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INFLUÊNCIA DO EXERCÍCIO FÍSICO NO METABOLISMO DE

GORDURA
INFLUENCE OF PHYSICAL EXERCISE ON FAT METABOLISM

Augusto Cesar Vilela Gama¹ ²


acfela@hotmail.com
Danielly Alves Gonçalves¹
Luciana Lopes de Sousa Corrêa¹
Ronaldo Pedro de Brito Filho¹
Victor Guilherme de Amorim¹
Nozelmar Borges Júnior³

RESUMO

Existem inúmeros estudos demonstrando que o exercício físico atua prontamente na regulação do
metabolismo de gordura. Com base em uma revisão bibliográfica, esta pesquisa tem o objetivo de
demonstrar a transformação do metabolismo lipídico na prática de atividade física e sua influência direta
no tratamento da obesidade. São utilizadas duas vias energéticas na realização dos exercícios físicos, a
anaeróbia e aeróbia, dispondo-se de 2 fatores para determinar qual via energética em uso é a
predominante: o primeiro fator é a intensidade dos exercícios e o segundo fator é o tempo de duração dos
mesmos. Sendo assim, quanto mais intensa for a atividade, e quanto maior for a necessidade de se ter
energia inopina, menor será a degradação dos ácidos graxos livres para a produção de energia, por conta
da predominância da via anaeróbia. Já em exercícios de intensidade moderada por períodos constantes, a
via aeróbia de produção de energia passa a predominar, ampliando a degradação dos ácidos graxos livres.
Cabe ressaltar que os exercícios físicos intensos, onde se predomina a via anaeróbia, aceleram o
metabolismo por horas pós-atividade, portanto é durante a recuperação que se acontece uma alta lipólise.
Enquanto os exercícios físicos moderados e leves apresenta uma alta lipólise durante a prática da
atividade.

Palavras-Chave: Exercício Físico. Metabolismo de Gordura. Lipólise.

ABSTRACT

There are several studies demonstrating that the physical exercise promptly acts in the fat metabolism
regulation. Based on a bibliographic review, this research aims to demonstrate the lipid metabolism

_____________________________________________________________________________________
1 – Acadêmico do curso de Educação Física da Universidade Salgado de Oliveira, Campus - Goiânia-GO.
2 – Membro do LAFEX (Laboratório de Fisiologia do Exercício – Universidade Estadual de Goiás) -
UEG
3 – Orientador: Professor do curso de Educação Física da Universidade Salgado de Oliveira, Campus -
Goiânia-GO.
2

transformation in physical activity and its direct influence on the obesity treatment. There are used two
energy pathways in the physical exercise training, anaerobic and aerobic, having two factors to determine
which energy pathway in use is the predominant: the first factor is the exercise intensity and the second
factor is the exercises length. Thus, the more intense activity, and the greater necessity of have inopina
energy, the fatty acids degradation for energy production will be lower, for the energy production, due to
the anaerobic pathway predominance. Already in moderate intensity exercises for constant periods, the
aerobic energy production will predominate, increasing the degradation of fatty acids. Is important to note
that the intense physical exercise, where anaerobic pathway predominate, increases metabolism for hours
after exercise, therefore the high lipolysis happens during recovery. While moderate and light exercises
has a high lipolysis activity during practice.

Keywords: Physical Exercise. Fat Metabolism. Lipolysis.

1. INTRODUÇÃO

De acordo com a Organização Mundial da Saúde o excesso de gordura corporal


já é tratado como uma epidemia de proporções mundiais e considerado uma questão de
saúde pública. Essa epidemia acaba provocando alterações, não somente na estética,
mas também distúrbios como pressão alta, diabetes, artrite, possíveis câncer como do
endométrio, da próstata e do pulmão, podendo desencadear até mesmo uma depressão.
(MANCINI, 2001).
As alterações no ritmo fisiológico de diversos tecidos corporais, com especial
ênfase a gordura corporal, têm implicações severas a aptidão física, ou seja, pessoas
com excesso de peso têm habitualmente complicações da capacidade cardio-
respiratória, da condição metabólica e da função neuromuscular. (PINTO, 2007).
Assim para Lapin et al. (2007) a queima calórica deve sempre ter duas coisas,
intensidade e tempo. Quanto maior a intensidade do esforço, maior será seu consumo
calórico durante várias horas após o término dos exercícios. Já quanto maior o volume,
isto é a duração do exercício, maior será o consumo calórico durante a realização da
atividade.
No intuito de mudar a realidade da obesidade, criaram-se medidas para o
combate a obesidade visando o emagrecimento através da utilização de exercícios
físicos, figurando duas vias responsáveis pela lipólise, a anaeróbia e a aeróbia.
Lapin et al. (2007) diz:
3

Nos exercícios com duração aproximada de 10 segundos, o principal


substrato utilizado vem do sistema creatina fosfato (ATP-CP). Nos exercícios
intensos com duração superior a 10 segundos a produção ATP passa a
depender também do sistema glicolítico. Em geral, o exercício intenso com
aproximadamente 60 segundos utiliza a produção de energia a partir das vias
anaeróbia e aeróbia (70% e 30% respectivamente). Em exercícios mais
prolongados (duração superior a 10 minutos) a energia predominante provém
do metabolismo aeróbio, especialmente a partir do consumo dos ácidos
graxos e em menor escala de proteínas (em torno de 5% do total) (FRY et al.,
1995).

A Tabela 1 demonstra as condições clínicas e cirúrgicas associadas com a


obesidade:
Tabela 1. Condições clínicas e cirúrgicas associadas com a obesidade.

Categoria Exemplos
Cardiovasculopatias Morte súbita (arritmia ventricular); Cardiomiopatia associada à
obesidade; Hipertensão; Doença coronariana; Cor pulmonale;
Doença cerebrovascular; Doença vascular periférica; Edema
de extremidades; Veias varicosas; Trombose venosa profunda;
Trombose de veia renal; Embolia pulmonar.

Doenças Doença pulmonar restritiva; Apnéia obstrutiva do sono; Síndrome


Respiratórias da hipoventilação da obesidade; Policitemia secundária.

Endocrinopatias Diabetes mellitus; Dislipidemia; Hipotireoidismo; Infertilidade;


Hiperuricemia.

Doença Gastrintestinal Hérnia de hiato; Litíase biliar; Colecistite; Esteatose hepática.

Doença Estrias; Acantose nigricans; Hirsutismo; Intertrigo; Calo plantar;


Dermatológica Papilomas; Dermatite perioral.

Doença Anormalidades menstruais e anovulação; Performance


Geniturinária obstétrica (toxemia hipertensão e diabetes durante a gestação,
trabalho de parto prolongado, cesariana mais frequente);
Proteinúria.

Neoplasias Mama; Cervix; Ovário; Endométrio; Próstata; Colorretal; Vesícula biliar.

Doença Osteoartrose de coluna e joelho; Síndrome do túnel do carpo; Gota;


Musculoesquelética Esporão de calcâneo; Defeitos posturais.

Disfunção Prejuízo da auto-imagem; Sentimentos de inferioridade; Isolamento


Psicossocial social; Discriminação social, econômica e outras; Susceptibilidade
a psico-neuroses; Perda de mobilidade; Aumento de faltas ao
trabalho e licenças médicas; Aposentadoria mais precoce.

Miscelânea Aumento do risco cirúrgico e anestésico; Hérnia inguinal e incisional;


Diminuição de agilidade física e aumento da propensão a acidentes;
Interferência com o diagnóstico de outras doenças.
Fonte: Mancini (2001).
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A obesidade está frequentemente associada a doenças cardiovasculares e


metabólicas. Há um conjunto de estratégias para o combate à obesidade, ficando
evidente a importância do controle alimentar e a prática de exercício físico
regularmente.

2. VIAS ENERGÉTICAS

2.1. VIA ANAERÓBIA

O nosso corpo pode produzir energia mesmo sem a presença de oxigênio. No


caso de exercícios de alta intensidade e curta duração, 2 sistemas da via anaeróbia
podem se utilizados, os sistemas fosfagênio e o glicolítico. O sistema fosfagênio é o
primeiro a ser solicitado e embora essa reação seja relativamente rápida, a quantidade de
fosfato-creatina que fica armazenado no músculo é muito pequena, sendo ideal apenas
para suprir a demanda nos primeiros instantes da atividade física. (PITHON-CURI,
2013).
Ainda para Pithon-Curi (2013) a partir de alguns segundos o sistema a ser
solicitado é o glicolítico, onde a glicose armazenada no sangue e nos músculos garante
uma rápida produção de ATP. Porém este sistema não é capaz de suprir toda uma
demanda energética por períodos prolongados, com um saldo final de 2 ATP por
glicose, o que pode vir a resultar na formação de ácido lático que será liberado na
corrente sanguínea e utilizado como substrato energético ou armazenado novamente no
fígado.
De acordo com Guyton e Hall (2002, p. 763):

A liberação de energia pela glicólise pode ocorrer muito mais rapidamente do


que a liberação oxidativa de energia. Como consequência, a maior parte da
energia adicional necessária durante atividade exaustiva com mais de 5 a 10
segundos de duração, porém inferior a 1 a 2 minutos, provém da glicose
aeróbica. Por conseguinte o conteúdo de glicogênios dos músculos durante
períodos exaustivos de exercício diminui, enquanto aumenta a concentração
de acido láctico no sangue.

Segundo Gentil (2011) é errônea a ideia de que a glicólise tem seu inicio
somente depois que todas as reservas de fosfato-creatina são esgotadas, sendo que a
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degradação da mesma é fundamental para bom funcionamento de células e tecidos, tais


como hemácias e tecidos nervosos.
Partindo do pressuposto de que a via energética utilizada em uma atividade,
depende de sua intensidade e duração e que esses processos possuem diferentes
velocidades, onde a fosforilação de ADP pela fosfocreatina é o mais rápido e a
fosforilação oxidativa resultante da quebra de ácidos graxos é o mais lento.
(MARZZOCO e TORRES, 1999).
Existem diversas análises sobre treinamentos intensos, em que se predomina a
via anaeróbia. Alguns destes treinos são conhecidos como intervalados e apresentam
alterações mais positivas em pessoas que desejam reduzir a quantidade de gordura há
longo prazo. (GENTIL, 2011).
Trapp et al. (2008) apresenta um estudo realizado com mulheres jovens, sendo
divididas em 3 grupos, 1 de controle, 1 de exercícios contínuos de baixa intensidade e 1
terceiro com atividades intervaladas de alta intensidade por 15 semanas. O estudo
mostrou que a perda de gordura e a redução da circunferência abdominal foi
significativa apenas no grupo das mulheres que fizeram intervalados de alta intensidade.
E as demais apresentaram ao final dos testes um pequeno aumento no ganho de gordura
corporal. Cabe salientar que todos os grupos tiveram controle alimentar.
Todo ganho significativo de peso, pós-exercício, resulta de uma queda do
metabolismo de repouso. O corpo ao tentar recuperar o peso perdido, procurando voltar
ao estado de homeostase, impede que o emagrecimento tenha segmento e ainda
contribui para que a pessoa volte a ganhar peso. Gentil (2011) diz que as intervenções
nos exercícios devem procurar reverter este quadro, buscando aumentar o gasto
energético de repouso.
Um fator que explica a eficiência de se trabalhar exercícios anaeróbicos, seria o
fato de que ao terminar uma sessão de treinamento intensivo, os processos metabólicos
não retornam imediatamente a níveis anteriores. No pós-exercício o consumo de
oxigênio permanece elevado proporcionalmente à intensidade e duração da atividade
realizada. (YOSHIOKA et al., 2001).
Scussolin e Navarro (2007) colocam que:

Assim, tem-se pesquisado a influência da intensidade, da duração e do tipo de


exercício no gasto energético e na oxidação do substrato após o exercício.
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Alguns estudos, como o de Bahr e Sejersted (1991) e Phelain e colaboradores


(1997), têm mostrado que os exercícios de alta intensidade, quando
comparados àqueles de intensidade moderada com a mesma duração,
promovem maiores efeitos no consumo de oxigênio pós-exercício.

O treinamento de força com volumes e intensidades elevadas vem sendo uma


ótima opção de redução da gordura corporal. Acredita-se que esse tipo de treinamento
possa elevar o Consumo de Oxigênio Pós-Exercício (EPOC), e, assim, promover uma
maior oxidação dos lipídios durante o processo de recuperação. (HALTON et al., apud
SCUSSOLIN e NAVARRO, 2007).
O EPOC ocorre para suprir a diferença de oxigênio necessário para realização da
atividade. Em exercícios aeróbicos esses níveis voltam a se estabilizar em alguns
segundos após o fim da atividade, já nas atividades intervaladas e intensas, em que se
predomina a via anaeróbia, o EPOC permanece por diversas horas, aumentando o gasto
energético de repouso, desta forma degradando ácidos graxos. (GENTIL, 2011).

2.2. VIA AERÓBIA

Exercícios aeróbicos por décadas ficaram conhecidos como os mais eficientes


para redução do índice de gordura corporal, tendo como base a ideia de que exercícios
de baixa intensidade e longa duração utilizam as gorduras como fonte de energia e
produção de ATP. (WILMORE e COSTILL, 2001).
Com a diminuição da fosfato-creatina, o sistema glicolítico, da via anaeróbia,
assume seu papel a fim de assegurar a continuidade do exercício, porém seus estoques
também são limitados, sendo suficientes para manter esta via funcionando por
aproximadamente 2 minutos de atividade. Na ausência de oxigênio, a via glicolítica leva
a produção de lactato, que se for acumulado em grandes quantidades no musculo reduz
a capacidade de continuidade do exercício, levando a fadiga. Caso haja presença de
oxigênio o lactato pode retornar a piruvato e ser metabolizado pelo ciclo de krebs,
dando início ao sistema oxidativo ou via aeróbia de produção de energia. (PHITON-
CURI, 2013).
Phiton-Curi (2013) relata que em atividades de intensidades leves a moderadas,
solicitam-se ATP através de reações mais lentas, onde essas concentrações de ATP são
mantidas por oxidação desses substratos energéticos, ou seja, por meio do metabolismo
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aeróbio, sendo os ácidos graxos o responsável por grande parte da energia utilizada,
salvo o cérebro, que é um grande consumidor de glicose. Inclusive nas atividades
simples e leves do nosso dia a dia como caminhar, conversar, ver televisão, temos a via
aeróbia como predominante.
Para tanto a via aeróbia de produção de energia, é uma via que necessita do uso
do oxigênio e consegue utilizar carboidratos, gorduras e proteínas, que são comumente
encontrados na alimentação.
No sistema aeróbio o substrato energético predominante são os ácidos graxos, e
dentre suas vantagens está o fato de sua eficiência energética sendo que 9kcal por 1g
contra 4kcal dos carboidratos e proteínas, permitindo a sua utilização por períodos
prolongados retardando inclusive uma hipoglicemia.
A gordura é uma das fontes de energia utilizada na via aeróbia para a produção
de ATP. Através de treinamento, nossos músculos começam a ter a capacidade de
transportar e oxidar essas gorduras, elevando assim o fluxo sanguíneo e aumentado à
quantidade de enzimas para mobilizar e metabolizar gorduras.
Durante a atividade física nosso corpo solicita mais energia do que em qualquer
outra atividade, podendo elevar em 100 vezes mais o gasto energético dos músculos, do
que quando se permanece em repouso. Levando em consideração a intensidade e
duração da atividade como foi dito anteriormente, existe uma grande integração dos
sistemas de produção de energia, que são ativados de acordo com a demanda do esforço
exercido.
Além dos fatores frequência, intensidade e duração é preciso levar em conta
também a individualidade biológica do indivíduo. O treinamento contínuo deve atingir a
intensidade limiar, gerando uma adaptação fisiológica importante para o aprimoramento
da capacidade aeróbica. (MCARDLE, apud DANTAS, CARVALHO e PINHEIRO,
2005).
Por fim, para Robergs (2002) quanto maior for o nível de treinamento aeróbio da
pessoa, maior será o consumo de gordura como fonte de energia. Isto ocorre devido à
conquista celular de novas mitocôndrias e enzimas críticas do ciclo de krebs, decorrente
do treino aeróbio.
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3. ESTUDOS E RESULTADOS

3.1. COMPARAÇÃO DOS EFEITOS DA GINÁSTICA AERÓBICA E DA


HIDROGINÁSTICA NA COMPOSIÇÃO CORPORAL DE MULHERES
IDOSAS

Este estudo objetiva avaliar os resultados da ginástica aeróbica e da


hidroginástica na composição corporal de mulheres idosas. Foram utilizadas no estudo
59 mulheres com os seguintes requisitos: faixa etária mínima de 60 anos, serem
sedentárias, fisicamente independentes e sem qualquer problema de locomoção. (MELO
e GIAVONI, 2004).
A amostra foi subdividida em 3 grupos distintos, sendo 2 experimentais:
ginástica aeróbia (grupo 1) e hidroginástica (grupo 2) e controle (grupo 3). Os grupos
experimentais tiveram os seguintes critérios para elaboração das aulas: período total de
12 semanas, periodicidade de 3 vezes por semana, sendo 50 minutos cada aula, com
intensidade de 50 a 70% da Frequência Cardíaca (FC) máxima.
Avaliou-se a composição corporal dessas pessoas utilizando: balança Filizola e
aparelho de Absortometria Radiológica de Dupla Energia (DEXA) – Marca Lunar-
DPX-IQ, modelo XRC1.
As pessoas escolhidas para fazer parte da amostra passaram por um pré-teste,
onde foram mensuradas as seguintes variáveis: peso corporal total (Kg), proporção de
gordura em relação ao peso corporal total (%), proporção de gordura nos segmentos
[braço (%), perna (%) e tronco (%)]. As avaliações foram realizadas no Laboratório de
Imagem da Universidade Católica de Brasília (UCB). Após 12 semanas (36 sessões) de
atividade física orientada (grupos 1 e 2), ou seja, de tratamento, iniciou-se o pós-teste,
pelo qual foram mensuradas as mesmas variáveis descritas acima. Os dias de testes (pré
e pós) não foram contabilizados nas 12 semanas de tratamento.
O esboço experimental do estudo apresentou, então, característica 3 x 2,
considerando a variável independente “Tratamento” (entre - grupos) subdividida em 3
níveis: ginástica aeróbia, hidroginástica e controle, e a variável independente “Tempo”
(intra-grupos) subdividida em 2 momentos: pré-teste e pós-teste. As variáveis
dependentes analisadas foram: a) peso corporal total (Kg), b) proporção de gordura em
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relação ao peso corporal total (%), c) proporção de gordura nos braços (%), d)
proporção de gordura nas pernas, e) proporção de gordura no tronco (%) e f) massa
magra (Kg).
Importantes resultados foram constatados após 12 semanas de atividade física
controlada, em especial na modalidade ginástica aeróbia quando comparada com a
hidroginástica e com o grupo controle. No grupo que praticou ginástica aeróbia
observou-se reduções no peso corporal total (kg), no percentual de gordura das pernas
(%Gp) e um aumento significativo na massa magra (Kg). Enquanto a modalidade de
hidroginástica apresentou, apenas, redução no percentual de gordura das pernas. As
mudanças observadas nas análises demonstram que a redução de peso corporal obtido
para o grupo que praticou ginástica aeróbia (grupo 1) apresenta resultados mais
significativos quando comparados aos demais grupos.

3.2. INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO AERÓBIO E ANAERÓBIO NA MASSA


DE GORDURA CORPORAL DE ADOLESCENTES OBESOS

O objetivo deste estudo foi o de avaliar os efeitos do exercício anaeróbio em


relação à massa de gordura corporal de adolescentes obesos, em comparação com
exercício aeróbio e um grupo controle sem a prescrição de qualquer tipo de exercício.
(FERNANDEZ et al., 2004).
A amostra foi constituída de 28 adolescentes do sexo masculino com idades
entre 15 e 19 anos. Incluíram-se nessa pesquisa apenas voluntários que apresentaram
obesidade grave (com índice de massa corporal igual ou superior a 95% de adequação
em relação ao percentil 50 das tabelas de Must et al. (apud Fernadez et al., 2004)).
Os voluntários foram distribuídos aleatoriamente, através de sorteio, em 3
grupos: grupo 1 de treinamento anaeróbio (n = 10; 16,37 ± 1,50, anos): treinamento
físico anaeróbio, com duração de 3 meses, com orientação nutricional, e consulta à
nutricionista a cada mês; grupo 2 de treinamento aeróbio: (n = 9; 15,83 ± 0,75, anos)
treinamento físico aeróbio, com duração de 3 meses, com orientação nutricional, e
consulta à nutricionista a cada mês; e grupo 3 de controle: (n = 9; 16,00 ± 1,32, anos)
não realizaram nenhum tipo de treinamento físico durante 3 meses, com orientação
nutricional, e com consulta à nutricionista a cada mês.
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Todos os voluntários selecionados foram submetidos a avaliação antropométrica,


clínica, de composição corporal, e de aptidão física antes de ingressarem no projeto. O
período de intervenção foi de 3 meses, em que os voluntários dos grupos de exercício
realizaram o treinamento físico e orientação nutricional e os voluntários do grupo
controle tiveram orientação nutricional somente. Após o período de 3 meses os
voluntários foram submetidos à reavaliação, utilizando-se os mesmos critérios da
avaliação inicial.
Os resultados mostraram reduções nas variáveis da massa corporal, IMC, na
massa de gordura corporal total e de membros inferiores e na percentagem de gordura
corporal de tronco nos grupos de exercício. Os grupos 1 e 3 diferem nos percentuais de
massa de gordura corporal total e de membros inferiores e na percentagem de gordura
de membros inferiores.
Os dados segundo Fernandez et al. (2004) sugerem que o exercício físico, tanto
aeróbio como anaeróbio, quando aliados à orientação nutricional, provocam uma maior
redução ponderal, quando comparado exclusivamente com a orientação nutricional. Em
relação ao exercício mais eficiente, o exercício anaeróbio foi mais eficaz para promover
a diminuição da gordura corporal e do percentual de gordura, enquanto o exercício
aeróbio foi mais eficaz no sentido de preservar e/ou aumentar a massa magra e a massa
livre de gordura.

3.3. EFEITO DO EXERCÍCIO FÍSICO NOS FATORES DE RISCO DE


DOENÇAS CRÔNICAS EM MULHERES OBESAS

Foi feita uma avaliação objetivando o emagrecimento, utilizando-se de um


planejamento de exercícios físicos com duração de 12 semanas, onde foram avaliadas
22 mulheres previamente selecionadas, com índice de massa corpórea (IMC) >30
Kg/m², saudáveis e não menopausadas, com idade entre 25 e 50 anos. (ROCCA et al.,
2008).
Antes do início do programa de exercícios, foi estimado o IMC, as
circunferências da cintura e do quadril, a relação da cintura-quadril, composição
corporal por DEXA, hemoglobina, eritrócitos, colesterol total, HDL, LDL,
triacilgliceróis, glicose, e potência aeróbia.
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As mulheres utilizadas foram submetidas a um programa de exercícios físicos


durante 3 meses, com a frequência de 3 vezes por semana e duração de 1 hora, divididos
em 30 minutos de exercício aeróbio e 30 minutos de exercícios resistido.
O programa de exercício aeróbio foi uma caminhada em esteira ergométrica a
70% do VO2 máximo, monitorado pela FC equivalente (utilizando-se do
frequêncímetro Polar®). E já o protocolo de exercícios resistidos (anaeróbios), foi
efetuado através de uma combinação da utilização de exercícios com pesos livres e
aparelhos específicos de musculação. Em cada exercício foram executadas 3 séries de
15 repetições, variando entre 60-70% da quantidade de repetições máximas (nRM). Foi
prescrito 8 exercícios em aparelhos, sendo eles: remada sentada, puxada, supino reto,
leg press, extensão de joelhos, flexão de joelhos, flexão plantar e extensão de cotovelo.
E com a utilização de pesos livres foi prescrito 4 exercícios: abdução-adução com
flexão de ombro na posição deitada, desenvolvimento frontal, desenvolvimento lateral e
flexão de antebraço.
Ao observar os resultados, analisando as variáveis antropométricas, pode-se
deduzir que o exercício, isoladamente, não proporciona perda de gordura subcutânea.
Não obstante, o resultado mais expressivo dessa pesquisa refere-se à diminuição da
obesidade central, considerada a maior responsável no desenvolvimento de doenças
crônicas. Houve significativa redução das medidas da cintura (CC) e do quadril (CQ),
concomitantemente com a relação cintura/quadril (RCQ).
Outro significativo resultado do estudo, com relação no desenvolvimento de
doenças crônicas, foi o importante aumento obtido após o programa da fração
lipoproteica de alta densidade (HDL). Essa melhora do HDL também é atribuída aos
efeitos do exercício físico (HARDMAN, apud ROCCA et al., 2008). Outro ponto a
destacar, foi a expressiva diminuição da glicemia em jejum.
Ao analisar os resultados deste estudo, conclui-se que o exercício físico se
mostrou uma eficaz estratégia para reduzir os fatores de risco para desenvolvimento de
doenças crônicas em mulheres obesas. Em contrapartida, 12 semanas não se mostraram
ideais e suficientes para demonstrar bons resultados em relação à composição corporal.
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TABELA 2. Medidas antropométricas antes e após o programa (n=22).

Valores iniciais Valores finais


(média± DP) (média± DP)

Peso (kg) 95,30 ± 15,9 94,61 ± 16,05


Estatura (cm) 162,14 ± 7,97 162,14 ± 7,97
IMC (kg/m2) 36,04 ± 3,97 35,78 ± 4,05
CC (cm) 103,17 ± 9,98 99,38 ± 9,68*
CQ (cm) 123,39 ± 10,66 121,41 ± 10,4*
RCQ 0,84 ± 0,08 0,82 ± 0,07*

* diferença com valor de p < 0,05; IMC: índice de massa corporal; CC: circunferência da cintura; CQ:
circunferência do quadril; RCQ: relação cintura/quadril.
Fonte: Rocca et al. (2008).

TABELA 3. Composição Corporal avaliada por DEXA antes e após o programa (n=22).

Valores iniciais Valores finais


(média± DP) (média± DP)

CMO (g) 1053,09 ± 146,15 1040,09 ± 160,66


DMO (g/cm2) 01,23 ± 0,08 01,23 ± 0,08
MCA (%) 44,66 ± 3,07 45,08 ± 3,55
MCM Total (%) 53,37 ± 3,08 52,85 ± 3,19

* diferença com valor de p < 0,05; CMO: conteúdo mineral ósseo; DMO: densidade mineral óssea; MCA:
massa corporal adiposa; MCM: massa corporal magra.
Fonte: Rocca et al. (2008).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A obesidade está associada diretamente a doenças cardiovasculares, diabetes e


metabolismo. Ocasionando alterações da capacidade cardio-respiratória e do nível
metabólico. Com especial ênfase na distribuição de gordura corporal, onde indivíduos
com obesidade têm estes parâmetros afetados.
Permanecem vários estudos com o propósito de combater e prevenir a
obesidade, estando certa a importância de se ter presente o controle da alimentação,
combinado a prática de exercícios físicos. Fica claro que quando o individuo inicia a
prática de exercícios físicos ocorre varias mudanças fisiológicas nos seus tecidos
corporais.
Enquanto a via anaeróbia utiliza somente a glicose, o sistema aeróbio é capaz de
utilizar os 3 macro-nutrientes normalmente ingeridos numa dieta diária balanceada:
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carboidratos, gorduras e proteínas. Portanto para obter a perda de peso, é preciso


também ingerir carboidratos e proteínas, pois elas trabalham juntas na formação de ATP
e na promoção da lipólise.
Quando se fala em exercício físico e emagrecimento estudos mostram a
importância de se manter o balanço calórico negativo. Alguns autores reforçam que a
perda de gordura está relacionada com o gasto calórico total, devendo estes sempre ser
negativo. E que o tipo de atividade é irrelevante, devendo ser prescrito se levando em
consideração o estilo de vida do indivíduo, onde o gasto deve sempre ser superior ao
consumo através de dieta equilibrada e prescrição de exercícios físicos. (GENTIL,
2011).
Auferem-se das pesquisas realizadas, que a atividade física realizada com a
supervisão de um profissional de educação física traz claros benefícios aos praticantes.
Mais precisamente nestes estudos em relação ao metabolismo de gordura, percebe-se
que os benefícios são potencializados quando os exercícios físicos são aliados ao
acompanhamento nutricional.
Conforme a revisão apresentada neste estudo, concluímos que a atividade física
tendo a via anaeróbia como predominante, produz resultados superiores aos da via
aeróbia, obtendo, assim, uma maior lipólise, além de um ganho maior de massa magra.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Resposta ao Treino Físico Sistemático. Tese (Doutorado em Motricidade Humana,
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