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13/11/2021 18:23 Integrais Indefinidas - parte 1

5.1 Definição e propriedades da antiderivada de uma função

Ao longo desse curso, lidamos com uma série de situações que envolviam o estudo de certo fenômeno por meio de suas taxas de variação ao
longo de diferentes pontos do seu domínio. Em especial, vimos como a calcular a velocidade de certo objeto em movimento como a taxa de
variação instantânea de sua posição em função do tempo. Nesse momento, o problema que se coloca é como reconstruir a distância percorrida
(variação de posição) a partir de informações a respeito de sua velocidade. Em linhas gerais, queremos reconstruir uma função a partir de sua
derivada.

Seja a função v que representa a velocidade instantânea do objeto em movimento e s a função que representa a posição do objeto para cada
instante t . A velocidade é a taxa de variação da posição com relação ao tempo, ou seja, é a derivada : v = dd st . Suponha que a velocidade é
dada, por exemplo, por v = 2t . É possível encontrar a função s ? Em outras palavras, qual é a função que, quando derivada em relação a t ,
resulta em 2t ? Uma resposta possível é s (t ) = t 2 . No entanto, não é a única. Existe uma infinidade de funções que possuem a mesma
derivada: s (t ) = t 2 + 1, s (t ) = t 2 + 2, s (t ) = t 2 − 1, s (t ) = t 2 − 13
2
, ...

Dada uma função f , a função F é uma antiderivada (ou primitiva) de f se, para todo x pertencente ao domínio f de tem-se que F ′ (x ) = f (x ) .
No caso do exemplo acima todas as funções posição s obtidas são derivadas da função velocidade v dada.

Note que as funções posição obtidas acima diferem uma das outras por uma constante. É natural perguntar se esta propriedade vale para
quaisquer antiderivadas ou se é uma característica do exemplo anterior apenas. De fato, dada uma função f , se F é sua antiderivada então a
função F2 dada para cada x por F2 (x ) = F (x ) + C , onde C é uma constante, também é antiderivada, pois
F (x ) = F (x ) + C = f (x ) + 0 = f (x ) , posto que a derivada da constante é zero. Suponha agora que F 1 e F 2 sejam antiderivadas de f .
′ ′ ′
2

Logo, a função F1 possui derivada zero para todo x , pois (F1 . Portanto temos que,
′ ′ ′
− F2 − F 2 ) (x ) = F (x ) − F (x ) = f (x ) − f (x ) = 0
1 2

para todo x , F1 (x ) − F2 (x ) = C , ou seja, duas antiderivadas de f diferem apenas por uma constante.

Temos, portanto, que ao obtermos uma antiderivada da função f encontramos toda a sua família de antiderivadas apenas adicionando
constantes. No caso do objeto em movimento, por exemplo, sabemos como será o deslocamento relativo do objeto através da função
velocidade, mas não sabemos como será o deslocamento absoluto a não ser que seja dada a posição do objeto em um dado instante, por
exemplo, no instante inicial. Dependendo de onde o objeto começar seu movimento ele seguirá uma trajetória que difere das outras apenas por
um deslocamento constante.

Podemos pensar no processo de obtenção da antiderivada como uma operação “inversa” à da derivada (não é realmente inversa pois a
antiderivada está definida a menos de uma constante). Dada uma função f usaremos a seguinte notação para a antiderivada:

∫ f (x ) d x = F (x ) + C

A antiderivada está relacionada ao conceito de integral indefinida que será introduzido mais tarde ao estudarmos o conceito de integral. Esta
notação também ficará mais clara ao estudarmos estes conceitos.

Tomando como base as propriedades de derivada e o fato que a antiderivada é um processo inverso encontramos algumas das propriedades da
última em função da primeira. Por exemplo, tomando duas funções f e g que estão definidas em um intervalo e possuem antiderivada neste
intervalo temos as seguintes propriedades:

1. ∫ [f (x ) ± g (x )] d x = ∫ f (x ) d x ± ∫ g (x ) d x ;
2. ∫ [c f (x )] d x = c ∫ f (x ) d x , para alguma constante real C .

Apesar das propriedades da soma e multiplicação por escalar valerem para a soma e multiplicação por escalar o mesmo não ocorre para a
divisão e o produto. Porém existem outras regras que permitem obter a antiderivada em vários tipos de situações.

Ao se tentar obter uma antiderivada de uma função, pode ocorrer o seguinte:

i) Existe uma antiderivada e ela é “imediata”. É o caso de funções do tipo f (x ) = x


n
, f (x ) = sin(x ), f (x ) = e
x

ii) Existe uma antiderivada, mas precisamos de alguma técnica para determiná-la, uma vez que não é a derivada imediata de alguma função
conhecida. É o caso, por exemplo, de f (x ) = x 5 cos(x ) .

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iii) Não é possível expressar a antiderivada em termos de funções conhecidas. É o caso, por exemplo, de . Note que neste caso não
2
−x
f (x ) = e

estamos afirmando que tal função não existe. Apenas que não podemos escrevê-la de forma explícita.

iv) Não existe uma antiderivada que possa ser expressa em termos de funções conhecidas. É o caso, por exemplo, de f .
2
−x
(x ) = e

As antiderivadas “imediatas” são aquelas que podem ser obtidas diretamente através do conhecimento prévio das primitivas cuja derivada
resulta na função em questão. Um resumo destas funções é mostrado no quadro a seguir.

Combinando estes resultados com as propriedades vistas anteriormente é possível calcular diversas integrais indefinidas, conforme mostrado
nos exemplos a seguir. Note que, ao final de cada operação, a constante, que é arbitrária, é simbolizada por C .

Exemplos:

0+1
0 x ′ ′
a) ∫ 2d x = 2 ∫ x dx = 2 ( + C ) = 2x + 2C = 2x + C
0+1

1+1 2
1 t t
b) ∫ t d t = ∫ t dx = + C = + C
1+1 2

2
x ′ 3 2 ′ 3 2
c ) ∫ −3x d x = −3 ∫ x d x = −3 ( + C ) = − x − 3C = − x + C
2 2 2

8+1 9
8 x x
d) ∫ x dx = + C = + C
8+1 9

1 3
+1



1
x 2 x 2 2 −−
e) ∫ √x d x = ∫ x 2 dx = + C = + C = √x 3 + C
3
1 3
+1

2 2

−2+1 −1
−2 x x 1
f)∫ x dx = + C = + C = − + C
−2+1 −1 x

x x x ′ x ′ x
g ) ∫ (π) e dx = π ∫ e dx = π (e + C ) = (π) e + (π) C = (π) e + C

2 2
−1 1 x ′ ′′ x
h) ∫ (x + x ) dx = ∫ xdx + ∫ dx = + C + ln|x| + C = + ln|x| + C
x 2 2

′ ′′
i) ∫ (sin(s) + cos(s)) ds = ∫ sin(s)ds + ∫ cos(s)ds = − cos(s) + C + sin(s) + C = − cos(s) + sin(s) + C

2
t
j) ∫ (v 0 + at) dt = v 0 ∫ dt + a ∫ tdt = v 0 t + a + C
2

No capítulo de derivadas, calculamos a taxa de variação instantânea de uma função a partir da expressão desta. Agora, faremos o inverso:
conhecendo uma taxa de variação vamos encontrar a função primitiva. Vamos resolver os seguintes problemas:

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Exemplo 1: Estima-se que daqui a meses a população de certa cidade esteja aumentando à taxa de habitantes por mês. Se
d p(t )
t = 4 + 5t 3
dt

a população atual é de 10 000 habitantes, qual será a população daqui a 8 meses?

Solução
2

A primitiva da função é dada por:


d p(t )
= 4 + 5t 3

dt

2
+1
2 2 5
d p(t )
0 t
0+1
t 3
p (t ) = ∫ d t = ∫ (4 + 5t 3 ) dt = 4 ∫ t dt + 5 ∫ t 3 dt = 4 + 5 + C = 4t + 3t 3 + C
dt 0+1
2
+1
3

É preciso encontrar a constante C que corresponde à função desejada. Para isso utilizamos a condição em t = 0 . Como p (0) = 10000 temos
5 5

p (0) = 4.0 + 3.0 3 + C , C = 10000 . Portanto, daqui a 8 meses teremos uma população dada por p (8) = 4.8 + 3.8 3 + 10000 = 10128

habitantes.

Exemplo 2: Um corpo está se movendo de tal forma que sua velocidade após t minutos é v (t ) = 1 + 4t + 3t
2
m/min. Que distância o corpo
percorre do 2º ao 3º minuto?

Solução

A posição do corpo é dada pela primitiva da velocidade:


.s (t )
2 3
2 0 1 2 t t 2 3
= ∫ v (t ) d t = ∫ (1 + 4t + 3t ) dt = ∫ t dt + 4 ∫ t dt + 3 ∫ t dt = t + 4 + 3 + C = t + 2t + t + C
2 3

A distância percorrida do 2º ao 3º minuto será a diferença das posições nestes instantes, ou seja,
2 3 2 3
s (3) − s (2) = 3 + 2.3 + 3 + c − 2 − 2.2 − 2 − c = 30m

Exemplo 3: Um botânico descobre que certo tipo de árvore cresce de tal forma que sua altura h (t ) , após t anos, está variando a uma taxa de
2 1

0, 06t 3 + 0, 3t 2 metros/ano. Se a árvore tinha 60 cm de altura quando foi plantada, qual altura estimada para daqui a 27 anos?

Solução

Novamente é preciso obter a primitiva:


2 1 5 3

h (t ) = ∫
dh

dt
d t = ∫ (0, 06t 3 + 0, 3t 2 ) d t = 0, 036t 3 + 0, 2t 2 + c .
Dado que h(0) = c = 0, 60 , então
5 3

h (27) = 0, 036.27 3 + 0, 2.27 2 + 0, 60 = 37, 41m

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5.2 Substituição de Variáveis

Frequentemente o processo de encontrar a antiderivada de uma função exige ferramentas que estão além da utilização das
propriedades de adição e multiplicação e identificação das primitivas básicas. Existem métodos que utilizam outras propriedades das
derivadas. O método da Substituição de Variáveis, por exemplo, consiste em usar a Regra da Cadeia para obter expressões mais
simples para se obter a primitiva.

Por exemplo, seja a função F (x ) = sin(x


2
) . Através da Regra da Cadeia é possível obter a sua derivada. Basta considerarmos
esta função como sendo uma a composição dada por F (x ) = g (h (x )) , sendo g (u) = sin(u) e h (x ) = x
2
. Neste caso, a Regra
da Cadeia fornece
′ ′ ′ 2 2
F (x ) = g (h (x )) . h (x ) = cos(x ).2x = 2x cos(x )

Dada a função f (x ) = 2x cos(x


2
) , portanto, é possível obter sua família de primitivas:

2 2
∫ f (x ) d x = ∫ 2x cos(x ) = sin(x ) + C

Seja agora uma função f dada por f (x ) = g (h (x )) . h (x )



. Se uma antiderivada de g é dada pela função G temos, para a
antiderivada de f :

∫ f (x ) d x = ∫ g (h (x )) . h (x ) d x = G (h (x )) + C

De fato, se derivarmos esta função, pela Regra da Cadeia:

′ ′ ′ ′ ′
(G (h (x )) + C ) = [G (h (x ))] + 0 = G (h (x )) . h (x ) = g (h (x )) . h (x )

Este método equivale a considerar a função h(x ) como uma nova variável dependente u. Dado que u = h(x ), utilizando
diferenciais, encontramos a diferencial d u = h′ (x )d x . É possível a partir deste resultado reescrever a notação de antiderivada da
seguinte forma:

∫ g (h (x )) . h (x ) d x = ∫ g (u) d u = G (u) + C = G (h (x )) + C

É por este motivo que este método é conhecido como Método de Substituição de Variáveis. Note que ao final utilizamos novamente
a expressão u = h(x ) para reescrever a antiderivada em termos da variável original.

2
Exemplo 1: Calcule ∫ (3x + 1) d x

Solução

Neste exemplo a antiderivada poderia ser obtida desenvolvendo-se o quadrado e utilizando as propriedades de adição e
multiplicação por constante. No entanto é mais simples utilizar o método de substituição de variáveis.

2
Dada a função f (x ) = (3x + 1) é necessário obter uma expressão do tipo g (h (x )) . h′ (x ) . Uma opção é identificar estas
2 2
funções como g (u) = u e h (x ) = 3x + 1. Neste caso temos g (h (x )) . h′ (x ) = (3x + 1) .3 = 3(3x + 1) = 3f (x ) . Apesar
2

desta expressão não ser exatamente f (x ) podemos utilizar a propriedade de multiplicação por constante para obter a antiderivada
3

desejada. Como uma primitiva g de é a função G dada por G (u) =


u

3
temos:
3
2 1 2 1 ′ 1 1 (3x +1) 1 3
∫ (3x + 1) d x = ∫ 3(3x + 1) d x = ∫ g (h (x )) . h (x ) d x = G (h (x )) + C = + C = (3x + 1) + C
3 3 3 3 3 9

Entendendo este processo como uma troca de variáveis torna o processo mais simples. Considerando u = 3x + 1 temos

d u = (3x + 1) d x = 3d x , ou seja, d x =
1

3
du . Logo,
3
2 2 1 1 2 u 1 3
∫ (3x + 1) d x = ∫ (u) du = ∫ u du + C = + C = (3x + 1) + C
3 3 3 9

Note que o resultado é o mesmo, embora o segundo método seja mais intuitivo.

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Exemplo 2: Calcule ∫ tan(x ). sec (x )d x


2

Solução

Este exemplo mostra que a escolha da variável não é única para se obter a antiderivada a partir deste método. Suponha que seja
feita a escolha u = tan(x ) . Neste caso é imediato verificar que d u = tan′ (x )d x = sec2 (x )d x . Desta maneira a antiderivada é
dada por

Outra escolha possível é . Neste caso tem-se para a diferencial . Logo a antiderivada é dada por
2
2 u 1 2
∫ tan(x ). sec (x )d x = ∫ ud u = + C = tan (x ) + C
2 2

Estes dois resultados parecem, à primeira vista, diferentes. No entanto existe uma propriedade trigonométrica conhecida que
fornece que sec2 (x ) = tan2 (x ) + 1 , ou seja, as duas funções são diferentes apenas por uma constante, pertencendo, portanto, à
mesma família de antiderivadas.

Exemplo 3: Calcule ∫ sin(x ). cos(x )d x

Solução

Neste caso pode-se considerar u = sin(x ) Logo, e a antiderivada é dada por:

2
2 sin (x )
u
∫ sin(x ). cos(x )d x = ∫ ud u = + C = + C
2 2

Outra maneira de obter a primitiva é utilizar a identidade trigonométrica sin(x ). cos(x ) . Neste caso, fazendo a
1
= sin(2x )
2

identificação v = 2x tem-se d v = 2d x . Logo,

1 1 1 1 ′
∫ sin(x ). cos(x )d x = ∫ sin(2x )d x = ∫ 2 sin(2x )d x = ∫ sin(v )d v = − cos(v ) + C
2 4 4 4

1 ′ 1 2 2 ′ 1 2 2 ′
= − cos(2x ) + C = − (cos (x ) − sin (x )) + C = − (1 − sin (x ) − sin (x )) + C
4 4 4

2 2
sin (x ) 1 sin (x )

= + C − = + C
2 4 2

Neste desenvolvimento foi utilizada a identidade trigonométrica sin2 (x ) + cos2 (x ) = 1 .


2

Exemplo 4: Calcule ∫ 3x
3
dx
x +1

Solução

Neste caso é possível tomar u = x
3
+ 1 . Logo, tem-se d u = (x
3
+ 1) d x = 3x
2
dx . Portanto,
2
3x 1 3
∫ dx = ∫ d u = ln|u| + C = ln∣
∣x + 1∣
∣+ C
3 u
x +1

2x +1
Exemplo 5: Calcule ∫ 2
dx
x −14x +50

Solução

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Ao tentar fazer a substituição u = x


2
− 14x + 50 obtem-se d u = 2x − 14 , diferente do numerador. Podemos fazer, no entanto,
2x + 1 = 2x − 14 + 15 . Logo,
2x +1 2x −14+15 2x −14 15
∫ dx = ∫ dx = ∫ dx + ∫ dx
2 2 2 2
x −14x +50 x −14x +50 x −14x +50 x −14x +50

A primeira parte é facilmente obtida através da substituição acima:


2x −14 1 2
∫ dx = ∫ d x = ln(u) + C = ln∣
∣x − 14x + 50∣
∣+ C
x
2
−14x +50 u

Para a segunda parte é possível notar que x 2 − 14x + 50 = (x − 7)


2
+ 1 . Logo, fazendo a transformação v = x − 7 tem-se
d v = d x , e, portanto:
15 1 1 −1 −1
∫ d x = 15 ∫ d x = 15 ∫ d v = 15. tan (v ) + C = 15. tan (x − 7) + C
2 2 2
x −14x +50 (x −7) +1 v +1

Somando as duas partes obtém-se a antiderivada desejada:

2x +1 2 −1
∫ d x = ln∣
∣x − 14 + 50∣
∣ + 15. tan (x − 7) + C
2
x −14x +50

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