Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. A Confederação do Equador
A dissolução da Assembleia Constituinte e a outorga da Constituição de 1824, que acarretaram na total concentração dos poderes nas
mãos do imperador, geraram grande insatisfação. No nordeste, o descontentamento foi particularmente intenso com a nomeação dos presidentes
de províncias pelo imperador, em fevereiro de 1824. A medida feria as aspirações de maior autonomia política e administrativa da
aristocracia rural nordestina.
A unidade territorial do país continuava precária. No plano político, as províncias passaram a depender do Rio
de Janeiro, onde um imperador absolutista vedava qualquer participação nas decisões importantes. Para as províncias do nordeste, a
independência não havia alterado em quase nada a situação. O poder central continuava a intervir na política provincial tal como fazia
Portugal no passado.
1.4 A Repressão
Enquanto os rebeldes procuravam unificar as forças antiabsolutistas da Bahia ao Ceará, o imperador tratava de impedir a união das
províncias, reprimindo-as separadamente. A carência de recursos materiais e financeiros fez o governo central apelar para empréstimos
externos e contratar forças mercenárias. Para tanto, contribuiu principalmente a Inglaterra com elevados empréstimos, além do concurso de
forças navais sob o comando de lorde Cochrane.
Com a carta régia de 25 de julho de 1824, D. Pedro suspendeu todas as garantias constitucionais das províncias rebeladas e criou as
temíveis comissões militares, sob a presidência do brigadeiro Francisco de Lima e Silva, para o julgamento sumário dos rebeldes.
Enfim, no dia 2 de agosto de 1824, partiram as tropas de repressão por terra e mar, chefiadas pelo brigadeiro Lima e Silva e por lorde
Cochrane, respectivamente. Em 17 de setembro de 1824, as forças de Lima e Silva dominaram Recife e Olinda, principais centros de
resistência, após o emprego de extrema violência. O Ceará continuou a resistir, mas as tropas rebeldes capitularam em 29 de novembro de
1824.
1.5 As Condenações
As condenações foram severas. Frei Caneca, em virtude de sua intensa participação, foi condenado à forca. Diante da recusa dos
carrascos em executar a sentença, a repressão optou pelo fuzilamento. Vários de seus companheiros sofreram a mesma condenação, enquanto
outros, como Pais de Andrade, José de Barros Falcão e José Natividade Saldanha, conseguiram fugir.
A Confederação do Equador foi desmantelada. Contudo, a insatisfação contra o absolutismo do imperador continuava crescendo.
2. A Oposição Moderada
Na Constituição de 1824, estava prevista a convocação da Câmara dos Deputados, o que veio a se concretizar apenas em 1826. Com
isso, os temas discutidos anteriormente na Constituinte de 1823, fechada por D. Pedro I, foram retomados e uma oposição moderada ao
imperador começou a ganhar forma. O jornal A Aurora Fluminense, de Evaristo da Veiga, era o principal porta-voz daquela oposição, sendo
seu líder mais destacado o deputado mineiro Bernardo Pereira de Vasconcelos.
O Liberalismo moderado, ao qual ambos pertenciam, caracterizou-se basicamente pela defesa de uma monarquia constitucional e
tinha como alvo de ataque a autocracia imperial. A linha de ação de Evaristo e Vasconcelos não ia além das críticas às instituições arcaicas,
como a Mesa de Consciência e Ordens, e a distribuição de cargos públicos a pessoas de origem aristocrática.
Contudo, eram valorizados os temas clássicos do liberalismo, como a conquista desses mesmos cargos por mérito pessoal e a iniciativa
privada, que não deveria sofrer interferências do governo. Também associavam liberdade e propriedade, às quais cabia ao Estado proteger,
alimentando os debates políticos daquela época e revelando que a independência não havia conseguido apaziguar os ânimos dos diversos
grupos políticos.
3. A Abdicação de D. Pedro I
Embora a emancipação política, formalizada em 07 de setembro de 1822, tenha dado ao Brasil a feição de um país soberano, a economia
continuava colonial e escravista. Para regularizar o comércio com o exterior o país necessitava do reconhecimento de sua independência,
sobretudo pelos países europeus. Para conseguir esse reconhecimento, o Brasil viu-se obrigado a assinar tratados desfavoráveis a seus
interesses em troca da normalização das relações comerciais e diplomáticas.
O primeiro país a reconhecer a emancipação foram os Estados Unidos, em 26 de junho de 1824. Duas razões explicam essa atitude: a
Doutrina Monroe (1823), que preconizava o anticolonialismo e adotava o lema “a América para os americanos”, e principalmente os fortes
interesses econômicos emergentes nos EUA, que procuravam reservar para si o vasto continente americano.
Em relação aos países hispano-americanos, recém-emancipados, o reconhecimento não se deu de imediato. A razão era política. Esses
países adotaram a forma republicana de governo e desconfiavam da solução monárquica brasileira. Além disso, havia a questão platina: o
Uruguai ainda era parte do império brasileiro, com o nome de Província Cisplatina.
A Inglaterra, com os amplos privilégios comerciais no Brasil, tinha enorme interesse em reconhecer sua independência. No
entanto, como aliada de Portugal, não julgava conveniente fazê-lo antes da ex metrópole. Por esse motivo, sua ação diplomática se deu no sentido
de convencer Portugal a aceitar a independência brasileira. O reconhecimento português ocorreu em 29 de agosto de 1825, sob duas condições:
indenização de 2 milhões de libras, paga pelo Brasil, e a concessão do título de Imperador do Brasil, em caráter honorário, a D. João VI.
O reconhecimento por parte de Portugal abriu caminho para que outros países fizessem o mesmo, ao custo da concessão de tarifas
privilegiadas de 15% em nossas alfândegas.
Do ponto de vista internacional, a emancipação do Brasil significou a substituição do domínio português pela preeminência inglesa,
secundada por outros países europeus e pelos Estados Unidos. Ao consumar sua autonomia política, o Brasil apenas se reajustou à ordem
econômica internacional, agora moldada pelo capitalismo industrial.