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O Mito da Eficiência

Em 1865, o economista britânico William Jevons descreveu em seu livro “O Problema do Carvão”
aquilo a que mais tarde veio chamar-se de “Paradoxo de Jevons“. Ao observar que as recém-introduzidas
máquinas a vapor desenvolvidas por James Watt, muito mais eficientes em termos de produtividade que as
antecessoras, fizeram aínda assim aumentar a quantidade total de carvão consumido no país, Jevons
escreveu: “É um completo engano supôr que um uso mais eficiente dos combustíveis implicará numa
redução do seu consumo. A verdade é precisamente o oposto” (O Problema do Carvão, 1866, p 123).
E, exemplificando com a indústria do aço, afirmava: “Se a quantidade de carvão usada em um alto-
forno for reduzida, em termos da produção, os lucros da atividade crescerão, novo capital será atraído, o
preço do ferro-gusa irá cair mas a demanda aumentará. E no final o maior número de altos-fornos anulará
as economias no consumo conseguidas por cada unidade individual” (O Problema do Carvão, 1866, p 124-
125). Jevons designou este efeito por “repique” (rebound).
Ou seja, à medida que o progresso tecnológico consegue aumentar a eficiência com que um recurso é
usado, o seu consumo total pode aumentar em vez de diminuir.
É precisamente este o tema central de um livro (The Myth of Resource Efficiency , de J. Polimeni, K.
Mayumi, M. Giampietro e B. Alcott, 2009) que recupera as teses de Jevons e as transfere da Inglaterra do
Sec XIX e a sua escassez de carvão para o mundo do Sec XXI e a suas incertezas sobre o futuro das fontes
de energia.
Os autores demonstram as sérias implicações que este paradoxo representa para o futuro energético
dos países em desenvolvimento. Ele sugere que a eficiência, a conservação e os melhoramentos
tecnológicos, precisamente as principais bandeiras daqueles que se dedicam à pesquisa de soluções para o
fornecimento de energia no futuro, podem, na verdade, contribuir para uma piora do cenário. O livro lança
sérias dúvidas sobre a ideia de que a eficiência energética conduz necessariamente a níveis menores de
consumo e declara mesmo que é muito simplista a afirmação de que a sustentabilidade resulta como uma
consequência passiva de se consumir menos. Isto porque o que se tem observado nos últimos anos é a
confirmação prática do paradoxo em diversos setores. Senão vejamos: apesar da redução de consumo de
gasolina nos modelos de automóveis lançados a partir dos anos 70 com o choque petrolífero, o consumo
global do combustível não parou de aumentar. O consumidor, ao possuir um carro que consome menos,
acaba rodando mais com ele. O aumento da eficiência energética das geladeiras fez com que a procura por
modelos maiores aumentasse e hoje é comum encontrar mais que uma unidade por casa.
Um dos capítulos da obra é um estudo técnico que procura verificar se os efeitos do Paradoxo são
verificáveis nas economias de vários países ao longo dos últimos anos. Um dos países analisados é o Brasil e
o que se procura saber é se o ritmo de crescimento da economias e pode manter apenas com a expectativa de
aumento na eficiência do uso da energia ou se um colapso será inevitável.
Uma das soluções apontada para o problema é o aumento dos impostos que incidem sobre as
diferentes formas de energia, o que forçaria uma maior conscientização no seu uso. Porém, e embora não
seja esse o foco do livro, que aborda apenas o “mito da eficiência”, uma mudança na matriz energética
poderia atenuar muito os efeitos do Paradoxo de Jevons, senão eliminá-lo por completo. De fato, a opção por
energia solar, virtualmente inesgotável, tornaria irrelevante economicamente qualquer variação no seu
padrão de uso, já que, por enquanto, os raios solares ainda não são uma commodity.

http://ecohabitararquitetura.com.br/blog/tag/paradoxo-de-jevons/

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