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Bakhtin
(1895-1975) perspectiva dialógica
Volóchinov
Glória Di Fanti
(1895-1936)
PUCRS/GenTe/CNPq
Medviédev
(1891-1938)
Gêneros do Discurso
(1895-1975) Bakhtin, Volóchinov e Medviédev
• Edições no Brasil:
Estética da criação verbal – coletânea póstuma:
- 1992, tradução do francês de Maria Ermantina
Galvão Gomes Pereira (Editora Martins Fontes)
Compilação de 4 textos:
- Os gêneros do discurso (revisão da tradução)
- Diálogo I
- Diálogo II
(inéditos, publicados na Rússia em 1997)
Elementos dos gêneros em Volóchinov e Medviédev
Volóchinov (2001 [1927]) Volóchinov (2013 [1925, 1926, 1928, 1930]) Volóchinov (2019)
Tradução do russo de Organização e tradução do italiano de [ensaios: 1925, 1926, 1928, 1930]
Paulo Bezerra João Wanderley Geraldi. Organização e tradução do russo de
(Editora Perspectiva) Supervisão da tradução de Valdemir Miotello Sheila Grillo e Ekaterina Américo
(Editora Pedro & João) (Editora 34)
Conceitos inter-relacionados e fundamentais
ao entendimento de Gêneros do Discurso:
gêneros do discurso
enunciado
• A esfera de atividade humana sempre está relacionada
ao uso da linguagem.
• Há um vínculo orgânico entre a língua em uso e a
atividade humana.
• O enunciado pertence à realidade social e dela não pode ser separado: a própria
presença peculiar do enunciado é histórica e socialmente significativa. O
enunciado está intimamente relacionado com uma dada época e com as
condições sociais que lhe são características (Medviédev, 2012 [1928], p. 183).
ENUNCIADO
- viskázivanie –
• Os enunciados são as unidades reais do fluxo da linguagem. Não existe enunciado sem avaliação. Todo
enunciado é antes de tudo uma orientação avaliativa (Volóchinov, MFL, 2017 [1929], p. 22, 236).
• Nenhuma enunciação verbalizada pode ser atribuída exclusivamente a quem a enunciou: é o produto
da interação entre falantes e, em termos mais amplos, produto de toda uma situação social em que
surgiu (próxima e distante) (Volóchinov, OF, 2001 [ 1927], p. 79)
• O enunciado, como unidade da comunicação discursiva e como um todo semântico, constitui-se e toma
forma estável precisamente no processo de uma determinada interação discursiva gerada por um tipo
de comunicação social [gênero] (Volóchinov, ACE, 2019 [1930], p. 269).
O enunciado concreto na cadeia da comunicação discursiva
A avaliação social está presente em toda palavra viva, já que a palavra faz parte do
enunciado concreto e singular (Medviédev, 2012 [1928], p. 183).
Um enunciado concreto, mesmo com uma só palavra, é um ato social, pertence a uma
realidade social, é inseparável do acontecimento de comunicação. É um fenômeno
histórico (Medviédev, 2012 [1928], p. 183).
• O enunciado não é uma unidade convencional, mas uma unidade real, delimitada pela
alternância dos sujeitos do discurso (Bakhtin, 2016, p. 29).
Crítica ao Esquema de Comunicação
Enunciado como ELO na corrente complexa
organizada de outros enunciados
INTERLOCUTOR LOCUTOR
• Todo falante responde aos enunciados antecedentes (baseia-se neles, polemiza com eles, os pressupõe...) e
antecipa respostas e interroga enunciados futuros (Bakhtin, 2016 [1952-1953], p. 26).
• Todo enunciado, mesmo que seja escrito e finalizado, responde a algo e orienta-se para uma resposta.
Ele é um elo na cadeia ininterrupta de discursos verbais (Volóchinov, MFL, 2018 [1929], p. 184).
• O enunciado reage a algo e é voltado para uma resposta (Medviédev, 2012 [1928], p. 183).
Gêneros na engrenagem discursiva
• A obra, como réplica do diálogo, está disposta para a resposta do outro (dos outros), para a sua ativa
compreensão responsiva. A obra é um elo na cadeia da comunicação discursiva: está vinculada a outras
obras-enunciados (passadas a que responde e futuras a que lhe respondem) limitadas pela alternância
dos sujeitos do discurso (Bakhtin, 2016, p. 35).
• A comunicação discursiva nunca poderá ser compreendida nem explicada fora dessa ligação
com a situação concreta (Medviédev, 2012 [1928], p. 72).
• Nosso discurso, i. e., todos os nossos enunciados, é pleno de palavras dos outros, de um
grau vário de alteridade ou de assimibilidade, de um grau vário de aperceptibilidade e de
relevância. Essas palavras dos outros trazem consigo a sua expressão, o seu tom valorativo
que assimilamos, reelaboramos, e reacentuamos (Bakhtin, 2016, p. 54).
A tensão constitutiva do enunciado
• Qualquer enunciado real, em grau maior ou menor, concorda com algo ou nega algo. Os
contextos não se encontram lado a lado, como se não percebessem um ao outro, mas estão
em estado de interação e embate tenso e ininterrupto (Volóchinov, MFL, 2018[1929], p. 197).
• Compreender um enunciado alheio significa orientar-se em relação a ele, encontrar para ele
um lugar devido no contexto correspondente (Volóchinov, MFL, 2018[1929], p. 232)
2015
Avaliação social e entonação
• É pela entonação que a palavra entra em contato direto com a vida e que o falante
entra em contato com os ouvintes. A entonação é social par excellence. É sensível em
relação a todas as oscilações do ambiente social que circunda o falante.
• A relação do enunciado com sua situação e seu auditório é criada pela entonação
(Volóchinov, ACE, 2019 [1930], p. 287).
Vídeo:
Cartas
Trabalho com enunciado
concreto na escola:
gênero carta
“O tom faz a música”
• Toda palavra é ideológica, assim como cada uso da língua implica mudanças ideológicas
(p. 217).
07/09/2021
Construção de uma ciência das Ideologias
• Cada um desses campos (esferas ideológicas) tem sua linguagem, com suas formas e métodos, suas leis
específicasde refração ideológicadaexistência comum(Medviédev, 2012).
• Cada produto ideológico (ideologema) é parte da realidade social e material que circunda o homem, é
um momento do horizonte ideológico materializado(p. 50).
• O homem social está rodeado de fenômenos ideológicos, de “objetos-signo” dos mais diversos tipos e
categorias: de palavras realizadas nas suas mais diversas formas, pronunciadas, escritas e outras; de
afirmações científicas; de símbolos e crenças religiosas; de obras de arte, e assim por diante (Medviédev,
2012, p. 56).
• A própria consciência individual está repleta de signos (Volóchinov, 2018 [1929], p. 95).
• Uma consciência só pode existir como tal na medida em que é preenchida pelo conteúdo
ideológico, isto é, pelos signos, portanto apenas no processo de interação social (Volóchinov,
2018 [1929], p. 95).
• A literatura vai refratar e refletir a vida através do horizonte artístico ou literário, o qual se
insere em uma tradição que é responsável por ressignificar as personagens de um modo ou
de outro. Reflexo e refração de outras esferas ideológicas (Medviédev, 2012, p. 60).
CÁLICE
Chico Buarque e Gilberto Gil
Revista Isto é
01/04/2016
Na palavra se realizam os inúmeros
fios ideológicos que penetram todas as
áreas da comunicação social
(Volóchinov, 2018 [1929], p. 95).
Revista Veja
16 Abril de 2016
Em todo o signo ideológico cruzam-se
ênfases multidirecionadas.
O signo transforma-se
no palco da luta de classes
(Volóchinov, 2018 [1929], p. 113).
• O tema está para o sentido da totalidade do enunciado, enquanto a significação corresponde a “um
artefato técnico de realização do tema (Volóchinov, MFL, 2018 [1929], p. 229).
• O tema é uma unidade voltada para “o todo do enunciado”, um “ato sócio-histórico” (Medviédev,
2012 [1928], p. 196-197).
• A unidade temática da obra é inseparável de sua orientação original na realidade circundante...
espaciais e temporais (Ênfase ao acabamento temático (essencial) da obra literária; não relativo).
Construção composicional
• A situação social mais próxima e o ambiente social mais amplo determinam completamente a estrutura
do enunciado (Volóchinov, MFL, 2017 [1929], p. 206).
• A palavra entra no enunciado não a partir do dicionário, mas a partir da vida, passando de um enunciado a
outros. Ela passa de uma totalidade a outra sem esquecer o seu caminho. Ela entra no enunciado saturada
de avaliações (Medviédev, 2012 [1928], p. 185).
Produção do enunciado
(1) formas e tipos de interação discursiva em sua relação com as condições concretas
(esfera de atividade humana / discursiva)
(3) revisão das formas da língua em sua concepção linguística habitual (no enunciado)
Referências
• BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso [1952-1953]. Organização, posfácio, tradução e notas de Paulo Bezerra. Notas da edição russa
Serguei Botcharov. 1. ed. São Paulo: Editora 34, 2016.
• BAKHTIN, M. Estética da criação verbal [1979]. Trad. Paulo Bezerra. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
• BAKHTIN, M. Estética da criação verbal [1979]. Trad. Maria Ermantina Galvão; rev. trad. Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes,
1992.
• BAKHTIN, M. (VOLOCHINOV). Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da
linguagem. Tradução Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira com a colaboração de Lúcia Teixeira Wisnik e Carlos Henrique D. Chagas Cruz.
Prefácio Roman Jakobson. Apresentação Marina Yaguello. São Paulo: Hucitec, 1979.
• BARBOSA, V. F.; DI FANTI, M. G. C. Notas sobre gêneros do discurso em Bakhtin, Volóchinov e Medviédev. In: Décio Rocha; Bruno
Deusdará; Poliana Arantes; Morgana Pessôa (Org.). Pesquisar com gêneros discursivos: interpelando mídia e política. Rio de Janeiro:
Cartolina, 2020, p. 185-200. Disponível em: https://www.editoracartolina.com.br/em-discurso-04. Acesso em 31 de agosto de 2021.
• DOSTOIÉVSKI, F. Bobók. Tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra, desenhos de Oswaldo Goeldi. Texto de Mikhail Bakhtin. São Paulo:
Editora 34, 2012, 1ed, 96p.
• FARACO, C. A. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do Círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola, 2009.
• MEDVIÉDEV, Pavel Nikoláievitch. O método formal nos estudos literários [1928]. Introdução crítica a uma poética sociológica. Tradução
de Sheila Grillo Ekaterina Vólkova Américo São Paulo: Contexto, 2012.
Referências
• VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem [1929]. Tradução notas e glossário de Sheila
Grillo e Ekaterina Vólkova Américo; ensaio introdutório de Sheila Grillo, São Paulo: 34. 2 ed. 2018. 376 p.
• VOLÓCHINOV, V. Estilística do discurso literário II: A construção do enunciado [1930]. In: VOLÓCHINOV, V. A palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios, artigos, resenhas
e poemas. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo, São Paulo: 34. 1 ed. 2019. p. 266-305.
• VOLÓCHINOV, V. As mais novas correntes do pensamento linguístico no Ocidente [1928]. In: VOLÓCHINOV, V. A palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios, artigos,
resenhas e poemas. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo, São Paulo: 34. 1 ed. 2019. p. 147-182.
• VOLÓCHINOV, V. Sobre as fronteiras entre a poética e a linguística [1930]. In: VOLÓCHINOV, V. A palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios, artigos, resenhas e poemas.
Organização, tradução, ensaio introdutório e notas de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo, São Paulo: 34. 1 ed. 2019. p. 183-233.
• VOLÓCHINOV, V. Estilística do discurso literário I: O que é linguagem/língua [1930]. In: VOLÓCHINOV, V. A palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios, artigos, resenhas e
poemas. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo, São Paulo: 34. 1 ed. 2019. p. 234-265.
• VOLOCHINOV, V. N. A construção da enunciação [1930]. In: ______. A construção da enunciação e outros ensaios. Trad. J.W. Geraldi. São Carlos: Pedro & João, 2013. p. 157-
189.
• VOLOCHÍNOV, V. N. (M. BAKHTIN). A palavra na vida e na poesia: introdução ao problema da poética sociológica. In: ______. Palavra própria e palavra outra na sintaxe da
enunciação [1926]. Trad. Allan Pugliese et al. São Carlos: Pedro & João Editores, 2011.
• VOLÓCHINOV, V. Estilística do discurso literário II: A construção do enunciado [1930]. In: VOLÓCHINOV, V. A palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios, artigos, resenhas
e poemas. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo, São Paulo: 34. 1 ed. 2019. p. 266-305.
• VOLÓCHINOV, V. Estilística do discurso literário III: A palavra e sua função social [1930]. In: VOLÓCHINOV, V. A palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios, artigos,
resenhas e poemas. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo, São Paulo: 34. 1 ed. 2019. p. 306-336.
• VOLÓCHINOV, V. N. (M. BAKHTIN). O freudismo: um esboço crítico (1927). Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Perspectiva, 2001.
Obrigada!
gdifanti@gmail.com