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Atividade física na promoção da saúde

Introdução

O grande desenvolvimento tecnológico e da informática ocorrido, principalmente nas últimas


décadas do século XX, proporcionou melhoras significativas na vida das pessoas, através da
evolução das ciências da saúde, educação, estrutura das cidades, transporte, saneamento
básico, eletrodomésticos, máquinas, computadores, internet e outros. Entretanto, a
modernização contribuiu também para que o homem se habituasse a desenvolver cada vez
menos atividades físicas, seja no trabalho, em casa, na escola ou em momentos de lazer (BIM;
NARDO JR, 2004)

Esta redução do gasto calórico com a diminuição da demanda energética no cotidiano do


homem está ligada à falta de movimento e deterioração da saúde, bem-estar e qualidade de
vida (NACIONAL CENTER FOR CHRONIC DISEASE PREVENTION AND HEALTH PROMOTION -
CDC, 2002). Como exemplo, pode-se citar o sedentarismo como um dos responsáveis pelo
sobrepeso, o qual é fator de risco independente para a morbimortalidade populacional por
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), principalmente quanto a sua relação com o
aumento da prevalência de hipertensão arterial (HA) e diabete mellitus (DM) (NUNES e
BARROS, 2005).

Assim, a alta prevalência de sedentarismo na sociedade atual tem sido um grande desafio no
campo da saúde pública, já que esta condição possui um status de fator de risco primário da
morbimortalidade populacional por DCNT.

Nesse contexto, a intervenção da atividade física sistematizada pode colaborar para prevenir
diversas DCNT, além de ajudar a minimizar as complicações clínicas decorrentes desse mal.

Dessa forma, este trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão de literatura sobre a
prática da atividade física como meio de intervenção no combate ao sedentarismo.

2. Benefícios da atividade física

A prática regular de exercício pode produzir importantes benefícios a curto, médio e longo
prazo, independente se realizada por indivíduos com alguma DCNT ou não (MERCURI;
ARRECHEA, 2001). Esses benefícios são listados a seguir:

 Aumenta o consumo da glicose.


 Diminui a necessidade de insulina exógena.
 Diminui a concentração basal e pós-prandial da insulina.
 Aumenta a resposta dos tecidos à insulina.
 Melhora os níveis da hemoglobina glicolisada.
 Melhora o perfil lipídico:
o diminui os triglicerídeos.
o aumenta a concentração de HDL-colesterol.
o diminui levemente a concentração de LDL-colesterol.
 Contribui para diminuir a pressão arterial.
 Aumenta o gasto energético:
o favorece a redução do peso corporal.
o diminui a massa total de gordura.
o preserva e aumenta a massa muscular.
 Melhora o funcionamento do sistema cardiovascular.
 Aumenta a força e flexibilidade muscular.

Os benefícios obtidos com a prática regular de atividade física se devem às adaptações


crônicas do organismo a um trabalho acima dos níveis de repouso (KRINSKI et al, 2006).
Conseqüentemente, o treinamento físico promove um conjunto de adaptações morfológicas e
funcionais que conferem maior capacidade ao organismo para responder ao estresse do
exercício (DIRETRIZ DE REABILITAÇÃO CARDÍACA, 2005).

Assim, Brum et al (2004) lembram que o exercício físico proporciona diversos efeitos no
organismo após a o seu término.

 Efeitos fisiológicos agudos imediatos - são aqueles que acontecem em


associação direta à sessão de exercício. Os efeitos agudos imediatos são os que
ocorrem nos períodos pós-imediato do exercício e podem ser exemplificados pelos
aumentos de freqüência cardíaca (FC), ventilação pulmonar e sudorese,
habitualmente associados ao esforço.

 Efeitos fisiológicos agudos tardios - são os efeitos fisiológicos observados


ao longo das primeiras 24 horas que se seguem a uma sessão de exercícios e
podem ser exemplificados como na discreta redução dos níveis tensionais,
especialmente, nos hipertensos, e no aumento do número de receptores de
insulina nas membranas das células musculares.
 Efeitos fisiológicos crônicos - também denominados como adaptações, são
aqueles que resultam da exposição freqüente e regular às sessões de
exercícios, representado os aspectos morfofuncionais que diferem um indivíduo
fisicamente treinado, de outro sedentário. Dentre os achados mais comuns dos
efeitos crônicos do exercício físicos estão à hipertrofia muscular e o aumento
do consumo máximo de oxigênio.

É importante lembrar as varias formas que são classificadas o exercício físico, assim a
Sociedade Brasileira de Cardiologia no consenso de reabilitação cardíaca apresenta essa
classificação na tabela 1 descrita abaixo.

Tabela 1. Classificação do Exercício Físico

Denominação Características
Pela via metabólica predominante
Anaeróbio alático Grande intensidade e curtíssima duração
Anaeróbio lático Grande intensidade e curta duração
Aeróbio Baixa ou média intensidade e longa duração
Pelo ritmo
Fixo ou constante Sem alternância de ritmo ao longo do tempo
Variável ou intermitente Com alternância de ritmo ao longo do tempo
Pela intensidade relativa
Baixa ou leve Repouso até 30% do VO² máx. (Borg < 10)
Média ou moderada Entre 30% do VO² e o limiar anaeróbio (Borg 10 a 13)
Alta ou pesada Acima do limiar anaeróbio (Borg 14)
Pela mecânica muscular
Estático Não ocorre movimento e o trabalho é zero
Dinâmico Há movimento e trabalho positivo ou negativo
Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia - Consenso de Reabilitação Cardíaca

Além dos benefícios fisiológicos, a prática de exercícios físicos regulares acarreta benefícios
psicológicos, tais como: melhor sensação de bem estar, humor e auto-estima, assim como,
redução da ansiedade, tensão e depressão. A implantação de um programa de exercícios físicos
tende a aumentar o estado de saúde dos participantes, diminuindo a dependência, a
ociosidade, favorecendo a socialização, e com isso melhorando sua qualidade de vida. Os
poucos programas de incentivo à prática de atividades físicas desenvolvidos no Brasil tem
trazido avanços nessa área. Um bom exemplo foi o Programa “Agita São Paulo”, que buscou
mostrar a importância da atividade física de intensidade moderada, 30 minutos por dia, de
forma acumulada ou contínua, na maioria dos dias da semana, para a promoção da saúde,
tendo havido especial atenção com o público da terceira idade (FRANCHI e JÚNIOR, 2005).

3. Atividade física regular como tratamento não-farmacológico


A prática regular de atividade física tem sido apontada como uma importante medida não
medicamentosa para o tratamento de doenças cardiovasculares e crônicas, devido ao seu
aspecto benéfico e protetor diante dessas doenças (KRINSKI et al, 2006).

No caso de indivíduos hipertensos, o exercício físico há algum tempo vêm sendo estudado
com o intuito de incluí-lo como parte do tratamento não-farmacológico. Estudos recentes têm
confirmado o efeito hipotensor do exercício, principalmente em indivíduos hipertensos no
estágio I (OLIVEIRA et al [s/d]). E alguns estudos têm demonstrado que os níveis pressóricos
de um indivíduo hipertenso podem sofrer significativa redução com apenas uma sessão de
exercício físico, e essa redução pode alcançar valores mais evidentes e mais duradouros se o
estímulo, no caso o exercício, for mais prolongado (FORJAZ e NEGRÃO, 2000).

Os mecanismos que norteiam a queda pressórica pós-treinamento físico estão relacionados a


fatores hemodinâmicos (diminuição do débito cardíaco e da resistência vascular periférica),
humorais (produção de substâncias vasoativas, melhora na sensibilidade à insulina, etc.) e
neurais (diminuição do tônus simpático e da freqüência cardíaca de repouso) (MONTEIRO e
FILHO, 2004).

No que se refere à DM do tipo 2, sabe-se que a participação de indivíduos normais e


diabéticos em atividades físicas vigorosas ou não se associa à melhor sensibilidade à insulina
(IRIGOYEN et al, 2003).

De Mercure e Arrechea (2001), a resistência à insulina é o fator-chave na patogênese do DM


do tipo 2 e é um co-fator no desenvolvimento da HA, dislipidemia e aterosclerose. As causas da
resistência à insulina incluem também fatores genéticos.

Durante o exercício físico o transporte de glicose na célula muscular aumenta, bem como a
sensibilidade da célula à ação da insulina. Muitos fatores determinam a maior taxa de captação
da glicose durante e após o exercício, mas, sem dúvida, o aumento do aporte sanguíneo é um
importante fator regulador, permitindo a disponibilização deste substrato para a musculatura.
Portanto, indivíduos diabéticos com ausência de insulina ou deficiência na ação deste hormônio
conseguem utilizar glicose para contração muscular durante o exercício, podendo esta utilização
contribuir para a redução da hiperglicemia (IRIGOYEN et al, 2003).

De acordo com Mercuri e Arrechea (2001), o efeito hipoglicemiante do exercício pode se


prolongar por horas e até dias após o fim de exercício.

Segundo Nunes e Barros (2005) grandes efeitos das intervenções na redução da


morbimortalidade populacional são alcançados com apenas um pequeno aumento no nível de
atividade física dos sedentários.
4. Considerações finais

Assim como a atividade física, a promoção da saúde vem se tornando foco de atenção.
Diante disso, fica claro que o exercício físico regular é essencial no combate ao sedentarismo.
Ainda se apresenta como uma alternativa eficaz para o tratamento não farmacológico de
indivíduos com HA, DM e transtornos mentais, desde que seja realizado com orientação de
profissionais qualificados, e que estes se atentem ao tipo de exercício que será realizado, a sua
freqüência, a intensidade e duração

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