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Os gêneros do discurso  O estudo da natureza do enunciado e da

BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. Trad. Paulo diversidade de formas de gênero dos enunciados
Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2016.
nos diversos campos da atividade humana é de
Os gêneros do discurso enorme importância para quase todos os campos da
lingüística e da filologia. Porque todo trabalho de
I- O problema e sua definição investigação de um material linguístico concreto
[...] opera inevitavelmente com enunciados
 Todos os diversos campos da atividade humana concretos (escritos e orais) relacionados a diferentes
estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-se campos da atividade humana e da comunicação [...].
perfeitamente que o caráter e as formas desse uso O desconhecimento da natureza do enunciado e a
sejam tão multiformes. [...] O emprego da língua relação indiferente com as peculiaridades das
efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos). diversidades de gênero do discurso em qualquer
(p. 11) – Nota de rodapé: Bakhtin não faz distinção campo da investigação lingüística redundam em
entre enunciação e enunciado, ou melhor, emprega formalismo e em uma abstração exagerada,
o termo viskázivanie quer para o ato de produção deformam a historicidade da investigação, debilitam
do discurso oral, quer para o discurso escrito, o as relações da língua com a vida. (p. 16)
discurso da cultura, um romance já publicado e
absorvido por uma cultura, etc.  A Estilística. Todo estilo está indissoluvelmente
ligado aos enunciados e às formas típicas de
 O conteúdo temático, o estilo, a construção enunciados, ou seja, os gêneros do discurso. Todo
composicional – estão indissoluvelmente ligados no enunciado – oral e escrito, primário e secundário e
conjunto do enunciado e são igualmente também em qualquer campo da comunicação
determinados pela especificidade de um campo da discursiva é individual e por isso pode refletir a
comunicação. Evidentemente, cada enunciado individualidade do falante (ou de quem escreve),
particular é individual, mas cada campo de isto é, pode ter estilo individual. Entretanto, nem
utilização da língua elabora seus tipos relativamente todos os gêneros são igualmente propícios a tal
estáveis de enunciados, os quais denominados reflexo da individualidade do falante na linguagem
gêneros do discurso. (p. 12) do enunciado, ou seja, ao estilo individual. Os mais
favoráveis são os gêneros da literatura de ficção.[...]
 Cabe salientar em especial e extrema Na imensa maioria dos gêneros discursivos (exceto
heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais e nos artístico-literários), o estilo individual não faz
escritos). (p. 12) parte do plano do enunciado, não serve como um
objeto seu mas é, por assim dizer, um epifenômeno
 Jamais se deve minimizar a extrema do enunciado, seu produto complementar. (p. 17-8)
heterogeneidade dos gêneros discursivos e a
dificuldade daí advinda de definir a natureza geral  Em cada campo existem e são empregados
do enunciado. Aqui é de especial importância gêneros que correspondem às condições específicas
atentar para a diferença essencial entre os gêneros de dado campo; é a esses gêneros eu correspondem
discursivos primários (simples) e secundários determinados estilos. Uma função e certas
(complexos) – não se trata de uma diferença condições de comunicação discursiva, específicas
funcional. Os gêneros discursivos secundários de cada campo, geram determinados gêneros, isto é,
(complexos – romances, dramas, pesquisas determinados tipos de enunciados estilísticos,
científicas de toda espécie, os grandes gêneros temáticos e composicionais relativamente estáveis.
publicísticos, etc.) surgem nas condições de um (p. 18)
convívio cultural mais complexo e relativamente
muito desenvolvido e organizado  A separação dos estilos em relação aos gêneros
(predominantemente o escrito). [...] No processo de manifesta-se de forma particularmente nociva na
sua formação eles incorporam e reelaboram elaboração de uma série de questões históricas. As
diversos gêneros primários (simples), que se mudanças históricas dos estilos de linguagem estão
formaram nas condições da comunicação discursiva indissoluvelmente ligadas às mudanças dos gêneros
imediata. (p. 15) do discurso. A linguagem literária é um sistema
dinâmico e complexo de estilos de linguagem; [...] equívoco nas perspectivas do falante ativo e do
Para entender a complexa dinâmica histórica desses ouvinte passivo.
sistemas, [...] faz-se necessária uma elaboração
especial da história dos gêneros discursivos que  [...] o ouvinte, ao perceber e compreender o
refletem de modo mais imediato, preciso e flexível significado (linguístico) do discurso, ocupa
todas as mudanças que transcorrem na vida social. simultaneamente em relação a ele uma ativa posição
Os gêneros discursivos são correias de transmissão responsiva: concorda ou discorda dele (total ou
entre a história da sociedade e a história da parcialmente) [...] essa posição responsiva do
linguagem. (p. 20) ouvinte se forma ao longo de todo o processo de
audição e compreensão. (p. 25)
 Quando recorremos às respectivas camadas não
literárias da língua nacional, estamos  Portanto, toda compreensão plena real é
inevitavelmente recorrendo também aos gêneros do ativamente responsiva [...]. O próprio falante está
discurso em que se realizam essas camadas. [...] determinado precisamente a essa compreensão
Onde há estilo há gênero. A passagem do estilo de ativamente responsiva. (p. 25-6) dialogismo
um gênero para outro não só modifica o caráter do
estilo nas condições do gênero que não lhe é próprio  O discurso só pode existir de fato na forma de
como também destrói ou renova tal gênero. (p. 21) enunciados concretos de determinados falantes,
sujeitos do discurso. O discurso sempre está fundido
 A gramática (e o léxico) se distingue em forma de enunciado pertencente a um
substancialmente da estilística [...], mas ao mesmo determinado sujeito do discurso, e fora dessa forma
tempo nenhum estudo de gramática pode dispensar não pode existir. (p. 28)
observações e incursões estilísticas. Em toda uma
série de casos é como se fosse obliterada a fronteira  Os limites de cada enunciado concreto como
entre a gramática e a estilística. (p. 21) unidade da comunicação discursiva são definidos
pela alternância dos sujeitos do discurso. Todo
 Pode-se dizer que a gramática e a estilística enunciado – da réplica sucinta (monovocal) do
convergem e divergem em qualquer fenômeno diálogo cotidiano ao grande romance ou tratado
concreto de linguagem: se o examinamos apenas no científico – tem, por assim dizer, um princípio
sistema da língua estamos diante de um fenômeno absoluto e um fim absoluto: antes do seu início, os
estilístico. Porque a própria escolha de uma enunciados de outros; depois do seu término, os
determinada forma gramatical pelo falante é um ato enunciados responsivos de outros (ou ao menos
estilístico. (p. 22) uma compreensão ativamente responsiva silenciosa
do outro [...]). [...] O enunciado é uma unidade real,
 2. O enunciado como unidade da comunicação delimitada com precisão pela alternância dos
discursiva. Diferença entre essa unidade e as sujeitos do discurso e que termina com a
unidades da língua (palavras e orações) transmissão da palavra ao outro [...] (p. 29)

 No século XIX, Wilhelm Humbolt, sem negar a  Essa alternância dos sujeitos do discurso, que cria
função comunicativa da linguagem, procurou limites precisos do enunciado nos diversos campos
colocá-la em segundo plano, como algo secundário; da atividade humana e da vida. (p. 29)
promovia-se ao primeiro plano a função de
formação do pensamento. (p. 23) linguagem como  Oração como unidade da língua naquilo que a
expressão do pensamento diferenciada do enunciado como unidade da
comunicação discursiva (p. 31)
 O falante e o ouvinte sugere-se um esquema de
processos ativos de discurso no falante e de  A oração enquanto unidade da língua tem
respectivos processos ativos de discurso no falante e natureza gramatical, fronteiras gramaticais, lei
de respectivos processos passivos de recepção e gramatical e unidade. (p. 33)
compreensão do discurso no ouvinte. (p. 24)
 Complexas por sua construção, as obras seguida, a intenção discursiva do falante, com toda
especializadas dos diferentes gêneros científicos e a sua individualidade e subjetividade, é aplicada e
ficcionais, [...] também estão nitidamente adaptada ao gênero escolhido, constitui-se e
delimitadas pela alternância dos sujeitos do desenvolve-se em determinada forma de gênero. (p.
discurso, cabendo observar que essas fronteiras, ao 38)
conversarem a precisão externa, adquirem um
caráter interno graças ao fato de que o sujeito do  Nossos enunciados têm formas relativamente
discurso – neste caso o autor de uma obra – aí estáveis e típicas de construção do conjunto. [...]
revela a sua individualidade no estilo, na visão de falamos por gêneros diversos sem suspeitar se sua
mundo, em todos os elementos da ideia de sua obra. existência. Até mesmo no bate-papo mais
[...] A obra é um elo na cadeia de comunicação descontraído e livre moldamos o nosso discurso por
discursiva; como a réplica do diálogo, está certas formas de gênero, às vezes padronizadas e
vinculada a outras obras – enunciados: com aquelas estereotipadas, às vezes mais flexíveis, plásticas e
às quais ela responde, e com aquelas que lhe criativas. Esses gêneros do discurso nos são dados
respondem; ao mesmo tempo, à semelhança da quase da mesma forma que nos é dada a língua
réplica do diálogo, ela está separa daquelas pelos materna, a qual dominamos livremente até
limites absolutos da alternância dos sujeitos do começarmos o estudo teórico da gramática. A
discurso. (p. 35) língua materna – sua composição vocabular e sua
estrutura gramatical – não chega ao nosso
 A alternância dos sujeitos do discurso [...] é a conhecimento a partir de dicionários e gramáticas,
primeira peculiaridade constitutiva do enunciado mas de enunciados concretos que nós mesmos
como unidade da comunicação discursiva [...] a ouvimos e nós mesmos reproduzimos na
segunda peculiaridade é a conclusibilildade comunicação discursiva viva com as pessoas que
específica do enunciado. (p. 35) nos rodeiam. Assimilamos as formas da língua
somente nas formas dos enunciados e justamente
 A conclusibilidade do enunciado é uma espécie de com essas formas. As formas língua e as formas
aspecto interno da alternância dos sujeitos do típicas dos enunciados, isto é, os gêneros do
discurso. [...] O primeiro e mais importante critério discurso, chegam à nossa experiência e à nossa
de conclusibilidade do enunciado é a possibilidade consciência juntas e estreitamente vinculadas.
de responder a ele, de ocupar em relação a ele uma Aprender a falar significa aprender a construir
posição responsiva. [...] Alguma conclusibilidade é enunciados. [...] Os gêneros do discurso organizam
necessária para que se possa responder ao o nosso discurso quase da mesma forma que o
enunciado. [...] Uma oração absolutamente organizam as formas gramaticais (sintáticas). Nós
compreensível e acabada não pode suscitar em aprendemos a moldar o nosso discurso em formas
atitude responsiva (p. 35-6) de gênero e, quando ouvimos o discurso alheio, já
adivinhamos o seu gênero pelas primeiras palavras,
 A intenção discursiva [...] determina tanto a adivinhamos certo volume, uma determinada
própria escolha do objeto quanto os seus limites e construção composicional, prevemos o fim, isto é,
sua exauribilidade semântico-objetal. Ele, desde o início temos a sensação do conjunto do
evidentemente, também determina a escolha da discurso. Se os gêneros do discurso não existissem e
forma do gênero na qual será construído o nós não os dominássemos, se tivéssemos de criá-los
enunciado. (p. 37) pela primeira vez no processo do discurso, de
construir livremente cada enunciado e pela primeira
 As formas estáveis de gênero do enunciado. A vez, a comunicação discursiva seria quase
vontade discursiva do falante se realiza antes de impossível. (p. 38-9)
tudo na escolha de certo gênero de discurso. Essa
escolha é determinada pela especificidade de um  As formas do gênero [...] são bem mais flexíveis,
dado campo da comunicação discursiva, por plásticas e livres que as formas da língua. Também
considerações semântico-objetais (temáticas), pela neste sentido a diversidade dos gêneros do discurso
situação concreta da comunicação discursiva, pela é muito grande. [...] A diversidade desses gêneros é
composição pessoal dos seus participantes, etc. Em determinada pelo fato de que eles diferem entre si
dependendo da situação. (p. 39)
palavra, e só funcionando como um enunciado
 Esses gêneros requerem ainda certo tom, isto é, pleno ela se torna expressão da posição do falante
incluem em sua estrutura determinada entonação individual em uma situação concreta de
expressiva. (p. 40) comunicação discursiva. Isto nos leva a uma nova, a
uma terceira peculiaridade do enunciado – a relação
 Paralelamente a semelhantes gêneros do enunciado com o próprio falante (autor do
padronizados, existiam e existem, é claro, gêneros enunciado). (p. 46)
mais livres e mais criativos de comunicação
discursiva oral (por enquanto não existe um  Todo enunciado é um elo na cadeia de enunciação
nomenclatura dos gêneros do discurso oral e discursiva. (p. 47)
tampouco está claro o princípio de tal
nomenclatura). (p. 40)  Elemento expressivo é a relação subjetiva
emocionalmente valorativa do falante com o
 Com frequência, uma pessoa que tem pleno conteúdo do objeto e do sentido do seu enunciado
domínio do discurso em diferentes campos da [...] um enunciado absolutamente neutro é
comunicação cultural em uma conversa mundana impossível. A relação valorativa do falante com o
cala ou intervém de forma muito desajeitada. (p. 41) objeto do seu discurso (seja qual for esse objeto)
também determina a escolha dos recursos lexicais,
 Os gêneros do discurso, comparados às formas da gramaticais e composicionais do enunciado. O
língua, são bem mais mutáveis, flexíveis e plásticos; estilo individual do enunciado é determinado
entretanto, para o indivíduo falante eles têm sobretudo por seu aspecto expressivo. No campo da
significado normativo, não são criados por ele mas estilística, pode-se considerar essa tese
dados a ele. (p. 42) universalmente aceita. (p. 47)

 O gênero escolhido nos sugere os tipos e os seus  A língua como sistema tem, evidentemente, um
vínculos composicionais. (p. 43) rico arsenal de recursos linguísticos – lexicais,
morfológicos e sintáticos – para exprimir a posição
 A oração enquanto unidade da língua é desprovida emocionalmente valorativa do falante, mas todos
da capacidade de determinar imediata e ativamente esses recursos enquanto recursos da língua são
a posição responsiva do falante. Só depois de absolutamente neutros em relação a qualquer
tornar-se um enunciado pleno, uma oração avaliação real determinada. (p. 47)
particular adquire essa capacidade. Qualquer oração
pode figurar como enunciado acabado, mas, neste  As palavras não são de ninguém, si mesmas nada
caso, é completada por uma série de elementos valorizam, mas podem abastecer qualquer falante e
essências de índole não gramatical, que lhe os juízos de valor mais diversos e diametralmente
modificam a natureza pela raiz. [...] ao analisar-se opostos dos falantes. (p. 48)
uma oração isolada destacada do contexto, inventa-
se promovê-la a um enunciado pleno. (p. 44-5)  A oração enquanto unidade da língua é neutra em
si mesma e não tem aspecto expressivo; ela o
 É impossível ocupar uma posição responsiva em adquire unicamente em um enunciado concreto. (p.
relação a uma posição isolada se não sabemos se o 48)
falante disse com essa oração tudo o que quis dizer,
que essa oração não é antecedida nem sucedida por  Um dos meios de expressão da relação
outras orações do mesmo falante. (p. 45) emocionalmente valorativa do falante com o objeto
da sua fala é a entonação expressiva que soa
 A oração é o elemento significante do conjunto de nitidamente na execução oral. A entonação
um enunciado, e ela adquiriu o seu sentido expressiva é um traço constitutivo do enunciado.
definitivo apenas nesse conjunto. (p. 45) [...] Se uma palavra isolada é pronunciada com
entonação expressiva, já não é uma palavra mas um
 A oração como unidade da língua, à semelhança enunciado acabado expresso por uma palavra. (p.
da palavra, não tem autor. Ela é de ninguém, como a 49)
 A experiência discursiva individual de qualquer
 Quando escolhemos as palavras, partimos do pessoa se forma e se desenvolve em uma interação
conjunto projetado do enunciado. [...] E escolhemos constante e contínua com os enunciados individuais
a palavra pelo significado que em si mesmo não é dos outros. Em certo sentido, essa experiência pode
expressivo, mas pode ou não corresponder aos ser caracterizada como processo de assimilação –
nossos objetivos expressivos em face de outras mais ou menos criador – das palavras do outro (e
palavras. [...] só o contato do significado linguístico não das palavras da língua). (p. 54)
com a realidade concreta, só o contato da língua
com a realidade, contato que se dá no enunciado,  O elemento expressivo é uma peculiaridade
gera a centelha da expressão. (p. 51) constitutiva do enunciado. (p. 56)

 Quando escolhemos as palavras no processo de  A estilística só considera os seguintes fatores que


construção de um enunciado, nem de longe as determinam o estilo do enunciado: o sistema da
tomamos sempre do sistema da língua em sua forma língua, o objeto do discurso e do próprio falante e a
neutra, lexicográfica. Costumamos tirá-las de sua relação valorativa com esse objeto. (p. 56)
outros enunciados. [...] O gênero do discurso não é
uma forma da língua, mas uma forma típica do  Todo enunciado concreto é um elo na cadeia da
enunciado; como tal forma, o gênero inclui certa comunicação discursiva de um determinado campo.
expressão típica que lhe é inerente. No gênero a Os próprios limites do enunciado são determinados
palavra ganha certa expressão típica. Os gêneros pela alternância dos sujeitos do discurso. [...] Todo
correspondem a situações típicas da comunicação enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros
discursiva, a temas típicos, por conseguinte, a enunciados com os quais está ligado pela identidade
alguns contatos típicos dos significados das palavras da esfera de comunicação discursiva. Todo
com a realidade concreta em circunstâncias típicas. enunciado deve ser visto antes de tudo como uma
(p. 52) resposta aos enunciados precedentes de um
determinado campo. (p. 57)
 Essa expressividade típica (de gênero) pode ser
vista como a “auréola estilística” da palavra, mas  O enunciado é pleno de tonalidades dialógicas, e
essa auréola não pertence à palavra da língua como sem levá-las em conta é impossível entender até o
tal mas ao gênero em que dada palavra costuma fim o estilo de um enunciado. Porque a nossa
funcionar, é o eco da totalidade do gênero que ecoa própria ideia – seja filosófica, científica, artística –
na palavra. (p. 53) nasce e se forma no processo de interação e luta
com os pensamentos dos outros, e isso não pode
 O emprego das palavras na comunicação deixar de encontrar o seu reflexo também nas
discursiva viva sempre é de índole invididual- formas de expressão verbalizada do nosso
contextual. Por isso pode-se dizer que qualquer pensamento. (p. 59)
palavra existe para o falante em três aspectos: como
palavra da língua neutra e não pertencente a  Qualquer que seja o objeto do discurso do falante,
ninguém; como palavra alheia dos outros, cheia de ele não se torna objeto do discurso em um
ecos de outros enunciados; e, por último, como a enunciado pela primeira vez, e um determinado
minha palavra, porque, uma vez que eu opero com falante não é o primeiro a falar sobre ele. [...] O
ela em uma situação determinada, com a intenção falante não é um Adão bíblico [...] todo enunciado
discursiva determinada, ela já está compenetrada da responde (no sentido amplo da palavra) de uma
minha expressão. Nos dois aspectos finais, a palavra forma ou de outra aos enunciados do outro que o
é expressiva, mas essa expressão, reiteramos, não antecederam. (p. 61)
pertence à própria palavra: ela nasce do ponto do
contato da palavra com a realidade concreta e nas  O enunciado é um elo na cadeia da comunicação
condições de uma situação real, e esse contato é discursiva e não pode ser separado dos elos
realizado pelo enunciado individual. (p. 53-4) precedentes que o determinam tanto de fora quanto
de dentro, gerando nele atitudes responsivas diretas
e ressonâncias dialógicas. (p. 62) – reiterando-
resumo

 Um traço essencial (constitutivo) do enunciado é a


possibilidade de seu direcionamento a alguém [...] o
enunciado tem autor e destinatário. (p. 62)

 Cada gênero do discurso em cada campo da


comunicação discursiva tem a sua concepção típica
de destinatário que o determina como gênero. (p.
63) – estética da recepção.

 A diferença dos enunciados (e dos gêneros do


discurso), as unidades significativas da língua – a
palavra e a oração por sua própria natureza são
desprovidas de direcionamento, de endereçamento –
não são de ninguém a ninguém se referem. [...] Se
uma palavra isolada ou uma oração está endereçada,
direcionada, temos diante de nós um enunciado
acabado, constituído de uma palavra ou de uma
oração, e o direcionamento pertence não a elas
como unidade da língua, mas ao enunciado. (p. 68)

 A análise estilística, que abrange todos os


aspectos do estilo, só é possível como análise de um
enunciado pleno e só naquela cadeia da
comunicação discursiva da qual esse enunciado é
um elo inseparável. (p. 69)

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