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Imagem
Indaial – 2021
2a Edição
Elaboração:
Prof. Jorge Elias Dolzan
D665l
ISBN 978-65-5663-921-5
ISBN Digital 978-65-5663-922-2
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Para iniciar o estudo relacionado à disciplina de Leitura de imagem, é necessária
uma breve contextualização desta temática, tão pertinente aos profissionais que se
ocupam das imagens em suas atuações, seja na educação, no desenvolvimento de
produtos de comunicação ou até mesmo como objetos fim – caso de artistas visuais. A
noção de que vivemos em uma sociedade impregnada de imagens ressalta a importância
de entendê-las como objetos carregados de significados e sentidos, o que contribui
para demonstrar a importância da leitura de imagens na formação inclusive pessoal.
É preciso ter um vasto repertório visual para ter a capacidade de ler imagens, de
maneira que seja possível não só identificar os elementos formadores das imagens, mas
também analisar que tais elementos e como eles estão compostos como propulsores de
sentido no discurso visual oferecido pela imagem que formam. Da mesma maneira que é
preciso entender que existe uma teoria que dá conta dos processos de significação das
linguagens visuais, na qual temos pouca formação em nossa passagem escolar – há um
peso considerável no letramento, mas poucas são as metodologias de ensino escolar que
dão ênfase à linguagem visual. Indiferente da escolha profissional que fazemos, há que
considerar que vivemos em uma sociedade imagética e ter a capacidade de ler imagens
nos faz mais ativos e mais conscientes de nosso papel dentro da sociedade que vivemos.
Cada vez mais nos vemos inseridos em uma sociedade em que as relações
sociais estão pautadas na imagem e na capacidade de comunicação que o mundo visual
(e audiovisual) proporciona. Dentro disso, o entendimento da imagem se torna impactante
à medida que o entendimento de como elas se formam, de quais paradigmas estamos
tratando e de como percebemos e compomos o mundo à nossa volta vem se tornando
ferramenta diferenciadora para o sucesso pessoal e profissional. Em outra perspectiva,
mas referente ao mesmo objeto, vemos que a capacidade de interpretar coerentemente
os elementos de comunicação e a inteligência de darmos sentido ao que queremos
comunicar, tem base operacional na Semiótica – que de forma introdutória pode ser
entendida como a “ciência que estuda os signos”.
O entendimento da semiótica, da imagem como texto visual, somada ao
entendimento de composições visuais tem coerência, mas nos coloca num cenário
complexo e denso em abordagens a serem trabalhadas em uma disciplina. Dessa
forma, além de fazer um recorte dos teóricos, vamos, num primeiro momento, dividir
as temáticas, tratando da semiótica e depois de conceitos relacionados à imagem, para
então, ao final, com base no entendimento dessas duas, dar conta do objetivo geral da
disciplina: desenvolver a capacidade de leitura da imagem e, por que não, de compor
textos visuais.
Essas unidades dão conta de suportar a disciplina Leitura de imagem que tem
como objetivo geral desenvolver a capacidade do discente de analisar e criticar imagens, a
partir do conhecimento e da aplicação de métodos de leitura da imagem. Contextualizando
essa capacidade, na pretensão de proporcionar aos alunos a instrumentalização necessária
ao desenvolvimento de exercícios teóricos e práticos relacionados à semiótica e à leitura
de imagem; promovendo a compreensão de signo a partir do entendimento da semiótica
como ciência base para os processos de leitura e interpretação de imagens artísticas e
literárias; potencializando a postura de leitura crítica de imagens, ampliando o referencial
teórico do discente; da mesma forma sensibilizar e instrumentalizar o discente para a
alfabetização visual permitindo o entendimento do valor da percepção e da imaginação na
leitura de imagens; e potencializar a capacidade analítica e crítica do discente com base
em fundamentos que suportem seus posicionamentos profissionais e desperte o senso
estético e criativo dele.
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a
você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais
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interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse
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para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 61
UNIDADE 2 — A IMAGEM...................................................................................................... 63
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................132
UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL............................................................133
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................189
UNIDADE 1 -
SEMIÓTICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
EFEITOS DE SENTIDO
NO PROCESSO SEMIÓTICO
1 INTRODUÇÃO
Desde sua origem, o ser humano se questiona como as coisas são capazes
de significar outras coisas. Tanto que organizou pensamento para explicar inúmeros
fenômenos naturais, alguns atribuiu às divindades, outros à observação do próprio
fenômeno e, para alguns, utilizou-se de métodos que chamou de ciência. As divindades
gregas, por exemplo, davam conta de explicar fenômenos naturais. A observação do
amanhecer e do anoitecer deu conta de explicar que o sol girava em torno da Terra, que
depois pelo método científico foi reorganizando colocando a Terra como um astro que
gira sobre si mesmo e ao redor do Sol.
3
Essa mesma lógica ocupa as estratégias primeiras de quem assume uma
imagem para expressar alguma coisa. Ao definir uma composição de cores, visa dar
um sentido a sua imagem. Isso vale também para os elementos formais, as texturas,
os enquadramentos. Todavia, diferente do exemplo do time de futebol, os sentidos aqui
deverão ser partilhados por outros – pelos alunos – no caso da educação; pelo expectador
– no caso da comunicação; e pelo mercado – no caso da arte.
INTERESSANTE
A abordagem sobre “sentido” pode se limitar ao entendimento que você tem
do dia a dia. Que tal buscar o conceito do termo “sentido” em um dicionário?
Quanto tem relação com o seu fazer profissional?
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20. Interjeição expressa cautela, advertência, recomendação.
21. Interjeição (Militar – Termo) – voz de comando para chamar a atenção da tropa.
22. São muitos os conceitos, atenção aos de número: 5, 6, 7, 15, 16, 17, 18 e 19; estes
estão mais alinhados com o conceito de “sentido” que é o foco dessa abordagem.
ESTUDOS FUTUROS
O significado de semiose vai aparecer mais à frente. Neste momento, é
interessante considerar que semiose é o processo cognitivo humano, que
ocorre quando elaboramos qualquer raciocínio lógico para interpretar
fenômenos que nos chegam pelos sentidos.
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Ao olharmos para a história, perceberemos o ser humano como sendo um
produtor de sentidos – um bom exemplo disso está na arte, na arquitetura, na própria
indumentária. Cada um em sua época, a partir dos fenômenos vividos, produziu objetos
de acordo com seus contextos – e, em alguns casos, entregaram para a humanidade
documentos capazes de representar (de significar) seu período.
DICA
Escolha uma obra de um artista famoso! Uma pintura, uma escultura, uma
música. Faça uma busca na internet e veja o quanto esta obra representa para
a época em que foi criada – note que ela é capaz de representar uma época!
DICA
Para ajudar nesse entendimento da capacidade de significarmos através
de processos fenomenológicos, assista ao curta de comédia romântica
Signs, de 2008. Apresentado no Schweppes Short Film Festival 2009, o
curta-metragem foi premiado com o Ouro na categoria Cyber, do Cannes
Lions International Advertising Festival, em 2009. Foi dirigido por Patrick
Hughes, estratégia proposta pela agência neozelandesa Publicis Mojo para
a subsidiária do Coca-Cola Group. Foi um dos vídeos mais vistos na Internet
naquele ano. Acesse o link: https://youtu.be/H0QoU59B37E.
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pois muitas coisas passam a ter sentido quando nos permitimos interagir (promover
“atos de troca”) com esta coisa. Mais interessante é que a cada nova interação com
essa mesma coisa, podemos construir novos sentidos. Fica evidente aqui que é a ação
intencional que parece mover esta capacidade de dar sentido.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
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AUTOATIVIDADE
1 Uma forma de exercitar o conteúdo até agora é buscar uma imagem qualquer,
disponível na internet. Aqui, temos uma imagem de uma vitrine, procure tirar dela
algumas afirmações. Qual é o público-alvo da loja? Que tipo de produto vende?
É possível arriscar o valor médio de um produto? Qual seria o diferencial da loja?
Então, aponte quais os elementos da vitrine (da imagem) que deram esses sentidos
para você. Vamos praticar tomando como base uma das vitrines da rede De Fursac.
Baseado nos elementos da vitrine, analise as sentenças a seguir:
I- A primeira coisa: o que é sentido para você é correto, afinal, sentimos coisas
diferentes, o que importa neste momento é que exista lógica.
II- A vitrine da imagem nos declara alguns sentidos: o do público-alvo ser masculino;
vende trajes masculinos, como ternos. Dá para arriscar que a alfaiataria seria um
diferencial; e que os valores colocam a loja como de produtos caros.
III- Os objetos que dão sentido são: os dois manequins masculinos; o traje que cada um
está vestindo; os elementos explodidos que fazem menção à camisaria e acessórios
(caso das gravatas) sugerem alfaiataria; e o conceito clean – minimalista –, cujo estilo
(tantono design, quanto na arquitetura) induz a um determinado perfil de consumidor,
voltado mais para a classe A.
IV- É impossível perceber que uma vitrine é uma peça de comunicação, pois, mesmo
bem trabalhada, ela não dá conta de dizer (declarar) um determinado conteúdo.
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2 O termo “semiose” surge de forma introdutória neste tópico. Ao que foi declarado,
ele tem relação com a noção de dar sentido às coisas. Noção de excelência do ser
humano. Dentro disso, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) O ato ou efeito de dar sentido é exclusivo do ser humano. Nem um outro ser vivo
dá conta disso.
b) ( ) O ser humano somente dá sentido aos fenômenos que lhe chegam pela visão. Ao
ver o homem é um significador por excelência.
c) ( ) O processo de sentir só terá sentido se for sentido.
d) ( ) Sentir é uma abstração e apenas existe no campo das ideias.
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UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
CONCEITOS INTRODUTÓRIOS:
SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA
1 INTRODUÇÃO
Iniciamos o segundo tópico desta unidade. Nela, aprenderemos o que é signo
e como se dá o processo de significação. Contribuiremos para a reflexão acerca da
capacidade humana de interpretar e produzir signos e potencializaremos a capacidade
analítica e crítica de leitura de objetos sígnicos, com base na semiologia (Plano de
expressão e Plano de conteúdo) e na semiótica (Ícone, Índice e Símbolo).
Como já vimos, o ser humano é produtor de sentido por excelência. Sentido que
tem uma variedade de significados e que, neste momento, é importante entendê-lo como
a faculdade de perceber uma modalidade específica de sensações que correspondem
a órgãos determinados. São cinco os sentidos: tato, visão, audição, paladar e olfato;
faculdade de sentir ou perceber, de compreender; senso; como a faculdade de julgar;
bom senso, tino, e como faculdade de captar determinada classe ou grupo de sensações,
estabelecendo um contato intuitivo e imediato com a realidade, e assentando desta
maneira os fundamentos empíricos do processo cognitivo.
Um signo precisa ser percebido por pelo menos um dos nossos sentidos.
Podemos ver (uma forma, uma cor), podemos escutar (um som, uma fala), podemos
cheirar (um perfume, uma fumaça), podemos tocar (uma superfície quente, áspera) ou,
ainda, podemos saborear (um amargor, um cítrico), podemos absorver fenômenos do
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mundo e dar a eles sentidos outros – que passam a significar algo naquele instante.
Quando sentimos o cheiro de fumaça, podemos deduzir que estamos perto do fogo (sem
mesmo ver o fogo) – a fumaça, neste momento, significa fogo. Quando uma imagem nos
passa uma informação, um sentimento. É com isso que a semiótica se ocupa.
Veja que interessante isso no campo imagético: quando uma fotografia quer
expor um conteúdo de liberdade e romance, deve ser capaz de apresentar elementos
formais, cromáticos que consigam representar isso. Que no momento que o expectador
vir a foto, entre em contato com esses conceitos, que estarão evidenciados na foto em
elementos visuais – cada elemento tem papel importante na composição da imagem
para dar conta de significar liberdade e romance – constatamos o quão importante é ter
a semiótica em nossa formação.
A ideia platônica de signo é de que o mundo real não passava de uma imitação
do mundo das ideias. Seu modelo se mostrou triádico com os seguintes componentes:
nome; noção (ou ideia) e coisa (WALTHER-BENSE, 2000). Quando exemplificamos
anteriormente com “maçã”, dá para perceber esse modelo triádico acontecendo – o
nome [“maçã”] fez surgir a noção/a ideia [imagem da maçã na cabeça], que nos leva à
coisa [a fruta].
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Por volta do ano 300 a.C., ainda na Grécia, a abordagem aconteceu em
diferenciar “signos naturais” (aqueles que ocorrem livremente na natureza) dos
“signos convencionais”, aqueles que foram criados para dar conta dos fenômenos de
comunicação (WALTHER-BENSE, 2000).
Essa noção de sentido e capacidade de dar significado aos fenômenos que nos
circulam, como já foi dito, acompanha-nos historicamente. Durante o século XVII, várias
abordagens trouxeram o entendimento sobre esta noção de sentindo que abordamos
aqui, de maneira a dar um nome para ela (WALTHER-BENSE, 2000). Caso do médico Eric
Henry Stubbes que, em 1670, tratando da ideia de sintomas, organizou suas abordagens
nominando-as de “semiótica” – num sentido bem restrito à ciência médica dedicada ao
estudo e a interpretações de sinais patológicos (dentro da lógica que uma dor pode ser
sintoma de uma enfermidade). Vinte anos depois, John Locke usou o mesmo termo em
sua obra o Ensaio acerca do entendimento humano.
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NOTA
Dois termos que apareceram neste momento precisam ser apresentados:
“Linguística”, que é a ciência que tem por objeto: a linguagem humana em
seus aspectos fonético, morfológico, sintático, semântico, social e psicológico;
as línguas consideradas como estrutura; de forma bem grosseira: a língua
escrita; as palavras, e “signo linguístico”, elemento representativo que tem
dois aspectos: o significado e o significante. Exemplo da palavra “maçã”:
quando a escutamos, vem à nossa mente uma imagem do objeto, e não a
palavra (ao escutar a palavra “maçã” é pouco provável que em nossa mente
se construa o “M”, o “A”, o “Ç” e o “A” com “~”, rapidamente visualizamos
a fruta maçã). Aí está a noção de signo, pois um termo linguístico (uma
palavra) é capaz de representar algo em seu lugar.
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O ser humano significa o que lhe é significante. Esta afirmação nos dá a primeira
noção para entendermos a lógica europeia, que, a partir do entendimento das palavras,
elas passam a significar. À medida que vamos aprimorando o nosso vocabulário, vamos
permitindo significar e fazer com que muitas palavras nos sejam significantes, ou seja,
uma palavra tem a capacidade de representar algo em seu lugar, quando escutamos
a palavra “praia”, somos capazes de trazer o conceito que temos de praia – com nossa
vivência de praia. Deixando evidente que se trata de um processo dicotômico: escuto a
palavra e penso em seu conceito.
Toda e qualquer palavra será signo quando este processo dicotômico ocorrer, ou
seja, uma palavra (significante) tem que ter significado (seu conceito, seu entendimento)
para que se possa afirmar que é signo.
NOTA
Vale ressaltar que todo e qualquer termo que você lê ou escuta e tem
pouco entendimento sobre ele parece que não faz tanto sentido para
você. Perceba aqui um bom exemplo para signo linguístico, desconforto
de entrar em contato com uma palavra que você nunca ouviu (ou leu),
ela não faz sentido – ou seja, não tem capacidade de representar algo
em seu lugar – pesquisar sobre ela. No caso de palavras, o dicionário
(que pode ser on-line) é um lugar bom para pesquisar – que tal fazer isso
para o termo “dicotômico”, lido anteriormente? Você pode pesquisar por
“dicotomia”. O entendimento desse termo ajudará como base conceitual
para o conteúdo que estamos tratando aqui.
3 SEMIOLOGIA
O filósofo e linguista suíço, Ferdinand de Saussure (1857-1913), elaborou teorias
que contribuíram para o desenvolvimento da linguística como ciência autônoma,
exercendo grande influência sobre o campo literário e dos estudos culturais. Para
Saussure (1990), signo tem sua base conceitual e organizativa na estrutura linguística
de uma determinada cultura, ou seja, na língua – principalmente falada (WALTHER-
BENSE, 2000).
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Aqui, fica evidente pensarmos que, à medida que nos letramos (que vamos
estudando e aprendendo), mais significativa fica nossa linguagem – tal raciocínio ajuda
no entendimento de que o signo, para Saussure (1990), tem arbitrariedade inerente, pois
precisa das convenções linguísticas. Perceba que quando buscamos no dicionário o
entendimento de uma palavra, entramos em contato com seu significado convencional,
e quando damos uso a ela em nosso processo de comunicação, estamos sujeitos à
arbitrariedade do termo, da capacidade de ele representar o que queremos expressar
– ou seja, estamos sujeitos à arbitrariedade do signo. Por isso que é muito inteligente
saber para quem estamos falando, assim podemos escolher as palavras mais coerentes
para este perfil de pessoas. É claro, existem palavras cuja convenção não é arbitrária,
elas são transmitidas de diferentes tipos de estruturas gramaticais, percebidas de
forma funcional – caso das onomatopeias – a partir da reprodução aproximada, com os
recursos que se dispões da língua, de um som natural a ela associado, um exemplo se dá
quando imitamos um animal para nominá-lo: “miau” para gato; “au-au” para cachorro.
FONTE: O autor
ESTUDOS FUTUROS
No tópico a seguir, vamos ampliar a visão saussuriana, dando conta de
tratar do significante como forma material perante o significado.
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Para Saussure (1990, p. 124), signo não une:
FONTE: O autor
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Ao tornar o signo uma entidade mental, Saussure (1990) faz com que o signo
sempre associe um significante a um significado, possibilitando que essa concepção
tenha papel central na distinção histórica entre “signos naturais” (que ele entende como
motivados) e “signos arbitrários” (ou convencionais). Esta arbitrariedade “deve dar a
ideia de que o significante não depende da livre escolha do sujeito falante”, este não
tem motivação alguma, pois não existe, “na realidade, qualquer ligação material” entre a
palavra e a coisa que ela representa (SAUSSURE, 1990, p. 83).
INTERESSANTE
Quantas vezes você se perguntou por que tal palavra está atribuída a
um determinado objeto? Por que “mesa” é “mesa”? Note que a resposta
não tem uma lógica (caso de palavras como as onomatopeias: au-au
para cachorro; miau para gato). Mesa tem um significado atribuído por
convenções, por regras, ou seja, ela foi atribuída e é usada de forma
arbitrária na Língua Portuguesa.
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Esses dois problemas mostram uma vontade de expandir para que possamos
assumir sons, cores, gestos, odores, gostos, texturas, formas, ou seja, toda e qualquer
coisa (inclusive as palavras) que sejam capazes de representar algo em seu lugar – até
mesmo imagens! Assim, entramos na corrente mais abrangente – a norte-americana –
que tem como base todo e qualquer fenômeno capaz de representar algo em seu lugar,
inclusive o signo linguístico – essa corrente é a semiótica.
4 SEMIÓTICA
O filósofo e físico norte-americano, Charles Sanders Peirce (1839-1917), assentou as
bases da semiótica alicerçado em um pensamento: “O simples ato de olhar está carregado
de interpretação". Trazendo uma abordagem mais ampla, ao que vinha sendo construído por
Ferdinand de Saussure, na Europa no mesmo período.
Lembra da “maçã”? É possível afirmar que a imagem que se forma na sua cabeça
tem a ver com as experiências de maçãs como fenômenos, se você só viu imagens
dessa fruta, terá uma informação mais visual, mas se já comeu uma, conseguirá atribuir
barulho, gosto e acidez. Imagina se você já colheu uma na macieira. Perceba que a
fenomenologia pode ser encarada como uma postura frente ao mundo – ao se pesquisar
um tema a ser transformado em imagem, só ver este tema na tela de um computador
pode dar uma noção diferente do que poder conhecer o tema no mundo real, de ser
partícipe dos acontecimentos relacionado a este tema, dos fenômenos que este tema
entrega em seus contextos. Trazer o pensamento de Peirce (2005) como um de seus
alicerces pode ajudar: O simples ato de olhar está carregado de interpretação.
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Para Peirce (2005), é irrelevante discutir o que é mental e o que não é mental no
debate sobre o signo, mas se torna importante determinar se o pensamento é dirigido
ou não aos objetos reais, afinal, real é o que significa, que tem sentido, em qualquer
coisa de real. Essa postura ajuda a evitar posicionamentos falsos de dar a uma palavra,
por exemplo, um sentido universal externo ao pensamento e se afastar da ideia de que
se pode conceber coisas de forma independente das relações que se tem no espírito
(capacidade inventiva do ser humano). A noção de signo, para Peirce (2005), é toda e
qualquer coisa que representa uma outra coisa em seu lugar – objeto – e que produz
um efeito interpretativo. Se pensarmos dentro da lógica da semiologia, vemos que aqui
a semiótica peirciana dá conta dos problemas saussurianos: Peirce considera a matéria
externa e dá conta de especificar a coisa. Com isso, se a semiologia era dialógica, aqui,
vamos ter um posicionamento triádico – em que o signo é composto de três partes, que
serão chamadas de categorias: a primeiridade, a secundidade e a terceiridade. Essas
partes podem ser assim pensadas:
Fonte: O autor
Interessante perceber que essa “alguma coisa” é captada pelos órgãos dos
sentidos, mas também percebida de forma intencional – dentro de uma noção de que
perceber é traduzir “alguma coisa” (fenômeno, evento, objeto) captada pelos sentidos
em um julgamento. Uma vez captada, é levada a um processo de comparações com
outras coisas já percebidas, chegando até a capacidade de nominá-la. Pensando essas
três partes como categorias, temos a primeiridade (como aquele momento de primeira
percepção, inicial – quando captamos “alguma coisa”), temos a secundidade (como o
momento de comparação com o que já fora percebido) e temos a terceiridade (como o
momento de construção, de definição, de nominação).
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A teoria de Charles S. Peirce está concebida como doutrina em que todo e
qualquer tipo de semiose é possível. Ela “é tão geral e abstrata a ponto de poder dar conta
de qualquer processo sígnico, esteja ele no invisível mundo físico [...] nos movimentos
sociais” (SANTAELLA, 2002, p. 36).
4.1 A PRIMEIRIDADE
É a primeira das categorias de uma experiência de mundo. É a categoria do
ser. Está nas qualidades das coisas. Relativa às propriedades de um fenômeno que
podem ser descritas, por exemplo: tal coisa é azul. Essa categoria direciona para a ideia
de primeira concepção sígnica de Peirce, que é pré-reflexiva, o da abstração pura. De
forma prática, é mais ou menos como um sentimento, uma sensação primeira, não é
consciente nem elaborada. É aquilo que é, nada mais que isso.
4.2 A SECUNDIDADE
Em contraposição à primeiridade (categoria do ser), a secundidade é a da
ocorrência, da existência segundo ao que já se sentiu. Diferente da primeiridade,
na secundidade, existe uma elaboração consciente, já se faz comparações e enseja
particularidades do fenômeno em análise. Enquanto a primeira é atemporal, na
secundidade, existe a noção de tempo, afinal, para se chegar às comparações, é preciso
ter passado pela primeiridade. Nessa categoria, só se tem consciência da qualidade de
algo, pois é possível constatar com outra qualidade. Acidental e singular, a secundidade
tem na existência, no registro de sentimento, um fato. Se a primeira é da qualidade,
esta, a segunda, é da relação.
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4.3 A TERCEIRIDADE
Completa a tríade. Se a primeiridade é a do ser, a secundidade é do existir, a
terceiridade é do interpretar – na capacidade de a coisa ser signo – ou seja: tem a ver
com o que o fenômeno é (primeiridade), no que existe nele em comparação a outros
(secundidade) e no quanto é possível construir algo que não está ali – de significar. Se a
primeira é da qualidade, a segunda da relação, esta é da representação – do que Peirce
(2005) vai chamar de signo em si.
A primeira é a rara faculdade de sentir o que está diante de nós. Tal como se
apresenta, sem qualquer interpretação. Veja se consegues exercitar tal faculdade
observando uma cena, um objeto, um evento, uma música e descrevendo-a como ela
é, sem atribuir nenhum valor.
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• A segunda faculdade é mais como um compromisso. Um comportamento que deve
ser treinado, uma postura frente ao fenômeno observado de detetive, de busca de
aspectos específicos ao fenômeno em observação que só pode estar nele e em
nenhum outro similar. Buscando o que o faz único, detectando os elementos desta
unicidade sob todos os seus disfarces. Esta faculdade nos pede tempo, quanto mais
o tivermos mais construiremos relações possíveis.
• Com base nessas faculdades e nas categorias, Peirce (2005) classifica o signo como
representâmen, objeto e interpretante.
5 CATEGORIAS DO SIGNO
A variação e a quantidade dos signos são tão grandes que, Charles S Peirce
(2005) organizou-os em categorias, classificando-os a partir das faculdades em uma
tríade composta pelo representâmen – aquilo que funciona como signo; pelo objeto – o
que é referido pelo signo; e pelo interpretante – no efeito do signo de quem o interpreta.
FONTE: O autor
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ATENÇÃO
Essas nomenclaturas são importantes para o entendimento da semiótica
peirciana. Uma boa dica é pegar uma folha A4 e montar este triângulo
bem no centro dela e, a partir dessa parte, ir completando com as novas
nomenclaturas que surgirem.
6 TRICOTOMIA DO SIGNO
A noção tricotômica ficou declarada na figura anterior, na qual, para que o signo
exista, é preciso ter os três pontos – representâmen, objeto e interpretante, porém,
Peirce (2005) organizou um raciocínio em sua teoria que, em cada um desses pontos,
existem outros três pontos, cada ponto é tricotômico, ou seja, que no representâmen
existem três categorias internas a ele, da mesma forma no objeto e no interpretante.
Parece confuso, então, vamos por partes!
IMPORTANTE
Perceba que o conteúdo parece repetitivo. E é isso mesmo, por isso, a dica
anterior é boa, pois a repetição vai construindo o entendimento.
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6.1 REPRESENTÂMEN
A capacidade de ser signo é a primeiridade dele. Ela terá as três faculdades
condicionadas aos fatores que dão capacidade de ser signo: suas qualidades, suas
propriedades que lhe são singulares e suas características que o legitimam – em caráter
de lei. Assim, temos:
FONTE: O autor
Uma cor, qualquer cor, um azul-claro, sem considerar onde essa cor
está corporificada, sem considerar se é uma cor existente e sem
considerar seu contexto. Tomemos apenas a cor, nela mesma, só
cor, pura cor. Quantos artistas não fizeram obras para nos embriagar
apenas com uma cor? Por que e como uma simples cor pode
funcionar como signo? Ora, uma simples cor, como o “azul-claro”,
imediatamente produz uma cadeia associativa que nos faz lembrar
céu, roupa de bebê etc.; por isso mesmo, esse tom de azul costuma
ser chamado de azul-celeste ou azul-bebê. A mera cor não é o céu,
não é roupa de bebê, mas lembra, sugere isso. Esse poder de sugestão
que a mera qualidade apresenta lhe dá a capacidade para funcionar
como signo, pois quando o azul lembra o céu, essa qualidade da
cor passa a funcionar como quase-signo de céu. O mesmo tipo de
situação, também se cria com quaisquer outras qualidades, como o
cheiro, o som, os volumes, as texturas etc.
25
Nas criações de artistas visuais, os qualissignos predominantes estão nas
formas e elementos puros: cores, tons, manchas, brilhos, contornos, formas, texturas,
movimentos, ritmos, contrastes, entre outros, sendo que a combinação destes não
vem de conexão alguma extraída da experiência externa. Podem ser entendidos como
formas não objetivas, por não representarem nenhum objeto identificável – ficam no
campo das abstrações: a cor pela cor, a textura pela textura, a forma pela forma.
DICA
Acesse o link https://i.pinimg.com/originals/42/23/ec/4223ec9ee31a88ee
6b462a6279186996.jpg ou pesquise na internet pelo nome da obra para
poder ver a imagem colorida.
26
A partir do momento em que os fenômenos sentidos fazem pensar, ganham
juízo de valor (mesmo que bem inicial), estamos na secundidade, no sinssigno, em que o
aspecto de ser signo já o particulariza, já o individualiza. Para assumir essa capacidade,
é preciso assumir a observação do modo particular como o signo se forma, observando
características existenciais, que no fenômeno observado é irrepetível, é único.
O legissigno é uma convenção que representa algo em seu lugar, é uma lei que
é signo. Não é algo singular, mas alguma coisa que se tem acordado ser significante.
São predominantes nas formas que só podem ser entendidas com a ajuda de alguma
convenção cultural. A figura anterior é um exemplo interessante, pois, nas representações
gráficas de moda, é preciso entender as convenções para saber o que é um desenho
27
estilizado ou croqui, um desenho técnico, uma ilustração de moda e/ou um desenho
de figurino. Cada uma dessas representações gráficas tem suas convenções que as
legitimam dentro de determinado conceito. Da mesma forma que técnicas de desenhos
apresentam texturas, profundidade, proporção, movimento, perspectiva, conceitos
necessários para o nosso aprendizado.
6.2 OBJETO
Dependendo do representâmen, ou seja, da propriedade do signo, será diferente
a maneira como o signo se faz representar pelo objeto. São três tipos de propriedade:
qualidade, singularidade (existência) e lei, também são três os tipos de propriedades de
relações que o signo poderá ter com o objeto a que se aplica. Quanto ao objeto, o signo
pode ser denominado como ícone, índice e símbolo.
FONTE: O autor
28
FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO DE CASA
Importante lembrar que a relação de semelhança não é somente visual, ela pode
ser tátil, auditiva, olfativa e gustativa. Se não houver semelhança, poderão existir duas
condições do objeto ser signo, uma delas é por relação, ou seja, pela capacidade que
alguns elementos singulares (algumas particularidades) sugerirem o que representam.
Haverá alguma conexão que liga uma coisa com outra. (Caso da fumaça para fogo, de
um chão molhado para chuva), ou seja, quando as particularidades indiciam o que está
possível de representação, o índice.
29
DICA
Se formos pensar na ideia de símbolo peirciana, ela é muito parecida com
a ideia de signo linguístico de Saussure – por mais que esses pensadores
elaboraram suas teorias na mesma época, eles nunca se encontraram, nem
se conheceram – Peirce nos Estados Unidos da América e Saussure na Europa
formularam teorias que tratam de um mesmo tema, mas se apresentam,
em alguns momentos, até de forma contraditória. Isto pode ficar melhor
entendido a partir da leitura do artigo A semiótica: a base para a linguagem
visual de Deivi EduardoOliari.
6.3 INTERPRETANTE
Já vimos que o representâmen é a condição primeira do signo existir. Que
o objeto é aquilo que determinará o signo e é o que o representa, sendo a segunda
condição. Agora vamos para a terceira, que é o interpretante, o efeito interpretativo
que o signo produz em uma mente ou em um sistema capaz de interpretar (este último
comentário é necessário para seguirmos a sugestão de Peirce: de não limitarmos o
interpretante ao ser humano).
FONTE: O autor
30
Rema é o primeiro efeito que um signo provoca no intérprete. Trata-se de
uma simples qualidade de sentido que permite um valor emocional. Uma determinada
situação em uma circunstância, que faz um fenômeno ser percebido é condição do
rema, porém quando este fenômeno solicita do interpretante alguma ação física ou
mental, ou seja, exige um dispêndio de energia, está na condição de discente, mas
quando o signo é interpretado por meio de regras e convenções internalizadas pelo
intérprete, tem-se a condição do argumento.
INTERESSANTE
Você sabe que professores são chamados de docentes nas universidades e
que alunos são chamados de “discentes”. Olha que interessante! Se alunos
formam o corpo discente, eles devem ser os questionadores, os que não se
conformam e que se permitem mudar de opiniões, desde que exista lógica
e coerência para isso.
31
O momento em que o sujeito da semiose, por meio de níveis progressivos
de consciência, passa de um pensamento de impressão pura e instantânea de algo
(primeiridade), alcança um pensamento de constatação, resultante de uma sensação desse
algo como presença concreta (secundidade) e, então, chega na percepção da realidade
exterior, ele está na terceiridade, em que ocorrem legissigno, o símbolo e o argumento.
Compreendendo tudo que dependa da consciência e da inteligência (racionalidade). A
semiótica peirciana pode ser organizada pelo esquema a seguir (relações sígnicas):
32
FIGURA 11 – TOM DE CINZA
FONTE: O autor
Trata-se de um objeto particular e real, que pelas suas qualidades enuncia a ideia
de outro objeto. Os diagramas, desenhos técnicos dão conta de ser signos nesta classe.
33
A terceira classe de signo é: sinssigno, indicial e remático.
Signo ainda afetado diretamente pelo seu objeto, mas consegue dar informações
sobre este objeto, finalidade. Um cata-vento é exemplo para este signo.
34
QUADRO 6 – LEGISSIGNO, ICÔNICO E REMÁTICO
É um ícone interpretado como regra, como lei. Pode ser o mesmo diagrama da
segunda classe, mas sua capacidade de se definir em leis é importante. Ele se representa
pelas regras. Veja um diagrama eletrônico como fica difícil se não conhecemos as regras
que o estabelecem.
É um signo que está delimitado por uma lei geral, que de tal modo atrai a
atenção para este objeto. Um exemplo são as sirenes de ambulância e de bombeiro,
cada uma tem uma frequência que diz exatamente de qual é. A sétima classe de signo
é: legissigno, indicial e discente.
35
QUADRO 8 – LEGISSIGNO, INDICIAL E DISCENTE
Signo que está delimitado por uma lei geral afetada por um objeto real, que
consegue fornecer informações definidas sobre esse objeto. Uma placa de trânsito é
um exemplo.
36
FIGURA 16 – IMAGEM DE BANDEIRA BRANCA
37
A décima classe do signo é a mais racional de todas. Se formos pensar em um
exemplo, uma proposição que opera no campo dos silogismos, caberia: "todos os homens
são mortais; os gregos são homens; logo, os gregos são mortais"). Se formos para o
campo dos projetos de identidade visual, em que é possível assumir como exemplo a
cor branca para determinados uniformes, não apenas por remeter a convenção a uma
classe profissional (caso de médicos, cozinheiros...), mas porque nas diretrizes e normas
de saúde a cor branca permite identificar sujeira e problemas de contaminação, assim, a
cor branca em uniformes profissionais está atrelada à décima classe do signo, sendo seu
uso explicado de forma racional, se o cliente for dessas classes profissionais e solicitar
outras cores para suas roupas profissionais, o direcionamento que cabe é trabalhar com
tons claros, tendo em vista que ao sujar funcionarão de forma semelhante ao branco.
Como vimos, é possível dividir os signos em dez classes, que nada mais são que
desdobramentos lógicos de combinações possíveis dentro das tríades, porém, Peirce
(2005) nos faz considerar ser um terrível problema afirmar a qual classe pertence um
signo, pois ele pode assumir características diversas, junto a várias circunstâncias. É
importante saber das dez classes, contudo, antes disso, o que deve operar: a lógica. Foi
o método lógico de classificar os signos que deu relevância para a grande contribuição
de Peirce.
38
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Durante o século XIX, surgiram duas correntes: uma europeia (a semiologia) e outra
norte-americana (a semiótica), e que estas duas correntes têm seus principais
teóricos: Saussure, para a semiologia; e Peirce, para a semiótica.
• Para Saussure (1990), na semiologia, o signo é formado pelo significado e pelo significante.
• A visão peirciana é do signo em geral, assumindo toda e qualquer coisa que representa
algo em seu lugar, inclusive a palavra.
• Para Peirce (2005), na semiótica, o signo é formado por três categorias: a primeiridade,
a secundidade e a terceiridade.
39
AUTOATIVIDADE
1 A relação lógica do fenômeno e significado surge inicialmente na medicina. Ao final
do século XVII, Henry Stubbes aponta um ramo da ciência médica dedicado ao
estudo da interpretação dos sinais (sintomas). Tal ramo científico amplia-se e tem
como objeto qualquer sistema sígnico. Por volta do século XVIII, o “nome” começa a
aparecer com os seus respectivos estudiosos. Com base nessa introdução, assinale
a alternativa CORRETA:
3 A semiologia e a semiótica têm como base o entendimento que signo é alguma coisa
que representa algo em seu lugar. A partir da introdução, avalie as asserções a seguir
e a relação proposta entre elas:
I- Uma palavra será signo, considerando que seus falantes estejam em um mesmo
contexto linguístico.
PORQUE
II- Se formos pensar na palavra “mãe”, ela é significante para os falantes da Língua
Portuguesa, tendo significado similar à palavra “mother” para os falantes da
Língua Inglesa.
40
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa
correta da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.
5 Descobrir o conceito, determinar as formas como ele será manipulado, combinar todas
as exigências possíveis para que a imagem dê conta de reprentá-lo, demanda do seu
produtor a capacidade de produzir composições que sejam capazem de significar.
Em muitos casos, utilizam-se das convenções do mercado, tendências de cores, de
materiais, por exemplo. Ao usar das convenções, com relação ao objeto, qual categoria
sígnica da tricotomia da semiótica de Peirce o projetista está tomando como base?
41
42
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
A SEMIOLOGIA E A SEMIÓTICA
1 INTRODUÇÃO
Iniciamos o terceiro tópico desta unidade. Nela, você conhecerá os conceitos
de semiologia e semiótica como fundamento para o entendimento de semiótica,
contribuindo para a reflexão acerca da capacidade humana de interpretar e produzir
signos, potencializando a capacidade analítica e crítica de leitura de objetos sígnicos
com base na semiologia (Plano de expressão e Plano de conteúdo) e na semiótica
(ícone, índice e símbolo).
O recorte deste tópico tem o objetivo de focar, dentro de cada uma das
correntes estudadas até aqui, o entendimento das abordagens semióticas possíveis,
possibilitando que se tenha duas maneiras de abordar o signo.
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ATENÇÃO
Tanto a semiótica quanto a semiologia têm um corpo teórico consistente e
vasto. Nossa disciplina objetiva o entendimento dessas áreas, recortando
a abordagem nas posturas, não se aprofundando em cada teórico.
Contudo, se você tem interesse em conhecer cada um deles, vale acessar
o Google scholar: https://scholar.google.com.br e colocar o nome dos
teóricos que aparecem.
FONTE: o Autor
44
INTERESSANTE
Ao nos colocarmos como produtores de uma imagem, temos que ter
bem claro o “conteúdo” (conceito) desta, para, então, “expressar” em seus
elementos (linhas, cores, formas, entre outros), que serão lidos pelo seu
expectador, promovendo seu entendimento. Inverta esse processo e pense
como expectador, em que, ao lermos as imagens, somos levados a identificar os elementos
de composição destas que, conforme nosso repertório e o contexto onde a imagem está
inseria, permite-nos entender seus conteúdos.
ESTUDOS FUTUROS
Nas próximas unidades, estudaremos os elementos visuais e perceberemos
que um elemento visual tem potencial para expressar um determinado
conteúdo. Cabe como exemplo aqui a ideia das formas curvas/circulares que se mostram
mais orgânicas que as lineares, então, se dois artistas visuais expressam fluidez em suas
obras, é bem provável que as formas curvas/circulares aparecerão nas duas expressões.
45
Para Hjelmslev (1975, p. 49), “um signo que funciona, que designa e que significa
é, acima de tudo, um signo portador de uma significação”. Ele não pode ser definido
como alguma coisa de natureza vazia, ou seja, a condição do signo é ser signo, é
significar. Havendo aqui a necessidade da contextualização, pois descontextualizado
fica desprovido de significado. Dentro disso, sua máxima relação sígnica se dá pelas
relações que mantêm com outros signos dentro de um determinado contexto.
46
Num contexto íntimo à comunicação e a todo período considerado de
contracultura, que marcou a segunda metade do século XX, a semiótica de que aqui
estamos tratando, tem outro pensador: Rolland Barthes (1979), que redefiniu a semiologia.
47
O ato de ler, que é ato de criação, é ato de linguagem gerada pelo corpo e,
também, é ato de incluir as percepções ambientais, podendo então resultar em processos
que ocorrem internamente e/ou no entorno do contexto do projeto. Em linha com a
semiótica peirciana, há nesse processo a percepção do sujeito, do que ele vê/sente do
contexto; e do que ele já viu, recordando o que já indicia; e até daquilo que ele consegue
extrair do contexto de informações de forma consciente. É possível perceber as três
categorias: no processo de primeiridade, o signo desperta na consciência do leitor uma
qualidade imediata, não há reconhecimento nem análise dela, apenas é possível ter
uma sensação. Então os elementos que a compõe e suas propriedades (como cores,
formas, texturas etc.) se apresentam em qualidades do fenômeno, havendo neles a
constatação de algo existente, em secundidade, fazendo o signo se apresentar de
forma consciente, provocando recordações de experiências já vividas. Então, ocorre o
julgamento, a síntese, a certeza, sendo esta a terceiridade. Essas categorias mostram
que, no processo criativo, que é o de leitura, são perpassadas as experiências como
qualidade, de relações e de representação – as três categorias de Peirce.
ATENÇÃO
Ao considerarmos o processo criativo como dinâmico e então caracterizado
por uma constante articulação, é possível que se tenha uma infinidade de
ideias, de associações. Basta que se tenha lógica e que esta consiga ser
explicada. Uma ideia leva a outra, nenhum signo é completo, estático, todo
signo se completa em outro e assim por diante.
Toda imagem contém signos ordenados por regras, cuja finalidade é permitir ser
comunicativa – ser entendida. O contexto sentido por um leitor pode ser incorporado
e transformado resultando em novas formas de representação. A imagem pode ser
entendida como processo de modulação que traduz formas similares (iguais) – icônicas;
que têm relação e remetem aos fenômenos – indiciáticas; e que se sustentam em
regras, em normas – simbólicas.
48
FIGURA 18 – REPRESENTAÇÃO DE UM AUTOMÓVEL
49
FIGURA 20 – REPRESENTAÇÃO EM TOM DE CINZA DA MARCA DA VOLKSWAGEN
50
LEITURA
COMPLEMENTAR
SEMIÓTICA E SEMIOLOGIA
Carlos Vogt
51
Como escreve Saussure: “a língua é um sistema de signos que exprime
ideias e, desse modo, é comparável à escrita, ao alfabeto dos surdos-mudos, aos
ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais militares etc. É, contudo, o mais
importante, desses sistemas”.
É nesse momento que, anunciando a nova ciência dos signos, o autor lança
a semente do que viria a ser um dos mais profícuos campos de investigação dos
comportamentos e das formas simbólicas das relações humanas no século XX e neste
século, que já aos poucos se desdobra. Diz o autor:
Um pouco mais sobre o assunto nas duas páginas restantes dessa “Introdução” e é
tudo o que aparece no Curso de linguística geral referente à semiologia.
52
O pragmatismo, proposto, assim, como um método científico para determinar o
significado de conceitos intelectuais, é também a negação do intuicionismo cartesiano
e da ideia de que o pensamento possa interpretar-se a si mesmo. É só em termos de
signo que ele se efetua e, desse modo, é visto como complexamente estruturado numa
relação triádica: significa alguma coisa para alguém de alguma maneira.
Segundo Peirce, “um signo, ou representâmen, é algo que, sob certo aspecto ou
de algum modo, representa alguma coisa para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria
na mente dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido”.
Ao signo assim criado, Peirce denomina interpretante do primeiro signo.
Daí a afirmação de Peirce de que “a lógica, em sentido geral, é [...] apenas outra
designação da semiótica, a quase necessária ou formal doutrina dos signos”.
Peirce propõe uma série de classificações para o signo, sendo a mais conhecida
a que o considera em sua relação com o objeto e o caracteriza como ícone, índice ou
como símbolo.
53
Seguindo essa mesma orientação, mas incorporando o conteúdo dos estudos
etológicos desenvolvidos nos EUA e na Europa, a semiótica voltou-se também para
a vida animal – a zoosemiótica – e teve em Thomas Sebeok um ativo e profícuo
militante intelectual.
FONTE: Adaptado de VOGT, C. Semiótica e semiologia. Com Ciência, 10 mar. 2006. Disponível em: https://com-
ciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=11&print=true. Acesso em: 18 set. 2021.
54
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• É possível analisar um objeto (que não seja apenas linguístico) a partir da noção
dicotômica – Plano de expressão e Plano de conteúdo; e/ou a partir da noção
tricotômica – ícone, índice e símbolo.
55
AUTOATIVIDADE
1 Analise a imagem a seguir e use o espaço reservado ao lado dela, listando primeiro os
elementos de expressão (liste o máximo de coisas que você vê na imagem), depois
que essa lista estiver bem completa, procure ver o que os elementos isolados ou em
conjunto enunciam, sugerem, como conteúdo (perceba que isso tem muito a ver com
seu nível de conhecimento e, claro, com sua capacidade de ter ideias – tudo vale,
desde que tenha lógica). Após essas duas listas, você consegue fazer uma síntese?
Você consegue montar um pequeno texto colocando em palavras o que a imagem
diz? Se possível, escreva dentro da área de sua formação.
Atenção! A imagem foi modificada para tons de cinza. Em destaque, apenas vale
mencionar que o vestido na imagem seria azul (veja no link a seguir para ter acesso
à imagem colorida). Em nossa leitura, daremos direcionamentos para essa cor ao
mesmo tempo que vamos ler o tom cinza, que se forma no vestido na imagem
impressa aqui).
Então, podemos assumir os efeitos de sentido, em que uma modelo (pois a mulher
parece estar desfilando) lança um look (seu vestido cinza) num espaço composto por
redes e antenas que nos remetem à tecnologia, cuja modelo parece se virtualizar. A
imagem dá o sentido de que no contexto tecnológico o tom cinza do vestido parece
ganhar espaço.
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c) ( ) A estrutura sensível é formada apenas pelo que é visto, apenas pelo sentido da
visão. Dessa forma, se estivéssemos assistindo ao desfile da imagem analisada, a
música não afetaria o efeito de sentido do objeto em análise, ou seja, o contexto
em nada interfere nos sentidos da imagem.
d) ( ) A noção de que para todos elementos de expressão exista uma enunciação, é basilar
para a noção de efeito de sentido e da ideia de signo.
e) ( ) Não existe relação alguma entre signo e a noção de efeito de sentido.
Atenção! Lembre-se de que a imagem foi modificada para tons de cinza. Em destaque,
apenas vale mencionar que o vestido na imagem seria azul. Em nossa leitura, daremos
direcionamentos para essa cor ao mesmo tempo que vamos ler o tom cinza que se
forma no vestido na imagem impressa aqui.
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Mais do que uma resposta, o exercício aqui é promover a capacidade de transformar
ideias (o que foi sua narrativa) em expressões. Em muitos casos, percebemos que
nossa capacidade de ideação é impregnada de elementos que são nossos, e isso é
muito importante, pois é isso que faz com que seu trabalho, no momento de escolher
expressões, sejam únicos, que o trabalho tenha o seu estilo, a sua assinatura. Então,
quando vamos para o campo de expressão, vemos que a imagem poderia ser outra:
com outro enquadramento, com outra velocidade, com outros elementos no lugar
dos que estão ali expressos. Se você percebeu isso neste exercício, parabéns! A ideia
aqui é que você possa ser capaz de fazer uma crítica a uma imagem (neste caso
uma fotografia) de algum profissional, pautada em fundamentos lógicos, que tenha
sentido. Mais uma coisa: perceba que os outros só vão entender seu posicionamento
se houver lógica também para eles, então cuidado para não ficar tendo ideias que só
para você tem lógica, ou seja com o seu ponto de vista, pois seu trabalho (sua crítica,
se for o caso) tem que ser profissional para os outros.
Um exemplo: a cor cinza que ocupa boa parte da imagem tem lógica, ainda mais se
considerada na imagem colorida que seria azul, pois a foto de onde foi tirada está
declarando uma tendência de cor, como vimos pela WGSN, o azul é muito usado na
área da tecnológica e tem tudo a ver com água, certo? Então, por mais que você não
concorde, o peso da cor azul na imagem tem lógica e ainda mais ostentada pela
modelo, afinal, como tendência, ela remete ao uso como vestimenta.
3 A semiótica peirciana direciona que o objeto tem três categorias, ícone, índice e
símbolo. Com base no exposto, analise as sentenças a seguir:
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I- A primeiridade do objeto está relacionada ao fato de podermos ver representações
similares nos signos, ou seja, que uma representação gráfica será signo se for igual
ao objeto que ela representa – o desenho de uma cadeira é um exemplo disso!
II- A secundidade do objeto está nas relações indiretas, nos fenômenos que indiciam
suas representações. Caso do chão molhado para a chuva, não vemos a chuva,
mas pelo chão molhado, é provável que choveu.
III- A terceiridade do objeto está nas convenções sígnicas. Em grande parte, são
arbitrárias. Caso da luz vermelha no semáforo significando pare.
IV- Em comparação à primeiridade, a secundidade dispende mais energia, pois nela
que ficamos indo e voltando na busca de afirmações sobre a representação. Ela não
é direta e, ao indiciar, faz com o que o interpretante enseje particularidades para
chegar em algum posicionamento frente ao signo.
5 Um artista visual, ao ter uma ideia de uma imagem, dá forma a essa ideia através
de um esboço, esse seria a expressão do conteúdo que a ideia tem. Vemos nessa
afirmação uma explicação rápida do Plano de expressão e do Plano de conteúdo que,
dicotomicamente, dão conta do signo a partir da corrente saussuriana. Explique com
suas palavras o que seria o Plano de conteúdo e o Plano de expressão:
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REFERÊNCIAS
BARTHES, R. Sistema da moda. São Paulo: Nacional: USP, 1979.
61
62
UNIDADE 2 —
A IMAGEM
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
63
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
64
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
LINGUAGEM NÃO VERBAL E OS DOMÍNIOS
DA IMAGEM
1 INTRODUÇÃO
Para iniciar esta segunda unidade, vale lembrar que o conteúdo de semiótica
até aqui trabalhado oportunizou não apenas um entendimento de que se trata de uma
ciência que se ocupa do signo e de todo o processo de significação – a semiose –, mas
que estamos imersos em um cotidiano em que recebemos uma quantidade considerável
de textos visuais e não visuais e aplicamos a eles certa leitura e compreensão.
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2 A LINGUAGEM NÃO VERBAL
O ser humano, em essência, tem na comunicação um processo de socialização
consistente, à medida que este se faz referência para toda e qualquer ação de troca. Como
tal, comunicar-se efetivamente é dar conta de um processo linguístico cujo objetivo
está na capacidade de ser e dar sentido. Ou seja, quando nos comunicamos, precisamos
considerar que vamos ser percebidos, que os receptores de nossas mensagens sejam
capazes de recebê-las (sejam sentidas), da mesma forma que precisamos garantir que,
uma vez recebidas, essas mensagens sejam compreendidas da maneira que desejamos
(que tenham e façam sentido).
66
ser respeitadas. Essas regras mostram o quão social é este processo verbal e legitima
o investimento em seu aprendizado por parte da maioria de todas as sociedades, afinal
passamos boa parte dos anos escolares nos alfabetizando verbalmente – e sabemos a
importância de saber ler e escrever verbalmente no nosso dia a dia.
Tal cotidiano parece nos pedir uma alfabetização mais completa, assumindo
a importância das duas linguagens em nossa formação – uma objetiva, lógica, por
vezes arbitrária, voltada para a razão, ciência, interpretação. Outra, de definição mais
incerta, é metafórica e pouco analítica, trata-se da linguagem não verbal. Enquanto,
na primeira, “estão as palavras escritas ou faladas; no segundo, os gestos, a música, as
cores, as formas” (AGUIAR, 2004, p. 28) ganham destaque e parecem se dar de forma
mais universal.
INTERESSANTE
Você já deve ter brincado de jogos de adivinhações, em que um dos jogadores
recebe um cartão e precisa, sem usar o verbo (falar ou escrever), expressar uma
determinada coisa aos seus parceiros num determinado tempo. Certamente,
usamos gestos em brincadeiras como essas, se forem para a mímica, ou até
mesmo formas, se forem para os desenhos. Nesse jogo, fica evidente o quanto estamos
alfabetizados verbalmente e o quanto carecemos de uma formação visual. Perceba o
quanto de mensagens visuais recebemos no nosso dia a dia, seja nos anúncios impressos
em grandes formatos nos outdoors ou nas imagens rápidas ao deslizar o dedo na tela de
nosso telefone móvel.
A linguagem não verbal tem relação direta com símbolos gráficos, exemplificados
na sinalização, nas marcas, nos desenhos, artes e expressões visuais que se constituem
basicamente em formas, cores e tipos gráficos. Na combinação desses elementos, é
possível expressar conceitos e ideias, seja por figuração e/ou abstração. A capacidade de
interpretação, da mesma forma que a linguagem verbal, está na capacidade de leitura e
no grau de conhecimento de cada leitor.
Não há como dar mais importância para uma ou outra, é importante perceber
que as linguagens verbal e não verbal se somam dentro dos objetivos pretendidos, que
normalmente estão relacionados à transmissão de uma informação, de ser eficiente
na comunicação de uma ideia e/ou conteúdo. Dessa forma, entender que se podem
usar as duas linguagens é relevante e, muitas vezes, a linguagem visual contribui para
dar uma ideia mais clara do que se está transmitindo – lembre-se da frase: “Entendeu
ou quer que eu desenhe?” – ela está impregnada dessa vontade do “não verbal”, como
apoio para o “verbal”.
Por mais que sentimos o mundo com nossos cinco sentidos, essa unidade
assume o foco na visão. Tratando de algumas qualidades desse sentido e, de certa
forma, contribuindo para aprimorá-la e gerenciá-la. O conteúdo aqui tratado limitar-
se-á aos meios visuais, dando ênfase à imagem como objeto principal.
67
Para que se entenda um objeto imagético, um dos primeiros passos é dar valor
ao todo. O que se vê? Qual é a dinâmica das formas e das cores? Esse olhar total pode
ser assumido em suas qualidades (em primeiridade das categorias de Peirce). Esse olhar
inicial ajudará em muito no entendimento das partes, com destreza, vai-se percorrendo
a estrutura total da imagem, para então reconhecer as principais características e, então,
poder explorar com domínio os detalhes interdependentes. Ao analisar uma imagem,
uma fotografia, por exemplo, perceba-se fazendo isso, inicialmente nos damos conta de
um olhar geral – de um todo do objeto – para então percorrer suas partes.
Se uma imagem passar uma mensagem, ela precisa ser objetiva, assim, faz-se
necessário que a sua composição tenha legibilidade para todos e por todos da mesma
maneira. Se não tiver isso, ela será percebida visualmente, mas não será interpretada da
maneira que foi planejada, fracassando em seu maior objetivo: a comunicação. Vale a
pena entender aqui que obter sucesso na comunicação faz com que um automóvel seja
entendido como tal – um automóvel tem que ser visualmente planejado para que se
consiga não apenas denominar-se automóvel, mas declarar suas potências e até mesmo
a marca que o construiu. Ao chegarmos perto de um automóvel, salvo exceções mais
inovadoras, devemos saber onde estão as portas e como abri-las. Ao nos sentarmos no
banco do motorista, o panorama visual que percebemos, deve nos informar onde está
o câmbio e onde acionamos a parte elétrica, que quando ligado nos disponibilizará,
num painel, uma quantidade de informações nos comunicando sobre as funções dele.
Perceba que, por mais que a função principal do automóvel é ser veículo motorizado de
transporte, a função comunicativa, determinada pela sua composição visual em grande
parte, tem papel definidor no sucesso de uso. Isso vale para um controle de televisão, para
um telefone celular, para uma mochila, para uma calça e para uma imagem. Todos estes
objetos funcionam utilitariamente, mas para isso, precisam, através da composição de
seus elementos visuais, expressarem como devem ser manuseados. Se formos capazes
de entendermos esses objetos, somos leitores potentes de textos não verbais, ou seja,
temos fluência em leitura de imagens.
Nas obras de arte, esse objeto de ter um controle sobre o leitor e seus entendimentos
enfraquece, os elementos estéticos de uma imagem artística têm o direcionamento primeiro
de tocar os sentidos do expectador, ou seja, atrair sua atenção, deixando os processos de
interpretação livres, potencializando as possibilidades de leituras e entendimento sobre ela,
68
ou seja, ao experenciar um objeto artístico, cada expectador terá um entendimento, claro
que os elementos visuais estarão em linha com alguns contextos, mas não há na obra de
arte obrigatoriedade de que sua interpretação seja igual para diferentes expectadores. Por
mais que tenhamos em sua composição elementos contextualizados, sua interpretação é
livre, por exemplo, em uma obra, um elemento de cor preta abre inúmeras possibilidades de
interpretação dependendo do contexto de cada expectador.
Nessa linha de pensamento, é preciso considerar que uma imagem será percebida
de uma maneira, dentro de um determinado contexto. Cada pessoa tem um repertório
imagético dentro de si, que faz parte de sua experiência de vida e que se acumulou com
o passar do tempo, muitos de forma consciente e outros de forma inconsciente. Algumas
distantes (de um passado), outras próximas (mais atuais), e junto a tudo isso, as que
causaram em maior ou menor grau determinadas emoções. Isso tudo é relevante à medida
que a imagem, depois de executada, deixa de pertencer ao seu produtor, e se torna de seu
leitor. Quem a produziu não vai estar ao lado dela para explicá-la, a imagem comunica por
si mesma, e isso se dá, em grande parte, pelo que deixa expresso visualmente, pelo que
seus observadores percebem. É nesse cenário complexo, que os produtores de imagem
precisam saber que elementos – formas, cores, contrastes, texturas – devem ser usadas
para comunicar determinadas informações para um determinado perfil de público.
Se voltarmos ao que já estudamos, uma afirmação pode ser repetida aqui: “só
tem sentido aquilo que é sentido”. Sim! Só tem sentido aquilo que faz sentido. Não há o
que questionar quando uma excelente costureira, querendo comprar um belo vestido,
nota um na vitrine, entra na loja, pede para ver o vestido e, por fim, não o compra! Mesmo
que o vestido esteja dentro das condições de preço acessíveis para ela. É certo que
o motivo da “não aquisição” não faz e nem tem sentido para boa parte das pessoas
que entram na loja e o compram. O entendimento de tecido, de acabamento de sua
confecção, de sua modelagem e outros requisitos que compõem o vestido comunicaram
à costureira que o objeto não estava adequado aos seus padrões de qualidade. Um
consumidor que pouco sabe disso é atraído pela beleza e pelo preço do vestido. Por
fim, acaba comprando-o. Além disso, vai usá-lo com a maior satisfação. Se lhe falarem
que a modelagem poderia ser outra, que o corte do tecido deveria estar de outra forma,
ele não saberá o que dizer, até porque tudo isso não lhe faz sentido. No seu repertório,
esses elementos não lhe dizem nada.
69
INTERESSANTE
Wassily Kandinsky foi professor de uma das principais escolas do design
moderno, a Escola Bauhaus. Sua disciplina tratava da linguagem visual e ele
utilizava um exercício que vamos fazer aqui.
A seguir, teremos dois espaços, cada um com um ponto, tomando como limite cada
espaço. O exercício é fazer um traço que inicie no ponto e termine nele, sem tirar o
lápis (ou caneta) do papel. O resultado será uma forma linear fechada – procure fugir de
desenhos existentes. Faça uma forma livre, ok?
Esse exercício dá conta do que estamos tratando até aqui. Cada pessoa expressa os
seus conteúdos com base em seu repertório, então, não tem certo ou errado para esse
exercício, o que precisa ter é lógica. A ideia do exercício é mostrar como somos levados
a manifestar, em linhas, em traços e nas formas, situações subjetivas, nesse caso, o
sentimento é de “casamento feliz” no primeiro espaço; e de “casamento conflituoso” no
segundo espaço.
A noção de felicidade nos passa uma sensação orgânica, linhas onduladas, mudanças
graduais, leveza. Enquanto a noção de conflito nos sugere sensações de contrastes, de
ruído, linhas retas, pontiagudas, mudanças repentinas, peso. Interessante perceber, aqui,
que muitos conteúdos que vamos expressar estão impregnados do nosso contexto, da
nossa cultura e, por consequência, os traços (as linhas) devem dar conta de expressar da
forma como as linhas anteriores.
Pode haver uma possibilidade de aparecerem respostas contrárias, não tem problema.
Todavia, a probabilidade de mais pessoas seguirem esta lógica é maior – ainda mais em
nossa cultura – que tal você fazer isso com seus amigos? Com seus colegas de trabalho?
70
Em um único traço, em uma única linha, é possível comunicar. Um ponto
interessante é perceber que artistas visuais, fotógrafos, por exemplo, devem planejar
imagens que, no início, tenham a capacidade de aparecerem nas superfícies que são
rabiscadas, parece básico, mas acreditamos que no exercício anterior, poucos, ou
ninguém, optou em pegar um lápis branco para desenhar as linhas. Intuitivamente, a
escolha foi de um grafite, de uma tinta, que contrastasse com o fundo. A intuição aqui
nos faz tratar de um assunto muito importante: dada nossa cultura e o quanto estamos
imersos num mundo visual, muitas coisas ocorrem por intuição. Nesta disciplina, muito
do que é intuitivo deverá ser pensado intencionalmente.
IMPORTANTE
Volte ao exercício anterior e perceba com que cor você fez a linha. Se houvesse
a possibilidade de escolher uma cor para dar ainda mais expressão à linha,
você mudaria a cor da sua linha? Certamente, teria que escolher uma cor para
a linha do Espaço 1 diferente da cor para a linha do Espaço 2. Perceba que você
deve ter realizado o exercício de forma intuitiva, optando por uma cor do lápis
ou caneta que se destacasse frente ao fundo, mas, se além disso, você conscientemente
quisesse optar por uma cor que também expressasse, teria uma ação intencional sobre
a superfície. Este pequeno exemplo ilustra essa mudança de atitude que um projetista,
deve assumir em seus projetos.
71
3 DOMÍNIOS DA IMAGEM
Casuais ou não, as imagens estão divididas em dois grandes domínios. O das
representações visuais, onde estão as gravuras, as pinturas, os desenhos, os infográficos,
a fotografia, as imagens televisivas, cinematográficas e holográficas. E o domínio das
representações mentais – da capacidade que temos de criar imagens em nossa mente
– visões, modelos, sonhos, fantasias, imaginações. Vale lembrar, como reforçam Lucia
Santaella e Winfried Nöth (2005, p. 15), “Não há imagens como representações visuais
que não tenham surgido de imagens na mente daqueles que as produziram, do mesmo
modo que não há imagens mentais que não tenham alguma origem no mundo concreto
dos objetos visuais”. O que de fato coloca a semiótica como uma disciplina importante
no trabalho de leitura de imagens, afinal, ela atribui relevância na unificação destes dois
conceitos, em que, de um lado, temos o lado mental, e do outro, o lado perceptível.
72
Entendido isso, um profissional que trabalha com imagens e suas possíveis leituras, no
campo da docência, precisa além de reconhecer os diversos modos de representações de
mundo, fomentar que seus alunos apreciem o mundo com discernimento e pertinência.
Estimulando neste o letramento e alfabetismo visual.
73
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Como fenômeno social, a comunicação se faz por meio das linguagens, que por maior
que seja sua diversidade, faz-se através de sinais verbais e não verbais.
• A linguagem não verbal tem relação direta com símbolos gráficos, exemplificados na
sinalização, nas marcas, nos desenhos, artes e expressões visuais que se constituem
basicamente em formas, cores e tipos gráficos.
• No campo da comunicação, para uma imagem passar uma mensagem, ela precisa ser
objetiva, assim, faz-se necessário que a sua composição tenha legibilidade para todos
e por todos da mesma maneira. No campo das artes, a imagem precisa provocar sua
experiência, permitindo em seus elementos visuais interpretações variadas, dependendo
dos repertórios de seus expectadores.
74
AUTOATIVIDADE
1 A abordagem inicial que permitimos dar aos fenômenos qualificará o diagnóstico da
situação que estamos analisando. O olhar inicial ajuda muito no entendimento das
partes, com destreza, vai-se percorrendo a estrutura total do objeto, para reconhecer
as principais características e, então, poder explorar com domínio os detalhes
interdependentes. A partir da leitura deste texto, avalie as asserções a seguir e a
relação proposta entre elas:
I- Ao analisar uma obra de arte, uma imagem, é importante assumir essa abordagem
indo do todo para as partes e das partes para o todo.
PORQUE
2 Vale a pena entender que, para obter sucesso em uma imagem, está na capacidade
dela, antes de tudo atrair a atenção do seu expectador. Feito isso, a imagem pode
provocar duas possibilidades que tocam sua função comunicativa. A partir da leitura
desse texto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas:
I- Para uma imagem no campo da comunicação passar uma mensagem, precisa ter
objetividade, sendo necessário que sua composição tenha legibilidade para todos e
por todos da mesma maneira.
PORQUE
II- Diferente do campo da arte, em que cada expectador interpretará a sua maneira a
imagem, no campo da comunicação, a imagem precisa se garantir como um único
discurso, por mais que, ainda assim, é possível leitores a interpretarem de forma
diferente do que foi planejada.
75
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta
da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa
correta da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
3 “Não há imagens como representações visuais que não tenham surgido de imagens
na mente daqueles que as produziram, do mesmo modo que não há imagens
mentais que não tenham alguma origem no mundo concreto dos objetos visuais”
(SANTAELLA; NÖTH, 2005, p. 15). Com base no exposto, avalie as asserções a seguir
e a relação proposta entre elas:
PORQUE
II- Ela atribui relevância na unificação destes dois conceitos, em que, de um lado,
temos o lado mental, e do outro, o lado perceptível.
76
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
OS PARADIGMAS DA IMAGEM
1 INTRODUÇÃO
Iniciamos o segundo tópico desta unidade. Nela, discutiremos as imagens
relacionadas aos contextos históricos, entendendo que no processo evolutivo das imagens,
elas adquiriram características que permitem entendê-las em alguns paradigmas.
2 PARADIGMA
Certamente, este é um termo que você já deve ter ouvido. De uso corriqueiro,
o termo paradigma se estende a diferentes contextos e situações. Compreender esse
termo, mesmo que de maneira introdutória, faz-se necessário para que se possa
entender os paradigmas da imagem que vamos estudar.
77
e se trouxermos o termo para a língua inglesa, podemos estar falando de tecnologia
(computadores, telefones móveis), por exemplo. É essa vontade de recorte, de ajustar
as arestas, os limites que ajuda no entendimento do que é paradigma, mas claro que
seu conceito é mais denso.
Perceba que neste momento é possível pensar paradigma como sendo uma
espécie de direcionamento, de manual, da maneira como vamos tratar determinado
fenômeno. Na obra A função do dogma na investigação científica, de Thomas Kuhn
(2012, p. 27), os paradigmas tratariam das “soluções concretas de problemas que a
profissão aceita como paradigmas”, direcionando os envolvidos a exercerem uma
atividade intelectual na identificação de semelhanças em diferentes contextos.
Grosso modo, paradigma pode ser entendido como uma maneira de observar as
coisas e de investigar sua natureza. Ele auxilia no suporte aos conceitos fundamentais,
permitindo identificar as entidades que compõe sua estrutura e como esta se comporta
em determinada situação.
78
3 PARADIGMAS DA IMAGEM
Imagens dão conta de ilustrar a história humana. Durante todo o percurso
histórico, as imagens dão conta de provar a existência humana e ainda de registrar
as mudanças tecnológicas, processuais, mentais da humanidade. Pense sobre uma
pintura na caverna e uma imagem disponível em uma rede social, o mesmo objeto
(imagem) em contextos tão diferentes dá conta de um mesmo paradigma, a imagem
relacionada à produção dentro do campo visual. Fica evidente que se tratarmos da
produção, do armazenamento e da transmissão, essas duas imagens apresentam
resultados completamente diferentes, ou seja, mesmo sendo imagens, elas estão em
paradigmas diferentes.
Essa postura é defendida pela professora Lucia Santaella, uma das principais
expoentes da semiótica peirciana no Brasil. Em sua obra, escrita com Winfried Nöth
(2005), intitulada Imagem: cognição, semiótica, mídia, ela propõe a existência de três
paradigmas da imagem em seu processo evolutivo de produção. De forma introdutória,
é possível assumir que as imagens tiveram três situações contrastantes em sua
produção: as que foram concebidas artesanalmente, feitas à mão, com forte impacto
nas habilidades e técnicas do indivíduo e nos limites de seus suportes. As que foram
concebidas por meio maquinário, através de processos físico-químicos, em que existe a
dependência de uma máquina de registro, resultando num suporte fotográfico. E as que
foram concebidas de forma sintéticas, por meio de cálculos computadorizados.
Imagine uma imagem que representa uma pessoa querida, seu avô, por
exemplo. Ter uma pintura em retrato emoldurado dele, é diferente de ter uma fotografia,
já amarelada com tempo no álbum da família, assim como é diferente, ter uma fotografia
digital em um drive (pasta compartilhada) que é acessível de qualquer lugar, basta que
tenhas um aparelho que permita isso.
79
A divisão proposta por Santaella e Nöth (2005, p. 162) está baseada em três
paradigmas por meio de um critério “materialista, ou seja, trata-se, antes de tudo, de
determinar o modo como as imagens são materialmente produzidas, com que materiais,
instrumentos, técnicas, meios e mídias”. Sendo que nesses modos de produção vão
estar o desempenho dos agentes produtores, com meios de armazenamento e de
transmissão dessas imagens. O “procedimento escolhido foi analisar comparativamente
o modo de produção de cada um dos três paradigmas para, a seguir, examinar, de
maneira breve e esquemática, as variações que eles vão apresentando sob o ponto de
vista de cada um dos seguintes tópicos” (SANTAELLA; NÖTH, 2005, p. 163):
1. Meios de armazenamento.
2. Papel do agente produtor.
3. Natureza das imagens.
4. Imagens e suas relações com o mundo.
5. Meios de transmissão.
6. Papel do receptor.
80
A pintura é um dos melhores exemplos para o paradigma pré-fotográfico, o desenho
manual e algumas gravuras cabem também. Como resultante de um processo artesanal,
essas imagens precisam de um suporte físico, superfícies que servem como receptáculos às
tintas, grafites e pigmentos, que um agente produtor – desenhista, gravurista, pintor, artista –
utiliza para deixar registrado seus gestos por meio de instrumentos.
Interessante pensar que, até então (do século XVII para trás), todo e qualquer
produto humano estava intimamente ligado às habilidades e técnicas de seu produtor, uma
cadeira, uma vestimenta, um retrato. O artesanato parece dar conta do modus operandi
dos processos produtivos Pré-Revolução Industrial. É com o advento da máquina e com
81
as descobertas científicas que o processo produtivo passou das habilidades técnicas
do produtor, para o anonimato de um operário que executava etapas de confecção ou
quando, dependendo do tempo evolutivo, a execução passou a ser totalmente maquinária
e/ou tecnológica. A Revolução Industrial apresentara evoluções de técnicas anteriores
que agora davam conta de ser executadas em grande escala.
INTERESSANTE
O processo fotográfico é, de certa forma, a execução imagética em grande
escala. Esse processo não surgiu durante a Revolução Industrial, ele tem
suas bases na sociedade antiga e foi muito utilizado no Quattrocento na
técnica de pinturas que tinha como ferramenta a câmara obscura. Que
tal uma pesquisa sobre “câmara obscura” na internet? Segue o link de um
vídeo do fotógrafo e professor Rodolfo Massambone, intitulado: O princípio
da fotografia: da câmera obscura ao digital: https://www.youtube.com/
watch?v=bTS0RFKB2nE.
82
O negativo, captação da luz, é paradoxalmente, pura sombra, rastro
escuro à espera da luz que só será restituída na revelação. A imagem
revelada, por seu turno, é sempre um duplo, emanação direta e física
do objeto, seu traço, fragmento e vestígio do real, sua marca e prova,
mas o que ela revela, sobretudo, é a diferença, o hiato, a separação
irredutível entre o real, reservatório infinito e inesgotável de todas as
coisas, e o seu duplo, pedaço eternizado de um acontecimento que,
ao ser fixado, indiciará sua própria morte. No instante mesmo em
que é feita a tomada, o objeto desaparece para sempre (SANTAELLA;
NÖTH, 2005, p. 165).
Por mais que tenhamos imagens icônicas nas telas, tudo o que se passa por trás
delas é abstrato, resultantes das possibilidades binárias que os sistemas de informações
permitem. Interessante considerar o processo da imagem pós-fotográfica:
83
Numa visão global, o processo se desenvolve da seguinte maneira:
em primeiro lugar, o programador constrói um modelo de um objeto
numa matriz de números, algoritmos ou instruções de um programa
para os cálculos a serem efetuados pelo computador; em segundo
lugar, a matriz numérica deve ser transformada de acordo com outros
modelos de visualização ou algoritmos de simulação de imagem
(MACHADO 1993); então, o computador traduzirá essa matriz em
pontos elementares ou pixels para tornar o objeto visível numa tela
de vídeo (SANTAELLA; NÖTH, 2005, p. 167).
MEIOS DE PRODUÇÃO
Suporte físico-
Suporte virtual – tela do
Suporte matérico químico ou
computador, vídeo.
eletromagnético
Instrumentos extensores da
Técnicas óticas Número, pixels.
mão
Processo monádico Processo didático Processo triádico
84
4 OS PARADIGMAS DA IMAGEM E AS CONSEQUÊNCIAS
DOS MEIOS DE PRODUÇÃO
O entendimento dos paradigmas da imagem abrange, além do meio de produção,
os meios de armazenamento, o papel do agente produtor, a natureza das imagens, as
relações da imagem com o mundo, os meios de transmissão e o papel do receptor. Em
cada um desses temas as imagens, conforme seu paradigma, apresenta características
específicas. Vamos entender as imagens em cada um destes temas.
INTERESSANTE
O fato de produzirmos alguma coisa com as mãos, usando de nossas habilidades e
técnicas, dá ao objeto criado uma áurea quase que divina. Sabemos do esforço que
investimos ao produzir e entendemos do valor do que está produzido, porém,
em muitos casos, o material não durará para sempre. E é isso que foi salientado
pelos autores – a contradição de entendermos que é perecível algo que
desejamos que dure para sempre. Aí pode estar um dos pontos valorosos das
artes (pinturas, esculturas) que temos em nossa cultura.
85
desenho no papel e seguindo as mesmas métricas físico-químicas da revelação, você
teria aquela imagem novamente, pois a imagem fotográfica não está armazenada na
fotografia revelada, mas sim no negativo e este como matriz permite reproduzir em
quantidades a mesma imagem.
MEIOS DE ARMAZENAMENTO
Negativo ou fitas
Suporte único Memória do computador
magnéticas
Perecível Reprodutível Disponível
FONTE: Santaella e Nöth (2005, p. 170)
86
4.2 QUANTO AO AGENTE PRODUTOR
O produtor de uma imagem artesanal, uma pintura, por exemplo, tem uma
capacidade individual para a figuração, por meio de gestos e traços, interfere num meio,
deixando ali seu estilo. Seu olhar é importante nesse jogo em que se torna criador.
Enquanto na fotografia o produtor é um voyer, um sujeito impulsionado pelo tempo,
um caçador e enquadrador que se desloca à procura do disparo perfeito. No paradigma
fotográfico, o agente produtor tem que ter percepção e estar pronto para o disparo,
capturando a cena desejada.
PAPEL DO AGENTE
Percepção e
Imaginação para a figuração Cálculo e modelização
prontidão
Olho da câmara e
Olhar do sujeito ponto de vista do Olhar de todos e de ninguém
sujeito
87
No paradigma fotográfico, a natureza da imagem é a captura, dá-se no registro
do visível, mostra-se na reprodução por reflexo e captação. Resultante do congelamento
de uma cena enquadrada, a natureza da imagem nesse paradigma se faz fragmento
do real, funcionando como registro do momento em que sujeito criador e mundo se
confrontam. “Imagens-documento, elas são traços, vestígios da luz, resto que sobrou
do corte executado no campo da natureza” (SANTAELLA; NÖTH, 2005, p. 171).
NATUREZA DA IMAGEM
Figurar o visível e o
Registrar o visível Visualizar o modelizável
invisível
Simular por variações de
Figuração por imitação Capturar por conexão
parâmetro
Por mais figurativa que possa ser, ela é sempre uma imagem
evocativa, que alude a um mundo que não existe porque ainda
traz dentro de si resíduos do divino; por isso mesmo, embora seja
eminentemente monádica, o efeito final desse tipo de imagem
é, ao fim e ao cabo, simbólico. Imagem fantasmática, ela visa ao
ocultamento da separação intransponível entre imagem e mundo
(SANTAELLA; NÖTH, 2005, p. 172).
88
Funcionando como metonímia, o paradigma fotográfico apresenta uma imagem
como sendo um duplo, um reflexo, uma emanação do mundo das coisas. Faz-se como
imagem-documento, resultado de um posicionamento do agente produtor que se
confronta com o mundo para dar conta de capturá-lo. “Nela, um fragmento do real
é capturado pela máquina através de um sujeito. Sombra, resto, corte, nesse tipo de
imagem, o índice reina soberano” (SANTAELLA; NÖTH, 2005, p. 172).
IMAGEM E MUNDO
PRÉ-FOTOGRÁFICO FOTOGRÁFICO PÓS-FOTOGRÁFICO
Aparência e miragem Duplo e emanação Simulação
Metáfora Metonímia Metamorfose
Janela para o mundo Biunívoca Virtual
Ideal de simetria Ideal de conexão Ideal de autonomia
Modelo imaginário e
Modelo físico Modelo simbólico
icônico
Evocativa Sombra Ascética
Símbolo Índice Ícone
89
Já as imagens do paradigma fotográfico, são perecíveis como fotografias,
como revelações, mas em seus negativos se legitima na era da comunicação em
massa, o que a coloca além dos álbuns de família e porta-retratos, indo para os jornais,
outdoors, cartazes, revistas etc. Tanto isso é verdade que não demorou muito para o
cinema realizar o potencial massivo latente nas fotografias, que o processo de difusão
da televisão levaria às últimas consequências. Se no paradigma anterior o espaço é a
reclusão, neste, o espaço é a comunicação.
MEIOS DE TRANSMISSÃO
90
Já a imagem do paradigma fotográfico oferece-se para a observação, porém
sabendo de sua possibilidade reprodutível, parece não existir o “algo de sagrado” que
paira nas imagens do paradigma anterior. Cabe ao receptor entender a imagem do
paradigma fotográfico como memória e identificação.
MEIOS DE TRANSMISSÃO
91
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
92
AUTOATIVIDADE
1 Quanto ao paradigma pré-fotográfico, analise as sentenças a seguir:
I- Neste as imagens são expressões da visão, tendo como principal instrumento o corpo.
II- A imagem produzida neste paradigma nunca será um objeto único, autêntico.
III- O paradigma pré-fotográfico refere-se às imagens que são produzidas
artesanalmente, dependendo da habilidade manual de um indivíduo. Exemplos:
desenho, pintura, gravura e escultura.
IV- O fato de serem armazenadas em suporte material único, faz com que este tipo de
imagem ostente uma contradição fundamental: a aspiração à durabilidade implícita
no gesto criador e a fragilidade do meio de armazenamento que é em grande
medida perecível.
93
3 Quanto ao paradigma pós-fotográfico, analise as sentenças a seguir:
4 De acordo com Lúcia Santaella e Winfried Nöth (2005), os três paradigmas da imagem
apresentam distinção com relação ao agente produtor dos paradigmas citados.
Explique quais são as diferenças entre os três paradigmas.
94
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS
BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Iniciamos o terceiro tópico desta unidade, nele, vamos nos aproximar de alguns
princípios, técnicas e elementos de composição que suportam a composição das
imagens em suas dimensões como representações visuais, da mesma forma, plastificam
as imagens indiferentes de seus paradigmas.
2 GESTALT
Nos processos de leitura ou produção de objetos que devem ser percebidos
visualmente, tanto a experiência quanto o comportamento de “ver” e “enxergar”
são importantes.
95
Atua principalmente na forma e tem grande relevância nos estudos de
percepção, linguagem, conduta e dinâmica de grupos sociais, dando conta de sugerir
respostas ao porquê gostamos mais de uma coisa que de outra. Em um sentido mais
geral, o termo Gestalt “significa uma interação de parte em oposição à soma do todo”
(GOMES FILHO, 2008, p.18). Está relacionada à forma, à figura e à estrutura que tem,
como já mencionado na Lei de Prägnanz – Lei da pregnância –, uma postura norteadora
à medida que seus principais expoentes forneceram direcionamentos sobre os princípios
organizacionais que deve ser aplicado na percepção do mundo.
INTERESSANTE
Olha que interessante. Quando saímos de um lugar que tinha muita fumaça e
ficamos com o cheiro dela em nossas roupas, falamos que ficamos “impregnados
de fumaça”. Esta mesma noção vale para a Lei de Prägnanz, que nos processos de
comunicação e percepção de mundo, direciona-nos à maneira que devemos seguir
para fazer com que o objeto desenvolvido fique “impregnado” na pessoa, ou seja, o objeto é
tão bem organizado que quando alguém o vê (entra em contato com ele), fica impregnado
dele – consegue lembrar dele. Isso foi tão intenso no design, que na segunda metade do
século XX, criou-se o conceito da “boa forma”, que tem tudo a ver com esta lei e com a Gestalt.
Se você algum dia já ouviu ou usou a premissa: “menos é mais”, ela está em linha com o que
estamos estudando aqui!
96
FIGURA 2 – EXEMPLO DA PREGNÂNCIA NA TIPOGRAFIA
97
INTERESSANTE
Um passeio pela cidade ou pelo shopping pode possibilitar um belo exercício
deste conteúdo. Você pode organizar uma escala de julgamento para o nível
de pregnância, estabelecendo um grau, em que (1), o objeto tem péssima pregnância, e
(10), ele tem alto nível de pregnância. O site Fashionismo, em agosto de 2010, publicou
a matéria O poder de uma vitrine, tratando do quanto uma vitrine comunica e convida
o consumidor a entrar no estabelecimento. A imagem, disponível em: https://www.
fashionismo.com.br/wp-content/uploads/2010/08/vitrines-ny-578x495.jpg, é apenas para
ilustrar este exercício que você pode fazer:
Analisando essas duas imagens, qual pontuação cada uma ganharia? O legal é ter fotografias
das vitrines que você pontuou para depois analisar e identificar que elementos contribuíram
para o julgamento de cada uma.
No caso dessas duas vitrines, percebe-se que as duas tem baixo grau de pregnância (volte
para a vitrine que trabalhamos na Unidade 1 – Figura 1: Vitrine e seus sentidos – e veja
que aquela teria um grau maior de pregnância, comparada a essas duas). Na comparação
entre as duas, observa-se que a segunda terá um grau de julgamento maior quanto à
pregnância, em função de estar composta por elementos similares (papéis que remetem
a cédulas) que contribuem para a harmonização, facilitando o percurso do olhar (do
centro da vitrine para baixo onde se concentram). Em contraposição, a primeira vitrine
apresenta elementos circulares em sua composição, mas além de formas diferentes
(bolas e cilíndricas), localizam-se por toda a vitrine, fazendo com que o percurso do olhar
seja bem maior que na segunda vitrine.
98
'A Gestalt entende que o que acontece no olho humano é diferente com o que
acontece no cérebro e que a percepção é da junção desses dois momentos, é do todo,
é unificada. Não percebemos formas isoladas, vamos perceber sempre relações em que
uma parte depende da outra. Na figura a seguir, vemos um exemplo disso, por mais que
pareçam diferentes, os dois círculos centrais têm o mesmo tamanho.
Essa capacidade autorreguladora, por mais espontânea que seja, parece seguir
alguns princípios básicos, chamadas forças de organização ou de lei de organização da
forma perceptual.
99
2.1.1 Unidade
Identificada em um único elemento, a forma se encerra em si mesma. Pode ter
um ou mais elementos que configuram um todo único. A unidade pode ser percebida
pelas relações de similaridade dessas partes, pode haver unidade formal, dimensional,
cromática. Se houver mais de uma unidade em um objeto, é interessante eleger as
unidades principais, desde que estas permitam a leitura do objeto como um todo.
A três barras que compõem a marca da Adidas mostra um bom exemplo para
unidade. É formada pela mesma faixa retangular cortada em tamanho diferente e
organizadas paralelamente.
Uma flor tem unidade visual à medida que, composta por unidades similares,
forma um conjunto de pétalas que são unidades particulares, mas que juntas dão conta
do todo de uma flor. A noção de unidade deve considerar os elementos similares que
organizem partes que promovem uma composição única de um todo. Por exemplo, no
desenvolvimento de moda, a cartela da cor ajuda a garantir unidade para cada peça e
para toda uma coleção.
2.1.2 Segregação
A capacidade de separar dando destaque ao que está se separando pode ajudar
na noção deste princípio. A capacidade de evidenciar, notar, destacar unidades de
uma composição pode ser um recurso realizado através de cores, formas, dimensões
e posicionamentos.
100
FIGURA 6 – SEGREGAÇÃO NA MARCA DO CARREFOUR
2.1.3 Proximidade
Ao aproximarmos elementos uns dos outros, oferecemos ao leitor a possibilidade
de vê-los juntos, constituindo unidade de um todo ou um todo por si só. Se você olhar
essa página, verá que as letras mais próximas sugerem palavras, e que a cada espaço
maior entre elas, uma nova palavra aparece – no conjunto das palavras, temos os
parágrafos. Vamos nos apoiar nas duas marcas que usamos nos princípios anteriores:
FONTE: O autor
Os elementos que dão unidade a cada uma das marcas, quando distanciados,
não sugerem o que precisam comunicar. A aproximação de cada um permite a
visualização de um todo capaz de dizer da Adidas e dizer de Carrefour.
101
2.1.4 Semelhança
A Semelhança e a proximidade parecem uma agir sobre a outra. Ambas têm
forte relação com a unidade. Elementos semelhantes facilitam o estabelecimento
de agrupamentos.
Condições iguais, os estímulos mais semelhantes entre si, seja por forma, cor,
tamanho, peso, direção e localização, terão maior tendência a ser agrupados, a constituir
parte ou unidades. Em condições iguais, os estímulos originados por semelhança e em
maior proximidade terão também maior tendência a serem agrupados, a constituírem
unidades (GOMES FILHO, 2008, p. 35).
FONTE: O autor
2.1.5 Unificação
Tanto a proximidade quanto a semelhança concorrem fortemente para a
unificação, que consiste na semelhança dos elementos apresentado na composição
visual. A unificação é verificada quando um objeto apresenta harmonia, equilíbrio e
coerência visual.
102
FIGURA 9 – UNIFICAÇÃO EM QUATRO EXEMPLOS
2.1.6 Fechamento
Obtido pela continuidade e agrupamento de elementos que promovem um
todo mais completo, mais fechado. Não se trata de um fechamento físico, mas de
uma sensação de fechamento. É pelo fechamento, resultando da aproximação que a
marca do Carrefour sugere a letra “C” cortando um losango, depois que percebemos tal
fechamento, passamos a enxergar ora o losango vazado pelo “C”, ora duas formas que
apontam para direções opostas.
103
ele o “N”. No segundo caso, percebe-se o fator denotativo, já no primeiro, o fator abstrato
ou conotativo. É importante entender que é a postura artística instiga a atração visual
dessas formas e promovem formas de alta pregnância quando trabalhadas de forma sutil.
2.1.7 Continuidade
A sucessão das partes, sem quebras ou interrupções sugerindo uma trajetória
ou oportunizando fluidez visual, é a continuidade. Ela está na tendência da organização
de elementos, de maneira a um acompanhar o outro e permitindo a continuidade de um
movimento numa direção específica.
FIGURA 11 – CONTINUIDADE
FONTE: O autor
104
3 PRINCÍPIOS E TÉCNICAS
No desenvolvimento de uma imagem, fotografias, por exemplo,
são utilizados diversos elementos (cores, formas, texturas) e estratégias
(proporção, posição, tamanho), relacionados aos princípios que regem a
composição, caso da harmonia, do contraste e de outras técnicas e elementos
básicos da composição visual.
3.1 HARMONIA
A harmonia está relacionada à boa organização e à boa proporção em toda
a composição visual. Quando os fatores de equilíbrio, ordem e regularidade visual
permitem clareza e simplicidade na leitura da composição, tem-se a harmonia plena.
FIGURA 12 – HARMONIA
FONTE: O autor
3.2 CONTRASTE
Se a vontade humana é a harmonia, o contraste é estratégia opositora a isso.
Como já mencionamos, é pelo contraste que é possível ver – imagine um desenho
branco sobre um fundo branco – esse baixo contraste dificultará a visualização do
desenho, para darmos visualização, é preciso acentuar a oposição cromática do fundo
ou do desenho, isso, basicamente, é o contraste.
105
A importância e o significado do contraste começam no nível básico
da visão pela presença ou ausência da luz. É a força que torna
visível as estratégias da composição visual. É de todas as técnicas
a mais importante para o controle visual de uma mensagem bi ou
tridimensional. É também um processo de articulação visual em
uma força vital para a criação de um todo coerente (GOMES FILHO,
2008, p. 62).
INTERESSANTE
Retorne ao início desta unidade e veja as linhas que você compôs para
expressar a ideia de “casamento feliz” e de “casamento conflituoso” – o
contraste dessas duas situações provavelmente estará manifestado em
suas expressões.
106
FIGURA 13 – OS CONTRASTES NA REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO ESTILISTA CHRISTIAN LACROIX
INTERESSANTE
Com apenas dois elementos, vamos exercitar o que estamos tratando aqui.
Recorte um quadrado em uma folha de papel branca de tamanho 10 x 10
cm (tendo como base um A4) e pegue uma moeda.
Usando o quadrado como base, coloque a moeda sobre o papel quadrado. Inicialmente,
vemos que a moeda se contrasta com o fundo branco. Agora, posicione a moeda dentro
do quadrado de maneira a criar uma composição harmônica.
Veja que interessante: harmonia, como tratamos aqui é um estado de repouso absoluto,
dessa forma, há uma probabilidade de a moeda estar posicionada em um lugar dentro
do quadrado que provoque um relaxamento das tensões visuais, ou seja, que nosso olhar
não fique vagando a composição em busca de uma situação considerada melhor. Assim, é
bem possível que a posição mais sugestiva seja o centro do quadrado.
107
Interessante perceber que nós nos comportamos como um instrumento de medida,
como nos diz Rudolf Arnheim (2005), vamos levando a moeda de forma que ela esteja
distanciada das quatro bordas igualmente, buscando o centro geométrico da figura. Dessa
forma, garantimos a composição com harmonia visual em todos os sentidos. Note que se
posicionarmos a moeda sem essa capacidade de medida, a figura fica pedindo isso:
108
3.3 EQUILÍBRIO
Assim como para a harmonia, o ser humano tem uma tendência de buscar o
equilíbrio, é de sua natureza. Dessa forma, o equilíbrio é referência visual forte quando recebe
ou produz informações visuais. A noção horizontal-vertical compõe a base do ser humano
com o meio ambiente e com o espaço que ele vai compor seus objetos, que passam a ter
“eixo” vertical, com referência horizontal e, juntos, determinam as condicionantes estruturais
que dão conta do equilíbrio – conhecido como “eixo de sentido”.
Ilustrando um exemplo dos testes feitos por Maitland Graves, para determinar a
sensibilidade de estudantes, foi descrita assim por Arnheim (2005, p. 14):
109
FIGURA 15 – REPRESENTAÇÃO EM TONS DE CINZA DA OBRA DE PIET MONDRIAN
110
A fotografia de paisagem se mostra simétrica por pesos e direções de seus
elementos. É possível ver o eixo de simetria vertical (1), o eixo de simetria horizontal (2)
e os eixos simétricos diagonais (3a; 3b).
FONTE: O autor
111
FIGURA 18 – REGULARIDADE (1) E IRREGULARIDADE (2)
FONTE: O autor
FONTE: O autor
112
3.8 ECONOMIA E PROFUSÃO
A economia é uma organização sensata, coerente e parcimoniosa na utilização
de elementos visuais. A profusão, pelo contrário, apresenta-se cheia de elementos,
com muitos detalhes e ornamentos; pode ser entendida como uma estratégia de
enriquecimento visual, associando seu discurso ao poder e à riqueza, enquanto a
economia está relacionada ao conservadorismo e pureza da forma.
FONTE: O autor
FONTE: O autor
113
FIGURA 23 – PREVISIBILIDADE (1) E ESPONTANEIDADE (2)
FONTE: O autor
FONTE: O autor
FONTE: O autor
114
3.13 NEUTRALIDADE E ÊNFASE
A neutralidade aparece em ocasiões em que a composição tem uma estrutura
visual que pouco provoca o observador. Enquanto a ênfase quebra essa atmosfera, criando
elementos provocativos, realçado por fortes contrastes de determinados elementos.
FONTE: O autor
FONTE: O autor
115
FIGURA 28 – ESTABILIDADE (1) E VARIAÇÃO (2).
FONTE: O autor
116
FIGURA 30 – PLANURA (1) E PROFUNDIDADE (2).
FONTE: O autor
FONTE: O autor
117
FIGURA 32 – SEQUENCIALIDADE (1) E ACASO (2)
FONTE: O autor.
118
FIGURA 34 – REPETIÇÃO (1) E EPISODICIDADE (2)
FONTE: O autor
• Ponto.
• Linha.
• Forma.
• Direção.
• Movimento.
• Escala.
• Dimensão.
• Textura.
• Tom.
• Cor.
119
INTERESSANTE
Muito do que estamos vendo nesta disciplina conversa diretamente
com a disciplina Desenho artístico. Vale esse olhar transdisciplinar e
perceber que os elementos da forma (ponto, linha, plano, por exemplo)
serão importantes para o que estamos estudando aqui.
120
LEITURA
COMPLEMENTAR
LEITURA DE IMAGENS, CULTURA VISUAL E PRÁTICA EDUCATIVA
LEITURA DE IMAGENS
122
A proposta da leitura de imagens de tendência formalista fundamenta-se em
uma "racionalidade" perceptiva e comunicativa que justifica o uso e desenvolvimento
da linguagem visual para facilitar a comunicação. No contexto escolar, essa prática
era atribuída geralmente a professores de arte, porém, não chegou a ser hegemônica
entre eles. Hernandez (2000) chama de "racionalidade" o conjunto de argumentos
e evidências que justificam a inserção da prática artística no contexto escolar. A
presença de uma racionalidade não representa necessariamente uma hegemonia, pois
diferentes formas de racionalidade podem conviver no mesmo espaço e tempo, e uma
pode estar mais consolidada que outra. A racionalidade moral entende que a prática
artística contribui para a educação moral e o cultivo da vida espiritual e emocional.
A racionalidade expressiva considera a arte essencial para a projeção de emoções e
sentimentos que não poderiam ser comunicados de nenhuma outra forma. Concebe-se
a prática artística como uma forma de conhecimento que favorece o desenvolvimento
intelectual para a racionalidade cognitiva. Por fim, a racionalidade cultural entende o
fenômeno artístico como manifestação cultural e vê nos artistas os responsáveis por
realizar as representações mediadoras de significados para cada época e cultura. Essa
forma de racionalidade está presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que
definem o objeto artístico, no caso, as imagens, como produção cultural, documento do
imaginário humano, de sua historicidade e de sua diversidade (BRASIL, 1997).
123
em determinado domínio se faz em direção a maior complexidade do pensamento,
configurando estágios desse desenvolvimento. Assim, as habilidades para a
compreensão estética crescem cumulativamente à medida que o leitor vai evoluindo
ao longo dos estágios: narrativo, construtivo, classificativo, interpretativo e recreativo.
Nessa mesma linha de raciocínio, Michael Parsons afirma que um grupo de ideias, de
tópicos estéticos (tema, expressão, aspectos formais, juízo) prevalece e é entendido
de maneira cada vez mais complexa, do ponto de vista estético, em cada um dos
estágios de desenvolvimento. Ambos os autores concordam que nem todos os adultos
alcançam os estágios mais elevados de compreensão estética, pois o que mais favorece
o desenvolvimento estético é a familiaridade com as imagens das obras de arte, e isso
depende das experiências artísticas de cada pessoa.
124
De outro ponto de vista, antropólogos, sociólogos e historiadores interessam-se
pelo uso de imagens como fonte documental, instrumento, produto de pesquisa ou, ainda,
como veículo de intervenção político-cultural (FELDMAN-BIANCO; LEITE, 1998). Diante
dessas novas perspectivas teórico-metodológicas, reforça-se a tendência a construir o
conhecimento utilizando a dimensão imagética como documento. O uso de imagens na
pesquisa histórica é crescente, apesar do baixo número de pesquisadores "alfabetizados
visualmente" (SAMAIN, 1998) e das dificuldades e limites que o âmbito acadêmico impõe a
esse tipo de pesquisa. Uma dessas dificuldades é a resistência de alguns teóricos a aceitar
a aproximação, o rascunho, o movente, a criação, a imaginação e os sentimentos como
campos que tecem o itinerário argumentativo do conhecimento (CUNHA, 2001).
Cardoso e Maud (1997) advertem que o pesquisador que lida com as imagens
tende a reagir inicialmente com o mesmo encantamento que reage diante das relíquias
e cortes do passado que o tempo não extinguiu. Ler uma imagem historicamente é
mais do que apreciar o seu esqueleto aparente, pois ela é construção histórica em
determinado momento e lugar e quase sempre foi pensada e planejada. Por exemplo,
tanto fotógrafos como pintores negociam o cenário das imagens que produzem, mas
essa negociação não é aleatória, pois visa um público e o que se quer mostrar a este
público. O cenário preparado aproxima a imagem de outros interesses ou intenções,
por exemplo, o de apresentar uma determinada realidade e/ou alteração da realidade.
No entanto, mesmo que se constitua uma realidade montada e/ou uma alteração dela,
fruto da imaginação de um ou mais componentes, a imagem fixada não existe fora
de um contexto, de uma situação. Pedaços desse contexto são encontrados tanto no
interior da imagem quanto no seu exterior. O interior corresponderia ao próprio cenário,
com seus utensílios e apetrechos, as pessoas com suas roupas, cabelos, modos e
posturas corporais. O exterior corresponderia ao próprio suporte da imagem, às técnicas
de produção no momento da criação, como também às perspectivas que tal novidade
técnica gerou ou não nas pessoas em geral.
125
• No âmbito da documentação, Valle Gastaminza (2002) refere-se às indicações para
catalogar uma imagem e afirma que uma leitura inteligente da imagem, seja o leitor
um documentalista ou não, requer as seguintes competências:
• iconográfica: reconhecer formas visuais que reproduzem ou não algo que existe
na realidade;
• narrativa: estabelecer uma sequência narrativa entre elementos que aparecem na
imagem e/ou elementos de informação complementar (título, data, local etc.);
• estética: atribuir sentido estético à composição;
• enciclopédica: identificar personagens, situações, contextos e conotações;
• linguístico-comunicativa: atribuir um tema, um assunto que poderá contrapor-se ou
coincidir com as informações complementares;
• modal: interpretar o espaço e tempo da imagem.
126
Apesar do crescente interesse pelo visual, a expressão "leitura de imagem" não
é consenso entre artistas, educadores, historiadores, sociólogos e antropólogos, já que
para vários pesquisadores desses campos não é possível "ler" uma imagem. Afastando-
se dessa polêmica, em uma vertente interacionista e significativa da leitura, Smith (1999)
sugere que se evitem as intermináveis discussões semânticas sobre definições de
leitura e se pense no processo da leitura. Para ele, os bens simbólicos produzidos pela
humanidade são codificados de formas diversas, mas que mantêm uma estreita relação
entre si e se expressam no que se convencionou chamar de "semiose" cultural, essa
ampla rede de significações. A recepção desses bens simbólicos pode ser compreendida
como leitura, na medida em que todo recorte na rede de significações é considerado um
texto. Assim, é possível ler o traçado de uma cidade, um filme, uma coreografia. Imagem
e escrita são códigos em constante interação.
FONTE: Adaptado de SARDELICH, M. E. Leitura de imagens, cultura visual e prática educativa. Cad. Pesqui.,
v. 36, n. 128, ago. 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cp/a/tQws4zsftqmGxhq3XqVJTWL/?lan-
g=pt. Acesso em: 21 set. 2021.
127
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Quanto mais simples, mais equilibrada, homogênea e regular for a imagem, mais
pregnante ela será – e que é esse o princípio da Lei da Prägnanz.
• A teoria da Gestalt pode ser entendida como a Lei da Gestalt ou como a Lei da
Organização da Forma Perceptual.
• Ao nos apoiarmos à Lei da Gestalt para analisar uma imagem, os princípios que
devemos nos apoiar são: unidade, segregação, unificação, fechamento, continuidade,
proximidade, semelhança, e a própria Lei da Prägnanz. Nem sempre os princípios
podem ser a estratégia a ser utilizada, podendo haver técnicas visuais que se opõem.
• A análise de uma imagem pode identificar muitas técnicas e princípios em sua estrutura.
• Um profissional pode usar dos mais variados princípios e de inúmeras técnicas para
compor a estrutura de uma imagem.
128
AUTOATIVIDADE
1 Com base na prova do Design do Enade de 2006, responda à questão a seguir:
Os cartazes da Copa do Mundo de Futebol reúnem o melhor das artes gráficas dos países
sede e nos períodos históricos em que foram feitos. As figuras a seguir, numeradas de I
a IV, representam, respectivamente, os cartazes oficiais das Copas do Mundo de 2018,
2014, 2010 e 2006.
Com base nas observações dos elementos gráficos visuais e das técnicas de composição
visual dos cartazes apresentados, assinale a alternativa CORRETA:
129
a) ( ) O cartaz identificado com o número II evidencia equilíbrio, contraste de cores,
utilização da lei da Gestalt de fechamento e de fontes com serifa.
b) ( ) O cartaz identificado com o número III é assimétrico, apresenta contraste de luz e cor
e evidencia a utilização da lei da Gestalt de semelhança.
c) ( ) Os cartazes identificados com os números I e III são assimétricos, apresentam
predominantemente formas orgânicas e evidenciam ambos a utilização das leis
da Gestalt de fechamento e unificação.
d) ( ) Os cartazes identificados com os números I e IV são simétricos, apresentam
fonte sem serifa e utilizam a lei da Gestalt de proximidade.
FONTE: Adaptado de GOMES FILHO, J. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual. São Paulo: Escrituras
Editora, 2008.
PORQUE
II- Em um sentido mais geral, o termo Gestalt tem seu significado relacionado à
interação de parte em oposição ao todo.
4 Quando vamos fazer uma fotografia (tirar uma foto), somos levados, mesmo que
intuitivamente, a organizar o que queremos fotografar. Enquadramos o que deverá
compor nossa foto e capturamos a cena em nossa câmera fotográfica. Ao analisarmos
a foto feita, nosso olhar percorre a imagem, fazendo valer dos princípios da percepção
visual – um deles é o eixo de simetria. A partir da afirmação feita, explique o que é o
eixo de simetria.
130
5 Assim como o alfabeto e a gramática ficam à disposição do escritor, os elementos
visuais ficam à disposição do artista visual e do designer que, dado o seu repertório
gramatical visual (caso do entendimento dos princípios e das técnicas visuais),
garantirá composições que sejam lidas, compreendidas e convençam a aquisição de
seus valores por parte de seus consumidores. Os elementos visuais formam a base
do que vemos, como letras de um alfabeto: ponto, linha, forma, direção, movimento,
escala, dimensão, textura, tom e cor mesclam-se construindo elementos que,
sozinhos ou em conjunto, formam as composições visuais. Um pequeno número
que é matéria-prima de toda e qualquer informação visual. A partir da leitura desse
texto, conceitue o elemento linha. Disserte como ela surge e qual o poder dela como
elemento visual.
131
REFERÊNCIAS
AGUIAR, V. T. e. O verbal e o não verbal. São Paulo: UNESP, 2004.
ARNHEIM, R. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo:
Pioneira Thomson Learning, 2005.
COSTA, F. S. M. et al. Uma luz para os cegos: uma reflexão sobre os conceitos de “ver”
e “enxergar” à luz da literatura. Campina Grande: UEPB, 2015. Disponível em: https://
scholar.googleusercontent.com/scholar?q=cache:FMdzZBXQsTgJ:scholar.google.
com/+ver+e+enxergar&hl=pt-BR&as_sdt=0,5. Acesso em: 18 set. 2021.
GOMES FILHO, J. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual. São Paulo: Escrituras
Editora, 2008.
SANTAELLA, L.; NÖTH, W. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Ed.
Iluminuras, 2005.
132
UNIDADE 3 —
SEMIÓTICA E
PERCEPÇÃO VISUAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• ser capaz de escolher quais princípios de análise podem ser usados na abordagem
de imagens e suas leituras.
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
133
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
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134
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
A PERCEPÇÃO VISUAL E OS PRINCÍPIOS
DE ESTILO
1 INTRODUÇÃO
As habilidades e as competências desenvolvidas em estudantes e profissionais
que trabalham com a leitura de imagens assume, cada vez mais, papel importante no
desenvolvimento de posturas coerentes em um cenário tomado pela comunicação
imagética, das mídias televisivas, cinematográficas até as redes sociais. Alcançar
uma alfabetização imagética é garantir uma qualidade comunicativa, principalmente
nos contextos em que muito do que comunicamos se faz por meio de imagens. De
certo modo, esse é um dos requisitos mais desejados pelo mercado empregador e pelo
sucesso empreendedor de muitos negócios.
A capacidade de dar forma às ideias deve ser estimulada para que seja possível
expressar algo que seja atrativo, que, para determinado perfil de pessoas, seja belo. Essa
capacidade de dar estilo agrega valor às imagens, mesmo que em muitos casos a mudança
seja apenas estética. Caso de algumas obras de arte que assumem a postura autoral,
declarando elementos da subjetividade de seu criador. Ter a capacidade de identificar o
estilo das imagens que se está lendo, é prerrogativa-base ao leitor de imagens.
135
2 PRINCÍPIOS E HABILIDADES DE ESTILO
A noção de que quando expressamos uma ideia ou entramos em contato
com alguma expressão nossos cinco sentidos são estimulados, é o ponto inicial para
que possamos falar do estilo como princípio regulador do experenciar uma imagem –
seja produzindo-a ou lendo-a. De fato, cada vez mais somos estimulados e podemos
estimular todos os sentidos, caso de uma loja, que além do visual, de fragrância própria,
tem música ambiente, permite que os produtos sejam tocados e, em alguns casos,
proporcionam-nos experiências degustativas de seu conceito, interessante pensar
que quando experenciamos um espaço assim, chegamos a construir uma “imagem”
do espaço. Em uma experiência dessa, quando bem realizada, o leitor é impactado
positivamente. Há de considerar que grande parte das experiências se fazem no campo
do sentido visual. A percepção visual é o estímulo maior nas experiências de objetos e
espaços. Muito da atratividade de uma imagem depende do estilo visual dela.
NOTA
Acadêmico, você percebe que essa involuntariedade tem relação direta
com a primeiridade na semiótica peirciana? Vasculhe uma imagem desta
forma, olhe para toda a composição de forma geral, não dirija o olhar nem
a atenção, deixe os movimentos do olho vagarem involuntariamente, nesse
escaneamento. Tudo que for identificado (padrões, formas) e qualquer
elemento que dá conta de representar alguma coisa, pode ser entendido
como a primeiridade de Peirce (2005).
O segundo estágio inicia quando passamos a dar foco intencional aos detalhes
da imagem. Quando algumas partes da composição nos chama a atenção.
136
FIGURA 1 – PROCESSAMENTO VISUAL
Essa figura ilustra esses dois estágios. Uma primeira varrida do olhar destaca que
existe algo diferente na composição no canto superior direito dela. Para perceber isso, o
esforço foi mínimo e não foi preciso investir intencionalmente a atenção. Se vagarmos
com intencionalidade a composição, esforçando-nos, é possível identificar uma forma
retangular com 6 letras X em negrito de altura e 8 letras X em negrito de largura.
NOTA
Perceba que a intencionalidade, o esforço que empreendemos em analisar
uma imagem, uma composição, já nos impõe uma tarefa de legitimar o
que é diferente, o que se destaca. Quando isso ocorre, pode ser atribuída
à ideia de secundidade do signo peirciano. Ao ensejarmos particularidades,
abandonamos a primeiridade que é um vasculhar involuntário.
137
nesta outra parte da composição, dando mais qualidade à análise da imagem como um
todo. Se pararmos apenas nos primeiros elementos que se destacam, podemos perder a
identificação de outros elementos, nem mais nem menos importantes, mas potentes em
garantir um olhar inovador, criativo, diferente e com estilo.
138
Interessante perceber o quanto uma imagem, um objeto, que nos chega
pela percepção visual tem poder em atrair nossa atenção, fazendo de maneira geral
inicialmente, e depois nos prende em seus detalhes. Eis aqui um princípio interessante
para a composição de imagens: “chamar a atenção e depois prender a atenção”
(BAXTER, 2011, p. 50).
139
Essas descobertas sobre o nosso processo visual contrariam algumas
noções intuitivas. Intuitivamente, acreditamos que os nossos olhos
são janelas para o mundo. Não é bem assim. Nós enxergamos aquilo
que pensamos ver. Nós olhamos para uma imagem e, sem perceber,
extraímos suas principais características. A partir dessas características,
a nossa mente trabalha na sua identificação com algum padrão
conhecido. Segue-se uma visão mais focalizada, guiada por essa visão
inicial, para se examinar detalhes (BAXTER, 2011, p. 52).
NOTA
Essa arbitrariedade entendida como basilar das hipóteses visuais pode
ajudar a entender a terceiridade do signo peirciano. Se ao vasculhar
a imagem de forma involuntária, sem nenhum esforço, relacionamos
com a primeiridade; quando já assumimos uma postura voluntária
de identificar padrões e formas dando atenção voluntária a eles,
assumimos como secundidade; será terceiridade quando, de certo
modo, passamos a ver a partir de padrões arbitrariados pela cultura
ideológica, por exemplo, imagens que não estão declaradas, da mesma
maneira, quando conseguimos nominar o que estamos vendo – caso
da imagem ambígua mulher jovem ou mulher idosa –, precisamos
arbitrariamente saber o que define uma mulher, juventude e velhice.
Tente lembrar de um objeto e perceba que a primeira imagem que vem é a visão
global dele. Conseguimos, inclusive, ter a visão do seu estilo. Aí está a confirmação da
importância da percepção global e do quanto o estilo de um produto depende da primeira
abordagem. Até mesmo no processo criativo, quando estamos certos do conceito a ser
trabalhado, e iniciamos a fase de desenvolvimento, os primeiros esboços dão conta, em
sua maioria, da forma global do objeto, da imagem. Nossa habilidade de representação
nos leva a desenhar formas e composições que tenham o poder representativo do global
e, ao se confirmar essa forma geral, os detalhes começam a ganhar atenção.
140
Como bom escritor, precisamos dar conta de respeitar algumas regras básicas
da escrita visual. Todo o aparato sensorial humano, atribui enorme valor à visão. Sim!
Precisamos estimular os outros sentidos e nos dar o deleite de sentir e até de oferecer
experiências sensoriais que envolvam estes outros, caso de marcas, que além do
desenho da marca e sua aplicabilidade na fachada da loja e nos uniformes, tem um
cheiro, uma música e permite que seus produtos sejam tocados; caso de manifestos das
artes contemporâneas em seus espaços expandidos, uma instalação, um happening,
entre outros. Todas essas experiências ajudam a dar força ao conceito da marca ou
experenciar a obra de arte por meio dos diversos sentidos, muitas vezes, a participação
ativa do observador fazendo parte da composição da obra. Dessa maneira, é possível a
memorização do estilo da imagem que se está em contato. Neste pequeno exemplo, a
percepção visual parece ser a porta de entrada dessa experiência.
FONTE: O autor
141
Somada a essa “vontade de equilíbrio”, que nos permite analisar simetricamente
às coisas, outros dois padrões se somam: proximidade e continuidade. No primeiro,
agrupamos formas próximas, dando a elas uma visão de conjunto. Enquanto, no
segundo, somos levados a dar continuidade à trajetória de uma linha, de um conjunto
de coisas que dirigem nosso olhar prolongando sua sequencialidade.
Com base nesses três padrões, uma característica que fica acentuada na
percepção humana é a habilidade de separar o que se julga ser mais importante, ou
seja, dar ênfase, destaque ao que consideramos ser mais importante quando olhamos a
imagem. Essa característica é responsável por conseguirmos distinguir, em uma cena,
a “figura” e o “fundo”. Quando olhamos uma fotografia nossa em uma viagem, perceba
que somos levados a nos colocar como “figura” e toda a cena enquadrada do lugar que
estávamos como “fundo”, isso fica tão evidente que chamamos a foto, de: “minha foto”
– por mais que seja uma composição plana – em um papel, em uma tela de celular, nós
evidenciamos o que nos atrai.
Um exemplo para isso pode ser visto na imagem ambígua utilizada anteriormente,
nossa visão fica pulando entre “figura” e “fundo”, dando figuração à jovem em um momento
e à idosa em outro. Esta capacidade da imagem de ser “figura” ou ”fundo” está diretamente
relacionada aos padrões simetria, proximidade e continuidade, somando a estes as
noções de tamanho relativo – proporção, contorno e orientação. “Quanto mais a imagem for
simétrica, relativamente pequena, contornada e orientada no sentido horizontal ou vertical,
será mais facilmente identificada com figura” (BAXTER, 2011, p. 57).
142
FIGURA 6 – FIGURA OU FUNDO
FONTE: O autor
143
1. Nível básico – pelo momento que o produto é acessado pelo nosso sistema visual.
O momento que chamamos anteriormente de escaneamento, ao determinar nossa
percepção visual, direcionará elementos onde o foco do olhar se concentrará.
2. Nível intermediário – a partir do momento em que o foco do olhar acontece,
atributos específicos do processo visual são declarados e passamos a dar atenção
aos elementos específicos, que pode ser um traço, uma pincelada, um acabamento,
um detalhe estrutural.
3. Nível mais elevado – ao nos focarmos aos detalhes, depois de uma investida visual
no todo, os fatores sociais, culturais e comerciais determinam o estilo da imagem
que estamos percebendo. Nesse momento, muito do que nos chegou cultural, social
e economicamente ajudará a perceber valores na imagem, permitindo entender seu
valor e iniciar o momento de sua interpretação.
O estilo de uma imagem está relacionado com alguns fenômenos que vão além
das relações contextuais, com todos os componentes que a situam em determinado
paradigma. Não pode e nem deve ser considerado apenas, na fase final, pois, em
grande parte, o estilo é condicionado e condicionador dos elementos estruturantes,
dos materiais, da composição da imagem desde seu início. Como salienta Baxter (2011,
p. 77): “as decisões sobre o estilo precisam ser tomadas em todas as fases, desde o
planejamento” até a sua confecção e acabamento.
• Uma imagem pode chamar atenção de várias formas, inclusive por ser visualmente
agradável. Perceba quantas vezes você desvia o olhar do que está fazendo para ver
uma pessoa bem-vestida, um jardim bem decorado, uma bela fotografia. Certamente
isso acontece quando, nas redes sociais, seu dedo escorrega sobre a tela do telefone
e uma imagem lhe chama atenção.
• Ao chamar a atenção, um objeto passa a ser desejável. Perceba que a maioria dos
produtos que passamos a desejar ganham destaque em nossa atenção.
• Se pensarmos nesses dois momentos, a imagem que chama a atenção e, ao mesmo
tempo, é desejável, tem forte poder de atração, ou seja, quando somos capazes de
planejar e produzir imagens que chamem a atenção pelo seu estilo e que esse estilo
está em linha com os comportamentos de voga (ou não!), estamos entregando aos
expectadores imagens atraentes, com forte poder de atração e de entendimento.
144
ou comerciais), a arte se manifesta pelo fato de ser sentida – e, ao ser tocado visualmente
pela imagem, dará certa atenção. Indiferente se aprovando ou não a imagem, nas artes,
ela precisa, em primeira instância, ser sentida! Caso de um grafite na paisagem urbana,
em suas composições deverá dar conta de ser sentido, de chamar atenção.
Basicamente, o que nos atrai está relacionado com quatro coisas: o que já é
conhecido; o que parece fácil de entender; o que parece ajudar a dizer quem sou; e o
que é bonito (BAXTER, 2011). Na composição de uma imagem, quando escolhemos uma
ou mais dessas coisas, estamos assumindo a habilidade de compor situações visuais
e compreendendo que a imagem que estamos desenvolvendo tenha a capacidade de
significar discursos que o expectador já conheça, ou representar seu entendimento,
ou dar conta de simbolizar valores à pessoa que está lendo, ou ser significante dentro
dos valores de beleza considerados pelos seus espectadores, ou seja, precisamos ter a
competência, também, em semiótica.
145
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O estilo visual de uma imagem pode ter até três níveis de determinação: nível básico
(escaneamento visual); nível intermediário (foco nos atributos específicos do processo
visual); e nível mais elevado (percepção dos valores da imagem com base na cultura,
sociedade e economia que permitem assumir o entendimento dela).
146
AUTOATIVIDADE
1 Quando olhamos uma vitrine, durante um passeio no shopping, rapidamente
conseguimos ter alguns posicionamentos frente a ela. Sabemos, por exemplo, se
somos ou não o público-alvo; os produtos que a loja vende e até mesmo conseguimos
ter noção de quanto custaria uma compra naquela loja. Vamos tomar a vitrine já
utilizada em nossa disciplina, da rede De Fursac. Sobre o processo visual aplicado
nessa situação, analise as sentenças a seguir:
147
volumoso sobre a cabeça e o luxuoso casaco. Na senhora idosa, o nariz aquilino, a
protuberância do queixo, os lábios finos e os olhos profundos. Geralmente, a imagem
que você perceber primeiro vai determinar a estratégia para a exploração posterior dos
detalhes. Para enxergar outra imagem, você precisará piscar, desviar os olhos ou tirar
a figura temporariamente do campo de visão. É como se fosse necessário apagar a
primeira imagem. Depois de percebida essa segunda imagem, ela determinará também
a exploração posterior dos seus detalhes, de modo que não é possível perceber uma
das imagens e explorar os detalhes da outra” (BAXTER, 2011, p. 50-51). A partir da leitura
desse texto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas:
FONTE: Adaptado de BAXTER, M. Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos. São
Paulo: Blücher, 2011.
PORQUE
148
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa
correta da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
3 O estilo visual de uma imagem pode ter três níveis de determinação. Sobre esses
níveis, analise as sentenças a seguir:
I- O nível básico é responsável pelo momento que o produto é acessado pelo nosso
sistema visual. O momento que chamamos de escaneamento, ao determinar nossa
percepção visual, direcionará elementos onde o foco do olhar se concentrará.
II- No nível intermediário, dá-se o foco no olhar, em que atributos específicos do
processo visual são declarados e passamos a dar atenção aos elementos específicos,
que pode ser uma marca, um acabamento, um detalhe estrutural.
III- No nível mais elevado, focando nos detalhes, percebemos que os fatores sociais,
culturais e comerciais determinam o estilo da imagem que estamos percebendo.
Nesse momento, muito do que nos chegou cultural, social e economicamente
ajudará a perceber valores na composição, permitindo entender seu valor e iniciar
os processos interpretativos.
FONTE: Adaptado de BAXTER, M. Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos. São
Paulo: Blücher, 2011.
149
150
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
ANÁLISE DICOTÔMICA
1 INTRODUÇÃO
Iniciamos o segundo tópico desta unidade. Com ele, entramos em um momento
mais prático da disciplina, vamos tratar de uma maneira para analisar imagens com base
na semiologia, mais especificamente na abordagem dicotômica dos objetos em seus
planos de expressão e conteúdo, e poder de certa forma criticar e desenvolver objetos
que sejam capazes de serem percebidos visualmente em linha com os discursos que
pretendem passar.
151
[...] para os iniciados, esta polêmica entre os termos Semiologia
e Semiótica passou a ser um episódio histórico a partir de 1969,
quando Roman Jakobson – e a Associação Internacional de Semiótica
aceitou – a adoção do termo comum Semiótica para designar
todo o campo de estudo abarcado tanto pela semiologia
quanto pela Semiótica (OLIVEIRA, 2006, p. 17, grifos nossos).
Com a estrutura básica definida, com a visão total da estrutura realizada, inicia-
se a fase de identificação dos elementos constitutivos – pontos, linhas, cores, volumes,
dimensões, entre outras (OLIVEIRA, 2006). Um novo jogo de indagações deve ser
realizado, quais os princípios que regem a organização desses elementos constitutivos?
(aqueles tratados em nossa Unidade 2). Que outros elementos compõem a imagem,
mas não dão conta de assumirem o posicionamento de constitutivos? Caso do suporte,
da moldura, do espaço onde está situada a imagem em análise. Não existem repostas
erradas, erro seria não fazer as indagações.
152
Compreendida a estrutura básica e identificados os elementos constitutivos, é
possível estabelecer relações. Assim, “identificados os elementos constitutivos, buscam-se
as articulações entre esses elementos, momentânea e mentalmente desfeitas, quando da
investigação do rol de elementos que constituem a imagem” (OLIVEIRA, 2006, p. 24). Nesse
momento, tem-se os procedimentos relacionais, que podem ocorrer entre elementos, entre
estes e blocos de elementos, entre blocos entre si. Um mesmo elemento pode ter um tipo
de relação com outro e outra forma relacional com outro.
O leitor passa a ter domínio sobre o objeto (imagem) que está lendo. Ele deve
transitar incansavelmente pela imagem, indo e vindo pelos elementos e pelos blocos
de elementos e para o todo da imagem, encontrando detalhes nesse ir e vir, que não
se declaram nos primeiros olhares. É esse vagar intencional pela imagem que faz com
que ela, em sua autonomia, tenha condições de expressar seu conteúdo e ainda faz
com que o leitor seja capaz de interpretar outros conteúdos, bastando, para isso, que a
imagem, em seus elementos e seus procedimentos relacionais, permita!
153
2.2 PLANO DE CONTEÚDO
Os elementos constitutivos não adquirem sentido isolados, precisam das
relações, seja com outros elementos, com blocos, ou até mesmo com os espaços, com
a situação em que estão e como estão posicionados. Entender a importância destas
relações é vital para que se alcance o plano de conteúdo, capacitando o leitor na
interpretação do objeto analisado.
• entender que algumas partes do sistema atrairão o olhar e só por isso já se organizam
como elementos constitutivos, ora potencializando o foco e a atenção em um único
elemento, ora para blocos de elementos;
• assumir o compromisso de voltar ao todo do objeto em observação, realizando
relações a partir do que está declarado e com base, claro, em seu repertório social,
cultural, histórico e econômico.
• ter a noção de que o que se faz expresso no objeto sugere conteúdos que estão
em nossa bagagem cultural, mas que outras relações podem nos instigar a novas
descobertas, a uma oxigenação ou aumento de nosso repertório.
Vamos a um exemplo de leitura (será de uma obra de arte) realizada por Sandra
Ramalho e Oliveira na obra Imagem também se lê, da Editora Rosari (2004), o que de
certa forma ajudará no entendimento da abordagem e na maneira como se descreve
cada momento.
154
FIGURA 7 – ANÁLISE DICOTÔMICA DE ENTERRO NA REDE – CANDIDO PORTINARI (1944)
A obra Enterro na rede integra a Série retirantes do artista brasileiro Candido Portinari
(1903-1962), com influências expressionistas, trata da situação social do povo brasileiro.
Essa pequena apresentação é apenas uma forma de respeitá-la a e situá-la histórica e
contextualmente. No que se pede em análises semióticas, é que o autor e toda sua vontade
sejam esquecidas, a obra tem que falar por si só! Portinari não está aqui nos explicando sua
obra, sua obra que deve falar por ela. Então, vamos seguir a maestria de Oliveira (2004) no
passo a passo de sua análise semiótica.
NOTA
A imagem que vamos trabalhar (Figura 7) nos permite pensar em que paradigma
se enquadra. Em primeiro momento, é importante lembrar que, como pintura
de Candido Portinari, ela está no paradigma pré-fotográfico como pintura a óleo sobre
tela, tendo dimensões de 180,5 x 220, 7 x 2,5 cm. Ela está no Museu de Arte de São Paulo
(MASP) São Paulo, Brasil. Perceba que só haverá a leitura dessa obra estando à frente dela,
pois ganham relevância o meio de produção, o meio de armazenamento, o papel do
agente produtor, a natureza da imagem, as relações da imagem com o mundo, o meio de
transmissão e o papel do receptor. Em um segundo momento, estamos nos deparando
com a reprodução dessa imagem, que pode ser resultando de uma fotografia (paradigma
fotográfico) da obra e de sua digitalização, aqui, nas páginas de nosso material, estamos
em contato com a imagem da obra de Portinari que, em sua gênese pré-fotográfica, está
dentro do paradigma pós-fotográfico.
155
delas, são os esquemas visuais que vão apresentar as figuras que compõem a estrutura
da imagem. “Nesse esquema, são destacados um a um os planos de profundidade
propostos, diferenciação que é feita através do uso de linhas e cores específicas para
contornar e destacar a estrutura de cada um deles” (OLIVEIRA, 2004, p. 35).
DICA
Acesse o link: https://masp.org.br/acervo/obra/enterro-na-rede, para ter muitas
informações sobre a obra de Portinari – invista um tempo em sua navegação.
156
Os procedimentos de figurativização são revelados durante o processo de geração
de sentido, colocando o autor da obra como um criador de estratégias no processo
interpretativo, por meio do plano de expressão e plano de conteúdo (GREIMAS; COURTÉS,
2011). O escaneamento da imagem como um todo nos fez perceber alguns elementos
constitutivos, caso da planta dos pés no primeiro plano de profundidade; caso do corpo da
mulher no segundo plano; e a composição formada pela rede ou lençol e os carregadores
no terceiro plano de profundidade. Ainda, em termos relacionais, foi percebido elementos
constitutivos que nos fazem ir e vir em cada um desses planos, caso das pernas da mulher
que nos fazem sair dos pés e ir para o corpo dela ou voltar do corpo para os pés. Caso da
forma triangular dos braços da mulher que se rebate com a forma triangular da rede ou
lençol, indicando uma ponte entre o plano segundo e terceiro.
Pontos, linhas e planos formam a estrutura angular e dão conta dos elementos
constitutivos das obras, direcionam plasticamente gestualidades, que ganham ainda
mais expressão nas pinceladas, onde contornos grosseiros evidenciam a tensão das
linhas retas imprimindo figuras que mais parecem ser talhadas em madeira (OLIVEIRA,
2004). Quando surgem as linhas curvas, que também ganham expressividade em suas
pinceladas, elas “parecem” deformar as figuras, deformação que remete, normalmente,
ao sofrimento.
A obra toda apresenta uma simetria, ela não é absoluta, mas é possível situar a
mulher ajoelhada no centro simétrico da imagem total, o que sugere quebrar a simetria é
a segunda mulher – lá do quarto plano de profundidade. A sugestão simétrica tem seus
rebatimentos por pesos – evidente na parte inferior com a parte superior – em que o pau
que carrega o defunto se faz linha da simetria horizontal.
Atentos à linha de simetria vertical, que parte do meio dos dois pés, divide a cabeça
e o triângulo formado pelos braços e o triângulo formado pela rede ou lençol subindo até
a borda superior da tela, percebemos que essa linha estabelece o eixo da composição
principal da composição plástica. Inclusive, registra metricamente nos dando a exatidão
de constatar o triângulo formado pelos braços da mulher e o inferior do triângulo – a rede
e o lençol, coincidem-se e se sobrepõem. “Esta coincidência, reiterada pelo fato de estar
159
a rede prenhe do morto, podem indicar que esta mulher é a mãe do defunto. Ou teria sido
ele quem fertilizou seu ventre?” (OLIVEIRA, 2004, p. 38). As possibilidades de efeito de
sentido que uma composição pode causar é grande e permite variações, tantas quantas
o repertório e a curiosidade do analista (leitor) permitirem.
160
De forma geral, a tela ilustra uma cena em que dois homens carregam sobre
seus ombros uma vara que tem uma rede amarrada nela e em seu conteúdo algo pesado.
Mostra duas mulheres, uma em primeiro plano que parece lamentar e clamar, e outra
que reza, que lamenta em silêncio. O plano de expressão é marcado pela linearidade e
formas angulares, tendo quebras com elementos sinuosos. Por mais que tenha cores,
é marcado pela tonalidade cinza. Para o plano de conteúdo, o que está expresso já
permite direcionar o olhar para um determinado discurso, que quando nos vem o título
da obra, Enterro na rede, permite que os elementos, cores e composição ganhem ainda
mais efeito de sentido em seus procedimentos relacionais. Percebe-se aqui o valor do
título de uma obra, porém muitas podem estar sem o título, aí, caro leitor, é com você
nominar a obra e sua postura frente a ela garantirá êxito nessa tarefa.
NOTA
Ao considerar a “dimensão epistemológica”, o conteúdo deste tópico
acredita que a definição de epistemologia esteja entendida. Para facilitar,
apresentamos duas definições que podem ajudar: a primeira trata de um
substantivo feminino ligado à filosofia, a primeira definição o relaciona com
a “reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento
humano, especificamente nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo
e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo; teoria do
conhecimento. A segunda entende o termo como sendo a “frequência do estudo dos
postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou das teorias
e práticas em geral, avaliadas em sua validade cognitiva, ou descritas em suas trajetórias
evolutivas, seus paradigmas estruturais ou suas relações com a sociedade e a história,
teoria da ciência”.
161
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Com a estrutura básica definida, com a visão total da estrutura realizada, inicia-se a
fase de identificação dos elementos constitutivos – pontos, linhas, cores, volumes,
dimensões, entre outras.
162
AUTOATIVIDADE
1 “[...] para os iniciados, esta polêmica entre os termos semiologia e semiótica
passou a ser um episódio histórico a partir de 1969, quando Roman Jakobson e a
Associação Internacional de Semiótica aceitou a adoção do termo comum semiótica
para designar todo o campo de estudo abarcado tanto pela semiologia quanto pela
semiótica” (OLIVEIRA, 2006, p. 17). A partir da leitura desse texto, avalie as asserções
a seguir e a relação proposta entre elas:
FONTE: Adaptado de OLIVEIRA, Sandra Ramalho e. Imagem também se lê. São Paulo: Rosari, 2006.
PORQUE
II- Além do verbo, palavra falada, todo e qualquer outro fenômeno capaz de representar
algo em seu lugar podia ser objeto de análise da semiótica, indiferente das duas. O
que resultou no abandono da semiótica dicotômica, prevalecendo apenas análises
tricotômicas.
2 “Para clarear um pouco esta composição intricada que é a imagem, poderemos fazer
analogias que são bastante simplistas, mas têm funcionado. Uma das comparações
propõe pensar na imagem como um texto verbal, cujos elementos constitutivos
seriam as palavras, e os procedimentos relacionais corresponderiam à sintaxe, ou
seja, ao modo de organizar as palavras entre si. É preciso cuidado, pois existem
distinções para além do aspecto visual de ambos os textos. Uma delas é que nem
a escrita nem a leitura da imagem são lineares; a outra é que cada elemento não
“concorda” com apenas um outro elemento [...]” (OLIVEIRA, 2006, p. 25). A partir da
leitura desse texto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas:
FONTE: Adaptada de OLIVEIRA, S. R e. Imagem também se lê. São Paulo: Rosari, 2006.
163
I- Ao entrarmos em uma imagem, para analisá-la, precisamos nos dar conta de
“vasculhar” o todo, permitindo-nos perceber o plano de expressão, tudo o que
compõe a imagem e é perceptível ao olhar, como consequência desse momento,
vamos identificando os elementos constitutivos e com o tempo vão se fazendo os
procedimentos relacionais, que resultarão no plano de conteúdo.
PORQUE
I- A capacidade de dar tempo à percepção visual é importante para que se tenha qualidade
na interpretação de seus elementos constitutivos, de seus processos relacionais.
PORQUE
II- Esse tempo, quando bem utilizado, permitirá processos de ir e vir constantes no
objeto em análise qualificando os processos relacionais e promovendo qualidade
na intepretação do plano de conteúdo de toda a composição visual.
164
4 A análise com base na semiótica dicotômica entende que todo e qualquer objeto que
representa algo em seu lugar é signo, ou seja, tem significado porque é significante.
Quais os planos que se referem a significado e significante? Explique cada um deles.
5 “A imagem passa a falar por si mesma, independentemente do que seu autor teria
querido dizer” (OLIVEIRA, 2006, p. 26). Com base no fragmento e nos seus estudos,
disserte sobre a autonomia da imagem.
FONTE: Adaptado de OLIVEIRA, S. R e. Imagem também se lê. São Paulo: Rosari, 2006.
165
166
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
ANÁLISE TRICOTÔMICA
1 INTRODUÇÃO
Iniciamos o terceiro tópico desta unidade. Dando continuidade ao momento mais
prático da disciplina, vamos tratar de analisar imagens de outra maneira, com base na
semiótica norte-americana, mais especificamente na abordagem tricotômica de Charles S.
Peirce, e poder, de certa forma, criticar e desenvolver objetos que sejam capazes de serem
percebidos visualmente em linha com os discursos que pretendem passar.
167
DICA
Assim como Saussure teve seus seguidores, a semiótica norte-americana
influenciou outros pensadores que deram suas interpretações. Um deles foi
Umberto Eco (1932-2016), linguista italiano, que em suas obras aproximou a
semiótica do grande público. A obra O nome da rosa, foi lançada como livro
em 1980 e virou filme em 1986 dirigido por Jean-Jacques. Existe um texto que ajuda
a entendermos como se dá o processo de semiótica tricotômico, ele é utilizado como
exemplo em algumas aulas do Professor do Pós-Design Dr. Richard Perassi Luiz de Sousa,
que atualmente leciona na Universidade Federal de Santa Catarina. Ele escreveu um artigo
mostrando como aborda esse texto.
FONTE: GHIZZI, E. B.; MACHADO, A. P.; SOUSA, R. P. L. de. Ícones, índices e símbolos em um trecho de O
nome da rosa. Semeiosis: semiótica e transdisciplinaridade em revista, dez. 2020. Disponível
em: http://www.semeiosis.com.br/o-nome-da-rosa/. Acesso em: 26 set. 2021.
168
está em constante transformação, adquirindo ressignificações, segundo as diferentes
culturas e épocas, porque as fronteiras espaço-temporais são diferenciadas em cada
lugar e em cada momento dado de sua historização” (RIBEIRO; SANTOS, 2018, p. 79).
Como vamos reanalisar o objeto, isso faz sentido!
Nossa análise tomará como base a leitura realizada por Augusto Gonçalves
Ribeiro e Luciana Rocha dos Santos, publicada como um capítulo no livro Discussões e
aplicações da semiótica de extração peirceana, organizada por Darcilia Simões e Claudio
Manoel de Carvalho, para a editora carioca Dialogarts, em 2018. Seguindo os passos que
esses autores utilizaram para abordar a obra: Enterro na Rede de Candido Portinari, na
série chamada de Retirante de 1944 (Figura 7, Tópico 2).
A compreensão de que nos processos de análise semiótica, com base nas teorias
de Charles Sanders Peirce (2005) existem dez classes de relações categóricas por onde
passam as possibilidades interpretativas é fundamental aqui. Nessas possibilidades
(apresentadas na Unidade 1), vamos ter maneiras de abordar o objeto a nossa maneira,
para isso, precisamos apenas lembrar das categorias como mostra o quadro a seguir:
169
QUADRO 1 – CATEGORIAS TRICOTÔMICA DE PEIRCE
FONTE: O autor
170
Como estamos trabalhando com uma obra de arte, que se encontra impressa
em um livro, e que pelo link se faz disponível na internet e acessada em uma tela (de
computador, de tablet, de celular), é preciso considerar que ela se mostra diferente da
original por apresentar características distintas da obra verdadeira (que se faz única
e está em uma galeria de arte). Então, muitas qualidades como dimensões, textura,
cromatização, tonalidades são diferentes e serão assumidas com as que acessamos na
página impressa.
Na figura, os tons cinzas e escuros dão conta do clima cromático da obra, mas os
tons amarelo-alaranjados predominam na obra nos situando já em primeiridade de um
dia de calor, seco e árido. A dramaticidade da obra é deflagrada por essas tonalidades
que, com as linhas angulares, pontas e pesos visuais nas linhas orgânicas mostra a
sutileza do artista ao exaltar ainda mais o sofrimento e a tensão de toda a composição.
171
“Nem a luz divina, nem a escura treva se atualizam nessa tela, pois sua finalidade é
justamente priorizar o caráter sentimental, emocional e humano de um ser social
com seu grito de dor devido às privações que sofre em seu mundo terreno” (RIBEIRO;
SANTOS, 2018, p. 92). A cromatização da tela iconiza o árido de um dia quente, isso se
faz em primeiridade, note que não há esforço algum para sentir isso – as qualidades da
cor e da composição nos sugerem isso! Quando acessamos cada elemento e passamos
a buscar sentido – ensejando particularidades de cada cor, de cada forma expressa na
obra, estamos em secundidade, e aí as cores e os elementos gráficos indiciam ruptura,
quebra, movimento, calor; e quando acessamos as regras assumimos o discurso da
obra, de tensão, sofrimento, tristeza, dor, aridez e morte. Note que os significados das
cores apresentados por DONDIS (1997, p. 65) arbitrariam isso:
Da mesma forma que os elementos visuais induzem nosso olhar, somos capazes
de identificar, no primeiro olhar, “pontos”, “linhas” e “planos” e percorrer a obra por meio
deles. É válido lembrar que sem ponto e sem linha não existe o manifesto gráfico. É por
meio desses elementos e de seus significados visuais que somos capazes de interpretar
os objetos que nos propomos analisar.
Esse mesmo ir e vir nas categorias sígnicas aparece na noção da forma piramidal
como pirâmide social. Em sua forma, temos uma maior quantidade ao distanciar do
vértice angular, onde estaria menor quantidade, isso é icônico, na noção primeira de
espaço entre as linhas; mas ela indicia gráfico quantitativo e simboliza em sua posição
de base maior, embaixo, a ideia de diferentes classes sociais, em que as mais baixas têm
172
maior quantidade. Uma interferência intencional do artista, ao remeter ao cenário social
e econômico brasileiro, “visto que somente 1% da população detém o poder econômico.
Portanto, a classe dominante concentra-se na parte superior” (RIBEIRO; SANTOS, 2018,
p. 94). Quando analisamos a obra, percebemos que as principais formas piramidais
se apresentam de forma invertida, provocando novas singularidades, ressignificações
produzindo em nossa mente, outros efeitos de sentido que podemos legitimar em
terceiridade. E ainda a noção de que, percebida em primeiridade virada, iconiza o vetor
de direção para baixo, o que nos indicia que o que está carregado ficará na terra ou será
enterrado? Suposições que podem nos levar à conclusão de que:
Ao observar a pirâmide voltada para a terra onde a matéria corpórea fica para
o todo sempre, que há um momento no qual todos os seres humanos se igualam, ou
seja, a morte. Neste momento não há diferenças entre negros e brancos, pobres e ricos,
religiosos ou ateus, todos, sem exceção, vão perecer e se destinar ao mesmo lugar, aos
braços da mãe Terra (RIBEIRO; SANTOS, 2018, p. 95).
Ao olhar a obra pela primeira vez, saltam aos olhos as figuras humanas, em traços
esqueléticos e com membros desproporcionais, ocupam quase toda a composição
visual. Iconicamente, vemos dois homens em pé, duas mulheres ajoelhadas e nos
damos conta de vermos mãos, braços e pés (de grandes proporções), suas formas são
similares aos objetos reais. Não há esforço para ver isso: são pés, braços e mãos. São
homens e mulheres. Quando, em secundidade, ao nos darmos conta das proporções
passam a ensejar particularidades, por que os pés fixos ao chão são maiores? Por que
os braços ganham tal destaque? Por que os homens sugerem carregar algo, cruzando
a cena da esquerda para a direita, enquanto as mulheres ajoelhadas lamentam, em dor
e à frente dos homens no enquadramento, e a outra em oração atrás desses homens?
Essas e outras dúvidas nos declaram que estamos na secundidade e que a busca de
certezas só finalizará como em terceiridade legitimarmos posicionamentos, é o caso de
que a proporção dos braços simboliza força, esforço físico; os pés descalços simbolizam
pobreza; os braços abertos simbolizam dor e questionamento; e o ajoelhar pode ser
considerado símbolo de resignação religiosa. Dessa forma, o discurso da obra, “escrito”
visualmente pelo artista, parece nos apresentar o enredo:
173
enquanto na secundidade, vamos promover um gasto maior de energia, em que
levantamos questionamentos a partir de particularidades ou de possibilidades que
vamos entendendo a empreender na obra; então assumimos (de forma arbitraria na
maioria das vezes) conclusões sobre tais fenômenos ou processos relacionais.
Nesse momento, vamos dar ênfase ao objeto, em suas categorias: ícone, índice
e símbolo. Trazendo uma distinção de Peirce (2005) para o objeto: o objeto dinâmico
e o objeto imediato.
NOTA
Não abordamos essa distinção de objeto peirciano em nossa fundamentação
de semiótica (Unidade 1) por uma questão estratégica didática. Trazendo essa
distinção, nesse momento, ela fica mais fácil de ser entendida.
174
Esta dor, torna-se em um momento segundo, um signo discente, por
veicular uma referencialidade indicativa de todo o sofrimento humano
diante da seca ou da guerra. A seca é uma batalha contra as adversidades
das forças da natureza, portanto, divina. A guerra é uma luta de homens
contra homens movidos por interesses político-econômicos, portanto,
terrena, humana (RIBEIRO; SANTOS, 2018, p. 111).
Perceba que a indução pela cruz do “ato de amor a Deus” está carregada
da arbitrariedade judaico-cristã e tem peso estratégico na composição visual que o
artista organizou.
175
Mesmo no campo das artes, Portinari, o artista da obra que estamos tratando,
parece se valer do comportamento de um projetista. Ele parece ter familiaridade,
compreensão e domínio do tema que está pintando, da mesma forma que designers
precisam assumir essas posturas para entregar produtos que “funcionem” no mercado
que pretendem atuar ou comunicadores que assumem elementos em suas imagens que
estejam em linha com o repertório de seus leitores. Como salienta Niemeyer (2003), os
aspectos quanto aos costumes, às tradições, aos valores, à religião e às características
políticas e econômicas devem ser mapeadas na fase inicial de qualquer intervenção
para potencializar a abordagem e permitir interpretações inusitadas e coerentes.
177
1. Preferência/favoritismo/gosto pessoal: o leitor se apropriaria de obras que
gostasse ou de parte dessas obras.
2. Beleza/realismo: muito dessa apropriação estaria vinculada à “boniteza” da obra
ou se seu tema fosse atraente.
3. Expressão: a expressão do artista é muito importante, pois além da relevância
quanto à “boniteza” e ao tema, permite compreender, de certa forma, as intenções
do artista ao produzir a obra visual, quais os sentimentos, quais ideias e que
sensações a obra expressa.
4. Estilo/forma: muito da expressividade da obra está contida nos elementos formais,
na sua composição e no seu estilo, assumir esses conteúdos expressos faz parte
da leitura da obra.
5. Juízo/interpretação/autonomia: o entendimento do contexto, da história e
das condicionantes que marcaram a produção da obra permitirá intepretações e
juízos coerentes ao processo de leitura, da mesma forma que o entendimento da
autonomia permitindo interpretações e juízos pertinentes ao repertório do leitor.
178
Esta etapa final que aparece em Housen, mas também está declarada como
sexta etapa da metodologia de Ott, mostra a importância que se deu durante a disciplina,
sobre a capacidade do processo semiótico, não apenas ajudar na compreensão dos
fenômenos de mundo, nas leituras de objetos, de imagens, mas permite que se produza
objetos com capacidade de representar algo ou alguma coisa. Essas duas metodologias,
especificamente, declaram que após a leitura do Plano de expressão, chegará a um Plano
de conteúdo, que deverá ser expresso novamente, recriando um Plano de expressão.
179
Outra semelhança nas metodologias de leitura de imagens apresentadas está
na etapa do fazer artístico da Abordagem Triangular, que está explícito como revelar em
Robert Ott e no recreativo de Abigail Housen. Da mesma forma que em nossas disciplinas
nos colocamos a discutir sobre a importância de conceber objetos, de, a partir de
um conteúdo, ser capaz de criar imagens que possam representar a sua maneira um
fenômeno vivido ou até mesmo uma obra de arte lida.
DICA
Vamos nos colocar como professores de uma turma de alunos que vão
iniciar uma aula de leitura de imagem. Voltemos à obra que analisamos duas
vezes anteriormente: Enterro na rede, que integra a Série Retirantes do
artista brasileiro Candido Portinari (1903-1962). Em linha com a Abordagem
Triangular iniciamos, as atividades:
1. Contextualize a obra, pesquise sobre ela para entender o contexto da época que
foi pintada, qual o momento histórico que ela faz referência? Pesquisa sobre seu
artista, em que momento da carreira ele estava? Qual estilo assumia, se assumia
algum quando produziu a obra? Da mesma forma, aproprie-se das condicionantes
contemporâneas – do momento em que a obra vai ser lida. Em que situação ela vai
ser lida? Qual as condicionantes históricas e socioculturais? Perceba que a primeira
etapa, no caso do professor de artes, tem papel relevante para a introdução da obra
aos seus alunos, pois ele pode fazer antes e explanar para a turma ou organizar que
os alunos façam essa pesquisa.
2. Permita a apreciação, importante assumir o tempo para a leitura da obra de arte
(Umberto Eco falava do tempo da arte – uma pintura numa galeria terá um tempo
diferente da mesma pintura na tela de um computador ou impressa em um livro
num ambiente de sala, que terá um tempo diferente dessa mesma pintura impressa
e pendurada na parede da sala de aula, ou no corredor da escola), perceba como
os paradigmas da imagem influenciam diretamente nesta apreciação que levará à
leitura. Neste momento, traga a bagagem semioticista (pode ser a dicotômica ou a
tricotômica) provocando nos alunos a percepção, a sensibilização e a capacidade de ler
por meio da gramática visual. Estimule o escaneamento e identificação dos elementos
visuais da obra, realizando os procedimentos relacionais descobrindo e discutindo
questões que a obra imagética revela (a Etapa 1 potencializa este momento). Veja
se é possível provocar ainda mais entendimento da obra, comparando-a com suas
outras obras e de outros artistas, de outras épocas ou não, promovendo também a
interpretação subjetiva.
3. Lido o texto, cabe ao escritor escrever, com suas palavras, o que entendeu! É por este
raciocínio que o Fazer artístico é etapa última. Munido das interpretações da obra em
questão, os alunos podem ser direcionados para uma determinada plástica (pintura,
gravura, expressão corporal, entre outras), para que sejam capazes de expressar o
conteúdo entendido a partir da obra. Mais do que mera cópia do que foi visto, as
bagagens de cada aluno, suas referências e o que para eles tem e faz sentido devem
ser estimuladas, até porque, ao colocarmos uma obra de 1944 (Enterro na rede) para
alunos dos séculos XXI, não podemos esperar as mesmas interpretações de mais
de meio século no passado. Ativamos nos alunos seus repertórios, damos a eles a
autoria e potencializamos um fazer semiótico (de dar significado às coisas de forma
intencional) que promovendo a preservação criativa e a livre expressão na criação de
um fazer artístico que resultará em uma nova obra.
180
Que tal exercitar com outras obras? Com outras imagens? Necessariamente não
precisamos estar no campo das artes, podemos trazer imagens jornalísticas, publicitárias
e até mesmo das redes sociais, um desafio, muitas vezes, e aproximar os alunos de
imagens que eles gostem, que tenha por elas atração.
181
LEITURA
COMPLEMENTAR
ENSINO DE ARTES: A ABORDAGEM TRIAGULAR DE ANA MAE BARBOSA
Fica evidente, portanto, que a Abordagem Triangular não se enquadra para quem
quer seguir um método padronizado, ele requer a liberdade de obter conhecimento
crítico reflexível no processo de ensino […], ajustando-se ao contexto em que se
encontra (MACHADO, 2010, p. 79).
182
Segundo Novaes (2005), a Abordagem Triangular aponta que é importante
pensar, questiona o que é a imagem, o uso da imagem, a imagem do cotidiano da
história da arte e da cultura na sala de aula. É necessário fazer uma leitura crítica
da produção da imagem das coisas e de nós mesmos. Não depende só do sujeito
a maneira como se vê uma imagem. É necessário também interpretá-la. A imagem
visível aguarda uma leitura invisível que é revelada a cada deslocamento que ela faz.
Para Dewey e Freire (2010), uma boa leitura de mundo artístico ocorre a partir do
contexto em que se vive. Isso não significa focar só no ensino cotidiano do aluno, mas
contribuir para que eles consigam fazer uma leitura crítica e contextualizar a imagem
multicultural, podendo identificar e não apenas apreciar, mas também comentar a
beleza das imagens em uma sociedade em desenvolvimento sociocultural cumprindo o
papel político de transformação social partindo do pressuposto das imagens artísticas
(DEWEY; FREIRE, 2011).
183
A contextualização da obra permite entender em que condições ela foi produzida,
bem como as relações de poder que estão implícitas nessa produção. Pereira (2013, p.
22) define o eixo da apreciação da seguinte maneira:
É nesse eixo que o aluno já tem condições de produzir. Todas as etapas que
ele já percorreu permitem que ele se lance na produção artística, de modo qualificado,
crítico e sensível.
FONTE: Adaptado de OLIVEIRA, E. dos S. de; CORRÊA, V. S. A. Ensino de artes: a abordagem triagular de Ana
Mae Barbosa. Contemporartes: Revista Semanal de Difusão Cultural, dez. 2008. <https://revis-
tacontemporartes.com.br/2018/12/14/ensino-de-artes-a-abordagem-triagular-de-ana-mae-barbosa/>.
Acesso em: 22 set. 2021.
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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Como primeiridade estamos falando das qualidades do mundo, dos fenômenos que
nos chegam aos sentidos e só em sentir já nos dizem, já nos representam algo, já se
fazem signo.
• Na secundidade, esses fenômenos que nos chegam aos sentidos nos fazem ensejar
particularidades, fazer comparações com o que já temos em nossa experiência, com
as coisas do mundo.
• Na terceiridade, tudo que nos tocou os sentidos, que nos fez pensar, adquire valor
cultural e relações arbitrárias para que possamos assumir e legitimar o signo nesse
terceiro nível.
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AUTOATIVIDADE
1 Uma imagem é capaz de dizer de si própria: “suas qualidades e características, o seu
modo de produção, o que serve e para quem se dirige” (NIEMEYER, 2003, p. 15). A
partir da leitura desse enunciado, avalie as asserções a seguir e a relação proposta
entre elas:
FONTE: Adaptado de BAXTER, M. Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos. São
Paulo: Blücher, 2011.
I- Cabe ao leitor investir em seu entendimento de mundo, ampliando sempre que pode
seu repertório para poder acessar as imagens com mais segurança.
PORQUE
II- Por mais que tenhamos, como leitores, total liberdade na interpretação de imagens,
sabemos que artistas deixam “pistas” para dirigir o olhar, oferecer uma linha de
raciocínio que tem vontade de direcionar as interpretações.
FONTE: Adaptado de RIBEIRO, A. G.; SANTOS, L. R. dos. Retirantes, menino morto e enterro na rede de portinar:
um recorte histórico social e semiótico do nordeste brasileiro. In: SIMÕES, D.; CORREIA, C. M. de C. (orgs.). Discus-
sões e aplicações da semiótica de extração peirceana. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2018. p. 77 a 115.
186
I- Os fenômenos estão relacionados com seus contextos, por mais que estejamos à
frente de um fenômeno já experenciado e conhecido, sempre é bom lembrar que, por
ser a segunda vez que o experenciamos, isso já faz diferença, pois não é a primeira.
PORQUE
II- Somos levados a ter sempre a mesma interpretação de um fenômeno que não
mudou. Por exemplo, um livro – ele, como objeto não muda, então não importa
quantas vezes podemos lê-lo, sempre vamos ter a mesma interpretação.
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4 Para a leitura de imagens, algumas metodologias que influenciaram diretamente o
ensino de artes no Brasil permitiram o surgimento da Abordagem Triangular. Quais
são as etapas dessa abordagem? Explique cada uma delas.
5 Em uma análise semiótica, com base na tricotomia do objeto, temos o ícone, o índice e
o símbolo. As relações icônicas se fazem por semelhança, as simbólicas por convenções
culturais, mas as indiciáticas são resultados da incerteza, das possibilidades lógicas de
representação. Apresente um exemplo de referência indiciática num objeto de arte:
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REFERÊNCIAS
BAXTER, M. Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos. São
Paulo: Blücher, 2011.
GREIMAS, A. J.; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
KEHRWALD, I. P. Ler e escrever em artes visuais. In: NEVES, I. C. B. et al. (orgs.). Ler
e escrever: compromisso de todas as áreas. 7. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS,
2006. p. 23-33.
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ANOTAÇÕES
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