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O Antigo Egito e usos do passado: a mitologia egípcia presente nos Animes1

AGUIRRE, Leonardo Silva.2

RESUMO: Os animes estão cada dia mais presentes em nossas vidas. Não são
apenas crianças e jovens, mas adultos que também se encantam por esta forma de
animação. Tendo isso em vista, a proposta desta pesquisa aqui apresentada em
resultados parciais é analisar a relação entre o Antigo Egito e os animes, levantando
alguns aspectos da sociedade egípcia do período, bem como alguns apontamentos
sobre os usos do passado, analisando referenciais bibliográficos e imagens. Além
disso, apresentaremos algumas possibilidades de se trabalhar o anime aqui analisado
em sala de aula, aproximando o conteúdo com a realidade do aluno.

Palavras-chave: Antigo Egito; Animes; Usos do Passado; Yu-Gi-OH.

INTRODUÇÃO

Para o ensino de História, os professores devem passar por uma longa


formação que não se encerra com a graduação, mestrado e afins, mas que continua
no dia-a-dia de seu trabalho. Neste cotidiano, ele deve conseguir fazer com que seus
alunos foquem a atenção na aula, mas, com a tecnologia cada dia mais presente, os
alunos veem esse ensino de forma entediante. Por isso, o professor deve trazer para
o ambiente do aluno, utilizando a consciência histórica presente nesses alunos, um
ensino que valorize o uso das novas tecnologias.
Diante dessas novas tecnologias, durante a formação do professor nos mais
diversos cursos de graduação em História, há a carência de disciplinas que mostrem
como essas novas tecnologias podem ser utilizadas em sala de aula.
Os animes se enquadram nestas novas tecnologias, pois há um conjunto de
elementos que ele reproduz para toda uma sociedade que o assiste. Portanto, cabe
aqui ressaltar que os animes são desenhos animados japoneses desenvolvidos a
partir dos mangás (revistas em quadrinhos também japonesas) a partir do surgimento
da televisão em cores na década de 1950, com suas primeiras animações como Astro
Boy que foi lançado em 1951 e reproduzido pela TV Tupi na década de 1960 (FARIA,
s/d, p. 05).
No Brasil, a popularização do anime ocorreu na década de 1990, sendo
considerada por muitos pesquisadores dessa temática como um marco para os

1 Artigo realizado para a apresentação de comunicações no Simpósio multidisciplinar de relações


étnico-raciais realizado na UFMS campus Três Lagoas.
2 Acadêmico do sexto semestre do curso de Licenciatura em História pela UFMS campus Três Lagoas.

Bolsista CNPq com a pesquisa: “Antigo Egito e Usos do Passado: a mitologia egípcia presente nos
animes” sob orientação do professor Dr. Leandro Hecko. E-mail: tcc.leo.animes@gmail.com

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animes no Brasil. A extinta emissora Manchete tratou de reproduzir em sua grade
alguns dos animes que ainda fazem muito sucesso como Saint Seya (Cavaleiros do
Zodíaco), Dragon Ball, Sailor Moon, entre outros.
Desde então, cada vez mais o consumo desses animes foi crescendo, a ponto
de se constituir uma comunidade de jovens e adultos que consomem esse tipo de
produto, sendo chamados de Otakus. Os Otakus, como dito, são consumidores de
animes, mas com um diferencial, eles vão atrás desses animes, não esperam passar
nas TVs abertas ou pagas, mas baixam na Internet3. O termo Otaku propriamente não
possui uma definição, no entanto:

(...) no Brasil e no resto do mundo, otaku é aquele que curte animês, mangás,
games e a J-Music. Indo além de uma simples relação de consumo, esse indivíduo
tem também o interesse de compartilhar os produtos japoneses com outros que
assim como ele também são otaku. A grande variedade de temas de interesse
ligada à Cultura Pop Japonesa e as pessoas que interagem entre si e com essas
mídias pode-se denominar de Cultura Otaku. Isso porque no Japão, país de
origem do termo, não é só assim que se encara a designação de um otaku.
(SOUSA, 2018, p. 1689).

Portanto, como visto, os otakus possuem uma aproximação com o que se


consome, não apenas assistem, mas procuram discutir sobre os animes com seus
grupos de amigos, em fóruns da Internet especializados em cada anime, compram
produtos relacionados, como bonecos, camisetas, cards, entre outros itens.
Diante desse cenário, esta pesquisa trata sobre o Antigo Egito e os Usos do
Passado, em que a fonte utilizada será o anime intitulado Yu-Gi-OH, tendo sua versão
clássica lançada entre 1998 e 2004 e criado por Kazuki Takahashi. O anime possui
diversas “eras”, isto é, uma geração para cada protagonista, cada uma introduzindo
um novo tipo de “invocação” que é o termo utilizado pelos personagens que representa
a invocação de um card de monstro para ser utilizado nos duelos, que são as “lutas”
do anime. Atualmente são sete os tipos: invocação normal (também há a invocação
por tributo, em que um a três monstros, a depender do nível do monstro a ser invocado
requer, são tributados para trazer um monstro de maior ataque ou com maiores
efeitos), a invocação por ritual, fusão (dois monstros combinados para formar um mais
forte), synchro (combinação de níveis dos monstros resultam em um monstro mais
forte, no qual há como pré-requisito um monstro que seja da categoria tunner), exceed
(dois ou mais monstros de níveis iguais são sacrificados para formar um monstro mais

3A internet é considerada um marco para essa comunidade justamente por tornar mais fácil o acesso
aos animes e outros produtos relacionados.

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forte, no entanto, esses monstros não possuem nível, apenas rank), pêndulo (requer
dois monstros posicionados nas zonas pêndulo do campo, cada um possui uma
escala, como, por exemplo, um com a escala 1 e o outro 12, com isso, pode invocar
monstros entre os níveis 2 e 11) e, por fim, a invocação link (mais recente, cada
monstro link possui certos requisitos para serem invocados, sendo que cada um
possui um marcador link e não possuem níveis).

Imagem 1: Mago Negro (invocação normal) 4.

4 Imagem disponível em: https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-844206546-yu-gi-oh-mago-negro-


ultra-raro-frete-incluso-_JM?quantity=1 acessado em 11 de novembro de 2019, às 13h:06min.

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Imagem 2: Renunciado (Invocação ritual) 5

Imagem 3: Herói Homem Chama Alado (Invocação fusão)6.

5 Imagem disponível em http://yugiohmonstrosdeduelo.blogspot.com/2013/07/relinquished.html


acessado em 11 de novembro de 2019, às 13h:10min.
6 Imagem disponível em http://twilyugi.blogspot.com/2009/06/falando-sobre-o-heroi-elementar-
homem_13.html acessado em 11 de novembro de 2019 às 13h:15min.

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Estas três primeiras invocações aqui apresentadas são oriundas da primeira
geração ou “era” na qual debruçaremos nossa pesquisa. As demais invocações
(sincro, exceed, pendulum e link) são apresentadas a partir da terceira 7, quarta8,
quinta9 e sexta geração10 respectivamente.
Porém, delimitando a abrangência desta fonte, foram selecionados alguns
episódios da primeira “era”, pois ela apresenta maior quantidade de elementos sobre
o Antigo Egito. Com essa delimitação, pretende-se, nesta pesquisa, analisar os
aspectos temáticos que o anime apresenta sobre o Antigo Egito, sua mitologia,
artefatos e construções.
Neste texto, apenas alguns desses itens do Antigo Egito serão analisados,
tendo em vista que a pesquisa ainda está se iniciando. Ainda vale ressaltar que há
dificuldade em encontrar referenciais que discutem a questão dos animes, suas
representações e usos na área de História.

ANTIGO EGITO: BREVES APONTAMENTOS SOBRE SEUS ARTEFATOS


O Antigo Egito atrai a atenção de vários pesquisadores cujo foco se encontra
na História, na Arqueologia e na Egiptologia. Porém, não só atrai o interesse de
pesquisadores, como também vários curiosos, sendo que, hoje, o Egito e suas
pirâmides e demais artefatos são pontos turísticos famosos.
Sua história, conforme Doberstein (2010) apresenta em seu texto “O Egito
Antigo”, começa na unificação do Estado faraônico que resultou no período Pré-
dinástico. Esse mesmo autor traz, em sua obra, a trajetória pela qual o Egito
perpassou durante vários milênios, passando pela Revolução Agrícola, o surgimento
das elites e da escrita, culminando no Antigo Reino, sendo que, ao chegar nesse
período, vários apontamentos foram realizados em torno de cada dinastia da qual se
possui fontes materiais e escritas a respeito delas.
Em quase todas as dinastias há um conjunto de fontes materiais e escritas dos
quais podemos retirar informações importantes do período, como o Livro dos Mortos,

7 Yu-Gi-OH 5DS: https://pt.wikipedia.org/wiki/Yu-Gi-Oh!_5D%27s acessado em 11 de novembro de


2019 às 13h:19min.
8 Yu-Gi-OH Zexal: https://pt.wikipedia.org/wiki/Yu-Gi-Oh!_Zexal acessado em 11 de novembro de 2019

às 13h:20min.
9 Yu-Gi-OH Arc-V: https://pt.wikipedia.org/wiki/Yu-Gi-Oh!_Arc-V acessado em 11 de novembro de 2019

às 13h:21min.
10 Yu-Gi-OH Vrains: https://pt.wikipedia.org/wiki/Yu-Gi-Oh!_Vrains acessado em 11 de novembro de

2019 às 13h.22min.

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os túmulos dos faraós, entre outros elementos importantes. É importante também
destacar que essas fontes materiais do antigo Egito possuíam fins religiosos ou de
culto ao faraó que, em alguns momentos, era considerado um deus ou algo que se
aproximava de um deus.
Ainda sobre os artefatos, Brancaglion Júnior (2004) destaca as diversas
construções egípcias voltadas para suas necessidades cotidianas construídas com
“(...) palha, fibras vegetais e adobe como matérias primas (...)” (2004, p. 01), bem
como as construções feitas em rocha que serviam para cultuar seus deuses, como
dito anteriormente, bem como para proteger seus mortos.
Além disso, outro aspecto importante são as tumbas que, de acordo com
Brancaglion Júnior, tinham como função:

(...) ser o local de contato entre o mundo terrestre e o Outro Mundo, entre os
mortos e os vivos. A chegada do morto à tumba consagrava a sua entrada na
eternidade. Desde os primeiros tempos, as tumbas aparecem como o local de um
novo nascimento e a ruptura dos níveis de existência. Esta ruptura estaria
simbolizada na imagem do poço que liga e, ao mesmo tempo, separa os mortos
dos vivos. No fundo do poço, os princípios espirituais constitutivos do homem
falecido poderiam sobreviver próximo ao corpo imóvel e conhecer uma existência
mais ou menos feliz segundo a sinceridade e a forma das manifestações do culto
que os vivos devotavam aos mortos. Através deste verdadeiro ’poço das almas’,
estabeleciam-se as relações imaginárias entre mortos e vivos. (2004, p. 15).

Diante dessa afirmação, pode-se perceber como o pós-vida era importante para
os egípcios, sendo que as tumbas constituíam apenas uma parte de toda a prática
funerária dos antigos egípcios, como, por exemplo, as mais famosas que são as
múmias, presentes em várias animações e filmes ocidentais.
Outros itens igualmente importantes são as estelas que:
(...) são lajes em rocha ou madeira, e mais raramente em faiança, que poderiam
conter cenas e inscrições referentes a decretos e registros históricos de
realizações reais, demarcações de fronteira, e hinos e preces a divindades.
Contudo, em sua maior parte, são de caráter funerário sendo o ponto focal o culto
ao morto e, portanto, colocada sempre em um local de livre acesso na capela
funerária. (BRANCAGLIO JÚNIOR, 2004, p. 117).

Percebe-se que a maioria dos itens, incluindo os shabtis que eram depositados
ao lado das tumbas dos faraós e que possuíam certas funções para com o Faraó no
pós vida, servem para proteger, guiar ou preparar o faraó ou a população egípcia para
a vida além túmulo. Além disso, há que dizer que não existem artefatos apenas para
fins funerários, como diversas estátuas dos faraós, visto que eles se preocupavam
constantemente em “imprimir” seu nome para as gerações posteriores. Além disso,

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temos também as esfinges, vasos de cerâmica, entre outros itens de suma
importância para compreendermos os aspectos dessa civilização.

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO COM AS FONTES E O MÉTODO DA PESQUISA


Como levantado no tópico anterior, a reconstituição da história do Antigo Egito
só foi possível com as descobertas arqueológicas de diversos artefatos encontrados
sobre as ruínas das construções egípcias. No entanto, todo esse material não recebe
a devida atenção dos historiadores, visto que muitos consideram esse trabalho como
foco somente da arqueologia. Apenas com a ascensão do que chamamos de
egiptomania, isto é, “(...) um fenômeno e faz-se presente no Brasil em torno de
diversos interesses manifestos em temas e formas de apropriação, de acordo com o
tipo de relação que se tem com o passado” (HECKO, 2016, p. 53), que os historiadores
e demais pesquisadores começaram a investigar mais afundo este tema.
Esta pesquisa utilizará o anime Yu-Gi-Oh como fonte, mais especificamente,
imagens que representam recortes de seus episódios em que há o aparecimento de
itens que nos remete ao antigo Egito, procurando compará-las às fontes materiais do
período aqui analisado, sendo elas: o olho de Hórus, os conceitos de bá e ká, e o
amuleto Ankh.
Sobre o uso do anime enquanto fonte, dispomos de poucos referenciais a
respeito, entretanto, se procurarmos sobre os desenhos animados já há algumas
pesquisas realizadas, porém, visto que não há pesquisas da área de História a
respeito do uso dos animes, especificamente, Arostegui (2006) indica que é essa falta
de material a respeito de determinada fonte ou sobre seu uso que nos incita à
pesquisá-la e, como esse mesmo autor indica em sua obra, toda pesquisa parte de
hipóteses e, com isso, podem ser feitas algumas perguntas que procuraremos tentar
solucionar no andamento da pesquisa como: por que os historiadores dão pouca
atenção aos animes? Por quê e o quê o oriente distante pretende ao abordar a cultura
egípcia em seus animes? Essas e outras perguntas são fundamentais para iniciarmos
a pesquisa, visto que elas formam a base da mesma.
Diante desse cenário de ineditismo da pesquisa, o método aqui utilizado se
constituirá em um método próprio, visto que, embora parte das fontes aqui analisadas
se constitua em fontes materiais, elas são imagéticas e, por fim, sobre os animes,
ainda não dispomos de um método para sua análise, o que torna essencial esta
pesquisa.

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ALGUNS OLHARES SOBRE AS FONTES: EGITO ANTIGO E YU-GI-OH
A título de exemplo, para este trabalho que ainda está se iniciando, foram
selecionados três artefatos do Antigo Egito que são vistos recorrentemente no anime
analisado, sendo eles: o Ankh, o olho de Hórus e as figuras do Bá e do Ká.
Primeiramente, o Ankh é um artefato em formato de cruz que os egípcios
utilizavam para indicar a vida após a morte. No anime, este artefato aparece na forma
de um dos itens do milênio11, sendo que seu portador se intitula Shadi.

Imagem 4: Shadi, portador do Ankh. Print do terceiro episódio da sétima temporada .

11Nome dado às sete relíquias do milênio, cada uma possui um tipo de poder e, juntas, liberam a
escuridão.

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Imagem 5: Ankh encontrado nos tesouros de Tutankámon. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ankh acessado em 11 de novembro de 2019 às 21h:05min.

Como podemos perceber, na segunda imagem, o Ankh possui diversos


detalhes entalhados em seu interior, com alguns hieróglifos no meio e em volta do
item. Já na primeira imagem, que se remete ao anime, o Ankh utilizado pelo
personagem Shadi não dispõe de maiores detalhamentos, sendo utilizado algumas
vezes para ajudar Yugi a entrar no mundo das memórias perdidas do espírito do antigo
Faraó que reside em outro dos itens do milênio.
Esses itens do milênio, sete ao todo, representam partes de uma estela de onde
foram retirados e ficaram sob a tutela de sete protetores do Faraó, pai desse espírito
que está preso no Enigma do Milênio. Cada item possui um tipo de poder e há uma
profecia em que, ao serem devolvidos para a estela e ser pronunciado o nome do
novo Faraó, ou seja, o espírito que estava no enigma do milênio, eles provocariam o
retorno do deus da escuridão, Zorc. Diante desses aspectos é que a história da última
temporada desta primeira geração se encontra, nos levando novamente ao Shadi e
seu Ankh ajudando Yugi na mente do espírito do Faraó, pois entre inúmeras portas
em sua mente, uma se remetia ao seu nome e a missão de Yugi é encontrar esta
porta e, munido dessa informação, levar para o Faraó.

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O segundo item a ser analisado é o olho de Hórus, ou “o olho que tudo vê”.
Como indicado por Brancaglion Júnior (2004, p. 108), este item, dentre outros, servia
para indicar símbolos de divindades ou sinais sagrados. No anime, o olho de Hórus
aparece entalhado em alguns dos itens do milênio, bem como em algumas cartas
utilizadas no anime e no cardgame.

Imagem 6: Pégasus utilizando o olho do milênio. Print do terceiro episódio da primeira temporada do
anime.

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Imagem 7: amuleto com o olho de Hórus no museu do Louvre.

Na imagem 3 podemos constatar o uso do olho de Hórus no anime, sendo que,


um de seus usos encontra-se com o personagem Maximilian Pégasus, o “criador” dos
monstros de duelo no anime. O olho do milênio utilizado por ele possui o poder de
olhar a mão do adversário e prever seus movimentos durante um duelo, além de
aprisionar as almas das pessoas. Além desse item, o olho de Hórus também é
encontrado em outros itens do milênio, cartas utilizadas no anime e no jogo. O
interessante a destacar é que os detalhes desse olho de Hórus presentes na quarta
imagem são bem descritos no anime.
Por fim, quanto ao terceiro item a ser analisado, o bá e o ká são muito
importantes para os antigos egípcios. Começando pelo bá, que é comparado de forma
errônea, segundo Brancaglion Júnior (2004, p. 05), à alma. Dentre suas inúmeras
funções, uma delas é pesagem do coração diante de Osíris. O ká, de acordo com o
mesmo autor:

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(...) era uma manifestação das energias vitais individuais com a função criadora e
conservadora da vida, era uma força invisível emanada das grandes reservas
energéticas dispersas no universo, que nasce com o homem e acompanha-o
durante a vida e apesar de abandoná-lo no momento da morte, continua a
representar a personalidade do ser com o qual coexistiu: “passar a seu ká”
significa morrer. (2004, p. 04).

Portanto, o ká era como se representasse a essência da vida de determinada


pessoa e a morte significa o fim dessa essência.

Imagem 8: explicação sobre o Bá. Print do quinto episódio da sétima temporada do anime.

Imagem 9: extração de Ká. Print do terceiro episódio da sétima temporada do anime .

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Imagem 10: hieróglifo do Bá.

Imagem 11: hieróglifo do Ká.

Como pôde ser observado nesta sequência de imagens, o bá e o ká são


elementos importantes dentro do anime. O bá, assim como na explicação dada por
Brancaglion, representa a alma da pessoa. No anime, mais especificamente na cena
descrita na imagem, o personagem Mahado (protetor do faraó e portador de um dos
itens do milênio) duelou contra Bakura, como resultado, perdeu parte de seu ká e
também de seu bá, recorrendo à fusão dos dois e dando origem à carta ou, no caso
do antigo Egito, à estela do Mago Negro que jurou proteger eternamente a vida do
faraó.
Já o ká no anime representa o poder que essa pessoa guarda dentro de si,
quanto maior for, mais forte. Como observado na imagem anterior, há todo um
processo de extração desse ká utilizando os itens do milênio. Ao ser extraído, o ká é
redirecionado para uma estela em que lá ficará preso para que, quando necessário,
os defensores do faraó o utilizem como se fosse os monstros de duelo utilizados no
anime, por isso, a origem dos monstros de duelo remonta ao Antigo Egito.
Esses hieróglifos do bá e do ká aparecem em algumas inscrições presentes no
anime, no entanto, o foco recai nos aspectos destacados acima.
Por fim, vale ressaltar que esta pesquisa ainda está em andamento, portanto,
a análise de sentido desses e de demais itens a serem levantados, ainda será feita.

CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
Como pôde ser observado no decorrer deste trabalho, o antigo Egito está
presente em diversas áreas, dentre elas, os animes. Esse interesse pelo que é antigo,
voltado para o Egito antigo, é chamado de egiptomania (HECKO, 2016). E essa
egiptomania possui relação com os usos do passado, pois ela se apropria de

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determinados itens como os aqui mencionados, e os utiliza em filmes, HQs, desenhos
animados, animes e até mesmo construções ou lápides de cemitérios atuais.
Essa apropriação e ressignificação, para Hecko, faz parte do nosso cotidiano,
visto que há um reconhecimento do passado como diferente, presente e necessário
na vida prática (HECKO, 2016, p. 59).
Tendo isso em vista, é importante a compreensão da relação entre passado e
presente para que o professor, ao chegar em uma sala de aula, busque incentivar
seus alunos, procurando trazer os conteúdos de uma forma com que utilize a
consciência história desse aluno a fim de, com isso, ter um melhor aproveitamento
das aulas.
Essa compreensão não é importante somente para o ensino, mas socialmente,
pois, nas diversas gerações desse anime, outras mitologias e itens que remetem à
História também estiveram presentes, como as linhas de Nazca e a mitologia nórdica
na terceira geração, cartas com nomes de importantes pensadores como Galileu,
presentes na quinta geração. Com isso, é possível tentar compreender o que está em
alta naquela sociedade, no caso, no Japão, ou o que o criador do anime quis passar
com essas cartas e histórias.
Por fim, para a continuação da pesquisa, pretendemos levantar mais
informações, desta vez sobre as cartas utilizadas no anime e no jogo, que apresentam
traços do antigo Egito, bem como continuar à procura de maiores referenciais sobre
os animes e seus usos na História. Serão realizadas mais leituras, desta vez focando
na análise de imagens, vídeos e movimentos dos personagens dentro dos animes,
bem como referenciais voltados para o estudo do Antigo Egito.

REFERÊNCIAS
AROSTEGUI, Júlio. O processo metodológico e a documentação histórica. In: A
pesquisa histórica: teoria e método, Bauru, SP: Edusc, 2006.

BRANCAGLION JÚNIOR, Antonio. Manual de Arte e Arqueologia do Egito Antigo II.


Rio de Janeiro: Sociedade dos Amigos do Museu Nacional, 2004.

DOBERSTEIN, Arnoldo Walter. O Egito Antigo. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010.

FARIA, Mônica Lima de. História e Narrativa das Animações Nipônicas: Algumas
Características dos Animês, 2007.

HECKO, Leandro. O conhecimento sobre o passado e os usos do passado IN: A


egiptomania e os usos do passado. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2016.

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SOUSA, Jefferson Saylon Lima de; FERREIRA, Rosinete de Jesus Silva. O Animê no
Brasil e a formação da tribo social dos Otaku. Simpósio Internacional Interdisciplinar
em Cultura e Sociedade do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade
PGCult/UFMA (10.:2017: São Luís, MA). In: Anais [recurso eletrônico] do II Simpósio
Internacional Interdisciplinar em Cultura e Sociedade do PGCult/UFMA/.
BOTTENTUIT JÚNIOR, João Batista; FAÇANHA, Luciano da Silva (Organizadores).
São Luís: EDUFMA, 2018.

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