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Para o planejamento das atividades semanais na ESF Campo Florido os profissionais da

equipe, os estudantes e professor do Curso de Enfermagem de uma universidade pública


identificam em conjunto, por meio da classificação de risco familiar, as famílias que serão
contempladas com visita domiciliar. Na visita estão presentes: estudantes, professor e
agente comunitário. E após as visitas ocorrem os registros das informações nos
prontuários eletrônicos e o compartilhamento de informações com a equipe da ESF
Campo Florido, com a finalidade de avaliar os resultados e propor novas intervenções, se
necessário. Para a semana de 21 a 25 de junho de 2021, definiu-se como prioritária a visita
domiciliar para a Família SANTOS.

Segundo a agente comunitária de saúde (ACS), responsável pela microárea, trata-se de


uma família que demanda muitas orientações e acompanhamento da equipe, devido a
problemas socioeconômicos e diversas situações de adoecimentos e agravos que estão
presentes no cotidiano da família. O ACS também relatou que esta família tem muita
resistência em receber visitas da equipe de saúde e de aderir as orientações e tratamento.
O ACS destacou que a família não participa de atividades na comunidade, isto é, no centro
comunitário quando são ofertadas atividades de educação em saúde e/ou lazer para a
família. Também não recebe visita de parentes e amigos e seu lazer restringe a ver TV ,
ouvir rádio e ir à Igreja para rezar de forma esporádica.

Diante das discussões feitas, a visita domiciliar foi determinada para ocorrer
considerando: a história de doenças crônicas, o perfil sociodemográfico e a resistência da
família em buscar cuidados na ESF. De posse das informações registradas no prontuário
físico e eletrônico, o professor, estudantes e a ACS discutiram os dados da Ficha de
cadastro familiar do e-SUS referente à família SANTOS. Para a visita definiu-se como
objetivos: conhecer a realidade atual da família; atualizar as informações cadastrais;
iniciar um processo de aproximação, criação e consolidação de vínculo entre profissionais
da saúde e família; coletar informações que permitam a atualização a classificação de
risco familiar, a elaboração de genograma e ecomapa familiar e a proposição de plano de
cuidados com a família.

Na visita domiciliar realizada pelos acadêmicos de enfermagem, um professor e o agente


comunitário responsável pela microárea, foi vivenciada a seguinte situação, no momento
da atualização dos dados do cadastro familiar: a família é composta de oito pessoas, sendo
quatro adultos (avô e avó maternos, pai e mãe), dois adolescentes e duas crianças. O
domicílio é alugado, de alvenaria, sem reboco, com piso em cimento bruto, sem pintura
e coberta com telha. A casa possui energia elétrica. A água para consumo é proveniente
de uma cisterna e não é tratada pela COPASA. A família não faz a filtragem da água. Não
possui rede de esgoto, sendo os dejetos lançados a céu aberto, caindo posteriormente no
córrego. O quintal possui muitos entulhos e água parada. A família possui animais de
estimação, sendo quatro cachorros e dois gatos. O pai trabalha como pedreiro sem vínculo
empregatício e a mãe se ocupa dos afazeres do lar. Os avós são aposentados. Raramente
investem em alguma atividade de lazer. Relatam que “quando podem, vão à Igreja
católica para rezar”.
De acordo com a Ficha de cadastro individual do SISAB/e-SUS foram observadas
algumas características dos familiares:

Nome Idade Escolaridade Ocupação Doenças/Agravos


Mencionados
Maria José 65 anos Analfabeta Aposentada Diabetes,
hipertensão
Antônio 69 anos Analfabeto Aposentado Hipertensão
Pedro 39 anos Ensino Pedreiro Tabagismo,
fundamental hipertensão.
Amélia 33 anos Cursou até o Do lar Depressão,
3º ano do obesidade,
ensino tabagismo.
fundamental
Joaquim 16 Ensino Estudante Dependente
fundamental químico, tabagismo.
Lúcia 13 Ensino Estudante
fundamental
João 2 anos Creche - Asma brônquica e
verminose.
Cauã 6 meses - -

Segundo a mãe, as crianças sempre adoecem com diarreia e pneumonia, precisando


muitas vezes de internação, principalmente o Cauã de 6 meses (04 internações
hospitalares). Informou ainda que João tem uma alergia que não passa e verminose que
sempre aparece nos exames. Disse que está fazendo uma simpatia que aprendeu com a
benzedeira, indicada pela avó para a cura das crianças.

No mês passado o ACS solicitou o comparecimento de Cauã à unidade de saúde para


consulta com o enfermeiro, mas a mãe não compareceu com a criança e sua ausência foi
justificada pela mãe com o seguinte argumento: “no dia da consulta consegui uma ficha
de atendimento com uma curandeira importante que vem aqui na cidade e ela cura muita
gente, por isso levei ele até lá”.

Na visita, a mãe foi questionada sobre a alimentação e sobre o estado de saúde da família.
Ao avaliar a caderneta de saúde da criança, o professor observou os gráficos do
crescimento infantil, realizados no último mês. Ao avaliar as vacinas, o professor
constatou que as vacinas das duas crianças estavam todas em dia, porém os adolescentes
estavam com as vacinas atrasadas, os adultos não possuíam cartão de vacina e não sabiam
informar se tinham recebido as vacinas necessárias.

A mãe informou que os filhos não alimentam bem, não comem verduras, feijão e carne e
sim macarrão e leite de caixinha com achocolatado. Relata que os filhos apresentam
sempre episódios de diarreia. No recordatório alimentar 24h de Cauã, a mãe relatou: 7h-
140ml de leite de caixinha com 1 colher de café de achocolatado; 11h-Sopa de macarrão
– 1 colher de sopa; 15h-mamadeira de 140 ml de leite de caixinha com 1 colher de café
de achocolatado; 18h-Macarrão instantâneo – 1 colher de sopa; 20h-mamadeira de 140ml
de leite de caixinha com 1 colher de café de achocolatado. A mãe mencionou que Cauã
mamou no peito até 3 meses de idade, depois o leite secou e ela iniciou mamadeira.
Ao ser questionada sobre as atividades educativas que ocorrem no salão paroquial, D.
Amélia disse que compareceu algumas vezes porque precisava renovar a receita para
pegar os “remédios da pressão”. Disse ainda não gostar muito de ir às atividades porque
elas sempre acontecem de manhã, demoram e quem participa fica sempre escutando a
mesma coisa. Disse não ter tempo para ficar sentada ouvindo os profissionais. Segundo
D. Amélia é difícil entender o que eles falam, que os papeis que entregam a letra é
pequena e que não consegue ler direito porque aprendeu pouca coisa na escola. Disse que
até a receita é difícil de entender, que “tenta” seguir as recomendações dos profissionais,
mas não consegue.

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