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Avaliação I - Geografia Humana do Brasil

Bernardo José Alvarez de Castro. DRE: 118064255

Bloco A
Questão I. a.
Na sua tarefa de compreender a história do território brasileiro, Santos e Silveira afirmam
a importância de desenvolver uma periodização que leve em conta a materialidade e a dinâmica
do território nacional (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.24). E é justamente nisto que a
periodização proposta pelos autores se diferencia das periodizações realizadas por economistas e
sociólogos. Antes de apresentar e explicar a periodização proposta, os autores procuram avaliar
algumas periodizações do Brasil realizadas por outros autores importantes.
A primeira periodização discutida no texto é aquela realizada por Mircea Buescu, que é
fundamentada pela dinâmica da industrialização no Brasil. Segundo Santos e Silveira (Op. cit.),
Buescu delimita 4 períodos que descrevem os surtos de industrialização no Brasil, levando em
consideração a atuação do Estado e do capital estrangeiro. A primeira fase é definida de 1903 a
1913. A segunda fase, de 1920 a 1929, é caracterizada pela entrada de capital e estrangeiro e pela
baixa atuação investidora do governo. De 1933 a 1939, no terceiro período, a retração do
comércio internacional é o elemento marcante. Por fim, o último período, que vai de 1946 a
1961, é caracterizado pela substituição de importações e pelo processo intenso de
industrialização, além do maior planejamento econômico pelo poder público.
A periodização de Argemiro Jacob Brum é dividida em três fases. A primeira fase, de
1500 a 1930, é a chamada “longa fase primário-exportadora” (SANTOS; SILVEIRA, 2001,
pp.24-25). Em seguida, vem a fase marcada pela tentativa de estabelecer um desenvolvimento
nacional por meio da industrialização via substituição de importações, que vai de 1930 a 1964.
Por fim, a última fase, de meados de 1950 em diante, é marcada pelo desenvolvimento
econômico dependente, que foi aprofundado a partir de 1964.
José Carlos Pereira, segundo Santos e Silveira (Op. cit.), construiu uma periodização
com base nas variáveis ação do Estado, indústria, agricultura e urbanização. Ele formulou os
seguintes períodos: “a industrialização brasileira até a Segunda Guerra Mundial, a do pós-guerra
até a crise de 1963-1965 e a passagem do desenvolvimento nacional ao desenvolvimento
excludente.” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.25).
Caio Prado Júnior, em sua obra História Econômica do Brasil (1945), elaborou uma
periodização que considerava 8 momentos, também com base na estrutura econômica do país. O
primeiro momento é o chamado “Preliminares”, de 1500 a 1530; em seguida, vem a “Ocupação
Efetiva” (1530-1650), “definida pelo início da agricultura e suas atividades acessórias”
(SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.25); a Expansão da Colonização (1640-1770) é o momento
seguinte, marcado pelo início da mineração e a ocupação da região Centro-Sul e pela atividade
pecuária no interior do nordeste; após esse momento, começa o “Apogeu da Colônia (1770-
1808); depois vem a “Era do Liberalismo (1808-1850), marcado pelo surgimento do capitalismo
industrial no Brasil; o “Império escravocrata e a aurora burguesa (1850-1889) é o nome do
momento seguinte; seguido pelo momento da “República Burguesa” (1889-1930); e, finalmente,
o último momento é a “Crise de um sistema”, a partir de 1930 até a época contemporânea da
edição da obra.
O outro autor citado por Santos e Silveira (2001) é Celso Furtado que, em Formação
Econômica do Brasil, diferenciou cinco etapas na história econômica do Brasil. A primeira etapa
é a intitulada “Fundamentos econômicos da ocupação territorial”, que durou até o início da
empresa agrícola no Brasil. Depois vem a etapa da “Economia escravagista da agricultura
tropical”, durante os séculos XVI e XVII. Em seguida começa a “Economia de transição para o
trabalho assalariado”, no século XIX, com o início da economia do café, a imigração europeia, o
fim do trabalho escravo e a progressiva migração para a Amazônia. Finalmente, a última etapa é
a “Economia de transição para um sistema industrial”, no século XX, marcada pela crise do café
e pela mudança do centro dinâmico (SANTOS; SILVEIRA, 2001, pp.25-26). Como podemos
perceber, Celso Furtado também constrói sua periodização a partir de uma leitura econômica da
história brasileira.
Florestan Fernandes é o último autor tratado por Santos e Silveira. Ele faz sua
periodização em 3 fases. Primeiro, vem a “Eclosão do mercado capitalista moderno”, com a
abertura dos portos brasileiros durante o século XIX. Depois, vem a “Formação e expansão do
capitalismo competitivo” (fim do século XIX até 1950), com a consolidação de uma economia
urbano-comercial no Brasil. Por fim, vem a fase da “Irrupção do capitalismo monopolista” (a
partir do fim da década de 1950), que é marcada pela “reorganização do mercado e do sistema de
produção, por meio das operações comerciais, financeiras e industriais da grande corporação”
(SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.26).
Questão I. b.
Milton Santos constrói a periodização do Brasil com base em uma leitura da formação
territorial brasileira, em uma busca por “fazer falar a nação pelo território” (SANTOS;
SILVEIRA, 2001, p.27). Segundo Santos e Silveira (Op. cit.), as periodizações propostas por
economistas e sociólogos raramente levavam em conta a materialidade e a dinâmica territoriais.
É nesse sentido que Milton Santos procura destacar o papel da técnica como critério de
periodização, pois o fenômeno técnico permite compreender os diferentes meios geográficos que
vão se constituindo ao longo da história e a própria materialização do tempo no espaço
(SANTOS, 1996). Além disso, a análise do fenômeno técnico é uma forma de entender a
constituição do território com base em seus usos e de desvendar os projetos políticos que
promovem diferentes formas de uso do território.
Assim, a história da organização territorial brasileira é dividida em 3 grandes momentos:
o meio natural, os meios técnicos e o meio técnico-científico-informacional. Portanto, é uma
periodização que procura compreender a história dos usos do território brasileiro com base no
uso das técnicas no tempo e nos lugares (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.27).
O primeiro período, isto é, o meio natural, é caracterizado pelo “tempo lento da natureza”
que dirigia as ações humanas. Nesse momento, os humanos precisavam se adaptar aos sistemas
naturais. Os meios eram usados pelos homens com poucas transformações, pois havia uma
relação muito forte entre o trabalho e a natureza. Os sistemas técnicos não possuíam uma
existência autônoma fora da relação de trabalho entre o homem e a natureza.
O segundo período, os diversos meios técnicos, é marcado por uma tentativa de substituir
os objetos naturais por objetos técnicos, como máquinas e outros instrumentos criados pelo
homem. Um novo tempo é criado, o tempo social, que tenta acelerar as relações e a circulação,
se sobrepondo ao tempo natural. Esse novo tempo é realizado pela progressiva mecanização do
território, com a construção de ferrovias e estradas.
Finalmente, o meio técnico-científico-informacional, o terceiro e último período, é
caracterizado pela integração cada vez maior entre técnica e ciência. Esse período é dividido em
duas fases. A primeira fase é a do meio técnico-científico, marcado pela revolução das
telecomunicações e pela difusão do meio técnico no território brasileiro. Em seguida, vem o
meio técnico-científico-informacional, no qual os objetos ganham uma dimensão informacional,
além daquela puramente técnica. É nesse terceiro grande período que as diferenças regionais e a
importância da Região Concentrada se agravam no Brasil (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.28).

Questão II
O meio técnico é marcado pela formação de um espaço cada vez mais mecanizado, no
qual as lógicas e o tempo humanos começam a se impor sobre o tempo da natureza (SANTOS;
SILVEIRA, 2001, p.21).
Foi nesse período que surgiram as primeiras zonas econômicas do Brasil, configuradas
com o objetivo de atender às demandas do mercado internacional. É a partir do “Brasil
Arquipélago” que o país é incorporado na economia mundial do capitalismo. As zonas
econômicas que caracterizavam o Brasil Arquipélago não se integravam internamente entre si,
mas eram conectadas sem intermediários ao mercado externo e comandadas por ele, daí a
denominação de “arquipélagos”, pois funcionavam como ilhas isoladas no território nacional. O
Brasil era dividido basicamente em três espaços distintos: o Litoral, que concentrava o poder
administrativo e as zonas produtores de monoculturas para exportação; o Sertão, com atividades
de abastecimento interno (carnes e animais de trabalho); e as Minas a partir do século XVIII, que
promovem o primeiro movimento de interiorização do país.
Os transportes que existiam no Brasil ligavam as zonas econômicas diretamente aos
portos que faziam a interface com o mercado internacional. Raros eram os transportes no interior
do Brasil que ligassem uma região à outra. Além disso, segundo Santos e Silveira (2001), ainda
não existia uma rede de cidades brasileiras.
A partir do século XIX, a produção e o território brasileiros começam a se mecanizar
mais profundamente, sobretudo com a construção das primeiras estradas de ferro e o surgimento
das usinas de açúcar. É aí que surge o Meio Técnico da Circulação Mecanizada, que constitui
um importante período de transição para a progressiva integração territorial do Brasil (SANTOS;
SILVEIRA, 2001, p.37). Esse período se estende do fim do século XIX até a década de 1940,
sendo caracterizado pelo início da industrialização, pela formação de um mercado interno
limitado à região Centro-Sul, pelo aumento populacional e pela formação de uma rede urbana
brasileira (Ibidem, p.37).
Além disso, nesse período, houve um aumento na construção de ferrovias e na
aparelhagem dos portos, mas isso se concentrou sobretudo no Sudeste. A industrialização e
poder de comando sobre as regiões não eram igualmente distribuídos. Na verdade, é nesse
período, sobretudo a partir de 1930, que São Paulo desponta como a grande metrópole industrial
do país, polarizando grande parte dos fluxos e dos investimentos industriais. A industrialização
crescente de São Paulo cria novas demandas no Brasil, impondo a necessidade de concretizar a
integração nacional (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.42). Mas isso acontece principalmente na
região que circunda São Paulo, que já possuía uma considerável rede de circulação. É desse
modo que surge a Região Concentrada no entorno da metrópole paulista.
Com a crescente industrialização e concentração de investimentos em São Paulo, em
meados do século XX, novas demandas e necessidades surgem na economia nacional. São Paulo,
que na época atraía fluxos migratórios do Norte e Nordeste, necessitava de produtos agrícolas
para alimentar sua população e de matérias-primas para suas indústrias. Além disso, a produção
de São Paulo precisava encontrar um mercado consumidor nacional. É nesse momento que se
inicia a Integração Nacional, marcada pela construção de rodovias e pela crescente importância
do Caminhão como meio de transporte mais relevante. A construção de Brasília é um marco
importante desse período, pois significou a maior interiorização da economia brasileira e a
efetiva integração do território nacional por meio das rodovias.
A partir da década de 1960 e 1970, o Brasil passou por uma grande ampliação das redes
de transporte nacionais. Isso permitiu uma pequena desconcentração regional da indústria,
sobretudo pela necessidade cada vez maior de um mercado consumidor interno. No entanto, essa
ampliação da articulação econômica foi comandada por São Paulo. Também foi a partir dos anos
70 que se começou a realizar a modernização das comunicações, estabelecendo, junto com a
modernização dos transportes, as condições para a fluidez do território. Forma-se uma rede de
aeroportos, e as tecnologias de telecomunicações são mais eficientes com a implantação da
tecnologia de satélites.
Essas condições de fluidez do território incentivaram e aumentaram a penetração de
firmas estrangeiras (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.52). Além disso, com a concretização do
meio técnico-científico-informacional, houve um grande aumento na circulação de produtos,
capital, informação e pessoas, tornando o espaço total do país em um mercado integrado
(SANTOS; SILVEIRA, 2001, pp.52-53).

Bloco B
Questão I.
ARAÚJO (1998) inicia a entrevista caracterizando o processo de desenvolvimento
econômico brasileiro do ponto de vista da questão regional. Segundo a autora, esse processo é
dividido em três grandes períodos.
O primeiro período é o mais longo e vai da colonização ao século XX. Ele é marcado
pela concentração populacional e econômica no litoral brasileiro, pelo pouco aproveitamento do
território e pela organização espacial em “arquipélagos econômicos”. Nessa organização, as
economias eram isoladas, não tinham relação com o resto do país e eram comandadas pelo
mercado externo (ARAÚJO, 1998, pp.161-162).
O segundo período começa com a industrialização da economia brasileira. A autora o
divide em dois subperíodos: uma industrialização concentrada no Sudeste, sobretudo em São
Paulo; e um momento de pequena desconcentração a partir dos anos 1960 e 1970. Além disso, é
nesse segundo período que há a consolidação de uma região concentrada e hegemônica no
sudeste brasileiro, que se dá a partir da enorme concentração econômica em São Paulo
(ARAÚJO, 1998, p.163). Com a SUDENE, a partir dos anos 1960, inicia-se uma tendência à
desconcentração comandada pelo Estado desenvolvimentista, com investimentos diretos e
incentivos financeiros na região Nordeste.
A autora coloca a emergência do terceiro período nos anos 1990, marcado pela
progressiva diminuição do papel do Estado como agente de intervenção na economia. Nesse
período, o planejamento regional realizado pelas instituições públicas fica cada vez mais
sucateado, recebendo pouca atenção por parte dos sucessivos governos federais.
No lugar do Estado, a lógica do mercado começa a comandar cada vez mais o processo
de desenvolvimento econômico do Brasil. Para Araújo, a retirada do Estado é grave, pois era a
partir do Estado que o Brasil estava experimentando um processo incipiente de desconcentração
econômica, levando ao maior desenvolvimento de outras regiões do país (ARAÚJO, 1998,
p.170). Assim, o Estado atuava como um “contrapeso” às desigualdades espaciais, pois ele
procurava justamente criar condições dinâmicas para que as regiões menos competitivas
pudessem receber e participar dos investimentos produtivos, como aconteceu com o Nordeste a
partir dos anos 1960.
A lógica do mercado, segundo a autora, é de atuar de maneira homogênea, ou seja,
buscando investir somente nas regiões mais dinâmicas e com maiores possibilidades de altas
taxas de lucros, ignorando as regiões mais pobres. Isso tende a reforçar ainda mais as
desigualdades, pois os investimentos são afunilados em direção a essas poucas regiões dinâmicas
(ARAÚJO, 1998, p. 170).
A autora também comenta o papel do processo de Globalização nessa dinâmica regional
brasileira. Com a diminuição do papel do Estado e a maior integração à economia mundial, as
estruturas regionais são redefinidas com base nos interesses e estratégias dos agentes econômicos
globais (ARAÚJO, 1998, p. 170). São eles que definem se uma indústria local fecha ou
permanece aberta, com pouca ou nenhuma consideração aos interesses da sociedade brasileira.
Nesse sentido, a heterogeneidade espacial brasileira aparece como um problema se se
considera o ponto de vista dos agentes do mercado, pois suas estratégias são homogêneas e não
levam em consideração os interesses locais. Eles procuram os lugares mais desenvolvidos e mais
dinâmicos. O resto fica de fora.
No entanto, para ARAÚJO (1998, p.178), a heterogeneidade dos espaços brasileiros não
é um problema, mas sim uma vantagem, um potencial. A autora defende a necessidade de
políticas e estratégias econômicas que sejam diferenciadas de acordo com cada lugar. Ela
também fala que as divisões Macrorregionais se tornaram insuficientes, pois mesmo dentro das
regiões há enormes desigualdades econômicas. Como exemplo, ela fala das metrópoles
brasileiras, como Natal, que possui áreas turísticas com grandes investimentos internacionais, ao
mesmo tempo em que possui uma periferia pobre e dominada pelo narcotráfico. Isso se repete
em outras regiões brasileiras.
Para aproveitar a heterogeneidade e a diversidade dos espaços brasileiros, a autora
ressalta a necessidade de uma coordenação regional e nacional na formulação das políticas de
planejamento, e a importância de não deixar que o planejamento econômico regional brasileiro
seja dirigido exclusivamente pelo mercado privado, pois isso só reforçará as desigualdades
(ARAÚJO, 1998, p. 180). Ao fim da entrevista, a autora apresenta o exemplo do MST, que
trabalha a partir de uma lógica de coordenação e descentralização, estabelecendo objetivos
comuns e gerais (assentar a população sem-terra no Brasil), mas a partir de estratégias
específicas pensadas de acordo com cada região brasileira. Ou seja, cria-se uma forma de pensar
em políticas de planejamento com base em uma articulação nacional, regional e local.
Referências bibliográficas

ARAÚJO, T.B. O elogio da diversidade regional brasileira. In: MINEIRO, AS; ELIAS, LA;
BENJAMIN, C. Visões da crise. Rio de Janeiro: Contraponto, 1998. p. 161-181 [entrevista].

SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil. Território e sociedade no início do século XXI. Rio
de Janeiro: Record, 2001. Capítulo 2, Do meio natural ao meio técnico-científico informacional,
p. 23-53.

SANTOS, M. A Natureza do Espaço: Técnica e tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Edusp,
1996.

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