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Resumo: O objetivo desta pesquisa foi de analisar o psicólogo e a sua relevância na prática da
equoterapia. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada através de uma revisão bibliográfica
narrativa de caráter exploratório que contemplava artigos publicados entre os anos de 2014 e
2020. Após investigação realizada nos bancos de dados da SCIELO, BDTD, CAPES, BVS-Psi
com nenhum resultado positivo para os objetivos propostos, foram realizadas buscas na
ferramenta Google Acadêmico e localizados três estudos que correspondiam aos objetivos
previamente listados. Os resultados indicaram que a presença de um profissional de psicologia
é de fundamental importância dentro da prática equoterápica. O psicólogo no contexto
equoterápico inicia seu trabalho desde o acolhimento com o praticante e sua família, na
aproximação com o animal facilitador e participa de forma ativa do planejamento de todas as
sessões com os demais profissionais que compõem a equipe multidisciplinar. Os principais
pontos de buscas partiram através da necessidade de entender a relevância do psicólogo na
prática da equoterapia.
Abstract: The objective of this research was to analyze the psychologist and their relevance in
the equine therapy practice. It refers to a qualitative research conducted through a narrative
bibliographical review that included articles published between the years of 2014 and
2020.After investigation carried out in SCIELO, BDTD, CAPES, BVS- Psi data bases showing
no positive results for the proposed objectives, some searches on Google Academic were done
and three studies that corresponded to the objectives previously listed were found. The results
indicated that the presence of a psychologist is of great importance in the practice of equine
therapy. The psychologist in the context of equine therapy begins their work from the very first
welcoming of the practitioners and their families, as well as in the approach to the facilitator
animal and takes active participation in the planning of all the other sessions with other
professionals who are members of the multidisciplinary team. The main search points came
from the need to understand the relevance of the psychologist in the equine therapy practice.
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Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de graduação em Psicologia da Universidade do Sul de
Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo (a).
II
Acadêmica do curso de Psicologia. E-mail:danielaquerino@icloud.com
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Professora orientadora. Mestre em Educação pela Universidade do Sul de Santa Catarina. E-
mail:rosane.romanha@unisul.br
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INTRODUÇÃO
É de extrema importância que a equipe esteja bem entrosada, sabendo a hora de atuar,
procurando não invadir o espaço do outro profissional. Para isso, deve haver um
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planejamento prévio, para que seja feita a escolha dos profissionais envolvidos no
atendimento, priorizando as necessidades do praticante. São necessárias, também,
reuniões periódicas para discussão de casos, com o intuito de fazer valer a
interdisciplinaridade (UZUM, 2005, p. 44).
De acordo com o Conselho Federal de Psicologia - CFP, essas são as áreas onde o
profissional de psicologia pode desempenhar seu trabalho. Mesmo que a formação possibilite
esse grande nicho, é imprescindível que os profissionais busquem especializações para que seja
prestado um serviço de qualidade, exigindo, inclusive, dinamização para acompanhar diversas
práticas emergentes. Dentre estas práticas emergentes, destaca-se a Equoterapia, onde para ser
um profissional habilitado é preciso realizar um curso específico. O profissional saberá da
melhor maneira abordar o praticante e alcançar os objetivos corretamente, não fazendo da
prática apenas uma técnica de lazer. Importante salientar que praticante se trata daquela pessoa
com alguma deficiência física ou mental e/ou com necessidades especiais e que esteja
praticando a equoterapia como modalidade terapêutica.
Sendo assim, esta pesquisa busca identificar qual a relevância do profissional de
psicologia na prática de equoterapia, descrevendo quais as funções atribuídas a ele nesta prática;
identificando os métodos utilizados por ele e analisando a sua participação nas equipes
interdisciplinares atuantes na prática equoterápica.
EQUOTERAPIA E A PSICOLOGIA
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Esse método chegou no Brasil em 1971, trazido pela Dra. Gabriele Brigitte Walter, que
é fisioterapeuta e psicóloga, mas só passou a ser reconhecido em 9 de abril de 1997 pelo
Conselho Federal de Medicina. (ASSOCIAÇÃO EQUOTERAPIA SANTOS, 2000).
O termo equoterapia foi criado pela ANDE-Brasil em 1989, com o intuito de
caracterizar todas as práticas que utilizem o cavalo como técnicas de equitação e
atividades equestres, objetivando a reabilitação e/ou educação de pessoas com deficiência
ou com necessidades especiais.
Entretanto, há muito mais tempo o cavalo já era utilizado como um recurso
terapêutico.
Nesse sentido, a presença do cavalo é constante na vida do homem. Este animal que
muito serviu como meio de transporte, na guerra, no esporte, na alimentação e também na
medicina, tanto veterinária como humana, ganha mais espaço e atualmente é usado como
instrumento facilitador na equoterapia (SEVERO, 2010). “O cavalo é um animal quadrúpede,
mamífero, herbívoro, com longas pernas para corrida, focinho longo, cabeça grande, diversas
alturas e pelagens e olhar atento” (SEVERO, 2010, p. 76).
Sendo o cavalo o principal instrumento para a realização da prática da equoterapia é
importante cuidar do bem-estar do animal, pois assim como todo animal o cavalo necessita de
cuidados especiais, cuidados diários e periódicos, como com a alimentação, com os cascos e
incluindo a visita de um veterinário. “Cada equino, além da forte influência do fator genético,
tem seu comportamento influenciado pelas pessoas que o rodeiam. Daí a importância de ser
bem-educado e ter seu bem-estar garantido” (LIMA, 2018, p. 155).
Os cavalos por sua vez, obedecem a rigorosos critérios de seleção que consideram os
pré-requisitos necessários para o uso em trabalhos de terapia – como índole, estatura,
ritmo, andamento, impulsão, inteligência, e aprumos – e são treinados pelo equitador
da equipe especialmente para essa função (WALTER 2013, p. 119).
Além da escolha do animal certo, é necessário também que todo o equipamento a ser
utilizado esteja organizado e em bom estado, facilitando a prática. “A equipe responsável pela
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terapia deve sempre conferir o cavalo e equipamentos antes de o praticante montar (sela, manta,
cilha, estribos, condições de saúde do animal, estado da rampa quanto a aderência, piso,
materiais soltos que podem criar ou voar assustando o cavalo etc.)” (LIMA. 2018. p, 322). É
necessário também que os profissionais que compõem a equipe multidisciplinar tenham uma
boa afinidade com o animal. Não se pode, entretanto, deixar que o cavalo seja um cavalo e
demonstre seus comportamentos naturais (LIMA, 2018).
Assim o cavalo se torna uma máquina terapêutica, fazendo com que o praticante tenha
uma capacidade motora que não possuía. Isto porque, ao se deslocar ao passo, o cavalo
realiza um movimento em seu dorso muito semelhante à marcha humana, fazendo
com que o movimento provocado na bacia pélvica de quem está no seu dorso seja
95% semelhante ao de uma pessoa andando a pé (QUEIROZ, 2015, p. 2).
Sendo assim, esse movimento que o cavalo possui e proporciona de forma natural, traz
benefícios que nenhum outro animal consegue trazer. E é exatamente por existir essa
semelhança entre a marcha humana e a marcha do cavalo que esta prática possui tantos
benefícios (HAINZENREDER, 2013).
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O fato de montar em um animal de porte grande propicia ao praticante pensar que tem
poder, por se sentir no comando do animal, aos poucos o praticante e família sentem a
autonomia que esta prática promove. “A equoterapia estimula o paciente a construir sua própria
história e ter consciência de sua situação, para poder atuar na busca pela solução de seus
problemas” (WALTER, 2013, p.142).
Durante a sessão que leva em torno 30 minutos, além da montaria outras formas de fazer
a prática da equoterapia também auxiliam em atividades da vida diária do praticante. Através
da equoterapia, os praticantes são colocados a realizarem tarefas que envolvam todo o cuidado
do cavalo como alimentação, limpeza do local onde o animal dorme e a escovação do pelo,
possibilitando que todos assumam a responsabilidade pelo bem-estar do animal, e também
fazendo com que isto reflita nas atividades pessoais que eles desenvolvem na sua rotina
(WALTER, 2013). O tratamento pode estender-se por período indeterminado, variando de
acordo com o quadro e o desejo de continuar do praticante, seguindo os programas básicos
(UZUN, 2005).
Na prática da equoterapia, existem programas básicos que são realizados pela equipe
responsável com os praticantes que necessitam de cuidados especiais:
Nesse sentido, considera-se que o campo da Psicologia da Saúde no Brasil ainda está
se estruturando como um novo campo de saber e atuação. Mudanças recentes na forma
de inserção dos psicólogos na área da saúde e também a abertura de novos campos de
atuação, tais como o campo da saúde pública, estão exigindo transformações
qualitativas nas práticas dos psicólogos, que, por sua vez, requerem a construção de
novas perspectivas teóricas (SOBROSA et al, 2014, p.5).
A psicologia está a todo momento sendo atualizada e, por esta razão, diariamente,
surgem novos assuntos e desafios, tornando-se fundamental que os profissionais se capacitem
para aprofundar seus conhecimentos, independentemente do contexto que estiver inserido. “O
Psicólogo, dentro de suas especificidades profissionais, atua no âmbito da educação, saúde,
lazer, trabalho, segurança, justiça, comunidades e comunicação com o objetivo de promover,
em seu trabalho, o respeito à dignidade e integridade do ser humano” (CONSELHO FEDERAL
DE PSICOLOGIA, 1992, p.1).
Ainda de acordo com Conselho Federal de Psicologia (1992, p.1), sobre as funções
atribuídas ao profissional de psicologia:
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Como referido anteriormente, dentre as áreas onde a psicologia executa seu trabalho
está a equoterapia. Nesta área, o psicólogo exerce um papel importante tanto com a sua equipe
de trabalho, como com o praticante e também os familiares. É, pois, importante ressaltar que
“todo estudante e profissional de Psicologia deve saber pensar e aplicar tais teorias não apenas
para sujeitos que ouvem, enxergam, andam ou capazes de pensar e interagir em alto nível de
abstração” (NUERNBERG, 2019, p. 24). Desta forma, otimizando o cuidado com a saúde
mental, diminuindo as barreiras de suas limitações.
A equoterapia tem início a partir do momento em que a pessoa esteja com avaliações de
diferentes profissionais, afirmando a indicação e liberação para este tipo de tratamento. “Os
atendimentos são precedidos de diagnóstico, indicação médica, psicológica e fisioterapêutica e
avaliação dos profissionais da saúde e educação, objetivando o planejamento do atendimento
individualizado na equoterapia” (BUENO; MONTEIRO, 2011, p. 174).
A prática da equoterapia proporciona a todos os praticantes um modo singular de
intervenção, sendo assim, como já citado, a equipe deve contar com a presença de profissionais
de diversas áreas, cada um com suas habilidades e competências. A presença de um psicólogo
tem se tornado imprescindível considerando-se que este profissional atua em todos os
momentos e etapas, abrangendo não somente o praticante, mas todos os envolvidos. “Dessa
forma, a atuação do psicólogo no espaço da equoterapia não pode reduzir-se à pura e simples
atuação dentro de um consultório privado. A prática da equoterapia exige do psicólogo um olhar
apurado que possibilite saber qual o melhor modo de fazer a intervenção.
Um ponto importante é a acolhimento realizado com a família. Ter um bom vínculo é
algo fundamental para que o tratamento aconteça da melhor maneira, prezando não só pela
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pessoa que recebe o tratamento, mas também pelo bem-estar da família que espera por
resultados satisfatórios.
MÉTODO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
aproximação das áreas envolvidas na prática alcançam efeitos extremamente satisfatórios. Com
relação a Psicologia a pesquisa identificou as mais variadas formas de colaboração desta ciência
para com o processo equoterápico como demonstrado no estudo de Silva e Silva (2017). Para
Gonçalves (2007), o psicólogo na prática da equoterapia jamais esperará seu paciente sentado,
dentro de um consultório, pois participa ativamente e deve acompanhar cada praticante em cada
sessão. Dentre os cinco profissionais de Psicologia participantes do estudo de Baretta e Sehenm
(2016), todos consentem que a sua função é realizar o primeiro contato com o praticante, tanto
com o indivíduo e sua família, no momento de adaptação, quanto com o cavalo, que é o
instrumento terapêutico principal. Para Lermontov (2004), por ser o cavalo um ser vivo e
comunicante, ele está carregado de significados simbólicos e funciona como um intermediador
entre o mundo intrapsíquico do praticante e o mundo exterior, sendo o psicólogo o intercessor
desta relação. Ainda no estudo de Baretta e Sehenm (2016), três dos participantes partilham do
estudo a ideia da importância de utilização de atividades lúdicas e psicopedagógicas para
trabalhar as cognições básicas e as questões da autoestima e do comportamento do praticante.
Dois dos psicólogos julgam que a presença do psicólogo também é necessária no planejamento
das sessões em conjunto com o fisioterapeuta. Os sete participantes do estudo das áreas de
Fisioterapia e Terapia Ocupacional, relataram ser essencial a presença do psicólogo neste
contexto. Todos citam que o psicólogo facilita os momentos de aproximação com o animal e
nas questões familiares, auxiliando nas questões emocionais e comportamentais. Ao examinar
com os doze profissionais entrevistados quais as mudanças mais evidentes durante e após a
prática da equoterapia, dez deles manifestaram como as principais alterações psicológicas do
praticante a melhora na autoestima, no afeto e na socialização.
Após, a análise de vinte artigos com grupos de diferentes patologias Zamo e Trentini
(2016), identificaram que grande parte dos estudos utilizaram métodos quantitativos em
instrumentos e escalas validadas, padronizadas e normatizadas para suas populações. Os
estudos brasileiros, especificamente, eram qualitativos sem grupo controle. Como limitação, a
maioria dos estudos, analisados pelos autores (2016), citou a heterogeneidade dos participantes
e a existência de terapia complementares a equoterapia. No Brasil, com relação ao uso de
instrumentos de medidas, os pesquisadores verificaram que embora existam inúmeros testes
validados, padronizados e normatizados para a população brasileira, os profissionais utilizam
comumente entrevistas e observação de comportamento especialmente com profissionais de
equoterapia no Brasil, somente em um dos profissionais pesquisados citou que faz uso de
instrumentos específicos do psicólogo. Dentre os vinte estudos revisados somente um reportou
a utilização de uma escala que está em processo de validação no Brasil. Já nos estudos
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO EQUOTERAPIA SANTOS. São Vicente, São Paulo, 1997. Disponível em:
http://associacaoequoterapia.com.br/. Acesso em: 5 de out. 2019.
BRASIL. Lei nº13.830, de 13 de maio de 2019. Dispõe sobre a prática da equoterapia. Diário
Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 198o da Independência e 131o da República. Maio de
2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/lei/L13830.htm. Acesso em: 10 de nov. 2019.
SEVERO, José Torquato. Equoterapia equitação, saúde e educação. São Paulo: Senac,
2010.
SILVA, AF; da Silva, RB. O papel da psicologia na equoterapia: Uma clínica extramuros.
Revista Fluminense de Extensão Universitária 2017 Jul./Dez.; 07 (2): 08-16. Disponível
em: http://editora.universidadedevassouras.edu.br/index.php/RFEU/issue/view/137. Acesso
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UZUN, Ana Luiza de Lara. Equoterapia: aplicação em distúrbios do equilíbrio. São Paulo:
Vetor, 2005.
ZAMO, Renata de Souza; Trentini, Clarissa Marceli, Revista Psicologia: Teoria e Prática,
18(3), 81-97. São Paulo, SP, set.-dez. 2016. ISSN 1516-3687 (impresso), ISSN 1980-6906
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Acesso em: 07 de abr. 2020.