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Aderência ao exercício e crenças de auto-eficácia.

Chapter · December 2006

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Roberto Tadeu Iaochite


São Paulo State University
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Iaochite, R. (2006). Aderência ao exercício e crenças de auto-eficácia. In R. G. Azzi, & S. A. Polydoro(Eds.), Auto-eficácia em
diferentes contextos (pp.127-147) Campinas: Alínea.

ADERÊNCIA AO EXERCÍCIO E CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA

Roberto Tadeu Iaochite1

Ao investigarmos a temática da prática de atividade física nos deparamos com um


contra-senso preocupante e bastante complexo. Se, por um lado existe um consenso de que a
prática regular de atividade física exerce influência positiva e significativa sobre a condição de
saúde das pessoas, por outro, os índices de adoção e participação em programas de atividade
física permanecem abaixo do necessário e recomendado para se obter os benefícios de tal
comportamento.
Em nenhum outro momento da história tem se produzido estudos e discutido tanto
sobre os benefícios da prática regular de atividade física e de sua importância em relação às
diferentes dimensões da saúde, das implicações em relação à comunidade, às políticas públicas e
à produção do conhecimento.
A década passada foi um período fértil para a promoção e a pesquisa envolvendo a
atividade física, cuja produção acadêmica atingiu um novo nível de sofisticação científica e de
importância para a saúde pública (Dubbert, 2002). Ainda que esse fato represente um salto
significativo para a promoção da saúde, muito há que se fazer para promover maiores índices de
participação em práticas regulares de atividade física em todo o mundo.
Ao destacar a promoção da prática de atividade física é necessário compreender
que o comportamento de praticar exercícios é dinâmico, complexo e multideterminado por
diversos fatores de ordem pessoal, comportamental e ambiental. O que significa dizer que, a
decisão em mudar um comportamento, por exemplo, sedentário para ativo requer do indivíduo
uma avaliação, um julgamento de suas crenças acerca de sua competência para essa mudança, os
desafios ou barreiras, geralmente presentes no ambiente, que enfrentará com a mudança, além de
suas expectativas frente ao novo comportamento.
No que se referem aos fatores pessoais, mais especificamente às crenças, estudos
de correlação entre a adoção de um comportamento ativo e os diversos fatores intervenientes têm
apontado para o papel da crença de auto-eficácia como mediadora desse processo de mudança.
Além disso, estudos têm mostrado, também, as conseqüências em termos de persistência, ou

1
Doutorando pela Faculdade de Educação – UNICAMP, Campinas; Integrante do Grupo de Pesquisa Psicologia e
Ensino Superior; Professor Assistente da Universidade de Taubaté e da Escola Superior de Educação Física de
Cruzeiro. Coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Aderência ao Exercício – UNITAU/Lattes/CNPq.

1
continuidade, diante dos desafios das atribuições cotidianas (Dubbert, 2002; Bandura, 1997,
2004; Buckworth & Dishman, 2001; Dishman, 2001; McAuley. & Blissmer, 2002).
A partir das considerações preliminares, este capítulo se propõe a apresentar
aspectos inerentes à temática da aderência ao exercício, bem como estabelecer reflexões e
orientações para a promoção da prática regular de atividades físicas tendo o constructo da auto-
eficácia como interlocutor principal dessa proposta. Sendo assim, ao término desse capítulo, o
leitor deverá ser capaz de: compreender o processo de aderência ao exercício e conhecer seus
fatores de influência, reconhecer e refletir sobre as contribuições advindas dos estudos sobre o
constructo da auto-eficácia como um valioso referencial de leitura e compreensão da realidade no
que tange tanto ao planejamento de processos interventivos, como de produção de conhecimentos
na temática da aderência ao exercício.

A prática regular de atividade física

A literatura tem, consistentemente, apontado a influência da atividade física sobre


a condição de saúde tanto no âmbito pessoal – dimensões biológica, psicológica, motora e sócio-
cultural (Bandura, 1997; Fox, 1999; Zunft et al., 1999) quanto no âmbito coletivo, como é o caso
das políticas de saúde pública (Sallis, Bauman, Pratt, 1998).
Exercícios regulares com prescrição adequada estão fortemente associados à
diminuição da probabilidade de ocorrências de doenças cardiovasculares e coronarianas, bem
como diminuição da pressão arterial (Bandura, 1997; U.S. DHHS, 1996). Estudos cuja prescrição
da dosagem – intensidade, freqüência e duração – tem sido controlada apontam que a relação
entre atividade física e o risco de doenças coronarianas é inversamente proporcional (Blair et al.,
1995; Paffenbarger, Blair, Lee, 2001).
A obesidade é, atualmente, um dos principais problemas de saúde pública. Milhões
de pessoas em todo o mundo sofrem os efeitos causados pelo excesso de peso e isso tem se
tornado um grande desafio para os estudiosos em saúde pública e atividade física, pois a prática
regular de atividade física pode minimizar os problemas e os riscos decorrentes dessa patologia.
Problemas estes que acabam por afetar outras dimensões da saúde, como por exemplo, a
psicológica e a social do indivíduo, uma vez o corpo magro e esbelto tem sido apontado pela
mídia como sinônimo de beleza, status e poder.
Dada a possibilidade da prática de atividade física também contribuir
positivamente para a dimensão psicológica, em relação aos benefícios para essa dimensão há um
2
corpo de pesquisas em desenvolvimento sugerindo que pessoas mais ativas apresentam níveis
menores de ansiedade e sintomas de depressão (Bandura, 1997; Fox, 1999). Há alguma evidência
de que a prescrição da dosagem da atividade física esteja diretamente relacionada a esse processo.
Uma revisão de literatura extensa apresentada pelo Departamento Americano de
Saúde e Serviços Humanos (U.S. DHHS, 1996) aponta para relações positivas entre a prática
regular de exercícios e o alívio dos sintomas da ansiedade, depressão e aumento do humor.
Porém, a afirmação de uma relação de causa-efeito, bem como a prescrição da dosagem ideal,
ainda necessita de maiores investigações.
Já a dimensão social tem sido contemplada pela prática de atividade física à
medida que as pessoas passam a se integrar ao contexto do espaço destinado à prática, como por
exemplo em atividades mais estruturadas, supervisionadas e em grupo (ginástica, exercícios
resistidos e lutas), quanto naquelas mais individuais (caminhada, corrida, ciclismo, natação etc.),
realizadas em praças, centros esportivos e parques.
Num estudo desenvolvido por Stahl et al. (2001) cujo objetivo foi ressaltar a
importância do suporte social para a prática de atividade física, os autores encontraram que em
seis países diferentes, a participação da família, amigos, escola, colegas de trabalho etc – foi o
preditor mais significativo para a população considerada ativa. Os autores destacaram a
necessidade de estudos que esclareçam a relação entre ambiente físico e social e a participação na
atividade física.
Os esforços de pesquisadores, cujo foco está em ressaltar os efeitos que a prática
regular de atividade física pode exercer nas diferentes dimensões da saúde têm se mostrado
crescente e permanentemente visíveis pela produção acadêmica que abarca essa perspectiva de
estudo.
Dentro de uma perspectiva de mudança de padrões de comportamentos, praticar
regularmente atividade física é um dos fatores que pode contribuir decisivamente para a
implantação de um novo e saudável estilo de vida.
Temos percebido que grande parte das campanhas publicitárias e novelas
televisivas têm utilizado a atividade física, dentre outras finalidades, como sinônimo de bem-estar
e saúde, além de status e poder. Os produtos comercializados são muitos: alimentos, bebidas,
calçados, carros etc. Ainda que reconheçamos o papel e o poder que a mídia exerce na regulação
do comportamento, dados relativos à participação da população em programas regulares de
atividade física em diferentes países caminham na contramão da informação veiculada em tais
campanhas e programações da mídia.
3
Nos Estados Unidos, por exemplo, estudos (Bandura, 1997; Martin, Kulinna,
2004) utilizando medidas objetivas têm mostrado que a população acima dos 18 anos permanece
com os mesmos níveis de prática de atividade física obtidos em 1990, isto é, apenas 25% dos
jovens praticam exercícios dentro dos padrões estabelecidos de intensidade, freqüência e duração.
Ainda dentro da realidade americana, a maioria dos adultos não pratica atividade física com
regularidade e esse contexto se estende para os idosos também.
Um outro estudo desenvolvido por Margetts et. al. (1999) e realizado em
diferentes países membros da União Européia apresentaram resultados bastante insatisfatórios em
relação ao nível de participação em práticas de atividade física. Um desses estudos investigou
15.239 pessoas de 15 países diferentes e 62% da amostra relataram que não estavam engajados
em qualquer atividade física que atendesse à prescrição recomendada para a promoção da saúde.
A realidade brasileira tem sido pouco explorada em relação à produção de
conhecimento na determinação de índices dessa natureza. Uma pesquisa realizada pelo
DataFolha em 1997 com 2054 participantes, apontou que 60% dos brasileiros eram sedentários e
apenas 38% dos indivíduos fisicamente ativos praticavam regularmente algum tipo de atividade
física. Em artigo apresentado na revista Public Health and Nutrition, pesquisadores do
CELAFISCS** destacaram que 54,8% da população da região metropolitana de São Paulo
(n=645) atende às recomendações para a prática de atividade física objetivando a melhora da
saúde. É importante destacar ainda que, os resultados possam ser satisfatórios diante de outras
realidades, a amostra não é representativa em relação à população estudada.
Um dos grandes desafios enfrentados por pesquisadores e planejadores de
intervenção na área de atividade física – inclusive os professores e profissionais de Educação
Física – tem sido o alto índice de sedentarismo de crianças e adolescentes. Alguns estudos têm
confirmado não apenas os índices, mas, sobretudo, atentado para a gravidade e o ônus que isso
pode gerar em termos de saúde pública num futuro não muito distante (Gordon-Larsen,
McMurray, Popkin, 2000; McKenzie, 2001; Sallis, 1993).
Nessa direção, é possível prever que o sedentarismo nos mais diversos períodos do
desenvolvimento humano poderá trazer conseqüências desastrosas para a população e uma
sobrecarga aos sistemas de saúde, dada a complexidade e multicausalidade entre os fatores que
podem interferir na condição de saúde/doença de uma população. Além da sobrecarga, há que se
ressaltarem os altos custos impostos pelos sistemas de saúde vigentes em quase todos os países.

**
Centro de Estudos e Laboratório de Atividades Físicas de São Caetano do Sul.

4
Se associarmos esses fatores a uma condição de vida monopolizada muito mais
pelo tempo dedicado ao trabalho que ao tempo de lazer, é esperado, nesse contexto, um grande e
perigoso problema de saúde pública. Nesse sentido, a compreensão do comportamento de praticar
atividade física, dentre outros temas, poderá contribuir para a composição de um quadro diferente
e desejado pelos profissionais que atuam na promoção da atividade física e da saúde.

Aderência ao exercício e seus fatores de influência

O processo de aderência ao exercício está relacionado à manutenção num


programa ou prática de atividade física estruturada ou não, coletiva ou individualizada (Dishman,
1988), além de ser, dinâmico complexo e que sofre influências de diferentes dimensões e seus
respectivos fatores.
A identificação e o conhecimento desses fatores podem ser benéficos, pois, além
de permitir a compreensão do fenômeno, possibilita a reflexão sobre algumas estratégias que, a
partir de um dado referencial teórico de análise, poderiam fornecer orientações mais seguras e
eficazes no que tange aos processos de intervenção e de pesquisa.
A figura abaixo representa as principais dimensões – individual, ambiental e
comportamental e os fatores de influência mais proeminentes nos estudos sobre aderência ao
exercício, além da dinâmica existente entre as dimensões.

Indivíduo
• Variáveis demográficas
• Variáveis biomédicas
• Variáveis psicológicas

Ambiente Comportamento
• Físico • Características da atividade
• Sócio-cultural física
• Tempo • Atributos comportamentais e
habilidades

Figura 1 – Determinantes do processo de aderência ao exercício. Tradução e adaptação a partir de


Buckworth & Dishman (2001). Tradução livre, não autorizada.

5
Buckworth & Dishman (2001) afirmam que é possível identificar fatores comuns
relacionados à dimensão pessoal. São elas: a) variáveis demográficas e biológicas – condição
sócio-econômica, nível de escolaridade, gênero, etnia, genética, regulação fisiológica para o
exercício, condição física etc; b) variáveis psicológicas – auto-eficácia, auto-motivação,
expectativas dos benefícios, satisfação e atitudes; c) variáveis comportamentais – habilidades e
atributos.
Alguns estudos (Cragg, Craig, Russel, 1999; Kearney et al., 1999; Darido, 2004)
têm apontado e discutido as relações entre as variáveis demográficas e o nível de participação em
programas, supervisionados ou não, de atividade físicas com diferentes populações e contextos.
Como resultados, esses estudos têm apontado diferenças significativas de participação em termos
de maiores índices de freqüência e intensidade para o gênero masculino, geralmente, maior
adesão pelos indivíduos com maior nível de escolaridade, além de diferenças em relação à etnia e
períodos do desenvolvimento humano.
Segundo Dishman et al. (1985) as variáveis de ordem psicológica que têm se
mostrado mais relacionadas ao comportamento ativo são: auto-eficácia, auto-motivação, intenção
de se exercitar, expectativa de benefícios e o prazer. A intenção de se exercitar tem sido
explorada em estudos que procuram testar a sua validade como mediadora do comportamento de
exercício a partir de correlações entre atitudes e normas sociais (Bozionelos, Bennett, 1999).
A percepção do prazer também tem sido investigada como uma das variáveis de
correlação positiva com altos índices de freqüência e regularidade na prática de atividade física.
Associado a um estado de ânimo positivo, a sensação de prazer tende a reforçar a percepção de
sucesso no desempenho da atividade e isso, dentre outros fatores, está correlacionado, de alguma
forma, com a manutenção do comportamento (Wankel, 1993; Kimiecik, 2002).
O constructo da auto-eficácia tem sido apontado pela literatura como um dos
principais fatores psicológicos de influência no processo de aderência ao exercício e será
abordado em tópico específico.
No que diz respeito às variáveis que compõem o ambiente é possível destacar o
suporte social recebido – amigos, família, cônjuge etc e o contexto físico – espaço, infra-
estrutura, tipo de atividade (orientada ou livre), estação do ano, clima, condições de segurança no
local em que essa prática se desenvolve, entre outras.
Alguns estudos (Busckworth & Dishman, 2001; Courneya & McAuley, 1995;
Stahl et al., 2001) têm enfocando o papel desses fatores na promoção da atividade física e têm
encontrado resultados que evidenciam a participação destes, principalmente aqueles ligados ao
6
suporte social, na promoção do comportamento ativo. O que significa dizer que a prática de
atividade física na companhia do outro, ou em contextos de grupo podem favorecer à adesão
inicial e sua possível continuidade na atividade física devido às relações sociais que se
estabelecem no decorrer dessas práticas.
Courneya & McAuley (1995) ao examinarem as relações existentes entre
constructos da Teoria do Comportamento Planejado – atitudes, intenção e percepção de controle
do comportamento e suporte e coesão sociais num programa de atividade física orientada
encontraram que tanto o suporte social quanto a coesão social estiveram relacionadas
positivamente com os constructos estudados.
Stahl et al. (2001) investigaram a relação entre atividade física e os fatores
ambientais de ordem física, como por exemplo, a acessibilidade, as facilidades, os programas e
outras oportunidades e, também àqueles relacionados com o suporte social – família, amigos,
escola e trabalho. Segundo os resultados, os autores afirmaram que dentre os 3.342 participantes
do estudo, aqueles que perceberam pouco suporte social tinham duas vezes ou mais a
probabilidade de serem sedentários se comparados com aqueles que relataram receber bastante
suporte social. Ainda nesse estudo, os autores destacaram que o ambiente social foi o preditor
mais forte ligado à possibilidade de um comportamento ativo.
Segundo Malina (2001) a pesquisa nessa temática da aderência ao exercício tende
a focar sobre a adoção e a manutenção de um comportamento de prática regular de atividade
física, bem como sobre as barreiras que impedem as pessoas de se engajar em tal comportamento.
No modelo proposto por Buckworth & Dishman (2001) os fatores de influência ligados à
dimensão comportamental podem ser expressos pelas características da atividade física e pelos
atributos comportamentais e habilidades.
Em relação às características da atividade física a ser praticada, os autores sugerem
que a intensidade, o tipo, a duração e a freqüência são determinantes importantes para a prática.
A partir de pesquisas de meta-análise, os autores afirmam que as atividades de lazer e de baixa
intensidade apresentam melhores índices de aderência, embora destaquem, também que o fator
intensidade pode influenciar de maneira diferente em se tratando da fase inicial em relação à
manutenção da prática.
Dentre os atributos comportamentais e as habilidades, um dos fatores de destaque
participação na adoção da prática de atividade física é a história do indivíduo em práticas
anteriores. Ao buscarmos compreender os fatores de influência na prática de atividade física, há
que considerarmos, também, as experiências anteriores que os praticantes e não-praticantes
7
tiveram, pois estas podem ter contribuído positiva ou negativamente para a constituição de suas
crenças de auto-eficácia. Ou seja, ainda que as pessoas tenham a intenção de praticar atividades
físicas e a literatura tem apoiado exaustivamente esse comportamento, quando se trata, por
exemplo, de fases como a juventude e a maturidade, as experiências anteriores passam a ser
referências para o engajamento e enfrentamento de novos comportamentos.
Bandura (1997) ressalta que a despeito dos benefícios advindos da prática de
exercícios físicos, mesmo aqueles que iniciam uma rotina de exercícios, desistem após um
período curto de prática, ainda que tenham boas intenções. Em relação aos determinantes da
adesão ao exercício citados anteriormente, o autor sugere que estes possam ser encarados como
barreiras ou facilitadores e que a forma como o indivíduo atribuirá um ou outro significado passa
por como ele percebe suas próprias capacidades para encaminhar uma ação, isto é, suas crenças
de auto-eficácia (Bandura, 1997, 2004).

Crenças de auto-eficácia e aderência ao exercício

Os estudos que versam sobre as crenças de auto-eficácia vêm ganhando espaço no


universo acadêmico há mais de duas décadas e sua inserção tem se dado em contextos que vão
desde a educação ao esporte de alta competitividade. Com relação aos estudos realizados com
diferentes populações e contextos evidenciam altos índices de correlação entre a auto-eficácia e o
comportamento ativo (Bandura, 1997, 2004; Busckworth & Dishman, 2001; Courneya &
McAuley, 1995; Stahl et al., 2001). A auto-eficácia assume, então, um papel mediador entre o
indivíduo e sua ação, pois exerce influência nos processos cognitivos, afetivos, seletivos e
motivacionais e no próprio comportamento (Bandura, 1995, 1997).
A auto-eficácia percebida pode ser definida como “crenças nas próprias
capacidades para organizar e executar os cursos de ação requeridos para produzir dadas
realizações” (Bandura, 1997, p.3). No contexto da aderência ao exercício, a compreensão desse
conceito é dada, também, pela capacidade de se manter praticando atividade física e, mesmo
diante de impedimentos que poderiam surgir – como por exemplo, o mau tempo, após a
recuperação de uma lesão, a falta de tempo disponível etc – o indivíduo persiste, se esforça e
mantém seu nível e a regularidade da prática de atividade física.
A constituição da crença de auto-eficácia se dá por meio da influência de quatro
fontes principais: a) experiência de domínio (ou diretas); b) experiências vicárias (ou aprendidas
pela observação); c) persuasão social (ou verbal) e d) estados emocionais e fisiológicos.
8
As experiências de domínio ou diretas se constituem na forma mais efetiva de se
criar um forte senso de eficácia. Segundo Bandura (1994) quando as pessoas experimentam o
sucesso obtido de forma fácil, elas terão poucas chances de persistirem quando o fracasso
acontece. Por outro lado, um senso resiliente de eficácia requer experiências de superação dos
obstáculos que possam surgir através de um esforço perseverante. Nessa direção, podemos pensar
nas experiências diretas vivenciadas nas aulas de Educação Física Escolar, por exemplo, frente às
experiências de sucesso, de prazer e auto-conhecimento que elas podem (ou deveriam)
proporcionar, ou em relação aos momentos de fracasso, vergonha e, às vezes, humilhação.
Um segundo caminho de construção e fortalecimento das crenças de auto-eficácia
é por meio das experiências aprendidas via observação de modelos sociais. Isto é, à medida que
observamos pessoas com características similares às que possuímos se esforçando e persistindo
na realização de um dado comportamento, isso pode gerar a percepção de que também somos
capazes de nos comportarmos da mesma forma. McAuley & Blissmer (2002) citam como
exemplo a proliferação de vídeos e da própria televisão incentivando a prática de atividades
físicas e a compra de equipamentos. A respeito do potencial dessas experiências na constituição
da crença de auto-eficácia Bandura (1999) destaca:

“[...] as pessoas buscam modelos competentes que possuam as competências que


elas desejam. Através de sua conduta e modos de pensamento expressos, os
modelos hábeis transmitem conhecimento e ensinam aos observadores destrezas
e estratégias efetivas para manejar as demandas ambientais” (p.22)2.

A persuasão social tem sido utilizada como suporte para divulgar e incentivar a
prática de atividades físicas. Campanhas publicitárias, jornais, professores, pesquisadores e
políticos tendem a explorar mais essa fonte. A persuasão social se constitui na medida em que se
busca persuadir o outro, em geral, verbalmente, para que haja um aumento do esforço empregado
e de sua continuidade, principalmente frente à demanda ambiental. Bandura (1986) afirma que o
impacto que a persuasão pode causar na constituição da crença depende da credibilidade da fonte
persuasiva. Uma das formas bastante empregada na prática regular de atividade física é a
informação vinda do professor ou do técnico – feedback – elogiando o comportamento de se

2
“[...] las personas buscan modelos competentes que posean las competencias a las que ellas aspiran. Através de su
conducta y modos de pensamiento expresados, los modelos hábiles transmiten conocimiento y enseñan a los
observadores destrezas y estrategias efectivas para manejar las demandas ambientales” (p.22)2.

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engajar regularmente na prática de exercícios. Isso tende a aumentar o esforço para que esse
comportamento ocorra frequentemente.
A última fonte de constituição da crença de auto-eficácia é denominada de estados
emocionais e fisiológicos. Nível de ativação (arousal), fadiga, stress, ansiedade, tensão e dor são
manifestações que podem alterar a percepção de auto-eficácia, pois afetam diretamente o juízo
que as pessoas fazem sobre sua própria eficácia.
O controle adequado do nível de ativação na realização de tarefas ou no
enfrentamento de barreiras é uma das características importantes para se vivenciar situações de
sucesso e, portanto, de fortalecimento das crenças de auto-eficácia. Relacionado com a
focalização da atenção, o desencadeamento de diferentes reações psicofisiológicas, Bandura
(1986) afirma que o processamento da informação vinda de fontes fisiológicas pode influenciar,
de forma diferenciada, a percepção da própria capacidade física.
Na prática, a prescrição da intensidade durante a realização a realização da
atividade física ocupa um lugar de destaque em relação ao desencadeamento fisiológico que será
gerado. Quanto maior for a intensidade do exercício para um indivíduo despreparado para
suportar tamanha sobrecarga, maior a probabilidade de que este sinta cansaço exagerado, forte
tensão muscular, dor e, consequentemente, sensação de incapacidade para dar continuidade à
prática. Fato que, dependendo da auto-eficácia desse indivíduo para enfrentar situações adversas
como essa, poderá gerar o abandono de tal comportamento.
Em síntese, podemos compreender a influência dessas fontes quando
investigamos, por exemplo, para o comportamento do indivíduo em relação as suas experiências
atuais e passadas em termos de êxito nas tentativas de ingressar numa atividade física ou mesmo
nas aulas de educação física escolar; o que é possível ser aprendido por meio da observação de
outras pessoas e das informações da mídia sobre os aspectos que circundam a prática de atividade
física saudável e, como isso afeta os seus pensamentos, sentimentos, motivação ou, sua
capacidade de se auto-regular para esse comportamento de praticar atividades físicas.
O constructo da auto-eficácia tem sido apontado pela literatura como um
referencial importante para se compreender o processo de aderência ao exercício. Malherbe, Steel
e Theron (2003) ao examinarem a eficiência dessa teoria para predizer a aderência ao exercício
utilizando-se das mensurações de auto-eficácia física, eficácia de aderência e expectativas de
resultados, encontraram significância em termos de predição para a percepção de auto-eficácia
física, isto é, a percepção de capacidades e habilidades para o domínio dos exercícios físicos.

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McAuley & Blissmer (2002) destacaram, ao analisar a literatura na temática da
atividade física e das crenças de auto-eficácia, o papel que estas exercem como determinante e
conseqüência (resultado) da participação na atividade física. De fato, é possível realçar o papel da
crença na determinação do comportamento e, mais especificamente, da crença de auto-eficácia no
sentido de se fazer um auto-julgamento da própria condição em termos de capacidades e
habilidades para, por exemplo, iniciar uma rotina de exercícios ou um programa de atividade
física.
Vale dizer também que, em decorrência dessa ação e de como as relações entre as
demandas do ambiente, a realização do comportamento e o próprio praticante perante sua auto-
avaliação em termos de suas expectativas e valores, poderá haver ou não modificações na
percepção de auto-eficácia e que, portanto, nessa situação, a auto-eficácia pode ser vista como
conseqüência ou resultado.
A decisão de ingressar num programa de atividade física e sua subseqüente
continuidade são processos relevantes na aderência ao exercício e devem ser vistos como
desafios, principalmente por aqueles que mantêm um comportamento sedentário ou por aqueles
que estão recomeçando a prática após algum tratamento de saúde (McAuley, Pena, Jerome,
2001).
Nessa direção, é fundamental que os responsáveis por planejar, implementar e
avaliar os programas de atividade física e de exercícios reconheçam essa informação como um
direcionamento importante para estabelecer os objetivos, o nível de desafio das tarefas a serem
cumpridas e a prescrição em termos de intensidade, freqüência e duração. Caminhar nessa
direção tendo o referencial da teoria da auto-eficácia, por exemplo, permite que os profissionais
da área da saúde possam prever os prováveis resultados, estabelecer expectativas e objetivos que
possam servir como guias e auto-incentivos às pessoas que estão (re) ingressando na atividade
física.
Bandura (2004) discute a promoção da saúde dentro do referencial da Teoria
Social Cognitiva e destaca o papel central da auto-eficácia e suas relações com o estabelecimento
de objetivos, expectativas de resultados e a percepção do ambiente como um fator facilitador ou
de impedimento – vide esquema abaixo.

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Expectativas de resultados
• Física
• Social
• Auto-avaliativos

Auto-eficácia
Objetivos Comportamento

Fatores sócio-estruturais
• Facilitadores
• Impedimentos

Figura 2 - Caminhos estruturais de influência em que a auto-eficácia percebida afeta hábitos de


saúde diretamente e através de seu impacto sobre os objetivos, expectativas de resultados e a
percepção dos facilitadores e impeditores sócio-estruturais para o comportamento de promoção
da saúde (BANDURA, 2004). Tradução livre, não autorizada.

O modelo esquemático proposto por Bandura (2004) permite estabelecer relações


entre o comportamento de aderência ao exercício a partir das relações que são estabelecidas entre
as crenças de auto-eficácia do indivíduo e sua percepção dos fatores sócio-estruturais, os
objetivos e como o indivíduo cria e estabelece as relações com as expectativas de resultados que
podem ser de ordem física – torna-se mais habilidoso, melhorar sua aparência, de ordem social –
fazer parte de um grupo, ser reconhecido dentro do grupo e aqueles ligados às reações auto-
avaliativas positivas, isto é, por meio do exercício, se sentir auto-satisfeito e auto-valorizado por
seu comportamento.
Bandura (1997) destaca que as crenças de auto-eficácia exercem um papel
fundamental nesse processo, uma vez que, mais importante do que possuir as habilidades, é o
indivíduo se sentir capaz de mobilizar esforços por si próprio para vencer as adversidades de se
iniciar a prática de exercícios.
Dawson (2001) buscou investigar o papel mediador da auto-eficácia em relação
aos objetivos e à freqüência (número de sessões) no exercício de praticantes experientes. Como
resultado, o autor destacou que o estabelecimento de objetivos teve uma influência preditiva na
percepção de auto-eficácia, de forma que esta também acompanhou os resultados em relação à
freqüência nas oito primeiras semanas de prática. Segundo o autor, os resultados obtidos nesse
12
estudo são semelhantes aos encontrados num estudo anterior (Dawson & Brawley, 2000) com
praticantes iniciantes na prática de atividade física.
Segundo Bandura (1997, p. 410)3:

“Em atividades complexas, os fatores que determinam a adoção se diferenciam


em alguma extensão daqueles que influenciam a manutenção. Adoção depende
de fatores que facilitam a aquisição de conhecimento, requerem sub-habilidades
e capacidades gerais, enquanto que a manutenção se apóia pesadamente sobre a
capacidade de se auto-motivar para utilizar habitualmente o que se aprendeu”
(Bandura, 1997, p.410).

O autor destaca, ainda, que esse processo possui características e demandas


diferentes em relação à motivação frente aos períodos inicial e de manutenção. De forma mais
aplicada, seria interessante desenvolver as habilidades e capacidades básicas que fornecem o
suporte para a prática (aspectos físicos e motores) e, na manutenção, os aspectos da auto-
motivação para se manter praticando exercícios e explorando o seu próprio potencial.
Em relação ao estabelecimento de objetivos, os quais podem servir como guia e
auto-incentivos, o referencial teórico aponta para a necessidade de objetivos a curto prazo na
medida em que estes fortalecem o nível de esforço, fornecem pistas para a ação, reforçam o
comportamento e favorecem ao fornecimento de feedback. Assim, é possível, dentro do contexto
da prática, progredir rumo à prescrição das atividades em termos de metas, intensidade, freqüência
e duração dos exercícios. Para isso, é possível avaliar, primeiramente, a auto-eficácia percebida
para o domínio da prática de atividade física e, diante dos dados, estabelecer prescrições adequadas
que, além de desenvolver a dimensão funcional do indivíduo, possa contribuir para aumentar e
fortalecer suas crenças de auto-eficácia para aquele domínio (o do exercício) e garantir maiores
possibilidades de engajamento contínua à essas práticas.

3
“In complex activities, the determinants of adoption differ to some extent from those governing maintenence.
Adoption relies on factors that facilitate acquisition of knowledge, requisite subskills, and generative capabilities,
whereas maintenence rests heavily on the ability to motivate oneself to use habitually what one hás learned”
(Bandura, 1997, p.410).

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A mensuração das crenças de auto-eficácia na aderência ao exercício

A mensuração das crenças de auto-eficácia no domínio da aderência ao exercício


tem sido realizada por meio de diferentes desenhos metodológicos, o que vale dizer em termos de
amostras, instrumentos e técnicas de análise dos dados.
McAuley & Mihalko (1998) além de oferecerem um panorama sobre o constructo
da auto-eficácia, discutiram as várias medidas encontradas na literatura e suas respectivas
propriedades psicométricas. Os autores analisaram 85 estudos datados entre 1983 e 1995 e
encontraram diferentes medidas relacionadas ao constructo da auto-eficácia.
Segundo os resultados, a maior parte dos estudos tem utilizado a eficácia para o
exercício como a principal medida (34%), seguida pela eficácia em relação às barreiras (30%).
Quanto às propriedades psicométricas dos instrumentos, os autores apontaram que a
confiabilidade nas medidas de eficácia para o exercício esteve em torno de 52% e 66,7% para as
medidas de eficácia em relação às barreiras.
Para McAuley, Pena e Jerome (2001) existem várias medidas de auto-eficácia
relacionadas ao exercício. Entre elas os autores destacam:
a) eficácia para o exercício – crenças que o indivíduo possui sobre suas capacidades para se
engajar com sucesso no exercício ou prática de atividade física, cuja medida se dá,
geralmente, em relação à freqüência e duração na atividade;
b) eficácia em relação às barreiras – crenças que o indivíduo possui sobre sua capacidade
para superar as barreiras ou desafios advindos do ambiente, do próprio individuo e
aqueles ligados à dimensão social.
Embora, os autores destaquem que em grande parte dos estudos seja possível
encontrar alguma evidência da validade e confiabilidade dos instrumentos utilizados, há que se
pensar no constructo da auto-eficácia em termos de antecedentes (determinantes) e conseqüências
(resultados) e na conceituação e mensuração desse constructo de forma apropriada e precisa para
que ele possa oferecer contribuições para o funcionamento humano.
Dentre as várias indagações que surgem no processo de mensuração e de
construção de instrumentos para se acessar as crenças de auto-eficácia, estão àquelas relacionadas
aos domínios – gerais ou específicos, e em relação às dimensões – nível, força e generalidade.
No que diz respeito aos domínios, Bandura (1997) afirma que medidas mais gerais obscurecem o
que está sendo medido tanto quanto diminuem a força preditiva da crença, pois índices gerais de
eficácia pessoal estabelecem pouca ou nenhuma relação com as crenças de eficácia relacionadas
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aos domínios de uma atividade ou comportamento em particular (Earley & Lituchy, 1991;
McAuley & Gill, 1983 in Bandura, 1997).
Sobre o domínio da generalidade e especificidade, Bandura (1997) destaca,
também, que se a proposta é explicar e predizer um nível de desempenho em particular numa
determinada situação, uma medida de eficácia de alta especificidade seria mais relevante. O autor
ainda pontua que, ao se testar proposições teóricas sobre os processos pelos quais as crenças de
eficácia afetam cursos particulares de ação, isso deve ser feito examinando-se as micro-relações
dessas particularidades.
Nessa direção, ao se avaliar as crenças de auto-eficácia para aderir a um
comportamento de prática de atividade física, não basta que se avalie apenas a eficácia para a
prática de exercícios, como é proposto, por exemplo, pela escala de eficácia física (physical self-
efficacy), pois essa avaliação é geral e apresenta pouco poder de predição por não acessar as
particularidades da interação entre os diferentes fatores de influência que afetam o processo de
aderência ao exercício (Bandura, 1997; McAuley & Blissmer, 2002).
Quanto à mensuração das dimensões que compõe as crenças de auto-eficácia, esta
tem sido acessada em termos de nível, de força e de generalidade. Avalia-se na dimensão do nível
quando se acessa o quanto que as crenças que o indivíduo possui sobre suas próprias capacidades
para realizar uma tarefa ou um elemento específico que a compõe pode influenciar no seu
comportamento. Quando se mensura os diferentes graus de desafios ou impedimentos frente a um
desempenho de sucesso para uma determinada tarefa – por exemplo, executar toda ou parte de
uma coreografia numa aula de ginástica, completar o treinamento previsto numa sessão de
musculação, caminhar ou correr distâncias cada vez maiores etc., também se avalia a dimensão
de nível da auto-eficácia.
A dimensão força é avaliada pelo grau de convicção que o indivíduo possui de que
ele pode realizar uma dada tarefa com sucesso. Geralmente é expressa em percentagem -
variando de 0% quando tem certeza de que não é capaz, e 100% para a certeza total de que é
capaz de realizar com sucesso. Seguindo um dos exemplos acima, ao acessar a força das crenças
de auto-eficácia para a prática da ginástica, seria necessário questionar qual é o grau de certeza
que alguém poderia ter em conseguir realizar, com sucesso, a coreografia apresentada na aula de
ginástica.
Já a generalidade representa a crença na própria capacidade para realizar tarefas
que apresentem habilidades paralelas ou grau de similaridade àquelas requeridas para uma tarefa
ou comportamento em específico. Assim, acessar a generalidade da crença de auto-eficácia para a
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prática da caminhada ou da corrida pode ser útil para se avaliar as crenças de auto-eficácia para
outros tipos de atividade aeróbicas, como por exemplo, andar de bicicleta, nadar, fazer algum tipo
de ginástica etc.
Um dos aspectos essenciais na avaliação de qualquer constructo teórico diz
respeito à coerência teórica entre o constructo a ser medido e o referencial teórico que
fundamenta sua construção/validação. Sobre isso, Bandura (1997, p. 45) afirma que “as medidas
de auto-eficácia ganham validade a partir do sucesso em predizer os efeitos especificados pela
Teoria Social Cognitiva, a qual o fator da eficácia está arraigado”.
Inúmeros estudos têm sido realizados na tentativa de predizer e intervir na
mudança dos padrões de comportamento frente à inatividade ou sedentarismo humano avaliando
as crenças de auto-eficácia. Embora essa preocupação com a produção de novos conhecimentos
seja válida e pertinente, há que se refletir sobre a confiabilidade nos dados apresentados por
instrumentos pouco confiáveis e desconectados com princípios teóricos sólidos.

Considerações finais

Dada a complexidade gerada pela multiplicidade de fatores que afetam o


comportamento de aderir à prática de atividade física somando-se ao poder da crença de auto-
eficácia no que diz respeito à influência sobre os diferentes processos cognitivos, afetivos,
seletivos e motivacionais e, conhecendo e compreendendo a constituição dessas crenças, parece
possível pensar na conjectura desses elementos no tocante à planificação de estratégias que
possam contribuir para a aquisição de padrões de comportamento mais saudáveis em relação à
prática de atividade física.
Se essa é uma direção possível, é fundamental que os profissionais ligados à área
da promoção da educação e da saúde compreendam, além das variáveis que influenciam o
comportamento, o papel das crenças de auto-eficácia e sua relação com os pressupostos da Teoria
Social Cognitiva proposta por Bandura (1986). Nesse caminho vale ressaltar que a compreensão
da reciprocidade triádica – princípio norteador da teoria que aponta a relação bidirecional entre as
dimensões do indivíduo, do ambiente e do comportamento – seja reconhecida e estudada.
Assim, partindo dessa possibilidade, ao se estudar o processo de aderência ao
exercício, não nos basta mais identificar apenas a freqüência ou o volume de pessoas que
praticam ou não atividade física. É preciso ir além. É preciso compreender, também, as relações e
o papel da família, da escola, do grupo social, dos pares, das instituições e órgãos responsáveis
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pela elaboração de políticas públicas, enfim das demandas sociais, em favorecer a esse
comportamento de prática.
Dishman (2001), entre outros pesquisadores, têm destacado a necessidade de se
compreender melhor o fenômeno da aderência ao exercício a partir da compreensão da motivação
e da história de vida dos indivíduos praticantes e não praticantes de atividades físicas e ressalta,
ainda, que o sucesso das intervenções nesse contexto dependerá, provavelmente, da escolha de
abordagens teóricas que dêem suporte acadêmico para as questões e dúvidas que certamente
surgem num processo de intervenção.
Nesse sentido, nos parece possível olharmos tanto para o cenário das aulas de
educação física na escola dada sua importância inicial no envolvimento com a prática de
atividades físicas – para muitos alunos, uma das primeiras experiências de domínio – sua
favorabilidade e riqueza de experiências que esse contexto pode possibilitar, quanto para o
referencial da Teoria Social Cognitiva e, em especial, para o constructo da auto-eficácia na
participação do funcionamento cognitivo, como uma base sólida de sustentação teórica no que
tange à compreensão do fenômeno e à estruturação de um processo de intervenção com mais
qualidade.

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