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Benefícios Psicológicos da Prática de Yoga

Article · January 2006

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António Labisa Palmeira


Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
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Benefícios Psicológicos da Prática de Yoga

Autores: João Guerreiro; António Palmeira


Título do artigo: Benefícios Psicológicos da Prática de Yoga: Um Estudo Comparativo
com Outras Actividades Físicas
Data do artigo: Dezembro 2005
Área de estudo: Psicologia do Exercício
Número total de paginas: 12

João Guerreiro
Formação académica: Licenciatura em Educação Física e Desporto (ULHT)
Actividade profissional: professor de Educação Física
Morada pessoal: Avenida Bento Gonçalves, nº3 8ºesquerdo 2910-432 Setúbal
E-mail: joao_guerreiro@net.sapo.pt
Contactos telefonicos: 964 992 567
Caraterização do autor: Licenciado em Educação Física e Desporto

António Palmeira
Formação académica: Licenciatura em Educação Física e Desporto (FMH/UTL) Mestre
em Psicologia do Desporto (FMH/UTL)
Actividade profissional: Professor Auxiliar Convidado da Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologias
Morada pessoal: Av. do Campo Grande, 376, 1749-024, Lisboa
E-mail: antonio.palmeira@ulusofona.pt
Contactos telefonicos: 217515500
Caraterização do autor: Professor Universitário

O presente artigo foi elaborado com base no Seminário de Investigação da Licenciatura


em Educação Física e Desporto da Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias.
Resumo

Este estudo tem como objectivo investigar quais os benefícios psicológicos


associados à prática de Yoga e se esses benefícios são diferentes dos alcançados pela
prática de outras actividades físicas. Estudou-se ainda a relação entre o Índice de Massa
Corporal e as variáveis de bem-estar subjectivo em ambos os grupos. Na amostra
participaram 141 indivíduos, sendo 73 do género masculino, com idades compreendidas
entre os 13 e os 80 anos (M=29,8 e DP=11,7), tendo sido divididos em dois grupos. Um
grupo de 73 praticantes de Yoga, e outro grupo de 68 praticantes de várias actividades
físicas (Basquetebol, Dança Sociais e Ginástica Rítmica). Foi aplicada uma bateria de
testes constituída pela Escala Subjectiva da Experiência do Exercício, pelo Positive and
Negative Affect Schedule e pelo Self-Esteem/Self-Concept Questionnaire, tendo sido
aplicada uma única vez após as práticas. O grupo de Yoga apresentou níveis mais
elevados de bem-estar subjectivo logo após a prática do que os praticantes das outras
actividades físicas. Os benefícios da prática de Yoga revelam-se ao nível do bem-estar
psicológico e da diminuição das emoções negativas, do mal-estar psicológico e da
fadiga. O grupo de Yoga demonstra também que esses mesmos benefícios se mantêm
independentemente da idade ou do tempo de prática.
Introdução

Nos tempos que hoje decorrem, verificou-se um aumento na afluência a práticas


que além de melhorarem o aspecto físico também proporcionem um sentimento de bem-
estar. E hoje em dia é comum depararmo-nos com a ideia de que o Yoga é uma prática
que proporciona às pessoas essa sensação de bem-estar. Assim, neste estudo achamos
pertinente investigar se a prática de Yoga tem alguma influência no bem-estar
psicológico dos praticantes.
A palavra Yoga deriva de uma raiz Samskrta (sânscrito - idioma do grupo indo-
europeu), Yuj, que significa juntar, ligar, podendo ser interpretada como a unificação
dos diversos elementos do psiquismo humano (Michaël, 1975).
Morris (1998), afirma que o estudo do Yoga tem conduzido a um novo
paradigma para o entendimento das interacções corpo-mente, pelo que se considera
importante a análise das associações entre da prática do Yoga e bem-estar, sendo com
esta preocupação que se encetou o presente estudo.

Revisão de Literatura

A análise da influência da prática do Yoga no bem-estar psicológico tem um


historial relativamente recente, com a maior parte dos estudos a ser realizados já nesta
década. Por exemplo, Ray e colegas (2001) realizaram um estudo clínico para observar
o efeito da prática de Yoga durante o período de treino de jovens estagiários. Neste
estudo foram analisados parâmetros fisiológicos e psicológicos, tendo sido aplicados
antes e durante o período de treino. O grupo de Yoga revelou uma actividade simpática
relativamente mais baixa e uma melhoria no desempenho ao nível do exercício
submáximo e no limiar anaeróbio comparado com o grupo de controlo. Após a prática
de Yoga, houve também melhorias em vários parâmetros psicológicos como a redução
da ansiedade, depressão e um aperfeiçoamento da função mental. Woolery e colegas
(2004), realizaram um estudo clínico para avaliar os efeitos a curto-prazo do curso de
Yoga no estado de depressão ligeira de jovens adultos, tendo sido utilizados o Beck
Depression Inventory, State-Trait Anxiety Inventory, e o Profile of Mood States. Os
resultados demonstraram que os indivíduos que participaram no curso de Yoga
apresentaram uma diminuição nos sintomas de depressão e traço de ansiedade. Malathi

1
e Damodaran (1999) fizeram um estudo clínico a 50 estudantes de medicina para
determinar se havia benefícios de qualquer tipo de prática de Yoga no estado de
ansiedade, que foi avaliado pela escala State-Trait Anxiety Inventory de Spielberger,
tendo se revelado uma redução significativa após a prática de Yoga. Estes resultados
provam que os benefícios do Yoga não só causam a diminuição do nível de ansiedade
basal mas também atenuam o aumento da ansiedade num momento de stress. Outros
benefícios referidos pelo grupo de prática de Yoga foram ao nível do sentimento de
relaxamento, melhoria da concentração, da auto-confiança, da eficácia, das relações
interpessoais, da atenção, do optimismo e diminuição da irritabilidade.

Bem-Estar Psicológico
Segundo Diener, (1994) e Mroczek e Kolarz, (1998, in Berger & Motl, 2001), o
bem-estar inclui muitas facetas, tais como a ausência de efeito negativo, a presença de
efeito positivo e altos níveis de satisfação na vida. A investigação sobre a relação entre
o exercício e o bem-estar assinala a existência de diferenças nos valores de bem-estar
entre sujeitos mais e menos activos, sendo esses valores superiores no grupo com uma
actividade de intensidade mais elevada (e.g., Biddle, 1995 in Mota, 1996).
Harinath e colegas (2004), fizeram um estudo para avaliar o efeito da prática de
Yoga e da meditação na performance cardiorespiratória, no perfil psicológico e na
secreção de melatonina. A prática de Yoga resultou numa melhoria na performance
cardiorespiratória, no perfil psicológico e num aumento de melatonina, após 3 meses de
prática. Os níveis máximos de melatonina no grupo de Yoga mostraram uma correlação
significativa (r = 0.71, p < 0.05), com o teste do bem-estar, sugerindo que as práticas de
Yoga podem ser utilizadas como estímulo psicofisiológico para aumentar a secreção
endógena de melatonina, que por sua vez é responsável pela melhoria da sensação de
bem-estar. Num estudo clínico efectuado por Malathi e colegas (2000), 48 indivíduos
foram avaliados pelo Subjective Well Being Inventory (SUBI), antes e depois da prática
de Yoga para avaliar o efeito da mesma nos sentimentos subjectivos do bem-estar e
qualidade de vida. Ao fim de 4 meses, os participantes mostraram melhorias
significativas em 9 dos 11 factores do SUBI, mostrando assim efeitos benéficos na
prática regular de Yoga no bem-estar subjectivo. Em outro estudo clínico realizado por
Malathi e Damodaran (1999), o grupo de Yoga também apresentou uma melhoria ao
nível do bem-estar.

2
Sahajpal e Ralte (2000), investigaram os efeitos do relaxamento do Yoga nos
níveis de stress, auto-conceito e na qualidade de sono, em 12 estudantes universitárias.
Todas as estudantes tinham relevado stress excessivo, devido aos vários ajustes. Os
resultados demonstraram que houve efeitos benéficos do relaxamento do Yoga para
todas as estudantes ao nível da redução do nível de stress, da melhoria da qualidade de
sono e da melhoria de sentimentos do bem-estar.

Emoções e Estado de Humor


Nos estados de humor, as mudanças agudas aparecem associadas com a
actividade física. Nessas actividades físicas incluem-se as seguintes: dança aeróbica,
treino em circuito, dança “country”, ciclismo, hatha yoga, jogging, escalada, natação, tai
chi, e musculação (Berger & Motl 2001). Woolery e colegas (2004), no estudo realizado
demonstraram que os indivíduos tiveram uma diminuição dos níveis humor negativo e
fadiga após as aulas de Yoga.
Baldwin (1999), realizou um estudo com a finalidade de explorar as diferenças
entre dois grupos com um programa regular de exercício, tendo um desses grupos aulas
de Yoga. Realizaram-se pré e pós-testes tendo-se chegado à conclusão de que o grupo
de Yoga teve mais alterações positivas no estado de humor; o grupo de Yoga teve mais
afecto positivo imediato do que nas actividades cardiovasculares ou de treino de
resistência.
Szabo e colegas (1998) utilizaram a Exercise-Induced Feeling Scale e a
Subjective Experiences from Exercise Scale, para comparar os efeitos do exercício das
actividades de dança aeróbica, musculação, artes marciais, tai-chi, Yoga e apreciação de
música como grupo de controlo, em 195 voluntários. O grupo de tai-chi e Yoga
apresentaram mais baixos de distress psicológico, fadiga e exuastão, do que o grupo das
artes marciais e nenhum dos grupos teve mais afecto positivo do que o grupo de
controlo.

Auto-Conceito e Auto-Estima
O conceito de auto-estima tem um papel importante na saúde mental de um
indivíduo, sendo também uma das maneiras de prever o bem-estar subjectivo,
demonstrando-se como um importante mecanismo na estabilidade emocional e no ajuste
emocional às exigências da vida (Diener, 1984 in Landers & Arent, 2001).

3
Shestopal (1999), realizou um estudo com o objectivo de testar a hipótese de que
a actividade física modera a experiência de stress dos estudantes durante um semestre
académico, tendo chegado à conclusão de que a actividade física traz a benefícios
psicológicos positivos promovendo uma mudança no auto-conceito físico. O estudo
demonstrou também haver fortes similaridades na experiência subjectiva dos praticantes
de Yoga e de exercício. Sahajpal e Ralte (2000), demonstraram também que houve
efeitos ao nível da melhoria do auto-conceito nos indivíduos.
Daubenmier (2002) realizou um estudo para determinar se as mulheres que
praticam Yoga têm uma maior satisfação com o seu próprio corpo (body satisfaction) do
que as praticantes de exercício aeróbio. Os participantes do Yoga apresentaram um grau
mais elevado de consciência do corpo (body awareness) e de confiança durante o
exercício assim como na vida diária; apresentaram também níveis mais elevados de
auto-aceitação, menos tendência de comparar sua aparência física do que os outros
grupos, menos discrepâncias entre os atributos físicos reais e ideais, menos auto-
objectivação (self-objectification) e mais satisfação com o seu próprio corpo.
Menzie (2004), menciona um estudo piloto efectuado pela Universidade de
Michigan, com estudantes adolescentes afro-americanos, tendo sido feitos dois grupos,
um que praticou uma técnica de meditação duas vezes por dia, durante 4 meses e outro
grupo de controlo que não teve qualquer prática. Foram aplicadas várias escalas,
solidão, competência emocional, auto-estima, afectividade positiva, ansiedade e
agressão. O grupo dos praticantes de meditação teve valores mais elevados na
competência emocional, na auto-estima e na afectividade positiva, não apresentando
diferenças significativas nas outras áreas. Cusumano e Robinson (1993), fizeram um
estudo onde participaram 95 estudantes femininas em 3 sessões semanais, tendo sido
examinado os efeitos de Hatha-Yoga e da relaxação progressiva, na frequência cardíaca,
pressão arterial, auto-eficácia física (physical self-efficacy) e auto-estima. Essas sessões
revelaram-se eficazes na redução da frequência cardíaca e da pressão arterial, na
melhoria da auto-estima e na diminuição das percepções de auto-eficácia física com o
tempo.

Os estudos apresentados indicam que o Yoga proporciona além de sentimentos


de bem-estar, um conjunto de benefícios a vários níveis (emoções, humor, auto-estima,
etc). No entanto, muito poucos estudos comparam os efeitos do Yoga aos da prática
desportiva mais tradicional, isto é, com modalidades de desporto colectivo (e.g.,

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basquetebol, futebol) e individual (e.g., ginástica artística, judo) ou mesmo actividades
associadas ao denominado fitness (e.g., aulas de grupo, treino cardiovascular). Sendo
assim, este estudo estende os anteriores na medida em que se pretende investigar se há
diferenças entre o Yoga e outras actividades físicas no que respeita aos benefícios
psicológicos que advém da prática.. Pretende-se ainda averiguar se há relação entre o
Índice de Massa Corporal (IMC), a idade e o tempo de prática e os benefícios
psicológicos. Nesse sentido formularam-se as seguintes hipóteses:
H1 – Os praticantes de Yoga apresentam maiores benefícios psicológicos quando
comparados com as restantes actividades físicas;
H2 – Não há diferenças significativas na auto-estima entre praticantes de Yoga e
praticantes de outras actividades físicas;
H3 – O tempo de prática e a idade influenciam os benefícios psicológicos de forma
diferenciada nos grupos de praticantes de Yoga quando comparados com os praticantes
de Outras Actividades Físicas.

Metodologia

A amostra foi constituída por 141 indivíduos, com idades compreendidas entre
os 13 e os 80 anos (M=29,8 e DP=11,7), tendo sido divididos em dois grupos. Um
grupo de 73 praticantes de Yoga, sendo 35 do género masculino, e um grupo de 68
praticantes de Outras Actividades (Basquetebol, Danças Sociais, Ginástica Rítmica),
sendo 38 do género masculino.

Instrumentos
Neste estudo, utilizou-se a seguinte bateria de questionários:
A ESEE (Escala Subjectiva da Experiência do Exercício) é a versão traduzida e
validada por Cabral e Palmeira, (2003) da Subjective Exercise Experiences Scale,
desenvolvido por McAuley e Courneya (1994), que avalia os estados emocionais
subjectivos ao exercício. A escala é composta por doze itens distribuídos por três
escalas: bem-estar (e.g., óptimo), desconforto (e.g., miserável), e fadiga (e.g., cansado).
Os itens do questionário são respondidos numa escala tipo Lickert, que varia de 1 a 7,
no sentido “Nada” a “Muitíssimo”. A validação deste questionário possui uma elevada

5
consistência interna para as três escalas: Bem-Estar (0,83), Mal-Estar Psicológico (0,80)
e Fadiga (0,88).
O PANAS é uma versão traduzida por Baptista (1999) do “Positive and
Negative Affect Schedule”, desenvolvido por Watson e Clark (1994), que avalia o
estado emocional dos indivíduos, em aspectos positivos (e.g., interessado) e aspectos
negativos (e.g., aflito). O questionário é respondido numa escala tipo Lickert que varia
de 1 a 5, no sentido “Nada ou Muito Ligeiramente” a “Extremamente”. Este
questionário relatou boas qualidades psicométricas, onde a análise da sua consistência
interna mostrou valores de 0,83 a 0,90 para os afectos positivos, e valores entre 0,85 a
0,90 para os afectos negativos.
O Questionário de Auto-Estima é uma versão traduzida do Self-Esteem/Self-
Concept Questionnaire por Antunes e Palmeira (2003), desenvolvido por Rosenberg
(1965), que avalia a auto-estima e auto-conceito dos indivíduos. É composto por dez
itens numa escala tipo Lickert de quatro pontos “Discordo Fortemente” a “Concordo
Fortemente”, resultando numa dimensão única. O questionário resultou de uma
tradução-retroversão, onde a consistência interna foi de 0,76 (Antunes & Palmeira
2003).

Procedimentos Operacionais
A aplicação da bateria de questionários foi efectuada num único momento, após a
prática de Yoga e das Outras Actividades.

Procedimentos Estatisticos
No estudo da hipótese 1 e 2 fez-se um teste t para amostras independentes, e na
hipótese 3 estudou-se a associação das variáveis por grupo através da correlação de
Pearson.

Resultados

Na análise da tabela 1, verifica-se que o grupo de praticantes de Yoga


apresentou valores mais elevados na melhoria do Bem-Estar Psicológico (t (135) =2.06,
p <0.05), valores mais baixos nas Emoções Negativas (t(135)=-2.25, p<0.05), no Mal-
Estar Psicológico (t(135)=-2.25, p<0.05), e na Fadiga (t(135)=-2.39, p<0.05), quando

6
comparados com os praticantes de outras actividades físicas. Não se verificou a
existência de diferenças entre grupos no que respeita à auto-estima.

Incluir aproximadamente aqui a tabela 1

Face à existência de diferenças entre os grupos, decidiu-se analisar a hipótese 3


diferenciando-se a amostra no Grupo de Praticantes de Yoga e Grupo de Praticantes de
Outras Actividades Físicas. Assim foram realizadas as correlações separadamente dando
origem à tabela 2. No Grupo das Outras Actividades Físicas (a sublinhado), verificou-se
uma relação entre a Fadiga com a idade (r(64)=0.40, p<0.01) e a Fadiga e o tempo de
prática (r(64)=0.34, p<0.01), revelando que os praticantes com mais idade e maior
tempo de prática apresentam valores mais altos de Fadiga. Ainda neste grupo, existe
uma associação entre a idade e as Emoções Positivas (r(64)=0.25, p<0.05), indicando
que os praticantes com mais idade demonstram também ter mais emoções positivas; e
por último houve relação entre o IMC e as Emoções Negativas (r(64)=0.27, p<0.05), no
sentido em que os indivíduos com maior IMC têm mais emoções negativas. No Grupo
de Praticantes de Yoga não se verificaram associações entre as variáveis em estudo.

Incluir aproximadamente aqui a tabela 2

Discussão

Os vários estudos revistos sugerem que há uma relação entre a actividade física e
o bem-estar, em que uma pessoa após a prática de actividade física se sente melhor do
que se sentia antes da prática (Cruz et al, 1996; Mota 1996; Berger & Motl, 2001).

Um dos benefícios da prática de Yoga encontrado em vários estudos sobre Yoga


revela-se ao nível do bem-estar (Malathi et al, 2000; Harinath et al, 2004; Sahajpal &
Ralte, 2000). Nesse sentido, neste estudo além de tentar confirmar esse benefício ao
nível do bem-estar, tentou-se também averiguar se há alguma relação entre a prática de
Yoga, estados emocionais, auto-estima/auto-conceito e se há diferenças entre
praticantes de Yoga e praticantes de outras actividades físicas.

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Os resultados mostram que, o grupo de Yoga após as aulas teve níveis mais
elevados de Bem-Estar Psicológico do que no grupo das Outras Actividades. Segundo
Berger & Motl, (2001), a actividade física habitual pode estar associada ao aumento do
bem-estar subjectivo ou a uma sensação de “sinto-me bem”, podendo-se concluir que os
praticantes de Yoga conseguem retirar mais benefícios da prática de Yoga do que os
praticantes de outras actividades físicas desportivas. Esta ideia é concordante com o
estudo realizado por Baldwin (1999), onde também houve diferenças entre o grupo de
Yoga e as outras actividades, tendo os praticantes de Yoga registado mais alterações
positivas e mais afecto positivo imediato. Isto poderá ser explicado pelo facto de que a
prática de Yoga aumenta a secreção endógena de melatonina que por sua vez é
responsável pela melhoria da sensação de bem-estar (Harinath et al, 2004). Esta
melhoria da sensação de bem-estar é também confirmada por Malathi e Damodaran,
(1999), Malathi et al, (2000) e de Sahajpal e Ralte (2000). Além do bem-estar surge
também associado à prática de Yoga outros benefícios ao nível dos sentimentos de
relaxamento, melhoria da concentração, da auto-confiança, da eficácia, das relações
interpessoais, da atenção, do optimismo e diminuição da irritabilidade (Malathi &
Damodaran, 1999), que segundo Castro (2000) vai de encontro a um dos objectivos do
Yoga “desenvolver o ser humano em todas as suas facetas de forma integral e
harmoniosa mantendo-o no seu estado natural, saudável e feliz” (pp. 21).

Apesar de os praticantes de Yoga neste estudo terem tido valores mais altos no
bem-estar psicológico, não se verificou nenhuma relação entre o tempo de prática e a
idade associados ao bem-estar psicológico e à auto-estima, podendo-se concluir que os
benefícios que os praticantes retiram da prática de Yoga, nomeadamente o bem-estar
psicológico, não varia consoante a idade ou o tempo de prática. Ou seja, os praticantes
beneficiam sempre da prática de Yoga quer sejam mais novos ou mais velhos ou
pratiquem à muito ou à pouco tempo. Nos praticantes das outras actividades físicas, tal
já não se verificou, pois os praticantes com mais idade conseguem tirar mais emoções
positivas.

No que diz respeito à auto-estima associada ao tempo de prática e à idade, no


grupo dos praticantes de Yoga ou no grupo das outras actividades físicas, não se
verificou nenhuma relação entre as variáveis. Contudo, um estudo piloto mencionado
por Menzie (2004) diz que adolescentes praticantes de meditação tiveram valores mais
elevados na competência emocional, na afectividade positiva e na auto-estima.

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Neste estudo, também não se verificou diferenças no auto-estima/auto-conceito
no grupo de praticantes de Yoga e no grupo de praticantes de outras actividades físicas.
No entanto, vários estudos efectuados referem que as modificações corporais que devêm
da prática de actividade física podem promover e aumentar o auto-conceito (Weinberg
& Gould, 1995; Fox, 1997, 2000 in Carapeta et al, 2001). Outros estudos também
discordam dos resultados obtidos onde os praticantes de Yoga após a prática tiveram
uma melhoria no auto-conceito (Cusumano & Robinson, 1993, Shestopal, 1999,
Sahajpal & Ralte, 2000). Num estudo efectuado por Daubenmier (2002), o grupo de
Yoga apresentou mais consciência do corpo e confiança durante o exercício e na vida
diária, níveis mais elevados de auto-aceitação, menos tendência de comparar sua
aparência com outras pessoas, menos auto-objectivação e mais satisfação com o seu
próprio corpo.

O grupo de Yoga, neste estudo apresentou também níveis mais baixos de mal-
estar psicológico, emoções negativas e fadiga, do que no grupo das outras actividades
físicas. Em estudos semelhantes o grupo de Yoga apresentou níveis mais baixos distress
psicológico, fadiga e exaustão (Szabo et al, 1998), e diminuição nos níveis humor
negativo e fadiga após as aulas de Yoga (Woolery et al, 2004).Uma possível explicação
para os níveis mais baixos de fadiga pode estar relacionados com o facto de que no
Yoga o relaxamento é realizado durante os vários Ásana (posições) e sempre dentro das
capacidades de cada praticante, não chegando assim a ficarem fatigados. Porém, no
grupo de Yoga, revelou-se uma tendência quase significativa de os praticantes mais
novos apresentarem mais Fadiga, podendo tal se dever ao facto de os alunos mais novos
terem mais dificuldade conseguir relaxar ou em controlar a respiração. No grupo das
outras actividades físicas, a relação da idade com a fadiga foi inversa, no sentido de que
os praticantes mais velhos apresentaram mais fadiga, o que poderá estar relacionado
com a perda da aptidão física. No grupo de Yoga tal relação não se verifica, podendo-se
retirar a ilação de que os praticantes de Yoga mais velhos não chegam a ficar com
fadiga.

Na relação entre o IMC, o bem-estar psicológico e auto-estima, no grupo de


Yoga não se verificou nenhuma relação, podendo se concluir que não é, por um
indivíduo ser mais ou menos pesado que não vá beneficiar da prática de Yoga. No
grupo das outras actividades físicas, verificou-se que os indivíduos com maior IMC
apresentaram mais emoções negativas.

9
O Yoga apresentou diferenças significativas face às outras actividades físicas
estudadas distinguindo-se principalmente neste estudo, por apresentar níveis mais
elevados de bem-estar psicológico e valores mais baixos de mal-estar psicológico,
emoções negativas e fadiga, do que o grupo das outras actividades físicas.

Limitações e Estudos Futuros

Na recolha da amostra deste estudo houve algumas condicionantes, o que


originou uma amostra não tão uniforme quanto desejável, em relação à idade dos
indivíduos. Outra limitação revelou-se na falta de controlo da frequência, duração e
intensidade da prática de Yoga e das actividades físicas. O facto de não se ter controlado
os níveis de bem-estar subjectivo antes da prática para permitir a comparação com o
após a prática também é uma limitação a ter em conta. Esta última limitação constitui a
nossa primeira proposta de estudo futuro.

Como outras investigações nesta área, seria interessante avaliar os efeitos da


prática de Yoga, mas delimitando as suas disciplinas técnicas como por exemplo,
centrar o estudo apenas no efeito do relaxamento ou da meditação no indivíduo, de
forma a obter um efeito de causalidade mais directo.

Conclusões

Este estudo permitiu retirar as seguintes ilações:

- Os praticantes de Yoga beneficiam mais da prática do que os praticantes das outras


actividades físicas;

- Os benefícios da prática de Yoga revelam-se ao nível do bem-estar psicológico e da


diminuição das emoções negativas, do mal-estar psicológico e da fadiga;

- O grupo de Yoga demonstra benefícios na prática independentemente da idade, do


tempo de prática ou do IMC.

10
Tabelas

Tabela 1. Média, Desvio Padrão e teste t para amostras independentes na


comparação do yoga com outras actividades físicas nas variáveis de bem-estar
psicológico.
Yoga Outras Actividades
Variável M DP M DP t
ESEE Bem-Estar Psicológico 20.25 4.05 18.88 3.74 2.06*
Mal-Estar Psicológico 5.75 2.52 6.9 3.34 -2.25*
Fadiga 11.64 6.39 14.22 5.88 -2.39*
PANAS Emoções Positivas 36.24 5.82 35.94 5.04 0.32
Emoções Negativas 12.68 3.92 14.1 3.49 -2.25*
AE Auto-Estima 31.96 3.6 32.1 2.94 -0.21
Nota: *p <0.05

Tabela 2. Correlação entre a idade, o tempo de prática, o Índice de Massa


Corporal e as variáveis de bem-estar subjectivo

Idade Tempo IMC


Bem-Estar Psicológico 0.04 0.06 -0.02
0.22 -0.14 -0.01
Mal-Estar Psicológico -0.12 -0.14 0.08
-0.23 0.13 0.23
Fadiga 0.22 -0.09 0.10
-0.34 ** 0.40 ** 0.21
Emoções Positivas 0.02 0.09 -0.19
0.25 * -0.10 -0.02
Emoções Negativas -0.13 -0.05 -0.09
-0.08 -0.12 0.27 *
Auto-Estima -0.07 0.14 -0.08
0.01 0.18 0.09
Nota: *p <0.05; **p <0.01. IMC – Índice de Massa Corporal. Os valores a sublinhado
são relativos às outras actividades físicas, os não sublinhados aos do Yoga. Os valores a
negrito indicam as situações onde existem diferenças entre o Yoga e as outras
actividades físicas.

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Referências Bibliográficas

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