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FACULDADE DE DIREITO
BELO HORIZONTE
2014
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BELO HORIZONTE
2014
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M357 t Tortura: de método a crime./ Carlos Henrique Alvarenga Urquisa Marques – 2014
195 f. enc.
Referências: f. 11-179
CDU 343.615(043)
Ficha catalográfica elaborada por Emilce Maria Diniz – CRB – 6 / 1206
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Fiódor Dostoiévski
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha mãe por me ensinar que , com fé, ousadia e luta, é possível
conquistar os tesouros do céu e da terra.
Ao meu pai por me mostrar o valor do passado e das tradições. Também, pelo
incentivo a sempre almeja r novas conquistas intelectuais.
Ao meu orientador, o Professor Dr. Felipe Martins Pinto, por me guiar não
apenas academicamente, mas com conselhos pessoais e profissionais .
Agradeço também à minha família pelo apoio. A todas tias, tios, primos e
primas, principalmente ao Gustavo por sempre apoiar meus projetos pessoais.
Ao Dr. Luciano Santos Lopes por compartilhar sua experiência, investir sua
confiança e ser uma inspiração tanto profissional quanto acadêmica.
Agradeço, por fim, aos amigos e colegas do Escritório Salomão Cateb. Ao Dr.
Renato Machado e ao Dr. Leonardo Barbosa, também aspirantes a mestres,
com os quais dividi as dúvidas, descobertas e angústia s dessa fase.
A todas esta s pessoas, a gradeço por participarem desse momento, certo de que
encerro esta etapa engrandecido pelas experiências e fortalecido pelas
dificuldades.
7
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
INTRODUÇÃO
1
GOUL ART , Va lér ia D ie z S car a nce Fer na nde s. T ort ur a e pro va no pr o cesso pena l . ( S ão
P au lo : 2002, At la s) , p. 39.
12
2
S OARE S , I nês V ir g ínia P r ado ; KI S HI , S andr a Ake m i S hi mada. Me mó r ia e Ver dade - A
Just iça de T r a ns ição no E st ado De mo cr át ico Br as i le ir o . ( Be lo Ho r izo nt e: 2009, E dit o r a
Fó r um) . p. 57.
3
T EI XE I RA, F lá via Ca me l lo . Da To rt ur a . ( Be lo Ho r izo nt e: 2004, Del Re y) , p. 96.
13
4
T ORNAGHI , Hé lio . A Re lação P ro cessu a l P e na l. ( S ão P aulo : 1987, S ar aiva) . p. 03.
15
5
S AMP AI O, De nis A Ver dade no P r o cesso P ena l. A per ma nê nc ia do S ist e ma I nq u is it o r ia l
at r avés do discur so so br e a ver dade ( R io de Jane ir o : 2010, Lume n Jur is) . p. 115.
6
S AMP AI O, o p. cit .
7
FE RRI , E nr ico . P r inc íp io s de D ir e it o Cr im ina l - O Cr im ino so e o Cr ime.
( Ca mp ina s: 2003, Russe l l) . p.
27.
17
8
Na ver dade, o po der do s ju íze s a est e t empo er a “de s mesur ado ”. ( BARROS , Mar c o
Ant o nio de. A Bu sca da Ver dade no P r o cesso P ena l. ( S ão P au lo : 2010, Revist a do s
T r ibu na is) p. 59) .
9
BAI GE NT , Mic hae l. A I nqu is iç ão ( Rio de Jane ir o : I mago , 2001), p. 19.
10
LE GOF F, Jacque s, As Ra íz es med ie va is d a E ur o pa; t r adução de Ja ime A. C la se n
( P et ró po lis, R io de Ja ne ir o : Vo zes , 2007), p. 127.
18
Não era por menos: os burgos t iveram sua origem nos entrepostos
comerciais criados com o objetivo de auxiliar a atividade comercial em
expansão na Europa. Por óbvio, o coração do comércio é a noção propriedade,
acompanhada pela valorização do patrimônio individual 13.
11
LE GOFF, o p. cit . , p. 132.
12
NAZ ARI O, Lu iz. Aut o s- de- fé co mo espet ácu lo de mas sa ( S ão P au lo : Asso c iaç ão
E dit o r ia l Hu ma nit as, 2005) , p. 38.
13
LE GOF F, Jacque s, As Ra íz es med ie va is d a E ur o pa; t r adução de Ja ime A. C la se n
( P et ró po lis, R io de Ja ne ir o : Vo zes , 2007), p. 143.
19
Pretendia com isso, estender sua influência ao lar de cada fiel, pois os
sacerdotes que lhe serviam seriam seus olhos e ouvidos na vigia dos hereges.
14
COUT I NHO, Jac int o Nelso n d e M ir a nda. S ist e ma Acu sat ór io : Cada par t e no lugar
co nst it uc io na lme nt e de mar cado ( Br as íl ia , v. 46, n. 183, ju l. / set . 2009), p. 189.
15
Da í a r a íz da impo rt ânc ia que r ecebe no s ist e ma inqu is it o r ia l. ( Vi de no t a nº 46).
16
BAT I S T A, N ilo . Mat r ize s ibér ica s do s ist e ma pe na l br as i le ir o . ( Rio de Ja ne ir o : 2002,
Re va n) . p. 234.
20
17
BAI GE NT , Mic hae l. A I nqu is iç ão ( Rio de Jane ir o : I mago , 2001), p. 24.
18
WE L LS , Her ber t Geo r ge. Hist ó r ia U niver sa l. v. 4. (E st ado s Unido s do Br as il: 1972,
Co mpa nhia E d it o r a Nacio na l) . p. 1070.
21
O que não se podia permitir era a divergência esse ncial desses cultos
em recusarem-se a se sujeitar à hierarquia eclesiástica. Para o papa, isso era
intolerável , pois representava um foco de oposição em seu próprio “quintal”.
19
BAI GE NT , Mic hae l. A I nqu is iç ão ( Rio de Jane ir o : I mago , 2001), p. 21.
20
WE L LS , Her ber t Geo r ge. Hist ó r ia U niver sa l. v. 4. (E st ado s Unido s do Br as il: 1972,
Co mpa nhia E d it o r a Nacio na l) . p. 1063.
22
A sistemática pensada para a perseguição dos here ges nesse novo meio,
trazia, como se verá adiante, valores nucleares para os quais o antigo modelo
da inquisitio romana se adequou perfeitamente.
Logo, adianta -se que o modelo inquisitorial não foi pensado a partir do
procedimento, mas a partir dos objetivos traçados. Explica-se.
21
BAI GE NT , Mic hae l. A I nqu is iç ão ( Rio de Jane ir o : I mago , 2001), p. 38.
23
22
CORDE RO, Fr a nco . P r o cedim ie nt o P ena l, T o mo I I ( S ant a Fé de Bo got á: T emis , 2000),
p. 16.
23
BAI GE NT , Mic hae l. A I nqu is iç ão ( Rio de Jane ir o : I mago , 2001), p. 47.
24
BAT I S T A, N ilo . Mat r ize s ibér ica s do s ist e ma pe na l br as i le ir o . ( Rio de Ja ne ir o : 2002,
Re va n) . p. 234.
25
Vi de it em 1. 1.
24
26
De ve - se a ler t ar par a a d ifer e nça e nt r e publ ic idad e de mét o do s par a a pu blic i dade de
at o s. T ais co nc e it o s não se co nfu nde m. No s ist e ma inqu is it ó r io , o pro ced ime nt o er a
públ ico e fo i no t ó r io que, no bo jo de qua lquer pr o cesso , o bser var - se- ia m int er r o gat ó r io s,
sup líc io s e, no caso de co ndenação , aut o s de fé. Não é o mes mo que u m pr o ces so público
po is é cer t o que o co nt eúdo do s pro cessos inqu is it ó r io s não er a le vado ao co nhe c i me nt o de
t o do s. O do mínio do co nt eúdo das acus açõ es e de t o do subst r at o pr o bat ór io qu e e mer g ia
do pro cedime nt o aplicado , er a exc lu s iva me nt e do co r po me mbr o s da I nqu is ição .
27
NAZ ARI O, Lu iz. Aut o s- de- fé co mo espet ácu lo de mas sa ( S ão P au lo : Asso c iaç ão
E dit o r ia l Hu ma nit as, 2005) , p. 161.
28
WE L LS , Her ber t Geo r ge. Hist ó r ia U niver sa l. v. 4. (E st ado s Unido s do B r as il: 1972,
Co mpa nhia E d it o r a Nacio na l) . p. 1061.
25
“estava a estender no mundo seu poder legal, estava a perder a sua força sobre
a consciência dos home ns” 29
29
WE L LS , Her ber t Geo r ge. Hist ó r ia U niver sa l. v. 4. (E st ado s Unido s do Br as il: 1972,
Co mpa nhia E d it o r a Nacio na l) . p. 1080.
26
30
WE LLS , o p. cit . , p. 1076.
31
T EI XE I RA, F lá via Ca me l lo . Da To rt ur a. ( Be lo Ho r izo nt e: 2 004, Del Re y) . p. 13.
32
NAZ ARI O, Lu iz. Aut o s- de- fé co mo espet ácu lo de mas sa ( S ão P au lo : Asso c iaç ão
E dit o r ia l Hu ma nit as, 2005) , p. 41.
33
“Ne m t o das essas mo nar qu ia s feud a is a t ing ir a m o me s mo gr au de dese nvo lvi me nt o e de
est abi lid ade ne m pu ser a m, po r t ant o, e m t o da part e, t ão so lida me nt e as base s d as fut ur as
naçõ es eur o pe ias. No mu ndo da cr ist and ade nó r d ica es ca nd ina va, no da cr ist and ade es la va
e hú ngar a da E ur o pa Cent r al e Or ie nt a l as mo nar qu ia s não apr esent ava m as ba s es só lidas
do po nt o de vist a t err it o r ia l. A Ale ma nha e a I t ália est ava m fr ac io nada s po r d iver so s
po der es, sendo o ma is i mpo r t ant e o das c idades, que ser á r e le mbr ado . Rest am, po is, a
I ng lat er r a, a Fr ança e, no co nju nt o da Peníns u la I bér ica, Ca st e la”. ( LE GOF F, J acques, As
Ra ízes med ie va is da E ur o p a; t r adução de Ja i me A. C las e n ( P et ró po lis, R io d e Ja ne ir o :
Vo zes, 2007) , p. 106).
27
34
NAZ ARI O, Lu iz. Aut o s- de- fé co mo espet ácu lo de mas sa ( S ão P au lo : Asso c iaç ão
E dit o r ia l Hu ma nit as, 2005) , p. 160.
35
NAZ ARI O, Lu iz. Aut o s- de- fé co mo espet ácu lo de mas sa ( S ão P au lo : Asso c iaç ão
E dit o r ia l Hu ma nit as, 2005) , p. 55.
36
P I NT O, Fe lip e Mar t ins. I nt r o dução cr ít ica ao P ro cesso P ena l . ( Be lo Ho r izo nt e: De l Re y,
2012) , p. 09.
28
37
P I NT O, Fe lip e Mar t ins. I nt r o dução cr ít ica ao P ro cesso P ena l . ( Be lo Ho r izo nt e: De l Re y,
2012) , p. 10- 11.
38
BAI GE NT , Mic hae l. A I nqu is iç ão ( Rio de Jane ir o : I mago , 2001), p. 81.
39
LE GOF F, Jacque s, As Ra íz es med ie va is d a E ur o pa; t r adução de Ja ime A. C la se n
( P et ró po lis, R io de Ja ne ir o : Vo zes , 2007), p. 173.
29
40
FOUC AU LT , M ic he l. A Ver dade e as F o r mas Jur íd ica s . ( R io de Jane ir o : 2005, Nau) . p.
74.
30
41
Não por me no s, que a ut il izaç ão da t o rt ur a r ecr udesceu e se t or no u ma is a mp la a par t ir
do sécu lo XV. ( T E I XE I RA, F lá via Ca m e llo . Da T o rt ur a. ( Belo Ho r izo nt e: 2004, De l Re y) .
p. 75).
42
T EI XE I RA, o p. cit . , p. 73.
43
Co nfo r me s e apr ese nt ar á, dent r o da pro po st a dest a pesqu isa, no cap ít u lo 4, quando da
de mo nst r ação do papel hu ma nist a no P rocesso P ena l.
44
Vi de no t a n. º 33.
31
45
Ad m it e - se, a par t ir do Code d’ I nst ruct i on Cri mi nel l e, a co exist ênc ia de u m s ist e ma
inqu is it ivo na fa se pr é pr o cessua l, co m u m s ist e ma a cusat ó r io na fas e jud ic ia l ( Vi de po nt o
4. 3) .
46
Na E spanha er a d ifer e nt e. A I nqu is iç ão E spanho la " não er a u m inst r ume nt o do P apado.
P r est ava co nt as dir et a me nt e a Fer na ndo e I sabe l". ( B AI GE NT , Mic hae l. A I nqu i s ição ( Rio
de Jane ir o : I mago , 2001), p. 81).
47
T EI XE I RA, F lá via Ca me l lo . Da To rt ur a. ( Be lo Ho r izo nt e: 2004, Del Re y) . p. 76.
32
48
M ARQUE S , Jo sé Fr eder ico . E le me nt o s do D ir e it o P ro cessua l P e na l . v. 1. ( Ca mp inhas:
2009, Mil le nniu m) p. 329.
49
CORDE RO, Fr a nco . P r o cedim ie nt o P ena l, T o mo I I ( S ant a Fé de Bo got á: T emis , 2000),
p. 20.
33
“T o do s o s her eges se m e xce ção est ão suje it o s à jur isd ição do S ant o
O fíc io e fo r a ist o exist e m de l it o s que, se m ser pr o pr ia me nt e
her ét ico , suje it a m o s que co met e m ao t r ibu na l da I nqu is iç ão ” 51.
50
Det endo mét o do s “infa l íve is ” de inve s t igação da a lma, a I nqu is ição afir ma va - se co mo
inst ânc ia pr iv ile g iada d e insp ir aç ão d ivina par a apa nhar su spe it o s, ar r ancar co nf issõ es e
co ndenar o s inim igo s da ma ssa . E la os det ect ava ent r e o s ele me nt o s so cia is que ma i s
inco mo dava m o E st ado e a I gr eja, e dos qua is po d ia t ir ar pr o ve it o. S eus quali f icado r es
exa m ina va m as pr o vas e acu saçõ es fo r mu lada s co nt r a o s r éus e det er mina va m s e o s fat o s
nar r ado s e nvo lvia m her e s ias, c e nsur a ndo , a lé m do s livr o s e impr e sso s, ima ge ns e p int ur as.
E les det inha m o que ho je c ha mar ía mo s de “co nhec i me nt o cie nt íf ico ” do Ma l e que na
épo ca se e nt end ia ser o “co nhec i me nt o t eo ló g ico ” par a ide nt if icar o s her eg es – u m
co nhe c ime nt o “cer t o ”, “just o ”, “t r ascend ent e”, que não cabia ao ho me m co mu m e que esse
devia s i mp les e mnt e ac at ar , po r vir de u ma aut or idade leg it i mada po r Deus. ( NAZ ARI O,
Lu iz. Aut o s- de- fé co mo esp et ácu lo de massa ( S ão P aulo : Asso c iação E d it or ia l H u ma nit a s,
2005) , p. 81- 82).
51
E YME RI CO , Nico lau. Ma nua l da I nqu is ição . ( Cur it iba: Jur uá E dit o r a, 2009), p. 97.
52
S AMP AI O, De nis. A Ver dade no P ro cesso P ena l. A per ma nê nc ia do S ist e ma
I nqu is it o r ia l at r avé s do discur so so br e a ver dade. ( R io de Jane ir o : 2010, Lume n Jur is) . p.
119.
34
53
“P r o vist o de inst r ume nt o s vir t ua lme nt e ir r es ist ible s, e l inqu is ido r t o rt ur a lo s pac ie nt es
co mo qu ier e ; de nt r o de su mar co cu lt ur a l pe s im ist a e l a ni ma l hu ma no nace cu lpa ble ;
est ando co rro mp ido e l mu ndo ba st a excavar e m u m pu nt o cualqu ier a p ar a qu e a flo r e e l
35
55
CORDE RO, Fr a nco . P r o cedim ie nt o P ena l, T o mo I I ( S ant a Fé de Bo got á: T emis , 2000),
p. 23.
56
"Do que já se d isse, t ir a mo s a segu int e co nc lu são : a o pinião ma is cer t a e ma is c at ó lica é
a de que exist e m fe it ice ir o s e br u xas que , co m a a juda do dia bo , gla ças a u m pa ct o co m e le
f ir mado , se t o r na m cap azes, se Deus a ss i m per mit ir , de causar ma le s e fla ge lo s aut ênt ico s
e co ncr et o s, o que não t o r na impr o vá ve l ser e m t a mbé m capa zes de pr o duz ir ilu sõ es,
vis io nár ia s e fa nt ást ica s, po r algu m me io e xt r aor dinár io e pecu liar ". ( KR AME R, H. ;
S P RANGE R, J. O mar t e lo das fe it ic e ir a s . ( Rio de Jane ir o : Ro sa do s t empo s, 2011) p. 56).
57
"S e ja po r so lic it ação das br u xas o u nã o , o s demô nio s são capaze s de po ssu ir e fer ir o s
ho me ns de c inco mo do s difer e nt es. Quando o faze m po r ins ist ênc ia das br u xa s , ma io r a
o fe nsa a Deu s e ma io r s eu po der par a mo lest ar o s ho me ns ". ( KR AME R, H. ; S P RANGE R,
J. , o p. cit . , p. 266) .
37
Por sua vez, o Manual dos Inquisi dores, já referenci ado neste trabalho,
coloca naquele que é submetido à Inquisição a sina de pec ador antes mesmo
de qualquer processo de conhecimento 58. Não se preocupa em saber se o
investigado é de fato culpado, mas em localizar o pecado e identificar sua
extensão. Ou seja: o mal está no mundo e o papel do inquisidor deve ser
ativamente persegui -lo.
58
"Nu nca ha ver á de so br a a pr udê nc ia, a c ir cu nspecção e a dur eza do inqu i s id o r no
int er r o gat ó r io do r éu. Os her ege s s ão mu it o ast ut o s e m d is s i mu lar seu s er r o s, fing ir
sa nt id ade e e m ver t er em fing ida s lágr i m as par a po der em abr a ndar o s ju íz es ma is r igo ro so s.
U m inqu is ido r deve se ar mar co nt r a essa s ma nha s, supo ndo sempr e que o quer e m enga nar ".
( E YME RI CO, Nico lau. Ma nua l da I nqu is ição . ( Cur it iba: Jur uá E dit o r a, 2009), p. 03) .
59
CORDE RO, Fr a nco . P r o cedim ie nt o P ena l, T o mo I I ( S ant a Fé de Bo got á: T emis , 2000),
p. 21.
38
60
KR AME R, H. ; S P RAN GE R, J. O mar t elo das fe it ice ir as. ( R io de Ja ne ir o : Ro sa dos
t empo s, 2011) p 277.
61
FOUC AU LT , M ic he l. V ig iar e punir ( P er t ró po lis: Vo zes, 2010) , p. 43.
62
U ma r e fle xão nece ss ár ia é de que, no ca mpo da fé, e xist e u ma do ut r ina que est abe le ce a
exist ê nc ia per pét ua de u m ma l que t ent a o ser hu ma no . No mu ndo do s ho me ns, co nt udo, o
cr ime não é pr edet er minado pe las le is. S ua ver if icação não po de ser pr esu mid a , po is não
se supõ e sua e xist ênc ia. Af ina l, o cr ist ianis mo não vis lu mbr a u m mu ndo se m pe cado , ma s
é po ss íve l u ma so c iedad e se m cr ime s. P o r isso me s mo a no ção de ver dade r ea l é , já na sua
o r ige m, per nic io sa à fo r ma ção de u m D ir e it o P ro cessua l P e na l co nst r uído a par t ir do
pr inc íp io do E st ado de I no cênc ia ( Co ns t it u ição Feder a l de 1988, ar t . 5.º , LVI I : ningué m
ser á co ns ider ado culpado at é o t r âns it o em ju lgado de sen t enç a pena l co nde nat ó r ia) .
39
63
S AMP AI O, De nis. A Ver dade no P ro cesso P ena l. A per ma nê nc ia do S ist e ma
I nqu is it o r ia l at r avé s do discur so so br e a ver dade. ( R io de Jane ir o : 2010, Lume n Jur is) . p.
119.
40
A partir de tal valoração , estabelece -se, com Gre gório IX, uma estrutura
de hierarquia dentro do sistema de provas. Ou seja : certas provas têm mais
valor que outras no exercício de b usca da verdade pelo inquisidor:
64
S AMP AI O, o p. cit . , p. 116 - 117.
65
BAT I S T A, N ilo . Mat r ize s ib ér ica s do s ist e ma pe na l br as i le ir o . ( Rio de Ja ne ir o : 2002,
Re va n) . p. 235.
41
66
E YME RI CO, Nico lau. Ma nua l da I nqu is ição . ( Cur it iba: Jur uá E dit o r a, 2009), p. 21 - 23.
42
67
KR AME R, H. ; S P RAN GE R, J. O mar t elo das fe it ice ir as. ( R io de Ja ne ir o : Ro sa dos
t empo s, 2011) p. 428.
43
Ademais, todo o conteúdo trazido aos autos volta -se diretamente a obter
a confissão, como se alcançá -la fosse a chancela final de que o sistema é
eficiente em perseguir o herege.
68
P I NHO, Ru y Ra be l lo . H ist ó r ia do dir e it o pena l br as i le ir o : per ío do co lo nia l ( S ã o P aulo :
E d. Da Univer s idade de S ão P au lo , 1973) , p. 170.
69
KR AME R, H. ; S P RAN GE R, J. O mar t elo das fe it ice ir as. ( R io de Ja ne ir o : Ro sa dos
t empo s, 2011) p. 440 - 441.
44
70
BAI GE NT , Mic hae l. A I nqu is iç ão ( Rio de Jane ir o : I mago , 2001), p. 89.
45
Embora não tenha sido uma disposição do Tribunal do Santo Ofício nos
primeiro anos após seu surgimento 72, a Inquisição veio a introduzir técnicas
de tortura nos procedime ntos de interrogatório aos hereges, afim de que o
procedimento perseguisse sempre o m elhor dos elementos probatórios:
71
LE GOF F, Jacque s, As Ra íz es med ie va is d a E ur o pa; t r adução de Ja ime A. C la se n
( P et ró po lis, R io de Ja ne ir o : Vo zes , 2007), p. 124.
72
“No s pr ime ir o s t e mpo s que suceder a m o est abe lec i me nt o da in qu is ição , o s inq u is ido r es
não ma nda va m co lo car o r éu à t o rt ur a, par a não inco r r er em ir r egu lar ida de, t endo
co mpet ênc ia par a ist o o s ju íze s po pu lar es, e m vir t ude da pr o c la mação do P apa I no cênc io
I V que ma nd a o s mag ist r ado s que pr ess io ne m co m t o r me nt o o s her eges, a ss ass ino s de
a lma s e ladr õ es da fé e m Cr ist o e do s sacr a me nt o s de Deus, fo r çando co m que co nfes se m
seus d e lit o s e de lat e m o s de ma is her eges cú mp l ic es seus. P o r é m, not ando que o s pr o cesso s
não er a m su f ic ie nt e me nt e se cr et o s, r esu lt ando e m gr a ves pr e ju ízo s à fé, par eceu ma is
co nve nie nt e e pr o ve it o so at r ibu ir ao s inqu is ido r es a facu ldade de se nt enc iar a t o r me nt o
se m int er ve nç ão do s ju íz es po pu lar es, dando lhe s ju nt o co m e la a a bso lviç ão mút ua de
a lgu ma ir r egu lar idad e na qua l se p o ssa inco r r er , co mo po r e xe mp lo a mo r t e”.
( E YME RI CO, Nico lau. Ma nua l da I nqu is ição . ( Cur it iba: Jur uá E dit o r a, 2009), p. 49 - 50) .
46
73
FOUC AU LT , M ic he l. V ig iar e punir ( P er t ró po lis: Vo zes, 2010) , p. 42.
74
E YME RI CO, Nico lau. Ma nua l da I nqu is ição . ( Cur it iba: Jur uá E dit o r a, 2009), p. 50.
75
BAI GE NT , Mic hae l. A I nqu is iç ão ( Rio de Jane ir o : I mago , 2001), p. 90 - 91.
47
76
NAZ ARI O, Lu iz. Aut o s- de- fé co mo espet ácu lo de mas sa ( S ão P au lo : Asso c iaç ão
E dit o r ia l Hu ma nit as, 2005) , p. 80.
77
CORDE RO, Fr a nco . P r o cedim ie nt o P ena l, T o mo I I ( S ant a Fé de Bo got á: T emis , 2000),
p. 22.
78
Alé m de st as, E ymér ico apo nt a o ut r as hipó t eses de ap lic ação do t o r me nt o, quando , por
exe mp lo qua ndo o s dema is me io s t iver e m s ido infr ut ífer o s par a se chegar à ver dade o u
quando o int er ro gado co nfe ssar o s po nt os me no s gr aves ma s não co n fes sar o s ma is gr a ves.
48
79
E YME RI CO, Nico lau. Ma nua l da I nqu is ição . ( Cur it iba: Jur uá E dit o r a, 2009), p. 46.
80
“Qua ndo t o do s o s ape lo s se t o r nar e m inút e is, ser á co lo cada a qu est ão de t orme nt o e
ass i m se pr o ceder á ao int er ro gat ó r io , inic ia ndo pe lo s po nt o s me n o s gr aves de que est á
s ind ic ado , po r que ant es ele co nfe ss ar á as cu lp as le ve s do que as gr ave s. S e co nt inuar
nega ndo , ser ão mo st r ado s o s inst r u me nt o s de o ut ro s sup líc io s, d ize ndo - lhe o q ue so fr er á
se não co nfe ssar a ver dade. P o r fim, s e não co nfes sar , po der - se- á dar co nt inu idade ao
t o r me nt o dur ant e do is o u t r ês dia s, mas a co nt inu idade não s ig nif ic a r epet ição , po r que não
se po de r epet ir se m no vo s ind íc io s ar ro lado s na causa, po r ém é lic it o co nt inuar . ”
( E YME RI CO, Nico lau. Ma nua l da I nqu is ição . ( Cur it iba: Jur u á E dit o r a, 2009), p. 47) .
49
81
FOUC AU LT , M ic he l. V ig iar e punir ( P er t ró po lis: Vo zes, 2010) , p. 36.
82
FOUC AU LT , M ic he l. V ig iar e punir ( P er t ró po lis: Vo zes, 2010) , p. 36.
83
E não ape nas met ó dico co mo so le ne. Havia m s es sõ es fo r ma is de invest igação e
int er r o gat ó r io da I nqu is iç ão que co nt ava m co m a pr es e nça de "u m e scr ivão e s ecr et ár io ,
ju nt o co m o s I nqu is ido r es, u m r epr es ent ant e do bispo lo ca l, u m méd ico e o pró pr io
t o rt ur ado r, em ger a l o car r asco secu lar público . T udo er a anot ado met icu lo sa me nt e - as
per gunt as fe it as, as r espo st as e r eaçõ es do acusado ". ( BAI GE NT , Mic ha e l. A I nqu is iç ão
( R io de Jane ir o : I mago , 2001) , p. 88).
50
[ . .. ]
84
FOUC AU LT , M ic he l. V ig iar e punir ( P er t ró po lis: Vo zes, 2010) , p. 41.
85
"P o r que as S agr adas E scr it ur as, na S ua aut or id ade, d ize m que o s de mô nio s t ê m po der es
so br e o co r po e so br e a me nt e do s ho me ns, qu a ndo Deus lhe s per m it e e xer cê - lo , ao que se
faz i lu são e xp líc it a e m mu it a s pa ssag e ns". KR AME R, H. ; S P R ANGE R, J. O mar t elo das
fe it ice ir as. ( R io de Jane ir o : Ro sa do s t empo s, 2011) p. 50) .
51
86
KR AME R, H . ; S P RANGE R, J. o p. cit . , p. 435.
87
NAZ ARI O, Lu iz. Aut o s- de- fé co mo espet ácu lo de mas sa ( S ão P au lo : Asso c iaç ão
E dit o r ia l Hu ma nit as, 2005) , p. 88.
88
P I NHO, Ru y Ra be l lo . H ist ó r ia do dir e it o pena l br as i le ir o : per ío do co lo nia l ( S ã o P aulo :
E d. Da Univer s idade de S ão P au lo , 1973) , p. 174.
52
89
BAI GE NT , Mic hae l. A I nqu is iç ão ( Rio de Jane ir o : I mago , 2001), p. 86.
53
90
Vi de cap ít u lo 3.
55
91
COUT I NHO, Jac int o Nelso n d e M ir a nda. S ist e ma Acu sat ór io : Cada par t e no lugar
co nst it uc io na lme nt e de mar cado ( Br as íl ia , v. 46, n. 183, ju l. / set . 2009), p. 105.
92
COUT I NHO, o p. cit . , p. 105 - 106.
56
93
CORDE RO, Fr a nco . P r o cedim ie nt o P ena l, T o mo I I ( S ant a Fé de Bo got á: T emis , 2000),
p. 22
94
BE CC ARI A, Cesar e Bo nesa na. Do s del it o s e das pe na s. ( S ão P au lo : Mar t ins Fo nt es,
2005) , p. 72
57
1776 e da França em 1789 95. Essa evolução histórica, todavia, é tema dos
próximos capítulos e se relaciona às fases posteriores da pesquisa.
95
Vi de po nt o 4. 1.
96
I nc lu s ive, ent end e Hans Geo r g Gada me r , que a id e ia de se nso co mu m nasce a par t ir do
hu ma nis mo . ( G AD AME R, Ha ns Geo r g. Ver dade e Mét o do I . ( P et ró po lis: 2013, Vo zes) . p.
56) .
97
E ju st a me nt e po r is so co ns ider a m - se d ir e it o s supr e mo s, u niver sa is e ina l i ená ve i s.
( P r eâmbu lo da De c lar ação Univer s a l do s D ir e it o s Hu ma no s: DE CL AR AÇ ÃO UNI VE RS AL
DOS DI RE I T OS HUMANOS . Ado t ada e pr o cla mada p e la r eso lução 217 A ( I I I) da
Asse mb lé ia Ger a l d as Naçõ es Unidas . D ispo níve l e m:
<ht t p: / / port al. m j. go v. br / sed h/ ct / leg is_ int er n/ dd h_ b ib_ int er _univer s a l. ht m>. Ace s so e m: 29
Dez. 2013) .
58
Afinal, segundo afirma o mais atual senso comum, pode -se obrigar a ma
pessoa a falar qualquer coisa a título de confissão, quando se submete o seu
corpo do a tormentos dos quais ele quer se livrar a todo custo.
98
P ar a o s pr esent es fins, assu me - se co mo se nso co mu m o co nce it o de Vico apr esent ado por
Gada mer : "é u m s e nt ido par a a just iç a e o be m co mu m, que vive e m t o do s o s ho me ns, e
ma is, u m se nt ido que é adqu ir ido at r avés da vid a e m co mu m e d et er min ado pe las
o r denaçõ es e fins de st a". ( GAD AME R, Ha ns Geo r g. Ver dade e Mét o do I . ( Pet ró po lis:
2013, Vo zes) . p. 59) .
99
E mbo r a não s se ja ca bíve l o apr o fund a m ent o mer ec ido pe lo t ema, ind isp e nsá ve l c it ar que
o s a licer ces d a r e fe r ida r e fo r ma no ideár io de ju st iça co mu ngar a m co m o s t r aba lho s
dese nvo lvido s po r Jean - J acques Ro uss eau ( 1712 — 1778) ; C har le s - Lo u is d e S eco ndat t
( bar ão de Mo nt esquieu) ( 1689 —1755) ; Fr a nço is M ar ie Ar o uet ( Vo lt a ir e) ( 1694 — 1778) ;
e e m espec ia l I m ma nue l K a nt ( 1724 — 1804) no t r at o das d iscus sõ es acer ca da mo r a l e do
D ir e it o .
59
100
CORDE RO, Fr anco . P ro cedim ie nt o P ena l, T o mo I I ( S ant a Fé de Bo got á: T emis , 2000),
p. 21
101
E t alve z po r não ser t ão clar a, at é o s d ias de ho je, es sa muda nça, é que o s ist e ma
pr o cessua l pe na l vige nt e a inda não t enha co nsegu ido se a fa st ar da inqu is iç ão , embo r a s e
r eco nheç a t o da sua pr e jud ic ia l idade e i nco mpat ibi l idade co m o s pr inc íp io s er ig ido s e no
E st ado Demo cr át ico de Dir e it o .
60
102
Vi de no t a nº . 66.
61
Já foi dito que a verdade é apres entada como o fim 104 buscado pelos
procedimentos inquisitórios. Então pergunta -se : qual era o conceito de
verdade assumido pela Inquisição?
Consiste em assumir que existe uma realidade dos fatos que são objeto
do processo. As provas trazidas aos autos visam, então, a reprodução da
realidade. Quando a reproduçã o coincidir com a pretensa realidade dos fatos -
e sempre haverá de coincidir - então necessariamente se chegará à verdade.
103
COUT I NHO, Jac int o Ne lso n d e M ir a nda. S ist e ma Acu sat ór io : Cada par t e no lugar
co nst it uc io na lme nt e de mar cado ( Br as íl ia , v. 46, n. 183, ju l. / set . 2009), p. 105.
104
S e, po r ém, a ver dade s er ia o u não o fi m ma io r do pr o cesso pena l no s ist e ma
inqu is it ó r io , dever á ser ana lis ado po st er io r me nt e.
105
GUZM Á N, N ico lá s. La ver dad e n e l pr o ceso pena l. ( Bue no s Air es: De l P uer t o, 2006),
p. 33
106
MI T T E RMAI E R, Car l Jo seph Ant o n. T r at ado da P ro va e m Mat ér ia Cr i m ina l ou
E xpo s ição Co mpar ada. ( Ca mp ina s: 2008, Boo kse ller ) . p. 31.
62
“Ver dad “mat er ia l”, “ver dad r ea l”, “ver dad hist ó r ic a”, “ver dade
o bjet iva” so n t o das expr es io ne s que fuer o n e mp le adas
hist ó r ica me nt e par a des ig nar de mo do ind ist int o um ú n ico co ncept o ,
que encer r a ba La I dea de La po s ibi l idad de a lca nz ar e l co no c ime nt o
abso lut o de La ver r dad e m e l pr o ceso pena l, y s i mu lt á nea me nt e, e l
108
de La impo s ibi l idade de r enu nc iar a ess e co no cime nt o ”.
"La d ifer e nc ia e nt r e "ver dad mat er ia l" y " ver dad fo r ma l", po r lo
t ant o, s ie ndo e l r esu lt ado de do s m et o do lo g ía s co mp let a me nt e
d iver sa s, puede ser ent end ida segú n e l d ifer e nt e co nt enido que se
adscr ibe a u na y a o t r a. La pr imer a, pr opr i de lo s mo de lo s pe na le s
sust anc ia l ist as, est á info r mad a no só lo po r la co mpr o bac ió n de lo s
suceso s lle vado s a ju ic io , s ino t ambié n po r ot r as cuest io nes ( co mo
po r eje mp lo la per so na l idad de l de l i ncue nt e) , que impo ne n la
r ea lizac io n qu e u n pr o ceso que, t ie ndo po r fin u na ver dad
"a bso lut a" que de be ser inve st ig ado in c lu so por quie n luego debe
r eso lver e l c aso , no r espet a lím it e s ni gar a nt ías. La " ver dad
fo r ma l", po r su part e, se r efier e a lo s hecho s que so n a legado s po r
107
P I NT O, Fe lipe Mar t ins. I nt ro dução cr ít ica ao Pro cesso P ena l. ( Be lo Ho r izo nt e: De l Re y,
2012) , p. 80
108
GUZM ÁN, o p. cit . , p. 31
63
109
GUZM ÁN, N ico lá s. La ver dad e n e l pr o ceso pena l. ( Bue no s Air es: De l P uer t o, 2006),
p. 36
110
P I NT O, Fe lipe Mar t ins. I nt ro dução cr ít ica ao Pro cesso P ena l . ( Be lo Ho r izo nt e: De l Re y,
2012) , p. 81
111
P I NT O, o p. cit . , p. 80
64
Sem entrar no mérito das discussões que daí decorrem, o que resta
inquestionável é o fato de que o correspondismo, na forma como é entendido,
está profundamente atrelado ao sistema inquisitorial. Sem aquele, é
impossível que este tivesse sido concebido, justamente pelo fato da Inquisição
adotar, como certeza de seus trabalhos, a existência de uma realidade -
pecaminosa - a que se deve examinar tendo por objeto o indivíduo.
112
“L a pr imer a mis ió n de l jue z co ns ist e, pues, em r eco nst r uir lo s hec ho s t al co mo
apr o ximada me nt e se d ier o n e m la r ea l idad. E st e la bo r de co nst r ucc ió n so lo puede ser
apr o ximada, ya que e s i mpo ss ib le r epr o duci r e l hec ho acae c ido e m t o do s sus det a lles”.
( CONDE , Fr anc isco Muño z. La Búsque da de la ver dad e n e l pr o ceso pena l. Ar ge nt ina:
E dit o r ia l Ha m mur abi S RL, 2000) , p. 39)
113
“Ba jo est a per spect iva, par ece co nve ni ent e aba ndo nar de u ma vez po r t o da la I dea de
que la bú squeda d e la ver dad e s e l fin de l pr o ceso pena l, par a no gener ar co nfus io ne s
t eó r icas ni pr act ica s. La I dea de la bú s queda de la ver dad co mo met a de l pr o ced im ie nt o
in flu ye e m gr a n med ida e m la co nc ie nc ia jud ic ia l pe na list a y l le va a lo s ju eces a exc ede r se
e m sus fu nc io ne s esp ec íf ic as y a busc a r por e llo s m is mo s co r r abo r ac io nes de hipó t esis
[ . .. ], cuant o t odo lo que de ber ía n hacer es a na l izar s i la s que les pr e se nt an la s par t es ha n
a lca nzado u m c ier t o gr ado de co nfir ma c i ó n”. ( GUZM ÁN, N ico lás. La ver dad e n e l pr o ceso
pena l. ( Bueno s Air e s: De l P uer t o , 2006) , p. 116)
65
"Lo c ier t o es que est a ver dad mat er ia l s ie mpr e est uvo e mpar e nt ada
a l mo de lo inqu is it ivo y e llo es a s í po r e l t i po de ver dade que apu nt a
est e s ist e ma: a la ver dad abso lut a. FE RR AJOLI lla ma a est a
ver dade mat er ia l co mo e l no mbr e ver d ad sust anc ia l, y la e xp l ica
co mo la ver dade a la que a sp ir a e l mo de lo sust anc io na l ist a de l
der echo pena l, es dec ir , u ma ver dad “o mnico mp r e ns iva e m o r den de
la s per so nas invest igad as, car e nt e de li m it es y de co nfine s lega le s,
a lca nza ble co m cua lqu ier méd io má s Al lá de r íg ida s r eg la s
pr o cedime nt a le s”. Aqu í, e l o bjet o del c o no cim ie nt o no es so lo de l
de lit o e m cua nt o pr evist o co mo t al p o r la l e y, s ino t ambié n la
des viac ió n cr i m ina l e m cua nt o em s í m i s ma in mo r a l o ant iso c ia l y,
má s a l lá de e l la, la per so na de l de l in cuent e, de cu ya ma ldad o
ant iso c ia lid ad e l d e lit o es vist o co mo u ma ma nife st ac ió n
co nt inge nt e, su fic ie nt e, per o no s i e mpr e neces ar ia par a e l
114
cast igo . "
114
GUZM ÁN, N ico lá s. La ver dad e n e l pr o ceso pena l. ( Bue no s Air es: De l P uer t o, 2006),
p. 33
115
KR AME R, H. ; S P RANGE R, J. O mar t e lo das fe it ic e ir a s. ( R io de Jane ir o : Ro sa dos
t empo s, 2011) : Vi de Que st õ es I a XI I da T er ce ir a P ar t e.
66
116
KR AME R, H. ; S P RANGE R, J. o p. cit . , p. 404.
117
Re le mbr a ndo o que fo i d it o no capít ulo ant er io r fo i e st e um do s pr o ble ma s que
mo vi me nt ar a m o dir e it o ro ma no a aba nd o na o s ist e ma do acusat i o.
118
CONDE , Fr a nc is co Mu ño z. La Búsqu e da de la ver dad e n e l pr o ceso pena l. Ar gent ina:
E dit o r ia l Ha m mur abi S RL, 2000) , p. 110
67
119
BE CCARI A, Cesar e Bo nes a na. Do s delit o s e das penas. ( S ão P aulo : Mar t ins Fo nt es,
2005) , p 72.
120
Ainda que, o bvia me nt e, o aut o r não deixe po r is so de ser cor r espo nd ist a.
121
GUZM ÁN, N ico lá s. La ver dad e n e l pr o ceso pena l. ( Bue no s Air es: De l P uer t o, 2006),
p. 26 - 30
68
122
GUZM ÁN, o p. cit . , p. 33
123
MI T T E RMAI E R, Car l Jo seph Ant o n. T r at ado da P ro va e m Mat ér ia Cr i m ina l ou
E xpo s ição Co mpar ada. ( Ca mp ina s: 2008, Boo kse ller ) . p. 27.
124
Os o r dena me nt o s jur íd ico s t ambé m c o lo ca m a ver dade co r r espo nd ist a ( Ar t . 211 do
Có digo de P r o cesso P ena l br a s ile ir o : "S e o ju iz, ao pro nunc iar se nt ença f ina l, r eco nhecer
que a lgu ma t est emu nha fez a f ir maç ão fa ls a, ca lo u o u nego u a ver dade, r emet er á có pia do
depo ime nt o à aut or idade po lic ia l par a a inst aur ação de inquér it o ") co mo u m fi m p ar a o
pr o cesso pena l, mas a inda a ss i m o s ist ema s se bl inda m co nt r a a t o rt ur a de o ut r as ma ne ir a s
que não pela ext inç ão do cor r espo nd is m o .
69
125
S e não de fat o, ao me no s hipo t et ica m ent e po is a r e l ig ião cat ó lica r e ina va qu ase que
so ber ana no o cide nt e co nhec ido .
126
GUZM ÁN, N ico lá s. La ver dad e n e l pr o ceso pena l. ( Bue no s Air es: De l P uer t o, 2006),
p. 115
71
E conclui:
127
COUT I NHO, Jac int o Ne lso n d e M ir a nda. S ist e ma Acu sat ór io : Cada par t e no lugar
co nst it uc io na lme nt e de mar cado ( Br as íl ia , v. 46, n. 183, ju l. / set . 2009), p. 105 - 106.
128
GUZM ÁN, N ico lá s. La ver dad e n e l pr o ceso pena l. ( Bue no s Air es: De l P uer t o, 2006),
p. 115
129
GUZM ÁN, o p. cit . , p. 116
72
Como premissa essencial cabe repisar, que por tortura assume -se "uma
pena atribuída a um réu condenado por sentença, mas a pretensa busca da
verdade por meio dos tormentos”. 131
130
P o sic io na ndo - se nest e se nt indo , int er essa nt e dest acar a po s ição de Fr eder ico Mar ques
e m r e lação ao sist e ma inqu is it ivo : "No s ist e ma inqu is it ivo não ha via at uação jur isd ic io na l
e ine xist ia o pro cesso . O que ne le s e enco nt r ava er a u ma fo r ma pr o ced ime nt a l d e
aut o defe sa do int er ess e r epr es s ivo do E st ado , em que o ju iz e ncar na va e ss e int er esse,
mu it o e mbo r a r evest ido da indep e ndê nc ia de seu car go , a qua l, d ig a - se de pa ss age m, er a
mu it o pr ecár ia ao t empo do abso lut is m o mo nár qu ico , que fo i o per ío do áur eo da just iça
inqu is it iva ". ( MARQUE S , Jo sé Fr eder ico . E le me nt o s do Dir e it o P ro cessua l P ena l . v. 1.
( Ca mp inha s: 2009, Mil le nniu m) p. 6).
131
VE RRI , P iet r o. Obser vaçõ es so br e a t o rt ur a ( S ão P aulo : Mart ins Fo nt es, 2000) , p. 77
132
KR AME R, H. ; S P RANGE R, J. O mar t e lo das fe it ic e ir a s. ( R io de Jane ir o : Ro sa dos
t empo s, 2011) , p. 43 3.
73
Perceba-se que não se exige da "bruxa" que conte o que sabe, que diga
sua versão, ou que se manifeste sobre o fato, mas que "confesse a verdade".
Clara amostra das intenções que perfazem o método da tortura.
133
VE RRI , P iet r o. Obser vaçõ es so br e a t o rt ur a ( S ão P aulo : Mart ins Fo nt es, 2000) , p. 86
134
CONDE , Fr a nc is co Mu ño z. La Búsqu e da de la ver dad e n e l pr o ceso pena l . Ar gent ina:
E dit o r ia l Ha m mur abi S RL, 2000) , p. 40
74
O problema que surge : qual seria o paradi gma para o que se afirma ser
o verdadeiro?
Ainda que haja um parâmetro, faz -se mister garantir uma reprodução
fidedigna dos fatos. Contudo,
135
CONDE , Fr a nc is co Mu ño z. La Búsqu e da de la ver dad e n e l pr o ceso pena l. Ar gent ina:
E dit o r ia l Ha m mur abi S RL, 2000) , p. 41
136
Co mo no caso já c it ado e m que Kr a mer e S pr enger quest io na m a va l idade do t est e mu nho
de u m ini m igo mo r t al do acusado.
75
137
I sso não quer d izer que a t o rt ur a não fo sse ut iliz ada a nt e s de 1254, ape na s que a
inst it u ição ec le s iást ica a inda não est ava cer t a da neces s idade de sua inst it uc io na l izaç ão .
76
“Não se po de per der de vist a que a enge nho sa est r ut ur a do pro cesso
inqu is it ó r io co nt ava co m o est o fo t eó r ic o do s est udo s de fi ló so fo s e
t eó lo go s de no t ór ia er ud ição que fo r jar a m u m co nve nie nt e d iscur so
de super ação das t ent açõ es ( pr azer es) par a a ma nut enção do cor po
pur o e, a inda, a e xa lt aç ão do so fr ime nt o na e fê mer a vid a mu nda na,
v. g. je ju m, po br ez a e aut o flage lo , co mo ca minho par a a pur i f icação
da a lma e e le vação do espír it o ao P ar aís o , ao Reino de Deus.
138
P I NT O, Fe lipe Mar t ins. I nt ro dução cr ít ica ao Pro cesso P ena l . ( Be lo Ho r izo nt e: De l Re y,
2012) , p. 20
139
P I NT O, o p. cit . , p. 21
140
T a is hipó t es es po de m var iar de aco r do co m o Or dena me nt o Jur íd ico . ( BECC ARI A,
Cesar e Bo ne sa na. Do s delit o s e das pena s. ( S ão P aulo : Mar t ins Fo nt es, 2005) , p 69) .
77
141
BE CCARI A, o p. cit . , p. 71
78
não feria a fé cristã, mas apenas a ordem social. A verdade perseguida deixou
de ser a verdade herét ica e passou a ser outra; a ser a verdade criminosa.
142
BE CCARI A, Cesar e Bo nes a na. Do s delit o s e das penas. ( S ão P aulo : Mar t ins Fo n t es,
2005) , p. 71
79
“E a í, e m vir t ude do gr ande pr o ble ma ca usado pelo s ilê nc io o bst inado das
br u xas, sur ge m vár ia s quest õ es que o Ju íz pr ec isa co ns ider ar , as qua i s
ser ão t r at adas em d iver so s t ó pico s. A pr ime ir a é que o Juiz não deve s e
apr essar e m su bmet er a br uxa a e xa me , e mbo r a deva pr est ar at enção a
cer t o s s ina is i mpo rt ant es. Não deve se apr ess ar pe la segu int e r azão : a
me no s que Deus, at r avés de u m sa nt o Anjo , o br igue o de mô nio a não
auxi l iar a br u xa, e la se mo st r ar á t ão inse ns íve l às d o r es da t o rt ur a que
lo go ser á d i lacer ada me mbr o a me mbr o se m co nfes sar a me no r par ce la da
ver dade. Mas a t ort ur a não po de ser negl ige nc iada po r esse mo t ivo , po is
ne m t o das ela s t êm e sse po der , e t ambé m o dia bo , às veze s po r co nt a
pr ó pr ia, per mit ir á que co n fe sse m o s cr imes se m ser co mpe l ido por
143
qua lquer sa nt o anjo ”.
143
KR AME R, H. ; S P RANGE R, J. O mar t e lo das fe it ic e ir a s. ( R io de Jane ir o : Ro sa dos
t empo s, 2011) , p. 429.
80
Com o passar dos séculos a Igreja foi trocada pelo Estado, o demônios
pelos opositores ao interesse público, mas o corpo humano continuou sendo o
objeto de investigação.
144
VE RRI , P iet r o. Obser vaçõ es so br e a t o rt ur a ( S ão P aulo : Mart ins Fo nt es, 2000) , p. 78
81
145
VE RRI , o p. cit ., p. 85
82
146
KR AME R, H. ; S P RANGE R, J. O mar t e lo das fe it ic e ir a s. ( R io de Jane ir o : Ro sa dos
t empo s, 2011) , p. 433
147
Co mo afir ma ser d iver so s do s dias de ho je: CONDE , Fr anc isco Muño z. La Búsq ueda de
la ver dad en e l pr o ceso pena l. Ar ge nt ina : E dit or ia l Ha m mur a bi S R L, 2000) , p. 46.
148
P I NT O, Fe lipe Mar t ins. I nt ro dução cr ít ica ao Pro cesso P ena l . ( Be lo Ho r izo nt e: De l Re y,
2012) , p. 16
149
“E m e l pr o cesso pe na l, La bú squeda de La ver dad e st á li m it ada ad e más po r e l r espet o a
una s gat ant ías que t ie ne n inc lu so e l car áct er de der echo s hu ma no s r eco no cido s c o mo t a le s
e m t o do s lo s t ext o s co nst it uc io na le s y le ye s pr o cesa le s de t o do s lo s pa íses de nu est r a ár ea
de cu lt ur a. ( CONDE , Fr anc isco Muño z. La Búsqueda de la ver dad e n e l pr o ceso pena l.
Ar ge nt ina: E d it or ia l Ha m mur a bi S R L, 2000) , p. 112) .
150
CORDE RO, Fr anco . P ro cedim ie nt o P ena l, T o mo I I ( S ant a Fé de Bo got á: T emis , 2000),
p. 19
83
E por isso não se atribui limites à investigação. Ela pode começa com
um, ou com quantos indivíduos forem, e pode terminar com ainda outros. A
ideia de individualização das penas é desconhecida e a presunção de
inocência inexiste 151.
151
Ma s se ho uver co mo se nt ir u ma br isa dest a gar ant ia, e la lo go é le vada pe la fo me dos
s ist e ma e m a l i me nt ar suas ba se s: "P o is a just iça co mu m e xige que a br u xa não se ja
co ndenada à mo r t e a me no s que t enha s ido dec lar ada cu lpada po r pr ó pr ia co nfis são "
( KR AME R, H. ; S P R ANGE R, J. O mar t elo das fe it ice ir as. ( R io de Ja ne ir o : Ro sa do s
t empo s, 2011) , p. 428. ) e se a co nfis sã o se dá med ia nt e o sup líc io a co nc lus ão é de que
ser ino cent e não sa lva n ingu é m da t ort ura.
152
VE RRI , P iet r o. Obser vaçõ es so br e a t o rt ur a ( S ão P aulo : Mart ins Fo nt es, 2000) , p. 96
153
VE RRI , o p. cit ., p. 97
84
E, por fim, mas não menos absurdo, até suas próprias falhas e
incoerências são revertidas cont ra os acusados. Admitindo que a tortura pode
ser fonte de falsas correspondências entre fatos e representações, o Martelo
das Feiticeiras prescreve que a "Bruxa" seja submetida à novo tormento para
esclarecer a dúvida, ao invés de recomendar que a tortura seja deixada de
lado:
154
KR AME R, H. ; S P RANGE R, J. O mar t e lo das fe it ic e ir a s. ( R io de Jane ir o : Ro sa dos
t empo s, 2011) , p. 445
155
P ar a me lho r se apr o fu ndar : P I NT O, Fe l ipe Mar t ins. I nt r o dução cr ít ic a ao P ro cesso
P ena l. ( Be lo Hor izo nt e: Del Re y, 2012) .
85
existência passa a ser injustificada uma vez que não há uma verdade imutável
a se buscar através de cada processo.
156
WE LLS , Her ber t Geo r ge. H ist ó r ia U niver sa l. v. 4. ( E st ado s Unido s do Br as i l: 1972,
Co mpa nhia E d it o r a Nacio na l) . p. 1145.
157
A o r ige m d ess e t er mo é at r ibu ída ao hist o r iado r su íço Bur ck har dt no fina l d o sécu lo
XI X e mu it o co nt est ada no me io acad ê mico , por ser co ns ider ada u ma t ent at iva de se
at r ibu ir a u m p er ío do exat o um co nju nt o de mo d if icaçõ es que s e e nt endeu i mpr e c isa me nt e
ent r e a I dade Méd ia e a I dade Mo der na. ( LE GOF F, Jacque s. As Ra íze s Med ie va is da
E uro pa. ( P et ró po lis: 2007, Vo zes) . p. 276) .
158
I mpo ss íve l não c it ar o papel de se mpe nhado ne ss e ca mpo po r Gio r dano Br uno ( 1548 -
1600) , Nico lau Co pér nico ( 1473 - 1543), Fr anc is B aco n ( 1561 - 1626) , Jo hanne s Kep ler
( 1571 - 1630) e, co ns ider a ndo - o ma is do que u m ar t ist a, Leo nar do da Vinc i ( 1452 - 1519) .
87
Impossí vel não notar neste resgate históri co, que é na fase renascentista
aonde está o embrião do humanismo do século XVIII. A visão
antropocentrista permitiu um salto fundamental entre a ideologia católica
empregada na manutenção de poder da Igreja , e a valorização do ser humano.
159
LE GOFF, Jacques. As Ra íze s Med ie va i s da E uro pa. (P et ró po lis: 2007, Vo zes) . p. 258.
160
LE GOFF, o p. cit . , p. 260.
161
O que ser ve a co mpr o var que o hu ma nis mo do S éculo XVI I I t eve suas r a ízes no per íodo
do Renasc i me nt o.
162
MI R ANDO L A, G io va nni P ico De lla. D i scur so S o br e a D ig nid ade do Ho me m. ( P o rt ugal:
2010, E diçõ es 70) . p. XVI .
88
"F ina l me nt e, par eceu - me t er co mpr eend ido por que r azão é o
ho me m o ma is fe l iz de t o do s o s ser es ani mado s e d ig no , por is so , de
t o da a admir ação , e qual e nf i m a co nd i ção que lhe co ube e m so rt e
na o r dem u niver s a l, inve já ve l não só pe la s be st as, ma s t a mbé m
pe lo s ast r o s e at é pe lo s esp ír it o s supr a mu nda no s. Co isa
inacr ed it á ve l e mar a vilho sa. E co mo nã o ? Já que pr ec is a me nt e po r
is so o ho me m é d it o e co ns ider ado just ame nt e u m gr and e mi lagr e e
u m ser ani mado , se m dúvida d ig no de ser admir ado " 163.
Diversos fatores podem ser apontados para que novos ideários, partidos
do pressuposto antropocentrista, tomassem conta do ocidente e pouco a pouco
reclamassem um domínio ideológico antes ocupado pela doutrina católica.
163
MI RANDO L A, o p. cit . , p. 55.
164
MI RANDO L A, o p. cit . , p. 67.
165
P r inc ipa l me nt e co m a s o r dens me nd ica nt es que pr ega va m u m sacer dó c io se m
o pulê nc ia s, e a devot i o mo der na, que, na o br a A I mit aç ão de Cr ist o de To más d e Ke mp is,
apr ese nt ava u m no vo r efer e nc ia l de devo ção à image m da vida de Cr ist o .
166
E vid e nc ia - se e ssa co exist ênc ia no pa pe l da ar t e r ena sce nt ist a na o br a s sa cr as do
per ío do. A exe mp lo da p int ur a, o cuid ado co m a s fo r mas hu ma na s, co m a s c ur vas e o
r esgat e do nat ur alis mo na r et r at ação de cena s bíb l ica s, co lo car a m as no va s t écnic as a
ser viço da I gr e ja C at ó lica. Fo i o aba ndo no da t r adição med ie va l d e fo r ma s p l a nas,
o r na me nt a is e a nt i nat ur a list as. ( LOP E RA, Jo sé Alvar ez. H ist ó r ia Ger a l da Ar t e . ( Rio de
Ja ne ir o : 1995, Delpr ado ) . p. 62)
89
167
LE GOFF, Jacques. As Ra íze s Med ie va i s da E uro pa. (P et ró po lis: 2007, Vo zes) . p. 254.
168
LE GOFF, Jacques. As Ra íze s Med ie va i s da E uro pa. (P et ró po lis: 2007, Vo zes) . p. 258.
169
"U ma no vidade c ha mada a u m e xt r ao r dinár io suce sso apar ece no co meço do sécu lo XIV,
o ret rat o. É um pr o dut o r da afir mação do ind iv íduo e des se no vo có digo de r epr ese nt ação
que se cha ma de r ea lis mo . E le é e nco nt r ado ent r e o s vivo s e ent r e o s mo rt o s. O r est o do s
que jaze m de ixa de s er co nve nc io na l p ar a se t o r nar "r ea l". Os r et r at o s ma is a nt igo s impõ e
a figur a do s po der o so s: papas, r e is, se nho r es r ico s bur gues es ; d epo is o r et r at o de
de mo cr at iza. A inve nção , no sécu lo X V, da p int ur a a ó leo e o desenvo lvi me nt o da p int ur a
de cava let e ser ve par a o r et r at o, que co nt inua, no ent ant o, ho nr ado no s afr es co s. " ( LE
GOF F, Jacques. As Ra íze s Med ie va is da E uro pa. ( P et ró po lis: 2007, Vo zes) . p. 255. )
90
Todavia, a cúria não tinha o mesmo poder de resposta que possuira nos
tempos de Inocêncio III. Devido aos inúmeros conflitos políticos em que se
envolvera nos séculos XIII e XIV, em razão d e seus interesses expansionistas ,
principalmente na península Italiana e com os reinos da França e Inglaterra,
os monarcas do antigo regime não ofereciam o mesmo respaldo aos
desmandos eclesiásticos 171.
170
WE LLS , Her ber t Geo r ge. H ist ó r ia U n iver sa l. v. 4. ( E st ado s Unido s do Br as i l: 1972,
Co mpa nhia E d it o r a Nacio na l) . p. 1199.
171
WE LLS , Op. cit . , p. 1124.
172
E m 1378 a I gr e ja Cat ó lica pa sso u a ser co ma ndada po r do is papas: Ur ba no VI , a par t ir
de Ro ma, e C le me nt e VI I e m Avig no n. E ssa d iv isão se ma nt eve at é 1417 co m a e le iç ão do
papa Mar t inho V. ( LE GOFF, Jacqu es. As Ra íze s Med ie va is da E ur o pa . ( P et ró po lis: 2007,
Vo zes) . p. 243) .
173
"O papa Ale xa ndr e VI ha via co mpr a do publica me nt e a t iar a, e seus c inco fi lho s
ba st ar do s co mpar t ilha va m d e suas va nt agens. S eu filho , o car dea l duque Bó r gia ma ndo u
mat ar , co m o aco r do do pai, o papa, os V it e ll i, o s Ur bino , o s Gr avina, o s O liver o t t o e
cent enas de o ut ro s senho r es par a apo der ar - se de seus do mínio s. Jú l io I I , a ni mado do
me s mo esp ír it o , exco mu ngo u Lu ís XI I , deu se u r e ino ao pr ime ir o o cupant e e, e le pr ó pr io ,
co m e l mo na ca beça e a co ur aça no peit o, pô s a fer r o e sangue u ma par t e da It ália . Leão X,
par a pagar seus pr azer es, co mer c ia l izo u indu lgê nc ias co mo quem ve nde mer cad o r ias nu m
mer cado públ ico ". ( VOLT AI RE , Fr anço is- Mar ie Ar o uet . T r at ado So br e a T o ler â nc ia . ( S ão
P au lo : 2006, E sca la E ducac io na l. p. 19. )
91
E não apenas a Igreja , como tudo mais que se ligava à essa imagem do
passado da alta idade média, passava pouco a pouco a se tornar indesejado.
De fato, o antigo regime paulatinamente se tornou incompatível com a nova
mentalidade do homem ocidental em diversos sentidos . Entre elas note -se, em
especial, que o regime monárquico, a nobreza, a legitimação divina do poder
de governo, tudo parecia destoante da ideologia de perseguição ao lucro,
permitida pela propagação das cidades e difundida pela classe burguesa.
Não restam dúvidas que a burguesia, sedenta por projeção social 174 foi a
grande patrocinadora de todo o movimento que , em diversos níveis, tomava
conta do mundo conhecido e emergia cada cidadão em ideais de busca por
novos tempos.
174
Le ia - se “po der ”, já que na E ur o pa do S écu lo XVI I I o bur guês já t inha u ma po s ição de
inco nt est áve l de st aque no me io so c ia l.
175
Da í se d est aca a f igur a do s me ce nas: en t us iast as da s no vas t écnica s r e nas c ent ist as,
so br et udo nas ar t es. É o caso da fa mí l ia Méd ic i que assu me e st e pape l e m F lo r e nça. E le s
( o s Méd ic is) inaugur a m a t r adiç ão bur guesa e m apo iar ar t ist as e est ud io so s, o que ma i s
t ar de é fu nd a me nt a l no fo me nt o da Re vo lução Fr a nc esa. ( LE GO F F, Jacqu es. As Ra íz es
Med ie va is da E ur o pa. (P et ró po lis: 2007, Vo zes) . p. 256) .
176
LE GO FF, Jacque s. As Ra íze s M ed ie va is da E ur o pa . ( P et ró po lis : 2007, Vo zes) . p. 252;
WE L LS , Her ber t Geor ge. Hist ór ia U niver sa l . v. 4. ( E st ado s Unido s do B r as il: 1972,
Co mpa nhia E d it o r a Nacio na l) . p. 1172.
177
LE GOFF, o p. cit . , p. 227.
178
LE GOFF, o p. cit . , p. 237. LE GOFF, o p. cit . ,
179
LE GOFF, o p. cit . , p. 262..
92
180
"Re nu nc iar à liber dade é r enu nc iar à qua lidade de ho me m, ao s d ir e it o s da hu manidade,
e at é ao s pr ó pr io s de ver es. Não há ne nhu ma r epar aç ão po ssíve l par a que m r e nu nc ia a t udo.
T a l r e nú nc ia é inco mpat íve l co m a nat ur eza do ho me m, e su bt r a ir t o da liber d ade a sua
vo nt ade é su bt r air t o da mo r alidad e a su as açõ es". ( RO US S E AU, Je a n - Jacque s. O Co nt r at o
S o cia l. ( S ão P aulo : 2003, Mar t ins Fo nt es ) . p. 15) .
181
"[ . . .] o pact o so cia l e st abe lece t a l igua ldade e nt r e o s cid adão s que t o do s e le s se
co mpr o met e m so b a s mes ma s co nd i çõ es e deve m go zar do s mes mo s d ir e it o s".
( ROUS S E AU, o p. cit . , p. 41).
182
"Que m o usa e mpr ee nd er a i nst it u iç ão de u m po vo deve se nt ir - se capa z de mu dar , por
ass i m d izer , a nat ur eza hu ma na ; de t r ans fo r mar cada ind iv íduo que, po r si mes mo , é u m
t o do per fe it o e so lidár io e m p ar t e de um t o do ma io r , do qual es se ind iv íduo r ece be, de
cer t a fo r ma, sua vida e s e u ser ; de a lt er ar a co nst it uição do ho me m par a fo r t alecê - la ; d e
subst it uir po r exist ênc ia p ar c ia l e mo r a l a e xist ê nc ia fís ica e indepe nd e nt e que t o do s
r ecebe mo s de nat ur eza". ( ROUS S E AU, op. cit . , p. 50) .
183
WE LLS , Her ber t Geor ge. Hist ór ia U niver sa l . v. 5. ( E st ado s Unido s do Br as il: 1972,
Co mpa nhia E d it o r a Nacio na l) . p. 1432.
93
184
I mpo ss íve l não me nc io nar a co nt r ibu iç ão pio ne ir a de Mar y Wo llst o necr a ft , que já a l i
co nc lu ía que a me nt e hu ma na não t em d i st inç ão de gêner o.
185
WE LLS , Her ber t Geor ge. Hist ór ia U niver sa l . v. 5. ( E st ado s Unido s do Br as il: 1972,
Co mpa nhia E d it o r a Nacio na l) . p. 1364.
94
Atra vés das teorias c ontratualistas, procurou -se explicar, fora de uma
perspectiva de legitimação Divina, o que era o Estado , de onde vinha seu
186
Mo vime nt o s de ind epe ndê nc ia do s E st ado s Unido s ( 1775/ 1783) e Ha it i ( 1791 / 1804),
a lé m da Re vo lu ção Fr anc esa ( 1769) espec ia l me nt e t r at ada. ( WE LLS , Her ber t Geo r ge.
H ist ó r ia U niver s a l. v. 5. ( E st ado s Unido s do Br as il: 1972, Co mp a nhia E d it o r a Nac io na l) . p.
1363)
187
Desco ber t a do hidr o gênio ( 1774) , do pr inc íp io da vac inação , r ea lização do pr ime ir o voo
hu ma no ( 1783) e a inve nção do pia no ( 1709) .
188
Bac h co mpõ e “A P a ixão S egu ndo S ão Mat eus” ( 1729) e Mo zart sua pr ime ir a s info nia
( 1764) .
95
poder, e quais eram os limites para sua atuação . E perceba-se : o povo, surgiu
como resposta quase uníssona do contratualismo a tais i ndagações
"I med iat a me nt e, e m vez da pe sso a par t icu lar de cada co nt r at ant e,
esse at o d e asso c ia ção pr o duz um co r po mo r a l e co let ivo co mpo st o
de t ant o s me mbr o s qua nt o s são o s vo t o s da asse mb le ia, o qua l
r ecebe, po r esse me s mo at o , sua unidade , seu eu co mu m, sua vida e
sua vo nt ade. E ssa pesso a públ ic a, ass i m fo r mada p e la u nião de
t o das as dema is, t o ma va o ut ro r a o nome de Ci dade , e ho je o de
R epúbl i ca o u de corpo pol í t i co , o qual é cha mado po r seus me mbr o s
de E st ado quando pass ivo , so ber a no quando at ivo e Pot ênci a
quando co mpar ado ao s seus se me lha nt es. Qua nt o ao s asso c iado s,
e le s r ece be m co let i va me nt e o no me d e povo e s e c ha ma m, e m
par t icu lar ci dadãos, enqua nt o part ic ipa nt es da aut o r idade so ber ana,
e súdi t os, enqua nt o submet ido s às le is d o E st ado " 189.
189
ROUS S E AU, Jean- J acques. O Co nt r at o S o cia l. ( S ão P aulo : 2003, Mar t ins Fo nt es ) . p. 23
190
" A pr i me ir a e ma is impo r t ant e co nseq uênc ia do s pr inc íp io s a c ima e st abe lec id o s é que
só a vo nt ade ger a l po de d ir ig ir a s fo r ç as do E st ado em co nfo r midad e co m o objet ivo de
sua inst it u ição , que é o be m co mu m: po is, se a o po siç ão do s int er esses p ar t icu lar es t or no u
nec ess ár io o est abe lec i me nt o das so c ied ades, fo i o acor do desses mes mo s int er e sse s que o
t o r no u po ss íve l. O víncu lo so c ia l é fo r mado pe lo que há de co mu m ness es d ifer e nt es
int er es ses, e, se não ho uves se u m po nt o e m que t o do s o s int er esses co nco r da m, ne nhu ma
so c iedade po der ia e xist ir . Or a, é unic a me nt e co m base ne ss e int er esse co mu m que a
so c iedade de ve ser go ver nada". ( RO U S S E AU, Jean- J acques. O Co nt r at o Soc ia l. ( S ão
P au lo : 2003, Mart ins Fo nt es) . p. 33).
96
191
" As le is são co nd içõ es so b a s qua is ho me ns indepe nde nt es e iso lado s se u ni r a m e m
so c iedade, ca ns ado s de viver e m co nt ínuo est ado de guer r a e de go zar de uma liber dade
inú t il pe la incer t eza de sua co nser vaçã o . P art e dessa liber dad e fo i po r eles s acr ific ada
par a po der em go zar o r est ant e co m seg ur ança e t r anqu i l idade. A so ma d ess as po r çõ es de
l iber dade sacr if ic ada ao be m co mu m fo r ma a so ber a nia de u ma na ção e o so ber ano é o s eu
leg ít i mo depo s it ár io e ad min ist r ador ". (BE CC ARI A, Cesar e Bo nesa na. Do s de li t o s e das
pena s. ( S ão P aulo : Mar t ins Fo nt es, 2005) , p. 41) .
97
192
KANT , I mma nue l. A Met a fís ic a do s Co st ume s. ( S ão P aulo : 2010, Fo lha de S ão P aulo).
p. 121.
193
MONT E S QUI E U, Char les de S eco ndat . O E sp ír it o das Le is. ( S ão P aulo : 1996, Mar t ins
Fo nt es) . p. 19.
194
Ass i m e nt e nd id a co mo o mo vi me nt o pr ot est ant e que na sce a par t ir das cr ít icas,
apr ese nt adas na fo r ma de t ese s, pe lo mo nge Mar t in Lut er o, em 1517. Lut ero se
esca nda l izo u co m à le via n d ade e esp le ndo r mu nda no do papado, be m co mo a ve nd a de
indu lgê nc ia s. Or denado po r Leão X a r et r at ar , afir mo u que só o far ia se fo ss e co nve nc ido
"de seu er r o po r ar gume nt o s o u pela aut o r idade das es cr it ur as". ( WE LLS , Her be r t Geo r ge.
H ist ó r ia U niver sa l . v. 4 . (E st ado s Unido s do Br asil: 1972, Co mp a nhia E d it or a Nacio na l) . p.
1245) .
98
195
MONT E S QUI E U, Char les de S eco ndat . O E sp ír it o das Le is. ( S ão P aulo : 1996, Mar t ins
Fo nt es) . p. 95.
196
MONT E S QUIE U, o p. cit . , p. 93.
197
“Não se deve m co nduz ir o s ho me ns pe l as via s e xt r e ma s”. ( MONT E S QUI E U, o p. cit . , p.
85) .
198
MONT E S QUIE U, o p. cit . , p. 102.
99
199
É a par t ir da í que Fo ucau lt pr escr e ve co mo a lt er nat ivas de pu nição , segu ndo a id eo lo g ia
do século XVI I I , a deport ação, a hu mi l haç ão pública e o t r aba lho fo r çado ( FOUC AULT ,
M ic he l. A Ver dade e as Fo r ma s Jur íd ic as . ( Rio de Jane ir o : 2005, Nau). p. 82) .
200
VOLT AI RE , Fr a nço is - Mar ie Ar o uet . Câ nd it o o u o Ot im is mo . ( S ão P au lo : 2010, Fo lha de
S ão P aulo . ) p. 23.
201
VOLT AI RE , o p. c it ., p. 23.
100
202
VOLT AI RE , o p. c it ., p. 9.
203
Not e - se na co nc lusão o br a, que o fin a l dado ao s per so nage ns é u ma vid a i mer sa no
t r aba lho e nas d if ic u ld ades co t id ia na s. E st á defin it iva me nt e a fast ada a no ção de fe l ic idade
co nd ic io nad a a e le vação so c ia l o u a qu a lquer co nqu ist a no p la no r e lig io so ( V OLT AI RE ,
o p. cit . , cap. XXX).
204
O que se ma ni fest a e m sua s especu laçõ e s so br e a so ciedad e per fe it a.
205
É int er essa nt e o bser var que, não o bst ant e a ine xist ê nc ia d e u ma r e l ig ião o fi c ia l e a
co nvivê nc ia pa c íf ica e nt r e o s ador ado res de d ivindade s d iver s as no s r elat o s de Ut o pia,
Mo r e demo nst r a co ns ider ação ao Cr ist ianis mo . E le nar r a que o s ut o pia no s fac i l me nt e se
co nver t er a m à r e l ig ião Cr ist ã, ma s r es sa lt a: o po vo de Ut o pia se se nt iu esp e c ia l me nt e
i mpr es s io nado “info r mação de que Cr is t o apro vo u a co mu nhão de bens po st a em pr át ic a
po r seus d is c ípu lo s” ( MORE , T ho ma s. Ut o pia. ( S ão P aulo : 2009, E dição Re vist a e
Amp l iada. )
p. 178). Daí u ma pr o vá ve l cr ít ic a à ost ent ação das gr andes inst it uiçõ es r e li g io sas da
E uro pa.
101
206
MORE , T ho mas. Ut o pia. ( S ão P aulo : 2009, E dição Revist a e Amp l iad a) . p. 179.
207
MORE , o p. cit . , p. 180.
208
Vo lt a ir e é ma is e nfát ico : "O d ir e it o hu ma no não po de est ar baseado e m ne nhu m c aso
se não nes se d ir e it o de nat ur eza e o grande pr inc íp io , o pr inc íp io univer s a l d e u m e de
o ut ro é, em t o da a t er r a "Não faça o que não go st ar ia que lhe f izes se m" . Or a, não ve mo s
102
216
Ao que se deno t a em BE NT H AM, Jer e my. As Reco mp e nsa s e m Mat ér ia P ena l. ( São
P au lo : 2007, R ide l) . p. 23.
217
Na lit er at ur a, S ade t r az a per ver são ao mu ndo lit er ár io . Afr o nt a o sist e ma mo r a l e
r e lig io so ao exp lo r ar o sexo e a l i ber t inage n, t or nando - se figur a e mble mát ica na
co nst r ução de u ma l it er at ur a mo der n a a ves sa ao s a nt igo s co st u mes eur o peus.
( ROUDI NE S CO, E liza bet h. A par t e o bs cur a de nó s me s mo s - U ma hist ó r ia do s per ver so s .
( R io de Jane ir o : 2008, Zahar ) . p. 99) .
104
218
"[ . . .] ainda qu e se pr o va sse que a at ro cidade das pe na s, não sendo imed iat a me nt e o po st a
ao be m co mu m e ao pr ó pr io fi m de i mpe d ir o s de lit o s, fo sse ape nas inút il, e la se r ia, a ind a
ass i m, co nt r ár ia não só às vir t udes be né f ica s ger ada s po r u ma r azão esc lar e c ida, qu e
pr efer e co ma ndar ho me ns fe l ize s a u m r eba nho de escr a vo s e m me io ao s qua is c ir cu las se
per ene me nt e u ma cr ue ld ade t e mer o sa, mas ser ia co nt r ár ia t a mbé m à just iç a e à nat ur eza do
pr ó pr io co nt r at o so cia l". ( BE CC ARI A, Cesar e Bo nesa na. Do s de lit o s e das pe na s. ( S ão
P au lo : Mart ins Fo nt es, 2005) , p. 80).
105
219
KANT , I mma nue l. A Met a fís ic a do s Co st ume s. ( S ão P aulo : 2010, Fo lha de S ão P aulo).
p. 119.
220
VOLT AI RE , Fr a nço is - M ar ie Ar o uet . T r at ado S o br e a T o ler â nc ia. ( S ão P aulo : 2006,
E sca la E ducac io na l. ) p. 52.
106
221
FE RRI , E nr ico . P r inc íp io s de D ir e it o Cr imina l - O Cr imino so e o Cr ime.
( Ca mp ina s: 2003, Russe l l) . p. 38.
107
222
VOLT AI RE , Fr a nço is - M ar ie Ar o uet . T r at ado S o br e a T o ler â nc ia. ( S ão P aulo : 2006,
E sca la E ducac io na l. ) p. 75.
223
E se fa la e m r e sgat ado, t o ma ndo po r pr essupo st o a co nc lus ão ant er io r de que sua or ige m
r e mo t a do Renasc i me nt o do sécu lo XV.
224
BE CCARI A, Ces ar e Bo nes a na. Do s delit o s e das penas. ( S ão P aulo : Mar t ins Fo nt es,
2005) , p. 8.
225
Bast a dizer que “O bser vaçõ es S o br e a T ort ur a” fo i pu blic ado set e ano s apó s a mo r t e de
P iet ro ..
108
226
VE RRI , P iet r o. Obser vaçõ es so br e a t o rt ur a ( S ão P aulo : Mart ins Fo nt es, 2000 ) . p. XI V.
227
VE RRI , o p. cit ., p. 90.
228
P er ceba - se t a mbé m e m Vo lt a ir e e Mo nt esqu ieu.
229
E isso só se t o r na po ssíve l pe lo au me nt o na ve lo c id ade da t ro ca de info r maçõ es
per mit id a pe la mo der nidade.
109
Foi ouvindo o eco humanista do Século das Luzes, que eclo diram
reformas legislativas de abolição dos suplícios 230.
230
BAR ROS , Mar co Ant o nio de. A Busca da Ver dade no P ro cesso P ena l. ( S ão P aulo : 2010,
Re vist a do s T r ibu na is) . p. 77.
231
GOUL ART , Va lér ia D ie z S car a nce Fer na nde s. T o rt ur a e pr o va no pr o cesso pena l. ( São
P au lo : 2002, At la s) , p. 32.
110
232
FE RRI , E nr ico . P r inc íp io s de D ir e it o Cr imina l - O Cr imino so e o Cr ime.
( Ca mp ina s: 2003, Russ e l l) . p. 37.
233
T EI XE I RA, F lá via Ca me l lo . Da To rt ur a. ( Be lo Ho r izo nt e: 2004, Del Re y) . p. 19.
234
Ass i m co mpr ee nd ida s med ia nt e a r ea l iz ação do pro jet o hu ma nist a fo r jado pe lo s t eó r icos
do século XVI I I.
111
235
FOUC AU LT , M ic he l. A Ver dade e as Fo r mas Jur íd ica s. ( R io d e Jane ir o : 2005, Nau).
p. 73 - 74.
112
236
Code d' I nst ruci on Cri mi nel l e.
237
BAR ROS , Mar co Ant o nio de. A Busca da Ver dade no P ro cesso P ena l. ( S ão P aulo : 2010,
Re vist a do s T r ibu na is) . p. 76.
238
FOUC AU LT , M ic he l. A Ver dade e as F o r mas Jur íd ica s. ( R io de Jane ir o : 2005, Na u) . p.
106.
113
239
BAR ROS , Mar co Ant o nio de. A Busca da Ver dade no P ro cesso P ena l. ( S ão P aulo : 2010,
Re vist a do s T r ibu na is) . p. 77
240
"P er ce be - se e nt ão o iníc io de u ma no va fas e, t ida co mo mo der na, e vo lut iva do pr o cesso
pena l, t a mbé m co nhec ida co mo fase da cer t ez a mo r a l. O s ist e ma da s pr o vas mo r a is, cu ja
r efo r ma ha via s ido co mbat id a ar dent e me nt e no sécu lo XVI I I , co nst it u i u ma co nqu ist a
de fin it iva. A par t ir d ist o busca - se a f o r mação da ínt ima co nvicç ão do ju lga do r e do s
jur ado s. Abo lida s a s pr esu nçõ es lega is de cu l pa, a apr ec iaç ão das pr o vas pas sa a fic ar
subm is sa ao pr inc íp io do livr e co nve nc i me nt o do ju iz ". ( BARROS , Mar co Ant onio de. A
Busca da Ver dade no P ro cesso P ena l. ( S ão P aulo : 2010, Revist a do s T r ibu na is) , p. 77).
241
VOLT AI RE , Fr a nço is - M ar ie Ar o uet . T r at ado S o br e a T o ler â nc ia. ( S ão P aulo : 2006,
E sca la E ducac io na l) . p. 06.
114
242
FOUC AU LT , M ic he l. V ig iar e punir ( P et ró po lis: Vo zes, 2010). p. 77.
243
Co mo não po der ia de ixar de ser e m pro ced ime nt o s jud ic ia is base ado s no pr o cesso
inqu is it o r ia l fu ndado pe la I gr e ja Cat ó lic a.
115
Mais do que isso: a conclusão é tal que a preocupação deve ser em “ser
tolerante” (o que nada mais é do que um limite) e não em conhecer a
realidade, se é que isso é possível.
Note-se que não apenas Voltaire, mas todo o rol bibliográfico que
tratou do tema , apresentou em maior ou menor escala uma nova forma de
rejeitar os métodos inquisitoriais, atacando assim, mesmo indiretamente , a
eficácia da busca pela verdade correspondista nos moldes da Inquisição 245.
244
VOLT AI RE , Fr a nço is - Mar ie Ar o uet . Tr at ado So br e a T o ler â nc ia. ( S ão P au lo : 2006,
E sca la E ducac io na l. ) . p. 16.
245
Ve ja - se as r e fer ênc ias fe it a s à Beccar ia no cap ít u lo ant er io r .
116
246
FOUC AU LT , M ic he l. A Ver dade e as F o r mas Jur íd ica s. ( R io de Jane ir o : 2005, Nau) . p.
80.
247
Mu it o e mbo r a, r epit a - se, est e ja - se a i nda mu it o d ist ant e de u ma cat a lo gu iza ção dos
D ir e it o s Hu ma no s no s mo ld es do que fo i fe it o pe la ONU e m 1948.
248
KANT , I mma nue l. A Met a fís ic a do s Co st ume s . ( S ão P aulo : 2010, Fo lha de S ão P aulo).
p. 54.
117
249
E das ba se s do mo de lo co nst it uc io na l ist a co nt empo r âneo . ( DAL L ARI , Da lmo de Abr eu.
E le me nt o s de T eo r ia Ger a l do E st ado . ( São P aulo : 1998, S ar aiva) . p. 258).
118
250
FOUC AU LT , M ic he l. A Ver dade e as F o r mas Jur íd ica s. ( R io de Jane ir o : 2005, Nau) . p.
119.
251
Aqu i fa la mo s “a nt es ” e “depo is” ape na s no se nt ido de “caus a” e “co nseqüê nc i a”, po is
so b u ma per sp ect iva cr o no ló g ic a, é his t o r ica me nt e impr ec iso separ ar e m mo ment o s be m
d ist int o s o declín io da fé e nqua nt o par âmet r o, e o so er guime nt o do ser huma no su je it o de
d ir e it o s. E m t ese o co r r er a m s imu lt a ne a m ent e.
252
VOLT AI RE , Fr a nço is - M ar ie Ar o uet . T r at ado S o br e a T o ler â nc ia. ( S ão P aulo : 2006,
E sca la E ducac io na l) . p. 18.
119
253
U m e xe mp lo r eco r r ent e no o r dena me nt o br as ile ir o é a po der inst r ut ór io d o Ju iz,
deco r r ent e da po ss ibi l idade d e pr o duçã o de pr o vas de o fíc io , co nfo r me ar t . 156 e ar t . 209
do Có digo de Pro cesso P ena l.
121
Ora, embora subsista, o instituto está frag ilizado. Não restam dúvidas.
O delinquente certamente deve ser punido 256 pelos seus atos violadores
do Contrato Social, não há dúvidas:
254
I nt er essa nt e a o bser vação de Fo ucau lt , quant o ao fi m da s pr o jeçõ es t eór ica s fe i t as por
Beccar ia e Be nt ha m. S egu ndo de mo ns t r a, a pr át ica do s ist e ma s pe na is le vo u a uma
r ea lid ade co mp let a me nt e d iver sa d aque la i mag inada pe lo s aut o r es: "E m que co ns ist e m
essa s t r ans fo r maçõ es do s s ist e ma s pena is ? P o r um lado em u ma r ee la bo r ação t eór ica da le i
pena l. E la po de ser enco nt r ada em Becc ar ia, Be nt ha m, Br is so t e em leg is lado r es que são
o s aut o r es do 1º e do 2º Có digo P ena l f r ancê s da épo ca r evo luc io nár ia. P er cebe mo s que o
s ist e ma de pe na l idade s ado t ado pelas so c iedad es indust r ia is e m vias de fo r ma çã o , em via s
de dese nvo lvi me nt o , fo i int e ir a me nt e di fer e nt e do que t inha s ido pr o jet ado alguns a no s
ant es. Não que a pr át ic a t enha de s me nt ido a t eor ia, po r é m e la se de s vio u r ap id a me nt e do s
pr inc íp io s t eó r ico s que e nco nt r a mo s e m Beccar ia e Be nt ha m". ( FOUC AU LT , M ic he l. A
Ver dade e as Fo r ma s Jur íd ica s. ( R io de Jane ir o : 2005, Nau) . p. 83.)
255
FOUC AU LT , o p. cit . , p. 85.
256
"P ar a que o go ver no não est eja no d ir e it o de punir o s er ro s do s ho me ns é nece ss ár io que
esse s er r o s não se ja m cr ime s ; só pas s a m a ser cr i me s qua ndo per t ur ba m a so c iedade ;
per t ur ba m es sa so c iedad e de sde que i nsp ir e m o fa nat is mo . Cu mpr e, po rt ant o , que o s
ho me ns se cu ide m e m não ser fa nát ico s par a mer ecer a t o ler â nc ia". ( VOLT AI RE , Fr a nço is -
Mar ie Ar o uet . T r at ado So br e a To ler â nc ia. ( S ão P aulo : 2006, E sca la E ducac io na l. ) p. 91)
P er ceba - s e já a no ção de cr ime a fa st ada do pecado e de u m s ist e ma pe na l vo lt ado co nt r a a
int o ler â nc ia r e lig io s a.
122
Essa dúvida vem a ser desenvolvida apenas no século XIX já com uma
ciência Jurídica engajada na busca pela independência do Direito Processual.
O que se pode afirmar ainda naquele século XVIII , é que o projeto do sistema
punitivo Estatal em sintonia com o pensamento de Beccaria e Bentha m, não
contemplava a reconstrução da verdade como uma meta incondicional a ser
atingida pelo procedimento jurisdicionalizado.
257
FOUC AU LT , M ic he l. A Ver dade e as F o r mas Jur íd ica s. ( R io de Jane ir o : 2005, Nau) . p.
81.
258
E isso se m que o pro jet o de r efo r ma cr i m ina l do S écu lo XVI I I co nt emp la ss e as pr isõ es
co mo inst it u içõ es de co nt ro le so c ia l: "C o mo u m pr o jet o de pr isão co rr et iva po de impo r - se
à na c io na l idade lega l ist a de B eccar ia ? P ar ece - me que se a pr isão se impô s fo i p o r que er a,
no fu ndo , apenas a fo r ma co nce nt r ada, exe mp lar , s imbó l ic a de t o das est as inst it uiçõ es de
sequest r o cr iada s no sé cu lo XI X ". ( FOUC AULT , o p. cit . , p. 123)
123
259
“E xist e u ma co nfu são t eó r ica e no r mat iva do s t er mo s e mpr egado s par a des i gnar os
d ir e it o s bás ico s do s ho me ns. Co nfu são o u hiper o no mia ? P r o vave l me nt e a mbas ".
( S AMP AI O, Jo sé Adér c io Le it e. D ir e it o s fu nda me nt a is: r et ó r ic a e hist o r ic ida de . ( Belo
Ho r izo nt e: 2004, De l Re y) . p. 07) .
260
S AMP AI O, o p. cit . , p. 08.
261
S AMP AI O, o p. cit . , p. 207.
262
“A per spe ct iva hist ór ic a no s r e met e à co nst at ação de que as pr ime ir as de c lar a çõ es de
d ir e it o co nt aminar a m o s s ist e mas jur íd ico s o c ide nt a is, e spa lha ndo - se pe la s d iver sas
Co nst it uiçõ es”. ( S AMP AI O, o p. cit . , p. 208. )
125
263
S AMP AI O, o p. cit . , p. 259.
264
S AMP AI O, o p. cit . , p. 260.
126
“E mbo r a a I ng lat er r a t enha dado o imp u lso inic ia l, e não o bst ant e
lo ca l izar - se na Fr a nç a o ma is at ivo ce nt ro de ir r ad iaç ão de ide ias,
fo i na Amér ica, na a inda co lô nia da V ir g ínia, que sur g iu a pr ime ir a
Dec lar ação de D ir e it o s. Ant es m es mo de se dec lar ar e m
indepe nde nt es, as co lô nia s ing le sas da Amér ica se r eu n ir a m nu m
Co ngr esso Co nt ine nt a l, e m 1774, t endo o Co ngr esso r eco me ndado
às co lô nias que fo r mas se m go ver no s in depend e nt es. Que m deu o s
pr ime ir o s pa sso s par a isso fo i just a me nt e a V ir g ín ia, que e m 12 de
ja ne ir o de 1776 publico u uma Dec lar a çã o de Dir e it o s, cu j a c láusu la
pr ime ir a pr o c la ma va “que t o do s o s ho me ns são po r nat ur eza
igua l me nt e livr es e indepe nde nt es, e t êm cer t o s dir e it o s iner ent es,
do s quais, quando ent r am e m qua lqu er est ado de so ciedad e, não
po dem po r qua lquer aco r do, pr ivar o u despo jar o s pó st ero s ; quer
d izer , o go zo da vida e l iber dade, c o m o s me io s de adqu ir ir e
po ssu ir pr o pr ied ade, e per segu ir e o bt er fe l ic idade e segur a nça” 265.
265
DALL ARI , Da lmo d e Abr eu. E le me nt os de T eo r ia Ger a l do E st ado . ( S ão P aulo : 1998,
S ar a iva) . p. 207.
266
L AFE R, Ce lso . A r eco nst r ução do s dir e it o s hu ma no s: u m d iá lo go co m o pensa m ent o de
Hanna h Ar e ndt . ( S ão P aulo : 1988, Co mp anhia das L et r as) . p. 127.
127
267
S AMP AI O, Jo sé Adér c io Le it e . D ir e it o s fu nda me nt a is: r et ó r ica e hist o r ic idad e. ( Belo
Ho r izo nt e: 2004, De l Re y) . p. 261.
268
WE LLS , Her ber t Geo r ge. H ist ó r ia U niver sa l . v. 5. ( E st ado s Unido s do Br as i l: 1972,
Co mpa nhia E d it o r a Nacio na l) . p. 1411.
269
“Co m e fe it o , o s ant igo s e o s med ie va is , ao r eje it ar e m o mu ndo do s ho me ns, vo lt ar a m -
se, desde P lat ão , par a a busca e a co nt e mp laç ão da ver dad e et er na. Os mo der no s, par a o
mu ndo int er io r do ser, po r fo r ça da dúvida que co lo ca e m que st ão a et er na ve r dade das
co isas” ( L AFE R, Ce lso . A r eco nst r ução do s d ir e it o s hu ma no s: u m d iá lo g o co m o
pensa me nt o de Hanna h Ar e ndt . ( S ão P aulo : 1988, Co mpa nhia das Le t r as) . p. 120).
128
Isso serve a demonstrar que tal processo de a sserção teve tanto reflexos
para os governados, quanto para o governantes 271. No comando para os
governantes é que se localizam as implementações jurídicas.
270
LAFE R, o p. cit . , 125.
271
“I st o po st o , penso que s e po de d izer q ue a per sp ect iva e x part e pri nci pi s , e m r e la ção
ao s d ir e it o s hu ma no s e nqua nt o inve nção hist ó r ic a, no r t eia - s e pe la go ver na bil id a de de u m
co nju nt o de ho me ns e co is as nu m dado t er r it ó r io ”. ( LAFE R, o p. cit . , 125) .
272
P I NT O, Fe lipe Mar t ins. I nt ro dução cr ít ica ao Pro cesso P ena l . ( Be lo Ho r izo nt e: De l Re y,
2012) , p. 139.
129
273
O s ist e ma jur íd ico ing lês, que per ma nec er a livr e da inf luê nc ia da I gr e ja Cat ó lica , t o r na -
se u ma r e fer ê nc ia.
274
A fo r ma co mo o sist e ma acu sat ór io se a linha ao s int er es se l iber a is, ser á det a lhado no
cap ít u lo segu int e.
275
M AL AT O, Lu iz E r na ni F er r e ir a R i be ir o . D ir e it o s Hu ma no s - Feder a l iz ação da
Co mpet ê nc ia e a Amazô nia . ( P ort o Alegr e: 2012, Nur ia Fa br is) . p. 32.
130
276
ALVI M, Jo s é E duar do Car r eir a. E le me nt o s de T eor ia Ger a l do P ro cesso . ( R io de
Ja ne ir o : 1998, Fo r ense) . p. 30.
277
“De sde a sua co nfo r maç ão id eo ló g ica e do ut r inár ia co m d ir e it o s do ind iv íduo co nt ra o
E st ado , é po ss íve l, par a fins d idát ico s, ident if icar quat ro pro cesso s o u et apas de evo luç ão
do s dir e it o s hu ma no s: o da sua po sit ivação ( 1) , o da sua gener a liz ação ( 2) , o da
int er nac io na l izaç ão ( 3) e o da espec ia l iz ação o u espec ific ação ( 4) . O S écu lo XI X ass ist e a
t r ês dessas et apas, deixa ndo par a o século segu int e a co nt inu id ade de t a is pr o cesso s, a lé m
de sua int er nac io na l iza ção ”. ( S AMP AI O, Jo sé Adér c io Le it e. D ir e it o s fu nd a me nt a is:
r et ór ic a e hist o r ic idade . ( Be lo Hor izo nt e: 2004, De l Re y) . p. 207).
131
Para o que foi proposto, interessa deter -se mais daquela primeira forma
de Estado, do que da última. Porém, é impossível não tratar, mesmo que
ligeiramente, da evolução histórica que partiu dali, pois a implementação dos
Direitos Fundamentais, conforme se debateu anteriormente, é acompanhada
pela progressão do Estados, de modo que essa trajetória destes está
visceralmente conectado ao estabelecimento histórico das garantias inerentes
ao ser humano através dos Direitos Fundamen tais:
278
E mbo r a se ja so b a ég ide do E st ado So cia l, o nde se deu a i mp le me nt ação do s d i r e it o s de
segu nda ger ação , que fo r am pr o mu lga do s o s at uais có digo s P e na l e P r o cess ua l P e na l
br as i le ir o .
279
“É no sso desa f io per ce ber co mo o s D ir e it o s Fu nda me nt a is vier a m i mpo ndo - se na
co nt empo r ane idade e de que fo r ma ma r ca m a s d ifer e nt es fas es hist ó r ica s po r que ve m
passa ndo o E st ado pó s - r evo luc io nár io ”. ( HORT A, Jo sé Lu iz Bo r ges. H ist ó r ia do E st ado de
D ir e it o . ( S ão P aulo : 2011, Ala meda) . p. 43) .
133
280
P I NT O, Fe lipe Mar t ins. I nt ro dução cr ít ica ao Pro cesso P ena l . ( Be lo Ho r izo nt e: De l Re y,
2012) , p. 137.
281
DALL ARI , Da lmo d e Abr eu. E le me nt os de T eo r ia Ger a l do E st ado . ( S ão P aulo : 1998,
S ar a iva) . p. 275.
134
282
HORT A, Jo sé Lu iz Bo r ges. H ist ó r ia do E st ado de D ir e it o . ( S ão P aulo : 2011, Al a meda) .
p. 81.
283
HORT A, o p. cit . , p. 77.
284
HORT A, o p. cit . , 55.
135
285
DALL ARI , Da lmo d e Abr eu. E le me nt os de T eo r ia Ger a l do E st ado . ( S ão P aulo : 1998,
S ar a iva) . p. 277.
286
DAL L ARI , o p. cit . , p. 276.
287
“Qu a nt o às r e laçõ es e co nô micas, a o br a cé le br e d e Ada m S m it h, “A R iqu eza das
Naçõ es”, public ada e m 1776, co r r espo nd ia per fe it a me nt e ao s dese jo s dos gr and e s
pr o pr iet ár io s e co mer c ia nt es, sust ent ando que cada ho me m é o me lho r ju i z de seus
int er es ses e de ve t er a liber dade de pr o mo vê - lo s segu ndo sua vo nt ade. Af i r ma ndo a
exist ê nc ia d e u ma o rdem nat ural , capa z de a ssegur ar a har mo nia e spo nt ânea de t o do s o s
int er es ses, Ad a m S m it h co nde na qua lqu er int er ve nç ão do E st ado ”. ( DAL L ARI , o p. cit . , p.
275) .
136
288
DAL L ARI , o p. cit . , p. 276.
289
“E m 26 de ago st o de 1789, a Asse mb lé i a Nac io na l fr a nc esa apr o vo u sua Decl ara ção dos
Di rei t os do Ho mem e do Ci dadão, qu e, inega ve l me nt e, t eve desde lo go mu it o ma io r
137
293
MARQUE S , Jo sé Fr eder ico . E le me nt o s do Dir e it o P ro cessua l P e na l . v. 1. ( Camp inhas:
2009, Mil le nniu m) p. 90.
294
Não se ndo , co ndut o uma ino vação par a o o r dena me nt o . ( NET O, Jo sé de As s is S ant iago.
E st ado Demo cr át ico de D ir e it o e P r o cesso P ena l Acusat ó r io . ( Rio de Ja ne ir o : 201 2, Lu me n
Jur is) . p. 91) .
139
295
NE T O, o p. cit . , p. 89.
296
CI NT RA, Ant ô nio Car lo s de Ar aú jo ; GRI NOVE R, Ada P e l legr in i; DI NAM AR CO,
Câ nd ido Rang e l. T eo r ia Ger a l do P ro cesso . ( S ão P au lo : 2008, Ma lhe ir o s) . p. 43.
140
4.3 Processo Penal Moderno regido sob os princí pios do pensame nto
humanitário
297
MARQUE S , Jo sé Fr eder ico . E le me nt o s do Dir e it o P ro cessua l P e na l . v. 1. ( Camp inhas:
2009, Mil le nniu m) p. 87.
142
298
ALV I M, Jo sé E duar do Car r eir a . E le me nt o s de T eor ia Ger a l do P ro cesso . ( R io de
Ja ne ir o : 1998, Fo r ense) . p. 29.
299
Cur io sa me nt e, Car r eir a Alv in ig no r a a par t ic ipaç ão do s me s mo e de st aca apena s o
pr o cedime nt a lis mo que sur ge a par t ir do Code d' I nst ruct i on.
300
MARQUE S , Jo sé Fr eder ico . E le me nt o s do Dir e it o P ro cessua l P e na l . v. 1. ( Camp inhas:
2009, Mil le nniu m) p. 90.
143
301
“Depo is d a pu bl icação , na Fr a nç a, do Code d’ I nst ruct i on C ri mi nel l e, de 1808, inic ia - se,
co mo d iz G ARR AUD, “um nouveau m ode de compr endre et d’ expose r l e s d i sci pl i nes
cri mi nel l es e m cor respondan ce avec l a nouvel l e mét hode l égi sl at i v e de cod i f i cat i on”
( MARQUE S , o p. cit . , p . 90)
302
NE T O, Jo sé de As s is S a nt iago . E st ado De mo cr át ico de D ir e it o e P r o cesso P ena l
Acu sat ór io . ( Rio de Jane ir o : 2012, Lu me n Jur is) . p. 90.
144
303
E me s mo nest a fa se, co nfo r me se de mo nst r o u ant er io r me nt e, o hu ma nis mo t r az uma
abso lut a r efo r ma no s mét o do s de o bt enção da ver dade, t or na ndo -o s pro cedime nt a lme nt e
d ifer e nt es daque le s adot ado s pela I nqu is ição .
304
E e m r e lação à separ ação e nt r e a ciê nc ia p e na l su bst ant iva e ad jet iva, F r eder ico
Mar ques: “Co m a separ ação da leg is la ção pro cessua l da le g is lação de d ir e it o mat er ia l,
co meç a o pro cesso a ser est udado co m ma is de se nvo lt ur a, pro cur ando algu ns escr it o r es
es bo çar a co nst r ução das co nst ant es do ut r inár ia s de ssa d is c ip l ina jur íd ica at é ent ão
a mar r ada a s i mp le s pr eo cupaçõ es pr a xís t ica s, qua ndo não at o lada no casu ís mo fast id io so
do s eur ema s". ( MARQUE S , Jo sé Fr ederico . E le me nt o s do Dir e it o P ro cessua l P ena l . v. 1.
( Ca mp inha s: 2009, Mil le nniu m) p . 91).
305
ALVI M, Jo sé E duar do Car r eir a . E le me nt o s de T eor ia Ger a l do P ro cesso . ( R io de
Ja ne ir o : 1998, Fo r ense) . p. 37.
145
306
MARQUE S , Jo sé Fr eder ico . E le me nt o s do Dir e it o P ro cessua l P e na l. v. 1. ( Camp inhas:
2009, Mil le nniu m) p. 92.
307
É int er essa nt e no t ar, que essa visão se har mo niza co m a s pr et ensõ es l iber a is e po r isso
pr esu me m u m po s ic io na me nt o do jud ic iá r io no s mo lde s do que se pr et endeu par a o E st ado
L iber a l. T o davia, à épo ca e m qu e e scr eveu o T eo r ia da s E xceçõ es e do s P r essupo st o s
P ro cessua is, Bü lo w já se nt ia a S o mbr a do E st ado So cia l que i mpu nha u m po s ic io na me nt o
ma is at uant e do jud ic iár io : "E m r e la çã o ao s pr essupo st o s pro cessua is, o t r ibu na l já não
t o ma a at it ude pass iva qu e par ece ha ver lhe at r ibu ído no ve lho pr o cedime n t o ale mão
quant o a e les. E nt ão , t end ia - s e e vide nt e me nt e a co nceder ao t r ibu na l u m pu r o ro l d e
espect ado r o u ao ma is, d e guar d ião da lut a e a de ixar que as p ar t es r is casse m as
co nt r avençõ es pr o cessua is co met idas pe l o adver sár io , por me io do s r ecur so s pert ine nt es, e
pr o vo casse m de sse mo do a int er ve nção do t r ibu na l". ( BÜLO W, Oskar Vo n. T eo r ia da s
E xecuçõ es e do s Pr essupo st o s Pro cessua i s. ( Ca mp inas: 2005, LZN) . p. 257) .
308
A T eo r ia da Re la ção P r o cessua l r e inaugur a, na c iê nc ia do pr o cesso mo der no , os
es fo r ço s no se nt ido de se int er pr et ar a nat ur eza jur íd ica do pr o cesso . Va le me nc io nar que,
a lé m de la, o ut r as t eo r ia s e xp l ica m - inc lu s ive a nt er io r me nt e - a d inâ mic a que e nvo lve a
r e lação das p ar t es de u ma l ide pr o cess ua l. Ne la s se e nt ende o pr o cesso co mo : co nt r at o ;
quase co nt r at o ; pr o cesso co mo ser viço público ; pr o ces so co mo inst it u ição ; e pro cesso
co mo s it uação jur íd ica. ( AL VI M, Jo sé E duar do Car r eir a. E le me nt o s de T eo r ia Ger a l do
P ro cesso . ( R io de Jane ir o : 1998, Fo r ense) . p. 133 - 148) .
309
BÜLO W, Oskar Vo n. T eo r ia da s E xecuçõ es e do s P r essupo st o s P rocessua is .
( Ca mp ina s: 20 05, LZN) . p. 06.
146
310
HORT A, Jo sé Lu iz Bo r ges . H ist ó r ia do E st ado de D ir e it o . ( S ão P aulo : 2011, Al a meda) .
p. 97.
311
HORT A, o p. cit . , p. 98.
147
Não é também por outra ra zão, que o processo penal se inova nesta
fase, através do estabelecimento de garantias associadas as primeiras
revindicações aos Estados pós revolucionários, quais sejam, aquelas
relacionadas à dignidade humana e inicialmente defendidas através do Direito
às liberdades individuais.
312
HORT A, o p. cit . , p. 97.
313
NE T O, Jo sé de As s is S a nt iago . E st ado De mo cr át ico de D ir e it o e P r o cesso P ena l
Acu sat ór io . ( Rio de Jane ir o : 2012, Lu me n Jur is) . p. 12.
148
314
S AMP AI O, Jo sé Adér c io Le it e. D ir e it o s fu nda me nt a is: r et ó r ica e hist o r ic idad e . ( Belo
Ho r izo nt e: 2004, De l Re y) . p. 145.
315
M AL AT O, Lu iz E r na ne Fer r e ir a R ibe ir o . D ir e it o s Hu ma no s - F eder a liz a ção da
Co mpet ê nc ia e a A mazô nia . ( P ort o Alegr e: 2012, Nur ia Fa br is) . p. 31.
316
BE NT HAM, Jer e m y. T eo r ia da s P e na s Lega is e T r at ado do s So fis ma s P o lít ico s . ( Le me:
2002, E dijur ) . p. 254.
317
Ju nt o a e la, é d ig no de no t a é a pr opo st a da E sco la C lá ss ic a P e nit e nc iár ia par a a
ap lica ção do s t r aba lho s fo r çado s. ( FE RRI , E nr ico . P r inc íp io s de d ir e it o cr i m ina l: o
cr im ino so e o cr ime . ( Ca mp inas: 2003, Russe l l E d it o r es) p. 39).
150
318
BE NT HAM, Jer e my. As Reco mpe ns as e m Mat ér ia P ena l. ( S ão P aulo : 2007, Ride l) . p. 18,
319
“Na fi lo so fia pe na l i lu m in ist a, o pro ble ma pu nit ivo est ava co mp let a me nt e desvi ncu lado
das pr eo cupaçõ es ét ica s e r e lig io sas ; o de lit o e nco nt r ava sua r azão de ser no co nt r at o
so c ia l vio lado e a pena er a co nce bid a s o me nt e co mo med id a pr eve nt iva”. ( P RADO, Lu iz
Reg is. Be m Jur íd ico - P ena l e Co nst it uiç ão . ( S ão P aulo : 2011, Revist a do s T r ibuna is) . p.
28) .
320
M AL AT O, Lu iz E r na ne Fer r e ir a R ibe ir o . D ir e it o s Hu ma no s - F eder a liz a ção da
Co mpet ê nc ia e a Amazô nia . ( P ort o Alegr e: 2012, Nur ia Fa br is) . p. 34.
321
I nc lu s ive, ape nas co m o sur gime nt o da t eo r ia do be m jur íd ico , é que se t o r no u po ss íve l
cr im ina liz ar a t o rt ur a. Nest e delit o , a d ig nidade hu ma na é co lo cada co mo u m va lo r
151
Por outro lado, permite -se que certos bens sejam elevados a uma
condição de máxima apreciação pelos Ordenamentos Jurídicos 324. No caso em
tela, cumpre destacar a tipificação da tortura enquanto crime – no Brasil,
através da Lei 9.454/97. Note-se que, neste delito, a dignidade humana é
colocada como um valor protegido pelo Ordename nto 325, e se torna ensejadora
da punição estatal na hipótese de sua violação. A criminalização da tortura é,
assim, o ponto máximo da tutela da dignidade humana, pelo Estado, contra
326
“A t endê nc ia da épo ca ( secu lar is mo / hu ma niza ção ) er a fa vo r ecer o u gar ant ir o s be ns
ind iv idua is d ia nt e do ar bít r io jud ic ia l e da gr avidade da s pe nas, e m base so cia l. D es se
mo do , o delit o inic ia u ma vida p le na d e flu xo s e d e r e flu xo s na pr o cur a de um se nt ido
mat er ia l”. 326 P R ADO, Lu iz R eg is. Be m J ur íd ico - P ena l e Co nst it u ição . ( S ão P aulo : 2011,
Re vist a do s T r ibu na is) . p. 29) .
327
LOP E S JR. , Aur y. D ir e it o P ro cessua l P ena l e sua Co nfo r m idade Co nst it uc io na l . ( R io de
Ja ne ir o : 2008, Lu me n Jur is) . p. 11.
328
NE T O, Jo sé de As s is S a nt iago . E st ado De mo cr át ico de D ir e it o e P r o cesso P ena l
Acu sat ór io . ( Rio de Jane ir o : 2012, Lu me n Jur is) . p. 151.
153
329
E a í a gê ne se do mo der no pr inc íp io d o Devido P r o cesso Lega l, ao qua l não no s ca be
abo r dar nest a o po rt unidade.
330
P act o de S ão Jo sé da Co st a Ric a, art . 8, 1 ( ORGANI Z AÇ ÃO DOS E S T ADOS
AME RI C ANOS . P act o de S an J o sé de Co st a R ica . D ispo níve l e m: <
ht t p: // www. pge. sp. go v. br / cent r o deest udos/ bib l io t ecavir t ua l/ inst r u me nt o s/ sanjo se. ht m>.
Ace sso e m: 29 Dez. 2009) . ; e no caso do Br asil, Co nst it u ição Feder a l Br as i le ir a, art . 5ª,
LXXVI I I . ( BRAS I L. Co nst it u iç ão da Repúbl ica Feder at iva do Br as il de 1988 . D ispo níve l
e m: < ht t p: / / www. pla na lt o . go v. br / cc ivi l_ 03/ co nst it u icao / co nst it u icao . ht m>. Ace s so em: 29
Dez. 2009) .
331
E YME RI CO, Nico lau. Ma nua l da I nqu is ição . ( Cur it iba: Jur uá E dit o r a, 2009), p. 33.
332
OLI VE I RA, E ugênio P ace ll i d e. Reg im es Co nst it uc io na is da L iber dade P r o visó r ia . ( Rio
de Jane ir o : 2007, Lu me n Jur is) . p. 42.
154
333
P r evist o no art . XI, 1 da Declar ação Univer sa l do s D ir e it o s Hu ma no s ( DE CLARAÇ ÃO
UNI VE RS AL DOS D I RE I T OS HUMAN OS . Adot ada e pro cla mada pe la r eso luç ão 217 A
( I I I) da Ass e mblé ia Ger a l das Na çõ es U nidas . D ispo nív e l e m:
<ht t p: / / port al. m j. go v. br / sed h/ ct / leg is_ int er n/ dd h_ bib_ int er _univer s a l. ht m>. Ace s so e m: 29
Dez. 2013) , depo is no Ar t . 8, 2 do P act o de S ão Jo sé da Co st a Rica ( ORG ANI Z AÇÃO DOS
E S T ADOS AME RI C AN OS . P act o de S an Jo sé de Co st a Rica . D ispo nív e l e m: <
ht t p: // www. pge. sp. go v. br / cent r o deest udos/ bib l io t ecavir t ua l/ inst r u me nt o s/ sanjo se. ht m>.
Ace sso e m: 29 Dez. 2013) , e fina l me nt e no art . 5º , LVI I da Co ns t it uição Feder a l Br as ile ir a
de 1988. ( BRAS I L. Co nst it uição da Repúbl ica Feder at iva do Br as il de 1988 . D ispo níve l
e m: < ht t p: / / www. pla na lt o . go v. br / cc iv i l_ 03/ co nst it u icao / co nst it u icao . ht m>. Aces - so e m: 29
Dez. 2013. )
334
NE T O, Jo sé de As s is S a nt iago . E st ado De mo cr át ico de D ir e it o e P r o cesso P ena l
Acu sat ór io . ( Rio de Jane ir o : 2012, Lu me n Jur is) . p. 154.
155
335
Alé m des ses inst it ut o s, é impo r t ant e dest acar que o co nce it o de jur isd ição fo r mado na
mo der nidade, s e mu nic ia de o ut ro s pr inc íp io s, que, me s mo não r esu lt a ndo s e mpr e de
no r ma e xpr es sa, pr o po r cio na m ao pr o cesso cr im ina l cer t a imu nidade ao mo de lo jud ic ia l
inqu is it ó r io . Co mo r e lac io na m - s e ap e na s ind ir et a me nt e co m ut iliz ação inst it uc io na lizad a
da t o rt ur a, deve m ap e nas ser me nc io na do s. S ão o s segu int es, na co ncepção d e Car r e ir a
Alv i m: P r inc íp io da invest idur a ; pr inc íp io da ader ê nc ia ao t er r it ór io ; pr i nc íp io da
inde lega bi l idade ; pr inc íp io da indec l in abi l idade ; pr inc íp io do ju iz nat ur al; pr inc íp io da
inér c ia e pr inc íp io da nul a poena si ne i ndi ci o. ( ALVI M, Jo sé E duar do Ca r r eir a. E le me nt o s
de T eo r ia Ger a l do P ro cesso . ( Rio de Jane ir o : 1998, Fo r ense) . p. 60 - 65).
336
T HE ODORO JÚNI OR, Humber t o . Cur so de Dir e it o Pro cessua l C iv i l - T eo r ia ger a l do
d ir e it o pro cessua l c iv i l e pr o cesso de co nhec i me nt o . v. 1.( R io de Jane ir o : 2008, For e nse)
p. 16.
156
337
FAZ Z AL ARI , E lio . I nst it uição de Dir e i t o P ro cessua l. ( Ca mp ina s: 2006, Boo ksel ler ) . p.
301.
338
S AMP AI O, De nis A Ver dade no P ro cesso P ena l. A per ma nê nc ia do S ist e ma
I nqu is it o r ia l at r avés do d iscur so so br e a ver dad e ( R io de Ja ne ir o : 2010, Lu me n Ju r is) . p.
07.
339
P I NT O, Fe lipe Mar t ins. I nt ro dução cr ít ica ao Pro cesso P ena l . ( Be lo Ho r izo nt e: De l Re y,
2012) , p.
98.
157
340
I nt er essant e a co not ação que Fr amar in o dá a est e inst it ut o no exer c íc io da c o gnição
jud ic ia l. P er ce ba - se: "Me s mo depo is qu e a t ort ur a fo i a bo lida, t r azendo at r ás de s i u ma
pr o funda t r ans fo r maç ão da ver dade jud ic ia l e m ver dade su bst a nc ia l, de fo r ma l qu e er a no s
ind íc io s nec es sár io s par a a ap lica ção da t ort ur a e na co nfis são co m e la o bt id a, me s mo
depo is, d iz ia, se m o exped ie nt e da co nfi ssão , r ar as vezes e não se m t r aba lho s, t er ia o ju iz
so ber ano po d ido dese mbar aç ar a pr ó pr ia co nsc iê nc ia, se mpr e a fe it a ao há bit o fo r ma l íst ico ,
de nu mer o sas co nt r ad içõ es e m que, a t o do inst ant e, ma is se de ixa va e nr edar na s fr ia s
in fo r maçõ es co lhida s no s aut o s escr i t o s: pr inc ipa l me nt e par a a pr o va espec í f ica de aut o r ia
do fat o imput ado e sua cu lpa, u ma lut a e nt r e inqu ir ido r e inqu ir ido que se ma nt inha,
t o davia, co mo co nsequênc ia nece ssá r ia daque le s ist e ma". ( M AL AT E S T A, Nico la
Fr a mar ino De i. A Ló g ic a das P r o vas em Mat ér ia Cr im ina l. ( S ão P aulo : 1995, Co na n) . p.
07) .
341
MI T T E RMAI E R, Car l Jo seph Ant o n. T r at ado da P ro va e m Mat ér ia Cr i m ina l ou
E xpo s ição Co mpar ada. ( Ca mp ina s: 2008, Boo kse ller ) . p. 252.
342
FE RRI , E nr ico . P r inc íp io s de D ir e it o Cr imina l - O Cr imino so e o Cr ime.
( Ca mp ina s: 2003, Russe l l) . p. 28.
158
343
"[ . . .] são inút e is o s t o r me nt o s, po is é i nút il a co nf is são do r éu". ( BE CCARI A, Cesar e
Bo nesa na. Do s de lit o s e das penas. ( S ão P aulo : Mar t ins Fo nt es, 2005) p. 69).
344
Daqu i sur ge o e mbr ião par a o s at ua lme n t e ava nçado s e st udo s so br e ver dade no p r o cesso
pena l, que fo r am d iscut ida s a nt er io r me nt e.
345
E ainda so br e o que ve m a ser a per cepç ão de ver dade, cabe quest io nar : “A e xpr essão da
ver dade, na co nd ição de pr o dução me nt al, est á vincu lada a inú mer as co nt ing ênc ia s de
l inguage m, p r ó pr ias da p lur a l idade d e cu lt ur as, da var iedade de vo cabu lá r io s e de
s ig ni f icaç ão e, po rt ant o , a ver dade est ar ia r eduz ida a u ma s i mp les cr iação hu ma na, cu ja
va l idade e st ar ia pr evia me nt e co nd ic i o nada po r event ua is li m it e s de co municaç ão ".
( P I NT O, Fe lipe Ma r t ins. I nt r o dução cr ít ica ao P ro cesso P ena l . ( Be lo Ho r izo nt e: De l Re y,
2012) , p. 86) .
346
MI T T E RMAI E R, Car l Jo seph Ant o n. T r at ado da P ro va e m Mat ér ia Cr i m ina l ou
E xpo s ição Co mpar ada. ( Ca mp ina s: 2008, Boo kse ller ) . p. 255.
159
347
Nesse ca m inho e st ão as d ispo s içõ es d o Có digo de P ro cesso P ena l Br as i le ir o e m r elação
ao va lo r da co nfis são : Ar t . 197. O va l o r da co nfis são se a fer ir á pe lo s cr it ér io s ado t ado s
par a o s o ut ro s e le me nt o s de pr o va, e par a a sua apr ec iação o ju iz d e ver á co nfr o nt á - la co m
as de ma is pr o vas do pr o ces so, ver if ica ndo se e nt r e e la e est as e xist e co mpat ibi l idade o u
co nco r dânc ia; Ar t . 198. O silê nc io d o acusado não impo r t ar á co nfis são , mas po der á
co nst it u ir e le me nt o par a a fo r ma ção do co nve nc i me nt o do ju iz ; Ar t . 199. A co nfis são ,
quando fe it a fo r a do int er r o gat ór io , ser á t o mada po r t er mo no s aut o s, o bser vado o d ispo st o
no art . 195 ( S e o int er ro gado não so uber escr ever , não puder o u não quiser as s in ar , t al fat o
ser á co ns ig nado no t er mo . ) ; Ar t . 200. A co nfiss ão ser á divis íve l e r et r at áve l, se m pr e ju ízo
do livr e co nve nc ime nt o do ju iz, fu nd a do no exa me da s pr o vas e m co nju nt o. ( BRAS I L.
Decr et o le i nº . 3. 689, de 3 de o ut ubr o de 1941. Dispo níve l e m:
<ht t p: / / www. pla na lt o . go v. br / cc ivi l_03/ d ecr et o - le i/ de l3689co mp i lado . ht m>. Aces so em: 29
Dez. 2013. ).
348
MI T T E RMAI E R, Car l Jo seph Ant o n. T r at ado da P ro va e m Mat ér ia Cr i m ina l ou
E xpo s ição Co mpar ada. ( Ca mp ina s: 2008, Boo kse ller ) . p. 243.
160
" A co nst r ução do co nhec i me nt o pro duzido no pro cesso jur isd ic io na l
não aut o r iza, ao co nt r ár io do que algu ns sust e nt a m, a se fa lar e m
u ma ver dade ma is pr ó xima da r ea l ida de e o ut r a me no s, po is, a
ver dade ad vir á de u ma "co nver s ação her me nêut ica ", e m que o s
par t ic ipa nt es, at r avés do " int er câ mbio d e o p iniõ es " a lca nçar ão u ma
l inguage m e u m r esu lt ado co mu ns" 353.
349
MI T T E RMAI E R, Car l Jo seph Ant o n. T r at ado da P ro va e m Mat ér ia Cr i m ina l ou
E xpo s ição Co mpar ada. ( Ca mp ina s: 2008, Boo kse ller ) . p. 249.
350
MI T TE RMAI E R, o p. cit . , p. 253.
351
“A e xpr es são da ver dade, na co nd iç ão de pr o dução me nt a l, est á vincu lada a in ú mer as
co nt ingê nc ia s de l inguage m, pr ó pr ias da p lur a l idade de cu lt ur as, da var i edade de
vo cabu lár io s e de s ig ni f icação e, po rt ant o , a ver dade est ar ia r eduz ida a u m a s imp le s
cr iação hu ma na, cu ja va l idade est ar ia p r evia me nt e co nd ic io nada po r eve nt ua is l i m it es d e
co mu nica ção . ( P I NT O, Fe lipe Mar t ins . I nt ro dução cr ít ica ao P ro cesso P ena l . ( Be lo
Ho r izo nt e: De l Re y, 2012) , p. 86).
352
“De nt r e as inú mer as d is cus sõ es que ver sa m so br e a ver dade que s e ap lica m,
espec i fic a me nt e, à ver dade pr o cessua l, cu mpr e me nc io nar t r ês ar gu me nt o s que r epe le m a
po ss ibi lid ade de o bt er a ver dade no pro cesso so b a ót ica da t eo r ia da co r r espo ndênc ia :
i mpo ss ibi l idad e ideo ló g ica, t eó r ica e pr át ica” ( P I NT O, o p. cit . , p. 82).
353
P I NT O, o p. cit . , p. 132.
161
354
"A co nd ição do E st ado Demo cr át ico de D ir e it o deflagr a de co r r ênc ia s d ir et as e inc is iva s
par a o exer c íc io do P o der Jur isd ic io na l, pr imo r d ia l me nt e na e s fer a cr im ina l,
est abe lece ndo , at r avés de u ma ep ist e mo lo g ia gar a nt ist a, o s sig no s at r avés do s qua is s e
co nst r uir á a ver dade no pr o cesso , sig no s est es que pr eco niza m a par t ic ipa ção equê nim e
das par t es e m co nt r ad it ór io na co nst r ução do pro vime nt o e o r eco nhec i me nt o de li m it e s
be m de fin ido s par a a int er ve nç ão do s dir e it o s das pesso as". ( PI NT O, o p. cit . , p. 91) .
355
Vi de : “Ap e nas no sécu lo at ual é que se co nsegu iu de s ve nc i lhar o pro cesso civ i l d as
pr o vas t ar ifadas, o u se ja, do s ist e ma de pr o vas pr é - va lo r izadas p e lo d ir e it o po sit ivo ”.
( T HE ODORO JÚNI OR, Hu m ber t o . Cur so de D ir e it o P ro cessua l C iv i l - T eo r ia ger a l do
d ir e it o pro cessua l c iv i l e pr o cesso de co nhec i me nt o . v. 1.( R io de Jane ir o : 2008, For ense)
p. 16).
356
E st e pr inc íp io , que do mina o pro cesso qua lquer que se ja o co nt eúdo da lide ( pena l, c ivi l
o u t r aba lhist a) , assegur a qu e o s at o s processua is se ja m pú bl ico s, quer d iz er , fr a nqueado s a
que m o s que ir a ass ist ir . S ua ap lic ação se r eve la co m ma is int e ns idad e naque la fa se e m qu e
o at o pro cessua l se e xt er io r iza at r avés da pa la vr a o r a l ( aud iê nc ia s) . ( AL VI M, Jo sé
E duar do Car r e ir a. E le me nt o s de T eo r ia Ger a l do P r o cesso . ( R io de Ja ne ir o : 1998, Fo r ense) .
p. 199).
162
357
Vi de no t a nº 20.
358
ALVI M, Jo sé E duar do Car r eir a. E le me nt o s de T eor ia Ger a l do P ro cesso . ( R io de
Ja ne ir o : 1998, Fo r ense) . p. 74.
359
O pr inc íp io da pu blic idade do pr o cesso co nst it u i u ma pr ec io sa g ar a nt ia do ind iv íduo no
t o cant e ao exer c íc io da jur isd ição . A pr ese nça do público na s aud iê nc ias e a poss ib i lid ade
do exa me do s aut o s po r qualquer pes so a r epr esent a m o ma is segur o inst r ume nt o de
f isca l iz ação po pular so b r e a o br a do s m ag ist r ado s, pro mo t o r es públ ico s e ad vo gado s. E m
ú lt ima a ná lis e, o po vo é o ju iz do s ju í zes. E a r e spo nsa bi l idade das dec isõ es jud ic ia i s
assu me o ut r a dime ns ão , quando t ais dec i sõ es hão de ser t o mada s e m aud iê nc ia p úbl ica, na
pr esença do po vo " . ( CI NT RA, Ant ô nio Car lo s de Ar aú jo ; GRI NOVE R, Ada P e llegr ini ;
DI NAM ARCO, C â nd ido Range l. T eo r ia Ger a l do P r o cesso . (S ão P aulo : 2008, Ma lhe ir o s) .
p. 75).
163
360
CI T RA, o p. cit ., p. 77.
361
A pu blic idade pr et end ida p ar a o pr o cesso pena l, t o davia, não po de se vo lt ar co nt ra o
acusado . No s caso s em que sua e xpo s ição po ssa t r azer - lhe pr e ju ízo é r azo áve l que se
l i m it e a publ ic idade do pro cedime nt o jud ic ia l, de nt ro do necessár io . ( AL VI M, Jo sé
E duar do Car r e ir a. E le me nt o s de T eo r ia Ger a l do P r o cesso . ( R io de Ja ne ir o : 1998, F o r ense) .
p. 76).
362
CI NT RA, Ant ô nio Car lo s de Ar aú jo ; GRI NOVE R, Ada P e l legr in i; DI NAM AR CO,
Câ nd ido Rang e l. T eo r ia Ger a l do P ro cesso . ( S ão P au lo : 2008, Ma lhe ir o s) . p. 75.
164
363
E so br e e ss e co nc e it o de o r dem leg í t ima, Har be ma s: "O car át er de co mu m acordo
pr ó pr io ao ag ir co mu nit ár io co ns ist e em que o s int egr ant es de u m gr upo r eco nheç a m a
o br igat or ied ade de su as no r ma s de açã o e sa iba m, u ns so br e o s o ut ro s, que se se nt e m
mut ua me nt e o br igado s a segu ir as r egr as" ( H ABE RM AS , Jür ge n. T eo r ia do Ag ir
Co mu nic at ivo - Rac io na l idade da Ação e Rac io na liz ação S o cia l. ( S ão P aulo : 2012, Mart ins
Fo nt es) . p. 342).
364
I mpo rt ant e a not a de Fr eder ico Mar q ues co mpar a ndo o D ir e it o P ro cessua l P ena l ao
P ro cessua l C ivi l na co nt e mpo r ane idad e , apesar da o r ige m co mu m e da apr o ximação de
suas c iê nc ia s: “Ape sar das o br as e pr o duçõ es c it adas, o Dir e it o P ro cessua l P e na l a inda não
a lca nço u, no ca mpo da do ut r ina jur íd ica , o r ealce qu e mer ec ia t er . P r eso o r a ao ens ino do
D ir e it o P ena l, o r a ao Dir e it o P ro cessua l C iv i l, não at ing iu o mes mo níve l de
dese nvo lvi me nt o cult ur al a que e ss as du as c iê nc ia s co nsegu ir a m su bir ”. ( M ARQ UE S , Jo sé
Fr eder ico . E le me nt o s do Dir e it o Pro cess ua l P e na l. v. 1. ( Ca mp inha s: 2009, M il le nniu m) . p.
95) .
165
Assim, resta por derradeiro, abordar a questão, para demon strar essa
etapa final de afastamento da tortura em decorrência do pensamento
humanista. Cabe, para tanto, descrever o processo histórico de tipificação a
tortura, tomando por base o ordenamento jurídico brasileiro e o
desenvolvimento histórico de suas lei s nesse sentido, separando -se a análise
entre a legislação anterior e posterior à Constituição Federal de 1988.
"Em caso nenhum possa alguém ser lançado em segredo ou masmorra estreita,
escura, ou infeta, pois que a prisão deve só servir para guardar as pessoas e nunca
adoecer e flagelar; ficando implicitamente abolido para sempre o uso de corrente, de
algemas, grilhões e outros quaisquer feros inventados para martirizar homens ainda
não julgados a sofrer qualquer pena aflitiva por sentença final" 366.
365
FE RRI , E nr ico . P r inc íp io s de D ir e it o Cr imina l - O Cr imino so e o Cr ime.
( Ca mp ina s : 2003, Russe l l) . p. 37.
366
BR AS I L. Decr et o de 23 de ma io de 1821. D ispo níve l e m:
<ht t p: / / www. pla na lt o . go v. br / CCI VI L_03 / decr et o / Hist o r ico s/ DI M/ DI M - 23- 5- 1821. ht m>.
Ace sso e m: 29 Dez. 2013.
367
E S P ANHA. Or dena çõ es e le is do r eino de P ort ugal r eco p ilada s po r ma nd at o d'el Re i D.
F i lip e, o P r ime ir o . D ispo níve l e m: < ht t p: / / www1. c i. uc. pt / iht i/ pr o j/ fi l ip inas/ >. Ace sso e m:
29 Dez. 2013.
368
GOUL ART , Va lér ia D ie z S car a nce Fer na nde s. T o rt ur a e pr o va no pr o cesso pena l . ( São
P au lo : 2002, At la s) , p. 39.
369
BR AS I L. Co nst it u iç ão Po lít ica do I mp ér io do Br azil. D is po níve l e m:
<ht t p: / / www. pla na lt o . go v. br / cc ivi l_03/ c o nst it u icao / co nst it u i% C3% A7ao 24. ht m>. Ace sso
e m: 29 Dez. 2013.
168
Esse foi o tratamento jurídico à tortura até Código Penal de 1940. Nele,
a tortura é mencionada em dois pontos. Primeiramente como agra vante
genérica do art. 61, II, "d", da Parte Geral 373, repetindo o antigo tratamento
conferido pelos códigos anteriores. Depois, como qualificadora do crime de
homicídio (art. 121, §2º, III) na Pa r te Especial 374.
370
E não fo i po r me no s que o pr ime ir o Có digo de P r o cesso P ena l br as i le ir o , em 1832,
det er mino u no art . 94, qu e "a co nfis são do r éo em Ju izo co mpet ent e, sendo livr e,
co inc id indo co m as c ir cu mst a nc ias do fact o , pro va o delict o ; mas, no caso de mo r t e, só
pó de suje it a - lo á pena i m med iat a, quando não ha ja o ut r a pro va". ( BR AS I L. Le i de 29 de
no ve mbr o de 1832. D ispo níve l e m: < ht t p: / / www. pla na lt o . go v. br / cc ivi l_03/ Le is/ LI M/ LI M -
29- 11- 1832. ht m>. Ace sso e m: 29 Dez. 2013) .
371
Ar t . 17, 2º : Quando a dô r phys ica fô r aug me nt ada ma is que o o r dinar io po r a lgu ma
c ir cu mst anc ia e xt r ao r dinar ia. ( BR AS I L. Le i d e 16 de deze mbr o de 1830. Dis p o níve l e m:
<ht t p: / / www. pla na lt o . go v. br / cc ivi l_03/ le is/ l i m/ l im - 16- 12- 1830. ht m>. Ac es so em: 29 Dez.
2013) .
372
Ar t . 39: § 16. T er sido co mmet t ido o cr ime est ando o o ffe nd ido so b a sua im med iat a
pr ot ecção da aut o r idade pu bl ica. ( BR AS I L. Decr et o nº . 847, de 11 de o ut ubr o de 1890.
D ispo níve l e m: < ht t p: // leg is. se nado . go v. br / leg is la cao / L ist aP ublic aco es. act io n?id =66049>.
Ace sso e m: 29 Dez. 2013. ).
373
Ar t . 61 - S ão cir cu nst ânc ias que s e m pr e agr ava m a pena, quando não co nst it uem ou
qua li f ica m o cr ime: [ . . . ] I I - t er o agent e co met ido o cr ime: [ . . .] d) co m e mpr ego de
ve ne no , fo go, exp lo s ivo , t o rt ur a o u o ut ro me io ins id io so o u cr uel, o u de que po dia r esu lt ar
per igo co mu m. ( B R AS I L. Decr et o le i nº . 2. 848, de 7 de deze mbr o de 1940. D ispo níve l e m:
<ht t p: / / www. pla na lt o . go v . br / cc ivi l_03/ d ecr et o - le i/ de l2848co mp i lado . ht m>. Aces so em: 29
Dez. 2013. ).
374
Ar t . 121: [ . . .] , § 2° S e o ho mic íd io é co met ido : I I I - co m e mpr ego de ve ne no , fogo,
exp lo s ivo , as fix ia, t o rt ur a o u o ut ro me io ins id io so o u cr uel, o u de que po ssa r esu lt ar
per ig o co mu m ( BR AS I L, Op. cit . ) .
375
BRASIL. Lei nº. 4.898, de 9 de dezembro de 1965. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4898.htm>. Acesso em: 29 Dez. 2013.
169
376
BRAS I L. Decr et o le i nº . 1. 001, de 21 de o ut ubr o de 1969. D ispo níve l e m:
<ht t p: / / www. pla na lt o . go v. br / cc ivi l_03/ d ecr et o - le i/ de l1001. ht m>. Aces so e m: 29 Dez.
2013.
377
S OARE S , I nês V ir g ín ia P r ado ; KI S HI , S andr a Ake m i S hi mada. Me mó r ia e V er dade - A
Just iça de T r a ns ição no E st ado De mo cr át ico Br as i le ir o . ( Be lo Ho r izo nt e: 2009, E dit o r a
Fó r um) . p. 127.
378
BR AS I L. At o I nst it uc io na l nº . 5, de 13 de deze mbr o de 1968. D ispo ní ve l e m:
<ht t p: / / www. pla na lt o . go v. br / cc ivi l_03/ AI T / ait - 05- 68. ht m>. Ace sso e m: 29 Dez. 2013.
379
GOUL ART , Va lér ia D ie z S car a nce Fer na nde s. T o rt ur a e pr o va no pr o cesso pena l . ( São
P au lo : 2002, At la s) , p. 40.
170
utilizada como justificativa no citado Ato nº. 5, afirmava -se "para preservar a
Fé Católica".
380
S OARE S , I nês V ir g ín ia P r ado ; KI S HI , S andr a Ake m i S hi mada. Me mó r ia e V er dade - A
Just iça de T r a ns ição no E st ado De mo cr át ico Br as i le ir o . ( Be lo Ho r izo nt e: 2009, E dit o r a
Fó r um) . p. 79.
171
constituições de 1891, 1934, 1937, 1946, 1967, não houve menção explícita
ao instituto 381.
381
Co nfo r me d ispo níve l e m: , ht t p: / / www4. pla na lt o . g o v. br / leg is la cao / leg is la cao -
hist o r ica/ co nst it u ico es - a nt er io r es- 1>. Acesso e m: 29 Dez. 2013.
382
S OARE S , I nês V ir g ín ia P r ado ; KI S HI , S andr a Ake m i S hi mada. Me mó r ia e V er dade - A
Just iça de T r a ns ição no E st ado De mo cr át ico Br as i le ir o . ( Be lo Ho r izo nt e: 2009, E dit o r a
Fó r um) . p. 76
383
XLI I I - a le i co ns ider ar á cr ime s ina f i anç á ve is e insu scet íve is de gr aça o u anist ia a
pr át ica d a t ort ur a , o t r áfico il íc it o de e nt o r pecent es e dr o gas a fins, o t erro ris mo e o s
de fin ido s co mo cr ime s hed io ndo s, po r ele s r espo nde ndo o s ma nda nt es, o s exe cu t o r es e o s
que, po dendo evit á - lo s, se o mit ir e m. ( B RAS I L. Co nst it u ição da Repú bl ic a Fede r at iva do
Br as il de 1 988. D ispo níve l e m:
<ht t p: / / www. pla na lt o . go v. br / cc ivi l_03/ c o nst it u icao / co nst it u icao . ht m>. Ac esso e m: 29 De z.
2013) .
172
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime
fechado.
§ 2º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu
poderá apelar em liberdade.
§ 3º A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de
1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de trinta dias, prorrogável por
igual período em caso de extrema e comprovada necessidade"384.
"Art. 233. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância
a tortura:
Pena - reclusão de um a cinco anos.
§ 1º Se resultar lesão corporal grave:
Pena - reclusão de dois a oito anos.
§ 2º Se resultar lesão corporal gravíssima:
Pena - reclusão de quatro a doze anos.
§ 3º Se resultar morte:
Pena - reclusão de quinze a trinta anos"387.
384
BR AS I L. Le i nº . 8. 072, de 25 de ju lho de 1990. D ispo nív e l e m:
<ht t p: / / www. pla na lt o . go v. br / cc ivi l_03/ le is/ l8072. ht m>. Ace sso e m: 29 Dez. 2013.
385
T EI XE I RA, F lá via Ca me l lo . Da To rt ur a. ( Be lo Ho r izo nt e: 2004, Del Re y) , p. 86.
386
É a seguint e a r edação at ual de ss es d ispo s it ivo s do art . 2º da Lei 8 . 072/ 90:
I I - fia nça.
§ 1o A pe na po r cr ime pr e vist o nes t e art igo ser á cu mpr id a inic ia l me nt e em r eg i me
fec hado . ( Redação dada pela Le i nº 11. 464, de 2007)
§ 2o A pro gr essão de r egime, no caso do s co nde nado s ao s cr imes pr e vist o s ne st e art igo ,
dar - se- á apó s o cu mpr ime nt o de 2/ 5 ( do is qu int o s) da pe na, s e o ape nado fo r pr imár io , e
de 3/ 5 (t r ês quint o s) , se r einc ide nt e. ( Redação dada pela Le i nº 11. 464, de 2007)
§ 3o E m ca so de se nt ença co nde nat ór ia, o ju iz dec id ir á fu nd a me nt ada me nt e se o r éu
po der á apelar e m l iber dade. ( Redação dada pe la Le i nº 11. 464, de 2007)
§ 4o A pr is ão t empo r ár ia, so br e a qu a l d ispõ e a L e i no 7. 960, de 21 de deze mbr o de 1989,
no s cr ime s pr evist o s nest e ar t igo , t er á o pr azo de 30 (t r int a) d ia s, pro r ro gáve l por igua l
per ío do em ca so de ext r ema e co mpr o vada nece ss idad e. ( I nc lu ído pe la Le i nº 11. 464, de
2007) .
387
BR AS I L. Le i nº . 8. 069, de 13 de ju lho de 1990. D ispo nív e l e m:
<ht t p: / / www. pla na lt o . go v. br / cc ivi l_03/ le is/ l8069. ht m>. Ace sso e m: 29 Dez. 2013.
173
Seja como for, reputa -se que a tortura tenha sido definitivamente
tipificada através da Lei 9.455 de abril de 1997.
A Lei 9.455/97 resultou do Projeto de Lei n.º 4716 392, apresentado pela
Presidência da República em 22 de dezembro de 1994. Após ser votado e
aprovado às pressas, foi sancionado pelo então presidente Fernando Henrique
Cardoso em 07 de abril de 1997 , e publicado no Diário Oficial logo no outro
dia, com a seguinte redação:
388
T EI XE I RA, F lá via Ca me l lo . Da To rt ur a. ( Be lo Ho r izo nt e: 2004, Del Re y) , p. 92.
389
LE I T E, P aulo Mo r eir a. O po der da pau lada e do cho que. Ve ja, S ão P aulo , E dit o ra Abr i l,
ano 28, n. º 44, 1 No v. 1995, p. 28 - 35.
390
GOUL ART , Va lér ia D ie z S car a nce Fer na nde s. T o rt ur a e pr o va no pr o c esso pena l. ( São
P au lo : 2002, At la s) , p. 84.
391
T EI XE I RA, F lá via Ca me l lo . Da To rt ur a. ( Be lo Ho r izo nt e: 2004, Del Re y) , p. 97.
392
Dado s dispo níve is e m:
<ht t p: / / www. ca mar a. go v. br / pr o po sico esWe b/ f ic hadet r a mit acao ?idP r o po sic ao =223777>.
Ace sso e m: 29 Dez. 2013.
174
393
BR AS I L. Le i nº . 9. 455, de 7 de abr il de 1997. D ispo níve l e m:
<ht t p: / / www. pla na lt o . go v. br / cc ivi l_03/ le is/ l9455. ht m>. Ace sso e m: 29 Dez. 2013.
175
394
T EI XE I RA, F lá via Ca me l lo . Da To rt ur a. ( Be lo Ho r izo nt e: 2004, Del Re y) , p. 99.
395
LE I T E, P aulo Mo r eir a. O po der da p au lada e do cho que. Ve ja, S ão P aulo , E dit o ra Abr i l,
ano 28, n. º 44, 1 No v. 1995, p34.
176
CONCLUSÃO
396
T EI XE I RA, F lá via Ca me l lo . Da To rt ur a . ( Be lo Ho r izo nt e: 2004, Del Re y) , p. 95.
397
NE T O, Jo sé de As s is S a nt iago . E st ado De mo cr át ico de D ir e it o e P r o cesso P ena l
Acu sat ór io . ( Rio de Jane ir o : 2012, Lu me n Jur is) . p. 102.
178
posto que a utilização dos suplícios pelos sistemas jurídicos revelou ser a
“importação” de um bem sucedido sistema persecutório eclesiástico.
Ao final, julga -se ter sido apresentada com sucesso a tortura enquanto
crime, no primeiro momento, depois a origem e estabelecimento do
humanismo no século XVIII, e por fim, as influências desse humanismo no
processo penal, especificamente no sentido de se assumir t al método como um
elemento anti jurídico.
398
T ORNAGHI , Hé lio . A Re lação P ro cessu a l P e na l. ( S ão P aulo : 1987, S ar aiva) . p. 04.
180
A tortura, talvez por ter sido um dos primeiros alvos das críticas
iluministas contra o sistema inquisitorial, se assume verdadeiramente
indesejável aos ordenamentos jurídicos ocidentais modernos. A p artir do
momento em que se tor na um crime previsto em lei, o ordenamento está
assumindo que o método não apenas foi abolido do sistema persecutório,
como se tornou uma conduta punível pelo Estado , por ofensa a um valor
juridicamente protegido: a di gnidade humana.
Não se está afirmando, por evidente, que a modern idade não tenha
buscado um afastamento do processo inquisitorial. Muito pelo contrário,
reconhece -se que diversas maneiras tenha se procurado abolir, do processo
penal, as características inquisitoriais, recebendo estas, inclusive, uma
alcunha pejorativa n os tempos atuais.
A abolição formal da tortura não impede que ela seja praticada extra
legalmente. Torná -la ilegal para o sistema não é ca paz de impedir sua prática
por governos ditatoriais ou por uma polícia que aja à margem da legalidade.
É, contudo, um convite para um sistema processual penal mais humanizado e
no caminho para a realização da proposta humanista de um Estado em plena
sintonia com a dignidade humana.
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