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ACT

simplificada

Uma cartilha fácil de ler sobre a Terapia


de Aceitação e Compromisso

RUSS HARRIS, MD
Dedicatória

Ao meu irmão Genghis: por todo seu amor, apoio, inspiração e encorajamento durante anos;
por me empurrar quando eu necessitava ser empurrado, por servir como âncora quando eu
necessitava de estabilidade, por me mostrar o caminho quando eu estava perdido; e por tra-
zer tanta luz, tanto amor e tanto riso para a minha vida.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO .................................................................................. 4

CAPÍTULO 1 - A ACT de Forma Resumida ................................ 8

CAPÍTULO 2 - Empacado, Não Inutilizado .............................. 20

CAPÍTULO 3 - A Casa da ACT ..................................................... 33

CAPÍTULO 4 - Tornando-se Vivencial ....................................... 47

CAPÍTULO 5 - Começando a ACT ............................................... 56

CAPÍTULO 6 - Desesperança o Quê??!! ...................................... 84

CAPÍTULO 7 – Observe seu Pensamento................................... 97

CAPÍTULO 8 – Abrindo-se .......................................................... 129

CAPÍTULO 9 – Esteja Aqui Agora ............................................. 148

CAPÍTULO 10 – Consciência Pura ............................................. 163

CAPÍTULO 11 – Saiba o Que Importa ...................................... 177

CAPÍTULO 12 – Faça o Que For Necessário ............................ 193

CAPÍTULO 13 – Desempacando ................................................ 209

CAPÍTULO 14 – Eu e Você........................................................... 215

CAPÍTULO 15 – A Jornada do Terapeuta ................................. 220

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Prefácio
A terapia de aceitação e compromisso (ACT) é estranhamente contraintuitiva. A mente luta
contra ela. Até mesmo terapeutas experientes na ACT e clientes que obtiveram sucesso com ela,
conseguem se conectar com o trabalho, avançar e, então, algumas semanas mais tarde subita-
mente descobrem que a vitalidade desta conexão se esvaiu porque eles a reformularam mental-
mente para algo mais "normal", mas também muito menos útil.
A ACT não tem nada a ver com treinar o modo normal da mente. Ela é sobre sair da mente e
entrar na vida. A mente não gosta deste tipo de plano.
Este fenômeno explica parcialmente porque a ACT é uma nova terapia para a maioria dos
clínicos, apesar de ela ter sido desenvolvida há quase trinta anos atrás.
Nós deliberadamente passamos um longo período desenvolvendo o processo e a teoria subja-
centes na esperança de que estes serviriam como um guia quando perdêssemos o rumo. Con-
seguimos expressar, em uma linguagem comportamental precisa, o que queremos dizer por
"mente". Conseguimos pesquisar, em experimentos comportamentais precisos, de que forma
a desfusão alterou o impacto da cognição ou como a aceitação mudou o papel da emoção.
Esta estratégia ajudou, de fato, a manter o trabalho focado, mas ela atrasou enormemente apre-
sentações meticulosas deste trabalho. (O primeiro livro sobre a ACT foi concluído somente há
dez anos, quase vinte anos depois que a ACT começou.) Ela também fez com que os primeiros
textos sobre a ACT fossem muito complexos. Clientes tiveram dificuldade de mudar de um
modo baseado em resolução de problemas para um modo de apreciação baseado em mindful-
ness. A teoria subjacente explica por que e o que fazer em relação a isto – e nós estávamos
prontos com essas explicações científicas detalhadas (e esquisitas) mesmo que durante algumas
épocas elas parecessem ilegíveis para aqueles não versados em análise do comportamento.
Felizmente, o coração da obra conseguiu se fazer visível para alguns pelo menos. Clínicos e
escritores criativos, incluindo o autor deste belíssimo novo livro, começaram a encontrar ma-
neiras mais simples e mais claras de ajudar outros a se conectarem com o trabalho. O advento
de livros de autoajuda da ACT acelerou este processo ainda mais à medida que alguns escrito-
res foram aprendendo a escrever de uma forma tal que as pessoas conseguissem compreender.
Atualmente a literatura referente à ACT é vasta, com dezenas de livros e centenas de artigos.
Os clínicos necessitam um espaço para explorar este território. Minha previsão é que eles aca-
baram de encontrá-lo.
Russ Harris é brilhante em sua habilidade em reconhecer pelo cheiro complexidades desneces-
sárias e apresentar ideias clínicas complexas de modo acessível. ACT Simplificada é ACT. In-
questionavelmente. Cada uma das páginas do livro é de fácil compreensão. Russ dedicou anos a
compreender a obra profundamente (inclusive a esquisita teoria científica subjacente dos qua-
dros relacionais) e aprender a aplicá-la e ampliá-la com integridade. Neste livro, ele utilizou seu
talento para formular uma apresentação e formulação claras da ACT; ele também fez uso de sua
criatividade clínica para apresentar novos métodos e novas maneiras para se chegar ao coração
dessas questões com os clientes.
Isto é uma combinação grandiosa e uma contribuição significativa. Especialmente se você for
um novato em relação ao tema, este livro irá lhe proporcionar um trabalho de mestre ao lhe
desvendar o modelo da ACT para que você possa explorá-lo. Ele é exatamente o que seu títu-
lo afirma: ACT Simplificada.
− Steven C. Hayes, Ph. D.
Universidade de Nevada

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INTRODUÇÃO

Sobre o que estamos falando?


Vida se soletra e.s.t.o.r.v.o. – Albert Ellis

A vida é difícil – M. Scott Peck

A vida é sofrimento – Buda

Merda acontece – Anônimo

POR QUE, POR QUE, POR QUÊ?


Por que é tão difícil ser feliz? Por que a vida é tão difícil? Por que os seres humanos sofrem
tanto? E o que podemos fazer a respeito de uma forma realista? A Terapia de Aceitação e Com-
promisso (ACT1) tem algumas respostas profundas e transformadoras para estas questões. Este
livro pretende tomar a complexa teoria e prática da ACT e torná-la acessível e agradável. Se,
como eu, você tem uma estante cheia de livros acadêmicos em sua maioria inacabados, você vai
apreciar o fato de que a ACT é envolvente e divertida. Eu optei deliberadamente por manter o
jargão técnico reduzido a um mínimo absoluto e usar, sempre que possível, a linguagem cotidi-
ana. Espero tornar a ACT acessível ao maior número possível de profissionais da área da saúde
mental, desde técnicos, conselheiros e enfermeiros a psicólogos e psiquiatras, enfim, a todos os
profissionais envolvidos de alguma forma na área da saúde mental.

ENTÃO, O QUE VEM A SER A ACT?


Oficialmente dizemos ACT tal como na palavra em inglês "act" (que pode ser traduzida como
"aja") e não como as iniciais A-C-T. Há uma boa razão para isso. Em seu núcleo, a ACT é
uma terapia comportamental: ela é sobre agir, sobre entrar em ação. Mas não qualquer agir,
qualquer ação. Em primeiro lugar, a ACT é sobre ação baseada em valores. Há um grande
componente existencial neste modelo: Quais são os valores que você quer que representem
sua vida? O que é verdadeiramente importante no fundo do seu coração? Como e em relação a
quê você quer ser lembrado em seu funeral? A ACT coloca você em contato com o que real-
mente importa no grande quadro: os anseios mais profundos de seu coração em relação a
quem você quer ser e o que quer fazer durante seu breve tempo neste planeta. Você então po-
de usar estes valores centrais para guiar, motivar e inspirar mudanças no modo como age e se
comporta. Em segundo lugar, a ACT é sobre ação consciente: uma ação que você empreende
conscientemente com atenção plena – aberto a sua experiência e completamente engajado no
que estiver fazendo.
A ACT recebe seu nome de uma de suas mensagens centrais: aceite (accept) o que está fora de
seu controle pessoal e se comprometa (commit) a realizar aquela ação (take action) que enrique-

1 ACT são as iniciais de Acceptance and Commitment Therapy – Terapia de Aceitação e Compromisso

4
ce sua vida. A finalidade da ACT é ajudá-lo a criar uma vida rica, plena e cheia de sentido, ao
mesmo tempo em que aceita a dor que a vida inevitavelmente traz. A ACT faz isso ao nos
 ensinar habilidades psicológicas para manejar pensamentos e sentimentos dolorosos
de forma efetiva, de uma maneira tal que eles tenham muito menos impacto e influên-
cia – essas habilidades são conhecidas como habilidades de atenção plena (mindful-
ness skills); e
 ajudando-nos a tornar claro o que é verdadeiramente importante e tem sentido para
nós – ou seja, a tornar claros nossos valores – e a usar este conhecimento para nos gui-
ar, inspirar e motivar para definir objetivos e a adotar as ações que enriquecem nossa
vida.
A ACT está assentada sobre uma teoria subjacente da linguagem e cognição humanas deno-
minada Teoria dos Quadros Relacionais (relational frame theory - RFT), uma teoria que atu-
almente conta com mais de cento e cinquenta artigos publicados e revisados por pares que dão
suporte a seus princípios. Não iremos abordar a RFT neste livro porque ela é extremamente
técnica e nos exigiria uma boa quantidade de dedicação para entendê-la, enquanto que a fina-
lidade deste livro é introduzi-lo na ACT, simplificar seus conceitos principais e ajudá-lo a
começar a usá-la rapidamente.
A boa notícia é que você pode se tornar um/a terapeuta da ACT eficiente mesmo sem saber
qualquer coisa sobre a RFT. Se a ACT fosse como dirigir um carro, a RFT seria como saber
como seu motor funciona: você pode ser um excelente motorista mesmo sem saber absoluta-
mente nada sobre mecânica de carros. (Tendo dito isso, é importante que você saiba que mui-
tos terapeutas da ACT afirmam que entender a RFT os ajudou a melhorar sua efetividade clí-
nica. Assim, se você tiver interesse, o apêndice 2 irá lhe dizer aonde se dirigir para obter mais
informações sobre a RFT.)

A QUEM SE DESTINA ESTE LIVRO


Este livro destina-se primariamente a novatos na ACT que querem uma introdução rápida e
simples ao modelo. Ele também será útil para praticantes mais experientes que querem um
curso de reciclagem: uma cartilha sobre ACT, se você preferir. Ele foi projetado para com-
plementar outros livros-texto sobre ACT que oferecem mais teoria ou discussões mais pro-
fundas dos processos da ACT e sua aplicação clínica. Irei mencionar alguns desses livros-
texto à medida que avançarmos e outros na seção de recursos (apêndice 2) no final.

COMO USAR ESTE LIVRO


Se você é completamente novo na ACT, recomendo fortemente que leia completamente este
livro do começo ao fim antes de começar a usar qualquer coisa dele. Isto se deve ao fato de
que os seis processos nucleares da ACT são todos interdependentes, e assim, a menos que
você tenha uma boa compreensão do modelo completo e o modo como esses diferentes com-
ponentes se entrelaçam, poderá ficar confuso e seguir na direção errada.
Além disso, a mera leitura não é suficiente; você também necessitará praticar ativamente os exer-
cícios à medida que for avançando. Afinal de contas, ninguém consegue aprender a dirigir mera-
mente lendo sobre como dirigir; é preciso entrar em um carro, colocar as mãos no volante e levá-
lo para dar uma volta. Quando você estiver pronto para começar a ACT com seus clientes, você
poderá usar este livro para guiá-lo livremente, ou poderá preferir usar os livros-texto da ACT ba-
seados em protocolos que irão lhe orientar e treinar detalhadamente, sessão por sessão.
Primeiramente, nos capítulos 1 a 3, vamos nos mover através de uma visão geral do modelo e

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da teoria subjacente ao mesmo. A seguir, nos capítulos 4 e 5, vamos abordar os elementos bási-
cos sobre como começar, incluindo como praticar terapia experiencial, obter consentimento
livre e esclarecido, e estruturar as sessões subsequentes. Nos capítulos 6 ao 12, vamos ir passo a
passo através dos seis processos nucleares da ACT e aprender como aplicá-los a um espectro
mais amplo de questões clínicas. A ênfase em cada capítulo terá como base a simplicidade e a
praticidade, de modo que você possa começar a usar esta abordagem imediatamente. (Por favor,
não esqueça: novatos devem ler o livro inteiro, do começo ao fim, antes de começar a aplicá-lo).
Na última seção do livro, nos capítulos 13 ao 15, iremos abordar um amplo espectro de tópi-
cos importantes, incluindo armadilhas comuns para os terapeutas, superação de barreiras à
mudança, melhoria das relações cliente-terapeuta, dançar ao redor dos seis processos centrais,
incorporar a ACT na vida cotidiana, misturar e combinar a ACT com outros modelos, e para
onde se dirigir depois em sua jornada como terapeuta da ACT. A partir do capítulo 5 você
encontrará caixas de texto contendo uma "dica prática":

Dica Prática: Nestas seções, você encontrará dicas práticas para


ajudá-lo em sua prática clínica e alertá-lo sobre armadilhas co-
muns a evitar.

SEU PAPEL EM TUDO ISSO


Recentemente ouvi um ditado grandioso: "Seja você mesmo: todas as outras pessoas já foram
ocupadas". Seu papel ao aprender e praticar a ACT é ser você mesmo. Desperdicei uma gran-
de quantidade de tempo e esforço no meu trabalho inicial com a ACT tentando praticá-la pa-
lavra por palavra tal como descrita nos livros-texto. E então, depois que vi Steve Hayes e Kel-
ly Wilson – dois dos fundadores da ACT – em ação, eu tentei arduamente copiar seus estilos
originais e únicos de fazer terapia. Mas isto não funcionou muito bem para mim. Tudo melho-
rou quando me permiti ser eu mesmo e desenvolvi meu próprio estilo e minha própria manei-
ra de falar, uma maneira que me pareceu natural e talhada para os clientes com os quais traba-
lho. Tenho certeza de você chegará à mesma conclusão.
Assim, à medida que for avançando através deste livro, use sua criatividade. Sinta-se livre
para adaptar, modificar e reinventar as ferramentas e técnicas apresentadas nestas páginas
(desde que você se mantenha fiel ao modelo da ACT) adaptando-as a seu próprio estilo pes-
soal. Onde quer que eu apresente metáforas, roteiros, planilhas ou exercícios, mude as pala-
vras para que se adaptem a sua maneira de falar. E se você tiver metáforas melhores ou dife-
rentes que o levam a alcançar os mesmos fins, então, por favor, use as suas em vez daquelas
apresentadas neste livro. Há muito espaço para a criatividade e a inovação dentro do modelo
da ACT; assim, por favor, aproveite as vantagens disso.

COMEÇANDO
Poucas pessoas chegam à ACT e mergulham de cabeça. Você, como a maioria, talvez comece
por mergulhar apenas um dedo do pé na água. Em seguida, você pode colocar um pé inteiro.
Depois um joelho. Depois uma perna inteira. Agora você se encontra nessa estranha posição
com uma perna dentro da água e a outra fora. E geralmente você vai permanecer assim por
algum tempo, meio dentro, meio fora, ainda sem uma certeza se a ACT é para você. Final-
mente, algum dia, você mergulha. E quando você faz isso, descobre que a água é quente, aco-
lhedora e revigorante; você se sente liberado, flutuante e cheio de recursos; e você quer passar

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bem mais tempo nela. Uma vez que isso aconteça, geralmente não há mais como voltar ao seu
modo antigo de trabalhar. (Assim, se isto ainda não aconteceu com você, tenho esperança de
que irá acontecer quando terminar o livro).
Uma das razões para essa incerteza inicial sobre a ACT é que ela desafia a sabedoria conven-
cional e subverte as grandes regras de grande parte da psicologia ocidental. Por exemplo, a
maioria dos modelos de terapia são extremamente focados na redução de sintomas. Elas par-
tem do pressuposto de que os clientes necessitam reduzir os sintomas antes que consigam
viver uma vida melhor. A ACT assume uma postura radicalmente diferente. A ACT presume
que (a) qualidade de vida depende primordialmente de ação consciente e baseada em valores,
e (b) isto é possível independentemente de quantos sintomas você apresenta – com a ressalva
de que você responda aos seus sintomas com consciência plena (mindfulness).
Dizendo isso de outra maneira, o resultado almejado na ACT é uma vida com consciência
plena, congruente com valores, e não redução de sintomas. Assim, embora a ACT geralmente
reduza os sintomas, isto não se constitui num objetivo. (A propósito, geralmente se usa a ex-
pressão "viver com base em valores").
Assim, na ACT, quando ensinamos habilidades de atenção plena a nossos clientes, o objetivo
não é reduzir seus sintomas, mas fundamentalmente mudar as relações que eles têm com seus
sintomas de modo que estes não mais os impeçam de viver uma vida com base em seus valo-
res. O fato de que seus sintomas se reduzam é considerado como um "bônus" em vez de o
ponto principal da terapia.
É claro que não dizemos para nossos clientes "Nós não vamos tentar reduzir seus sintomas!" Por
que não? Porque (a) isto criaria todo tipo de barreiras terapêuticas desnecessárias, e (b) nós sabe-
mos que a redução de sintomas é altamente provável. (Embora nunca almejemos por ela, em pra-
ticamente todos os testes e estudos realizados sobre a ACT, ocorre uma significativa redução de
sintomas – apesar de que às vezes ela ocorra mais lentamente que em outros modelos.)
Para quem vem para a ACT proveniente de modelos que são focados em reduzir sintomas, isto
representa verdadeiramente uma mudança maciça de paradigma. Felizmente a maioria das pes-
soas – tanto terapeutas quanto clientes – consideram isso como sendo libertador. Entretanto,
devido ao fato de a ACT ser tão diferente da maioria das demais abordagens psicológicas, mui-
tos praticantes sentem-se estranhos, ansiosos, vulneráveis, confusos ou inadequados no começo.
Foi o que aconteceu comigo. (E às vezes ainda acontece!) As boas notícias são que a ACT dará
a você os meios para lidar de forma efetiva com esses sentimentos perfeitamente naturais. E
quanto mais você praticar a ACT em você mesmo para enriquecer e melhorar sua própria vida e
resolver suas próprias questões dolorosas, mais eficaz você vai se tornar em aplicá-la com os
seus clientes. (Isto serve como bônus?) Assim, chega de preâmbulo: vamos começar.

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CAPÍTULO 1

A ACT de forma resumida

O QUE É UMA "MENTE"?


Isso é muito difícil. Eu não consigo fazer isso. Por que isso não está funcionando? Tudo pare-
cia tão fácil quando eu li o livro-texto. Queria que um terapeuta de verdade estivesse aqui para
me dizer o que fazer. Talvez eu não seja talhado para esse tipo de trabalho. Sou tão burro. Tal-
vez eu devesse encaminhar este cliente para alguém que realmente sabe o que tem que ser feito.
A sua mente às vezes lhe diz coisas como essas? A minha certamente faz isso. E assim também o
faz a mente de todo e qualquer terapeuta que conheço. Agora reserve um momento para refletir
sobre que outras coisas inúteis ou contraproducentes sua mente faz. Por exemplo, ela costuma
compará-lo duramente com outros, ou criticar seus esforços, ou lhe dizer que você não vai conse-
guir fazer as coisas que quer fazer? Será que constantemente ela traz à tona memórias desprazero-
sas do seu passado? Ela encontra falhas em sua vida tal como esta é atualmente e idealiza e inven-
ta vidas aonde você seria sempre muito mais feliz? Ela costuma arrastar você para dentro de cená-
rios assustadores sobre o futuro e alertá-lo sobre todas as coisas que podem dar errado? Se é as-
sim, parece que você tem uma mente humana normal. Como você pode ver, na ACT partimos do
pressuposto de que os processos psicológicos normais de uma mente humana normal rapidamente
se tornam destrutivos, e mais cedo ou mais tarde, acabam por criar sofrimento psicológico para
todos nós. E a ACT especula que a raiz desse sofrimento é a própria linguagem humana.

A Linguagem e a Mente
A linguagem humana é um sistema altamente complexo de símbolos que inclui palavras, ima-
gens, sons, expressões faciais e gestos físicos. Os seres humanos usam a linguagem em duas
áreas: pública e privada. O uso público da linguagem inclui falar, conversar, fazer mímica, gesti-
cular, escrever, pintar, esculpir, cantar, dançar, atuar, e assim por diante. O uso privado da lin-
guagem inclui pensar, imaginar, devanear, planejar, visualizar, analisar, preocupar-se, fantasiar, e
assim por diante. (Um termo comumente usado para o uso privado da linguagem é cognição).
É claro que a mente não é uma "coisa" ou um "objeto". Usamos a palavra mente para descre-
ver um conjunto incrivelmente complexo de processos cognitivos interativos, tais como anali-
sar, comparar, avaliar, planejar, relembrar, visualizar, e assim por diante. E todos esses pro-
cessos complexos dependem do sofisticado sistema de símbolos que chamamos linguagem
humana. Desta forma na ACT, quando usamos a palavra "mente", nós a usamos como uma
metáfora para "linguagem humana".

Sua Mente Não é Sua Amiga – ou Sua Inimiga


A ACT considera a mente como uma espada de duplo fio. Ela é muito útil para todo tipo de
propósitos, mas se não aprendemos a manuseá-la apropriadamente, ela irá nos ferir. Em seu
lado positivo, a linguagem nos ajuda a elaborar mapas e modelos do mundo, predizer e plane-
jar o futuro, compartilhar conhecimentos, aprender com o passado, imaginar coisas que nunca
existiram e depois criá-las, desenvolver regras para guiar nosso comportamento de forma efi-
caz e nos ajudar a desenvolver e prosperar como comunidade, comunicar-nos com pessoas
que estão distantes, e aprender com pessoas que já não estão mais vivas.

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O lado obscuro da linguagem está no fato de a usarmos para mentir, manipular, e enganar;
para espalhar calúnia, injúria, ignorância; para incitar ódio, preconceito e violência; para fa-
bricar armas de destruição em massa e indústrias de poluição em massa; para nos obcecar e
"reviver" eventos dolorosos do passado; para nos assustar, imaginando um futuro desagradá-
vel; para comparar, julgar, criticar e condenar tanto a nós mesmos como os demais; e para
criar regras para nós mesmos que muitas vezes podem restringir ou limitar nossa vida ou se-
rem destrutivas. Pelo fato de a linguagem ser ao mesmo tempo uma benção e uma maldição,
muitas vezes dizemos na ACT que "Sua mente não é sua amiga – e também não é sua inimi-
ga". Agora, como já sabemos o que é uma "mente", vamos nos voltar para uma questão muito
importante.

QUAL É O PROPÓSITO DA ACT?


O objetivo da ACT, em termos simples, é criar uma vida rica, plena, e cheia de sentido ao
mesmo tempo em que aceitamos a dor que inevitavelmente vem junto com ela. Mais adiante
neste capítulo iremos dar uma olhada em uma definição mais técnica da ACT, mas primeiro
considere esta questão: por que a vida inevitavelmente envolve dor?
É claro que existem muitas, muitas razões. Todos nós vivenciamos frustração, despontamen-
to, rejeição, perda e fracasso. Todos nós passamos por doenças, lesões e envelhecimento. To-
dos nós nos defrontamos com a nossa própria morte e a de nossos entes queridos. Ainda por
cima, muitos sentimentos humanos básicos – sentimentos normais que todos e cada um de nós
irá vivenciar repetidamente no decorrer de nossas vidas – são inerentemente dolorosos: medo,
tristeza, culpa, raiva, choque e desgosto, para citar apenas alguns.
E como se tudo isso não fosse suficiente, cada um de nós tem uma mente que pode evocar a
dor a qualquer momento. Graças à linguagem humana, aonde quer que vamos, qualquer coisa
que façamos, nós podemos experienciar a dor instantaneamente. A qualquer momento pode-
mos reviver uma memória dolorosa ou nos perder em previsões assustadoras do futuro. Ou
podemos ser apanhados em comparações desfavoráveis ("O emprego dela é melhor que o
meu") ou autojulgamentos negativos ("Estou gordo demais", "Não sou suficientemente inteli-
gente", e assim por diante).
Graças à linguagem humana, podemos sentir dor até mesmo nos dias mais felizes de nossa vida.
Por exemplo, suponha que é o dia do casamento de Susan, e que todos os seus amigos e familia-
res estão reunidos para celebrar sua nova união. Ela está muito feliz. Mas então ela tem o pensa-
mento Queria que meu pai estivesse aqui – e ela se lembra de que ele se suicidou quando ela
tinha apenas 16 anos de idade. Agora, em um dos dias mais felizes de sua vida, ela está sofrendo.
Estamos todos no mesmo barco da Susan. Não importa quão boa seja nossa qualidade de vida,
não importa quão privilegiada seja a nossa situação, basta lembrar de um momento quando
algo de ruim aconteceu, imaginar algo de ruim que pode acontecer no futuro, julgar-nos com
dureza, ou comparar nossa vida com a vida de alguém que pareça estar melhor, e instantane-
amente estaremos sofrendo.
Assim, graças à sofisticação da mente, mesmo a mais privilegiada das vidas humanas inevita-
velmente irá envolver uma significativa parcela de dor. Infelizmente, seres humanos comuns
normalmente lidam com sua dor de forma ineficaz. Com muita frequência, quando vivencia-
mos pensamentos, sentimentos e sensações dolorosas, respondemos de maneiras que são con-
traproducentes ou autodestrutivas a longo prazo. Por causa disso, um dos principais elementos
da ACT é ensinar as pessoas a lidar com a dor de forma mais eficaz através do uso da habili-
dade de atenção plena.

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O QUE É MINDFULNESS?
"Mindfulness" (ou atenção plena) é um conceito antigo, encontrado em um amplo espectro de
tradições espirituais e religiosas, incluindo o budismo, taoísmo, hinduísmo, judaísmo, isla-
mismo e o cristianismo. A psicologia ocidental começou a reconhecer os muitos benefícios de
se desenvolver habilidades de atenção plena. Se você for ler alguns livros sobre o tema, você
irá encontrar "mindfulness" definida em uma variedade de diferentes maneiras, mas todas elas
basicamente se resumem a isto:

Mindfulness significa prestar atenção com flexibilidade, abertura e curiosidade.

Esta definição simples nos diz três coisas importantes. Primeiro, mindfulness é um processo
de consciência, não um processo de pensamento. Ele envolve trazer consciência ou prestar
atenção a sua experiência neste momento em oposição a ficar "preso" em seus pensamentos.
Segundo, mindfulness envolve um tipo particular de atitude: uma atitude de abertura e curio-
sidade. Mesmo que sua experiência neste momento seja difícil, dolorosa ou desprazerosa,
você pode estar aberto a ela e curioso em relação a ela em vez de fugir dela ou lutar contra
ela. Terceiro, mindfulness envolve flexibilidade da atenção: a habilidade de conscientemente
dirigir, ampliar ou focar sua atenção em diferentes aspectos da sua experiência.
Podemos usar a atenção plena para "despertar", conectar-nos com nós mesmos, e apreciar a
plenitude de cada momento da vida. Podemos usá-la para melhorar nosso autoconhecimento –
para aprender mais sobre como sentimos, pensamos e reagimos. Podemos usá-la para nos co-
nectar profunda e intimamente com as pessoas que são importantes para nós, inclusive nós
mesmos. E podemos usá-la para conscientemente influenciar nosso próprio comportamento e
aumentar nossa gama de respostas em relação ao mundo em que vivemos. É a arte de viver
conscientemente – uma maneira profunda de melhorar a resiliência psicológica e incrementar
a satisfação com a vida.
É claro que há muito mais na ACT do que só mindfulness. Ela também é sobre viver com base em
valores: agir, em uma base contínua, guiado por e alinhado com valores centrais. De fato, ensina-
mos habilidades de atenção plena na ACT com o propósito expresso de facilitar a ação baseada
em valores: ajudar as pessoas a viver a partir de seus valores. Em outras palavras, o resultado que
almejamos na ACT é o viver com base em valores e com atenção plena. Isto irá se tornar mais
claro na próxima seção, onde vamos dar uma olhada nos seis processos centrais da ACT.

OS SEIS PROCESSOS TERAPÊUTICOS CENTRAIS DA ACT


Os seis processos terapêuticos centrais na ACT são estar em contato com o momento presen-
te, desfusão, aceitação, eu-como-contexto, valores e ação com compromisso. Antes de nos
determos em cada um, dê uma olhada no diagrama na figura 1.1, que é carinhosamente co-
nhecido como o "hexaflex" da ACT. (Este diagrama difere da versão padrão que você encon-
trará na maioria dos livros-texto da ACT na medida em que debaixo de cada termo técnico eu
escrevi uma pequena frase de efeito para ajudá-lo a se lembrar o que este significa.)
Vamos dar uma olhada agora em cada um dos seis processos centrais da ACT.

Contato com o Momento Presente (Esteja Aqui Agora)


Contato com o momento presente significa estar psicologicamente presente: conscientemente
conectar-se com e se engajar em qualquer coisa que esteja acontecendo neste momento. Para
os seres humanos é muito difícil manter-se presente. Tal como outros seres humanos, sabe-
mos quão fácil é ficar enredado em nossos pensamentos e perder contato com o mundo ao

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nosso redor. Podemos gastar um monte de tempo absortos em nossos pensamentos sobre o
passado e o futuro. Ou em vez de estarmos plenamente conscientes de nossa experiência, po-
demos operar no piloto automático, meramente "atravessando o que vier pela frente". Entrar
em contato com o momento presente significa flexivelmente trazer nossa consciência, ou para
o mundo físico ao nosso redor ou para o mundo psicológico em nosso interior, ou para ambos
simultaneamente. Significa também prestar atenção à nossa experiência aqui-e-agora ao invés
de ficar à deriva em nossos pensamentos ou operar em "piloto automático".

CONTATO COM O
MOMENTO PRESENTE
Esteja Aqui Agora

ACEITAÇÃO VALORES
Abra-se Saiba O Que Importa

FLEXIBILIDADE
PSICOLÓGICA
Esteja presente,
abra-se e faça o que
importa

DESFUSÃO AÇÃO
Cuide O Que Pensa COMPROMETIDA
Faça O Que For
Preciso

EU-COMO-CONTEXTO
Percepção Pura
Figura 1.1 – O Hexaflex (hexágono da flexibilidade) da ACT

Desfusão (Observe o que você pensa)


Desfusão significa aprender a "dar um passo para trás" e separar-se ou desapegar-se de seus
pensamentos, imagens e memórias (o termo completo é "desfusão cognitiva" mas normalmen-
te nós costumamos falar apenas "desfusão"). Ao invés de ficarmos presos em nossos pensa-
mentos ou ser jogados para lá e para cá por eles, deixamos que circulem livremente como se
fossem carros passando do lado de fora de nossa casa. Damos um passo atrás e notamos nosso
pensamento em vez de nos perdermos nele. Vemos nossos pensamentos pelo que eles são ―
nada mais e nada menos do que palavras e imagens. Nós os mantemos de forma leve em vez
de nos agarrarmos a eles com força.

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Aceitação (Abra-se)
Aceitação significa abrir-se e criar espaço para sentimentos, sensações, compulsões e emo-
ções que sejam dolorosos. Paramos de lutar com eles, damos a eles algum espaço para respi-
rar e permitimos que sejam como são. Em vez de combatê-los, abrimo-nos a eles e permiti-
mos que sejam. (Nota: Isto não significa gostar deles ou querê-los. Significa apenas criar es-
paço para eles!)

Eu-Como-Contexto (Percepção Pura)


Na linguagem cotidiana, falamos sobre a "mente" sem nos apercebermos de que há dois ele-
mentos distintos nela: o eu pensador e o eu observador. Todos estamos bem familiarizados
com o eu pensador: aquela parte de nós que está sempre pensando – gerando pensamentos,
crenças, memórias, julgamentos, fantasias, planos, e assim por diante. Mas a maioria das pes-
soas não está familiarizada com o eu observador: aquele aspecto de nós que está consciente de
qualquer coisa que estejamos pensando, sentindo, ou fazendo a qualquer momento. Outro
termo para ele é "percepção pura". O termo técnico na ACT é eu-como-contexto. Por exem-
plo, à medida que você passa pela vida, seu corpo muda, seus pensamentos mudam, seus sen-
timentos mudam, seus papeis mudam, mas o "você" que é capaz de notar ou observar todas
estas coisas nunca muda. É o mesmo "você" que tem estado lá durante toda sua vida. Com
clientes, geralmente nos referimos a ele como "o eu observador" em vez de usar o termo téc-
nico "eu-como-contexto".

Valores (Saiba O Que Importa)


Nas profundezas de seu coração, o que você quer fazer com sua vida? O que você quer que
ela represente? O que você quer fazer com o seu breve tempo sobre este planeta? O que é im-
portante para você no quadro global? Valores são qualidades desejadas de ação contínua. Em
outras palavras, elas descrevem como queremos atuar em uma base contínua. Tornar claros os
valores é um passo essencial na criação de uma vida plena de sentido. Na ACT, muitas vezes
nos referimos aos valores como "direções de vida escolhidas". Comumente comparamos os
valores a uma bússola porque eles nos dão direção e guiam nossa jornada contínua.

Ação Comprometida (Faça O Que For Preciso)


Ação comprometida significa agir de modo eficaz, guiado por nossos valores. É muito bom
conhecer nossos valores, mas é tão somente através de ações continuadas congruentes com
valores que a vida se torna rica, plena e cheia de sentido. Em outras palavras, não teremos
uma jornada se simplesmente ficarmos olhando para a bússola; nossa jornada somente acon-
tece quando movemos nossos braços e nossas pernas em uma direção escolhida. Ação guiada
por valores dá origem a uma ampla gama de pensamentos e sentimentos, tanto agradáveis
quanto desagradáveis, e tanto prazerosos quanto desprazerosos. Portanto ação comprometida
significa "fazer o que é preciso" para viver nossa vida tendo como base nossos valores mesmo
que isto gere dor e desconforto. Toda e qualquer intervenção comportamental – como estabe-
lecer objetivos, exposição, ativação comportamental, treinamento de habilidades – pode ser
usada nesta parte do modelo. E qualquer habilidade que amplifica e enriquece a vida – de ne-
gociação a manejo do tempo, de assertividade a solução de problemas, de autoacalmar-se a
lidar com a crise – podem ser ensinados dentro dessa seção do hexágono da flexibilidade
(desde que ela esteja a serviço de uma vida baseada em valores e não a serviço da esquiva
experiencial, sobre a qual falaremos no capítulo 2).

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Flexibilidade Psicológica: Um Diamante com Seis Faces
Lembre-se que os seis processos centrais da ACT não são processos separados. Embora fale-
mos deles desta forma com um propósito pragmático – para ajudar terapeutas e clientes a
aprender e a aplicar o modelo da ACT – é mais útil pensar neles como as seis faces de um
único diamante. E o próprio diamante é a flexibilidade psicológica.
Flexibilidade psicológica é a habilidade de ser/estar no presente momento com completa cons-
ciência e abertura a nossa experiência, e de agir guiado por nossos valores. Falando em termos
técnicos, o alvo primário da ACT é elevar a flexibilidade psicológica. Quanto maior for nossa
habilidade de ser plenamente consciente, de estar aberto a nossa experiência e de agir conforme
nossos valores, tanto maior será nossa qualidade de vida porque conseguiremos responder mui-
to mais eficazmente aos problemas e desafios que a vida inevitavelmente traz. Além do mais,
quando nos engajamos completamente em nossa vida e permitimos que nossos valores nos gui-
em, desenvolvemos um senso de sentido e propósito, e vivenciamos um senso de vitalidade.
Usamos a palavra "vitalidade" com muita frequência na ACT, e é importante reconhecer que
vitalidade não é um sentimento; é um senso de estar completamente vivo e abraçando o aqui e
agora, não importando como possamos nos estar sentindo neste momento. Podemos experienci-
ar vitalidade em nosso leito de morte ou durante um momento de extremo pesar porque "há vida
tanto num momento de dor quanto num momento de alegria" (Strosahl, 2002, p.43).

O TRIFLEX DA ACT
Os seis processos centrais podem ser "aglomerados" em três unidades funcionais, tal como na
figura 1.2 abaixo. Tanto a desfusão quanto a aceitação referem-se a separar-se de pensamentos e

Figura 1.2 – O Triflex da ACT

sentimentos, vendo-os pelo que estes realmente são, criando espaço para os mesmos, e permi-
tindo que venham e vão por sua própria vontade. Em outras palavras: "Abrindo-se".
Tanto o eu-como-contexto (ou seja, o eu observador) como contatar o momento presente en-
13
volvem entrar em contato com aspectos verbais e não-verbais de sua experiência aqui-e-agora.
Em outras palavras: "Estar presente".
Valores e ação com compromisso envolvem o uso eficaz da linguagem para facilitar ações
que melhorem a vida. Em outras palavras: "Faça o que é importante".
Assim, flexibilidade psicológica é a habilidade de "estar presente, abrir-se, e fazer o que importa".

O ACRÔNIMO DA ACT
Existe um acrônimo bem simples que resume o modelo completo, e que muitas vezes é útil para
ser compartilhado com clientes. Este acrônimo é – surpresa, surpresa – ACT:
A = Aceite seus pensamentos e sentimentos, e esteja presente
C = EsColha uma direção com base em valores (Choose a valued direction)
T = Tome uma atitude
(E com esta observação, devo mencionar que neste livro vou usar a expressão "pensamentos e
sentimentos" como uma forma de taquigrafia. Por "pensamentos" quero me referir a todas as for-
mas de cognições, incluindo memórias e imagens, e o termo "sentimentos" inclui emoções, sensa-
ções e impulsos).

A METÁFORA DA ACT SINTETIZADA


A transcrição a seguir descreve uma metáfora física que eu elaborei originalmente para resumir de
forma rápida o modelo da ACT para os clientes. (Muitos livros-texto da ACT são cautelosos em
relação a explicar o modelo didaticamente para clientes: o perigo se encontra no fato de que po-
demos ficar atolados em explicações prolixas, ou o cliente pode intelectualizar o modelo. No en-
tanto, existem situações nas quais é útil explicar metaforicamente – em oposição a didaticamente
– o modelo, e pode-se adaptar a Metáfora da ACT Sintetizada de muitas formas. De fato, à medi-
da que você for lendo o livro, você irá observar como podemos usar e modificar partes da mesma
para propósitos múltiplos, especialmente trabalhar com desfusão e aceitação. A transcrição que
segue foi retirada da parte final da primeira sessão com um cliente, e faz parte de um consenti-
mento livre e esclarecido. (Para obter uma percepção melhor sobre como esse exercício é feito,
você pode assistir um vídeo gratuito no YouTube em www.actmindfully.com.au). Ele está divi-
dido em cinco seções, que eu numerei para referência futura.

SEÇÃO 1
Terapeuta: É difícil de explicar o que é a ACT simplesmente descrevendo-a, e isso prova-
velmente não faria muito sentido, mesmo que eu tentasse. Será que eu poderia
mostrar para você do que ela trata através do uso de uma metáfora?
Cliente: Pode ser.
Terapeuta: Ótimo. (O terapeuta apanha uma prancheta ou livro grande de capa dura e
mostra para o cliente.) Eu vou pedir a você para imaginar que esta prancheta
representa todos os pensamentos, sentimentos e memórias difíceis com que
você tem andado lutando por tanto tempo. Eu gostaria que você o segurasse e o
prendesse tão firmemente quanto conseguir, de modo que eu não possa puxá-lo
para longe de você. (Cliente segura a prancheta ou livro firmemente.) Agora
eu gostaria que você a segurasse na frente de seu rosto de maneira tal que não
consiga mais me ver – e o trouxesse tão próximo de você de modo que quase
esteja tocando o seu nariz. (O cliente segura a prancheta diretamente na frente
14
de sua face, bloqueando sua visão tanto do terapeuta quanto do espaço em re-
dor.)
Terapeuta: Agora me diga: como é tentar manter uma conversa comigo enquanto você
está preso em seus pensamentos e sentimentos?
Cliente: Muito difícil.
Terapeuta: Você se sente conectado comigo, comprometido comigo? Você consegue ler
as expressões em meu rosto? Se eu estivesse cantando e dançando agora, você
seria capaz de ver isso?
Cliente: (rindo) Não.
Terapeuta: E como parece ser sua vista da sala enquanto você está preso por este material?
Cliente: Eu não consigo ver nada a não ser a prancheta.
Terapeuta: Assim, enquanto você está completamente absorvido nesta coisa, você está per-
dendo um monte de outras coisas. Você está desconectado do mundo ao seu re-
dor, e você está desconectado de mim. Observe, também, que enquanto você está
segurando firmemente esta coisa, você não consegue fazer as coisas que fazem
sua vida funcionar. Verifique por si mesmo – segure a prancheta tão firmemente
quanto consegue. (O cliente segura com mais firmeza.) Agora se eu te pedisse pa-
ra fazer um carinho em um bebê, ou abraçar a pessoa que você ama, ou dirigir um
carro, ou cozinhar uma refeição, ou digitar em um computador enquanto você
continua a segurar isto com firmeza, será que você conseguiria fazê-lo?
Cliente: Não.
Terapeuta: Ou seja, enquanto você está preso nesta coisa, você não apenas perde contato
com o mundo ao seu redor e se desconecta de suas relações, mas você também
se torna incapaz de fazer as coisas que fazem sua vida funcionar.
Cliente: (assentindo) Concordo.

SEÇÃO 2
Terapeuta: Tem algum problema pra você se eu puxar minha cadeira de modo que eu fi-
que sentado ao seu lado? Existe mais uma coisa que quero demonstrar aqui.
Cliente: Pode ser.
Terapeuta: (Empurra sua cadeira para o lado da cadeira do cliente) Pode me alcançar a
prancheta por um momento? (Terapeuta pega a prancheta de volta.) Só che-
cando – você não problemas no pescoço ou nos ombros?
Cliente: Não.
Terapeuta: Certo. Estou só checando porque isto que vamos fazer envolve um pouco de
esforço físico. Eu quero que você coloque as palmas de suas mãos em um dos
lados da prancheta, enquanto eu vou colocar as minhas no outro lado, e quero
que você empurre a prancheta para longe de você. Empurre com firmeza, mas
não tão forte a ponto de me derrubar. (À medida que o cliente tenta empurrar a
prancheta para longe de si, o terapeuta empurra de volta. Quanto mais forte o
cliente empurra, tanto mais o terapeuta se inclina na direção dele.) Continue a
empurrar. Você detesta esse negócio, certo? Você detesta esses pensamentos e
sentimentos. Por isso, empurre o mais forte que conseguir – tente fazê-los ir em-
bora. (O terapeuta mantém a oposição de modo que o cliente continue a empur-

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rar enquanto o terapeuta empurra de volta.) Aí está você, tentando duramente
empurrar para longe todos esses pensamentos e sentimentos dolorosos. Você
tem feito isso por anos, e será que eles estão indo embora? Certo, você está man-
tendo-os a um braço de distância, mas qual é o custo disso para você? Como vo-
cê sente os seus ombros?
Cliente: (rindo) Na verdade, nem tão mal assim. É um bom exercício.
Terapeuta: (empurrando com mais força) Certo, isso está bom no momento, estamos ten-
tando por alguns segundos, mas como você estaria se sentindo se fizéssemos
isto por um dia inteiro?
Cliente: Eu estaria bem cansado.
Terapeuta: (ainda empurrando a prancheta pra frente e pra trás com o cliente) E se eu te
pedisse agora para digitar algo em um computador, ou dirigir um carro, ou fa-
zer carinho num bebê, ou abraçar alguém que você ama enquanto está fazendo
isso, você iria conseguir fazê-lo?
Cliente: Não.
Terapeuta: E como é tentar manter uma conversa comigo enquanto você está fazendo isso?
Cliente: Muito perturbador.
Terapeuta: Você se sente um pouco fechado ou isolado?
Cliente: Sim.

SEÇÃO 3
O terapeuta agora para de resistir. Ele alivia a pressão e pega a prancheta de volta.
Terapeuta: Ok, agora vamos tentar uma outra coisa. Tudo bem se eu colocar a prancheta
no seu colo, e a deixarmos ali? (Cliente concorda. O terapeuta coloca a pran-
cheta no colo do cliente.) Não há bem menos esforço agora? E como estão
seus ombros agora?
Cliente: Bem melhores.
O terapeuta coloca sua cadeia de volta para trás.
Terapeuta: Observe que agora você está livre para investir sua energia em fazer algo cons-
trutivo. Se eu te pedisse agora para cozinhar uma refeição, tocar piano, fazer
carinho num bebê, ou dar um abraço em alguém que você ama – agora você
poderia fazê-lo, certo?
Cliente (rindo) Sim.
Terapeuta: E como é tentar manter uma conversa comigo agora em oposição a fazer isso?
(faz de conta que está empurrando a prancheta para longe) ou isto (faz de conta
que está segurando a prancheta na frente do seu rosto)?
Cliente: Mais fácil.
Terapeuta: Você se sente em contato comigo? Consegue ler minha face agora?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Observe, também, que agora você tem uma visão clara da sala ao seu redor.
Você pode ter acesso a tudo. Se eu começasse a cantar e dançar, você seria ca-
paz de ver isso.
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Cliente (sorri) Sim. (Ele aponta para a prancheta.) Mas ela ainda está aqui. Eu não a
quero mais.

SEÇÃO 4
Terapeuta: Realmente. Ela ainda está aí. E, é claro, você não a quer; quem iria querer to-
dos esses pensamentos e sentimentos dolorosos? Mas observe, agora este ma-
terial está tendo muito menos impacto sobre você. Tenho certeza de que no
mundo ideal você gostaria de fazer isto. (O terapeuta simula estar jogando a
prancheta no chão.) Mas aí está a coisa: você tem tentado fazer isso por anos.
Vamos fazer uma breve recapitulação. Você tentou drogas, álcool, livros de
autoajuda, terapia, retirar-se do mundo, ficar deitado na cama, evitar situações
desafiadoras, autoagredir-se, culpar seus pais, distrair-se, remoer o passado,
tentar entender porque você é assim, manter-se ocupado, fazer cursos de auto-
desenvolvimento, e um monte de outras coisas mais, eu aposto. Então ninguém
pode chamar você de preguiçoso! Você com certeza gastou um monte de tem-
po, esforço e dinheiro tentando se livrar desses pensamentos e sentimentos. E
ainda assim, após todo esse esforço, eles ainda continuam aparecendo. Eles
ainda estão aqui hoje. (O terapeuta aponta para a prancheta no colo do clien-
te.) Algumas dessas coisas que você faz conseguem manter esses pensamentos
e sentimentos afastados por um breve período, mas logo eles voltam de novo,
não é mesmo? E não é fato de que agora eles estão maiores e mais pesados do
que estavam a alguns anos, quando você começou a brigar com eles? Agora há
mais pensamentos, sentimentos e memórias dolorosos do que havia a cinco
anos, certo?
Cliente: Sim, é verdade.
Terapeuta: Assim, mesmo que isso seja o que cada instinto em seu corpo lhe diz para fazer
(simula jogar a prancheta no chão), esta estratégia claramente não está tendo os
efeitos que você gostaria que ela tivesse. Na verdade, ela está fazendo as coisas
ficarem piores. E não vamos querer fazer mais do que não funciona, certo?
Cliente: É, eu acho que não.

SEÇÃO 5
Terapeuta: E agora chegamos a aquilo a que a ACT se refere. Você vai aprender algumas
habilidades, chamadas habilidade de atenção alerta (ou habilidades de mindful-
ness) que vão capacitar você a lidar com pensamentos e sentimentos dolorosos
de um modo muito mais eficaz – de um modo tal que eles tenham muito menos
impacto e influência sobre você. Assim, ao invés de fazer isto (pega a prancheta
e a segura na frente de seu rosto) ou isto (simula estar empurrando a prancheta
para longe de si), você pode fazer isso (larga a prancheta no colo e para de se-
gurá-la). Observe que isto não somente permite que você se mantenha conecta-
do com o mundo ao seu redor e de se engajar naquilo que está fazendo, mas
também libera você para agir de forma eficaz. Quando você não está mais bri-
gando com seus pensamentos e sentimentos, absorvido neles, ou preso a eles,
você é livre. (O terapeuta abre os braços em um gesto de liberdade). E agora
você vai poder gastar sua energia fazendo as coisas que melhoram sua qualidade
de vida – como, por exemplo, abraçar pessoas, andar de bicicleta ou tocar guitar-
ra. (O terapeuta simula estas atividades). Como isso soa para você?

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Obviamente nem sempre as coisas acontecem de uma forma tão suave – e quando na terapia
alguma vez as coisas transcorrem tão suavemente como nos livros-texto? – mas esperamos
que esta metáfora possa lhe dar uma noção do que a ACT busca: criar uma vida rica e plena
de sentido ao mesmo tempo em que aceitamos a dor que vem junto com ela. Também demons-
tra que ensinamos as habilidades de atenção plena não como se fossem um caminho para a ilu-
minação, mas tão somente com o objetivo de facilitar a ação eficaz. (Infelizmente não temos
espaço aqui para descrever as maneiras como os clientes às vezes se opõem a esta metáfora e
como podemos responder de forma eficaz a estas objeções. Entretanto você pode fazer o down-
load de uma descrição destas objeções e as repostas para as mesmas no seguinte endereço eletrô-
nico: www.actmindfully.com.au.

Dissecando a Metáfora
A ACT especula que há dois processos psicológicos nucleares – "fusão cognitiva" e "esquiva ex-
periencial" – que são responsáveis pela maior parte do sofrimento psicológico. A Seção 1 da
transcrição é uma metáfora para a fusão cognitiva: ser fisgado pelos nossos pensamentos, ficar
preso neles ou aderir a eles rigidamente.

A Seção 2 é uma metáfora para a esquiva experiencial: a luta contínua para evitar, suprimir ou se
livrar de pensamentos, sentimentos e memórias não desejados e de outras "experiências privadas".
(Por experiência privada entendemos qualquer experiência que você tenha e sobre a qual nin-
guém mais consegue saber algo a não ser que você conte para eles: emoções, sensações, memó-
rias, pensamentos, e assim por diante). Nota: Você não deve transformar este exercício em um
teste de força ou uma competição para ver que empurra mais forte. Se você suspeitar que seu cli-
ente está empurrando a prancheta de uma forma agressiva, então antecipe-se a ele. Diga: "Quando
eu te pedir para empurrar, não empurre com força demais. Não tente me derrubar, apenas empurre
suavemente!" Modifique também sua pressão contrária; após alguns instantes você poderá dimi-
nuir sua pressão e deixar a prancheta descansando no ar, delicadamente imprensada entre as suas
mãos e as mãos do cliente.

A Seção 3 é uma metáfora para a aceitação, a desfusão e o estar em contato com o momento pre-
sente. Em vez de usarmos o termo "aceitação" muitas vezes falamos sobre "abandonar a luta",
"sentar-se com o sentimento", "permitir que algo seja", "criar espaço para algo", "disposição para
ter algo". Como você pode perceber, esses termos se encaixam muito bem na metáfora física de
deixar a prancheta deitada no colo do cliente. Em vez do termo "desfusão", muitas vezes falamos
sobre "deixar ir", "recuar", "distanciar-se", "separar-se", "desembaraçar-se", ou "soltar a história"
– e, novamente, à medida que o cliente se separa da prancheta e a deixa de lado, a metáfora se
ajusta bem com estas maneiras de se expressar.

A Secção 4 destaca a ineficácia e os custos da esquiva experiencial; na ACT nos referimos a este
processo como desesperança criativa ou confrontar o plano. Por que usamos nomes tão estra-
nhos? Porque estamos tentando criar um senso de desesperança em relação ao hábito do cliente de
controlar seus pensamentos e sentimentos. Isto abre caminho para um plano alternativo de atenção
plena e aceitação, que é exatamente o oposto do controle.

Finalmente, a Seção 5 destaca a conexão entre atenção plena, valores e ação comprometida. Apre-
sentar a ACT inteira em uma Metáfora Sintetizada como um exercício geralmente não leva mais
do que cinco minutos.

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E o que vem a seguir?
No próximo capítulo vamos dar uma olhada mais detalhada na fusão cognitiva e na esquiva expe-
riencial e ver como elas conduzem rapidamente aos seis processos patológicos que são o "outro
lado da moeda" dos seis processos terapêuticos centrais. Mas antes de continuar a ler, por que não
tentar aplicar o Exercício da ACT Sintetizada em um amigo ou colega para verificar se você con-
segue apresentar de forma resumida sobre o que a ACT objetiva? Recomendo que, antes de mais
nada, você faça um ensaio da mesma em voz alta várias vezes: percorra cada passo com um clien-
te imaginário, como se você fosse um ator ensaiando uma peça. Depois tente de verdade.
Suspeito que talvez você esteja relutante em fazer isto; você pode pensar que é bobo, pouco im-
portante, ou que não faz seu estilo. Entretanto, mesmo que você nunca venha a fazer isso com um
cliente real, aplicar toda a metáfora desta forma pode se mostrar uma valiosa experiência de
aprendizagem. Não apenas vai lhe possibilitar a se apropriar do modelo, mas também irá lhe aju-
dar se você em algum momento quiser explicá-lo para amigos tenham curiosidade acerca do
mesmo, colegas, parentes, ou convidados em seu próximo jantar. Assim, embora você possa se
sentir relutante, por que não dar-lhe uma chance? Você poderá ficar agradavelmente surpreso com
os resultados.

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CAPÍTULO 2

Empacado, Não Inutilizado


ONDE HÁ DOR, HÁ VIDA
O modelo da ACT é inerentemente otimista. A ACT parte do pressuposto de que mesmo no meio
de muita dor e sofrimento existe a oportunidade de encontrar sentido, propósito e vitalidade. Po-
demos encontrar exemplos inspiradores disto em livros como Em Busca de Sentido de Viktor
Frankl (1959), que relata as experiências de Frankl como prisioneiro do campo de concentração
de Auschwitz, ou Longo Caminho para a Liberdade, a autobiografia de Nelson Mandela. Na
ACT não objetivamos meramente reduzir o sofrimento humano; também temos como meta ajudar
as pessoas a aprender e a crescer como resultado de seu sofrimento, e a usar sua dor como um
trampolim para a criação de vidas mais ricas e plenas de sentido. Esta atitude otimista fica eviden-
te no ditado da ACT: "Nossos clientes não estão inutilizados, eles estão apenas empacados". E o
que é que leva indivíduos comuns a ficarem tão empacados de modo que acabem se deprimindo,
viciando em drogas, se isolando, fóbicos ou com tendências suicidas? Isto acontece devido a dois
processos normais da mente humana normal: fusão cognitiva e esquiva experiencial.

FUSÃO COGNITIVA
Por que usamos o termo "fusão"? Bem, pense em duas placas de metal que estão fundidas. Se
você não pudesse usar o termo "fundidas", como você as descreveria? Soldadas? Misturadas?
Coladas? Juntadas? Anexadas? Presas? Todos estes termos apontam para a mesma ideia: sem
separação. Em um estado de fusão cognitiva, nós somos inseparáveis de nossos pensamentos:
estamos soldados a eles, colados a eles, tão presos neles que não estamos nem mesmo conscien-
tes que estamos pensando. Desta forma, desfusão significa nos separarmos, desapegarmos, ou
tomar distância de nossos pensamentos: dar um passo atrás e vê-los pelo que eles realmente são:
nada mais ou nada menos do que palavras e imagens.
Fusão cognitiva significa, basicamente, que nossos pensamentos dominam nosso comportamento.
Assim, na ACT podemos falar com os clientes sobre "serem empurrados pra lá e pra cá por seus
pensamentos" ou "permitir que os pensamentos lhes digam o que fazer". Às vezes nos referimos
aos pensamentos como intimidadores ou os comparamos a um ditador fascista. Podemos também
perguntar-lhes "O que acontece quando você permite que o pensamento conduza sua vida?" Da
mesma forma, quando nossos pensamentos dominam a nossa atenção, muitas vezes nos referimos
a isso como ficar "enganchado", "enredado", "preso" ou "levado" por eles. (Um lembrete rápido:
quando usamos os termos "pensar", "pensamentos", "cognição" e "mente" na ACT, nós os utiliza-
mos como metáforas para "linguagem humana", que inclui crenças, pressuposições, pensamentos,
atitudes, memórias, imagens, palavras, gestos, fantasias, e alguns aspectos das emoções).
Os seres humanos vivem em dois mundos diferentes. Ao nascer, vivemos tão somente no
"mundo da experiência direta", o mundo tal como o conhecemos diretamente através dos cinco
sentidos: o mundo que podemos ver, ouvir, tocar, sentir e cheirar. Mas à medida que vamos
ficando mais velhos, aprendemos a pensar e, à medida que nossa habilidade aumenta, começa-
mos a gastar mais e mais tempo no segundo mundo, o "mundo da linguagem". Fusão significa
que estamos empacados no mundo da linguagem: estamos tão perdidos no meio de todas aque-
las palavras e imagens que cruzam nossa cabeça que perdemos contato com o mundo da experi-
ência direta. A atenção plena (mindfulness) é como uma nave que nos transporta do mundo da
linguagem para o mundo da experiência direta.

20
As Mãos Como Uma Metáfora Do Pensamento
Imagine por um instante que suas mãos são seus pensamentos. Quando você chegar no final deste
parágrafo, eu gostaria que você largasse o livro e juntasse suas mãos, com as palmas abertas, como
se elas fossem as páginas de um livro aberto. Então, devagar, mas firmemente, levante suas mãos
em direção ao seu rosto. Continue até que elas cubram seus olhos. Agora, por alguns segundos,
olhe para o mundo ao seu redor através das aberturas no meio de seus dedos e observe o quanto
isto afeta sua visão do mundo. Por favor, faça este exercício agora, antes de continuar a leitura.
* * *
Como seria se tivesse que viver todo o dia com suas mãos cobrindo seus olhos desta maneira?
O quanto isto limitaria você? O quanto você iria perder? O quanto isso iria reduzir sua habilida-
de de responder ao mundo ao seu redor? Isto é como a fusão: ficamos tão emaranhados em nos-
sos pensamentos que perdemos contato com muitos aspectos de nossa experiência aqui-e-agora,
e nossos pensamentos acabam por ter uma influência tão grande sobre nosso comportamento
que nossa habilidade para agir de modo eficaz é reduzida de forma significativa.
Agora, novamente, quando chegar no fim desse parágrafo, gostaria que você cobrisse os seus
olhos com suas mãos, mas desta vez, vá afastando-os de seu rosto bem, bem devagar. À medida
que a distância entre suas mãos e seu rosto vai aumentando, observe quão mais fácil fica conec-
tar-se com o mundo ao redor. Por favor, faça isto antes de continuar a leitura.
* * *
O que você acaba de fazer é semelhante à desfusão. Não é muito mais fácil agir eficazmente
sem as mãos cobrindo seu rosto? Quanto mais informações você consegue absorver? E quão
mais conectado com o mundo exterior você está?
Esta metáfora (Harris, 2009), que você pode usar com seus clientes para explicar a fusão e a
desfusão, demonstra o propósito da desfusão: engajar-se de forma completa em sua experiência
e facilitar a ação eficaz. As pessoas muitas vezes se sentem melhor quando elas se desfundem
de pensamentos e memórias dolorosos, mas na ACT consideramos isto como um bônus ou sub-
produto; não é nossa intenção nem nosso objetivo. (Lembre-se que não estamos tentando redu-
zir ou eliminar nossos sintomas. Estamos fundamentalmente tentando transformar nossa relação
com os pensamentos e sentimentos dolorosos de modo que deixemos de percebê-los como "sin-
tomas".) Assim, a desfusão não é uma ferramenta inteligente para controlar sentimentos: é uma
maneira de nos tornarmos presentes e agir de forma eficaz. Queremos que isto fique bem claro
para nossos clientes, porque se eles começarem a usar as técnicas de desfusão para tentar con-
trolar seus sentimentos, eles logo irão ficar desapontados.
Facilitamos a desfusão através de exercícios vivenciais. Se tentarmos explicá-la conceitualmen-
te antes de realizá-la vivencialmente, provavelmente iremos ficar atolados em todo tipo de dis-
cussões intelectuais estéreis.

Fusão versus Desfusão: Um Sumário Simples


Em um estado de fusão, um pensamento pode parecer
 a verdade absoluta;
 uma ordem que você tem que obedecer ou uma regra que você tem que seguir;
 uma ameaça da qual você tem que se livrar o quanto antes;
 algo que está acontecendo aqui e agora embora seja algo sobre o passado ou o futuro;

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 algo muito importante que exige toda sua atenção;
 algo que você não vai deixar ir embora mesmo que piore sua vida.

Em um estado de desfusão, você consegue ver um pensamento pelo que ele é: nada mais e nada
menos do que um monte de palavras ou imagens "dentro de sua cabeça". Em um estado de des-
fusão, você reconhece que um pensamento
 pode ser verdadeiro ou não;
 definitivamente não é uma ordem que você tem que obedecer ou uma regra que você
tem que seguir;
 definitivamente não é uma ameaça para você;
 não é algo que está acontecendo no mundo físico – são tão somente palavras ou ima-
gens em sua cabeça;
 pode ser importante ou não – você tem a opção de quanto quer prestar atenção nele;
 pode ser autorizado a vir e a ir embora por si próprio sem nenhuma necessidade de
você se agarrar a ele ou de mandá-lo embora.

Funcionalidade
Todo o modelo da ACT repousa sobre um conceito chave: "funcionalidade"2. Por favor, grave
esta palavra – funcionalidade – em seu córtex cerebral, porque ela está no coração de cada in-
tervenção que fazemos. Para determinar a funcionalidade, fazemos a seguinte pergunta: "Aquilo
que você está fazendo está funcionando para tornar sua vida rica, plena e com sentido?" Se a
resposta é sim, então dizemos que tem "funcionalidade", e, portanto, não há necessidade de mu-
dá-lo. Se a resposta é não, então dizemos que isto não tem "funcionalidade", e neste caso pode-
mos considerar alternativas que funcionam melhor.
Assim, na ACT não nos focamos em verificar se um pensamento é verdadeiro ou falso, mas sim
se ele tem funcionalidade. Em outras palavras, queremos saber se um pensamento ajuda um
cliente a ir rumo a uma vida mais rica, completa e com mais sentido. Para determinar isto, po-
demos fazer perguntas como estas: "Se você deixar que este pensamento guie seu comporta-
mento, isto vai ajudá-lo a criar uma vida mais rica, com mais plenitude e mais sentido? Se você
se agarrar firmemente a este pensamento, isto vai lhe ajudar a ser a pessoa que você quer ser e
fazer as coisas que você quer fazer?"
A seguir temos uma transcrição que exemplifica esta abordagem:
Cliente: Mas isto é verdadeiro. Eu de fato sou gorda. Olhe pra mim. (Ela agarra dois
grandes "pneus" de gordura em torno de seu abdômen e os aperta para enfati-
zar seu ponto.)
Terapeuta: Uma coisa posso lhe garantir: nesta sala nós nunca vamos discutir sobre o que é
verdadeiro ou falso. Estamos interessados no que é útil ou que vai nos ajudar a
viver uma vida melhor. Assim, quando sua mente começa a lhe dizer "eu sou
gorda", o que acontece quando você fica presa nestes pensamentos?
Cliente: Sinto nojo de mim mesma.
Terapeuta: E o que acontece depois?

2NT: No original foi usada a palavra workability que não possui um equivalente exato em português.
Pode ser traduzida como "funcionalidade", "aplicabilidade", "viabilidade" ou "exequibilidade".

22
Cliente: Então eu fico deprimida.
Terapeuta: E se eu estivesse vendo um vídeo de você, o que eu veria você fazer quando está
deprimida e enojada de si mesma?
Cliente: Eu provavelmente estaria sentada na frente da TV e tomando sorvete.
Terapeuta: Então, ficar presa no pensamento "Eu sou gorda" não parece muito útil, parece?
Cliente: Não, mas é verdadeiro!
Terapeuta: Bem, vou dizer isto de novo: nesta abordagem estamos interessados não em sa-
ber se um pensamento é verdadeiro ou falso, mas se ele é útil. Quando este pen-
samento aparece em sua cabeça, será que ajuda ficar preso nele? Isto motiva vo-
cê a se exercitar, a comer de forma adequada, ou usar seu tempo para fazer as
coisas que tornam sua vida rica e recompensadora?
Cliente: Não.
Terapeuta: E o que você acha de fazermos algo aqui que possa fazer a diferença? E se você
pudesse aprender uma habilidade para que na próxima vez em que sua mente
começar a lhe contar a história do "Eu sou gorda" você não tivesse mais que fi-
car absorvida ou presa nessa história?
Quando usamos a estrutura básica da "funcionalidade", nunca necessitamos julgar o comporta-
mento de um cliente como "bom" ou "mau", "certo" ou "errado"; em vez disso podemos pergun-
tar, sem julgamentos e de forma compassiva: "Isso está funcionando para proporcionar a você a
vida que você quer?" Da mesma forma, nunca necessitamos julgar os pensamentos como irracio-
nais ou disfuncionais, ou entrar em discussões sobre se são verdadeiros ou falsos. Em vez disso,
podemos simplesmente perguntar: "Agarrar-se tão firmemente a esses pensamentos ajuda você a
viver a vida que você verdadeiramente deseja?" ou " Ficar preso nestes pensamentos ajuda você a
fazer as coisas que você quer fazer?" ou ainda "Se você deixar que estes pensamentos fiquem lhe
empurrando pra lá e pra cá, isto vai lhe ajudar a ser a pessoa que você quer ser?"
Observe que na transcrição acima, o terapeuta não faz nenhuma tentativa para mudar o conteú-
do dos pensamentos. Na ACT, o conteúdo de um pensamento não é considerado problemático;
é somente a fusão com o pensamento que cria o problema. Em muitos livros-texto de psicologia
podemos encontrar esta citação de William Shakespeare: "Não há nada bom ou nada mau, mas
o pensamento o faz assim." A postura da ACT seria fundamentalmente diferente: "Pensar não
torna nada bom ou mau. Mas se você se fundir com seu pensamento, isto pode criar problemas".

ESQUIVA EXPERIENCIAL
Esquiva experiencial (ou vivencial) significa tentar evitar, livrar-se de, reprimir, ou escapar de
"experiências privadas" indesejáveis. (Conforme mencionei anteriormente, a ACT utiliza a ex-
pressão experiência privada para se referir a qualquer experiência que você tem e que ninguém
mais conhece a não ser que você conte a eles: por exemplo, pensamentos, sentimentos, imagens,
impulsos e sensações.) A esquiva experiencial é algo que vem naturalmente para todos os seres
humanos. Por quê? Bem, eis como descrevemos isso para os clientes...

A Máquina de Resolver Problemas: Uma Metáfora Clássica da ACT


Terapeuta: Se você tivesse que escolher uma habilidade da mente humana que nos tornou capa-
zes de sermos tão engenhosos de forma que não apenas mudamos a face do planeta, mas fomos
capazes de viajar para fora dele, esta teria de ser nossa capacidade para solucionar problemas. A
essência da solução de problemas é esta: Um problema significa algo indesejável. E uma solu-

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ção significa evitá-lo ou livrar-se dele. No mundo físico, resolver ou solucionar problemas ge-
ralmente funciona muito bem. Um lobo do lado de fora de sua casa? Livre-se dele: jogue pedras
ou lanças nele, ou atire nele. Neve, chuva, granizo? Bem, você não consegue se livrar dessas
coisas, mas você pode evitá-las abrigando-se numa caverna, construindo um abrigo, ou usando
roupas de proteção. Solo seco, árido? Você pode se livrar dele usando a irrigação e a fertiliza-
ção, ou você pode evitá-lo mudando-se para um local melhor.
Assim, nossa mente é como uma máquina de resolver problemas, e ela é muito boa em sua fun-
ção. E visto que solucionar problemas funciona tão bem no mundo material, é perfeitamente
natural que nossa mente tente fazer a mesma coisa com o mundo interior: o mundo dos pensa-
mentos, sentimentos, memórias, sensações e impulsos. Infelizmente, muitas vezes quando ten-
tamos evitar ou nos livrar de pensamentos ou sentimentos indesejáveis, isto não funciona – ou,
se funciona, acabamos criando uma dose extra de dor para nós mesmos neste processo.

Como a Esquiva Experiencial Aumenta o Sofrimento


Vamos voltar à Máquina de Resolver Problemas em capítulos posteriores. Por enquanto, vamos
considerar como a esquiva experiencial aumenta o sofrimento. Adições nos fornecem um
exemplo óbvio. Muitas adições começam com uma tentativa de evitar ou de se livrar de pensa-
mentos e sentimentos indesejáveis como tédio, solidão, ansiedade, culpa, raiva, tristeza, e assim
por diante. A curto prazo, jogar, drogas, álcool e cigarros muitas vezes vão ajudar as pessoas a
evitar e se livrar desses sentimentos temporariamente, mas a longo prazo o resultado disso será
uma grande quantidade de dor e sofrimento.
Quanto mais tempo e energia gastamos tentando evitar ou nos livrar de experiências privadas
indesejáveis, mais provavelmente iremos sofrer psicologicamente a longo prazo. Os transtornos
de ansiedade nos fornecem um bom exemplo. Um transtorno de ansiedade não consiste na pre-
sença de ansiedade. Afinal de contas, ansiedade é uma emoção humana normal que todos vi-
venciamos. No centro de qualquer transtorno de ansiedade encontra-se a esquiva experiencial:
uma vida dominada por intensas tentativas de evitar ou se livrar da ansiedade. Por exemplo,
suponha que eu me sinta ansioso em situações sociais e, para evitar esses sentimentos de ansie-
dade, eu me afaste do convívio social. Agora eu tenho "fobia social". O benefício de curto prazo
é óbvio – eu consigo evitar alguns pensamentos e sentimentos ansiosos – mas o custo a longo
prazo é elevado: eu me isolo e minha vida se torna "menor".
Alternativamente eu posso tentar reduzir minha ansiedade desempenhando o papel do "bom
ouvinte". Eu me torno muito empático e carinhoso em relação aos outros, e em interações soci-
ais eu descubro muita informação sobre os pensamentos, sentimentos e desejos dos outros, mas
revelo pouco ou nada a meu respeito. Isto vai me ajudar a curto prazo a reduzir meu medo de
ser julgado ou rejeitado, mas a longo prazo significará que minhas relações carecem de intimi-
dade, abertura e autenticidade.
Agora suponha que eu tome Valium, ou algum outro benzodiazepínico, para reduzir minha an-
siedade. Novamente, o benefício a curto prazo é óbvio: menos ansiedade. Mas a longo prazo os
custos de depender de benzodiazepínicos, antidepressivos, maconha ou álcool para reduzir mi-
nha ansiedade poderá incluir (a) dependência psicológica de medicação, (b) possível adição
física, (c) outros efeitos colaterais físicos e emocionais, (d) custos financeiros, e (e) fracasso em
aprender respostas mais eficazes para a ansiedade, o que acaba por manter ou exacerbar o pro-
blema. Uma outra maneira em que eu poderia responder à ansiedade social seria cerrar meus
dentes e me relacionar socialmente apesar de minha ansiedade – ou seja, tolerar os sentimentos
apesar de estar agoniado por causa deles. A partir da perspectiva da ACT, isto também seria
esquiva experiencial. Por que? Porque, embora eu não esteja evitando a situação, eu ainda estou
lutando com meus sentimentos e desesperadamente desejando que eles sumam. Isto é tolerân-
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cia, não aceitação. Se eu verdadeiramente aceito meus sentimentos, então mesmo que eles pos-
sam ser muito desprazerosos e desconfortáveis, eu não estou agoniado por causa deles.
Para entender a diferença entre tolerância e aceitação considere o seguinte: Você gostaria que as
pessoas que você ama tolerassem você enquanto está presente, desejando que você vá embora
logo e frequentemente checando para ver se você já foi embora? Ou você preferiria que eles
aceitassem você de uma maneira completa e total tal como você é, com todas as suas falhas e
pontos fracos, e estarem dispostos a ter você por perto durante o tempo que você quiser ficar?
O custo de tolerar minha ansiedade (ou seja, cerrar meus dentes e suportá-la) é que ela exige
uma imensa quantidade de esforço e energia e torna difícil permanecer completamente engajado
em qualquer tipo de interação social. Como consequência, acabo perdendo muito do prazer e da
realização que comumente acompanha a interação social. E isto por sua vez aumenta minha
ansiedade sobre eventos sociais futuros porque "Eu não vou gostar disso" ou "Eu vou me sentir
horrível" ou então "É esforço demais".
Infelizmente, quanto mais importância damos à esquiva da ansiedade, mais desenvolvemos an-
siedade em relação a nossa ansiedade. É um círculo vicioso, que se encontra no centro de qual-
quer transtorno de ansiedade. (Afinal de contas, qual é o núcleo de um ataque de pânico, se não
ansiedade em relação à ansiedade?) Um corpo volumoso de pesquisa mostra que esquiva expe-
riencial mais elevada está associada com transtornos de ansiedade, preocupação excessiva, de-
pressão, desempenho laboral mais pobre, níveis mais elevados de abuso de substância, qualida-
de de vida mais baixa, conduta sexual de alto risco, transtorno da personalidade borderline,
maior severidade de TEPT, incapacitação de longo prazo e níveis mais elevados de psicopato-
logia global (Hayes, Masuda, Bissett, Luoma & Guerrero, 2004). De fato, ela é indiscutivelmen-
te o maior fator individual na psicopatologia.
Assim, agora você pode ver uma das razões pelas quais a ACT não foca na redução de sinto-
mas: fazer isso é semelhante a reforçar a esquiva experiencial, o próprio processo que alimenta
a maioria dos problemas clínicos. Outra razão é que tentativas de reduzir sintomas pode parado-
xalmente aumentá-los. Por exemplo, pesquisas mostram que a repressão de pensamentos inde-
sejáveis pode levar a um efeito rebote: um aumento tanto na intensidade quanto na frequência
de pensamentos indesejáveis (Wenzlaff & Wegner, 2000). Outros estudos mostram que tentar
reprimir um estado de humor pode na verdade intensificá-lo em um loop de autoamplificação
(Feldner, Zvolensky, Eifert, & Spira, 2003; Wegner, Erber & Zanakos, 1993).
Um dos componentes centrais da maioria dos protocolos da ACT envolve colocar o cliente em
contato com os custos e a futilidade da esquiva experiencial. Isto é feito com o objetivo de mi-
nar a agenda de controle (isto é, a agenda de tentar controlar nossos pensamentos e sentimentos)
e criar espaço para uma agenda alternativa: aceitação. Entretanto, embora queiramos facilitar
uma vida com atenção plena e baseada em valores, não queremos nos transformar em...

"Fascistas da Atenção Plena"


Não somos "fascistas da atenção plena" na ACT; não insistimos que as pessoas tenham que
estar sempre no momento presente, sempre desfundidas, sempre aceitando. Isto não seria so-
mente ridículo, mas também autodestrutivo. Somos todos esquivadores experienciais em algum
grau. E todos nos fundimos com nossos pensamentos às vezes. E a esquiva experiencial e a fu-
são cognitiva em si e por si mesmas não são inerentemente "más" ou "patológicas"; somente
miramos nelas quando elas se tornam obstáculos para uma vida rica, plena e com sentido.
Em outras palavras, tudo gira em torno da funcionalidade ou aplicabilidade. Se tomamos uma
aspirina de tempos em tempos para nos livrarmos de uma dor de cabeça, isto é esquiva experi-
encial, mas é provável que seja funcional – ou seja, que melhore nossa qualidade de vida a lon-

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go prazo. Se tomamos um copo de vinho tinto à noite com o objetivo primário de nos vermos
livres de tensão e estresse, isto também é esquiva experiencial – mas a não ser que tenhamos
certas condições médicas, provavelmente não será danoso, tóxico, nem uma distorção de nossa
vida. Pelo contrário, isto fará bem para nosso coração. No entanto, se tomarmos duas garrafas
inteiras todas as noites, obviamente isto será uma história diferente.
O mesmo é verdadeiro para a fusão. Há certos contextos – embora poucos e distantes entre si –
onde a fusão de fato ajuda a melhorar a vida, tais como quando nos permitimos "nos perder" em
um romance ou em um filme. E há outros contextos onde nos fundimos com nossos pensamen-
tos e, embora não melhorem nossa vida, geralmente também não são problemáticos – por
exemplo, quando ficamos devaneando enquanto estamos numa fila de supermercado. Mas fa-
lando em termos gerais, estamos melhores quando nos desfundimos de nossos pensamentos
pelo menos um pouco. (Para clarificar isto, relembre o Exercício das Mãos como Pensamentos
que você fez anteriormente. Mesmo uma pequena brecha entre seu rosto e suas mãos permite
que muito mais informação sobre o mundo chegue a você).

Um Ponto Muito Importante sobre Aceitação versus Controle


Na ACT não defendemos a aceitação de todos os pensamentos e sentimentos em qualquer cir-
cunstância. Isto seria não apenas rígido, mas também totalmente desnecessário. A ACT defende
a aceitação em duas circunstâncias:
1. Quando o controle de pensamentos e sentimentos é limitado ou impossível.
2. Quando o controle de pensamentos e sentimentos é possível, mas os métodos usados re-
duzem a qualidade de vida.

Se o controle é possível e contribui para uma vida baseada em valores, então "vá nessa". Por fa-
vor, lembre-se deste ponto. Ele é muitas vezes esquecido ou mal compreendido por praticantes
novatos da ACT, e relembrá-lo irá lhe poupar de um bocado de confusão.

OS SEIS PROCESSOS PATOLÓGICOS CENTRAIS


A fusão cognitiva e a esquiva experiencial em conjunto dão origem aos seis processos patológi-
cos, tal como mostrado na figura 2.1 abaixo. (Você pode pensar nos mesmos como o "verso" dos
seis processos terapêuticos centrais.) À medida que eu for conduzindo você através de cada um
dos processos, vou usar a depressão clínica para exemplificar.

Fusão
Conforme descrito acima, fusão significa emaranhamento com nossos pensamentos de modo
que eles dominem nossa percepção consciente e tenham uma grande influência sobre nosso
comportamento. Clientes deprimidos se fundem com todo tipo de pensamentos ineficazes e
contraproducentes: Sou mau, eu não mereço algo melhor, eu não consigo mudar, eu sempre
fui desse jeito, a vida é uma merda, tudo é muito difícil, a terapia não vai funcionar, isto nun-
ca vai melhorar, eu não consigo sair da cama quando eu me sinto assim, estou muito cansado
para fazer alguma coisa. Eles muitas vezes se fundem com memórias dolorosas envolvendo
coisas como rejeição, desapontamento, fracasso ou abuso. (Fusão extrema com uma memória
– em tal extensão que isto parece estar acontecendo aqui e agora – é geralmente referida como
um flashback.) Na depressão clínica, a fusão se manifesta muitas vezes como preocupação,
ruminação, tentativas de descobrir "por que eu sou assim" ou comentários negativos contí-
nuos: "Esta festa é uma merda. Eu preferiria estar na cama. Qual é o sentido de estar aqui?
Todos estão se divertindo. Ninguém realmente me quer aqui."

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Domínio do Passado e do
Futuro Conceitual;
Autoconhecimento Limitado

Carência de Cla-
Esquiva reza e Contato
Experiencial com Valores

Inflexibilidade
Psicológica

Fusão
Cognitiva Ação
Disfuncional

Apego ao Eu
Conceitual

Figura 2.1 – Um modelo de Psicopatologia da ACT

Esquiva experiencial
Tal como mencionei anteriormente, esquiva experiencial significa livrar-se de, evitar ou esca-
par de experiências privadas indesejáveis tais como pensamentos, sentimentos e memórias.
Isto é o oposto da aceitação (que é uma abreviação para "aceitação experiencial"). Como
exemplo, vamos dar uma olhada na esquiva experiencial na depressão. Seus clientes deprimi-
dos comumente tentam duramente evitar ou livrar-se de emoções dolorosas tais como ansie-
dade, tristeza, fadiga, raiva, culpa, solidão, letargia, e assim por diante. Por exemplo, eles
muitas vezes se afastam de socializar-se com o objetivo de evitar pensamentos e sentimentos
desconfortáveis. Isto pode não ser perceptível à primeira vista, então vamos refletir sobre isso.
À medida que um compromisso social vai chegando cada vez mais perto, é provável que eles
se fundam com todo tipo de pensamentos tais como eu sou chato, eu sou um peso, eu não
tenho nada para dizer, eu não vou gostar, estou cansado demais, não vale o incômodo, bem
como memórias de eventos sociais anteriores que foram insatisfatórios. Ao mesmo tempo,
seus sentimentos de ansiedade aumentam e eles muitas vezes relatam uma sensação de "pa-
vor" antecipatório. No entanto, no momento em que cancelam o compromisso, ocorre um
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alívio instantâneo: todos aqueles pensamentos e sentimentos desprazerosos instantaneamente
desaparecem. Mesmo que este alívio não dure por muito tempo, ele é muito reforçador, o que
aumenta a chance de um retraimento social futuro.
Fusão e esquiva geralmente andam de mãos dadas. Por exemplo, clientes depressivos muitas ve-
zes tentam tenazmente empurrar para longe os mesmos pensamentos e memórias com os quais
continuam a se fundir – por exemplo, pensamentos dolorosos tais como Eu não tenho valor ou
Ninguém gosta de mim, ou memórias desprazerosas de rejeição, desapontamento e fracasso. Eles
podem tentar de tudo desde drogas, álcool, cigarros, assistir TV a dormir em excesso, em tentati-
vas vãs de evitar esses pensamentos dolorosos.

Predominância do Passado e Futuro Conceitual e Autoconhe-


cimento Limitado
A fusão e a esquiva rapidamente levam a uma perda do contato com a experiência do aqui-e-
agora. Todos nós ficamos facilmente enredados em um passado e um futuro conceituais: vi-
vemos com memórias dolorosas e ruminamos sobre o porquê de as coisas terem acontecido
daquela forma; fantasiamos sobre o futuro, nos preocupamos com coisas que ainda não acon-
teceram, e colocamos o foco em todas as coisas que temos de fazer a seguir. E neste processo,
perdemos a vida no aqui e agora.
Estar em contato com o momento presente inclui o mundo ao nosso redor e dentro de nós. Se
perdemos contato com nosso mundo psicológico interior – se estamos sem contato com nos-
sos pensamentos e sentimentos – então carecemos de autoconhecimento. E sem autoconheci-
mento, é muito mais difícil de mudar nosso comportamento de maneiras adaptativas.
Clientes deprimidos comumente gastam uma grande quantidade de tempo fundidos com um
passado conceitual: ruminando sobre eventos passados dolorosos, que muitas vezes tem a ver
com rejeição, perda e fracasso. Eles também se fundem com um futuro conceitual: preocu-
pam-se sobre todas as “coisas ruins” que podem estar à nossa espera.

Falta de Clareza de Valores/Contato


À medida que nosso comportamento se torna mais e mais impulsionado pela fusão com pen-
samentos que pouco ajudam, ou tentativas de evitar experiências privadas desprazerosas, mui-
tas vezes acabamos perdendo, negligenciando ou esquecendo nossos valores. Se não temos
clareza acerca de nossos valores ou se não estamos em contato psicológico com eles, então
não poderemos usá-los como um guia eficaz para nossas ações. Clientes deprimidos muitas
vezes perdem contato com seus valores no que diz respeito a conectar-se e contribuir com
outros, ser produtivo, fomentar a saúde e o bem-estar, divertir-se, ou engajar-se em atividades
desafiadoras tais como esportes, trabalho e hobbies.
Nosso propósito na ACT é colocar o comportamento de forma crescente sobre a influência de
valores em lugar de fusão ou da esquiva. (Nota: Mesmo no caso de valores, devemos mantê-
los de forma leve em vez de nos fundirmos com eles.) Considere as diferenças entre ir ao tra-
balho sob estas três condições:
1. Motivado principalmente pela fusão com pensamentos autolimitadores tais como "Eu
tenho de fazer este trabalho. É a única coisa que sou capaz de fazer".
2. Motivado principalmente pela esquiva: ir ao trabalho para evitar "sentir-se como um fra-
cassado" ou para livrar-se de sentimentos de ansiedade relacionados à tensão em casa.
3. Motivado principalmente por valores: fazer este trabalho guiado por valores acerca de

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contribuição, autodesenvolvimento, ser ativo, ou conectar-se com outros.
Qual destas formas de motivação provavelmente irá trazer o maior senso de vitalidade, senti-
do e propósito?

Ação Inviável
Uma ação inviável significa padrões de comportamento que nos afastam de um viver atento e
baseado em valores, padrões de comportamento que não funcionam para tornar nossas vidas
mais ricas e mais plenas, mas que, ao invés disso, nos fazem empacar ou aumentar nossas
lutas. Isto inclui ações que são impulsivas, reativas ou automáticas em oposição a serem de
atenção plena, deliberadas, com propósito, e inação ou procrastinação onde é necessária uma
ação eficaz para melhorar a qualidade de vida. Exemplos comuns de ações inviáveis na de-
pressão incluem o uso excessivo de drogas ou álcool, afastamento da vida social, ser fisica-
mente inativo, parar previamente com atividades agradáveis e divertidas, evitar trabalhar,
dormir ou assistir TV excessivamente, tentar suicídio, procrastinação excessiva em tarefas
importantes, e a lista continua.

Apego ao Eu Conceitual
Todos nós temos uma história sobre quem somos. Esta história é complexa e tem muitos ní-
veis. Ela inclui alguns fatos objetivos tais como nosso nome, sexo, background cultural, esta-
do civil, ocupação, e assim por diante. Também inclui descrições e avaliações dos papéis que
desempenhamos, as relações que temos, o que gostamos e o que não gostamos, sonhos e aspi-
rações. Se mantivermos essa história de forma leve, ela pode nos dar um senso de eu que aju-
de a definir quem somos e o que queremos na vida. No entanto, se nos fundimos com a histó-
ria – se começarmos a pensar que somos a história – isso rapidamente irá criar todo tipo de
problemas. A maioria dos livros-texto da ACT se refere a esta história como eu conceitual ou
eu-como-conteúdo. Eu prefiro o termo autodescrição, uma expressão cunhada pela psicóloga
Patty Bach, porque é essencialmente isso que ela é: um modo de nos descrevermos. E quando
nos fundimos com nossa autodescrição, parece que nós somos essa descrição, que todos aque-
les pensamentos são a própria essência do que nós somos: eu-como-descrição.
Note que até mesmo a fusão com uma autodescrição muito positiva provavelmente poderá ser
problemática. Por exemplo, qual poderia ser o perigo de nos fundirmos com a descrição "Eu
sou forte e independente"? Ela indubitavelmente me trará uma autoestima elevada, mas o que
acontecerá se eu realmente necessitar de ajuda e estiver tão fundido com minha autodescrição
positiva que não me permita mais pedir ajuda ou aceitá-la? E qual seria o perigo potencial de
me fundir com "Eu sou um motorista brilhante; eu consigo dirigir de forma excelente mesmo
que esteja bêbado"? Novamente, isto me confere uma autoestima muito positiva mas pode me
levar facilmente a um acidente.
Na depressão, os clientes geralmente se fundem com uma autodescrição muito "negativa":
"Eu sou (mau/sem valor/sem esperança/indigno de amor/burro/feio/gordo/incompetente/fra-
cassado/desagradável/chato)", e assim por diante. No entanto, podemos encontrar também
elementos "positivos" na mesma – por exemplo, "Eu sou uma pessoa forte, eu não deveria
estar reagindo desta forma", ou "Eu sou uma pessoa boa; por que isso está acontecendo comi-
go? " ou ainda "Eu não preciso de nenhuma ajuda. Eu consigo resolver isso sozinho."

Sobreposição entre os Processos Patológicos


Você notará que existe uma considerável sobreposição entre esses processos patológicos; da
mesma forma como na flexibilidade psicológica, eles estão todos interconectados. Por exem-
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plo, se seu cliente fica ruminando sobre "Por que sou um fracasso tão grande?" você poderia
classificar isto como fusão ou autodescrição. E se ele passar a noite andando pra cima e pra
baixo ruminando ao invés de fazer algo que melhore sua vida, você poderia classificar isto
como ação disfuncional. E se ele estiver perdido em seus pensamentos enquanto está com sua
mulher e seus filhos, então ele não somente está perdendo contato com o momento presente,
mas provavelmente também terá perdido contato com seus valores sobre se conectar e se en-
volver com os outros. A ruminação também poderia servir como esquiva experiencial se ele
estiver fazendo isso primariamente para evitar pensar sobre ou lidar com problemas doloro-
sos, ou para se distrair de sensações em seu corpo.

PARA QUEM SERVE A ACT?


A ACT foi estudada cientificamente e tem se mostrado efetiva para uma ampla variedade de
condições incluindo ansiedade, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, fobia social, trans-
torno de ansiedade generalizada, esquizofrenia, transtorno da personalidade borderline, estresse
laboral, dor crônica, uso de drogas, ajustamento psicológico ao câncer, epilepsia, controle de
peso, parar de fumar e autogestão da diabetes (Bach & Hayes, 2002; Bond & Bunce, 2000;
Brown et al., 2008; Branstetter, Wilson, Hildebrandt & Mutch, 2004; Dahl, Wilson, & Nilsson,
2004; Dalrymple & Herbert, 2007; Gaudiano & Herbert, 2006.; Gifford et al., 2004; Gratz &
Gunderson, 2006; Gregg, Callaghan, Hayes, & Glenn-Lawson, 2007; Hayes, Masuda, Bissett,
Luoma, & Guerrero, 2004; Hayes, Bissett, et al., 2004; Tapper et al., 2009; Lundgren, Dahl,
Yardi, & Melin, 2008; Ossman & Wilson, 2006; Twohig, Hayes, & Masuda, 2006; Zettle,
2003). Quando os terapeutas me perguntam "Para que a ACT é apropriada?" minha resposta é
"Você consegue pensar em alguém para quem a ACT não é apropriada?" Quem não se benefi-
ciaria em ser psicologicamente mais presente, mais em contato com seus valores, mais capaz de
criar espaço para a inevitável dor da vida, mais capaz de se desfundir de seus pensamentos e
memórias disfuncionais, mais capaz de agir de forma eficaz diante do desconforto emocional,
mais capaz de se engajar completamente no que estiver fazendo, e mais capaz de apreciar cada
momento de sua vida, não importa que estiver sentindo? Flexibilidade psicológica traz todos
esses benefícios, e outros mais. Por isso a ACT parece relevante para praticamente todo mundo.
(É claro, se os seres humanos têm déficits significativos em sua habilidade de usar a lingua-
gem, como algumas pessoas com autismo, lesão cerebral adquirida, ou outras deficiências,
então a ACT poderá ser de uso limitado. No entanto, a RFT (relational frame theory ou teoria
das molduras relacionais tem todo tipo de aplicações úteis para estas populações).
Para ajudá-lo a começar a pensar em termos deste modelo, vou encerrar este capítulo com um
exercício de conceptualização de caso. Gostaria que você selecionasse um de seus clientes e
procurasse exemplos dos seis processos patológicos centrais delineados neste capítulo. Para
ajudá-lo com esta tarefa, por favor use o formulário Avaliando a Inflexibilidade Psicológica:
Seis Processos Centrais. (Você irá encontrá-lo no final deste capítulo. Você também poderá
fazer o download do mesmo – em inglês – em www.actmindfully.com.au.) Se você ficar pre-
so em alguns dos títulos, não se preocupe; simplesmente vá para o item seguinte. Tenha em
mente que existe um monte de sobreposição entre esses processos; assim, se você estiver em
dúvida sobre se "Isto é fusão ou esquiva?" a resposta provavelmente será sim – e neste caso
inclua-a sob ambos os títulos. Este exercício é apenas para fazê-lo começar. Mais adiante nes-
te livro, iremos enfocar a conceptualização de caso mais detalhadamente. Por enquanto, faça
uma tentativa e veja como você se sai.
Melhor ainda, aplique este exercício a uns dois ou três clientes porque (como em praticamente
tudo) com a prática vai ficando mais fácil.
E melhor ainda: se você realmente quiser botar sua cabeça para funcionar com esta aborda-

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gem da psicopatologia humana, selecione dois ou três transtornos do DSM-IV e identifique a
fusão, a esquiva e a ação inviável ocorrendo: Com que tipo de conteúdo mental os pacientes
estão se fundindo (em termos de preocupação, ruminação, autoimagem, crenças autoderrotis-
tas e atitudes)? Que sentimentos, impulsos, sensações, pensamentos e memórias os pacientes
relutam em ter ou ativamente tentam evitar? Que ações inviáveis os pacientes tipicamente
adotam? Com que valores centrais eles perdem contato?
E finalmente, execute este exercício em você mesmo. Se você quer aprender a ACT, a melhor
pessoa para praticar é com você mesmo. Assim dedique algum tempo a isto seriamente: iden-
tifique com o que você se funde, o que você evita, com que valores você perdeu contato, e que
ações inviáveis você costuma tomar. Quanto mais você aplicar este modelo a seus próprios
problemas e observar como ele funciona em sua vida, mais experiência você terá para se valer
no consultório.

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AVALIAÇÃO DA INFLEXIBILIDADE PSICOLÓGICA:
SEIS PROCESSOS CENTRAIS

1. Predomínio do passado ou do futuro conceitual; autoconhecimento limitado: Quanto


tempo o seu/sua cliente gasta detendo-se no passado ou fantasiando/preocupando-se
com o futuro? Com que elementos do passado ou do futuro ele fica obcecado? Em que
medida ele/ela está desconectado dos seus pensamentos, sentimentos e ações ou não
tem consciência dos mesmos?

2. Fusão: Com que tipo de conteúdo cognitivo inútil o seu paciente está se fundindo – regras
rígidas, crenças autolimitantes, críticas e julgamentos, justificações, ter razão, ideias de
desesperança e inutilidade, ou outros?

3. Esquiva vivencial: Que experiências privadas (pensamentos, sentimentos, memórias, etc.)


o seu/sua cliente está evitando? Como ele/ela está fazendo isso? Quão difusa é a evitação
vivencial em sua vida?

4. Apego ao eu conceitual: Qual é o "eu conceitual" de seu cliente? Por exemplo, ele/ela se
vê como inutilizado/estragado/indigno de amor/fraco/burro, etc., ou ele/ela se vê como for-
te/superior/bem-sucedido? Quão fundido/a ele/ela está com esta autoimagem? Ele/ela se de-
fine em termos de seu corpo, ou traço de caráter, ou de uma determinada função, ocupação
ou diagnóstico?

5. Falta de clareza dos valores ou falta de contato com valores: Em relação a que valo-
res centrais o/a cliente não tem clareza ou negligencia ou age de modo inconsistente? (Por
exemplo, valores comumente negligenciados incluem conexão, cuidados, contribuição, au-
tenticidade, abertura, autocuidado, autocompaixão, amorosidade, carinho, viver no presente.)

6. Ação disfuncional: Quais ações impulsivas, evitativas ou autoderrotistas seu/sua cliente


tem adotado? Ele/ela falha em persistir quando uma ação persistente é necessária? Ou con-
tinua de forma inapropriada quando uma ação é ineficaz? Que pessoas, lugares, situações
ou atividades ele/ela está evitando ou se afastando?

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CAPÍTULO 3

A Casa da ACT

POR QUE VOCÊ DEMOROU TANTO, ACT?

Por que demorou tanto para que a ACT se tornasse popular, dado que já em 1986 havia ensaios
clínicos randomizados mostrando que ela era equivalente e até mesmo superior à terapia cogniti-
vo-comportamental tradicional (TCC) para o tratamento da depressão? Steven Hayes, o criador da
ACT, responde esta questão desta forma:
“Se a ACT tivesse se popularizado há vinte anos atrás, ela não teria resistido a uma análise rigoro-
sa. O modelo não estava bem desenvolvido e seus fundamentos eram fracos. Estávamos dispostos
a dispender anos em filosofia, teoria básica, mensurações, e teoria aplicada antes de publicarmos a
abordagem em forma de livro (1999). Mas exatamente por termos esperado e trabalhado nos fun-
damentos, agora, quando as pessoas vão “descascando” as camadas que a envolvem, elas conse-
guem se dar conta do quanto foi feito nas bases da obra." (Hayes, 2008 a.)
Como resultado de todo este trabalho de base, a ACT é agora como o último andar de uma casa
de três andares. No andar logo abaixo, encontraremos a teoria das molduras relacionais (RFT –
Relational Frame Theory), que é uma teoria comportamental da linguagem e cognição humanas.
Depois, no andar térreo, encontraremos a análise comportamental aplicada (ABA – Applied
Behavioral Analysis), um modelo poderoso para a predição e influência do comportamento, que
tem tido um impacto enorme sobre praticamente todos os ramos da psicologia moderna. E o ter-
reno sobre a qual a casa toda repousa é uma filosofia denominada contextualismo funcional (FC –
Functional Contextualism).
Enquanto o restante do livro está focado principalmente na ACT, neste capítulo iremos dar
uma olhada na análise comportamental (ABA), na teoria das molduras relacionais (RFT) e no
contextualismo funcional (FC). Eu não vou conseguir fazer justiça a qualquer um destes tópi-
cos em um capítulo tão curto, e por isso vou apenas lhe dar alguns "gostinhos", na esperança
de que isso irá abrir o seu apetite e estimulá-lo a explorar posteriormente estes temas de uma
forma mais profunda. (Eu espero que os puristas que forem ler este livro me perdoem a lin-
guagem "mais solta" que uso aqui.)
Antes que você continue a ler, cabe lembrar que a ACT é como dirigir seu carro, enquanto
que a teoria das molduras relacionais (RFT), a análise comportamental (ABA) e o contextua-
lismo funcional (FC) representam como o motor de seu carro funciona. Você consegue dirigir
seu carro mesmo sem saber praticamente nada sobre o seu motor – assim, há muitos bons te-
rapeutas ACT que sabem pouco ou nada sobre RFT, ABA e FC. No entanto, se você sabe
algo sobre como o motor funciona, estará melhor equipado e preparado case seu carro sofra
uma pane. Por isso, não é de surpreender o fato de que muitos terapeutas ACT relatam que se
tornaram mais eficazes à medida que foram aprendendo mais sobre RFT, ABA e FC. Por isso,
embora o material apresentado neste capítulo não seja essencial para a prática da ACT, tenho
a esperança de que ele estimule você a explorar para além dele. (Uma palavra de advertência:
há um monte de jargões neste capítulo. Por favor, não permita que isso o leve a postergar ou
abandonar o estudo. Você não terá de lembrar de tudo e, depois desse capítulo, o restante do
livro é virtualmente livre de jargões.)

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CONTEXTUALISMO FUNCIONAL
Vamos começar de baixo para cima, com o contextualismo funcional – a filosofia que subjaz
à ABA, RFT e ACT. Gostaria que você imaginasse uma cadeira que tem quatro pernas. Ima-
gine que algo aconteceu com esta cadeira de forma que, no momento em que alguém senta
nela, uma das pernas cai. Você descreveria esta cadeira como “quebrada”, “defeituosa” ou
“danificada”? Você a chamaria de “cadeira disfuncional” ou até mesmo de “cadeira desadap-
tativa”? Fiz esta pergunta para centenas de terapeutas, e eles sempre responderam sim para
pelo menos uma das descrições acima. O problema é que esta resposta instintiva – “Sim, tem
algo de errado, defeituoso ou falho com esta cadeira” – deixa de levar em consideração o pa-
pel sumamente importante do contexto. Assim, convido você agora a pensar lateralmente:
pense em pelo três ou quatro contextos nos quais podemos dizer que essa cadeira funciona de
forma muito eficaz para servir a nossos propósitos.

* * *
Você conseguiu pensar em algo? Eis aqui alguns nos quais eu pensei:
 Fazer uma brincadeira
 Criar uma mostra de arte de móveis quebrados
 Encontrar adereços para uma apresentação de palhaços ou um show de comédia
 Demonstrar falhas de projeto numa disciplina sobre fabricação de móveis
 Melhorar o equilíbrio, a coordenação e a força muscular (ou seja, tentar sentar-se sem que
a perna se desprenda da cadeira).
 Tentar se machucar no trabalho para conseguir uma indenização.

Em todos estes contextos, esta cadeira funciona de modo muito efetivo para servir aos nossos
propósitos. Este exemplo ilustra como o contextualismo funcional recebe o seu nome: ele
observa como as coisas funcionam em contextos específicos. Do ponto de vista do contextua-
lismo funcional, nenhum pensamento, sentimento ou memória é inerentemente problemático,
disfuncional ou patológico: em vez disso, tudo depende do contexto. Em um contexto que
inclua fusão cognitiva e esquiva experiencial, nossos pensamentos, sentimentos e memórias
muitas vezes funcionam de uma forma que é tóxica e prejudicial, e que desfigura nossa vida.
No entanto, em um contexto que inclui desfusão e aceitação (ou seja, mindfulness) estes
mesmos pensamentos, sentimentos e memórias funcionam de forma muito diferente: eles têm
muito menos impacto e influência sobre nós. Eles ainda podem ser dolorosos, mas já não são
mais tóxicos e prejudiciais, nem conseguem desfigurar nossa vida; e, o que é ainda mais im-
portante, não conseguem nos impedir de viver uma vida baseada em valores.
A maioria dos modelos psicológicos é baseada em uma filosofia chamada "mecanicismo". Os
modelos mecanicistas tratam a mente como se fosse uma máquina feita de muitas partes sepa-
radas. Pensamentos e sentimentos "problemáticos" são vistos como partes defeituosas da má-
quina, ou como erros na estrutura da máquina. O objetivo nestes modelos é consertar, substi-
tuir ou remover estas partes defeituosas, de modo que a máquina possa funcionar normalmen-
te. Os modelos mecanicistas de psicologia partem do pressuposto de que existem coisas como
pensamentos, sentimentos e memórias inerentemente "disfuncionais", "desadaptativos" ou
"patológicos". Em outras palavras, há memórias, pensamentos, sentimentos, emoções, impul-
sos, esquemas, narrativas, estados de ego, crenças centrais, etc., que são fundamentalmente
problemáticos, disfuncionais ou patológicos, e que, de forma análoga à "cadeira defeituosa",
necessitam ser consertados ou removidos.
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O mecanicismo tem sido a filosofia da ciência mais bem-sucedida na maioria dos campos
científicos; por isso, não é surpreendente que a maioria dos modelos em psicologia estejam
baseados em alguma forma de filosofia mecanicista. E não há nada de "errado", "ruim", "infe-
rior" ou "primitivo" com o mecanicismo. Estou meramente enfatizando que o contextualismo
funcional é uma abordagem radicalmente diferente daquelas da corrente predominante, levan-
do naturalmente a uma diferente maneira de fazer terapia.

Produtos Danificados?
Nossos clientes muitas vezes vêm para a terapia com ideias mecanicistas. Eles acreditam que
são defeituosos, danificados ou lesados, e que necessitam ser consertados. Algumas vezes
chegam até mesmo a se referirem a si próprios como "produtos ou mercadorias danificados".
Muitas vezes acreditam que carecem de componentes importantes – tais como "confiança" ou
"autoestima". Ou creem que têm partes defeituosas que necessitam ser removidas – tais como
sentimentos de ansiedade, pensamentos negativos ou memórias dolorosas. A maioria dos mo-
delos mecanicistas facilmente reforça estas noções, através de dois processos:
1) Eles usam palavras que sugerem que temos componentes defeituosos ou danificados
em nossas mentes – por exemplo, termos como "disfuncional", "desadaptativo", “irra-
cional” ou “negativo”.
2) Eles fazem uso de uma ampla variedade de ferramentas e técnicas projetadas para di-
retamente reduzir, substituir ou remover esses pensamentos e sentimentos indesejáveis
(normalmente com base na pressuposição de que isto é um passo essencial para me-
lhorar a qualidade de vida).
Na ACT, nossa atitude é bem diferente. Não nos propomos reduzir ou eliminar "sintomas";
em vez disso, nosso objetivo é fundamentalmente transformar a relação do cliente com seus
pensamentos e sentimentos, de forma que não mais os perceba como "sintomas". Afinal, no
instante em que rotulamos um pensamento ou sentimento como um "sintoma", isto implica
que ele é "ruim", "prejudicial", "anormal", e por isso é algo de que precisamos nos livrar para
sermos normais e saudáveis. Esta atitude facilmente nos induz a uma luta com nossos pensa-
mentos e sentimentos – uma luta que muitas vezes tem consequências desastrosas.
Suponha que existe uma planta que você julga como "feia" e que está crescendo bem no centro
do jardim defronte a sua casa. E suponha também que não há nenhuma forma de você se livrar
dela sem destruir completamente seu jardim. (Você deve estar pensando: "Mas têm de haver
uma maneira de se livrar dessa planta." Se isto estiver ocorrendo, volte e por apenas um minuto
permita-se dar um salto hipotético: imagine, para o propósito deste exercício, que você realmen-
te não consegue se livrar desta planta sem destruir seu jardim). Agora, se você ver essa planta
como uma "erva daninha", o que provavelmente irá acontecer em sua relação com ela? Existem
boas possibilidades de que você não irá gostar dela e nem irá querer que ela permaneça ali. Pro-
vavelmente você irá ficar chateado ou irritado com ela. Você poderá facilmente desperdiçar um
monte de tempo pensando sobre quão melhor o seu jardim ficaria sem essa planta. Você poderá
até mesmo hesitar em deixar as pessoas entrarem em seu jardim com medo de que o julguem
por conta dessa planta. Talvez você até mesmo pode começar a sair pelos fundos de sua casa
para não ter que olhar para essa "erva daninha horrorosa". Em outras palavras, essa "erva dani-
nha horrorosa" tornou-se UMA COISA MUITO IMPORTANTE EM SUA VIDA – tanto as-
sim, que ela agora tem um impacto significativo sobre seu comportamento.
Mas o que aconteceria se em vez de olhar para a planta como uma "erva daninha horrorosa", você
a visse apenas com um fato desafortunado da vida: uma parte natural do meio ambiente nativo,
um exemplo comum da flora nativa americana? Ela continua a ser a mesma planta, na mesma
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localização, mas agora sua relação com ela mudou fundamentalmente. Você já não necessita mais
lutar com ela e não precisa mais ficar perturbado ou envergonhado dela, nem desperdiçar tanto
tempo pensando nela. Agora você pode, sem hesitação, deixar as pessoas entrar em seu jardim
bem como sair de sua casa pela porta da frente. A planta em si mesma não mudou, mas você não
faz mais dela UMA COISA MUITO IMPORTANTE EM SUA VIDA. Ela agora tem bem menos
impacto ou influência sobre você.
A atenção plena nos permite fazer uma mudança de atitude similar em relação a todos aqueles
pensamentos, sentimentos, sensações e memórias que tão prontamente costumamos julgar como
"problemáticos"; permite-nos escolher o tipo de relação que queremos ter com os mesmos. Me-
diante a mudança de um contexto de fusão e esquiva para um de desfusão e aceitação (ou seja,
de atenção plena), alteramos a função destes pensamentos e sentimentos, de modo que tenham
bem menos impacto e influência sobre nós. Em um contexto de atenção plena eles deixam de
ser "sintomas" ou "problemas ou "coisas que nos impedem de viver uma vida rica e plena"; eles
são nada mais e nada menos do que pensamentos, sentimentos, sensações, memórias, etc.
Em certo sentido, a atenção plena é a ferramenta máxima de reenquadramento: ela move todos
estes pensamentos e sentimentos do antigo enquadramento de "sintomas anormais patológicos
que são obstáculos para uma vida rica e significativa" para o novo enquadramento de "experi-
ências humanas normais que são parte natural de uma vida rica e significativa".

Qual é o Objetivo do Contextualismo Funcional?


O objetivo do contextualismo funcional é predizer e influenciar o comportamento, acurada e
efetivamente, usando princípios com suporte empírico. E qual é o propósito de predizer e in-
fluenciar o comportamento? Na ACT, o propósito é especificamente ajudar os seres humanos
a criar vidas ricas, plenas e com sentido; possibilitar um viver consciente e baseado em valo-
res. Desta forma, a ACT ensina as pessoas a aumentarem a consciência de seu próprio com-
portamento (tanto público quanto privado), e notar como ele funciona no contexto de sua vi-
da: ele melhora a qualidade de sua vida, ou a diminui? Você deve estar lembrado de que na
ACT nos referimos a este conceito como "funcionalidade".
Vamos considerar a palavra "função" por um momento. Trata-se de um termo técnico (não é
um termo que se utiliza com clientes) que você encontrará na maioria dos livros-texto da
ACT. Quando perguntamos "Qual é a função deste comportamento?" queremos dizer "Que
efeitos tem este comportamento? Quais são as consequências?" Em outras palavras, estamos
perguntando "A que propósito este comportamento serve? O que ele objetiva alcançar?"
Para tornar isto mais claro, imagine cinco pessoas diferentes, em cinco situações diferentes,
cada uma delas fazendo cortes ao longo de seu antebraço com uma faca afiada. Agora veja se
você consegue encontrar cinco funções possíveis para este comportamento.

* * *
Eis algumas possibilidades:
 Conseguir atenção
 Autopunição
 Liberar tensão
 Distração de emoções dolorosas
 Criar arte corporal
 Tentar sentir algo se você está "totalmente entorpecido"
 Tentar ser admitido em um hospital

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Note que em todos esses cenários a forma do comportamento é a mesma – cortar-se no próprio
braço – mas a função do comportamento (o propósito ao qual ele serve) é diferente.
Agora vamos supor que seu parceiro está perdido em seus pensamentos, e seu propósito é conse-
guir a atenção dele; pense em cinco diferentes formas de comportamento que podem ajudá-lo a
alcançar este propósito.

* * *
Aqui vão algumas ideias:
 Acenar para ele
 Gritar "Alô, tem alguém aí dentro?"
 Derramar um copo de água sobre sua cabeça
 Bater com força em algum móvel
 Dizer "Querido, posso ter sua atenção por um momento, por favor?"
Neste exemplo, você pode ver que muitas formas diferentes de comportamento têm todas a mes-
ma função: elas têm como propósito conseguir atenção. No contextualismo funcional estamos
interessados na função de um comportamento em vez de na sua forma. Mas note que somente
podemos conhecer a função de um comportamento se conhecermos o contexto no qual ele ocorre.
Se alguém levanta o seu braço bem alto no ar, a que propósito isto se destina? Será que ele está
em uma sala de conferência, fazendo uma pergunta? Está apontando para um avião no céu? Ou
talvez tentando chamar um táxi? Sem conhecermos o contexto, não conseguiremos saber a função
do comportamento – e vice-versa. E isto levanta uma outra questão: o que entendemos por "com-
portamento"?

"BEHAVIORISMO": UMA PALAVRA MAL-COMPREENDIDA


Quando eu descobri a ACT pela primeira vez, não conseguia acreditar que este modelo era
proveniente do behaviorismo. Eu pensava que os behavioristas tratavam os seres humanos
como robôs ou ratos; que eles não tinham nenhum interesse em pensamentos e sentimentos e
os consideravam não importantes ou irrelevantes. Rapaz, como eu estava errado! Logo desco-
bri que há várias diferentes escolas de behaviorismo, e algumas delas têm ideias que contradi-
zem diretamente elementos essenciais da ACT e da RFT. A ACT provém de um ramo conhe-
cido como "behaviorismo radical". Mas não permita que o nome lhe engane. Behavioristas
radicais recebem o seu nome devido a sua visão radical de comportamento: eles consideram
comportamento tudo o que um organismo faz. Sim, você leu corretamente: tudo o que um
organismo faz é comportamento. Assim, para um behaviorista radical, processos tais como
pensar, sentir, e recordar são todos considerados como sendo formas de comportamento – e
todos são considerados muito importantes.
Os behavioristas radicais falam de dois grandes reinos ou domínios do comportamento. Um
domínio é o comportamento "público" – ou seja, o comportamento que pode ser diretamente
observado por outros (desde que estejam presentes para testemunhá-lo). Assim, se víssemos
um vídeo de você, tudo o que pudéssemos ver você fazendo ou ouvir você dizendo seria com-
portamento público. Na linguagem cotidiana, referimo-nos a este comportamento público
como "ações". O outro domínio é o comportamento "privado" – ou seja, o comportamento que
somente pode ser diretamente observado pela pessoa que o faz: pensar, sentir, relembrar, fan-
tasiar, preocupar-se, degustar, cheirar, etc. Os behavioristas radicais se interessam muito por
ambos estes reinos ou domínios do comportamento.

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O behaviorismo tem exercido um profundo impacto sobre a psicologia clínica. Através de
estudos científicos rigorosos, os behavioristas descobriram um amplo espectro de métodos
poderosos para influenciar de forma confiável e efetiva o comportamento humano (tanto pú-
blico quanto privado): métodos que incluem exposição, reforço, modelação, extinção, e con-
dicionamento clássico e operante. Muitos modelos de terapia foram extremamente influencia-
dos por estas ideias – embora muitas não o reconheçam, ou mesmo se deem conta disso. De
fato, é difícil imaginar um terapeuta ou treinador eficaz que não utilize pelo menos alguns
desses princípios básicos, uma vez que os mesmos se têm se provado muito eficazes para faci-
litar a mudança de comportamento.
Muitas dessas ideias tiveram também uma influência enorme na vida diária. Por exemplo, em
programas de liderança empresarial, gerentes são aconselhados a notar seus colegas "fazendo
algo corretamente" e elogiá-los de forma sincera por isto. Da mesma forma, em programas de
educação de pais, estes são aconselhados a ativamente notar quando seus filhos estão se com-
portando bem, e recompensá-los por isto de alguma forma. Este conselho sadio é baseado no
poderoso princípio comportamental do reforço positivo.

As Três Ondas do Behaviorismo


Houve três "ondas" de terapias comportamentais (ou behavioristas) no último século. A "pri-
meira onda", que alcançou seu pico de popularidade nos anos cinquenta e sessenta, focou-se
primariamente na mudança comportamental ostensiva e utilizou técnicas vinculadas aos princí-
pios dos condicionamentos clássico e operante. (Muitos praticantes nesta primeira onda não
atribuíram muita importância aos pensamentos e sentimentos. Infelizmente isto levou a que
todos os behavioristas, indistintamente, fossem tachados de tratar os seres humanos como ratos
ou robôs.) A "segunda onda" do behaviorismo, que emergiu nos anos setenta, inclui interven-
ções cognitivas como estratégias chave na mudança comportamental. Em particular, a "segunda
onda" colocou uma ênfase maior em desafiar ou combater pensamentos irracionais, disfuncio-
nais, negativos ou errôneos, substituindo-os por pensamentos mais racionais, funcionais, positi-
vos ou realistas. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) finalmente veio a dominar esta
"segunda onda", seguida de perto pela terapia racional-emotivo-comportamental (TREC).
A ACT é uma das assim chamadas terapias comportamentais de "terceira onda" – juntamente
com a terapia comportamental dialética (DBT), a terapia cognitiva baseada em mindfulness
(MBCT), a terapia analítico-funcional (FAP), e várias outras – todas as quais colocam uma
ênfase maior na aceitação e na atenção plena (mindfulness). E agora que terminamos o passeio
histórico, vamos explorar o andar térreo da mansão da ACT: a análise comportamental apli-
cada (ABA).

ABA: ANÁLISE COMPORTAMENTAL APLICADA


A análise comportamental é uma poderosa tecnologia para predizer e influenciar o compor-
tamento, baseado na teoria da aprendizagem e princípios comportamentais básicos. Neste ca-
pítulo apenas daremos uma olhada breve em uma das mais poderosas ferramentas da análise
comportamental: a "análise comportamental funcional". O que isto significa é que iremos dar
uma olhada no comportamento, e analisar a função do mesmo. Em outras palavras, nós nos
fazemos a seguinte pergunta: "A serviço de que propósito está este comportamento?". Existe
uma fórmula simples, conhecida como ABC, para nos ajudar a fazer isto: Antecedente –
Comportamento (Behavior) – Consequência.
O A representa os antecedentes: "O que acontece antes do comportamento e que desempenha
um papel maior em influenciar o mesmo?" Ou, dizendo de outra forma: "Este comportamento

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ocorre na presença de quê?" Os antecedentes podem incluir pensamentos, sentimentos, memó-
rias ou outras experiências privadas, além de estados físicos como doenças, fome ou fadiga,
bem como fatores ambientais tais como a disponibilidade de drogas ou álcool. O B representa o
comportamento (behavior) – especificamente, o comportamento que estamos analisando. O C
representa as consequências do comportamento: "Que efeitos este comportamento tem sobre o
eu, os outros, ou sobre o ambiente? O que acontece como resultado deste comportamento?"
Quando conhecemos o A e o C, podemos então determinar a função do comportamento (ou
seja, o efeito dele ou o propósito dele). Eis um exemplo simples de uma análise ABC:
Antecedentes: sentimentos de ansiedade e tristeza, pensamento tais como "Sou um fracassado"
e "a vida é uma droga", fatores ambientais incluindo a TV, a geladeira cheia de cerveja, e estar
sozinho.
Comportamento: assiste TV e bebe grandes quantidades de cerveja até adormecer, intoxicado
Consequências: a) curto prazo: alívio de pensamentos e sentimentos dolorosos b) longo prazo:
prejudica a saúde física, aumenta a dor emocional
Na ACT, frequentemente solicitamos a nossos clientes que façam uma análise ABC do compor-
tamento problemático como um primeiro passo rumo à mudança do mesmo. Não usamos ter-
mos técnicos, no entanto. Eis um exemplo de como uma análise de comportamento funcional
seria na prática:
Terapeuta: Então, você está em casa, sozinho, sentindo-se muito mal, e sua mente começa
a dizer para você "Sou um fracassado" (Antecedentes). E o que acontece então?
Cliente: O que você quer dizer?
Terapeuta: Bem, suponha que nós seguimos você com uma equipe de vídeo e gravamos
tudo o que você fez. O que eu veria neste vídeo que me faria saber que você foi
fisgado pela história do "Sou um fracassado"?
Cliente: Hmmm. Eu acho que... bem... acho que você me veria andando para cima e
para baixo um pouco, ou talvez jogado no sofá (Comportamento).
Terapeuta: E depois?
Cliente: Hmm. Bem, depois você iria me ver indo até a geladeira e pegar uma cerveja
(Comportamento).
Terapeuta: E depois disso?
Cliente: Então eu tomaria a cerveja (Comportamento).
Terapeuta: E aí?
Cliente: E aí eu continuaria a beber até desmaiar no sofá (Consequência)
Terapeuta: E isso faz você se livrar de todos aqueles pensamentos e sentimentos dolorosos?
Cliente: Sim, mas só enquanto estou bêbado.
Terapeuta: Ok, então ficar bêbado faz você se sentir melhor por algum tempo (Consequên-
cia – curto prazo). Como você se sente na manhã seguinte?
Cliente: Uma bosta! (Consequência – longo prazo)
Terapeuta: Ressaca?
Cliente: Ohhh sim! Uma bem forte.
Terapeuta: E aqueles pensamentos – "Sou um fracassado", "A vida é uma bosta", e outros

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do mesmo naipe – eles voltam?
Cliente: Oh sim. E voltam até piores do que antes. (Consequência – longo prazo)
Terapeuta: Não é interessante? Você se sente péssimo, sua mente o chama de fracassado
(Antecedentes) e você decide ficar bêbado (Comportamento). E no curto prazo
isto dá a você um pouco de alívio daqueles pensamentos e sentimentos dolorosos
(Consequências – curto prazo). Mas a longo prazo, na verdade você acaba se
sentindo pior do que antes (Consequências – longo prazo).
No exemplo acima, a análise ABC mostra claramente a função do comportamento: proporcio-
nar alívio dos pensamentos e sentimentos dolorosos. Ou, usando a terminologia da ACT, a ação
de beber deste cliente é motivada por esquiva experiencial.
Conhecer o ABC de um comportamento nos dá bastante material sobre o qual trabalhar. Assim,
no que se refere ao exemplo acima, poderíamos trabalhar sobre como responder de forma dife-
rente aos pensamentos e sentimentos antecedentes, usando desfusão e aceitação. Poderíamos
também remover um antecedente ambiental: por exemplo, poderíamos nos certificar de que não
houvesse cerveja na casa. Alternativamente, poderíamos também focar nas consequências. Por
exemplo, poderíamos apresentar ao cliente a noção de funcionalidade: "A curto prazo, ficar
bêbado faz você se sentir um pouco melhor, mas a longo prazo, ajuda você a aprimorar e enri-
quecer sua vida? Será que conduz a sua vida na direção que você quer?
Poderíamos, então, explorar e clarificar os valores do cliente, e levá-lo a propor mais algumas
atividades consistentes com seus valores para fazer em suas noites, em vez de beber até esque-
cer da vida como, por exemplo, assistir a uma aula noturna ou jogar tênis. Espera-se que os va-
lores do cliente possam agora se tornar antecedentes para um comportamento novo e mais efi-
caz – ou seja, um comportamento que tem mais consequências que contribuem para a melhoria
da qualidade de vida do que comportamento antigo. Em termos ideais, o cliente será então re-
compensado pelas consequências positivas deste seu novo comportamento, e isto irá aumentar a
chance de que ele volte a adotar estes comportamentos mais vezes no futuro (ou seja, reforça-
mento positivo).
À medida que você for lendo as transcrições de extratos de sessões de terapia neste livro, você
verá que existe uma grande dose de análise comportamental sendo realizada. Isto é mais eviden-
te quando começamos a falar sobre funcionalidade. Claro, existe mais análise comportamental
do que isto, mas infelizmente não teremos tempo para isso; temos que avançar para o próximo
andar.

RFT: TEORIA DAS MOLDURAS RELACIONAIS


Minha sogra é natural do sul da Itália e ela cultiva frutas e legumes incríveis. Lembro-me
ainda da primeira vez em que ela me deu um limão que ela havia cultivado: enorme, brilhante,
de cor amarelo-dourado, como o sol. E um delicioso aroma muito picante. À medida que eu
deslizava gentilmente meus dedos sobre a superfície do mesmo, eu podia sentir cada pequena
covinha na superfície. Então peguei o limão, cortei-o ao meio, ergui-o, abri a minha boca e
espremi o suco de limão fresco bem sobre a ponta de minha língua.
Enquanto você lia o parágrafo anterior, o que você notou em termos psicológicos? Será que
você "viu" um limão, ou sentiu o "cheiro", o "toque" ou o "sabor" dele? A sua boca salivou
um pouco? Diga a palavra "limão" para si mesmo e observe o que aparece psicologicamente,
na forma de imagens, cheiros, sabores, memórias, emoções e palavras. Por favor, faça-o ago-
ra, antes de continuar a leitura.
O que você observou? Cheiros? Sabores? Textura da casca? Cores? Limonada? Torta de li-
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mão? Bolo de limão? Limoeiros? Memórias, sentimentos ou pensamentos sobre limões? Um
limão inteiro ou um limão fatiado? Na RFT nos referimos a todas essas experiências privadas
como "eventos". Assim, quando falamos sobre um "evento", estamos nos referindo a qualquer
experiência privada que um ser humano pode ter: um pensamento, um sentimento, uma me-
mória, ou qualquer coisa que você pode ouvir, tocar, saborear ou cheirar. Dessa forma, cada
vez que você vê, ouve ou pensa a palavra "limão", isto é um evento. E quando você sente a
fragrância de um limão, ou mastiga e sente o sabor de um limão, isto são eventos. No exercí-
cio acima, você descobriu que a palavra "limão" está relacionada a muitos eventos diferentes,
tais como sabores, cheiros, sensações, memórias, pensamentos e imagens.

Limões, Limões, Limões


Agora vamos tentar algo diferente: diga a palavra "limão" em voz alta, tão rapidamente quanto
possível, por trinta segundos. (Observação: Você tem de fazer isso em voz alta ou não irá funci-
onar. Se você está lendo isso em um avião, vá até o banheiro e faça como recomendado, antes
de continuar a leitura.) Enquanto o fizer, observe o que acontece.

* * *
Para a maioria de nós, no prazo de trinta segundos de repetição, a palavra perde todo o seu sig-
nificado. Em vez disso, torna-se um som estranho: lem-ão. Ao mesmo tempo, todas as imagens,
gostos, cheiros, pensamentos e memórias que estavam previamente relacionadas com este som,
desaparecem. (Este exercício é conhecido como Repetição de Titchener, em homenagem ao
psicólogo que observou este efeito: Titchener, E. B., 1916).
Quando você ainda era um bebê ou uma criança pequena, nas primeiras vezes em que ouviu o
som lem-ão ele era mais ou menos parecido com o da sua experiência neste último exercício.
Nesse ponto em sua vida, lem-ão não tinha qualquer significado para você; era simplesmente
um som que você podia ouvir e você não conseguia ainda relacionar esse som com outros even-
tos tais como o sabor, o cheiro, a textura, a forma ou a cor dessa fruta.
Bem, o que aconteceu a você de lá para cá? Há muitos anos lem-ão era apenas um ruído. Mas
agora você relaciona o som lem-ão a muitos outros eventos; ele se tornou parte de uma vasta
rede relacional que inclui não apenas os aromas, sabores, texturas e cores de limões, mas tam-
bém pensamentos, imagens, sentimentos e memórias sobre limonadas, tortas de limão, bolos de
limão, limoeiros, limões inteiros, limões fatiados, limões de plástico e assim por diante. Como
você aprendeu a fazer isso? A RFT fornece as respostas.

Aprendendo Linguagem
Desde o momento em que você nasce, as pessoas com as quais você convive começam a ensi-
ná-lo a usar a linguagem deles. Inicialmente, eles fazem isto falando com você, o que faz com
que você se familiarize com os sons de sua linguagem. Depois, à medida que você vai crescen-
do, eles o encorajam a fazer sons semelhantes por si próprio. Inicialmente estes sons se relacio-
nam com o mundo fora de você, como, por exemplo, "mamãe" e "papai" e "mamá". Entretanto,
você rapidamente aprende a relacionar estes sons com o mundo dentro de você: com sabores,
cheiros, sentimentos, sensações e desejos (por exemplo, "fome", "sede", "gostoso", "caca", "do-
dói", "quer", "não quer", "sim", "não).
E não são apenas os sons que eles encorajam você a imitar, mas também gestos e expressões
faciais – por exemplo, enrugar seu rosto quando algo tem gosto de "caca", ou bater palmas para
mostrar sua aprovação a algo. Ao mesmo tempo, através do uso de livros, desenhos e fotografi-
as, eles lhe ensinam como relacionar imagens com sua experiência: ou seja, eles ensinam você a

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relacionar uma fotografia ou desenho de um cachorro com um cachorro real, ou uma fotografia
de uma criança chorando com seus próprios sentimentos de tristeza.
É claro que muitos animais são capazes de relacionar eventos desta maneira. Por exemplo, al-
gumas espécies de macacos conseguem fazer mais de vinte gritos de alerta diferentes: ou seja,
diferentes sons relacionados com formas específicas de perigo, de águias aos leopardos e ao
fogo. Da mesma forma, você pode facilmente ensinar o seu cão que o som "passeio" refere-se a
ir para uma caminhada, ou o som "dindins" relaciona-se com o jantar sendo servido. Mas quan-
do a criança chega na idade de 14 a 16 meses, a linguagem humana começa a se diferenciar
fundamentalmente da linguagem de todos os outros animais. Como assim? Porque os seres hu-
manos aprendem a fazer algo chamado de "relações derivadas". Eu percebo que não parece algo
muito excitante, mas peço a você que mantenha a leitura de qualquer maneira. No final do capí-
tulo, você verá como isso é clinicamente relevante.

Relações Derivadas: O Que Isso Realmente Significa?


Estou prestes a lhe ensinar dois fatos absolutamente fascinantes.
Fato 1: A palavra em francês para limão é "citron".
Fato 2: A palavra em finlandês para "citron" é "sitruuna".
Agora eu lhe ensinei diretamente duas relações simples: 1) limão  citron; 2) citron  sitruuna.
A partir destas duas relações treinadas diretamente, você consegue agora derivar mais quatro
relações sem qualquer treinamento adicional da minha parte. Não aceite minha palavra, verifi-
que por si mesmo; responda a estas quatro questões:
Qual é a palavra em finlandês para limão?
Qual é a palavra em francês para sitruuna?
Qual é a palavra em português para sitruuna?
Qual é a palavra em português para citron?
Percebe? Eu apenas lhe ensinei diretamente duas relações, mas você derivou quatro adicionais.
Agora você provavelmente deve estar pensando "E daí? Qual é o problema?"
E isso não é surpreendente, porque a nossa capacidade de derivar essas relações parece tão ridi-
culamente fácil, que tomamos isto como certo. Por exemplo, se eu lhe disser que um canguru é
maior do que um wombat, você imediatamente irá derivar que um wombat é menor do que um
canguru. Se eu te disser que Max é meu filho, você instantaneamente irá derivar que eu sou o
pai de Max. Derivar estas relações parece tão natural e espontâneo que fica difícil imaginar que
poderia ser de outra forma. Entretanto, você possui esta habilidade somente porque quando você
era uma criança pequena, os seres humanos do seu grupo social lhe deram muitos e muitos trei-
namentos em como fazer isso. (Se você tivesse sido criado por lobos tal como Mogli no Livro
da Selva, ou por macacos como Tarzan, então você jamais teria desenvolvido a capacidade de
fazer isto, e você teria crescido, pelos padrões humanos, como alguém com deficiência mental
grave.)
Eis um exemplo de como este treinamento acontece. Vamos supor que Joãozinho tem um ano
de idade, e por isso ele ainda não aprendeu a derivar relações. Um dia, sua mãe lhe mostra uma
gravura com três criaturas mágicas: uma sereia, um dragão e um grifo. Joãozinho nunca viu
nenhum desses animais antes. Sua mãe aponta para o grifo e diz: "Isso é um grifo. Você conse-
gue dizer "grifo"?
Joãozinho diz "grifo".

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Sua mãe então diz: "menino inteligente". Ela acabou de treinar diretamente uma relação: gravu-
ra de um grifo  o som "grifo". Depois a sua mãe diz: "Mostre-me o grifo".
Neste ponto de sua vida, só há uma chance em três de que Joãozinho vai apontar para o grifo;
ele tem a mesma probabilidade de apontar para o dragão ou a sereia. Se por acaso ele acerta, a
mãe diz, "Menino inteligente. Isso é um grifo." Se ele erra, ela diz:" Não. Este é o grifo". De
qualquer forma, ela está treinando diretamente uma segunda relação: o som "grifo"  a imagem
de um grifo.
A mãe em seguida passa a fazer o mesmo com o dragão. Primeiro: "Isso é um 'dragão'. Você
consegue dizer 'dragão'? Menino inteligente. " Depois ela diz: "Agora me mostre o dragão."
Finalmente, ela diz: "É isso mesmo. Menino inteligente" ou "Não, esse aqui é o dragão."
Então, aqui novamente a mãe dele treina diretamente duas relações:
1) gravura de um dragão  o som "dragão";
2) o som "dragão"  gravura de um dragão.
Até aqui, parece algo bem monótono – mas em breve esta situação irá mudar dramaticamente.
Dentro de dois a quatro meses a mãe de Joãozinho já não precisará dar a ele todo esse treina-
mento direto nas relações. Veja bem, uma vez que as crianças humanas alcançam catorze a de-
zesseis meses de idade (partindo do pressuposto que elas tiveram uma educação humana nor-
mal, com muita prática de relacionar eventos desta maneira), eles começam a derivar relações
espontaneamente. Por exemplo, suponha que a mãe mostra a seu Joãozinho de dezesseis meses
de idade uma imagem com três animais exóticos que ele nunca viu antes: um tatu, um porco-
espinho, e um porco da terra. A mãe dele aponta para o porco da terra, e diz: "Isso é um 'porco
da terra'. Você consegue dizer 'porco da terra'? "
Joãozinho diz: "Porco da terra". Sua mãe diz então: "Menino inteligente. Agora me mostre o
'porco da terra'."
Joãozinho irá agora apontar para o porco da terra com 100% de exatidão, e não para os outros
dois animais. Sua mãe o treinou diretamente que a gravura de um porco da terra se relaciona
com o som "porco da terra" (gravura de um porco da terra  o som "porco da terra") e Joãozi-
nho então espontaneamente derivou que o som se relaciona com a gravura (o som "porco da
terra"  gravura de um porco da terra).
A habilidade de derivar relações espontaneamente separa os seres humanos de todos os outros
animais. Não-humanos não conseguem aprender a derivar relações espontaneamente nesta for-
ma – nem mesmo com treinamento intensivo. Sim, nem mesmo aqueles inteligentes chimpan-
zés "treinados em linguagem" conseguem fazê-lo. (Dugdale and Lowe, 2000).
"Sim, sim, sim," ouço você dizer enquanto educadamente tenta abafar um grande bocejo, "então
os humanos podem derivar relações e outros animais não podem. E daí? O que há de tão especi-
al nisso?" Boa pergunta.

O que há de tão especial nisso?


Sua capacidade de derivar relações lhe permite expandir o seu conhecimento rápida e dramati-
camente. Entre os catorze e dezesseis meses de idade, a derivação de relações está limitada a
reversões simples, como no exemplo do porco da terra (ou seja, da aprendizagem direta de A =>
B a criança deriva B => A). Mas quando a criança se encontra na faixa que vai dos 22 aos 27
meses, ela aprende a combinar estas relações derivadas (Lipkens, Hayes, e Hayes, 1993) e as
consequências são dramáticas. Para ilustrar isso, aqui está mais um fato reluzente para você:
Fato 3: "Limone" é a palavra em italiano para limão.
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Armado com esta nova relação (limone  limão), você agora pode responder todo tipo de per-
guntas, tais como: Qual é a palavra em italiano para "sitruuna"?
Qual é a palavra em italiano para "citron"?
Qual é a palavra em finlandês para "limone"?
Qual é a palavra em francês para "limone"?
E assim por diante. Note que de forma direta só lhe ensinei três relações até agora: 1) limão 
citron, 2) citron  sitruuna, e 3) limone  limão. No entanto, a partir destas três relações dire-
tamente treinados, você consegue, através da combinação de suas relações derivadas, gerar im-
pressionantes nove novas relações sem qualquer outro treinamento adicional. Portanto, esta
habilidade lhe permite gerar rapidamente vastas redes relacionais.
Para enfatizar ainda mais este ponto, suponha que eu lhe ensine outra relação:
1) uma goiaba é mais cara que um limão.
A quantidade de novas relações que você pode derivar agora (quando você combina esta com
as três anteriores nas quais eu lhe treinei diretamente) é agora de dezesseis! Vou lhe dar ape-
nas alguns exemplos: 1) uma goiaba é mais cara que uma sitruuna, 2) uma goiaba é mais cara
que um limone, 3) um citron é mais barato que uma goiaba, 4) uma sitruuna é mais barata que
uma goiaba.
Você deve ter notado uma fórmula aqui. Aprender diretamente 3 relações permite derivar 9
novas relações; aprender diretamente 4 relações, permite derivar 16 novas. Se o número de rela-
ções que você aprende diretamente é X, o número que você pode derivar é X ao quadrado. En-
tão, se você aprender diretamente cem novas relações, então você pode derivar dez mil de ou-
tras novas. E se você aprender diretamente mil novas relações, então você pode tirar um milhão
de outras novas!
Esta habilidade de derivar relações e expandi-las numa vasta rede relacional é vitalmente im-
portante para a linguagem e cognição humanas. Ela nos permite gerar um número infinito de
novos pensamentos bem como aprender sobre todo tipo de coisas sem a necessidade de expe-
riência direta das mesmas. Mas há uma peça a mais deste quebra-cabeça ainda por vir, conhe-
cida como – vejam só – a "transformação das funções de estímulo". Sim, eu sei que soa como
se fosse algo de Star Trek, mas na verdade não é tão complexa quanto parece. "Estímulo"
significa simplesmente qualquer coisa a que um organismo responde. E quando falamos sobre
as "funções" de um estímulo, queremos dizer "os efeitos que este estímulo tem sobre o orga-
nismo que responde a ele".
Então vamos supor que você morda um limão. (Você já deve estar se cansando de limões.) As
funções de estímulo desse limão (ou seja, os efeitos que limão tem em você) incluem o gosto
e o cheiro que você sente, a saliva que sua boca produz, os movimentos de sua língua e den-
tes, e o pensamentos e sentimentos que aparecem. Costumamos usar somente a palavra "fun-
ções", em vez da expressão completa "funções de estímulo". Então onde é que entra a parte
que se refere à "transformação"?

Transformação de funções
Diga a palavra "zubuma" para si mesmo, e note o efeito que isto tem sobre você. Não muito,
eu apostaria - exceto, talvez, o de estimular alguma curiosidade ou diversão. O fato é que você
provavelmente não sabe que uma zubuma é uma fruta tropical rara. A zubuma tem aparência
e gosto muito parecido com um limão, exceto que é cerca de três vezes maior. Agora imagine
o seguinte cenário tão vividamente quanto você pode: você pega uma zubuma, corta-a ao

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meio, abre a boca, e espreme todo o suco daquela zubuma diretamente sobre a sua língua.
Imagine sua boca se enchendo com todo aquele suco de zubuma fresco. E você continua es-
premendo e espremendo aquela zubuma, até que sua boca esteja literalmente transbordando.

* * *
O que aconteceu quando você leu aquelas últimas poucas linhas? Existe uma boa chance de que
você tenha salivado ou tenha sentido um formigamento na língua, ou ainda que tenha sentido
um picante sabor cítrico em sua boca. Desta forma a palavra "zubuma" começou a ter alguns
efeitos sobre você semelhantes àqueles que um limão real iria produzir.
Este processo é conhecido como uma "transformação de funções". Por quê? Porque as funções
da palavra "zubuma" (ou seja, os efeitos que ela tem sobre você) se transformaram (mudaram).
A palavra "zubuma" tem agora algumas das funções de um limão real (ou seja, ela afeta você
até certo ponto como faria um limão real).
A propósito, não existe tal coisa como uma zubuma; inventei a palavra para os propósitos deste
exercício. E, como resultado da leitura deste capítulo, você aumentou o número de eventos na
vasta rede relacional ligada à palavra "limão"; especificamente, você adicionou em "citron",
"sitruuna", "limone" e "zubuma". E todas estas novas palavras terão agora algumas das funções
de um verdadeiro limão.

Juntando Tudo
Este comportamento humano único de: a) derivar relações entre eventos, b) agrupá-las em
vastas redes relacionais, e c) transferir funções entre os eventos relacionados, é conhecido na
RFT como "enquadramento relacional". A RFT propõe que o enquadramento relacional é a
base da linguagem e cognição humanas.
E qual é a relevância clínica de tudo isso? Da mesma forma que eu posso relacionar a palavra
"limão" a um pedaço de fruta, também posso relacionar as palavras "nojento", "inútil" a mim
mesmo. E no momento em que faço isto, algumas das funções de "nojento" e "inútil" serão
transferidas para mim.
Vamos pegar um outro exemplo. As palavras "minha vida" fazem parte de uma rede relacional
gigantesca. Elas estão relacionadas com um número incontável de eventos, incluindo todos os
tipos de pensamentos, sentimentos e memórias sobre tudo, desde o meu trabalho e minha vida
social até a minha saúde e minha família. Agora suponha que eu relacione as palavras "horrível"
e "inútil" com as palavras "minha vida". Quando faço isso, algumas das funções de "horrível" e
"inútil" serão transferidas transversalmente. Essas funções serão transferidas não só para as pa-
lavras "minha vida", mas também para todos os eventos dentro dessa vasta rede relacional. En-
tão, agora, tudo na minha vida parece horrível e sem sentido. Você, sem dúvida, já notou esse
tipo de enquadramento relacional em seus clientes deprimidos.
Na linguagem cotidiana, nos referimos ao enquadramento relacional como "pensar", "cogni-
ção", "linguagem humana" ou "a mente". O enquadramento relacional nos dá uma enorme van-
tagem como uma espécie. Ele nos permite analisar, conversar, planejar, imaginar, comparar,
inventar, resolver problemas, e assim por diante. No entanto, como discutimos anteriormente, a
nossa mente é uma faca de dois gumes. Uma vez que tenhamos adquirido a habilidade do en-
quadramento relacional, é como se ele assumisse uma vida própria – e à medida que envelhe-
cemos, vivemos cada vez mais dentro do mundo da linguagem e nos afastamos do mundo da
experiência direta. E é aqui, é claro, onde ACT vem para nos socorrer.

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Fim do passeio
Estamos agora de volta no andar superior da casa da ACT. Se consegui aguçar o seu apetite por
mais conhecimento, recomendo que você leia The ABCs Of Human Behavior: Behavioral
Principles For The Practicing Clinician escrito por Jonas Ramnero e Niklas Törneke. Trata-se
de um livro excelente que leva você passo a passo, de forma simples e clara, através dos deta-
lhes da FC, da ABA e da RFT, amarrando-os todos juntos com ACT através de numerosos
exemplos clínicos e transcrições comentadas de terapia. Há também um tutorial online gratuito
sobre RFT, disponível em: www.contextualpsychology.org
Espero que este passeio não tenha deixado você exausto. Se deixou, porque não descansar um
pouco? Você merece. Afinal de contas, você acaba de ter sido fortemente bombardeado por
um grande número de termos técnicos, muitos dos quais podem ser novos para você. E isso
não é realmente o que você espera de um livro chamado "ACT Simplificada". Por isso, a cer-
teza: o restante do livro faz jus ao seu título. Então, vamos nos ver no próximo capítulo, de-
pois de ter descansado!

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CAPÍTULO 4

Tornando-se Vivencial

MENOS CONVERSA, MAIS AÇÃO: A ACT COMO UMA TE-


RAPIA VIVENCIAL
A ACT é uma terapia muito ativa. Conduzimos os clientes através de um amplo espectro de exer-
cícios vivenciais, com intervalos de duração que vão de dez segundos até meia hora. Agora, se
você já é bem versado em terapia vivencial, pode levar isso na esportiva. Entretanto, para muitos
praticantes, a ideia de conduzir este tipo de exercícios não somente é desafiadora, mas também
assustadora. Por isso, neste capítulo, iremos dar uma olhada em como ambientar clientes com a
natureza vivencial da ACT, e como desenvolver sua habilidade para conduzir estes exercícios.

A Prova do Pudim
Existe um antigo ditado que diz que “a prova do pudim está em comê-lo”. Você pode falar o
quanto quiser, tentando descrever o pudim que você quer que eu experimente, mas até eu não
colocá-lo em minha boca, não terei como saber qual é o sabor dele. Uma das armadilhas com que
nos defrontamos quando estamos começando a usar a ACT é tentar descrever ou explicar proces-
sos da ACT em vez de realmente praticá-los. Se não tivermos cuidado, podemos facilmente nos
atolar em conversas prolixas e desperdiçar muito tempo em discussões intelectuais em vez de
fazer algo que é prático ou útil.
Por causa disso, é melhor passar por um processo vivencialmente e então falar sobre ele mais
tarde, em vez de fazer o contrário. E se você escolher explicar um exercício antecipadamente,
então faça isso de preferência através de uma metáfora; vou lhe dar muitos exemplos à medida
que avançarmos.

Uma Rápida Observação sobre a Relação Terapêutica


Ao longo deste livro, você irá se deparar com muitas técnicas, metáforas, planilhas, estratégias e
outras intervenções. Nenhuma destas será efetiva se você não tiver uma boa relação com seu cli-
ente. Na ACT, nosso objetivo é estarmos totalmente presentes com nossos clientes: abertos, au-
tênticos, plenamente atentos, compassivos, respeitosos, e em contato com nossos valores funda-
mentais. Em outras palavras, objetivamos viver e respirar a ACT nós mesmos, e passá-la aos cli-
entes com coração e alma em vez de fria e mecanicamente como se estivéssemos usando um kit
de ferramentas imaginário.
Kelly Wilson, um dos pioneiros da ACT, coloca isso de forma muito simples. Ele nos aconselha a
ver nossos clientes como se fossem um por do sol e não um problema de matemática. E ele nos
lembra que não fazemos intervenções para os clientes – fazemos intervenções com os clientes.
Como parte dessa postura respeitosa para com os nossos clientes, repetidamente solicitamos a sua
permissão para iniciar e/ou continuar com exercícios vivenciais. Podemos, por exemplo dizer o
seguinte: “Estava me lembrando de que existe um exercício que acredito que poderia ser muito
útil em lhe ajudar a lidar com essa questão. Você estaria disposto a tentá-lo? ”
Da mesma forma, no meio de algum exercício em que nosso cliente estiver entrando em contato
com emoções fortes, você pode perguntar-lhe o seguinte: “Estou apenas verificando - está bem
pra você se continuarmos com isso? Não quero que você se sinta de alguma forma coagido. Po-
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demos parar a qualquer momento, se você quiser. ”
E se eventualmente nos apercebermos que passamos muito tempo discutindo processos da
ACT em vez de realmente fazê-los, podemos dizer: “Acabo de me dar conta de algo. Já con-
versamos um monte nesta sessão, mas não praticamos muito. É óbvio que você não vai con-
seguir aprender a tocar guitarra só falando sobre isso; você tem de segurá-la e dedilhar as cor-
das. O que você acha de pararmos de falar por alguns instantes e fazermos um pouco de exer-
cício relacionado a este assunto? ”

Relevância e Fundamentação
Queremos que nossas metáforas e exercícios sejam diretamente relevantes em relação às
questões com que estamos lidando na sessão em vez de aplicarmos algum exercício tão so-
mente por que gostamos dele, porque está fresco em nossa memória ou porque funcionou
bem com algum cliente anterior. Para exercícios mais longos, muitas vezes é útil providenciar
uma fundamentação. Por exemplo:
Terapeuta: Então, em resumo, parece que você gosta de gastar um monte de tempo preso
em todos estes pensamentos de preocupação, e isto está tornando você extre-
mamente infeliz.
Cliente: Sim. Eu sei que é burrice, mas não consigo evitar. Esta é a forma que eu sou.
Na minha família somos todos muito preocupados. Minha mãe é a pior.
Terapeuta: E se você pudesse aprender uma nova habilidade de modo que quando estes
pensamentos de preocupação aparecem na sua cabeça, você pudesse deixá-los
ir e vir – como se fossem apenas carros, passando do lado de fora de sua casa –
em vez de ficar preso neles. Será que isto seria algo que te interessaria?
Cliente: Eu entendo o que você está dizendo, mas (rindo) eu realmente não penso que
eu seja capaz de fazer isso.
Terapeuta: Bem, será que você poderia dar uma chance para esta habilidade, e ver como
ela funciona? É um exercício bem simples — você pode realizá-lo com os
olhos abertos ou fechados, o que for da sua preferência.
Cliente: Eu posso tentar, eu acho.

Estabelecendo uma Estrutura


Na primeira sessão, geralmente dizemos para o cliente algo parecido com isso: “Uma das coi-
sas que torna a ACT diferente de muitas outras terapias é que durante as sessões costumamos
passar bastante tempo praticando habilidades, tais como aprender novas maneiras de lidar
com pensamentos e sentimentos difíceis mais efetivamente. E não se consegue aprender estas
habilidades apenas falando sobre elas — temos de praticá-las realmente. Assim, muitas vezes,
se estiver bem para você assim, eu vou te pedir durante a sessão para fazer alguns exercícios
simples. Isto está bem para você?
(Observação: Nem todos os clientes irão responder sim; alguns irão querer saber mais sobre
estes exercícios. Vamos ver como lidar com isso no próximo capítulo.)
Geralmente na primeira ou segunda sessão, realizaremos com nosso cliente pelo menos um
exercício de atenção plena que dure cinco minutos ou um pouco mais. Até que os clientes
saibam o que podem esperar, geralmente costumo introduzir todos os exercícios com um bre-
ve discurso, parecido com este: “Este exercício vai levar [duração estimada]. Você pode fazê-
lo com os olhos abertos ou fechados, o que for da sua preferência. Não há necessidade de falar

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comigo durante o exercício, mas você pode falar comigo se você quiser, e pode me interrom-
per sempre que quiser.”
Assim que a gente tiver feito alguns exercícios de atenção plena, podemos dizer “ Se estiver
bem para você, eu gostaria de iniciar cada uma de nossas sessões com um breve exercício de
atenção plena, bem parecido com este que acabamos de fazer. Você concorda com isso?” Se o
seu cliente concordar — como a maioria fará — você agora terá uma maneira amorosa de abrir
cada uma das sessões e que irá levar você e seu cliente para dentro do espaço da atenção plena.
É claro, se você não quiser estruturar suas sessões desta forma, isto não é de forma alguma es-
sencial; é meramente uma sugestão, não uma ordem. E, é claro, alguns clientes irão odiar esta
ideia. Portanto, se o seu cliente não estiver interessado, qualquer coisa que faça, não o pressio-
ne. Lembre-se: se nos dermos conta de que estamos pressionando, persuadindo, coagindo, con-
vencendo, debatendo ou discutindo com nossos clientes, então não estamos praticando ACT.

Flexibilidade, Criatividade e Espontaneidade


Quando estiver conduzindo exercícios, seja flexível. Dependendo da necessidade, você pode
torná-los mais longos ou mais curtos. Mude as palavras para adequá-las ao seu próprio estilo,
e adapte-as ao cliente com que está lidando. Sinta-se livre para interromper qualquer exercício
em qualquer ponto para verificar com o cliente e perguntar-lhe como está se saindo. Use tam-
bém sua criatividade para incorporar pensamentos, sentimentos, comentários ou metáforas
que seu cliente tenha feito nesta ou em sessões anteriores.

Melhorando a Prática
À medida que for trabalhando com este livro, não fique somente na leitura dos exercícios.
Recomendo fortemente que você os leia em voz alta e faça de conta que está, de fato, traba-
lhando com um cliente. Talvez isto pareça estranho para você, mas é um modo simples e efe-
tivo de construir suas habilidade e confiança. Quando você ensaia consigo mesmo, isto lhe
prepara para o ambiente de terapia: suas palavras irão fluir mais suavemente, e você terá que
exercer menos esforço consciente. (Melhor ainda, encontre um colega com quem praticar.)
Eu costumava praticar textos de atenção plena gravando-os em um gravador (e com o avanço
da tecnologia, com um gravador de MP3). Então os reproduzia e os analisava. Depois traba-
lhava sobre os trechos que não estavam bons até que eu soubesse o que estava fazendo. Isto
significava que quando eu estivesse lendo de um texto na sessão, este texto se tornava apenas
um guia em torno do qual eu improvisava e não algo que eu tinha que seguir de forma rígida
palavra por palavra. Isto permite uma flexibilidade e uma espontaneidade que torna o texto
vivo e não algo que soe empolado, desajeitado e não natural.
O mesmo é verdadeiro para as muitas metáforas que a ACT utiliza. Algumas pessoas são con-
tadoras natas de histórias. Elas ouvem uma metáfora uma vez, a recontam à sua própria ma-
neira e o resultado é maravilhoso. Elas têm muita sorte. A maioria de nós não é tão talentosa.
Nós necessitamos de prática. Sugiro que você tente contar uma metáfora em voz alta algumas
vezes. Então, uma vez que você tenha internalizado a mesma, tente contá-la para alguém.
Como regra geral, exercícios de atenção plena são melhor transmitidos em um ritmo lento, deli-
berado e com uma voz calma e tranquila. Geralmente é melhor ir devagar demais do que rápido
demais. Em muitos dos roteiros neste livro, tenho indicado pausas de cinco, dez, quinze ou vinte
segundos, mas estas são apenas orientações rudimentares; por isso, por favor, não tente se ater às
mesmas rigidamente mas procure encontrar seu próprio ritmo natural. Para a maioria das pesso-
as, uma respiração profunda, inspirando e exalando, demora cerca de dez segundos. Gravei al-
guns CDs e MP3 que você pode utilizar como orientação, se assim o desejar (veja o apêndice 2).

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Se você desejar ler a partir de um roteiro durante a sessão, pode ser uma boa ideia dizer ao
cliente algo como "Existe um exercício através do qual eu realmente gostaria de conduzir vo-
cê, mas eu ainda não o memorizei completamente, por isso pergunto se você se incomodaria
se eu o lesse utilizando este livro?" Entretanto, tome o cuidado de não ler o texto palavra por
palavra tal como está escrito pois isto pode soar empolado e antinatural; tente improvisar a
partir do mesmo.
Finalmente, lembre-se de ser você mesmo. Quero encorajá-lo a alterar as palavras e expres-
sões em cada exercício e metáfora contidos neste livro e adaptá-los a seu próprio estilo, sua
própria maneira de falar e também aos da clientela com a qual você trabalhar.

O EXERCÍCIO DO HEXAFLEX
Vamos agora dar uma olhada no exercício do Hexaflex, que cobre todos os elementos do he-
xaflex (veja no capítulo 1) de uma só vez. Costumo utilizá-lo em todos os meus workshops,
palestras e aulas, no início das sessões de grupo e como um breve "curso de reciclagem" em
sessões mais adiantadas com meus clientes individuais. Tal como está descrito aqui, ele leva
de dez a quinze minutos, dependendo de quão rápido você fala e quão longas forem as suas
pausas. Por favor, pratique-o algumas vezes antes de continuar com a leitura do livro porque
(a) ele lhe ajudará a entender o modelo, e (b) lhe dará uma base para muitos dos exercícios
que veremos depois.

Este exercício, usado em sua forma completa, é longo demais para alguns cli-
entes. Mas você pode facilmente utilizar versões abreviadas ou "pedaços" do
mesmo. Numerei as diferentes seções do exercício de forma a podermos dis-
secá-lo e voltar a nos referir a ele em capítulos futuros.

Agora, por favor, leia o exercício em voz alta. Leia-o em uma voz lenta, calma, estável, fazendo
de conta que você está fazendo isso com um cliente.

SEÇÃO 1
Terapeuta: Sente-se de forma ereta, deixe seus ombros caírem e gentilmente pressione
seus pés contra o chão... obtendo uma sensação do piso abaixo de você... você
fixar seus olhos em algum ponto da sala, ou fechá-los, o que você preferir.
Agora, por um momento, note como você está sentado. (Pausa de 5 segundos) E
note sua respiração. (Pausa de 5 segundos) Note o que você pode ver. (Pausa de
5 segundos) Note o que você pode ouvir. (Pausa de 5 segundos) Note o que vo-
cê consegue sentir contra sua pele. (Pausa de 5 segundos) Note aromas ou odo-
res que você consegue sentir em suas narinas. (Pausa de 5 segundos) Note o que
você está sentindo. (Pausa de 5 segundos) Note o que você está pensando. (Pau-
sa de 5 segundos) Note o que você está fazendo. (Pausa de 5 segundos)

SEÇÃO 2
Terapeuta: Há uma parte dentro de você que consegue notar tudo o que você vê, ouve, toca,
saboreia, cheira, pensa e sente. (Pausa de 5 segundos) Não temos uma palavra
para essa parte de você em nossa linguagem cotidiana. Vou chamar essa parte de
você de "eu observador", mas você não precisa necessariamente chamá-la assim.
Você pode chamá-la como achar melhor. (Pausa de 5 segundos)

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A vida é como um show em um palco. E nesse palco estão todos os seus pen-
samentos e sentimentos, e tudo o que você pode ver, ouvir, tocar, saborear e
cheirar. O eu observador é aquela parte de você que pode tomar distância e
olhar esse show no palco: pode focar em qualquer parte do mesmo, ou dar um
passo atrás e ver tudo ao mesmo tempo. (Pausa de 5 segundos)

SEÇÃO 3
Terapeuta: Agora, por um momento, reflita porque você veio aqui hoje. Existe algo com
que você se importa, algo que é importante no fundo de seu coração que moti-
vou você a vir aqui... É sobre melhorar sua vida? ... Crescimento pessoal? ....
Aprender novas habilidades? .... Construir relações melhores? .... Seria sobre
melhorar as coisas em seu trabalho, ou com sua família, ou seus amigos? .... Ou
talvez se relacione com a sua saúde: nutrir seu corpo ou melhorar seu bem-estar?
.... Faça uma busca, bem no fundo de seu coração, para clarificar quais são os
valores que trouxeram você aqui hoje. (Pausa de 15 segundos.)

SEÇÃO 4

Terapeuta: E agora, por um momento, reflita sobre como você chegou até aqui hoje. Você
não chegou até aqui por mágica. Você está aqui devido a ação comprometida.
Você teve de agendar esse compromisso. Teve de reagendar outras coisas. Te-
ve de investir tempo e esforço para chegar aqui. E existe a possibilidade de que
vir para cá hoje tenha feito emergir alguns pensamentos e sentimentos que são
desconfortáveis para você. E, ainda assim... você está aqui. (Pausa de 10 se-
gundos.) Reconheça que exatamente agora, neste momento, você está agindo.
Você está sentado aqui numa cadeira, fazendo um exercício que provavelmente
parece um pouco estranho ou incomum ... e você provavelmente está tendo to-
do tipo de pensamentos zunindo em sua cabeça ... e todo tipo de sentimentos
passando por seu corpo. (Pausa de 5 segundos.) E existe um monte de coisas
que você poderia estar fazendo agora que são muito mais divertidas do que is-
so que estamos fazendo, e ainda assim, você está aqui, agindo para melhorar e
enriquecer a sua vida. (Pausa de 10 segundos.)

SEÇÃO 5

Terapeuta: E agora, nas próximas respirações, gostaria que você focasse em esvaziar seus
pulmões: empurre todo ar para fora dos pulmões até que não reste mais ne-
nhum ar dentro dos mesmos, e então gentilmente permita que eles se encham
sozinhos. (Pausa de 5 segundos.) Observe atentamente a sua respiração – note
como ela flui para dentro e para fora. Preste atenção como se você fosse um ci-
entista curioso que nunca se deparou com a respiração antes. (Pausa de 10 se-
gundos.) Observe como quando seus pulmões estão vazios, eles automatica-
mente voltam a se encher, por conta própria, sem qualquer auxílio de sua parte.
(Pausa de 5 segundos.) Você até pode fazer uma inspiração profunda se quiser,
mas note que isso na verdade não é necessário: a respiração acontece sozinha.
(Pausa de 10 segundos.) Agora convido você para um desafio: pelos próximos
dois minutos, mantenha sua atenção focada em sua respiração, observando
como ela flui para dentro e para fora. (Pausa de 10 segundos.)

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SEÇÃO 6

Terapeuta: Provavelmente você vai achar isso difícil de fazer porque sua mente é uma talen-
tosa contadora de histórias. Ela vai contar para você todo o tipo de histórias para
roubar a sua atenção e afastar você do que está fazendo. (Pausa de 5 segundos.)
Veja se consegue deixar esses pensamentos ir e vir, como se fossem apenas car-
ros passando – apenas carros passando do lado de fora de sua casa – e mantenha
sua atenção focada na respiração. (Pausa de 10 segundos.) Note sua respiração
entrando e saindo. (Pausa de 10 segundos.) Observe seu abdômen se expandin-
do e se contraindo. (Pausa de 10 segundos.) Observe como seu peito sobe e des-
ce. (Pausa de 10 segundos.) Permita que a conversa de sua mente se distancie
como se fosse um rádio tocando ao longe. Não tente desligar o rádio; isso não é
possível – nem mesmo mestres Zen conseguem fazer isso. Apenas deixe-o to-
cando no fundo, e mantenha sua atenção na respiração. (Pausa de 10 segundos.)
De vez em quando sua mente vai conseguir distrair você: ela vai te fisgar com
alguma boa história e você vai se distrair e se esquecer de sua respiração. Isto é
normal e natural, e vai acontecer repetidas vezes. No momento em que você se
aperceber de que isto aconteceu, note por um momento qual foi o anzol que
fisgou você, e então gentilmente volte a focar a atenção em sua respiração.
(Pausa de 10 segundos.)
De novo e de novo, você vai se perder em seus pensamentos. É normal e natural.
Acontece com todo mundo. Assim que perceber isso, gentilmente tome consci-
ência disso e volte a prestar atenção em sua respiração. (Pausa de 10 segundos.)

SEÇÃO 7

Terapeuta: À medida que continuamos com este exercício, os sentimentos e as sensações


em seu corpo irão mudar. Podem aparecer sentimentos agradáveis – tais como
relaxamento, calma, tranquilidade – e também podem aparecer sentimentos de-
sagradáveis – como, por exemplo, tédio, frustração, ansiedade, ou dor nas cos-
tas. Veja se você consegue permitir estes sentimentos ou sensações a serem
exatamente como são neste momento. (Pausa de 10 segundos.) Não tente con-
trolá-los, apenas permita que sejam como são – independentemente se são
agradáveis ou desagradáveis – e mantenha sua atenção em sua respiração.
(Pausa de 10 segundos.) Repetidamente você irá se perder em seus pensamen-
tos. Assim que se der conta disso, reconheça isso e volte a focar sua atenção
em sua respiração. (Pausa de 10 segundos.) Isto não é uma técnica de relaxa-
mento. Você não está tentando relaxar. O objetivo é deixar que seus sentimen-
tos e sensações sejam como são, a se permitir sentir o que quer que seja, sem
lutar contra eles. Se você notar um sentimento difícil, silenciosamente diga a si
mesmo Aqui temos um sentimento de frustração ou Eis aí um sentimento de
tédio. Tome conhecimento de que ele está lá, e mantenha sua atenção na respi-
ração. (Pausa de 20 segundos.)

SEÇÃO 8

Terapeuta: A vida é semelhante a show em um palco. E neste palco estão os seus pensa-
mentos e sentimentos, tudo o que você pode ver, ouvir, tocar, saborear e chei-
rar. Neste exercício, você diminuiu as luzes no palco e focou um holofote em
sua respiração. E agora é hora de aumentar a intensidade das demais luzes. Es-

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ta respiração que você está observando acontece em um corpo; então, agora,
vamos focar as luzes em seu corpo: sente-se de forma ereta em sua cadeira, e
observe seus braços, suas pernas, sua nuca, seu peito, e seu abdômen. (Pausa
de 5 segundos.) E seu corpo se encontra dentro de uma sala, e assim vamos
aumentar a luz na sala em torno de você. Olhe ao seu redor e observe o que
você consegue ver e ouvir, sentir o cheiro, o sabor e sentir com seu tato. (Pau-
sa de 10 segundos.) Observe o que está sentindo. (Pausa de 20 segundos.) E
observe o que está pensando. (Pausa de 5 segundos.) Note que há uma parte
em você que pode observar tudo: o que você vê, ouve, toca, saboreia, cheira,
pensa, sente, ou faz em qualquer momento.
E isto conclui o exercício. Se quiser, pode se espreguiçar e esticar seu corpo, e
depois vamos falar sobre o que fizemos.

Analisando separadamente
Vamos analisar agora o Exercício do Hexaflex, seção por seção. Por favor, volte e releia cada
seção do exercício em voz alta antes de ler a explicação abaixo.

SEÇÃO 1: ESTEJA AQUI AGORA


A seção 1 cobre o contato com o momento presente. Esta seção consiste na instrução básica
que está no núcleo de todos os exercícios de atenção plena: “Observe X”. “X” pode ser qualquer
coisa que está aqui, exatamente agora, neste momento. Pode ser sua respiração, os sons no am-
biente, a tensão em seu corpo, os pensamentos em sua cabeça, o gosto em sua boca, a visão de
sua janela, e assim por diante. Alternativas comuns para a palavra “observe” podem ser “preste
atenção a”, “traga sua consciência para”, “foque em”, ou “note”. Observe que as pausas neste
ponto são breves – apenas cinco segundos. Mais adiante no exercício, elas aumentam. Você
pode facilmente adaptar esta seção e transformá-la em um breve exercício de atenção plena,
apropriado para qualquer sessão como uma técnica para centramento ou “aterramento”.

SEÇÃO 2: CONSCIÊNCIA PURA


A seção 2 cobre o eu-como-contexto. Aqui nos referimos a ele como o “eu observador”:
aquela parte de você que faz toda a observação. Desenvolvi a Metáfora do Show em um Palco
especificamente para facilitar o entendimento do eu-como-contexto mas como veremos mais
tarde, você também pode usá-la para melhorar qualquer outro processo de atenção plena: acei-
tação, desfusão ou contato com o momento presente.

Antes de conduzir o cliente através dessa seção, é uma boa ideia fornecer uma
breve explicação sobre as duas partes da mente – o eu pensador e o eu obser-
vador – pois assim o termo “eu observador” não as pegará de surpresa. O tex-
to seguinte exemplifica isso.

O EU PENSADOR E O EU OBSERVADOR

Terapeuta: Uma das coisas que é importante em nosso trabalho aqui é reconhecer que há
duas partes muito distintas de nossa mente. Existe uma parte com a qual todos
estamos familiarizados – aquela parte que pensa, imagina, lembra, analisa, pla-
neja, fantasia, etc. Vamos chamar essa parte de “eu pensador”. Mas há uma ou-

53
tra parte da mente sobre a qual virtualmente nunca se fala – na verdade não
temos nem mesmo uma palavra para a mesma em nossa linguagem comum do
dia-a-dia. É a parte da mente que não pensa, não consegue pensar – ela apenas
nota ou observa. Ela nota o que você está pensando, sentindo, fazendo, vendo,
ouvindo, saboreando, etc. As palavras mais próximas que temos para ela em
nossa linguagem cotidiana são “consciência”, “atenção” ou “foco”. Na ACT,
geralmente a chamamos de “eu observador” porque ela não pensa – ela mera-
mente observa. Para dar um exemplo, você já se deparou com um pôr do sol
magnífico e por um momento seu eu pensador ficou quieto. Não havia pensa-
mentos – você ficou apenas observando silenciosamente este maravilhoso pôr
do sol. Isto é seu eu observador em ação – notando silenciosamente. Mas o si-
lêncio não dura muito. Em segundos, o eu pensador se manifesta: “Ó, mas que
cores mais lindas. Eu queria ter uma câmera aqui comigo. Isto me lembra de
minha viagem para o Havaí.” E então, à medida que você começa a ficar mais
enredado em seus pensamentos, você começa a se desconectar do pôr do sol.

SEÇÃO 3: SAIBA O QUE IMPORTA


A seção 3 aborda valores: o que é suficientemente importante para este cliente para que ele
tenha se incomodado em vir para falar com você? (Mesmo que ele tenha vindo por determina-
ção da Justiça sob pena de prisão, ele não era obrigado a vir: ele veio porque estar livre é um
valor para ele.) Preferencialmente individualizamos esta seção para mencionar especificamen-
te valores centrais já identificados – por exemplo, “Tem a ver com ser uma mãe melhor para
seus filhos?”

SEÇÃO 4: FAÇA O QUE FOR NECESSÁRIO


A seção 4 aborda a ação comprometida: realizar a ação necessária para viver conforme seus
valores mesmo quando é difícil e doloroso. Aqui reconhecemos e validamos que o cliente se
comprometeu com a ação mesmo que isto lhe tenha trazido desconforto. Esta é uma mensa-
gem que iremos reforçar através de toda terapia: as ações que realizamos para tornar nossas
vidas significativas muitas vezes geram dor. Às vezes nos sentimos bem como resultado das
mesmas, outras vezes não. A pergunta que a vida faz repetidamente para cada um de nós é
esta: “Estou disposto a criar um espaço para estes sentimentos a fim de fazer o que é impor-
tante para mim?”

SEÇÃO 5: ESTEJA AQUI AGORA (DE NOVO)


Aqui estamos de volta para a instrução básica da atenção plena: “observe X”. No presente
caso, “X” são as sensações da respiração. As seções 5 e 6 juntas constituem um exercício rá-
pido e simples de respiração atenta e consciente que você pode usar em qualquer sessão.

SEÇÃO 6: PRESTE ATENÇÃO EM SEU PENSAMENTO


A seção 6 aborda a desfusão: colocar um pouco de distância entre você e seus pensamentos
de modo que você possa deixá-los ir e vir sem ficar enredado nos mesmos. Usamos três dife-
rentes metáforas aqui para facilitar a desfusão: (1) a noção da mente como um contador de
histórias e os pensamentos como histórias; (2) tratar seus pensamentos como se fossem carros
que estão passando; e (3) tratar sua mente como se fosse um rádio tocando no fundo. Estas
metáforas, tanto isolada quanto conjuntamente, podem ser adicionadas a qualquer exercício de
atenção plena que você venha a realizar.

54
Enfatizamos também de novo e de novo que é “normal e natural” a pessoa repetidamente ficar
à deriva em seus pensamentos (ou seja, fundida com eles). Isto é importante porque muitos
clientes (assim como muitos terapeutas) têm um traço perfeccionista, e poderão ficar desapon-
tados se tiverem a expectativa de conseguir manter um foco total. De fato, muitos clientes (e
terapeutas) ficam chocados com o quão difícil é permanecer focado por mais do que alguns
segundos.

SEÇÃO 7: ABRA-SE
A seção 7 aborda a aceitação: abrir-se e criar espaço para experiências privadas dolorosas.
(Nota: Aceitação é abreviatura de “aceitação experiencial”, o oposto de esquiva experiencial.)
Aqui introduzimos a noção de permitir que seus sentimentos e sensações sejam como são sem
tentar mudá-los e se livrar deles. Quando silenciosamente nomeamos e reconhecemos um
sentimento doloroso, isto muitas vezes facilita a aceitação e por isso é uma técnica simples e
útil para inserir nesta seção. E podemos também passá-la para o cliente como uma técnica
para ser praticada entre as sessões.
Você também deve ter notado que enfatizamos que isto não é uma técnica de relaxamento.
Isto é importante porque muitos clientes irão achar esta experiência relaxante, e podem consi-
derar como se este fosse o propósito do exercício, quando, na verdade, isto é apenas um efeito
colateral benéfico.

SEÇÃO 8: JUNTANDO TUDO


A seção 8 junta o exercício com a Metáfora do Show em um Palco para facilitar o contato
com o momento presente e brevemente revisita o eu-como-contexto.

Prática, Prática, Prática


Agora, antes de continuar a ler, recomendo enfaticamente que você volte e leia todas as trans-
crições neste capítulo – mas desta vez leia as palavras em voz alta, como se você as estivesse
de fato falando para o cliente. Isto é especialmente importante o Exercício do Hexaflex. Peço
que faça isto porque somente através da prática é que conseguirá dominar este modelo. Então
por que esperar até que estiver trabalhando com seus clientes? Comece agora mesmo!

55
CAPÍTULO 5

Começando a ACT

A PRIMEIRA SESSÃO
Os terapeutas chegam até a ACT de uma vasta gama de “backgrounds” e por isso muitas vezes
tem ideias muito diferentes sobre a primeira sessão. Por exemplo, muitos terapeutas gostam de
fazer uma “sessão introdutória” ou uma “ sessão pré-tratamento” antes da primeira sessão “ativa”.
Isto pode envolver alguns ou todos dos seguintes itens: obtenção de uma história detalhada, pre-
enchimento de formulários de avaliação, condução de avaliações especiais tais como exame do
estado mental, obtenção do informe consentido, e/ou assinatura de um contrato terapêutico.
Alguns dos livros textos da ACT ativamente recomendam uma sessão de pré-tratamento, e outros
o assumem implicitamente. Entretanto, praticantes com um “background” em terapia breve mui-
tas vezes preferem não fazer uma sessão de pré-tratamento; ao invés disso, eles se lançam ativa-
mente na terapia já no primeiro encontro. Há prós e contras em ambas as abordagens, e este livro
não é o lugar para discuti-las; provavelmente você já tem sua própria abordagem, e se ela está
funcionando, não há necessidade de mudá-la. Por uma questão de clareza, neste livro vou me refe-
rir à sessão I como o primeiro encontro entre terapeuta e cliente (ou seja, não há sessão pré-
tratamento). Se você não costuma trabalhar dessa maneira, acrescente uma sessão pré-tratamento
ou “alongue” a primeira sessão em duas.
Na sessão 1, de preferência, objetivamos
 estabelecer vínculo
 fazer a anamnese
 obter um consentimento livre e esclarecido
 acordar os objetivos iniciais do tratamento; e
 acordar o número de sessões.
Além disso, se o tempo permitir, também poderemos
 fazer um breve exercício experiencial, e
 atribuir algum “tema de casa” simples.
Com clientes com elevado grau de funcionamento ou com aqueles que têm um problema muito
específico, pode-se muitas vezes completar todos os itens acima em uma sessão. Entretanto, com
clientes com um funcionamento mais baixo ou aqueles com problemas múltiplos e histórias de
vida mais complexas, isto poderá facilmente se estender para duas sessões, especialmente se qui-
sermos que o cliente preencha uma bateria de formulários de avaliação.
Tenha também em mente que se se seu cliente tem uma longa história de trauma ou experiências
recorrentes de abuso ou traição em relações íntimas, poderão ocorrer problemas significativos no
que se refere à confiança. Caso isto ocorra, você pode querer usar duas ou três sessões fazendo
sobretudo a anamnese e construindo o relacionamento — indo devagar e dedicando tempo para
gradualmente estabelecer uma relação de confiança.

Estabelecer Vínculo
Todos os modelos de terapia dão importância à relação terapêutica; na ACT, isso é especialmente

56
verdade. A maioria dos livros-texto pedem aos leitores que apliquem a ACT a si próprios. Por que?
Porque a ACT é muito mais efetiva quando nós, os praticantes, realmente a incorporamos na sala
de terapia. Quando estamos plenamente presentes com nossos clientes, abertos a todo e qualquer
conteúdo emocional que emerja, desfundidos de nossos próprios julgamentos, e em contato com
nossos valores centrais no que se refere a conexão, compaixão e contribuição, então iremos natu-
ralmente facilitar uma relação calorosa, aberta e autêntica. De fato, quando damos nossa atenção
completa a outro ser humano com abertura, compaixão e curiosidade, isto é terapêutico por si só.
A posição da ACT é a de que como terapeutas estamos no mesmo barco que nossos clientes: am-
bos ficamos rapidamente enredados em nossas mentes, perdemos contato com o presente, e nos
envolvemos em batalhas fúteis com nossos próprios pensamentos e sentimentos; repetidamente
perdemos contato com nossos valores centrais e agimos de maneiras autoderrotistas; e ambos
iremos encontrar lutas muito semelhantes em nossas vidas, incluindo desapontamento, rejeição,
fracasso, traição, perda, solidão, doença, lesão, sofrimento, ressentimento, ansiedade, insegurança
e morte. Tudo isto é parte da experiência humana. Assim, dado que cliente e terapeuta são com-
panheiros de viagem na mesma jornada humana, ambos podem aprender muito um do outro.
Na ACT, uma relação terapêutica compassiva, aberta e respeitosa é de extrema importância. Sem
isso, muitas de nossas ferramentas, técnicas, estratégias e intervenções irão falhar, produzir efeitos
negativos ou se mostrar como insensíveis ou invalidantes. Em especial, necessitamos estar alerta
em relação a qualquer vestígio de demonstrações de superioridade em nós; isto seria inconsistente
com a posição da ACT de que o terapeuta e o cliente são iguais. A Metáfora das Duas Montanhas
(Hayes, Strosahl, & Wilson, 1999) transmite de forma efetiva esta posição, e geralmente costumo
compartilhar a mesma com os clientes mais ou menos na metade da primeira sessão.

A METÁFORA DAS DUAS MONTANHAS


Terapeuta: Você sabe, muitas pessoas vem para a terapia acreditando que o terapeuta é alguma
espécie de ser iluminado, que ele resolveu todos os seus problemas, tem tudo ajusta-
do — mas, na verdade, não é assim. Parece-se mais com você escalando uma mon-
tanha lá adiante e eu escalando minha montanha aqui. E daqui onde estou, consigo
ver coisas em sua montanha que você não consegue ver — como, por exemplo, que
há uma avalanche prestes a acontecer, ou que existe um caminho alternativo que vo-
cê poderia tomar, ou que você não está usando sua picareta de forma efetiva.
Mas eu odiaria que você pensasse que eu cheguei no topo de minha montanha, que
estou recostado, descansando. Na verdade, eu ainda continuo a escalar, ainda conti-
nuo cometendo erros, e ainda estou aprendendo com eles. Basicamente, somos to-
dos iguais. Estamos todos escalando nossa montanha até o dia em que morremos.
Mas aqui está a coisa: você pode ficar cada vez melhor em escalar e também cada
vez melhor em apreciar a jornada. E é disso que trata o trabalho que fazemos aqui.

Fazer a anamnese
Juntar a história de um cliente pode levar desde alguns poucos minutos até uma hora, dependendo
da situação. Por exemplo, o excelente livro ACT in Practice (Bach & Moran, 2008) recomenda que
se utilize uma sessão completa para levantar um histórico detalhado e conceituar cuidadosamente
os problemas do cliente. Por outro lado, a ACT está sendo utilizada de forma crescente em ambien-
tes de cuidados primários onde o terapeuta poderá dispor de apenas duas ou três sessões de quinze
a trinta minutos cada, e isto obviamente torna necessário um histórico breve (Robinson, 2008).
Assim, mais uma vez, a mensagem é esta: adapte a ACT a sua própria maneira de trabalhar, a seu
próprio estilo, e a sua própria clientela. Como parte do levantamento do histórico, você pode utili-

57
zar qualquer instrumento de avaliação padronizado que você goste. Apenas uma palavra de alerta:
muitos instrumentos populares de avaliação medem mudanças através do número ou severidade
dos sintomas (ou seja, alterações na forma do sintoma) mas falham em medir mudanças no im-
pacto psicológico ou na influência dos sintomas (ou seja, alterações na função do sintoma). En-
tretanto, na ACT, nosso interesse está em mudar a função do sintoma em vez da forma do sin-
toma. Embora não haja necessidade absoluta do uso de instrumentos de avaliação específicos da
ACT, tais como o AAQ (Acceptance and Action Questionnaire), eles podem ser muito úteis.
Não vou discutir estes instrumentos neste livro, mas você pode fazer o download de uma ampla
variedade deles em www.contextualpsychology.org/act-specific_measures.
Antes de avançarmos para as porcas e parafusos da anamnese, dê uma olhada na figura 5.1 abai-
xo. Esta figura sintetiza a essência da maioria das questões clínicas a partir da perspectiva da
ACT.

Esta figura nos lembra que o resultado que queremos da ACT é uma vida atenta e baseada em
valores. Em outras palavras, queremos reduzir a luta e o sofrimento (através da desfusão e da acei-
tação) e criar uma vida rica, plena e significativa (através de ação atenta e orientada por valores).
Quando fazemos uma anamnese, nossos clientes geralmente acham mais fácil descrever seu so-
frimento e suas lutas do que descrever o que seria uma vida rica, plena e significativa. Entretanto,
necessitamos saber ambos os conjuntos de informação. Felizmente existem muitos tipos de ins-
trumentos e técnicas para ajudar as pessoas a clarificar seus valores, como veremos mais tarde.

A CONCEITUAÇÃO DE CASO: DUAS QUESTÕES CHAVE


No que diz respeito ao problema de qualquer cliente, queremos encontrar as respostas de duas
questões chave:
1. Para que direção baseada em valores o cliente quer se mover?
2. O que está se interpondo no caminho do cliente?
Estas duas questões nos permitem conceituar rapidamente toda e qualquer questão do ponto

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da perspectiva da ACT. Vamos dar uma olhada nelas mais detalhadamente.
Para que direção baseada em valores o cliente quer se mover? Aqui buscamos clarificar
valores: como o/a cliente quer crescer e se desenvolver? Que fortalezas pessoais ou qualida-
des ele quer cultivar? Como ela quer se comportar? Como ele quer tratar a si mesmo? Que
tipo de relacionamentos ela quer construir? Como ele quer tratar os outros nestes relaciona-
mentos? O que ele quer que sua vida represente? O que ele almeja representar e defender
diante de crises e situações desafiadoras? Que áreas da vida são mais importantes para ela?
Que objetivos congruentes com valores ele tem atualmente?
Uma vez que possamos responder a questão “Para que direção baseada em valores o cliente
quer se mover?” podemos usar este conhecimento para definir objetivos baseados em valores,
e guiar, inspirar e manter uma ação continuada baseada em valores. E se não conseguimos
responder esta questão, isto nos diz que temos de fazer um trabalho de clarificação de valores.
O que está se interpondo no caminho do cliente? Esta pergunta é sobre as três principais
barreiras ao viver atento e com base em valores: fusão, esquiva, e ação disfuncional. Podemos
dividi-la em três questões menores:

1. Com que pensamentos inúteis o cliente está se fundindo?


2. Que experiências privadas – pensamentos, sentimentos, memórias, impulsos, e assim
por diante – o cliente está tentando evitar ou se ver livre?
3. O que o cliente está fazendo que limita ou piora sua vida a longo prazo?

Em termos mais simples:


 Com o que o cliente está fundido?
 Que experiências privadas ele está evitando?
 Que ações disfuncionais ele está praticando?

Estas três questões revelam a essência de qualquer problema clínico: fusão, esquiva experien-
cial, e ações disfuncionais. (Um lembrete rápido: “disfuncional” significa que não funciona
para tornar a vida rica, plena e significativa a longo prazo, interferindo com um viver que seja
vital e baseado em valores. Quando uma ação é fortemente influenciada pela fusão e pela es-
quiva, provavelmente será disfuncional.)

UM ROTEIRO BÁSICO PARA FAZER A ANAMNESE


Para muitos de nós, fazer uma anamnese não é um processo claro, ordenado e linear (e é im-
portante lembrar que não necessitamos reunir todas as informações em apenas uma sessão;
sempre podemos ampliar o histórico mais tarde, à medida que se fizer necessário). Pessoal-
mente, para tornar esse processo mais rápido e fácil, peço para meus clientes para preenche-
rem algumas planilhas antes da primeira sessão. (Eu envio os formulários pelo correio ou por
e-mail, ou peço ao cliente para que chegue vinte minutos antes e os complete na sala de espe-
ra.) Eu dou a eles os formulários de Dissecando o Problema ou então o Tiro ao Alvo ou a
Bússola da Vida. Você irá encontrar estas planilhas no final deste capítulo. Por favor, dê uma
rápida olhada neles agora e então volte para este ponto. Se almejamos avaliar valores em dife-
rentes áreas da vida de forma mais ampla, o formulário mais rápido e fácil é o Tiro ao Alvo,
que divide a vida em quatro domínios ou áreas: trabalho/educação, saúde/desenvolvimento
pessoal, relacionamentos e lazer. Um pouco mais complexo, mas ainda fácil de usar é o for-
mulário Bússola da Vida, que divide a vida em dez áreas ou domínios. Talvez você goste de
experimentar com ambos e ver qual delas funciona melhor em sua prática. Pessoalmente uso

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inicialmente o Tiro ao Alvo com clientes que têm um funcionamento inferior, e a Bússola da
Vida com clientes de funcionamento mais elevado. O formulário Dissecando o Problema
desmembra a "luta e sofrimento" do cliente em seus componentes chave: fusão, esquiva, e
ação disfuncional. Peço a meus clientes que completem esses formulários da melhor forma
que podem e os tragam-nos junto para a primeira sessão. Explico a eles que mesmo que es-
crevam somente algumas poucas palavras, este é um bom começo. Você pode preencher estes
formulários durante a sessão ou dá-los ao cliente como "tema de casa" para completar após a
sessão.
Agora vamos para o histórico propriamente dito. O que segue é um roteiro bem básico para
tomar um histórico. Cada uma das seções numeradas pode ser abordada em alguns poucos
minutos ou explorada mais profundamente num espaço maior de tempo, dependendo de suas
necessidades. Não há necessidade de perguntar todas as questões em cada sessão. (Nota: a
expressão "pensamentos e sentimentos" é uma abreviação de "pensamentos, memórias, ima-
gens, sensações, desejos e impulsos"). Você pode fazer o download (em inglês) de uma ver-
são simplificada em www.actmindfully.com.au. Leia o roteiro agora, e depois explore-o mais
detalhadamente.

HISTÓRICO: UM ROTEIRO BÁSICO


1. A Queixa Apresentada
1. Qual é a conceptualização do cliente do (I) problema principal e (2) de como
ele se desenvolveu?
2. De acordo com seu cliente, como a queixa que ele apresenta interfere na sua
vida? O que ela o impede de fazer ou de ser?
3. Perguntas para identificar pensamentos e sentimentos problemáticos: Quais
são os sentimentos ou emoções mais difíceis que aparecem para você e que
estão ligados a essa questão? Quando sua mente quer fazer você ficar ansi-
oso em relação a isso, quais são as coisas mais assustadoras, desagradá-
veis ou dolorosas que ela diz para você? Você se pega ocupado com esta
questão ou se preocupando com ela? Se você pudesse ouvir sua mente nes-
tes momentos, o que você ouviria? A sua mente fica lhe agredindo em rela-
ção a isso? Se sim, quais são os julgamentos mais desagradáveis que ela faz
sobre você?
4. Perguntas para identificar ações disfuncionais: O que acontece quando você
se vê preso dentro de todos estes pensamentos e sentimentos dolorosos? O
que você faz de diferente nestes momentos ou, em outras palavras, como
seu comportamento muda? Se eu estivesse lhe observando em uma câmera
de vídeo durante estes momentos em que você fica preso nestes pensamen-
tos e sentimentos, o que eu veria você fazendo ou ouviria você dizendo?
5. Perguntas para identificar esquiva experiencial e ações disfuncionais: O que
você tentou fazer para se ver livre desses pensamentos e sentimentos dolo-
rosos? Existe algo que você faz que faz com que se sinta preso e atolado, ou
que faz com a situação piore? Existe algo que você faz que impacta negati-
vamente a sua saúde, ou fere seus relacionamentos, ou então que faz com
que se sinta pior? Há algo que você faz que desperdiça seu tempo, sua ener-
gia ou seu dinheiro? Há algo que você faz que lhe proporciona um pouco de
alívio a curto prazo mas faz com que o problema piore a longo prazo?

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2. Avaliação Inicial de Valores
Você pode fazer ao cliente algumas (ou todas) das seguintes perguntas. Além disso
(ou como uma alternativa), você pode pedir ao cliente para preencher um instru-
mento simples de avaliação tal como o Tiro ao Alvo ou a Bússola da Vida. (Você
encontrará estes formulários no final deste capítulo.)
1. Se você pudesse agitar uma varinha mágica de modo que todos esses pen-
samentos e sentimentos problemáticos não tivessem mais nenhum impacto
em você, o que você começaria a fazer, ou faria mais vezes? O que você pa-
raria de fazer, ou faria menos? Como você mudaria seu comportamento em
relação a seus amigos, parceiro/a, filhos, pais, parentes, colegas de trabalho,
etc.? Como você agiria diferentemente em casa, no trabalho, no lazer?
2. Você sente às vezes um senso de propósito, significado, vitalidade ou reali-
zação – ainda que seja só por um breve instante? Quando está fazendo o
quê? O quê, quando, onde, como e com quem?
3. Se, no processo de lidar com uma questão difícil ou dolorosa, você pudesse
desenvolver algumas fortalezas pessoais bem como qualidades e habilidades
que ajudariam você de alguma forma a se tornar uma “pessoa melhor”, ou a
“crescer como ser humano”, ou a “fazer diferença na vida dos outros”, quais
seriam essas fortalezas, qualidades ou habilidades?
4. O que você está fazendo em sua vida atualmente que não é coerente com a
pessoa que, no fundo de seu coração, você realmente quer ser? O que você
gostaria de fazer de forma diferente?

5. Se o trabalho que estamos fazendo aqui pudesse ter um impacto positivo so-
bre os relacionamentos mais importantes em sua vida, que relacionamentos
melhorariam? E como? Como você gostaria de ser nestes relacionamentos
se você pudesse ser o você ideal?

6. Para clientes em crise ou em situações de vida extremamente dolorosas: O


que você quer fazer com sua vida em vista disso? Se em algum momento do
futuro você tiver de olhar para trás para a maneira como você lidou com essa
situação agora, o que você então gostaria de dizer sobre a maneira em que
você o fez? O que você gostaria de dizer sobre como você cresceu ou se de-
senvolveu como resultado disso?

7. Para clientes suicidas: O que impediu você de se matar?

8. Para clientes relutantes ou que vieram de forma coercitiva ou por determina-


ção judicial: Por um momento vamos esquecer da pessoa que mandou você
aqui e prestar atenção no tem nisso para você. Se houver algo útil que você
possa extrair de nossas sessões de forma que não seja apenas estorvo, es-
tresse, incômodo, ou uma perda de seu tempo; se houvesse uma maneira de
este tempo poder ajudar você a melhorar sua vida e torná-la melhor de algu-
ma forma, que área de sua vida você gostaria de melhorar? E de que formas
você gostaria de melhorá-la? O que importa para você nesta área de sua vi-
da?

3. O Contexto de Vida Atual, História Familiar, História Social, Outras Ferramen-


tas de Avaliação
O contexto de vida atual inclui saúde, medicações, trabalho, finanças, relaciona-
mentos, família, cultura, etc. Convém também procurar pelos fatores que reforçam o
problema – por exemplo, ganhos secundários. A história familiar e a história social
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incluem relacionamentos significativos do passado e do presente, e como os clien-
tes percebem o impacto que eles tiveram em sua história. Outras ferramentas de
avaliação dependem de sua prática e de sua clientela. Talvez você prefira fazer isso
de forma mais breve no início e juntar mais dados se necessário em sessões futu-
ras.
4. Inflexibilidade Psicológica
1. Dominância do passado ou futuro conceituais; autoconhecimento limitado:
Quando tempo o seu paciente gasta vivendo no passado ou se preocupando
com o futuro ou fantasiando sobre ele? Quão facilmente ele perde contato
com o presente (ou seja, o quanto ele é distraído)? Quão difícil é para ele
“saber” o que está pensando ou sentindo?
2. Fusão: Com que tipo de conteúdo cognitivo inútil o seu cliente está se fundin-
do – regras rígidas, crenças autolimitantes, dar razões, ter razão, ideias de
desesperança, de não ter valor, etc.?
3. Esquiva experiencial: Que experiências privadas (pensamentos, sentimentos,
memórias, etc.) o seu cliente está evitando – e como ele está fazendo isso?
Quão difusa é a esquiva experiencial na vida de seu cliente?
4. Apego ao eu conceitual: Qual é o “eu conceitual” de seu cliente? Por exem-
plo, ele se vê a si mesmo como inutilizado/danificado/indigno de amor/fraco/
burro, etc., ou ele se vê como alguém forte/superior/bem-sucedido? O quanto
ele está fundido com sua autoimagem?
5. Falta de clareza ou contato com valores: Sobre quais valores centrais o clien-
te não tem clareza? Que valores centrais ele está negligenciando? Em rela-
ção a que valores centrais ele está agindo de forma incoerente (por exemplo,
conexão, cuidado, contribuição, autocuidado, autocompaixão, amar ou nutrir
os outros)?
6. Ação disfuncional: Que ações autoderrotistas o cliente está fazendo? Faltam-
lhe as habilidades necessárias para mudar? Ele falha em persistir quando a
ação perseverante é necessária, ou ele continua de forma inapropriada quan-
do tal ação é ineficaz? Que pessoas, lugares, situações e atividades ele está
evitando ou se afastando das mesmas?
5. Fatores Motivacionais
Avalie fatores positivos – por exemplo, objetivos, sonhos, desejos, visões e valores.
Também avalie fatores negativos: barreiras internas para a mudança (ou seja, fusão
e esquiva) e barreiras externas para a mudança (por exemplo, situação financeira
ou social).

6. Flexibilidade psicológica e Pontos Fortes do Cliente


Avalie áreas da vida na qual o cliente já exibe flexibilidade psicológica através da
desfusão, aceitação, eu-como-contexto, contato com o momento presente, conexão
com valores e ação comprometida. Identifique também fortalezas pessoais e habili-
dades de vida úteis que o seu cliente já possui que podem ser utilizadas na terapia.

ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE FAZER A ANAMNESE


Observações sobre a seção 1: A Queixa Apresentada. Nesta seção, você também poderá in-
cluir uma questão como esta: o que você espera obter com a terapia? A resposta geralmente irá
lhe dizer muitas coisas sobre a agenda de controle emocional do cliente. Possivelmente também
irá lhe dizer como ele quer se sentir (feliz, mais confiante, com mais autoestima, etc.) ou de
62
quais sentimentos ele quer se ver livre (ansiedade, depressão, memórias ruins, etc.).
As perguntas em 1b são muito úteis: Como esta questão interfere com sua vida? O que ela
impede você de fazer ou ser? As respostas dos clientes geralmente se enquadram em três ca-
tegorias; a questão é problemática porque:

1. “Eu não aguento mais me sentir assim.” Esta resposta aponta para a agenda de
esquiva experiencial. Você pode dar seguimento perguntando sobre quais pen-
samentos/sentimentos/memórias são as mais difíceis de sentir, ou as mais inde-
sejáveis, ou quais têm o maior impacto.
2. "Eu apenas quero ser normal." Esta resposta aponta para a fusão com o eu
conceitual. O cliente possivelmente está fundido com " Eu sou anormal/ estra-
nho/fraco [ou outros]." Você pode dar seguimento perguntando: "Então, o que
sua mente diz sobre o que esse problema significa para você?"
3. "Isso me impede de ser ou fazer X, Y, Z." Esta resposta muitas vezes aponta pa-
ra valores e objetivos. Você pode dar seguimento solicitando mais informação
sobre X, Y e Z.
Observações sobre a seção 2: Avaliação Inicial de Valores. Incluí muitas questões nesta
seção para dar a você uma variedade de opções para eliciar valores. Não há necessidade de
fazer todas estas perguntas para cada cliente; você deve escolher as que são mais relevantes
ou provavelmente mais úteis para cada cliente. (Se você receber respostas como "Eu não sei"
para cada questão que você fizer, e seu cliente não quer ou não sabe preencher os formulários
Tiro ao Alvo ou Bússola da Vida, isto é informação útil; isto é uma indicação de que você
está lidando com um cliente que está no ápice do espectro da esquiva experiencial, e você
provavelmente terá de ajudá-lo a desenvolver habilidades de desfusão e aceitação antes que
possa chegar nos valores em profundidade.) O Tiro ao Alvo é uma ferramenta de avaliação
mais simples do que a Bússola da Vida e é uma escolha inicial melhor se você suspeitar de
que seu cliente tem esquiva experiencial elevada.
Observações sobre a seção 3: O Contexto de Vida Atual, História Familiar, História So-
cial, Outras Ferramentas de Avaliação. O contexto de vida inclui saúde, medicações, traba-
lho, finanças, relações, família, cultura, etc. Procure também por fatores que reforçam o pro-
blema – por exemplo, receber atenção, manipular outros, obter benefícios por incapacitação,
evitar medo de rejeição/intimidade/fracasso, adesão a crenças culturais, etc. Identifique estes
fatores o quanto antes pois eles provavelmente irão gerar barreiras para o avanço da terapia.
Mantenha seus olhos e ouvidos abertos para "ganhos secundários". Por exemplo, quando o pai
somente ajuda a mãe com suas três crianças pequenas quando ela está acamada sentindo-se
"deprimida demais para fazer algo", então este ganho secundário pode ser uma barreira para a
recuperação da mãe.
A história familiar e a história social também incluem relações significativas do passado e do
presente, e como o cliente percebe como foi impactado por esta história. Aqui estamos olhan-
do para o contexto mais amplo da vida do cliente tal como é hoje, bem como para eventos
chave do passado que moldaram o comportamento atual do cliente e contribuíram para pen-
samentos, sentimentos, memórias problemáticas, etc. que aparecem na sua vida atualmente.
Em particular, note fatores sociais e financeiros que desempenham um papel nos problemas
atuais do cliente.
Pessoalmente tendo a passar bem rapidamente por estes aspectos com a maioria dos meus
clientes pois sei que posso coletar mais informações quando se fizer necessário. Entretanto,

63
como tudo na ACT, você pode modificar isso de acordo com as suas preferências e necessi-
dades. Assim, se você quiser fazer uma conceituação mais profunda sobre como o comporta-
mento atual foi moldado pela experiência passada, então aconselho você a demorar mais para
explorar a história passada do cliente.
Observações sobre a seção 4: Inflexibilidade Psicológica. Esta seção é bem autoexplicativa:
estamos à procura de processos patológicos centrais nos quais iremos mirar depois com aten-
ção plena e ações baseadas em valores.
Observações sobre a seção 5: Fatores Motivacionais. A esta altura você já deverá ter junta-
do muitas dessas informações através das seções 1, 2 e 3. É claro, com alguns clientes você
inicialmente terá poucas respostas úteis para estas questões sobre valores e objetivos. Mas isto
está bem: isto apenas diz a você que este cliente provavelmente necessita ser trabalhado para
desenvolver habilidades de desfusão e aceitação antes que se possa trabalhar valores com ele.
O próprio fato de este cliente ter procurado terapia aponta na direção de valores. Por exemplo,
em um caso extremo como de um cliente que recebeu uma sentença em que tem como opções
fazer terapia ou ir para a prisão, o próprio fato de ele ter vindo ver você aponta para valores
relacionados a liberdade. (Você também pode usar o acrônimo FEAR para identificar obstácu-
los à mudança: para maiores detalhes veja o capítulo 12.)
Observações sobre a seção 6: Flexibilidade Psicológica e Pontos Fortes do Cliente. Ava-
lie as áreas de vida nas quais o cliente já exibe flexibilidade psicológica através de desfusão,
aceitação, um sentido de eu-como-contexto, contato com o momento presente, conexão com
valores e adoção de ação comprometida. Isto é uma parte extremamente importante da anam-
nese. Se imaginamos a flexibilidade psicológica numa escala de 0 a 100, provavelmente não
haveria nenhum cliente que pontuasse zero. Vamos descobrir então quais elementos da flexi-
bilidade psicológica ele já está usando, em que contextos, e com que resultados. Talvez você
queira fazer-lhe perguntas diretas, como as seguintes:

 Você alguma vez percebeu que é capaz de se desligar de seus pensamentos ou não le-
vá-los tão a sério? Você já percebeu sua mente lhe criticando, mas você não se dei-
xando influenciar por isso?
 Você já se deu conta de que consegue tolerar seus sentimentos mesmo quando são
muito desagradáveis?
 Você já teve uma percepção de ser capaz de “dar um passo atrás” e apenas observar
pensamentos e sentimentos dolorosos em vez de lutar contra eles?
 Você tem alguma prática espiritual, religiosa ou meditativa? (Você pode perguntar es-
pecificamente sobre yoga, tai chi, artes marciais, meditação, prece, etc.)
 Quando você se sente conectada com a vida, consigo mesmo ou com mundo? Quando
você tem sensações de significado, propósito e vitalidade? Fazendo que tipo de ativi-
dades? Aonde? Quando? Com quem? Quando você tem uma sensação de que está fa-
zendo o máximo em sua vida, ou contribuindo para algo importante, ou se conectando
com algo que “puxa você para fora de si mesmo”?
 Quando você se “puxa” e faz o que precisa fazer independente de como está se sentindo?
 Quando você está plenamente presente – ou seja, consciente e engajado no que está
fazendo em vez de estar “perdido em sua cabeça”? Fazendo que tipo de atividades?
Com quem? Aonde? E quando?

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Obter um Consentimento Livre e Esclarecido
O consentimento livre e esclarecido inclui alguma argumentação sobre:
 o modelo da ACT: o que é a ACT e o que isso envolve;
 a importância dos exercícios vivenciais e da prática de habilidades; e
 possíveis experiências adversas.
Para passar da anamnese para o consentimento livre e esclarecido, você pode dizer algo como
“Existe bastante coisa que eu poderia lhe perguntar sobre isso, mas você já me forneceu material
suficiente para começarmos. O que eu gostaria de fazer neste ponto é falar-lhe um pouco sobre a
linha terapêutica que eu utilizo, o que ela envolve, possível duração da mesma, e basicamente me
certificar de que é a abordagem apropriada para você. Pode ser?

O MODELO DA ACT: O QUE É A ACT E O QUE ELA ENVOLVE


Em seguida você pode providenciar um resumo sumário da abordagem ACT, conforme está
detalhado a seguir. (Sugiro que você pegue este roteiro e o reescreva ou modifique usando
suas próprias palavras, e então pratique até que fique na ponta da língua de forma que você
consiga resumir rapidamente a ACT para colegas, profissionais de saúde, amigos, parentes e
pessoas que você encontra em almoços ou jantares.)
Terapeuta: Você conhece alguma coisa sobre o modelo de terapia com que eu trabalho?
Cliente: Não.
Terapeuta: Bem, trata-se de uma terapia embasada cientificamente que tem um nome um
pouco incomum. Chama-se terapia de aceitação e compromisso mas costu-
mamos chamá-la de ACT (que é a sigla em inglês de Acceptance and
Commitment Therapy). Ela recebe o seu nome de uma de suas mensagens
centrais: aceite o que está fora de seu controle pessoal e comprometa-se a
adotar ações que melhorem sua vida. A meta da ACT é basicamente muito
simples: ajudar você a criar uma vida rica, plena e significativa ao mesmo
tempo em que administra de forma efetiva a dor e o estresse que vem junto.
A ACT nos ajuda a alcançar isso de duas maneiras. Primeiro, ela nos ajuda a
desenvolver habilidades psicológicas para lidar com nossos pensamentos e
sentimentos dolorosos mais efetivamente de formas que eles tenham menos
impacto e influência sobre nós. Chamamos estas habilidades de “habilidades
de atenção plena (ou mindfulness). Segundo, a ACT nos ajuda a clarificar o
que é realmente importante e significativo para nós – o que chamamos de
nossos “valores” – e então usamos este conhecimento para nos guiar, inspi-
rar, e motivar quando fazemos mudanças em nossa vida.

Observe a frase em itálico: lidar com nossos pensamentos e sentimentos dolorosos mais efeti-
vamente de formas que eles tenham menos impacto e influência sobre nós. Esta redação é
muito importante. A ACT não tem nada a ver com reduzir, evitar, eliminar ou controlar estes
pensamentos e sentimentos – ela tem a ver com reduzir seu impacto e influência sobre o com-
portamento (com vistas a facilitar o viver com base em valores).

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Dica Prática: Você não precisa necessariamente usar as palavras mindfulness ou
“atenção plena”. Isto está bem para a maioria dos clientes, mas algumas associ-
am estas palavras com hipnose, religião, ou o movimento New Age. Assim, em
vez de usar essas palavras, você falar sobre “habilidades psicológicas” ou “no-
vas maneiras de lidar com seus pensamentos e sentimentos”; você pode tam-
bém usar expressões alternativas como “observar”, “notar”, “abrir-se”, “cen-
trar-se”, “estar presente”, “focar”, “prestar atenção”, etc.

A IMPORTÂNCIA DOS EXERCÍCIOS VIVENCIAIS E DA PRÁTICA DE


HABILIDADES
Depois do roteiro acima você pode dizer algo assim:
Terapeuta: Conforme mencionei antes, a ACT é um modelo embasado cientificamente. Ela
tem provado ser efetiva com um amplo espectro de problemas, desde depressão,
ansiedade, estresse laboral a drogadição e esquizofrenia. É um modelo de terapia
muito ativo. Durante as sessões não apenas falamos; na verdade, praticamos tam-
bém habilidades psicológicas de modo que você possa aprender a como lidar com
aqueles pensamentos e sentimentos difíceis de forma mais efetiva. E como qual-
quer habilidade, quanto mais você praticar, melhor você ficará. Assim, o que fa-
zemos durante estas sessões será útil, mas o que realmente vai fazer a diferença é
praticar estas novas habilidades entre uma sessão e outra, ou seja, fora das sessões.
Afinal de contas, se você quiser aprender a tocar guitarra, você não esperaria se
tornar um grande guitarrista com apenas algumas poucas aulas – você esperaria ter
de praticar para chegar a isso.

Quando os clientes querem mais detalhes. Neste ponto, alguns clientes poderão solicitar mais
detalhes sobre o que está envolvido. Se isto ocorrer, você pode dizer algo como o que segue (ajus-
tando sua resposta para responder de forma mais específica a pergunta do cliente):

Terapeuta: Bem, o que fazemos pode variar enormemente de uma sessão para outra. Em
algumas sessões vamos focar em como ajudar você a deixar ir pensamentos,
memórias ou preocupações dolorosas, ou a se libertar de crenças autolimitan-
tes. Às vezes iremos olhar para novas formas de lidar com sentimentos fortes
como medo, raiva, tristeza ou culpa. Outras vezes iremos focar em entrar em
contato com o que é mais importante para você, estabelecer objetivos, ou
elaborar um plano de ação efetivo. Ou seja, o que iremos fazer poderá variar
muito dependendo de qual é o problema, de como você está conseguindo li-
dar com ele e do que você considerou útil.

Um pequeno número de clientes talvez peça mais informações nesse ponto sobre que tipo de habi-
lidades eles irão aprender ou que exercícios irão fazer. Se isso ocorrer, você poderia responder com
algo assim:
Terapeuta: Penso que é legal que você esteja impaciente para saber mais, mas tentar des-
crever exatamente o que fazemos na ACT é mais ou menos como tentar des-
crever como é esquiar, mergulhar ou andar de cavalo: você pode falar sobre
isso extensivamente, mas você nunca saberá de fato como são até que come-
ce a praticá-los. Da mesma forma, não vou conseguir transmitir em palavras
o que a ACT realmente é. Mas o que pretendo fazer daqui a pouco é conduzir

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você em um exercício curto para lhe dar um gosto do que está envolvido. Ca-
so não sobre tempo hoje, então vamos deixar para a próxima sessão. Isto está
bem para você?

(Outra possibilidade seria conduzir o cliente através da Metáfora da ACT Resumida que está no
capítulo 1. Entretanto, antes que faça isso, há algumas coisas a serem consideradas. Primeiro,
a metáfora é apropriada para este cliente neste ponto da terapia? Estou tendo a cautela neces-
sária ao utilizá-la com pacientes com baixo funcionamento ou com aqueles que suspeito se-
rem extremamente evitativos experiencialmente porque eles podem interpretar mal a mesma,
criticá-la, ou insistir que não funcionará com eles? Em contraste, pacientes com funcionamen-
to mais elevado tipicamente começam a gostar de fazê-lo. Segundo, você está com tempo
suficiente nesta sessão? Você deve reservar alguns minutos para executar este exercício e se
assegurar de que terá pelo menos outros cinco minutos para abordar perguntas e preocupações
do cliente. E, por último, mas não menos importante, não defendo o uso dessa metáfora como
parte do consentimento livre e esclarecido enquanto você não tiver um pouco mais de prática
na ACT e uma compreensão mais acurada do modelo de modo que possa abordar qualquer
dúvida ou preocupação que vierem a surgir em maneira efetiva e consistente com a ACT.)
Quando o cliente tem dúvidas. Vamos supor que seu cliente diga: “Acho que isto não vai
funcionar pra mim”. Pensamentos como este são perfeitamente naturais, e somente são pro-
blemáticos se o cliente se funde com eles. Se isto ocorrer, você tem em suas mãos uma opor-
tunidade perfeita para estabelecer um contexto de aceitação e desfusão. Por exemplo, você
pode dizer: “Este é um pensamento perfeitamente natural. Muitas pessoas sentem dúvidas no
começo. E o fato é que não existe nenhum tratamento que possa garantir que vai funcionar
com todas as pessoas. Então eu não posso prometer que isto vai funcionar com você. Eu pos-
so te dizer que funcionou com muitas outras pessoas, e eu posso puxar todos os estudos e arti-
gos de pesquisa que foram publicados, mas mesmo isto não vai garantir que vai funcionar
para você. Entretanto, existe uma coisa que eu posso garantir: se pararmos com a sessão toda
vez que você tiver o pensamento Isto não vai funcionar, então eu posso garantir com absoluta
certeza de que NÃO chegaremos a lugar algum. Então, mesmo que você tenha o pensamento
de que isto não vai funcionar, você está disposto a fazer uma tentativa mesmo assim?”.
Observe que não estamos desafiando o pensamento do cliente. Em vez disso, estamos vali-
dando o mesmo como natural e normal. E estamos estabelecendo um contexto onde (a) é ok
para o cliente ter esse pensamento (aceitação), e (b) o pensamento é apenas um pensamento e
não controla as ações do cliente (desfusão).
POSSÍVEIS EXPERIÊNCIAS ADVERSAS
Depois passamos a discutir possíveis consequências adversas da terapia. Gosto de usar a metá-
fora da montanha russa: “Se quisermos aprender novas habilidades para lidar com pensamentos
e sentimentos dolorosos, vamos ter que trazer à tona alguns desses pensamentos e sentimentos
durante a sessão de modo que você algo com que praticar. Isto significa que de vez em quando
a terapia pode ficar um pouco parecida com andar de montanha russa. Mas eis minha garantia:
Vou estar na montanha russa com você no carrinho a seu lado.” Se você sabe que seu cliente é
uma pessoa com esquiva experiencial muito elevada ou tem a tendência de largar a terapia, en-
tão pode ser útil dizer algo do tipo: “Você pode de vez em quando vir a sentir um forte impulso
de parar com a terapia. Isto é completamente natural e normal, e se isto vier a ocorrer, então
quase sempre vai ser quando você estiver se defrontando com uma questão muito importante –
geralmente algo que pode ter um impacto enorme em sua vida. Então, sempre que você come-
çar a se sentir assim, espero que esteja disposto a compartilhar isso comigo de formas que a
gente possa trabalhar sobre esses sentimentos durante nossas sessões.”.

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Acordo em Relação aos Objetivos de Tratamento
Conseguir um acordo sobre aos objetivos e formular um plano de tratamento pode não vir de
forma natural para você, mas é importante; de outra forma, como você saberia que rumo se-
guir em suas sessões? É claro que enquanto vocês elaboraram o consentimento livre e esclare-
cido, vocês já combinaram alguns objetivos básicos do tratamento: que durante as sessões o
cliente aprenderia habilidades de atenção plena, clarificaria valores, e utilizaria valores para
guiar a mudança comportamental, e entre uma sessão e outra, praticaria e aplicaria estas novas
habilidades. Para alguns clientes isto pode ser tão aproximadamente detalhado quanto se con-
segue numa primeira sessão.
Se o seu cliente preencheu o formulário Tiro ao Alvo ou o Bússola da Vida, você pode per-
guntar para ele: “Se você tivesse que escolher apenas uma dessas áreas da vida para começar
a trabalhar sobre a mesma, qual delas vocês escolheria? Como você gostaria de melhorá-la?”
Com um pouco de sorte, isto vai lhes dar alguns objetivos úteis e baseados em valores para
utilizarem como objetivos do tratamento. Entretanto, alguns clientes no começo irão lhe for-
necer “objetivos emocionais”, “objetivos de pessoa morta” ou “objetivos de insight”. Vamos
agora dar uma rápida olhada em cada um dos mesmos.

OBJETIVOS EMOCIONAIS
“Eu só quero ser feliz”, “não quero ficar deprimido”, “quero parar de me sentir ansioso”,
“quero me sentir autoconfiante”, “quero ter uma autoestima mais elevada”, “quero seguir em
frente”, “quero me sentir mais calmo”, “quero parar de me preocupar”. Na ACT chamamos
isto de “objetivos emocionais” porque em cada caso o objetivo é ter controle sobre como nos
sentimos: livrar-se de pensamentos e sentimentos “ruins” e substituí-los por “bons”.
Se concordamos com estes objetivos, estaremos reforçando a esquiva experiencial, um pro-
cesso patológico central e que é o oposto da atenção plena. Entretanto, se dissermos isto ao
nosso cliente sem rodeios, isto provavelmente vai ser contraproducente. Então é melhor dizer
algo do tipo: “Ok. Você me permite dizer isso dessa forma? Existem pensamentos e sentimen-
tos dolorosos com os quais você tem estado lutando, e um dos objetivos da terapia é aprender
novas maneiras de lidar com eles.”
Tendo dito tudo isso, existem algumas poucas circunstâncias especiais nas quais é melhor ser
muito claro e específico de que nosso objetivo é exatamente não eliminar pensamentos e sen-
timentos indesejáveis. Por exemplo, suponha que você tem um cliente com TEPT que lhe diz:
“Eu apenas quero me livrar dessas memórias”. Uma resposta útil para isto poderia incluir a
Metáfora do Filme de Terror.

A METÁFORA DO FILME DE TERROR


Terapeuta: Como você sabe, existem alguns poucos modelos cientificamente comprovados
para tratar TEPT – são chamados tratamentos “empiricamente comprovados” –
mas nenhum deles utiliza a eliminação de memórias ruins. O que todos eles fa-
zem é ajudar a pessoa a responder às suas memórias de forma diferente, de
forma que elas tenham menos impacto e influência sobre ela. Vou usar uma
analogia para você entender melhor: quando essas memórias emergem, é como
assistir um filme de terror tarde da noite, sozinho, numa casa velha, e comple-
tamente no escuro. Agora suponha que este mesmo filme de terror está passan-
do, mas desta vez a TV está num canto da sala, é dia claro, a luz do sol está en-
trando pela janela, sua casa está cheia de amigos e familiares, e vocês estão in-

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teragindo – conversando, rindo, comendo, se divertindo. O filme é exatamente
o mesmo – está passando na TV no canto da sala – mas está exercendo muito
menos efeito em você. As habilidades de atenção plena irão capacitar você a
fazer este tipo de coisa. Não conheço nenhuma maneira de deletar permanen-
temente estas memórias, mas você pode mudar a relação que tem com elas de
modo a poder continuar a viver sua vida e fazer aquelas coisas que você real-
mente quer fazer.

OBJETIVOS DE PESSOA MORTA


Muitas vezes os objetivos de seus clientes serão parar de sentir ou de agir de determinada ma-
neira – por exemplo, “Quero parar de usar drogas”, “Quero parar de gritar com meus filhos”,
“Não quero mais ter ataques de pânico”, “Não quero mais me sentir deprimido”. Na ACT,
estes tipos de objetivos são chamados de “objetivos de pessoa morta” (Lindsley, 1968). Um
objetivo de pessoa morta é toda e qualquer coisa que um cadáver consegue fazer melhor do
que um ser humano vivo. Por exemplo, um cadáver nunca vai usar drogas, nunca vai gritar
com as crianças, nunca vai ter um ataque de pânico e nunca vai se sentir deprimido.
Na ACT queremos estabelecer “objetivos de pessoas vivas” – coisas que um ser humano vivo
pode fazer melhor do que um cadáver. Para mudar de um objetivo de pessoa morta para um
objetivo de pessoa viva, você pode fazer perguntas simples como estas:
 “Vamos supor que isso aconteça. Então o que você faria de forma diferente? Que tipo
de coisa você faria ou faria mais vezes? E como você agiria de forma diferente com
seus amigos e sua família?
 “Se você não usasse drogas, o que você estaria fazendo em vez disso?
 “Se você não gritasse com seus filhos, como você interagiria com eles?
 Se você não tivesse ataques de pânico ou não se sentisse deprimido, o que você faria dife-
rente em sua vida?
Duas perguntas úteis para transformar objetivos emocionais e objetivos de pessoa morta em
objetivos congruentes com valores são a pergunta da varinha mágica e a pergunta do docu-
mentário de sete dias. Vamos dar uma rápida olhada nas mesmas agora.
A pergunta da varinha mágica. Esta é uma pergunta muito boa para enxergar através da
agenda emocional. Note a expressão “não são mais um problema para você”; isto é muito
diferente do que dizer “todos desapareceram”.
Terapeuta: Vamos supor que eu tenho uma varinha mágica. Eu agito essa varinha e todos
os pensamentos e sentimentos com os quais você tem estado lutando não são
mais um problema para você. O que você faria de forma diferente se isso acon-
tecesse? Que coisas você começaria a fazer ou faria mais vezes? Como você
agiria de forma diferente com outras pessoas? O que você faria diferentemente
no trabalho, em casa, nos fins de semana?
A pergunta do documentário de sete dias. Esta é uma pergunta muito boa para ajudar o
cliente a se tornar mais específico sobre as mudanças que ele quer fazer em sua vida.
Terapeuta: Vamos supor que nós te seguimos com uma equipe de filmagem por uma se-
mana, filmando tudo o que você fez e editamos este material na forma de um
documentário. E vamos supor também que fizemos a mesma coisa em algum
ponto do futuro, depois de termos terminado o trabalho que estamos fazendo

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na terapia. O que iríamos ver ou ouvir no novo vídeo que indicaria que a tera-
pia foi útil? O que iríamos ver ou ouvir você dizendo? O que notaríamos de
diferente na maneira em que você interage com outras pessoas ou na maneira
em que você gasta seu tempo?

OBJETIVOS DE INSIGHT
“Quero entender por que sou assim”, “Preciso descobrir por que continuo fazendo isso”,
“Quero descobrir quem realmente sou”. Objetivos de tratamento como estes costumam levar
facilmente para a “paralisia da análise” – para uma sessão após outra de discussões intelec-
tuais/teóricas/conceituais e reflexões sem fim sobre o passado em vez de sobre o desenvol-
vimento de novas habilidades para viver com atenção plena e com base em valores.
Como sempre acontece na ACT, os clientes irão desenvolver uma grande quantidade de
compreensão e de insight sobre seu próprio comportamento, pensamentos, sentimentos, per-
sonalidade e identidade. Eles geralmente terão percepções poderosas sobre quem são, como
suas mentes funcionam, o que realmente querem na vida, como o passado os influenciou, e
por que fazem as coisas que fazem. Mas na ACT desenvolvemos estes insights através do
trabalho vivencial, e não através de longas discussões analíticas. Além disso, este insight
não é um fim em si mesmo: é simplesmente algo que acontece na jornada rumo ao desejado
resultado de uma vida com atenção plena e baseada em valores.
Para ir para um objetivo de tratamento mais útil, digo: “Como parte do trabalho que fazemos jun-
tos, você certamente receberá muito mais insight sobre quem você é, e sobre o que você realmente
quer na vida. Tudo isto já é uma situação estabelecida; acontece como parte do processo na ACT.
Quando pergunto o que você quer da terapia, o que quero dizer é, uma vez que você tem o insight
e a compreensão, o que você quer fazer de forma diferente? Se você tivesse esse conhecimento, o
que você faria que você não está fazendo agora? Como você se comportaria de modo diferente? O
que outras pessoas notariam de diferente em você?

OBJETIVOS DE TRATAMENTO: ALGUNS EXEMPLOS


Eis alguns exemplos de objetivos de tratamento, resumidos pelo terapeuta.
Objetivos de Tratamento para Depressão. Em resposta a pergunta da varinha mágica,
este cliente respondeu que o que faria de forma diferente seria voltar para o trabalho, come-
çar a se exercitar novamente, e gastar mais tempo com seus amigos e família.
Terapeuta: Então poderíamos dizer isso dessa forma: Parece que o que você entende por
depressão é, em parte, que você está preso em uma grande quantidade de pen-
samentos desprazerosos – autojulgamentos negativos, uma sensação de de de-
samparo e desesperança, e pensamentos e memórias sobre eventos dolorosos
do passado. Uma outra parte disso é que você está lutando com alguns senti-
mentos realmente dolorosos, incluindo culpa, tristeza, ansiedade e cansaço fí-
sico. E a terceira parte disso é que você está fazendo coisas que tornam sua vi-
da pior, tais como gastar muito tempo ficando na cama, isolar-se socialmente,
ficar em casa, não fazer exercício, evitar o trabalho, etc. Podemos, quem sabe,
alterar os objetivos à medida que avançarmos, mas por enquanto será que po-
demos chegar a um acordo de que o que estamos objetivando é (a) aprender
novas habilidades para lidar com todos esses pensamentos e sentimentos difí-
ceis, e (b) ajudar você a voltar a fazer coisas que tinham importância para vo-
cê, tais como socializar, trabalhar, exercitar-se, e, em termos gerais, fazer coi-
sas que tragam satisfação para você? Você concorda com isso?

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Observe como o terapeuta divide a questão em três elementos: (1) ficar preso em pensamen-
tos, (2) lutar com sentimentos, e (3) ações disfuncionais. Isto é intencional. Podemos sutil-
mente estabelecer as bases para dois insights chave:

1. Nossos pensamentos e sentimentos não são o problema central; o que cria


nossos problemas é ficarmos enredados nos mesmos (fusão) e lutarmos con-
tra eles (esquiva).
2. Nossos pensamentos e sentimentos não controlam nossas ações.
Este segundo insight chave muitas vezes pega os terapeutas de surpresa, então vamos tomar
um momento para explorá-lo. Nossos pensamentos e sentimentos certamente influenciam
nossas ações, mas eles não controlam nossas ações. Nosso comportamento em qualquer
momento está sob a influência de múltiplas correntes de estímulos, provenientes tanto do
mundo dentro de nossa pele quanto do mundo externo, fora de nós. Volte por um instante
para a Metáfora do Show no Palco: nossas ações são influenciadas por tudo que há no palco
– tudo que podemos ver, ouvir, cheirar, tocar, sentir ao tato, e pensar.
Então, quando é que os pensamentos e sentimentos têm uma maior influência sobre nossas
ações? Você adivinhou: em um contexto de fusão e esquiva. Entretanto, em um contexto de
desfusão e aceitação (ou seja, de atenção plena), estes mesmos pensamentos e sentimentos
têm muito menos influência sobre nosso comportamento, o que nos libera para agir com
base em nossos valores. Isto significa que quanto maior for a nossa flexibilidade psicológi-
ca, maior será também a nossa capacidade para escolher as ações que tomamos independen-
temente dos pensamentos e sentimentos que estamos tendo. Com isto em mente, queremos
repetidamente traçar uma diferença entre (a) os pensamentos e sentimentos do cliente, e (b)
as ações do cliente quando estes pensamentos e sentimentos emergem. Em última análise,
queremos quebrar a ilusão que os primeiros (os pensamentos) controlam estes últimos (os
sentimentos e as ações do cliente). (Esta abordagem provavelmente só será bem-sucedida
quando a fizermos de forma experiencial, não didática.)
Objetivos de Tratamento para adição ao álcool. Este cliente queria parar de beber porque
(a) sua mulher estava ameaçando deixá-lo, e (b) num checkup médico recente seu fígado
estava em condições ruins. Em resposta à pergunta da varinha mágica, ele queria ser um
"marido melhor" e "consertar" seu fígado.
Terapeuta: Resumindo, quando você tentou parar de beber no passado, isto nunca durou
muito porque você tinha fissuras muito fortes ou você tinha sentimentos de an-
siedade e depressão e então você voltava a beber para fazê-los ir embora. As-
sim, nossos objetivos aqui na terapia são (a) aprender algumas habilidades no-
vas de modo que você possa lidar com essas fissuras e esses sentimentos de
uma forma mais efetiva, (b) construir uma relação melhor com sua esposa, e
(c) começar a cuidar de seu fígado e torná-lo tão saudável quanto possível.
Confere?
Observe como o terapeuta se moveu de um objetivo de pessoa morta – parar de beber – para
vários objetivos de pessoas vivas.

Dica Prática: Alguns clientes têm tantas questões a resolver que eles não sabem
por onde começar, ou se sentem sufocados. Nestes casos, os formulários do Tiro
ao Alvo ou da Bússola de Vida são muito úteis. Você pode dizer ao cliente: "Esco-
lha um desses domínios e vamos começar por ali. O que você faria de forma di-
ferente nesta área de sua vida?"
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Objetivos de tratamento genéricos. Às vezes, apesar dos seus melhores esforços, seu cli-
ente será incapaz ou não estará disposto a lhe fornecer qualquer objetivo específico orienta-
do por valores. Ele pode continuar respondendo "Não sei", "Nada me importa" ou "Só quero
parar de me sentir assim", ou "Apenas quero me sentir feliz". Nestes casos, não force nada;
apenas aceite que por agora seus objetivos de tratamento serão vagos e genéricos. A seguir
apresento duas alternativas que você poderia utilizar nestes casos.
Terapeuta: Então, que tal se concordássemos com o seguinte? O trabalho que faremos aqui
será baseado em duas coisas. Primeiro, aprender novas maneiras de lidar com
seus pensamentos e sentimentos de forma mais efetiva de modo que não pos-
sam mais impedir você de viver a vida que você quer viver. Segundo, embora
agora você não tenha nenhuma ideia sobre o que você quer e se sinta como se
nada importasse, vamos fazer disto um lugar onde você pode descobrir o que
importa para você e que tipo de vida você quer ter. E uma vez que tivermos
descoberto isso, vamos começar a fazer isso acontecer.
Terapeuta: Então, por enquanto, vamos apenas dizer que o trabalho que faremos aqui será
sobre dar a você uma vida que te empolga, uma vida que você sente que é dig-
na de ser vivida. Neste momento, você ainda não sabe como seria essa vida,
mas isso está bem. Vamos descobrir isso à medida que formos avançando. As-
sim, uma das metas de nosso trabalho aqui será descobrir o que é importante
para você e que tipo de vida você quer viver. E uma outra meta será aprender
maneiras melhores de lidar com a dor que a vida está te trazendo atualmente. E
ambas as metas em última instância servem a um só propósito: criar uma vida
rica e significativa.

Dica Prática: Observe em todos estes exemplos como o terapeuta utiliza ter-
mos e expressões como "lidar com" a dor em vez de "controlar", "reduzir" ou
"eliminar". A atenção plena não é um caminho para controlar, reduzir ou elimi-
nar pensamentos e sentimentos; é uma maneira de "lidar com eles gentilmente"
ou "acolhê-los compassivamente" ou "segurá-los com leveza". Outros termos
que você pode usar incluem "retirar-se da batalha", "parar com a luta" ou "mu-
dar sua relação" com seus pensamentos e sentimentos.

Acordo em relação ao Número de Sessões


Quantas sessões de ACT um cliente necessita? Bem, quanto mede um pedaço de corda? Já vi
coisas incríveis acontecerem com apenas uma sessão de ACT e também já tive clientes com
os quais trabalhei em base regular por três ou quatro anos! Como uma regra geral, quanto
maiores forem os problemas dos clientes em número, duração, severidade e impacto em sua
qualidade de vida, mais longa será a duração da terapia. Entretanto, isto não tem que ser
necessariamente assim. A ACT pode ser aplicada em muitos formatos diferentes, incluindo
os seguintes:
 Terapia de longo prazo: por exemplo, um protocolo de ACT para Transtorno de Per-
sonalidade Borderline prevê quarenta sessões em grupo, cada uma com duas horas de
duração (Brann, Gopold, Guymer, Morton, & Snowdon, 2007).
 Terapia Breve: por exemplo, um protocolo popular da ACT para transtornos de ansi-
edade é baseado em doze sessões de uma hora (Eyfert & Forsyth, 2005) e um estudo

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publicado de ACT para estresse crônico e dor é baseado em um protocolo de oito ho-
ras (Dahl et al., 2004)
 Terapia Muito Breve: por exemplo um estudo publicado sobre ACT para esquizofre-
nia crônica consiste em apenas três ou quatro sessões de uma hora. Esta intervenção
muito breve levou a uma redução de 50 por cento nas taxas de readmissão hospitalar.
(Obviamente, com estas intervenções de ACT muito breves, não é como se o cliente abra-
çasse total e plenamente a vida consciente, baseada em valores e nunca mais tivesse pro-
blemas. Trata-se mais de fornecer os elementos centrais da ACT – estar presente, abrir-se,
fazer o que importa – de uma forma rápida e com benefícios significativos. O cliente então
se torna seu próprio terapeuta ACT, e todos os tipos de problemas e desafios que a vida lhe
trouxer irão lhe oferecer oportunidades para desenvolver suas habilidades.)
Alguns livros-texto de ACT sugerem que se faça um acordo para doze sessões inicialmente,
mas não há nada mágico sobre esse número, assim você pode ajustá-lo de acordo com sua
clientela. Por exemplo, na Austrália, o país em que eu moro e pratico, não há a mesma aber-
tura para a terapia que existe nos Estados Unidos, e por isso costumo combinar apenas seis
sessões inicialmente.
Neste ponto, dizemos ao cliente que a terapia não é uma jornada suave, mas envolve altos e
baixos. Por exemplo, você pode dizer: "Uma coisa que devo mencionar é que a terapia nem
sempre progride sem problemas. Às vezes você dá um grande salto para frente; e às vezes
você dá um grande passo para trás. Então, porque pode ser um pouco para cima e para bai-
xo, eu me pergunto se você se comprometeria com seis sessões inicialmente – e no final
desse período vamos avaliar como a terapia está indo e verificar se você precisa de mais
sessões. E vai ser você quem vai tomar essa decisão, não eu. Você vai avaliar se estamos
fazendo progressos ou não. Agora, obviamente, algumas pessoas não precisam de todas as
seis sessões, e outras acabam precisando de mais do que isso. Neste ponto, é difícil para
mim prever quantas sessões você irá necessitar, então pergunto se você estaria disposto a
comprometer-se inicialmente com seis sessões?"

Faça um Breve Exercício Vivencial


Quando o tempo permite, gosto de fazer um breve exercício vivencial durante a primeira ses-
são. Qualquer exercício de atenção plena será suficiente – de preferência um que dure cerca
de cinco minutos. Por exemplo, você pode fazer uma parte do Exercício do Hexaflex (ver ca-
pítulo 4), ou exercícios como Soltando a Âncora ou Dez Respirações Conscientes (ver capítu-
lo 9). Então, uma vez que você tiver feito este exercício na primeira sessão, você pode pedir
permissão para iniciar cada sessão com um exercício semelhante.

Dê uma Tarefa de Casa


Peça a seus clientes que façam um pouco de tarefa de casa entre esta sessão e a próxima. Isso
reforça a noção de que o ACT envolve trabalho ativo tanto na sessão quanto entre as sessões.
Por exemplo, se você conduziu seu cliente através de um simples exercício de atenção plena,
então, para a tarefa de casa, você poderia pedir que ele pratique uma vez por dia. Alternativa-
mente, você pode pedir-lhe para manter um diário ou preencher um formulário, como aqueles
no estão no final deste capítulo.

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Dica Prática: Muitas pessoas não gostam do som da expressão "lição de casa".
Ela carrega todo tipo de conotações negativas. Eu prefiro o termo "prática" ou
"experiência". Por exemplo, você pode dizer: "Você estaria disposto a praticar
algo entre agora e a próxima sessão?" Ou "Você estaria disposto a experimentar
isso e ver o que acontece? ".

Formulários
Este livro contém muitos formulários para clientes. Muitas vezes, eles são úteis porque atuam
como um lembrete da sessão, aumentam as chances de seu cliente concluir as tarefas, e forne-
cem bons materiais para a próxima sessão. (Mas eles não são essenciais e você certamente
pode fazer ACT de forma efetiva sem usar formulários, se você preferir não usá-los.)
No final da primeira sessão, se você não obteve muita informação sobre valores, e não conse-
guiu que o cliente preenchesse um formulário (Bussola de Vida ou Alvo), então você poderia
pedir-lhe que o fizesse como lição de casa. Por exemplo, você pode dizer: "Já falamos muito
sobre seus problemas hoje – os pensamentos e sentimentos com os quais você luta e as coisas
que você faz que pioram a sua vida – mas não falamos muito sobre o tipo de vida que você
quer viver, ou seja, sobre o que realmente interessa a você no quadro maior. Então, estou pen-
sando, se entre esta e próxima sessão, você estaria disposto a preencher este formulário, que
pede que você pense nessas coisas?" Outros formulários que você pode fornecer são o Diário
de Vitalidade versus Sofrimento ou o Formulário Problemas e Valores. Você pode explicar
que esses formulários ajudam a reunir mais informações para orientar a terapia. (Os formulá-
rios estão no final deste capítulo, ou podem ser baixadas gratuitamente (em inglês) a partir de
www.actmindfully.com.au ).

Alternativas para os Formulários


Alguns clientes – e alguns terapeutas – não gostam de usar planilhas e formulários. Isso não é
muito surpreendente. Tente preencher alguns você mesmo, especialmente aqueles que neces-
sitam ser preenchidos/completados em base diária, e você logo verá o quão desafiador isso
pode ser. Se os clientes se opuserem fortemente ao preenchimento de formulários, ou se você,
como um terapeuta, não gosta de usá-los, então não precisa usá-los. Eles são simplesmente
auxiliares da ACT, mas não são essenciais.
Então, ao invés de lhe dar um formulário, você poderia pedir ao seu cliente simplesmente ob-
servar durante a semana seguinte (a) o que ele faz que drena ou restringe sua vida, e (b) o que
ele faz que enriquece e expande sua vida.
Alternativamente, você poderia pedir ao seu cliente para pensar um pouco mais sobre seus
valores ou então praticar uma técnica simples de atenção plena, como a respiração consciente,
por exemplo. Você pode até pedir a ele para observar e notar alguns dos pensamentos mais
angustiantes que ele tem, e perceber o que acontece quando ele fica preso neles.

Lição de Casa para Você


Se você é um pouco parecido comigo, você talvez tenha a tendência a ler livros didáticos e
esperar que tudo "se encaixe" para que você possa replicar isso no consultório. Como se fosse
possível! Não há outro caminho: você não vai aprende ACT simplesmente lendo um livro.
Por isso, a partir de agora, no final de cada capítulo, você vai encontrar a seção de lição de
casa. Se você fizer esses exercícios, eles o ajudarão a aprender a ACT de uma maneira que

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ultrapassa a mera leitura. E porque você é a melhor pessoa para praticar, muitos desses exer-
cícios pedem que você trabalhe em seus próprios problemas.
Então, aqui estão algumas coisas que eu recomendo:
1. Leia em voz alta e parafraseie todas as falas do terapeuta nas transcrições acima – es-
pecialmente sobre o consentimento informado – para se acostumar a falar a linguagem
da ACT.
2. Faça algumas conceituações de casos rápidos. Escolha dois clientes e escreva respos-
tas breves para estas quatro perguntas: Qual é a direção de valor para o qual o cliente
deseja se mover? Com o que ele está fundido? O que ele está evitando? De que forma
não funcional ele está agindo?
3. Pratique resumindo os objetivos do tratamento. Escolha dois clientes e imagine como
você resumiria os objetivos do tratamento, usando as sugestões dadas neste capítulo.
À medida que você faz esses exercícios e todos os outros apresentados neste livro, por favor,
conceda-se permissão para fazê-los mal. Você está aprendendo um novo modelo de terapia,
então permita-se ser um iniciante, um novato, um aprendiz. Os iniciantes cometem erros (e os
especialistas também). Errar é uma parte essencial do processo de aprendizagem. E se a sua
mente começa a espancar você, então tome nota do que ela diz, para que você possa trabalhar
com esses pensamentos no capítulo 7.

SESSÕES SUBSEQUENTES
Uma das decisões mais difíceis para os novos profissionais de ACT é esta: após a sessão 1,
aonde eu começo no hexaflex? Não existe uma resposta "correta" para esta questão. Em reali-
dade não existe um ponto de partida "certo" ou "errado", pois todos os seis processos princi-
pais estão interligados e sobrepostos. (Se você é novo na ACT, essa interconectividade talvez
não fique clara até que você termine de ler este livro.) Na verdade, à medida que você se fa-
miliarizar com a ACT, você normalmente se encontrará lidando com a maioria ou com todos
os pontos do hexaflex na maioria ou em todas as sessões. À medida que você faz isso, alguns
processos serão explícitos, ou seja, você se concentrará diretamente neles na sessão – enquan-
to os outros permanecem implícitos – isto é, presentes, mas "em segundo plano".
Em termos de sessões subsequentes, os protocolos tradicionais da ACT seguem uma sequên-
cia específica:
1. Desfusão e aceitação
2. Contato com o momento presente
3. Eu-como-contexto
4. Valores e ações comprometidas
Uma sequência bem menos comum, mas que eu recomendo para couching, trabalho com ca-
sais, clientes em terapia por determinação judicial, ou clientes sem motivação, é esta:
1. Valores e ações comprometidas
2. Desfusão e aceitação
3. Contato com o momento presente
4. Eu-como-contexto
Há também um componente opcional da ACT chamado desesperança criativa, que significa
entrar em contato com os custos e a inutilidade da esquiva experiencial. A desesperança cria-
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tiva só é essencial se e quando os clientes estão tão intimamente apegados à agenda de contro-
le emocional que não estão abertos à atenção plena e à aceitação. Você pode utilizar a deses-
perança criativa em qualquer ponto na terapia onde ela se tornar necessária -– no entanto, os
protocolos tradicionais da ACT começam com ela para estabelecer as bases para a aceitação.
Como eu sou um tipo de cara tradicional (você notou meu eu conceitual aí?), nos próximos
sete capítulos, eu vou levá-lo através da sequência tradicional, começando com a desesperan-
ça criativa. No entanto, tenha em mente que não há divisões precisas entre os diferentes com-
ponentes do modelo: quando falamos sobre a "sequência de componentes", é uma maneira
conveniente de descrever a ênfase principal em cada uma dessas sessões. Por exemplo, é difí-
cil imaginar uma sessão centrada exclusivamente na aceitação sem um elemento de valores ou
uma sessão focada puramente em valores sem alguma desfusão.
Lembre-se também que, uma vez que você sabe o que está fazendo, você pode "dançar" em
torno do hexaflex em qualquer sequência que possa ser clinicamente eficaz. Por exemplo, se
você tem um cliente que se dissocia facilmente, você pode começar uma terapia ativa traba-
lhando o contato com o momento presente, ensinando-lhe exercícios de atenção plena simples
para que se "aterre" e se centre.

Que Fazemos em Cada Sessão


Lembre-se de que o objetivo da ACT é cultivar a flexibilidade psicológica: a capacidade de
ser plenamente consciente e aberto à sua experiência enquanto age com base em seus valores
– ou, dito de forma mais simples, a capacidade de "estar presente, abrir-se e fazer o que im-
porta." O resultado que procuramos é a vida consciente, baseada em valores, o que significa
fazer o que é significativo enquanto se abraça cada momento da vida.
Como ilustra a figura 5.2 (abaixo), nossa meta é ajudar os clientes a se mover de ações desa-
tentas, fundidas, evitativas e ineficazes – que levam ao sofrimento – para ações conscientes,
baseadas em valores, feitas de boa vontade e efetivas - que levam à vitalidade. E quando usa-
mos o termo vitalidade na ACT, não estamos nos referindo a um sentimento ou a uma emo-
ção; queremos dizer uma sensação de estar plenamente vivo e abraçar cada momento, mesmo
quando este é doloroso.

Em cada sessão, buscamos aumentar a flexibilidade psicológica, ou seja, ajudar o cliente a se


mover da esquerda (sofrimento) para a direita (vitalidade). O comportamento que leva o clien-
te da esquerda para a direita é "viável" – e o comportamento que a leva na direção oposta é
"inviável". Tanto faz se a sessão tem quinze minutos de duração ou uma hora de duração,
pretendemos fazer uma mudança ou uma substituição em qualquer uma ou em todas as di-
mensões neste diagrama:

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 Onde o comportamento inviável é insensato ou desatento (isto é, feito impulsivamente
ou no piloto automático), podemos trabalhar com a atenção plena: ajudar o cliente a se
tornar plenamente consciente e envolvido no que ele está fazendo.
 Onde o comportamento inviável e fortemente influenciado pela fusão com crenças
inúteis, podemos trabalhar tanto na desfusão das crenças quanto na clarificação de va-
lores como fonte alternativa de motivação.
 Onde o comportamento inviável é fortemente influenciado pela esquiva de experiên-
cias privadas indesejadas, podemos trabalhar na disposição de ter essas experiências
privadas.
 Onde o comportamento inviável é devido à ineficácia, ou seja, devido a déficits de ha-
bilidades ou falha em usar habilidades apropriadas, podemos trabalhar na construção e
aplicação das habilidades necessárias.

Que Intervenções Usamos


Qualquer intervenção que ajude o cliente a se mover da esquerda para a direita na figura aci-
ma é útil. Por mais minúsculo que seja o movimento, se o cliente se mover na direção da "vi-
abilidade", a intervenção pode ser dita "efetiva". Claro que isso nem sempre é um processo
linear suave. Muitas vezes, seus clientes ficam presos ou "retrocedem", e podem começar a se
mover na direção oposta. Sua meta será então ajudar o cliente, de forma compassiva e sem
julgamento, a tomar consciência dos custos de fazer isso e ajudá-lo a recolocar as coisas nos
eixos e a voltar "ao bom caminho" o mais rápido possível.

Estruturando Suas Sessões


Aqui está uma boa estrutura geral para suas sessões:
1. Exercício de atenção plena
2. Revisão da sessão anterior
3. Principais intervenções
4. Tarefa de casa
Vamos dar uma rápida olhada em cada um desses agora.
Exercício de atenção plena. Muitas vezes é útil iniciar cada sessão com um breve exercício
de atenção plena, como a respiração consciente. (Isso não é essencial, mas muitas vezes pode
ser útil!)
Revisão da sessão anterior. Faça uma revisão da sessão anterior, incluindo o conteúdo-chave
que foi trabalhado, exercícios praticados e quaisquer pensamentos ou reações que o cliente
tenha tido desde então. Se o seu cliente fez sua tarefa de casa, o que aconteceu e que diferença
fez? E se não, quais foram os obstáculos que o impediram de fazê-la?
Em sessões posteriores, quando o trabalho com valores já tiver sido feito, pergunte especifi-
camente sobre a vida com base em valores. Por exemplo, "Então, como você fez esta semana
para viver os seus valores?" ou "Como você têm agido com base em seus valores?"
Principais intervenções. Se você estiver seguindo um protocolo, você terá uma boa ideia
antecipadamente sobre que deseja abordar e trabalhar na sessão. É importante, no entanto, ser
flexível – responder ao que está acontecendo na sessão. Esteja disposto a abandonar tudo o
que você havia planejado, se necessário. (Você sempre pode voltar a isso em uma sessão pos-

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terior.) Se você não estiver seguindo um protocolo, você pode retomar de onde parou na ses-
são anterior ou trabalhar sobre um novo problema que tenha acabado de surgir.
Tarefa de casa. É importante enfatizar repetidamente aos clientes que o que fazem entre ses-
sões é o que realmente vai fazer toda a diferença em suas vidas. As habilidades de atenção
plena exigem prática. A ação baseada em valores requer esforço. Você precisa combinar de
forma colaborativa, antes do final de cada sessão, o que o cliente irá praticar, fazer ou experi-
mentar entre sessões. (Mas seja cuidadoso - não fique muito insistente ou use valores coerci-
tivamente.)

RESUMO
Para resumir, as tarefas principais para uma primeira sessão são construir vínculo, obter o
consentimento informado e fazer uma avaliação básica. Ao avaliar os problemas atuais, pro-
cure por fusão, esquiva e ação inviável. E ao avaliar os resultados desejados da terapia, procu-
re valores e metas congruentes com valores. E basicamente é isso; essa é a principal informa-
ção que você precisa para ajudar seu cliente a se mover do sofrimento para a vitalidade.
Claro, não é tão fácil quanto parece em um resumo de quatro frases. Fazer ACT efetivamente
exige prática – e muita prática. E o fato é que há um monte de informações neste capítulo, e
maioria dos leitores não vai absorver tudo isso de primeira. Então, sugiro fortemente que, as-
sim que você terminar o livro, volte e leia este capítulo novamente. E garanto que tudo irá
parecer muito mais simples então.
Os formulários para clientes mencionados neste capítulo são apresentados abaixo:
 O Alvo
 Dissecando o Problema
 Bússola de Vida
 Formulário de Problemas e Valores
 Diário de Vitalidade versus Sofrimento

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O ALVO
SEUS VALORES: O que você quer fazer com o seu tempo neste planeta? Que tipo de pessoa quer
ser? Quais são as forças ou qualidades pessoais que você deseja desenvolver? Escreva algumas pa-
lavras abaixo de cada título abaixo.

I. Trabalho / Educação: inclui trabalho, carreira, educação, desenvolvimento de habilidades

2. Relacionamentos: inclui o seu parceiro, filhos, pais, parentes, amigos, colegas de trabalho.

3. Crescimento Pessoal / Saúde: pode incluir religião, espiritualidade, criatividade, habilidades de


vida, meditação, yoga, natureza; exercício, nutrição e / ou abordagem de fatores de risco para a
saúde.

4. Lazer: como você joga, relaxa ou se diverte; atividades de descanso, recreação, diversão e criati-
vidade.

O ALVO: faça um X em cada área da placa de dardo, para representar onde você se encontra hoje.

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DISSECANDO O PROBLEMA
Este formulário é para ajudar a coletar informações sobre a natureza do principal desafio, problema ou difi-
culdade que você enfrenta. Primeiro, sintetize, em 1 ou 2 frases, qual a principal questão ou problema:

Agora, descreva, em 1 ou 2 frases, como isso afeta sua vida e o que isso impede de fazer ou ser:

Independentemente de qual seja seu problema - seja uma doença física, um relacionamento difícil, uma situ-
ação no trabalho, uma crise financeira, uma questão de desempenho, a perda de um ente querido, uma le-
são grave ou um transtorno clínico como a depressão - quando dissecamos o problema, geralmente encon-
tramos quatro elementos importantes que contribuem significativamente para o problema. Estes são repre-
sentados nas caixas abaixo. Escreva o máximo possível em cada caixa, sobre os pensamentos, sentimentos e
ações que contribuem ou agravam o desafio, problema ou problema que você enfrenta.

Emaranhamento com Pensamentos Ações que drenam sua Vida:


Que lembranças, preocupações, medos, autocríticas ou outros O que você está fazendo atualmente que torna sua vida pior a
pensamentos inúteis você se debruça ou se sente "envolvido" longo prazo: mantém você preso; desperdiça seu tempo ou
em relação a essa questão? Quais pensamentos você permite dinheiro; drena sua energia; restringe a sua vida, impacta nega-
mantê-lo de volta ou empurrá-lo ou derrubá-lo? tivamente a sua saúde, trabalho ou relacionamentos; mantém
ou agrava os problemas que você está lidando?

Luta com sentimentos Esquiva em situações desafiadoras:


Contra que emoções, sentimentos, impulsos, impulsos ou sensa- Que situações, atividades, pessoas ou lugares você está evitando
ções (associados a esta questão) você luta, ou evita, suprime, ou se afastando? Do que você desistiu, se afastou ou abando-
tenta se livrar ou luta de outra forma? nou? O que você continua adiando para depois?

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BÚSSOLA DE VIDA
Na parte principal de cada caixa grande, escreva algumas palavras-chave sobre o que é importante
ou significativo para você nesta área da vida: que tipo de pessoa você quer ser? Que tipo de fortale-
zas e qualidades pessoais você quer cultivar? O que você quer que a sua vida represente? O que
você quer fazer? Como você quer se comportar em termos ideais?
(Se uma caixa parece irrelevante para você, tudo bem, basta deixá-lo em branco. Se você ficar "pre-
so" em uma caixa, então pule a mesma, e volte a ela mais tarde. E tudo bem se as mesmas palavras
aparecerem em várias ou em todas as caixas: Isso ajuda você a identificar valores fundamentais que
perpassam muitas áreas de sua vida.)
Depois de ter feito isso para todas as caixas, repasse todas elas e no quadrado pequeno superior
dentro de cada caixa, marque uma escala de 0 a 10 de quão importante esses valores são para você,
neste momento da sua vida: 0 = sem importância, 10 = extremamente importante. (Tudo bem se
vários quadrados tiverem o mesmo resultado.) Finalmente, no quadrado pequeno inferior dentro de
cada caixa, marque uma escala de 0 a 10 de como efetivamente você está vivendo por esses valores
agora. 0 = nada 10 = vivendo por eles completamente (Novamente, tudo bem se vários quadrados
tiverem a mesma pontuação).
Finalmente, dê uma boa olhada no que escreveu. O que isso diz sobre: a) O que é importante em
sua vida? b) O que você está atualmente negligenciando?

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PROBLEMAS E VALORES
A Terapia de Aceitação e Compromisso visa reduzir o sofrimento e enriquecer a vida, conforme
mostrado no diagrama abaixo. Para ajudar neste processo, existem quatro tipos de informações
(representadas pelas quatro colunas abaixo) que são particularmente importantes. Entre agora e a
próxima sessão, veja o que você pode escrever ou adicionar a cada coluna.

LUTA E SOFRIMENTO VIDA RICA E PLENA DE SENTIDO


Pensamentos e senti- Ações problemáticas: Valores: Objetivos e Ações:
mentos problemáticos: O que você está fazendo O que importa para você O que você está fazendo
Em que memórias, preo- que torna sua vida pior ao no "grande quadro"? O atualmente que melhora
cupações, medos, autocrí- longo prazo – isso man- que você quer que sua sua vida no longo prazo? O
ticas ou outros pensa- tém você empacado; vida represente? Quais que você quer começar a
mentos você está "pre- desperdiça seu tempo ou qualidades pessoais e fazer ou fazer mais vezes?
so"? Contra quais emo- dinheiro; drena sua ener- pontos fortes você quer Que metas de enriqueci-
ções, sentimentos, impul- gia; afeta negativamente desenvolver? Como você mento de vida você quer
sos ou sensações você sua saúde ou seus relaci- deseja enriquecer ou me- alcançar? Quais ações de
luta? onamentos; ou leva você lhorar seus relacionamen- melhoria de vida você
a "desperdiçar" a vida. tos? Como você gostaria quer praticar? Quais habi-
de "crescer" ou se desen- lidades de melhoria de
volver através do enfren- vida você gostaria de de-
tamento das suas ques- senvolver?
tões ou problema (s)?

82
DIÁRIO - VITALIDADE versus SOFRIMENTO
Entre esta sessão e a próxima, mantenha um registro do que você faz
quando surgem pensamentos e sentimentos dolorosos, e note se essas
ações levam a uma maior vitalidade ou a um aumento do sofrimento.

Pensamentos e sentimentos As coisas que eu fiz quando esses As coisas que eu fiz quando esses
dolorosos, ímpetos, pensamentos e sentimentos apare- pensamentos e sentimentos apare-
sensações e/ou memórias que ceram - que levaram à VITALIDADE ceram e que levaram ao SOFRI-
(ou seja, enriqueceram minha vida, MENTO (ou seja, restringiram ou
apareceram hoje
ou melhoraram minha saúde, bem- pioraram minha vida, drenaram
estar ou relacionamentos no longo minha saúde e bem-estar, ou pre-
prazo) judicaram meus relacionamentos a
longo prazo)

83
CAPÍTULO 6

Desesperança o Quê??!!
A DESESPERANÇA CRIATIVA DE FORMA RESUMIDA
Em Linguagem Simples: Desesperança criativa significa abrir-se completamente à realidade de
que tentar exageradamente controlar como nos sentimos obstrui o caminho rumo a uma vida rica
e plena.
Objetivo: Aumentar a consciência da agenda de controle emocional; vivenciar que ela não funci-
ona e descobrir porque isso é assim.
Sinônimo: Confrontando a agenda.
Método: Olhe para o que o cliente fez para tentar controlar como ele se sente, examine se isto
melhorou ou piorou a vida dele, e o coloque em contato com a não funcionalidade de suas ações.
Isto cria a abertura necessária para um modo alternativo de lidar com pensamentos e sentimentos.
Quando usar: Quando o cliente está fortemente apegado a uma agenda de controle emocional.
Em muitos protocolos da ACT, é um precursor para o restante do trabalho.

CONFRONTANDO A AGENDA
Desesperança criativa (que não é um termo que utilizamos com os clientes) ou DC, também é
conhecido como “confrontando a agenda”, que é um resumo da expressão “confrontando a agen-
da de controle emocional”. A agenda de controle emocional baseia-se na seguinte ideia: quanto
mais você consegue controlar como você se sente, melhor será a sua vida. Durante qualquer ses-
são necessitamos, às vezes, confrontar a agenda de controle de nosso cliente.

O Que Queremos Dizer com “Controle”


Quando nossos clientes buscam terapia, eles na verdade querem se sentir melhor. E isto não é
surpreendente. Todo mundo gosta de se sentir bem. Ninguém gosta de se sentir mal. Então é bem
natural que tentamos para valer evitar ou nos livrar de pensamentos e sentimentos “ruins” ou “ne-
gativos”. Esta é a agenda de controle emocional.
Nossa cultura reforça fortemente esta agenda com a noção popular que felicidade é o mesmo que
sentir-se bem. Se você “compra” esta noção, então irá investir um monte de tempo e energia em
estratégias de controle emocional – ou seja, irá tentar reduzir os sentimentos “ruins” e aumentar os
“bons”. (Na ACT evitamos a palavra “felicidade” devido a ser um termo muito “carregado”. Mas
se fôssemos defini-la diríamos que “felicidade significa viver uma vida rica, plena e significativa
na qual você está disposto a sentir o espectro completo das emoções humanas”. Isto é muito dife-
rente de Felicidade = Sentir-se Bem. De fato, muitas vezes dizemos para nossos clientes “Não se
trata de sentir-se bem; trata-se de sentir o que você sente sem tenha que lutar” ou “Não se trata de
sentir-se bem; trata-se de sentir-se vivo.”)
Uma estratégia de controle é então qualquer coisa que fazemos para tentar nos livrar de pensa-
mentos e sentimentos “ruins”: é ação motivada primariamente por esquiva experiencial. Estraté-
gias de controle podem incluir qualquer coisa desde exercício, prece e meditação a álcool, heroína
e tentativas de suicídio. No trabalho de desesperança criativa, pedimos ao cliente que olhe de for-
ma aberta e sem julgamentos para todas as estratégias de controle que ele está usando. Mas não

84
julgamos estas estratégias como boas ou más, certas ou erradas, positivas ou negativas; nosso
propósito é pura e simplesmente ver como estas estratégias estão funcionando em termos de criar
uma vida melhor.

Será Que a ACT Mira em Todas as Estratégias de Controle?


Em uma palavra: não! Lembre-se de que o modelo se apoia completamente no conceito de funci-
onalidade: este comportamento está funcionando para melhorar a qualidade de vida? Então, se
estratégias de controle estão funcionando para enriquecer e melhorar a vida, faz sentido continuar
a praticá-las! Entretanto, a realidade é que a maioria, se não todos, os seres humanos confiam ex-
cessivamente em estratégias de controle; e quando as mesmas são usadas excessiva ou inapropri-
adamente, nossa qualidade de vida sofre.
Vamos pegar, por exemplo, o comer chocolate. Quando comemos um pedaço de chocolate de
boa qualidade, nos sentimos bem (desde que gostemos de chocolate, é claro). Se usamos esta
simples estratégia de controle de forma moderada, ela enriquece nossas vida, ou seja, ela fun-
ciona. Mas se o fazemos excessivamente, ela poderá começar a ter custos para a nossa saúde,
além de ocasionar ganho de peso.
Exercitar-se é um outro exemplo. Quando praticamos exercícios, geralmente nos sentimos
melhor (geralmente, depois do exercício). E a prática de exercícios também melhora nossa
qualidade de vida. Deste modo, como estratégia de controle, a prática de exercícios geralmen-
te funciona. Mas quando ela se torna excessiva – como no caso de uma cliente anoréxica que
gasta três horas na academia todos os dias para manter seu corpo em estado de magreza ex-
cessiva – então até mesmo algo positivo como exercitar-se pode ter um custo.
Além disso, a ACT postula que até mesmo atividades que costumam melhorar a qualidade de
vida (tais como exercícios, oração, meditação, alimentação sadia) serão mais satisfatórias e
recompensadoras se forem motivadas por valores (tais como a busca de uma vida sadia e a
construção de relacionamentos valiosos) em vez de por esquiva experiencial.
Por exemplo, você costuma se alimentar principalmente para se livrar de sensações “ruins”
tais como tédio, estresse ou ansiedade? Tem sido uma experiência profundamente satisfató-
ria? Compare com ocasiões em que alimentar-se foi motivado por valores que giravam em
torno de saborear sua comida, ou compartilhar momentos com amigos, ou testar uma nova
receita. Qual delas foi mais recompensadora?
De modo similar, se você pratica caridade motivado por valores relacionados a compartilhar,
dar, e contribuir para a comunidade, possivelmente achará isto mais recompensador do que se
for motivado pela tentativa de esquivar-se de sentimentos de culpa ou de inutilidade.
Por isso objetivamos ajudar nossos clientes a agir guiados pelos seus valores em vez de pela
esquiva experiencial: queremos que eles se movam conscientemente em direção ao que é sig-
nificativo para eles em vez de simplesmente fugirem do que é indesejado.
Vamos tentar enfatizar este ponto ainda mais. Imagine que você pratica exercícios motivado
principalmente por valores tais como cuidar da saúde e manter boa condição física, ou orar
motivado por valores relacionados a conectar-se com Deus. Não iríamos classificar estes atos
como estratégias de controle porque seu objetivo primário não é controlar como você se sen-
te. Apenas os chamaríamos de estratégias de controle se seu propósito principal fosse livrar-se
de pensamentos e sentimentos indesejados.
A desesperança criativa é uma intervenção baseada em funcionalidade. Pedimos ao cliente
para dar uma olhada boa, longa, honesta e atenta ao que ele está fazendo para evitar ou se
livrar de pensamentos e sentimentos indesejados, e observar o que isto está lhe custando. Que-

85
remos que ele se conecte com a realidade de que o que ele está fazendo muitas vezes funciona
a curto prazo para fazê-lo se sentir melhor, mas que isto não funciona a longo prazo para tor-
nar sua vida mais rica, plena e significativa.

Será Que a Desesperança Criativa é Necessária Para Todos?


Novamente a resposta é não. Nosso propósito é afrouxar o apego do cliente à agenda de controle
emocional (ou seja, tentar ficar livre de pensamentos e sentimentos “ruins”). Esperamos com isso
ajudá-lo a se abrir para uma agenda alternativa de aceitação e disposição. Entretanto, se ele estiver
altamente motivado para a mudança e não estiver profundamente apegado a uma agenda de con-
trole emocional, ou se ele estiver familiarizado com mindfulness ou ACT e aberto à abordagem,
então não há necessidade para a utilização da DC, e podemos pular o uso da mesma. Contudo,
podemos ainda fazer uso de alguns dos exercícios e metáforas que tradicionalmente são usados
imediatamente após a DC, especialmente aqueles sobre a ilusão de controle.

Quanto tempo leva?


As intervenções de Desesperança Criativa variam amplamente em duração. No protocolo de
amostra para a depressão de Zettle (Zettle, 2007), dura 20 minutos. No protocolo de Walser para
TEPT, ela dura uma ou duas sessões. (Walser & Westrup, 2007). Podemos também utilizar a DC
muito rapidamente, no espaço de apenas alguns minutos (Strosahl, 2005).
De forma ideal iremos “titular” a intervenção para se ajustar às questões de nosso cliente. Um
cliente com funcionamento elevado e com bastante autoconsciência e abertura a novas ideias é
uma história muito diferente do que um cliente com uma história de vida de abuso de substâncias
que se agarra desesperadamente à agenda de controle. O último provavelmente irá necessitar uma
intervenção utilizando DC muito mais longa do que o primeiro.

TRÊS QUESTÕES SIMPLES


As intervenções de Desesperança Criativa são elaboradas em torno de três questões simples:
1. O que você já tentou?
2. Como isto funcionou?
3. Qual foi o custo disso?

Primeiro perguntamos: “O que você tentou fazer para se livrar desses pensamentos e senti-
mentos difíceis?” Pedimos ao cliente para nos contar sobre toda e qualquer estratégia de con-
trole que ele tenha usado.
Em seguida perguntamos "Como isso tem funcionado a longo prazo?" Perguntamos ao cliente
para avaliar se no longo prazo isto realmente funcionou: Isto reduziu a sua dor? Tornou sua
vida mais rica?
Finalmente perguntamos "Qual foi o custo para você por ter ter confiado excessivamente nestes
métodos?" Perguntamos ao cliente que observe os custos (quando esses métodos são usados ex-
cessiva ou inapropriadamente) em termos de saúde, bem-estar, relações, trabalho, lazer, energia,
dinheiro e tempo desperdiçado.

Ligando os Pontos (Join The D.O.T.S)


A folha de exercícios Ligue os Pontos apresentada a seguir simplifica a Desesperança Criati-
va. Ela é auto-explanatória. Você pode preenche-la com o cliente durante a sessão, estimulan-
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do-o e dando feedback. Ou você pode desenhá-la num quadro branco (especialmente útil para
grupos). Ou então você pode simplesmente falar com o cliente sobre os tópicos sem usar a
folha de exercícios.

LIGUE OS PONTOS ( JOIN THE D.O.T.S)


Quais são os principais pensamentos e sentimentos que são problemáticos para você? Es-
creva estes abaixo em sob "Corpo" e "Mente". Em seguida, escreva tudo o que você já ten-
tou para se livrar, evitar, suprimir, escapar ou se distrair desses pensamentos ou sentimen-
tos. Finalmente, considere os resultados a longo prazo.
CORPO MENTE
Sentimentos, sensações, ímpetos Pensamentos, memórias, crenças, preocupações

D - Distração: como você tentou se distrair desses pensamentos e sentimentos (por exem-
plo, TV, compras, etc.)?

O – Opting out (Autoexclusão): muitas vezes nos autoexcluímos (saímos, nos esquivamos ou
nos afastamos) de pessoas, lugares, atividades e situações quando não gostamos dos pen-
samentos e sentimentos que eles trazem para nós. Quais são algumas das coisas que você
exclui ou situações em que se autoexclui?

T –Thinking strategies (Estratégias de pensamento): como você tentou pensar em sua saída
para fora dos problemas? Sublinhe ou circule qualquer uma das seguinte possibilidades e
acrescente qualquer outro não listado:
Culpando os outros ou mundo, preocupando-se, revivendo o passado, fantasiando, pensan-
do positivo, afirmações positivas, resolvendo problemas, planejando, se autocriticando, ana-
lisando, tentando encontrar um sentido, fazendo de conta de que têm um sentido neles,
debatendo consigo mesmo, negando-se, se autoagredindo, etc. Ruminando pensamentos do
tipo "E se?", "Se apenas ...", "Por que eu?", "Não é justo!", ou outros semelhantes?

S - Substâncias, Automutilação, Outras estratégias: que substâncias você tentou ingerir (in-
cluindo alimentos e medicação prescritos)? Alguma vez você já tentou atividades de auto-
mutilação, como tentativas de suicídio ou correr riscos de forma imprudente? Outras estra-
tégia como, por exemplo, dormir excessivamente?

Essas estratégias ajudaram você a se livrar de seus pensamentos e sentimentos dolorosos a


longo prazo e definitivamente?

Quando você usou essas estratégias de forma excessiva, rígida ou inadequada, o que isso lhe
custou em termos de saúde, vitalidade, energia, relacionamentos, trabalho, lazer, dinheiro,
oportunidades perdidas, tempo desperdiçado?

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Alternativamente, você pode usar apenas o acrônimo DOTS como uma ajuda de memória para
você. Como a maioria dos clientes não consegue descartar uma lista de estratégias de controle,
você geralmente precisa induzi-las. DOTS ajuda você a lembrar as estratégias mais comuns usa-
das, a saber:
D – Distração
O – Opting out (Autoexclusão)
T – Thinking - Estratégias de Pensamento)
S – Substâncias, Automutilações, Outras estratégias

Há uma sobreposição considerável entre esses elementos: comer "porcariazitos" e beber vinho
pode estar sob distração ou substâncias. Sob "outras estratégias", você pode colocar qualquer coi-
sa desde dormir o dia inteiro a ficar socando a parede, fazer yoga ou terapia. Com esta sigla em
sua mente, você pode continuar perguntando ao cliente: "Você já tentou fazer isso?" Certifique-se
de perguntar sobre as terapias anteriores tentadas.
Como uma alternativa para o Ligue os Pontos (Join the DOTS), você pode preferir o formulário
Soluções Tentadas e Seus Efeitos de Longo Prazo (adaptado de Hayes et al., 1999).

SOLUÇÕES TENTADAS E SEUS EFEITOS A LONGO PRAZO


O que você fez para evitar a. Os seus pensamen- Isso trouxe você O que isso lhe custou em
ou livrar-se de pensamen- tos e sentimentos mais perto de uma termos de tempo, ener-
tos, sentimentos, memó- desapareceram? vida rica, plena e gia ou dinheiro desperdi-
rias, emoções ou sensa- b. Eles retornaram no significativa? çados; ou em efeitos
ções problemáticos? Liste longo prazo? negativos sobre sua saú-
tudo em que você conse- c. Eles pioraram? de, bem-estar, trabalho,
gue pensar, independen- lazer e relacionamentos?
temente de ter sido opci-
onal ou não.

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Pergunta 1: O que você tentou?
Aqui, o terapeuta ajuda o cliente a identificar estratégias de controle, usando o acrônimo
DOTS (Ligando os Pontos).
Terapeuta: Resumindo, quando você tentou parar de beber no passado, isto nunca durou
muito, você tinha fissuras muito fortes ou você tinha sentimentos de ansiedade
e depressão e então você voltava a beber para fazê-los ir embora. Assim, nos-
sos objetivos aqui na terapia são (a) aprender algumas habilidades novas de
modo que você possa lidar com essas fissuras e esses sentimentos de uma for-
ma mais efetiva, (b) construir uma relação melhor com sua esposa, e (c) come-
çar a cuidar de seu fígado e torná-lo tão saudável quanto possível. Confere?
Cliente: Para ser honesto, eu na verdade não consigo pensar em nada.
Terapeuta: Bem, deixe-me ajudá-lo aqui. Uma das coisas mais comuns que as pessoas
fazem é tentar distrair-se para tirar esses pensamentos e sentimentos da cabeça.
Que tipo de coisas você faz para distrair-se de como você está se sentindo?
Cliente: Vejo TV. Escuto música. Fumo maconha.
Terapeuta: Computador?
Cliente: Sim, computador, navegar na Internet, muito tempo no YouTube assistindo
bobagem.
Terapeuta: E o que mais?
Cliente: (fica quieto, meneia a cabeça)
Terapeuta: Bem, outra coisa que as pessoas costumam fazer é começar a se esquivar de
coisas que fazem emergir sentimentos dolorosos. Há pessoas, lugares, situa-
ções ou atividades das quais você se afastou ou está mantendo distância?
O terapeuta continua desta maneira, trabalhando pontos do acrônimo DOTS. Uma vez con-
cluída esta primeira questão, passa para a questão seguinte.

Pergunta 2: Como isto funcionou?


Agora nosso objetivo é validar que o cliente investiu muito tempo e esforço na agenda de
controle – e que claramente isto não funcionou.
Terapeuta: Então você colocou muito tempo e esforço para tentar livrar-se desses pensa-
mentos e sentimentos. Ninguém pode chamá-lo de preguiçoso. E a maioria
dessas estratégias que você utilizou são coisas que todos comumente fazemos.
Todos nós tentamos evitar situações desconfortáveis, ingerimos substâncias ou
usamos todo tipo de maneiras diferentes para nos distrair. E, a curto prazo, es-
sas coisas muitas vezes nos fazem sentir melhor por um tempo. Mas deixe-me
lhe perguntar isso: a longo prazo, essas coisas ajudaram você a se livrar de seus
pensamentos e sentimentos dolorosos de forma tal que estes nunca mais volta-
ram?
Cliente: (hesita) Não. É por isso que estou aqui.
Terapeuta: Certo. Você veio aqui para tentar livrar-se deles de uma vez por todas.
Cliente: Sim. Odeio me sentir assim.

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Terapeuta: Ok, então posso adicionar isso à lista – ficar pensando sobre o quanto você
odeia esses sentimentos?
Cliente: Bem, você não faria o mesmo?
Terapeuta: Bem, realmente não conheço ninguém que goste de sentimentos dolorosos. A
questão que nos interessa aqui é esta: qual a melhor forma de lidar com eles?
Os esforços que você fez para se livrar desses sentimentos levaram você na di-
reção de uma vida rica, plena e significativa, ou eles o levaram na direção da
luta e do sofrimento?

Pergunta 3: O que isto lhe custou?


Passamos agora a perguntar quais foram os custos disso e, muitas vezes, temos que induzir
nosso cliente a pensar em diferentes áreas da vida: saúde, bem-estar, relacionamentos, traba-
lho, dinheiro, tempo desperdiçado, oportunidades perdidas e assim por diante . Você pode
fazer isso através apenas através da conversa, mas se estiver disposto a fazer algo mais ousa-
do, pode fazer isso usando a metáfora física interativa de Empurrando Prancheta. Nota: a me-
táfora da prancheta é muito eficaz, mas nunca faça uso dela com pessoas que têm problemas
no pescoço, ombros ou braços, e sempre tenha cuidado para não empurrar com muita força!

EMPURRANDO A PRANCHETA: UMA METÁFORA INTERATIVA


Terapeuta: Posso me levantar e demonstrar algo para você? (Cliente concorda com um
meneio da cabeça. O terapeuta pega uma prancheta, levanta-se e caminha pa-
ra o cliente.) Você não tem problemas no ombro ou no pescoço? (Cliente faz
um gesto com a cabeça indicando que não.) Bom, porque eu quero que você
imagine que esta prancheta representa todos aqueles pensamentos e sentimen-
tos dolorosos dos quais você tem tentado se livrar por tanto tempo, e eu quero
que você coloque suas duas mãos contra essa parte plana e pressione contra,
tentando se livrar dela. Não empurre tão forte que me derrube, mas empurre
firmemente. (O cliente empurra, o terapeuta empurra de volta). É isso aí, con-
tinue empurrando. Você odeia essas coisas. Você quer que elas vão embora. (À
medida que o cliente tenta empurrar a prancheta para longe, o terapeuta em-
purra de volta. Quanto mais fortemente o cliente empurra, mais o terapeuta se
inclina e empurra de volta.) Observe quanto esforço e energia isso requer –
tentando fazê-los desaparecer. (O terapeuta diminui a força com que empurra,
mas mantém uma contração suave mas suficiente para manter a prancheta
suspensa no ar, descansando entre as mãos do cliente e as mãos do terapeuta.)
Então, aqui está você, tentando muito afastar todos esses pensamentos e senti-
mentos dolorosos. Você tentou distrair-se com TV, música, computadores, li-
vros, evitando amigos e familiares, ficando em casa sozinho, evitando o traba-
lho, agredindo-se, analisando por que você é assim, dizendo a si mesmo que a
vida é uma merda, fumando maconha, bebendo cerveja, socando a parede, cor-
rendo, lendo livros de autoajuda – e a lista continua. Você tem feito isso du-
rante anos: empurrando e empurrando e empurrando. E esses pensamentos e
sentimentos dolorosos foram para algum outro lugar? Certamente, você está
mantendo-os à distância de um braço, mas qual é o custo disso pra você? Co-
mo você sente isso em seus ombros? (O terapeuta empurra com um pouco
mais de força) Nós só estamos fazendo isso por um minuto ou dois, mas você
está fazendo isso por mais de vinte anos. Isso é cansativo, não é?

90
Cliente: Sim, estou cansado.
Terapeuta: (aliviando a pressão) Ok, bem, vou diminuir a pressão aqui, mas você estaria
disposto a se manter pressionando suavemente por uns instantes mais? (O cli-
ente pressiona suavemente contra a prancheta.) Agora eu quero que você ob-
serve – enquanto você está fazendo isso – se eu pedisse pra você fazer seu tra-
balho de forma eficaz ou interagir com seus amigos, ou fazer o jantar, você
conseguiria fazer isso?
Cliente: Não, de jeito nenhum.
Terapeuta: E como é tentar conversar comigo enquanto você está fazendo isso?
Cliente: Irritante.
Terapeuta: Irritante. Frustrante. Cansativo. Certo? E você se sente um pouco fechado ou
desconectado do mundo ao seu redor?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Então tentar afastar todos esses sentimentos consome muito esforço e energia.
Agora, deixe-me pegar a prancheta de volta por um momento. (O terapeuta
pega a prancheta de volta e senta-se.) Então, é isso que você tem estado fa-
zendo por muito, muito tempo – tentando se livrar desses pensamentos e sen-
timentos. E mesmo assim, eles ainda estão aparecendo, ainda empurrando você
para lá e para cá, ainda tendo um impacto sobre sua vida.
Cliente: Sim, eu sei disso. Então como faço para me livrar deles?
Terapeuta: Bem, vamos chegar a isso já, já. Mas primeiro vamos dar uma olhada no que
custou a você tentar tão duramente se livrar dessas coisas. Qual foi o custo dis-
so em termos de saúde, relacionamentos, dinheiro, perda de tempo? (O tera-
peuta agora ajuda o cliente a se dar conta dos diferentes custos de suas estra-
tégias de controle.)
Terapeuta: Então, tentar se livrar de todas essas coisas (segura a prancheta nas bordas e
empurra para fora na frente do paciente tão longe quanto ele consegue esti-
car) não é apenas cansativo, não somente tem um custo elevado, mas nem
mesmo funciona. Esses pensamentos e sentimentos continuam aparecendo! E
cada vez que você me pergunta como se livrar disso, você está me pedindo pa-
ra ajudá-lo a fazer mais disso. Você realmente quer continuar fazendo isso
mesmo sabendo que não funciona?
Cliente: Não. Mas não entendo o que você me diz. Minha única opção é aguentar isso?
Terapeuta: De forma alguma. Aguentar isso seria mais do mesmo. É como se você ainda
estivesse tentando empurrar para longe, mas você está tão cansado que para de
empurrar com tanta força. Aguentar seria como fazer isso. (O terapeuta nova-
mente empurra a prancheta para a frente dela, mas desta vez seus braços es-
tão meio dobrados em vez de totalmente estendidos.) Ainda é cansativo, ainda
tem custos para você, ainda está se interpondo no caminho da sua vida.
Cliente: Mas o que posso fazer então?
Terapeuta: Boa pergunta. Já vou chegar lá. Por ora, vamos apenas reconhecer que você já
tentou resolver isso com todas as suas forças. Você com certeza não foi pre-
guiçoso. E você também não foi burro; a maioria das coisas que você tentou
são estratégias de senso comum que quase todo mundo usa. E algumas delas,

91
como, por exemplo as técnicas de distração que você usou, são frequentemente
recomendados por médicos e psicólogos. E, ainda assim, não parece estar fun-
cionando. Você está tentando duramente, mas isto não está gerando o efeito
que você deseja.

Dica Prática: Para que este trabalho seja eficaz, precisamos chegar ao cliente a
partir de um espaço de compaixão, de igualdade e de respeito. Nossa meta é
validar a experiência do cliente – ele está se esforçando muito, mas o que ele es-
tá fazendo não está funcionando. Se chegarmos a ele a partir de um espaço de
individualismo ou de arrogância, se formos críticos ou viermos com julgamen-
tos, se adotarmos o papel do especialista que tem "todas as respostas", então
nosso cliente se sentirá irritado, diminuído ou menosprezado.

POR FAVOR, DIGA-ME O QUE TENHO QUE FAZER


Em algum ponto próximo do final da DC, seu cliente provavelmente vai lhe dizer algo do
tipo: "Você está querendo me dizer que tenho que simplesmente aguentar isso?". Como na
transcrição acima, responderíamos: "Aguentar isso, tolerar isso, desistir ou se resignar a isso
será fazer apenas mais do mesmo. Seu objetivo continua sendo se livrar desses pensamentos
e sentimentos – apenas está se esforçando menos para isso. Mas continua sendo cansativo,
ainda está drenando sua saúde e sua vitalidade." Seu cliente possivelmente irá lhe pedir uma
solução: "Então, o que devo fazer?"
Neste ponto, você terá de avaliar e decidir se o cliente realmente se deu conta de que a
agenda de controle não funciona. Em caso positivo, você pode ir direto para um trabalho
ativo sobre o hexaflex, normalmente começando com desfusão e aceitação. (No capítulo 8,
veremos como você pode utilizar novamente a metáfora da prancheta e usá-la para ilustrar o
mover-se da esquiva rumo a aceitação.) Normalmente, neste momento você passaria para a
etapa de identificar que o controle é o problema, não a solução, e depois abordaria dois
componentes psicoeducacionais: normalização do controle e ilusão do controle.
Eis um exemplo de como isto poderia acontecer:

Cliente: E o que eu faço então?


Terapeuta: Boa pergunta. Você já sabe que vamos aprender aqui algumas habilidades no-
vas relacionadas a como lidar com pensamentos e sentimentos. Mas como essa
abordagem é muito diferente de tudo o que você tentou, de tudo o que a nossa
sociedade nos diz, de quase tudo o que se costuma ler sobre psicologia, prova-
velmente seria contraproducente se pulássemos nela diretamente. Então, se vo-
cê estiver disposto a aguentar comigo um pouco mais, o que eu gostaria de fa-
zer é estabelecer antes uma pequena base para o que virá depois. Talvez você
possa pensar sobre isso dessa maneira ... (O terapeuta agora usa uma metáfora
de sua escolha para transmitir que o controle é o problema.)

O Controle é o Problema, Não a Solução


Nesta fase, usamos uma metáfora para aumentar a percepção de nossos clientes de que as
estratégias de controle emocional são em grande parte responsáveis por seus problemas;
que, enquanto eles estiverem focados em tentar controlar como eles se sentem, eles estarão

92
presos em um círculo vicioso de sofrimento crescente. Duas metáforas populares são o Ca-
bo de Guerra com um Monstro e Escapando da Areia Movediça (Hayes et al., 1999).

METÁFORA DA LUTA NA AREIA MOVEDIÇA


Terapeuta: Você se lembra desses filmes antigos onde o cara mau cai em uma poça de
areia movediça, e quanto mais ele luta, mais rápido ela o suga? Na areia move-
diça, a pior coisa que você pode fazer é lutar. A maneira de sobreviver é deitar
para trás, espalhar seus braços e pernas e flutuar na superfície. Isso é muito
complicado, porque todo instinto em seu corpo lhe diz para lutar, mas se você
fizer o que lhe é sugerido natural e instintivamente, você se afogará. E veja,
deitar e flutuar é psicologicamente complicado – não vem naturalmente – mas
exige muito menos esforço físico do que lutar ".

METÁFORA DO CABO DE GUERRA


Terapeuta: Imagine que você está em um cabo de guerra com um enorme monstro de ansi-
edade. (Altere o nome do monstro para se adequar à questão, por exemplo, o
monstro da depressão.) Você segurando uma extremidade da corda e o mons-
tro a outra extremidade. E entre vocês há um enorme poço sem fundo. E você
está puxando para trás o máximo que pode, mas o monstro continua a puxar
você cada vez mais para perto do poço. Qual é a melhor coisa a fazer nessa si-
tuação?
Cliente: Puxar com mais força.
Terapeuta: Bem, isso é o que vem naturalmente à nossa mente, mas quanto mais você es-
tiver puxando, mais fortemente o monstro puxa. Você está preso. O que você
precisa fazer?
Cliente: Soltar a corda?
Terapeuta: Isso mesmo. Quando você solta a corda, o monstro ainda está lá, mas agora
você não está mais preso em uma luta com ele. Agora você pode fazer algo
mais útil.

Dica Prática: É eficaz – e divertido – representar essa metáfora com o cliente,


usando um cinto ou uma corda. (O terapeuta deve fazer o papel do monstro e
segurar uma extremidade do cinto com firmeza, enquanto o cliente puxa na ou-
tra extremidade.)

OUTRAS METÁFORAS
Existem inúmeras outras metáforas que você poderia usar. Basicamente você pode usar
qualquer coisa que transmita esta mensagem: quanto mais você faz o que vem naturalmente
e instintivamente nesta situação problemática, pior a situação. Exemplos bem conhecidos
incluem pisar nos freios quando o carro derrapa, nadando contra a correnteza, tentando es-
cavar uma saída para fora de um buraco e coçar uma erupção cutânea desagradável.

SERÁ O FIM DA SESSÃO?


Em protocolos mais tradicionais, você pode terminar a sessão neste ponto e, como tarefa de
casa, pedir ao cliente que note (a) todas as diferentes maneiras pelas quais ele tenta evitar ou

93
se livrar de sentimentos indesejados, (b) como isso funciona e (c) o quanto isto custa. Claro,
como com qualquer coisa no ACT, você não precisa fazer isso da maneira tradicional, en-
tão, se você tiver tempo na sessão, você pode preferir ir direto para os próximos dois com-
ponentes: a normalidade do controle e a ilusão de controle. (E mesmo se você pular comple-
tamente a DC, esses componentes geralmente são muitas vezes úteis para serem utilizados
em sessões posteriores).

A Normalidade do Controle
Nesta parte da DC abordamos por que o controle ocorre naturalmente.
Terapeuta: Eu odiaria que você tivesse a impressão errada aqui — que estou criticando você de
alguma maneira pelo que você tem feito. Se assim for, peço sinceras desculpas por-
que a verdade é que estamos todos no mesmo barco. A maioria das coisas na sua lista
são coisas que eu também faço às vezes, que quase todos fazem. Todos somos pegos
na mesma agenda. Vivemos em uma sociedade que quer se sentir bem: todos gostam
de se sentir bem, ninguém gosta de se sentir mal. Então, nos esforçamos para nos li-
vrar de sentimentos desagradáveis. E todos continuamos fazendo isso — fazendo tu-
do o que podemos fazer para nos esquivar de ou eliminar pensamentos e sentimentos
desagradáveis — mesmo que isto não funcione a longo prazo e muitas vezes acabe-
mos tendo o sofrimento como resultado. E há pelo menos quatro razões pelas quais
fazemos isso. Um, porque todos nós caímos na "armadilha da felicidade", acredita-
mos no mito de que os seres humanos são naturalmente felizes, e que devemos estar
nos sentindo bem a maior parte do tempo. Dois, porque as coisas que fazemos para
controlar nossos sentimentos muitas vezes funcionam muito bem a curto prazo. Três,
porque acreditamos que esses métodos funcionam para outras pessoas. E quatro — e
esta é a única razão que está acima e além de todas as outras: é a maneira como nossa
mente evoluiu para resolver problemas. (Neste ponto, o terapeuta pode fazer uso da
Metáfora da Máquina de Solução de Problemas do capítulo 1).

A Ilusão de Controle
Nesse parte, tentaremos quebrar o mito ou a ilusão de que os seres humanos podem controlar co-
mo eles se sentem. Você pode expor isso dizendo algo assim: " Então, estamos todos andando por
aí, tentando controlar como nos sentimos, e isso simplesmente não funciona. Não é que não temos
nenhum controle, mas temos muito menos do que gostaríamos de ter. E o que eu gostaria de fazer
agora, se isso estiver bem para você, é conduzi-lo através de alguns pequenos exercícios para que
você possa verificar isso por si mesmo e ver quanto controle você realmente possui." Você pode,
então, conduzir o cliente através de qualquer ou todos os seguintes exercícios, em qualquer com-
binação ou ordem. (Exceto pelos dois primeiros, todos eles vêm de Hayes et al., 1999.)

APAGAR UMA MEMÓRIA


Terapeuta: Por alguns instantes, tente lembrar-se de como você chegou aqui hoje. Lem-
brou? Ok, agora apague essa memória. Livre dela completamente. (Pausa)
Como você fez isso? "

ADORMECER A PERNA
Terapeuta: Agora faça a sua perna esquerda ficar completamente adormecida ou entorpe-
cida. Tão entorpecida que eu poderia cortá-la com uma serra e você não sentis-
se nada. (Pausa) Conseguiu?"
94
NÃO PENSAR EM ...
Terapeuta: Neste próximo exercício, você não deve pensar sobre o que eu digo. Nem
mesmo por um microssegundo. Não pense em ... sorvete. Não pense no seu sa-
bor favorito. Não pense em como ele derrete na sua boca em um dia bem quen-
te no verão. (Pausa) Como você está se saindo?"

A METÁFORA DO POLÍGRAFO (DETECTOR DE MENTIRAS)


Terapeuta: Imagine que sou um cientista meio louco e sequestrei você para fazer uma ex-
periência. E eu liguei você em um polígrafo ou detector de mentiras supersen-
sível. Esta máquina consegue detectar o menor traço de ansiedade em seu cor-
po. Você não consegue enganá-la. Ao menor sinal de ansiedade o alarme irá
soar. E nesta experiência que estou prestes a fazer com você, você não pode
sentir nenhuma ansiedade. E se você sentir, então vou puxar essa alavanca, o
que irá eletrocutá-lo. (Pausa.) O que será que iria acontecer?"
Cliente: Eu seria eletrocutado.
Terapeuta: Correto. Mesmo quando sua vida depende disso, você não consegue controlar a
ansiedade.

APAIXONANDO-SE
Terapeuta: Vamos supor que eu lhe ofereça um bilhão de dólares — um bilhão — se você
conseguir fazer o que vou lhe pedir. Vou trazer alguém para este quarto — al-
guém que você não conhece — e se você conseguir se apaixonar perdidamente
por essa pessoa, então eu vou lhe dar o dinheiro. Você conseguiria fazer isso? "
Cliente: Se fosse o Brad Pitt, eu conseguiria.
Terapeuta: É um homem mais velho, em um cadeira de rodas, e que não tomou banho por
três meses.
Cliente: Acho que não conseguiria.
Terapeuta: Nem mesmo por um bilhão de dólares?
Cliente: Eu poderia tentar.
Terapeuta: Claro. Você poderia fazer uma encenação. Poderia abraçá-lo e beijá-lo e dizer:
"Eu te amo, eu te amo". Você tem controle sobre suas ações, mas será que con-
seguiria controlar seus sentimentos?
Cliente: Não, não conseguiria.

Desesperança Criativa Breve


Como já mencionei anteriormente, não precisamos fazer DC com todos os clientes. Com os clien-
tes com alto desempenho, motivados e que não estão excessivamente apegados ao controle, po-
demos ignorá-la ou utilizar uma versão mais breve. Na versão breve, perguntamos: "Então, todos
esses sentimentos dolorosos estão emergindo. O que você tentou fazer para se livrar deles?" Em
seguida, evocamos algumas das principais estratégias de controle. Então, dizemos: "Tudo bem,
parece que você tentou algumas coisas para se livrar desses pensamentos e sentimentos, mas isso
não está funcionando muito bem. Que tal se tentássemos algo diferente?"
E se inicialmente adotamos essa abordagem e mais tarde verificarmos que nosso cliente está mui-

95
to mais apegado à agenda de controle do que havíamos avaliado, não há problema; podemos sim-
plesmente voltar à DC e fazer uma intervenção mais ampla.

TAREFA DE CASA E A PRÓXIMA SESSÃO


Neste momento, espera-se que seu cliente esteja curiosa em relação alternativa que você está
oferecendo a ela. Ela pode até perguntar novamente: "Então, o que eu tenho que fazer?" Se
você ainda tiver tempo nesta sessão, pode passar para a próxima fase. Caso contrário, expli-
que que você irá continuar próxima sessão. Tradicionalmente, após a trabalhar com desespe-
rança criativa e nomear o controle como o problema, você iniciaria a abordagem dos proces-
sos de desfusão e aceitação.
Como mencionei anteriormente, como tarefa de casa você poderia pedir ao cliente que note e ob-
serve todas as diferentes maneiras pelas quais ele tenta evitar ou se livrar de sentimentos indeseja-
dos, e como isso funciona e o que isso custa. Qualquer uma das planilhas acima — Junte os Pon-
tos ou Soluções Tentadas e seus Efeitos a Longo Prazo — pode facilitar isso.
Alternativamente, e dependendo da metáfora que você usou, você pode perguntar a seu cliente
para que observe quando ela está "fazendo um cabo de guerra" ou "lutando na areia movediça" e
quando, se alguma vez, ele para de puxar a corda ou de lutar.
Melhor ainda, se ela estiver disposta, peça-lhe para manter um diário: Quando acontece a luta? O
que a desencadeia? Quais são as consequências da mesma?
E se você começou esta sessão com um exercício simples de atenção plena, você também pode
pedir ao seu cliente para praticá-lo em base diária.

TAREFA DE CASA PARA VOCÊ


■ Selecione alguns pensamentos e sentimentos com os quais você tem estado lutando e
complete as planilhas com seus próprios problemas.
■ Leia todos os exercícios e metáforas em voz alta, como se estivesse conduzindo um
cliente através dos mesmos.
■ Reflita sobre os casos dos clientes que está atendendo atualmente. Você tem cliente
clientes que estão presos à agenda de controle? Visualize-se aplicando a DC com es-
tes clientes.

RESUMO
A Desesperança Criativa é um componente opcional da ACT que usamos quando um cliente
parece excessivamente apegado à agenda de controle emocional. Basicamente, queremos que
o cliente dê uma boa e sincera olhada em como a agenda de controle está funcionando: ela
está o levando rumo a uma vida rica, plena e significativa, ou o está levando rumo à luta e ao
sofrimento? Podemos fazer isso mediante uma intervenção mais extensa, utilizando uma ses-
são inteira, ou com uma intervenção breve de apenas alguns minutos. A DC se resume a fazer
três perguntas simples: O que você tentou? Como funcionou? O que custou?
Lembre-se que ao trabalharmos com a Desesperança Criativa, seja de forma breve ou longa,
não tentamos convencer o cliente de que algo não funciona. Em última instância, cabe a ele
julgar por si mesmo, com base em sua própria experiência, se o controle está ou não enrique-
cendo sua vida.

96
CAPÍTULO 7

Observe Seu Pensamento

A DESFUSÃO DE FORMA RESUMIDA


Em Linguagem Simples: Fusão significa ficar preso em nossos pensamentos e permitir que eles
dominem nosso comportamento. Desfusão significa separar-se ou distanciar de nossos pensamen-
tos, permitindo que que venham e vão em vez de sermos apanhados neles. Em outras palavras,
desfusão significa
 Olhar para seus pensamentos em vez de olhar a partir de seus pensamentos
 Observar seus pensamentos em vez de ficar preso nos pensamentos; e
 Deixar seus pensamentos ir e vir em vez de agarrar-se a eles

Sinônimos: Desliteralização (este termo raramente é atualizado atualmente)


Objetivo: Ver a real natureza dos pensamentos: eles não são nada mais e nada menos do que pa-
lavras e imagens; e responder aos pensamentos em termos de funcionalidade em vez de literalida-
de (ou seja, em termos de quão úteis eles são em vez de quão verdadeiros eles são).

Método: Notar o processo de pensar; aprender experiencialmente que nossos pensamentos não
controlam nossas ações.

Quando usar: Quando os pensamentos funcionam como obstáculos para o viver baseado em
valores.

COMO ALCANÇAR A DESFUSÃO


Facilitamos a desfusão através de cada sessão na ACT. Em algumas sessões, a desfusão é o foco
central, e formalmente conduzimos nossos clientes através de uma variedade de metáforas e exer-
cícios experienciais para ajuda-los a desenvolver habilidades de desfusão. Grande parte deste ca-
pítulo irá focar neste tipo de intervenções. Entretanto, também costumamos facilitar a desfusão
informalmente em cada sessão, mesmo quando a sessão é predominantemente focada em algum
outro processo central tal como a clarificação de valores. Fazemos isto em três formas principais:

1. Pedimos aos clientes que observem seus pensamentos:


 "Então, o que a sua mente está lhe dizendo agora?"
 "E o que o seu eu pensador tem a lhe dizer sobre isso?"
 "Você consegue observar o que você está pensando nesse momento?"
 "Observe o que sua mente está fazendo".

2. Pedimos aos clientes que olhem para a funcionalidade de seus pensamentos:


 "Então, este pensamento é um pensamento útil? Se você ficar firmemente agarrado
a ele, será que ele vai te ajudar a lidar com a situação de forma efetiva?"

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 "Se você deixar que este pensamento te diga o que fazer, será que isto vai levar
você para uma vida rica, plena e significativa, ou a ficar estagnado e sofrendo?"
 "Se pararmos a sessão só porque a sua mente está lhe dizendo Isto não vai funcio-
nar ou Eu não consigo fazer isso, será que isto vai ajudar você a mudar sua vida
ou será que isto irá manter você preso e estagnado ?"

3. Pedimos aos clientes que observem quando estão fundidos com seus pensamentos e quan-
do estão desfundidos dos mesmos:
 "Neste momento, quanto você está preso neste momento?"
 "Você conseguiu observar como sua mente te "pegou" naquele momento?"

Se quisermos fazer da desfusão o foco principal de uma sessão, podemos fazer isso de múltiplas
maneiras. Por exemplo, se começamos a terapia identificando valores e estabelecendo metas es-
pecíficas, então poderíamos fazer perguntas do tipo: "Então, o que está em seu caminho e fazendo
com que você não consiga agir?" "O que está impedindo você de agir com base em seus valores
ou ser a pessoa que você quer ser e de construir as relações que são importantes para você?" "O
que sua mente está lhe dizendo que te paralisa e faz com que sua vida seja difícil?"
Alternativamente, se descobrirmos na primeira sessão que toda e qualquer tentativa de clarificar
valores acaba por ser bloqueada, então a desfusão é uma boa escolha para o primeiro passo na
terapia (quando o cliente tiver desenvolvido boas habilidades de desfusão e de aceitação, podemos
retornar ao trabalho sobre valores e objetivos).
Quando suspeitamos ou sabemos que nosso cliente está profundamente apegado à agenda de con-
trole, uma outra boa opção é fazer o trabalho de desesperança criativa antes de focarmos ativa-
mente na desfusão. Neste caso, após a intervenção de desesperança criativa, podemos dizer algo
do tipo: " Você provavelmente deve estar se perguntando se o tentar livrar-se desses pensamentos
não funciona, qual é a alternativa?"

Identificando a Fusão
Quando levantamos uma história, procuramos por fusão em seis áreas-chave: regras, razões, jul-
gamentos, passado, futuro e o self. Vamos dar uma rápida olhada em cada uma dessas áreas agora.

Regras. Que tipo de regras rígidas o cliente tem sobre sua vida, seu trabalho, seus relacionamen-
tos, e assim por diante? Em especial, procure por regras sobre como alguém tem que se sentir
antes que possa agir. Procure por palavras-chave tais como deveria, preciso, tenho que, certo,
errado, não posso, e expressões-chave como não deveria ter que; se sinto X, então não posso
fazer Y; se faço A, então você deveria fazer B. Estas palavras e expressões nos alertam sobre idei-
as rígidas sobre como a vida deveria funcionar ou sobre o que é necessário antes que a mudança
possa ocorrer. Estas regras normalmente criam muito sofrimento se o cliente se funde com elas.
Seguem alguns exemplos comuns: "Eu não deveria estar me sentindo assim", "Não posso ir para a
festa se estiver me sentindo ansiosa", "Se não consigo fazer isso de uma forma perfeita, não tem
sentido tentar", "Isto não deveria ser tão difícil", "Meus filhos deveria fazer o que lhes digo para
fazer", e "Pessoas normais não se sentem assim".
Razões: Que razões o cliente fornece para você sobre o porquê da mudança ser impossível, inde-
sejável ou impraticável? Os seres humanos são muito bons em apresentar razões sobre porque
elas não podem ou não deveriam mudar: "Estou ocupado/cansado/ansioso/deprimido demais",
"Posso fracassar", "Eu não deveria ter que...", "É difícil demais", "É genético", "Todos na minha
família são alcoólatras", "É um desequilíbrio químico", "Eu vou me machucar", "Eu sempre fui

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assim", "Não consigo lidar com essa solidão", "Vai dar tudo errado", "Vou fazer isso quando eu
tiver mais tempo/energia/dinheiro", e assim por diante. Se nós ou nossos clientes nos fundimos
com esses pensamentos, eles muitos vezes podem nos impedir de fazer mudanças.
Julgamentos. Os seres humanos julgam. E muitos dos julgamentos que fazemos são úteis e im-
portantes: Essa pessoa é confiável ou não é confiável? Esse carro vale o preço que estão pedindo?
Essa fruta está madura ou não? Infelizmente, no entanto, muitos de nossos julgamentos são inú-
teis. É claro, se não nos aferramos a nossos julgamentos, eles não representam um problema. Mas
se nos fundimos com estes julgamentos – "Sou mau", "Você é mesquinho", "A ansiedade é terrí-
vel", "Sou muito gordo", "Ser rejeitado é insuportável", "Ele é muito egoísta", "A vida é uma
merda", "Os homens são mentirosos" – nós rapidamente vamos terminar lutando e sofrendo. Com
que tipo de pensamento crítico ou avaliativo seu cliente está se fundindo?
Passado. Como seu cliente está se fundindo com o passado? Ruminando sobre antigas feri-
das, fracassos, erros, oportunidades perdidas? Revivendo os "velhos bons tempos" antes que a
vida se tornou ruim? Tendo "flashbacks"? (Um "flashback" costuma indicar fusão extrema
com a memória.)
Futuro. Como seu cliente está se fundindo com o futuro? Se preocupando? Fantasiando sobre
uma vida melhor? Constantemente preso pensando sobre as coisas que ele terá de fazer mais
tarde?
Self. Com que tipo de autodescrição seu cliente está se fundindo? Eis algumas das mais comuns:
"Sou fraco/inútil/indigno de amor", "Não preciso de ajuda", "Não sou ninguém sem meu traba-
lho", "Não consigo lidar com as coisas", "Não suporto pessoas idiotas", "Estou certo e eles estão
errados". Ele está se fundindo com seu diagnóstico ou sua imagem corporal ("sou bipolar", "sou
gordo")? Ou talvez com sua função profissional ou seu papel na família?
Evidentemente, poderíamos descrever muitas diferentes categorias de pensamento – pensamento
preto e branco, catastrofização, hipergeneralização, etc. – mas os seis tipos acima descritos nos
permitem manter uma descrição simples. (Vamos olhar a fusão com o passado e o futuro mais
detalhadamente no capítulo 9, a fusão com a autodescrição no capítulo 10, e a fusão com o dar
razões no capítulo 13.

"Montando o cenário" para a desfusão


Para "montar o cenário" para a desfusão, costumo inicialmente recapitular alguns dos pensamen-
tos ou memórias dolorosos nos quais o(a) paciente ficou enredado(a) ou tem estado lutando con-
tra, e compassivamente reconheço quão difícil isto tem sido para ele(ela) e quanta dor e sofrimen-
to ele(ela) tem vivenciado. Então digo algo do tipo: "Como você sabe, um de nossos objetivos
neste trabalho é desenvolver habilidades psicológicas que vão ajudar você a lidar com sua mente
de forma mais efetiva quando ela começa a fazer coisas que te impedem de viver uma vida plena.
E é nisso que eu gostaria de focar hoje. Isso está bem para você?"
Neste ponto, é útil fazer alguma psicoeducação sobre a natureza da mente. Geralmente começo
com uma breve discussão sobre as duas partes da mente: o eu pensador e o eu observador, tal co-
mo descritos no capítulo 4. Depois de concluir, dito algo do tipo: "Pois bem, no trabalho que fa-
zemos aqui, todo vez que eu usar a palavra "mente", estou falando sobre o "eu pensador" – aquela
parte de você que fica falando dentro de sua cabeça, nunca se cala, e sempre tem algo para dizer.
Você consegue observar ele falando agora?" O cliente geralmente diz que sim e então eu pergun-
to: "Então, o que sua mente está lhe dizendo?" Qualquer que seja a resposta, eu digo: "Você per-
cebe o que quero dizer. Ela está sempre dizendo algo. Às vezes é útil imaginar que somos quatro
aqui nesta sala: tem você e eu, e sua mente e minha mente. Minha mente fica tagarelando para

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mim e a sua para você. O que realmente é importante aqui é que acontece entre você e eu em vez
do que nossas mentes têm a dizer."
Em seguida, normalmente fazemos um pouco de psicoeducação sobre como nossas mentes evolu-
íram para pensar negativamente, tal como na transcrição abaixo. Isto monta o cenário para inter-
venções ativas de desfusão.

Muitos terapeutas ACT somente introduzem o eu observador somente mais


tarde na terapia, na sequência dos trabalhos sobre desfusão e aceitação, mas
alguns terapeutas preferem introduzi-lo desde o início. Eu prefiro a última
abordagem, mas se você preferir a primeira, então simplesmente pule a intro-
dução do eu observador nesta etapa e introduza-o mais tarde na terapia.

COMO NOSSAS MENTES EVOLUÍRAM PARA PENSAR NEGATIVAMENTE

Terapeuta: Você me contou alguns de seus pensamento dolorosos ou inúteis que atrapalham
você ou tornam sua vida mais difícil. Estou disposto a apostar que apenas arra-
nhamos a superfície – porque se sua mente for parecida com a minha, então ela
não tem nenhuma deficiência de pensamentos negativos. Existe na verdade uma
boa razão para isso e eu vou tomar alguns minutos para explicar isso. Isso está
bem para você? (Espera a resposta do cliente?) Veja, a mente humana evolui pa-
ra pensar negativamente. Nossos primitivos ancestrais viviam num mundo de pe-
rigo constante – animais grandes com dentes enormes se escondiam e espreita-
vam em cada canto. Então, naquela época, sua mente tinha que estar constante-
mente em alerta contra o perigo, antecipando qualquer coisa que pudesse feri-los
de alguma forma: "Tome cuidado. Pode ter um urso naquela caverna. Pode ter um
lobo no meio daqueles arbustos. Aquele pessoa lá longe é um amigo ou um ini-
migo?" Se você fosse um homem das cavernas e sua mente não fizesse bem esse
trabalho, você logo estaria morto. E isso é o que herdamos de nossos ancestrais:
nossa mente moderna é basicamente uma máquina que tem a finalidade de evitar
que sejamos mortos. Ela está constantemente tentando nos alertar sobre qualquer
coisa que pode dar errado: "Você vai engordar", "Você vai se dar mal no exame",
"Ele pode rejeitar você". Isto é normal. A mente de todo mundo faz isso. Nossa
mente evoluiu para pensar negativamente. Ela apenas está tentando fazer sua tare-
fa número um, que é a de nos proteger e manter vivos.
Não há nenhuma necessidade absoluta de usar a fala acima (ou qualquer dos outros exercícios ou
metáforas neste livro) mas ela faz uma boa introdução para a aprendizagem das habilidades de
desfusão. O próximo passo é recapitular alguns dos pensamentos problemáticos do paciente, tornar
claro o que custa quando ele fica enredada nestes pensamento ou empurrados para lá e para cá por
eles, e então convidá-lo para aprender um novo modo para lidar com eles. A transcrição que segue
ilustra apenas um modo entre muitos em que você pode fazer isso; quando você ler outros livros
sobre ACT, você descobrirá muitos outros métodos.

Introduzindo a Desfusão: Parte 1


O cliente nesta transcrição é uma quiropraxista de 24 anos. Estamos aos quinze minutos da segun-
da sessão, depois (1) de breve exercício de atenção plena com respiração (veja o capítulo 9), (2)
uma breve revisão da sessão anterior, e (3) uma rápida discussão sobre as duas partes da mente e
sobre como a mente evoluiu para pensar negativamente.

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Terapeuta: Então, uma das coisas que identificamos na semana passada, uma grande parte
do problema, é que você costuma ter um monte de pensamentos sobre ser sem
valor ou inútil.
Cliente: Sim, eu sinto como se fosse um desperdício de espaço. Eu nem mesmo sei
porque você está desperdiçando seu tempo.
Terapeuta: E eu noto que enquanto você diz isto, você parece estar desmoronando – quase
como se estivesse se afundando na cadeira. Estou tendo uma percepção de que
aqueles pensamentos realmente puxam você para baixo. (O cliente concorda.)
Isto deve doer muito. (O cliente assente novamente, e seus olhos se enchem de
lágrimas.) O que você está sentindo neste momento?
Cliente (meneando a cabeça) É muito bobo.
Terapeuta O que é muito bobo?
Cliente: Eu sou. Isto é. (limpando os olhos) Eu não acho que você possa me ajudar.
Terapeuta: Bem, este é um pensamento perfeitamente natural para se ter. Muitas pessoas
têm pensamentos como este, especialmente no início da terapia. E o fato é que
eu realmente não posso garantir que isto vai te ajudar. Mas eu posso garantir
que vou fazer o meu melhor para ajudar você a criar uma vida melhor. Então,
que tal darmos uma chance à terapia, mesmo que você tenha o pensamento de
que não há solução para seu problema, e ver o que acontece?
Cliente: Pode ser.
Terapeuta: Ok. Bem, nós combinamos na última sessão que uma de suas metas aqui seria
aprender novas maneiras de lidar com pensamentos e sentimentos difíceis. Isto
continua sendo importante para você?
Cliente: Sim.

Neste ponto, o terapeuta pode seguir com qualquer intervenção de desfusão


que ele prefira.

Terapeuta: Ok. (Ele pega um cartão branco.) Bem, o que eu gostaria de fazer agora, se
isto estiver bem para você, é anotar alguns dos seus pensamentos neste cartão
para termos algo com que trabalhar. Pode ser?
Cliente: Pode ser.
Terapeuta: Obrigado. Então, quando sua mente está te dando uma surra, ficando fixada
sobre o que está errado com você e com sua vida – se eu pudesse entrar em sua
cabeça e ouvir o que ela está falando ou dizendo pra você, o que eu ouviria?
Cliente: Ah, humm. Coisas realmente negativas, tipo "você é burro, você é preguiçoso,
ninguém gosta de você".
Terapeuta: Ok. Deixe-me anotar isso. (Ele começa a escrever os pensamentos no cartão.)
Sua mente lhe diz "Eu sou burro ... eu sou preguiçoso ... ninguém gosta de
mim". O que mais?
Cliente: Não sei.
Terapeuta: Bem, você mencionou "bobo" e "desperdício de espaço" hoje, e "sem valor" e
"inútil" na semana passada. A sua mente costuma chamar você disso com fre-
quência?

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Cliente: Sim.
Terapeuta: (escreve no cartão) Ok. Então sua mente diz pra você "Sou bobo ... sou sem
valor...sou inútil ... sou um desperdício de espaço". O que mais?
Cliente: (rindo) Isso não é suficiente?
Terapeuta: Sim, é – mas eu estava me perguntando se sua mente não lhe conta coisas re-
almente tenebrosas ou assustadoras sobre o futuro? Você sabe, quando ela re-
almente quer que você se sinta sem esperanças, quais são as coisas mais assus-
tadoras que ela diz pra você?
Cliente: Ahá. Ela diz que sou um fu**do, que não há futuro para mim. A vida é fu**da
e aí você morre.
Terapeuta: Certo, então sua mente gosta de praguejar. Vamos anotar isso. "Eu sou um
fu**do... Não tenho futuro ... A vida é fu**da e aí você morre".

Desembrulhando tudo isso: Parte 1


Antes de continuar este capítulo, releia a transcrição acima e identifique as várias formas em
que o terapeuta vai sutilmente estabelecendo um contexto de desfusão, incluindo normaliza-
ção e permissão de pensamentos, tratando a mente como se fosse uma "entidade", escutando a
mente, anotando os pensamentos, e descrevendo os pensamentos como "histórias". Vamos dar
uma rápida olhada em cada um desses pontos.

NORMALIZANDO E PERMITINDO PENSAMENTOS

Observe como o terapeuta responde à afirmação do paciente "Eu penso que você não conse-
gue me ajudar" dizendo "Bem, este é um pensamento perfeitamente natural". Facilitamos a
desfusão sempre que descrevemos um pensamento como normal, natural, típico, ou comum, e
não fazemos nenhuma tentativa de julgá-lo, desafiá-lo, ou nos livrar dele.

TRATANDO A MENTE COMO UMA "ENTIDADE"

A desfusão envolve separar-nos de nossos pensamentos; por isso muitas vezes consideramos
útil na ACT falar sobre a mente, brincando ou metaforicamente, como se fosse uma entidade
separada. Por exemplo, podemos fazer perguntas como "O que sua mente lhe diz sobre isso?"
ou "Quem está falando agora – você ou sua mente?" Na transcrição acima, o terapeuta tam-
bém fala sobre a mente "surrando você", "chamando você de nomes", e também observa que
ela "gosta de praguejar".

OUVINDO A MENTE

Muitas técnicas de desfusão envolvem observar ou brincar com as propriedades auditivas dos
pensamentos. Aqui o terapeuta fala sobre "ouvir a mente", "escutar o que ela está dizendo" e
"escutar como soa o que ela está dizendo".

ESCREVER OS PENSAMENTOS

Uma das maneiras mais simples de separar-se dos pensamentos é escrevê-los. Isto ajuda você
a dar um passo atrás e ver os pensamentos pelo que eles são: sequências de palavras. O tera-
peuta pode fazer as anotações e então passá-las para o cliente, ou o próprio cliente pode anotar
os pensamentos.

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OS PENSAMENTOS COMO HISTÓRIAS

Na ACT muitas vezes falamos sobre os pensamentos como "histórias". Isto encaixa muito
bem com metáforas sobre a mente como uma contadora de histórias (mais sobre isso abaixo)
e ficando absorvida ou perdida na história. O terapeuta pergunta especificamente sobre quais-
quer "histórias tenebrosas ou assustadoras" sobre o futuro.

Dica Prática: Se estiver em um estado de humor triste, o cliente pode fazer ob-
jeções ao termo "histórias". Se isto acontecer, peça desculpas e explique: "Não
tive a intenção de ofender você. O que eu quis dizer com o termo "história" é
que se trata de um monte de palavras que transmitem informação. Se o termo
incomoda você, não terei problemas em chamar estas palavras de "pensamen-
tos", crenças", ou "cognições".

Agora, antes de ler a parte 2, quero encorajá-lo a voltar ao capítulo 1 e reler a Metáfora da
ACT Sintetizada. Na transcrição a seguir, o terapeuta adapta as seções 1 e 3 desta metáfora.

Introduzindo a Desfusão: Parte 2


A transcrição abaixo continua imediatamente a partir de onde a parte 1 parou.
Terapeuta: (Entregando o cartão para o cliente) Então, este é o tipo de coisas que sua
mente diz para você quando está surrando você?
Cliente: (Olhando para o cartão) Sim.
Terapeuta: Vou pedir a você que faça algumas coisas com este cartão. Eles podem parecer
um pouco estranhas, mas acho que você vai aprender várias coisas com elas.
Pode ser?
Cliente: Que tipo de coisas?
Terapeuta: Bem, primeiro eu gostaria que você segurasse o cartão com força, com ambas
as mãos, e segure-a na frente do seu rosto assim, de modo que você não possa
me ver, e tudo o que você pode ver são esses pensamentos no cartão. (O cliente
segura o cartão na frente de seu rosto.) Isso mesmo –segure o cartão tão perto
de maneira que quase encoste em seu nariz. (O cliente faz isso.) Agora, como é
tentar conversar comigo enquanto você está preso nesses pensamentos?

O terapeuta está agora fazendo a seção I da Metáfora da ACT Sintetizada.

Cliente: Bem difícil.


Terapeuta: Você se sente conectado comigo?
Cliente: Eu consigo ouvir você bem.
Terapeuta: Certo, mas consegue identificar as expressões em meu rosto? Consegue real-
mente perceber o que estou fazendo? Se eu estivesse fazendo malabarismos ou
mímica, você seria capaz de ver o que estou fazendo?
Cliente: Acho que não.
Terapeuta: E qual é sua visão da sala enquanto está totalmente tomado por estes pensa-
mentos?
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Cliente: (sorrindo ironicamente) Que sala?
Terapeuta: Observe o que está acontecendo aqui. A sua mente está lhe contando todas
estas histórias desagradáveis, e quanto mais absorto nelas você fica, mais opor-
tunidades você perde. Você está por assim dizer excluído do mundo ao seu re-
dor; você está excluído de tudo com exceção desses pensamentos.
Cliente: Sim, é assim que parece.
Terapeuta: Observe, também, que enquanto está agarrado a estas coisas, fica difícil fazer
qualquer coisa que enriqueça sua vida. Confira por você mesmo: segure o car-
tão tão firmemente com ambas as mãos de forma que eu não possa tirá-lo de
você. (O cliente faz isso.) Se eu pedisse para você agora, enquanto está segu-
rando este cartão, para fazer uma prova ou ir para um entrevista, ou abraçar al-
guém que você ama, andar de bicicleta, envolver-se com seus amigos ou sua
família, ou ter um conversa profunda e significativa com um amigo, você seria
capaz de fazê-lo?
Cliente: Eu poderia fazer uma tentativa.
Terapeuta: Ok, você poderia tentar. E estar todo enrolado nestes pensamentos iria facilitar
ou dificultar fazer isso?
Cliente: Sim, seria bem difícil.
Terapeuta: Certo. Então quando sua mente fisga você com esses pensamentos, você fica
não apenas excluído do mundo ao seu redor e desconectado das demais pesso-
as, mas também fica muito mais difícil fazer coisas que fazem sua vida funcio-
nar.
Cliente: (Acenando positivamente com a cabeça). Entendi o ponto.
Terapeuta: Bem, então vamos tentar algo diferente agora. Posso pegar o cartão de volta?
(Cliente devolve o cartão.) Tudo bem se eu colocar este cartão no seu colo?
(Cliente concorda e o terapeuta coloca o cartão no colo do cliente.) Você con-
segue deixá-lo ali por um momento?

O terapeuta está agora fazendo a seção III da Metáfora da ACT Sintetizada.

Terapeuta: E como é isso comparado com ter o cartão bem na frente de seu rosto? Você se
sente mais conectado comigo? Mais envolvido com o mundo ao seu redor?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Agora observe que estes pensamentos não foram embora. Eles ainda estão
aqui. E se você quisesse, ainda poderia ficar absorto neles. Confira por você
mesmo. Olhe para o cartão e dê toda sua atenção a ele. (Cliente olha para o
cartão que está em seu colo.) Observe como à medida que começa a ficar ab-
sorto nesses pensamentos, você se desconecta de mim – e perde contato com o
mundo ao seu redor. (Cliente faz gesto de concordância.) Agora volte a olhar
para mim. (Cliente olha para o terapeuta.) E observe a sala em que você está.
(Cliente olha para a sala.) E agora, o que você prefere: ser sugado para dentro
dos seus pensamentos lá embaixo ou estar aqui fora no mundo e interagindo
comigo?
Cliente: (Sorrindo) Eu prefiro este último.

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Terapeuta: Eu também.
Cliente: Mas continuo com vontade de olhar para eles.
Terapeuta: Claro que continua. Nossas mentes nos treinam para acreditarmos que tudo que
dizem pra nós é muito importante e que temos de prestar atenção nelas. Mas na
verdade nada do que está escrito naquele cartão é novo, não é? Você já teve es-
tes pensamentos centenas ou até milhares de vezes.
Cliente: Talvez trilhões de vezes.
Terapeuta: Observe que você têm uma escolha. Você pode tanto olhar pra baixo, para o
cartão, e ficar absorto no material contido nele, em todos estes pensamentos
que você já teve zilhões de vezes, como pode também deixá-lo ali e se envol-
ver com o mundo. A escolha é sua. Qual você escolhe?
Cliente: Hmm ... (Ela parece insegura; olha para o cartão.)
Terapeuta: (De forma calorosa e bem humorada) Oh, eu perdi você. (Cliente olha nova-
mente para o terapeuta.) Ah, você está de volta. Veja com que facilidade estes
pensamentos conseguem fisgar e prender você.
Cliente: Sim, eu sei. Isto acontece o tempo todo.
Terapeuta: Sim – para você, para mim, e para todo mundo neste planeta. É a isso que es-
tamos nos opondo. É isso que as mentes fazem. Elas fisgam você. Mas observe
como é diferente quando você consegue se soltar desses anzóis da mente. Ob-
serve o que aconteceria se eu lhe pedisse para fazer um exame, ou ir para uma
entrevista, ou abraçar alguém que você ama – agora você conseguiria fazer isto
muito mais facilmente. E agora você também pode estar na sala e apreciar essa
mobília fantástica e esta decoração maravilhosa elaborada pela IKEA. E se eu
começar a fazer malabarismos ou um show de mímica, você vai ser capaz de
ver isso.
Cliente: Isso soa realmente muito bem, mas eu ..... eu não sei se vou conseguir fazer
isso.
Terapeuta: Bem, só existe um caminho para descobrir isso, e ele consiste em fazer uma
tentativa. Temos um nome chique para este processo. Nós o chamamos de
"desfusão". E o que eu gostaria de fazer caso você esteja disposta a isso, é con-
duzir você através de duas técnicas bem simples de desfusão e ver o que acon-
tece. Você estaria disposta a isso? A dar uma chance a isso?
Cliente: Pode ser.

Desembrulhando tudo isso: Parte 2


Quando escrevemos pensamentos em um cartão e depois transformamos o cartão em uma
metáfora física, isto por si só é uma técnica de desfusão: o cliente vai provavelmente começar
a se desfundir um pouco dos pensamentos que estiverem escritos no cartão.
Há também um pouco de psicoeducação aqui: a metáfora ilustra a diferença entre fusão e des-
fusão, e mostra como a fusão dificulta e atrapalha qualquer ação efetiva. Também fica desta-
cada a conexão que existe entre desfusão e estar em contato com o momento presente: a des-
fusão habilita o paciente a entrar em contato e a se envolver mais conscientemente com o te-
rapeuta e com o ambiente enquanto a fusão interfere nisso.
No final da transcrição, o terapeuta pergunta "Você estaria disposta a fazer isso?" e a cliente
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responde "Pode ser". O terapeuta pode agora conduzir a cliente através de qualquer técnica de
desfusão que ele preferir. Como regra geral, é melhor começar com algumas técnicas rápidas
e fáceis em vez de técnicas mais longas ou técnicas que exijam mais reflexão.
Mas vamos supor que a cliente não esteja tão disposta assim a fazer uma tentativa. Vamos
supor que ela não queira deixar os pensamentos ficarem ali – ela quer mesmo é se livrar deles.
Ou que ela diga que sim, mas seu tom de voz e sua linguagem corporal sugiram que ela real-
mente não está interessada na ideia. O que poderíamos fazer neste caso?
Você entendeu. Em ambos os casos, iremos confrontar a agenda: conduzi-la através de tudo
que ela já tentou para se livrar desses pensamentos, avaliar quão bem isso funcionou, e olhar
para o que isto custa. Então vamos voltar e perguntar algo do tipo: "Levando em conta que
você tem estado tentando por anos livrar-se desses pensamentos, e que claramente isto não
tem funcionado, você estaria disposta a tentar uma abordagem diferente?"
Por favor, mantenha em mente que não precisa fazer uso da técnica de escrever pensamentos
em um cartão (descrita acima). Eu a utilizei tão somente como um exemplo pois a considero
muito efetiva. No entanto, poderíamos também passar pelo processo apenas conversando.
Primeiro perguntaríamos a nossa cliente para que identifique os pensamentos com os quais ela
se funde. Em seguida verificaríamos o que acontece quando ela é capturada por esses pensa-
mentos. Finalmente lhe perguntaríamos de que forma sua vida seria diferente se estes pensa-
mentos perdessem o seu impacto, e se poderia deixar que viessem e se fossem sem ser captu-
rada ou fisgada por eles.

A DESFUSÃO NA LINGUAGEM COTIDIANA

Na transcrição acima, o terapeuta utiliza a termo "desfusão". No entanto, se você por alguma
razão preferir não utilizar este termo técnico, existem muitas maneiras de falar sobre desfusão
na linguagem cotidiana. Para transmitir o conceito de fusão, você pode falar sobre " morder o
anzol e ser fisgado" pelos pensamentos, ficar emaranhado ou preso em seus pensamentos, ou
se perder nos mesmos e ser varrido por eles. Você também pode falar sobre se agarrar com
força a seus pensamentos, recusando-se a deixá-los ir embora, morar em seus pensamentos,
ficar absorto neles, ou aceitar e acolher seus pensamentos como se fossem completamente
verdadeiros. Você também pode falar de lutar com seus pensamentos, ficar atolado neles, ou
permitir que eles o empurrem pra lá e pra cá. E lista continua. Todas estas formas metafóricas
de falar transmitem o mesmo tema: nossos pensamentos tem um grande impacto sobre nós, e
nós investimos um monte de tempo, energia e esforço em responder a eles.
Para transmitir o conceito de desfusão você pode falar sobre notar pensamentos, observar
pensamentos, dar um passo atrás e olhar para seus pensamentos; ou deixar os pensamentos
virem e irem, segurá-los de forma leve, ou afrouxar sua aderência a eles, desenredar-se, largar
a história, etc. Todas estas formas transmitem a ideia de separar-se de seus pensamentos e
permitir que estes façam o que fazem e sejam o que são em vez de investir seu tempo, energia
e esforço em responder a eles.

O BUFÊ DA DESFUSÃO
Uma vez que você tiver permissão do cliente para fazer um exercício vivencial, existe um
bufê de opções disponíveis para você. No entanto, à medida que você continuar a leitura, há
duas coisas que você precisa manter em mente:
1. A desfusão não é uma técnica. Existem mais de cem técnicas de desfusão descritas nos
livros textos de ACT e em artigos, e dezenas de outras que nunca foram escritas. Mas
lembre-se: a desfusão é um processo e não uma técnica. Todas estas diferentes técnicas
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existem para ajudar a aprender o processo.
2. Tenha muito cuidado com a invalidação. Quando trabalhamos com a desfusão, necessita-
mos estar em contato com nossa compaixão e nosso respeito pelo cliente, e nos assegurar
de não adotar uma postura de superioridade em relação a ele. Quando um cliente compar-
tilha pensamentos dolorosos conosco, existe um risco potencial em referir-se aos mesmos
como "histórias" ou fazer alguma das inúmeras técnicas de desfusão (tais como dizer os
pensamentos com vozes bobas ou cantá-las. Mais adiante falaremos mais sobre isso.) Se
fizermos este trabalho sem o devido cuidado, ele pode parecer invalidante, indiferente,
banalizante, ou humilhante.
Por isso é importante que nos unamos ao paciente de forma compassiva: nos conectamos com
seu sofrimento, e validamos toda a dor que ele sofreu. Adotando uma postura de compaixão,
igualdade e respeito, formamos uma aliança com o cliente. Trabalhamos juntos como uma
equipe para encontrar uma nova maneira de responder a esses pensamentos e desenvolver uma
nova atitude que permita uma vida mais consciente e baseada em valores. Quando trabalhamos
com essa atitude, o risco de invalidar um cliente é baixo. Mas sem essa atitude, o risco é alto -
especialmente com as técnicas não convencionais, estranhas ou excêntricas. Brincadeiras de
caráter compassivo e respeitoso é a qualidade que almejamos em todas essas interações.

Um Sabor da Desfusão
Agora vou levar você através de várias técnicas de desfusão como se você fosse um cliente,
para que você possa ter um gostinho delas. Pegue uma folha de papel e anote dois ou três pen-
samentos negativos com que sua mente de tempos em tempos lhe incomoda ou ameaça. Você
precisará deles para trabalhar durante os exercícios. (Se você precisar de alguma ajuda com
algumas, considere fazer estas perguntas: O que sua mente diz sobre seu corpo quando você
se vê nu (ou nua) no espelho? O que sua mente lhe conta sobre suas habilidades como tera-
peuta quando você acabou de ter uma sessão realmente desafiadora onde nada deu certo? O
que sua mente lhe diz quando realmente quer botar você "pra baixo" e lhe dizer que você não
é bom o suficiente?)
Conseguiu fazer? Agora, escolha o pensamento que mais lhe incomoda e use-o para trabalhar
nos exercícios que apresentaremos a seguir. (No início de cada exercício, peço que você se
funda com seu pensamento por dez segundos. Geralmente, você não precisará pedir isso a
seus clientes para fazer isso, pois eles já estarão fundidos!)

OS PENSAMENTOS COMO HISTÓRIAS

 Coloque seu autojulgamento negativo em uma frase bem curta — no formato "Eu sou
X". Por exemplo: Eu sou um fracassado ou Eu não sou inteligente o suficiente.
 Agora funda-se com esse pensamento por dez segundos. Ou seja, fique preso neste
pensamento e acredite nele tanto quanto possível.
 Agora, de forma silenciosa, repita o pensamento mas com esta expressão antes dele:
"Estou tendo o pensamento de que ... Por exemplo: Estou tendo o pensamento de que
sou um fracassado.
 Agora repita-o mais uma vez mas desta vez adicione a expressão "Noto que estou ten-
do o pensamento de que..." Por exemplo: Noto que estou tendo o pensamento de que
sou um fracassado.
O que aconteceu? Você conseguiu notar uma sensação de separação ou de distanciamento do
pensamento? Caso não tenha conseguido, faça o exercício novamente mas com um pensa-
107
mento diferente. Este é um exercício simples e agradável (adaptado de Hayes et al., 1999),
que costuma dar uma experiência de desfusão a quase todos os que praticam.
Em uma sessão de terapia, você pode seguir como abaixo:
Terapeuta: Então, o que aconteceu com o pensamento?
Cliente: Meio que perdeu um pouco do seu poder de machucar.
Terapeuta: Você teve algum senso de separação ou distanciamento dele?
Cliente: Sim Ele meio que bateu em retirada.
Terapeuta: Você poderia me mostrar com suas mãos e seus braços para onde o pensamen-
to parecia se mover?
Cliente: Para fora daqui. (O cliente estica os braços na frente do peito dele.)
Terapeuta: Então, isso é uma parte do que entendemos por desfusão: você começa a se
separar de seus pensamentos e a dar-lhes algum espaço para se movimentarem.
Você poderia continuar também de outras maneiras. Por exemplo, você poderia perguntar ao
cliente: "Eu me pergunto se você estaria disposto a tentar falar dessa maneira em nossas ses-
sões. Suponha que você tenha algum tipo de pensamento angustiante, doloroso ou inútil como
Isto é muito difícil. Quando você tem um pensamento como esse, você poderia me dizer: "Es-
tou tendo o pensamento que isso é muito difícil?"
Uma vez que esta combinação tenha sido estabelecida, você pode voltar a ela repetidas vezes
e brincar com ela como uma breve intervenção. Aqui estão dois exemplos:

Cliente: Eu não aguento isso.


Terapeuta: Então você está pensando que você não pode lidar com isso.
Terapeuta: Você poderia dizer isso novamente, mas desta vez, colocando a expressão "Eu
estou pensando que ..."
Cliente: Eu estou pensando que sou um idiota estúpido.
Terapeuta: Você notou alguma diferença?
Cliente: Sim, não me incomodou tanto na segunda vez.

Claro, você pode usar essa técnica com sentimentos e impulsos também: "Estou com um sen-
timento de ansiedade" ou "Estou com vontade de fugir".

CANTAR E USAR VOZES ESTRANHAS OU ENGRAÇADAS


Para estes dois exercícios (retirados de Hayes et al., 1999), use o mesmo autojulgamento ne-
gativo que você usou acima, ou tente um novo caso o antigo tenha perdido seu impacto:

 Coloque seu autojulgamento negativo em uma sentença curta — no formato "Eu sou
X" — e funda-se com ele por dez segundos.
 Agora, dentro de sua cabeça, silenciosamente cante o pensamento utilizando a melodia
de "Parabéns pra Você".
 Agora, dentro de sua cabeça, ouça a voz de um personagem de desenho animado, per-
sonagem de filme ou comentarista esportivo, falando o pensamento.

O que aconteceu desta vez? Você notou uma sensação de separação ou de distanciamento do
pensamento? Caso não tenha notado, faça o exercício novamente mas utilizando um pensa-
mento diferente.
108
Variações sobre o tema incluem cantar os pensamentos em voz alta, pronunciá-los em voz
alta, ou dizê-los em de forma exageradamente lenta (por exemplo, Eeeeeuuuuuu ssssooooo-
ouuuuuuu bbbuuuurrrroooo "). Tenha em mente que, no contexto certo, técnicas como essas
podem ser muito poderosas mas, no contexto errado, elas podem ser invalidantes ou até mes-
mo humilhantes. Por exemplo, você provavelmente não pediria a um cliente com um câncer
terminal para cantar seus pensamentos sobre a morte ao ritmo de "Parabéns pra Você".

Dica Prática: Com essas técnicas de desilusão, seu cliente muitas vezes vai esboçar
um sorriso ou rir. Não estamos almejando especificamente esse resultado, mas,
quando isso acontece, normalmente é um sinal de que houve uma desfusão signi-
ficativa, e geralmente é útil destacar isso para o cliente: "Você está sorrindo. O que
está acontecendo? Este é um pensamento negativo realmente desagradável, não é?
O que te levou a sorrir?" No entanto, se seu cliente começar a julgar asperamente o
pensamento — "Ele parece tão bobo" ou "É um pensamento estúpido, não é?" — ,
então queremos desfundir esses julgamentos também.
Por exemplo, podemos dizer: “Bem, o importante é notar que é apenas um monte de pala-
vras. Nós não precisamos julgar. Vamos apenas ver o que é: um monte de palavras que
A REPETIÇÃO DE TITCHENER
entraram na sua cabeça.”
Este exercício (Titchener, 1916) envolve três passos:

1. Escolha um substantivo simples, como "limão". Diga-o em voz alta uma vez ou duas ve-
zes e observe o que aparece psicologicamente — que pensamentos, imagens, cheiros,
gostos ou lembranças vêm à mente.
2. Agora repita a palavra muitas vezes, em voz alta e o mais rápido possível, por trinta se-
gundos — até que se torne apenas um som sem sentido. Por favor, tente isso agora com
a palavra "limão" (ou alguma outra palavra de sua preferência) antes de continuar a ler.
Você deve fazer isso em voz alta para que seja eficaz.
3. Agora, repita o exercício com uma palavra que evoque julgamento — uma palavra que
você tende a usar quando se julga severamente, por exemplo, "ruim", "gordo", "idiota",
"egoísta", "perdedor". "incompetente" — ou uma expressão de duas palavras, como
"mãe ruim".

Por favor, tente isso agora e observe o que acontece. A maioria das pessoas acha que a palavra
ou expressão se torna sem sentido dentro de cerca de trinta segundos. Então, conseguimos vê-
la pelo que realmente é: um som estranho, uma vibração, um movimento da boca e da língua.
Mas quando essa mesma palavra ou expressão aparece em nossa cabeça e nós nos fundimos
com ela, isso tem um grande impacto em nós.

TELA DE COMPUTADOR
Este exercício (Harris, 2006) é particularmente útil para pessoas que são boas em visualizar.
Você também pode convertê-lo em um exercício escrito, usando folhas de papel e canetas de
cores diferentes:

 Funda-se com o seu autojulgamento negativo por dez segundos.


 Agora imagine uma tela de computador e veja que seu pensamento está escrito nessa
tela como um texto simples escrito em fonte preta.
 Agora, em sua mente, brinque com a cor. Veja o texto escrito em verde, depois em
azul e depois em amarelo.

109
 Agora, na sua imaginação, brinque com a fonte. Veja-o escrito em itálico, depois em
gráficos elegantes e, em seguida, em uma dessas fontes grandes e divertidas que cos-
tumamos ver nos livros infantis.
 Agora, coloque o texto de volta como texto em preto, e desta vez brinque com o for-
mato. Junte as palavras. Depois, deixe-as bem separadas. Em seguida, coloque-as na
tela verticalmente.
 Agora, retorne mais uma vez ao texto preto, e desta vez, em sua mente, anime as pala-
vras como os personagens da Vila Sésamo. Faça as palavras saltarem para cima e para
baixo, ou contorcer-se como uma lagarta, ou girar em círculo.
 Novamente volte ao texto em preto, e desta vez imagine uma bola de karaokê pulando
de palavra em palavra. (E se você gosta, ao mesmo tempo, ouça "Parabéns pra Você").

Técnicas "Meditativas"
Você notará que neste livro eu falo sobre habilidades de atenção plena, e não de meditação de
atenção plena. Isso deve ao fato de que, do ponto de vista da ACT, a meditação formal é apenas
uma das formas de aprender as habilidades básicas de desfusão, aceitação e contato com o mo-
mento presente. Se os clientes quiserem praticar meditação ou outras práticas formais de atenção
plena, tais como yoga ou tai chi, isso é ótimo — quando se trata de aprender novas habilidades,
quanto mais se pratica, melhor — mas definitivamente não é algo que esperamos ou pedimos.

Dito isto, algumas técnicas de desfusão, como as duas que se seguem — Folhas na Corrente-
za (Hayes et al., 1999) e Observe seu Pensamento — trazem ao praticante uma sensação me-
ditativa. Nesses exercícios, observamos nossos pensamentos com abertura e curiosidade, —
observamos eles indo e vindo sem reagir a eles — sem julgá-los, sem nos agarrar a eles ou
querer afastá-los.

FOLHAS NA CORRENTEZA
1. Encontre uma posição confortável e feche os olhos ou fixe os olhos em um ponto, o que
preferir.
2. Imagine que você está sentado ao lado de um riacho que flui suavemente e que há fo-
lhas fluindo na superfície do riacho. Imagine como quiser, é a sua imaginação. (Pausa
de 10 segundos)
3. Agora, pelos próximos minutos, tome cada pensamento que surge em sua cabeça, colo-
que-o sobre uma folha, e deixe que ele flutue com a correnteza. Faça isso independen-
temente de os pensamentos serem positivos ou negativos, agradáveis ou dolorosos.
Mesmo que sejam os pensamentos mais maravilhosos, coloque-os sobre a folha e deixe-
os flutuar. (Pausa de 10 segundos)
4. Se seus pensamentos pararem, apenas observe a correnteza. Mais cedo ou mais tarde,
seus pensamentos começarão de novo. (Pausa de 20 segundos)
5. Permita que a correnteza flua em seu próprio ritmo. Não a acelere. Você não está ten-
tando limpar as folhas — você está permitindo que elas venham e se vão em seu próprio
momento. (Pausa de 20 segundos)
6. Se sua mente diz Isso é estúpido ou Eu não consigo fazer isso, coloque esses pensamen-
tos sobre uma folha. (Pausa de 20 segundos)
7. Se uma folha ficar presa, deixe que fique assim. Não force a flutuar. (Pausa de 20 se-
gundos)

110
8. Se surgir um sentimento difícil, como tédio ou impaciência, simplesmente reconheça isso.
Diga a si mesmo: "Aqui está um sentimento de tédio" ou "Aqui está um sentimento de im-
paciência". Em seguida, coloque essas palavras sobre uma folha e deixe a folha fluir.
9. De tempos em tempos, seus pensamentos vão fisgar você e você perderá a noção do
exercício. Isso é normal e natural e vai continuar acontecendo. Assim que você perceber
que isso aconteceu, apenas reconheça isso e comece o exercício novamente.

Após a instrução 9, continue o exercício por mais alguns minutos, periodicamente pontuando
o silêncio com este lembrete: "Seus pensamentos vão fisga-lo repetidas vezes. Isso é normal.
Assim que você perceber que foi fisgado, comece o exercício novamente desde o começo. "
Posteriormente, faça perguntas ao cliente sobre exercício: Que tipo de pensamentos fisgaram
você? Como foi deixar os pensamentos irem e virem sem ficar preso a eles? Foi difícil aban-
donar algum pensamento em particular? (Os clientes muitas vezes querem manter os pensa-
mentos positivos, mas isso anula o propósito do exercício — o objetivo é aprender como dei-
xar os pensamentos irem e virem.) Quais sentimentos apareceram? Foi útil tomar conheci-
mento do sentimento (como na instrução 8)? (Esta é uma técnica de aceitação.)
O cliente acelerou o fluxo da correnteza, tentando limpar os pensamentos ou se livrar deles?
Se assim for, ele provavelmente está transformando o exercício em uma técnica de controle,
tentando se livrar dos pensamentos. Este não é o objetivo. O objetivo é observar o "fluxo de
pensamentos" natural, permitindo que eles venham e saiam em seu próprio tempo. É por isso
que incluí a instrução 5 no exercício.
Você pode terminar o exercício com uma instrução simples como esta: "E agora, finalize o
exercício ... sente-se em sua cadeira ... e abra os olhos. Olhe ao redor na sala ... e observe o
que você pode ver e ouvir ... e se alongue. Bem-vindo de volta! "

Dica Prática: Algumas pessoas acham a visualização muito difícil. Eu sou um de-
les. Por isso, uma boa ideia, no início de qualquer exercício que exija o uso da
imaginação, é dizer: “Pessoas diferentes imaginam de maneiras diferentes. Algu-
mas veem imagens muito vivas como em uma tela de TV. Outras pessoas imagi-
nam com palavras, sons, sentimentos ou ideias. Qualquer que seja a forma como
você imagina ou visualiza algo, ela está bem."
Para o exercício das Folhas na Correnteza, eu sempre ofereço a alternativa de ima-
ginar uma “escuridão em movimento” ou uma “faixa preta em movimento” —
apenas uma sensação de algo escuro e expansivo que simplesmente continua se
movendo suavemente. Você coloca seus pensamentos na escuridão em movimen-
to e não nas folhas.

OBSERVE SEUS PENSAMENTOS


1. Eu convido você agora a sentar-se ereto e deixar seus ombros caírem. Suavemente em-
purre seus pés no chão e tenha uma noção do chão abaixo de você. Você pode manter
os seus olhos fechados ou olhar para baixo.
2. Agora, apenas pare por um momento e observe como você está sentado. (Pausa de 5 se-
gundos.) Observe como você está respirando. (Pausa de 5 segundos.) E nas próximas
poucas respirações, realmente observe a respiração — estude-a — note que ela flui para
dentro e para fora. (Pausa de 10 segundos.) Observe-a como se você fosse um cientista
curioso que nunca tinha observado a respiração antes. (Pausa de 10 segundos.)

111
3. Agora mude sua atenção da sua respiração para seus pensamentos, e veja se você pode
notar seus pensamentos: Onde estão seus pensamentos? Onde eles parecem estar loca-
lizados no espaço? (Pausa de 10 segundos.) Se seus pensamentos são como uma voz,
onde esta voz está localizada? Ela está no centro da sua cabeça ou em um dos lados?
(Pausa 10 segundos.)
4. Observe a forma dos seus pensamentos: eles são mais como imagens, ou como palavras
ou sons? (Pausa de 10 segundos.)
5. Seus pensamentos estão se movendo ou estão imóveis? Se estão se movendo, a que ve-
locidade e em qual direção? Se estão imóveis, onde eles estão suspensos ou pairando?
6. O que está acima e abaixo dos seus pensamentos? Há alguma lacuna entre eles?
7. Nos próximos minutos, observe seus pensamentos indo e vindo como se você fosse um
cientista curioso que nunca tenha encontrado algo assim antes.
8. De tempos em tempos, você será fisgado pelos seus pensamentos e perderá o controle
do exercício. Isso é normal e natural e vai continuar acontecendo. Assim que você per-
ceber que isso aconteceu, reconheça isso de forma gentil, e então comece o exercício
novamente.
Você poderia continuar com isso por vários minutos, com lembretes periódicos da última ins-
trução — ou se você quiser apenas fazer um exercício rápido, você pode acabar nesse ponto,
como sugerido no último exercício. Analise o exercício depois, como com Folhas na Corren-
teza.

Realçando a Desfusão: Metáforas sobre "Deixar Ir"


A desfusão está implícita em qualquer exercício ou prática de atenção plena: quanto mais en-
tramos no mundo da experiência direta, mais deixamos para trás o mundo da linguagem. No
entanto, como você verá nos próximos três capítulos, alguns exercícios de atenção plena são
mais voltados para a aceitação, para o contato com o momento presente ou com o eu observa-
dor. Podemos acentuar a desfusão em qualquer exercício de atenção plena adicionando uma
metáfora ou duas sobre "deixar ir". Seguem, a seguir, alguns exemplos.
Deixe seus pensamentos ir e vir como
 carros passando do lado de fora de sua casa
 nuvens flutuando pelo céu
 pessoas caminhando do outro lado da rua
 malas em uma esteira
 bolhas subindo à superfície de uma lagoa
 ondas lavando suavemente na praia
 pássaros voando pelo céu
 trens que entram e saem da estação, ou
 folhas soprando suavemente ao vento.

Equívocos comuns do cliente


Os clientes geralmente têm concepções errôneas sobre a desfusão (assim como muitos novos
terapeutas). Eles podem pensar que o objetivo da desfusão é livrar-se de pensamentos, ima-
gens ou lembranças dolorosas ou reduzir os sentimentos dolorosos associados a eles. Mas não
é. Por favor lembre-se:

112
 O objetivo da desfusão NÃO é se sentir melhor ou se livrar de pensamentos indesejá-
veis.
 O objetivo da desfusão É reduzir a influência de processos cognitivos inúteis sobre o
comportamento e facilitar a presença psicológica e o engajamento na experiência.
 Em outras palavras, o objetivo da desfusão é possibilitar uma vida consciente e basea-
da em valores.
Os clientes frequentemente descobrem que, quando se desfundem de um pensamento doloro-
so, ele desaparece, ou se sentem melhor, ou ambos. Quando isso acontece, o terapeuta precisa
esclarecer que (1) isso é apenas um bônus, não o objetivo principal, e (2) nem sempre vai
acontecer, então não espere por isso. Se o terapeuta não fizer isso, os clientes começarão a
usar a desfusão para tentar controlar seus pensamentos e sentimentos. E então, é claro, a des-
fusão não funciona mais como uma técnica de atenção plena, mas como uma técnica de con-
trole. E então é apenas uma questão de tempo até que o cliente se frustre ou se desaponte.
Aqui estão dois exemplos de como o terapeuta pode lidar com isso:
Cliente: Isso foi ótimo. O pensamento foi embora.
Terapeuta: Bem, às vezes isso acontece e às vezes não. Às vezes, um pensamento apenas
fica por perto. Nosso objetivo não é tentar fazer com que ele desapareça —
nosso objetivo é pararmos de ficar presos nele, criar algum espaço para ele,
permitir que ele esteja ali sem lutar — de modo que, se e quando, ele ficar por
ali por um tempo, ele não vai impedir você de fazer o que importa e de se en-
volver plenamente em sua vida.

***
Cliente: Isso é bom. Eu me sinto menos ansiosa agora.
Terapeuta: Sim, bem, isso acontece muitas vezes com a desfusão, mas certamente nem
sempre. A desfusão não é uma maneira mágica de controlar seus sentimentos.
O objetivo é se desenredar de seus pensamentos para que você possa estar ple-
namente no momento presente e fazer as coisas que considera importantes. En-
tão, se você se sentir melhor, com certeza aproveite isso. Mas por favor, consi-
dere isso um bônus, não o objetivo principal. Se você começar a usar essas
técnicas para controlar como você se sente, garanto que logo logo você vai fi-
car desapontada.
Se sua cliente parecer decepcionada ou surpresa quando você disser isso, significa que ela
entendeu mal o propósito da desfusão. Nesse caso, você precisará recapitular isso e talvez seja
necessário visitar (ou revisitar) a desesperança criativa. Uma maneira de fazer uma recapitula-
ção rápida é "repetir" a METÁFORA DA ACT SINTETIZADA, do capítulo 1, ou a metáfora AS
MÃOS COMO PENSAMENTOS, do capítulo 2.

NÃO ESTÁ FUNCIONANDO


Às vezes você não percebe que seu cliente perdeu o ponto de desfusão. Tudo bem, ele logo
voltará e lhe contará. Ele vai dizer algo como "não está funcionando!" Nesse caso, pergunta-
mos: "O que você quer dizer com 'não está funcionando'?" Então ele diz: "Bem, eu tentei to-
das essas técnicas de desfusão, mas eu ainda me sento muito ansioso". E eis, pronto! Aqui
temos a agenda de controle. Podemos agora recapitular o propósito da desfusão e esclarecer
que ela não é uma ferramenta para controlarmos nossos sentimentos. O fato é que nossas
emoções podem ou não mudar quando nos desfundimos dos pensamentos dolorosos. (Se isso
lhe parece estranho, tenha em mente que é um mito que nossos pensamentos criam nossas
emoções. Nossas emoções estão sob múltiplas fontes de influência a qualquer momento, e
113
nossos pensamentos são apenas uma influência entre muitas, e desfundir-nos deles poderá ter
pouco ou nenhum impacto em nosso estado emocional.)

MAS É VERDADE!
De tempos em tempos, um cliente irá resistir ou criticar uma técnica de desfusão, alegando
que o pensamento é verdadeiro. Geralmente é mais fácil responder este tipo de contestação
em termos de funcionalidade: "A questão é que, na ACT, não estamos muito interessados em
saber se seus pensamentos são verdadeiros ou falsos, mas se são úteis. Se você mantiver esse
pensamento firmemente, será que isso vai ajudar você a viver a vida que você quer viver?
Fazer isso vai ajudar você a alcançar seus objetivos, melhorar seus relacionamentos ou agir
como a pessoa que deseja ser? "

Abaixo segue um exemplo de uma sessão de terapia:


Cliente: Mas é verdade. Eu sou uma mãe ruim.
Terapeuta: Bem, uma coisa que eu nunca pretendo fazer aqui é debater com você sobre o
que é verdadeiro e o que é falso. O que nos interessa é se este pensamento é
útil. Quando você fica fisgado por esse tipo de pensamento, isso ajuda você a
ser o tipo de mãe que gostaria de ser?
Cliente: Às vezes isto me obriga a agir.
Terapeuta: Às vezes sim. Mas na maioria das vezes isso apenas puxa você para baixo, não é?
Cliente: Sim.
Terapeuta: E uma vez que você foi arrastado para as profundezas, é quando você vai estar
mais propenso a negligenciar as crianças, certo? Então, na maioria das vezes,
ficar preso nesse pensamento não ajuda você a ser a mãe que você quer ser.
Cliente: Não.
Terapeuta: Suponha que você esteja no meio do mar, seu barco emborcou e você está se-
gurando firmemente uma mala pesada. Você não quer deixá-la ir porque ela es-
tá cheia de pertences preciosos. Mas ela está arrastando você para baixo, pu-
xando você para baixo da água. O que você faria?
Cliente: Soltaria a mala.
Terapeuta: Certo. E uma vez que você soltar a mala, você pode usar sua energia para fazer
algo útil, como nadar em direção à costa. Então, que tal fazer o mesmo com a
história da "mãe má"? Independentemente de ela ser verdadeira ou falsa, dei-
xe-a de lado para que você possa usar sua energia em ser o tipo de mãe que
você realmente quer ser.

Nesse ponto, o terapeuta pode optar por mudar de rumo e explorar um pouco
os valores: descobrir que tipo de mãe a cliente gostaria de ser.
A Metáfora da Mala no Mar, como dada na transcrição acima, é útil tanto para
a fusão quanto para a aceitação.

114
Quando a Desfusão Apresenta Efeitos Negativos
De vez em quando pode acontecer que ao usar uma técnica de desfusão com um cliente ocorra
o efeito oposto ao que você pretendia: seu cliente ficará ainda mais fundido do que antes. Fe-
lizmente isso não irá acontecer com frequência, mas se e quando acontecer, não é realmente
um problema. Basta transformá-lo em uma oportunidade para ajudar seu cliente a discriminar
entre fusão e desfusão - por exemplo:
Terapeuta: Ah, me desculpe. Isso não saiu do jeito que eu esperava. Normalmente, esse
exercício ajuda as pessoas a darem um passo atrás e se distanciarem de seus
pensamentos, mas, nesse caso, parece ter tido o efeito oposto. Então, dado que
isso aconteceu, vamos aprender com isso. Observe como você está ainda mais
fundido com esse pensamento do que antes. Observe o impacto que está ele
tendo em você. Isto é o que queremos dizer quando falamos em "fusão".
Então, após analisar o ocorrido e conversar com o cliente sobre isso, você pode sugerir um
exercício de desfusão diferente.

Mais Técnicas
Atualmente, existem mais de cem técnicas de desfusão documentadas em livros didáticos e
livros de autoajuda da ACT, e muitas outras que nunca foram escritas. E há muitas oportuni-
dades para você ou seus clientes modificarem técnicas antigas ou criarem novas. Você pode
fazer qualquer coisa que coloque o pensamento em um novo contexto, onde você possa vê-lo
pelo que ele realmente é: nada mais e nada menos do que palavras ou imagens; nada com que
você precise lutar, se apegar ou fugir.
Por exemplo, você pode visualizar o pensamento como uma legenda em um cartão de felicita-
ções, escrito em glacê em um bolo de aniversário ou aparecendo dentro do balão de um per-
sonagem de quadrinhos. Ou você pode imaginar o pensamento vindo de um rádio, ou ouvi-lo
na voz de um conhecido político ou comentarista esportivo. Ou você pode se imaginar dan-
çando com o pensamento, andando de mãos dadas com ele pela rua, ou fazê-lo saltar para
cima e para baixo como se estivesse picando uma bola. Você pode desenhar ou pintar o pen-
samento, escrevê-lo em cores diferentes ou esculpir em argila. Você pode visualizá-lo na ca-
miseta de um atleta, imaginá-lo como uma mensagem de texto no celular ou vê-lo como um
pop-up no seu computador. Você pode cantá-lo em diferentes estilos musicais (por exemplo,
ópera, jazz, rock, etc.), dizê-lo com um sotaque estrangeiro escandaloso, ou ter um boneco
dizendo isso em voz alta. As opções são infinitas. Então, antes de continuar lendo, veja se
você consegue pensar em algumas técnicas próprias. E divirta-se com isso. (Quantas vezes
você já leu algo assim em um livro-texto?)

Mais Metáforas
Você também pode usar todos os tipos de metáforas para ajudar com a desfusão. Uma das
mais úteis é comparar a mente a "um mestre contador de histórias", porque isso se encaixa
muito bem quando nos referimos aos pensamentos como "histórias".

A METÁFORA DO MESTRE CONTADOR DE HISTÓRIAS


Terapeuta: Nossa mente é como o maior contador de histórias do mundo. Ela nunca se
cala. Sempre tem uma história para contar e adivinha o que ela quer mais do
que qualquer outra coisa?
Cliente: (encolhe os ombros e sacode a cabeça)
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Terapeuta: Ela quer o que qualquer bom contador de histórias quer. Ela quer que a gente
escute. Quer toda a nossa atenção. E ela vai dizer o que puder para chamar
nossa atenção. Mesmo que seja doloroso ou desagradável ou assustador. E al-
gumas das histórias que ela nos conta são verdadeiras. Essas nós chamamos de
"fatos". Mas a maioria das histórias que ela nos conta não podem realmente ser
chamadas de "fatos". Elas são mais como opiniões, crenças, ideias, atitudes,
suposições, julgamentos, previsões e assim por diante. São histórias sobre co-
mo vemos o mundo, sobre o que queremos fazer e o que achamos que é certo e
errado ou justo e injusto, e assim segue. E uma das coisas que queremos fazer
aqui na terapia é aprender como reconhecer quando uma história é útil e quan-
do não é. Então, se você está disposto, podemos fazer um exercício agora. Pe-
ço que feche os seus olhos e fique em silêncio por cerca de trinta segundos e
apenas ouça a história que sua mente está lhe contando agora.

OUTRAS METÁFORAS
Você também pode comparar a mente com
 uma máquina de gerar palavras: ela produz um fluxo interminável de palavras;
 uma rádio: a Rádio Desgraça e Melancolia gosta de transmitir muita tristeza sobre o
passado, muita desgraça sobre o futuro e muita insatisfação com o presente;
 um pirralho mimado: ela faz todos os tipos de exigências e faz birra se não consegue o
que quer;
 uma máquina de produzir justificações: produz uma lista interminável de justificações
pelas quais você não pode ou não deve mudar;
 um ditador fascista: ela constantemente lhe ordena e lhe diz o que você pode e não po-
de fazer; ou
 uma fábrica de julgamentos: ela passa o dia todo fazendo julgamentos.
E assim por diante. Uma vez que você usou essas metáforas com um cliente — e partindo do
pressuposto que o cliente as adotou — você pode voltar a elas repetidas vezes em sessões
subsequentes e utilizá-las como intervenções breves de desfusão. Por exemplo, em resposta a
um cliente que traz todo um fluxo de autojulgamentos negativos, você pode dizer: "Lá vem a
fábrica de julgamentos novamente; ela está realmente muito ativa hoje". Ou em resposta a um
cliente que fica dizendo: "Eu deveria fazer X, tenho que fazer Y!" você pode dizer: "Uau! Pa-
rece que aquele pequeno ditador fascista dentro de sua cabeça está realmente estabelecendo a
lei hoje".
Você provavelmente já conhece algumas metáforas para a mente: por exemplo, o "tagarela" e
o "crítico interior" são ambos de uso comum. Antes de continuar lendo, por que não reservar
alguns momentos para ver se você pode criar uma ou duas metáforas de sua própria autoria.

Não Esqueça O Cliente


Quando eu era novo na ACT, havia momentos em que eu ficava tão envolvido em brincar
com todas essas maravilhosas novas técnicas de desfusão que eu esquecia o ser humano na
minha frente. Então, precisamos nos lembrar: fazemos técnicas com clientes, não em clientes.
E a ACT não é sobre o fornecimento de técnicas: é sobre construir uma vida baseada em valo-
res e com vitalidade.
Portanto, uma conexão atenta e sintonizada com o cliente é essencial em todo esse trabalho.

116
Precisamos estar atentos aos nossos clientes, respeitosos em relação a onde eles se encontram
e abertos às suas respostas. E se ficarmos tão envolvidos em fornecer técnicas que negligenci-
amos o relacionamento, então, assim que notarmos isso, devemos nos desculpar: "Uau! Sinto
muito. Acabei de me dar conta o que tenho feito aqui. Fiquei tão enredado em meu próprio
entusiasmo, que acabei perdendo o contato com você. Podemos parar por um momento e vol-
tar um pouco, para onde estávamos antes de eu começar a bombardear você com todas essas
coisas? "
Esse tipo de interações não apenas nos ajudam a criar um relacionamento confiante e aberto;
eles também nos permitem modelar a autoconsciência e a autoaceitação. E eles demonstram
que estamos no mesmo barco que nossos clientes: que nós também podemos ser fisgados em
nossas cabeças e perder o contato com o momento presente — e podemos nos trazer de volta
ao presente e agir efetivamente!

PSICOEDUCAÇÃO
Muitos protocolos da ACT incluem quantidades significativas de psicoeducação. Sempre que
possível, isso é feito através de exercícios ou metáforas experienciais, em vez de didaticamen-
te. As metáforas são particularmente úteis para o ensino porque (a) elas transmitem muita
informação em um curto espaço de tempo; (b) os clientes tendem a aceitá-los porque são tru-
ísmos; e (c) os clientes tendem a lembrar-se deles.
Dois componentes psicoeducacionais comumente ligados à desfusão foram abordados no úl-
timo capítulo: "a ilusão de controle" e "a normalidade do controle". Dois outros componentes
frequentemente usados são "a normalidade do pensamento negativo" e "a ilusão de que os
pensamentos controlam as ações"

A Normalidade do Pensamento Negativo


Considerar o pensamento negativo como algo normal geralmente facilita a aceitação e a des-
fusão. Os clientes se tornam mais dispostos a ter seus pensamentos e tentam menos se livrar
deles. Como bônus, os clientes muitas vezes sentem uma sensação de alívio ao saber que são
"normais". Estamos enviando a eles uma mensagem poderosa: "Sua mente não é disfuncional;
está apenas fazendo o que todas as mentes fazem. Nossas mentes evoluíram para julgar, com-
parar e prever o pior. Sua mente está apenas fazendo o seu trabalho." A transcrição que se
segue, sobre a inevitabilidade da comparação, também pode ser útil para uma intervenção de
desesperança criativa. Descrevemos abaixo como podemos transmitir isso aos clientes, exceto
que na vida real faríamos uma pausa de vez em quando para fazer um checagem com o clien-
te: "Isso soa um pouco como a sua mente

A INEVITABILIDADE DA COMPARAÇÃO
Terapeuta: Já falamos um pouco sobre como nossa mente evoluiu para pensar negativa-
mente, mas tem mais coisas sobre isso. Em tempos pré-históricos, algo absolu-
tamente essencial para a sobrevivência de alguém era pertencer a um grupo. Se
o grupo expulsasse essa pessoa, não demoraria muito para que os lobos a devo-
rassem. Então, como a mente agiria para impedir que isso acontecesse? Ela a
levava se comparar a todos os membros da tribo: "Estou me encaixando? Estou
fazendo a coisa certa? Estou fazendo isso bem o suficiente? Estou fazendo al-
guma coisa que poderia me levar a ser expulsa do grupo?" Como resultado,
nossa mente moderna sempre nos compara aos outros. Mas agora, não há ape-
nas um pequeno grupo ou tribo. Agora podemos nos comparar a todos no pla-

117
neta — aos ricos, famosos e lindos astros de cinema, aos melhores atletas, até
aos super-heróis fictícios. E não precisamos procurar muito para encontrar al-
guém que seja "melhor" que nós de alguma forma — mais rico, mais alto, mais
velho, mais jovem, mais cabelo, melhor pele, mais status, roupas mais estilo-
sas, carro maior e assim por diante. Como resultado de tudo isso, estamos to-
dos andando com alguma versão da história "Eu não sou bom/boa o suficien-
te". Para a maioria de nós, isto começa na infância; para algumas poucas pes-
soas, só começa na adolescência. E este é o segredo mais bem guardado do
planeta. Todo mundo tem várias versões dessa história — "Eu sou muito velho
/ gordo / estúpido / chato / falso / desagradável / preguiçoso / incompetente,
blá-blá-blá" ou "Eu não sou esperto o suficiente / rico o suficiente / magro o
suficiente, e assim por diante." Todos nós temos essa história, mas quase nin-
guém fala sobre isso.

A Ilusão De Que Nossos Pensamentos Controlam Nossas Ações


Uma das principais percepções que queremos que nossos clientes compreendam de forma
vivencial é a de que nossos pensamentos não controlam nossas ações. Os pensamentos têm
muita influência sobre nossas ações quando nos fundimos com eles; mas eles têm muito me-
nos influência quando nos desfundimos deles. Uma vez que os clientes entendam isso, isso
nos permite fazer intervenções breves como estas:
Cliente: Eu acho que não vou conseguir fazer isso.
Terapeuta: Será que você consegue ter esse pensamento e ainda assim fazê-lo?

* * *
Cliente: Eu já sei que isto vai acabar mal.
Terapeuta: Bem, é isso que sua mente vai lhe dizer. Você pode deixar sua mente lhe dizer
isso e ainda assim continuar com isso?

As transcrições que se seguem destacam uma visão mais realista da relação entre pensamen-
tos, sentimentos e ações. Eles estão escritos como podemos comunicá-los aos nossos clientes.

SE NOSSOS PENSAMENTOS E SENTIMENTOS CONTROLASSEM NOSSAS AÇÕES


Terapeuta: Se nossos pensamentos e sentimentos realmente controlassem nossas ações,
onde estaríamos? Pense em todos os pensamentos e sentimentos raivosos, res-
sentidos e vingativos que você já teve. Lembre-se de todas aquelas coisas de-
sagradáveis que você pensou em dizer ou fazer com as pessoas com as quais
estava zangada. Imagine se esses pensamentos e sentimentos tivessem contro-
lado suas ações — se você tivesse realmente feito todas essas coisas. Onde es-
taríamos todos se nossos pensamentos e sentimentos controlassem nossas
ações? (Espere que a cliente responda. Ela provavelmente vai dizer "na pri-
são", "no hospital" ou "morta". Se ela não fizer isso, você pode fornecer essas
respostas para ela.)

VOCÊ JÁ TEVE PENSAMENTOS E SENTIMENTOS QUE VOCÊ NÃO SEGUIU


Terapeuta: Você já teve pensamentos e sentimentos que você não seguiu? Por exemplo,
você já pensou "eu não consigo fazer isso", mas você foi em frente e fez mes-

118
mo assim? (Depois dessa e de cada pergunta subsequente, tente extrair as res-
postas do cliente.) Você já teve pensamentos sobre gritar com alguém, termi-
nar a relação com seu parceiro, pedir demissão de seu emprego, mas não agiu
com base neles? Você já se sentiu zangada, mas agiu com calma? Você já se
sentiu assustada, mas agiu com confiança? Você já se sentiu triste, mas agiu
como se estivesse feliz? Você já se sentiu querendo fugir de uma situação
constrangedora ou estressante, mas ficou? O que isso mostra para você? Seus
pensamentos e sentimentos realmente controlam suas ações, ou você tem al-
guma escolha sobre como você age?

NÃO CONSIGO LEVANTAR MEU BRAÇO


Terapeuta: Eu gostaria que você repetisse silenciosamente para si mesma Eu não consigo
levantar meu braço. Diga isso mentalmente repetidas vezes e enquanto você
diz isso, levante seu braço. (Espere até que o cliente levante o braço. Geral-
mente haverá uma pausa de um segundo ou dois.) Então você consegue levan-
tar o braço, mesmo quando sua mente lhe diz que você não pode. Você notou
se em algum momento hesitou? Estamos tão acostumados a acreditar no que
nossas mentes nos dizem, que por um momento você realmente pode ter acre-
ditado. Agora repita para si mesmo: "Eu tenho que me levantar" e, enquanto
diz isso, permaneça sentado.

SUMÁRIO DE TÉCNICAS DE DESFUSÃO


O diagrama abaixo (veja a figura 7.1) INCLUI muitas técnicas comuns de desfusão (mas nem
mesmo perto todas elas). A caixa na parte inferior é intitulada "As Clássicas", porque todas
vêm do primeiro livro do ACT já escrito, Terapia de Aceitação e Compromisso: Uma Abor-
dagem Experimental à Mudança de Comportamento (Hayes et al., 1999), e representam al-
gumas das mais antigas técnicas de ACT em uso. A maioria das caixas é autoexplicativa, mas
eu gostaria de abordar rapidamente em algumas delas.

Resolução de Problemas
Um cliente muitas vezes se sentirá muito culpado se tiver pensamentos sobre se matar, ou
desejar morrer, ou deixar seu parceiro, ou fugir de seus filhos. Esses são pensamentos comuns
que muitas pessoas têm quando estão sob estresse, e podemos normalizá-los, validá-los e re-
formulá-los, indicando: "Esta é apenas a solução de problemas da sua mente. Foi isso que ela
evoluiu para fazer". A desfusão acontece quando o cliente consegue reconhecer o pensamento
como meramente um produto automático daquela incrível "máquina de solução de problemas"
que chamamos de mente. (Você pode vincular isso à Metáfora da Máquina para Resolução de
Problemas no capítulo 2)

Funcionalidade/Pragmatismo
As questões nessas caixas analisam a função dos pensamentos em oposição ao conteúdo. To-
dos eles fazem a mesma pergunta: como funciona para você, em termos de viver uma vida
rica e plena, se você se fundir com um pensamento - isto é, se você permitir que ele tenha uma
grande influência sobre suas ações? Isso claramente evita a questão de se os pensamentos são
verdadeiros ou falsos. Abaixo estão algumas perguntas mais úteis para os clientes se pergun-
tarem.

119
Figura 7.1 – Sumário de Técnicas de Desfusão

Questões Úteis para Pensamentos Inúteis


 Este pensamento é útil ou vantajoso de alguma forma?
 Esta é uma história antiga? Eu já ouvi ela antes?
 O que eu ganharia por aceitar essa história?
 Isso poderia ser útil, ou minha mente está apenas balbuciando?
 Esse pensamento me ajuda a agir de forma efetiva?
 Se eu deixar esse pensamento guiar minhas ações, em que direção isso vai me levar?
Rumo a uma vida pela baseada em valores, ou a uma vida de luta e sofrimento?
 Esse pensamento me ajuda a ser quem eu quero ser?

120
Insight/Ganhos Secundários
As questões nessas caixas também focam a função dos pensamentos. O cliente desenvolve
insight sobre como seu comportamento muda quando ele se funde com pensamentos e se tor-
na consciente dos custos e benefícios quando permite que isso aconteça. Esse foco nos pen-
samentos também evita a questão do verdadeiro/falso.

O Eu Observador
Embora nos capítulos anteriores já tenhamos falado várias vezes sobre o eu-como-contexto
(comumente conhecido como "eu observador"), não o abordaremos em profundidade até o
capítulo 10. Eu só quero mencionar aqui que, uma vez que tivermos apresentado o eu obser-
vador e percorrido alguns dos exercícios breves do capítulo 10, teremos uma maneira de faci-
litar instantaneamente a desfusão: "Você consegue olhar para esse pensamento a partir da
perspectiva do eu observador?" "Dê um passo para trás e veja se você pode olhar para os seus
pensamentos do ponto de vista do seu eu observador", "Observe, esta é a sua mente em pleno
voo — ela quer desesperadamente que você se envolva com o que ela está dizendo a você",
Veja se você consegue entrar no espaço psicológico do seu eu observador e, a partir desse
espaço, perceber o que seus pensamentos estão fazendo. " Ou o mais simples de todos: "Va-
mos olhar para esse pensamento a partir do eu observador".

Mantendo a Desfusão Simples


Como vimos, existem muitos tipos de técnicas de desfusão e certamente você pode se divertir
inventando as suas próprias e/ou ajudando seus clientes a fazerem isso. No entanto, existem mui-
tas ocasiões em que, por um motivo ou outro, eu prefiro manter tudo muito simples. Então, aqui
estão algumas das mais simples intervenções de desfusão que eu conheço:
"Observe o que sua mente está dizendo agora." Esta simples frase — ou sua versão mais curta,
"Note este pensamento" — geralmente gera desfusão imediatamente. Ela imediatamente faz com
que seu cliente passe a observar seus pensamentos em vez de ser fisgado por eles. Claro, isso
talvez não dê a ele um grande grau de desfusão, mas rapidamente cria um pequeno distanciamen-
to de seus pensamentos. Isso pode ser aumentado adicionando-se outras técnicas breves de des-
fusão. Por exemplo, você pode fazer perguntas como estas: "Esse é um pensamento útil?"
"Quantos anos tem essa história?" "O que aconteceria se você se permitisse ficar envolvido nis-
so? Seria um bom uso do seu tempo e energia?" Alternativamente, você pode ir para respostas
em que o cliente observe a forma (veja abaixo).
Observe a forma. Você pode pedir ao seu cliente para perceber a forma do pensamento: "Ele é
feito de palavras, sons ou de imagens? Você o vê, ou o escuta ou você apenas o sente?" Você
pode optar por focar no som: "Como é esse pensamento na sua cabeça? É a sua própria voz ou a
de outra pessoa? A voz é alta ou suave? Que emoção você consegue ouvir nessa voz?" Você
também pode se concentrar em localização e movimento: "Feche os olhos por um momento e
observe onde esse pensamento parece estar: Ele está na sua frente, acima de você, atrás de você,
dentro da sua cabeça ou dentro do seu corpo? Ele está se movendo ou está parado? Se ele está se
movendo, em que direção e a que velocidade está se movendo?
A Metáfora das Mãos como Pensamentos. Você encontra este pequeno exercício no capítulo
2. Trata-se de uma metáfora bem simples para fusão e desfusão que você pode utilizar para a
ajudar os clientes a averiguar o quão fundidos eles estão, como na descrição a seguir:
Cliente: Eu não mereço algo melhor.

121
Terapeuta: Então sua mente está lhe dizendo que você não merece algo melhor. Neste mo-
mento, o quanto você foi fisgado por este pensamento? Você está assim (segura
as mãos sobre os olhos) ou assim (descansa as mãos no colo), ou algo intermedi-
ário?

"Este é um pensamento interessante". Isto é o que eu digo quando não sei o que dizer. Quan-
do um cliente diz algo que me confunde, provoca uma forte reação, ou deixa minha mente agita-
da tentando descobrir como responder, acho que esta pequena frase me impede de ficar preso no
conteúdo. É uma frase simples que lembra tanto a mim quanto a cliente que, não importa o que
ela tenha acabado de dizer, estamos lidando com um pensamento. Ela nos convida a parar e olhar
para o pensamento em vez de pular direto para o conteúdo do pensamento. Muitas vezes faço
uma longa pausa depois de fazer esta afirmação, o que me permite concentrar-me para poder
responder de forma eficaz e consciente.
Agradeça sua Mente. Incentive seu cliente a agradecer sua mente por sua contribuição (Hayes
et al., 1999). Você pode dizer: "Sempre que sua mente diz algo para você, não importa o quão
desagradável ou assustador possa parecer, veja se você pode simplesmente responder, "obrigado
mente!" Faça isso com um senso de humor e uma apreciação da incrível capacidade da sua men-
te para fisgar sua atenção com qualquer meio à sua disposição".
Frases curtas. Quando seu cliente expressa um pensamento particularmente negativo, crítico ou
inútil, você pode dizer "Legal!" com um tipo de abertura indiferente e humorística. Ou você pode
usar outras palavras como "amável", "bonito" ou "muito criativo". Uma vez que o cliente "ob-
tém" o conceito, propósito e experiência de desfusão — e desde que exista um bom relaciona-
mento terapêutico para que não haja chance de o cliente se sentir invalidado ou depreciado —
então você pode dizer essas palavras em resposta a uma ampla variedade de críticas, julgamen-
tos, pensamentos catastróficos ou outras "histórias desagradáveis". Acompanhado por uma ex-
pressão ou careta compassiva, dizendo "Ai!" também pode funcionar bem.

Introduzindo a Desfusão: Parte 3


A terceira e última parte desta transcrição começa mais ou menos 20 minutos depois do final da
parte 2. Durante este período, o terapeuta conduziu a cliente através de várias técnicas breves de
desfusão, pedindo a ela para trabalhar com alguns dos pensamentos que ela escreveu no cartão.
Assim que ela conseguiu discriminar experimentalmente a fusão e a desfusão, ele explicou a mes-
ma didaticamente tal como sugerido no Sumário Simples de Fusão versus Desfusão do capítulo 2
(página 21). Durante todo esse tempo, a cliente tinha o cartão no colo, como uma metáfora contí-
nua de desfusão e aceitação. Ocasionalmente, ela olhava para o cartão e o terapeuta perguntava:
"Você foi fisgada?" Quando a cliente voltava a olhar para ele, o terapeuta fazia um comentário
despreocupado como: "Ah. Você está de volta novamente".
Agora, na parte 3, o terapeuta amarra toda a sessão com outra técnica de desfusão chamada Nome-
ando a História (Harris, 2007), que também serve perfeitamente como lição de casa.
Terapeuta: Bem, vamos voltar para todos esses pensamentos que você escreveu no seu
cartão. Vou lhe perguntar algo que talvez soe meio estranho.
Cliente: Já estou ficando acostumada com isso.
Terapeuta: Vamos supor que a gente pega todos esses pensamentos, bem como todos os
sentimentos e memórias dolorosos que os acompanham, e os colocamos todos
em um documentário (ou uma biografia) sobre sua vida. Vamos supor também
que você dê ao filme (ou livro) um título curto — a história de algo, por exem-
plo, a história de "não sou boa" ou a história de "a vida é péssima". Então, co-

122
mo você chamaria a história? E por favor, certifique-se de que o título reco-
nhece e honra o quanto você sofreu, - não escolha um título que banalize ou
faça pouco caso do seu sofrimento.
Cliente: Hmm. Poderia ser a história da "Jane inútil".
Terapeuta: Ok. E você está segura de que este título reconhece o seu sofrimento e não o
banaliza?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Ok. Pode me dar o seu cartão por um momento? (A cliente entrega o cartão.)
Vou escrever este título aqui atrás (O terapeuta vira o cartão e escreve: AHÁ!
AQUI ESTÁ ELA DE NOVO! A HISTÓRIA DA "JANE INÚTIL"!) Ok, ago-
ra aqui está o que eu gostaria que você fizesse, se você quiser. Primeiro, peço
que você leia todos esses pensamentos negativos desse lado. Em seguida, vire
o cartão e leia o que está escrito no verso e observe o que acontece.
Cliente: Você quer que eu leia em voz alta?
Terapeuta: Não. Leia apenas mentalmente. E, honestamente, não sei o que vai acontecer.
Você está disposta a fazer isso como um experimento?
Cliente: Pode ser. (O terapeuta passa o cartão para a cliente. Ela silenciosamente lê
todos os pensamentos negativos, com uma careta no rosto. Então ela vira o
cartão e lê a declaração no verso. Então ela sorri.)
Terapeuta: Você está sorrindo. Por quê?
Cliente: É divertido, eu acho. É como você disse. Eu posso ver isso como uma história.
É isso que é. É a história da "Jane inútil".
Terapeuta: E você está presa nesta história?
Cliente: Não. É como se ela estivesse no cartão.
Terapeuta: Então, deixe-me perguntar o seguinte: Está tudo bem em ter essa história? Vo-
cê tem espaço para ela?
Cliente: Sim, quando ela é assim.
Terapeuta: Quando você está desfundida dela?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Bem, é isso que estamos almejando. Você não pode se livrar da história — não
sem uma grande cirurgia no cérebro —, mas você pode aprender a mantê-la de
forma mais leve.
Cliente: Bem, eu consigo fazer isso aqui. Mas eu não sei se vou conseguir lá fora.
Terapeuta: Fico feliz que você tenha dito isso. Porque a desfusão é uma habilidade e pre-
cisa de prática. Como eu disse a você na última sessão, se você quer se tornar
um bom guitarrista, você precisa praticar entre suas aulas de violão. Então, se
você quer ficar melhor em fazer isso, você estaria disposta a praticar algumas
coisas entre esta sessão e a próxima?
Cliente: O que você gostaria que eu praticasse?
Terapeuta: Bem, a primeira coisa é praticar nomear a história. Durante a próxima semana,
sempre que aparecer um pensamento, um sentimento ou uma lembrança que
esteja ligada a essa história, no momento em que você o perceber, eu gostaria
123
que você dissesse para si mesmo: "Ahá! A história da "Jane Inútil" ou algo pa-
recido. Você precisa fazer só isso. Apenas nomear a história. Às vezes, a histó-
ria vai fisgar você antes que você perceba. Isso é normal. A gente já espera is-
so. Assim que você perceber que isso aconteceu, diga a si mesmo: "Oh. Acabei
de morder o anzol da história da "Jane Inútil". Você acha que pode fazer isso?
Cliente: Sim. Eu vou me dar uma chance.
Terapeuta: Tem mais uma coisa. E ela pode parecer um pouco estranha, então, por favor,
sinta-se à vontade para dizer não, se você não quiser fazer isso.
Cliente: Ok.
Terapeuta: Ótimo. Bem, o que eu gostaria que você fizesse é levar esse cartão em sua bol-
sa durante a próxima semana e retirá-lo pelo menos quatro ou cinco vezes por
dia. Leia todos esses pensamentos negativos e, em seguida, vire o cartão e leia
o que está escrito no verso.
Cliente: Espero que ninguém reviste a minha bolsa.
Terapeuta: (Ri) Você está disposta a fazer isso? Não tem problema se você não quiser.
Tem um monte de outras coisas que eu posso sugerir.
Cliente: Não. Está bem assim.
Terapeuta: Ótimo.

Desembrulhando tudo isso: Parte 3


Antes de encerrarmos este tópico, temos ainda algumas coisas a considerar:
1. Nem sempre as coisas correm assim tão bem. Essa cliente aceitou a desfusão pronta-
mente. Alguns podem achar isso difícil ou errar o alvo. Outros podem voltar à agenda de
controle. Se ocorrer este último, sua melhor aposta é voltar para a desesperança criativa.
2. O terapeuta poderia ter usado qualquer outro tipo de técnicas de desfusão nesta sessão.
Não há nada de essencial em escrever pensamentos em um cartão ou nomear a história.
No entanto, como você provavelmente adivinhou, o terapeuta em questão sou eu — e
esse combo duplo é meu favorito pessoal. Eu particularmente gosto de usar um cartão
de índice porque (a) ele fornece uma ótima metáfora física para trabalhar em sessão, —
(b) quando seu cliente o leva para casa, o cartão vai lembrá-lo da sessão e manter em
sua memória o dever de casa, — (c) levar o cartão em uma bolsa ou carteira é uma me-
táfora contínua para a desfusão e aceitação, — e (d) você pode escrever várias técnicas
de desfusão no verso do cartão, se quiser, para movimentar a memória do cliente.
3. Suponha que a cliente esteja relutante em levar o cartão. Suponha que ela diga: "Não,
eu não quero fazer isso". Isso indicaria tanto fusão quanto esquiva experiencial. Nesse
caso, você não deve tentar coagi-la. Em vez disso, coloque o cartão em seu arquivo e
guarde-o para trabalhar novamente com ele na próxima sessão.

FUSÃO VERSUS CREDIBILIDADE


Fusão não é o mesmo que credibilidade. Você pode se fundir com um pensamento em que
não acredita, e pode se desfundir de um pensamento em que acredita. Alguns anos atrás eu dei
um worshop e uma das participantes — vamos chamá-la de Naomi — veio até mim no café
da manhã e me disse que ela tinha um tumor cerebral maligno. O tumor era intratável e Na-
omi tinha apenas alguns meses de vida. Ela estava participando do workshop por motivos

124
pessoais: para aprender a lidar com o medo e chegar a um acordo com a morte iminente. Na-
omi disse que era difícil manter o foco no workshop. Ela continuava pensando em morrer:
perder seus entes queridos, o tumor se espalhando por seu cérebro, a inevitável deterioração
para a paralisia e o coma, depois a morte.
Se você tem uma doença terminal, certamente há um momento e um lugar em que é útil pen-
sar sobre morte: se você estiver escrevendo um testamento, planejando um funeral, fazendo
planos de cuidados médicos ou compartilhando seus medos com um ente querido. Mas se
você estiver participando de um workshop para crescimento pessoal, não é útil estar tão fun-
dido com seus pensamentos sobre a morte a ponto de perder o workshop. Então, depois de
ouvir com compaixão, conversei com Naomi sobre nomear a história, e ela escolheu esse títu-
lo: a história da "morte assustadora".
Sugeri a ela que praticasse a nomeação da história da "morte assustadora" durante todo o
workshop. Na metade do segundo dia, ela havia se afastado significativamente daqueles pen-
samentos sobre a morte e o morrer. Eles não tinham mudado em nada a credibilidade da histó-
ria, mas agora ela podia deixá-los ir e vir sem ser fisgada por eles.
Quando nos desfundimos dos pensamentos, eles geralmente reduzem a credibilidade — mas,
do ponto de vista da ACT, isso não é tão importante. Afinal, acreditar em um pensamento
significa simplesmente tomá-lo como verdade. Na ACT, não estamos interessados em saber
se um pensamento é verdadeiro ou falso, mas se ele pode nos ajudar a viver uma vida baseada
em valores.

TEMA DE CASA E A SESSÃO SEGUINTE


O tema de casa é essencial. A desfusão, como qualquer habilidade, requer prática. Nem todos
os clientes irão fazer o tema de casa, é claro, mas devemos, pelo menos, pedir para eles. O
tema de casa pode envolver uma técnica rápida para praticar de forma intermitente ao longo
do dia, como, por exemplo, Nomeando a História. Alternativamente, se você tiver conduzido
o cliente através de Folhas na Correnteza ou um exercício de respiração consciente, você
poderia pedir a ele para praticar isso todos os dias. Você pode gravar esses exercícios enquan-
to os realiza em uma sessão, depois gravá-los em um CD e entregá-los a seus clientes para
ajudar em sua prática em casa. A maioria dos clientes acha isso muito útil. (Atualmente, tenho
CDs pré-gravados que dou a todos os meus clientes na primeira sessão. Os CDs são chamados
de Mindfulness Skills Volume 1 e Mindfulness Skills Volume 2)
Outro tipo de lição de casa envolve pedir aos clientes que preencham uma folha de trabalho
como Mordendo o Anzol, que você encontrará no final deste capítulo.
Para uma lição de casa mais informal, você pode dizer algo como abaixo:
Terapeuta: Entre agora e a próxima sessão, gostaria de saber se você estaria disposto a
praticar algumas coisas. Primeiro, gostaria que você aprendesse mais sobre
como sua mente prende e envolve você. Em que situações isso acontece? Que
tipo de coisas ela lhe diz? E assim que você perceber que ficou fisgado, apenas
reconheça: "Ahá! Fui fisgado novamente". Em segundo lugar, gostaria que vo-
cê "brincasse" com uma dessas técnicas de desfusão que abordamos. (Selecio-
ne uma ou peça ao cliente para escolher uma.) Então, sempre que estiver se
sentindo cansado, estressado, ansioso ou o que for, identifique o pensamento
"quente" — aquele que mais o queimar — e tente se desfundir dele. Em tercei-
ro lugar, gostaria que você notasse todas as vezes que sua mente tentou fisga-
lo, mas você não mordeu a isca — você deixou a mente fazer as coisas que ela
faz, mas você não ficou preso nela.

125
Dica Prática: Você pode fazer do tema de casa uma experiência do tipo ganha-
ganha. Primeiro, quando você introduz o tema de casa para seu cliente, pode di-
zer: "Faça isso como uma experiência para ver o que acontece" ou "Faça isso para
aprender mais sobre como sua mente funciona" ou "Faça isso para descobrir mais
sobre você e como você funciona". Em segundo lugar, diga algo como: “Vamos
fazer disso uma proposta ganha-ganha. Espero que você siga em frente porque,
como eu disse anteriormente, a prática é importante. No entanto, se você não fizer
isso, eu gostaria que você notasse o que impediu você de fazê-lo. Em que pensa-
mentos você ficou enredado, com quais sentimentos você entrou em luta ou que
tipo de coisas você fez que se tornaram obstáculos"
Durante a próxima sessão, se o cliente não tiver conseguido fazer o tema de casa,
você pode abordar essas barreiras tal como sugerido no capítulo 13.

A primeira coisa a fazer na próxima sessão — de preferência depois de uma breve conversa e
um exercício de atenção plena — é revisar o tema de casa e ver o que aconteceu. Talvez seja
necessário trabalhar um pouco mais o processo da desfusão ou, se o cliente tiver recaído na
agenda de controle, talvez precisemos utilizar a desesperança criativa. Se ele está progredindo
(isto é, se ele está achando mais fácil se desfundir de pensamentos inúteis), nós tradicional-
mente passamos para a aceitação e contato com o momento presente — mas podemos passar
também para qualquer outro dos cinco processos restantes do hexaflex.
É claro que não vamos cobrir a fusão inteiramente em uma ou duas sessões e depois nunca
mais mencioná-la. Como falamos no início deste capítulo, em cada sessão, ajudamos nossos
clientes a se livrarem de cognições inúteis com intervenções simples como estas: "Observe o
que sua mente está lhe dizendo. É uma história antiga ou nova?" ou "Então, se você deixar
que esse pensamento dite o que você faz, isso levar você para a vitalidade ou para o sofrimen-
to?

TEMA DE CASA PARA VOCÊ


A desfusão termina aqui? Não, de forma alguma. Nós voltaremos a abordá-la à medida que
formos avançando neste livro. Mas, antes de continuar a ler, vamos falar um pouco para tare-
fas de casa para você para este capítulo. Seguem algumas sugestões:

1. Teste todas as técnicas em si mesmo. Você é a pessoa mais indicada em quem aplicá-las.
2. Leia todos os exercícios, metáforas e componentes psicológicos educacionais em voz
alta, como se as estivesse aplicando com um cliente.
3. Analise os casos de dois ou três clientes e identifique os principais pensamentos com
os quais eles estão se fundindo. Procure especialmente a fusão com o passado, o futu-
ro, o eu, as regras, as razões e os julgamentos. Então, avalie quais técnicas de desfu-
são você poderia tentar com elas.

E se você não conseguir fazer nada disso, identifique o que está impedindo você, em termos
de fusão, esquiva experiencial e ação ineficaz. Com quais pensamentos você está se fundin-
do? (Por exemplo, "Eu não posso me incomodar" ou "Eu faço isso depois" ou "Eu não preci-
so fazer essas coisas, ler este capítulo é suficiente".) Quais sentimentos você está evitando —
relutância, impaciência, apatia, ansiedade? Que ações ineficazes você está adotando — pro-
crastinando, se distraindo, lendo superficialmente?
126
SUMÁRIO
A capacidade de pensar é muito, muito útil, mas quanto maior o grau de fusão com nossos
pensamentos, mais inflexível se torna o nosso comportamento. Facilitamos a desfusão em
todas as sessões da ACT, pedindo repetidamente aos clientes que percebam o que estão pen-
sando, discriminem e diferenciem a fusão da desfusão e analisem seus pensamentos em ter-
mos de funcionalidade. E nunca precisamos debater se um pensamento é verdadeiro ou falso
— tudo o que precisamos fazer é algo como: "Se você se apegar firmemente a esse pensamen-
to, ele o ajudará a viver a vida que você quer viver?"

MORDENDO O ANZOL
Na ACT, falamos coloquialmente em ser “fisgado pela sua mente” ou “fisgado
pelos pensamentos”. Com isso, queremos dizer que você pode ficar enredado em
seus pensamentos de tal forma que estes venham a exercer uma forte influência
sobre suas ações. Em que situações sua mente consegue fisgá-lo? Que tipo de coi-
sas ela diz para prender você? Como você consegue se desprender?

127
CAPÍTULO 8

Abrindo-se
A ACEITAÇÃO DE FORMA RESUMIDA
Em Linguagem Simples: Aceitação significa permitir que seus pensamentos e sentimentos sejam
como são, independentemente de serem prazerosos ou dolorosos; abrir-se e criar espaço para eles;
deixar de lutar contra eles; deixá-los ir e vir como naturalmente fazem.
Objetivo: Permitir-nos ter experiências privadas dolorosas se e quando fazer isso nos permite agir
de acordo com nossos valores.

ALGUMAS PALAVRAS SOBRE ACEITAÇÃO


Os clientes muitas vezes não entendem o que é aceitação; comumente pensam que significa
resignação, tolerância, "cerrar os dentes e aguentar", ou até mesmo gostar. Por isso, no início
da terapia é melhor evitar a palavra. Outro termo que podemos usar é "expansão"; ele se ajus-
ta muito bem com a explicação metafórica sobre abrir-se, criar espaço. A seguir apresentamos
algumas outras expressões que também podem ser utilizadas:
 Permita que estejam ali
 Abra-se e crie um espaço para eles
 Expanda-se em torno deles
 De permissão para que o que já é possa ser
 Deixe de lutar com eles
 Pare de brigar com eles
 Faça as pazes com eles
 Dê espaço para eles
 Seja suave com eles
 Deixe que sejam
 Respire para dentro deles
 Pare de desperdiçar sua energia tentando afastá-los

Um Lembrete Rápido
Peço desculpas por continuar insistindo nisso, mas é muito importante, e muitos praticantes
novatos têm uma ideia errada: pela terceira (e última) vez, nós não somos fascistas da atenção
plena na ACT. Não defendemos a aceitação de todo e qualquer pensamento e sentimento.
Somos a favor da aceitação se e quando ela nos possibilita agir com base em nossos valores.
"Aceitação" é a forma curta para "aceitação experiencial". Refere-se a aceitar ativamente nos-
sas experiências privadas: pensamentos, sentimentos, memórias, etc. Não tem nada a ver com
aceitar passivamente nossa situação de vida. A ACT defende que tomemos medidas para me-
lhorar nossa situação de vida tanto quanto possível: aceitação e compromisso. Por exemplo,
se você estivesse numa relação abusiva, nós proporíamos que você abrisse espaço para todos
os pensamentos e sentimentos dolorosos que aparecessem (ao invés de fazer coisas autoderro-
tistas tais como beber, fumar, comer excessivamente, ruminar, preocupar-se, etc.) – e simulta-
neamente agisse com base em seus valores para melhorar seu relacionamento ou o deixasse.

128
CONSEGUINDO A ACEITAÇÃO
Em muitos protocolos, e no livro-texto original da ACT (de 1999), a "aceitação/boa vontade
para" vem depois da "desesperança criativa/confrontando a agenda". Se é de lá que você vem,
poderia fazer uma transição suave para a mesma tipo assim: "Ok, se tentar controlar o que
você sente que não funciona muito bem, então qual é a alternativa?" A metáfora do Empur-
rando a Prancheta se presta muito bem para esta transição.
Terapeuta: Vamos fazer uma rápida recapitulação. (O terapeuta recapitula rapidamente a
Metáfora da Prancheta e faz com que o cliente a empurre mais uma vez.) Então
você está empurrando, empurrando e empurrando, e isto está consumindo todo
o seu tempo e toda a sua energia. Seus ombros estão cansados e você está en-
curralado, e não consegue fazer nada útil, tal como dirigir um carro ou preparar
um jantar ou abraçar alguém que ama enquanto faz isso. Agora (empurra a
prancheta para longe), deixe-a apenas ficar ali no seu colo (O terapeuta colo-
ca a prancheta gentilmente no colo do cliente) Agora, como você está sentindo
isso? O esforço não é muito menor?
Cliente: Bem ... sim. É bem menos esforço. Mas isso ainda está lá.
Terapeuta: Com certeza. Não só isso ainda está lá, mas está ainda mais perto de você do
que antes. Mas observe a diferença: agora você é livre para fazer as coisas que
fazem sua vida funcionar. Você pode abraçar alguém que ama, pode cozinhar
ou dirigir um carro. Isso não está mais drenando sua energia, cansando, pren-
dendo, ou limitando você. Não é mais fácil que isso? (O terapeuta faz de conta
que está empurrando a prancheta para longe.) Agora, suponha que você
aprendeu como fazer isso com seus sentimentos, em vez de lutar com eles ou
organizar sua vida tentando evitá-los. Como você acha que isso pode benefici-
ar você?
Para conduzir o cliente para Aceitação a partir da Desfusão, você poderia dizer: "Até agora
estivemos olhando para pensamentos dolorosos, mas e os sentimentos?" ou "Sua mente está
lhe dizendo que esse sentimento é insuportável. Que tal verificar isso e ver se é esse o caso?"
A partir de Valores: "Então, quando você fala sobre esses valores, quais sentimentos apare-
cem para você?"
A partir da Ação Comprometida: "Quais sentimentos provavelmente irão se manifestar para
você quando você realizar essa ação?" ou "Então, quando você pensa em fazer isso, o que
você sente?" ou "De que sentimentos você precisará abrir espaço para fazer isso?"
Do Eu-como-Contexto: "Então, da perspectiva do eu observador, vamos agora dar uma olhada
em alguns desses sentimentos com os quais você tem lutado."
Um de nossos desafios é tornar a aceitação aceitável para nossos clientes. Quanto mais viven-
cialmente esquivos forem nossos clientes, mais relutantes eles serão em aceitar experiências
privadas desagradáveis. Então, precisamos ir mais devagar e de maneira mais gentil. Geral-
mente precisamos trabalhar mais com a desesperança criativa, e podemos ter que voltar a ela
várias vezes.
O trabalho com valores também é muito importante aqui. Precisamos estabelecer uma ligação
clara entre aceitação e vitalidade — que aceitar essa dor está a serviço de algo importante,
significativo e vital. A pergunta da varinha mágica costuma ser muito útil: "Se eu acenasse
com uma varinha mágica e conseguisse fazer com que esses sentimentos não mais a impedis-
sem de nenhuma maneira, o que você faria de diferente em sua vida?" Uma vez que sabemos

129
a resposta, podemos dizer: "Ok. Então, se isso é o que você quer fazer com sua vida, vamos
tornar isso possível. Eu não tenho uma varinha mágica, mas podemos aprender algumas habi-
lidades para que esses sentimentos não mais atrapalhem você."
Claro que também precisamos manter esse trabalho seguro. Queremos ter em mente que não
fazemos sermões nem coagimos nossos clientes — sempre pedimos permissão, sempre lhes
damos uma opção e os informamos de que podem interromper o que estamos fazendo a qual-
quer momento.

A CAIXA DE FERRAMENTOS DA ACEITAÇÃO


Como acontece com todos os seis principais processos do ACT, aqui também há uma grande
variedade de técnicas disponíveis você utilizar. Algumas demoram apenas alguns segundos e
outras demoram quinze ou vinte minutos. Então, dado que estou prestes a abrir um kit de fer-
ramentas totalmente novo, sinto a necessidade de lhe dar um lembrete gentil (desculpe): a
aceitação é um processo, não uma técnica. As ferramentas e técnicas são usadas para aprender
o processo.

Aceitação de Emoções
Agora vamos começar com um longo exercício de atenção plena, que é construído a partir de
oito técnicas diferentes: observe, respire, expanda, permita, objetive, normalize, mostre auto-
compaixão e expanda a consciência. Depois, vou desembrulhá-lo. Como de costume, gostaria
que você lesse o mesmo em voz alta como se estivesse falando com um cliente. (No entanto,
reconheço que você pode não querer fazer isso se estiver em uma biblioteca!) As reticências
indicam breves pausas de um a três segundos. (Observe também: com meus clientes e ao lon-
go deste livro, eu uso as palavras "sentimentos" e "emoções" como sinônimos).

OBSERVE
Terapeuta: Convido você a sentar-se ereto em sua cadeira, com as costas retas e os pés
apoiados no chão. A maioria das pessoas acha que elas se sentem mais alertas e
acordadas sentadas assim, então confira e veja se esse é o seu caso. Feche os
olhos ou fixe-os em qualquer ponto, o que você preferir. Tome algumas respira-
ções lentas e profundas e realmente observe a respiração entrando e saindo de
seus pulmões. (Pausa de 10 segundos). Agora, rapidamente faça um escanea-
mento de seu corpo da cabeça aos pés, começando em seu couro cabeludo e des-
cendo. Observe as sensações que você está sentindo em sua cabeça ... garganta
... pescoço ... ombros ... peito ... abdômen ... braços ... mãos ... pernas ... e pés.
Agora, aumente sua atenção sobre parte do corpo em que você está sentindo essa
sensação mais intensamente. E observe a sensação de perto como se você fosse
um cientista curioso que nunca tenha encontrado ou visto algo assim antes.
(Pausa de 5 segundos.) Observe a sensação com cuidado ... Deixe seus pensa-
mentos virem e irem como se fossem carros que passam, e mantenha sua aten-
ção na sensação ... Observe onde ela começa e onde ela termina ... Aprenda tanto
sobre isso quanto você pode ... Se você desenhasse um contorno em torno dela,
que forma ela teria? ... Ela está na superfície do corpo ou dentro de você, ou am-
bos? ... Até onde ela vai dentro de você? ... Onde ela é mais intensa? ... Onde ela
é mais fraca? (Pausa 5 segundos.) Se você se perder em seus pensamentos, as-
sim que se der conta disso, volte e concentre-se novamente na sensação ... Ob-
serve-a com curiosidade ... Como ela se diferencia no centro em relação às ex-

130
tremidades? Existe alguma pulsação ou vibração dentro dela? ... Ela é leve ou é
pesada? ... Ela se move ou está parada? ... Qual é a sua temperatura? ... Há pon-
tos quentes ou pontos frios? ... Observe os diferentes elementos dentro dela ...
Observe que não há apenas uma sensação — há sensações dentro de sensações
... Observe as diferentes camadas de sensações. (Pausa de 5 segundos)

RESPIRE
Terapeuta: Enquanto você está observando esta sensação, respire para "dentro" dela ....
Imagine sua respiração fluindo para dentro e em torno desse sentimento... Res-
pire para dentro...

EXPANDA
Terapeuta: E quando você está inspirando, é como se, de alguma forma mágica, todo esse
espaço se abrisse dentro de você... Você se abre em torno dessa sensação... Dê es-
paço para ela... Expanda-se ao redor dessa sensação... Veja se você descobre um
sentido para a mesma... respirando para dentro dela e abrindo-se em torno dela...

PERMITA
Terapeuta: E veja se você consegue permitir que esse sentimento apenas esteja lá. Você
não precisa gostar dele ou querê-lo ... Apenas permita ele estar ali ... Apenas
deixe que ele esteja ... Observe, respire para dentro dele, abra-se em torno dele
e permita que ele seja como é. (Pausa de 10 segundos.) Você talvez sinta um
forte desejo de lutar com ele ou de afastá-lo. Se sim, apenas reconheça que o
desejo está presente sem agir sobre ele. E continue observando a sensação.
(Pausa de 5 segundos.) Não tente se livrar dela nem tente mudá-la. Se ela mu-
dar por si só, tudo bem. Se ela não mudar, tudo bem também. Mudá-la ou se
livrar dela não é seu objetivo. Seu objetivo é simplesmente permitir, deixá-la
ser como ela é. (Pausa de 5 segundos)

TRANSFORME-A EM UM OBJETO
Terapeuta: Imagine que essa sensação é um objeto ... Como um objeto, que forma ela
tem? ... Este objeto é líquido, sólido ou gasoso? ... Ele está se movendo ou está
parado? ... De que cor ele é? ... Transparente ou opaco? ... Se você pudesse to-
car a superfície dele, como ele seria? ... Molhado ou seco? ... Áspero ou suave?
... Quente ou frio? ... Suave ou duro? (Pausa de 10 segundos.) Observe este
objeto com curiosidade, respire para dentro dele e abra-se em torno dele ... Vo-
cê não precisa gostar dele ou querê-lo. Apenas permita que ele seja ... e note
que você é maior do que esse objeto, ... não importa quão grande ele seja, ele
nunca poderá ficar maior que você. (Pausa de 10 segundos)

NORMALIZE
Terapeuta: Essa sensação ou sentimento está lhe falando de alguma informação valiosa ...
Ela está lhe dizendo que você é um ser humano normal com um coração ... está
lhe dizendo que você se importa ... que há coisas na sua vida que são importan-
tes para você ... E isso é o que os humanos sentem quando há uma lacuna entre
o que queremos e o que temos ... Quanto maior a lacuna, maior o sentimento.
(Pausa de 5 segundos)

131
MOSTRE AUTOCOMPAIXÃO
Terapeuta: Pegue uma das suas mãos e coloque-a na parte de seu corpo onde você sente o
sentimento ... imagine que esta é uma mão que cura ... a mão de uma pessoa
amorosa, de seu pai ou de sua mãe, de um amigo/a, de uma enfermeira... e sin-
ta o calor fluindo da sua mão para o seu corpo ... não para se livrar do senti-
mento, mas para abrir espaço para ele ... para suavizá-lo e relaxar as áreas em
torno dele. (Pausa de 10 segundos.) Segure-o com cuidado, como se fosse um
bebê chorando ou um filhote assustado. (Pausa de 10 segundos.) Agora deixe a
sua mão descansar, e mais uma vez, respire para dentro do sentimento e ex-
panda-se ao redor dele. (Pausa de 10 segundos.)

EXPANDA A CONSCIÊNCIA
Terapeuta: A vida é como um show em um palco ... e nesse palco estão todos os seus pen-
samentos, todos os seus sentimentos, e tudo o que você pode ver, ouvir, tocar,
provar e cheirar ... e, durante os últimos minutos, nós diminuímos as luzes no
palco, e direcionamos a luz de um holofote sobre este sentimento ... e agora é
hora de acender o resto das luzes ... Então acenda novamente as luzes do seu
corpo ... observe seus braços, suas pernas, sua cabeça, seu pescoço ... e obser-
ve que você está no controle de seus braços e pernas, independentemente do
que você está sentindo ... Basta movê-los um pouco para verificar isso por si
mesmo ... e agora alongue-se, e observe-se alongando .. Acenda as luzes da sa-
la ao seu redor ... Abra seus olhos, olhe ao redor e observe o que você pode ver
... e observe o que você pode ouvir ... e observe que não há apenas um senti-
mento aqui ... há um sentimento dentro de um corpo, dentro de um quarto, den-
tro de um mundo cheio de oportunidades ... e, bem vindo de volta!

Dica Prática: Mantenha seus próprios olhos abertos ao fazer qualquer exercício de
atenção plena e observe atentamente o cliente. Fique atento a sinais de aflição ou de
cochilos e intervenha conforme necessário. Quando você faz esses exercícios mais
longos com clientes, é uma boa ideia fazer verificações com perguntas simples co-
mo "Como você está? Você está bem para continuar com isso?"

Você pode misturar e combinar essas oito técnicas — observar, respirar, expandir, permitir,
objetivar, normalizar, mostrar autocompaixão, expandir a consciência — da maneira que de-
sejar. Você pode aumentá-los ou diminui-los, usar qualquer um deles sozinho ou em qualquer
número de combinações. No roteiro acima, nos concentramos em apenas uma sensação — a
mais intensa. Muitas vezes isso é suficiente para que a aceitação "se espalhe" por todo o cor-
po. Mas às vezes pode haver outras sensações fortes em diferentes partes do corpo; nesse ca-
so, podemos repetir o procedimento com cada uma delas.
À medida que levamos o cliente através desse exercício, uma de duas coisas vai acontecer: ou
os sentimentos dele mudarão — ou não. Não importa qualquer que seja a maneira. O objetivo
não é mudar ou reduzir sentimentos, mas aceitá-los — permitir que eles estejam lá sem luta.
Por quê? Porque quando não estamos investindo muito tempo, energia e esforço na tentativa
de controlar a maneira como nos sentimos, podemos usar os mesmos em ações baseadas em
nossos valores.
Nossos clientes geralmente acham que, quando aceitam uma emoção ou uma sensação dolo-
rosa, esta diminui significativamente ou até mesmo desaparece. Quando isso acontece, preci-

132
samos esclarecer que (1) isso é um bônus, não o objetivo, e (2) nem sempre irá acontecer;
então, não devem esperar por isso. Poderíamos dizer: "Eis a realidade. Quando aceitamos nos-
sos sentimentos, eles podem ou não diminuir em intensidade. Não temos como prever isso.
Mas podemos prever isso: quando tentamos controlar ou evitar nossos sentimentos, é muito
provável que eles irão aumentar em intensidade e nos causar mais angústia".
Se não abordarmos explicitamente esse problema, então, tal como ocorre com a desfusão,
nossos clientes começarão a usar técnicas de aceitação para tentar controlar seus sentimentos.
E, claro, isso vai sair pela culatra em breve. O cliente ficará desapontado e voltará e reclama-
rá: "Isto não está funcionando". Respondemos a isso tal como o fizemos com problemas se-
melhantes em torno da desfusão (consulte o Capítulo 7, p. 113, NÃO ESTÁ FUNCIONANDO!).

Dica Prática: Suponha que seu cliente relate algo como "O sentimento foi embora"
ou "Eu mal posso sentir ele agora" ou "Sinto-me muito melhor agora". Se você sor-
rir e disser: "Que ótimo!", então você acabou de reforçar o agenda de controle, e as
chances são de que o cliente agora tente transformar isso em uma técnica de con-
trole. Então, em vez disso, utilize a indiferença: "Aproveite quando isso acontecer.
Mas, por favor, não pense que isso é uma varinha mágica para controlar seus sen-
timentos. Não é. O que estamos almejando é deixar de lutar com nossos sentimen-
tos para que possamos usar nossa energia para fazer as coisas que tornam a vida
significativa". Se seu cliente parece confuso ou ambivalente, você pode voltar e tra-
balhar novamente um pouco com a Desesperança Criativa. A metáfora Empurrando
a Prancheta é uma maneira rápida e eficaz para fazer isso.

Desembrulhando a ACEITAÇÃO DE EMOÇÕES


SEÇÃO 1: OBSERVE
Para aceitar um sentimento ou sensação, devemos primeiro notá-lo. (É aqui que o contato com
o momento presente se sobrepõe à aceitação.) A metáfora de "observar como um cientista
curioso" ajuda a estimular a abertura e a curiosidade em relação ao sentimento: aproximação,
em vez de esquiva. Simplesmente observar ou perceber um sentimento com curiosidade mui-
tas vezes leva à aceitação — e, em caso negativo, é pelo menos um passo na direção certa.
A Versão de Dez Segundos
Terapeuta: Observe esse sentimento. Observe onde está. Observe onde ele é mais intenso.

SEÇÃO 2: RESPIRE
Muitos clientes — mas nem todos — descobrem que respirar para "dentro" de um sentimento
ou sensação permite-lhes abrir espaço para o mesmo. Uma respiração lenta, diafragmática,
parece particularmente útil para muitas pessoas.
A Versão de Dez Segundos
Terapeuta: Observe esse sentimento e gentilmente respire para "dentro" dele.

SEÇÃO 3: EXPANDA
Falar metaforicamente sobre abrir espaço, criar espaço, abrir-se, ou expandir-se geralmente
costuma ser útil.
133
A Versão de Dez Segundos
Terapeuta: Observe esse sentimento, e veja se você consegue abrir-se em torno dele um
pouco — dar a ele um pouco de espaço.

SEÇÃO 4: PERMITA
De novo e de novo, lembramos aos nossos clientes que a aceitação não significa gostar, que-
rer ou aprovar um pensamento ou um sentimento: significa permitir que ela seja.
A Versão de Dez Segundos
Terapeuta: Eu sei que você não gosta desse sentimento, mas veja se você consegue permi-
tir que ele esteja aí por um momento. Você não precisa gostar dele — apenas
permita que ele esteja aí.

SEÇÃO 5: TRANSFORME-O EM UM OBJETO


Muitas vezes nossos clientes, especialmente aqueles que são muito visuais, espontaneamente
fazem isso quando lhes pedimos que observem seus sentimentos. Quando transformamos um
sentimento em um objeto, isso nos ajuda a vivenciar que esse sentimento não é maior do que
nós; temos muito espaço para isso.
Em alguns modelos de terapia, tenta-se dissolver o objeto com luz branca ou encolhê-lo de
várias maneiras. Na ACT, nós não fazemos isso, pois isso reforçaria a agenda de controle. No
entanto, o objeto quase sempre muda espontaneamente. Normalmente fica menor ou mais
suave, mas às vezes também fica maior. Quando ocorrer este último, poderíamos dizer: "Não
importa quão grande este sentimento seja, ele não pode ficar maior do que você. Então obser-
ve, respire para "dentro" dele e abra mais espaço para ele."
O ponto é que não precisamos encolher nem remover o objeto;, só precisamos abrir espaço
para isso. Com o trabalho de luto agudo, muitas vezes tenho clientes deixando meu consultó-
rio com uma pedra preta pesada dentro do estômago ou uma tábua grossa de madeira no peito.
Isso é apenas o esperado. Grandes perdas dão origem a sentimentos dolorosos. Vamos ajudar
nossos clientes a levar esses sentimentos de bom grado, em vez de se atolarem em uma luta
com eles, para que possam se envolver plenamente na vida e fazer o que importa.
A Versão de Dez Segundos
Terapeuta: Se este sentimento fosse um objeto, que aparência ele teria?

SEÇÃO 6: NORMALIZE
Se pudermos reconhecer que é normal e natural ter sentimentos dolorosos - que isso é uma
parte inevitável do ser humano -, é mais provável que aceitemos isso. Em contraste, suponha
que seu cliente se fundiu com uma história como esta: "As pessoas normais não se sentem
assim. Deve haver algo errado comigo". Que efeito isso terá em sua atitude em relação a seus
sentimentos?
Em vez de uma versão de dez segundos, aqui estão duas intervenções mais longas que podem
ajudar a estabelecer uma visão mais realista da emoção humana.
Nove Emoções Básicas
Terapeuta: Vou percorrer uma lista das nove emoções humanas básicas. Ainda não é uma

134
questão completamente fechada, mas a maioria dos "especialistas" tende a con-
cordar com essas nove emoções básicas. À medida que eu for abordando cada
uma delas, quero que você sinalize com o polegar para cima ou para baixo. Po-
legar para cima significa que é uma emoção "boa" ou "positiva". Polegar para
baixo significa que é uma emoção "ruim" ou "negativa". Nenhuma hesitação
permitida — apenas polegar para cima ou polegar para baixo. Pronto? Amor ...
Alegria ... Curiosidade ... Raiva ... Medo ... Tristeza ... Culpa ... Choque ... Nojo.
Isso não é interessante? Você mostrou o polegar para baixo para seis das nove
emoções humanas normais. Entenda isso: seis de nove. Isso lhe diz algo sobre o
que é ser humano. Dois terços das emoções humanas básicas que todo ser hu-
mano vai experimentar repetidamente ao longo da vida não são experienciada
como boas! Vivemos em uma sociedade de bem-estar que nos diz que devemos
nos sentir bem o tempo todo, mas quão realista isso realmente é?
A Lacuna da Realidade
Eu cunhei a expressão "lacuna (fenda, brecha, hiato) da realidade" em referência à lacuna que
há entre a realidade que temos e a realidade que desejamos: quanto maior for essa lacuna, mais
dor sentimos.
Terapeuta: Há uma lacuna entre a realidade que você quer e a realidade que você tem. E não
é apenas uma pequena lacuna — é uma lacuna enorme. Então deixe-me pergun-
tar-lhe o seguinte: o que você espera que qualquer ser humano vai sentir quando
há uma lacuna tão grande entre o que você quer e o que você tem? (Normalmen-
te, o cliente irá nomear emoções semelhantes aquelas que ele tem. Caso isto não
ocorre, você mesmo pode nomear as emoções.) Isso mesmo. Então, o que você
está sentindo é uma emoção humana normal. É isso que sentimos quando há
uma lacuna na realidade. E quanto maior a lacuna, maior e mais doloroso será o
sentimento.

SEÇÃO 7: AUTOCOMPAIXÃO
A autocompaixão — ser gentil e cuidar de si mesmo — adiciona um elemento extra à aceita-
ção. Muitas vezes você vai notar isso clinicamente: você verá seu cliente suavizando a expres-
são de seu rosto e aliviando a tensão em seu corpo. Quando o cliente coloca a sua mão em um
sentimento doloroso e o "acaricia", isto muitas vezes promove a aceitação de forma muito
poderosa. Presumivelmente, as sensações da mão quente e a rica metáfora das "mãos curati-
vas" contribuem para a eficácia do processo.
A Versão de Dez Segundos
Terapeuta: Apenas coloque sua mão onde você sente isso mais intensamente — e veja se
você consegue criar um espaço em torno disso ... acaricie gentilmente.

SEÇÃO 8: EXPANDA A CONSCIÊNCIA


Às vezes, podemos querer nos focar em nossas emoções — como quando estamos aprenden-
do uma habilidade de atenção plena ou sofrendo por um ente querido. No entanto, na maior
parte do tempo, se estivermos muito concentrados em nossos sentimentos, eles poderão atra-
palhar nossa vida. Às vezes, os clientes saem da sessão com sentimentos ou sensações muito
desagradáveis em seu corpo. Por exemplo, isso é muito provável de ocorrer quando estamos
trabalhando com a síndrome da dor crônica, com sofrimento agudo devido a uma perda repen-
tina ou ansiedade devido a alguma crise ou desafio iminente. Queremos que os clientes pos-
135
sam abrir espaço para seus sentimentos e se envolver com o mundo ao seu redor e fazer o que
for preciso para fazer sua vida funcionar.
A Metáfora do Show em um Palco auxilia o conceito de estreitar a atenção e expandir a cons-
ciência. À medida que expandimos a consciência, o sentimento deixa de estar no centro das
atenções e passa a ser simplesmente um dos muitos atores em um palco bem iluminado. Isso
por si só facilita a aceitação: quando um sentimento é apenas "uma parte de todo o programa",
ele não parece mais tão grande e ameaçador.
A Versão de Dez Segundos
Terapeuta: Observe o sentimento. Observe também sua respiração ... e observe seu corpo.
Preste atenção também no espaço a sua volta. Observe que tem muitas coisas
acontecendo.

Aumentando a Aceitação
A aceitação está implícita na atenção plena, mas você pode aumentar o "elemento" de aceita-
ção de qualquer exercício de atenção plena, adicionando instruções simples como estas:
■ "Permita que seus sentimentos sejam como são. Não tente mudá-los ou controlá-los."
■ "Se um sentimento ou sensação difícil aparecer para você, como ansiedade ou dor nas
costas, simplesmente reconheça isso. Diga a si mesmo silenciosamente: 'Aqui está
uma sensação de dor nas costas' ou 'Aqui está um sentimento de ansiedade'."
Lembre-se também de que a aceitação está sempre a serviço de uma ação baseada em valores,
e que podemos aumentá-la vinculando-a explicitamente a valores: "Você está disposto a abrir
espaço para esse sentimento se isso permitir que você faça o que realmente é importante para
você?" Do ponto de vista da ACT, não há sentido em criar espaço para nossas experiências
privadas dolorosas, a menos que isso nos permita agir de forma que nos ajude a tornar nossa
vida mais rica e mais significativa. A metáfora da Caminhada pelo Pântano (Hayes et al.,
1999) ilustra isso.

A METÁFORA DA CAMINHADA ATRAVÉS DO PÂNTANO


Terapeuta: Suponha que você goste de escalar montanhas. É algo pelo que você é absolu-
tamente apaixonado. E um dia você parte para escalar essa montanha sobre a
qual você tem ouvido grandes coisas. Mas quando você chega perto DELA,
descobre que ela está rodeada por um pântano. Isto é uma grande surpresa para
você pois ninguém havia lhe falado sobre isso. Você se dá conta de que a única
maneira de você escalar a montanha é atravessar o pântano. Então é isso que
você faz. Você atravessa o pântano. Você não vai chafurdar nele, apenas vai
atravessá-lo. E você o atravessa porque escalar aquela montanha que está cir-
cundada por ele é muito importante para você.

DESFUSÃO E ACEITAÇÃO: DE MÃOS DADAS


A desfusão e a aceitação são sobre abrir-se e criar espaço. Quando aceitamos um pensamento
— quando o observamos e abrimos espaço para isso — isso envolve a desfusão. Quando nos
desfundimos de um pensamento — quando vemos o que ele realmente é (palavras ou ima-
gens) e permitimos que ele esteja lá — isso envolve aceitação. Nós tendemos a reservar o
termo "desfusão" para lidar com pensamentos, imagens e memórias, e tendemos a falar sobre
aceitação ao lidar com emoções, sensações e desejos. Coloquialmente podemos agrupar os
136
dois juntos como "abrir-se".
Você geralmente achará muito mais simples facilitar a aceitação se já tiver feito algum traba-
lho sobre a desfusão com o cliente. Por exemplo, suponha que seu cliente, enquanto o orienta
a respirar para dentro de sentimentos de ansiedade, reclama: "Isto é muito difícil. Eu não con-
sigo fazer isso". Você então pode dizer: "Ok, então sua mente está lhe dizendo que isto é mui-
to difícil. Tudo bem se deixarmos sua mente dizer isso e continuarmos com o exercício um
pouco mais?"

PSICOEDUCAÇÃO
A psicoeducação sobre as emoções pode desempenhar um papel expressivo na aceitação.
Muitas vezes falamos com os clientes sobre as origens evolutivas das emoções e como elas
podem ser benéficas em alguns contextos e um incômodo em outros. Por exemplo, muitas
vezes falamos sobre a resposta de luta ou fuga: como ela é desencadeada por ameaças ou de-
safios percebidos — como isso leva ao medo, ansiedade e estresse — e como, em algumas
situações, a ansiedade pode melhorar o desempenho ou fornecer motivação útil.
Quase todos os clientes que atendemos têm uma tendência a evitar a ansiedade. (Você tem
essa tendência? Eu sei que tenho!) Então, uma coisa que queremos enfatizar é que a mudança
quase sempre traz ansiedade, e se não estivermos dispostos a dar espaço para isso, teremos
dificuldade em fazer mudanças. A pergunta que fazemos é esta: "Você está disposto a abrir
espaço para essa ansiedade, a fim de fazer as mudanças que irão enriquecer a sua vida?" Po-
demos enfatizar isso, pedindo ao cliente que mantenha um diário de todas as coisas das quais
ele desiste ou que ele perde porque não está disposto a abrir espaço para a ansiedade.
Outro insight importante para todos os nossos clientes é que nossos sentimentos não contro-
lam nossas ações. Influência, sim — controle, não. Para mostrar isso, podemos usar os exercí-
cios mencionados no Capítulo 7 (p.118): SE NOSSOS PENSAMENTOS E SENTIMENTOS
CONTROLASSEM NOSSAS AÇÕES e VOCÊ JÁ TEVE PENSAMENTOS E SENTIMEN-
TOS QUE VOCÊ NÃO SEGUIU? Muito mais poderoso, porém, é trabalhar com sentimentos
fortes em sessão. Se seu cliente estiver sentindo raiva, medo, tristeza ou outras emoções for-
tes, você poderá dizer: "Observe essas emoções aparecendo — e observe que, embora sejam
intensas, você controla os braços, as pernas e a boca. Não aceite minha palavra para isso, con-
fira por você mesmo. Mova seus braços e pernas, brinque com as mãos, faça alguns gestos.
Observe que você não consegue controlar seus sentimentos, mas você consegue controlar suas
ações." Se um cliente está sentindo uma raiva muito forte, você pode pedir a ele para lhe dizer
em um sussurro sobre quanta raiva ele está sentindo — para mostrar a ele que ele tem contro-
le sobre se ele grita ou não. Se um cliente sente uma forte ansiedade, você pode pedir a ele
para caminhar para diferentes partes da sala, e até mesmo para sair e voltar, para demonstrar
que ele consegue controlar aonde ele vai e o que ele faz.
E um último componente a considerar aqui: se um cliente tem uma percepção limitada de suas
próprias emoções, podemos ensiná-lo a reconhecê-las e rotulá-las. Essa é uma habilidade es-
sencial para a inteligência emocional.

TÉCNICAS COMUNS DE ACEITAÇÃO


A Figura 8.1 abaixo engloba muitas técnicas comuns de aceitação. Já cobrimos a maioria de-
les. Antes de terminar este capítulo, quero tocar brevemente em três caixas (da figura 8.1): o
Eu Observador, a Escolha para Sentir e as Metáforas.

137
Figura 8.1 –Técnicas Comuns de Aceitação

O Eu Observador
Depois que fizermos algum trabalho sobre o eu-como-contexto — veremos isso em detalhes
no capítulo 10 —, teremos mais um caminho para a aceitação. Poderíamos dizer: "Veja se
você pode entrar no espaço psicológico do seu eu observador — e a partir desse espaço de
consciência olhar para esse sentimento, observar onde ele está e de que ele é feito". Ou de
forma mais simples: "Olhe para este sentimento a partir do eu observador".

A Escolha para Sentir


Esta é uma pergunta muito poderosa, adaptada dos Workshops de Kelly Wilson: "Suponha
que eu pudesse lhe dar uma escolha. Opção A: você nunca mais sentirá esse sentimento dolo-
roso de novo. Mas isso significa que você perde toda a capacidade de amar. Você não se pre-
138
ocupa mais com nada e com ninguém. Nada importa, ninguém importa. A vida se torna sem
sentido porque você não se importa com mais nada. Opção B: Você consegue amar e se im-
portar. As pessoas são importantes para você. A vida é importante para você. Você se importa
com o que você faz e com o que acontece. Você se preocupa com seus amigos e familiares.
Você constrói relacionamentos amorosos. A vida se torna significativa. Mas quando há uma
lacuna entre o que você quer e o que você tem, sentimentos dolorosos como este irão emergir.
Qual opção você escolhe? "
Essa questão nos confronta com a condição humana: se vamos amar e nos importar, então
vamos sentir dor. Amor e dor são parceiros íntimos de dança — eles sempre andam de mãos
dadas. Para evitar a dor, algumas pessoas tentam desesperadamente não se importar, não amar
ou querer. Eles podem tentar fazer isso de múltiplas maneiras, desde drogas e álcool até o
afastamento do convívio social, para proclamar que "Nada importa" ou "Eu não me importo
com nada". Obviamente, tais tentativas estão fadadas ao fracasso: elas paradoxalmente aca-
bam criando mais dor, não menos.
Quase todos os clientes escolhem a opção B, mas alguma vez em um mês de lua azul, alguém
irá escolher a opção A. Se assim for, você pode responder: "Claro, é isso que você escolheria
agora porque sua dor parece insuportável. Mas no mundo ideal, qual opção você gostaria de
escolher? " Nesse ponto, o cliente quase sempre escolhe a opção B e, em seguida, a terapia
passa a possibilitar essa escolha. Essa pergunta é particularmente útil no trabalho de luto e,
naturalmente, acaba entrando em valores, como veremos no capítulo 11.
Se o cliente ainda escolher a opção A, podemos transformar isso em uma breve intervenção
de desesperança criativa. Nós poderíamos dizer: "Eu entendo completamente porque você
escolheria isso. A vida está sendo tão dolorosa agora, que você faria qualquer coisa para parar
a dor, não importa o custo. Então, deixe-me perguntar: não é isso que você tentando fazer?
Quando você usa drogas / fica bêbado / toma uma overdose / fica na cama o dia todo / afasta-
se de seus amigos / se corta com uma faca — não são todas essas ações apenas formas de ten-
tar parar a dor? E como isso está realmente funcionando? A longo prazo, essas estratégias
estão tornando a sua vida menos dolorosa ou mais dolorosa?"

Metáforas
Há um grande número de metáforas para aceitação, e as que estão nesta caixa são apenas al-
gumas poucas. Passageiros no Ônibus (Hayes et al., 1999) e Demônios no Barco (Harris,
2007) são muito versáteis, pois englobam todo o hexaflex em uma única metáfora e podem,
portanto, ser usados para acentuar qualquer processo em qualquer sessão. Ambas as metáforas
são essencialmente as mesmas. Eu mudei Passageiros no Ônibus para Demônios no Barco
por três razões: (l) demônios e barcos têm uma herança cultural muito mais rica do que passa-
geiros e ônibus, — (2) quase todos os livros da ACT têm Passageiros no Ônibus como metá-
fora chave e eu senti a necessidade como uma mudança — e (3) esse é exatamente o tipo de
cara que eu sou.

A METÁFORA DOS DEMÔNIOS NO BARCO


Terapeuta: Imagine que você está pilotando um barco bem longe, em alto-mar. Embaixo
do convés, fora de seu campo de visão, há um bando de demônios, todos com
garras enormes e dentes afiados. E eles fizeram um acordo com você. Enquan-
to você mantiver o barco sem rumo, à deriva no mar, eles ficarão embaixo do
convés e você não terá que olhar para eles. Então está tudo vai estar bem por
um tempo. Mas então você vê todos esses outros barcos indo em direção à cos-

139
ta. E você sabe que é onde você realmente quer ir. Você tem mapas e planos —
há lugares que você quer ver. Então você toma coragem e gira a cana do leme e
vai em direção à costa. Mas no instante em que o barco muda de direção, todos
os demônios saem debaixo do convés e ameaçam rasgar você em pedaços. E
eles parecem maus. E eles são enormes. Dentes afiados. Chifres maciços. Gar-
ras enormes. E eles dizem: "Nós vamos rasgá-lo em pedaços. Vamos rasgá-lo
em pedaços". Então você fica aterrorizado. E você diz: "Desculpem, demô-
nios!" E você dá meia-volta no barco e volta para o mar. Assim que o barco es-
tiver à deriva mais uma vez, os demônios desaparecem. Você diz "Ufa!" e res-
pira um suspiro de alívio. E por um tempo, fica tudo bem – você navega sem
direção. Mas então você vê todos aqueles outros barcos indo em direção à cos-
ta. E você olha para seus mapas e seus planos. E você sabe onde você realmen-
te quer ir. Então você toma coragem, gira o leme e no instante em que o barco
muda de direção, os demônios voltam. Dentes enormes, enormes garras: "Nós
vamos matar você!"
Agora aqui está detalhe: embora esses demônios tenham ameaçado matá-lo a
vida toda, eles nunca o prejudicaram de verdade. Isso é porque eles não conse-
guem. Eles não têm capacidade de lhe prejudicar. Tudo o que eles podem fazer
é ameaçar você. E enquanto você acreditar que eles farão as coisas que eles di-
zem que farão, eles têm o controle do barco. Então, armado com esse conhe-
cimento, se chegar até a costa realmente é importante, o que você precisa fa-
zer? (Elicie uma resposta do cliente.) Isso é certo; você precisa manter as mãos
no leme e seguir em direção à costa. Os demônios vão se juntar e tentarão in-
timidá-lo. Mas isso é tudo que eles podem fazer. E ao deixá-los se reunir ao
seu redor, você poderá dar uma boa olhada neles sob a luz direta do sol. E você
perceberá que eles não são nem de longe tão grandes e desagradáveis quanto
pareciam, eles estavam usando efeitos especiais para parecerem dez vezes
maiores do que o tamanho real. E enquanto você mantém suas mãos naquele
leme, indo em direção à costa, você percebe que há um barco inteiro aqui. E há
o céu, o mar, o sol e o vento — e peixes, pássaros e outros navios; há todo um
mundo para explorar e apreciar, não apenas esses demônios. E observe que não
importa o quão longe você esteja da costa, no instante em que você virar esse
leme, você está em uma aventura, você está instantaneamente se movendo na
direção que deseja ir, em vez de ficar à deriva sem rumo.

Se o cliente sugerir jogar os demônios para fora do barco, respondemos:


Terapeuta: Mas há um número infinito de demônios. Não importa quantos você jogue ao
mar, mais virão. E enquanto você está tentando se livrar deles, quem vai pilotar
o barco? Ele poderia bater nas pedras ou virar.

Se o cliente sugerir que você pule no mar, respondemos:


Terapeuta: Infelizmente você não pode. O mar está cheio de tubarões assassinos.

Você pode usar essa metáfora como técnica auxiliar na desesperança criativa (tentar jogar os
demônios ao mar), na aceitação (permitindo que os demônios se juntem ao seu redor), na des-
fusão (vendo-os em plena luz do dia, vendo através dos efeitos especiais), na orientação de
valores (ir em direção da costa); na ação comprometida (mantendo as mãos no leme), conta-
tando o momento presente (percebendo o mar, o céu, o vento, o sol e assim por diante), e até
mesmo no eu observador (você não é o barco ou os demônios).

140
Assim, em uma técnica de desfusão, você pode dar nome aos demônios — por exemplo, o
demônio "Eu não posso fazer isso", o demônio "Eu desperdicei a minha vida, e agora é tarde
demais", ou o demônio "você não vai gostar quando chegar lá "demônio. Para trabalhar a
aceitação, você pode perguntar ao cliente: "Se ir em direção à costa é o que importa, você está
disposto a deixar que os demônios se agrupem?" Ou você pode dizer: "Qual demônio está
controlando o barco agora?" Uma vez que este tenha sido nomeado, você poderia dizer: "En-
tão, que tal darmos uma olhada neste demônio em plena luz do dia?" e depois conduzir o cli-
ente através de um exercício de desfusão ou aceitação.

O BOTÃO DE LUTA
O Botão de Luta (Harris, 2007, adaptado de Two Scales, Hayes et al., 1999) é uma metáfora
estendida que abrange tanto a desesperança criativa quanto a aceitação, e, uma vez introduzi-
da, ela se torna uma poderosa ferramenta interativa para o trabalho de aceitação.
Terapeuta: Imagine que no fundo da nossa mente existe um " botão (ou interruptor) de
luta". Quando ele está ligado, significa que vamos lutar contra qualquer dor fí-
sica ou emocional que surja em nosso caminho. Qualquer que seja o descon-
forto que viermos a sentir, tentaremos nos livrar dele ou evitá-lo. Suponha que
o que aparece é ansiedade. (Isso deve ser adaptado para o problema do cliente
— raiva, tristeza, lembranças dolorosas, desejos de beber, e assim por diante).
Se meu botão de luta estiver ativado, então eu preciso me livrar desse senti-
mento de qualquer forma! É como "Oh não! Aqui está essa sensação horrível
novamente. Por que isso continua voltando? Como consigo me livrar disso?"
Então agora eu tenho ansiedade devido a minha ansiedade. Em outras palavras,
minha ansiedade piorou. "Oh, não! Está ficando pior! Por que isso acontece?"
Agora estou ainda mais ansioso. Então eu poderia ficar com raiva da minha an-
siedade: "Não é justo. Por que isso continua acontecendo?" Ou posso ficar de-
primido devido a minha ansiedade: "De novo não. Por que eu sempre me sinto
assim?" E todas essas emoções secundárias são inúteis, desagradáveis, inúteis e
drenam minha energia e vitalidade. E então, adivinha o que? Eu fico ansioso
ou deprimido com isso! Você consegue ver o ciclo vicioso?
Mas agora suponha que meu botão de luta esteja desativado. Nesse caso, qual-
quer sentimento que apareça, não importa o quão desagradável seja, eu não lu-
to com ele. Imagine que ansiedade aparece. Mas desta vez eu não luto com ela.
É como, "Ok, aqui está um nó no meu estômago. Aqui está o aperto no meu
peito. Aqui estão as palmas das mãos suadas e as pernas trêmulas. Aqui está
minha mente me dizendo um monte de histórias assustadoras". E não é que eu
goste ou queira isso. Continua a ser desagradável. Mas eu não vou mais perder
meu tempo e minha energia lutando contra essas sensações. Em vez disso, vou
assumir o controle de meus braços e pernas e colocar minha energia em algo
que seja significativo e que melhore a minha vida.
Então, com o botão de luta desligado, nossos níveis de ansiedade estão livres
para subir e descer conforme a situação exige. Às vezes eles vão ser altos, às
vezes baixos e às vezes não haverá ansiedade alguma. Mas, o que é muito im-
portante, desta vez não estamos perdendo nosso tempo e nossa energia lutando
contra isso. Mas ligue o botão, e será como um amplificador emocional — po-
demos ter raiva da nossa raiva, ansiedade sobre a nossa ansiedade, depressão
sobre a nossa depressão ou culpa pela nossa culpa. (Neste ponto, verifique com
o cliente: "Você consegue se relacionar com isso?")

141
Quando não lutamos, temos um nível natural de desconforto físico e emocio-
nal, que depende de quem somos e do que estamos fazendo. Na ACT, chama-
mos isso de "desconforto limpo". Não há como evitar "desconforto limpo". A
vida fornece algum grau de desconforto a todos nós, de uma forma ou de outra.
No entanto, uma vez que começamos a lutar contra ele, nossos níveis de des-
conforto aumentam rapidamente. Nós chamamos esse sofrimento adicional de
"desconforto sujo". Não podemos fazer nada em relação ao desconforto limpo,
mas podemos reduzir o desconforto sujo. Adivinha como? (Aguarde a resposta
do cliente) Isso mesmo: aprendemos a desligar o botão de luta. E o que eu gos-
taria de fazer agora, se você quiser, é mostrar a você como pode fazer isso.
O próximo passo é trabalhar com uma emoção dolorosa e praticar o desligamento do botão de
luta. A transcrição a seguir ilustra isso.

TRABALHANDO COM O BOTÃO DE LUTA


O terapeuta acabou de terminar de conduzir a cliente através de um “escaneamento" de seu
corpo e identificar onde ela está sentindo sua ansiedade mais intensamente.
Terapeuta: (resumindo) Ok, então você sente um nó na garganta, um aperto no peito e
uma agitação no estômago. E qual destes lhe incomoda mais?
Cliente: Este aqui (A cliente toca a garganta dela.)
Terapeuta: Tudo bem. E, em uma escala de 0 a 10, se 0 é ausência de ansiedade e 10 é o
máximo de ansiedade, como você classificaria o que está sentindo?
Cliente: Em torno de 8.
Terapeuta: Ok. Então, você está lembrado desse botão de luta de que falamos? (Cliente faz
que sim com a cabeça.) Bem, neste momento você diria que o botão está liga-
do ou desligado?
Cliente: Ligado!
Terapeuta: Ok. Suponha que transformemos o botão em um dial. Em uma escala de 0 a
10, se 10 significar completamente ligado, ou seja, uma luta contínua — "Eu
tenho que me livrar desse sentimento não importa o que" — e 0 que não há luta
alguma — "Eu não gosto desse sentimento, mas eu não vou lutar com ele"— e
5 é o ponto intermediário, que poderíamos chamar também de tolerância ou ir
levando isso. Nessa escala, o quanto você está lutando com esse sentimento
agora?
Cliente: Em torno de 9.
Terapeuta: Ok. Então, muita luta está acontecendo agora. Vamos ver se podemos reduzir
isso em alguns pontos. Não temos certeza se vamos conseguir, mas vamos pelo
menos tentar.
O terapeuta agora leva o cliente pelas seções 1-4 do Exercício de Aceitação de Emoções:
observe, respire, expanda, permita. Em seguida, ele faz uma verificação com a cliente para
ver o que está acontecendo.
Terapeuta: Então, o que está acontecendo agora com o botão de luta?
Cliente: Bem, me sinto menos ansiosa.
Terapeuta: Ok, já vamos falar sobre isso em um momento. O que eu estou interessado

142
agora é como está a luta. Em uma escala de 0 a 10, quanto você está lutando
com esse sentimento?
Cliente: Oh, em torno de 3.
Terapeuta: Aproximadamente 3. Certo. Você mencionou que sua ansiedade está um pouco
menor. Em uma escala de 0 a 10, como ela está agora?
Cliente: Em torno de 6.
Terapeuta: Ok, usufrua isso quando acontecer, — às vezes, quando você para de lutar com
a ansiedade, ela diminuiu, mas não é isso que estamos tentando alcançar aqui.
Nosso objetivo é apenas abandonar a luta. Você estaria disposta continuar?
Vamos ver se podemos fazer com que a luta diminua mais um ou dois pontos?

Dica Prática: Fique alerta em relação à pseudoaceitação. Quando seu cliente expe-
rimenta uma redução na intensidade de seus sentimentos, ele frequentemente ig-
nora ou interpreta mal que isto “é um bônus, não o objetivo.” Ele deixa a sessão
pensando: Agora eu sei uma maneira de reduzir minha ansiedade e começa a praticar
“aceitação" para se livrar de seus sentimentos desagradáveis. No entanto, isso não
é aceitação verdadeira. A verdadeira aceitação é a disposição de ter os sentimentos,
independentemente de eles aumentarem ou diminuírem. Esse é um dos pontos
mais comuns em que você e seus clientes podem ficar atolados .

Armadilhas comuns para terapeutas


Ao trabalhar com a fusão e a aceitação, esteja alerta para várias armadilhas comuns: muita
conversa, pouca ação; reforçamento da esquiva; insensibilidade; falha em conectar a aceitação
a valores; e ser muito insistente. Vamos dar uma rápida olhada em cada uma destas possíveis
armadilhas agora.
Muito conversa, pouca ação. Tentar explicar didaticamente a desfusão e a aceitação é, em
grande parte, uma perda de tempo, então faça-o vivencialmente. Podemos facilmente alimen-
tar a fusão e a esquiva entrando na "paralisia da análise" — isto é, ficar discutindo, analisando
e intelectualizando, em vez de realizar o trabalho vivencial.
Reforçamento da esquiva. Como já foi mencionado, se nos empolgarmos sempre que senti-
mentos dolorosos diminuírem e os pensamentos desaparecerem, então reforçamos a esquiva
(ou pseudoaceitação).
Insensibilidade. Se não validarmos e simpatizarmos com nossos clientes, se insistirmos em
ficar utilizando todas as nossas ferramentas e técnicas inteligentes, corremos o risco de causar
dano ao relacionamento terapêutico.
Falha em conectar a aceitação a valores. Se não conseguirmos estabelecer a conexão entre a
vida com base em valores e a aceitação, nossas clientes provavelmente irão resistir.
Ser muito insistente. Se empurrarmos nossos clientes para exercícios vivenciais muito inten-
sos antes que estejam prontos, estamos prestando um grande desserviço a eles, e eles podem
desistir da terapia.

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TAREFA DE CASA E A PRÓXIMA SESSÃO
Uma forma de tarefa de casa pode ser praticar formalmente um exercício de atenção plena
com foco na aceitação de emoções. Isso é particularmente útil para transtornos de ansiedade e
luto. O ideal é fazer esses exercícios na sessão e gravá-los à medida que você for realizando
os mesmos, e então dar ao seu cliente a gravação para levar para casa.
Em www.actmindfully.com.au você pode baixar a planilha de Exercícios de Expansão (veja
no final deste capítulo) e usá-lo como um complemento para incentivar a prática.
Uma segunda coisa que você pode fazer é perguntar ao seu cliente: "Eu gostaria de saber se,
entre a sessão de hoje e a próxima sessão, você estaria disposto a praticar a criação de espaço
para seus sentimentos, como fizemos hoje. Assim que você perceber que está lutando, basta
fazer o exercício". Então, para que ele não se esqueça, escreva os principais passos que você
quer que ele pratique — por exemplo, "Observe, respire, expanda" ou "Transforme-o em um
objeto e respire para dentro dele".
Uma terceira opção é a seguinte: "Ao longo da próxima semana, observe quando você está
lutando com seus sentimentos e perceba quando estiver se abrindo e abrindo espaço para eles.
E observe quais efeitos isso tem quando você responde de uma maneira ou de outra." Você
também pode baixar a partir de www.actmindfully.com.au uma cópia da planilha Lutando
versus Abrindo-se (veja no final deste capítulo) e pedir ao cliente para preenchê-la.
Tradicionalmente, após a desfusão e a aceitação, passamos a abordar o contato com o mo-
mento presente e o eu-como-contexto, mas também podemos nos mover para qualquer parte
do hexaflex com qualquer cliente em qualquer sessão. Assim, na próxima sessão, idealmente
depois de uma breve verificação e um exercício de atenção plena, revisamos a tarefa de casa
para ver o que aconteceu. Se nosso cliente está aberto à ideia de aceitação, mas está tendo
dificuldades para colocá-lo em prática, poderíamos trabalhar um pouco mais as habilidades de
aceitação e utilizar, talvez, intervenções de desfusão ou de eu-como-contexto para ajudar. Se
o cliente está preso à agenda de controle, podemos revisitar a desesperança criativa (O que
está custando a você lutar com esses sentimentos? Como isso está funcionando para você?)
Ou voltar-se para valores (O que é importante para você na vida? Você está disposto a abrir
espaço para esses sentimentos a fim de fazer o que é importante para você?).

TAREFA DE CASA PARA VOCÊ


Tente aplicar essas técnicas e utilize os formulários com você mesmo. Pegue alguma questão
dolorosa que você tem em sua vida agora.
■ Pratique o abrir-se e deixar espaço para esses sentimentos. Faça isto quando tiver uma
sessão de terapia difícil —tanto durante quanto depois — porque uma das habilidades
de um bom terapeuta é aceitar suas próprias reações emocionais.
■ Leia todos os componentes dos exercícios, das metáforas e da psicoeducação em voz
alta, como se estivesse conduzindo um cliente através deles.
■ Revise os casos de dois ou três clientes e identifique os principais sentimentos com os
quais eles estão lutando ou tentando evitar. Em seguida, avalie quais técnicas de acei-
tação você poderia tentar com elas.

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RESUMO
Aceitação é o processo de ativamente abrir espaço para experiências privadas indesejadas
(incluindo pensamentos, memórias, sentimentos, impulsos e sensações). A aceitação e a des-
fusão andam de mãos dadas: na aceitação, quando entramos em contato direto com nossas
experiências privadas, nos desfundimos de nossos pensamentos sobre elas. A desfusão e a
aceitação também andam de mãos dadas: na desfusão, quando percebemos nossos pensamen-
tos e permitimos que eles sejam como são, estamos praticando um ato de aceitação. Então
agora você deve estar começando a entender o que eu quis dizer quando disse que as diferen-
tes partes do hexaflex estão interconectadas como seis facetas de um diamante. O diamante
em si é a flexibilidade psicológica: a capacidade de "estar presente, abrir-se e fazer o que im-
porta". E assim, quando falamos de "abrir-se", isso inclui tanto a desfusão quanto a aceitação.
Nos próximos dois capítulos, iremos nos focar sobre "estar presente".

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PLANILHA EXERCÍCIOS DE EXPANSÃO
Expansão significa abrir-se e abrir espaço para sentimentos, impulsos e sensações difíceis,
permitindo-lhes "fluir" sem esforço. Você não precisa gostar ou querer esses sentimentos —
basta abrir espaço para eles e permitir que eles estejam lá, mesmo que sejam desagradáveis.
Uma vez que você aprende essa habilidade, se esses sentimentos ressurgirem, você pode rapi-
damente abrir espaço para eles e deixá-los "fluir" para que você possa utilizar seu tempo e sua
energia em atividades que melhorem e tornem sua vida mais significativa, em vez de lutar
com ele. Procure praticar pelo menos uma vez por dia respirando para dentro destes sentimen-
tos e sensações difíceis e abrindo espaço para eles.

Planilha EXERCÍCIOS DE EXPANSÃO


Data/Hora Quanto tempo eu prati- Foi utilizada uma grava- Benefícios e/ou
Sentimentos/Sensações quei (em minutos) ção para auxiliar Dificuldades
Qual o grau do botão de Sim/não
luta (0-10)
10 = botão ligado
0 = botão desligado
5 = posição intermediá-
ria (tolerância

146
PLANILHA LUTAR versus ABRIR-SE
Preencha esta planilha uma vez por dia para ajudar a acompanhar o que acontece quando você
luta com suas emoções e o que acontece quando você se abre e abre espaço para elas..

PLANILHA LUTAR versus ABRIR-SE


Data/Hora Quanto você lutou com Você se abriu e criou Como foi o efeito a longo
Sentimentos/Sensações esses sentimentos? espaço para estes senti- prazo da forma como
Que eventos provocaram 0 = nenhuma luta mentos, permitindo que você respondeu a seus
os mesmos 10 = luta máxima estivessem ali mesmo sentimentos?
O que você realmente fez sendo desprazerosos? Se Isso melhorou ou piorou
durante a luta? sim, como você fez isso? sua vida?

147
CAPÍTULO 9

Esteja Aqui Agora


CONTATO COM O MOMENTO PRESENTE DE FORMA RE-
SUMIDA
Em Linguagem Simples: Contato com o momento presente significa estar aqui e agora, total-
mente consciente de nossa experiência, em vez de estar perdido em nossos pensamentos. Envolve
atenção flexível ao mundo psicológico interior e ao mundo material externo.
Objetivo: Aumentar a percepção consciente de nossa experiência no momento presente, de forma
a perceber com precisão o que está acontecendo e coletar informações importantes sobre mudar
ou persistir no comportamento. Engajar-se totalmente no que quer que estivermos fazendo para
obter maior eficácia e realização.

Sinônimos: Estar psicologicamente presente, consciência, atenção flexível

Método: Observe e note o que está acontecendo aqui e agora, — discrimine entre notar e pensar
—, preste atenção flexível tanto ao mundo interno quanto ao externo.

Quando usar: Quando os clientes estão excessivamente preocupados com o passado e com o
futuro, agindo impulsivamente ou de forma desatenta, "desconectados" de seus relacionamentos,
sem autoconsciência ou sem contato com sua experiência aqui e agora.

O Único Tempo é Agora


Como Leon Tolstoi disse certa vez: "Só existe um momento que é importante — AGORA! É
a hora mais importante, porque é a única vez em que temos poder". A famosa citação de Tols-
toi nos lembra que a vida acontece agora — neste momento. O passado e o futuro existem
apenas como pensamentos que ocorrem no presente. Podemos planejar o futuro, mas esse
planejamento acontece aqui e agora. Podemos refletir e aprender com o passado, mas essa
reflexão acontece no presente. Este momento é tudo o que temos.
No uso popular, a palavra "atenção plena" se tornou sinônimo de "estar no momento", "estar
presente" ou "viver o agora". Por quê? Porque entrar em contato com o momento presente
está no coração de toda atenção plena. Por exemplo, o ponto de partida para todas as técnicas
de desfusão e aceitação é perceber conscientemente os pensamentos e sentimentos que estão
presentes neste momento.
Estar presente desempenha um papel importante na vida congruente com valores. Se você está
agindo de acordo com seus valores, mas não está totalmente envolvido no que está fazendo,
está "perdido". Estar presente acrescenta riqueza e plenitude à sua experiência. Também per-
mite uma ação eficaz: é difícil agir de maneira eficaz quando você não presta atenção ao que
está fazendo.
Quando trabalhamos com valores, muitos clientes mencionam algo como "viver o momento",
"apreciar o que tenho" ou "parar e sentir o perfume das rosas", e quase todo mundo vai falar
sobre querer cultivar relacionamentos amorosos ou atenciosos. Todas essas atividades exigem
que estejamos presentes. E, é claro, para saber se estamos vivendo ou não de acordo com nos-
sos valores e se nosso comportamento é funcional ou não, precisamos estar conscientes do

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que estamos fazendo e observar as consequências de nossas ações.
Entrar em contato com o momento presente também é essencial para a autoconsciência e o
autoconhecimento. Quanto mais estivermos em contato com nossos próprios pensamentos e
sentimentos, melhor seremos capazes de regular nosso comportamento e fazer escolhas sábias
que levarão nossa vida na direção que queremos seguir.

ENTRANDO EM CONTATO COM O MOMENTO PRESENTE


Em algum momento, em todas as sessões, pedimos ao cliente que observe o que está aconte-
cendo neste momento: "Observe o que sua mente está lhe dizendo agora", "Observe o que está
acontecendo em seu corpo agora", "O que você está sentindo? Onde você percebe esse senti-
mento com mais intensidade? " "Ao assumir esse compromisso, o que está aparecendo para
você?" e assim por diante.
Em alguns protocolos da ACT, desde a primeira sessão, mesmo antes de se trabalhar com a
desesperança criativa, os clientes são solicitados a fazer exercícios curtos para perceber a res-
piração ou os sons da sala e a praticá-los como lição de casa (por exemplo, consulte Walser e
Westrup, 2007). No entanto, normalmente é somente após o trabalho com a desfusão e a acei-
tação que os terapeutas começam a falar explicitamente sobre como viver no momento pre-
sente e fazer do mesmo o foco central de uma sessão.
Por outro lado, se você iniciou a terapia trabalhando com valores e ação comprometida, você
pode fazer isso estabelecendo um elo entre estar presente e construir relacionamentos vigoro-
sos, agir de forma eficaz, ter um desempenho habilidoso ou obter o máximo proveito de qual-
quer coisa que você estiver está fazendo.
Às vezes, você pode até mesmo iniciar a terapia concentrando-se explicitamente nesse proces-
so, especialmente com clientes que se dissociam facilmente ou que são tão afetados por suas
emoções que é difícil realizar qualquer trabalho construtivo.

O Terapeuta Consciente
Obviamente, se quisermos fazer uma terapia eficaz, nós mesmos precisaremos estar totalmen-
te presentes: sintonizados com nossos clientes, observando suas respostas físicas e verbais.
(De fato, isso é essencial para qualquer relacionamento que desejamos melhorar. Construir
relacionamentos ressonantes e vigorosos requer inteligência emocional: consciência de nossas
próprias reações emocionais bem como das pessoas com quem interagimos.) É claro que estar
totalmente presente como terapeuta é algo mais fácil de falar do que de fazer. Você já partici-
pou de uma sessão e de repente percebeu que não lembrava de uma só palavra que seu cliente
havia dito nos últimos dois minutos? E então você tentou esconder o fato dizendo algo como:
"Você pode me falar um pouco mais sobre isso?"
Uma resposta mais corajosa e mais útil nesses momentos embaraçosos é simplesmente ser
transparente: "Sinto muito por isso. Fiquei perdido em minha mente por alguns momentos e
não estava realmente ouvindo você. Se estivéssemos em uma atividade social, eu tentaria en-
cobrir isso e fingir que não tinha acontecido, mas aqui temos uma boa oportunidade para de-
monstrar que todos estamos no mesmo barco. Nossas mentes nos tiram de nossa experiência.
Espero que você me perdoe. Pode repetir o que acabou de dizer?"
Embora responder dessa maneira possa suscitar alguma ansiedade para você, ela ajuda a criar
um relacionamento mais aberto, honesto e igual e modela poderosamente a autoaceitação e o
estar presente. Ela também deixa clara a realidade de que estar presente é simples, mas não é
fácil. Embora seja fácil ficar presente por um instante — basta simplesmente notar nossa ex-

149
periência — é muito difícil permanecer presente. Nossa mente facilmente nos leva para longe.
Precisamos estar à frente dos nossos clientes nesse assunto. Precisamos permitir que eles sai-
bam que podemos melhorar o estar presente — como acontece com qualquer habilidade,
quanto mais praticamos, melhor —, mas não alcançar a perfeição. Até os mestres zen são fis-
gados por suas mentes de tempos em tempos.

Introduzindo o Momento Presente


Ao introduzir explicitamente esse elemento, geralmente é bom começar com uma metáfora que
transmita as dificuldades de estar presente. Por exemplo, se tivermos introduzido a mente como
uma máquina de resolução de problemas (como no capítulo l), podemos nos referir a ela desta
forma: "Falamos antes sobre como nossa mente é como uma máquina de resolução de proble-
mas. E ela é muito, mas muita boa neste trabalho, e por isso ela está sempre procurando pro-
blemas. E, infelizmente, quando nos envolvemos na resolução de problemas, geralmente per-
demos o prazer de apreciar a vida. É difícil apreciar o que temos agora, quando estamos focados
em todas as coisas ruins ou erradas, ou não totalmente corretas, ou que precisam ser corrigidas e
classificadas. Portanto, uma parte importante do nosso trabalho aqui é aprender a fazer isso — a
passar do modo de resolução de problemas para a apreciação de que temos aqui e agora." Ou-
tros formas boas de introduzir dessa noção incluem as metáforas Mãos como Pensamentos
(consulte o capítulo 2), seção 1 de ACT de Forma Resumida (veja o capítulo l) ou a Máquina do
Tempo (veja abaixo). Com clientes deprimidos ou ansiosos, você pode vincular direta e explici-
tamente essas metáforas a viver no passado ou a se preocupar com o futuro.

A METÁFORA DA MÁQUINA DO TEMPO.


Terapeuta: É uma sorte para nós que nossa mente possa conceituar o passado e o futuro. É
uma habilidade extremamente útil. Isso nos permite refletir e aprender com o
passado, e prever e planejar o futuro. À medida que envelhecemos, nossa men-
te fica cada vez melhor em fazer esses truques: evocando o passado e o futuro.
Mas, infelizmente, isso começa a criar problemas. Quando crianças, podemos
facilmente viver no presente, mas, na idade adulta, nossa mente é como uma
máquina do tempo fora de controle que constantemente nos puxa de volta ao
passado ou nos faz avançar no futuro. Como resultado, passamos muito tempo
no passado, revivendo velhas mágoas, falhas, rejeições e erros, ou então, mui-
to tempo no futuro, nos preocupando com tudo o que poderia dar errado. En-
quanto isso, estamos perdendo a vida no presente. É difícil obter satisfação ou
satisfação de sua vida se você não estiver presente para apreciá-la?
Uma vez que você tenha usado a metáfora para introduzir este processo e transmitir o que é
relevante para o cliente, há um vasto número de exercícios que você pode utilizar — e todos
eles se resumem a uma instrução básica.

A INSTRUÇÃO BÁSICO PARA ATENÇÃO PLENA


A instrução básica que você irá encontrar no centro de cada exercício de atenção plena —
desde uma técnica de dez segundos de ACT a um retiro de meditação silenciosa de dez dias
— é a seguinte: "Note X". (Alternativas comuns para "notar" incluem observar, prestar aten-
ção, focalizar, ser consciente de, ou trazer sua consciência para.) O "X" que estamos perce-
bendo pode ser qualquer coisa que esteja presente neste momento: um pensamento, um senti-
mento, uma sensação, uma lembrança — ou qualquer coisa que possamos ver, ouvir, tocar,
provar ou cheirar. "X" pode ser a visão desde uma janela, a expressão no rosto de um ente
querido, as sensações de um banho quente, o gosto de um pedaço de chocolate em nossa boca,
150
a ação de amarrar nossos cadarços, o movimento de nossos pulmões, ou os sons que podemos
ouvir na sala ao nosso redor.
Às vezes, podemos querer uma percepção muito ampla do presente: por exemplo, se estivermos
caminhando pelo campo e quisermos observar todas as visões, sons e cheiros. Em outras ocasiões,
podemos querer uma atenção muito mais concentrada: se estivermos dirigindo com chuva forte,
queremos estar absolutamente concentrados na estrada, nem prestando atenção no rádio nem con-
versando com os passageiros. Às vezes, podemos querer direcionar nossa atenção para dentro,
para o mundo dos pensamentos, sentimentos e sensações — em outras ocasiões, para o mundo ao
nosso redor — e, na maior parte do tempo, para os dois mundos ao mesmo tempo — movendo-
nos livremente, de um evento para outro, conforme exigido pelas demandas da situação. Um ter-
mo útil para essa habilidade é a atenção flexível.

Construa seus próprios exercícios de atenção plena


Neste e em todos os outros livros sobre o ACT, você encontrará vários roteiros para exercí-
cios de atenção plena, mas, depois de conhecer a "fórmula básica", você pode facilmente
construir os seus próprios exercícios. Todos os exercícios basicamente se resumem a uma
combinação dessas três instruções:
1. Note X.
2. Deixe seus pensamentos ir e vir.
3. Deixe seus sentimentos serem como são
Todos os exercícios de atenção plena incluem a instrução 1: notar sua experiência é o cerne da
atenção plena. A maioria dos exercícios também inclui a instrução 2, a desfusão. A instrução
3, aceitação, é menos comumente dada (mas é sempre implícita).
Leia alguns dos roteiros mais longos deste livro ou qualquer outro livro de atenção plena que
você possa ter, e verá que todos eles são construídos em torno de uma combinação dessas
instruções básicas. Por exemplo, a primeira seção do Exercício de Aceitação de Emoções (ve-
ja o capítulo 8) é simplesmente um refrão prolongado em "note X", em que X é uma sensação
intensa no corpo. O Exercício Folhas na Correnteza (ver capítulo 7) é construído em torno
tanto de "note X" quanto de "deixe ir seus pensamentos", da mesma forma como o é a instru-
ção comum de atenção plena: "Quando você perceber que se perdeu em seus pensamentos,
gentilmente reconheça isso e traga sua atenção de volta para X."
Construir um exercício em torno do contato com o momento presente é simples. Tudo o que
você precisa fazer é direcionar a atenção do seu cliente para "X" — por exemplo, respiração,
postura corporal, sentimentos, sons na sala e assim por diante — e depois pedir que ele obser-
ve "X" com abertura e curiosidade. Se você deseja adicionar elementos de desfusão ou aceita-
ção, basta adicionar as instruções 2 ou 3 acima.
Um dos exercícios mais populares para começar é Atenção Plena da Respiração (vide abaixo).
Peço aos clientes que, inicialmente, pratiquem isso por cinco minutos, uma ou duas vezes por
dia, depois aumentem a duração em dois ou três minutos, em intervalos de alguns dias, até
que possam fazê-lo por quinze a vinte minutos de cada vez. (É claro que nem todos os clientes
concordarão com isso ou irão praticá-lo, mas aqueles que o fazem geralmente obtêm benefí-
cios significativos.)
ATENÇÃO PLENA DA RESPIRAÇÃO
Terapeuta: Convido você a sentar-se com os pés apoiados no chão e as costas retas; feche
os seus olhos ou fixe-os em algum num ponto. Preste atenção à sua respiração
e observe-a como se você fosse um cientista curioso que nunca tenha observa-
151
do a respiração antes. (Pausa de 5 segundos) Observe o ar que entra pelas na-
rinas ... e desce até o fundo dos pulmões. (Pausa de 5 segundos) E observe
como flui para fora novamente. (Pausa de 5 segundos) Observe o ar entrando e
saindo de suas narinas ... observe como ele é um pouco mais quente à medida
que sai ... e um pouco mais frio à medida que entra. Observe a sutil subida e
descida de seus ombros ... (Pausa de 5 segundos) e a suave subida e descida da
sua caixa torácica ... (Pausa de 5 segundos) e a suave subida e descida do seu
abdômen. (Pausa de 5 segundos) Fixe sua atenção em uma dessas áreas, aque-
la que você preferir: na respiração que entra e sai das narinas, na subida e des-
cida da caixa torácica ou no abdômen. (Pausa de 5 segundos)
Mantenha sua atenção neste ponto, percebendo o movimento — para dentro e
para fora — da respiração. (Pausa de 20 segundos) Quaisquer que sejam os
sentimentos, impulsos ou sensações, agradáveis ou desagradáveis, gentilmente
tome consciência deles, como se acenasse com a cabeça para as pessoas que
passam por você na rua. (Pausa de 5 segundos) Gentilmente reconheça a pre-
sença deles e deixe que sejam. (Pausa de 5 segundos). Deixe-os entrar e sair
quando quiserem, e mantenha sua atenção focada na respiração. (Pausa de 20
segundos.) Quaisquer pensamentos, imagens ou lembranças que surjam, sejam
eles confortáveis ou desconfortáveis, simplesmente tome consciência deles e
permita que sejam ... Deixe-os entrar e sair quando quiserem, e mantenha sua
atenção na respiração. (Pausa de 20 segundos.) De vez em quando, sua aten-
ção irá se perder quando você for fisgado por seus pensamentos. Cada vez que
isso acontece, observe o que lhe distraiu e, em seguida, traga sua atenção de
volta para a respiração. (Pausa de 20 segundos.) Não importa quantas vezes
você se distrair, seja cem ou mil vezes — seu objetivo é simplesmente obser-
var o que o distraiu e voltou a se focar na respiração. (Pausa de 10 segundos.)
De novo e de novo e de novo, você vai se perder em seus pensamentos. Isso é
normal e natural e acontece com todos. Nossas mentes naturalmente nos dis-
traem do que estamos fazendo. Assim, cada vez que você percebe que sua
atenção se dispersou, gentilmente reconheça isso, observe o que o distraiu e
volte sua atenção para a respiração. (Pausa de 20 segundos) Se surgirem sen-
timentos de frustração, tédio, ansiedade, impaciência ou de outro tipo, sim-
plesmente tome consciência deles e mantenha o foco na respiração. (Pausa de
20 segundos.) Não importa quantas vezes sua atenção se distrair e ficar vagan-
do sem foco, gentilmente reconheça isso, observe o que o distraiu e, então, vol-
te a focar em sua respiração. (Pausa de 10 segundos.) E quando estiver pronto,
traga sua atenção de volta para a sala e abra os olhos.

ATENÇÃO PLENA COM SUA MÃO


O exercício a seguir é o meu favorito e foi inspirado no meu filho Max. Certa vez, quando
Max tinha cerca de dez meses, eu o observei descobrindo suas mãos. Ele levantou uma mão-
zinha minúscula na frente do rosto, mexendo os dedinhos, completamente fascinado pelos
movimentos deles - como eu também estava! E aí pensei: "Uau. Isso daria um bom exercício
de atenção plena". (Não me refiro a olhar para as mãos de Max - quero dizer observar as suas
próprias!) É impossível apreciar a beleza e a simplicidade deste exercício puramente através
da leitura, por isso também gravei uma versão em MP3, que você pode baixar gratuitamente
em www.actmadesimple.com.)
Terapeuta: Daqui a pouco, vou pedir para você observar sua mão. E quero que você real-

152
mente a observe. Na verdade, vou pedir para você olhar para ela por cinco mi-
nutos. Mas antes de fazer isso, eu gostaria de saber, o que sua mente está pre-
vendo sobre os próximos cinco minutos?
Cliente: Parece muito tempo.
Terapeuta: Sim. E – estou tentando adivinhar - sua mente está prevendo que será entedian-
te, chato, difícil - algo assim?
Cliente: (risos) Sim, parece algo muito chato.
Terapeuta: Ok. Então, vamos dar uma olhada e ver se é esse o caso. Às vezes, nossa mente
acerta em prever as coisas. Ela consegue estar absolutamente certa. Mas muitas
vezes suas previsões também podem ser bastante erradas. Então, vamos ver o
que vai acontecer - veja se isso realmente é lento, tedioso e chato.
Na transcrição a seguir, os três pontos indicam pausas de cerca de três segundos.
Terapeuta: Convido você a colocar-se em uma posição confortável. Vire uma das mãos
com a palma da mão para cima e mantenha-a a uma distância confortável do
rosto. Nos próximos minutos, gostaria que você observasse sua mão como se
fosse um cientista curioso que nunca viu uma mão antes. E dessa perspectiva,
primeiro observe o contorno dela. Trace mentalmente o contorno da sua mão,
começando na base do polegar, e trace uma linha ao redor de todos os dedos ...
observe as formas dos espaços entre os dedos ... observe onde sua mão se afu-
nila no pulso. E agora, observe a cor da sua pele ... observe que não é apenas
uma cor ... existem diferentes tons e sombras e áreas manchadas ... muito len-
tamente, estique os dedos e empurre-os para trás à medida que avançam, e ob-
serve como a cor muda em sua pele ... e então libere lentamente a tensão e ob-
serve como a cor retorna ... e faça isso mais uma vez, muito lentamente, notan-
do que a cor desaparece ... e depois volta ... agora observe as linhas maiores na
palma da mão ... observe as formas que elas geram onde se juntam ou diver-
gem ou se cruzam ... e amplie uma dessas linhas e observe como existem mui-
tas linhas menores que a alimentam e se ramificam ... e agora desvie sua aten-
ção para uma das pontas dos dedos ... e observe o padrão em que há espiral ali
... o padrão que você sempre vê em impressões digitais ... e observe como o
padrão não para na ponta do seu dedo ... ele continua no seu dedo ... e rastreie-
o mais para baixo e observe como ele continua na palma da sua mão ... e agora,
muito devagar, traga seu dedo mindinho em direção ao polegar ... e observe a
pele na palma de sua mão se enrugando ... e agora solte lentamente ... observe a
pele se desenrugar e retomar seus contornos normais ... e agora coloque sua
mão na posição de golpe de karatê ... e observe a diferença entre a pele na pal-
ma da mão e a pele nas costas ... e olhe para o dedo indicador e observe que há
uma espécie de linha divisória, onde esses dois tipos de pele se encontram um
ao outro ... e, muito lentamente, vire a mão ... e observe a pele nas costas ... e
observe quaisquer críticas ou julgamentos que sua mente faz ... observe cicatri-
zes, manchas solares, deformidades ... observe as diferentes cores da pele ...
onde ela passa por cima de uma veia ... ou por cima de suas juntas ... e muito
lentamente enrole sua mão em um punho gentil ... e observe como o a textura
da sua pele muda ... observe quaisquer comentários que mente faz sobre isso ...
e se concentre em suas juntas ... gire suavemente o punho e observe os contor-
nos e vales do suas juntas ... e agora aperte o punho, e observe o que acontece
com as juntas ... com sua a cor e o sua proeminência ... e então, muito lenta-
mente, abra sua mão, endireite os dedos e observe como suas juntas simples-
153
mente desaparecem ... agora traga sua atenção para uma das unhas ... e observe
a textura da unha ... os diferentes tons de cor ... observe onde ela desaparece
sob a pele ... e a cutícula que que a encobre ali ... e agora, muito lentamente,
muito gentilmente, mexa os dedos para cima e para baixo ... e observe os ten-
dões se movendo sob a pele ... subindo e descendo como pistões e hastes ... e
isso nos leva a pouco mais de cinco minutos.
Cliente: (espantado) Você está brincando? Foram realmente cinco minutos?
Terapeuta: Claro que sim. E foi lento, tedioso, chato?
Cliente: Não. Foi realmente interessante.
Quase todo mundo que faz esse exercício se surpreende não apenas com a rapidez com que o
tempo passa - parece um piscar de olhos — mas também com o quão fascinante é a sua mão.
Agora, analisamos o exercício: "O que você descobriu? O que lhe interessou mais?" Então
podemos perguntar: "Então, qual é a relevância deste exercício para sua vida?" Questionando
nosso cliente — e fornecendo as respostas, se ele não apresentar nenhuma —, agora mostra-
mos (a) como tendemos a tomar as coisas como certas e deixamos de apreciá-las; e (b) como,
quando realmente prestamos atenção, a vida se torna muito mais interessante e gratificante.
Perguntas úteis que podem ser feitas incluem: "O que pode acontecer nos seus relacionamen-
tos mais próximos se você prestar atenção aos seus entes queridos da mesma maneira que
você fez com a sua mão?” "Você estaria disposto a fazer uma tentativa?" "Na próxima vez em
que sentir entediado, estressado, ansioso, ou de alguma outra forma fisgado em sua cabeça,
você estaria disposto a realmente se envolver no que estiver acontecendo, da mesma forma
como você fez com sua mão e observar o que está acontecendo?"
ESTAR PRESENTE E SATISFAÇÃO NA VIDA
Gostamos de estabelecer a conexão entre estar enredado em sua mente e estar perdendo sua
vida. Podemos fazer perguntas aos clientes como estas: "Como é para você passar tanto tempo
preocupado com o futuro ou com as dores do passado?" "É realmente onde você quer gastar
seu tempo?" "O que você perde quando está preso dentro de sua mente?" Podemos salientar
que, embora não possamos impedir nossa mente de trazer lembranças dolorosas do passado
ou de nos contar histórias assustadoras sobre o futuro, podemos aprender a deixar esses pen-
samentos irem e virem, em vez de nos prendermos a eles (ou seja, em vez de nos preocupar-
mos ou ficarmos ruminando os mesmos). Folhas na Correnteza (consulte o capítulo 7) é um
excelente exercício para esse fim.
Além disso, estabeleça que o envolvimento total em sua experiência leva a uma maior satisfa-
ção. O exercício a seguir, Comer uma Uva Passa com Atenção Plena (Kabat-Zinn, 1990),
enfatiza esse ponto com muita força. (Se o seu cliente não gosta de passas, elas podem ser
substituídas por um amendoim ou um pedacinho de chocolate.)
COMENDO UMA UVA PASSA COM ATENÇÃO PLENA
Os três pontos representam pausas de cinco segundos.
Terapeuta: No decorrer deste exercício, todos os tipos de pensamentos e sentimentos irão
surgir. Deixe-os ir e vir, e mantenha sua atenção no exercício. Sempre que você
perceber que sua atenção está se desviando, observe brevemente o que o dis-
traiu e, em seguida, volte sua atenção para a passa.
Pegue uma passa e observe-a como se você fosse um cientista curioso que nun-
ca viu uma passa antes ... Observe a sua forma, as cores, os contornos ... Ob-

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serve que ela não tem apenas uma cor — existem muitas tonalidades diferentes
... Agora coloque-a na palma da sua mãe e observe o peso dela... e a sensação
de sua casca contra os seus dedos ... Aperte-a suavemente e observe sua textura
... Segure-a contra a luz e observe como brilha ... Agora leve-a até o seu nariz e
sinta o seu cheiro ... e agora leve-a até a boca, encoste-a nos lábios e faça uma
pausa por um momento antes de morder. .. E observe o que está acontecendo
dentro de sua boca ... Observe a salivação ... Observe a vontade de morder ... E
em um momento — não faça isso ainda — eu vou pedir para você morder me-
tade, mantendo uma metade e deixando a outra metade cair na sua língua ... E
agora, em movimentos muito lentos, morda a passa ao meio e observe o que
seus dentes fazem ... e deixe a passa ali na sua língua por um momento ... agora
feche os seus olhos, para aprimorar a experiência ... Apenas observe quaisquer
impulsos surgindo ... E então explore suavemente a passa com a língua, perce-
bendo o sabor e a textura ... E agora, com movimentos bem lentos, coma a pas-
sa e observe o que seus dentes fazem ... a sua língua ... as suas mandíbulas ...
observe o sabor e a textura das passas ... os sons da mastigação ... observe on-
de você pode sente a doçura na sua língua ... e quando surgir o desejo de engo-
lir, observe-o por um momento antes de agir com base nele ... quando engolir,
observe o movimento e o som na garganta ... observe onde a língua vai e o que
faz ... depois de engolir, faça uma pausa ... e observe como o sabor vai se des-
vanecendo gradualmente ... mas ainda permanece sutilmente ... e então, no seu
próprio tempo, coma a outra metade da mesma maneira.
Depois, comente e analise o exercício, da mesma forma como fez com o exercício da Atenção
Plena com a Mão. Os clientes geralmente comentam com espanto quanto sabor e gosto há em
uma uva passa e quanta atividade acontece na boca. Pergunte a seu cliente como ele costuma
comer passas e ele provavelmente fará o gesto de colocar um punhado inteiro na boca. Use este
exercício como uma metáfora para vida: quanto mais rica ela é quando estamos atentos e cons-
cientes. Este exercício pode ser muito útil para clientes deprimidos ou disfóricos que reclamam
que não conseguem mais encontrar prazer em atividades que anteriormente eram agradáveis; é
difícil obter prazer ou desfrutar uma atividade se você não está psicologicamente presente (ou
seja, se você estiver fundido com um fluxo contínuo de pensamentos negativos).

OBSERVANDO O COMPORTAMENTO AUTODESTRUTIVO


A maioria dos comportamentos mais impulsivos ou autodestrutivos são motivados pela fusão
e pela esquiva. Os exercícios de atenção plena podem ser projetados para aumentar a auto-
consciência do cliente em relação a aquilo com que ele está se fundindo e ao que está tentando
evitar. Por exemplo, você pode pedir a seus clientes que notem seus pensamentos e sentimen-
tos antes que eles comecem a adotar o comportamento problemático (beber, comer compulsi-
vamente, automutilar-se, jogar e assim por diante). Você pode dizer: "Da próxima vez que
começar a [descreva o comportamento problemático], pare por um momento, respire fundo e
observe seus pensamentos/sentimentos/sensações. Observe os pensamentos ou sentimentos
dos quais você está tentando se livrar ou escapar. Observe quaisquer impulsos. Observe o que
sua mente está lhe dizendo para fazer. "
Os exercícios de atenção plena também podem ser utilizados para romper comportamentos pro-
blemáticos. Os clientes podem ser orientados a observar atentamente a maneira como executam
o comportamento problemático, a observar todos os aspectos em detalhes e, em particular, a
observar quais pensamentos e sentimentos estão presentes enquanto o fazem. Muitas vezes,
simplesmente trazer consciência total ao comportamento já é suficiente para interrompê-lo.

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FOCO RESTRITO versus FOCO AMPLO
Pense se o problema clínico justifica um foco mais amplo ou um foco mais restrito para a
atenção plena. Por exemplo, se os clientes estão propensos a se preocupar e ficar ruminando,
você pode incentivar um foco mais restrito: faça com que eles se envolvam em alguma ativi-
dade relacionada com seus valores e concentrem sua atenção principalmente nessa atividade.
Eles podem permitir que os pensamentos entrem e saiam da consciência periférica, enquanto
repetidamente retornam sua atenção para a própria atividade. Por outro lado, se o problema
for dor crônica, convém incentivar um foco mais amplo. Enquanto a dor é reconhecida e acei-
ta, a consciência é ampliada para abranger os cinco sentidos, o ambiente circundante e a ativi-
dade atual. Desta forma, a dor se torna apenas mais um aspecto de uma experiência que é
muito mais ampla.
Na sessão, geralmente solicitamos aos clientes que se concentrem principalmente em um as-
pecto de sua experiência particular — por exemplo, em seus pensamentos, seus sentimentos
ou em suas sensações. É importante que eles percebam que isso tem como objetivo ensinar a
eles uma habilidade. No mundo da vida cotidiana, a ideia é que, quando pensamentos e senti-
mentos angustiantes surgem, eles podem ser aceitos como apenas um aspecto da consciência
(um artista entre muitos em um palco bem iluminado), em vez de dominar completamente a
consciência (um artista em pé iluminado por um holofote em um palco escuro).

Manter os clientes com a consciência no presente


Ao trabalhar com pessoas que se dissociam facilmente, ou com pessoas que estão no final
extremo do espectro da esquiva da experiência (por exemplo, clientes com transtorno de per-
sonalidade borderline ou transtornos alimentares), geralmente é melhor começar com exercí-
cios focados no mundo externo: pedimos a eles que observem o que eles podem ver, ouvir e
tocar. E se nosso cliente está muito sonolento ou se dissocia facilmente, mantemos esses exer-
cícios curtos, e eles os fazem com os olhos abertos.
Se nosso cliente fica "à deriva" em uma sessão, nós o trazemos de volta: "Parece que te perdi.
Onde está você?" ou "Talvez eu esteja enganado, mas sinto que você não está totalmente pre-
sente no momento. Parece um pouco distante ou preocupado". Ou "Posso entrar em contato
com você por um momento? Percebo que você está olhando para o chão e acho que pode ter
sido fisgado por uma história. Estou certo?" Quando nosso cliente estiver presente novamente,
poderíamos perguntar "Para onde sua mente o levou naquele momento?" ou "Então, como
isso te fisgou?" Podemos aproveitar essas oportunidades para mostrar — com compaixão e
respeito — a facilidade com que nossa mente nos tira de nossa experiência.
Quando nosso cliente fica à deriva no passado ou no futuro — relembrando uma história que
já ouvimos várias vezes — podemos respeitosamente apontar o que está acontecendo e inter-
rompê-lo. Se apenas nos sentarmos, não dissermos nada, e permitirmos que ele divague, não
estaremos ajudando-o ou a nós mesmos — ele está fundido com suas preocupações ou memó-
rias, e está perdendo o presente — e nós estamos ficando entediados ou frustrados, e estamos
perdendo a oportunidade de ajudá-lo a desenvolver uma habilidade útil de atenção plena. Eis
um exemplo:
Cliente: Essa vaca! Eu estou te dizendo. Ainda não consigo acreditar. Não consigo
acreditar — dez malditos anos, eu trabalhando como um cachorro, manhã, tar-
de, noite — enquanto ela está em casa trepando com o vizinho. E então — en-
tão ela tem a cara de pau de pedir a metade da casa
Terapeuta: Desculpe interromper você. Consigo ver quão doloroso isto é para você e tenho
dificuldade em imaginar como você deve estar se sentindo. Ao mesmo tempo

156
me pergunto se você consegue notar o que está acontecendo aqui. Você já me
falou sobre isso várias vezes com bastante detalhes. Tem algo novo ou útil
acontecendo em relação a isso?
Cliente: (Longa pausa) Na verdade não.
Terapeuta: Você consegue perceber como sua mente continua fisgando você nessa ques-
tão? Puxando você de volta para o passado, de volta para toda essa dor. É ali
onde realmente você quer estar agora?
Cliente: Não. Mas não consigo parar de pensar nisso.
Terapeuta: Isto não me surpreende. Isso é algo muito doloroso para você. Você não vai
conseguir colocar um sorriso no rosto e fingir que nunca aconteceu.
Cliente: Isso mesmo. Meus amigos dizem que eu devo superar isso, mas gostaria de ver
o que eles fariam se tivessem passado por isso.
Terapeuta: Que tal isso: em vez de tentar parar os pensamentos, que tal se praticarmos
deixando-os ir e vir em vez de ficarmos apegados aos mesmos?

JOGANDO A ÂNCORA
Em qualquer momento em uma sessão em que nosso cliente pareça estar vivenciando sofri-
mento emocional, é útil entrar em contato com o presente. Por exemplo, "Eu posso ver que
você está angustiado. O que você está sentindo agora? Onde você está sentindo isso?" Em
seguida, podemos entrar em suas sensações físicas e fazer algum trabalho com aceitação. Ou
podemos mudar para a desfusão: peça para ele notar o que está pensando. Ou podemos pedir
que ele entre em contato com o mundo externo: "Preste atenção no que você pode ver e ouvir
ao seu redor neste momento. Veja se você consegue estar realmente presente aqui comigo,
mesmo tendo esse sentimento".
Uma metáfora muito útil para trabalhar com clientes angustiados é a metáfora JOGANDO A
ÂNCORA. Na transcrição abaixo, a cliente tem estado falando sobre a intenção de seu parceiro
em deixá-la e está claramente muito angustiada.
Terapeuta: Esta é uma situação muito estressante, por isso não é surpreendente que você se
sinta perturbada. A questão é que agora você está presa em uma tempestade
emocional. É como se todos esses pensamentos e sentimentos estivessem gi-
rando em torno de seu corpo, arrastando você para lá, para cá, para toda parte.
E você não pode fazer nada de útil até soltar uma âncora.
Cliente: (Falando muito rápido) O que você quer dizer? Não há nada que eu possa fa-
zer. Ele vai me deixar. Ele não vai mudar de ideia agora. Ele tem outra pessoa.
Ele já pegou a maioria das coisas dele. E eu não vou conseguir pagar o aluguel
sozinha. Além disso, está tudo em seu nome: o gás, a luz, o telefone, o ...
Terapeuta: Por favor, desculpe-me por interrompê-la, mas é importante notar o que está
acontecendo aqui. Sua mente está puxando você pra lá e pra cá. Você está sen-
do jogada em uma tempestade de pensamentos e sentimentos e, enquanto isso
acontece, você não consegue pensar nem agir com eficácia. Há uma coisa que
você precisa fazer antes de qualquer outra coisa: você precisa jogar a âncora,
você precisa ancorar-se.
Cliente: Como assim?
Terapeuta: Ok. Empurre seus pés em direção ao solo. Sinta o chão abaixo de você. Agora

157
sente-se em sua cadeira e observe como está sentada. E olhe ao redor da sala e
observe o que você pode ver. Observe o que você pode ouvir. Observe o que
você está fazendo agora — observe que você e eu estamos nesta sala conver-
sando um com o outro. Agora respire fundo algumas vezes e veja se consegue
respirar para "dentro" de seus pés. Mantenha os pés pressionados firmemente
no chão. Observe como sua mente continua tentando empurrar você para algum
outro lugar, e veja se você consegue permanecer presente. Observe a sala ao
seu redor. Observe o que estamos fazendo aqui, agora.
Quando um cliente vem para a sessão em crise ou fica altamente excitado emocionalmente
durante uma sessão, essas são oportunidades valiosas para ensiná-lo a se aterrar: um primeiro
passo essencial para responder efetivamente ao desafio que está enfrentando.

TAREFA DE CASA E A PRÓXIMA SESSÃO


A tarefa de casa é praticar estar presente. Você pode pedir a seu/sua cliente para realizar qual-
quer atividade de forma consciente: lavar a louça, brincar com os filhos, dirigir o carro, fazer
jardinagem, malhar na academia, tomar banho, passar roupa, escovar os dentes, colocar o lixo
para fora, fazer o almoço ou o jantar, ouvir música, alongar-se, andar, correr, dançar, cantar,
comer, beber, conversar, fazer a barba, fazer amor, fazer uma xícara de chá e assim por dian-
te. Aqui estão algumas das coisas que geralmente peço aos clientes fazerem:
■ Pratique dez a vinte minutos de respiração consciente todos os dias. (Isso é muito mais
fácil para o seu cliente, se ele tiver um áudio para praticar. Se você achar apropriado,
você pode facilmente gravar seus próprios áudios : um simples gravador de MP3 é tu-
do o que você precisa no seu computador. Pode não ter a mesma qualidade de som de
um áudio gravado profissionalmente, mas seus clientes não vão se importar nem um
pouco. O som da sua voz terá um significado especial para eles.)
■ Pratique de cinco a dez respirações conscientes, lentas e profundas em todas as opor-
tunidades ao longo do dia (por exemplo, nos semáforos, nas filas dos supermercados,
durante os intervalos comerciais na TV, etc.).
■ Pratique uma breve técnica de centramento (a) sempre que você sentir que está come-
çando a "divagar/ dissociar /se perder" (b) sempre que entrar em uma situação estres-
sante, (c) em todas as oportunidades ao longo do dia (por exemplo, nos semáforos, nas
filas de supermercados, durante os intervalos comerciais na TV, etc.)
Você também pode fornecer a seus clientes uma cópia dos textos Prática Informal de Atenção
Plena, Maneiras Simples de Estar Presente ou a Folha de Práticas de Respiração Consciente,
que você encontrará no final deste capítulo.
Nos protocolos tradicionais, o trabalho sobre estar presente é seguido pelo trabalho com o eu
contextual. Em outros protocolo, é seguido por um trabalho mais explícito em torno de valo-
res e ação comprometida. Estar presente é, obviamente, essencial para ações baseadas em
valores como conectar-se e cuidar, amar e nutrir, apreciação e gratidão e obtenção de alto de-
sempenho.

TAREFA DE CASA PARA VOCÊ


■ Leia todos os exercícios, metáforas e componentes da psicoeducação em voz alta, co-
mo se estivesse conduzindo um cliente através dos mesmos.
■ Faça uma revisão dos casos de dois ou três clientes e identifique quando e como eles
perdem o contato com o momento presente: preocupando-se, ruminando, dissociando-
158
se, usando drogas e álcool e assim por diante. Então faça o mesmo com você. Em par-
ticular, observe como você "viaja" durante as sessões de terapia: como sua mente afas-
ta você do cliente? Com que frequência você fica pensando no que vai fazer depois ou
julgando a si mesmo ou a seu cliente?
■ Pratique as atividades descritas na Prática Informal de Atenção Plena (vide abaixo) e
observe o que acontece. Esta é uma informação valiosa para você, pois, quaisquer que
sejam as questões com que você se debate, seus clientes também se debatem. E se vo-
cê não fizer os exercícios, observe como sua mente o impediu de fazê-los: quais foram
as histórias que você contou para si mesmo ? Será que foi uma das seguintes: estou
muito ocupado, muito cansado, não posso ser incomodado, não é importante, vou fa-
zer isso mais tarde, por que eu deveria fazer isso, isso é muito difícil, eu já conheço
essas coisas?
■ Invente algumas práticas de atenção plena próprias. O que você tem em seu consultó-
rio que pode se tornar um "X" a ser observado?

RESUMO
O contato com o momento presente está no cerne da atenção plena e, naturalmente, desempe-
nha um papel importante em todas as sessões de ACT. Para facilitar esse processo, a instrução
básica que damos aos nossos clientes é o "observe X", onde X é qualquer coisa que esteja
aqui neste momento. O contato com o momento presente está implícito tanto na desfusão
quanto na aceitação: o primeiro passo para desfundir-se de um pensamento ou aceitar um sen-
timento é notá-lo.
É claro que, às vezes, consideramos que nossa vida melhora sua qualidade quando, por assim
dizer, "escapamos do momento presente" através de devaneios, fantasias, romances e filmes.
No entanto, de modo geral, quanto mais pudermos estar em contato com nossa experiência
aqui e agora, mais efetivamente poderemos agir e mais satisfatória a vida se tornará.

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PRÁTICAS INFORMAIS DE ATENÇÃO PLENA
1. Atenção Plena em Sua Rotina Matinal
Escolha uma atividade que faça parte de sua rotina matinal diária, como escovar os
dentes, fazer a barba, arrumar a cama ou tomar um banho. Ao fazer uma destas ativi-
dades, concentre a sua atenção de forma total no que está fazendo: os movimentos do
corpo, o paladar, o toque, o cheiro, a visão, o som e assim por diante. Observe o que
está acontecendo com uma atitude de abertura e curiosidade. Por exemplo, quando vo-
cê estiver tomando banho, observe os sons da água quando ela sai do chuveiro, quando
ela atinge seu corpo e quando ela é absorvida pelo ralo. Observe a temperatura da água
e a sensação dela em seus cabelos, ombros e descendo pelas costas, peito, pernas e
pés. Observe o cheiro do sabonete e do xampu e a sensação deles na sua pele. Observe
a visão das gotas de água nas paredes ou na cortina do chuveiro, a água escorrendo pe-
lo seu corpo e o vapor subindo. Observe os movimentos de seus braços enquanto você
lava, esfrega ou passa xampu.
Quando surgirem pensamentos, tome consciência deles e deixe-os ir e vir como carros
que estão passando. De novo e de novo, você será fisgado pelos seus pensamentos.
Assim que você perceber que isso aconteceu, gentilmente reconheça isso, observe qual
foi o pensamento que o distraiu e volte a focar a sua atenção no chuveiro.

2. Atenção Plena nas Tarefas Domésticas


Escolha uma atividade como passar roupa, lavar a louça, aspirar o chão — algo mun-
dano que você precisa fazer para que sua vida funcione — e faça-o com atenção. Por
exemplo, ao passar roupas, observe a cor e a forma das roupas, o padrão criado pelas
dobras e amassados e o novo padrão conforme as dobras e os amassados desaparecem.
Observe o assobio do vapor, o rangido da tábua de passar roupa, o som suave do ferro
se movendo sobre o material. Observe o aperto da sua mão no ferro e o movimento do
seu braço e do seu ombro.
Se surgir tédio ou frustração, basta reconhecê-lo e voltar sua atenção para a tarefa em
questão. Quando os pensamentos surgirem, reconheça-os, deixe-os existir e volte sua
atenção ao que você está fazendo. De novo e de novo, sua atenção irá se desviar. As-
sim que perceber que isso aconteceu, reconheça-o gentilmente, observe o que o dis-
traiu e volte sua atenção para sua atividade atual.

3. Atenção nas Tarefas e Atividades Prazerosas


Escolha uma atividade que você goste, como abraçar um ente querido, almoçar, acari-
ciar o gato, brincar com o cachorro, passear no parque, ouvir música, tomar um banho
relaxante e assim por diante. Faça esta atividade com atenção: envolva-se plenamente
na mesma, usando todos os cinco sentidos, e saboreie cada momento. Se e quando sua
atenção vagar, assim que você perceber, observe o que o distraiu e volte a focar sua
atenção no que estiver fazendo.

160
MANEIRAS SIMPLES DE MANTER-SE PRESENTE
Faça 10 Respirações
Este é um exercício simples para se concentrar e se conectar ao seu ambiente. Pratique-o ao
longo do dia, especialmente quando você se vê envolvido em seus pensamentos e sentimen-
tos:
1. Faça dez respirações lentas e profundas. Concentre-se em expirar tão lentamente
quanto possível até que seus pulmões estejam completamente vazios — e depois per-
mita que eles voltem a se encher sozinhos.
2. Observe as sensações de seus pulmões esvaziando. Observe-os se enchendo. Observe
sua caixa torácica subindo e descendo. Observe o suave ascensão e queda de seus om-
bros.
3. Veja se você pode deixar seus pensamentos ir e vir como se fossem apenas carros que
estão passando do lado de fora de sua casa.
4. Expanda sua consciência: observe simultaneamente sua respiração e seu corpo. Então
olhe ao redor da sala e observe o que você pode ver, ouvir, cheirar, tocar e sentir.

Soltar âncora
Este é outro exercício simples para se concentrar e se conectar com o mundo ao seu redor.
Pratique-o ao longo do dia, especialmente quando você se vê envolvido em seus pensamentos
e sentimentos:
1. Coloque os pés firmemente no chão.
2. Empurre-os para baixo — observe o chão embaixo de você, sustentando-o.
3. Observe a tensão muscular nas pernas ao empurrar os pés para baixo.
4. Observe todo o seu corpo — e a sensação de gravidade fluindo pela cabeça, coluna e
pernas para os pés.
5. Agora olhe ao redor e observe o que você pode ver e ouvir ao seu redor. Observe onde
você está e o que está fazendo.

Observe 5 coisas
Este é mais um exercício simples para se concentrar e se envolver com o seu ambiente. Prati-
que-o ao longo do dia, especialmente quando você se sentir fisgado pelos seus pensamentos e
sentimentos:
1. Faça uma pausa por um momento.
2. Olhe em volta e observe cinco coisas que você pode ver.
3. Ouça com atenção e observe cinco coisas que você pode ouvir.
4. Observe cinco coisas que você pode sentir em contato com seu corpo (por exemplo,
seu relógio contra o pulso, as calças contra as pernas, o ar no rosto, os pés no chão, as
costas contra a cadeira).
5. Finalmente, faça todas as opções acima simultaneamente.

161
PLANILHA PRÁTICA DE RESPIRAÇÃO CONSCIENTE
A prática da respiração consciente permite que você desenvolva várias habilidades: a capaci-
dade de se concentrar e se envolver no que está fazendo; a habilidade de deixar seus pensa-
mentos irem e virem sem ser fisgado por eles; a capacidade de retomar o foco quando você
perceber que está distraído; e a capacidade de deixar que seus sentimentos sejam como são
sem tentar controlá-los. Mesmo apenas cinco minutos de prática por dia podem fazer a dife-
rença ao longo do tempo. Dez minutos duas vezes por dia ou vinte minutos uma vez por dia é
ainda melhor.

Planilha PRÁTICA DE RESPIRAÇÃO CONSCIENTE


Data/Hora Pensamentos e senti- Foi utilizada uma grava- Benefícios e/ou
Quanto tempo eu prati- mentos difíceis ou aver- ção para auxiliar Dificuldades
quei (em minutos) sivos que apareceram Sim/não

162
CAPÍTULO 10

Consciência Pura
O EU-COMO-CONTEXTO DE FORMA RESUMIDA
Em Linguagem Simples: O Eu-como-contexto não é um pensamento ou sentimento, mas um
"ponto de vista" do qual podemos observar pensamentos e sentimentos, e um "espaço" no qual
esses pensamentos e sentimentos podem se mover. Nós acessamos esse "espaço psicológico" per-
cebendo que estamos percebendo ou nos tornando conscientes de nossa própria consciência. É um
"lugar" do qual podemos observar nossa experiência sem ficarmos presos ou enredados nela.
"Consciência pura" é um bom termo alternativo, porque é tudo o que isso é: consciência de nossa
própria consciência..
Objetivo: Conectar-se a um sentido transcendente de si mesmo, separado dos pensamentos e sen-
timentos, e que fornece um ponto de vista seguro e constante a partir do qual observá-los e aceita-
los. Para ajudar as pessoas a parar de fugir de sua dor, ajudamo-las a experienciar que existe um
"lugar interno" onde, por maior que seja a dor, esta não pode prejudicá-las.

Sinônimos: Eu-como-perspectiva, eu observador, eu que nota, eu silencioso, consciência pura, eu


transcendente.

Método: Qualquer prática continuada de atenção plena geralmente leva a um sentido de eu-como-
contexto. Isso é aprimorado por exercícios que explicitamente direcionam a atenção para a nossa
própria consciência.

Quando usar: Para facilitar a aceitação, quando o cliente tem medo de ser prejudicado por suas
próprias experiências internas; para facilitar a desfusão quando o cliente está excessivamente ape-
gado ao eu conceitual; para facilitar a escolha consciente e a ação eficaz, fornecendo um espaço
no qual pensamentos e sentimentos não controlam as ações.

Três Sentidos do Eu
Embora existam muitas maneiras pelas quais podemos falar sobre o eu, a ACT tradicional-
mente se concentra em três sentidos do eu: o eu conceitual, o eu-como-percepção e o eu-
como-contexto. (Esses não são termos que usamos com nossos clientes. Quando você lê livros
que ensinam a ACT, pode ficar um pouco confuso, pois autores diferentes usam terminologia
diferente; portanto, aqui vou utilizar os termos mais usados comumente.)
 O eu conceitual: todas as crenças, pensamentos, ideias, fatos, imagens, julgamentos,
memórias etc. que formam meu autoconceito, que descrevem "quem eu sou" como
pessoa: minha autodescrição. A fusão com esses pensamentos leva a um senso de eu-
como-descrição: Eu sou meus pensamentos!
 O eu-como-percepção: o processo contínuo de perceber nossa experiência, entrando
em contato com o momento presente.
 O eu-como-contexto: o local/espaço de onde a observação acontece; perspectiva/ponto
de vista a partir do qual a observação acontece; "eu" que percebe o que está sendo per-
cebido a qualquer momento.

163
A METÁFORA DA LÂMPADA DE FENDA
Uma metáfora adaptada do budismo ilumina esses três sentidos do eu. Imagine entrar em um
quarto escuro como breu. Em suas mãos você tem uma lâmpada de fenda. Você abre a fenda e
um feixe de luz dispara e ilumina parte da sala, revelando uma cadeira, uma cama e uma me-
sa. Os móveis são como o seu eu conceitual. O feixe de luz é como o processo contínuo de
perceber (eu-como-percepção). Quando a luz brilha em diferentes partes da sala, diferentes
móveis são revelados: uma mesa, um guarda-roupa, uma cômoda. Mas onde quer que a luz
brilhe, o que quer que ela ilumine e revele, o feixe de luz sempre vem da mesma fonte, do
mesmo local: a própria lâmpada. A lâmpada é como o eu-como-contexto.

O Eu Observador Está Implícito na Atenção Plena


René Descartes, em sua famosa declaração, disse: "Penso, logo existo", mas quem é o "eu"
que percebe todo esse pensamento? Na ACT, frequentemente nos referimos a esse "eu" como
o "eu observador", e o eu observador está implícito em toda a atenção plena. Se a instrução
básica da atenção plena é "observe X", isso implica que há um local ou uma perspectiva a
partir da qual X é percebido. E esse local ou perspectiva nunca muda. Observo meus pensa-
mentos, observo meus sentimentos, observo meu corpo, observo o mundo fora do meu corpo
— e até observo meu próprio observar. Então o que está sendo observado — X — muda con-
tinuamente. Mas o local ou a perspectiva a partir do qual a observação acontece, em si mes-
ma, nunca muda: ao longo da vida, tudo é sempre percebido a partir de um local ou perspecti-
va de eu/aqui/agora.
Não seria surpreendente se você estiver tendo dificuldades em entender isso, porque o eu ob-
servador é uma experiência além de todas as palavras. Quaisquer que sejam as palavras que
usamos para descrevê-lo, quaisquer que sejam as imagens que criamos, quaisquer que sejam
as crenças ou conceitos que formulamos sobre isso— eles não são isso! Ele é o aspecto de nós
que nota ou observa todas as palavras, imagens, crenças e conceitos que usamos para tentar
descrevê-lo. Mesmo chamá-lo de "isso" é um problema, porque quando você rotula algo como
"isso", você está tratando "isso" como se fosse um objeto. E, no entanto, esse eu observador
não pode ser um objeto, pois "ele" não possui propriedades físicas.
O mais próximo que podemos chegar dessa experiência na linguagem é através de metáforas.
As metáforas geralmente se referem a ele como um "espaço" no qual pensamentos e senti-
mentos se movem, ou uma "perspectiva" a partir da qual pensamentos e sentimentos são ob-
servados. Uma excelente metáfora (que pode ser encontrada no budismo, no taoísmo e no
hinduísmo) compara o eu observador ao céu. Você pode usar essa metáfora em conversação
com seus clientes, mas eu prefiro entregá-la no final de um exercício de atenção plena, tal
como descrito abaixo:
A METÁFORA DO CÉU E DO TEMPO
Terapeuta: Seu eu observador é como o céu. Pensamentos e sentimentos são como o tem-
po ou clima. O clima muda continuamente, mas, por pior que seja, não pode
prejudicar o céu de forma alguma. A tempestade mais forte, o furacão mais
turbulento, a nevasca invernal mais severa — essas coisas não podem ferir ou
prejudicar o céu. E não importa o quão ruim seja o clima, o céu sempre tem es-
paço para ele — e mais cedo ou mais tarde o tempo sempre muda.
Agora, às vezes, podemos esquecer que o céu está lá, mas ele ainda está lá. E
às vezes não conseguimos ver o céu — ele pode estar obscurecido pelas nu-
vens. Mas se nos elevarmos o suficiente acima dessas nuvens — mesmo as
mais densas, mais escuras nuvens de trovoada — mais cedo ou mais tarde che-

164
garemos ao céu claro, e o veremos se estendendo em todas as direções, ilimita-
do e puro. Cada vez mais você pode aprender a acessar essa parte de você: um
espaço seguro dentro do qual você pode observar e abrir espaço para pensa-
mentos e sentimentos difíceis.

ALCANÇANDO O EU-COMO-CONTEXTO
Nos protocolos tradicionais da ACT, o eu observador é introduzido depois de várias sessões sobre
desfusão, aceitação e momento presente. No entanto, como em todos os seis processos principais,
podemos incluir o eu-como-contexto em qualquer sessão. Nos últimos anos, tenho introduzido
cada vez mais esse conceito desde o início da terapia ativa, usando o conceito do eu pensador e do
eu observador (Harris, 2007). Antes de continuar lendo, refresque sua memória sobre esse con-
ceito, retornando ao capítulo 4 e relendo a seção intitulada O Eu Pensador e o Eu Observador.
Se seguirmos um protocolo tradicional do ACT, vamos introduzir o eu-como-contexto depois de
várias sessões focadas em desfusão, aceitação e estar presente. Podemos dizer: "Então você está
fazendo todos esses exercícios de atenção plena — percebendo pensamentos, percebendo senti-
mentos, notando a respiração e assim por diante. Qual é essa parte de você que faz todos esse tra-
balho de observação? Na verdade, não temos um nome para isso em nossa linguagem cotidiana.
Na ACT, nós o chamamos de eu que nota ou eu observador. E se você estiver aberto a isso, gosta-
ria de conduzir você em um exercício agora para que possa ter uma conexão mais profunda com
essa parte de você."
Outra metáfora útil para introduzir o eu-como-contexto é a do Tabuleiro de Xadrez (Hayes et al.,
1999).

A METÁFORA DO TABULEIRO DE XADREZ


Terapeuta: Imagine um tabuleiro de xadrez, onde as peças brancas são todos os seus pensa-
mentos e sentimentos positivos e as peças pretas são todos os seus pensamentos e
sentimentos negativos. Passamos a vida tentando desesperadamente mover nossas
peças brancas e nos livrar de todas as peças pretas. Mas há um problema — há um
número infinito de peças brancas e pretas. Não importa de quantas peças pretas
você consiga se livrar, mais irão aparecer. Além disso, as peças brancas atraem pe-
ças pretas. Você avança a peça branca "Eu sou uma boa mãe", e ela imediatamente
atrai a peça preta "Não, você não é. Lembra da forma como você gritou com seus
filhos na noite passada". Podemos passar a vida, desperdiçando muito tempo e
energia, tentando vencer esta batalha que nunca pode ser vencida. Ou podemos
aprender a ser mais parecidos com o tabuleiro de xadrez. O tabuleiro está em con-
tato íntimo com todas as peças, mas não está envolvido na batalha. Há uma parte
de nós que funciona como este tabuleiro de xadrez. Na ACT, chamamos isso de eu
observador. Ele nos permite sair da batalha com nossos pensamentos e sentimen-
tos, dando-lhes muito espaço para se movimentar.

Exercícios Vivenciais
Depois de introduzirmos o eu-como-contexto através da metáfora, há muitos exercícios vi-
venciais que podemos usar. Você se lembra da instrução básica de atenção plena — "observe
X"? Para facilitar o eu-como-contexto, X se torna sua própria consciência — isto é, você ob-
serva o seu observar, ou percebe sua percepção, ou nota sua consciência. Podemos facilitar
isso adicionando instruções simples a qualquer exercício de atenção plena, tais como "observe
quem está percebendo" ou "esteja consciente de que você está percebendo". O exercício a
seguir ilustra isso.
165
LÁ VÃO OS SEUS PENSAMENTOS ...
Este exercício é simplesmente uma extensão de Observe Seus Pensamentos, a técnica de des-
fusão introduzida no capítulo 7.
Terapeuta: Encontre uma posição confortável e feche os olhos. Agora observe: onde estão
seus pensamentos? ... Onde eles parecem estar localizados: acima de você,
atrás de você, na sua frente, em um lados? (Faça uma pausa de 5 segundos.) E
observe a forma desses pensamentos: eles são figuras, palavras ou sons? (Pau-
sa de 5 segundos.) E observe — eles estão se movendo ou estão parados? ... E
se estiverem em movimento, qual é sua velocidade e qual é a sua direção?
(Pausa de 10 segundos.) Observe que temos dois processos separados aconte-
cendo aqui: há um processo de pensamento — seu eu pensador está gerando
todo tipo de palavras e imagens — e há um processo de observar — seu eu ob-
servador está observando e percebendo todos esses pensamentos. (Faça uma
pausa de 5 segundos.)
Talvez isso deixe sua mente zunindo, se debatendo e analisando, então vamos
fazê-lo novamente. Observe: onde estão seus pensamentos? ... São imagens ou
palavras, estão em movimento ou imóveis? (Pausa de 10 segundos.) Lá vão
seus pensamentos — e lá está "você", observando esses pensamentos. Seus
pensamentos continuam mudando. O "você" que os observa não muda.
Agora, mais uma vez, isso faz sua mente zunir, se debater e analisar, então va-
mos fazer isso uma última vez. Observe: onde estão seus pensamentos? ... São
imagens ou palavras, estão em movimento ou imóveis? ... (Pausa de 10 segun-
dos.) Lá vão seus pensamentos — e lá está "você", observando-os. Seus pen-
samentos mudam; você não.

OBSERVANDO O SHOW NO PALCO


Outro exercício útil é Observando o Show no Palco. Não irei reproduzi-lo aqui, pois é composto
pelas seções 1 e 2 do Exercício do Hexaflex, exatamente como transcrito no capítulo 4. Volte e
releia-o agora antes de continuar.
Você pode usar o Observando o Show no Palco como introdução a qualquer exercício de aten-
ção plena, como a Atenção Plena na Respiração, Folhas na Correnteza ou Comer uma Uva
Passa com Atenção Plena. Isso estabelece as bases para uma exploração mais profunda poste-
riormente. A Metáfora do Show no Palco mostra-se também uma conclusão útil para qualquer
exercício de atenção plena, como na seção 8 do Exercício de Aceitação de Emoções (consulte
o capítulo 8). Novamente, volte e releia agora antes de continuar.
Você também pode vincular essa metáfora ao trabalho anterior de desfusão e aceitação: pen-
samentos e sentimentos são como artistas no show, dando o seu máximo para obter toda a sua
atenção — e se você não tomar cuidado, eles irão agarrar você e o puxá-lo para cima, para o
palco (fusão). Desfusão e aceitação são como descer do palco para que você possa assistir o
show inteiro.

OBSERVE QUEM ESTÁ OBSERVANDO


Uma maneira simples de trazer o eu-como-contexto para dentro de qualquer exercício de
atenção plena é incluir uma instrução como "E enquanto você observa sua respiração/seus
pensamentos/essa sensação em seu peito/o gosto da passa na sua língua, tome um momento
166
para perceber quem está percebendo." As variantes podem incluir: "Esteja ciente de que você
está percebendo" ou "Reconheça que há um 'você' lá dentro — um 'você' atrás de seus olhos
que está percebendo tudo isso" ou "Há X e você está percebendo X".

FALAR E ESCUTAR
Eis mais um exercício ultrarrápido.
Terapeuta: Durante os próximos trinta segundos escute silenciosamente o que sua mente está
dizendo. E se seus pensamentos pararem, apenas continue a escutar até que eles
recomecem. (Pausa de 30 segundos) Agora você pode perceber mais claramente:
há uma parte da sua mente que fala — o eu pensador — e uma parte da sua mente
que escuta — o eu observador.

Dica Prática: Suponha que seu cliente diga: "Não entendi. Não me parece que eu
tenha um eu observador. Eu só fico pensando." Nestes casos você pode responder
(com pausas adequadas entre cada pergunta): "Você pode se observar me dizendo
isso? ... Você consegue notar seus sentimentos de confusão? ... Você consegue notar
as sensações dessa carranca na sua testa? ... Você consegue perceber todos os seus
pensamentos sobre não conseguir fazer isso? ... Você consegue me notar falando com
você? ... Você consegue notar o que está pensando agora sobre as minhas respostas?
Ok, então há uma parte sua que percebe tudo. É isso — esse é o eu observador."

O "VOCÊ" CONTÍNUO
O que se segue é uma versão muito reduzida do exercício "clássico" do observador de Hayes
e colegas (1999), conhecido como o exercício do "você contínuo" (por razões que em breve
serão óbvias). Este exercício pode inicialmente parecer complexo, mas é basicamente com-
posto por apenas quatro instruções:
1. Observe X.
1. Há X — e há você percebendo X.
3. Se você pode observar X, você não pode ser X.
4. X muda continuamente; o você que percebe X não muda.
X pode incluir alguns ou todos os seguintes itens: sua respiração, seus pensamentos, seus sen-
timentos, seu corpo físico, os papéis que você desempenha. Com a maioria dos clientes, eu
aplico o exercício inteiro de uma só vez, o que leva cerca de quinze minutos, mas você pode
dividi-lo em seções menores e analisá-las à medida que avança. Eu sempre concluo este exer-
cício com a Metáfora do Céu e do Tempo, que geralmente costuma causar um forte impacto.
Terapeuta: Convido você a sentar-se ereto, com os pés apoiados no chão. Fixe seus olhos
em algum ponto ou feche-os ... Observe a respiração fluindo para dentro e para
fora de seus pulmões ... observe o ar entrando pelas narinas ... descendo para os
pulmões ... e voltando a sair ... E enquanto faz isso, mantenha-se consciente de
que está observando ... lá vai a respiração ... e aí está você percebendo. (Pausa
de 5 segundos). Se você consegue notar sua respiração, você não pode ser sua
respiração. (Pausa de 5 segundos.) Sua respiração muda continuamente ... às
vezes ela é mais superficial, às vezes mais profunda ... às vezes rápida, às vezes
lenta ... mas a parte de você que percebe a respiração não muda. (Pausa de 5
167
segundos.) E quando você era criança, seus pulmões eram muito menores ...
mas o você que podia perceber sua respiração quando criança é o mesmo você
quando adulto.
Talvez isso deixe sua mente zunindo, analisando, filosofando, debatendo ... En-
tão, dê um passo para trás e observe: Onde estão seus pensamentos? ... Onde
eles parecem estar localizados? .... Eles estão se movendo ou estão imóveis? ...
São imagens ou palavras? ... (Pausa de 5 segundos.) E quando percebe seus
pensamentos, mantenha-se consciente de que você está percebendo ... lá vão
seus pensamentos ... e aí está você está percebendo. (Pausa de 5 segundos.) Se
você consegue perceber seus pensamentos, você não pode ser seus pensamen-
tos. (Pausa de 5 segundos.) Seus pensamentos mudam continuamente ... às ve-
zes são verdadeiros, às vezes são falsos ... às vezes são positivos, às vezes são
negativos ... às vezes são alegres, às vezes são tristes ... mas aquela parte de
você que nota e observa seus pensamentos não muda. (Pausa de 5 segundos.) E
quando você era criança, seus pensamentos eram muito diferentes dos que você
tem hoje ... mas o você que percebia seus pensamentos quando criança é o
mesmo você que os percebe como adulto. (Pausa de 5 segundos.)
Mas eu não espero que sua mente concorde com isso. Na verdade, o que espero é
que durante todo o restante deste exercício sua mente debata, analise, ataque ou
intelectualize o que eu disser; portanto, veja se você consegue deixar esses pen-
samentos ir e vir como se fossem carros passando e se envolva no exercício, por
mais que sua mente tente lhe afastar do mesmo. (Pausa de 5 segundos.)
Agora observe seu corpo na cadeira ... (Pausa de 5 segundos) E, enquanto faz
isso, esteja consciente de que você está percebendo ... lá está seu corpo ... e aí
está você percebendo. (Pausa de 5 segundos.) Não é o mesmo corpo que você
tinha como bebê, como criança ou como adolescente ... Você pode ter elimina-
do ou implantado partes ... Você tem cicatrizes e rugas, verrugas ou, manchas
... não é mais a mesma pele que você tinha em sua juventude, isso é certo ...
Mas a parte de você que pode observar seu corpo nunca muda. (Pausa de 5 se-
gundos.) Quando criança, quando você se olhava no espelho, seu reflexo era
muito diferente do que é hoje ... mas o você que percebia seu reflexo é o mes-
mo você que percebe seu reflexo hoje. (Pausa de 5 segundos.)
Agora, faça um escaneamento rápido de seu corpo desde a cabeça até os pés e ob-
serve os diferentes sentimentos e sensações ... escolha qualquer sensação que
atraia seu interesse ... e observe-a com curiosidade ... observe onde ela começa e
onde termina ... quão profundo ela vai ... qual é a sua forma ... sua temperatura ... E
enquanto você observa essa sensação ... esteja consciente de que você está perce-
bendo ... existe a sensação ... e aí você está observando. (Pausa de 5 segundos.) Se
você consegue notar ou observar essa sensação, você não pode ser essa sensação.
(Pausa de 5 segundos) Seus sentimentos e suas sensações mudam continuamente
... às vezes você se sente feliz, às vezes se sente triste ... às vezes se sente saudável,
às vezes se sente doente ... às vezes se sente estressado, às vezes relaxado ... mas a
parte de você que percebe seus sentimentos não muda. (Pausa de 5 segundos.) E
quando você está com medo, com raiva ou triste em sua vida hoje ... você que per-
cebe esses sentimentos são os mesmos que você percebia quando era criança.
Agora observe o papel que você está desempenhando neste momento ... e, ao fazer
isso, esteja consciente de que você está observando ... exatamente agora, você está
desempenhando o papel de um cliente ... mas seus papéis mudam continuamente

168
... às vezes você está no papel de mãe/pai, filho/filha, irmão/irmã, amigo, inimigo,
vizinho, rival, estudante, professor, cidadão, cliente, trabalhador, empregador, em-
pregado, etc. (Pausa de 5 segundos.)
Se você consegue perceber esse papéis, não pode ser esses papeis. (Pausa de 5
segundos.) E existem alguns papéis que você nunca mais poderá ter ... como o
papel de uma criança pequena (Pausa de 5 segundos.) Mas aquele você que
percebe seus papéis não muda ... É o mesmo você que conseguia perceber seus
papéis, mesmo quando você era muito jovem.
Não temos um bom nome na linguagem cotidiana para esse aspecto de você ...
Vou chamá-lo de eu observador, mas você não precisa chamá-lo assim ... você
pode chamá-lo como quiser ... e esse eu observador é como o céu. (Termine o
exercício com a Metáfora do Céu e do Tempo.)
Versões mais longas deste exercício exercício levam o cliente de volta a várias memórias de
diferentes períodos de sua vida e tem como objetivo ajudá-lo a se dar conta de que, em cada
um desses casos, o eu observador estava presente quando a memória era "gravada".
Muitos clientes consideram esse exercício como uma experiência espiritual profundamente
tocante. É melhor não analisá-lo posteriormente ou você corre o risco de intelectualizá-lo.

Incrementando a Desfusão e a Aceitação


Conforme mencionado nos capítulos 7 e 8, depois de introduzir o eu observador, você pode
trazê-lo para as sessões como uma breve intervenção para incrementar a desfusão e a aceita-
ção: "Veja se você pode dar um passo atrás e observar esse pensamento/sentimento a partir do
eu observador ". Você pode ver isso na transcrição a seguir, da quarta sessão, realizada após o
trabalho com desfusão, aceitação e eu-como-contexto. A cliente, uma mulher de meia idade,
quer dizer ao filho de 26 anos para sair de casa.
Cliente: (parecendo pálida, tensa, agitada e ansiosa) Não sei se vou conseguir fazer
isso. Eu quero, ... eu quero que ele saia de casa ... Já tive o suficiente dele ...
mas ... me sinto tão ... bem, sou a mãe dele, não sou? Oh Deus. Eu não suporto
esse sentimento.
Terapeuta: Dê um passo atrás por um momento e veja se consegue enxergar isso a partir
do seu eu observador ... Observe todos os pensamentos zunindo na sua cabeça
... e todos esses sentimentos girando em seu corpo ... e observe o seu corpo
sentado na cadeira ... observe a sala ao seu redor ... o que você pode ver e ouvir
... incluindo eu, sentado aqui ... Há um show inteiro acontecendo aqui — e há
uma parte de voce, um eu observador, que é capaz de perceber e observar esse
show ... Dessa perspectiva, observe esse sentimento em seu corpo ... e reconhe-
ça que ele é apenas mais um ator no palco. Agora, sua mente lhe diz que você
não consegue suportar esse sentimento, mas quando você olha para ele a partir
do eu observador, será que é realmente esse o caso?
Cliente: Não. Quando olho para ele dessa forma, é um pouco mais fácil.
Terapeuta: Mais fácil de criar espaço para ele?
Cliente: Sim.
A sessão agora se volta para uma exploração dos seus valores como mãe. Isso revela que
pedir ao filho que saia de casa está a serviço de incentivar sua independência, ajudando-o a
"crescer" e criando um ambiente doméstico propício para uma maior intimidade com seu

169
marido. Cerca de dez minutos depois, o terapeuta volta a focar no eu observador.
Terapeuta: Posso, por alguns momentos apenas, colocar você em contato novamente com
seu eu observador? (A cliente concorda.) Então, mais uma vez, dessa perspec-
tiva, observe os pensamentos que passam pela sua mente ... e observe os senti-
mentos que surgem no seu corpo ... e observe que o show que acontece no pal-
co mudou há alguns minutos atrás .. mas o você que está observando esse show
não mudou.
O terapeuta realiza esse breve exercício mais uma vez perto do final da sessão e pergunta à
cliente:
Terapeuta: Gostaria de saber se você está disposta a fazer esse exercício duas ou três vezes
por dia — basta só um momento para dar um passo atrás e observar o show no
palco. Observe que ele está mudando o tempo todo — há uma procissão inter-
minável de novos pensamentos e sentimentos exibindo suas coisas no palco. E,
ao fazer isso, observe que a parte de você que percebe o show — o eu observa-
dor — nunca muda.

DEIXE QUE SEU EU SE VÁ


Os clientes costumam dizer: "Não tenho autoestima" ou "Quero aumentar minha autoestima".
Embora existam diferentes constructos de autoestima, o conceito mais popular de longe é este:
Autoestima = Pensar positivamente sobre si mesmo.
Certamente, a maioria dos programas de autoestima enfatiza muito a tentativa de se julgar
positivamente, concentrando-se em seus pontos fortes e tentando reduzir ou eliminar autojul-
gamentos negativos. No entanto, do ponto de vista da ACT, a fusão com uma autodescrição
provavelmente criará problemas, positivos ou negativos. A transcrição a seguir deixa isso
claro.

O EXERCÍCIO DO EU BOM / EU RUIM


Cliente: Mas uma autoestima elevada é boa, não é?
Terapeuta: Bem, você tem três filhos pequenos, certo?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Então, suponha que você tenha o pensamento Eu sou uma mãe maravilhosa.
Eu faço um trabalho brilhante. Agora, se você se apegar a esse pensamento,
não há dúvida de que ele lhe dará uma autoestima muito positiva. Mas qual po-
de ser o perigo de se fundir com ele? Passando o dia convencida de que você é
uma mãe maravilhosa, que está fazendo um trabalho brilhante, sem necessida-
de se aperfeiçoar?
Cliente: (Risos) Bem, para começar, não é verdade.
Terapeuta: Ok, então um dos custos é que você perde o contato com a realidade. O que
mais? O que pode acontecer com seu relacionamento com seus filhos se você
acreditar cem por cento que tudo o que fez foi maravilhoso?
Cliente: Acho que posso não perceber quando estava fazendo coisas erradas.
Terapeuta: Claro. Você teria falta de autoconsciência e provavelmente se tornaria insensí-
vel. E você não cresceria e nem se tornaria uma mãe melhor, porque isso só
acontece quando você consegue ver seus erros e aprender com eles. Agora,

170
deixe-me perguntar uma coisa: em seu funeral, qual destas frases você gostari-
am que seus filhos dissessem: "Mamãe tinha uma opinião muito elevada sobre
si mesma" ou "Mamãe estava realmente lá para mim quando eu precisei dela?"
Cliente: (Risos) A segunda. (Confusa) Mas a autoestima não pode me ajudar a ser uma
mãe melhor?
Terapeuta: Ok. Vamos verificar isso. (O terapeuta pega uma ficha.) Quando sua mente quer
detonar você, quais são algumas das coisas mais desagradáveis que ela lhe diz?
Cliente: (Suspira) As mesmas velhas coisas. Eu sou gorda. E eu sou burra.
Terapeuta: Ok. Então este é o "eu mau": "Eu sou gordo" e "Eu sou burro". (O terapeuta
escreve "Eu sou gordo" e "Eu sou burro" em um lado do cartão e depois vira o
cartão.) Agora, nas raras ocasiões em que sua mente é gentil com você, quais
são algumas das coisas boas que ela diz sobre você?
Cliente: Hmm. Eu sou uma boa pessoa. Sou gentil com os outros.
Terapeuta: Ok. Então esse é o "eu bom", "sou uma boa pessoa" e "sou gentil". (O terapeu-
ta as escreve no verso do cartão.) Este exercício é parecido com aquele exercí-
cio que fizemos algumas sessões atrás. Então, se você estiver disposta, gostaria
que você segurasse o cartão na frente do seu rosto para poder ler todas as coi-
sas negativas. É isso aí — segure-o bem na sua frente para que ele seja tudo o
que você possa ver. (A cliente segura o cartão na frente do rosto, tirando o te-
rapeuta de seu campo de visão.) Segure-o firmemente. Deixe-se fisgar pelo seu
"eu mau". Isso é autoestima muito baixa, não é?
Cliente: Sim.
Terapeuta: E observe — enquanto você está presa nisso, o que acontece com o seu relaci-
onamento comigo? Você se sente envolvida, conectada?
Cliente: Não. Eu não consigo ver você.
Terapeuta: Ok. Agora vire-o e veja todas as coisas positivas. É isso aí — e mantenha-o lá em
frente. (A cliente vira o cartão e continua a segurá-lo na frente do rosto dela).
Agora fique toda envolvida no seu "eu bom". Segure o cartão com força — todos
esses pensamentos positivos adoráveis. E agora você tem uma autoestima muito al-
ta. Mas como é seu relacionamento comigo? Você se sente envolvida, conectada?
Cliente: (Rindo) Não.
Terapeuta: Ok. Agora coloque o cartão no seu colo. (A cliente faz isso.) Agora, como é seu
relacionamento comigo?
Cliente: (A cliente olha para o terapeuta. Ele sorri e ela sorri de volta) Muito melhor.
Terapeuta: Engajada? Conectada?
Cliente: Sim.
Terapeuta: E observe que, desde que você o deixe no colo, não importa para que lado o
cartão está virado — o eu bom e o eu mau não importam — se você não estiver
preso ou absorvido por isso, isso não o impede de fazer o que você quer fazer.
Então, em termos de ser uma boa mãe, o que é mais importante? Tentando se
apegar a todos esses pensamentos sobre o quão boa você é, ou se envolver e se
conectar com seus filhos e realmente estar lá para eles?
Cliente: Estar lá para os meus filhos, é claro.

171
No final da sessão, o terapeuta entregou o cartão para a cliente. Ele pede que ela
(a) escreva mais cinco autojulgamentos positivos no lado do “eu bom” e mais cin-
co negativos no lado do “eu mau”; (b) leve o cartão em sua bolsa por uma sema-
na; e (c) retire-o várias vezes ao dia, leia os dois lados e coloque-o novamente na
bolsa. Durante a sessão seguinte, a cliente relatou que tinha sido muito melhor em
desfundir-se dos autojulgamentos (positivos e negativos) e que conseguiu desen-
volver um maior senso de autoaceitação.

Autoaceitação versus Autoestima


Do ponto de vista da ACT, a autoaceitação é muito mais empoderadora do que a autoestima.
Na maioria dos modelos de psicologia, a autoaceitação é ensinada como um processo de pen-
samento — ou seja, dizer a si mesmo coisas tais como eu me aceito como um ser humano
falível, todos cometem erros. Embora isso possa, sem dúvida, ser útil, na ACT, a ênfase está
no desenvolvimento da autoaceitação através da atenção plena, e não através do falar consigo
mesmo. A autoaceitação se desenvolve naturalmente quando repetidamente evitamos os auto-
julgamentos (positivos e negativos) e os pensamentos que nos comparam aos outros.
Uma experiência mais profunda de autoaceitação acontece quando entramos no espaço psico-
lógico do eu-como-contexto e quando, a partir desse espaço, reconhecemos o eu conceitual
pelo que ele é: nada mais ou menos do que uma construção incrivelmente complexa de pen-
samentos, memórias e imagens. As figuras abaixo ilustram essa progressão.

Fig. 10.1

172
Na figura 10.1, a pessoa está fundida (apegada a) ao eu conceitual. E tanto faz se esse eu con-
ceitual é positivo ou negativo, a fusão com ele provavelmente será problemática. A fusão com
um eu positivo pode facilmente levar à arrogância, narcisismo, intolerância dos outros e recu-
sa em receber feedback negativo; a fusão com um eu negativo pode levar à depressão, ansie-
dade, sentimentos de inutilidade e assim por diante. Em ambos os casos, há falta de autocons-
ciência e inflexibilidade psicológica.
Por exemplo, considere o impacto que isso pode ter sobre um gerente se ele está fundido com
a crença "Eu trabalho duro e não tolero pessoas burras". Ou suponha que um policial esteja
absolutamente fundido com a crença "eu sou um agente da lei" — ele baseia todo o seu valor
próprio nessa identidade e, um dia, ele fica permanentemente incapacitado e incapaz de traba-
lhar. Ele então lutará para aceitar e se adaptar a essa mudança significativa na vida, e seu eu
conceitual pode agora conter elementos como "Sem meu trabalho, eu não sou ninguém".

Fig. 10.2

Na figura 10.2, a pessoa está se desfundindo dos pensamentos que compõem seu eu conceitu-
al. Esses pensamentos então têm menos influência; eles ainda aparecem, mas "ocupam menos
espaço". Ela não está mais se apegando à sua autodescrição / autoimagem / autoconceito; em
vez disso, "segura tudo de forma leve".

173
Fig. 10.3
Na figura 10.3, a pessoa está no espaço psicológico do eu-como-contexto; desta perspectiva,
há desfusão máxima. O eu conceitual é reconhecido como uma construção de pensamentos e
não como "a essência que eu sou".

Quem Sou Eu?


Às vezes, quando você conduz um cliente através de uma experiência do eu-como-contexto,
ele talvez pergunte: "Bem, quem sou eu então?" É fácil ficar atolado em questões filosóficas
profundas neste momento e, para nossos propósitos na ACT, não queremos fazer isso. Somos
treinadores e terapeutas, não filósofos, gurus ou professores de meditação. Por isso, geralmen-
te respondo ao longo destas linhas: "'Quem sou eu?' é uma grande questão. Existem muitos
sentidos diferentes do eu. Em nossa sociedade, tendemos a nos concentrar em dois sentidos
principais do eu: o eu físico — nosso corpo — e o eu pensador, mais conhecido como "a men-
te". O que pretendemos fazer aqui é reconhecer um terceiro sentido do eu. O "eu observador"
pode observar o nosso eu pensador e o nosso físico, mas é diferente deles. Você é composto
pelos três eus, mas, enquanto o eu pensador e o eu físico mudam continuamente, o eu obser-
vador não muda. Ele é como um lugar seguro dentro de você que está sempre lá — um lugar
de onde você pode observar o que está acontecendo na mente ou no corpo sem ser afetado ou
prejudicado".

SERÁ QUE É A ALMA?


Às vezes, os clientes podem perguntar se essa é a alma. Minha resposta é simples: "Essa não é
uma palavra que eu usaria pessoalmente, mas você pode chamá-lo como quiser. Quaisquer
que sejam as palavras usadas para descrevê-la, essa é a parte de você que percebe todas essas
palavras".

TERAPIA VERSUS MISTICISMO


Se você "permanecer no espaço" do eu-como-contexto por um período prolongado, você pode
vir a ter a "experiência mística": não existe um eu individual, "tudo é um". Não estamos ten-

174
tando criar experiências místicas na ACT; ela não é um caminho religioso ou espiritual para a
iluminação. Com a prática prolongada de atenção plena, podemos "permanecer no espaço" do
eu-como-contexto por períodos mais longos, mas de uma perspectiva da ACT, isso não é re-
almente necessário.
Na prática, a maioria das pessoas obtém apenas breves "vislumbres" desse espaço e, em se-
guida, é rapidamente "puxada para fora" por seus pensamentos. No entanto, isso é mais que
suficiente para servir a nossos propósitos. Simplesmente queremos que as pessoas experimen-
tem que existe um recurso psicológico poderoso dentro de nós, um recurso facilmente acessí-
vel, um lugar para observar e abrir espaço para nossos pensamentos e sentimentos dolorosos.
Além disso, é um espaço psicológico que nos liberta para fazer escolhas conscientes sobre o
que fazemos. Como assim? Porque a partir dessa perspectiva, podemos "ver claramente" que
nossos pensamentos e sentimentos são eventos transitórios que não definem quem somos nem
controlam nossas ações.

UM PONTO TÉCNICO
Nos roteiros de alguns exercícios da ACT, você pode ler comentários como este: "O eu obser-
vador está lá por toda a sua vida - desde o momento em que você nasceu até o momento em
que vai morrer". Para fins de treinamento ou terapia, podemos falar dessa maneira; no entan-
to, lembre-se de que isso não é tecnicamente preciso. A RFT (teoria das molduras relacionais
— a teoria da linguagem e cognição sobre a qual o ACT repousa) explica como desenvolve-
mos esse sentido transcendente do eu, tipicamente por volta dos quatro anos de idade, através
de um processo chamado "enquadramento deítico". Essa é apenas uma das muitas coisas fas-
cinantes sobre as quais você aprenderá se optar por se aprofundar na RFT.

TRABALHO DE CASA E A PRÓXIMA SESSÃO


Já existem duas ideias para trabalhos de casa neste capítulo: a primeira envolve entrar em con-
tato com o eu-como-contexto e a outra envolve desfundir-se do eu conceitual. E, é claro, po-
demos tornar o Exercício do Eu Bom / Eu Mau mais específico: pode ser mãe boa / mãe má,
terapeuta bom / terapeuta mau ou até mesmo um policial bom / policial mau.
Aqui está outra opção simples: sugerimos ao nosso cliente que continue com qualquer prática
anterior de atenção plena e adicionamos a instrução "A partir de agora, enquanto você faz
isso, verifique periodicamente e veja se consegue perceber quem está percebendo".
Você também pode pedir aos clientes que pratiquem exercícios de atenção explicitamente
orientados para o eu-como-contexto. Isso é mais eficaz se você tiver gravado os exercícios em
sessão ou se o seu cliente tiver um CD comercial (por exemplo, a faixa 5 de meu CD Habili-
dades em Mindfulness: Volume 1 é uma gravação do exercício Você Contínuo).
Quanto à próxima sessão, tradicionalmente passaríamos para valores e ação comprometida.
Continuaríamos a abordar o eu-como-contexto vivencialmente, conforme necessário, como
um auxílio para superar quaisquer barreiras psicológicas (isto é, para facilitar a desfusão ou a
aceitação).

TRABALHO DE CASA PARA VOCÊ


 Leia todos esses exercícios e metáforas em voz alta e pratique-os como se estivesse
trabalhando com clientes.
 Escolha dois ou três casos e identifique pensamentos, crenças, julgamentos e outras
descrições pessoais que compreendem o eu conceitual. Pense em como você poderia
175
introduzir um trabalho de eu-como-contexto com esses clientes — tanto com interven-
ções breves como com intervenções mais longas.
 Tente estes exercícios em si mesmo. Em particular, pegue um cartão e faça o Exercício
do Eu Bom/Eu Mau e carregue o cartão consigo por uma semana. Se possível, peça a
um amigo ou colega que o conduza através exercício Você Contínuo - ou grave a si
mesmo e depois ouça. E se você costuma praticar atenção plena de forma continuada,
de tempos em tempos observe quem está observando.

RESUMO
O eu observador (EU-como-contexto) está implícito em todos os exercícios ou práticas de
atenção plena. Na verdade, não é realmente um "eu": é o lugar, a perspectiva ou o espaço psi-
cológico a partir do qual observamos ou notamos tudo o mais. Se "Observe X" é a instrução
básica da atenção plena, então, no trabalho de eu-como-contexto, o X que percebemos é nossa
própria consciência. Assim, o eu-como-contexto pode ser conceitualizado como a percepção
da percepção ou a consciência da consciência.
Muitos modelos de terapia baseados na atenção plena nunca tornam o eu-como-contexto ex-
plícito; eles esperam que as pessoas descubram "isso" por si mesmas através da prática contí-
nua da atenção plena. No entanto, na ACT, gostamos de tornar o eu-como-contexto explícito,
pois ele aprimora a desfusão e a aceitação e nos permite experimentar um sentido transcen-
dente do eu.

176
CAPÍTULO 11

Saiba o Que Importa

VALORES DE FORMA RESUMIDA


Em linguagem simples: Valores são declarações sobre o que queremos fazer com nossa vida:
sobre o que queremos que ela represente, e como queremos nos comportar em uma base contínua.
São princípios fundamentais que nos orientam e motivam durante a nossa vida..
Objetivo: Tornar claro o que dá senso de significado ou propósito a nossa vida, e usar nossos
valores como uma orientação contínua para nossas ações.
Sinônimos: Direções de vida escolhidas.
Método: : Diferenciar valores de objetivos; ajudar clientes a se conectar com seus valores e torná-
los claros para eles de modo que possam usá-los para se inspirar, motivar e serem orientados pelos
mesmos de forma contínua.
Quando usar: : Quando estiver em busca de orientação interior; quando não estiver motivado
para agir; como um precursor para o estabelecimento de metas e planos de ação; para facilitar a
aceitação; para adicionar riqueza, satisfação e sentido à vida.

COMO TRABALHAR OS VALORES


Todo o modelo da ACT está direcionado para um resultado: uma vida consciente, com valores
congruentes ou, em termos leigos, uma vida rica, plena e significativa. É esse resultado que mo-
tiva tudo o que fazemos na ACT: não gostaríamos que alguém aceitasse a dor, ou praticasse a
desfusão, ou se expusesse a situações desafiadoras, a menos que isso sirva para tornar sua vida
mais rica e completa. Alguns protocolos da ACT não trabalham explicitamente sobre os valores
antes de terem abordado desfusão, aceitação, momento presente e eu-como-contexto. Outros, no
entanto, começam pela clarificação de valores desde o início. Existem prós e contras para am-
bas as abordagens. Por um lado, o trabalho com valores muitas vezes pode desencadear a fusão
e a esquiva; por isso, alguns clientes não serão capazes de explorar valores (ou não estarão dis-
postos a fazê-lo) em profundidade antes que tenham desenvolvido habilidades de desfusão e
aceitação. Por outro lado, alguns clientes poderão não se sentir motivados a fazer o trabalho
duro da terapia a não ser que em primeiro lugar entrem em contato com seus valores.
Se você quer ter uma ideia da primeira abordagem, você pode ler meu livro de autoajuda Liber-
te-se (Harris, 2007), que levará você passo a passo ao longo da rota mais tradicional abordando
em primeiro lugar a desesperança criativa, seguida das habilidades em atenção plena e somente
então os valores e a ação comprometida. Para ter uma noção da segunda abordagem, você pode
querer dar uma lida em ACT with Love (Harris, 2007), meu livro de autoajuda para problemas
de relacionamento (Harris, 2009).
Pessoalmente, sempre que possível, prefiro iniciar a terapia ou o treinamento com foco em valo-
res. Por isso, no capítulo 5, sugeri que começássemos a clarificar os valores desde o primeiro
contato com o cliente. Portanto, antes de continuar lendo, volte ao capítulo 5 e leia novamente a
seção intitulada UM ROTEIRO BÁSICO PARA FAZER A ANAMNESE.
Obviamente, às vezes teremos um cliente que inicialmente não vai querer chegar nem perto dos
177
valores. Se dermos a ele uma planilha de valores na primeira sessão, ele pode deixá-la em bran-
co, fazer um cruz nela, amassá-la ou protestar alegando que ele "não consegue pensar em nada"
ou dizer é "uma perda de tempo". Uma resposta como essa nos fornece informações úteis: aler-
ta-nos para uma significativa falta de contato ou clareza sobre os valores, e geralmente indica
um alto nível de esquiva experiencial. Nesses casos, geralmente precisamos ir devagar e com
suavidade e trabalhar de forma intensa a desfusão e a aceitação antes que possamos abordar os
valores centrais.

DICA PRÁTICA: Às vezes, podemos ter a sorte de ter um cliente que res-
ponde de forma dramática às discussões sobre valores e começa imediata-
mente a fazer mudanças significativas em sua vida. Nesse caso, não precisa-
mos ficar procurando por barreiras psicológicos ou tentar "vender-lhe" habi-
lidades de atenção plena. No entanto, na maioria dos casos, quando ele come-
ça a agir de acordo com seus valores, barreiras psicológicas irão se manifestar.

Independentemente do número de sessões já realizadas e de quais partes do hexaflex já foram


abordados e trabalhados, se ainda não exploramos os valores do cliente, há uma maneira sim-
ples de conduzi-lo aos mesmos: assinalamos, com compaixão e sem julgamento, que já sabe-
mos muito sobre o que o cliente não quer — mas pouco ou nada sobre o que ele quer. Por
exemplo, poderíamos dizer: "Acho que já sei bastante sobre quais são seus problemas: os sen-
timentos dolorosos com os quais você luta, os pensamentos dolorosos com os quais se envol-
ve, as dificuldades que enfrenta em diferentes aspectos de sua vida, as coisas que outras pes-
soas fazem que você não gosta e as coisas que você faz que não ajudam ou acabando piorando
as coisas. Em outras palavras, eu sei muito sobre o que você não quer, o que você já teve de
chega. Mas há um buraco enorme no que eu sei sobre você: sei muito pouco a respeito do que
você quer ou necessita — sobre a pessoa que você quer ser, que tipo de relações quer constru-
ir, e o que você quer fazer com sua vida para que ela se torne mais rica, mais plena e mais
significativa. Então é nisso que eu gostaria que nos focássemos agora. Pode ser? "

Valores: O Que São e o Que Não São


Quando descrevemos valores para nossos clientes, podemos dizer algo do tipo: "Valores são
os anseios mais profundos de nosso coração sobre maneira como queremos interagir com o
mundo, com outras pessoas e com nós mesmos. Eles são o que queremos que nossa vida re-
presente, como queremos agir e nos comportar, que tipo de pessoa queremos ser, que espécie
de fortalezas e qualidades queremos desenvolver.”
À medida que você ler alguns livros sobre ACT, você irá encontrar diferentes definições téc-
nicas de valores. Eis uma que penso ser bastante amigável e de fácil utilização: Valores são
"qualidades globais desejadas de ação continuada". (Hayes, Bond, Barnes-Holmes, & Austin,
2006, p. 16). Vamos dividir esta definição em seus três componentes:
1. Ação continuada. Valores são sobre "ação continuada". Em outras palavras, valores se refe-
rem a como queremos nos comportar ou agir em base contínua – o que você quer continuar a
fazer. Por exemplo, seus valores podem incluir ser amoroso e atencioso: dar, compartilhar, e
contribuir; ser um bom amigo; manter a saúde e a boa forma; ser aberto e honesto. Em contras-
te, objetivos são aquilo que você quer conseguir, ter ou completar. Dessa forma, se for algo que
você não possa fazer em uma base contínua, então não é um valor. A felicidade não é um valor
– ela não é algo que você pode fazer. Ser amado e respeitado pelos outros também não é um
valor – não é algo que você pode fazer. Ter um carrão ou uma mansão, conseguir um trabalho
fantástico, um parceiro maravilhoso, ou um corpo esbelto, isto também não são coisas que você
178
pode fazer: são objetivos ou metas, mas não são valores.
2. Qualidades globais. Valores se referem a qualidades globais de ação continuada. Vamos
supor que você queira jogar futebol. Claramente "jogar futebol" é algo que você pode fazer
em uma base continuada – é uma ação continuada, mas não é uma qualidade de ação. Para
tornar isso mais claro, citamos quatro possíveis qualidades dessa ação continuada: jogar fute-
bol habilmente, jogar futebol desajeitadamente, jogar futebol de forma enérgica, jogar futebol
sem entusiasmo.
O queremos então dizer por qualidade "global"? Referimo-nos a uma qualidade que "une"
muitos diferentes padrões de ação. Por exemplo, se seu valor é "ser solidário" para com os
outros jogadores de seu time, então há muitas diferentes ações que você poderia empreender
com a qualidade da "solidariedade". E se seu valor for "ser justo", também há muitas ações
possíveis que tenham a qualidade de "justiça".
Portanto, para chegar a seus valores relacionados a jogar futebol, eu poderia lhe fazer pergun-
tas tais como: "Como você quer jogar futebol?" “Que qualidades ou pontos fortes você quer
modelar ou demonstrar durante o jogo?" "Como você quer se comportar em seu relaciona-
mento com os outros jogadores, tanto os do seu time quanto os do time adversário?" Estas
perguntas podem revelar valores tais como ser focado, ser competitivo, esforçar-se para ser
respeitoso, ser cooperativo com seus colegas de equipe, ser "justo", "dando melhor de si",
desafiar a si mesmo, etc.
Note que estas qualidades de ação estão disponíveis para você a qualquer momento: mesmo
se você ficar paralisado da cintura para baixo e incapaz de jogar futebol de novo, você ainda
pode ser focado, competitivo, respeitoso, cooperativo, justo; você ainda pode dedicar-se ple-
namente a qualquer coisa que estiver fazendo e "dar o melhor de si"; você ainda pode agir de
formas que lhe desafiem.
3. Desejadas. Valores são qualidades "desejadas" de ação continuada. São declarações sobre
como você quer se comportar, como você deseja agir, e sobre o que é importante para você.
Eles não se referem ao que você deveria ou tem de fazer. (Em muitos livros sobre ACT en-
contramos o termo "escolhido" em vez da palavra "desejado" para enfatizar que você não
apenas deseja estas qualidades mas que também escolhe conscientemente empregá-las.)

VALORES versus OBJETIVOS


Questões uteis para clarificar valores incluem as seguintes: "Bem no fundo de si mesmo, o
que é importante para você?" "O que você quer que sua vida represente?" Que tipo de fortale-
zas e qualidades pessoais você quer cultivar?" "Como você quer se comportar em seus relaci-
onamentos?"
Quando os clientes respondem estas questões, eles geralmente nos fornecem objetivos em vez
de valores. Por isso, temos de fazer alguma coisa de psicoeducação: explicar que valores são
direções nas quais queremos nos mover ao longo de nossas vidas, enquanto que objetivos são
coisas que podemos alcançar ou completar. Para ajudar nossos clientes a compreenderem isto,
muitas vezes comparamos valores com uma bússola. (Hayes et al., 1999).

A METÁFORA DA BÚSSOLA
Terapeuta: Os valores são como uma bússola. Uma bússola nos indica uma direção e nos
mantém no caminho certo quando estamos viajando. Os seus valores fazem a
mesma coisa na jornada da vida. Nós os usamos para escolher a direção em que
queremos nos mover e nos manter no caminho certo à medida que avançamos.

179
Assim, quando você age com base em um valor, é como ir em direção ao oeste.
Não importa o quanto você viaje nesta direção, você nunca chega lá – sempre ha-
verá um mais longe para ir. Mas objetivos são como as coisas que você tenta con-
seguir durante a sua viagem: são como as paisagens ou atrações turísticas que vo-
cê quer ver ou as montanhas que você quer escalar enquanto está viajando em di-
reção ao oeste.

Podemos dar aos clientes alguns exemplos para tornar mais clara a diferença. Um dos meus
exemplos favoritos é o contraste entre "casar-se" e "ser amoroso" (Hayes et al, 1999). Se você
quer ser amoroso e atencioso, isso é um valor — trata-se de uma ação continuada; você quer se
comportar dessa maneira pelo resto da sua vida. E em qualquer momento você tem uma escolha:
você pode agir com base nesse valor ou pode negligenciá-lo. Mas se você quer se casar, isso é
um objetivo. É algo que pode ser completado, alcançado, "riscado da lista". E você pode alcançar
o objetivo do casamento, mesmo que negligencie completamente seus valores em relação a ser
amoroso e carinhoso. (É claro que se você fizer isso, seu casamento pode não durar muito.)
Os valores são muito mais poderosos do que os objetivos, porque estão sempre disponíveis para
nós. A qualquer momento, podemos agir com base neles ou negligenciá-los; A escolha é nossa.
Não é assim para objetivos. Não podemos garantir que alguma vez alcançaremos a meta do ca-
samento, mas a qualquer momento podemos agir de acordo com nossos valores em torno de
amar e cuidar. Isso é possível mesmo se não tivermos um parceiro; podemos amar e cuidar de
nossos amigos, vizinhos, animais de estimação, família, plantas em vasos, meio ambiente — e, é
claro, de nós mesmos.
Um outro exemplo que geralmente dou é este: se você quer um emprego melhor, esse é um obje-
tivo. Uma vez que tenha conseguido o mesmo, é "missão cumprida". Mas se você quer ser útil,
eficiente e produtivo, esses são valores: qualidades desejadas da ação continuada. E a qualquer
momento, você pode agir com base nesses valores — mesmo que não goste do seu trabalho ou
se não tiver um trabalho atualmente.
Aqui estão mais alguns exemplos para realmente enfatizar esse ponto: perder dez quilos de
peso é uma meta; alimentar-se de modo saudável é um valor. Ir à academia é um objetivo;
cuidar de seu corpo é um valor. Ter uma casa grande é uma meta; apoiar sua família é um
valor. Obter amor e respeito dos outros é uma meta; ser amoroso e respeitoso é um valor. Sen-
tir-se menos ansioso é um "objetivo emocional", — agir com coragem é um valor. Sentir-se
feliz é uma meta emocional; ser caloroso, aberto e amigável com os outros é um valor. Parar
de criticar seu parceiro é um "objetivo da pessoa morta", — ser uma pessoa que aceita e ser
compreensivo são valores.

VALORES versus DESEJOS, VONTADES, NECESSIDADES, SENTI-


MENTOS, VIRTUDES, MORAL E ÉTICA
Às vezes, tanto o terapeuta como o cliente podem confundir valores com as coisas menciona-
das no título acima; por isso, vamos esclarecer as diferenças.

Vontades, necessidades e desejos. Podemos querer, necessitar ou desejar todo tipo de coisas
de outras pessoas — amor, respeito, gentileza, etc. Mas estas coisas não são valores porque
elas não são formas em que queremos nos comportar em uma base contínua. Naturalmente
validamos estas vontades/necessidades/desejos em nossos clientes. E se um cliente pode reali-
zar estas vontades/necessidades/desejos de uma maneira que seja funcional, então nós o aju-
damos a fazer isso. Da mesma forma, nós o ajudamos a aceitar a dor que se manifesta quando
há uma lacuna entre o que ele deseja e o que ele recebe.

180
Sentimentos. Valores não são sentimentos. Nossos valores irão afetar como nos sentimos
sobre qualquer evento ou situação e como respondemos à mesma, mas eles não são sentimen-
tos. Para chegarmos aos valores podemos perguntar: "Como quero me posicionar em face
disto? "Como eu gostaria de agir em resposta a esse evento ou situação?"

Virtudes, moral e ética. Valores estão além do certo ou errado, do bem ou mal. Eles são
simplesmente expressões do que é importante para nós. É claro que nossa sociedade julga
aqueles valores como bons ou maus, e os "bons" são chamados de "virtudes". Então nossa
sociedade define regras sobre a maneira certa e a maneira errada de agir com base em nossos
valores, e ela nos diz que se não agirmos da "forma certa" somos "maus". Isto dá origem à
moral, à ética e aos códigos de conduta.
Assim, se nossos clientes começam a falar sobre certo e errado ou bom e mau, sabemos que
eles saíram da esfera dos valores e foram para a esfera da moral, da ética e dos códigos de
conduta.

Cinco Pontos-chave sobre Valores


Além da distinção entre valores e objetivos, há pelo menos outros cinco pontos-chave a serem
destacados na terapia:

1. Valores estão no aqui e agora; objetivos estão no futuro.


2. Valores nunca necessitam ser justificados.
3. Valores muitas vezes precisam ser priorizados.
4. Valores devem ser mantidos de forma leve.
5. Valores são escolhidos livremente.

Vamos agora dar uma rápida passada por cada um desses pontos.
VALORES ESTÃO NO AQUI E AGORA; OBJETIVOS ESTÃO NO FU-
TURO.
Os valores estão no aqui e agora: a qualquer momento, você pode optar por agir com base
neles ou negligenciá-los. Mesmo que você tenha negligenciado totalmente um valor essencial
por anos ou décadas, neste exato momento, aqui e agora, você pode agir de acordo com ele.
Por outro lado, os objetivos ou metas estão sempre no futuro: um objetivo ou meta é algo que
você deseja atingir, é algo que você se esforça para alcançar. E no momento em que você o
alcança, ele não é mais um objetivo.
Por causa disso, as pessoas que levam uma vida muito focada em objetivos muitas vezes des-
cobrem que isso leva a um sentimento crônico de falta ou frustração. Por que? Porque eles
estão sempre olhando para o futuro e se esforçando continuamente para alcançar o próximo
objetivo na ilusão de que isso irá trazer felicidade ou conforto duradouros. Em uma vida foca-
da em valores, ainda temos objetivos, mas a ênfase está em viver de acordo com nossos valo-
res a cada momento — essa abordagem leva a uma sensação de realização e satisfação, pois
nossos valores estão sempre disponíveis. A metáfora das Duas Crianças no Carro ilustra isso
muito bem (Harris, 2007).
A METÁFORA DAS DUAS CRIANÇAS NO CARRO
Terapeuta: Imagine duas crianças na parte de trás de um carro que estão sendo levados por
sua mãe para Disneylândia. A viagem dura em torno de três horas, e uma das cri-
181
ança fica perguntando a cada cinco minutos: "Já estamos chegando? Já estamos
chegando? Já estamos chegando?" Sua mãe está ficando irritada, a criança está
frustrada, eles estão brigando um com o outro — é um estado de tensão crônica.
Enquanto isso, o outro garoto está olhando pela janela, acenando para os outros
carros, percebendo com grande interesse todas as cidades, fazendas e fábricas pe-
las quais eles vão passando. As duas crianças chegam à Disneylândia ao mesmo
tempo e se divertem muito quando chegam lá. Mas apenas uma dessas crianças
teve uma jornada recompensadora. Por que? Porque ela não estava apenas focada
no objetivo; ela também valorizou explorar, viajar, aprender sobre o mundo fora
do carro. E, mais tarde, a caminho de casa, o primeiro garoto continua dizendo:
"Já estamos em casa, já estamos em casa, já estamos em casa?" Enquanto isso, o
outro menino usufrui a viagem olhando pela janela e apreciando como tudo pa-
rece tão diferente à noite.

DICA PRÁTICA: A maioria das pessoas entende o sucesso como alcançar ob-
jetivos. Convido os clientes a considerar uma definição diferente: sucesso é
viver de acordo com nossos valores. Com essa definição, podemos ser bem-
sucedidos no momento, mesmo que nossos objetivos ainda estejam muito dis-
tantes (e mesmo que nunca venhamos a alcançá-los).

VALORES NUNCA NECESSITAM SER JUSTIFICADOS


Os valores são como o nosso gosto por sorvete: não precisamos justificar por que gostamos de
morango, chocolate ou creme — ou seja qual for o nosso sabor favorito. Valores são sim-
plesmente declarações sobre o que é significativo para nós; nunca precisamos justificar isso.
No entanto, podemos ter que justificar as ações que tomamos. Se, por exemplo, você valoriza
a conexão com a natureza, não precisa justificar isso — mas se você muda sua família da ci-
dade para o interior, talvez tenha que dar muitas explicações. Nosso pressuposto na ACT é
que comportamentos destrutivos — em relação a si mesmo ou em relação a outras pessoas —
não é motivado por valores. Esse é um pressuposto pragmático, porque o que aconteceria se
partíssemos do ponto de vista alternativo — que o comportamento destrutivo do seu cliente
reflete quem ele realmente quer ser e o que ele quer defender na vida? Que tipo de relaciona-
mento terapêutico iríamos construir, se essa fosse a nossa atitude?
Os terapeutas às vezes perguntam: "E se meu cliente tiver valores em relação aos quais eu me
oponho eticamente, como querer estuprar ou torturar outras pessoas?" A resposta curta é que
você não é obrigado a trabalhar com nenhum cliente se isso comprometer seus próprios pa-
drões éticos. A resposta mais longa é a seguinte: mesmo em populações forenses, onde nossos
clientes cometeram crimes terríveis, como estupro, tortura e assassinato, se trabalharmos du-
ro, construirmos um vínculo forte e cavar sob camadas e camadas espessas, endurecidas e
incrustradas de fusão e esquiva, quase sempre descobriremos valores fundamentais semelhan-
tes aos nossos. Quando essas pessoas cometeram seus crimes, é altamente improvável que
elas estivessem agindo de forma consciente e com base em seus valores — é quase certo que
elas estavam agindo impulsiva ou inconscientemente, motivadas por fusão e esquiva.

VALORES MUITAS VEZES PRECISAM SER PRIORIZADOS


Como todos os nossos valores estão disponíveis em cada momento, precisamos priorizar a
partir de quais deles vamos agir. Por exemplo, podemos valorizar sermos amorosos e atencio-

182
sos com nossos pais, mas se eles são continuamente hostis e abusivos conosco, podemos cor-
tar nosso contato com eles, porque nossos valores em torno da autoproteção e do autocuidado
têm prioridade. Nossos valores em torno de amar e cuidar não desapareceram; eles continuam
sendo importantes mas os valores relacionados ao autocuidado têm preferência.
O psicólogo John Forsyth tem uma boa analogia para isso: nossos valores são como um cubo.
Em qualquer posição, algumas faces do cubo são claramente visíveis e outras não podem ser
vistas. As faces invisíveis não deixaram de existir, apenas não são visíveis nessa posição. E
sempre que o cubo muda de posição, algumas faces aparecem em primeiro plano, enquanto
outras recuam para o segundo plano.

VALORES DEVEM SER MANTIDOS DE FORMA LEVE


Na ACT dizemos: "Siga vigorosamente seus valores, mas mantenha-os de forma leve". Que-
remos estar conscientes de nossos valores e em contato com eles, mas não queremos nos fun-
dir com eles. Quando nos fundimos com eles, nossos valores começam a parecer opressivos e
restritivos, como se fossem mandamentos que devemos obedecer. Eles se transformam em
regras rígidas em vez de guias flexíveis. Para usar a metáfora da bússola: quando você viaja,
você não a segura firmemente a cada passo — você a carrega na mochila, sabendo que sempre
que precisar para corrigir um curso ou encontrar o seu caminho, você pode retirá-la da mochi-
la a qualquer momento e usá-la.

VALORES SÃO ESCOLHIDOS DE FORMA LIVRE


Nós escolhemos conscientemente trazer essas qualidades desejadas para nossas ações. Não so-
mos obrigados agir dessa maneira; nós optamos em fazê-lo porque isso é importante para nós.
Para destacar esse aspecto, podemos perguntar aos clientes: "Suponha que eu agite uma varinha
mágica para que você possa ter os valores desejados; que valores você escolheria?" Essa é uma
pergunta elegante, porque quaisquer que sejam os valores que você escolheria em um mundo
mágico, você pode também consegue agir com base nos mesmos valores agora neste momento;
não há necessidade de uma varinha mágica. Essa intervenção geralmente costuma mostrar-se
útil para clientes que dizem: "Não tenho valores".

Trazendo os Valores para a Vida


Existem duas formas de se trabalhar com valores. Uma delas é de um modo muito seco, teóri-
co, prolixo e conceitual: discutir valores, analisar valores, teorizar sobre valores — isto é,
trabalhar com eles em grande parte no nível intelectual. Isso não é particularmente satisfatório
ou útil para o cliente ou o terapeuta, e geralmente indica que ambos estão perdidos na fusão e
na ESQUIVA. Você pode facilmente perceber quando isso está acontecendo, porque sua ses-
são será monótona, cansativa, intelectual, sem vida e insatisfatória.
A outra forma é trabalhar com os valores no nível do "coração e da alma". Em outras pala-
vras, em vez de apenas falar ou pensar sobre eles, você facilita o contato profundo, íntimo e
vivencial com valores. (Nenhum palpite sobre como trabalhamos na ACT)
Conversas eficazes sobre valores costumam trazer uma sensação de abertura, vitalidade e li-
berdade. Quando um cliente realmente se conecta com seus valores, isso traz uma sensação de
libertação e expansão — ele percebe que, mesmo em situações desesperadoras, ele tem esco-
lhas — que ele pode abrir-se a sua vida e levá-la para um rumo que tenha sentido.
Durante estas conversas, o seu cliente estará muito mais no presente — participando com vo-
cê, compartilhando e deixando você "entrar". Você o verá "ganhando vida" diante dos seus
olhos. A sessão será viva, envolvente e gratificante — e muitas vezes emoções intensas surgi-
183
rão, percorrendo toda a gama da alegria e amor à tristeza e medo. Muitas vezes, você experi-
mentará um profundo sentimento de conexão ao conseguir enxergar profundamente dentro do
coração de um ser humano e testemunhar a dor e o amor que residem ali dentro.

TRABALHANDO COM VALORES


Nas transcrição a seguir, a cliente é uma mulher solteira, de meia idade, lutando para conse-
guir lidar com o comportamento de seu filho. Seu filho de 23 anos tem um vício em heroína e,
dia sim, dia não, volta para casa para pedir dinheiro. Se ela não lhe dá o dinheiro, ele se torna
agressivo — ele frequentemente a xinga e grita de maneira abusiva, culpa-a por ter estragado
sua infância, acusa-a de ser fria e indiferente, ou insiste que ela não o ama realmente. Isso já
dura mais de dois anos. Ela se preocupa constantemente com ele e, após as visitas dele, sente-
se desesperada, culpada e com remorso. Ela diz que sabe que dar dinheiro a ele é "errado"
porque "apenas alimenta seu hábito", mas ela acha "muito difícil dizer não"

Cliente: Sabe, sendo bem honesta, às vezes eu penso que que seria mais fácil se... se ele
morresse (Ela desata em choro.)
Terapeuta: (pausa) Percebo que você está com muita dor agora ... e me pergunto se podemos
amenizar isso por alguns instantes ... se você poderia ver o que está acontecendo
aqui a partir do seu eu observador... apenas dê um passo atrás mentalmente e ob-
serve o que está acontecendo, como você está sentada na cadeira, a posição do seu
corpo ... e observe os sentimentos que aparecem dentro de você ... onde eles estão
no seu corpo .. e também observe os pensamentos zunindo em sua cabeça. (pausa)
E o que você está pensando agora?
Cliente: (enxugando os olhos) Eu sou um monstro. Quero dizer, que tipo de mãe eu sou?
Como eu poderia pensar em algo assim?
Terapeuta: Então sua mente está lhe dizendo que você é um monstro porque você tem pen-
samentos que lhe dizem que sua vida seria mais tranquila se seu filho estivesse
morto?
Cliente: Sim. Mas ele é meu filho. Ele é meu filho! Como eu posso pensar uma coisa des-
sas?
Terapeuta: (pausa) Lembra que conversamos sobre como sua mente é como uma supermá-
quina resolvedora de problemas?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Bem, há um grande problema aqui, não é? Quero dizer, um problema realmente
muito grande e muito doloroso. Certo? Então, em casos assim, automaticamente a
máquina de solução de problemas entra em ação. E ela começa a pôr em marcha
soluções. E vamos ser sinceros: uma solução para qualquer relacionamento pro-
blemático é fazer com que a outra pessoa desapareça. Então esse pensamento so-
bre o desaparecimento do seu filho é apenas sua mente fazendo o trabalho. E sabe
o que mais? Não há nenhuma maneira de você conseguir impedir isso.
Cliente: Mas talvez David tenha razão. Talvez eu realmente não o ame.
Terapeuta: Bem, esse é um pensamento interessante. (pausa) Aposto que sua mente gosta de
atormentá-la com esse pensamento aí.
Cliente: Sim. O tempo todo.
Terapeuta: O que você está sentindo em seu corpo agora?

184
Cliente: Eu apenas me sinto mal. Muito, muito mal.
Terapeuta: E onde você sente isso mais intensamente em seu corpo?
Cliente: Bem aqui. (Ela coloca a mão na barriga.)
Terapeuta: Ok, então observe esse sentimento por um momento ... observe onde ele está ... e
o que está fazendo. (pausa) Como você chamaria essa emoção?
Cliente: Ah, é culpa. Eu odeio isso. Eu sinto isso o tempo todo.
Terapeuta: Ok. Apenas observe a culpa por um momento ... Observe-a ... Inspire ... Feche os
olhos, se quiser ... e apenas respire para dentro dela ... e veja se você pode, de al-
guma forma, apenas abrir-se em torno dela ... dê um pouco de espaço ... E, ao
mesmo tempo, eu gostaria que você sintonizasse seu coração ... Apenas reserve
um momento para entrar em contato com o que seu filho significa para você ...
(pausa) O que esse sentimento lhe diz sobre seu filho, sobre o que ele significa
para você?
Cliente: (chorando) Eu só quero que ele seja feliz.
Terapeuta: (pausa) Então sua mente diz: "Talvez eu realmente não o ame". O que seu cora-
ção diz?
Cliente: Claro que o amo.
Terapeuta: Você disse isso. Quero dizer, se você não se importasse com ele, você não sentiria
culpa, certo?
Cliente: (choroso, mas aliviado) Sim.
Terapeuta: Então me diga, você realmente se importa com David ... então que tipo de mãe
você quer ser para ele?
Cliente: Eu só quero que ele seja feliz.
Terapeuta: Ok. Então, vamos supor que eu agite uma varinha mágica e David fique feliz para
sempre. Então que tipo de mãe você gostaria de ser?
Cliente: Não sei. Eu só quero ser uma boa mãe.
Terapeuta: Ok. Então, se você quisesse ganhar esse título - de ser uma boa mãe - como você
seria com David? Que tipo de qualidades você gostaria de ter como mãe?
Cliente: Não sei.
Terapeuta: Bem, suponha que um milagre aconteça, e David resolva sua vida, e daqui a al-
guns anos o entrevistaremos na televisão nacional e perguntamos a ele: "David,
como era sua mãe quando você estava passando pela pior fase desse vício em he-
roína?" No mundo ideal, o que você gostaria que ele dissesse?
Cliente: Eu acho que eu gostaria que ele dissesse que eu estava sendo ... hum ... amorosa ...
e gentil ... e ... hum ... que o apoiava.
Terapeuta. Algo mais?
Cliente: Que eu estava lá para ele quando ele precisou de mim.
Terapeuta: Então, ser amorosa, gentil, solidária - é isso que você deseja ser como mãe?
Cliente: Sim.
Terapeuta: Ok. Então, fique sentada com isso em mente por um momento. Ser amorosa, gen-
til e solidária: é isso que importa para você como mãe.
Cliente: Sim. (Ela se senta de pé, balançando a cabeça devagar) Eu quero fazer o que é
melhor para ele. Eu quero fazer a coisa certa. E eu sei que lhe dar dinheiro, não é

185
isso.
Terapeuta: Ok (pausa) Então, da próxima vez que seu filho vier, parece que você tem uma
escolha a fazer. Por um lado, você pode deixar sua mente intimidá-la – empurrar
você para lá e para cá e lhe dizer o que fazer. E você sabe exatamente o que sua
mente vai lhe dizer - que você precisa dar o dinheiro a ele; caso contrário, você é
uma mãe ruim e dizer "não" é tão estressante e doloroso, é mais fácil dar a ele o
dinheiro, e então ele vai deixar você em paz. Essa é uma escolha. Por outro lado,
você pode optar por deixar sua mente dizer o que quiser, mas, em vez de acreditar
no que ela lhe diz, você pode ser o tipo de mãe que você realmente deseja ser -
amorosa, gentil, solidária e fazendo o que é melhor para David a longo prazo.
Qual delas você vai escolher?
Cliente: Bem, eu - eu quero ser amorosa e solidária. Eu quero ajudá-lo.
Terapeuta: Então, se você estivesse realmente agindo de acordo com esses valores, em vez de
se deixar levar pela história do "não posso dizer não", como responderia aos pedi-
dos de dinheiro de David?
Cliente: (sorri levemente) Eu diria que não.
Terapeuta: Você diria não?
Cliente: (concorda) Aham.
Terapeuta: O que você está sentindo agora, ao dizer isso?
Cliente: Estou muito nervosa. Eu estou tremendo.
Terapeuta: Eu estou percebendo isso e tenho certeza de que me sentiria da mesma maneira se
estivesse no seu lugar. Então a pergunta é: você está disposta a abrir espaço para
esses sentimentos de nervosismo e tremor, se é isso que é preciso para ser o tipo
de mãe que você realmente quer ser?
Cliente: Sim.
Dar dinheiro ao filho para "alimentar seu hábito" era realmente inconsistente com os valores
essenciais desse cliente. A ação foi motivada pela fuga (tentando se livrar da culpa e da ansie-
dade) e pela fusão (com pensamentos como "É muito difícil dizer não", "Não suporto vê-lo as-
sim" ou sou péssima. mãe, se eu não o ajudar "), não por valores. Após a intervenção acima, a
conversa se voltou para as muitas maneiras diferentes pelas quais ela poderia agir de acordo
com seus valores: como ela poderia ser amorosa, gentil e solidária com David de outras manei-
ras, sem lhe dar dinheiro (ou coisas que ele poderia vender por dinheiro).
Você pode ver nessa transcrição a sobreposição e interação entre desfusão, aceitação e valores.
Chamamos isso de "dançar ao redor do hexaflex" – mover-se de maneira flexível e fluida de um
processo para outro, conforme seja necessário.

DICA PRÁTICA: Os clientes geralmente fornecem valores como "Quero ser


um bom pai / mãe" ou "Quero ser um bom amigo". Este é um bom ponto de
partida, mas é um pouco vago e inespecífico. Geralmente é útil explorar mais,
com perguntas como: "Então, quais são as qualidades de uma boa mãe / pai /
amigo?" ou "Se você quisesse obter esse título - boa mãe / pai / amigo - como
se comportaria com seus filhos / amigos?"

186
TÉCNICAS PARA CLARIFICAR VALORES E ENTRAR EM CONTATO
COM ELES
Neste capítulo iremos abordar muitas técnicas. Mas lembre-se de que elas são apenas um meio para
um fim: ajudar nossos clientes a se conectarem com sua própria humanidade para encontrar seu
próprio senso de significado e propósito na vida. Portanto, ao aplicar essas técnicas, devemos fazê-
lo de forma atenta: sintonizados com nosso cliente e atentos a essas qualidades de vitalidade, abertu-
ra e liberação. A Figura 11.1 abaixo resume muitas técnicas comuns de clarificação de valores. Leia
todos eles para ter uma ideia das diversas maneiras pelas quais podemos fazer esse trabalho.

Figura 11.1 Técnicas Comuns de Clarificação de Valores


187
Como você pode ver, existem inúmeras técnicas disponíveis para você, e muitas delas envolvem
fazer perguntas. Se fizermos essas perguntas de forma seca e intelectual, iremos obter respostas
secas e intelectuais. Portanto, não tenha pressa com essas perguntas. Peça a seu cliente que pense
profundamente, que leve o tempo que necessitar. Você pode dizer algo assim: "Você pode ficar
com essa pergunta por um tempo? Realmente reflita sobre ela e veja o que acontece. Não se
apresse. Não temos pressa". Também poderíamos convidá-la para fechar os olhos e contemplar.
Se uma resposta parecer superficial, poderíamos dizer: "Eu posso estar errado sobre isso, mas
minha impressão é que estamos apenas arranhando a superfície aqui. Veja se você pode ir mais
fundo — explore realmente isso. Entre em contato com seu coração. Bem lá no fundo, o que re-
almente é importante para você? "
A maioria dessas técnicas é muito mais poderosa quando as apresentamos como um exercício
vivencial, em vez de apenas conversar sobre as mesmas. Por exemplo, podemos começar com um
breve exercício de atenção plena, como a atenção plena na respiração, e depois pedir ao cliente
para fechar os olhos e refletir silenciosamente sobre a pergunta ou imaginar a cena. A transcrição
abaixo, que inclui o exercício Imagine Seu Aniversário de Oitenta Anos, ilustra isso.
IMAGINE SEU ANIVERSÁRIO DE OITENTA ANOS
Terapeuta: Agora gostaria de pedir a você que visualize em sua mente o seu aniversário de oiten-
ta anos; imagine que três pessoas diferentes se levantam para fazer discursos sobre
você. Lembre-se, isso é uma fantasia — um exercício imaginário — portanto, você
não precisa seguir as regras da lógica e da ciência. Você pode ter oitenta anos, mas
seus amigos podem parecer exatamente como são hoje. E você pode ter pessoas pre-
sentes que já estão mortas ou que estarão mortas quando você tiver oitenta anos. E se
você quiser ter filhos um dia, pode imaginar que seus filhos também estão lá. Lem-
bre-se também de que você não está tentando prever o futuro realisticamente. Você
está criando uma fantasia — se magicamente todos os seus sonhos se realizassem —
então como seria o seu aniversário de oitenta anos? Portanto, se sua mente começar a
interferir e dizer coisas como: As pessoas, em eventos como esse, não dizem o que re-
almente gostariam dizer ou Não, essa pessoa nunca diria isso sobre mim, basta dizer
"obrigado, mente" e voltar ao exercício. Pode ser?
Cliente: Pode ser.
Terapeuta: Ok. Então eu convido você a ficar em uma posição confortável; feche os olhos ou
fixe-os em um local específico ... e, nas próximas respirações, concentre-se em esva-
ziar os pulmões ... empurrando todo o ar para fora ... e permitindo que eles se preen-
chem por si mesmos ... Observe a respiração entrando e saindo ... através das narinas
... descendo para os pulmões .... e saindo novamente ... Observe como, uma vez que
os pulmões estão vazios, eles automaticamente voltam a se encher ... E agora, permita
que sua respiração encontre seu ritmo natural ... não há necessidade de continuar con-
trolando-a ... eu gostaria que você fizesse um exercício de imaginação ... para criar
uma fantasia do seu aniversário de 80 anos ... não para tentar prever de maneira rea-
lista, mas criar uma fantasia de como poderia ser no mundo ideal, se magicamente
todos os seus sonhos se tornassem realidade ... Então é seu octogésimo aniversário e
todos que realmente importam para você ... amigos, familiares, parceiro, pais, filhos,
colegas ... qualquer pessoa e todo mundo com quem você realmente se importa,
mesmo que não esteja mais viva, está reunida lá em sua homenagem ... Pode ser uma
pequena festa íntima em uma casa de família ou uma festa enorme em um restaurante
elegante ... é a sua imaginação, então crie da maneira que quiser ... Agora imagine
que uma pessoa com quem você realmente se importa — amigo, filho, parceiro, pai,
você escolhe — se levanta para fazer um discurso sobre você ... um discurso curto,

188
não mais que três ou quatro frases ... e ela fala sobre o que você fez de importante na
vida ... o que você significa para eles ... e o papel que desempenhou na vida deles ...
imagine-o dizendo as verdades profundas de seu coração, aquilo que você mais gos-
taria de ouvi-lo dizer.. (Pausa de 40 a 50 segundos)
O terapeuta agora repete isso para outras duas pessoas - sempre permitindo que o
cliente escolha quem falará - e cada vez permitindo quarenta a cinquenta segundos
de silêncio para reflexão.
Terapeuta: A maioria das pessoas acha que esse exercício traz uma ampla gama de sentimentos,
alguns afetuosos e amorosos e outros muito dolorosos. Portanto, dedique um momen-
to para perceber o que está sentindo ... e considere o que esses sentimentos lhe dizem
... sobre o que realmente importa para você ... que tipo de pessoa você quer ser ... e se,
há alguma coisa que você está negligenciando atualmente. (Pausa 30 segundos) E
agora, encerrando o exercício ... volte a observar sua respiração ... e observe seu cor-
po na cadeira ... e observe os sons que você pode ouvir ... e abra os olhos e observe o
que você pode ver ... alongue-se ... e observe-se alongando ... e seja bem-vindo de
volta!

Depois, analisamos o exercício em detalhes: O que aconteceu? O que as pessoas disseram


sobre você? O que isso diz a você sobre o que é importante para você, o que você quer que
sua vida represente e que tipo de pessoa você quer ser?
Também podemos perguntar sobre fusão e esquiva: Como sua mente tentou interferir no
exercício? Você foi fisgado em algum momento? Como você se soltou? Que sentimentos apa-
receram por você? Você abriu espaço para eles ou lutou? Você evitou fazer o exercício?

FORMULÁRIOS E PLANILHAS
Todos os formulários e planilhas mencionados na caixa Formulários e Planilhas na figura 11.1
acima podem ser baixados gratuitamente, em www.actmindfully.com.au. Para ter uma ideia
de como esses formulários funcionam, pare de ler por alguns instantes, faça o download de
uma cópia de cada um dos mesmos e preencha-os. Espero que você já preenchido feito a
Bússola da Vida e O Alvo no capítulo 5; se ainda não preencheu os mesmos, faça-a agora.
Ambos os formulários são ferramentas simples para reunir rapidamente algumas informações
sobre os valores do seu cliente (ou os seus). Você pode preenchê-los juntamente com o cliente
durante uma sessão ou dá-los como lição de casa. O Alvo é particularmente útil como uma
ferramenta de avaliação rápida na primeira sessão. Você também pode pedir ao seu cliente
para preencher rapidamente um deles durante o check-in no início de cada sessão, — é um
guia simples para acompanhar o andamento da terapia..
A Bússola de Vida também é muito útil porque (a) fornece uma visão geral da vida do cliente;
(b) identifica valores fundamentais que abrangem muitos domínios diferentes da vida; e (c) se
o seu cliente se sente sobrecarregado com todas as alterações que deseja fazer, você pode pe-
dir que ele "escolha apenas uma caixa para começar".

Problemas na Clarificação de Valores


Como regra geral, é mais fácil fazer com que os valores funcionem com clientes de alto de-
sempenho e mais preocupados do que com clientes de baixo desempenho ou com altos níveis
de esquiva vivencial. Isso acontece porque quanto mais a vida de alguém é movida pela es-
quiva vivencial, mais ele tende a se desconectar de seus valores. Exemplos óbvios incluem

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muitos clientes com transtorno de personalidade borderline ou dependência crônica de álcool
ou narcóticos. Frequentemente, esses clientes ferem, abusam ou negligenciam repetidamente
seus corpos, seus amigos, suas famílias, seus parceiros e assim por diante. Essa é a triste con-
sequência de um comportamento não funcional de longo prazo que é impulsionado pela fusão
e pela esquiva. Não é de surpreender que isso provoque muita dor emocional. Conectar-se
com valores negligenciados, portanto, significa conectar-se com toda essa dor.
Portanto, se os clientes repetidamente resistem, evitam ou bloqueiam valores — "Eu não sei",
"Nada importa", "Eu não tenho nenhum valor", "Eu não vejo sentido nisso", "Eu não mereço
ter uma vida "," Isso é tão brega "— isso geralmente indica esquiva vivencial e requer traba-
lho com aceitação e desfusão. É claro que às vezes o cliente simplesmente não tem ideia do
que são "valores"; se ele levou uma vida de privação ou empobrecida, "valores" podem pare-
cer algo de outro planeta. Assim, em um programa para o ACT com transtorno de personali-
dade borderline, eles fornecem aos clientes uma lista de trinta valores comuns e pedem a eles
para assinalar os que ressoam pessoalmente (Brann et al., 2007-09).

INDO DE OBJETIVOS PARA VALORES: QUESTÕES ÚTEIS


Quando perguntamos a uma cliente sobre valores, ela geralmente vai nos fornecer objetivos.
Ela pode descrever o parceiro, o trabalho ou o corpo que ela deseja ter ou as coisas que deseja
obter de outras pessoas, como amor, amizade ou perdão. Ou ela pode dizer que quer fama,
riqueza, status, respeito ou sucesso. Ou ela pode nos dar um objetivo emocional: sentir-se
feliz ou ter mais autoconfiança. Ou ela pode nos dar o objetivo de uma pessoa morta: não usar
heroína, não ter ataques de pânico, não perder a paciência, não se sentir constrangida. Portan-
to, para obter os valores subjacentes a uma meta, podemos fazer uma ou todas as perguntas a
seguir (anteceda-as com esta frase: "Se essa meta foi alcançada ..."):

 O que você faria de forma diferente?


 Como você agiria diferente?
 Como você se comportaria de forma diferente em seus relacionamentos, vida laboral,
vida social, vida familiar, etc.?
 Que qualidade pessoais ou fortalezas você iria demonstrar?
 Isso mostraria a que você quer dedicar sua vida?
 O que isso capacitaria você a fazer que é significativo para você e que é importante no
quadro global?
Por exemplo, se você tivesse autoestima, ou se sentisse feliz, ou tivesse um senso de perten-
cimento, de inclusão, ou se tivesse um carrão/corpo maravilhoso/trabalho fantástico, como
você agiria de forma diferente? O que você faria de forma diferente? Como você se comporta-
ria de forma diferente?
Se os clientes nos derem um objetivo negativo — algo que eles não desejam —, podemos
transformar isso rapidamente em um objetivo positivo, perguntando "O que você quer em vez
disso?" Por exemplo, se a cliente diz: "Quero parar de brigar com minha mãe", podemos per-
guntar: "Então, o que você gostaria de fazer em vez disso? Como você gostaria de ser quando
passa um tempo com ela?"
Se os clientes lhe fornecerem um objetivo positivo, perguntas adicionais úteis para eliciar
valores subjacentes incluem "Isso está a serviço de quê?" "O que é importante / significativo
sobre isso?" "O que importa em alcançar esse objetivo?" "O que é importante nisso?" "O que
isso permitiria que você fizesse?" Por exemplo, os valores subjacentes a um feriado podem
ser sobre ser aventureiro, cuidar da saúde mental ou passar um tempo de qualidade com a fa-
190
mília e assim por diante ".

DICA PRÁTICA: Contanto que você não aja como a Inquisição Espanhola, não
há problema em continuar fazendo perguntas. Os clientes raramente chegam aos
valores essenciais após apenas uma ou duas perguntas. Se estiver preocupado,
você pode dizer: "Minha mente está me dizendo que você vai ficar irritado com
todas essas perguntas. Eu continuo a perguntar por que estamos tentando chegar
a algo de importância fundamental aqui, e meu senso é que até agora consegui-
mos apenas arranhar a superfície. Então, tudo bem se continuarmos com isso um
pouco mais? "
?"

AGRADAR OS OUTROS
Alguns clientes estão tão focados em obter a aprovação de outros ou em fazer o que os pais, a
religião ou a cultura lhes mandam fazer, que se desconectam de seus próprios valores centrais.
Para ajudar a reconectá-los, eis uma pergunta útil: "Suponha que eu agitasse uma varinha má-
gica para que você tivesse automaticamente a aprovação de todos cuja opinião é importante
para você, de forma tal que, não importa o que você fizesse, eles aprovassem completamente,
quer você se tornasse um santo ou um assassino em série. Uma vez que esta varinha tivesse
sido agitada, você nunca mais precisaria impressionar ninguém ou agradar a alguém — o que
quer que você faça, eles ficarão encantados. Então — o que você faria com sua vida? E como
você agiria em seus relacionamentos?"

QUANDO O OBJETIVO É MUDAR OS OUTROS


Se um cliente diz: "Quero que minha esposa/marido/mãe/chefe/colega seja mais alegre/ coope-
rativo /amigável/amoroso/respeitoso" e assim por diante — ou "menos abusivo/preguiçoso" e
assim por diante, você pode perguntar: "Vamos fazer de conta que tenho uma varinha mágica e
posso mudar instantaneamente essa pessoa para que se adéque ao seu ideal. Se você tivesse esse
relacionamento ideal, como você agiria de maneira diferente? Quais qualidades ou pontos fortes
você gostaria de desenvolver ou trazer para esse relacionamento? Que tipo de amigo/parente/
colega você gostaria de ser? Como você idealmente trataria a outra pessoa? "
Depois disso, podemos considerar como o cliente pode influenciar o comportamento dos outros,
agindo de acordo com seus próprios valores. Enfatizamos que não podemos controlar os outros
— podemos apenas influenciá-los. E quanto mais controlarmos nossas próprias ações, mais
efetivamente seremos capazes de influenciar os outros.

TEMA DE CASA E PRÓXIMA SESSÃO


A lição de casa pode envolver escrever sobre valores, pensar sobre valores, meditar sobre
valores, discutir valores com os entes queridos ou preencher os formulários e planilhas nome-
ados na figura 11.1. Uma tarefa simples para a lição de casa é a seguinte: "Entre agora e a
próxima sessão, você estaria disposto a fazer duas coisas? Um, observar quando você está
agindo de acordo com seus valores, e dois, observar como é fazer isso, que diferença faz."
Na sessão seguinte pode-se trabalhar mais em torno de valores ou então passar para a defini-
ção de metas e de ações a empreender. E se a fusão e a esquiva atrapalharem a clarificação de
valores, poderíamos dançar através do hexaflex rumo a desfusão e a aceitação.

191
De tempos em tempos, vamos encontrar uma cliente de alto desempenho que já está fazendo
todas as coisas importantes — indo trabalhar, cuidando das crianças, mantendo a forma e as-
sim por diante — mas que está profundamente insatisfeita. Muitas vezes, sua falta de satisfa-
ção é porque, embora esteja fazendo o que importa, ela não está psicologicamente presente.
Em vez disso, ela está presa em sua mente: perdida em pensamentos sobre todas as coisas em
sua lista de "tarefas a fazer" ou imersa em um comentário sem fim sobre que não é boa o sufi-
ciente ou consumida por preocupações, ruminações ou devaneios. Com esses clientes, traba-
lharíamos sobre o "estar presente".

TEMA DE CASA PARA VOCÊ


Para este capítulo, não temos lição de casa para você. Não, só estou brincando! Na verdade,
tem muita coisa. Se você ainda não preencheu todos os formulários de valores anteriormente
mencionados, faça o download dos mesmos e preencha-os.

 Leia todas as intervenções de valores em voz alta, como se estivesse conduzindo seus
clientes através das mesmas.
 Pense em outras perguntas que você possa fazer. Há outros exercícios que você conhe-
ce ou outras ideias que você tem sobre maneiras de colocar os clientes em contato com
valores?
 Escolha dois ou três clientes e identifique com quais valores eles perderam contato.
Considere quais exercícios você poderia fazer para ajudá-los a se reconectar com seus
valores.
 Reflita sobre seus próprios valores como terapeuta: O que é importante para você, no
fundo do seu coração, sobre fazer esse trabalho? O que você quer defender como tera-
peuta? Quais forças e qualidades pessoais você deseja trazer para a sala de terapia?
Durante a próxima semana, observe o quanto você está em contato com seus valores - e como
é isso. Que diferença isso faz na sua vida?

RESUMO
Tecnicamente falando, valores são qualidades desejadas de ação continuada. Poeticamente,
eles são os desejos mais profundos do nosso coração sobre como queremos passar nosso bre-
ve tempo neste planeta. Metaforicamente, são como uma bússola: nos dão orientação e nos
mantêm nos trilhos. Ajudar nossos clientes a entrar em contato com seus valores pode ser
difícil; geralmente encontramos todo tipo de equívocos e mal-entendidos, geralmente em tor-
no da diferença entre valores e objetivos. Além disso, frequentemente enfrentamos barreiras
na forma de fusão e esquiva. Assim, frequentemente estaremos dançando para frente e para
trás entre valores, desfusão e aceitação. No entanto, com paciência e persistência, geralmente
podemos ajudar nossos clientes a entrar em contato com seus corações — e quando vemos
isso acontecer, isso é verdadeiramente mágico.

192
CAPÍTULO 12

Faça o Que For Necessário

AÇÃO COMPROMETIDA DE FORMA RESUMIDA


Em linguagem simples: Ação comprometida significa adotar padrões cada vez maiores de ação
eficaz, guiados e motivados por valores. Também significa ação flexível: adaptar-se prontamente
aos desafios da situação e persistir ou mudar o comportamento, conforme necessário; fazer o que
é preciso para viver de acordo com nossos valores.
Objetivo: Transformar valores em padrões de ação continuada e em evolução. Estabelecer o pa-
drão de retornar repetidamente aos nossos valores, não importa quantas vezes percamos contato
com eles.
Sinônimos: Não tem.
Método: Use valores para definir metas e divida essas metas em ações específicas. Peça ao clien-
te para se comprometer com esta ação. Identifique barreiras à ação e supere-as usando os outros
cinco processos principais da ACT.
Quando usar: Sempre que um cliente precisar de ajuda para traduzir valores em ações viáveis.
Isso inclui aprender novas habilidades necessárias para uma vida congruente com valores.

COMO ALCANÇAR A AÇÃO COMPROMETIDA


A ação comprometida acontece em todas as sessões. Ir para a terapia é uma ação comprome-
tida; fazer um exercício de atenção plena ou discutir um tópico doloroso é uma ação compro-
metida; fazer o tema de casa da ACT uma ação comprometida. No entanto, a ação comprome-
tida geralmente não ocupa o palco central antes de termos clarificado os valores.
Quase sempre, à medida que nos movemos de valores para objetivos sobre os quais vamos
agir, encontramos barreiras psicológicas. Portanto, se já cobrimos alguns ou todos os quatro
processos de atenção plena — desfusão, aceitação, contato com o momento presente, eu con-
textual —podemos usá-los agora para superar essas barreiras. E se ainda não cobrimos esses
componentes do hexaflex, agora podemos avançar para eles.
Sob o título de ação comprometida, podemos incorporar toda e qualquer intervenção compor-
tamental tradicional — treinamento de habilidades, exposição e dessensibilização, ativação
comportamental para a depressão e assim por diante. Assim, por exemplo, podemos ensinar
habilidades de enfrentamento de crises, resolução de problemas, autoacalmar-se, assertivida-
de, comunicação ou resolução de conflitos. Sempre que essas habilidades estiverem a serviço
da vida consciente baseada em valores (e não sejam estratégias de controle emocional, como
técnicas de distração), elas podem ser consideradas parte da ACT.

Ação Comprometida: Passo a Passo


Basicamente há quatro passos para a ação comprometida:

1. Escolha uma área ou domínio da vida que seja de alta prioridade para a mudança.

193
2. Escolha os valores a serem buscados neste domínio.
3. Desenvolva objetivos que estejam baseados nestes valores.
4. Entre em ação de forma consciente, com atenção plena.
Nosso objetivo final é generalizar essa abordagem em padrões cada vez maiores de ação
comprometida baseada em valores, criando um efeito dominó que se espalha por todos os
domínios ou áreas da vida. Definindo Objetivos com Base em Valores (abaixo) é uma plani-
lha para ajudá-lo nas três primeiras etapas: escolhendo um domínio da vida, esclarecendo va-
lores e definindo metas. Por favor, leia-o agora.

DEFININDO OBJETIVOS COM BASE EM VALORES


Três Passos para Definir Objetivos com Base em Valores

Passo 1: A área da vida sobre a qual escolho trabalhar é (circule um ou dois, mas não mais):
trabalho, saúde, educação, social, educação de filhos, parceiro íntimo, família, espiritual,
comunidade, ambiente, lazer, crescimento pessoal.

Passo 2: Os valores subjacentes aos objetivos (nesta área da vida) são:

Quando se trata de estabelecer objetivos, assegure-se de estabelecer os mesmos com base


nos critérios abaixo:

■ Específico: Especifique as ações que você tomará - quando e onde fará isso e quem
ou o que está envolvido. Por exemplo, esse é um objetivo vago ou inespecífico: "Pas-
sarei mais tempo com meus filhos". Esse é um objetivo específico: "Vou levar as cri-
anças ao parque no sábado à tarde para jogar futebol". Faça com que seu objetivo
seja suficientemente específico para que você possa dizer com facilidade se o alcan-
çou ou não.
■ Significativo: Se esse objetivo for genuinamente guiado por seus valores, em vez de
seguir uma regra rígida, tentar agradar aos outros ou evitar alguma dor, ele será pes-
soalmente significativo. Se ele não tiver um senso de significado ou propósito, verifi-
que e veja se ele realmente é guiado por seus valores.
■ Adaptativo: O objetivo ajuda você a ir em uma direção que, tanto quanto você pode
prever, provavelmente irá melhorar, enriquecer ou melhorar sua qualidade de vida?
■ Realista: O objetivo deve ser realisticamente alcançável. Leve em consideração sua
saúde, demandas concorrentes em relação a seu tempo disponível, status financeiro
e se você possui as habilidades necessárias para alcançá-lo.
■ Prazo: para aumentar a especificidade de seu objetivo, defina uma data e hora para ele.
Se isso não for possível, defina o período de tempo da forma mais precisa possível.

194
Passo 3: Meus objetivos baseados em valores são ....

■ Objetivo(s) imediato(s) (algo pequeno, simples e fácil que eu posso fazer nas próxi-
mas vinte e quatro horas):

■ Objetivo(s) de médio prazo (coisas que posso fazer nos próximos dias e semanas);

■ Objetivo(s) de longo prazo (coisas que posso fazer nos próximos meses e anos):

Observação: Tome cuidado para evitar objetivos emocionais e objetivos de pessoa morta
___________________________________________________________________________
Obviamente, podemos definir toda essa tarefa de definir objetivos utilizando a conversação se
nós (ou nosso cliente) não gostarmos de formulários. No entanto, fazer isto de forma escrita e
na sessão torna isto mais tangível e fornece ao cliente um lembrete valioso para levar para a
vida. Podemos descobrir que, durante esse trabalho, nosso cliente começa a se fundir com
pensamentos inúteis sobre tudo ser muito difícil, sem esperança, sem sentido ou fadado ao
fracasso. Isso oferece uma excelente oportunidade para trabalhar a desfusão, como veremos
nesta transcrição:
Cliente: (Olha para a planilha e franze a testa) Isso é uma perda de tempo. (Ela abaixa a
caneta) Eu já fiz isso antes. Eu escrevo objetivos, mas nunca os cumpro.
Terapeuta: Então você está pensando que isso será como todas as outras vezes?
Cliente: Não é apenas um pensamento. É verdade.
Terapeuta: Bem, eu poderia tentar debater com você aqui — tentar convencê-la de que o pen-
samento não é verdadeiro. Ou eu poderia tentar motivar e inspirar você. Ou eu
poderia te ensinar como isso é importante. Ou lhe dizer para não pensar dessa ma-
neira ou dizer para pensar positivamente Você acha que alguma dessas coisas se-
ria útil?
Cliente: (dá risada) Não.
Terapeuta: Então, vamos dar uma olhada nisso do ponto de vista do eu observador. Dê um
passo para trás e observe o que seu eu pensador está lhe dizendo.
Cliente: (Ela faz uma pausa, e observa seus pensamentos) É a mesma coisa de antes. Isso
não vai funcionar. É uma perda de tempo.

195
Terapeuta. Então, se você deixar que esses pensamentos lhe digam o que fazer, isso vai levar
você mais perto da vida que deseja viver — ou para mais longe disso?
Cliente: Para mais longe.
Terapeuta: Então, o que você vai fazer aqui? Vai deixar esses pensamentos intimidá-la e lhe
dizerem o que você pode ou não fazer? Ou vai fazer algo que provavelmente vai
fazer sua vida funcionar?
Cliente: Hmm. Colocado dessa maneira... (Ela pega a caneta e começa a escrever)
Terapeuta: Agora, enquanto você continua escrevendo, observe o que sua mente está fazen-
do. Tente notar todas as maneiras em que ela tenta fazer com que você pare.
Cliente: (Ela para de escrever de novo e sorri) Ela está dizendo que isso é uma completa
perda de tempo.
Terapeuta: Coisa boa! Agora veja se você consegue fazer a mente ter uma birra de raiva -
você sabe, o conjunto completo: gritar, berrar, gritar, bater os pés!
Cliente: (sorrindo e continuando a escrever) Ah, sim ... Ela está tendo um colapso com-
pleto agora. Verdadeiramente bizarro.

Dica Prática: Você pode reforçar a desfusão oferecendo a seu cliente uma gama de
respostas alternativas a um pensamento problemático: "Eu posso debater com você
se esse pensamento é verdadeiro ou falso, dizer-lhe para não pensar dessa forma,
ensiná-lo, dizer-lhe para pensar positivamente, dar-lhe conselhos, tranquiliza-lo. Vo-
cê acha que isto faria sua mente parar de ter esse tipo de pensamentos?" Seu cliente
quase sempre lhe dirá que não, e então você pode para qualquer técnica de desfusão
que seu cliente tenha aceitado anteriormente. "Então, por que você não deixa a Rádio
Desgraça e Melancolia fazer suas transmissões e investe sua energia fazendo algo
que realmente é importe para você?"

COMPROMISSOS PÚBLICOS
É muito mais provável que as pessoas cumpram mais os compromissos públicos do que os
privados. Por isso, geralmente pedimos ao cliente que diga em voz alta exatamente com o que
ele está comprometendo. Como muitas pessoas se sentem constrangidas ao assumir compro-
missos públicos, eu gosto de dar uma justificativa, algo nesse sentido:

Terapeuta: O que estou prestes a lhe perguntar pode parecer um pouco estranho, mas a pes-
quisa mostra que quando as pessoas assumem compromissos publicamente, é
muito mais provável que elas os cumpram. Então, se você estiver disposto, gosta-
ria que você dissesse em voz alta exatamente com o que você está se comprome-
tendo — e ao dizê-lo, observe os pensamentos e sentimentos que surgirem.
Cliente: Você quer que el lhe conte o que escrevi?
Terapeuta: Sim, por favor. Diga em voz alta, como se você realmente tivesse a intenção de
cumprir isso. E observe o que aparece em sua mente e em seu corpo.
Cliente: Eu me comprometo a levar as crianças ao parque no sábado à tarde para jogar
beisebol.
Terapeuta: Ótimo. Você parecia um pouco desconfortável ao dizer isso. Que sentimentos
apareceram?

196
Cliente: Me deu um nó no estômago.
Terapeuta: E sua mente tinha algo inútil a dizer?
Cliente: Pode apostar. Estou muito ocupado com o trabalho. Eu não tenho tempo. É algo
incômodo. Deixe para o próximo mês.
Terapeuta: Então você está disposto a abrir espaço para esses pensamentos e sentimentos
para fazer o que é importante para você?
Cliente: Sim.

Quando os clientes expressam seus compromissos em voz alta, eles geralmente experimentam
pensamentos e sentimentos desconfortáveis. É útil perguntar sobre suas experiências particu-
lares e garantir que eles estejam dispostos a abrir espaço para eles.

O MENOR PASSO
Uma pergunta muito útil, depois que você identificou uma área da vida e alguns valores fun-
damentais, é a seguinte: "Qual é o menor passo, o passo mais pequeno, mais simples e mais
fácil que você pode dar nas próximas 24 horas e que levará você um pouco mais longe nessa
direção?"
Aprender a dar pequenos passos é importante. Quando os clientes se concentram demais em
objetivos grandes e de longo prazo, eles são puxados para fora da vida no presente; eles são
sugados para dentro da mentalidade do "Eu vou ser feliz quando atingir esse objetivo". E, é
claro, eles talvez nunca venham conseguir, ou pode demorar muito mais do que esperavam,
ou isso pode não fazê-los felizes, mesmo que consigam.
Então, nestas circunstâncias eu gosto de lembrar aos clientes o famoso ditado do Tao Te
Ching: "Uma jornada de mil milhas começa com um único passo". Viver nossos valores é
uma jornada que não termina nunca — continua até o momento de nosso último suspiro. E
cada pequeno passo que damos, por menor que seja, é uma parte válida e significativa dessa
jornada. (Também gosto de citar Esopo: "Devagar se vai ao longe.")
Para mostrar a você como valores, metas e ações se reúnem, vamos considerar Sarah, uma
enfermeira de trinta e oito anos, solteira há quatro anos desde o divórcio. Sarah queria muito
encontrar um novo parceiro, casar e ter filhos, e estava preocupada com o fato de que em bre-
ve ela estaria velha demais para engravidar. É claro que casar e ter filhos são objetivos — eles
podem ser cruzados da lista, alcançados, realizados! — não são valores. Então, usando a pla-
nilha acima, Sarah identificou duas áreas de vida como prioritárias: "parceiro íntimo" e "ma-
ternidade". Em seguida, analisamos os seus valores em cada uma dessas áreas.
Inicialmente, Sarah disse que o que ela queria era ser amada e cuidada. Esses são desejos co-
muns que quase todo mundo tem, mas não são valores — valores são sobre como queremos
nos comportar, não sobre o que queremos obter. Com mais investigação (e bastante trabalho
sobre aceitar a intensa tristeza que surgiu), Sarah identificou seus valores na área do "parceiro
íntimo" como conectar-se, cuidar do parceiro, ser amorosa, ser solidária, ser brincalhona, estar
presente, ser emocionalmente íntima e ser sexualmente ativa. Na área da "maternidade", seus
valores eram quase idênticos (exceto "ser sexualmente ativa").
Sarah reconheceu que "casamento e filhos" não eram realistas como objetivos imediatos (nas
próximas 24 horas) ou objetivos de curto prazo (nos próximos dias e semanas), por isso os
anotou como objetivos de médio ou longo prazo.
Em seguida, ela olhou para objetivos de curto prazo. Na área do "parceiro íntimo", ela estabe-

197
leceu metas para: (a) se inscrever em uma agência de namoro e ir a alguns encontros às cegas;
Na área da "maternidade", seus objetivos eram (a) levar a sobrinha adolescente para uma via-
gem de um dia e (b) visitar alguns amigos que tinham filhos pequenos.
Em termos de objetivos imediatos, Sarah ficou perplexa. Veja como foi a sessão:

Terapeuta: Você identificou alguns valores importantes aqui. Qual parece o mais importante?
Sarah: Hum. Eu acho que, mais do que qualquer outra coisa, conectar e ter intimidade.
Terapeuta: Ok, então qual seria uma coisa pequena, simples e fácil que você pode fazer nas
próximas vinte e quatro horas e que esteja em concordância com esses valores?
Sarah: Eu não sei.
Terapeuta: Nenhuma ideia?
Sarah: Não.
Terapeuta: Bem, a chave aqui é pensar fora da caixa. Se a conexão é importante para você,
existem centenas de maneiras diferentes de fazer isso; você pode se conectar com
animais, plantas, pessoas, seu corpo, sua religião. E vale o mesmo para ter intimi-
dade — existe todos os tipos de maneiras diferentes de fazer isso, incluindo ser ín-
timo de si mesmo.
Sarah: Eu nunca tinha pensado nisso dessa maneira.

Depois de alguma discussão nesse sentido, Sarah conseguiu identificar como um objetivo
imediato tomar um banho longo, quente e calmante: essa era uma maneira de ser íntima de si
mesma e de se conectar com seu corpo.

OBJETIVOS IMPOSSÍVEIS
Às vezes, os clientes têm o que chamamos de objetivos impossíveis. Por exemplo, Alex era
um ex-assistente social de 42 anos de idade aposentado por incapacidade. Ele foi encaminha-
do devido a uma história de quinze anos de TEPT crônico, depressão maior e síndrome da dor
crônica. Seus problemas haviam começado quinze anos antes, quando ele foi terrivelmente
agredido, o que resultou em ferimentos graves nas costas e no pescoço e que exigiram várias
cirurgias para lidar com esses ferimentos.
Antes de sofrer a agressão, Alex tinha sido um apaixonado jogador de futebol amador — agora
ele mal conseguia caminhar mesmo com o uso de uma bengala. Quando começamos a trabalhar
sobre valores e objetivos, Alex continuou falando sobre o quanto queria jogar futebol novamen-
te, apesar de muitos cirurgiões terem lhe dito que isso era impossível. Eu disse a ele: "Bem, eis
a questão, Alex. Não cabe a mim lhe dizer o que é possível e o que não é. Mas podemos con-
cordar que hoje, agora, nas próximas vinte e quatro horas, jogar futebol não é possível?"
Alex concordou com isso, então exploramos seus valores subjacentes ao objetivo de jogar fute-
bol novamente. Inicialmente, ele listou os seguintes: vencer contra outras equipes, obter respei-
to, ter uma vida social. No entanto, nenhum desses itens que ele listou são valores: eles não são
qualidades desejadas de ação continuada. Então perguntei a ele: "Suponha que eu acene uma
varinha mágica para que você alcance instantaneamente todos esses objetivos: você consegue
jogar futebol novamente, vence todos os seus jogos, recebe muito respeito e tem uma ótima vida
social. Então, como você agiria de forma diferente ... em relação a si mesmo, ao seu corpo e a
outras pessoas? Como jogador, que tipo de qualidades pessoais você gostaria de ter? Como vo-
cê gostaria de se comportar em relação às pessoas com as quais socializa?"

198
Com uma exploração mais aprofundada nesse sentido, fomos capazes de chegar a alguns va-
lores fundamentais: estar ativo, cuidar de sua saúde, contribuir para uma equipe, ser sociável,
ser competitivo, ser um "bom amigo", se conectar com outras pessoas. Então assinalei a ele
que havia muitas maneiras diferentes de ele agir com base nesses valores, mesmo que não
pudesse jogar futebol no momento. Alex protestou: "Mas isso não é a mesma coisa".
Pense por um momento antes de continuar ler: Como você teria respondido ao comentário de
Alex?
Estamos lidando aqui com uma lacuna de realidade: uma grande lacuna entre a realidade atual
e a realidade desejada. E quanto maior for essa lacuna, mais dolorosos serão os sentimentos
que irão surgir. Então, naturalmente, precisamos validar e normalizar esses sentimentos, reco-
nhecer compassivamente o quanto eles são dolorosos e ajudar nosso cliente a aceitá-los.
Portanto, minha resposta a Alex foi esta:
Terapeuta: Absolutamente. Não é mesmo. Não é a mesma coisa nem de longe. E quando há
uma enorme lacuna entre o que você quer e o que você tem, isso dói. Eu posso ver
como você está chateado agora, e só posso tentar imaginar o quanto você está so-
frendo. (pausa) E, na minha experiência, quando as pessoas sofrem do jeito que
você está sofrendo agora, é porque elas estão em contato com algo realmente im-
portante, algo que importa para elas. (pausa) Então, vamos supor que eu possa lhe
oferecer uma escolha aqui. Uma opção é que você aprenda a abrir espaço para es-
ses sentimentos dolorosos e abandone a luta contra eles, para poder colocar sua
energia em algo importante, algo que realmente importa para você, no fundo do
seu coração — algo que represente seus valores diante dessa dolorosa realidade. A
outra opção é ficar atolado nesses sentimentos dolorosos, desistir de tentar e colo-
car sua vida em modo de espera. Qual opção você deseja escolher?
Nesse momento, Alex experimentou uma enorme onda de tristeza, ressentimento e medo. Por
isso trabalhamos na aceitação, na desfusão e na autocompaixão. Alex aprendeu a aceitar os
sentimentos dolorosos relacionados às suas perdas e a se desfundir dos pensamentos que o
arrastavam para amargura e para a desesperança — "Eu nunca vou poder ter a vida que que-
ro", "Não é justo", "Não há sentido em continuar."
Depois de mais algumas sessões, voltamos a trabalhar os valores de Alex e começamos a es-
tabelecer pequenas metas realistas. Por exemplo, dois de seus principais valores eram "contri-
buição" e "ser sociável". Em vez de uma equipe de esportes, Alex começou a contribuir para
uma equipe de saúde: as enfermeiras da casa de idosos de sua localidade. Ele começou a dedi-
car seu tempo para socializar com os idosos residentes que ali residiam. Ele preparava chá
para eles, conversava sobre as notícias e até jogava xadrez com eles (o que estava em concor-
dância com seu valor de ser competitivo). Ele achou isso muito satisfatório, mesmo que fosse
muito diferente de jogar futebol.
Então, para resumir, eis o que se pode fazer quando ou objetivo é impossível ou muito distan-
te:
1. Valide a dor que surge da lacuna da realidade.
2. Responda à dor com aceitação e desfusão.
3. Encontre os valores subjacentes ao objetivo.
4. Defina novas metas com base nos valores subjacentes.

199
Barreiras à Ação — e como Lidar com Elas
Se a clarificação de valores e o estabelecimento de metas fossem suficientes para garantir uma
vida baseada em valores, a tarefa dos terapeutas do ACT seria muito mais fácil. Infelizmente,
quando se trata de fazer mudanças positivas na vida, geralmente encontramos barreiras psico-
lógicas. Os mais comuns são resumidos pela sigla FEAR (em português FMEA):
F = Fusion (Fusão)
E = Excessive goals (Metas excessivas)
A = Avoidance of Discomfort (Esquiva do desconforto)
R = Remoteness from values (Distanciamento dos valores)
Vamos dar uma olhada rápida em cada uma dessas barreiras.
F (fusion) representa fusão. Quando nos propomos a fazer mudanças, é normal que nossa
mente produza pensamentos "negativos": estou muito ocupado, não consigo, vou falhar, é
muito difícil e assim por diante. Isso não será um problema se nos desfundirmos desses pen-
samentos, mas se nos fundirmos com os mesmos, eles poderão nos impedir de seguir adiante.
E (excessive goals) representa objetivos excessivos. Se nossos objetivos excederem nossos
recursos, desistiremos ou falharemos. Os recursos necessários podem incluir habilidades,
tempo, dinheiro e saúde física.
A (avoidance of discomfort) representa esquiva do desconforto. A mudança geralmente gera
sentimentos desconfortáveis — mais comumente ansiedade. Se não estivermos dispostos a
aceitar esse desconforto, não avançaremos (isto é, permaneceremos em nossa "zona de con-
forto").
R (remoteness from values) representa distanciamento de valores. Por que estamos nos es-
forçando para fazer todo esses esforços difíceis? Se perdermos o contato com os valores sub-
jacentes a esse objetivo — se ele não parecer significativo ou importante —, prontamente
perderemos a motivação. "O afastamento dos valores" geralmente se apresenta de quatro for-
mas: (l) os clientes não podem ou não querem acessar seus valores; - (2) eles confundem re-
gras e moral com valores; - (3) eles falam dos valores (da boca pra fora), mas realmente não
se conectam a eles, - e/ou (4) eles fornecem a você os valores de sua religião, da sua cultura
ou de seus pais em vez de seus próprios valores.
(A propósito: a versão acima do acrônimo FEAR é diferente daquela que você encontrará em
outros livros didáticos do ACT. Eu mudei-o para torná-lo mais abrangente)
Então, como lidamos com essas barreiras? Bem, o antídoto para o FEAR (MEDO) é DARE
(OUSAR):
D = Defusion (Desfusão)
A = Acceptance of discomfort (Aceitação do desconforto)
R = Realistic goals (Objetivos realistas)
E = Embracing values (Abraçar valores)
Então, vamos dar uma olhada no que está envolvido para DARE.
D representa desfusão. Identificamos os pensamentos que nos travam e nos desfundimos de-
les.
A representa aceitação do desconforto. Abrimos espaço para nossos pensamentos e senti-
mentos dolorosos, não porque gostamos deles ou porque os queremos, mas para que possa-
mos fazer o que é importante para nós.

200
R representa objetivos realistas (realistic goals). Se carecemos dos recursos necessários,
temos duas opções. Opção 1: Criar um novo objetivo para adquirir os recursos necessários. Se
carecemos das habilidades necessárias, nosso novo objetivo é aprender ou desenvolver essas
habilidades. Se nos falta dinheiro, nosso novo objetivo poderia ser tomá-lo emprestado ou
fazer uma poupança. Se nossa saúde física está debilitada, nosso objetivo é melhorar nossa
saúde. E se não temos disponibilidade de tempo, nosso novo objetivo é ajustar nossa agenda
(o que pode significar abrir mão de outras atividades). Opção 2: Se não é possível conseguir
os recursos necessários, então aceitamos as limitações da realidade e mudamos nosso objetivo
para adaptar-nos da melhor forma possível.
E representa abraçar valores (embracing values). Se somos deficientes em motivação, refli-
tamos por um momento sobre porque estamos fazendo isso. O que é importante ou significa-
tivo nesta ação? Ela realmente importa? E se sim, por quê?
Se escrevermos estes acrônimos em um cartão para que nossos clientes possam levá-lo consi-
go em sua carteira ou bolsa, nós estamos provendo-os com uma forma concreta de ajudá-los a
identificar seus obstáculos e responder de forma efetiva.

DAR RAZÕES
Nós todos somos muito bons em criar motivos ou razões sobre porque não podemos ou não
devemos fazer coisas que nos tiram de nossa zona de conforto. E se nos fundimos com esses
pensamentos, eles nos travam. Há muitos formas que nos possibilitam nos desfundirmos de
dar razões (como com qualquer outra categoria de pensamento). Uma forma bem simples é
nomeá-los e antecipá-los, como veremos na transcrição a seguir:
Terapeuta: Você sabe que nossa mente é incrível. Não é apenas uma máquina de solução de
problemas e uma fábrica de julgamentos, mas também uma máquina de dar ra-
zões. Toda vez que tivermos que enfrentar qualquer tipo de desafio e sair da nossa
zona de conforto, nossa mente vai criar toda uma lista de razões para não fazê-lo:
Estou cansado demais. É tão difícil. Eu vou falhar. É muito caro. Vai demorar
muito. Eu estou muito deprimido. Eu não tenho confiança suficiente. Estou muito
ansiosa. Outros não aprovariam. Eu não mereço isso. Não é a hora certa. Eu não
deveria ter que fazer isso. Tudo vai dar errado. [Modifique esses motivos de mo-
do a serem diretamente relevantes para o problema do seu cliente] A máquina
nunca para — ela continua produzindo razão após razão após razão. Sua mente,
minha mente, a mente de todo mundo produz esse tipo de pensamento. É exata-
mente o que as mentes fazem. E isso é apenas um problema se permitirmos que
esses pensamentos nos intimidem — se permitirmos que eles nos digam o que
podemos e o que não podemos fazer. Mas se os tratarmos da mesma maneira que
todos os nossos outros pensamentos inúteis — vendo-os pelo que são, segurando-
os de forma leve, não deixando nos fisgar por eles —, eles não vão poder nos im-
pedir de fazer o que realmente é importante para nós. Então, que tipo de razões
sua mente está lhe dando agora sobre por que você não pode ou não deve fazer
aquilo sobre o que estamos falando? [Elicie o maior número possível de razões]
Tudo bem, pelo que pude ver, essas são todas razões perfeitamente válidas para
não agir. Então, agora eu convido você a dar uma boa e honesta olhada na situa-
ção e a considerar esta pergunta: se você não fizer nada aqui — se você parar de
tentar, se desistir, ficar parado, fazer mais do mesmo — isso irá melhorar sua vida
a longo prazo? [Elicie uma resposta ... geralmente a resposta será "não"] Então,
você está disposto a agir, mesmo que sua mente possa lhe dar e de fato lhe dê todo
tipo de razões perfeitamente válidas para não fazê-lo?

201
Se seu cliente disser "sim", você pode dizer o seguinte:
Terapeuta Você pode usar todos os tipos de técnicas de desfusão. Você pode nomear o pro-
cesso: "Ahá. Aqui temos dar razões!" Você pode dizer para si mesmo: "Estou ten-
do o pensamento de que não posso fazer isso porque estou muito cansado." Você
pode dizer para si mesmo: "Obrigado mente. Boa razão." Você pode cantar as ra-
zões, escrevê-las em cartões, observá-las de forma desapaixonada, tratá-las como
uma transmissão da Rádio Desgraça e Melancolia, e assim por diante.
Se o seu cliente disser "não", você pode dizer — muito devagar, de forma gentil e compassiva:
Terapeuta: Bem, aqui está o ponto. Se você está esperando chegar o dia em que sua mente
vai parar de lhe dar razões, provavelmente você vai ficar esperando para sempre,
porque é isso que as mentes fazem. Elas lhe dão razões para não tomar medidas.
Então, imagine que você volte para me ver daqui a dez anos ... e você me diz que
nada mudou em sua vida ... nada ... que os últimos dez anos foram mais ou menos
a mesma coisa. Você terá esperado dez anos pelo dia em que sua mente parasse de
dar razões ... e nada mudou. (pausa) É esse o futuro que você realmente deseja? "

Seu cliente quase certamente vai lhe dizer que não, e neste caso você perguntar-lhe mais uma
vez:

Terapeuta: Então você está disposto a agir, mesmo que sua mente lhe dê todo tipo de razões
perfeitamente válidas para não fazê-lo?

Uma última estratégia a considerar é algo que eu chamo de "a pergunta do sequestro".

Terapeuta: Ok, então você me deu seis ou sete razões perfeitamente válidas para não fazê-lo.
Agora, se você estiver disposto, gostaria que você imaginasse uma coisa. Imagine
que a pessoa que você mais ama neste planeta foi sequestrada. E o negócio é que, a
menos que você tome as medidas que estamos falando, nunca mais verá essa pes-
soa. Você tomaria essa ação, mesmo que sua mente possa lhe dar todo tipo de ra-
zões perfeitamente válidas para não fazer isso? "[Elicie uma resposta; seu cliente
vai se sentir obrigado a dizer que sim] Ok. Então, no momento, é algo assim: A
vida rica e significativa que você idealmente gostaria de ter foi sequestrada e você
nunca poderá vê-la a menos que tome uma atitude. Você está disposto a fazer o que
é necessário, mesmo que sua mente lhe dê todo tipo de razão para não fazê-lo?

DISPOSIÇÃO PARA AGIR E PLANO DE AÇÃO


Podemos reduzir o impacto das barreiras psicológicas mediante a antecipação das mesmas.
Uma maneira simples de fazer isso é usando o formulário Disposição para Agir e Plano de
Ação que será apresentado mais abaixo.
A Parte 1 do formulário especifica valores, objetivos e ações. A Parte 2 pede aos clientes para
prever suas próprias barreiras psicológicas. Ser prevenido é ser precavido e aumenta as chan-
ces de que eles respondam com aceitação e desfusão. (Certifique-se de pedir ao seu cliente
para incluir o máximo de razões possíveis na seção sobre pensamentos.) A Parte 3 divide o
objetivo em pequenas etapas possíveis e também inclui uma seção para qualquer conversa
interna útil — por exemplo, "A jornada de mil milhas começa com um passo" ou "Não há
problema em cometer erros".
Uma vez que ele tiver preenchido este formulário, peça ao seu cliente para ler as partes 1 e 2
em voz alta na sessão como um compromisso público. Alerto mais uma vez que você pode

202
fazer tudo isso de forma conversada sem usar formulários, mas um registro escrito funciona
como um lembrete poderoso. Você também pode imprimir algumas cópias e entregá-las ao
seu cliente para uso contínuo.
QUEBRA DE COMPROMISSOS
Todo mundo quebra compromissos às vezes. Isso faz parte de ser humano. Muitas vezes, nos-
so cliente é rápido em levantar a questão do fracasso: "E se eu falhar? Eu tentei fazer isso an-
tes, mas nunca o cumpro". Se nosso cliente não levantar esse problema, precisaremos levantá-
lo nós mesmos. Aqui está um exemplo:
Terapeuta: É praticamente certo que de tempos em tempos você irá quebrar um compromis-
so. Isso quer dizer que você é ser humano de verdade, não um super-herói fictício.
Não é realista esperar que conseguiremos viver o tempo todo de acordo com nos-
sos valores e cumprindo nossos compromissos de forma perfeita. O que é realista
é fazer isso de forma cada vez melhor. Podemos ficar melhores em nos manter
nos trilhos, mais rápidos em nos dar conta quando saímos dos trilhos e melhores
em voltar aos trilhos novamente. E quando saímos dos trilhos, o que ajuda é ser-
mos gentis e aceitar a nós mesmos: aceitamos pensamentos e sentimentos doloro-
sos, depois nos reconectamos aos nossos valores e começamos a nos mover no-
vamente. O que não ajuda é praticar a autoagressão. Quero dizer, se autoagredir
fosse uma boa maneira de mudar seu comportamento, você já não seria perfeito
agora?
Também é útil falar aos clientes sobre os dois principais padrões de compromisso:

Os Dois Padrões de Compromisso:


 Padrão 1: Assuma um compromisso, quebre o compromisso, desista.
 Padrão 2: Assuma um compromisso, quebre o compromisso, lamba suas feridas, re-
cupere-se, aprenda com a experiência, volte aos trilhos, faça outro compromisso
O primeiro padrão leva você a ficar empacado. O segundo leva ao crescimento contínuo. Vo-
cê pode pedir aos clientes para identificar o seu padrão — e, se for o padrão 1, pedir a eles
que o avaliem honestamente em termos de funcionalidade.
Basicamente queremos que nosso cliente construa padrões cada vez mais amplos de ação ba-
seada em valores e que se estendam a todas as áreas de sua vida. E, neste processo, queremos
que ele se torne seu próprio terapeuta ACT: identificando seus aspectos FEAR e respondendo
com DARE.

Dica Prática: Existem duas armadilhas muito comuns para os terapeutas nesta fase
do trabalho. O primeiro é ser muito insistente. Se tentarmos discordar, coagir ou for-
çar nossos clientes para que ajam, o tiro provavelmente vai sair pela culatra. A se-
gunda armadilha é sermos muito brandos. Se não encorajarmos ativamente nossos
clientes a estabelecer metas específicas, assumir um compromisso público e enfrentar
suas barreiras psicológicas, eles podem não seguir em frente.

TEMA DE CASA E PRÓXIMA SESSÃO


Como tema de casa, seu cliente cumpre a ação com a qual ele se comprometeu na sessão. É

203
importante antecipar possíveis barreiras e discutir respostas efetivas. Os acrônimos FE-
AR/DARE são muito úteis, e você pode incrementar sua efetividade com o formulário abaixo:

DISPOSIÇÃO PARA AGIR E PLANO DE AÇÃO

1. Meu objetivo é (seja específico):

Os valores subjacentes ao meu objetivo são:

As ações que vou realizar para alcançar este objetivo são (seja específico):

2. Os pensamentos/memórias, sentimentos, sensações, ímpetos para os quais estou


disposto a criar espaço para alcançar este objetivo são:
■ Pensamentos/memórias

■ Sentimentos

■ Sensações

■ Ímpetos

3. Seria útil dizer a mim mesmo que:

4. Se necessário, posso quebrar este objetivo em passos menores.


O passo menor e mais simples com o qual posso começar é:

O dia e a hora em que vou dar esse primeiro passo é:

204
DE FEAR A DARE
De FEAR a DARE: Parte 1
Partindo do pressuposto de que você clarificou seus valores e estabeleceu um obje-
tivo, mas não seguiu em frente. O que impediu você de fazê-lo O acrônimo FEAR
cobre as barreiras mais comuns:
F = Fusão (coisas que sua mente lhe diz que lhe diz que você impedir você se ficar preso nelas)
E = Excesso de objetivos (seu objetivo é amplo demais ou você não tem as habilidades, o
tempo, o dinheiro, a saúde ou outros recursos para realiza-lo)
A = Esquiva (Avoidance) do desconforto (falta de disposição para criar espaço para o descon-
forto que o desafio traz consigo)
R = Distanciamento (Remoteness) de valores (perda de contato —ou esquecimento — do
que é importante ou significativo sobre isso)

Agora, com o mínimo possível de palavras, escreva tudo o que tem impedido você
de seguir em frente:

Agora retorne e rotule cada resposta com uma ou duas das letras F, E, A ou R, que
melhor descreva (m) esta barreira::
Foi F = Fusão com história ( por exemplo, eu vou falhar, é muito difícil, vou fazer isso mais
tarde, sou fraco demais, não consigo fazer isso, ou alguma outra coisa)?
Foi E = Excesso de objetivos (você não dispunha do tempo, dinheiro, saúde, facilidades, habi-
lidades, ou o apoio necessário; ou o objetivo era excessivo e você ficou sobrecarregado)?
Foi A = Esquiva do desconforto (você não estava disposto a criar espaço para a ansiedade, a
frustração, o medo do fracasso, ou algum outro pensamento e sentimento desconfortável)?
Foi R = Distanciamento de seus valores (você esqueceu ou perdeu contato com os valores
subjacentes a seu objetivo)?
O antídoto para FEAR é DARE.
D = Desfusão
A = Aceitação do desconforto
R = Realismo nos objetivos
E = Envolvimento com seus valores

Repasse suas barreiras, uma por uma, e trabalhe sobre como você pode lidar com
cada uma delas usando DARE. Mais adiante você vai encontrar algumas sugestões
para ajudá-lo.
205
De FEAR a DARE: Parte 2

Estratégias de Desfusão:

■ Dê um nome para a história


■ Agradeça sua mente.
■ Reconheça "Aqui estou dando razões" ou "Aqui estou julgando"
■ Dê um nome ao demônio/monstro/passageiro
■ Reconheça que é uma transmissão da Rádio Desgraça e Melancolia
■ Simplesmente deixe os pensamentos ir e vir como se fossem carros passando

Estratégias de Aceitação:

■ Dê um nome para o sentimento


■ Observe o sentimento como um cientista curioso.
■ Avalie o sentimento numa escala de 0 a 10
■ Comprometa-se em permitir o sentimento
■ Respire para dentro do sentimento
■ Crie espaço para o sentimento
■ Dê uma forma e uma cor ao sentimento

Estabelecimento Realista de Objetivos

■ Se você carece de habilidades, estabeleça novos objetivos relacionados a


aprender ou desenvolver essas habilidades.
■ Se seu objetivo é amplo demais, divida-o em partes menores.
■ Se lhe faltam recursos, descubra como consegui-los.
■ Se lhe falta tempo, de você estaria disposto a abrir mão para conseguir tempo?
■ Se o objetivo é verdadeiramente impossível — devido a questões de saúde
ou financeiras, ou barreiras externas sobre as quais você não tem influência
direta, então estabeleça um objetivo diferente.

Adotando Valores

■ Conecte-se com aquilo que é importante para você sobre este objetivo.
■ Este objetivo é realmente significativo para você?
■ Este objetivo está alinhado com seus valores?
■ Este objetivo é verdadeiramente importante?
■ Este objetivo faz com que sua vida se mova na direção na qual você quer ir?

Usando estas ideias (e outras de sua lavra ou de seu terapeuta) escreva como você
responde às barreiras listadas acima:

206
Finalmente, faça as seguintes perguntas a si mesmo:

■ Estou disposto a criar espaço para pensamentos e sentimentos difíceis que


emergem sem me deixar fisgar pelos mesmos nem lutar contra eles?

■ Estou disposto a agir de forma efetiva para fazer o que, no fundo do meu co-
ração, é importante para mim?

Se sua resposta é sim, vá em frente e dê início ao que você quer fazer.


Se sua resposta é não, considere estas três questões:
1. Isto é verdadeiramente importante para você?
2. Se realmente é, então qual é o custo para você se evitar ou deixar isto de lado?
3. Você prefere a dor que drena sua vida que provém de ficar empacado/atolado
ou a dor que incrementa sua vida e faz você ir para frente?

Na próxima sessão, vamos revisar como as coisas transcorreram. O cliente seguiu seus valo-
res? Se sim, como foi isto? Que diferença isto fez em sua vida? E qual é o próximo passo em
direção a seus valores? Se ele não seguiu seus valores, podemos explorar o que o impediu de
fazer isso e usar FEAR/DARE para ajudá-lo a se pôr em movimento novamente.

TEMA DE CASA PARA VOCÊ


 Escolha dois ou três casos em que seu cliente se encontra empacado e identifique suas
prováveis barreiras usando FEAR. Então escreva algumas ideias sobre como você po-
deria usar DARE para ajuda-los a irem para frente novamente. Como de costume, leia
as transcrições deste capítulo em voz alta, como se estivesse falando com um cliente.
(E, se for o caso, modifique a forma de falar que eu utilizei para se adapte a seu pró-
prio estilo.)
 Imprima os formulários acima e preencha-os. Identifique onde você está empacado em
áreas importantes de sua vida e clarifique o que você pode fazer para voltar a avançar.
Pense em um passo bem pequeno que você pode dar em direção a algo que é valioso
para você, e faça um compromisso público (por exemplo, perante um amigo, um cole-
ga, ou seu parceiro/parceira) para continuar a seguir em frente.
 Se você continuar em frente com seu compromisso, faça isto com atenção plena e ob-
serve a diferença que isto faz em sua vida. Se não continua, identifique o que fez com
que você parasse de fazê-lo, utilizando o acrônimo FEAR.

207
RESUMO
Ação comprometida significa fazer o que é necessário para viver de forma congruente com nos-
sos valores. Alguns de nossos clientes terão muito poucas barreiras psicológicas para agirem;
simplesmente ajudá-los a entrar em contato com seus valores e perguntar-lhes sobre objetivos
congruentes com estes valores serão suficientes para fazê-los avançar. No entanto, a maioria de
nossos clientes terá pelo menos algumas barreiras na forma de FEAR: fusão, objetivos excessi-
vos, esquiva de desconforto e distanciamento de valores. O caminho através dessas barreiras é
DARE: desfusão, aceitação de desconforto, objetivos realistas e adoção de valores.
Ação comprometida não significa buscar a perfeição nem nos pressionar para alcançar todos
os nossos objetivos. Significa um compromisso com a vida baseada em valores: o compro-
misso de voltar a nos conectar sempre com nossos valores, não importa quantas vezes perca-
mos contato com eles.

208
CAPÍTULO 13

Desempacando
FUNCIONALIDADE: NOSSA MELHOR AMIGA
Aqui está minha garantia para você. Quando você começar a trabalhar com a ACT, em algum
momento, tanto você como seus clientes vão ficar empacados. Repetidas vezes. Se isso não acon-
tecer, devolvo seu dinheiro. Afortunadamente a ACT nos provê com uma ferramenta incrível e
poderosa para ficarmos desempacados: funcionalidade. Kirk Strosahl, um dos pioneiros da ACT,
diz isto desta forma: "Quando estamos trabalhando com a ACT, a funcionalidade é nossa melhor
amiga." Do ponto de vista da funcionalidade, nunca precisamos julgar, criticar ou atacar os com-
portamentos autodestrutivos de um cliente, nem precisamos convencê-lo ou persuadi-lo a parar.
Em vez disso, pedimos que ele observe de forma honesta e aberta seu comportamento atual e seus
efeitos a longo prazo em sua vida, e avalie se suas ações estão o ajudando a crescer como ser hu-
mano e a viver uma vida vital e significativa — ou não. Podemos fazer perguntas como estas:
"Aquilo que você está fazendo está funcionando para tornar sua vida mais rica e completa a longo
prazo?" "Isso está levando você mais perto da vida que você realmente quer?" "Isso está ajudando
você a ser a pessoa que você quer ser?"
No entanto, precisamos ter muito cuidado aqui: é fácil começarmos fazer bullying com nossos
clientes. Isto significa que nós já decidimos o que vai funcionar e o que não funcionar para o
cliente (Strosahl, 2004). Quando nos fundimos com nossas próprias ideias sobre o que é melhor
ou mais certo para o nosso cliente, começamos a impor nossa própria agenda, ou seja, nossas
próprias crenças e pressuposições. Nosso cliente pode então começar a dizer o que queremos
ouvir para nos agradar ou apaziguar. Se isso acontecer, o exercício será vazio porque o cliente
não está realmente assumindo a responsabilidade por sua própria vida. Strosahl nos adverte:
"Para usar a estratégia da funcionalidade, você precisa ser incansavelmente pragmático e sem
julgamentos e realmente querer dizer isso. Isso não é um jogo, nem um truque ou uma forma de
manipulação terapêutica" (Strosahl, 2004, p. 226) Tendo isso em mente, vamos ver agora algu-
mas das muitas maneiras através das quais a funcionalidade pode nos ajudar.

Ajuda através da Desesperança Criativa


A funcionalidade nos permite fazer "mini" intervenções de desesperança criativa a qualquer
momento e em qualquer sessão. Qualquer que seja o comportamento problemático, sempre
podemos perguntar: "Então, quando você faz isso, que efeito isso tem na sua vida a longo
prazo?" Isso é mais eficaz se primeiro normalizarmos o comportamento: "É completamente
natural que você faça isso, dada a sua experiência de vida passada. Muitas pessoas fariam a
mesma coisa em circunstâncias semelhantes. A questão é: se você continuar fazendo isso ,
isto vai tornar sua vida mais rica e mais plena — ou fará o contrário? "

Dica Prática: Quando falamos da funcionalidade, não precisamos necessariamente


usar os termos "vida rica, plena e significativa" ou "viver com base em seus valores".
Há muitas maneiras de transmitirmos o conceito de um viver consciente baseado em
valores. Podemos falar de vitalidade, uma vida que vale a pena viver, uma vida me-
lhor, ser a pessoa que você quer ser, fazer o que é importante ou significativo, fazer o
que é importante para você, incrementar ou enriquecer sua vida, prosperar, flores-
cer, e assim por diante.

209
Ajuda através da Desfusão
A funcionalidade nos permite uma desfusão rápida e é particularmente útil quando um cliente
insiste que um pensamento é verdadeiro. Podemos dizer: "Não vou discutir com você se isso é
verdade ou não. O que eu quero que você faça é dar uma boa olhada no que acontece quando você
fica completamente preso neste pensamento." Em seguida podemos perguntar: "Se você der toda
a sua atenção a este pensamento e deixar que ele determine o que você faz, o que vai acontecer
com a sua vida a longo prazo?" ou "Ficar preso neste pensamento tem ajudado você a ser a pessoa
que você quer ser? Este pensamento ajuda você a fazer as coisas que você quer fazer?"
Isso é particularmente útil quando nosso cliente começa a insistir que a mudança é impossível.
Por exemplo, um cliente com problemas de adição pode dizer: "Eu sei que isso não vai funcio-
nar para mim. Eu já tentei antes. Não tenho controle sobre isso". Podemos responder: "Ok, en-
tão sua mente está lhe dizendo: Isso não vai funcionar. Eu não consigo me controlar. Faz senti-
do. Esse é o tipo de coisa que as mentes dizem. Eu não vou negar isso. Eu só quero que você
considere uma coisa. Se concordarmos com isso — se deixarmos sua mente ditar o que aconte-
ce nesta sala — então para onde vamos a partir daqui? Paramos a sessão e desistimos?" Poderí-
amos então continuar e dizer: "Eu realmente espero que sua mente vai continuar lhe dizendo
que essa terapia não vai funcionar e que você não tem controle. Infelizmente não conheço outra
maneira a não ser uma cirurgia no cérebro, para impedir que ela pare de fazer isso. Então, po-
demos deixar sua mente dizer o que quiser e fazer uma tentativa mesmo assim?"
Essa estratégia também é muito útil quando os clientes insistem que os autojulgamentos nega-
tivos e desagradáveis são verdadeiros — por exemplo, "Mas é verdade. Sou gordo / feio / bur-
ro / perdedor". Podemos dizer: "Quando sua mente diz essas coisas para você, ajuda se você
ficar preso nelas ou se apegar a elas? Será que concordar com esses pensamentos — dando a
eles toda a sua atenção, e permitir que eles lhe digam o que você deve fazer — isso torna sua
vida mais rica, mais completa e mais significativa? Caso contrário, que tal praticar o aprender
a deixá-los ir e vir sem se apegar a eles?"

Ajuda com Clientes que Estão Fazendo Progresso


Se o que o cliente está fazendo é "viável" ou seja, está funcionando, podemos reforçar esse com-
portamento aumentando a sua conscientização sobre o mesmo. Por exemplo, podemos fazer per-
guntas como estas: "Como é quando você age dessa maneira? O que acontece com sua vida? O
que acontece com seu senso de vitalidade? Como você pode fazer mais disso?" Também pode
ser útil perguntar: "Como você fez isso? Como você fez isso acontecer? O que você fez de dife-
rente? Para o que você teve que abrir espaço? Sua mente tentou interferir — e, em caso afirmati-
vo, como você respondeu? O que isso lhe diz sobre o que está funcionando em sua vida? "

Ajuda em Relação a nos Espreitarmos a Nós Mesmos


Como somos seres humanos falíveis, é inevitável que às vezes tentemos persuadir e conven-
cer os nossos clientes, ou debater e discutir com eles. E quando respondemos dessa maneira,
não estamos fazendo ACT. Portanto, sempre que me pego fazendo isso, peço desculpas ime-
diatamente. Eu digo: "Sinto muito. Acabei de perceber que tenho tentado convencê-lo aqui, e
não é isso que eu quero que seja o que estamos fazendo. Aqui não é um lugar para eu tentar
impor minhas crenças a você e dizer o que deve fazer com a sua vida. Aqui é um lugar para
trabalharmos juntos, descobrir o que funciona na sua vida. Por isso, podemos voltar para trás,
para o momento antes de eu começar a debater com você? Vamos voltar a focar em sua vida e
sua experiência e não em minhas crenças. E a pergunta que eu gostaria que você considerasse
é a seguinte: independentemente do que as outras pessoas pensam (inclusive eu), se você con-

210
tinuar fazendo o que está fazendo, isto está funcionando para tornar sua vida melhor a longo
prazo? Se estiver funcionando, então continue fazendo isso, e vamos nos concentrar em outra
coisa. Mas se não estiver, que tal darmos uma boa e honesta olhada nisso — exceto que desta
vez vamos fazer isso sem que eu tente convencê-lo de alguma coisa?"

Ajuda em Encontrar o Apoio para Nossos Pés


Quando estamos "perdidos" em uma sessão ou tentando descobrir para onde ir em seguida na
terapia, sempre podemos voltar para a funcionalidade. Podemos perguntar: "Em uma escala
de 0 a 10, quão bem a sua vida está funcionando? Se 10 significa que o modo como você gas-
ta cada um de seus dias fornece uma sensação real de vitalidade e satisfação, e 0 significa que
o modo como você está gastando cada dia faz a sua vida parecer inútil, sem sentido e que nem
sequer vale a pena viver, onde você está nessa escala?"
Se um cliente tem uma pontuação alta, então podemos falar sobre quando terminar a terapia.
Se um cliente tem uma pontuação baixa — por exemplo, 3 ou 4 —, podemos perguntar: "O
que teria que acontecer para você chegar a um 5? O que está atrapalhando isso?" Sua resposta
nos dará informações sobre outros objetivos ou revelará algo sobre barreiras psicológicas.

Ajuda com o "Eu Não Sei"


Às vezes, fazemos perguntas importantes aos clientes e eles respondem: "Eu não sei". Por
exemplo, isso geralmente acontece logo no início do trabalho sobre valores. Se suspeitarmos
que a função de "eu não sei" é evitar o desconforto causado pela discussão de valores, pode-
mos introduzir a funcionalidade de várias maneiras diferentes: "Como está funcionando para
você até agora, passar por sua vida sem saber o que é importante para você? " "Se pararmos a
conversa aqui mesmo, com sua primeira resposta de 'eu não sei', então para onde isso levaria
você?" "Se isso pudesse fazer uma diferença real em sua vida, você estaria disposto a dedicar
algum tempo a isso? Você estaria disposto a continuar a se dedicar a essa pergunta e a explo-
rá-la, mesmo que nenhuma resposta ocorra imediatamente?" A partir daqui, podemos utilizar
qualquer estratégia de intervenções com valores — de planilhas formais a imaginar seu ani-
versário de oitenta anos. Alternativamente, podemos passar para intervenções de aceitação e
desfusão com a finalidade de lidar com os pensamentos e sentimentos dolorosos que elicia-
mos.

Ajuda com o "Eu Não Tenho Escolha"


Muitas vezes, nossos clientes mais desafiadores irão nos dizer que eles não têm escolha ou
controle sobre suas ações. Eles insistirão em afirmar que quando surgem impulsos muito for-
tes — cometer suicídio, beber álcool, usar drogas e assim por diante —, eles não terão escolha
senão "ceder". Outros clientes podem insistir que são impotentes, sem esperança, ou incapa-
zes de fazer mudanças, ou podem dizer coisas como: "Sempre que tento melhorar minha vida,
isso sempre dá errado — eu sempre falho ou me machuco". Primeiro, validaríamos o quanto
eles sofreram: "Esse problema certamente criou muita dor e dificuldade para você. E você se
esforçou muito e, até agora, nada funcionou". Depois diríamos: "E agora você tem uma esco-
lha a fazer. Uma opção é se apegar firmemente a Eu não tenho escolha, não tenho controle,
não há nada que eu possa fazer — e simplesmente desistir de tentar e continuar vivendo o
caminho em que você está agora. A outra opção é adotar uma ação que o mova em uma dire-
ção valiosa, mesmo que você continue a ter o pensamento de que isto é não tem sentido e é
inútil. Qual dessas duas opções é garantia segura para mantê-lo preso e impedir que sua vida
melhore? Qual dessas duas opções tem a melhor chance de melhorar sua vida? "

211
Ajuda com o "Mas Isso Funciona"
Alguns clientes insistirão que seu comportamento autodestrutivo funciona para eles a longo
prazo. Aqui estão dois exemplos clássicos: "Preocupar-me me ajuda a me preparar para o pi-
or" e "Gosto de ficar chapado. É a única maneira de eu relaxar". Precisamos validar que, de
fato, existem alguns benefícios reais para essas estratégias e, ao mesmo tempo, existem outras
maneiras de obter esses benefícios que seriam muito mais funcionais e viáveis. Eu uso uma
metáfora sobre uma bicicleta em condições precárias para transmitir isso.

A Metáfora da Bicicleta em Condições Precárias


Terapeuta: Você pode pedalar de Nova York ao México em uma bicicleta velha e frágil, com
suspensão ruim e um assento desgastado, e ela você levará até lá. Mas em que
condição você estará quando chegar lá? Existem muitas maneiras mais eficazes de
fazer essa jornada: carros, ônibus, trens, aviões. Quando você (nomeie o problema
do cliente aqui: por exemplo, fica chapado, fica se preocupando), é como andar
com uma bicicleta em condições precárias. Você gostaria de aprender uma alter-
nativa que pode levá-lo ao seu destino em condições muito melhores?
Depois de usar a metáfora da bicicleta em condições precárias, ensinamos as habilidades ne-
cessárias (ou ajudamos o cliente a acessar recursos para aprendê-las). Por exemplo, se nosso
cliente quer "se preparar para o pior", podemos ensinar a ele planejamento estratégico e solu-
ção de problemas. Se nossa cliente quer relaxar e a maconha é a única maneira que ela conhe-
ce para fazer isso, podemos ensinar-lhe habilidades de relaxamento (deixando claro que elas
não são o mesmo que habilidades de atenção plena).

SUPERANDO A RESISTÊNCIA
A resistência é um estado, não uma característica. No contexto certo, qualquer pessoa seria resis-
tente à terapia. Suponha que você estivesse sendo tratado por um 'feiticeiro' em algum país do
terceiro mundo. Se ele lhe dissesse que havia um espírito maligno em seu corpo e a única maneira
de se livrar dele era comer uma lula viva, você resistira a isso?
A resistência na terapia geralmente se resume a alguns fatores-chave: inadequação ou desajuste no
tratamento, ganhos secundários, relação terapêutica e FEAR. Vamos dar uma olhada em cada em
cada um desses fatores agora.

Inadequação ou desajuste no tratamento


Você obteve o Consentimento Livre e Esclarecido do seu cliente para o tratamento? Você expli-
cou a ele o que a ACT envolve? Ele estava esperando um "passeio fácil"? Ele quer apenas alguém
que lhe escute sem ter que se esforçar muito? Ele estava esperando algo diferente, tal como uma
psicanálise de longo prazo? Nem todas as pessoas estão abertas para a ACT e talvez seja necessá-
rio encaminhar os clientes para outro profissional ou trabalhar com um modelo diferente. Esta
questão será em grande parte evitada se fornecemos a informação adequado quando obtemos o
Consentimento Livre e Esclarecido (veja o capítulo 5).

Ganhos Secundários
Existem benefícios para a cliente (conscientes ou inconscientes) se ela "ficar presa", tais como
proveito de um acordo legal ou cuidados e atenção de outras pessoas enquanto ela estiver no papel
de doente? Para abordar a questão dos ganhos secundários, precisamos trazê-la para a consciência
do cliente e explorá-lo sem julgamento. Talvez tenhamos de fazer uma análise de custo-benefício,
212
enquadrada em termos de funcionalidade — por exemplo, poderíamos dizer: "Parece que ficar
empacado funciona a curto prazo para obter os benefícios X, Y e Z, mas será que funciona a lon-
go prazo para tornar a vida rica e completa? " ou "Estou disposto a estar errado sobre isso, mas eis
como eu o vejo. Se você não fizer nenhuma mudança aqui, existem alguns benefícios genuínos a
curto prazo para você — como A, B e C. Eu gostaria que você fizesse uma comparação desses
benefícios com os custos de ficar preso a longo prazo ".

Relação Terapêutica
Uma forte relação terapêutica é essencial para uma terapia eficaz. Há espaço para melhorias aqui?
Entre em contato consigo mesmo: você se fundiu com crenças, julgamentos ou suposições inúteis
sobre esse cliente? Você está se movendo muito rápido ou muito devagar? Você está sendo muito
insistente ou muito passivo? Muito sério ou muito brincalhão? Você precisa validar mais a expe-
riência dele ou mostrar mais compaixão? Você precisa estar mais presente, aberto e receptivo?
Você precisa fornecer mais justificativa para a cliente sobre por que a está incentivando a fazer
essas alterações ou praticar essas habilidades? Você está fundido e com esquiva na sessão: pati-
nando em torno de questões importantes em vez de abordá-las ou se perder no seu próprio diálogo
interno? No capítulo 14, exploraremos a relação terapêutica com mais detalhes; basta dizer, por
enquanto, que a melhor maneira de construir e fortalecer o relacionamento terapêutico é incorpo-
rarmos a ACT durante nossas sessões.

FEAR
No capítulo anterior, discutimos FEAR: fusão, excesso de objetivos, esquiva do desconforto e
distanciamento de valores. Todos estes fatores podem desempenhar um papel maior na resistên-
cia. A chave é identificá-los e então enfocá-los com DARE: desfusão, aceitação do desconforto,
objetivos realistas e abraçar valores.

A Resistência é Fértil
Quando encontramos resistência em nossos clientes — ou talvez seja melhor descrevê-la como
'esquiva em fazer mudanças "- a maioria de nós tende a ficar frustrada ou irritada, ou duvidar de
nossas próprias habilidades, culpar o cliente ou culpar a nós mesmos. Embora isto seja normal,
não é particularmente útil. Uma alternativa melhor é simplesmente aplicar a ACT a esse problema
em si (costumo dizer que o ACT reformula toda a sua vida porque todos os problemas com os
quais você se depara se tornam uma oportunidade de melhorar na ACT).
Em outras palavras, sempre que um cliente parece estar empacado, nosso primeiro passo é olhar
de forma atenta e consciente para o que está acontecendo, ver a situação com abertura e curiosi-
dade e observar os pensamentos e sentimentos que aparecem. Podemos dizer algo como: "Por que
não recuamos um passo e observamos o que está acontecendo aqui?" Em seguida, sem julgar,
explore os fatores FEAR que (quase certamente) estão envolvidos na questão.

Dica Prática: Flexibilidade psicológica é a capacidade de estar presente, abrir-se e


fazer o que importa. Portanto, se o seu cliente começar a se fechar ou desligar en-
quanto a sessão estiver focada na abertura (desfusão e aceitação) ou em fazer o que
importa (valores e ação comprometida), então sua melhor opção é focar no estar pre-
sente. Peça ao seu cliente para perceber o que está acontecendo; perceber seus pen-
samentos e sentimentos; e voltar para a sala e manter-se presente com você. A fusão
e a esquiva tendem a "murchar e desaparecer" quando estamos totalmente no mo-
mento presente.

213
ACEITAÇÃO DO ESTAR EMPACADO
Haverá situações em que não importa o que tentemos, nosso cliente continuará empacado. Você
nunca experimentou isso em sua própria vida? Apesar de toda a sua sabedoria, conhecimento,
desenvoltura e experiência, de alguma forma você se viu empacado: não estava disposto ou não
foi capaz de tomar as medidas que realmente fariam a diferença na sua vida? Nesses momentos,
nosso padrão é nos autoagredir, o que certamente não ajuda. Agredir-nos por ficarmos empacados
é tão útil quanto esfregar sal em feridas recentes. Uma resposta que melhora a vida é transformar
essas situações dolorosas em oportunidades para desenvolver autoaceitação e autocompaixão.
Podemos fazer perguntas como estas a nossos clientes: "Você consegue se aceitar como um ser
humano mesmo que esteja temporariamente empacado?" e "Você pode ser gentil e cuidar de si
mesmo em vez de se machucar?" A Seção 7 do Exercício de Aceitação de Emoções (consulte o
capítulo 8) é um exercício adorável a ser praticado neste momento para desenvolver a autocom-
paixão.
E observe o paradoxo: se você consegue usar essas situações para desenvolver a autoaceitação e a
autocompaixão, então ainda estará crescendo e desenvolvendo habilidades uteis para a sua vida,
embora possa estar "empacado" em relação a esse assunto em particular.

TEMA DE CASA PARA VOCÊ


Brinque com o conceito de funcionalidade. Mantenha-o em mente e use-o como um recurso para
inovar em seu trabalho. Brinque com diferentes maneiras de falar sobre isso.
Comece a olhar para o seu próprio comportamento através das lentes da funcionalidade e observe
qual efeito que isso tem. Em particular, observe o que você faz em seus relacionamentos mais
próximos. Em vez de ficar preso no certo/errado ou no devo/ não devo (como a maioria de nós às
vezes faz), comece a olhar de uma maneira desfusionada e com aceitação em relação a quão viá-
vel ou funcional é o seu comportamento e se há alguma forma de melhorá-lo.
Pense em um ou dois clientes que parecem estar empacados ou resistentes. Identifique os fatores
que podem estar contribuindo para a resistência deles e pense em como você pode responder.

Dica Prática: Sempre que seus clientes parecerem empacados, resistentes ou desmo-
tivados, procure pelos fatores FEAR e responda com DARE. Se a procura pelos fato-
res FEAR não revelar as barreiras, então considere a possibilidade de inadequação
do tratamento, ganhos secundários ou a relação terapêutica.

RESUMO
O modelo completo da ACT repousa sobre o conceito de funcionalidade (ou viabilidade). Repeti-
damente, pedimos a nossos clientes que avaliem se suas ações estão lhes proporcionando sentido,
satisfação e vitalidade — ou luta e sofrimento? Quando confiamos na funcionalidade para obter
motivação, nunca precisamos coagir, persuadir ou convencer nossos clientes a mudarem — sim-
plesmente abrimos os seus olhos para as consequências de suas ações e permitimos que eles esco-
lham sua própria direção, seu próprio rumo. E, às vezes, apesar dos nossos melhores esforços para
ajudá-los a se pôr em movimento, nossos clientes continuam — nesse caso, podemos pelo menos
fornecer a eles um espaço seguro e compassivo no qual eles podem descansar.

214
CAPÍTULO 14

Eu e Você
A RELAÇÃO TERAPÊUTICA
Em quase todos os modelos de terapia, o relacionamento terapêutico é considerado importante —
e com razão. Na ACT, esse relacionamento é especialmente enfatizado. Como terapeuta, nosso
objetivo é incorporar todo o modelo da ACT na sessão: ser consciente, não julgar, ser respeitoso,
compassivo, centrado, aberto, receptivo, engajado, caloroso e genuíno. Consideramos o cliente
como um igual: um ser humano que, como nós, fica preso em sua mente e acaba lutando com a
vida. Essa atitude é muito bem resumida pela Metáfora das Duas Montanhas (ver capítulo 5).

Ser Consciente
A ACT é uma terapia muito ativa que coloca muito menos ênfase na escuta flutuante do que na
maioria dos outros modelos. No entanto, mesmo alguns minutos de escuta verdadeiramente atenta
e genuinamente compassiva podem ser incrivelmente poderosos — muito mais do que uma hora
inteira de escuta flutuante.
Um dos maiores presentes que podemos dar a outros seres humanos é torná-los o centro de nossa
atenção em uma atmosfera de completa aceitação, abertura e compaixão. Por isso, ouvimos nos-
sos clientes com cuidado, bondade e sinceridade — com um coração e uma mente abertos. Nós
ouvimos com compaixão suas lutas. Percebemos e validamos a sua dor e reconhecemos como
sofreram. Pedimos a eles que sejam voluntariamente vulneráveis. E criamos um espaço compas-
sivo e sem julgamentos onde isso é possível. Através dessa interação consciente e atenciosa, for-
jamos um relacionamento forte, confiante e aberto.
Em cada uma das sessões, temos a oportunidade de testemunhar a dor e o sofrimento de nosso
cliente de uma maneira que talvez ninguém mais já tenha feito. Usamos o tempo para escutar de
forma completa, cuidadosa e aberta; para observar a linguagem corporal e as expressões faciais de
nosso cliente; para responder de forma genuína e empática e para validar sua experiência no pro-
cesso. Quando nos damos conta de que estamos nos "desligando", deixando de prestar atenção
total, presos em nossos pensamentos, então, no momento em que percebemos isso, podemos re-
conhecê-lo gentilmente e trazer nossa atenção de volta ao ser humano que está conosco. Dessa
forma, toda sessão se torna uma prática de atenção plena em si mesma.

Pedir permissão
"Tudo bem se ...?" "Posso pedir para você ...?" "Você estaria disposto ...?" — todas essas são ma-
neiras úteis de pedir permissão ao cliente. Trata-se simplesmente de mostrar respeito a ele. Este é
um ingrediente-chave para criar e manter conexão, especialmente quando pedimos aos nossos
clientes que façam exercícios que possam fazer emergir pensamentos e sentimentos dolorosos.
Quanto mais dolorosa for a experiência, mais essencial é saber que temos permissão genuína — e
não apenas uma concordância automática.
Às vezes, também é útil dizer: "Você não precisa fazer isso. Eu não gostaria que você concordasse
apenas porque eu sugeri". Também é importante ter a garantia de que o cliente está entendendo a
lógica por detrás do exercício. Se ele não tiver compreendido, reserve um tempo para explicar.

215
Dizer "Me Desculpe"
Quando nos equivocamos, cometemos um erro, ofendemos, irritamos ou invalidamos um cliente,
então, no momento em nos damos conta disso, agimos: reconhecemos e admitimos nosso erro e
pedimos desculpas sinceras e genuínas. Cada vez que fazemos isto, estamos modelando algo mui-
to útil; em muitos relacionamentos íntimos, há uma notável escassez de desculpas!
Às vezes, até os terapeutas mais experientes da ACT se veem fazendo preleções, coagindo, con-
vencendo, debatendo ou tentando convencer seus clientes. Quando fazemos isso, não estamos
fazendo ACT. Portanto, no momento em que nós nos pegamos fazendo isso, é útil reconhecê-lo e
pedir desculpas. Eu digo algo como: "Peço desculpas. Acabei de perceber o que estava fazendo.
Eu estava tentando convencer você de algo. Você não veio aqui para eu lhe impusesse meu siste-
ma de crenças. Podemos voltar um pouco — voltar ao ponto onde estávamos antes de eu começar
a tentar convencer você — e começar de novo a partir daí?”

Ser brincalhão
Brincadeiras, irreverência e humor podem desempenhar um papel importante no aprimoramento
do relacionamento. Isso geralmente ocorre naturalmente quando trabalhamos com a desfusão.
Geralmente é um bom sinal quando o riso surge espontaneamente durante uma sessão. Por outro
lado, tenha cuidado com insensibilidade e invalidação. Quando alguém está compartilhando uma
história comovente de dor e sofrimento, fazer uso de brincadeiras seria inadequado. E se o nosso
cliente estiver com um sofrimento terrível, certamente não vamos usar técnicas de desfusão en-
graçadas.

Praticar a Autoexposição
Embora não tenhamos que nos autoexpor, a ACT defende que o façamos se e quando for provável
que seja benéfico para o cliente a serviço da normalização, validação, promoção da autoaceitação
ou do aprimoramento do relacionamento terapêutico.
A posição da ACT é que a terapia envolve um relacionamento íntimo. No entanto, a intimidade é
uma via de mão dupla — exige abertura de ambas as partes. Se o terapeuta é uma "lousa em bran-
co" e o cliente não sabe nada sobre seu mundo interior — nada sobre o que ele valoriza ou se pre-
ocupa, ou sobre o que ele realmente sente e pensa —, então claramente eles não têm um relacio-
namento íntimo. Quando nossos clientes entram em terapia, eles estão em uma posição vulnerá-
vel, o que contribui para um relacionamento muito desigual. No entanto, se nós, como terapeutas,
deliberadamente e abertamente compartilharmos nossos próprios valores e vulnerabilidades, isso
ajudará a estabelecer um vínculo poderoso com nossos clientes.
Obviamente, isso não significa que "despejemos" nossos problemas neles ou que digamos: "Ei,
você acha que tem problemas — ouça os meus!" Usamos a autoexposição de forma muito criteri-
osa — quando ela contribuir para normalizar e validar a experiência de um cliente, aprofundar a
aliança terapêutica ou modelar algo útil. Eis algumas formas de autoexposição que podem ser
úteis no contexto certo.
"Eu tenho que confessar que isso me impressionou ..." Quando seu cliente diz algo que lhe impac-
tou e atordoou, é útil admitir isso. Você pode sugerir alguns minutos de respiração consciente ou
exercícios semelhantes, para que ambos possam voltar a se focar.
"Sinto-me desconectado de você" ou "Sinto como se você não estivesse totalmente presente no
momento". Se você sentir que seu cliente está se dissociando, desconectando, se afastando, ou
vagando dentro de sua própria mente, geralmente é útil chamar a atenção para isso — e destacar o
que acontece com seu relacionamento com o cliente durante esses momentos.
216
"Estou percebendo alguns pensamentos diferentes aqui ..." Às vezes, minha mente sugere várias
direções diferentes nas quais eu poderia conduzir a sessão — todas elas válidas. Muitas vezes, é
útil compartilhar esses pensamentos e avaliar a resposta do cliente. Outras vezes, minha mente faz
vários julgamentos diferentes sobre a mesma situação. Novamente, no contexto adequado, pode
ser útil compartilhar isso.
"Percebo que me sinto um pouco ..." No contexto certo, pode ser muito útil compartilhar reações
emocionais.

Confrontar Comportamentos Problemáticos


De tempos em tempos, temos clientes que se comportam "de maneira problemática" durante a
sessão — por exemplo, eles podem repetir indefinidamente a mesma história ou culpar continua-
mente os outros por seus problemas na vida sem nunca olhar para o seu próprio papel. Quando
isso acontece, a maioria de nós tem uma tendência a cerrar os dentes e tentar tolerar isso, em vez
de abordá-lo abertamente.
Por que fazemos isso? Geralmente porque nós nos fundimos com pensamentos tais como "Seria
rude da minha parte interromper" ou "Se eu disser algo sobre isso, ela vai ficar chateada comigo"
— ou temos sentimentos de ansiedade para os quais não estamos dispostos a criar espaço. Nesses
momentos, é muito útil modelar explicitamente o modelo da ACT. Poderíamos dizer algo como:
"Estou percebendo algo acontecendo aqui, e quero trazer isso para sua atenção. Minha mente está
me dizendo que você vai ficar chateado ou ofendido com o que vou dizer e estou percebendo bas-
tante ansiedade no meu corpo e um forte desejo de apenas ficar sentado aqui e não dizer nada. No
entanto, estou comprometido em ajudar você a criar a melhor vida que você pode ter. E se eu ficar
aqui sem dizer nada, estarei negligenciando esses valores. Então, vou fazer o que considero impor-
tante aqui, e mesmo que meu coração esteja acelerado, vou lhe contar o que estou percebendo."
Observe como, quando fazemos isso, modelamos explicitamente cinco dos seis processos princi-
pais da ACT: desfusão, aceitação, valores, ação e contato com o presente — o eu-como-contexto
está implícito, mas não explícito. E agora, vamos ter toda a atenção do nosso cliente! Então, com
uma atitude de abertura e curiosidade, desfundidos de quaisquer julgamentos ou críticas, descre-
vemos o comportamento que estamos percebendo e apontamos para o fato de que o mesmo está
impedindo um trabalho útil na sessão. A partir daí, podemos explorar a função do comportamento
— "Posso perguntar o que você espera alcançar com X?" — ou se ele costuma ocorrer em outros
relacionamentos e, em caso afirmativo, quais são as consequências. Também podemos perguntar
sobre os pensamentos e sentimentos do cliente em resposta à nossa observação — e fazer algum
trabalho de aceitação e desfusão, se necessário.

Declarar nossos valores


Na seção de lição de casa, no final do capítulo 11, pedi que você refletisse sobre seus valores como
terapeuta. Se você ainda não o fez, por favor, volte e reflita sobre essas perguntas. Quando entramos
em uma sessão conduzida e motivada conscientemente por nossos valores fundamentais, faremos
um tipo de terapia diferente da que faríamos se estivéssemos no piloto automático ou fundidos com
pensamentos tais como Lá vamos nós de novo; A mesma lengalenga! ou Isso vai ser difícil.
A ACT defende que declaremos nossos valores para nossos clientes. Por exemplo: "Quero que
você saiba que estou nesta sala trabalhando com você com um único objetivo: ajudá-lo a criar
uma vida melhor, uma vida que você sinta que vale a pena viver" ou "Estou empenhado em aju-
dá-lo a mudar sua vida e levá-la em uma direção que agregue significado, propósito e realização ".
Quando dita genuinamente, essa é uma mensagem poderosa que une terapeuta e cliente em uma
causa comum e incrivelmente interessante.

217
Ir Mais Devagar e Inclinar-se
"Vá mais devagar e incline-se" é uma frase que peguei em uma oficina com a psicóloga Robyn
Walser. Quando ficamos estressados ou ansiosos em resposta ao que está acontecendo na sessão,
a maioria de nós tende a acelerar — falamos mais, falamos mais alto, damos conselhos, começa-
mos palestrar, etc. — ou nos inclinamos para trás - desligamos, desconectamos e nos afastamos.
Obviamente, isso não é útil para o relacionamento terapêutico. Portanto, tente fazer o oposto: di-
minua a velocidade e incline-se! Observe seus pensamentos e sentimentos, observe sua tendência
a acelerar e se desconectar, conecte-se com seus valores e depois se incline (literalmente) e desa-
celere. Fale menos, fale mais devagar e faça pausas com frequência.

Sentar-se com o problema


Um grande desafio para a maioria dos terapeutas da ACT é deixar de lado a necessidade de con-
sertar os problemas do cliente. E, no entanto, quanto mais assumimos o papel de solucionador de
problemas, mais "desempoderamos" o nosso cliente. Na ACT, ajudamos os clientes a cultivar
suficiente flexibilidade psicológica para que consigam entrar em contato de forma efetiva com
seus próprios recursos de resolução de problemas — e, se tiverem carência de habilidades de so-
lução de problemas, vamos ensiná-los a eles. No entanto, existe todo o tipo de problemas na vida
que não podem ser "resolvidos" ou "consertados" — a perda de um ente querido, a dor da rejeição
ou do fracasso, a angústia da solidão, a inevitabilidade do envelhecimento, a enfermidade e doen-
ça. Nessas situações, ajudamos os clientes a desenvolver a capacidade de sair completamente do
modo de solução de problemas e entrar no espaço psicológico da atenção plena e da aceitação.
Isso é útil sempre que (a) problemas não podem ser resolvidos ou (b) quando tentativas de solução
de problemas criam problemas ainda maiores.
Portanto, precisamos aprender a capacidade de "sentar com o problema" para deixar a situação
como está e permitir que nosso cliente tenha seus pensamentos e sentimentos sem nos apressar em
"resgatá-lo". Isso significa que, muitas vezes, precisamos abrir espaço para nossos próprios senti-
mentos de ansiedade, para nossa própria impaciência e nossos próprios desejos de nos apressar,
consertar, resolver ou dizer a coisa certa.
É claro que isso não é o mesmo que permitir que o cliente se afunde em seu sofrimento — em vez
disso, pretendemos criar um espaço de aceitação e desfusão — um espaço no qual cliente e tera-
peuta possam estar presentes com seus pensamentos e sentimentos sem lutarem contra eles, sem
serem varridos por eles e sem precisarem tomar nenhuma ação imediata. Este é, se você preferir,
"um espaço para respirar". (Não é de admirar que tantas práticas de atenção plena de diferentes
tradições estejam centradas na respiração.) A partir de um espaço de atenção plena, podemos fa-
zer uma escolha sábia, levando em consideração toda a situação, conectando-nos com nossos va-
lores e participando de ações conscientes. Às vezes, para me ajudar com isso, posso dizer ao cli-
ente: "Estou sentindo um forte desejo agora de tentar consertar isso para você. Minha mente está
me dizendo todo o tipo de coisa para lhe dizer — pedaços de conselhos, coisas que você poderia
fazer, blá, blá, blá. O desafio para nós dois aqui é ver se podemos nos sentar com essas coisas —
apenas abrindo espaço para todos esses pensamentos, sentimentos e impulsos aparecendo — sem
pressa para tentar consertá-las ".
(É claro que, se houver habilidades práticas cujo aprendizado beneficiaria os clientes — habilida-
des que os ajudarão a resolver os problemas de suas vidas que podem ser resolvidos por meio de
ações explícitas —, a ACT advoga que ensinemos essas habilidades aos clientes ou indiquemos a
eles a direção certa para aprendê-los.)

218
Desfundir-se de seus próprios julgamentos
É claro que todos nós objetivamos não julgar e podemos conseguir isso — durante algum tempo.
Mas, mais cedo ou mais tarde, julgamentos vão ocorrer. Nossa mente é uma máquina de julga-
mento bem lubrificada — ela não consegue ficar sem julgar por muito tempo. Portanto, quando
nossos julgamentos sobre nossos clientes surgem, o desafio é reconhecê-los e neutralizá-los, e
deixá-los ir e vir sem sermos fisgados por eles. Se percebermos que um julgamento nos enganou,
podemos dizer silenciosamente: Ahá! Um julgamento!, e em seguida, voltar a focar novamente
em nosso cliente.

Revelar-se como um novato


Quando você está utilizando a ACT, alguma vez já sentiu o coração disparar ou o estômago ficar
embrulhado? Você já teve pensamentos tais como Eu não sei se consigo fazer isso ou E se meu
cliente surtar? Ou talvez tenha pensado Vou me atrapalhar com as palavras, Vou ferrar com tu-
do, Isto é difícil demais ou Vou fazer isso errado. Se sim, está bem. Isso mostra que você é um ser
humano normal. Os seres humanos normais geralmente se sentem ansiosos quando saem de sua
zona de conforto. No entanto, se você começar a se fundir com ideias de que precisa fazer essas
coisas de forma perfeita desde o começo, que seus clientes reagirão negativamente, então você
tornará a vida muito difícil para si mesmo. Portanto, se você é um novato na ACT, incentivo você
a aliviar a pressão simplesmente admitindo isso. Você poderia dizer algo como: "Posso ser total-
mente honesto com você? Estou um pouco nervoso em lhe dizer isso; minha mente está me di-
zendo que você pode perder o respeito por mim. A verdade é que ainda sou um pouco um novato
nesse material da ACT. Eu realmente gosto do modelo, ele tem se mostrado muito útil na minha
vida e, obviamente, acho que será útil também para você ou não o recomendaria. Entretanto como
ele ainda é novidade para mim, de tempos em tempos talvez eu me enrole um pouco ou fique um
pouco nervoso. E para alguns exercícios mais longos, talvez eu tenha de usar um papel para ler o
texto que quero aplicar. Isso está ok para você ? "
Obviamente, você não é obrigado a expor isso (e faça o que fizer, não diga nada que não seja ver-
dade), mas muitos terapeutas acham que isso lhes dá permissão para serem imperfeitos ou para ler
um roteiro, se isso for desejável. Além disso, você está modelando abertura, boa vontade e auto-
aceitação, e sua autoexposição ajuda a estabelecer um relacionamento terapêutico mais íntimo.

APLIQUE A SI MESMO
Espero que você consiga perceber que tudo neste capítulo deriva de forma natural da aplicação da
ACT a si mesmo como terapeuta ou coach. E, obviamente, isso vale para todos os relacionamen-
tos da sua vida: quanto mais você agir a partir de um espaço de atenção plena e valores, mais sau-
dáveis serão seus relacionamentos. Então, por que reservar a ACT apenas para o consultório? Por
que não dedicar algum tempo agora para refletir sobre seus relacionamentos mais significativos e
pensar em como os princípios da ACT poderiam enriquecê-los e melhorá-los? E, em seguida,
coloque isso em prática e veja como funciona. Você vai se surpreender!

219
CAPÍTULO 15

A Jornada do Terapeuta
DE EMBOLADA E DESAJEITADA A FLUIDA E FLEXÍVEL
Quando somos terapeutas novos na ACT, tendemos a dividir o modelo e centralizar cada sessão
em torno de um "pedaço" maior dele, como fiz nos capítulos 6 a 12 deste livro. Por exemplo, po-
demos fazer uma sessão com foco principal na desfusão, depois outra centrada na aceitação e ou-
tra com ênfase no eu observador, e assim por diante. Normalmente, à medida que nos familiari-
zamos com o modelo e percebemos como os seis processos principais se interconectam e se com-
plementam, nossa terapia se torna menos "embolada" e mais "mesclada". Aprendemos a "dançar
em torno do hexaflex", trabalhando explicitamente com vários processos em cada sessão (e impli-
citamente com todos os processos). Nossa terapia se torna mais fluida, mais flexível e mais criati-
va. Começamos a modificar e adaptar ferramentas, técnicas e metáforas, criando novas próprias
(ou as tomando emprestadas de nossos clientes).
Espero que a esta altura você já tenha começado a apreciar a interconectividade desse modelo.
Para conseguir um entendimento melhor do mesmo, dedique algum tempo a estudar o dia-
grama hexaflex da ACT (consulte o capítulo 1) e identifique como cada um dos seis compo-
nentes interage com todos os outros. Além disso, ao reler este livro ou passar para outros li-
vros sobre ACT, observe como praticamente toda intervenção contém vários processos prin-
cipais sobrepostos. Por exemplo, suponha que você pergunte a um cliente: "Você consegue se
sentar com esse sentimento por um momento? Apenas observe onde ele é mais intenso. De-
pois, dê um passo para trás e olhe para ele a partir do eu observador". Aqui você tem três pro-
cessos em uma breve intervenção: momento presente, eu-como-contexto e aceitação. (Se você
olhar mais de perto, verá que valores, ação comprometida e desfusão também estão envolvi-
dos neste exercício, mas são menos óbvios. Você consegue identificá-los? Primeiro, na ACT,
a aceitação está sempre a serviço de viver com base em valores, de modo que este exercício
está de alguma forma vinculado aos valores do cliente. Segundo, fazer o exercício é, por si só,
uma ação comprometida. Terceiro, quando entramos em contato com nossa experiência no
momento presente, sempre ocorre alguma desfusão.)
A jornada de uma ACT "embolada e desajeitada" para uma ACT "fluida e flexível" requer
tempo, prática, paciência, persistência e reflexão. E neste processo, vamos fazer besteira e
errar repetidas vezes. Nossas mentes vão nos detonar por sermos péssimos terapeutas. Mas se
cada um de nós trouxer uma atitude de abertura e curiosidade aos nossos erros — O que foi
que eu fiz que foi ineficaz? Do que senti falta? Com o que eu me fundi? O que eu poderia
fazer de diferente da próxima vez? — podemos aprender lições valiosas com eles. (E gostarí-
amos de lembrar as palavras de Sir Winston Churchill: "Sucesso é a capacidade de ir de um
fracasso a outro sem perder o entusiasmo".

O QUE VOCÊ PODE APROVEITAR DE TREINAMENTOS


ANTERIORES
Uma das coisas bonitas de se trabalhar com a ACT é que ela nos permite trazer a vasta riqueza de
experiência e conhecimento adquiridos em nossos treinamentos anteriores em outros modelos.
Veja mais uma vez o diagrama da figura 15.1:

220
Fig. 15.1
Você pode utilizar basicamente qualquer coisa de algum outro modelo de terapia que ajude
o cliente a ir em direção à funcionalidade. Reserve alguns momentos para pensar sobre seus
treinamentos anteriores e como usá-los de forma frutífera. O que você já sabe que pode ajudar
seus cliente a:
■ clarificarem seus valores e se conectarem com um sentido de significado ou propósito?
■ estarem presentes, consciente, abertos, conectados à sua experiência, centrados ou
aterrados?
■ definirem metas e dividi-las em ações?
■ aumentarem a autoconsciência em relação aos efeitos de curto e de longo prazo de seu
comportamento?
■ estarem conscientes e aceitarem seus pensamentos e sentimentos?
■ estarem conscientes de seus pensamentos, desapegar-se deles, abandoná-los ou vê-los
apenas como pensamentos?
■ conectarem-se com um sentido transcendente de si mesmos, como "a testemunha silen-
ciosa", "o eu observador", "consciência metacognitiva", "consciência pura" ou "o 'eu'
que percebe"?
■ serem compassivos e aceitar em relação a si ou aos outros?
■ fazerem mudanças comportamentais eficazes ou aprenderem novas habilidades para
melhorar a vida?
■ tornarem a vida a mais rica, completa e significativa possível?

Esperamos que você consiga ver que já possui uma riqueza de conhecimentos adquiridos anteri-
ormente e que pode trazer para o seu trabalho com a ACT. No entanto, você precisa cuidar para
não trazer teorias ou técnicas destinadas principalmente a evitar ou se livrar de experiências pri-
vadas indesejadas — elas simplesmente não se encaixam no modelo da ACT. Exemplos disso
incluem técnicas de desafiar e debater cognições, visualizações para dissolver sentimentos indese-
jados, parar o pensamento e técnicas de distração.
Faça a si mesmo estas perguntas: Qual é o objetivo dessa técnica? Seu objetivo é atacar, suprimir,
evitar, reduzir ou livrar-se de uma experiência privada indesejada? Nesse caso, ela não é consis-
tente com a ACT. Obviamente, isso não significa que você não possa usá-la na terapia — apenas
significa (a) que isso não é ACT, e (b) se você estiver fazendo ACT e também tentando incorporar
essa técnica, corre o risco de enviar mensagens conflitantes e comprometendo a aceitação.

PARA ONDE A PARTIR DE AGORA?


O ACT é um modelo bem amplo. Embora você possa certamente começar a usá-lo agora e obter
imediatamente resultados positivos em seu trabalho, a maioria dos terapeutas acha que é necessá-
rio pelo menos um ano de dedicação à prática, à leitura e ao aprendizado para entender melhor a

221
teoria e a prática da ACT bem como implementá-la com fluidez e flexibilidade. Portanto, não se
apresse — aproveite a viagem sem se precipitar. Lembre-se das famosas palavras de Esopo: "De-
vagar se vai ao longe".
Em termos de aprendizado adicional, recomendo que, assim que possível, você participe de um
workshop experiencial de ACT. Ler livros, ouvir áudios e assistir vídeos é muito valioso, mas não
pode ser comparado a participar de um treinamento ao vivo e aplicar esses seis processos princi-
pais a si mesmo.

PALAVRAS DE DESPEDIDA
A parte mais difícil de escrever este livro foi escolher o que deixar de fora. Há muitas outras coi-
sas que eu gostaria de compartilhar com você, mas, se o fizesse, este livro teria dez vezes o tama-
nho que tem agora! Portanto, com grande relutância, deixo você agora com algumas palavras de
despedida.

Seja você mesmo


Se você tentar fazer intervenções da ACT, repetindo-as palavra por palavra tal como são descritas
nos livros, há uma boa chance de que elas pareçam empoladas ou artificiais. Modifique e adapte,
— use suas próprias palavras e seu próprio estilo, — seja criativo e inovador se desejar. MUITO
IMPORTANTE: Se algo que eu sugiro neste livro não combina com você, modifique-o ou deixe-
o de fora. Se você ler alguns livros da ACT e/ou participar de alguns workshops/demonstrações
diferentes, você verá maneiras muito diferentes de utilizar a ACT, bem como uma vasta gama de
estilos e técnicas diferentes. Isso ocorre porque a ACT é um modelo baseado em processos, não
um modelo baseado em técnicas. Portanto, a maneira como você utiliza a ACT com seus clientes
será inevitavelmente diferente da maneira como os outros o fazem. (Não é ótimo que todos pos-
samos ser indivíduos?)
Ao mesmo tempo, certifique-se de sintonizar e se adaptar às necessidades de seus clientes. Por
exemplo, seu estilo pode ser fazer uma terapia breve, mas não há virtude em avançar rapidamente
se seu cliente não estiver pronto para isso ou se sentir invalidado com isso. Da mesma forma, não
há virtude em se ir devagar ou "ficar atrasando" quando seu cliente está pronto e ansioso por mu-
danças e disposto a fazer o que é necessário.

Prática, Prática, Prática


Quem disse que "a prática leva à perfeição" estava mentindo! Mas a prática leva a melhorias.
Portanto, se você ainda não fez nenhuma lição de casa neste livro, veja o que está impedindo
você. Você se fundiu com pensamentos como Isto é muito difícil, Estou muito ocupado, Vou
fazer isto mais tarde? Ou você está tentando evitar os inevitáveis sentimentos de ansiedade que
surgem quando você corre riscos, enfrenta desafios ou tenta novos comportamentos? Observe
suas barreiras em termos de FEAR — e responda com o DARE. Lembre-se, quanto mais você
aplica a ACT em sua própria vida para lidar com seus próprios problemas, mais naturalmente
isso ocorrerá na terapia.

Cometa erros
Eu já disse isso antes e vou repetir: você irá cometer erros e fazer coisas erradas. Esta é uma parte
inevitável do aprendizado. Então, quando isso acontecer, pratique a ACT em si mesmo. Agradeça
a sua mente pela história do "terapeuta ruim" ou pela história do "difícil demais". Respire para

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dentro de sua frustração, de sua ansiedade, e de sua decepção e dê espaço para elas. Seja compas-
sivo consigo mesmo.
Depois, reflita sobre o que você fez de errado e aprenda com isso para que você e outras pessoas
possam se beneficiar da experiência.

Retorne a seus valores


E de novo e de novo, retorne a seus valores. Conecte-se com o motivo pelo qual você escolheu
esta profissão: seu desejo de ajudar os outros, seu desejo de fazer a diferença, seu desejo de tornar
o mundo um lugar melhor. E reserve um tempo para apreciar o privilégio do nosso trabalho: a
oportunidade única que temos de ver profundamente os corações e as almas dos outros e ajudá-los
a se conectar com os lugares de cura que eles têm dentro de si.

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