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AV.

1 - EPISTEMOLOGIA
Discente: Rosângela dos Santos da Silva Dias. DRE: 123308169

Discorra, com base nos textos discutidos em aula, sobre a importância da Revolução
Científica para a Psicologia

No mundo pré-científico, a postura do homem perante a natureza é de contemplação, onde se


constata os fenômenos, mas não se age sobre eles, onde a preocupação se dá com o “ser”, se
dá na verdade metafísica, naquilo que é imutável, tudo já está dado, não havendo necessidade
de sistematizar nada. O conhecimento científico surge de uma necessidade particular do
homem em entender a natureza a qual se tem contato e, ao se dedicar a entendê-la, torna-se
capaz de modificá-la, assumindo uma postura ativa. Isto é, muda completamente o nível de
acesso à realidade: o interesse não vai se limitar pela busca da coisa em si, por um certo
dogmatismo que consagra que as coisas são do jeito que são porque algo assim foi feito. Me
parece coerente chamar de revolta espiritual: o homem agora realiza-se no mundo! Antes isso
não era possível. Agora o homem se volta à criação de mecanismos para suprir as suas
necessidades; o ser dá lugar à objetividade. Isso porque o homem está intervindo na natureza,
e isso é uma revolução do modo de se conhecer - passamos a ter uma realidade formal
constituída por regras que permitem sua reprodução, e que torna a ciência isso que ela é.

Entendendo como se conhece alguma coisa, agora vale pensar no que a natureza faz com esse
corpo e o que o homem, enquanto sujeito, faz com esse corpo enquanto homem livre, uma
vez que tem escolha. No entanto, a psicologia tem a pretensão de tratar do sujeito como
tratamos de qualquer órgão adoecido desse sujeito. Eis a questão: o médico segue um
protocolo, e caso o paciente não acompanhe e siga o que foi prescrito, o tratamento poderá se
mostrar ineficiente, mas o médico terá respaldo legal por ter passado o protocolo. Nesse
sentido, como pode se dar a assistência de um psicólogo? Como o psicólogo pode medir as
chances de dar certo? Como pode garantir o sucesso de um tratamento? É uma aposta. Uma
aposta que depende, invariavelmente, do compromisso envolvido pelo sujeito assistido.

Distinguir “aquilo que é e aquilo que você gostaria que fosse” é a fronteira da realidade tal
como ela é e a realidade que o sujeito recebe. Se o psicólogo não começar sempre por esse
referencial, estará rendido a uma tentativa mal sucedida de retificação do sujeito? Como se
estivesse numa busca interminável de trazer à tona um ser que caiba em si mesmo com
totalidade, como todo e qualquer outro objeto na natureza se mostra? E, por não ser passível
de correção, acredito que isso também não signifique que reste apenas o padecimento para o
sujeito por não corresponder a uma certa natureza. Somos o que podemos ser na medida em
que tentamos ser e também não ser. Para Kant, é o dado moral que nos diferencia dos outros
animais: o homem é livre. Para ser livre, você não tem que ser determinado pela natureza, por
isso, a liberdade é uma evidência de que existe a moral. O sujeito age, reage, invoca e
transforma, tudo isso é liberdade. O exemplo usado em sala sobre greve de fome explicita
que o sujeito, incontestavelmente, vai contra sua natureza mais primitiva. Tudo isso porque
tem liberdade. Se, para Kant, é a liberdade que se opõe à natureza, então o homem é isso que
faz com a sua liberdade. E para a psicologia o problema está nisso que escapa à natureza
natural: O que se pode fazer sobre essa natureza que se mostra perturbada? Só temos notícia
dela quando as coisas vão mal. Mas se o homem é isso que faz com a sua liberdade, como
pode este mesmo homem dizer que vai mal a partir de uma liberdade que lhe é própria? Indo
bem ou mal, foi fruto da liberdade, e assim se faz também para quando vamos resolvê-la.
Lidar com a realidade interna com objetividade por ser dotada como ciência, eis o desafio da
psicologia. Frustrante, para dizer o mínimo - não há exatidão e não há dados precisos, pois
não se trata de uma realidade formal. E a nível de subjetividade, dói demais ver que, nem
tudo que parece, é. O sujeito vai teimar dizendo que para a água ser considerada “água”, ela
deve ser morna e não fria, sendo H2O a sua cópia mais fiel. De forma pragmática, é uma
ferramenta para gerenciamento de crises. Talvez pararaios, talvez de band-aid, mas ainda,
uma tentativa. Tentativa arriscada, já que o psiquismo não é lógico, mas ainda é uma tentativa
legítima de se colocar em um lugar onde nenhuma outra ciência se coloca: na alma. Assim
sendo, não sei responder se haverá ciência que dê conta da pergunta "Para onde estou guiando
a minha vida?". A vida e a não vida são realidades físicas e é dentre esses dois extremos que
a liberdade se faz. Não havendo script, o homem faz o que quer, mas como o homem pode
assegurar o seu querer?

Nessa perspectiva, as aulas de epistemologia para Psicologia oferecem discussões de caráter


ético, para nos indagar: “Entendendo como arriscada, que tipo de psicologia você quer
produzir? ”.Concordo que a psicologia tenta explicar àquilo que a ciência não alcança. Não
funciona como uma escuta qualquer ou como uma escuta que seja conveniente (que vai
apenas concordar com tudo o que você diz), ao contrário, um psicólogo tem como dever não
necessariamente concordar com tudo que o paciente diz, mas de compreender o que está
sendo dito ali. O psicólogo vai tratar de como o sujeito vai lidar com o que é seu, e o seu
protocolo, no final, é uma aposta.

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