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A PRE SENTA Ç ÃO
Sabemos que as nossas matrizes são muitas e di- Esta proposta está organizada de forma simples,
versas, plurais. Basta prestar atenção a nossa lín- sucinta e didática. Sabemos das diculdades de
gua portuguesa e ver a riqueza de palavras que encontrarmos materiais didáticos publicados sobre
compõem nosso vocabulário: axé, caxixi, abajour, tais assuntos agrupados em um único livro.
futebol, etc. Você seria capaz de dizer a origem de
cada uma delas? A mesma coisa acontece com o Profa. Leda Guimarães - Coordenadora do Curso
nosso vocabulário de representações visuais. No
entanto, apesar dessa diversidade, algumas formas
foram historicamente mais valorizadas e conside- DADOS DA DISCIPLINA
radas melhores e mais “certas” do que as outras.
Ementa
Ao focarmos esse conteúdo nas três matrizes: in-
dígena, africana e européia queremos colocá-las Matrizes Culturais da Arte no Brasil: estudo das vi-
em pé de igualdade como referência para a nossa sualidades dos traços estéticos culturais de diferen-
formação estética visual, enfatizando algumas es- tes povos na formação da nossa arte; sincretismo,
pecicidades, mas também ressaltando processos retenções, permanência e hibridismos das três ma-
de hibridizações, sincretismos, mestiçagens, apro- trizes na arte brasileira; o museu afro-brasileiro e
priações, resignicações pelos quais essas matri- demais espaços do gênero; a presença dos aspec-
zes passaram ao longo desses mais de 500 anos de tos da herança africana e indígena na produção
história. O conteúdo dessa disciplina é formado por artística no Brasil; espaço da cultura afro-brasileira
um texto base da professora Dra. Maria Elizia Borges e indígena no ensino de artes visuais; discussão da
(unidades 1, 2 e 4), que apresenta a arte rupestre, in- lei 10.639/03 que torna obrigatório o ensino da His-
dígena e as matrizes européias (produção jesuítica tória e Cultura Afro-brasileira e Africana.
e a produção de imagens sacras de vertente popu-
lar). Aprofundando a informação sobre arte rupes- Objetivos
tre, temos o texto complementar da professora Ms.
Ludimilia Justino de Melo Vaz. Sobre as matrizes Compreender aspectos das matrizes estético
africanas, temos o texto da professora Ms. Ivaina de culturais da arte brasileira;
Fátima Oliveira referente à unidade 2 - Matriz africa- Entender os processos de sincretismos, mesti-
na. Como texto complementar temos “A falsa idéia çagens e hibridismos na arte brasileira;
de matrizes culturais” de Dernival Venâncio Ramos Discutir e questionar as relações de poder en-
Júnior e Allysson García Fernandes. A proposta des- tre as diferentes matrizes culturais;
te material é fornecer aos leitores um conhecimento Problematizar o uso das matrizes culturais na
geral acerca das matrizes culturais da arte no Brasil. formação do docente de artes visuais.
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UNIDADES
Unidade 1: Matrizes indígenas
1.1 Uma produção artística primordial L
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1.2 Produções artísticas de caráter coletivo A
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Texto complementar: Arte rupestre brasileira. Uma viagem ao O
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mundo simbólico da Pré-História. E
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Unidade 2: Matrizes africanas: religiosidade, resistência A
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e ofícios A
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2.1 Contribuição da cultura negra na formação cultural brasileira L
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2.2 Resistência e luta da cultura negra S
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2.3 Religiosidade africana e sincretismo R
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2.4 Miradas de universalidade positiva da cultura negra M
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Unidade 3: Matrizes européias: colonizar, catequizar e
construir
3.1 Registro artístico de uma terra exótica
Unidade 4: Imagens sacras
4.1 Aleijadinho
4.2 Veiga Valle
103
4 - Matrizes Cu ltura is da Arte no Brasil
Unida de 1
Matrizes indígenas
Nota da autora: Material originalmente elabora- cerâmicas e estão espalhadas em sítios arqueoló-
do com a ajuda de algumas pessoas, às quais dirijo gicos por todo o país. Das regiões pesquisadas até
um agradecimento coletivo. No volumoso trabalho o momento, destacam-se os estados de Minas Ge-
de compilação documental e em momentos vários rais, Goiás, Piauí, São Paulo e Rio Grande do Sul.
nas atividades da pesquisa, menciono Henrique de
Freitas. No trabalho de processamento do texto, Os trabalhos manuais não eram considerados
recebi ajuda de Rodrigo Borges Marques. A artis- obras de arte pelas culturas que os produziram,
ta Lucimar Bello Pereira Frange fez a leitura crítica. pelo menos não no sentido formal em que é usa-
No zelo com o tratamento didático do livro, contei do o conceito. Trata-se, na verdade, de uma pro-
também com a leitura criteriosa do aluno então, dução artística originária de um contexto social
secundarista Ricardo Felício do Nascimento. completamente diferente da civilização ocidental,
que adota tal terminologia.
1 1 Uma produção
. Para o arqueólogo Ulpiano Bezerra de Meneses
artística primordial (Zanini, 1983), esses produtos devem ser estuda-
dos, quanto a suas funções, e aos procedimentos
A literatura arqueológica menciona três catego- de manufatura, a m de identicar quais deles te-
rias de trabalhos manuais realizados pelas culturas riam prováveis funções estéticas. Sabe-se que toda
chamadas de primitivas que habitavam todo o ter- manifestação estética propicia um aguçamento
ritório brasileiro, no período denominado Pré-co- na sensibilidade das pessoas, logo, o estudo dessa
lonial, entre 10.000 a.C. e 15.000 a.C., até a chegada produção tem grande interesse para os historia-
dos portugueses. São artefatos líticos, pinturas e dores da arte.
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Tanto os arqueólogos como os historiadores da
arte se deparam, na coleta do material nos sítios
arqueológicos brasileiros, com diculdades de
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ordem geofísica: variações climáticas, acesso aos S
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sítios, preservação dos materiais como bras, ma- B
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deiras, peles etc. E de ordem geossocial: nancia- E
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mento, sistematização de critérios cientícos e ca- A
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rência de pesquisadores. S
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O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico C
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Nacional (IPHAN), fundado em 1937, é o órgão I
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responsável pela preservação do patrimônio dos M
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sítios arqueológicos.
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rochosas das grutas, com pincéis de bras ou com A cerâmica marajoara foi produzida por agriculto-
os dedos, utilizando-se de cores advindas de pig- res de origem andina, que habitavam as orestas
mentos de origem mineral – óxido de ferro (ama- tropicais. Formavam uma sociedade em processo
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relo) – e vegetal – urucum (vermelho), jenipapo de estraticação social, haja vista o valor dado ao
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(preto) e carvão. O segundo utiliza instrumentos ritual da morte, atestado pela produção de grande
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T líticos para sulcar, picotear e friccionar as paredes quantidade de urnas funerárias bem elaboradas.
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A rochosas de grutas e habitações subterrâneas. São urnas de grande porte e exibem decoração
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exuberante, proveniente da técnica e pintura, com
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Independentemente da técnica, os motivos das fundo geralmente creme claro, e da técnica excisa,
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pinturas rupestres apresentam dois repertórios. em que o desenho é ressaltado por linhas de vá-
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R O geométrico consta de inúmeras linhas e formas. rias espessuras, mediante a retirada da superfície
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O orgânico compõe-se de guras humanas e de da cerâmica, antes da queima.
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animais esquematizados e isolados ou associados
a cenas de pesca, caça, dança, combate e relações Em ambos os casos, a decoração apresenta-se com
sexuais. Os pormenores, muitas vezes, são natura- formas geométricas estilizadas. Muitas vezes, recor-
listas e o registro do meio ambiente vegetal tor- re também à representação zoomorfa de rãs e co-
na-se raro. Da direita para a esquerda, há aspectos bras, ou antropomorfa, de mulheres e homens. To-
ligados ao movimento, ao espaço e a aparência das as urnas são bem polidas, assim como os vasos
dessas imagens não verbais. e as tangas, que têm o mesmo processo de manufa-
tura. Quanto ao formato, as variações são básicas e
simples, variando da forma esférica à cilíndrica.
1.1.3 A Cerâmica
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métricos estilizados, muito dos quais inspirados Em resumo, o fenômeno artístico do período
nas formas antropomorfas e zoomorfas. pré-colonial reúne grande variedade de artefatos
artísticos, produzidos com diferentes técnicas e
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A decoração, sempre sutil e delicada, evidencia o funções diversicadas por culturas em estágios S
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grau avançado da manufatura dessas cerâmicas. As diferentes de socialização. B
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estatuetas – ídolos do culto da fertilidade – e os va- E
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sos utilizados tanto em ritos cerimônias como nos Por que todos os objetos de função utilitária apro- A
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hábitos do cotidiano, são um bom exemplo disso. priam-se mais da representação antropomorfa e S
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da geométrica? Por que foi dado um maior de- U
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sempenho técnico e artístico às pinturas rupestres C
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e às urnas? Expressam as formas plásticas o fato I
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diferenciador e identicador dos trabalhos manu- M
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ais, quanto ao valor de uso e ao valor cerimonial?
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1 2 Produções artísticas
. formas abstratas e cores variadas. A arte do corpo
de caráter c oletivo não é feita de maneira aleatória, é determinada
pelo ritual e é condizente com o signicado de
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Quando os portugueses aportaram em terras do cada um deles. Cabe a cada indivíduo ressaltar sua
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Novo Mundo, ele era habitado por várias culturas beleza dentro das normas preestabelecidas.
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T nativas. O antropólogo Darcy Ribeiro (Zanini, 1983)
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A faz distinção entre as modalidades gerais dessas
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culturas, em função dos seus sistemas adaptativos
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de ordem geográca:
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Os silvícolas – vivem em regiões de orestas
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R com vegetação densa e clima úmido;
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Os campineiros – vivem em regiões do cerra-
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do, com vegetação mais rasteira e clima seco.
A quantidade de animais é mais escassa. Seu
sistema agrícola é inferior ao dos silvícolas.
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Os trançados – cestos, abanos, peneiras, esteiras nam-se símbolo da comunidade, pois exprimem a
e redes são produtos elaborados e sua duração capacidade do trabalho coletivo e o poder da lide-
também é relativa, pois a matéria-prima empre- rança tribal. Normalmente, elas têm uma congu-
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gada consiste de folhas, cipós, talos e bras. A ração com bases circulares ou ovais e o teto cônico, S
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complexidade na combinação das tramas resulta considerados de grande valor arquitetônico. B
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num trançado de formas geométricas. E
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Maloca indígena
Para reetir
1.2.3 Gêneros artísticos duradouros
O que signica para você o artesanato indígena?
Incluem-se, nesse gênero, os objetos cerâmicos É um objeto de decoração ou de uso? Você já
e as edicações coletivas. A cerâmica da cultura dormiu em uma rede? Como se sentiu?
indígena atual adota processo semelhante ao das
culturas pré-coloniais, visto na unidade anterior.
Destacam-se aqui, os licocós – peças pequenas de A arquitetura moderna emprega o concreto ar-
cerâmica que retratam homens, mulheres e crian- mado em suas edicações e pode apropriar-se de
ças com corpos pintados e adornados. Eles são inúmeras formas cônicas como elemento de liber-
semelhantes às Vênus Esteatopígias, do período dade formal e técnica. Um exemplo é a Igreja de
paleolítico superior europeu. São Francisco de Assis de Belo Horizonte projeta-
da pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Você conhece
As primeiras culturas indígenas deram um caráter formas similares em outras construções?
próprio e inconfundível aos licocós: posição estáti-
ca, estilizada, desproporção das partes do corpo,
movimentos leves e simplicidade temática. Já nas
produções atuais, os licocós retratam os hábitos da
vida cotidiana: cenas em movimento de formas
estilizadas, vazadas e policromadas. São temas
narrativos que procuram o resgate de seus mitos.
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As linguagens visuais podem apresentar simi- As inscrições rupestres registram o impenetrável
laridades, mas o que se deve levar em conta é o mundo simbólico das populações pré-históricas.
contexto cultural em que ela foi criada. É preciso Não se sabe o que representavam estes desenhos
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querer “olhar para ver” as diversidades, além das ou qual a sua função no grupo, mas são admirá-
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semelhanças. veis as formas e as cores que perduram ocultas
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T nas paisagens rochosas.
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D Saiba mais
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No tempo presente o homem contemporâneo
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L O que ler: permanece utilizando paredes como suporte para
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S Maria Heloísa Fénelon Costa. se expressar, no entanto, estes grasmos diversos
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R – pichações, grates, palavras de ordem, declara-
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Berta Ribeiro;
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ções de amor – contém outros signicados sociais,
4 Aonde ir:
que devem ser compreendidos dentro do contex-
Lavras e Louvores. Museu de Antropologia da to a que pertencem. Comumente esta confusão é
Universidade Federal de Goiás. Praça Universitá-
ria. Goiânia – GO feita na intenção de estabelecer parâmetros entre
as diferentes manifestações. Contudo, cada siste-
O que assistir:
ma simbólico deve ser compreendido dentro do
Série O povo brasileiro (matrizes indígenas) – you-
seu próprio contexto.
tube
Exposição sobre Gilberto Freyre – Youtube
Observe como as classicações que fazemos
Casa da cultura da mulher negra –Canal Futura das formas estéticas do passado são puramen-
te convencionais, realizadas a partir do ponto de
vista das noções artísticas do nosso tempo. São
tentativas de entender culturas das quais temos
Para reetir
apenas vestígios.
“Antigamente a gente tinha muitos adornos de Apesar de a arte rupestre constituir um objeto xo
penas, eram grandes e grossos, muito mais bo- que está exposto ao consumo visual, a sua função
nitos que os de agora. Mas naquele tempo não
não era a de uma obra artística como entendemos
se precisava de tanto trabalho para conseguir as
penas: o pajé cantava e elas vinham voando; vi- hoje. Ela tinha a nalidade de transmitir e reforçar
nham penas de tucano, de arara, de japu para fa- o conhecimento cultural do grupo, provavelmen-
zer os colares das mulheres e aqueles diademas te, em situações rituais.
grossos”. (Ribeiro e Ribeiro, 1957:79).
Ludimília Justino de Melo Vaz Porém, até estes objetos tiveram um signicado
social bastante relevante para as sociedades pré-
Arte rupestre é o termo cunhado especicamen- coloniais, as formas estéticas estavam incorpora-
te para referir-se ao comportamento do homem das aos artefatos ou utensílios do uso cotidiano,
de culturas ágrafas de representar grasmos em não havendo a categoria de objeto artístico dis-
suportes rochosos. São as pinturas e gravuras ins- sociada da função utilitária. Através deles estavam
critas em paredões rochosos, ou grandes blocos impressas formas estéticas e valores, tais como,
aorados, que algumas vezes proporcionaram posição social, descendência, faixa etária, entre
ambiente para o abrigo humano. outros. A arte rupestre, como expressão do co-
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nhecimento cultural destes grupos, estava mistu- cas, formas e cores, e que apresentam uma grande
rada à vida cotidiana – ritual, festividade, enterra- distribuição territorial. Nos estudos arqueológicos
mento – sem que os seus autores distinguissem estes conjuntos são chamados tradições, uma vez
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entre um signicado e outro. que incluem certa variabilidade dentro do conjun- S
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to, provocada pela dinâmica cultural. Esta classica- B
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Panorama da arte rupestre ção tem sido utilizada como parâmetro de similari- E
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no território brasileiro dade a cada vez que um novo painel é identicado A
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No território brasileiro são encontrados cente- e estudado (PROUS, 1992; GASPAR, 2003) S
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nas de paredões rochosos com arte rupestre. Os U
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primeiros habitantes nos limites do Brasil viviam De um modo geral, as gravuras, também chama- C
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da caça e da coleta, seu modo de vida exigia das petroglifos, parecem pertencer a contextos I
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que circulassem em diferentes ambientes ecoló- sócio-culturais distinto das pinturas, mas algumas M
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gicos em busca dos recursos necessários para a vezes se interpenetram.
manutenção do grupo. Os caçadores coletores
estabeleciam-se em acampamentos temporários Para a elaboração da gravura era usada uma rocha
sob abrigos rochosos, onde manifestavam suas que servia de artefato para o picoteamento ou fric-
crenças, realizavam rituais, enterravam seus mor- ção do suporte rochoso. Os painéis gravados cons-
tos. Posteriormente, quando o homem aprende a tituíam desenhos geométricos e formas humanas.
cultivar plantas, ele se torna sedentário, constrói
sua moradia, aumenta o número de membros da Sobre os grasmos geométricos não podemos
comunidade, mas continua fazendo excursões em deixar de dizer que estes participavam ativamen-
abrigos rochosos, para a caça, pesca ou coleta de te dos códigos de linguagem visual encontrados
recursos diversos e também para ns rituais. no território brasileiro. As formas, que para nós
são abstratas, tinham um signicado reconhecido
Nas investigações arqueológicas nem sempre é e aceito pelos grupos pré-históricos, tanto que,
possível encontrar correspondência entre as pin- muitos desses desenhos se repetem em diversos
turas do paredão e os diferentes grupos cultu- painéis, demonstrando a aceitação da representa-
rais que ocuparam o abrigo rochoso ao longo do ção iconográca (VAZ, 2005).
tempo. Isto se dá porque, ao escavar o terreno de
um abrigo, são encontrados vestígios de agricul- No Rio Grande do Sul um conjunto de gravuras de
tores ceramistas, nas camadas superciais do solo temática geométrica apresenta-se alinhado nas es-
e de caçadores coletores nas camadas mais pro- carpas do Planalto, corresponde à Tradição Meridio-
fundas. E o arqueólogo só poderá associar a arte nal. A temática pode ser dividida em dois grupos.
rupestre a um desses níveis temporais se encon- Um que se caracteriza pela ocorrência de círculos
trar vestígios desta atividade, como por exemplo, maiores rodeados por círculos menores, sugerindo
restos de pigmentos. pegadas de felídeos. E a outra apresenta traços retos
paralelos ou cruzados e as vezes curvos. A unidade
As classicações estilísticas baseadas nos critérios gráca formada por três linhas que partem do mes-
formais, técnicos e temáticos dos painéis de arte mo vértice, conhecida por “tridáctilo”, é identicada
rupestre, têm sido utilizadas por arqueólogos para em diversos painéis gravados.
compreender as dispersões e mudanças culturais
desse complexo universo de imagens.
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As gravuras da tradição Geométrica no Nordeste do
Brasil estão nas imediações de rios e cachoeiras, al-
gumas vezes sujeitas às enchentes sazonais. A Pedra
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Lavrada do Ingá, próxima ao município de Campina
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Grande, na Paraíba é uma obra de tamanho monu-
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T mental, o bloco rochoso tem 24 metros de largura
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A por três metros de altura. A maioria dos desenhos
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Gravuras da tradição Meridional. Sítio Josefa – RS.
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A Fonte: Prous (1992). são sinais não identicados, mas existem também
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guras zoomorfas e antropomorfas.
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Nas ilhas litorâneas do estado de Santa Catarina os
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R locais sinalizados estão a cerca de 15Km da costa,
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são de difícil acesso e até mesmo perigosos. Este
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conjunto foi denido como tradição Litorânea Ca-
tarinense. Os painéis rupestres orientam-se para o
alto-mar, sugerindo uma mensagem endereçada
para quem chega do oceano. Os grasmos são com-
postos por linhas sinuosas, círculos concêntricos e
guras humanas bastante esquemáticas.
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O maior acervo de pinturas rupestres está implan-
tado no Parque Nacional da Serra da Capivara, no
Piauí. A formação geológica composta por uma
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cuesta – imensa linha de paredões verticais – abri- S
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ga um nicho ecológico favorável à ocupação pré- B
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histórica. Neste contexto e em suas adjacências já E
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foram registrados mais de 500 painéis rochosos A
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com pinturas e gravuras rupestres. S
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Nesta área podem ser identicados dois conjun- C
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tos de pinturas rupestres. Um deles, denominado I
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tradição Agreste, tem como elemento denidor as M
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guras animais ou humanas isoladas, de grande ta-
manho, dando destaque ao painel. O outro conjun-
to classicado como tradição Nordeste, caracteriza-
se pela abundância de guras humanas agrupadas
e formando cenas de expressão dinâmica.
Saiba mais
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A região do Parque Nacional Serra da Capivara pa-
rece ter sido o berço da Tradição Nordeste caracte-
rizada pelas cenas de ação, considerando a quan-
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tidade e diversidade dessas pinturas na região. Os
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grasmos de ação estendem-se pelos estados de
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T Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará,
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A Minas Gerais e Goiás. A dispersão do estilo pode
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estar ligada à expansão do grupo cultural provo-
R Pinturas da tradição Agreste. Parque Nacional da
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L Serra da Capivara (PI). Fonte: Gaspar (2003). cada pelo crescimento demográco.
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R as manifestações rituais daqueles povos. Entre os As pinturas da região do Seridó, no Rio Grande
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animais dominam as emas, os cervídeos e peque- do Norte, correspondem a uma variação da tra-
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nos quadrúpedes. As cenas de caça são as mais re- dição Nordeste. Os grasmos da região do Seridó
presentadas, compostas por um ou mais animais, destacam-se pela representação humana de boca
por caçadores e artefatos utilizados para este m. aberta, talvez simulando um “bico de pássaro”. As
guras têm tamanho pequeno, geralmente, pinta-
das com traço no com tinta líquida vermelha.
114
A Tradição Nordeste também é identicada em Os estudos na Caverna da Pedra Pintada, locali-
situações pontuais no sudoeste do Mato Grosso. zada no município de Monte Alegre no estado
Na Bacia do Rio São Lourenço foram encontra- do Pará, revelam que os caçadores coletores se
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dos diversos abrigos com pinturas e lajedos com adaptaram também à oresta tropical. As data- S
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petroglifos. Em meio às inscrições geométricas ções radiocarbônicas situaram as primeiras ocu- B
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predominantes no contexto regional as represen- pações entre 11.200 e 10.000 anos atrás, datas que E
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tações de guras humanas em ação são quanti- correspondem às camadas com concentração de A
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tativamente minoritárias. As cenas reconhecíveis pigmento utilizado nas pinturas. As guras rupes- S
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mostram parto, caça e situações rituais. tres são grasmos geométricos, diversos animais U
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e cenas de caça e parto, além de impressões de C
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A tradição Amazônica abrange pinturas e gravuras mãos de crianças e adultos. I
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localizadas nos estados do Pará, Roraima, Amapá, M
Rondônia e Mato Grosso. Só no baixo Rio Ama- A antiguidade das manifestações 4
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petroglifos em uma área de inúmeros abrigos pin-
tados. Os desenhos lineares e fechados aparecem
juntos a pés e guras humanas. As “cruzes” são os
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únicos desenhos coincidentes nos petroglifos e
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pinturas. Foram realizados pela técnica de abra-
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T são e picoteamento; os sulcos são preenchidos
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A com pintura vermelha ou preta. O picoteamento
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parece mais recente do que a técnica de abrasão
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(SCHMITZ, 1981/82).
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Pinturas e gravuras são encontradas ainda em ou-
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tras regiões do estado de Goiás como em Formo-
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sa, Serra de Jaraguá, Planaltina de Goiás e Nique-
lândia. A arte rupestre nestes locais apresenta um
alto nível de degradação provocado por fatores
diversos, entre eles, a intervenção nos painéis fei-
Pinturas, Serranópolis – GO. Fonte: Fundação Bienal (1984).
ta pela população atual com inscrições a carvão e
o uso dos locais para atividades atuais.
da rocha, enquanto que os petroglifos aparecem
nos arenitos mais moles. Existem também abri- Signicados da arte rupestre
gos exclusivamente com gravuras. Neste caso, a na contemporaneidade
temática se caracteriza por geométricos lineares Depois deste panorama é possível compreender
formando ângulos, guras fechadas, círculos pre- a diversidade dos grupos culturais e a vastidão
enchidos com raios, grades, elipses, pés de felinos do território brasileiro por eles ocupado no pe-
e de humanos, folhas, entre outros. Os únicos mo- ríodo pré-histórico. Vale ressaltar, no entanto, a
tivos elaborados a partir das duas técnicas são fo- fragilidade deste acervo exposto às intempéries
lhas e pés. A diversidade de motivos gravados não e ao processo de ocupação e usos contemporâ-
permitiu um indicador de semelhança estilística, neos destes locais. Muitos paredões rochosos
porque alguns grasmos têm ampla distribuição têm sido destruídos dando perda irreversível
no território brasileiro (SCHMITZ, 1981/82, p. 415). à arte rupestre.
Na região de Caiapônia as técnicas de pintura são A preservação da arte rupestre como patrimônio
as mesmas empregadas em Serranópolis – a tin- cultural exige ações e intenções especícas, que
ta líquida aplicada com “pincel”, a pintura a dedo lidam com a apreciação da arte, com a conser-
e o bastão seco. O pigmento mais comum foi o vação do patrimônio e com a continuidade das
vermelho, raramente aparecem o preto e a poli- pesquisas. Trabalhando dentro desta dinâmica de
cromia do vermelho e amarelo e/ou preto. As - interesses é que a Fundação Museu do Homem
guras humanas, em tamanho pequeno, cerca de Americano, juntamente com o IBAMA elaboraram
10cm, representam cenas de ação. Entre os ani- um Plano de Manejo para ser aplicado no Parque
mais estão representados os veados, antas, tatus, Nacional da Serra da Capirava (GUIDON, 2002).
tartarugas, onças, aves, macacos e peixes. Algu-
mas vezes os animais compõem cenas com hu- Para alcançar o desenvolvimento econômico e
manos ou são representados em bandos. Os pei- social auto-sustentável, que envolvesse a popu-
xes, por exemplo, podem estar aos pares ou em lação local, optou-se pelo turismo. As belezas
cardumes. Os geométricos ocorrem em menor naturais do Parque aliadas aos vestígios da pré-
quantidade, correspondendo a círculos concên- história foram os grandes atrativos da região.
tricos, losangos geminados, lineares, entre outros Com este intuito, o Parque foi preparado para a
(SCHMITZ, et al.,1984). visitação com abertura de estradas e trilhas de
acesso, colocação de passarelas para a condu-
Em Caiapônia foram localizados três abrigos com ção do público nos sítios arqueológicos, além da
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preocupação com a higienização do Parque e A arte rupestre é um sistema de signicação do
conservação dos painéis de pinturas rupestres. passado que emerge na contemporaneidade com
outros sentidos. As manifestações estéticas da
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A preservação do patrimônio arqueológico se pré-história podem produzir vínculos afetivos do S
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justica, além de outros fatores, pelas referências homem com o seu espaço, com a sua terra mátria, B
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que traz do passado pré-histórico e pelo teste- na medida em que é conhecida e entendida como E
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munho do processo de mudança atravessado pertencente aos diferentes grupos sociais que A
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pela humanidade. constituem o povo brasileiro. S
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