ... nada ... que os últimos dez anos foram mais ou menos
a mesma coisa. Você terá esperado dez anos pelo dia em que sua mente parasse de
dar razões ... e nada mudou. (pausa) É esse o futuro que você realmente deseja? "
Seu cliente quase certamente vai lhe dizer que não, e neste caso você perguntar-lhe mais uma
vez:
Terapeuta: Então você está disposto a agir, mesmo que sua mente lhe dê todo tipo de razões
perfeitamente válidas para não fazê-lo?
Uma última estratégia a considerar é algo que eu chamo de "a pergunta do sequestro".
Terapeuta: Ok, então você me deu seis ou sete razões perfeitamente válidas para não fazê-lo.
Agora, se você estiver disposto, gostaria que você imaginasse uma coisa. Imagine
que a pessoa que você mais ama neste planeta foi sequestrada. E o negócio é que, a
menos que você tome as medidas que estamos falando, nunca mais verá essa pes-
soa. Você tomaria essa ação, mesmo que sua mente possa lhe dar todo tipo de ra-
zões perfeitamente válidas para não fazer isso? "[Elicie uma resposta; seu cliente
vai se sentir obrigado a dizer que sim] Ok. Então, no momento, é algo assim: A
vida rica e significativa que você idealmente gostaria de ter foi sequestrada e você
nunca poderá vê-la a menos que tome uma atitude. Você está disposto a fazer o que
é necessário, mesmo que sua mente lhe dê todo tipo de razão para não fazê-lo?
202
fazer tudo isso de forma conversada sem usar formulários, mas um registro escrito funciona
como um lembrete poderoso. Você também pode imprimir algumas cópias e entregá-las ao
seu cliente para uso contínuo.
QUEBRA DE COMPROMISSOS
Todo mundo quebra compromissos às vezes. Isso faz parte de ser humano. Muitas vezes, nos-
so cliente é rápido em levantar a questão do fracasso: "E se eu falhar? Eu tentei fazer isso an-
tes, mas nunca o cumpro". Se nosso cliente não levantar esse problema, precisaremos levantá-
lo nós mesmos. Aqui está um exemplo:
Terapeuta: É praticamente certo que de tempos em tempos você irá quebrar um compromis-
so. Isso quer dizer que você é ser humano de verdade, não um super-herói fictício.
Não é realista esperar que conseguiremos viver o tempo todo de acordo com nos-
sos valores e cumprindo nossos compromissos de forma perfeita. O que é realista
é fazer isso de forma cada vez melhor. Podemos ficar melhores em nos manter
nos trilhos, mais rápidos em nos dar conta quando saímos dos trilhos e melhores
em voltar aos trilhos novamente. E quando saímos dos trilhos, o que ajuda é ser-
mos gentis e aceitar a nós mesmos: aceitamos pensamentos e sentimentos doloro-
sos, depois nos reconectamos aos nossos valores e começamos a nos mover no-
vamente. O que não ajuda é praticar a autoagressão. Quero dizer, se autoagredir
fosse uma boa maneira de mudar seu comportamento, você já não seria perfeito
agora?
Também é útil falar aos clientes sobre os dois principais padrões de compromisso:
Dica Prática: Existem duas armadilhas muito comuns para os terapeutas nesta fase
do trabalho. O primeiro é ser muito insistente. Se tentarmos discordar, coagir ou for-
çar nossos clientes para que ajam, o tiro provavelmente vai sair pela culatra. A se-
gunda armadilha é sermos muito brandos. Se não encorajarmos ativamente nossos
clientes a estabelecer metas específicas, assumir um compromisso público e enfrentar
suas barreiras psicológicas, eles podem não seguir em frente.
203
importante antecipar possíveis barreiras e discutir respostas efetivas. Os acrônimos FE-
AR/DARE são muito úteis, e você pode incrementar sua efetividade com o formulário abaixo:
As ações que vou realizar para alcançar este objetivo são (seja específico):
■ Sentimentos
■ Sensações
■ Ímpetos
204
DE FEAR A DARE
De FEAR a DARE: Parte 1
Partindo do pressuposto de que você clarificou seus valores e estabeleceu um obje-
tivo, mas não seguiu em frente. O que impediu você de fazê-lo O acrônimo FEAR
cobre as barreiras mais comuns:
F = Fusão (coisas que sua mente lhe diz que lhe diz que você impedir você se ficar preso nelas)
E = Excesso de objetivos (seu objetivo é amplo demais ou você não tem as habilidades, o
tempo, o dinheiro, a saúde ou outros recursos para realiza-lo)
A = Esquiva (Avoidance) do desconforto (falta de disposição para criar espaço para o descon-
forto que o desafio traz consigo)
R = Distanciamento (Remoteness) de valores (perda de contato —ou esquecimento — do
que é importante ou significativo sobre isso)
Agora, com o mínimo possível de palavras, escreva tudo o que tem impedido você
de seguir em frente:
Agora retorne e rotule cada resposta com uma ou duas das letras F, E, A ou R, que
melhor descreva (m) esta barreira::
Foi F = Fusão com história ( por exemplo, eu vou falhar, é muito difícil, vou fazer isso mais
tarde, sou fraco demais, não consigo fazer isso, ou alguma outra coisa)?
Foi E = Excesso de objetivos (você não dispunha do tempo, dinheiro, saúde, facilidades, habi-
lidades, ou o apoio necessário; ou o objetivo era excessivo e você ficou sobrecarregado)?
Foi A = Esquiva do desconforto (você não estava disposto a criar espaço para a ansiedade, a
frustração, o medo do fracasso, ou algum outro pensamento e sentimento desconfortável)?
Foi R = Distanciamento de seus valores (você esqueceu ou perdeu contato com os valores
subjacentes a seu objetivo)?
O antídoto para FEAR é DARE.
D = Desfusão
A = Aceitação do desconforto
R = Realismo nos objetivos
E = Envolvimento com seus valores
Repasse suas barreiras, uma por uma, e trabalhe sobre como você pode lidar com
cada uma delas usando DARE. Mais adiante você vai encontrar algumas sugestões
para ajudá-lo.
205
De FEAR a DARE: Parte 2
Estratégias de Desfusão:
Estratégias de Aceitação:
Adotando Valores
■ Conecte-se com aquilo que é importante para você sobre este objetivo.
■ Este objetivo é realmente significativo para você?
■ Este objetivo está alinhado com seus valores?
■ Este objetivo é verdadeiramente importante?
■ Este objetivo faz com que sua vida se mova na direção na qual você quer ir?
Usando estas ideias (e outras de sua lavra ou de seu terapeuta) escreva como você
responde às barreiras listadas acima:
206
Finalmente, faça as seguintes perguntas a si mesmo:
■ Estou disposto a agir de forma efetiva para fazer o que, no fundo do meu co-
ração, é importante para mim?
Na próxima sessão, vamos revisar como as coisas transcorreram. O cliente seguiu seus valo-
res? Se sim, como foi isto? Que diferença isto fez em sua vida? E qual é o próximo passo em
direção a seus valores? Se ele não seguiu seus valores, podemos explorar o que o impediu de
fazer isso e usar FEAR/DARE para ajudá-lo a se pôr em movimento novamente.
207
RESUMO
Ação comprometida significa fazer o que é necessário para viver de forma congruente com nos-
sos valores. Alguns de nossos clientes terão muito poucas barreiras psicológicas para agirem;
simplesmente ajudá-los a entrar em contato com seus valores e perguntar-lhes sobre objetivos
congruentes com estes valores serão suficientes para fazê-los avançar. No entanto, a maioria de
nossos clientes terá pelo menos algumas barreiras na forma de FEAR: fusão, objetivos excessi-
vos, esquiva de desconforto e distanciamento de valores. O caminho através dessas barreiras é
DARE: desfusão, aceitação de desconforto, objetivos realistas e adoção de valores.
Ação comprometida não significa buscar a perfeição nem nos pressionar para alcançar todos
os nossos objetivos. Significa um compromisso com a vida baseada em valores: o compro-
misso de voltar a nos conectar sempre com nossos valores, não importa quantas vezes perca-
mos contato com eles.
208
CAPÍTULO 13
Desempacando
FUNCIONALIDADE: NOSSA MELHOR AMIGA
Aqui está minha garantia para você. Quando você começar a trabalhar com a ACT, em algum
momento, tanto você como seus clientes vão ficar empacados. Repetidas vezes. Se isso não acon-
tecer, devolvo seu dinheiro. Afortunadamente a ACT nos provê com uma ferramenta incrível e
poderosa para ficarmos desempacados: funcionalidade. Kirk Strosahl, um dos pioneiros da ACT,
diz isto desta forma: "Quando estamos trabalhando com a ACT, a funcionalidade é nossa melhor
amiga." Do ponto de vista da funcionalidade, nunca precisamos julgar, criticar ou atacar os com-
portamentos autodestrutivos de um cliente, nem precisamos convencê-lo ou persuadi-lo a parar.
Em vez disso, pedimos que ele observe de forma honesta e aberta seu comportamento atual e seus
efeitos a longo prazo em sua vida, e avalie se suas ações estão o ajudando a crescer como ser hu-
mano e a viver uma vida vital e significativa — ou não. Podemos fazer perguntas como estas:
"Aquilo que você está fazendo está funcionando para tornar sua vida mais rica e completa a longo
prazo?" "Isso está levando você mais perto da vida que você realmente quer?" "Isso está ajudando
você a ser a pessoa que você quer ser?"
No entanto, precisamos ter muito cuidado aqui: é fácil começarmos fazer bullying com nossos
clientes. Isto significa que nós já decidimos o que vai funcionar e o que não funcionar para o
cliente (Strosahl, 2004). Quando nos fundimos com nossas próprias ideias sobre o que é melhor
ou mais certo para o nosso cliente, começamos a impor nossa própria agenda, ou seja, nossas
próprias crenças e pressuposições. Nosso cliente pode então começar a dizer o que queremos
ouvir para nos agradar ou apaziguar. Se isso acontecer, o exercício será vazio porque o cliente
não está realmente assumindo a responsabilidade por sua própria vida. Strosahl nos adverte:
"Para usar a estratégia da funcionalidade, você precisa ser incansavelmente pragmático e sem
julgamentos e realmente querer dizer isso. Isso não é um jogo, nem um truque ou uma forma de
manipulação terapêutica" (Strosahl, 2004, p. 226) Tendo isso em mente, vamos ver agora algu-
mas das muitas maneiras através das quais a funcionalidade pode nos ajudar.
209
Ajuda através da Desfusão
A funcionalidade nos permite uma desfusão rápida e é particularmente útil quando um cliente
insiste que um pensamento é verdadeiro. Podemos dizer: "Não vou discutir com você se isso é
verdade ou não. O que eu quero que você faça é dar uma boa olhada no que acontece quando você
fica completamente preso neste pensamento." Em seguida podemos perguntar: "Se você der toda
a sua atenção a este pensamento e deixar que ele determine o que você faz, o que vai acontecer
com a sua vida a longo prazo?" ou "Ficar preso neste pensamento tem ajudado você a ser a pessoa
que você quer ser? Este pensamento ajuda você a fazer as coisas que você quer fazer?"
Isso é particularmente útil quando nosso cliente começa a insistir que a mudança é impossível.
Por exemplo, um cliente com problemas de adição pode dizer: "Eu sei que isso não vai funcio-
nar para mim. Eu já tentei antes. Não tenho controle sobre isso". Podemos responder: "Ok, en-
tão sua mente está lhe dizendo: Isso não vai funcionar. Eu não consigo me controlar. Faz senti-
do. Esse é o tipo de coisa que as mentes dizem. Eu não vou negar isso. Eu só quero que você
considere uma coisa. Se concordarmos com isso — se deixarmos sua mente ditar o que aconte-
ce nesta sala — então para onde vamos a partir daqui? Paramos a sessão e desistimos?" Poderí-
amos então continuar e dizer: "Eu realmente espero que sua mente vai continuar lhe dizendo
que essa terapia não vai funcionar e que você não tem controle. Infelizmente não conheço outra
maneira a não ser uma cirurgia no cérebro, para impedir que ela pare de fazer isso. Então, po-
demos deixar sua mente dizer o que quiser e fazer uma tentativa mesmo assim?"
Essa estratégia também é muito útil quando os clientes insistem que os autojulgamentos nega-
tivos e desagradáveis são verdadeiros — por exemplo, "Mas é verdade. Sou gordo / feio / bur-
ro / perdedor". Podemos dizer: "Quando sua mente diz essas coisas para você, ajuda se você
ficar preso nelas ou se apegar a elas? Será que concordar com esses pensamentos — dando a
eles toda a sua atenção, e permitir que eles lhe digam o que você deve fazer — isso torna sua
vida mais rica, mais completa e mais significativa? Caso contrário, que tal praticar o aprender
a deixá-los ir e vir sem se apegar a eles?"
210
tinuar fazendo o que está fazendo, isto está funcionando para tornar sua vida melhor a longo
prazo? Se estiver funcionando, então continue fazendo isso, e vamos nos concentrar em outra
coisa. Mas se não estiver, que tal darmos uma boa e honesta olhada nisso — exceto que desta
vez vamos fazer isso sem que eu tente convencê-lo de alguma coisa?"
211
Ajuda com o "Mas Isso Funciona"
Alguns clientes insistirão que seu comportamento autodestrutivo funciona para eles a longo
prazo. Aqui estão dois exemplos clássicos: "Preocupar-me me ajuda a me preparar para o pi-
or" e "Gosto de ficar chapado. É a única maneira de eu relaxar". Precisamos validar que, de
fato, existem alguns benefícios reais para essas estratégias e, ao mesmo tempo, existem outras
maneiras de obter esses benefícios que seriam muito mais funcionais e viáveis. Eu uso uma
metáfora sobre uma bicicleta em condições precárias para transmitir isso.
SUPERANDO A RESISTÊNCIA
A resistência é um estado, não uma característica. No contexto certo, qualquer pessoa seria resis-
tente à terapia. Suponha que você estivesse sendo tratado por um 'feiticeiro' em algum país do
terceiro mundo. Se ele lhe dissesse que havia um espírito maligno em seu corpo e a única maneira
de se livrar dele era comer uma lula viva, você resistira a isso?
A resistência na terapia geralmente se resume a alguns fatores-chave: inadequação ou desajuste no
tratamento, ganhos secundários, relação terapêutica e FEAR. Vamos dar uma olhada em cada em
cada um desses fatores agora.
Ganhos Secundários
Existem benefícios para a cliente (conscientes ou inconscientes) se ela "ficar presa", tais como
proveito de um acordo legal ou cuidados e atenção de outras pessoas enquanto ela estiver no papel
de doente? Para abordar a questão dos ganhos secundários, precisamos trazê-la para a consciência
do cliente e explorá-lo sem julgamento. Talvez tenhamos de fazer uma análise de custo-benefício,
212
enquadrada em termos de funcionalidade — por exemplo, poderíamos dizer: "Parece que ficar
empacado funciona a curto prazo para obter os benefícios X, Y e Z, mas será que funciona a lon-
go prazo para tornar a vida rica e completa? " ou "Estou disposto a estar errado sobre isso, mas eis
como eu o vejo. Se você não fizer nenhuma mudança aqui, existem alguns benefícios genuínos a
curto prazo para você — como A, B e C. Eu gostaria que você fizesse uma comparação desses
benefícios com os custos de ficar preso a longo prazo ".
Relação Terapêutica
Uma forte relação terapêutica é essencial para uma terapia eficaz. Há espaço para melhorias aqui?
Entre em contato consigo mesmo: você se fundiu com crenças, julgamentos ou suposições inúteis
sobre esse cliente? Você está se movendo muito rápido ou muito devagar? Você está sendo muito
insistente ou muito passivo? Muito sério ou muito brincalhão? Você precisa validar mais a expe-
riência dele ou mostrar mais compaixão? Você precisa estar mais presente, aberto e receptivo?
Você precisa fornecer mais justificativa para a cliente sobre por que a está incentivando a fazer
essas alterações ou praticar essas habilidades? Você está fundido e com esquiva na sessão: pati-
nando em torno de questões importantes em vez de abordá-las ou se perder no seu próprio diálogo
interno? No capítulo 14, exploraremos a relação terapêutica com mais detalhes; basta dizer, por
enquanto, que a melhor maneira de construir e fortalecer o relacionamento terapêutico é incorpo-
rarmos a ACT durante nossas sessões.
FEAR
No capítulo anterior, discutimos FEAR: fusão, excesso de objetivos, esquiva do desconforto e
distanciamento de valores. Todos estes fatores podem desempenhar um papel maior na resistên-
cia. A chave é identificá-los e então enfocá-los com DARE: desfusão, aceitação do desconforto,
objetivos realistas e abraçar valores.
A Resistência é Fértil
Quando encontramos resistência em nossos clientes — ou talvez seja melhor descrevê-la como
'esquiva em fazer mudanças "- a maioria de nós tende a ficar frustrada ou irritada, ou duvidar de
nossas próprias habilidades, culpar o cliente ou culpar a nós mesmos. Embora isto seja normal,
não é particularmente útil. Uma alternativa melhor é simplesmente aplicar a ACT a esse problema
em si (costumo dizer que o ACT reformula toda a sua vida porque todos os problemas com os
quais você se depara se tornam uma oportunidade de melhorar na ACT).
Em outras palavras, sempre que um cliente parece estar empacado, nosso primeiro passo é olhar
de forma atenta e consciente para o que está acontecendo, ver a situação com abertura e curiosi-
dade e observar os pensamentos e sentimentos que aparecem. Podemos dizer algo como: "Por que
não recuamos um passo e observamos o que está acontecendo aqui?" Em seguida, sem julgar,
explore os fatores FEAR que (quase certamente) estão envolvidos na questão.
213
ACEITAÇÃO DO ESTAR EMPACADO
Haverá situações em que não importa o que tentemos, nosso cliente continuará empacado. Você
nunca experimentou isso em sua própria vida? Apesar de toda a sua sabedoria, conhecimento,
desenvoltura e experiência, de alguma forma você se viu empacado: não estava disposto ou não
foi capaz de tomar as medidas que realmente fariam a diferença na sua vida? Nesses momentos,
nosso padrão é nos autoagredir, o que certamente não ajuda. Agredir-nos por ficarmos empacados
é tão útil quanto esfregar sal em feridas recentes. Uma resposta que melhora a vida é transformar
essas situações dolorosas em oportunidades para desenvolver autoaceitação e autocompaixão.
Podemos fazer perguntas como estas a nossos clientes: "Você consegue se aceitar como um ser
humano mesmo que esteja temporariamente empacado?" e "Você pode ser gentil e cuidar de si
mesmo em vez de se machucar?" A Seção 7 do Exercício de Aceitação de Emoções (consulte o
capítulo 8) é um exercício adorável a ser praticado neste momento para desenvolver a autocom-
paixão.
E observe o paradoxo: se você consegue usar essas situações para desenvolver a autoaceitação e a
autocompaixão, então ainda estará crescendo e desenvolvendo habilidades uteis para a sua vida,
embora possa estar "empacado" em relação a esse assunto em particular.
Dica Prática: Sempre que seus clientes parecerem empacados, resistentes ou desmo-
tivados, procure pelos fatores FEAR e responda com DARE. Se a procura pelos fato-
res FEAR não revelar as barreiras, então considere a possibilidade de inadequação
do tratamento, ganhos secundários ou a relação terapêutica.
RESUMO
O modelo completo da ACT repousa sobre o conceito de funcionalidade (ou viabilidade). Repeti-
damente, pedimos a nossos clientes que avaliem se suas ações estão lhes proporcionando sentido,
satisfação e vitalidade — ou luta e sofrimento? Quando confiamos na funcionalidade para obter
motivação, nunca precisamos coagir, persuadir ou convencer nossos clientes a mudarem — sim-
plesmente abrimos os seus olhos para as consequências de suas ações e permitimos que eles esco-
lham sua própria direção, seu próprio rumo. E, às vezes, apesar dos nossos melhores esforços para
ajudá-los a se pôr em movimento, nossos clientes continuam — nesse caso, podemos pelo menos
fornecer a eles um espaço seguro e compassivo no qual eles podem descansar.
214
CAPÍTULO 14
Eu e Você
A RELAÇÃO TERAPÊUTICA
Em quase todos os modelos de terapia, o relacionamento terapêutico é considerado importante —
e com razão. Na ACT, esse relacionamento é especialmente enfatizado. Como terapeuta, nosso
objetivo é incorporar todo o modelo da ACT na sessão: ser consciente, não julgar, ser respeitoso,
compassivo, centrado, aberto, receptivo, engajado, caloroso e genuíno. Consideramos o cliente
como um igual: um ser humano que, como nós, fica preso em sua mente e acaba lutando com a
vida. Essa atitude é muito bem resumida pela Metáfora das Duas Montanhas (ver capítulo 5).
Ser Consciente
A ACT é uma terapia muito ativa que coloca muito menos ênfase na escuta flutuante do que na
maioria dos outros modelos. No entanto, mesmo alguns minutos de escuta verdadeiramente atenta
e genuinamente compassiva podem ser incrivelmente poderosos — muito mais do que uma hora
inteira de escuta flutuante.
Um dos maiores presentes que podemos dar a outros seres humanos é torná-los o centro de nossa
atenção em uma atmosfera de completa aceitação, abertura e compaixão. Por isso, ouvimos nos-
sos clientes com cuidado, bondade e sinceridade — com um coração e uma mente abertos. Nós
ouvimos com compaixão suas lutas. Percebemos e validamos a sua dor e reconhecemos como
sofreram. Pedimos a eles que sejam voluntariamente vulneráveis. E criamos um espaço compas-
sivo e sem julgamentos onde isso é possível. Através dessa interação consciente e atenciosa, for-
jamos um relacionamento forte, confiante e aberto.
Em cada uma das sessões, temos a oportunidade de testemunhar a dor e o sofrimento de nosso
cliente de uma maneira que talvez ninguém mais já tenha feito. Usamos o tempo para escutar de
forma completa, cuidadosa e aberta; para observar a linguagem corporal e as expressões faciais de
nosso cliente; para responder de forma genuína e empática e para validar sua experiência no pro-
cesso. Quando nos damos conta de que estamos nos "desligando", deixando de prestar atenção
total, presos em nossos pensamentos, então, no momento em que percebemos isso, podemos re-
conhecê-lo gentilmente e trazer nossa atenção de volta ao ser humano que está conosco. Dessa
forma, toda sessão se torna uma prática de atenção plena em si mesma.
Pedir permissão
"Tudo bem se ...?" "Posso pedir para você ...?" "Você estaria disposto ...?" — todas essas são ma-
neiras úteis de pedir permissão ao cliente. Trata-se simplesmente de mostrar respeito a ele. Este é
um ingrediente-chave para criar e manter conexão, especialmente quando pedimos aos nossos
clientes que façam exercícios que possam fazer emergir pensamentos e sentimentos dolorosos.
Quanto mais dolorosa for a experiência, mais essencial é saber que temos permissão genuína — e
não apenas uma concordância automática.
Às vezes, também é útil dizer: "Você não precisa fazer isso. Eu não gostaria que você concordasse
apenas porque eu sugeri". Também é importante ter a garantia de que o cliente está entendendo a
lógica por detrás do exercício. Se ele não tiver compreendido, reserve um tempo para explicar.
215
Dizer "Me Desculpe"
Quando nos equivocamos, cometemos um erro, ofendemos, irritamos ou invalidamos um cliente,
então, no momento em nos damos conta disso, agimos: reconhecemos e admitimos nosso erro e
pedimos desculpas sinceras e genuínas. Cada vez que fazemos isto, estamos modelando algo mui-
to útil; em muitos relacionamentos íntimos, há uma notável escassez de desculpas!
Às vezes, até os terapeutas mais experientes da ACT se veem fazendo preleções, coagindo, con-
vencendo, debatendo ou tentando convencer seus clientes. Quando fazemos isso, não estamos
fazendo ACT. Portanto, no momento em que nós nos pegamos fazendo isso, é útil reconhecê-lo e
pedir desculpas. Eu digo algo como: "Peço desculpas. Acabei de perceber o que estava fazendo.
Eu estava tentando convencer você de algo. Você não veio aqui para eu lhe impusesse meu siste-
ma de crenças. Podemos voltar um pouco — voltar ao ponto onde estávamos antes de eu começar
a tentar convencer você — e começar de novo a partir daí?”
Ser brincalhão
Brincadeiras, irreverência e humor podem desempenhar um papel importante no aprimoramento
do relacionamento. Isso geralmente ocorre naturalmente quando trabalhamos com a desfusão.
Geralmente é um bom sinal quando o riso surge espontaneamente durante uma sessão. Por outro
lado, tenha cuidado com insensibilidade e invalidação. Quando alguém está compartilhando uma
história comovente de dor e sofrimento, fazer uso de brincadeiras seria inadequado. E se o nosso
cliente estiver com um sofrimento terrível, certamente não vamos usar técnicas de desfusão en-
graçadas.
Praticar a Autoexposição
Embora não tenhamos que nos autoexpor, a ACT defende que o façamos se e quando for provável
que seja benéfico para o cliente a serviço da normalização, validação, promoção da autoaceitação
ou do aprimoramento do relacionamento terapêutico.
A posição da ACT é que a terapia envolve um relacionamento íntimo. No entanto, a intimidade é
uma via de mão dupla — exige abertura de ambas as partes. Se o terapeuta é uma "lousa em bran-
co" e o cliente não sabe nada sobre seu mundo interior — nada sobre o que ele valoriza ou se pre-
ocupa, ou sobre o que ele realmente sente e pensa —, então claramente eles não têm um relacio-
namento íntimo. Quando nossos clientes entram em terapia, eles estão em uma posição vulnerá-
vel, o que contribui para um relacionamento muito desigual. No entanto, se nós, como terapeutas,
deliberadamente e abertamente compartilharmos nossos próprios valores e vulnerabilidades, isso
ajudará a estabelecer um vínculo poderoso com nossos clientes.
Obviamente, isso não significa que "despejemos" nossos problemas neles ou que digamos: "Ei,
você acha que tem problemas — ouça os meus!" Usamos a autoexposição de forma muito criteri-
osa — quando ela contribuir para normalizar e validar a experiência de um cliente, aprofundar a
aliança terapêutica ou modelar algo útil. Eis algumas formas de autoexposição que podem ser
úteis no contexto certo.
"Eu tenho que confessar que isso me impressionou ..." Quando seu cliente diz algo que lhe impac-
tou e atordoou, é útil admitir isso. Você pode sugerir alguns minutos de respiração consciente ou
exercícios semelhantes, para que ambos possam voltar a se focar.
"Sinto-me desconectado de você" ou "Sinto como se você não estivesse totalmente presente no
momento". Se você sentir que seu cliente está se dissociando, desconectando, se afastando, ou
vagando dentro de sua própria mente, geralmente é útil chamar a atenção para isso — e destacar o
que acontece com seu relacionamento com o cliente durante esses momentos.
216
"Estou percebendo alguns pensamentos diferentes aqui ..." Às vezes, minha mente sugere várias
direções diferentes nas quais eu poderia conduzir a sessão — todas elas válidas. Muitas vezes, é
útil compartilhar esses pensamentos e avaliar a resposta do cliente. Outras vezes, minha mente faz
vários julgamentos diferentes sobre a mesma situação. Novamente, no contexto adequado, pode
ser útil compartilhar isso.
"Percebo que me sinto um pouco ..." No contexto certo, pode ser muito útil compartilhar reações
emocionais.
217
Ir Mais Devagar e Inclinar-se
"Vá mais devagar e incline-se" é uma frase que peguei em uma oficina com a psicóloga Robyn
Walser. Quando ficamos estressados ou ansiosos em resposta ao que está acontecendo na sessão,
a maioria de nós tende a acelerar — falamos mais, falamos mais alto, damos conselhos, começa-
mos palestrar, etc. — ou nos inclinamos para trás - desligamos, desconectamos e nos afastamos.
Obviamente, isso não é útil para o relacionamento terapêutico. Portanto, tente fazer o oposto: di-
minua a velocidade e incline-se! Observe seus pensamentos e sentimentos, observe sua tendência
a acelerar e se desconectar, conecte-se com seus valores e depois se incline (literalmente) e desa-
celere. Fale menos, fale mais devagar e faça pausas com frequência.
218
Desfundir-se de seus próprios julgamentos
É claro que todos nós objetivamos não julgar e podemos conseguir isso — durante algum tempo.
Mas, mais cedo ou mais tarde, julgamentos vão ocorrer. Nossa mente é uma máquina de julga-
mento bem lubrificada — ela não consegue ficar sem julgar por muito tempo. Portanto, quando
nossos julgamentos sobre nossos clientes surgem, o desafio é reconhecê-los e neutralizá-los, e
deixá-los ir e vir sem sermos fisgados por eles. Se percebermos que um julgamento nos enganou,
podemos dizer silenciosamente: Ahá! Um julgamento!, e em seguida, voltar a focar novamente
em nosso cliente.
APLIQUE A SI MESMO
Espero que você consiga perceber que tudo neste capítulo deriva de forma natural da aplicação da
ACT a si mesmo como terapeuta ou coach. E, obviamente, isso vale para todos os relacionamen-
tos da sua vida: quanto mais você agir a partir de um espaço de atenção plena e valores, mais sau-
dáveis serão seus relacionamentos. Então, por que reservar a ACT apenas para o consultório? Por
que não dedicar algum tempo agora para refletir sobre seus relacionamentos mais significativos e
pensar em como os princípios da ACT poderiam enriquecê-los e melhorá-los? E, em seguida,
coloque isso em prática e veja como funciona. Você vai se surpreender!
219
CAPÍTULO 15
A Jornada do Terapeuta
DE EMBOLADA E DESAJEITADA A FLUIDA E FLEXÍVEL
Quando somos terapeutas novos na ACT, tendemos a dividir o modelo e centralizar cada sessão
em torno de um "pedaço" maior dele, como fiz nos capítulos 6 a 12 deste livro. Por exemplo, po-
demos fazer uma sessão com foco principal na desfusão, depois outra centrada na aceitação e ou-
tra com ênfase no eu observador, e assim por diante. Normalmente, à medida que nos familiari-
zamos com o modelo e percebemos como os seis processos principais se interconectam e se com-
plementam, nossa terapia se torna menos "embolada" e mais "mesclada". Aprendemos a "dançar
em torno do hexaflex", trabalhando explicitamente com vários processos em cada sessão (e impli-
citamente com todos os processos). Nossa terapia se torna mais fluida, mais flexível e mais criati-
va. Começamos a modificar e adaptar ferramentas, técnicas e metáforas, criando novas próprias
(ou as tomando emprestadas de nossos clientes).
Espero que a esta altura você já tenha começado a apreciar a interconectividade desse modelo.
Para conseguir um entendimento melhor do mesmo, dedique algum tempo a estudar o dia-
grama hexaflex da ACT (consulte o capítulo 1) e identifique como cada um dos seis compo-
nentes interage com todos os outros. Além disso, ao reler este livro ou passar para outros li-
vros sobre ACT, observe como praticamente toda intervenção contém vários processos prin-
cipais sobrepostos. Por exemplo, suponha que você pergunte a um cliente: "Você consegue se
sentar com esse sentimento por um momento? Apenas observe onde ele é mais intenso. De-
pois, dê um passo para trás e olhe para ele a partir do eu observador". Aqui você tem três pro-
cessos em uma breve intervenção: momento presente, eu-como-contexto e aceitação. (Se você
olhar mais de perto, verá que valores, ação comprometida e desfusão também estão envolvi-
dos neste exercício, mas são menos óbvios. Você consegue identificá-los? Primeiro, na ACT,
a aceitação está sempre a serviço de viver com base em valores, de modo que este exercício
está de alguma forma vinculado aos valores do cliente. Segundo, fazer o exercício é, por si só,
uma ação comprometida. Terceiro, quando entramos em contato com nossa experiência no
momento presente, sempre ocorre alguma desfusão.)
A jornada de uma ACT "embolada e desajeitada" para uma ACT "fluida e flexível" requer
tempo, prática, paciência, persistência e reflexão. E neste processo, vamos fazer besteira e
errar repetidas vezes. Nossas mentes vão nos detonar por sermos péssimos terapeutas. Mas se
cada um de nós trouxer uma atitude de abertura e curiosidade aos nossos erros — O que foi
que eu fiz que foi ineficaz? Do que senti falta? Com o que eu me fundi? O que eu poderia
fazer de diferente da próxima vez? — podemos aprender lições valiosas com eles. (E gostarí-
amos de lembrar as palavras de Sir Winston Churchill: "Sucesso é a capacidade de ir de um
fracasso a outro sem perder o entusiasmo".
220
Fig. 15.1
Você pode utilizar basicamente qualquer coisa de algum outro modelo de terapia que ajude
o cliente a ir em direção à funcionalidade. Reserve alguns momentos para pensar sobre seus
treinamentos anteriores e como usá-los de forma frutífera. O que você já sabe que pode ajudar
seus cliente a:
■ clarificarem seus valores e se conectarem com um sentido de significado ou propósito?
■ estarem presentes, consciente, abertos, conectados à sua experiência, centrados ou
aterrados?
■ definirem metas e dividi-las em ações?
■ aumentarem a autoconsciência em relação aos efeitos de curto e de longo prazo de seu
comportamento?
■ estarem conscientes e aceitarem seus pensamentos e sentimentos?
■ estarem conscientes de seus pensamentos, desapegar-se deles, abandoná-los ou vê-los
apenas como pensamentos?
■ conectarem-se com um sentido transcendente de si mesmos, como "a testemunha silen-
ciosa", "o eu observador", "consciência metacognitiva", "consciência pura" ou "o 'eu'
que percebe"?
■ serem compassivos e aceitar em relação a si ou aos outros?
■ fazerem mudanças comportamentais eficazes ou aprenderem novas habilidades para
melhorar a vida?
■ tornarem a vida a mais rica, completa e significativa possível?
Esperamos que você consiga ver que já possui uma riqueza de conhecimentos adquiridos anteri-
ormente e que pode trazer para o seu trabalho com a ACT. No entanto, você precisa cuidar para
não trazer teorias ou técnicas destinadas principalmente a evitar ou se livrar de experiências pri-
vadas indesejadas — elas simplesmente não se encaixam no modelo da ACT. Exemplos disso
incluem técnicas de desafiar e debater cognições, visualizações para dissolver sentimentos indese-
jados, parar o pensamento e técnicas de distração.
Faça a si mesmo estas perguntas: Qual é o objetivo dessa técnica? Seu objetivo é atacar, suprimir,
evitar, reduzir ou livrar-se de uma experiência privada indesejada? Nesse caso, ela não é consis-
tente com a ACT. Obviamente, isso não significa que você não possa usá-la na terapia — apenas
significa (a) que isso não é ACT, e (b) se você estiver fazendo ACT e também tentando incorporar
essa técnica, corre o risco de enviar mensagens conflitantes e comprometendo a aceitação.
221
teoria e a prática da ACT bem como implementá-la com fluidez e flexibilidade. Portanto, não se
apresse — aproveite a viagem sem se precipitar. Lembre-se das famosas palavras de Esopo: "De-
vagar se vai ao longe".
Em termos de aprendizado adicional, recomendo que, assim que possível, você participe de um
workshop experiencial de ACT. Ler livros, ouvir áudios e assistir vídeos é muito valioso, mas não
pode ser comparado a participar de um treinamento ao vivo e aplicar esses seis processos princi-
pais a si mesmo.
PALAVRAS DE DESPEDIDA
A parte mais difícil de escrever este livro foi escolher o que deixar de fora. Há muitas outras coi-
sas que eu gostaria de compartilhar com você, mas, se o fizesse, este livro teria dez vezes o tama-
nho que tem agora! Portanto, com grande relutância, deixo você agora com algumas palavras de
despedida.
Cometa erros
Eu já disse isso antes e vou repetir: você irá cometer erros e fazer coisas erradas. Esta é uma parte
inevitável do aprendizado. Então, quando isso acontecer, pratique a ACT em si mesmo. Agradeça
a sua mente pela história do "terapeuta ruim" ou pela história do "difícil demais". Respire para
222
dentro de sua frustração, de sua ansiedade, e de sua decepção e dê espaço para elas. Seja compas-
sivo consigo mesmo.
Depois, reflita sobre o que você fez de errado e aprenda com isso para que você e outras pessoas
possam se beneficiar da experiência.
223