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Opção metodológica III: CAPÍTULO 6 • ESTÁGIO SUPERVISIONADO VII

a imagem e a fotografia
como registro

Introdução
Muito tem sido dito sobre a fotografia. Falas que defendem que ela vale mais
do que mil palavras. Se isso for verdade, a fotografia, ou melhor, dizendo, a
imagem estampada na película tem muito a nos dizer sobre uma dada situação
e sobre a educação.
De fato, uma fotografia pode ser usada como uma metodologia auxiliar
na pesquisa. Junto com um referencial teórico freireano, as metodologias de
pesquisa-ação e multirreferencial, a fotografia pode agregar mais valor ao nosso
olhar educativo. Vejamos como.
Para que a compreensão do conteúdo deste capítulo seja satisfatória, é
importante a leitura do texto de Elisabeth P. Oliveira Transler o ambiente
escolar: a fotografia na visão de crianças da educação infantil, disponível no
sítio <http://www.ufpel.tche.br/cic/2009/cd/pdf/CH/CH_01214.pdf>. Nesse
texto, Oliveira demonstra como é possível utilizar a fotografia como ferramenta
de pesquisa e aprendizado em uma aplicação prática na educação.
Esperamos que, ao final deste capítulo, você seja capaz de compreender
a utilização da fotografia como uma metodologia de pesquisa e auxilio na
construção de uma visão pedagógica.

6.1 Imagens e fotografias: o que a educação já sabe


Você já tirou uma fotografia de lembrança escolar? É aquela fotografia
em que você fica sentado,
com a bandeira do Brasil ao
fundo, como um “bom aluno”?
Praticamente todos já pas-
samos por essa situação.
O que essa “lembrança”
diz? O que ela resgata?
Observe que diversos ele-
mentos são visualizados e
interpretados por quem obser-
va. A forma como o ambiente
é construído, com elementos
presentes no universo escolar,

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nos diz muito sobre o que se desejou transmitir sobre a época, sobre os costumes
e as perspectivas.
É como Oliveira (2007, p. 211) destaca
As imagens visuais não têm o mesmo estatuto do texto escrito,
mas é necessário observá-las como um diferente, como um inter-
locutor privilegiado do texto escrito, compartilhado no texto
cultural, com suas especificidades materiais e formais e história
própria. Muitas pesquisas na área da História têm avançado
nesse campo, elaborando o que poderíamos chamar de uma
história da visualidade.

De fato, o “estatuto” do texto visual é diferente do texto escrito.


Dificilmente podemos descrever em detalhes o que é discernível a alguém
por meio de uma fotografia. Mas ela, assim como o texto escrito, é o reflexo
de um olhar, de um tempo, que partilha cultura, que partilha especificidades
de uma história própria.

Saiba mais

Você sabia que as cores tem uma informação sobre a pessoa? Quando al-
guém utiliza certa roupa com um determinado tipo de cor, ele está transmi-
tindo informação, desejos, ansiedades. Quando desenvolver sua pesquisa
de campo no estágio, atente para isso. Poderá encontrar outras informa-
ções importantes no livro de Luciano Guimarães, intitulado A cor como
informação: a construção biofísica, linguística e cultural da simbologia das
cores, publicado pela editora Anna Blume, em 2000.

Você, professor em formação, em seu momento de estágio supervisionado,


poderá utilizar a foto para agregar informações. Você não deverá confiar demais
no que vê momentaneamente, mas deverá preservar algo mais duradouro e que
possa retomar quando achar conveniente. A foto registra nuances e detalhes que
escaparam no momento observado e podem ser analisados mais detidamente
conforme a necessidade.
Konsoy citado por Batista (2003, p. 3) destaca que
<>UPEBFRVBMRVFSJNBHFNGPUPHSÈmDBDPOUÏNFNTJ PDVMUBF
internamente, uma história: é a sua realidade interior, abrangente
e complexa, invisível fotograficamente e inacessível fisicamente.
<>DPOTUSVÓEB DPEJmDBEB TFEVUPSBFNTVBNPOUBHFN FNTVB
estética, de forma alguma ingênua, inocente, mas que é, todavia,
o elo material do tempo e espaço representados, pista decisiva
para desvendarmos o passado.

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Como entender o que está oculto? De fato, como profissionais da


educação, a interação com nossos alunos, ao longo de dias e meses, nos
permite conhecer mais do que aparentemente vemos. Passamos a conhecê-los
em seus pensamentos e escritas. Daí, uma imagem pode dizer muito sobre
nosso(s) aluno(s), quando temos elementos comparativos. E mais: a imagem/
fotografia, quando utilizada para registrar atos educativos, pode mostrar mais
do que vemos em sala de aula.
Vamos exercitar esse olhar? Observe a fotografia a seguir.

Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content


&view=article&id=14154:escolas-binacionais-atenderao-alunos-brasileiros-e-
uruguaios&catid=209>. Acesso em: 10 maio 2010.

O que essa imagem nos diz? Pense em você estagiando nessa sala e olhando
para esses alunos que aparecem na fotografia. Perceba os detalhes da foto, os
modos de se sentar, arrumar-se e manter-se em sala de aula e o que cada um
deles transmite a você. Perceba detalhes do ambiente escolar. O que você não
vê nessa foto? Como ela se encaixa no espaço educativo? Essas são algumas
questões que você poderá utilizar para fazer a imagem “falar”.
Vamos tentar responder às questões? Bem, olhando a fotografia, diríamos
que esses jovens estão em um espaço educativo formal, ou seja, uma escola. Por
que dizemos isso? Pela disposição das cadeiras na classe de aula, um atrás do
outro. Como eles se portam? Basicamente como todo aluno que está “copiando”
matéria do quadro, em silêncio, ou silenciado, dependendo do contexto de
observação. E o que dizer da disciplina nessa escola, o que a fotografia lhe
transmite? Se você disse que a forma de disciplina da escola parece ser mais
branda, acertou, já que temos os jovens trajando roupas das mais variadas
e, até o uso presença de um boné por um deles, mas o que não vemos nessa

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fotografia? Não vemos a parede pichada. O que isso lhe diz? Isso pode denotar
a presença de uma gestão cuidadosa com o espaço coletivo e, que, por ser
atuante, consegue ter a comunidade como aliada na preservação da escola.
Esses detalhes que emanam da fotografia permitem que você, pesquisador
do ato educativo, perceba detalhes que não seriam percebidos de outro modo.
Esses “novos” dados permitem uma análise mais ampla do fato educativo
observado. É claro que, com o auxílio de anotações e observações realizadas,
essa análise deverá ser mais profunda, com aplicações de teorias pedagógicas
ao que é visto.

Reflita

Agora é a sua vez! Vamos observar, novamente, outra fotografia.

Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_c


ontent&view=article&id=14343:custo-do-transporte-escolar-rural-
comeca-a-ser-definido&catid=222>. Acesso em: 10 maio 2010.

Em qual lugar você acha que essa fotografia foi tirada? Será que foi em
uma escola? Se for, era da zona urbana ou rural? O que ela tem a lhe di-
zer? Que detalhes não estão explícitos e podem dar a você uma percepção
mais aprofundada? O que é relevante nessa foto?

Batista (2003, p. 6) destaca que


O autor da fotografia, pois, mostra-se por meio de seus registros
fotográficos. Produz registros repletos de intenções que podem
ser estéticas, políticas ou epistemológicas, que poderão expressar
beleza, serem politicamente engajadas ou que tragam conheci-
mentos. Mas, seja qual for a intenção do fotógrafo, é importante
lembrar que ela acontece em toda a densidade cultural que cons-
titui o seu produtor. (grifos meus)

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Observe o que o autor destacou: “mostra-se por meio de seus registros” e


“registros repletos de intenções”. Essas são questões importantes. Quando você,
em sua inserção prática no estágio supervisionado, com um referencial teórico bem
definido e com uma metodologia clara (pesquisa-ação e multirreferencialidade),
direcionar seu olhar para a realização de algum registro fotográfico, estará
mostrando-se ao mundo. Você estará demonstrando quais são as suas intenções
e seu repertório teórico.
Já que falamos tanto em fotografia, como a utilizaremos como metodologia em
nosso trabalho? Esse é outro aspecto que consideraremos no próximo tópico.

6.2 Utilizando a fotografia e a imagem como metodologia


Vimos a importância de uma fotografia e precisamos refletir sobre como
devemos utilizá-la em nosso trabalho de pesquisa do ato pedagógico, no
momento do estágio. Para utilizar a fotografia, basta uma máquina na mão? É
claro que não! É preciso intencionalidade, que se refletirá na forma como você
produzirá as imagens e o poder impactante que ela terá ou não.
O cuidado com a fotografia também é importante, principalmente nos seus
aspectos técnicos, como enquadramento, profundidade e qualidade da imagem.
Um pouco de treino com o equipamento e tudo ficará mais fácil.
Lembre-se de que a fotografia é um importante instrumento, mas quando ela
é associada a outros métodos, tais como uma entrevista ou uma observação, seu
potencial é ampliado. Guran (2002, p. 104) expõe que
As entrevistas feitas com fotografias permitem, por exemplo, que
aspectos apenas percebidos ou intuídos pelo pesquisador sejam
vistos – e se transformem em dados – por intermédio dos comen-
tários do informante sobre a imagem.

Ao utilizar fotos, é necessário adotar cuidados de datação, localização e


registro de quem está na foto. Isso não é preciosismo, mas necessidade de quem
utiliza a fotografia para uma fotoetnografia.
Vergara (2006, p. 93), ao traçar as características principais do uso da
fotografia como elemento etnográfico/metodológico, afirma que
A descrição de determinadas situações por meio de imagens
é considerada mais profunda do que por meio de palavras.
Imagens podem provocar lembranças e reflexões que acabariam
se perdendo. Tal como o texto escrito, a fotoetnografia demanda
um encadeamento. Caso contrário, corre-se o risco de apresentar
apenas uma série de fotografias desconectadas, que não refletem
o objetivo da pesquisa.

Esses cuidados são essenciais no processo de utilização da fotografia, mas


que percurso deverá ser seguido? Recorremos a Vergara (2006, p. 94-95) que
indica alguns caminhos.

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t Definem-se o tema e o problema de pesquisa.


t Procede-se a uma revisão da literatura pertinente ao problema
de investigação e escolhe(m)-se a(s) orientação(ões) teórica(s)
que dará(ão) suporte ao estudo.
t Levantam-se os primeiros dados referentes à investigação, o
que pode ser feito conversando com outros pesquisadores,
com pessoas ligadas ao tema da pesquisa, em consultas a
fontes diversas, como a mídia, entre outras.
t Negocia-se a entrada no ambiente a ser pesquisado.
t Inicia-se o trabalho de campo, com os primeiros contatos com
o grupo.
t Definem-se o equipamento fotográfico e os acessórios a serem
utilizados em campo.
t Coletam-se dados por meio de observação simples e participante.
t Registram-se dados do contexto sob investigação, por meio
de fotografia.
t Registram-se notas referentes à observação do pesquisador e aos
depoimentos do grupo investigado, em um diário de campo.
t Analisam-se os dados.
t Organiza-se o texto fotoetnográfico.
t Utilizam-se trechos do diário de campo ou comentários do
pesquisador para contextualizar a leitura das imagens.
t Resgata-se o problema que suscitou a investigação.
t Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que
deu(ram) suporte à investigação.
t Formula-se a conclusão.
t Elabora-se o relatório de pesquisa.

Esse percurso descrito por Vergara (2006) exige que o pesquisador adote
uma atitude de “imersão” permanente no ambiente, regado a um “estranhamento”
com o espaço à sua volta e envolto em constantes “questionamentos” sobre a
realidade que se apresenta.

Saiba mais

Como utilizar a fotografia de forma criativa? Essa é uma questão importan-


te. Para saber mais, leia o texto Informação, arte e fotografia, disponível
no sítio <http://blogdogipo.blogspot.com/2009/08/informacao-arte-e-
fotografia.html>. Lá, discutem-se outros olhares presentes no Dicionário de
Fotografia que podem lhe ser úteis durante a pesquisa de campo.

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Observe que essa metodologia se encaixa muito bem com as que vimos
anteriormente, pesquisa-ação e multirreferencialidade. Ela complementa o
“olhar” que você, acadêmico de Pedagogia em processo de conclusão de
estágio, deverá exercitar.
Mas lembre-se de que algumas situações, se não forem registradas assim que
ocorrem, podem perder-se, já que é improvável que sejam repetidas (VERGARA,
2006). Dessa forma, a atenção é essencial no processo de captação de uma
determinada realidade.
Você viu, neste capítulo, que a fotografia poderá ser utilizada como um
importante instrumento de conhecimento da realidade escolar, pois, por meio
dela, observamos diversos elementos na forma em que se constrói o ambiente,
transmite informações sobre a época, os costumes e as perspectivas.
Agora que já temos a nossa opção teórica definida, as nossas opções
metodológicas mais claras, vamos colocar os nossos conhecimentos em prática.
É hora de iniciarmos nossa primeira inserção prática no campo de estágio.
Lembre-se de que a nossa inserção será em uma realidade não formal.

Referências
BATISTA, L. J. C. Fotografia: instrumento de pesquisa em educação. In: I Jornada
Latino-Americana e II Colóquio Brasileiro da AFIRSE – Association Francophone
Internationale de Recherche Scientifique en Education. Anais... Brasília: 4-7 set.
2003, p. 1-15.
GURAN, M. Linguagem fotográfica e informação. Rio de Janeiro: Gama filho,
2002.
OLIVEIRA, M. C. M. Sobre as (im)possibilidades da fotografia como fonte
primária em História da Educação. In: PÔRTO JR., Gilson (Org.). História do
tempo presente. Bauru: Edusc, 2007.
VERGARA, S. C. Métodos de pesquisa em administração. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2006.

Anotações

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