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FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Curso de Pós – Graduação Latu Sensu em Fisiologia do Exercício Aplicada a Saúde e ao


Esporte de Alto Rendimento

Turma 2018-2020

Rafael Gonçalves de Carvalho

Resumo do Artigo:

Benefícios do exercício para dor lombar crônica em indivíduos com sobrepeso e


obesos

São José do Rio Preto

2020
1 INTRODUÇÃO

Lombalgia é a dor que ocorre na região lombar inferior. Pode ser aguda
(duração menor que 3 semanas), subaguda ou crônica (duração maior que 3
meses). Como existe um grande número de estruturas na coluna (ligamentos,
tendões, músculos, ossos, articulações, disco intervertebral) há inúmeras causas
diferentes para a dor. A maioria das dores lombares é causada pelo “mau uso” ou
“uso excessivo” das estruturas da coluna.[1]

A prevalência global anual referente a dor lombar (LBP) é de 38%, com as


taxas mais altas ocorrendo em mulheres e pessoas com idade entre 40 e 80 anos. A
incidência populacional da lombalgia está diretamente associada ao índice de massa
corporal (IMC); Além disso, os fatores de risco para dor lombar incluem sobrepeso e
obesidade. Obesidade é definida como um IMC superior a 30 kg / m2, e sobrepeso é
definido como um IMC de 25-29,9 kg / m2. Pessoas obesas com dor lombar
persistente apresentam limitações funcionais profundas e uma alta carga comórbida.
A inatividade física em longo prazo acelera o início da incapacidade, a dependência
funcional e a mortalidade precoce.

Pessoas que sofrem de LBP crônica têm menor poder aeróbico, mobilidade
restrita, (devido à menor amplitude dos extensores do quadril), atrofia do músculo
lombar e fatigabilidade muscular excessiva. Estas insuficiencias físicas, acopladas
com desconforto relacionado à dor interferem na qualidade de vida (QV). Além
disso, as crenças de medo e evitação em relação ao exercício provavelmente
contribuem para a cronicidade da dor.

A pratica regular de exercicios é uma prevenção primária contra mais de 35


condições, incluindo obesidade e dor nas articulações, e reduz os riscos de
mortalidade independentes da perda de peso. No entanto, menos de 50% dos
adultos na maioria dos países não participam dos exercícios consistentemente para
manter essas proteções. Este é um problema sério porque a inatividade piora esta
patologia, aumenta o descondicionamento físico e ganho de peso. O comportamento
sedentário inicia um ciclo de piora da dor lombar e contribui para o
descondicionamento, limitações funcionais e medo ao exercicio. A adesão ao
exercício regular pode interromper este ciclo melhorando os sintomas de dor, função
física e comportamentos de medo e evitação. A pratica exercício por períodos mais
longos pode aumentar o gasto de energia e os níveis de aptidão física. Resultando
em um controle de LBP, melhores percepções de funcionalidade e QV.

O desafio para os médicos é prescrever exercícios que possam ajudar essa


população a superar a dor lombar e se engajar em atividades da vida. Embora a
pesquisa mostre benefícios positivos de diferentes programas de exercícios sobre a
saúde em pessoas com excesso de peso com lombalgia, a sustentabilidade desses
programas fora do ambiente de pesquisa clínica é questionável devido ao custo
pessoal, estigma e acesso a instalações ou treinadores. Além disso, devido à
heterogeneidade das intervenções do exercício de pesquisa, ainda não há um
consenso sobre o tipo de programa de exercícios que seja mais eficaz e aceito pelo
paciente com excesso de peso. As evidências mais recentes sobre a eficácia do
exercício podem ajudar os médicos a prepararem prescrições de exercícios para
essa demografia em expansão.

2 OBJETIVO

O objetivo desta revisão é fornecer evidências da mais alta qualidade sobre


programas de exercícios facilmente acessíveis relacionados ao combate a
intensidade da dor, qualidade de vida e outros resultados, como função física ou
alteração da composição corporal em pessoas com sobrepeso e obesas portadoras
de dor lombar crônica.

2 METODOLOGIA

Processo de pesquisa. Uma revisão narrativa da literatura envolveu uma


pesquisa aprofundada utilizando o PubMed com o intuito de identificar artigos de
programas de exercícios para lombalgia crônica em pessoas com sobrepeso e
obesidade, que foram publicados em inglês entre os anos 1980-2015. As coortes de
pesquisa tinham que incluir adultos (pessoas com mais de 18 anos), com dor lombar
difusa crônica (dor persistente por ≥3 meses) com sobrepeso ou obesidade (índice
de massa corporal [IMC] ≥25kg / m2). Projetos de pesquisa selecionados foram
randomizados e controlados, ou controlados e comparativos.

Os estudos que foram incluídos tinham que relatar um mínimo de alterações


na severidade da LBP (Ex:11 pontos na escala visual analógica [VAS], ou outra
subescala de dor), além de um resultado secundário, como alterações na percepção
de incapacidade devido a dor lombar (Oswestry Disability Index [ODI], Roland Morris
Disability Questionnaire [RMDQ]), avaliação funcional (Quebec Back Pain
Questionnaire, força muscular, resistência, testes de flexibilidade), qualidade da vida
(SF36), ou comportamentos de medo e evitação.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os principais modos de exercício consistiam em exercícios aeróbicos


(movimentos repetitivos contínuos de grandes grupos musculares suficientes para
aumentar a frequência cardíaca), exercícios resistidos (exercícios com pesos ou
resistência à sobrecarga muscular), exercícios aquáticos (movimentos repetitivos
sustentados, flexibilidade ou fortalecimento na água). e yoga-pilates. Um total de
dezesseis estudos foram selecionados, assim dispostos:

• Exercícios aeróbicos (AX) – dois estudos


• Exercício Resistido (RX) – quatro estudos
• Exercício Aquático (AQU) – três estudos
• Yoga e Pilates – sete estudos

Revisados os estudos, as evidências apontam que após cerca de quatro


meses de RX, dois meses de AQU, ou três meses de Pilates, foram observadas
reduções significativas na dor, limitações funcionais e aumento da força.

As classificações de gravidade da lombar geralmente diminuíram mais com


AQU, RX, Pilates, Yoga e exercícios gerais (redução média da dor de 35,5% - 56,2%
para os estudos incluídos) em comparação com os modos AX como caminhar e
andar de bicicleta 11,4%. Esse achado pode ser o resultado de um envolvimento
mais extenso dos músculos extensores lombares e dos músculos complementares
do quadril nos primeiros modos de exercício, que poderiam apoiar sinergicamente a
coluna lombar e reduzir a dor.
Todos os tipos de exercício, incluindo os comparadores de exercícios gerais
em estudos específicos, diminuíram as percepções de incapacidade devido à
lombalgia. No entanto, melhorias mais pronunciadas na incapacidade geralmente
ocorreram com Yoga-Pilates, RX e AQU (36% - 76,1%) em comparação com AX e
alongamento (19,7% - 27%). Estes achados sugerem que a incapacidade pode ser
influenciada positivamente por complexos padrões de ativação muscular e aptidão
muscular em vez de aptidão aeróbica ou flexibilidade muscular nesta população.
Pode haver uma tradução direta dos ganhos de força funcional induzidos pelo
exercício para melhorar o desempenho das atividades diárias em casa ou na
comunidade. Melhor desempenho das atividades diárias facilita sentimentos
positivos de realização e diminui a incapacidade percebida.

A QV tendeu a aumentar mais com RX, AQU ou Pilates em comparação com


as intervenções AX e Yoga. Melhorias induzidas por RX em Componentes Físicos e
Mentais do SF- 36 variaram de 7,4% a 30,7%. Maiores resultados na QV ocorreram
com mais sessões semanais de RX. Os possíveis mecanismos subjacentes a essas
mudanças positivas incluem diminuição da catastrofização da dor, crenças de medo
e evitação e melhora da eficácia da dor.

Entre todos os estudos revisados, o exercício proporcionou benefícios


importantes para o manejo da obesidade e comorbidades relacionadas. Por
exemplo, AX, RX periodizado e AQU reduziram significativamente a gordura corporal
(2,0 - 3,9%) e a AQU diminui a relação cintura-quadril em 7,3%. A redução da
gordura corporal depositada centralmente confere benefícios anti-inflamatórios e
contribui para o alívio da dor musculoesquelética e reduz os riscos futuros para
doenças cardiovasculares e diabetes. O condicionamento aeróbico aumentou com o
AQU (39,0%) e o condicionamento aprimorado reduz os riscos de mortalidade por
todas as causas. Ganhos em função, como flexibilidade, velocidade de marcha,
resistência muscular, força e potência muscular podem transferir-se em prontidão
anatômica e fisiológica para atividades funcionais mais extenuantes ou participação
em atividades recreativas e esportivas.

Todas as modalidades de exercício pareciam ser bem toleradas e seguras. O


evento adverso mais comum foi o agravamento leve a moderado da gravidade da
lombalgia, que ocorreu em 9% a 14,9% dos grupos de estudo. Pilates e ioga foram
associados à interrupção temporária do exercício (3 - 4 dias) devido ao aumento da
intensidade da dor antes de recomeçar. A participação de >80% das sessões de
exercício foi alcançada por 55% de Pilates e 49% no exercício geral. A adesão às
intervenções de yoga foi esporádica. AX, AQU e RX foram associados a taxas de
adesão relativamente maiores (74,8% - 100%), indicando que estes modos de
exercício podiam ser realizados de forma consistente por esta população. Qualquer
um desses exercícios poderia ser modificado para se ajustar aos dias de crise.
4 CONCLUSÂO

Embora a perda de peso seja frequentemente a primeira e principal meta de


saúde para o sobrepeso e a obesidade, os ganhos de força também podem ser um
objetivo para induzir os melhores resultados funcionais desses indivíduos com dor
lombar. Os programas de exercícios resistivos, aquáticos e de Pilates parecem ter o
maior efeito sobre a dor, funcionalidade, qualidade de vida e outros componentes da
saúde. Além disso, os programas de exercícios resistidos e aquáticos apresentaram
as mais altas taxas de adesão, indicando que esses tipos de programas podem
proporcionar um impacto geral maior sobre os resultados relevantes para pacientes
com LBP em sobrepeso. Dado que 2 - 4 meses de RX, AQU ou Pilates podem
reduzir significativamente a dor, a força e a função física, pode ser mais desejável,
após esse período inicial, integrar lentamente os exercícios aeróbicos direcionados à
perda de peso. Nessa população, é imperativo reduzir primeiro a lombalgia, os
medos de exercício relacionados à dor e aumentar a auto eficácia antes de focar no
exercício aeróbico para que a adesão ao programa de exercícios possa ser
alcançada e os benefícios da participação em longo prazo no exercício possam ser
obtidos.

5 REFERENCIAS

Sociedade Brasileira de Reumatologia. Lombalgia: Dor que ocorre na região


lombar inferior; problema comum, que afeta mais pessoas do que qualquer
outra afecção. Acesso em 30 de julho de 2019 Ace Disponível em:
<http://https://www.reumatologia.org.br/doenças reumaticas/lombalgia/>.

WASSER, Joseph G. et al. Exercise benefits for chronic low back pain in overweight
and obese individuals. PM&R, v. 9, n. 2, p. 181-192, 2017.

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