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UMA PROPOSTA
METODOLÓGICA A PARTIR DA PEDAGOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO1
1
Excertos retirados de Silveira (2009).
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Doutorando em História pela Unisinos, Mestre em Educação pela PUC-RS, Docente do Curso de História da
Ulbra São Jerônimo. E-mail: dersilveira@yahoo.com.br
dos conteúdos ministrados que o compõe são importantes fatores-problemas quando se fala
em uma metodologia de ensino capaz de responder à pergunta acima.
Paradigmas epistemológicos e metodológicos na trajetória do ensino fazem-nos
refletir sobre a prática docente e os elementos envolvidos nos processos cognitivos dos
alunos. Dessa reflexão, percebe-se que independentemente do paradigma em questão3, do
ponto de vista didático pedagógico, a aprendizagem só se torna relevante e ocorre numa
perspectiva mais perene quando é significativa para o aluno. Nesse sentido, proponho uma
oficina sobre metodologia de ensino através de uma pedagogia da problematização.
3
Entende-se por paradigma “um conjunto de regras e padrões estabelecidos que proporcionam modelos
para a produção de conhecimento” (CRUZ in: NIKITIUK, 2004, p.77)
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É importante salientar que trabalhamos aqui com a Problematização e não com a Aprendizagem
Baseada em Problemas. Para o leitor que queira aprofundar-se nessa questão, indica-se a leitura de
Berbel (Interface, 1998).
5
MAGUEREZ, C. Elementos para uma pedagogia de massa na assistência técnica agrícola: relatório
Campinas: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria da Agricultora do Estado de São
Paulo, 1970.
prática de uma pedagogia da problematização. Também não se pretende com esta proposta
passar a ideia de que apenas a pedagogia da problematização seja capaz de resolver todos
os problemas ligados à complexa arte de ensinar e aprender. A esse respeito, Berbel
exemplifica:
A segunda etapa permite que os alunos sejam levados a refletir sobre as possíveis
causas da existência do problema em estudo e os porquês de sua existência.
No terceiro passo ocorre o “momento da iluminação e a compreensão fundamentada
das situações e dos problemas” (id., ibid.). É nessa etapa que o conteúdo tem importância e
faz sentido, “pois precisa responder ou iluminar o desejo provocado nos alunos” (id., ibid.).
Na quarta etapa “o aluno precisa ser desafiado por novas situações-problemas, ou
ser levado a confirmar/refutar/reconstruir suas hipóteses anteriores” (id., p.40). De acordo com
Hengemühle, a importância desse momento está em exercitar a capacidade argumentativa
não mais por achismo, mas com fundamentação teórica, ou seja, fundamentação no
conteúdo.
Na quinta e última etapa do arco é o momento de “ressignificar a teoria na realidade”
(id., ibid.). A prática que corresponde a esta etapa implica na possibilidade de produzir algo de
forma reflexiva, sem perder de vista a análise de situações-problema. Implica em um
compromisso dos alunos com o seu meio. “Do meio observaram os problemas e para o meio
levarão uma resposta de seus estudos, visando transformá-lo em algum grau” (BERBEL,
1996, p.8-9).
Por fim, apresento abaixo uma das tabelas com dois roteiros sugeridos por Adelar
Hengemühle (2008, p.46) que servirá como fio condutor nas atividades práticas da oficina.
Para desenvolver a prática
Para significar o
pedagógica tendo como referência o Arco de
conteúdo
Maguerez
Passo 1: Selecione um Passo 1: Pegue uma situação-problema
conteúdo do seu componente e pense como seria mais significativo apresentá-
curricular em uma determinada la aos alunos.
série. Passo 2: Imagine que hipóteses teriam
Passo 2: Investigue o os alunos antes da teorização e como esse
contexto, as situações e os momento poderia ser desenvolvido.
problemas que deram origem a Passo 3: Aponte o conteúdo que será
esse conteúdo. abordado para iluminar a compreensão e/ou a
Passo 3: Busque situações solução do problema e pense como poderiam
e problemas do contexto desenvolver esse momento.
contemporâneo, onde esse Passo 4: Imagine que hipóteses
conteúdo seja significativo para os fundamentais teriam os alunos agora, após a
seus alunos nessa série teorização, e como esse momento poderia ser
(respeitando o nível de desenvolvido.
desenvolvimento, contexto onde Passo 5: Planeje como levar os alunos a
vivem ...) produzir e a demonstrar sua capacidade de
compreensão e/ou capacidade de argumentação
e solução do problema abordado.
Geralmente a cultura do professor é iniciar sua aula pelo conteúdo (passo 3 do Arco
de Maguerez). Então, explica-se o conteúdo aos alunos, aplica-se exercícios sobre o mesmo
conteúdo, enfim, muitas vezes se percebe que a prática metodológica do Ensino Básico gira
em torno do conteúdo, sem qualquer problematização. Frequentemente isso ocorre devido
aos conceitos e paradigmas que se tem e que se assume em relação ao componente
curricular e à Educação. Na maioria das vezes, o que afasta o professor de uma pedagogia
da problematização é, de acordo com Hengemühle (2008), o desconhecimento, por parte do
educador, do contexto e/ou situações e problemas que originaram o conteúdo que ele tem que
ensinar.
Refletir sobre a pedagogia da problematização estimula o professor a desenvolver
aulas onde o aluno esteja constantemente ativo, observando, formulando perguntas,
expressando percepções e opiniões. Essa pedagogia permite que o aluno perceba problemas
reais e que se esforce em entender ou encontrar os contextos ou soluções. A aprendizagem
fica ligada aos aspectos significativos da realidade, desenvolvendo as habilidades intelectuais
de observação, análise, avaliação, compreensão, extrapolação, etc, e favorecendo a interação
entre alunos, alunos-professor e professor-alunos.
Os contextos da sociedade e da escola atual, dos quais nossos alunos fazem parte,
exigem do professor um trabalho mais dinâmico que emane da observação de problemas e
situações do cotidiano. O exercício da utilização do Arco de Maguerez pode ser uma
possibilidade de alcançar uma pedagogia da problematização, privilegiando a formação de
cidadãos conhecedores de sua própria realidade, críticos e autônomos na busca e solução de
problemas.
REFERÊNCIAS
BORDENAVE, Juan E. Dias. Alguns fatores pedagógicos (s.n., s.d.). Disponível em:
<http://www.opas.org.br/rh/publicacoes/textos_apoio/pub04U2T5.pdf>. Último acesso em
Fevereiro de 2009.
HENGEMÜHLE, Adelar (org.). Significar a Educação: da teoria à sala de aula. Porto Alegre:
Edipucrs, 2008.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora e CAINELLI, Marlene. Ensinar História. SP: Scipione, 2004.
SILVEIRA, Éder da Silva. História e Ensino de História: uma proposta a partir da teoria da
problematização. In: VI Encontro Estadual de Ensino de História: O Ensino de História hoje:
questões e possibilidades, 2009, São Gonçalo, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro:
Faculdade de Formação de Professores da UERJ, 2009. p. 19-37.