Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO: Os animes estão cada dia mais presentes em nossas vidas. Não são
apenas crianças e jovens, mas adultos que também se encantam por esta forma de
animação. Tendo isso em vista, a proposta desta pesquisa aqui apresentada em
resultados parciais é analisar a relação entre o Antigo Egito e os animes, levantando
alguns aspectos da sociedade egípcia do período, bem como alguns apontamentos
sobre os usos do passado, analisando referenciais bibliográficos e imagens. Além
disso, apresentaremos algumas possibilidades de se trabalhar o anime aqui analisado
em sala de aula, aproximando o conteúdo com a realidade do aluno.
INTRODUÇÃO
Bolsista CNPq com a pesquisa: “Antigo Egito e Usos do Passado: a mitologia egípcia presente nos
animes” sob orientação do professor Dr. Leandro Hecko. E-mail: tcc.leo.animes@gmail.com
8
animes no Brasil. A extinta emissora Manchete tratou de reproduzir em sua grade
alguns dos animes que ainda fazem muito sucesso como Saint Seya (Cavaleiros do
Zodíaco), Dragon Ball, Sailor Moon, entre outros.
Desde então, cada vez mais o consumo desses animes foi crescendo, a ponto
de se constituir uma comunidade de jovens e adultos que consomem esse tipo de
produto, sendo chamados de Otakus. Os Otakus, como dito, são consumidores de
animes, mas com um diferencial, eles vão atrás desses animes, não esperam passar
nas TVs abertas ou pagas, mas baixam na Internet3. O termo Otaku propriamente não
possui uma definição, no entanto:
(...) no Brasil e no resto do mundo, otaku é aquele que curte animês, mangás,
games e a J-Music. Indo além de uma simples relação de consumo, esse indivíduo
tem também o interesse de compartilhar os produtos japoneses com outros que
assim como ele também são otaku. A grande variedade de temas de interesse
ligada à Cultura Pop Japonesa e as pessoas que interagem entre si e com essas
mídias pode-se denominar de Cultura Otaku. Isso porque no Japão, país de
origem do termo, não é só assim que se encara a designação de um otaku.
(SOUSA, 2018, p. 1689).
3A internet é considerada um marco para essa comunidade justamente por tornar mais fácil o acesso
aos animes e outros produtos relacionados.
9
forte, no entanto, esses monstros não possuem nível, apenas rank), pêndulo (requer
dois monstros posicionados nas zonas pêndulo do campo, cada um possui uma
escala, como, por exemplo, um com a escala 1 e o outro 12, com isso, pode invocar
monstros entre os níveis 2 e 11) e, por fim, a invocação link (mais recente, cada
monstro link possui certos requisitos para serem invocados, sendo que cada um
possui um marcador link e não possuem níveis).
10
Imagem 2: Renunciado (Invocação ritual) 5
11
Estas três primeiras invocações aqui apresentadas são oriundas da primeira
geração ou “era” na qual debruçaremos nossa pesquisa. As demais invocações
(sincro, exceed, pendulum e link) são apresentadas a partir da terceira 7, quarta8,
quinta9 e sexta geração10 respectivamente.
Porém, delimitando a abrangência desta fonte, foram selecionados alguns
episódios da primeira “era”, pois ela apresenta maior quantidade de elementos sobre
o Antigo Egito. Com essa delimitação, pretende-se, nesta pesquisa, analisar os
aspectos temáticos que o anime apresenta sobre o Antigo Egito, sua mitologia,
artefatos e construções.
Neste texto, apenas alguns desses itens do Antigo Egito serão analisados,
tendo em vista que a pesquisa ainda está se iniciando. Ainda vale ressaltar que há
dificuldade em encontrar referenciais que discutem a questão dos animes, suas
representações e usos na área de História.
às 13h:20min.
9 Yu-Gi-OH Arc-V: https://pt.wikipedia.org/wiki/Yu-Gi-Oh!_Arc-V acessado em 11 de novembro de 2019
às 13h:21min.
10 Yu-Gi-OH Vrains: https://pt.wikipedia.org/wiki/Yu-Gi-Oh!_Vrains acessado em 11 de novembro de
2019 às 13h.22min.
12
os túmulos dos faraós, entre outros elementos importantes. É importante também
destacar que essas fontes materiais do antigo Egito possuíam fins religiosos ou de
culto ao faraó que, em alguns momentos, era considerado um deus ou algo que se
aproximava de um deus.
Ainda sobre os artefatos, Brancaglion Júnior (2004) destaca as diversas
construções egípcias voltadas para suas necessidades cotidianas construídas com
“(...) palha, fibras vegetais e adobe como matérias primas (...)” (2004, p. 01), bem
como as construções feitas em rocha que serviam para cultuar seus deuses, como
dito anteriormente, bem como para proteger seus mortos.
Além disso, outro aspecto importante são as tumbas que, de acordo com
Brancaglion Júnior, tinham como função:
(...) ser o local de contato entre o mundo terrestre e o Outro Mundo, entre os
mortos e os vivos. A chegada do morto à tumba consagrava a sua entrada na
eternidade. Desde os primeiros tempos, as tumbas aparecem como o local de um
novo nascimento e a ruptura dos níveis de existência. Esta ruptura estaria
simbolizada na imagem do poço que liga e, ao mesmo tempo, separa os mortos
dos vivos. No fundo do poço, os princípios espirituais constitutivos do homem
falecido poderiam sobreviver próximo ao corpo imóvel e conhecer uma existência
mais ou menos feliz segundo a sinceridade e a forma das manifestações do culto
que os vivos devotavam aos mortos. Através deste verdadeiro ’poço das almas’,
estabeleciam-se as relações imaginárias entre mortos e vivos. (2004, p. 15).
Diante dessa afirmação, pode-se perceber como o pós-vida era importante para
os egípcios, sendo que as tumbas constituíam apenas uma parte de toda a prática
funerária dos antigos egípcios, como, por exemplo, as mais famosas que são as
múmias, presentes em várias animações e filmes ocidentais.
Outros itens igualmente importantes são as estelas que:
(...) são lajes em rocha ou madeira, e mais raramente em faiança, que poderiam
conter cenas e inscrições referentes a decretos e registros históricos de
realizações reais, demarcações de fronteira, e hinos e preces a divindades.
Contudo, em sua maior parte, são de caráter funerário sendo o ponto focal o culto
ao morto e, portanto, colocada sempre em um local de livre acesso na capela
funerária. (BRANCAGLIO JÚNIOR, 2004, p. 117).
Percebe-se que a maioria dos itens, incluindo os shabtis que eram depositados
ao lado das tumbas dos faraós e que possuíam certas funções para com o Faraó no
pós vida, servem para proteger, guiar ou preparar o faraó ou a população egípcia para
a vida além túmulo. Além disso, há que dizer que não existem artefatos apenas para
fins funerários, como diversas estátuas dos faraós, visto que eles se preocupavam
constantemente em “imprimir” seu nome para as gerações posteriores. Além disso,
13
temos também as esfinges, vasos de cerâmica, entre outros itens de suma
importância para compreendermos os aspectos dessa civilização.
14
ALGUNS OLHARES SOBRE AS FONTES: EGITO ANTIGO E YU-GI-OH
A título de exemplo, para este trabalho que ainda está se iniciando, foram
selecionados três artefatos do Antigo Egito que são vistos recorrentemente no anime
analisado, sendo eles: o Ankh, o olho de Hórus e as figuras do Bá e do Ká.
Primeiramente, o Ankh é um artefato em formato de cruz que os egípcios
utilizavam para indicar a vida após a morte. No anime, este artefato aparece na forma
de um dos itens do milênio11, sendo que seu portador se intitula Shadi.
11Nome dado às sete relíquias do milênio, cada uma possui um tipo de poder e, juntas, liberam a
escuridão.
15
Imagem 5: Ankh encontrado nos tesouros de Tutankámon. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ankh acessado em 11 de novembro de 2019 às 21h:05min.
16
O segundo item a ser analisado é o olho de Hórus, ou “o olho que tudo vê”.
Como indicado por Brancaglion Júnior (2004, p. 108), este item, dentre outros, servia
para indicar símbolos de divindades ou sinais sagrados. No anime, o olho de Hórus
aparece entalhado em alguns dos itens do milênio, bem como em algumas cartas
utilizadas no anime e no cardgame.
Imagem 6: Pégasus utilizando o olho do milênio. Print do terceiro episódio da primeira temporada do
anime.
17
Imagem 7: amuleto com o olho de Hórus no museu do Louvre.
18
(...) era uma manifestação das energias vitais individuais com a função criadora e
conservadora da vida, era uma força invisível emanada das grandes reservas
energéticas dispersas no universo, que nasce com o homem e acompanha-o
durante a vida e apesar de abandoná-lo no momento da morte, continua a
representar a personalidade do ser com o qual coexistiu: “passar a seu ká”
significa morrer. (2004, p. 04).
Imagem 8: explicação sobre o Bá. Print do quinto episódio da sétima temporada do anime.
19
Imagem 10: hieróglifo do Bá.
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
Como pôde ser observado no decorrer deste trabalho, o antigo Egito está
presente em diversas áreas, dentre elas, os animes. Esse interesse pelo que é antigo,
voltado para o Egito antigo, é chamado de egiptomania (HECKO, 2016). E essa
egiptomania possui relação com os usos do passado, pois ela se apropria de
20
determinados itens como os aqui mencionados, e os utiliza em filmes, HQs, desenhos
animados, animes e até mesmo construções ou lápides de cemitérios atuais.
Essa apropriação e ressignificação, para Hecko, faz parte do nosso cotidiano,
visto que há um reconhecimento do passado como diferente, presente e necessário
na vida prática (HECKO, 2016, p. 59).
Tendo isso em vista, é importante a compreensão da relação entre passado e
presente para que o professor, ao chegar em uma sala de aula, busque incentivar
seus alunos, procurando trazer os conteúdos de uma forma com que utilize a
consciência história desse aluno a fim de, com isso, ter um melhor aproveitamento
das aulas.
Essa compreensão não é importante somente para o ensino, mas socialmente,
pois, nas diversas gerações desse anime, outras mitologias e itens que remetem à
História também estiveram presentes, como as linhas de Nazca e a mitologia nórdica
na terceira geração, cartas com nomes de importantes pensadores como Galileu,
presentes na quinta geração. Com isso, é possível tentar compreender o que está em
alta naquela sociedade, no caso, no Japão, ou o que o criador do anime quis passar
com essas cartas e histórias.
Por fim, para a continuação da pesquisa, pretendemos levantar mais
informações, desta vez sobre as cartas utilizadas no anime e no jogo, que apresentam
traços do antigo Egito, bem como continuar à procura de maiores referenciais sobre
os animes e seus usos na História. Serão realizadas mais leituras, desta vez focando
na análise de imagens, vídeos e movimentos dos personagens dentro dos animes,
bem como referenciais voltados para o estudo do Antigo Egito.
REFERÊNCIAS
AROSTEGUI, Júlio. O processo metodológico e a documentação histórica. In: A
pesquisa histórica: teoria e método, Bauru, SP: Edusc, 2006.
FARIA, Mônica Lima de. História e Narrativa das Animações Nipônicas: Algumas
Características dos Animês, 2007.
21
SOUSA, Jefferson Saylon Lima de; FERREIRA, Rosinete de Jesus Silva. O Animê no
Brasil e a formação da tribo social dos Otaku. Simpósio Internacional Interdisciplinar
em Cultura e Sociedade do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade
PGCult/UFMA (10.:2017: São Luís, MA). In: Anais [recurso eletrônico] do II Simpósio
Internacional Interdisciplinar em Cultura e Sociedade do PGCult/UFMA/.
BOTTENTUIT JÚNIOR, João Batista; FAÇANHA, Luciano da Silva (Organizadores).
São Luís: EDUFMA, 2018.
22