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O REINADO DE D.

PEDRO I:
UMA CIDADANIA LIMITADA
Prof. Robson Fernandes
» Por que será que o dia 2 de julho é tão importante para os baianos a
ponto de merecer um hino?
» Você sabia que houve lutas pela independência em outras partes do
Brasil, além da Bahia?
» No seu estado também ocorreram lutas pela independência?
» Qual o significado de despotismo no hino? O que é independência para
você?
D. Pedro I foi aclamado imperador em 12 de outubro,
que era também o dia do seu aniversário. Uma
multidão compareceu à festa de sua aclamação.
Durante os anos seguintes, a data da aclamação de D.
Pedro I era comemorada como o dia da emancipação
política do Brasil. O imperador era, então, um homem
popular.
As lutas pela independência
Na época, a independência não foi aceita no país todo. Em várias províncias brasileiras, como
Bahia, Piauí, Grão-Pará, Ceará, Maranhão e Província Cisplatina, o povo pegou em armas para
combater militares fiéis a Portugal. Na Bahia, depois de vários combates, batalhões populares
vindos do interior da província cercaram as tropas portuguesas que estavam em Salvador. Vendo-
se sem alimentos, os soldados portugueses comandados pelo coronel Madeira de Melo tentaram
furar o cerco, mas foram derrotados na Batalha de Pirajá. Depois, navios ingleses a serviço de D.
Pedro I bloquearam Salvador e os forçaram a deixar o Brasil em 2 de julho de 1823. Todos os
anos, em 2 de julho, a Bahia festeja sua independência.
No Piauí também ocorreu uma guerra pela independência, que se iniciou quando a
Câmara de Parnaíba, cidade do norte da província, declarou-se favorável à
independência. O general português Cunha Fidié e suas tropas partiram de Oeiras,
então capital do Piauí, a fim de sufocar o movimento pela independência. Enquanto
isso, no Ceará, forças populares comandadas pelo sertanejo José Pereira Filgueiras
tomaram Fortaleza e formaram um governo favorável à independência. Daí, cearenses,
maranhenses e baianos armados de facas, machados e espingardas juntaram-se aos
piauienses e lutaram durante mais de cinco horas para impedir a passagem das tropas
de Cunha Fidié.
A batalha se deu na cidade de Campo Maior, interior do Piauí, e recebeu o nome de
Batalha do Jenipapo. Muitas mulheres trocaram suas joias por armas e também se
engajaram na guerra pela independência. Apesar de não terem conseguido vencer esta
batalha, os piauienses enfraqueceram as tropas de Fidié e continuaram a combatê-las
em Caxias, no Maranhão, onde foram forçadas a se render. Em São Luís, a
independência foi aclamada pela população local, que teve o apoio de uma esquadra
inglesa. No Pará, populares que lutavam pela independência invadiram o palácio do
governador, mas autoridades nomeadas por D. Pedro I opuseram-se à iniciativa dos
paraenses, reprimindo-os. Depois, lançaram 256 paraenses no porão de um navio, de
onde apenas quatro saíram com vida.
O reconhecimento e o
preço da
independência.
O reconhecimento da independência brasileira envolveu os mais
diversos interesses. Os Estados Unidos foram o primeiro país a
reconhecer a independência do Brasil (1824). Para isso, o então
presidente dos Estados Unidos, James Monroe, apoiou-se em uma
doutrina que recebeu seu nome. A Doutrina Monroe pode ser
resumida na frase “A América para os americanos”, isto é, cada país
da América deveria se autogovernar e não aceitar a interferência
da Europa; daí o interesse estadunidense no reconhecimento da
emancipação política brasileira.
O reconhecimento e
o preço da
independência.
Portugal reconheceu a soberania do Brasil
(1825), mas para isso exigiu o pagamento de 2
milhões de libras esterlinas (moeda inglesa).
Para pagar essa dívida, o governo brasileiro
pediu aos banqueiros ingleses um empréstimo.
Parte do dinheiro, no entanto, nem chegou a
sair da Inglaterra, porque Portugal devia aos
ingleses uma grande soma.
O reconhecimento e o
preço da independência.
Já a Inglaterra reconheceu a independência do Brasil em 1827. Mas, para isso, exigiu:
a) a renovação do Tratado de Comércio e Navegação por mais 15 anos; portanto, os produtos
ingleses continuariam pagando apenas 15% de imposto nos portos brasileiros por mais uma década e
meia;
b) a extinção do tráfico de africanos escravizados no prazo de três anos.
Uma constituição para
o Brasil
Independente de Portugal, o Brasil podia fazer suas próprias
leis. Em maio de 1823, uma Assembleia Constituinte, formada
por deputados de várias províncias brasileiras, reuniu-se no Rio
de Janeiro para elaborar uma constituição para o Brasil. Depois
de intensos debates, os deputados apresentaram um projeto de
Constituição que limitava os poderes de D. Pedro I, proibindo-o
de dissolver a Câmara dos Deputados. Ele reagiu mal a essa
proibição; começaram a surgir então divergências entre o
imperador e os deputados. Os deputados ficaram no prédio a
noite toda acordados debatendo a situação; daí aquela noite ser
conhecida como Noite da Agonia. Na manhã seguinte, D. Pedro
I mandou seus soldados fecharem a Assembleia e prenderem
vários deputados ali reunidos. Os deputados José Bonifácio e
seu irmão Antônio Carlos – principal redator do projeto de
Constituição – foram presos e expulsos do país
A Constituição do
Império

O fechamento da Assembleia provocou enorme


descontentamento em todo o país. Indiferente a isto, D.
Pedro I tomou outra medida autoritária: nomeou dez
pessoas de sua confiança – o Conselho de Estado – e
encarregou-as de escrever uma Constituição no prazo de
40 dias. A primeira Constituição do Brasil foi outorgada por
D. Pedro I em 25 de março de 1824. Esta Constituição
adotava a Monarquia hereditária e criava quatro poderes:
Executivo, Legislativo, Judiciário e Moderador.
Poder Executivo: exercido pelo imperador e seus ministros; sua função
era administrar o país.
Poder Legislativo: exercido pelos deputados e senadores; sua função era
elaborar, discutir e aprovar leis; o cargo de deputado era ocupado por um
período de quatro anos, já o de senador era vitalício (ou seja, durava toda
a vida).
Poder Judiciário: exercido por tribunais e juízes; sua função era aplicar a
lei. Os magistrados do Supremo Tribunal eram nomeados pelo imperador.
Poder Moderador: exercido
exclusivamente pelo imperador, que
podia: nomear e demitir livremente os
ministros e os presidentes de província;
dissolver a Câmara dos Deputados;
nomear os senadores; suspender os
magistrados e perdoar sentenças de réus
condenados pelo Judiciário. Portanto, o
poder Moderador permitia ao imperador
intervir em todos os outros poderes.
A Confederação do
Equador
O autoritarismo de D. Pedro I era duramente criticado em várias províncias brasileiras. Em Pernambuco, dois
jornais, A Sentinela da Liberdade, de Cipriano Barata, e o Tiphys Pernambucano, de Frei Joaquim do Amor Divino
Caneca, faziam forte oposição a D. Pedro I. Frei Caneca dizia: “o poder moderador é a chave mestra da opressão da
nação brasileira”. Além disso, na época, uma crise econômico-financeira atingia todo o Nordeste devido à queda
nos preços externos do açúcar, do fumo, do algodão e aos altos impostos cobrados pelo governo de D. Pedro I; ao
mesmo tempo, as altas constantes nos preços dos alimentos e dos aluguéis castigavam a população pobre.
A Confederação do
Equador
Nesse clima tenso, D. Pedro I demitiu o presidente de província
em Pernambuco. Os pernambucanos reagiram prontamente:
romperam com o Império, proclamaram uma República (2 de
julho de 1824) e formaram uma Junta Governativa. A jovem
República foi apoiada por revolucionários de Alagoas, Paraíba,
Rio Grande do Norte e Ceará e recebeu o nome de Confederação
do Equador. A Confederação contou com a participação de
diversos grupos sociais: proprietários rurais, comerciantes,
homens e mulheres livres e pobres, e também os escravizados.
Alguns líderes da Confederação do Equador, como Frei Caneca e Lázaro
de Souza, defendiam o fim da escravidão; a maioria deles, porém, era
escravista. Isso dividiu e enfraqueceu a liderança do movimento. Os
grandes proprietários, assustados com a ideia de libertação dos
escravos, foram abandonando o movimento. Para reprimir a revolução
no Nordeste, D. Pedro I conseguiu, junto aos banqueiros britânicos, um
empréstimo de 1 milhão de libras e organizou poderosas forças militares,
comandadas pelo almirante britânico Thomas Cochrane (por mar) e pelo
brigadeiro Francisco de Lima e Silva (por terra).
Embora com poucas armas e sem navios, os rebeldes
resistiram por quase dois meses. As forças imperiais,
principalmente os mercenários britânicos, cometeram
muitas violências em Recife, matando populares e
incendiando casas, mesmo depois de terem vencido a
guerra. Vários líderes rebeldes foram condenados à
morte.
D. Pedro I, cada vez
mais impopular.
A brutal repressão à Confederação do Equador contribuiu para derrubar
a popularidade que D. Pedro I tinha no início de seu governo. Além de
autoritário, D. Pedro I mostrava-se incompetente para resolver a crise
econômico-financeira que o país atravessava. Ano após ano, a balança
comercial brasileira apresentava-se negativa, ou seja, o valor gasto com as
importações era maior do que o ganho com as exportações.
Para fazer frente às suas despesas, o governo de D. Pedro I pedia
empréstimos aos bancos estrangeiros e emitia moeda. Isso gerava
inflação. Conforme o preço dos alimentos e dos aluguéis subia, a
popularidade do imperador diminuía. Em 1829, como reflexo dessa crise,
o Banco do Brasil, fundado na época de D. João VI, faliu.
A Questão da Cisplatina
A Província Cisplatina (atual Uruguai) havia sido anexada ao Brasil por D. João VI. Os cisplatinos,
descendentes de indígenas e espanhóis, queriam libertar-se do Brasil. Em sua luta pela
independência, conseguiram o apoio dos argentinos, que tinham interesse em dominar a região
cisplatina. Com a ajuda dos argentinos, os cisplatinos venceram a guerra contra os brasileiros e
transformaram a Cisplatina em um país independente chamado República do Uruguai. A guerra para
impedir a independência da Cisplatina aumentou mais ainda as críticas a D. Pedro I.
A sucessão do trono
português

Quando D. João VI morreu, em 1826, deixou o trono português


para seu filho D. Pedro I. Este, no entanto, renunciou a ser rei
de Portugal em favor de sua filha, D. Maria da Glória. Mas D.
Miguel, irmão de D. Pedro I, deu um golpe e ocupou o trono
da sobrinha, proclamando-se rei de Portugal. D. Pedro I reagiu
preparando-se militarmente para reconquistar o trono
português. Os políticos brasileiros o acusaram de estar mais
interessado nos assuntos de Portugal do que nos do Brasil.
Isso aumentou sua impopularidade.
A abdicação de D.
Pedro I
As críticas ao governo de D. Pedro I circulavam na imprensa. Um de seus
principais críticos, o jornalista Líbero Badaró, acabou assassinado em
1830, em São Paulo. Sua morte foi atribuída aos simpatizantes do
imperador, e isso gerou protestos em todo o país. D. Pedro I tentou visitar
algumas províncias buscando recuperar seu prestígio, mas foi em vão; em
Minas Gerais, o imperador foi recebido com protestos. Os sinos das
igrejas mineiras tocaram o dobre de finados para lembrar ao imperador a
morte do jornalista.
A abdicação de D. Pedro I

Na volta da viagem que fez às províncias, D. Pedro I foi recebido


no Rio de Janeiro pelos comerciantes portugueses com uma
grande festa iluminada por muitas fogueiras. Esta recepção
calorosa deu origem a brigas de rua entre “brasileiros” e
“portugueses”, entre 12 e 15 de março de 1831, que ficaram
conhecidas como Noites das Garrafadas. Com o objetivo de
recuperar seu prestígio, D. Pedro I formou um ministério só com
políticos da oposição, mas as críticas continuaram aumentando.
D. Pedro I decidiu, então, substituir o Ministério dos Brasileiros
por outro formado por seus amigos portugueses. Diante disso,
populares, deputados, jornalistas e militares saíram às ruas do
Rio de Janeiro para exigir a volta do ministério deposto.
A abdicação de D. Pedro I
Pressionado pela multidão, D. Pedro I abdicou em 7 de abril de 1831. Deixou o trono brasileiro para
seu filho Pedro de Alcântara, garantindo, assim, a continuidade da monarquia no Brasil. Como o
menino tinha apenas 5 anos de idade, o Brasil passou a ser governado por regentes.

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