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julho.

as ruas de Chicago. Mobi- Parsons, Lingg, Engel,


lizações essas que se se- Spies e Fischer foram con-
guiriam pelos dias seguin- denados à forca, apesar da
tes, quando em 04 de maio, inconsistência de provas
na praça Haymarket, uma ex- que os ligassem ao inci-
plosão foi utilizada como dente em Haymarket.
justificativa para desenca- Um dia antes do cumpri-
dear um grande processo de mento da sentença, Louis
repressão e violência poli- Lingg cometeu suicídio en-
cial que resultou na morte golindo uma cápsula explo-
de cerca de uma centena de siva. Parsons, Engel, Spies
pessoas, além da prisão de e Fischer foram enforcados
milhares de operários co- em 11 de novembro de 1887,
munistas e anarquistas. na cidade de Ilinois, no
Na ocasião, os anar- estado de Chicago. Os cin-
quistas Albert Parsons co são lembrados pelo mo-
(tipógrafo estadunidense, vimento operário, em todo
de 39 anos), Louis Lingg o mundo, como os mártires
(carpinteiro alemão, de 23 de Haymarket.
Antes de qualquer coisa momento, as origens clas- anos), Geoge Engel (tipó- Schwabm, Neeb e Fielden
é preciso declarar: dia dos sistas do 1º de maio re- grafo alemão, de 51 anos), acabaram sendo condenados
trabalhadores e das traba- montam às mobilizações de Adolph Fischer (tipógrafo à prisão perpétua, sendo
lhadoras, não dia do tra- 1886, protagonizadas por alemão, de 31 anos), August inocentados e libertados
balho! O 1º de maio jamais anarquistas estadunidenses Spies (tipógrafo alemão, em 1893.
pode ser compreendido como em Chicago. de 32 anos), Michael Schwab Na década de 1890, em
uma data de confraterniza- As lutas pela redução (encadernador alemão, de decorrência das discussões
ção entre os reais sujeitos da jornada de trabalho - 34 anos), Oscar Neeb (fu- realizadas em torno do Con-
da produção e os detentores que já chegou a durar até nileiro estadunidense, de gresso da Federação do Tra-
dos meios de produção, so- 17 horas diárias – ocor- 36 anos) e Samuel Fielden balho Americana (1888) e
bretudo pelas raízes clas- riam desde décadas passa- (operário têxtil inglês, do Congresso Socialista de
sistas da data. das, principalmente na In- de 39 anos) foram presos e Paris (1889), o 1º de maio
Embora a Associação In- glaterra e França, mas foi sentenciados à morte.
ternacional dos Trabalhado- durante um congresso, em
res – AIT (1864-1876) – que 1884, que sindicalistas es-
congregava em seu interior tadunidenses estabeleceram
anarquistas das mais diver- o ano de 1886 como prazo
sas tradições, comunistas, máximo para que os patrões
blanquistas, socialistas atendessem essa reivindi-
utópicos, lassalianos e etc cação.
- já tivesse declarado a Em maio de 1886, mais
importância de uma data de de 300 mil trabalhadores e
lutas pela redução da jor- trabalhadoras, de mais de
nada de trabalho a 8 horas 5 mil fábricas, aderiram à
diárias, luta central do greve geral disparada pe-
movimento operário àquele los sindicatos e ocuparam

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passou a ser adotado como As mobilizações dos
o dia dos trabalhadores, trabalhadores e trabalha-
data que passou a marcar doras da indústria e co-
a celebração das lutas e mércio em São Paulo pro-
conquistas da classe tra- longaram-se por cerca de 30
balhadora em todo o mundo. dias, mobilizaram cerca de
Comemorado - inclusive 70.000 pessoas e foram pro-
clandestinamente - em vá- tagonizadas por militantes
rios países mundo afora, a anarquistas, que àquele mo-
classe dominante optou des- mento eram a principal for-
de então por buscar ressig- ça social da esquerda no
nificar a data como “Dia do país e já haviam criado a
Trabalho”, um feriado fes- primeira central sindical
tivo, de confraternização brasileira, a Confederação
entre trabalhadores, tra- Operária Brasileira – COB
balhadoras e patrões. (1908-1915). do Pereira.
Uma clara tentativa de Em 1918, inspirados Em 1922, com a funda- comemorativa de “confra-
despolitizar o 1º de maio, pela Revolução Bolchevi- ção da Seção Brasileira da ternização universal entre
retirando dele o seu cará- que de 1917, anarcossindi- Internacional Comunista - as classes operárias”.
ter de luta e enfrentamen- calistas protagonizaram a nome de fundação do PCB – Desde então, no Brasil,
to à ordem capitalista. Insurreição Anarquista no por ex-anarcossindicalis- há uma disputa em torno do
Breve trajetória do Rio de Janeiro, antiga ca- tas, os comunistas passaram 1º de maio: de um lado, es-
pital políticoadministra-
1º de maio no Brasil tiva do país.
a se constituir enquanto a
principal força social do
tão aqueles e aquelas que,
no seio do movimento ope-
No Brasil, alguns his- Em 18 de novembro foi movimento operário brasi- rário, reivindicam as suas
toriadores apontam que a iniciado um movimento gre- leiro e o PCB tornou-se origens classistas, fazen-
primeira tentativa de ce- vista com paralisações si- o mais relevante operador do da data um dia de lutas
lebração do 1º de maio por multâneas em diversas fá- político revolucionário em e celebração às conquistas
parte do movimento operá- bricas na capital fluminense, atuação no país. da classe trabalhadora; de
rio ocorreu em 1894. Ini- nas cidades de Petrópolis, Temendo o alto grau de outro, a classe dominante,
ciativa de Artur Campagno- Magé, Santo Aleixo e Ni- organização do operaria- que perpetua o 1º de maio
li, anarquista de origem terói. A intenção era to- do brasileiro – mérito da como mero feriado, dia de
italiana que vivia em Gua- mar o Palácio do Governo, influente militância anar- descanso e confraterniza-
rarema (SP) desde 1888. plano que foi frustrado em quista e comunista no país ção entre as antagônicas
No entanto, as ações razão de infiltrações mili- no início do século XX – classes sociais.
de Campagnoli e seus com- tares no movimento. em torno das celebrações Essa cooptação do 1º de
panheiros foram frustradas No mesmo dia, foram às lutas classistas do 1º maio tornou-se ainda mais
por forte repressão e vio- presos os principais arti- de maio, o presidente Ar- notável no período varguis-
lência policial. culadores do movimento, fi- tur Bernardes (1922-1926) ta que, descaradamente,
Apenas em 1917 o movi- guras como José Oiticica, decretou em 1924 o feria- alterou o “dia do traba-
mento operário brasileiro Carlos Dias, Agripino Na- do nacional de 1º de maio, lhador” para “dia do tra-
deflagraria a sua primeira zaré, Álvaro Palmeira e os numa tentativa de trans- balho”.
greve geral que, iniciada futuros fundadores do PCB: formar esse histórico dia Além disso, como par-
em São Paulo, alastrou-se João da Costa Pimenta, José de lutas da classe traba- te do projeto populista de
por todo o país. Elias da Silva e Astrogil- lhadora em uma mera data Vargas que buscava frear
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a atuação revolucionária
dos comunistas e anarquis-
O 1º de maio e a mente pelo movimento, es-
tendeu-se para todos os
lhadoras da Cobrasma es-
tendeu-se por outras fá-
tas, foi justamente em um ditadura empresa- trabalhadores e trabalha- bricas da região e, jun-
01 de maio de 1943 que foi doras do país. tamente às mobilizações de
criada e sancionada a Con- rial-militar de Em julho, operários da Minas Gerais, injetou o
solidação das Leis Traba-
lhistas (CLT) que, legal- 1964-1985 Companhia Brasileira
Material Ferroviário (Co-
de ânimo necessário ao movi-
mento operário brasileiro,
mente, limitava a jornada Marcando a luta de brasma)deflagraram a última em especial, ao sindica-
de trabalho a 08 horas diá- classes durante a ditadura grande greve da classe tra- lismo classista.
rias, garantia o direito à empresarial-militar (1964- balhadora brasileira antes Durante toda a década
folga, férias, previdência 1985), destacam-se os acon- do AI-5. As reivindicações de 1970, em regiões cen-
social e etc, conquistas tecimentos de 1º de maio de envolviam, entre outras trais do ponto de vis-
que, equivocadamente atri- 1968 e 1980. questões, um aumento sala- ta industrial, como o ABC
buídas a Vargas, são re- Em 1968, durante a ce- rial de 35% com reajustes paulista, a construção sin-
sultados diretos da pres- lebração patronal do 1º de trimestrais. A principal dical e autônoma pela base
são popular exercida pelo maio organizada pelo Gover- força política articulado- à revelia do sindicalismo
operariado através da luta no do Estado de São Paulo, ra desse movimento grevis- pelego e burocrata oficial
de classes. na Praça da Sé, o governa- ta foi a Vanguarda Popular que buscava conciliar as
dor biônico Abreu Sodré e Revolucionária (VPR), que demandas operárias com os
outros representantes dos se tornaria conhecida por interesses patronais, ins-
patrões e da ditadura fo- abrigar em suas fileiras pirada nas mobilizações de
ram expulsos do palanque o guerrilheiro comunista 1968, garantiu a organiza-
sob vaias, pedras e paus. Carlos Lamarca. ção do operariado fabril
Também foi em 1968 que Apesar de não lograr em torno de seus próprios
houveram as primeiras e êxito em suas reivindica- interesses durante os anos
grandes greves de enfren- ções, a greve iniciada pe- de chumbo da ditadura em-
tamento a ditadura empre- los trabalhadores e traba- presarial-militar.
sarial-militar.
Em abril, operários da
Companhia Siderúrgica Bel-
go-Mineira deflagraram gre-
ve em Contagem (MG). As
mobilizações, que aconte-
ceram à revelia das enti-
dades sindicais que àquele
momento apostavam no diá-
logo com o patronato te-
mendo uma grande onda de
repressão, chegaram a reu-
nir algo em torno de 16 mil
trabalhadores e trabalha-
doras e garantiram um au-
mento salarial de 10% que,
embora aquém dos 25% rei-
vindicado inicial-
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Em 01 de maio de 1980,
como consequência direta
do acúmulo de forças das
O 1º de maio de 1980,
em um cenário grevista que
já se estendia por cerca
O 1º de maio hoje
mobilizações iniciadas pe- de um mês, com intervenção Nos últimos anos, o 1º Evidências incontes-
los operários metalúrgicos direta dos militares sob de maio tem sido alvo de táveis disso são: a baixa
na região do ABC paulista os sindicatos dos metalúr- disputa entre os setores da adesão da classe trabalha-
em 1978, São Bernardo do gicos de Diadema e São Ber- extrema-direita bolsona- dora - incluindo setores
Campo (SP) tornou-se lugar nardo do Campo, a cassação rista e forças da esquerda organizados e militantes!
central na luta contra a de suas diretorias e a pri- e centro-esquerda. – aos atos de 01 de maio em
ditadura empresarial-mili- são de importantes dirigen- Fato é que, as maio- todo o país; a política
tar, abrigando o maior pro- tes sindicais do período, res centrais sindicais do conciliatória voltada aos
testo em um 1º de maio desde como o ex-presidente Lula, país, tuteladas pelo assim interesses da burguesia
o início do regime, quan- alterou consideravelmen- chamado campo democrático- “tocada” pela cúpula pe-
do cerca de 130 mil tra- te a correlação de forças -popular, que atualmente tista em seus governos; o
balhadores e trabalhadoras nos anos finais da ditadura hegemoniza a esquerda bra- rebaixamento, em termos de
lotaram o Estádio de Vila empresarial-militar, con- sileira e cujas principais composição de chapa e pro-
Euclides após obrigar um vocando as massas à luta organizações, movimentos e grama de governo petista
contingente de cerca de 8 pelas liberdades democrá- entidades políticas atu- em um contexto de graves
mil militares recuar dian- ticas. am sob influência direta do ataques à classe trabalha-
te da revolta popular. Partido dos Trabalhadores dora; e o mais recente re-
(PT), tem se mostrado inca- cuo de Lula em relação às
pazes de mobilizar a clas- lutas pela revogação das
se trabalhadora em torno da contrarreformas neolibe-
construção de um 1º de maio rais iniciadas no governo
classista e de luta. Temer e conti-

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Obra “Os operários” - Tarsila do Amaral Obra “Os operários” - Tarsila do Amaral
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nuadas e aprofundadas por nunca foi tão necessário
Bolsonaro, Mourão e Guedes, resgatar as origens clas-
sobretudo a Reforma Traba- sistas – e revolucionárias!
lhista, que, de acordo com o – do 1º de maio, pavimen-
próprio ex-presidente Lula tando os caminhos da luta
carece apenas de “revisão” política com total inde-
em alguns pontos. pendência de classe, ten-
Em um momento em que o do como horizonte único e
desemprego real ultrapassa inegociável a emancipação
os 20 milhões de brasilei- social da classe trabalha-
ros e brasileiras e mais dora e seus diversos su-
de 40% da classe trabalha- jeitos – mulheres, negros,
dora foi empurrada para o indígenas, LGBTs - do jugo
universo informal das re- do capital.
lações de trabalho, em um Recentemente, a consig-
contexto em que mais de 30 na anticapitalista “traba-
milhões de pessoas passam lhar menos, trabalhar to-
fome e cerca de 60% dos la- dos, produzir o necessário
res vivencia a insegurança e redistribuir tudo” ganhou
alimentar no país, em um força nas redes sociais. A
cenário em que a carestia e proposição é clara: “tra- Foto:@janabfoto
a desvalorização do salá- balhar menos” expõe a ne- necessário” evoca a produ- A exemplo disso, no
rio mínimo impacta duramen- cessidade e possibilidade ção e consumo próprios de Brasil, o Partido Comunis-
te as condições de vida dos de redução da jornada de uma economia planificada e ta Brasileiro (PCB) incluiu
trabalhadores e das traba- trabalho; “trabalhar to- racionalmente incompatível em suas mais recentes reso-
lhadoras em todo o país, dos” exprime a defesa pelo com a lógica capitalista; luções congressuais – XVI
pleno emprego;”Produzir o e “redistribuir tudo”, a Congresso (2021) - a luta
partir de uma produção re- pela jornada de trabalho
alizada de acordo com as de no máximo 30 horas sema-
possibilidades e potencia- nais, sem redução de tra-
lidades de cada indivíduo, balho e sem perda de direi-
para satisfazer as neces- tos. Pontos que têm sido
sidades de todos, é a pró- levantados de forma cen-
pria “máxima comunista”. tral pela pré-candidatura
É absolutamente compre- da comunista Sofia Manzano
ensível que dados os desa- à presidência da república
fios que se impõem à classe e justificam-se pelo aumen-
trabalhadora, assim como to considerável da capaci-
nas origens classistas do dade produtiva no país por
1º de maio em Chicago (EUA), meio do aperfeiçoamento das
a luta pela diminuição da técnicas e inserção tecno-
jornada de trabalho seja lógica nos mais diversos
uma das mais imediatas pau- setores do mundo do traba-
tas do movimento operário lho.
internacional.
Foto: @leo_zanini
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Essa maior produtivi- Por isso é tão impera-
dade, por outro lado, há tivo assumir a luta pela
quase 80 anos não se re- redução da jornada de tra-
verte em qualquer redução balho, resgatar as origens
do tempo de trabalho, ga- classistas do 1º de maio,
nhos salariais efetivos e trazer à tona o seu conte-
melhoria das condições de údo anticapitalista e an-
vida dos trabalhadores e tiimperialista e avançar
das trabalhadoras. na organização da classe
Uma redução da jornada trabalhadora, na constru-
de trabalho, além de gerar ção do poder popular, rumo
mais postos de emprego, é a à superação do capitalis-
garantia de mais tempo de mo.
dedicação a outras dimen-
sões igualmente fundamen-
tais da vida.

Foto: @pcbpb
Foto: @pcbpb
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