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Projeto Integrador Instrumentação II

Profa. Ms. Denise Tangerino

Arquivo PDF provisório (a versão original do e-book interativo


está em processo de revisão, atualização e finalização).
Unidade 1
Alfabetismo visual
Objetivos da Unidade: Seções
• Compreender quais são as estruturas básicas 1. Introdução ao alfabetismo visual
que formam a gramática visual para aplicá-
las em projetos gráficos. 2. Alfabetismo visual: o ponto
• Entender e utilizar a relação entre elementos 3. Alfabetismo visual: a linha
gráficos com a intenção de criar mensagens
visuais coerentes e compreensíveis para o 4. Alfabetismo visual: as formas
público-alvo. 5. Alfabetismo visual: considerações finais
• Utilizar as linguagens visuais diversas para
constituir um trabalho pessoal consistente
com o seu desejo profissional.
• Conhecer artistas visuais que uniram as
linguagens verbal e visual na construção de
seus trabalhos e projetos.
• Construir trabalhos visuais consistentes para
serem utilizados em portfólios profissionais.
Pois bem, ao entrar na faculdade de Design Gráfico, logo nas
primeiras semanas comecei a notar que vários dos meus amigos
Antes de começar a falar exatamente sobre Alfabetismo
haviam sido criados e estimulados a serem criativos e tiveram
Visual, que é o tema que realmente nos importa, gostaria
ambientes que os ajudaram a desenvolver suas linguagens
de contar uma história da minha relação com o universo
poéticas. Óbvio que nem todos eram artistas gráficos brilhantes,
visual, afinal gosto muito de contar relatos de vida, como
mas a maioria tinha alguma relação mais próxima ou com a
você já percebeu. Eu sempre estudei em escolas muito
música, ou com a escrita, ou com o desenho, ou com a
tradicionais, onde as artes nunca foram o centro da
fotografia, enfim, tiveram a oportunidade da descoberta
minha formação. Nas salas de aula durante toda a minha
pessoal. Apesar do déficit de conteúdos ao longo do curso,
vida, sentia que eu estava sendo preparada para exercer
todos nós estudantes crescemos muito e pudemos trocar
inúmeras profissões que me proveriam uma boa
nossos conhecimentos, trilhar novos rumos e inclusive
realização monetária, mas não via que era uma
descobrirmos novas habilidades. Eu saí de lá sabendo tantas
preocupação minha formação de maneira total, olhando
coisas bacanas e entendendo que o caminho para a
para os aspectos estéticos e sensíveis como algo
alfabetização visual pode ser construído em qualquer fase da
importante para o meu crescimento.
vida, basta o desejo pessoal de querer aprender mais sobre a
área e aplicar em projetos.
Por que falo isso? Nos últimos dez anos em sala de aula, agora como docente, vejo que muitos alunos têm um profundo medo
de errar, uma insegurança de não conseguir. Isso faz com que deixem de experimentar materiais, linguagens e possibilidades. O
medo de voar atrofia as asas e as dificuldades de ouvir feedbacks criam pessoas atrofiadas em suas habilidades. Não há nada
mais desestimulante do que viver com menos do que 100% de nossas competências em uso.

Nosso Projeto Integrador vai nos guiar, caso você se permita, por três processos simultâneos:

Abrir diálogos com os alunos e


Oferecer espaço e estímulos
o com o tutor para receber
Dar as ferramentas gráficas necessários para que você se
retornos e ideias para o
necessárias para que você desenvolva em áreas que
crescimento de sua linguagem
encontre o seu caminho escolher, sem que seja
visual. Nesta disciplina, o foco
individual de criação visual. “obrigado” a ficar em um
é você, seus processos e seus
único modelo de criação.
resultados.

Então, vamos juntos?


Seção 1
Alfabetismo visual
Pare um minuto, respire e se pergunte: Qual a menor partícula possível na Linguagem Visual?

De tudo o que você já viu em seu universo, qual foi a menor coisa? Um grão de areia? Um pixel? Uma cabeça de
alfinete? Lembra-se das famigeradas aulas de química e as cadeias de carbono da adolescência? E das aulas de
Biologia, onde falávamos das partes das células, como os ribossomos, as citoplasmas e as mitocôndrias? Tudo era tão
distante da minha realidade, pois eu não conseguia imaginar nenhuma dessas nanoestruturas inseridas na minha
vida. Tipo, nunca eu tinha visto uma cadeia de carbono no dia a dia e nem uma molécula formando uma estrutura de
DNA. Sinceramente, a única coisa que me fazia algum sentido era que cada coisa, por menor que seja, é formada por
partes ainda menores.
Caminhando mais por esse túnel do tempo, voltei para Se olharmos com calma para a Língua Portuguesa, o que
a minha sala de aula do Ensino Médio e consegui ouvir também poderia ser aplicado a qualquer idioma,
vagamente a professora de Literatura falar sobre a propomos que ela possa ser vista por muitos ângulos, mas
“parte pelo todo”, que parece ser uma lógica presente três deles nos interessam bastante:
em muitas, ou quase todas as frentes do
conhecimento humano. Partimos do grande até chegar
no menor possível, ou da menor parte até formar o a) a Cultura, como ela é usada nas relações entre as
todo completo. Em Língua Portuguesa chamamos esta pessoas que pertencem ao mesmo universo;
figura de linguagem de metonímia. Você se lembra b) como sua Gramática é constituída de maneira a dar
disso? Faz todo o sentido, não? Olha que incrível, um sentido formal a esta troca de informações entre
Exatas, Biológicas e Humanas podem participar de seres humanos;
pensamentos metodológicos parecidos em sua c) o significado das palavras e de onde elas vêm, como
construção. foram constituídas, que chamamos de Linguística.
Nossos estímulos culturais vão interferir na maneira com que a Gramática é formada e como
ela acaba se transformando ao longo dos anos, entre grupos diferentes, e ao mesmo tempo,
num processo de dupla alimentação, ela muda as relações culturais. Afinal, as palavras vão
dar inputs e outputs nas relações.
Dica de Leitura
Se você também acha esse assunto fascinante, recomendo esta
entrevista com o linguista Paul Henry:

“O discurso não funciona de modo isolado’”


De forma bem sintética e focada em nossa disciplina, podemos compreender a relação entre cultura,
Gramática e palavras, por meio da genealogia da palavra “greve” e sua evolução ao longo do tempo.

Egito (2500 a.C.)

Paris (Séc. XVII)

Paris (Séc. XIX)

França (1884)

Atualmente
Egito (2500 a.C.) A primeira referência do termo não tinha
nenhuma ligação com as questões salariais. No
entanto, registros históricos confirmam que no
Egito, cerca de 2.500 anos antes de Cristo, os
trabalhadores que construíam a pirâmide de
Paris (Séc. XIX) Khéops já se revoltavam e paravam de trabalhar
quando não estavam contentes. Na época, os
operários cruzaram os braços por várias razões,
não necessariamente salariais. Certa vez, a
paralisação foi provocada porque os patrões
diminuíram – e depois suprimiram totalmente –
o alho que era colocado no almoço das equipes.
Paris (Séc. XVII)
Homens desempregados se reuniam para procurar
ocupação em uma praça pública cujo piso era
formado por grava, um tipo de areia. Isso mostra
que a greve não foi inventada pelos franceses.
Mesmo assim, a expressão “fazer greve” nasceu em
Paris. O termo vem do nome de uma praça (place de
la Grève) nas margens do rio Sena. O local foi
batizado assim por causa de um tipo de areia grossa,
chamada “grava”, presente na região. No século XVII,
era nessa praça que os homens desempregados se
Fig. 1 – Place de la Grève em gravura reuniam em busca de trabalho e “fazer greve”
de Matthaus Merian (1645) significava procurar emprego.
Paris (Séc. XIX)
O mesmo lugar anteriormente ocupado
por desempregados, agora é ocupada por
profissionais que não aceitam as condições
trabalhistas. Mas no século XIX, essa
mesma praça começou também a atrair
pessoas que protestavam contra as más
condições de trabalho e se tornou, de uma
certa forma, símbolo das reivindicações
trabalhistas.
Fig. 2 – Place de la Grève (1756)
França (1884)

Somente em 1884 a greve virou uma


reinvindicação legal. A tradição de mobilizações se
perpetuou, mesmo se os franceses tiveram que
esperar para que a prática fosse realmente
autorizada. Os sindicatos só foram legalizados em
1884 e a greve, considerada um crime até 1864, só
se tornou um direito inscrito na Constituição em
1946.
Atualmente
O que é greve? E grava? Hoje, ao pensarmos nas
greves, independente de sermos a favor ou não das
reinvindicações, com certeza vêm à nossa mente
ideologias, a preocupação com o trânsito, entre outras
coisas, mas duvido que algum de vocês pensa: nossa
será que a grava vai estar molhada? Será que os
trabalhadores se reunirão naquela praça cheia de
grava? Consegue perceber que o termo mudou
culturalmente e que sua aplicação foi se
transformando ao longo dos anos?
Mas o que isso tem a ver com alfabetismo
visual? Para você compreender esse conceito,
antes preciso que você entenda que toda
linguagem muda ao longo dos anos, como
consequência das relações culturais. As
palavras, por exemplo, não são soltas no
universo, mas possuem significantes que vão ter
significados diferentes dependendo de como e
onde são aplicadas.

Fig. 3 – Tirinha de Silva Zuão que subverte o


significado das palavras segundo o contexto.
Veja, a gramática verbal é formada por pequenas
É esse aprendizado, essa atribuição de significado a partir
estruturas, como verbos, pronomes e preposições. Cada
de nossas influências, nosso contexto, que chamamos de
uma delas tem seu valor na montagem das frases, que por
alfabetismo visual.
sua vez formam os parágrafos, que vão dando forma aos
textos. E os textos já constituídos formam ideias, que
Segundo Dondis (1997), enquanto a gramática verbal
influenciam pessoas e influenciam reflexões.
segue uma lógica racional com algumas exceções, a visual
Analogamente, o pensamento visual é construído por
tem muito mais subjetividades e abstrações. A linha
pontos, linhas, formas e planos que, ao serem combinados,
racional é bem tênue, mas o importante é saber que existe
vão ganhando novos contornos, educando pessoas,
a forma (como representamos algo) para o conteúdo (o
fazendo pensar, transformando seus significados. E nós,
que queremos transmitir com ele), e que ambos andam
seres humanos gregários, vamos aos poucos, desde nossas
juntos na construção de uma mensagem a ser interpretada
infâncias, aprendendo a ler cada uma dessas informações
pelo nosso interlocutor.
para atribuirmos sentidos.
Seção 2
Alfabetismo visual: o ponto
Segundo Donis A. Dondis (1997), a base para toda construção gráfica é a
menor partícula possível na linguagem visual — o ponto. Por meio dele, os
demais elementos são criados, como as linhas, as formas e os planos. E, sem
dúvida, sua disposição em layouts nos ajuda a representar as luzes e sombras
e as diversas texturas que percebemos ao nosso redor. Ele é o menor
elemento, mas que formará todos demais que conseguimos imaginar. São as
pequenas partes que formam o grande todo, tomando emprestada a ideia de
metonímia da literatura.
Dica de Leitura

Confira o capítulo ! <https://www.tecmundo.com.br/google/62876-


google-saude-gigante-adquire-criadora-talher-parkinson.htm>
No desenho geométrico, o ponto é formado pela intersecção de duas retas, que seria o centro de interesse ou da
composição (VAZ e SILVA, 2006). Já nas artes gráficas, vemos o ponto como um sinal, que é conceitual, mas quando
se torna visível, ganha corpo, passam a ser considerados formas, pois ganham materialidade (WONG, 2001). E este
corpo em pequena dimensão ocupa um espaço em relação à moldura, exercendo assim uma relatividade entre o
fundo (moldura) e a figura (ponto).

Fig. 4: O ponto sobre o plano 1 parece maior do que sobre o plano 2. A relatividade entre a percepção
visual do ponto nos planos se dá pela relação entre figura e fundo.
Também podemos pensá-lo em sua relação com outros
pontos. Dependendo de sua aplicação em determinados
espaços visuais, um conjunto de pontos pode
representar diferentes elementos. Quanto mais pontos
em um determinado espaço, ou plano, a sensação de
ocupação é maior, e de maneira contrária, quanto
menor o número de pontos em um lugar a percepção da
dispersão é acentuada.

Esta máxima nos ajuda a compreender a representação


de luz e sombra nos desenhos, como quando aplicamos
hachuras ou pontilhismo. Veja a imagem de Will
Barcelos usada como exemplo. Nas partes mais escuras,
como o shorts e a sola dos pés, a quantidade de pontos
concentrados é muito maior do que nas áreas claras,
como o peito.

Fig. 5: Pontilhismo de Will Barcellos.


A lógica do tamanho dos pontos, da proximidade e dispersão entre eles, também é
usada no design gráfico, especialmente em processos que utilizam matrizes
diversas em sua composição, como no offset. Que nada mais é do que um sistema
que se utiliza de pontos de tamanhos e cores diferentes para formar as imagens.
Estas cores estão no sistema tonal que chamamos de CMYK (Cian, Magenta,
Amarelo e Preto), que são a base para a composição de todas as demais cores,
todas mesmo, que vemos impressas. Veja como elas trabalham no mundo das
artes gráficas:
Dica de Leitura

Quer conhecer a técnica de offset? Leia


este artigo bem completo!
https://medium.com/chocoladesign/o-
que-%C3%A9-uma-impress%C3%A3o-
offset-54899578d998
Fig. 6: Nesta imagem temos o CMYK dividido por matrizes individuais em seus ângulos de impressão. A sobreposição
deles forma as cores e as imagens finais.
Fig. 6: Nesta imagem conseguimos ver que o tamanho dos pontos utilizados para a impressão vai dando a sensação de claro
ou escuro, tão importante nas representações gráficas. Veja que quanto maior a quantidade de pontos em um mesmo
espaço mais escura fica a imagem, de maneira contrária, quanto menos a quantidade mais próximo do branco se aproxima.
O interessante é que, neste caso, os pontos vão determinar um valor tonal, se é mais claro ou
escuro em relação aos demais elementos inseridos em uma moldura. Por mais estranho que
pareça, enxergamos o mundo e as imagens que nos envolvem por meio de planos, que
falaremos mais para frente. Contudo, temos que saber que cada ponto, ou elemento, colocado
em uma determinada moldura está em relação aos demais inseridos no mesmo espaço, e que a
mensagem visual vem desta relação. Tamanhos, formas, cores e texturas vão marcar esta
relação, fazendo com que tenhamos a sensação de proximidade, dispersão e movimento.
Você já percebeu que meu desejo é oferecer referências visuais Yayoi Kusama é uma artista visual cujo trabalho todos
para ajudá-lo a conhecer técnicas e materiais diferentes para o devem conhecer, pois além de ter uma carreira longeva,
momento em que precisar criar. Quanto mais repertório, maior a ela continua, com seus 90 anos, produzindo trabalhos
facilidade de criação, pois com o arquivo cheio de informações, muito consistentes sempre tendo como base o uso de
maior a possibilidade de fazermos conexões entre imagens, sons formas circulares.
e textos.
Veja como ela trabalha a dimensão das formas, o uso das cores, a relação entre o fundo e a aplicação
em contextos diferentes. Observe a relação entre os círculos, afinal sua aplicação só faz sentido se
estão juntos no mesmo espaço. Perceba que círculos maiores e menores ocupam o mesmo lugar,
trazendo movimento à cena e constituindo uma textura.
Os pontos também possuem esta característica de trazer texturas às superfícies.
Quando penso em “textura”, vem na hora a ideia de sensação tátil, de algo que
posso tocar. Contudo, em alfabetismo visual, pensamos nas texturas que servem
para serem vistas, que nos dão a sensação do tátil com os olhos. Quase uma
mudança de sentidos. Pense que texturas têm um aspecto tridimensional:
ranhuras que, ao serem demonstradas no bidimensional, acabam operando com
sombras e iluminação.
A maneira como os pontos são distribuídos nesta imagem
pode nos passar a sensação de uma direção na qual nossos
olhares vão seguir, formando um mapa, que nesse caso nos
conduz para o centro da composição. Este é um bom exemplo
de como nossos olhares são “enganados” por imagens
inusitadas, trazendo a sensação de movimento, de
dinamismo, de velocidade. Artistas e designers bons são
aqueles que sabem manipular os significados dos elementos
para trazer novas ideias e sensações.
Por último, pensemos que pontos em deslocamento formam linhas, que ao se unirem constituem
formas, que são planos. Disponibilizamos elementos em planos para formar sentidos. Esta é a
grandeza dos pontos, eles são a base de todas as imagens que vemos.
Seção 3
Alfabetismo visual: a linha
O que é uma linha?

Buscar no dicionário o significado de palavras pode ser


um exercício muito interessante, pois embora algumas
respostas possam ser óbvias, outras apontam a caminhos
que podem nos levar a ótimos insights.

O Michaelis nos oferece inúmeras respostas mas elenquei


três que nos guiarão neste momento:
O que é uma linha?

a) Maneira de traçar com lápis, pincel, carvão, bico de


pena, etc.;

b) Intersecção de dois planos;

c) Representação gráfica da extensão de uma só


dimensão e que se pode considerar pelo
deslocamento de um ponto.
A primeira é uma definição completamente artística; a segunda nos traz algo mais ligado à
geometria; enquanto a última nos fala sobre um caminho, um deslocamento. Os três juntos podem
nos ajudar a pensar sobre o que é uma linha e suas diversas possibilidades, contudo gostaria de
pensar na experiência de ser guiada por algo, por um elemento que conduz meu olhar para um
certo lugar. Então, ao invés de trazer um significado verbal.
Você já pensou que os elementos visuais podem possuir
Podemos manipular as linhas. Podemos usá-las como
sentimentos dependendo do modo que os observamos?
quisermos. Podemos fazer qualquer coisa para que
Veja que cada estrutura visual e seus significados são
nossas linhas tenham vida. Elas são personagens,
construídos pelas nossas percepções, que são estruturadas
objetos, cenários ou qualquer outra coisa que nossa
a partir de nossas experiências passadas, sejam elas
mente pode alcançar. Elas são engraçadas e
subjetivas ou coletivas. O incrível é que a maneira que
emocionais, são ríspidas e simpáticas, são o que
trabalhamos com as formas vai conduzir nossos olhares,
queremos que elas sejam e transmitam.
que vão rapidamente acessar nossas memórias e nos jogam
significados que nos trazem emoções, positivas ou não.
Veja como ela trabalha a dimensão das formas, o uso das cores, a relação
entre o fundo e a aplicação em contextos diferentes. Observe a relação
entre os círculos, afinal sua aplicação só faz sentido se estão juntos no
mesmo espaço. Perceba que círculos maiores e menores ocupam o mesmo
lugar, trazendo movimento à cena e constituindo uma textura.
E o mais legal: ela nos dá a noção de direção. Ela conduz o nosso olhar para
a direção que deseja, nos manipulando como uma menina leve, livre e
solta. Se estiver curva, nos remete ao feminino, à leveza, aos sentimentos
bons; já nos momentos quebrados, ela nos aparece como uma pessoa
irritada, sempre quebrando pelos cantos, gritando, talvez; quando está
mista nos lembra a vida, com seus momentos estranhos de alegria,
seguidos das dificuldades, mas sempre retornando às emoções positivas.
Se está aberta, apenas nos deixa ir com o olhar, quando se fechar, vai
depender de sua personalidade, pois será uma forma. E se parássemos de
divagar, nos indagaríamos como usá-la com precisão?
Já pensou que muitos artistas já se sentiram assim, perdidos? Quando paro para pensar
nas coisas que incomodam os artistas, imagino que seja uma variável constante, que
atingiu muitas décadas e gerações e que perpassa os pensamentos de todos.
Vivenciamos as mesmas dores e amores de criar, de utilizar elementos para constituir
uma mensagem.

Pare para refletir como Wassily Kandinsky trabalhou até chegar em suas composições
finais. Foram linhas e formas usadas ao mesmo tempo, umas relacionadas às outras, de
maneira a criar uma composição visual. O resultado final é o mais importante, como
usamos cada uma dessas técnicas para criar um todo — lembre-se da metonímia —, e
não necessariamente cada um dos elementos.
Vamos ser sinceros. Apenas incluímos alguns
elementos aos nossos layouts para dar um gosto
estético visual, não obrigatoriamente para construir
um significado racional. Daí vem a dificuldade de
criar e compor. Mas é importante você sempre ter
em mente que, com muito esforço e exercício,
podemos dominar essa relação significativa dos
elementos de nossas composições. Esse é o segredo
para sempre chegarmos a resultados instigantes!
Agora você deve estar sedento de ir para a
experiência de criar, de pôr a mão na massa e ver
como as linhas se comportam em seus trabalhos.
Mas, antes que você comece a sua própria viagem
pela arte, quero te apresentar a mais uma
referência que julgo interessante: o Tate Museu.
Apesar de trabalhar com linhas, sua distribuição
de elementos constituiu formas que viraram uma
marca tão consistente. Veja, pontos trabalhando
juntos por um significado maior, que viraram
formas e que deram uma identidade a uma
instituição cultural!
Simples e fantástico, como toda criação deve ser. E qual o porquê de mostrar isso neste
momento? Pare e olhe a marca do Brand New, lá em cima no site, um logotipo
completamente montado por linhas. Linhas e mais linhas, que podem formar letras, que se
juntam em famílias tipográficas, que possuem estética, que vão transmitir significados às
palavras. Qual será a tipografia usada na palavra greve? Ou será grava?
Seção 4
Alfabetismo visual: as formas
Wucius Wong (2001), autor muito conhecido por seu trabalho em
linguagem visual, ao dialogar sobre o uso das formas nos trabalhos
gráficos propõe que todos os elementos de uma determinada
composição estão associados, estruturados, a partir de seu
ordenamento. Dessa maneira, considere que cada pequena coisa
inserida em seu layout está subordinada às outras partes que formam
o todo (ops, será que novamente estamos retomando as
metonímias?).

Olha que interessante: na teoria do autor, que corrobora os


pensamentos da italiana Donis A. Dondis (1997), o ponto em
movimento forma uma linha, que por sua vez forma uma forma, e
todos juntos participam do que chamamos de um sistema
construtivo.
Além da construção, para Kandinsky existe a composição. Construção é uma estruturação racional
de elementos, enquanto que a composição pode ser definida de duas maneiras (VAZ e SILVA, 2006):

Subordinação de elementos no desejo de


Subordinação de elementos isolados, de
construção — racional — de um fim pictórico
maneira subjetiva e visando ao desejo
concreto. Logo, constituição de uma imagem
estético, com a finalidade de criar uma
por meio de uma intenção, de um objetivo claro
mensagem.
de transmissão de uma mensagem.
O que isso significa? Basicamente que, além da relação entre os elementos,
também temos que levar em consideração a relação entre os elementos e o
suporte. Ou seja, devemos pensar os suportes como formas que servem para
delimitar a mensagem a um determinado espaço, mesmo que ele seja de grandes
dimensões.
Vamos compreender tudo isso por meio de imagens?

Temos aqui o quadro Moça com brinco de pérola,


pintado por Johannes Vermeer em 1665. O seu
conteúdo expressa de forma poética, principalmente o
olhar, a paixão do pintor pela garota. Neste material
didático, não há exatamente uma moldura, mas o
simples contraste entre o fundo da imagem e o resto do
material já delimitam onde terminam os elementos e
começa o suporte.
Mas o que acontece se quisermos transpor essa
mesma imagem a outro suporte?

Na capa do livro Moça com brinco de pérola (Editora


Bertrand, 2004), há um foco maior na moça, um
tratamento da imagem que a torna mais iluminada e,
para prestar bem atenção, uma mudança na proporção
para adequar-se às dimensões do livro a ser impresso.
Vê como pequenas alterações já conseguem alterar
drasticamente a mensagem de uma imagem? Cada um
desses pequenos passos deve ser calculado para
manipularmos perfeitamente o resultado final.
Observe, agora realmente para “bugar” a mente, o
pôster do filme de 2003 inspirado no quadro. Veja
com atenção os elementos que foram adicionados
e como eles estão aí para explicitar a história do
filme, elementos que já pertenciam ao quadro
original, porém de forma mais subliminal. Suporte
também é contexto!
Finalmente, veja a imagem que a Netflix usou para
anunciar nas redes sociais a inclusão do filme ao seu
catálogo. A quantidade de fundo escuro e dramático
que encontramos, olha a diferença do quadro
original. Percebam os enquadramentos, que nada
mais é que colocar de maneira compositiva os
elementos dentro de uma forma visando uma
mensagem final a ser interpretada pelos receptores e
usuários final. Não estamos tratando de sistemas
vazios de significados, mas de intenções calculadas,
do desejo de transmitir uma mensagem a ser
compartilhada socialmente.
Lembrando que nossas formas, neste instante, já se tornaram
suportes que, na verdade, é o que nos interessa enquanto
designers, produtores e publicitários. Estes suportes podem ser
formados por 4 retas, abertas ou fechadas, de dimensões ou
proporções diferentes. E, apesar de estarmos considerando
tamanhos e formatos díspares, em nosso universo estamos
acostumados com tamanhos fechados, como uma folha sulfite,
um monitor de computador e a tela do cinema. Estamos
inseridos, meu caro, em um mundo bastante estruturado que nos
chama a permanecermos em determinadas estruturas para
construirmos nossas mensagens.
Os planos, aqueles formados pelo fechamento das formas, contêm superfícies,
que de forma geral podem ou não ser texturizadas. As superfícies regulam o
espaço a serem preenchidos, e ainda, o que é muito interessante de ser pensado,
deixam claro a forma e o fundo. A superfície delimita nosso espaço de trabalho,
nosso espaço amostral. São os contornos que mostram onde é o interno e o
externo, e apesar de tantas delimitações, também nos servem de possibilidades de
criação. Como vemos no outdoor que anuncia a chegada do filme Madagascar em
3D. Perceba que o fundo trabalhou no sistema compositivo ressaltando ainda mais
as perucas dos personagens. Temos o fundo azul do próprio outdoor e o fundo
Na publicidade, diríamos que os formatos e os
tamanhos valem dinheiro, afinal um anúncio que
ocupa meia página de uma revista será muito mais
econômico que um de página inteira. Da mesma
maneira, um banner de internet em um site será
mais barato que um pop-up que nos saltam aos
olhos quando entramos em um portal digital. Cada
formato pedirá de nós uma informação diferente,
construída com um olhar mais apurado para a
mensagem transmitida.
Percebeu que, até aqui, estamos falando
exaustivamente de retângulos e quadrados? Mas e Se quisermos falar das demais formas, temos que ir a
as demais formas, como pensá-las? Bem, outra área do conhecimento, a qual as aproveita
trabalhamos com as nossas principais referências, para a criação de sentidos: a criação de marcas —
pois nosso cérebro adora nos dar uma percepção sinais gráficos que representam pessoas e empresas.
bem exata e racional do mundo ao nosso redor. Pelo Nele, a utilização das formas apela menos à razão e
menos nas diversas molduras — quadros, telas, mais ao emocional, às sensações e percepções,
monitores, papeis etc. — não vemos muitas outras elementos essenciais ao branding.
formas funcionando. E o círculo? E o triângulo?
Qualquer forma tem a potencialidade de se tornar
um suporte para a composição visual, contudo não é
tão comum que encontremos as demais formas
aplicadas dessa maneira.
Ao nos depararmos com o ranking das marcas mais caras do mundo, vemos que a lógica de
criação do logotipo varia de acordo com a natureza da empresa. Vemos que muitas usam
apenas o logotipo — significa que se valem de letras e palavras — enquanto que outras
possuem uma marca completa, com o logotipo e o símbolo gráfico. Observamos que existe
a aplicação de outras formas, como elipses, triângulos e círculos. Também, a quantidade
de tipografia é variada, algumas em bold/negrito, outras mais finas/light. E as cores vão
dizer muito do segmento que elas atuam, com cores mais quentes em mercados mais
abertos, e mais frias em lógicas que exigem uma seriedade minimalista, como economia.
Algumas delas, como a Google, vão ter uma marca
oficial e mutações como os Doodle para representar
a abertura de criação e de conceitos. Já a JP
Morgan, da área financeira, mantém sua tipografia
serifada e a austeridade do marrom escuro ou
preto. A Disney traz a leveza da escrita cursiva para
o ambiente infantil, estratégia também utilizada por
Pampers. Nike e Apple, por sua vez, de tão
conhecidas não precisam nem da assinatura
nominal, brincando apenas com o símbolo.
Mercedes-Benz e IBM se mantêm na tradição, na
estabilidade.
Marcas possuem identidades que variam ao longo
dos anos, mas que sempre refletem sua essência.
Este DNA deve ser a base da criação de seu
símbolo gráfico e de sua logotipia , por isso há
uma variação muito maior de formas e aplicações.
Aqui, encontramos menos regras e mais usos
estéticos, menos formatos fixos e mais liberdade
de criação. Formas que ganham sentidos, que
transparecem essências, que são valores
sentimentais e econômicos no mercado.
Seção 5
Linguagem visual: considerações finais
Agora que já vimos as estruturas de uma composição e demos uma passada pelos
possíveis usos de cada uma delas, vamos conhecer as três formas de representação
artística e gráfica: nível representacional, nível simbólico e nível abstrato. Juntos, os
chamamos de inteligência visual. Vamos embora mais uma vez viajar pelos vídeos
que nos ajudam a compreender este conteúdo?
Sebastião Salgado é um fotógrafo brasileiro muito O nível representacional deste trabalho é concreto e
conhecido por retratar cenas cotidianas de lugares não real. Ele traz a concretude da vida sem filtros, sem
tão comuns, pelo contrário, bastante inusitados. Em mexer na essência do que aquele povo vive. É a
seu trabalho denominado Gênesis, em referência realidade em questão, nua e crua como o artista se
direta ao livro bíblico, ele trabalhou com imagens de propõe a fazer. Logo, neste nível, o tema não exige
paraísos terrestres e seus agrupamentos humanos que explicações e abstrações para entendê-lo.
vivem como em tempos primigênios, antes da
humanidade cair no “pecado” da modernidade. As
fotografias são representações dos povos, dos animais
e da natureza que os cercam.
Saiba mais

Vimos até aqui como a cultura e a compreensão do mundo depende muito de


nosso contexto e da história dos significados. Portanto, não é igual para todos.
Obras como a de Sebastião Salgado nos trazem o seguinte questionamento: é
possível produzir um pensamento independente dos processos históricos de
colonização? Neste episódio do Anticast sobre Decolonialismo, você entenderá
melhor a complexidade e a importância de se pensar nossas influências.
Veja, não apenas os fotógrafos operam nesta linha, mas todos os artistas e designers que pretendem representar o que
veem da maneira mais fiel ao olhar, a percepção racional. E temos que deixar bem claro que nosso trabalho vai sempre
variar entre os três níveis, dependendo dos clientes que vamos atender e das propostas que pretendemos oferecer. Como
designer, inúmeras vezes tive que abarcar olhares mais representacionais para transmitir a mensagem que eu pretendia,
deixando de lado as abstrações que, na maioria das vezes, me encantavam muito mais. Tudo tem que ter um propósito
para nossos clientes e usuários, não pode partir simplesmente de nossa fruição estética.
Veja, não apenas os fotógrafos operam nesta linha, mas todos
os artistas e designers que pretendem representar o que
veem da maneira mais fiel ao olhar, a percepção racional. E
temos que deixar bem claro que nosso trabalho vai sempre
variar entre os três níveis, dependendo dos clientes que
vamos atender e das propostas que pretendemos oferecer.
Como designer, inúmeras vezes tive que abarcar olhares mais
representacionais para transmitir a mensagem que eu
pretendia, deixando de lado as abstrações que, na maioria
das vezes, me encantavam muito mais. Tudo tem que ter um
propósito para nossos clientes e usuários, não pode partir
simplesmente de nossa fruição estética.
Isso não significa que não queremos transmitir mensagem alguma e que nossa criação é
aleatória, pelo contrário, queremos que nosso usuário sinta os significados transmitidos, que
esta experiência caminhe por suas memórias e vivências constituídas de maneira subjetiva,
seja de forma individual ou coletiva. É o nível que pega pesado com as emoções que estão
bem guardadas em nossos compartimentos sensoriais.
Neste clipe, dois níveis parecem em operação: o

Childish Gambino surpreendeu, como um soco no estômago, representacional e o simbólico, por trazer temas reais

o mundo com o videoclipe de This is America. O artista realizados por meio da música e das cenas recriadas

estadunidense mostrou que o american way of life foi com uma mistura de abstração entre situações que

construído sobre desigualdade, segregação e muitos túmulos nos trazem sentimentos como mensagens, que não

e que, mesmo estando em ruínas, ainda o assistimos e são tão concretos. A cada nova mensagem que

admiramos comendo pipoca, como a uma série da Netflix. Os captamos, uma nova dimensão significativa se abre

movimentos de cunho racial o aplaudiram de pé e, por em nossa interpretação, indo mais além do primeiro

semanas, a discussão viajou o mundo: afinal, será que as plano (representacional) e alcançando as mensagens

contas realmente estão pagas e que vivemos uma realidade que o artista quis transmitir (simbólico). E o melhor?

mais justa? O que fazer com o que já foi construído, se os Ambos planos conversam diretamente, reforçando a

símbolos e signos desta repressão toda já foi enraizado na ideia de que o entretenimento que consumimos

subjetividade de todos? diariamente esconde uma realidade muito mais


violenta e desconfortável, uma subversão da forma
que supera nossa tendência a ver tudo em caixinhas.
Consegue captar que é mais do que representar e abstrair, mas questionar, levantar, balançar os inúmeros
símbolos históricos que foram construídos ao longo dos anos? Se não refletirmos sobre eles e indagarmos
como percebemos a vida por meio deles, continuaremos andando na mesma direção que o gado no pasto.
O simbólico traz este misterioso mapa a ser decifrado, que só é possível com uma bússola que nos
direciona ao norte da questão. Por sinal, do modo que somos imersos nesta coisa toda que se chama
cultura, precisamos de uma lupa para encontrar as pequenas moléculas de preconceitos e símbolos falhos
que nos constituíram ao longo de nossa caminhada.

Costumamos brincar que o brasileiro deve ser estudado pela NASA, de tão peculiar. Somos criativos por
natureza e lutadores pela sobrevivência. Queria ver o Childish assistindo à nossa releitura de seu clip. Será
que ele conseguiria pegar todo o simbolismo da coisa? Enjoy it!
Vamos relembrar os conceitos básicos da Linguagem Visual que vimos ao longo da Unidade? Associe cada conceito à sua definição:

Gramática Verbal

A _____________ é formada por pequenas estruturas, como verbos, pronomes e preposições. Cada uma delas tem seu valor na montagem das frases, que por sua vez formam os
parágrafos que vão dando forma aos textos. E os textos já constituídos formam ideias, que influenciam pessoas e influenciam reflexões.

Pensamento Visual

O _______________ é construído por pontos, linhas, formas e planos, que ao serem combinados vão ganhando novos contornos, educando pessoas, fazendo pensar, transformando
seus significados. E nós, seres humanos gregários, vamos ao poucos, desde de nossas infâncias, aprendendo a ler cada uma dessas informações para atribuirmos sentidos.

Ponto

A base para toda construção gráfica é o _______, que basicamente é a menor partícula possível na linguagem visual. Por meio dele as demais coisas são criadas, como a linhas, as
formas e os planos. Ele é o menor elemento, mas que formará todos demais que conseguimos imaginar.

Valor Tonal

O interessante é que neste caso os pontos vão determinar um __________, se é mais claro ou escuro em relação aos demais elementos inseridos em uma moldura. Por mais estranho
que pareça, enxergamos o mundo e as imagens que nos envolvem por meio de planos, que falaremos mais para frente.

Moldura

Contudo, temos que saber que cada ponto, ou elemento, colocado em uma determinada ______________ está em relação aos demais inseridos no mesmo espaço e que a
mensagem visual vem desta relação. Tamanhos, formas, cores e texturas vão marcar está relação fazendo com que tenhamos a sensação de proximidade, dispersão e movimento.

Textura

Os pontos também possuem esta característica de trazerem __________ as superfícies. Particularmente quando penso em textura vem na hora a ideia sensação tátil, de algo que
posso tocar, contudo em alfabetismo visual pensamos nas _________ que servem para serem vistas, que nos dão a sensação do tátil com os olhos. Quase uma mudança de sentidos.
Pense que ____________ tem um aspecto tridimensional, que são as ranhuras, que ao serem demonstradas no bidimensional acabam operando com sombras e iluminação.
Referências Bibliográficas

DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
MUNARI, Bruno. Design e Comunicação Visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
WONG, Wucius. Princípios de Forma e Desenho. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
VAZ, Adriana e SILVA, Rossano. Fundamentos da Linguagem Visual. São Paulo: Intersaberes, 2016.
Unidade 2

Projeto Integrador 1
(Parte 2)
Objetivos da Unidade Seções

• Compreender a diferença da criação na • Seção 1 – Elementos da linguagem visual:


arte e no design, sabendo perceber que o Introdução;
foco principal da discussão está na • Seção 2 - Técnicas da linguagem visual
percepção da mensagem pelo público; (Parte 1);
• Entender que temos muitas escolhas
visuais a serem feitas antes do processo • Seção 3 - Técnicas da linguagem visual
criativo, sempre com o foco em nosso (Parte 2);
consumidor; • Seção 4 - Linguagem visual bi e
• Saber utilizar os elementos visuais e as tridimensional;
imagens na intenção de construir • Seção 5 - Linguagem visual: diferenças e
mensagens e conceitos a serem lidos por aplicações.
nosso público-alvo;
• Analisar imagens sabendo reconhecer as
mensagens positivas e negativas que
serão transmitidas ao público;
• Criar peças gráficas coerentes com o
conceito determinado no briefing.
Introdução
Muitos autores já desenvolveram metodologias de estudo das
imagens partindo das estruturas básicas que já vimos e
estabelecendo novas relações a partir de outras áreas do
conhecimento, como a psicologia. A linguagem visual não é
algo estanque, sempre vista da mesma maneira por linhas de
pesquisa, mas vai variar pelas propostas teórica e metodológica
que o autor tem como fundamento.

Vamos construir nossa disciplina bebendo na fonte de autores


considerados formalistas, que partem das formas para explicar
os fenômenos visuais.
Estamos lidando com a Donis A. Dondis (2007) que foi uma das primeiras estudiosas das formas aplicadas
enquanto conteúdo de sala de aula, de como educar pessoas para olhar, uma gramática visual, enfim. Contudo,
alguns outros autores foram atualizando partes de suas teorias trazendo para aspectos tecnológicos que até então
não haviam sido considerados. Então, se tudo já está sendo colocado em um contexto tão mais arejado, por que
continuar a pesquisar partindo dessa raiz teórica? Bem, a base da gramática visual não mudou, mas o que vem se
transformando é sua aplicação. Os meios tecnológicos não acabaram com o passado, mas trouxeram novos
sentidos e é sobre esta base que trabalharemos nesta Unidade.
Seção 1

Elementos da Linguagem
Visual
Elementos da linguagem visual: Introdução
Os componentes básicos que consideramos para a constituição de
qualquer imagem está apoiada em duas fincas: forma e conteúdo.
Usamos uma forma, que no nosso caso é visual, para transmitirmos uma
mensagem, que tecnicamente chamamos de conteúdo. Ambos andam
sempre de mãos dadas e dialogam o tempo todo. Não há um conteúdo
sem forma, pois ele é completamente dependente de uma maneira de ser
abordada. Por outro lado, qualquer imagem, por mais simplificada e única
que seja, traz em si um conteúdo. Inclusive, até um ponto, uma cor, uma
corda, um pequeno elemento já é em si um conteúdo a ser interpretado.
Gosto muito da definição que Dondis nos traz sobre composição, pois nos
faz parar e pensar sobre como estamos montando nossa mensagem, de
como estamos relacionando elementos na intenção de contar uma
história ou mensagem.
Ainda, para a autora, existe uma quarta forma que complementa a tríade conteúdo, forma e artista, que seria a
percepção visual de quem a recebe. Se por um lado estudamos as teorias possíveis para uma formação consistente
na criação de linguagens visuais, por outro não podemos descartar que há um receptor que está imerso em uma
série de questões subjetivas e de leituras de mundo que influenciam diretamente o olhar dele. O grande desafio
então se ancora em como desenvolver mensagens que atinjam pessoas ou grupos específicos que estão imersos em
repertórios diferentes. Digo isso pois seus repertórios inclusive visuais marcarão a maneira com a qual você
perceberá fenômenos gerais.
No fundo, temos que compreender que só vemos aquilo que conseguimos ver, que estamos maduros e preparados
para tal, pois as mensagens que nos tocam são aquelas que ao entrarem em nossos repertórios conseguem acessar
aquela pastinha dos sentidos. Somos seres que necessitam de percepções para criar sentidos emocionais, positivos e
negativos.
Nosso sistema cognitivo, ou nossa inteligência não funciona de maneira retardada, com atrasos, pelo contrário,
seu movimento se realiza imediatamente, de forma espontânea. Como assim? A partir do momento em que
tenho contato com um conceito, pode ser verbal imagético ou de qualquer outra natureza, espontaneamente
desencadeamos uma série de percepções que marcará o significado que atribuimos ao fenômeno. E mesmo
quando paramos para pensar sobre as sensações que recebemos imediatamente nossa semiose começa a
desencadear outros significados que vão compor nossas percepções e conclusões.

Nas artes, uma vez que a base é subjetiva e emocional, propomos que a criação é mais livre da obrigatoriedade
do receptor, afinal o conceito da obra está sendo construída no desejo e nas proposições do artista que são
compreendidas e assimiladas por quem as vê. Já no design a grande estrutura está em construir uma mensagem
direta e de fácil compreensão pelo receptor, afinal quem tem que responder a ideia transmitida é quem vai
utilizar o produto criado. Dessa maneira, um cartaz tem como finalidade instruir o leitor de quais direções ele
deve seguir caso seja de seu interesse.
Composição é o meio de controlar a reinterpretação de uma mensagem visual por parte de quem a recebe. O
significado se encontra tanto no olho do observador quanto no talento do criador. O resultado final de toda
experiência visual, na natureza e, basicamente, no design, está na interação de polaridades duplas: primeiro, as
forças do conteúdo (mensagem e significado) e da forma (design, meio e ordenação); e em segundo lugar, o efeito
recíproco do articulador (designer, artista e artesão) e do receptor (público). Em ambos os casos, um não pode se
separar do outro. A forma é afetada pelo conteúdo; o conteúdo é afetado pela forma. A mensagem é emitida pelo
criador e modificada pelo observador. (DONDIS, 2007: p.132)
Dessa maneira, o designer tem um limite em suas criações que será dada pela necessidade de ter uma mensagem central.
O processo criativo não é solto, pelo contrário, totalmente focado. E como fazer isso? Se temos tantas possibilidades
visuais dadas ao nosso universo gráfico, como imagens e tipografias, como definir a melhor escolha para transmitir uma
mensagem? Não é tão simples responder a essa pergunta, mas de maneira bastante simplista pense como o seu leitor
entenderia seu produto. Se o leitor é jovem e amante de hip-hop qual seria a tipografia que melhor se encaixaria ao
universo dele? As letras mais gordas e coloridas que lembram a cidade podem ser uma opção interessante, ou aquelas
serifadas que nos lembram um pouco as góticas podem ser compreendidas com mais facilidade pelos skatistas, afinal já
são utilizadas pelas bandas ouvidas por eles.

Os mais velhos, terceira idade, possuem uma necessidade de tamanhos maiores de letras para facilitar a leitura com suas
vistas enfraquecidas, mas para um público letrado geral um tamanho menor dará conta das necessidades. Uma imagem
menos abstrata que retrata com mais realidade uma cena, é de mais fácil compreensão por pessoas com baixa
escolaridade, vide as cartilhas infantis. Já as abstrações atingem um público especialmente letrado que compreenderá
sensações e sentimentos. Um cartaz para um público jurídico tem que ser mais sério e direto, para publicitários mais
coloridos e festivos. O público guiará nossas escolhas, não o nosso gosto pessoal.
Prêmio MCB

A primeira edição do Prêmio MCB de cartazes é de 1986. Desde lá o Museu


da Casa Brasileira mudou de gestores, de posturas, de conceitos, mas nunca
deixou que nenhum movimento político e ético mexesse na alma da
competição. Marcada como uma das principais mostrar de cartazes do
Brasil, a cada edição notamos que as artes refletem a estética e os
conceitos que estão em discussão naquele momento. Impressionante
perceber que por meio de uma peça de design simples, como o
cartaz/pôster, a análise social se torna possível.

Link: https://mcb.org.br/pt/premiados/cartazes/
Realmente não acreditamos que gosto não se discute, afinal gosto traz em si uma série de questões que sempre
valem a pena ser discutidas. Padrões de gosto estão associados a formação da pessoa, de subjetividades e
coletividades que foram constituídas ao longo da vida.

Cada escolha pressupõe uma série de outros conceitos que estão enraizados dentro da pessoa que merecem e
devem ser pensados. Veja, quando entramos na discussão dos pixadores muitos pensamentos e opiniões são
engatilhadas, mas devemos questionar o quanto paramos para estudar a função estética e social que ali está
inserida. Da mesma maneira, séries como RuPaul e Pose, que tratam das estéticas drag queen dividem os
interlocutores, pois operam com cores e materiais extravagantes. Será que é só uma questão de gosto? Será que
temos padrões e condicionamentos sociais associados ao belo e ao feio? Tudo isso serve para nos perguntarmos: o
meu gosto é o do meu público? Quem deve ser agradado eu ou meu consumidor? Pense nisso.
Você conhece a Bienal do Design Gráfico?
Em 2019, a Bienal da Associação dos Designers
Gráficos do Brasil completa 30 anos. Nesta
caminhada sempre teve a belíssima função de
premiar os trabalhos que foram julgados como mais
consistentes e bem estruturados tanto nos quesitos
estéticos, quanto de aplicabilidade. Já temos o
shortlist dos ganhadores online, contudo a
exposição ficará aberta até o final de novembro, em
Curitiba. Para aguçar um pouco a sua curiosidade,
escolhemos alguns trabalhos aleatórios para
demonstrar que forma e função são a base de todo
o bom design.
A Marca do Velhaco
Devaneio do Velhaco - StudioBah - Porto Alegre - RS
A Marca do Velhaco
Devaneio do Velhaco - StudioBah - Porto Alegre - RS
Associação - Brasileira de Linguística (ABRALIN),
Estúdio Guayabo - Belo Horizonte, – (MG)
Associação - Brasileira de Linguística (ABRALIN),
Estúdio Guayabo - Belo Horizonte, – (MG)
Associação - Brasileira de Linguística (ABRALIN),
Estúdio Guayabo - Belo Horizonte, – (MG)
Associação - Brasileira de Linguística (ABRALIN),
Estúdio Guayabo - Belo Horizonte, – (MG)
Seção 2

Técnicas da linguagem
visual
Técnicas da linguagem visual
Segundo Dondis (2007) dentro da comunicação visual
podemos considerar diversas técnicas que nos ajudam a
construir o significado das peças gráficas. Cada uma delas
possui uma natureza diferente que ajuda a ressaltar
aspectos únicos de cada composição. A partir do domínio
das mesmas conseguimos visualizar os pontos de
polaridade, de força compositiva, que constituirá a
mensagem.Sem contar que a linguagem visual aplicada
pode potencializar forças de determinadas peças gráficas,
enquanto que outras vão trabalhar conceitos mais
dispersos.
Técnicas da linguagem visual (Parte 1)

Sem contar que a linguagem visual aplicada pode potencializar forças de determinadas peças gráficas, enquanto que
outras vão trabalhar conceitos mais dispersos. Técnicas e linguagens podem ser combinadas, trabalhadas em união
ou contradição, então dificilmente encontraremos apenas uma agindo sozinha em um determinado contexto gráfico.

Como são inúmeras técnicas e abordá-las todas pode ser bastante cansativo e improdutivo, pois não conseguiríamos
conhecê-las todas em sua profundidade e aplicá-las com força visando ao melhor resultado gráfico. Portanto,
elencamos as principais e algumas delas serão detalhadas durante o capítulo. Fique atento pois será um momento
bem interessante onde ligamos as técnicas a referências visuais muito importantes no design gráfico e na
publicidade. Quase matar dois coelhos numa cajadada só.
Equilíbrio X Instabilidade

O equilíbrio vem da extrema necessidade humana de organizar elementos visuais de maneira a transmitir
organização, harmonia e continuidade. Quase que estamos falando sobre calma e exatidão. Seu oposto é a
instabilidade, que faz o chão balançar e deixa as composições menos óbvias. É dar um toque visual de
desconforto ao olhar, que gera movimento, que nos demonstra uma energia, que traz a impressão de que nada
está fixo. Um é o balé, o outro o funk. Um é o clássico, o outro o contemporâneo.
X
Equilíbrio X Instabilidade

Equilíbrio Instabilidade

Saul Bass Paula Scher

A sequência está dada O ritmo anima o olhar


Simetria e Assimetria

Como o próprio nome diz, a simetria é ter os dois lados com o mesmo peso visual, enquanto que a assimetria
consegue aplicar um movimento diferente, traz uma quebra na mensagem óbvia para um salto diferente de
percepção. Os lados iguais de uma determinada imagem remetem à harmonia de algo, sem dar um foco
principal a nada, já a diferença entre as polaridades trará pontos de apoios ao olhar. Nada será igual novamente
é a mensagem assimétrica.
X
Simetria X Assimetria

Simetria Assimetria

Paul Rand Milton Glaser

Marcas que transmitem confiança Dois lados diferentes, duas sensações únicas
Regularidade X Irregularidade

Favorecimento da unidade sequencial, ordem baseada em princípios e regras. Seu oposto é a criação de imagens
em movimento, sem uma lógica racional. Enquanto um preza pela unidade, o seu oposto pela quebra. Vemos na
obra de Kiko Farkas, o primeiro representante do design brasileiro nesta seção, que ao mesmo tempo que o
designer sabe lidar com a regularidade para transmitir a mensagem, a irregularidade surge quase como parte do
contexto sequencial. A quebra salta aos olhos e o artista apenas a aplica em seu layout. Muitas vezes a
irregularidade não é pensada previamente, como em um jogo de racionalidade aplicada, mas mais sendo
maturada e desenvolvida na aplicação criativa.
X

Regularidade X Irregularidade
O equilíbrio vem da extrema necessidade humana de organizar
elementos visuais de maneira a transmitir
Regularidade
organização, harmonia e
Irregularidade
continuidade. Quase
Kiko Farkas
que estamos falando Kiko Farkas
sobre calma e exatidão.
Seu oposto é a instabilidade,
O próximo elemento é óbvio que faz Oo chão
próximo balançar
elemento parece óbvio e deixa as

composições menos óbvias. É dar um toque visual de desconforto ao


olhar, que gera movimento, que nos demonstra uma energia, que
traz a impressão de que nada está fixo. Um é o balé, o outro o funk.
Um é o clássico, o outro o contemporâneo.
Simplicidade X Complexidade

Simplicidade é contar um fato, uma história, com poucos ou apenas um único elemento que seja limpo, claro e
direto. Talvez seja o conceito mais próximo do que chamamos de minimalista. Sua oposição, a complexidade,
traz elementos com muitos detalhes implorando pela atenção de leitor para cada um deles. Ambos são
emissores, cada um à sua maneira. O mínimo chama atenção e o complexo pode dispersar. Mas, afinal, quem
traz em si a mensagem mais forte? Quem sabe atingir melhor o público? O que se lê em cada uma? Esta é a
grande sacada, cada técnica pode ser usada para chamar atenção para aspectos mais importantes de uma
determinada coisa, enquanto na simplicidade o foco fica concentrado, na complexidade a mensagem pode ser
exatamente esta, de muitas coisas sem uma âncora principal.
X

Simplicidade X Complexidade
O equilíbrio vem da extrema necessidade humana de organizar
elementos visuaisSimplicidade
de maneira a transmitir organização, harmonia e
Complexidade

continuidade. Quase que estamos falando


Guto Lacaz sobre calma e exatidão.
David Carson

Seu oposto é a instabilidade,


Pouco diz muito
que faz oOchão balançar e deixa as
universo não é interpretável por completo

composições menos óbvias. É dar um toque visual de desconforto ao


olhar, que gera movimento, que nos demonstra uma energia, que
traz a impressão de que nada está fixo. Um é o balé, o outro o funk.
Um é o clássico, o outro o contemporâneo.
Economia X Profusão

Por Economia entendemos uma composição que não necessita de muitos elementos para construir sua
mensagem, aquilo que está sendo transmitido para o público-alvo escolhido. Trata-se de um sem-número de
elementos, ângulos, polaridades por conta da massa de informações. Se seu pensamento foi que uma imagem
profusa é também complexa, você acertou, afinal as técnicas acabam funcionando juntas em uma mesma
direção.
Economia X Profusão

O equilíbrio vem da extrema necessidade


Economia Profusãohumana de organizar

elementos visuaisMoema
de Cavalcanti
maneira a transmitir organização, harmonia e
Neville Brody

continuidade. Quase que estamos falando


Poucos elementos contam uma história
completa sobre calma e exatidão.
Caos e confusão no olhar

Seu oposto é a instabilidade, que faz o chão balançar e deixa as


composições menos óbvias. É dar um toque visual de desconforto ao
olhar, que gera movimento, que nos demonstra uma energia, que
traz a impressão de que nada está fixo. Um é o balé, o outro o funk.
Um é o clássico, o outro o contemporâneo.
Minimização X Exagero

Pense bem, o mínimo, por definição, é algo que na composição está bem diminuto em função do todo, enquanto
que o exagero toma proporções gigantescas. Um é mais tímido e retraído, já o outro faz questão de se mostrar
bem grande. Cada composição cumpre uma função e uma maneira própria de transmitir sua mensagem, afinal
aquilo que é gigante de fato chama muita atenção para si, mas não necessariamente consegue transmitir algo
mais extenso, com mais detalhes e conceitos. O minimalismo possivelmente entregará mais informações em
contextos mais simplificados, detalhados e concentrados.
Minimização X Exagero
O equilíbrio vem da extrema necessidade humana de organizar
elementos visuaisMinimização
de maneira a transmitir Exagero
organização, harmonia e
continuidade. Quase que estamos falando sobre calma e exatidão.
Chip Kidd Massimo Vignelli

Um elemento ecoa uma voz O ímpeto que extrapola os limites


Seu oposto é a instabilidade, que faz o chão balançar e deixa as
composições menos óbvias. É dar um toque visual de desconforto ao
olhar, que gera movimento, que nos demonstra uma energia, que
traz a impressão de que nada está fixo. Um é o balé, o outro o funk.
Um é o clássico, o outro o contemporâneo.
Seção 3

Técnicas da linguagem
visual
Técnicas da linguagem visual

Vamos dar continuidade às técnicas de linguagem visual e gostaria de animá-los que por mais cansativo que
pareçam, será proveitoso aprender e conhecer grandes referências do design, por mais que sejam binômios de
conceitos em contraposição que lembram listas de afazeres (aquelas que costumamos assinalar com um check).
Preferiu-se essa jogada (técnica + personalidade conhecida), para que você possa crescer em direções distintas ao
mesmo tempo. Escolhemos a dedo os designers que fizeram a história da nossa área, reconhecidos mundialmente,
para que você tenha repertório e referências suficientes para os próximos trabalhos. Acreditamos no seu potencial.
Atividade X Estase

Atividade está completamente relacionada ao ato de colocar alguma coisa em movimento, ou de montar
composições que trazem a noção de colocar em exercício, tirar de uma situação de inércia e fazer rodar, virar,
andar etc. E o estase, em sua oposição, fica parado, concentrado em uma única posição. Ele está, permanecerá,
e pronto.
Atividade X Estase
Equilíbrio X Instabilidade
Atividade Estase

Stefan Sagmeister Alan Fletcher


O equilíbrio vemImpermanência,
da extrema deslocamentonecessidade
Permanência,humana de organizar
fixidez, contemplação

elementos visuais de maneira a transmitir organização, harmonia e


continuidade. Quase que estamos falando sobre calma e exatidão.
Seu oposto é a instabilidade, que faz o chão balançar e deixa as
composições menos óbvias. É dar um toque visual de desconforto ao
olhar, que gera movimento, que nos demonstra uma energia, que
traz a impressão de que nada está fixo. Um é o balé, o outro o funk.
Um é o clássico, o outro o contemporâneo.
Unidade X Fragmentação

Um único elemento sendo aplicado que contenha todas as explicações necessárias para que o meu público
compreenda minha mensagem. Equilíbrio harmônico e delicado, em contraposição à fragmentação de
elementos que formam uma polaridade única. A fragmentação não pode ser lida pelas partes, mas sua função
vai trazendo a tônica da mensagem visual.
Unidade X Fragmentação
Equilíbrio X Instabilidade
Unidade Fragmentação

Olly Moss Aaron Daplin


O equilíbrio vemUnidade.
da Tudo
extrema
em um. necessidade humana
Partes, inúmeras deumaorganizar
partes, que formam

elementos visuais de maneira a transmitir organização, harmonia e


única mensagem.

continuidade. Quase que estamos falando sobre calma e exatidão.


Seu oposto é a instabilidade, que faz o chão balançar e deixa as
composições menos óbvias. É dar um toque visual de desconforto ao
olhar, que gera movimento, que nos demonstra uma energia, que
traz a impressão de que nada está fixo. Um é o balé, o outro o funk.
Um é o clássico, o outro o contemporâneo.
Previsibilidade X Espontaneidade

Tudo que é previsível já está dado, já sabemos o que vem depois e como vem. Está óbvio e de maneira bastante
simples de compreender. Já o espontâneo é aquilo que não esperamos, não há um planejamento prévio. Ser
espontâneo é estar dotado de um movimento não esperado, de um ritmo contagiante que não é o que o
receptor espera naquele momento.
Previsibilidade X Espontaneidade
Equilíbrio X Instabilidade
Previsibilidade Espontaneidade

Peter Saville Herb Lubalin


O equilíbrio vemImpressão
da extrema necessidade
de que á sei o que vem depois. Movimentos humana
que inspiram. Estilode
leve, organizar

elementos visuais de maneira a transmitir harmônico.


organização, harmonia e
continuidade. Quase que estamos falando sobre calma e exatidão.
Seu oposto é a instabilidade, que faz o chão balançar e deixa as
composições menos óbvias. É dar um toque visual de desconforto ao
olhar, que gera movimento, que nos demonstra uma energia, que
traz a impressão de que nada está fixo. Um é o balé, o outro o funk.
Um é o clássico, o outro o contemporâneo.
Sutileza X Ousadia

Segundo Dondis (1997) sutileza é a técnica que serve para estabelecer uma distinção apurada, que foge da
obviedade e da firmeza de propósito. Delicada e de extremo requinte. Já a ousadia é, como o próprio nome diz,
algo que não estamos esperando, audaciosa, segura e cheia de confiança. Máxima visibilidade aplicada.
Sutileza X Ousadia
Equilíbrio X Instabilidade
Sutileza Ousadia

Ksenya Samarskaya Alan Aldridge


O equilíbrio vemAlgoda extrema
que poderia necessidade
passar despercebido, humana
mas Máxima visibilidade, de organizar
máximo olhar.

elementos visuais de maneira a transmitir organização, harmonia e


que insiste na mensagem. .

continuidade. Quase que estamos falando sobre calma e exatidão.


Seu oposto é a instabilidade, que faz o chão balançar e deixa as
composições menos óbvias. É dar um toque visual de desconforto ao
olhar, que gera movimento, que nos demonstra uma energia, que
traz a impressão de que nada está fixo. Um é o balé, o outro o funk.
Um é o clássico, o outro o contemporâneo.
Neutralidade X Ênfase

Neutralidade é não provocar o observador de maneira direta e perturbadora, mas deixá-lo construir seu
entendimento de maneira tranquila e respeitosa. Já a ênfase é gritar bem alto “a mensagem está aqui para ser
lida” e ainda complementar “saia do seu lugar de calma e venha me ler, é este meu objetivo”. Enquanto um
deixa tudo muito tranquilo o outro chega para movimentar uma única polaridade do layout, enfatizando aquela
mensagem.
Neutralidade X Ênfase
Equilíbrio X Instabilidade
Neutralidade Ênfase

Müller-Brockmann Jessica Wash


O equilíbrio vemTento-me
da passar
extrema necessidade
sem que ninguém me humana
Só me faça ser o centro de organizar
elementos visuais de maneira a transmitir organização, harmonia e
perceba.

continuidade. Quase que estamos falando sobre calma e exatidão.


Seu oposto é a instabilidade, que faz o chão balançar e deixa as
composições menos óbvias. É dar um toque visual de desconforto ao
olhar, que gera movimento, que nos demonstra uma energia, que
traz a impressão de que nada está fixo. Um é o balé, o outro o funk.
Um é o clássico, o outro o contemporâneo.
Transparência X Opacidade

Transparência é deixar que o elemento visual seja translúcido e que o receptor veja o que tem atrás. É um
revelar não revelando. Deixo ver aquilo que importa. Na opacidade nada passa, ficamos presos na percepção
dada, na cor sobre cor, sem que haja cor e elementos sendo perpassados por outros.
Transparência X Opacidade
Equilíbrio X Instabilidade
Transparência Opacidade

Bradbury Thompson Alvin Lustig


O equilíbrio vemDeixo
daqueextrema necessidade
outros se mostrem por meio Nada passahumana
por mim. de organizar
elementos visuais de maneira a transmitir organização, harmonia e
de mim.

continuidade. Quase que estamos falando sobre calma e exatidão.


Seu oposto é a instabilidade, que faz o chão balançar e deixa as
composições menos óbvias. É dar um toque visual de desconforto ao
olhar, que gera movimento, que nos demonstra uma energia, que
traz a impressão de que nada está fixo. Um é o balé, o outro o funk.
Um é o clássico, o outro o contemporâneo.
Exatidão X Distorção

Como o próprio nome diz, exatidão é quando a imagem utilizada traz em si uma noção de realidade, daquilo que
vemos transportado para as peças gráficas. Já a distorção opera em criações imagéticas que nos lembram a
realidade, mas estão com suas formas transformadas para aumentar o foco na ilusão, no olhar fora do mundo
percebido, a exemplo do quadro “Abaporu” (1928), de Tarsila do Amaral.
Exatidão X Distorção
Equilíbrio X Instabilidade
Exatidão Distorção

Ray Eames Joseph Heather


O equilíbrio vemEu da extrema
sou exatamente o que onecessidade
seu olhar Pareço algohumana de organizar
que já se transformou.

elementos visuais
vê.
de maneira a transmitir organização, harmonia e
continuidade. Quase que estamos falando sobre calma e exatidão.
Seu oposto é a instabilidade, que faz o chão balançar e deixa as
composições menos óbvias. É dar um toque visual de desconforto ao
olhar, que gera movimento, que nos demonstra uma energia, que
traz a impressão de que nada está fixo. Um é o balé, o outro o funk.
Um é o clássico, o outro o contemporâneo.
Planura X Profundidade

A imagem sem profundidade, aquela que é completamente bidimensional e sem nenhum recurso para mostrar a
grossura do objeto, é o plano. Seu oposto é a profundidade, que traz o objeto em três dimensões.
Planura X Profundidade
Equilíbrio X Instabilidade
Planura Profundidade

Bruno Spak Perosino Shepard Fairey


O equilíbrio vemSouda extrema
sempre necessidade
plano, sem variações de humana
Posso ser bidimensional, masde
estouorganizar

elementos visuais de maneira a transmitir


profundidade
organização, harmonia e
sempre mostrando minha profundidade

continuidade. Quase que estamos falando sobre calma e exatidão.


Seu oposto é a instabilidade, que faz o chão balançar e deixa as
composições menos óbvias. É dar um toque visual de desconforto ao
olhar, que gera movimento, que nos demonstra uma energia, que
traz a impressão de que nada está fixo. Um é o balé, o outro o funk.
Um é o clássico, o outro o contemporâneo.
Seção 4

Linguagem visual bi e
tridimensional
Linguagem visual bi e tridimensional

A maioria dos livros que conhecemos sobre desenho e


representação gráfica possui um capítulo sobre bi e
tridimensionalidade, demonstrando como a ideia de
profundidade pode ser demonstrada por técnicas e
linguagens diferentes, pois esta é a base da representação
visual de tudo que vemos e imaginamos. O que traz o
sentido para as dimensionalidades é o plano na qual as
representações estão colocadas. A bidimensionalidade é
constituída por largura e altura, enquanto a
tridimensionalidade acaba recebendo um terceiro eixo, a
profundidade.
Linguagem visual bi e tridimensional

Segundo Vaz e Silva (2016) o primeiro conceito que devemos


tratar até mesmo antes de começarmos nossos insights
criativos é da noção de espaço, de qual lugar, proporção e
tamanho estamos falando no momento da criação. Uma
imagem colocada em um cartaz terá um peso visual, a
mesma colocada dentro de um museu terá outro, e inserida
no contexto urbano ainda outro. O lugar no qual a imagem
está inserida falará muito do peso visual e da força que a
peça gráfica terá no contexto.
Linguagem visual bi e tridimensional

Também, refletindo mais sobre o tema, uma representação


bidimensional traz em si uma polaridade X, enquanto que a
tridimensional terá um valor Y. Imagine uma estátua no meio de um
parque público como o Ibirapuera. Agora, no mesmo lugar,
concentre-se numa fotografia exposta nos moldes de uma exposição
mais tradicional, com moldura e colocada em um totem. O tamanho
de cada uma delas influenciará muito na chamada de atenção dos
usuários do parque, contudo, possivelmente, a estátua em sua
dimensão atrai mais o olhar das pessoas.
Linguagem visual bi e tridimensional

Talvez você deve estar se perguntando se o tridimensional retém mais o


olhar das pessoas, o que parece uma afirmação bastante razoável para nós
que vivemos imersos em um universo com largura, altura e profundidade.
Contudo, como tudo nas artes e no design, isso também é relativo, vai
depender do contexto e das referências que estão ao redor da peça que
estamos analisando. Nada é fixo, tudo é relativo.
Quando pensamos o desenho em si, no modelo mais tradicional possível
com lápis borracha e papel, nossas linhas e pontos são bidimensionais, mas
podemos traduzir a tridimensionalidade por meio de recursos como
sombras. Continuamos falando sobre planificação, contudo fazendo com
que nossos olhos o percebam como tridimensional.
Sombras

As sombras podem ser de três tipos, elas podem variar em tamanho, direção e posição:
• Sombra contida no próprio objeto;
• Sombra projetada;
• Sombra própria e projetada.
Photoshop
Linguagem visual bi e tridimensional
Para aqueles que querem se aprofundar no Photoshop, encontramos os mesmos recursos nos
ajustes que colocamos nas imagens tratadas, como mostra o manual do software. Link:
As sombras podem ser de três tipos, elas podem variar em tamanho, direção e posição:
• Link:
Sombra contida no próprio objeto;
https://helpx.adobe.com/br/photoshop/using/adjust-shadow-highlight-detail.html
• Sombra projetada;
• Sombra própria e projetada.
Representações das sombras

As sombras podem ser feitas por meio de hachuras, que são uma série de traços mais finos ou grossos colocados de
maneira justaposta para traduzir áreas mais escuras. Também, podemos utilizar o Pontilhismo, que já vimos na
Unidade 1, e as áreas de sombreados, por meio de uso de manchas maiores e mais escuras em áreas específicas.
Estes três modos conseguem alcançar uma qualidade muito boa, dependendo apenas do domínio da técnica.
Perspectiva

A próxima linha técnica de criação de volumetria


na representação bidimensional é a perspectiva.
Segundo VAZ e SILVA (2007: p.169), existem duas
formas de perspectiva, as rápidas são montadas
por meio de linhas paralelas, enquanto que as
exatas são desenvolvidas por meio de pontos de
fuga. Nas palavras da autora, “é o modo natural de
como vemos os objetos”.
Perspectiva cavaleira

Dentro das perspectivas exatas encontramos três linhas de representação:

1) a cavaleira, que é o resultado de uma projeção cilíndrica oblíqua. O objeto está com uma das faces paralelas ao plano de
representação.
Perspectiva isométrica

2) a isométrica, os eixos x, y e z têm a mesma inclinação em relação ao plano vertical. As projeções dos eixos formam entre
si ângulos de 120. Nenhum dos planos ficam diretamente paralelos ao plano da representação, mas estão em leve rotação,
como vemos o exemplo.
Perspectiva icônica

3) a icônica, é a projeção que dá origem a desenhos correspondentes à visão humana. A perspectiva cônica permite prever
a sensação visual que realmente se tem ao observar o objeto representado, a partir de determinado ponto de vista.
Perspectiva nos Softwares

No desenho geométrico o mais comum é usar um, dois, três e quatro pontos de fuga, mas podemos utilizar muitos mais
pontos quando necessários. Softwares como o Adobe Illustrator e o Adobe Photoshop nos dão os grids isométricos (com
pontos de fuga) já prontos para serem utilizados, afinal são os mais próximos de como olhamos o mundo. Demos uma
passada pelos termos técnicos do desenho geométrico e não na aplicação em si, pois não é o objetivo da disciplina, mas
podemos refletir sobre como a perspectiva é utilizada no design, arte e audiovisual.
Perspectiva na fotografia

O interessante de dominar a técnica não é ficar presa a ela, mas usá-la a favor da mensagem que você pretende
transmitir. Não importa se é na arte, no cinema, na fotografia, no design, em todos eles podemos manipular o que
transmitiremos ao nosso espectador sabendo que cada perspectiva sobre a imagem passa um determinado significado
visual e subjetivo.
Linguagem visual: diferenças e aplicações

Já entendemos que ao estudarmos a linguagem visual, com suas


técnicas e ferramentas, temos uma compreensão melhor das
mensagens visuais. Ter critérios de leitura de imagens, nos conduz a
ultrapassar limites importantes da resposta natural dos sentidos e de
nossos condicionamentos culturais e sociais. Esse sistema quase que
‘linguístico’ e abstrato dessa maneira de ver o mundo, ao ser dotado de
uma criticidade apurada, nos leva a não dependermos apenas da
visualidade, que vai ser modificada dentro da história e da cultura de
cada época e de cada lugar.
Saber a aplicação dos elementos e suas naturezas é de extrema
importância para conduzir a mensagem visual, contudo, em nosso
caso, ganha-se uma força ainda maior a aplicação de cada um deles.
Costumamos conversar com nossos alunos explicando que uma coisa
é a gramática visual (como olhar e pensar por meio dele), as
ferramentas gráficas (os softwares todos) e a linguagem que
utilizamos (a forma gráfica que eu encontro para transmitir minhas
ideias). Muitos estudantes acreditam que são ruins de criação por
não dominarem os softwares, mas uma coisa é o pensamento
criativo e outra é o domínio das ferramentas digitais. Cada uma delas
podem ser trabalhadas para atingirem sua potencialidade, e sua
potência na criação. Agora, o essencial é que você encontre a sua
linguagem própria, que você pegue a mão do que tem habilidade e
gosta de trabalhar.
Neste momento você pode estar pensando em ter prazer ao criar
para uma das áreas, como vídeo, web, identidade visual e por aí
vai. Contudo, o que estamos explicando vai muito além da área de
atuação. Trata-se da nossa identidade como criadores, que afinal é
a grande alma da autoria, pela característica única, personalíssima
e pessoal que marca a identidade autoral e intransferível do
criador.
No filme Meia Noite em Paris, de Woody Allen, logo na introdução vemos algumas cenas da capital parisiense lotada
de pessoas que circulam por todos os lados. Por sinal, eles usam um foco na cena que na qual os prédios estão em
perspectiva icônica, deixando-o ao fundo como uma enorme paisagem. Já em Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet,
a personagem começa a cena falando sobre o gosto que tem por observar as pessoas e suas reações ao assistir a um
filme, andar na cidade ou qualquer outra atividade cotidiana. Quando o diretor vai retratar Paris, pelo ponto de vista
da jovem, a cena começa sobrevoando prédios e descendo no sentido da rua. Ela já construiu seu foco e dissertou
sobre o olhar, já constituiu seu ponto de vista, mas a cidade tem que aparecer para dar mais sentido para seus
desejos ocultos. Se Allen recupera a cidade como o centro da discussão, lugar por excelência dos acontecimentos, no
segundo caso, Jeunet apenas mostra que ali é apenas o pano de fundo para as particularidades e estranhezas de
Amélie. A mesma cidade, tudo acontecendo no cinema, sob dois olhares diferentes com retratos completamente
díspares.
Quarteto Fantástico e Lanterna Verde

Se já é interessante comparar diretores e olhares, imagine quando as linguagens visuais são diferentes, mas a história
é a mesma. As adaptações de histórias em quadrinhos conhecidas para o cinema está sendo muito utilizada, ora
apresentando elementos interessantes e positivos, ora nos dando até susto com as adaptações ruins e que distorcem
o original. Veja o caso de Lanterna Verde (2011) e do Quarteto Fantástico, ambos supercriticados por suas produções
que fogem da qualidade original do HQ.
O Rei Leão e Fantástica Fábrica de Chocolate

Fora a mudança de suportes, do HQ para a tela, temos também adaptações de uma mesma história contada em
linguagens visuais diferentes, tratadas especialmente pelo uso da tecnologia, como o Rei Leão, cujo original está em
animação tradicional e o novo foi inteiro criado em action live. Ou, ainda mais antiguinha, podemos nos lembrar da
primeira versão de A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971), que foi um case de sucesso da tecnologia usada na
época, tendo em vista a nova versão com Johnny Depp (2017). Observe como até a construção do trailer de uma
mesma história aborda maneiras diferentes de representar as mesmas cenas. Inclusive a mudança de cor é chocante,
na versão mais recente as cenas são construídas por cores extremamente vibrantes, trazendo muito mais fantasia e
alegria em comparação com a anterior. Por outro lado, só de visualizar que na década de 1970 estavam sendo
produzidas ficções como esta, com histórias fantasiosas tão bem representadas, ficamos absurdamente boquiabertos
com a criatividade humana. Por sinal, sugerimos ver a cena do elevador, na qual ele voa saindo do prédio por uma
cúpula de vidro. Fantástica, melhor do que a versão high tech.
O Código da Vinci

Por último, vale citar um dos textos clássicos de romance policial, O Código da Vinci, de Dan Brown (2003). O livro conta um
ficcional religioso sobre o catolicismo, alternativo às canônicas que estamos acostumados a ouvir nas aulas de história, uma
vez que o tema central é a vida dos Reis Merovíngios da França e sua descendência direta de Jesus Cristo. Bem, se Jesus
deixou família para trás significa que se relacionou sexualmente com alguém, neste caso, Maria Madalena. Na narrativa
divina conhecida, o Messias morreu virgem tendo passado pela Terra apenas para o ensino, cura e salvação. O livro
conseguiu trazer à tona uma série de discussões que sempre foram proibidas e fechadas ao núcleo central da Igreja.
O Código da Vinci

Na trama diversas referências são cruzadas, inclusive do quadro de


Leonardo Da Vinci, - o nome já fornece algum indício - Monalisa que está
exposto no Louvre, em Paris, França. Bem, qual a nacionalidade dos
Merovíngios? No cinema, a trama vai tomando corpo com a figura central
interpretada por Tom Hanks e recheada de investigações que se dão por
meio de símbolos. Muitas críticas foram levantadas sobre a adaptação para
o cinema, como sempre, por sinal, mas a parte interessante é que eles
conseguiram trazer para o cinema, com todos os recursos visuais possíveis
ao suporte, uma discussão que no livro se baseia em filosofia e história
deixando-o bem mais palatável para quem tem dificuldade e acompanhar a
obra original.
Referências Bibliográficas
DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

MUNARI, Bruno. Design e Comunicação Visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

VAZ, Adriana e SILVA, Rossano. Fundamentos da Linguagem Visual. São Paulo: Intersaberes, 2016.

WONG, Wucius. Princípios de Forma e Desenho. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Unidade 3
Psicologia das cores
Profa. Ma. Denise Tangerino
Objetivos Seções
• Compreender as diferenças técnicas da 1. Sobre as cores e seus usos
produção de cores e suas variações;
2. Azul, vermelho e amarelo
• Entender que todas as cores são dotadas
de significados que são subjetivos e 3. Verde, laranja e violeta
compartilhados coletivamente; 4. Branco, preto e cinza
• Saber utilizar as cores, enquanto 5. As demais cores aplicadas
elementos visuais, para criar significados
pertinentes ao público-alvo;
• Analisar imagens sabendo reconhecer as
cores e seus significados em cada
contexto;
• Aplicar as cores em peças gráficas
coerentes com o conceito determinado
no briefing do cliente.
Introdução
Para além de Donis. A. Dondis, utilizaremos
Nesta unidade da disciplina falaremos exclusivamente nas
como base de nosso estudo Eva Heller, com
cores e em seus efeitos na percepção humana,
sua obra clássica Psicologia das Cores, e em
especialmente na criação de significados para a produção
vários momentos pincelaremos com as
multimídia. Vários autores se dedicaram a cor enquanto
ideias de Goethe, um dos pais de estudo
elemento visual, inclusive Donis, nossa base teórica para esta
relativo aos significados mais subjetivos dos
disciplina, também se preocupou em nos ensinar sobre a
seres humanos. A viagem será calma e
importância de aplicá-las de maneira consistente e coerente.
tranquila, caberá a nós emprestarmos
Para nós, enquanto comunicadores, é de extrema
emoções às estações pelas quais
importância compreendermos que a mensagem visual deve
percorremos.
ser pensada com cuidado, pois para cada público-alvo,
independente de qual estamos falando, terá uma paleta
tonal própria e que devemos dominá-la para falar
diretamente com estes sujeitos sociais.
Seção 1
Sobre as cores e seus usos
Sobre as cores e seus usos

A cor é um fenômeno físico, que pode ser


analisado tanto por um olhar científico exato
quanto por aspectos psicológicos e sociais.
Talvez, um dos primeiros estudiosos das cores
tenha sido Aristóteles, ainda na Grécia Antiga,
que associava os raios solares a um envio de
Deus que servia para formar as tonalidades em
nosso mundo. Era uma visão na qual os
fenômenos eram explicados pela visão
teocêntrica, na qual o grande arquiteto do
mundo criou os quatro elementos mais
importantes que de certa forma determinavam
as cores de todos os objetos conhecidos: terra,
ar, fogo e água.
Por incrível que pareça esta teoria vigorou até século XIV,
no Renascimento, pois naquele momento
Franciscus Aguilonius e o matemático Sigfrid Forsius
foram a fundo na compreensão dos sistemas tonais para
além da leitura espiritual. Durante esse período, Leonardo
da Vinci (1452-1519) escreveu seu primeiro tratado sobre
luz e sombra, que inspirou a abertura da discussão sobre
como os tons mais escuros são criados em oposição aos
mais claros. A luz começou a aparecer como uma
possibilidade de mudar a natureza tonal das coisas.
Contudo, o famoso pintor apenas deu uma passada pelo
tema, sem se dedicar ao estudo mais aprofundado dos
fenômenos físicos do tema.
Já Newton (1643-1727) propôs que a luz do Sol era pura, sem cor ou
branca, e que, portanto, os objetos é que eram dotados de cor. A opacidade
e transparência eram construídas por meio da degradação da luz incidente.
Independente da precisão nas definições newtonianas, a importância deste
momento foi o questionamento das teorias aristotélicas, teocêntricas, para
uma visão científica dos fenômenos. O físico faz uma série de experimentos
com raios de luz na tentativa de compreender como são formadas e qual a
relação das mesmas com as cores. Como já conhecemos, ou deveríamos ter
visto na escola, Newton colocou um prisma próximo à janela de maneira
que houvesse a incidência da luz solar sobre ele. A luz acabou refratada
projetando um círculo de cores na parede local. Futuramente essa
experiência resultou numa de suas principais teorias: a luz possui todas as
cores em si. Logo, a ausência de luz trará o negro, o espaço sem nenhuma
cor. Ressaltamos que a partir desses experimentos o círculo das cores foi
constituído, trazendo à tona as relações análogas e complementares.
Um dos primeiros cientistas a tratar da temática foi Goethe, que após sua famosa viagem
para a Itália, - que ficou muito conhecida por ter gerado um livro enorme com muitas
reflexões sobre sua a percepção sobre o mundo - compreendeu que para além da física das
cores existem alguns outros aspectos que deveriam ser levados em consideração. Esta
percepção para nós, sujeitos do século XXI, parece bastante óbvia, contudo até o século XIX
nenhum autor tinha se proposto a estudar a formação tonal enquanto um fenômeno
cultural.
Goethe não seguiu a tendência dominante do materialismo científico. Propôs outra direção
de ciência, outra postura científica. Sua Teoria das Cores não se ocupa da quantificação, e
seu enfoque fenomenológico prioriza o elemento qualitativo. Embora sua teoria não se
construa sobre alicerces matemáticos, nem por isso deixa de possuir um rigor de observação
dos fenômenos e de suas conexões. “Goethe era como pesquisador da Natureza um espírito
matemático sem ser um matemático”, disse Rudolf Steiner. Seus primeiros escritos sobre as
cores “Contribuições para a Óptica” (Beiträge zur Optik) datam de 1791 e a investigação
sobre elas o ocupará durante os próximos 30 anos. A sua Teoria das Cores (Farbenlehre) foi
publicada em 1810.
Especialmente para a fenomenologia, uma metodologia que afirma a importância da consciência na construção dos
significados humanos sobre os fenômenos observados, os elementos, inclusive as cores, devem ser observados e
analisados pelos ideais existentes na mente humana. É a ciência que assume a intuição pura como modos de descobrir as
estruturas essenciais e as entidades objetivas dos pensamentos. De maneira bem simples e sintética, é compreender que
aquilo que vemos tem um significado subjetivo interpretado de forma única para cada pessoa e um significado social,
compartilhado coletivamente. O que olhamos tem uma importância enorme e deve ser considerado como tal.
Foi o filósofo por sua vocação fenomenológica que propôs então o olhar sobre as cores em três níveis:
— a cor física
— a cor fisiológica; e
— a cor química.
A primeira está fixada no olhar, na capacidade de cada um agir e reagir a partir da cor. O segundo aspecto, o fisiológico, as
cores despertam a atenção à medida que desenvolvemos nossa percepção do olhar por meio de elementos incolores ou
com o auxílio deles, como os cristais e a própria íris. Já a cor química, na visão do teórico, fazia parte permanente do
objeto. Para ele, enquanto as primeiras são fugidias, inconstantes, a última, por estar centrado no objeto e não no olhar,
possui uma certa permanência e constância.
A partir deste olhar de Goethe, muitos outros autores já escreveram sobre a percepção
fenomenológica da cor, encontrando caminhos para aplicá-las em caminhos distintos do
conhecimento, caso da Antroposofia e de sua indicação na pedagogia Waldorf. Para nós, da
comunicação, podemos citar que os autores que se propuseram a estudar a história da arte
e da comunicação visual com certeza dedicaram um bom tempo para compreender a
aplicação tonal na percepção visual, tendo como objetivo potencializar a mensagem
emitida.
Para a visão que gostaríamos de propor na disciplina, que está associada ao uso dos significados
das cores para além da formação física das mesmas, vamos utilizar o que chamamos de
psicologia das cores, construída por Eva Heller. Mas por que utilizamos esta base? Além de ser
reconhecidamente uma grande teórica do tema, que conseguiu dissecar pontos tão importantes
da percepção humana das matizes tonais, ela teve a seriedade de construir uma pesquisa na qual
ouviu cerca de 2000 pessoas na Alemanha, de profissões, gênero e faixas etárias diferentes, na
busca incansável pela compreensão de quais os efeitos que cada cor pode ter sobre os seres
humanos e qual a cor típica de cada sentimento. Com isso em mão, cabe a você aplicar as
técnicas em seus layouts para potencializar o retorno de seus receptores e os sentimentos, em
sua gama mais ampla, na qual você pretende gerar nele.
O que é acorde cromático?

Conhecemos muito mais sentimentos do que cores. Dessa forma, cada cor pode
produzir muitos efeitos, frequentemente contraditórios. Cada cor atua de modo
diferente, dependendo da ocasião. O mesmo vermelho pode ter efeito erótico ou
brutal, nobre ou vulgar. O mesmo verde pode atuar de modo salutar ou venenoso, ou
ainda calmante. O amarelo pode ter um efeito caloroso ou irritante .
Em que consiste o efeito especial? Nenhuma cor está ali sozinha, está sempre cercada de outras cores. A cada
efeito intervêm várias cores – um acorde cromático. Uma cor de cromático é composto por cada uma das cores
que estejam frequentemente associadas a um determinado efeito.
Os resultados da pesquisa demonstram: as mesmas cores estão sempre associadas a sentimentos e efeitos
similares. As mesmas cores que se associam à atividade e à energia estão ligadas também ao barulhento e ao
animado. Para a fidelidade, as mesmas cores da confiança. Um acorde cromático não é uma combinação aleatória
de cores, mas um efeito conjunto imutável. Tão importantes quanto a cor mais frequentemente citada são as cores
que a cada vez a ela se combinam. O vermelho com amarelo e laranja tem outro efeito do que o vermelho com
preto ou violeta; o verde com preto age de modo diferente do que o verde com o azul. O acorde cromático
determina o efeito da cor principal.
“Não existe cor destituída de significado. A impressão causada por cada cor é determinada por seu
contexto, ou seja, pelo entrelaçamento de significados em que a percebemos. A cor num traje será
avaliada de modo diferente do que a cor num ambiente, num alimento, ou na arte.
O contexto é o critério que irá revelar se um a cor será percebida com o agradável e correta ou errada e
destituída de bom gosto. Aqui cada cor será mostrada e m toda contextualização possível: com o cor
artística, na vestimenta, no design de produtos e de ambientes, com o cor que desperta sentimentos
positivos ou negativos.”

(Eva Heller, A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão. São Paulo: Editora GG,
2013, p.
Seção 2
Azul, vermelho e amarelo
Link 1 – Cores primárias

Na Teoria das Cores o azul, vermelho e amarelo são chamados de cores primárias, ou
básicas, por serem puras, isso significa, não são obtidas pela mistura de outras cores. Todas
as demais cores que percebemos podem ser obtidas pelas misturas dessas cores bases, e
posteriormente pelo uso das cores secundárias (uso de duas primárias) e terciárias
(mistura de primárias e/ou secundárias). Fora isso, sabemos que ao colocarmos o branco
obteremos tons mais claros e consequentemente com o preto mais escuro. Também,
podemos colocar nesse mix o cinza, que participa da junção do branco com o preto, e o
resultado são cores que chamamos de sujas.
Uma vez que temos uma série de tons azuis, formados pelo consubstanciamento branco,
preto e cinza o matiz original, entendemos que essa cor tem significados diferentes
dependendo da intensidade e contraste na qual ela aparece nos layouts. De forma geral,
segundo o estudo de Heller (2013), o azul é a cor preferida entre homens e mulheres, e
praticamente não há quase ninguém que não se familiarize com ele, afinal o índice de
rejeição na pesquisa ficou entre 1 e 3% entre os entrevistados. Em áreas distintas, como no
design de interiores é considerado como frio, contudo tem um efeito calmante em
dormitórios e quartos. Já em seu simbolismo, está associado a coisas boas que acontecem
ao longo da vida, sobre todos os sentimentos bons, que não estão debaixo das paixões. Ele
é um certo apaziguador, que traz em si uma compreensão mútua.
Uma vez que temos uma série de tons azuis, formados pelo
consubstanciamento branco, preto e cinza o matiz original,
entendemos que essa cor tem significados diferentes dependendo da
intensidade e contraste na qual ela aparece nos layouts. De forma
geral, segundo o estudo de Heller (2013), o azul é a cor preferida entre
homens e mulheres, e praticamente não há quase ninguém que não se
familiarize com ele, afinal o índice de rejeição na pesquisa ficou entre 1
e 3% entre os entrevistados. Em áreas distintas, como no design de
interiores é considerado como frio, contudo tem um efeito calmante
em dormitórios e quartos. Já em seu simbolismo, está associado a
coisas boas que acontecem ao longo da vida, sobre todos os
sentimentos bons, que não estão debaixo das paixões. Ele é um certo
apaziguador, que traz em si uma compreensão mútua.

Imagem retirada do:


https://rockcontent.com/blog/psicologia-das-cores/
Na alimentação, não é uma cor muito aplicada, mas quando o é está sempre ligada a alimentos leves, dietéticos e para restrição alimentar. Veja que as
embalagens de produtos light gostam muito do azul, exatamente por transmitir esta ideia de leveza, de algo que não pesa ao ser consumido.

Por que será que a maioria das pessoas relaciona a cor azul a esses sentimentos, que são, na verdade, incolores? Será que as pessoas simplesmente
transportam suas cores prediletas às melhores qualidades? Não se trata disso, pois pessoas que escolheram o vermelho, ou o preto, ou qualquer outra cor
como sua favorita, também consideram, quanto a esse quesito, o azul como a cor típica, a cor certa.

É que quando associamos sentimentos a cores, pensamos em contextos muito mais amplos. O azul é o céu – portanto, azul é também a cor do divino, a cor
eterna. A experiência constantemente vivida fez com que o azul fosse a cor que pertence a todos, a cor que queremos que permaneça sempre imutável para
todos, algo que deve durar para sempre.

E não é por acaso que o verde ocupa o segundo lugar mais citado para esses sentimentos. Ao contrário do divinal azul, o verde é terrestre, é a cor da
natureza. No acorde azul-verde, o céu e a terra se unem. Com o verde, o azul divino se torna o azul humano.
Qual o significado de cada cor?

Diariamente, profissionais das mais diversas áreas


consideram o significado das cores na hora de aplicar
no trabalho. Por exemplo, designers sempre (ou
quase sempre) se atentam à proposta a qual estão
trabalhando para escolher exatamente qual paleta
representará as marcas que eles criam. No infográfico
a seguir, do pessoal da The Logo Company, é possível
observar a relação da cor e o posicionamento de
grandes marcas: quando falamos de logotipos ou
marcas já conhecidas no mercado, podemos perceber
que as pessoas já estão acostumadas a ligar cores a
Trechos do site:
https://rockcontent.com/blog/psicologia-das-cores/ determinados tipos de comportamento.
Cores primárias: vermelho
Na linha das primárias, a segunda cor de que trataremos neste capítulo é o vermelho e a força de seus significados.
Quando ouvimos o nome da cor, também chamada de matiz, inúmeras referências nos saltam à mente, como: a)
sentimentos fortes como o amor e a paixão, que gera a sedução e suas táticas; b) sangue e saúde, simbolicamente
sempre associados à cruz dos hospitais; c) com menos intensidade, pensamos nas touradas e em como os animais
ficam incomodados com a tonalidade; d) vibração e ansiedade, sensações comumente ligadas a lugares de
alimentação, especialmente ao fast-food, na linha “Coma rápido e libere mesas”. E nós não estamos errados, fazemos
uma ponte simbólica entre nossas experiências e tudo aquilo que já aprendemos coletivamente sobre a cor.

Ao analisarmos conteúdos voltados para a primeira infância, como desenhos animados, notamos que as primárias,
especialmente o vermelho e o amarelo, são as cores com maior incidência, pois chama muita atenção deste público.
Segundo alguns estudiosos da pedagogia, referência que apareceu também nos estudos de Heller (2013), o vermelho
é supostamente a primeira cor que os bebês enxergam. E é engraçado que os pimpolhos acabam vinculando o matiz
aos alimentos doces, como bombons e ketchup. Então, no fundo, o amor das crianças pela cor é uma paixão não
verbalizada pelo açúcar.
Cores primárias: vermelho
Mas, e aí, o vermelho é uma cor apreciada? Segundo os estudos da autora (2013, p.53), cerca de 12% das pessoas,
independente do gênero, acreditam que o vermelho é sua cor favorita e apenas 4% como a que menos as agradam.
Ressaltamos que opostamente ao senso comum, de que jovem gosta do vermelho, apenas 8% daqueles com menos
de 25 anos responderam que era sua preferida, enquanto que nas pessoas com mais de 50 anos, este índice sobe para
cerca de 17%. Estes dados são de extrema importância no momento de aplicarmos em nossos layouts as cores, pois
cada elemento deve ser usado com uma consciência de sua força a composição. Uma vez que sei quais são os públicos
que mais utilizam o vermelho, por que não abusar de sua força simbólica?

Estamos tratando as cores como elementos visuais dotados de significados e simbolismos. Na série Get Down, uma
das produções mais importantes sobre o hip hop nos anos de 1980, e que também teve uma grande relevâncias nas
produções Netflix, há um personagem idolatrado pelos jovens que o perseguem no desejo de serem o que ele é. O
principal elemento simbólico deste personagem é um tênis vermelho, de uma marca famosa, que se tornou seu traço
de criatividade. Vale a pena conferir a série pela direção de arte, aspectos históricos, música e especialmente o
roteiro.
Cores primárias: amarelo
Agora nos resta conversarmos sobre nossa última cor primária, o amarelo. Se você foi criado na cultura do fastfood, com
certeza ao ler primeiro sobre o vermelho apenas de ouvir a palavra amarelo já soou uma voz dentro de você dizendo:
McDonald’s. E, se você for sonoro como nós, na mesma hora já disparou o jingle: dois hambúrgueres, alface, queijo,
molho especial, cebola, picles, num pão com gergelim, é big mac.

Brincadeiras a parte, o amarelo é de fato a cor ligada a velocidade, a agitação, a energia que não para, mas está em
movimento. É interessante que assim como todas as cores intensas e que vibram os jovens não se agradam tanto, mas
com o envelhecer os mais velhos acabam apreciando-as bem mais. Ela é uma cor tão contraditória que na pesquisa de
Eva Heller (2013, p. 85), praticamente 7% dos entrevistados a indicaram como a cor mais amada e a mesma proporção
como a mais odiada.

Na Teoria da Cor o amarelo é visto como instável, pois apenas um pouco de outras cores ele se transforma rapidamente.
Com um pingo de vermelho, o laranja. Um tapa de azul, o verde. Ele é claro na proximidade com a maioria das cores, mas
em fundo escuro é berrante. Eita cor contraditória! Por isso seu uso é tão variado e díspar. Vale uma atenção especial
para o fato de ser a cor do Sol e do ouro, duas referências de grandeza (Idem, p.85).
Seção 3
Verde, laranja e violeta
Link 4 – Cores secundárias
Agora que já compreendemos a força das cores primárias, entraremos nas secundárias que são formadas a partir as cores-base.
O mesmo princípio de adição de branco para dar mais brilho, de preto para escurecer e de cinza tornando-as mais sujas podem
ser aplicadas a elas, mudando o valor e o contraste, como já vimos anteriormente.
A primeira cor que trabalharemos é o verde, combinação entre o amarelo e o azul. Em nossa cultura é um matiz que tem muita
força, afinal constitui grande parte de nossa bandeira e representa as grandes áreas verdes que temos em nosso país. Para os
paulistas, sem querer acabamos ligando ao time de futebol Palmeiras, e mais ao norte, ao Goiás. E, atualmente, com o
aumento elevado da relevância das questões alimentares e ambientais, é a cor que representa a natureza, o amor ao rural e a
fuga aos meios tecnológicos. Como tal, está sempre conversando a noção de Renascimento, de esperança, de surgimento de
algo novo e intenso.
Nos estudos da Psicologia da Cor (HELLER, 2013, p.105) é uma das matizes mais amadas entre homens e mulheres, e vai sendo
mais apreciado ao longo da vida. Interessante que os homens mais velhos colocam que quanto mais forte e brilhante o tom do
verde, mais eles gostam, enquanto que os jovens preferem os tons mais próximos ao cinza. Ele é praticamente uma cor com
caráter de neutralidade, pois quando está entre o azul, matiz de base, torna-se contagiante, alegre e positivo. Já entre o preto e
violeta transmite algo negativo, ligado ao sentimentos de maldade e dominação. O verde não é nem bom e nem ruim, sua
personalidade mudará no contexto em que estiver inserido.
Cores secundárias: laranja
Já quando consideramos a importância da memorização das cores em suas aplicações mercadológicas, o laranja, na verdade todas as

secundárias, ganham uma importância bem relevante, pois ficam marcadas no inconsciente das pessoas com mais facilidade, como

nos mostra Farina (2006):

algumas cores que possuem grau de contraste com suas congêneres apresentam, às vezes certa memorização. É o caso de letras

e formas em azul, mas não essa cor como fundo, como também a cor amarela em si, fácil de memorizar, com exceção dessa cor

aplicada a formas, resultando fraca. O laranja e o violeta são mais fáceis de memorizar, assim também o vermelho bem próximo

do violeta, mas bem menos o verde. (FARINA; PEREZ; BASTOS, 2006, p.94).
Cores secundárias: laranja
Já o laranja, também conhecido como cor secundária formada da mistura do amarelo com o vermelho, a rejeição é um pouco maior.

A autora nos conta que esta matiz é subvalorizada em nosso subjetivo, não transmitindo uma forte personalidade, contudo tende a

transmitir sentimentos mais amenos, com menos intensidade. Ela pode ser doce e cítrica ao mesmo tempo, exatamente como a fruta

de mesmo codinome, por isso a ideia de que ela é exótica.

Ressaltamos que há sempre estudos em mercados para compreender o relacionamento de consumidores com os pontos de venda,

assim conseguimos verificar se um determinado elemento visual, como formas e cores, estão tendo a saída desejada e o apelo

esperado em grupos focais diferentes. Sabemos que para cada faixa etária, estilo de vida, gênero etc. possuem desejos e fatores

subjetivos relativos, que vão se adequando ao longo do tempo.


Cores secundárias: violeta
Agora nos resta aprofundarmos no estudo do violeta, que é a última cor secundária que não citamos ainda, mas que para Farina

(2006) tem sua natureza aproximada ao vermelho, cor de intensidade e vibração, por sua facilidade de ser gravada em nossa

memória afetiva. Interessante que é uma das cores que está em alta, especialmente no mercado infantil com o retorno dos

unicórnios e sereias, que são seres míticos. Também, por uma confluência de fatores, como o crescimento do mercado consumidor

infantil e dos artesanatos, a indústria de tintas Pantone a elegeu a cor de 2018 o Ultra Violet. Veja o vídeo de divulgação:

E, em nossa opinião, o mais sintomático do uso da cor violeta e de sua variação de brilho e valor, é que nos últimos cinco anos,

tempo expressivo para a indústria da moda e do design, além do uso do Ultra Violet ainda a Pantone lançou em 2016 o Serenity, na

mesma paleta tonal, como vemos no curtíssimo vídeo de divulgação. O lilás, uma variação do roxo, é considerada entre outras

coisas uma das cores mais fortes entre o universo LBGTQI+, por ter a ambiguidade de uma cor feminina e masculina, suave e forte,

fácil de gravar, contudo sem perder a docilidade.


Para Eva Heller (2013, p.193), o lilás e o violeta são as cores que menos aparecem na

natureza, são bem raras, contudo sua etimologia se aproxima do vocábulo violência.

Enquanto nas flores sua associação são os tons mais claros e suaves, na sociedade ele

está aproximado à agressividade, aos hematomas. E como memória emocional que

trazemos conosco desde a Antiguidade, violeta tornou-se a cor do poder, seja pela força

ou não.
Seção 4
Branco, preto e Cinza
Seção 4 – Branco, preto e cinza
O branco é a cor da placidez, da perfeição e harmonia. Para a maioria dos teóricos é a cor da que não traz em si

nenhuma característica negativa, pelo contrário, é de extrema polidez e verdade. Para alguns não é nem

considerada cor, e estão certos quando nos referimos as cores luz, mas nas cores pigmentos é mais um matiz. Para

a religião judaico-cristã, o Verbo disse: “Que faça luz”. E o branco se abre para todos. A pomba era branca, o manto

também. Simbologias diversas que derivam e retornam sempre a noção de perfeição. Para a cultura chinesa, o

branco é a cor do brilho e da riqueza, como se fosse o ouro ocidental, contudo também consta como a cor da

morte, usada predominantemente em funerais.


A Gramática das Cores em Wittgenstein
A trama das oposições não é menos notável. Faz parte da descrição do ver normal que jamais vejamos brancos transparentes, ou seja, o bra
seria em essência não transparente, com o que a identidade da cor mostra sua indeterminação e instauram-se dessemelhanças nesse sistem
elementar de parentesco. Essa indeterminação é sintomática, denuncia a heterogeneidade dos jogos e a diferença das cores de acordo com
Há cores que não ocorrem em certos meios, há cores que não se combinam com outras propriedades também descritivas do campo visual,
absurda a combinação do branco com a transparência como o seria com o sabor azedo ou o som agudo. O branco é sempre opaco, enquan
ser transparente um vidro verde. (Cf. Wittgenstein, 1999, I, § 17.)

Temos aqui um desafio à própria noção de identidade das cores, evidenciando-se que, conceitual, não pode ser garantida com independên
um específico método de comparação, variável este conforme ao contexto. (Cf. Wittgenstein, 1999, III, §§ 262-265.) Caso contrário, como já
estaríamos em uma situação aporética. Há então critérios de identidade cromática e assim proposições gramaticais sobre cores além daque
postos auf der Palette? Sem dúvida. O desafio está em descrever o tecido por que se tramam relações internas quando não há restrição pré
emprego das palavras que ainda aceitamos como equivalentes a nossos conceitos de cor, porquanto “tão-só na ligação / com outras torna-s
[uma mancha aproximadamente monocromática] um pedaço de céu azul, uma sombra, um brilho, transparente ou não transparente, etc. /
outras nós a vemos como um pedaço de céu azul, como uma sombra, um brilho, como transparente ou não-transparente, etc.//”
Cinza é uma cor sem força, neutra e sem vida. Não é forte como o preto, e nem passa despercebido como
o branco. Não chega nem lá e nem cá. Meio do caminho. O cinza parece um branco sujo, ou um preto
sem vida. Fraco demais para ser considerado masculino, e forte demais para ter a leveza da feminilidade
e infância. Tudo nele é vago, sendo neutro para todas as situações (HELLER, 2013).

Para Rambauske, ao analisar as cores para a aplicação no design de interior, conclui que o cinza é a cor
que une extremos, branco e preto, e com isso é uma cor que dá a sensação de já estar consumida.
Também, é uma experiência humana dual, entre mais as nuvens as sombras em dias de chuva, algo
produzido pela natureza, com a experimentação das grandes cidades, onde se vê menos o céu, o maciço,
o mecânico e o metálico dos edifícios. As oficinas e a maquinaria pesada, converteram o cinza na cor dos
negócios e da indústria, da cor da guerra por meio dos canhões, aviões e navios.
E na última polaridade, o preto. Cor da guerra e da morte no mundo ocidental. Cor da elegância e da maldade. Oposto da pureza branca,
falta de luz. Questionado sempre se é cor. Nas pesquisas de Dondis (2013, p.232) a indagação aparece a todos os públicos, e a autora
resume suas respostas:

Van Gogh, artista que superou a falta de conteúdo do impressionismo, e que foi um dos primeiros expressionistas, teve o mesmo problema
com a cor preta. Seu irmão, o único a acreditar em sua pintura, escreveu-lhe dizendo que ele não deveria utilizar o preto. Van Gogh lhe
respondeu: “Não, o preto e o branco têm a sua razão e a sua importância, e quem os deixa de lado não se sai bem.” Para ele, o preto das
cores das tintas não era suficientemente escuro; ele costumava produzir um preto mais intenso misturando-o com índigo, terra Siena, azul
da Prússia e Siena queimado.
“Quando ouço as pessoas dizerem que, na natureza, o preto não existe, respondo que, se for assim, nas
cores também não existe o preto.” E ele perguntava a seu irmão: “Será que você mesmo entende,
realmente, o que quer dizer quando fala em ‘não se utilizar o preto’? Sabe o que quer dizer com isso?” Estas
perguntas deveriam ser feitas a todos, ele dizia, que alegam que o preto não é uma cor. À pergunta teórica:
“O preto é uma cor?”, resta como resposta teórica: o preto é uma cor sem cor.

É a cor mais favorita no círculo cromático pela grande maioria dos entrevistados, especialmente os jovens.
Na visão comercial, culturalmente não o utilizamos para crianças e nem para os mais velhos, pois em ambos
os casos pode significar a morte ou a violência. Por ser uma cor sem cor, é uma ótima base para criar
contraste com a maioria das demais cores e uma figura branca no fundo desta cor chega a ser gritante.
Contraste e base, ótimas definições para suas relações compositivas.
Seção 5 – Demais cores
Demos um foco específico nas cores primárias e secundárias por sua importância na formação das demais matizes e de suas
nuances, contudo cada uma delas possui uma importância grande na construção das imagens e possuem significados
próprios. Óbvio, que como tudo nas relações cromáticas elas são relativas ao contexto na qual estão inseridas. A composição
transmite uma mensagem única, composta por todos os elementos visuais, como as cores. Vamos conhecê-las um pouco
mais?

Rosa - é a menos preferida entre os homens, afinal ainda estamos em uma sociedade que o associa com o universo feminino
e infantil, e no fundo eles se recusam a conhecer com profundidade seus tons e usos. Há um certo preconceito com o rosa,
afinal os homens não a reconhecem como possibilidade e as mulheres, em sua maioria, se negam a aceitá-la como matiz que
representa o universo feminino (Idem, p.211). Na percepção geral, acaba sendo considerado uma cor dos fracos, pois não
tem nem a força do vermelho e nem a memorização do roxo, porém, por outro lado, é considerado o tom da amabilidade e
do charme, da sensibilidade e da delicadeza. Ótimo para o mercado infantil e de doces.
Ouro ou dourado - é a cor da riqueza, do lucro, do estar rico em algum aspecto da vida. Não é preferido por
homens e apenas 1% das mulheres o acham representativo de valores, contudo é inegável para os públicos
que transmite uma beleza tradicional, de raiz (Idem, p.225). Apesar de em sua representação acabar sendo
colocado como amarelo, ele tem um ganho maior, uma associação potencializada ao luxo. Atualmente,
consideramos uma gama interessante de ouro, especialmente na moda e nos acessórios, pois está em foco o
ouro amarelo, ouro vermelho, ouro branco e ouro verde.
Prata - Apenas 1% dos homens o citaram enquanto cor predileta, enquanto que nenhum
mulher lembrou do prata enquanto cor favorita (Idem, p.243). É interessante que sempre
está ligada ao segundo lugar, não tem o valor e a riqueza do ouro, e nem mesmo a força
tonal do amarelo, afinal no círculo das cores está mais próximo do cinza, cor praticamente
neutra. Nos relacionamentos, é o meio do caminho, 25 anos, mas não é o ponto mais
forte, as bodas de ouro. É uma cor no meio do caminho, sem tanta força e potencialidade.
Segundo lugar, sempre.
Marrom - Opostamente a cores como o vermelho, que nos públicos jovens é mais rejeitado e vai sendo
mais aceito pelos mais velhos, o marrom não é aceito pelos jovens, sendo sempre atribuído a públicos
idosos. Acaba sendo muito usado juntamente com o verde para transmitir ao natural, como a terra e as
árvores. É uma cor com tantas particularidades que vale a pena voltarmos nas palavras de Eva Heller (idem,
p.255) para compreendê-lo:
Em teoria, justamente quanto ao marrom seria adequada a pergunta: o marrom é uma cor? Na verdade,
não. O marrom resulta da mistura de todas as cores: misture-se o vermelho e o verde, teremos marrom;
violeta com amarelo, novamente marrom; azul com laranja, lá está outra vez o marrom. E caso se combine
qualquer outra cor com o preto, teremos novamente o marrom. O marrom é mais propriamente uma
mistura de cores do que uma cor. Entretanto, em sentido psicológico, o marrom indubitavelmente é uma
cor, pois tem uma simbologia própria, não é igual nenhuma das outras cores. A maioria dos conceitos
encarados como “tipicamente marrons” são empregados de maneira negativa.
Referências bibliográficas:

• DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
• FARINA, Modesto. Psicodinâmica das cores em comunicação. 4. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1990. 231p.
• ________; PEREZ, Clotilde; BASTOS, Dorinho. Psicodinâmica das cores em comunicação. 5. ed. ver. e ampl. São
Paulo: Edgard Blücher, 2006. 173p.
• HELLER, Eva. A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão. São Paulo: Editora GG, 2013.
• MUNARI, Bruno. Design e Comunicação Visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
• SILVA, João Carlos Salles Pires da. A gramática das cores em Wittgenstein. Campinas : UNICAMP, Centro de Lógica,
Epistemologia e História da Ciência, 2002, p.383
• VAZ, Adriana e SILVA, Rossano. Fundamentos da Linguagem Visual. São Paulo: Intersaberes, 2016.
Unidade 4
Sequencialidade, movimentos e
aplicações
Objetivos Seções
Ao término dos estudos propostos nesta Unidade, você
deverá estar apto a: Seção 1- Ritmos e sequencias visuais
1. Compreender tecnicamente como o movimento é Seção 2 - Contando histórias visuais
construído dentro da linguagem visual. Seção 3 - História em quadrinhos
2. Desenvolver o repertório visual para, posteriormente, Seção 4 - Animação
criar animações e layouts adequados aos briefings Seção 5 - Considerações finais
recebidos do cliente.
3. Compreender e aplicar a noção de público-alvo em
projetos de animação e web.
4. Criar peças gráficas que trazem a noção de
sequencialidade com o objetivo de atingir o público-alvo
escolhido.
5. Saber finalizar um projeto e entregá-lo ao cliente dentro
do formato solicitado.
Nas primeiras unidades, pudemos entender a estrutura básica da comunicação visual, adentrando o universo das formas, da
aplicação das formas para criar estratégias visuais e das cores como elementos dotados de significados, que geram significações
diversas aos olhares. Temos significados individuais e coletivos, subjetivos e sociais. Em meio a essa sopa de elementos, nós
profissionais, somos convidados a fazermos as melhores escolhas para transmitir as mensagens de maneira correta e coerente.

Tentamos promover um ambiente recheado de referências visuais, diríamos que o recheio até transbordou pelas bordas de tantas
coisas que conversamos na Unidade 3. Você passou pelos clássicos do design e construiu uma galeria de conhecimentos visuais
estáticos. Agora, como parte do processo de crescimento, entraremos no último tópico da disciplina, como montar sentidos com
imagens em movimento. Vamos falar de histórias visuais que são contadas para chamar atenção do público. Neste momento, te
convido para mais uma aventura! Bem-vindo!
Seção 1

Ritmos e sequências visuais


O start inicial que temos para falar de ritmo em linguagem visual é perceber que todo o movimento, em qualquer área da vida,
se concretiza em um determinado espaço de tempo. Vamos pensar que se fossemos montar uma linha do tempo sequencial de
nossas vidas, possivelmente falaríamos de nosso nascimento, de nossa infância, de nossa adolescência e aí por diante. Contudo,
quando chegássemos perto de nossas vivências atuais, teríamos dificuldade em narrar de maneira simplificada, pois como
estamos vivendo esse momento temos muitos mais dados para colocar na narrativa.
Muitas vezes não percebemos nem a noção de movimento, mas o que está nos dando um sentido de movimento, de
sequencialidade e de um acontecimento após o outro, é o tempo e nossa experimentação dele. Pense, neste momento
você deve estar ansioso com a quantidade de coisas que tem a fazer, inclusive do curso, e quando olha para o relógio
percebe que o tempo está passando, talvez acelerado, mas não se dá conta dos movimentos que envolvem este tic-tac
da vida.
E, como já estudamos a Lei da Relatividade, sabemos que quando pensamos em tempo estamos falando diretamente de
espaço, afinal os dois estão entrelaçados em um mesmo novelo de lã.
Na linguagem visual, temos inúmeros artistas que nos
inspiram a pensar em seus movimentos, que são em vários
momentos sequências de imagens bidimensionais e em
outras, de fato, tridimensionais. Alguns trabalham
diretamente com o movimento de imagens no tempo, como
nos filmes e nas animações, outros transmitem esse
conceito na ação de seus corpos, e ainda há aqueles que o
simulam pela maneira de trabalhar com seus pincéis. São
maneiras diferentes de transmitir o mesmo conceito.
Você já conheceu muitos artistas e designers que trabalharam com o movimento enquanto técnica visual, lembra da gramática
visual aprendida nas Unidades 2 e 3? Por isso, neste momento, não gostaríamos de te encher com mil novos repertórios, mas
vamos salientar alguns trabalhos que foram importantes neste sentido. VAZ e SILVA (2016, p.246), ao falarem sobre o tema,
gostam de trabalhar com o Jackson Pollock, pois o artista conseguiu usar seu próprio corpo para criar a noção de gestualidade e
dinâmica.
Nas palavras da estudiosa, ao estudar sobre o movimento, gosta de pensar em coisas (objetos) e acontecimentos (ações), pois
uma variável está interdependente da outra. Veja:

“(...) usando o exemplo de uma rodoviária: a edificação em si é uma coisa, já a chegada de um ônibus é um
acontecimento. A ideia básica desse exemplo é que podemos perceber a rodoviária, ou neste caso a construção, como
uma unidade estável, enquanto a partida e a chegada dos ônibus é vista como uma ação, pois a visita de alguém se
torna um acontecimento. Assim entendemos à passagem do tempo como algo físico, mas o tempo também tem o
significado subjetivo: quando uma pessoa está ausente por muito tempo, sua chegada se torna um acontecimento
importante para quem a espera. ” ( VAZ e SILVA, 2016, p.250)
Bem, vamos pensar juntos, a rodoviária está parada (objeto), o ônibus chegou (acontecimento), mas quem percebeu
toda a situação foram os seres humanos com sua capacidade de percepção do ambiente que os rodeia. Ampliando a
análise, se uma senhora está na plataforma esperando o seu filho quais são seus sentimentos? Ansiedade? Saudade?
E uma jovem que espera seu noivo? E a criança que está passando as férias com a avó? E vamos além, e a pomba que
sobrevoa a cena? E o cachorro que dorme tranquilo? Conseguem perceber que o movimento está extremamente
relacionado com os sentimentos/sensações de quem o vive.
Ao nos depararmos com uma fotografia que representa a cena de uma tarde comum em uma rodoviária, veremos
uma imagem estática. Nossa mente buscará experiências passadas vividas por nós para dar um sentido aquilo que
vemos. Utilizaremos a nossa memória para interpretar a cena. Já em um filme, cuja narrativa é contada em
movimento, uma sequência de ações, os significados são construídos exatamente aí, na maneira com que uma ação
desenrola a segunda e assim consecutivamente. No quadro, tudo está constituído na memória, numa
animação/vídeo a construção está na sequência.
Na linguagem visual, podemos pensar o ritmo de diversas formas, como na animação e nos vídeos, contudo como
estes tópicos serão trabalhados ao longo das demais disciplinas, gostaríamos de apresentar o ritmo constituído por
elementos visuais estáticos. Para tal, utilizaremos as denominações levantadas por VAZ e SILVA (2016, p.227) quando
analisaram algumas figuras, são eles:

Ritmo por repetição simples


Seção 2

Contando histórias visuais


Will Eisner costumava usar a expressão narrativas visuais para expressar a sequência gráfica de fatos que contavam
uma história ou transmitir uma informação. Ele foi o grande autor e pensador sobre as histórias em quadrinhos e
como o tamanho e a disposição dos quadros, também pensados enquanto cenas, compunham a narrativa. Cada parte
da história tem uma importância e está interligada às demais informações transmitidas, sejam textuais ou verbais.
De forma geral, estamos acostumados a pensar os quadros sequenciais dentro das HQ's, mas raramente os vemos
como parte da narração de uma história como um todo. Gosto de refletir na mesma direção que a professora Carolina
Vigna quando pela propõe que a influência dos quadrinhos no cinema é tão grande que no filme Pulp Fiction (1994), de
Quentin Tarantino (1963), os recortes das cenas são feitos de maneira idêntica. Por sinal, você sabe que o nome do
filme vem das Revistas Pulp, muito populares nas décadas de 1950 e 1960, cuja temática era sempre a violência na
representação gráfica. Sem dúvida, como tudo feito pelo diretor, está recheado de humor e sarcasmo, dando uma
acidez incrível às cenas de luta. Vamos conferir?
Minha intenção não é decupar quadro a quadro, mas veja como a cena da luta é configurada, misturando planos
abertos, na qual o cenário aparece, com planos detalhes, mostrando o que para o diretor é importante da narrativa.
Caso quiséssemos fazer o exercício: como dividiríamos cada cena em um quadro? Alguns deles seriam maiores, pois a
sequência é mais longa, outras seriam pequenos detalhes, talvez ocupando espaços bem menores. A estratégia visual
seria um jogo interessante para narrar uma das histórias mais premiadas de nossa história.
TOLEDO e ANDRADE (2007) propõem um olhar interessante para o cinema inspirado pelo HQ. Vejamos:
“Assim sendo, o desenho traz aos quadrinhos, sempre que possível, a síntese, apenas o necessário para a
compreensão da cena, com o mínimo de ruído. O cinema se utiliza não de desenhos dispostos em uma página,
como os quadrinhos, mas da imagem fotográfica justaposta, exibida sequencialmente a uma velocidade de
projeção de vinte e quatro fotos (ou fotogramas) por segundo, de forma a criar a ilusão de movimento. Ainda que
se queira “resumir” elementos em uma representação cinematográfica, a situação é dificultada, já que seria
necessário escondê-los ao invés de escolher inseri-los. Um set de filmagem ou um cenário tem características
presentes independentemente da vontade do autor, o que não acontece quando se desenha para os quadrinhos, já
que os elementos indesejados meramente não serão inseridos, ao passo que em uma filmagem estes precisarão
ser disfarçados, escondidos ou removidos.” (TOLEDO e ANDRADE, 2007, p.2 ).
Óbvio que, quando o quadrinista está desenhando, ele consegue ter muito mais autoridade e controle do que quando
está criando. No cinema, pela estrutura e quantidade de profissionais envolvidos, este olhar acaba sendo muito mais
frágil.. O diretor tem que ter um domínio gigante do que está acontecendo para conseguir cortes interessantes que
deixem o mínimo possível de informações extras. Cada mínimo detalhe pode se tornar um ruído, uma estrutura que
atrapalha na leitura do todo, enquanto que no HQ só é colocado exatamente o dado que ajuda a compor melhor a
narrativa.
Um filme que sempre ficamos imaginando como seria decupar quadro a quadro é Psicose (1960), especialmente pela
cena clássica da morte da artista no banho. Alfred Hitchcock consegue criar um suspense muito interessante usando
detalhes e cortes expressivos e vorazes para compor o clima de horror.
Em apenas uma cena, quantos cortes identificamos? Será que encontramos ruídos de informações? Tem algo a mais
que atrapalha no entendimento da mensagem? O que poderíamos cortar desse trecho? Particularmente, achamos o
trecho genial e limpo, sem nenhum elemento a mais que faça a nossa atenção se dispersar em meio ao horror da cena.
Ao contrário de Tarantino, que sempre procura dar um toque de ironia e humor às cenas mais grotescas, Hitchcock não
brinca em serviço, faz o contexto nos petrificar. Nenhuma dispersão, apenas assistimos fixos.
Por último, já pensou que a série Bates Motel (2013) foi baseada em Psicose, contudo, a cena principal da morte foi
alterada. Por que será? Não temos a resposta, porém no original é uma moça que morre, objeto de paixão do
personagem principal, já na série a narrativa se deu na morte da mãe, no caso Norma, mãe de Norman Bates. Em
ambos, a figura da mãe é sempre sugestionada deixando um quê de responsabilidade dessa figura na formação doentia
do protagonista.
Vemos que em todos os momentos procuramos trazer inúmeras
referências visuais, pois como produtores multimídia temos que ter
parâmetros do que já foi feito ao longo da história para podermos
criar dando saltos de criação. Motel Bates foi uma dessas séries que
vieram do nada, sem que ninguém esperasse e acabou sendo um
marcador de criação inusitada. E aí, qual será o seu salto conceitual?
Seção 3

História em Quadrinhos
Uma vez que já entramos em Quentin Tarantino, nosso ídolo da transmutação
dos quadrinhos para o cinema, vamos dar continuidade com ele. É impossível
estudar sentidos na telona sem passar por Tarantino, afinal o diretor é o gênio
da construção das narrativas com cortes inúmeros e das cenas com detalhes
inusitados.

Um dos filmes mais expressivos de Tarantino, especialmente por trabalhar


nessa mudança de linguagens visuais, cinema versus quadrinhos, foi o Kill Bill 1
(2003). Pelo tamanho da obra, quase quatro horas intensas e cheias de
detalhes, a saga acabou sendo dividida em duas partes, Kill Bill 1 (2003) e Kill
Bill 2 (2004), que são continuidade de uma mesma sequência.
Na história, a noiva, protagonizada por Uma Thurman - lindíssima e genial como sempre - é uma assassina perigosa e sem
escrúpulos que trabalhava em grupo, composto apenas por mulheres, porém com um único homem no ninho, Bill, o líder
da matilha Esquadrão Assassino de Víboras Mortais. Na história, ela se descobre grávida e decide fugir do mundo da
violência para criar a criança, contudo, como a vida sempre nos dá umas rasteiras, no dia de seu casamento, seus antigos
companheiros de trabalho resolvem se vingar, tramando para matá-la. Ela acaba entre a vida e a morte, em coma, e fica
cinco anos nesta condição. Os demais continuam vivendo suas vidas sem saber que ela poderia retornar. Pois bem, quando
a personagem sai desta condição hospitalar resolve se vingar de sua antiga quadrilha.
Para a construção da narrativa, Tarantino assume
publicamente que buscou várias referências para
que a história tivesse uma força visual e de roteiro.
O filme é um clássico de vingança composto por
homenagens inúmeras aos antigos filmes asiáticos
de luta, como os de kung fu e samurais, aos
western italianos, aos trash dos anos 1970 e 1980,
à cultura pop, e sem dúvida alguma, à violência
deliberada e sem porquês.
E ainda, no hall das referências, podemos
citar mais alguns aspectos importantes
como o fato de o filme ter uma lista de
pessoas a serem vingadas exatamente como
no filme japonês Lady Snowblood (1973); o
enredo ter lá suas semelhanças com a A
noiva estava de preto (1968), de François
Truffaut; e, por fim, a influência da série
japonesa de mangás Lobo Solitário e Filhote
(1970-1976), a qual serviu de inspiração
para as personagens assassinas.
Por último, gostaria de lançar um desafio, perceber
como o cartaz do filme é constituído. Por que será o uso
do amarelo com uma faixa preta? A linha corta o cartaz
de cima a baixo, será que é uma referência à sombra e
luz? À porta? Ao interno e externo?
Muitas vezes, ao observarmos as peças gráficas, não paramos para notar e tentar decifrar os signos que estão em
questão. Na sessão sobre cores vimos como o amarelo é energético e cheio de vida, transmitindo movimento. O
preto é uma cor compositiva que sempre traz um toque de negativo, de submundo. A arte constituída por essa
mistura tonal traz em si uma série de dicas sobre o tema tratado pelo filme. Costumo falar com os meus alunos que
temos que traduzir coesão nas peças gráficas, tendo tomar a mesma direção tonal, compositiva e de escolha de
imagens, direção de arte. Nada é solto e por acaso, mas deve formar um universo único e significativo.
Seção 4

Animação
Para falar de animação nada mais justo e gostoso do que entrar nas
animações “Brazucas”, pois já estamos cansados de ouvir sobre as
brigas eternas entre os fãs de DC e Marvel. Nosso Brasilzão tem mil
coisas bacanas acontecendo e basta parar um pouco e olhar com
atenção para perceber o tanto de produções audiovisuais que
temos lançado.
Consta que, em territórios brasileiros, a primeira animação foi
feita em 1917, quando Álvaro Marins lançou o seu desenho O
Kaiser, totalmente produzido por aqui sem a necessidade de
profissionais internacionais. A narrativa contava, com muito
humor, a história de Guilherme II, imperador alemão. Segundo
Giulia Zardo (2017), Infelizmente o filme não foi
adequadamente conservado e acabou se perdendo para
sempre, restando apenas um único fotograma.
Em seguida, vieram novas animações como Traquinices de Chiquinho e seu
Inseparável amigo Jagunço – 1917, baseado nos quadrinhos Tico-Tico, As
Aventuras e Bille e Bolle -1918, por Gilberto Rossi e animado por Eugênio
Fonseca Filho, (inspirados em Mutt e Jeff de Budd Fisher) e Macaco Feio e
Macaco Bonito-1929 de Luiz Sell e João Stamato. Inspirados pelas animações
americanas de 1930, o artista Luiz Sá, que já era conhecido por desenhar na
revista o Tico Tico, decidiu formar uma série de animações.
“Entre suas tentativas, encontra-se As Aventuras de Virgulino, Bolão e Azeitona, e
Reco-Reco, inspirados em personagens como o Gato Felix e Mickey Mouse. Tinha
planos para se comunicar e criar projetos com Walt Disney, porém foi impedido
em virtude de uma Lei na época do mandado de Getúlio Vargas. Ironicamente,
mais tarde e em virtude da ‘política de boa vizinhança’ (1939-1945) firmada entre
os Estados Unidos e o Brasil de Getúlio Vargas, Walt Disney fez uma visita a
terras brasileiras, onde estreou seus trabalhos como Aquarela do Brasil e Los Três
Amigos, em Zé Carioca mostra o país tropical ao personagem Pato Donald.”
(ZARDO, 2017, p.18)
Interessante que, mesmo numa época em que a principal influência
brasileira era europeia, na área audiovisual nossos olhares se
voltavam para os EUA, especialmente no que estava sendo
produzido pela Disney. Também, sempre lidamos com muito humor
em nossas criações, mostrando a relação com a nossa cultura, que é
bastante leve e descontraída. Além disso, e esta é uma das partes
que mais gostamos, o Brasil foi usando de suas criações para afirmar
a identidade nacional, como em 1951, com o nosso primeiro longa-
metragem denominado Sinfonia Amazônica, de Anélio Latini Filho,
que desde aquele momento abordava questões sobre a preservação
de nosso território e as diferenças dos povos indígenas .
Inusitado que estamos falando de tantas questões nacionais em nossos noticiários e perdemos a dimensão de como eles foram
e são importantes para nossa história cultural, como a Petrobrás que raramente conseguimos associar a um percurso que vem
desde da década de 1960 como uma das principais financiadoras de animação e de cinema no Brasil.

Não é uma política cultural recente, pelo contrário, foi ela que financiou um dos nossos primeiros curtas coloridos chamado de
Um Rei Fabuloso, de Wilson Pinto.
Naquela época, as animações ganharam as telas publicitárias e começaram a ser trabalhadas como uma linguagem prestigiosa, que
dá voz aos mascotes que representam as grandes marcas. Vamos nos lembrar de alguns deles?

Barata do Elefante
Gotinha da Esso O homem azul dos O famoso
inseticida Rodox
Jotalhão da cotonetes Johnson frango da Sadia
Cica
Entre muitos outros personagens que vão surgindo e
fazendo a equipe nacional de publicitários ganharem
prêmios internacionais importantes, como Cannes, na
década de 1970, um ilustrador cria uma família bem
brasileira e muito apreciada pelo público por sua
verossimilhança com o nosso jeitinho de viver: a Turma
de Mônica. Talvez este seja o nosso maior case de
sucesso na área de história em quadrinhos, que acabou
virando um case de sucesso na área de animação, que,
por sua vez, se tornou um case de sucesso na área de
licenciamento de marcas. Somos internacionalmente
conhecidos pela baixinha dentuça e sua turma cheia de
confusão.
De lá para cá, muita coisa foi sendo criada no Brasil, especialmente com
o avanço das televisões pagas, como Discovery Kids, Cartoon Network e
TV Brasil. Dentre as novas séries de animação, entre 2010-2016,
destacam-se como; Peixonauta, Historietas Assombradas – para
Crianças Malcriadas, Sítio do Pica-pau Amarelo, Irmão do Jorel, Zica e
os Camaleões, Gemini 8, o Show da Luna, e The Under-Underground.
Filmes contam Brasil Animado – 2011, por Mariana Caltabiano, Brichos-
A Floresta é Nossa – 2012, a sequência de Bichos – Uma História de
Amor e Fúria – 2013, O Menino e o Mundo – 2014, foram recebidos no
exterior e As Aventuras do Avião Vermelho - 2014, que foi uma
adaptação cinematográfica da literatura infantil de Érico Veríssimo.
Algumas animações independentes também vieram a conquistar fama
na internet, como a Youtuber fictícia "Any Malu", da websérie O Surreal
Mundo de Any Malu, produzido pelo Combo Studio. (ZARDO, 2017,
p.25 )
Por último, gostaríamos de ressaltar o Menino e o Mundo (2013), na qual um menino, Cuca, vive em um mundo que não
conseguimos distinguir, mas que revela muito de nosso país. Ele sofre muitíssimo de saudade do pai e também com a
dificuldade de ir trabalhar em uma cidade grande.

O filme não tem diálogos, mas sua composição sonora vai marcando as nuances de sentimentos expressos durante o filme. É
uma mistura de sentimentos entre a tristeza da vida econômica e social destruída, com os sonhos e esperança de uma
criança em busca de ser feliz. Basicamente, ele foi vendido a 80 países diferentes e indicado para o Oscar em 2016.

Para animá-lo a encontrar seu próprio caminho artístico, meu querido aluno, ele foi produzido em diversas técnicas
diferentes, como colagens, giz de cera e computação gráfica. Sem contar que sua produção durou 3 anos, afinal seu diretor,
Alê Abreu, não desistia de fazer com que a história que ele tanto idealizou se tornasse realidade.
Seção 5
Considerações finais
Antes de começar minha formação em design gráfico e perceber a relação entre imagem e som, acreditava
plenamente que o ritmo era marcado, essencialmente, por acontecimentos externos que, de alguma forma, eram
marcadores de tempo e espaço. Pensava no relógio cuco da casa da minha avó que me fazia perder o sono e tentar
descobrir o horário que ele estava anunciando, obviamente nunca acertava. Risos. Achava que era o batuque do
Olodum ou os passos da congada que iam ditando o ritmo bem ressaltado da batida no bumbo ou o saltitar dos pés
que ora alcançam o chão, ora rodopiam ao vento. Com o tempo, após ler um artigo sobre o coração, comecei a
perceber que eu tinha uma bomba dentro de mim que continha um toque forte e um mais fraco, na mesma
sequência e que nunca falhava.
Tudo o que eu percebia como ritmo estava decalcado no áudio, mas eu pouco parava para observar que havia
outros modos de mostrar a sequencialidade que eram tão instigantes e interessantes quanto o que eu recebi por
meio de meus ouvidos. Ao prestar bem a atenção aos ritmos visuais, fui me educando para olhar o mundo ao meu
redor percebendo que alguns padrões de repetições acontecem quase que naturalmente para formatar
mensagens com significados. Sim, temos a capacidade de manipular ritmos diferentes para construir novas formas
de percepção das informações transmitidas.
Nossas agendas contêm ritmos. Nossos cotidianos são ritmados. Nossas obrigações são repetidas. Nossa vida é
uma sequencialidade entre o ato de nascer e o momento de partir. Ir e voltar, permanecer, ir e voltar. Uma coisa
após a outra. Dezesseis imagens projetadas, uma atrás da outra, em um segundo, para animar uma imagem. Eita
vida que tem um batuque infinito.
Mesmo quando falamos em ilusão óptica estamos percebendo um ritmo na imagem que se mexe. Ela engana nossos olhos,
que mandam essa mensagem estranha ao nosso cérebro, que a percebe em movimento. Há quem associe a velocidade do
movimento ao grau de estresse o qual a pessoa está passando, outros falam que isso é besteira que o ritmo está na imagem
e na percepção da pessoa, mas, lá no fundo, esse tipo de imagem mexe muito conosco, pois ficamos nos questionando como
realmente funciona.
Referências bibliográficas

DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

HELLER, Eva. A psicologia das cores: Como as cores afetam a emoção e a razão? São Paulo: Gustavo Gili, 2013.

VAZ, Adriana e SILVA, Rossano. Fundamentos da Linguagem Visual. São Paulo: Intersaberes, 2016.

TOLEDO, Glauco e ANDRADE, William. A Influência dos Quadrinhos no Cinema: A Incrível Saga da Linguagem. XII
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Região Sudeste, 2007.

ZARDO, Giulia. Estudo de caso do processo de criação de animação infantil no Brasil. São Paulo: Centro Universitário
Belas Artes, 2017.
Projeto Integrador Instrumentação II

Profa. Ms. Denise Tangerino

Arquivo PDF provisório (a versão original do e-book interativo


está em processo de revisão, atualização e finalização).

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