Você está na página 1de 31

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.

tech
VIDEO_PREVIEW_R3_PED_10

PREVIOUSLY
ON R+

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


VIDEO_01_R3_PED_10 se estabelece por algum distúrbio no transporte intestinal de
solutos e na absorção de água. Isso leva a uma diminuição da
consistência do bolo fecal e/ou ao aumento da frequência e

DIARREIA volume das evacuações.

De forma mais específica, a definição quantitativa de diarreia é:


QUADRO DE RESUMO
volume fecal acima de 10 ml/kg/dia em lactentes e acima de
200 g/dia em crianças mais velhas.
Definição de diarreia

➤ Volume fecal > 10 ml/kg/dia ou > 200 g/dia; em lactente em Lembre-se do seguinte:
aleitamento exclusivo, considerar a mudança no padrão
Um lactente jovem tem um débito fecal de
habitual das evacuações.
aproximadamente 5 ml/kg/dia. O volume diário de fezes
vai aumentando progressivamente, até que é alcançado o
Mecanismos principais
volume encontrado em adultos, que é de
aproximadamente 200 g/dia. Logo, se uma criança começa
➤ Mecanismo osmótico: por aumento de osmolaridade
a apresentar diarreia, isso indica um grande aumento do
intraluminal (solutos não absorvidos); pode melhorar com
seu débito fecal em relação ao habitualmente apresentado.
o jejum; gap osmolar fecal alto.

➤ Mecanismo secretor: secreção ativa de eletrólitos para o Como não é possível sabermos na prática qual foi o volume das
lúmen intestinal; pouca melhora pelo jejum; gap osmolar evacuações de uma criança ao longo do dia, a diarreia pode ser
fecal baixo. caracterizada pela ocorrência de três ou mais evacuações
líquidas ou amolecidas em um período de 24 horas.
Classificação quanto à duração

VIDEO_02_R3_PED_10
➤ Aguda: até 14 dias – geralmente um quadro infeccioso.

Persistente: entre 14 e 30 dias.


MECANISMOS

➤ Crônica: maior que 30 dias. Diagnóstico diferencial


A patogênese da maior parte dos episódios de diarreia pode ser
extenso.
explicada pela ocorrência de mecanismos osmóticos, secretórios
ou alterações na motilidade, sendo que esses mecanismos
podem estar combinados. Nos quadros de origem infecciosa,
também há possibilidade de invasão da mucosa.
INTRODUÇÃO
Os quadros de diarreia são, inquestionavelmente, quadros Para que você compreenda melhor o que
comuns em nossa prática. Seja durante as consultas de acontece em cada um destes processos,
atendimento em pronto-socorro, quando comumente avaliamos
relembre rapidamente alguns aspectos
pacientes com diarreia aguda, seja nas consultas de rotina,
básicos da fisiologia:
quando nossa tarefa é diagnosticar a criança com diarreia
crônica, somos desafiados por essa condição. Em um indivíduo normal, o intestino é capaz de absorver
cerca de 99% de toda a água que por ali passa. O volume
Para melhor entendimento deste tema tão vasto, é fundamental total absorvido varia em função da idade e peso da
que você compreenda bem as diferentes formas de criança, mas a maior parte é oriunda das secreções
classificarmos os episódios, bem como os mecanismos intestinais (saliva, suco gástrico, bile, suco pancreático e
fisiopatológicos subjacentes que podem ser encontrados. secreção duodenal) e apenas a menor parte do líquido é
Falaremos sobre isso neste capítulo inicial e vamos aproveitar proveniente da dieta.
para te apresentar algumas ferramentas que podem ser
necessárias na avaliação da criança com quadros de diarreia Lembre-se de que a absorção de líquidos não ocorre de
crônica. forma homogênea ao longo do trato gastrointestinal. O
jejuno é responsável pela absorção da maior parte (60%),
enquanto o íleo responde por 25%. Do volume restante, a

DEFINIÇÃO maior fração será absorvida no cólon, restando somente


uma pequena porcentagem para ser eliminada nas fezes.

De forma bem resumida, a diarreia nada mais é do que uma


perda anormal de água e eletrólitos pelas evacuações , que
Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech
Os enterócitos são os grandes responsáveis pela absorção
da água. Nestas células, a água é absorvida acompanhando MECANISMO SECRETOR
os eletrólitos (principalmente Na + e Cl -). Em sua
A diarreia secretora se estabelece quando os sistemas de
membrana basolateral, a atividade da bomba de Na +/K + transporte de solutos no epitélio intestinal apresentam-se em
ATPase mantém baixas concentrações intracelulares de Na um estado de secreção ativa. Nesta situação, algum agente
+. Isto força um fluxo absortivo contínuo deste eletrólito
presente no trato gastrointestinal atua como um secretagogo* .
junto com a água. Cabe indicar que nos enterócitos das As substâncias capazes de atuarem desta forma incluem
criptas intestinais há uma movimentação contrária de toxinas, sendo a toxina da cólera o exemplo clássico. Estas
eletrólitos e líquidos. formas de diarreia possuem algumas particularidades, como
indicado no quadro a seguir.
Uma complexa rede de hormônios, neurotransmissores e
peptídeos intestinais regula a homeostase entre absorção e
secreção epitelial. Como processo final, a absorção sempre DIARREIA SECRETÓRIA
supera a secreção. Como você verá adiante, algumas
diarreias são marcadas por predomínio secretivo. ➤ Diarreia volumosa.

➤ Persiste mesmo durante o jejum.

Agora que você relembrou o que deve ocorrer normalmente, ➤ Gap osmolar fecal é baixo.
entenda o que acontece em diferentes mecanismos que ➤ Diarreia aquosa.
culminam em diarreia e, mais à frente, você irá entender de que
forma isso tem impacto no manejo prático desses pacientes.
➤ Sem presença de leucócitos nas fezes.

MECANISMO OSMÓTICO OUTROS MECANISMOS


A compreensão do que acontece nestes quadros é muito
Outros mecanismos também podem levar ao quadro e as
simples. A diarreia se estabelece quando um soluto não é
principais características observadas são as seguintes:
absorvido. O acúmulo de substâncias osmoticamente ativas no
interior da luz intestinal exerce uma pressão osmótica capaz de
reter líquido no lúmen da alça, causando uma diarreia líquida INVASÃO DA MUCOSA
(ou semilíquida).
➤ Inflamação da mucosa, com diminuição da reabsorção
colônica e aumento da motilidade.
Por qual razão os solutos não seriam absorvidos?
➤ Associada com quadros infecciosos: Salmonella, Shigella,
➤ Por serem solutos que, habitualmente, não são absorvidos: amebíase, Campylobacter.

lactulose, sorbitol, magnésio. ➤ Presença de sangue e leucócitos nas fezes → quadro de


➤ Por serem solutos que são habitualmente absorvidos, mas não disenteria.

o estão sendo em função de algum distúrbio no intestino


delgado: lactose, nos casos de diarreia por rotavírus ou
AUMENTO DA MOTILIDADE
deficiência de lactase.
➤ Diminuição do tempo de trânsito intestinal.
As principais características desta forma estão indicadas no ➤ Fezes de aspecto normal ou amolecidas.
quadro abaixo:
➤ Associada com quadros de síndrome do intestino irritável,
tireotoxicose.
DIARREIA OSMÓTICA

VIDEO_03_R3_PED_10
➤ Volume menor do que o encontrado na diarreia secretória.
➤ Melhora com o jejum.
➤ Gap osmolar fecal* é alto. CLASSIFICAÇÃO
➤ Diarreia aquosa.
Os quadros de diarreia podem ser classificados de várias
➤ Avaliação fecal: presença de substâncias ácidas e formas. As classificações podem levar em conta a duração do
redutoras. evento, o seu mecanismo fisiopatogenético ou mesmo as
➤ Sem presença de leucócitos nas fezes. características clínicas e topográficas da lesão.

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


Uma das classificações de fundamental importância para a
nossa prática é a que leva em conta a duração do processo, pois Adolescentes ➤ Gastroenterite infecciosa.
este é um importante elemento para conduzirmos a abordagem ➤ Intoxicação alimentar.
inicial do paciente.
➤ Diarreia associada com antibióticos.

➤ Hipertireoidismo.
DURAÇÃO
Diarreia Crônica
Não há consenso nesta classificação, mas isso não costuma
representar um problema no momento de avaliarmos uma Menores de 1 ➤ Desordens da absorção e transporte
questão ou realizarmos a abordagem inicial de um paciente. ano de nutrientes e eletrólitos. Exemplos:
deficiência de lactase (primária ou
➤ Diarreia aguda: tem duração de até 14 dias . A maioria dos secundária); deficiência congênita de
episódios de diarreia aguda é provocada por um agente sucrase-isomaltase; acrodermatite
infeccioso. Cabe ressaltar que, embora a definição de diarreia enteropática.
aguda considere o limite máximo de duração de 14 dias, a
➤ Defeitos na estrutura do enterócito.
maioria dos casos irá resolver-se em até sete dias.
➤ Diarreias neuroenteroendócrinas.
➤ Diarreia persistente: tem duração de 14 dias ou mais . Até
10% dos episódios de diarreia são persistentes, o que leva a ➤ Defeitos relacionados com processos
problemas nutricionais e contribui para a mortalidade na imunes. Exemplos: colite associada
infância. ao leite de vaca; gastroenterocolite
eosinofílica.
➤ Diarreia crônica: tem duração superior a 30 dias.
➤ Insuficiência pancreática: fibrose

Cabe indicar que alguns autores dizem que os quadros com cística; síndrome de Shwachman-Dia‐

duração de 14 dias ou mais já devem ser chamados de diarreia mond.

crônica. Outros indicam que a diarreia aguda pode ter duração


de até três semanas... Crianças ➤ Desordens da absorção e transporte
de nutrientes e eletrólitos. Exemplos:
intolerância secundária à lactose.
VIDEO_04_R3_PED_10
➤ Desordens da motilidade intestinal:
As principais causas de diarreia aguda e crônica variam em
diarreia funcional; síndrome do
função da idade do paciente, como mostrado na Tabela 1. Você
intestino irritável.
irá perceber que algumas condições aí citadas são nossas velhas
conhecidas da apostila de alergias alimentares. ➤ Quadros infecciosos: giardíase,
criptosporidíase.

➤ Defeitos na estrutura do enterócito.


TABELA 1: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DOS QUADROS DE
DIARREIA AGUDA E CRÔNICA CONFORME A IDADE. ➤ Diarreias neuroenteroendócrinas.
➤ Defeitos relacionados com processos
Diarreia Aguda imunes. Exemplos: doença celíaca;
doença intestinal inflamatória.
Menores de 1 ➤ Gastroenterite infecciosa.
➤ Insuficiência pancreática.
ano ➤ Infecções sistêmicas.

➤ Quadros induzidos por medicações. Adolescentes ➤ Desordens da absorção e transporte


de nutrientes e eletrólitos. Exemplos:
➤ Intoxicação alimentar.
intolerância secundária à lactose; uso
➤ Hiperalimentação. de laxativos.
➤ Causas raras: enterocolite associada ➤ Desordens da motilidade intestinal:
com doença de Hirschsprung; síndrome do intestino irritável.
abstinência neonatal de opioides.
➤ Quadros infecciosos.

Crianças ➤ Gastroenterite infecciosa.


➤ Defeitos na estrutura do enterócito.

➤ Intoxicação alimentar.
➤ Diarreias neuroenteroendócrinas.

➤ Diarreia associada com antibióticos.


➤ Defeitos relacionados com processos
imunes. Exemplos: doença celíaca;
➤ Infecções sistêmicas. doença intestinal inflamatória.
➤ Quadros induzidos por medicações. ➤ Insuficiência pancreática.
Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech
pela mucosa e pode ser detectado no ar exalado dos pulmões.
Valores superiores a 10 ppm acima do valor de jejum são
anormais (Figura 1) .
TOPOGRAFIA ➤ Biópsia: a biópsia de delgado também permite a medida das
dissacaridases (lactase, maltase e sacarase) da mucosa, sendo
Além da classificação relacionada ao tempo, também pode ser
outro método importante na avaliação do deficit de absorção
possível uma classificação em função da topografia. Os quadros
de carboidratos. É o método padrão-ouro, sendo, entretanto,
de diarreia alta são originados no intestino delgado, enquanto
muito invasivo.
os quadro de diarreia baixa são representados pelas diarreias
originadas no cólon.

Veja, a seguir, mais algumas caracteríscas dessas


classificação em termos topográficos.

VIDEO_05_R3_PED_10

INVESTIGAÇÃO
O que veremos agora são exames indicados, principalmente, na
abordagem do paciente com diarreia crônica que podem
apresentar um quadro de má absorção. Como falaremos na
próxima seção, diante de uma criança com diarreia aguda não
costuma haver a necessidade de qualquer investigação
complementar.

É interessante observar que os quadros de má absorção podem Figura 1. Teste de exalação de hidrogênio.
ser o resultado de um problema relacionado com a digestão do
nutriente ou com um defeito na absorção mucosa deste
nutriente. Algumas condições cursam com má aborção de INVESTIGAÇÃO DA MÁ ABSORÇÃO
múltiplos nutrientes, enquanto outras estão tipicamente
associadas com alteração da absorção de um nutriente DE GORDURAS
específico. A diarreia costuma ser uma manifestação comum a
todos os quadros.
➤ Avaliação quantitativa da gordura fecal: durante três dias,
coletam-se as fezes do paciente. Através do coeficiente de
absorção de gordura (%) = [gordura ingerida (g) - gordura
fecal (g)] / gordura ingerida x 100, obtemos o percentual de
INVESTIGAÇÃO DE MÁ ABSORÇÃO gordura perdida através das fezes. Geralmente, crianças
DE CARBOIDRATOS normais conseguem absorver mais de 95% da gordura
ingerida na dieta. Recém-nascidos prematuros e lactentes
➤ pH fecal: os valores normais do pH fecal em lactentes em muito jovens têm essa capacidade reduzida a 75 e 90%,
aleitamento materno são de 4,6 a 6,0 e, naqueles em respectivamente. Por isso, o achado de gordura nas fezes
aleitamento artificial, são de 5,5 a 8,5. Nas crianças maiores, destas crianças não deve ser interpretado como achado
os valores situam-se entre 6,5 e 7,5. Valores mais baixos que a anormal. Valores de gordura fecal acima de 3 g/24 horas
referência, isto é, maior acidez, indicam má absorção de caracterizam a esteatorreia.
carboidratos. ➤ Avaliação qualitativa: uma outra maneira de detectar a
➤ Pesquisa de substâncias redutoras nas fezes (Clinitest®): presença de gorduras nas fezes é através do seu exame
um resultado > 2+ sugere má absorção de carboidratos, pois microscópico em lâmina, após adicionar o corante Sudam III
seu excesso na luz intestinal é fermentado pelas bactérias (que marca gordura).
intestinais e é transformado em ácidos orgânicos que podem
ser detectados pelo teste.
➤ Teste de exalação do hidrogênio: depois de uma noite de INVESTIGAÇÃO DA MÁ ABSORÇÃO
jejum, o açúcar para o qual se suspeita de deficit de absorção
(ex.: lactose) é oferecido por via oral na dose 1-2 g/kg. Nas
DE PROTEÍNAS
síndromes disabsortivas, não haverá digestão do açúcar e este ➤ Hipoalbuminemia sérica: a perda intestinal de proteínas
não será absorvido no intestino delgado. Ao chegar ao cólon,
manifesta-se com hipoalbuminemia. Entretanto, as principais
as bactérias da flora o processarão e produzirão hidrogênio
causas de hipoalbuminemia na infância decorrem de doenças
através das reações químicas. Este hidrogênio é absorvido

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


renais e, portanto, a medida de proteínas na urina é enzimas pancreáticas. É um teste da função exócrina muito
fundamental para afastar ou confirmar sua origem. sensível. Valores menores que 100 mcg/g são anormais.

➤ Alfa-1-antitripsina fecal: esta proteína é resistente à ➤ Tripsinogênio sérico: na fibrose cística, encontramos um
hidrólise no trato gastrointestinal e sua detecção nas fezes é tripsinogênio sérico muito elevado nos primeiros anos de vida
um teste útil para rastreio de enteropatias perdedoras de devido ao extravasamento da enzima para o sangue a partir
proteínas. dos ácinos obstruídos. Com o passar do tempo, seus níveis
caem muito.

➤ Quimiotripsina fecal: é uma enzima proteolítica pancreática,


INVESTIGAÇÃO DA FUNÇÃO cujos níveis fecais refletem a atividade do pâncreas exócrino.

PANCREÁTICA EXÓCRINA É necessário uma amostra de fezes de 24 horas, e valores


abaixo de 2 U/grama de fezes obrigam a investigar fibrose
cística.
➤ Teste do suor: como a fibrose cística é a causa de
insuficiência pancreática exócrina mais comum na infância, ➤ Aspirado duodenal: é o padrão-ouro de estudo da função
toda criança com síndrome disabsortiva deve ser avaliada exócrina pancreática. Uma sonda é introduzida através de
para a doença. métodos endoscópicos e posicionada no duodeno. Realizam-se
então medidas de bicarbonato, tripsinogênio e lipase após a
➤ Elastase-1 fecal: esta enzima é uma endoprotease pâncreas-
estimulação com secretina e colecistoquinina.
específica e não se altera mesmo com a reposição exógena de

quatro horas; não oferecer alimentos durante a


reidratação (somente leite materno);
DIARREIA AGUDA ■ Plano C: crianças com desidratação grave; 100 ml/kg de
SF 0,9% ou RL (velocidade de infusão varia em função da
QUADRO DE RESUMO idade – detalhes no texto).

Etiologia

➤ Viral: INTRODUÇÃO
■ Causam diarreia aquosa;
O quadro de diarreia aguda é aquele que tem duração inferior a
■ Rotavírus é o principal agente dos quadros graves em 14 dias e, na maior parte das vezes, tem etiologia infecciosa.
lactentes; norovírus são associados com surtos de Eventualmente, pode estar relacionada com processos não
gastroenterite. inflamatórios, toxinas ou medicações. É bastante comum a
utilização do termo gastroenterite aguda para a caracterização
➤ Bacteriana:
desses eventos e, certamente, você já teve a oportunidade de
■ Causam diarreia aquosa ou disenteria; atender inúmeras crianças com esta condição.
■ Diarreia aquosa: ETEC (diarreia do viajante), EPEC
(diarreia persistente), vibrião colérico (diarreia grave – Os quadros de diarreia aquosa costumam ter uma etiologia
fezes em água de arroz – tratamento com azitromicina); viral, podendo também estar relacionados com infecções
bacterianas e parasitárias. Já os quadros de disenteria estão
■ Disenteria (os agentes aqui também podem causar
tipicamente associados com o desenvolvimento de uma colite
apenas diarreia aquosa): Shigella (principal causa de
bacteriana.
disenteria em nosso meio; tratamento indicado com
ciprofloxacina – OMS – ou ceftriaxona – MS, nas formas
graves); Salmonella (pode causar doença grave em
populações específicas); Campylobacter (associado com ETIOLOGIA
síndrome de Guillain-Barré); EIEC (disenteria semelhante
à Shigella ); EHEC (ou STEC; associa-se com SHU – anemia
Uma vez que se trata de um processo infeccioso, devemos
hemolítica microangiopática + trombocitopenia +
conhecer quais os agentes que podem levar ao evento e quais as
insuficiência renal aguda).
principais particularidades identificadas em cada um deles.

Tratamento
VIDEO_06_R3_PED_10
➤ Determinado pelo estado de hidratação: A seguir, você encontra as principais características dos
principais agentes envolvidos. Deixaremos para falar sobre os
■ Plano A: crianças sem desidratação; aumento da ingestão
eventuais protozoários causadores de diarreia ao estudarmos as
de líquidos + zinco por dez dias + manter a alimentação +
parasitoses intestinais.
orientação quanto aos sinais de gravidade;

■ Plano B: crianças com desidratação; SRO, 75 ml/kg em

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech



E. coli enteropatogênica (EPEC): diarreia por adesão à
DIARREIA VIRAL mucosa intestinal. Causa diarreia persistente em menores de
dois anos.
Os vírus irão causar quadros de diarreia aquosa, que
podem ser acompanhados de vômitos e não necessitam de ➤ E. coli enteroinvasiva (EIEC): diarreia por um mecanismo de
qualquer tratamento específico, exceto o manejo da invasão e destruição da mucosa colônica. Leva ao
desidratação. estabelecimento de disenteria com febre, semelhante ao
observado nos quadros de shigelose.

➤ E. coli êntero-hemorrágica ou produtora de toxina de


ROTAVÍRUS
shiga (EHEC ou STEC): diarreia por liberação de toxina de
➤ Principal causa de diarreia grave em crianças pequenas (< 2 shiga 1 e 2, com lesão vilositária. É transmitida por alimento
anos). Não é comum nos primeiros três meses de vida. contaminados, sendo a carne de hambúrguer um alimento
classicamente associado. Pode causar infecção assintomática
➤ Período de incubação costuma ser inferior a 48 horas, mas
ou colite hemorrágica, que costuma não ser acompanhada de
pode variar entre 1 e 7 dias.
febre. A complicação associada é a síndrome hemolítico-
➤ Mecanismo osmótico (achatamento de vilosidades intestinais urêmica, presente em 5-10% das crianças com a colite
e perda da capacidade absortiva) e secretor (NSP4 – hemorrágica.
enterotoxina viral).

Clínica: vômitos e febre, seguidos de diarreia líquida. Pode


SALMONELLA

haver intolerância transitória à lactose. Os vômitos e a febre


costumam desaparecer no segundo dia de doença, mas a ➤ A enterocolite ocorre pela invasão bacteriana das células
diarreia pode continuar por cinco a sete dias. epiteliais intestinais, com migração para a lâmina própria,
onde as bactérias se multiplicam e estimulam a secreção de
➤ O rotavírus do grupo A pode ser identificado nas fezes pelo
líquidos. A ocorrência de bacteremia é possível com qualquer
método de ELISA.
tipo de Salmonella.

➤ A manifestação clínica mais comum da salmonelose é a


NOROVÍRUS enterite aguda. Há início abrupto de náuseas, vômitos e dor
➤ Principais agentes de surtos epidêmicos de gastroenterites abdominal, inicialmente localizada em região periumbilical e

virais; transmitidos por água e alimentos, e podem acometer depois localizada em quadrante inferior direito. A diarreia é

indivíduos de todas as idades. inicialmente aquosa, também podendo ser


mucossanguinolenta (disenteria).

➤ Algumas vezes, a doença evolui com repercussão sistêmica


ASTROVÍRUS E ADENOVÍRUS (sepse) e desenvolvimento de alteração do nível de
➤ Os astrovírus não são causa comum de diarreia aguda. consciência, febre alta, cefaleia, meningismo, convulsões e
distensão abdominal.
➤ Dentre os mais de 50 sorotipos de adenovírus, o 40 e o 41 são
os mais comumente implicados nos quadros de diarreia.
➤ Alguns grupos apresentam maior risco para o
desenvolvimento de bacteremia pelo agente, como as crianças
VIDEO_07_R3_PED_10 com menos de três meses, os pacientes com HIV e os pacientes
com doenças hemolíticas (como anemia falciforme).

DIARREIA BACTERIANA SHIGELLA


As infecções bacterianas podem se manifestar por diarreia ➤ Podem ser transmitidas tanto pela ingestão de alimentos
aquosa ou por disenteria e, em alguns casos, complicações contaminados quanto pelo contato interpessoal.
graves, como a síndrome hemolítico-urêmica podem se
➤ Há quatro espécies responsáveis pela disenteria – S.
estabelecer. Eventualmente, recomenda-se o tratamento
dysenteriae (sorogrupo A), S. flexneri (sorogrupo B), S. boydi
específico com antimicrobiano.
(sorogrupo C) e S. sonnei (sorogrupo D). Em nosso meio parece
haver predomínio das espécies S. flexneri e sonnei.
Os agentes que podem levar à disenteria são: E. coli
enteroinvasiva; E. coli êntero-hemorrágica; Salmonella;
➤ Cerca de 70% dos casos e de 60% dos óbitos ocorrem em
Shigella; Campylobacter; e Yersinia. menores de cinco anos. A infecção não é comum nos menores
de seis meses.

➤ As cepas de Shigella são capazes de invadir as células


ESCHERICHIA COLI
epiteliais intestinais e desencadeiam um processo
➤ E. coli enterotoxigênica (ETEC): diarreia por um mecanismo inflamatório que leva à destruição tecidual, com formação de
secretor (toxinas termolábil e termoestável). É a principal úlceras e microabscessos (isso justifica o surgimento das fezes
causa de diarreia do viajante e manifesta-se por diarreia diarreicas com sangue e pus). As alterações são mais intensas
líquida, abundante, sem sangue.

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


nas regiões distais do cólon, ainda que possa ocorrer uma
pancolite. RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2018
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BELO
➤ Algumas cepas produzem toxinas, como a toxina de Shiga e
enterotoxinas. A secreção de toxinas pode levar ao quadro de
HORIZONTE – SCMBH
síndrome hemolítico-urêmica, da mesma forma que ocorre Em relação à síndrome diarreica, é INCORRETO afirmar:
com a EHEC.

➤ Leva a um quadro de disenteria ; febre alta, dor abdominal a) A diarreia do tipo secretora é aquela induzida por
intensa, náusea, vômito, diarreia sanguinolenta, tenesmo e enterotoxinas bacterianas.
urgência para defecar.
b) A E. coli enterotoxigênica (ECET) é a principal causa da
➤ Os principais sintomas extraintestinais relacionados à síndrome hemolítico-urêmica (SHU) por produzir dois
shigelose estão associados ao sistema nervoso central, como tipos de enterotoxinas: LT (termolábel) e ST (termoestável).
cefaleia, meningismo, letargia, confusão e alucinações, que
c) O Na+ pode ser absorvido acoplado a glicose, galactose ou
podem mesmo anteceder o quadro de gastroenterite.
aminoácidos, com auxílio de transportadores específicos e
se mantendo inalterado durante os episódios de diarreia
CAMPYLOBACTER aguda.

d) Na diarreia osmótica, ocorre a presença de fezes de


➤ Se estabelece por um mecanismo de invasão de mucosa, com
conteúdo ácido e hiperosmótico, eliminadas com gases
penetração na lâmina própria.
(fezes explosivas), substâncias redutoras presentes,
➤ Pode cursar com diarreia líquida ou disenteria. Quadro se distensão e cólicas abdominais, assim como hiperemia da
acompanha de dor abdominal, náuseas, vômitos, cefaleia e região perineal.
dores musculares.

➤ A principal complicação descrita é o desenvolvimento da R. Vejamos cada uma das opções. A opção A está correta; a
síndrome de Guillain-Barré. diarreia secretora está tipicamente associada com a presença
de enterotoxinas bacterianas. Cabe indicar que o rotavírus
também é capaz de secretar enterotoxinas. Opção B está
VIBRIO CHOLERAE errada; as duas enterotoxinas citadas são produzidas pela E.
➤ Causa doença por liberação de enterotoxina levando a uma coli enterotoxigênica, mas esta não causa a SHU (a principal

diarreia secretória. E. coli envolvida é a êntero-hemorrágica). A opção C está


correta e é nisto que se baseia a utilização de soluções
➤ Diarreia líquida intensa, semelhante à água de arroz, com
glicossalinas no manejo dos quadros de diarreia aguda. E,
desidratação e choque hipovolêmico. por fim, a opção D também está correta. Nos casos de
diarreia osmótica por má absorção de carboidratos, em
especial, todas estas alterações estão presentes. Resposta:
YERSINIA ENTEROCOLITICA&NBSP;
letra B.
➤ Enterocolite, linfadenite mesentérica e inflamação do íleo;
pode mimetizar apendicite aguda; pode também causar
bacteremia com focos de metástases; febre, diarreia, dor
abdominal. DIAGNÓSTICO
VIDEO_08_R3_PED_10 O diagnóstico deve ser estabelecido pela história e um exame
físico detalhados.
A Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU) é uma
microangiopatia trombótica e pode ser definida pela A solicitação de exames laboratoriais não é habitualmente
ocorrência simultânea de anemia hemolítica indicada, sendo considerada para os casos de evolução atípica,
microangiopática, trombocitopenia e insuficiência renal grave ou arrastada, presença de sangue nas fezes, e para os
aguda. A causa mais comum de SHU na infância é a pacientes imunodeprimidos.
infecção por Escherichia coli êntero-hemorrágica, ou
produtora de toxina Shiga. A infecção por Shigella também As amostras de fezes podem ser testadas para a presença de
leva ao quadro, mas é uma causa menos frequente. muco, sangue, neutrófilos ou lactoferrina fecal (um produto dos
Entenda isso com mais detalhes: neutrófilos). A presença de cinco ou mais leucócitos por campo
de grande aumento ou a detecção de lactoferrina em uma
VIDEO_09_R3_PED_10 criança que não está em aleitamento sugerem uma infecção por
um enteropatógeno bacteriano.

As coproculturas não são rotineiramente indicadas, sendo


restritas aos pacientes com possíveis quadros bacterianos,
quadros moderados ou graves ou imunodeprimidos.
Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech

Dois dos seguintes sinais: DESIDRATAÇÃO
TRATAMENTO ■ Inquieta ou irritada;

Inquestionavelmente, este é o principal aspecto abordado nas ■ Olhos fundos;


questões sobre o tema e é isto que você deve dominar com ■ Bebe avidamente, com
profundidade. sede;

■ Sinal da prega: a pele


volta lentamente ao
AVALIAÇÃO DO ESTADO DE estado anterior.

HIDRATAÇÃO
Não há sinais suficientes SEM DESIDRATAÇÃO
O primeiro passo no tratamento sempre é a avaliação do estado para classificar como
de hidratação. Sabemos que existe mais de uma proposta DESIDRATAÇÃO ou
classificatória e você pode conferir cada uma delas nas Tabela DESIDRATAÇÃO GRAVE.
2, Tabela 3, Tabela 4.
Fique atento para o seguinte:

TABELA 2: AVALIAÇÃO DO ESTADO DE HIDRATAÇÃO –


ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Esta é a classificação encontrada em um dos materiais do
Ministério da Saúde sobre o tema. Em outros manuais, do
próprio Ministério, podemos encontrar a indicação da
avaliação de outros sinais/sintomas, a saber:

➤ Lágrimas: ausentes na desidratação e desidratação grave;

➤ Pulso: rápido e fraco, indica desidratação, e muito fraco,


indica desidratação grave;
➤ Enchimento capilar: normal (até 3 segundos), na criança
sem desidratação; prejudicado (de 3 a 5 segundos), na
criança com desidratação; muito prejudicado (> 5
segundos), na criança com desidratação grave.

TABELA 4: MANIFESTAÇÕES ASSOCIADAS À DESIDRATAÇÃO –


CDC ( NELSON TEXTBOOK OF PEDIATRICS, 2019, 21 th ED).

TABELA 3: MANEJO DO PACIENTE COM DIARREIA –


MINISTÉRIO DA SAÚDE (MANUAL AIDPI – 2017).

Avaliar Classificar

➤ Dois dos seguintes sinais: DESIDRATAÇÃO GRAVE

■ Letárgica ou incons‐
ciente;

■ Olhos fundos;

■ Não consegue beber ou


bebe muito mal;

■ Sinal da prega: a pele


volta muito lentamente
(> 2 segundos) ao estado
anterior.

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech



A solução de reidratação oral pode ser oferecida, mas
seu uso não é obrigatório. A solução de reidratação é
importante quando a criança precisou receber antes o
plano B ou C, ou quando a criança não puder retornar
ao serviço de emergência em caso de piora.
➤ O volume de líquido a ser oferecido após cada
evacuação aquosa deve ser (Ministério da Saúde):

■ Criança < 1 ano: 50-100 ml de líquido;

■ Criança de 1 ano ou mais: 100-200 ml de líquido.

Caso a criança vomite, deve-se aguardar dez minutos e se


oferecer novamente os líquidos, porém, mais lentamente.

2) SUPLEMENTAÇÃO DE ZINCO

➤ Benefício na duração e gravidade do quadro; diminuição


no risco de novos episódios de diarreia nos 2-3 meses
seguintes.

➤ Os menores de seis meses recebem 10 mg/dia; os


maiores de seis meses recebem 20 mg/dia. Duração de
dez dias.

3) MANTER ALIMENTAÇÃO

➤ A alimentação habitual da criança deve ser mantida e


estimulada. É comum que as crianças que ainda estejam
em aleitamento materno mamem com maior frequência,
o que deve ser encorajado. Após a resolução do quadro
diarreico, deve-se manter o aporte de alimentos com
VIDEO_10_R3_PED_10 bom teor energético.

➤ A Organização Mundial de Saúde recomenda que seja


acrescentada uma refeição diária além do habitual por,
PLANOS TERAPÊUTICOS pelo menos, duas semanas.

Como já indicado nas tabelas, o estado de hidratação irá


4) ORIENTAR SOBRE SINAIS DE GRAVIDADE
determinar como será o plano terapêutico recomendado. Veja,
com detalhes, cada um deles, de acordo com as recomendações
➤ Esse plano terapêutico está reservado para as crianças
do Ministério da Saúde.
sem sinais de desidratação. Deste modo, os responsáveis
devem ser orientados a buscar atendimento médico caso
a criança apresente algum dos seguintes sinais:
PLANO A
■ Não consegue beber nem mamar no peito;
Indicado para as crianças sem desidratação. ■ Piora do estado geral;

■ Aparecimento ou piora da febre;


Os pilares fundamentais estão sumarizados no quadro a seguir:
■ Sangue nas fezes;

■ Dificuldade para beber.


PLANO A
1 ) MAIOR INGESTÃO DE LÍQUIDOS
VIDEO_11_R3_PED_10
➤ Crianças em aleitamento devem ser amamentadas com Para fixar:
mais frequência e por mais tempo.
➤ Aumentar a oferta de líquidos para as demais crianças,
incluindo líquidos que contenham sal em sua
formulação*.

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


ondansetrona* .
RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2019
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA 3) ALIMENTAÇÃO
UNICAMP – UNICAMP
O racional para administração de zinco na diarreia aguda
➤ O aleitamento materno pode ser mantido, caso a criança

associa-se a: ainda seja amamentada. Outros alimentos não são


oferecidos neste período.

a) Diminui a duração do episódio de diarreia.


4) OBSERVAÇÕES
b) Diminui a secreção de sódio e água.

c) Melhora o estado geral e diminui a distensão. ➤ A TRO está contraindicada em caso de distensão

d) Diminui vômitos e desidratação. abdominal com íleo paralítico.

➤ A criança deve ser periodicamente reavaliada, pois, a


R. Questão bem direta. Acredita-se que, além do zinco poder qualquer momento pode apresentar sinais de
reduzir a gravidade e a duração de um quadro diarreico desidratação grave e o plano terapêutico deverá ser
agudo, também diminui a chance de um novo episódio pelos revisto.
próximos meses. Resposta: letra A. ➤ Ao final de quatro horas, é feita uma avaliação final.
Poderemos encontrar as seguintes situações:

■ Sinais de desidratação grave: a conduta será iniciar o


PLANO B plano C;

■ Presença de sinais de desidratação (não grave): repetir


O plano B é recomendado para as crianças que apresentam o plano B. Nesse momento, podem ser oferecidos
desidratação, mas que não tem um quadro grave. A essência do alimentos;
tratamento é a oferta da Solução de Reidratação Oral* (SRO)
na unidade de saúde, a chamada Terapia de Reidratação Oral ■ Ausência de sinais de desidratação: a criança poderá

(TRO). ser liberada com plano A, com a recomendação de


preparo de solução de reidratação oral em casa. O
ideal é que a criança comece a ser alimentada ainda
Veja os principais aspectos.
no serviço de saúde.

PLANO B Na literatura norteamericana, encontramos a recomendação de


1) VOLUME DA SOLUÇÃO DE REIDRATAÇÃO ORAL ofertarmos de 50-100 ml/kg ao longo de 3-4 horas. Essas
pequenas variações são abordadas nas provas e, mais
importante do que "decorar" os volumes e duração específicos, é
➤ Não há um volume exato de SRO que deva ser
mais interessante que você guarde os valores apenas
administrado. Uma estimativa inicial consiste em 75
aproximados.
ml/kg para as primeiras quatro horas. Quando o peso da
criança for desconhecido e não puder ser obtido, o
volume pode ser estimado pela idade da criança* . VIDEO_12_R3_PED_10
➤ Esse volume deve ser administrado nas primeiras Mais uma vez: para fixar!
quatro horas de observação da criança. Atente, mais
uma vez, para o fato de que esse é apenas um cálculo
aproximado.
➤ Alguns pacientes irão receber um volume menor do que
esse e, caso os sinais de desidratação desapareçam, isso
não é um problema.

2) FORMA DE ADMINISTRAÇÃO

➤ A SRO deve ser administrada com colher, copo ou até


mesmo com seringas para os lactentes menores.
➤ É comum a presença de vômitos nas primeiras duas
horas de tratamento, mas isso não impede que a TRO
seja eficaz. Caso a criança vomite, aguarde dez minutos e
reinicie a administração de SRO, mais lentamente.
➤ Caso os vômitos persistam, pode ser usada a

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2020 RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2019
SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO
MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – SURCE RIO PRETO – FAMERP
Lactente, 11 meses, é atendido em posto de saúde com
Escolar de 4 anos com quadro de diarreia e vômitos há 1 dia,
história de diarreia aquosa, 6-8 vezes ao dia, sem sangue ou
procura serviço de emergência. Ao exame físico, apresenta
muco há 2 dias. Aceita pouco a dieta, porém bebe água
desidratação leve/moderada e indicada terapia de
avidamente. Nega vômitos. Diurese reduzida. Ao exame,
reidratação oral, porém manteve episódios de vômitos, sem
apresenta-se irritado, olhos fundos, ausência de lágrimas.
melhora do quadro de desidratação. Frente a esse caso, a
Abdome: flácido, indolor, ruídos hidroaéreos presentes.
próxima conduta a ser tomada segundo a Sociedade de
Tempo de enchimento capilar de 4 segundos. A conduta mais
Pediatria seria:
indicada no caso é:

a) Associar ondansetrona e manter terapia de reidratação


a) Administrar soro de reidratação oral por sonda
oral.
nasogástrica 20 ml/kg/h, durante 4 a 6 horas, sob
supervisão na unidade de saúde. b) Iniciar terapia de reidratação endovenosa.

b) Realizar reposição com soro de reidratação oral 50 a 100 c) Associar domperidona e manter terapia de reidratação
ml/kg em 3 a 4 horas, com reavaliações periódicas em oral.
unidade de saúde.
d) Manter terapia de reidratação oral.
c) Internar para hidratação venosa. Administrar 20 ml/kg de
solução fisiológica para correr em 30 min e depois deixar R. Tanto o Ministério da Saúde quanto a nossa SBP indicam o
manutenção com reposição de perdas. uso de ondansetrona nestes casos. Resposta: letra A.
d) Liberar para casa com orientação de manter dieta habitual
da criança, administrar zinco por 10-14 dias, reposição de
perdas com solução de reidratação, 50-100 ml após cada
evacuação diarreica. PLANO C
As crianças com desidratação grave devem receber, o mais
R. Esse paciente apresenta um quadro de diarreia aguda com
rapidamente possível, a reidratação por via intravenosa. Caso a
sinais de desidratação, mas sem critérios para desidratação
criança seja capaz de ingerir líquidos, enquanto a hidratação
grave. Portante, deve receber o plano B de tratamento da
venosa é providenciada, deve ser oferecida a SRO por via oral.
desidratação recomendado pelo Ministério da Saúde: TRO na
unidade de saúde, num volume médio de 75 ml/kg nas
Veja os principais aspectos deste plano.
primeiras 4 horas, com reavaliação constante neste período.
Neste caso, a resposta da banca não trouxe esta indicação,
mas algo aproximado, descrito na opção B. De todo modo, as
demais alternativas não seriam de maneira alguma cabíveis
PLANO C
para este caso. Resposta: letra B. 1) TIPO DE SOLUÇÃO E VOLUME

As crianças com desidratação grave deverão receber 100


ml/kg de Ringer lactato ou soro fisiológico 0,9% (a
Organização Mundial da Saúde orienta que o Ringer
lactato seja usado preferencialmente).

2) TEMPO DE ADMINISTRAÇÃO

➤ Varia em função da idade da criança.

■ < 1 ano: 30 ml/kg em 1 h + 70 ml/kg em 5h.

■ > 1 anos 30 ml/kg em 30min + 70 ml/kg em 2h30min.

3) REAVALIAÇÃO

➤ Essas crianças são reavaliadas a cada 30min. Se não


houver melhora no estado de desidratação, a velocidade
de gotejamento deve ser aumentada.

➤ Tão logo a criança esteja apta a receber líquidos por via


oral, inicie a oferta de SRO (5 ml/kg/hora).

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


➤ Após a administração do volume calculado, é feita uma
avaliação e deve ser escolhido o plano A, B ou C.

Todo este plano pode ser sumarizado na Figura 2 .

Figura 3.

Treine mais um pouco e aproveite para conhecer um


parâmetro usado na avaliação da criança em terapia de
hidratação.

Figura 2: Tratamento da criança com desidratação grave.

VIDEO_13_R3_PED_10
Agora, será que é sempre isso o que cai nas provas? O
Ministério da Saúde apresenta documentos onde traz planos
mais antigos ( Figura 3 ).

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


terapia de reidratação oral, não há indicação para a
RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2018 suspensão do aleitamento materno. Apenas outros alimentos
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO ou líquidos não devem ser ofertados neste momento. E, por
DE PERNAMBUCO – SES-PE fim, a opção E está correta; a hidratação venosa está indicada
para o tratamento das crianças com desidratação grave e
Criança com 07 anos e história de vômitos e diarreia há 24 também será indicada em casos nos quais a reidratação pela
horas. Apresentou 04 episódios de vômitos e 10 episódios de via enteral esteja contraindicada, como no desenvolvimento
evacuações líquidas, sem muco ou sangue. Genitora referia de íleo paralítico. Resposta: letra E.
última diurese há 6 horas. Admitido na emergência com
regular estado geral, irritada, mucosas secas, turgor pastoso,
enoftalmia, choro sem lágrimas, pulso fino, FC 148 bpm,
tempo de enchimento capilar de 4 segundos. Considerando os RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2017
seus conhecimentos sobre a desidratação aguda na criança, SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO
assinale a alternativa CORRETA. PAULO – SCMSP
Menina de 3 anos de idade com história de diarreia líquida,
a) De acordo com a OMS, a família analisada deve ser
vômitos e febre há 2 dias. Ao exame de admissão no pronto
orientada a aumentar a oferta de líquidos para a criança e
atendimento, encontrava-se desidratada de algum grau,
oferecer Soro de Reidratação Oral – SRO, conforme sua
sendo recomendada a reparação com Terapia de Reidratação
aceitação, após cada evacuação ou vômito, devendo ser
Oral (TRO) sob supervisão. Após a 1ª hora de TRO, calculou-se
orientada a retornar à emergência em até 24 horas, para
o índice de retenção, baseado no ganho de peso e volume
reavaliação.
ingerido, chegando-se a um valor de 30%. Com base nesse
b) A presença de vômitos contraindica o uso da via oral, achado, a conduta, nesse momento, deve ser:
devendo ser iniciada a terapia de reposição por via
venosa, com SF 0,9% ou Ringer Lactato, até ocorrer a
a) Dar alta com orientação de manter a TRO em domicílio.
melhora clínica.
b) Indicar TRO por gavagem.
c) A reparação inicial das perdas deve ser realizada sob
monitorização da equipe de saúde, sendo oferecido SRO, c) Prescrever antiemético e reiniciar a TRO após 40 minutos.
respeitando-se a sede e a aceitação da criança. A reversão d) Expandir com soro fisiológico intravenoso.
dos sinais de desidratação deve ocorrer nas primeiras 12
e) Iniciar soro de manutenção intravenoso.
horas do atendimento.

d) Durante a fase de reparação das perdas, deve-se suspender


R. A questão apresenta uma pré-escolar de três anos com
o aleitamento materno e a alimentação por até 04 horas,
quadro de diarreia aguda, deu entrada no pronto
para evitar a recorrência dos vômitos.
atendimento com quadro de desidratação possivelmente leve
e) A hidratação venosa está indicada nas situações em que a ou moderada, visto que foi tratada com o plano B, que é a
via oral está inviabilizada como na alteração do estado de terapia de reidratação oral na unidade de saúde. Após uma
consciência, no íleo paralítico, na desidratação grave, no hora de tratamento, a criança apresentou um índice de
choque ou na falha da hidratação oral ou por sonda retenção de 30%... E a pergunta é: o que significa isso? Pois
nasogástrica. bem: o índice de retenção é uma medida para avaliar a
eficácia do tratamento da desidratação, calculado a partir da
R. A banca descreveu o caso clínico de uma criança com seguinte fórmula: (peso atual - peso inicial) x 100 / volume
doença diarreica aguda e que tem sinais de desidratação, ingerido. Se o índice de retenção de peso for menor de 20%,
porém, a interpretação de algumas das opções independe do por duas horas consecutivas, mesmo após gastróclise,
caso apresentado. A opção A está incorreta; esta criança considerar hidratação endovenosa. Neste caso, como foi
apresenta sinais de desidratação, ainda que não tenha superior, subtende-se que a criança foi tratada e que poderá
desidratação grave. Desta forma, o plano instituído deve ser o seguir o tratamento com o plano A, que consiste na
plano B. O plano A está reservado para as crianças com administração de líquidos (incluindo o soro de reidratação
doença diarreica aguda e que estão hidratadas. Cabe oral) no domicílio. Resposta: letra A.
ressaltar que, no plano A, não há indicação para reavaliação
em 24 horas. A opção B está incorreta; não se esqueça de que
mesmo as crianças com vômitos podem ser reidratadas pela VIDEO_14_R3_PED_10
via oral. Atualmente, o Ministério da Saúde aceita que o uso
da ondansetrona pode ser considerado no manejo da criança
com vômitos persistentes que está em uso do plano B, para OUTRAS INTERVENÇÕES
reduzir o risco de necessidade de hidratação venosa. A opção
C está incorreta; a administração da solução de reidratação ANTIMICROBIANOS
oral na unidade de saúde deve ser feita ao longo de quatro ou
seis horas. A opção D está incorreta e traz um conceito Não devem ser rotineiramente usados. As possíveis indicações
frequentemente lembrado nas provas; mesmo durante a são:

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


➤ Quadros de disenteria: a Organização Mundial da Saúde Diversos medicamentos antidiarreicos e de outras classes são
recomenda o tratamento de todos os casos suspeitos de habitualmente prescritos para o tratamento dos quadros de
shigelose e recomenda que o antimicrobiano de escolha seja a diarreia em crianças, muitas vezes até mesmo pela pressão dos
ciprofloxacina. familiares. Acredite: essas medicações não devem fazer parte do
Diversos documentos do Ministério da Saúde também arsenal terapêutico para o tratamento das crianças.
recomendam que a ciprofloxacina seja a droga de escolha
para os casos de disenteria e recomenda que as crianças com O único antiemético que deve ter seu uso considerado é a
sangue nas fezes e com comprometimento do estado geral ondansetrona, como já dito antes, pelo maior risco de efeitos
recebam tratamento com ciprofloxacina (15 mg/kg a cada 12 colaterais com outras medicações.
horas, via oral, por três dias). A ceftriaxona seria uma
alternativa. Porém, em 2017, em sua nova versão do Manual Os antiespasmódicos e inibidores do peristaltismo (loperamida)
do AIDPI para crianças de dois meses a cinco anos, a não diminuem o volume fecal em crianças. A inibição do
recomendação é de que a ceftriaxona* seja a primeira peristaltismo pode prejudicar a eliminação dos enteropatógenos
escolha e que a alternativa de segunda linha seja e predispor a complicações, como íleo paralítico, distensão
sulfametoxazol-trimetoprim. abdominal e perfuração intestinal.

VIDEO_15_R3_PED_10 Os probióticos são bastante usados no tratamento dos quadros


de doença diarreica, embora não exista uma padronização
➤ Quadros suspeitos de cólera: o Ministério da Saúde
relacionada ao seu uso. Ainda que estudos mostrem benefícios
recomenda que a droga de escolha em adultos seja a
relacionados à sua utilização, não há uma recomendação
doxiciclina. Em crianças, pode ser usada a eritromicina,
formal quanto ao seu emprego rotineiro no tratamento da
azitromicina, ciprofloxacina ou doxiciclina. No mesmo
doença diarreica aguda. Aceita-se que os probióticos possam ser
manual acima citado, a azitromicina é elencada à medicação
úteis para reduzir a gravidade e a duração da diarreia aguda
de escolha.
infecciosa infantil, abreviando em cerca de um dia a sua
➤ Giardíase sintomática com confirmação laboratorial: o duração, principalmente nas diarreias de etiologia viral. O
tratamento é feito com metronidazol, para crianças: 15 Saccharomyces boulardii já se mostrou eficaz nos quadros de
mg/kg/dia, 3x ao dia, por cinco dias. O Ministério da Saúde diarreia associada ao uso de antibióticos e por C. di cile.
recomenda o tratamento dos casos de giardíase quando a
diarreia tiver duração superior a 14 dias e forem identificados As cepas consideradas como tendo evidências suficientes e que
cistos ou trofozoítos nas fezes ou no aspirado duodenal. foram recomendadas tanto pela ESPGHAN como pela diretriz
Íbero-Latinoamericana para o tratamento coadjuvante da
diarreia aguda são: Lactobacillus GG, S. boulardii e Lactobacillus
SAIBA MAIS reuteri DSM 17938.

Nitazoxanida e Gastroenterite Viral


A racecadotrila é um inibidor da encefalinase, que promove

É bem possível que você já tenha visto crianças com uma degradação das encefalinas. As encefalinas, por sua vez,

provável gastroenterite viral receberem a orientação para o reduzem a secreção intestinal de água e eletrólitos que se

uso de nitazoxanida. Ainda que seja possível encontrarmos na encontram aumentados nos quadros de diarreia aguda. Deste

literatura a descrição de que esse tratamento seja capaz de modo, por não serem degradadas, têm ação mais duradoura.

reduzir a duração dos quadros virais, ainda são necessários


mais ensaios para que seja estabelecida a indicação de seu uso Algumas sociedades científicas recomendam o seu uso como um
de forma rotineira. tratamento coadjuvante nos casos de diarreia aguda, devendo
ser interrompido tão logo a diarreia cesse. É um tratamento
contraindicado nos menores de três meses. Recomenda-se dose
Algumas outras situações merecem um comentário
de 1,5 mg/kg de peso corporal, três vezes ao dia (em adultos não
especial: veja-as conosco.
deve ser utilizada dose superior a 400 mg/dia).

VIDEO_16_R3_PED_10
VIDEO_17_R3_PED_10

CUIDADOS ESPECIAIS
➤ Intolerância permanente ao glúten. Paciente não pode
DIARREIA CRÔNICA consumir trigo, centeio e cevada.
➤ Marcadores: HLA-DQ2 e HLA-DQ8.
QUADRO DE RESUMO ➤ Quadro clínico:

■ Forma clássica: diarreia, emagrecimento, distensão


Doença celíaca
Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech
abdominal, atrofia glútea. Desenvolve-se entre 6-24
meses;

Forma não gastrointestinal: oligossintomático. Baixa


DOENÇA CELÍACA

estatura, anemia refratária;

■ Forma silenciosa: alterações sorológicas e na biópsia, mas


sem clínica;
INTRODUÇÃO
■ Forma potencial: alterações sorológicas e biópsia normal.
Este é, inquestionavelmente, um dos temas mais recorrentes em
➤ Diagnóstico:
provas e merece ser estudado com todo cuidado.
■ Avaliação sorológica: antitransglutaminase IgA,
antigliadina desaminada, antiendomísio. Resultados
A Doença Celíaca (DC) pode ser caracterizada como uma reação
falso-negativos na deficiência de IgA;
inflamatória imunomediada no intestino delgado causada
■ Confirmação pela biópsia de delgado: achados pela sensibilidade ao glúten* e proteínas relacionadas em
característicos, mas não patognomônicos da biópsia: indivíduos predispostos. Por conta disso, o paciente não deve
atrofia de microvilosidade, hiperplasia de criptas, consumir trigo, centeio e cevada .
aumento de linfócitos intraepiteliais.

Os dados epidemiológicos mostram prevalências variadas de


Intolerância à lactose acordo com a população estudada. Levantamentos nacionais
em doadores de sangue mostram prevalência de 1:214, 1:273,
➤ Diarreia + distensão abdominal + fezes ácidas. 1:417 e 1:681 nas cidades de São Paulo, Ribeirão Preto, Curitiba
Consequências da fermentação bacteriana no cólon da e Brasília, respectivamente.
lactose não digerida.
➤ Forma primária: congênita (rara) ou adquirida (mais VIDEO_18_R3_PED_10
comum – hipolactasia do tipo adulto). Manifestações
dependem da quantidade de lactose consumida. GRUPOS DE ALTO RISCO PARA DC
➤ Forma secundária: por agressão à mucosa intestinal.
➤ Parentes de primeiro e segundo grau com DC.
➤ Investigação: teste da excreção expiratória de hidrogênio.
➤ Síndrome de Down.

Doença inflamatória intestinal ➤ Diabetes tipo 1.


➤ Deficiência seletiva de IgA.
➤ RCU: doença contínua e ascendente restrita ao cólon com
acometimento apenas da mucosa; quadro clínico pode
➤ Tireoidite autoimune.
variar de proctite à pancolite; há diarreia baixa com muco, ➤ Síndrome de Turner.
pus e sangue; na endoscopia, observa-se mucosa
➤ Síndrome de Williams.
eritematosa, edemaciada, friável, granular com exsudato.
Sorologia: p-ANCA. ➤ Artrite idiopática juvenil.

➤ Doença de Crohn: inflamação transmural, salteada, da boca


ao ânus; presença de úlceras aftoides e granulomas não
A doença está associada com um maior risco de algumas
caseosos; diarreia + dor abdominal + febre +
condições neoplásicas, como linfoma não Hodgkin e neoplasias
emagrecimento; a endoscopia revela úlceras serpinginosas
gastrointestinais na população adulta. É sugerido que este risco
intercaladas com mucosa normal. Sorologia: ASCA.
é diminuído pelo tratamento em longo prazo com a dieta livre
de glúten.

Como já tínhamos visto antes, o quadro de diarreia crônica


Para fixar:
é aquele habitualmente caracterizado por uma duração
superior a 30 dias.

O diagnóstico diferencial deste quadro é extenso e engloba


condições bastante diversas, como causas bioquímicas,
funcionais e/ou anatômicas do tubo digestivo.

Os quadros podem ser acompanhados de síndromes


disabsortivas, condições nas quais ocorre diminuição da
absorção de um ou mais nutrientes (como carboidratos,
gorduras, aminoácidos, vitaminas e minerais) em
decorrência de alguns possíveis mecanismos.
Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech
RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2020
SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE SÃO
PAULO – SMS-SP
A doença celíaca é uma doença sistêmica imunomediada,
induzida pela ingesta do trigo, centeio e cevada, em
indivíduos geneticamente predispostos. Deve-se ter atenção
especial às doenças associadas a essa afecção ou grupos de
risco, que são:

a) Deficiência seletiva de IgA, alopecia areata, doença do


refluxo gastroesofágico.

b) Diabetes mellitus tipo II, síndrome de Turner, síndrome de


Williams.

c) Tireoidite de Hashimoto, síndrome de Down, diabetes


mellitus tipo I.

d) Parentes de primeiro grau dos pacientes com doença


celíaca, síndrome de Down, síndrome de Alport.
Figura 4.
e) Doença do refluxo gastroesofágico, diabetes mellitus tipo
II, síndrome de Down.

R. Basta comparar as opções com o quadro anterior... MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS


Resposta: letra C.
Durante muito tempo, o diagnóstico de DC foi baseado na
identificação de um quadro clínico bastante peculiar.
Atualmente, graças à combinação de avaliações sorológicas,
FISIOPATOLOGIA genéticas e histológicas, é possível reconhecermos um número
bem maior de pacientes acometidos. Entenda que as
Como já caracterizado, o processo é deflagrado quando um manifestações clínicas da DC são muito variáveis, dependendo
indivíduo geneticamente predisposto é exposto ao glúten. Esta da extensão e gravidade das lesões no intestino delgado. Assim,
associação deve ficar clara: além da proteína, tem de existir a observamos um espectro clínico muito amplo, desde quadros
susceptibilidade genética. Esta susceptibilidade genética é oligossintomáticos até outros com grave síndrome disabsortiva
falcimente sugerida pela agregação de casos familiares e pela e desnutrição. Vejamos o que ocorre em cada uma das formas.
concordância da doença em gêmeos monozigóticos, que se
aproxima de 100%. Os principais fatores relacionados são os
dois alelos do antígeno leucocitário humano (HLA): HLA-DQ2 e
VIDEO_19_R3_PED_10
HLA-DQ8 ; alguns destes marcadores estarão presentes na
quase totalidade dos pacientes com DC.
FORMA CLÁSSICA
Porém, não basta isso! Além da associação dos fatores genéticos
Na forma clássica, as primeiras manifestações surgem a partir
com a exposição ao glúten, acredita-se que algum gatilho
do segundo semestre de vida (tipicamente entre 6 e 24 meses),
ambiental também esteja envolvido no processo. Com a união
quando se inicia a introdução da alimentação complementar.
de todos esses fatores, temos o desenvolvimento da lesão
Há diarreia crônica e manifestações de má absorção, com
intestinal. Ainda que os anticorpos sejam os grandes
esteatorreia, perda de peso e outros indícios de deficiência de
marcadores do diagnóstico, a base da DC se dá, sobretudo, pela
nutrientes e vitaminas. Além disso, também há distensão
imunidade celular, mediada pela agressão de linfócitos
abdominal (decorrente da digestão realizada pelas bactérias
intraepiteliais. Esses linfócitos são estimulados por
colônicas dos nutrientes não absorvidos), deficit estatural,
interleucinas, produzidas pelas próprias células epiteliais e
alteração do humor (irritabilidade ou apatia), hiporexia, atraso
pelas células apresentadoras de antígenos quando expostas ao
motor, hipotonia, perda de musculatura esquelética ( atrofia
glúten, mais especificamente a fração tóxica da proteína
glútea ), edema ( Figura 5 ).
chamada de gliadina. Como resultado, temos lesão de
enterócitos e diminuição da superfície de absorção ( Figura 4 ).

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


simétrica, nas superfícies extensoras dos cotovelos, joelhos,
nádegas, região sacral, face, pescoço e tronco. Ocasionalmente
pode acometer a cavidade oral. O prurido e a sensação de
queimação desaparecem com a ruptura das lesões bolhosas.

VIDEO_20_R3_PED_10

FORMA SILENCIOSA OU
SUBCLÍNICA
Identificada em indivíduos que apresentam alterações
sorológicas compatíveis com a doença, bem como alterações
histológicas da mucosa do intestino delgado compatíveis com
DC, mas não possuem manifestações clínicas evidentes. São
habitualmente identificados durante o rastreamento em
populações de maior risco.

FORMA POTENCIAL
Figura 5. São indivíduos com alterações sorológicas, mas sem alterações
A crise celíaca pode ocorrer quando há retardo no diagnóstico confirmadas na biópsia intestinal. Da mesma forma que nos
e no tratamento, podendo ser desencadeada por processos quadros anteriores, a identificação destes indivíduos costuma
infecciosos. O paciente apresenta diarreia grave com ocorrer durante o rastreamento em grupos de risco. É
desidratação hipotônica grave, distensão abdominal importante importante, para o diagnóstico desta forma, que tenham sido
por hipopotassemia, desnutrição grave, além de outras obtidos fragmentos de várias porções do duodeno, pois as
manifestações, como hemorragia, cãibra e tetania. alterações podem ser localizadas.

Uma das principais manifestações extraintestinais é a anemia


VIDEO_21_R3_PED_10
ferropriva refratária ao tratamento com ferro.

FORMA NÃO GASTROINTESTINAL DIAGNÓSTICO


Este quadro era habitualmente chamado de forma atípica. É um Na maior parte das vezes, o primeiro passo na investigação é a
quadro oligossintomático, com manifestações digestivas em realização de uma avaliação sorológica. Em função dos achados
segundo plano (dor abdominal, ausência de diarreia). nas sorologias e na suspeição clínica, é indicada a realização da
Sobressaem alterações extraintestinais como baixa estatura, biópsia.
atraso puberal, irregularidade menstrual, anemia ferropriva
refratária, anemia megaloblástica, hipoplasia do esmalte
dentário, artralgias, constipação intestinal, osteoporose, AVALIAÇÃO SOROLÓGICA
manifestações neurológicas (ataxia, neuropatia, epilepsia,
miopatia) e psiquiátricas (depressão, autismo, esquizofrenia). Os principais testes sorológicos para a DC são o anticorpo
antiendomísio da classe IgA, anticorpo antitransglutaminase da
classe IgA e o anticorpo antigliadina desaminada da classe IgA e
As crianças com DC podem ter baixa estatura mesmo sem IgG.
o comprometimento ponderal. Lembra-se disso de quando
estudamos o diagnóstico diferencial de baixa estatura? É
O anticorpo antitransglutaminase tecidual IgA tem como
descrito que até 8 a 10% das crianças que aparentam ter
características marcantes alta sensibilidade (92-100%) e
uma baixa estatura idiopática possuem marcadores
especificidade (91-100%). A avaliação sempre deve ser feita
sorológicos para DC.
enquanto o paciente ainda recebe uma dieta com glúten.

Os pacientes com DC podem apresentar diversas manifestações A avaliação dos anticorpos antigliadina IgA e IgG não é
cutâneas, sendo a dermatite herpetiforme a mais comum habitualmente feita de rotina, tendo em vista sua baixa
(encontrada principalmente em adultos, sendo pouco descrita sensibilidade e especificidade.
antes da puberdade). O quadro é caracterizado por uma
erupção papulovesicular pruriginosa, com distribuição
Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech
A técnica para análise do anticorpo antiendomísio IgA é serrilhado. Outros achados incluem a presença de fissuras e
bastante trabalhosa e depende muito da experiência do aspecto nodular. Devem ser obtidos fragmentos de várias
examinador. porções do duodeno.

Em resumo: o teste de escolha é o IgA antitransglutaminase A avaliação histopatológica deve ser caraterizada pela
tecidual (IgAanti-tTG). Quando este exame é negativo, mas a classificação de Marsh ( Figura 7 ). Podem ser encontradas
suspeita clínica permanece grande, está indicado proceder à desde alterações mais discretas, apenas com aumento dos
dosagem de IgA total no sangue do paciente. Como já tínhamos linfócitos intraepiteliais, até quadros mais graves, com mucosa
visto há várias semanas, há uma associação entre a deficiência totalmente atrófica, perda das vilosidades, aumento da
seletiva de IgA e a DC. apoptose epitelial e hiperplasia das criptas. A classificação é a
seguinte:

A determinação do HLA-DQ2 e DQ8 é útil na exclusão do


diagnóstico de DC ou, pelo menos, para tornar este
diagnóstico muito pouco provável. Pode ser indicada nos
casos em que o diagnóstico é incerto, como pacientes com
ausência de marcadores sorológicos e alterações pouco
evidentes na biópsia. Além disso, a ESPGHAN* indica que
as crianças e adolescentes sintomáticos, com alterações
evidentes nos marcadores sorológicos (valores de anti-tTG
muito aumentados em relação ao normal e outro
marcador sorológico) e HLA positivo, podem receber o
diagnóstico de DC e serem submetido à exclusão de glúten,
mesmo sem a biópsia. Veja isso representado na Figura 6 .

Figura 7.
➤ Estágio 0 (padrão pré-infiltrativo), com fragmento sem
alterações histológicas e, portanto, considerado normal;

➤ Estágio 1 (padrão infiltrativo), em que a arquitetura da


mucosa se apresenta normal com aumento do infiltrado dos
linfócitos intraepiteliais;

➤ Estágio 2 (lesão hiperplásica), caracterizado por alargamento


das criptas e aumento do número de linfócitos intraepiteliais;
➤ Estágio 3 (padrão destrutivo), em que há presença de atrofia
vilositária, hiperplasia críptica e aumento do número de
linfócitos intraepiteliais. Este estágio pode ser subdividido em
3 a, 3 b e 3 c, em função principalmente do grau de atrofia
vilositária observado (leve, moderado ou grave);
➤ Estágio 4 (padrão hipoplásico), caracterizado por atrofia total
com hipoplasia críptica, considerada forma possivelmente
Figura 6. Algoritmo diagnóstico para crianças e
irreversível.
adolescentes sintomáticos (ESPGHAN). (legenda: EMA -
anticorpo antiendomísio; DC - doença celíaca; anti-TG2 -
antitransglutaminase tecidual; EGD - É interessante observar que os achados variam ao longo dos
esofagogastroduodenoscopia) segmentos intestinais: vão tornando-se menos graves nas
porções mais distais, o que reflete a maior exposição ao glúten
nas regiões mais proximais.

BIÓPSIA INTESTINAL
Lembre-se de que, do mesmo modo que é recomendado na
A biópsia é o padrão-ouro para o diagnóstico. Está indicada nos avaliação sorológica, as biópsias devem ser feitas enquanto o
seguintes casos: paciente está recebendo a dieta com glúten.

➤ Forte suspeita da doença; e/ou A confirmação é estabelecida quando ocorre a melhora clínica
após a retirada do glúten. A normalização dos anticorpos após a
➤ Positividade dos testes sorológicos.
retirada do glúten também corrobora o diagnóstico naqueles
pacientes com menos sintomatologia.
Durante a endoscopia digestiva alta, pode ser observada
mucosa atrófica e redução do pregueado mucoso com aspecto

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


VIDEO_22_R3_PED_10 RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2018
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – DISTRITO
FEDERAL – SES-DF
TRATAMENTO
Considere um paciente de 2 anos de idade, com quadro
crônico de dor e distensão abdominal, diarreia, vômitos e
ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS alguns episódios de constipação. Após vasta investigação,
diagnosticou-se doença celíaca (DC). Com base no caso clínico
A base do tratamento é a exclusão permanente do glúten da apresentado e em conhecimentos médicos correlatos, julgue
dieta , para o resto da vida do paciente. Deste modo, o paciente o item a seguir.
deve abster-se do consumo de trigo, centeio e cevada. A aveia
pura, isto é, não contaminada por esses cereais, pode ser
Outras manifestações que o paciente pode apresentar são as
consumida e é tolerada pela maior parte dos pacientes com DC.
úlceras orais, o eritema cutâneo prurítico (dermatite
Porém, caso a pureza não seja garantida, isso não é possível.
herpetiforme), o retardo puberal e do crescimento, a
Alguns recomendam que no início do tratamento a aveia
mineralização óssea reduzida e a artrite.
também seja retirada e, ao ser reintroduzida, que a quantidade
máxima diária seja controlada.
a) CERTO.

Esta exclusão pode parecer algo simples, mas não se engane. b) ERRADO.
São necessários cuidados constantes para evitar o consumo
destes alimentos. R. A própria banca já indicou que se trata de um quadro de
DC. A primeira afirmativa foi considerada correta pela banca.
Diversos outros alimentos são permitidos e, durante as De fato, além das manifestações gastrointestinais, a criança
consultas, isso deve ser dito de forma explícita. Alguns com DC pode ter uma série de outras condições clínicas
exemplos são: arroz, grãos (feijão, lentilha, soja, ervilha, grão- associadas. Cabe, contudo, ressaltar que a dermatite
de-bico), óleo, azeite, vegetais, hortaliças, frutas, tubérculos herpetiforme não é comum em um pré-escolar. Resposta:
(batata, mandioca, cará, inhame), ovos, carnes (bovina, suína, letra A.
peixes e aves), leite* e derivados. As fezes do paciente provavelmente apresentam elevados
níveis de gordura parcialmente digerida.

O paciente pode consumir as seguintes farinhas: milho (farinha


de milho, amido de milho, fubá), arroz (farinha de arroz), batata a) CERTO.
(fécula de batata), mandioca (farinha de mandioca, polvilho b) ERRADO.
doce, polvilho azedo, tapioca). Milhete, quinoa e amaranto
também são permitidos. O trigo sarraceno não contém glúten,
R. A afirmativa está certa. A DC leva à atrofia das vilosidades
mas é comum que esteja contaminado.
intestinais e má absorção intestinal, o que leva o paciente a
desenvolver a esteatorreia (aumento de gordura nas fezes).
VIDEO_23_R3_PED_10 Resposta: letra A.
Alguns testes de triagem que provavelmente foram feitos na
busca desse diagnóstico do paciente, são imunoglobulina A

ACOMPANHAMENTO total, anticorpos antitransglutaminase tecidual IgA/IgG e


anticorpos contra peptídeos da gliadina deaminada.

A maior parte dos pacientes apresenta alguma resposta após


duas semanas de exclusão dietética de glúten. A melhora clínica a) CERTO.
costuma preceder a melhora histológica. b) ERRADO.

A repetição da biópsia e a reintrodução do glúten para R. Mais uma afirmativa certa. Na avaliação diagnóstica são
confirmar o desencadeamento dos sintomas já foram práticas feitas as dosagens de anticorpos e, principalmente quando a
rotineiras, mas não mais recomendadas para todos os pacientes. avaliação inicial for negativa, deve ser feita a avaliação da
IgA sérica total. A confirmação diagnóstica é obtida pelos
Quando não há melhora, deve-se considerar a falta de adesão ao achados na biópsia. Resposta: letra A.
tratamento, a presença de outras doenças gastrointestinais Uma vez realizada a biópsia desse paciente, os achados
concomitantes, a presença de alguma doença que mimetize a principais devem ser a hipertrofia de vilosidades e a
DC. diminuição do número de linfócitos intraepiteliais.

Vamos revisar os principais aspectos com a sequência de a) CERTO.


perguntas a seguir: b) ERRADO.

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


R. Faça a leitura cuidadosa! O que acontece é justamente o
contrário: o paciente desenvolve atrofia de vilosidades, INTRODUÇÃO
hiperplasia de criptas e infiltrado linfoplasmocitário na
lâmina própria. Resposta: letra B. De forma resumida, a intolerância à lactose nada mais é do que
Após esse período, o paciente pode voltar a ingerir alimentos uma situação em que há má absorção da lactose, levando ao
que contenham glúten, mas de maneira controlada. surgimento de uma série de manifestações. O quadro pode ser
causado por uma deficiência de lactase primária (redução ou
a) CERTO. ausência de lactase genética) ou por uma deficiência de lactase
secundária (ocorre nas doenças de mucosa do delgado, como
b) ERRADO.
na DC que acabamos de estudar).

R. Precisa de comentário? O tratamento consiste na exclusão


permanente do glúten da dieta, para toda a vida do paciente.
Resposta: letra B. FISIOPATOLOGIA
Para você entender o que acontece nestes quadros, lembre-se
rapidamente de alguns conceitos básicos.
RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2018
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO A lactose é um carboidrato encontrado no leite, cuja digestão
TOCANTINS – UFT depende de uma enzima chamada lactase (presente na borda
em escova do delgado). A lise da lactose gera dois
A doença celíaca é uma enteropatia crônica, mediada por
monossacarídeos: glicose e galactose, que serão absorvidos pelo
fenômenos imunológicos e desencadeada por ingestão de
delgado mediante carreadores específicos.
glúten, que determina alterações intestinais e sistêmicas. Ela
vem sendo reconhecida como uma condição que cursa com
variadas formas clínicas, mesmo sem as manifestações Veja como o quadro se estabelece:
intestinais típicas. Para o diagnóstico de doença celíaca na
infância:
VIDEO_24_R3_PED_10
a) É obrigatória a confirmação por biópsia intestinal.

b) Bastam a positividade de anticorpo antitransglutaminase MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS


tecidual-IgA e a presença de anticorpo antiendomísio
sérico e quadro clínico compatível.

c) Basta a presença de anticorpo antitransglutaminase DEFICIÊNCIA DE LACTASE PRIMÁRIA


tecidual-IgA em pacientes que expressem as moléculas
Esta condição engloba duas formas clínicas principais: a
HLADQ2 e/ou DQ8.
deficiência primária de lactase adquirida e a deficiência
d) É necessário que o anticorpo antitransglutaminase congênita de lactase, muito menos comum. Há, ainda, a
tecidual IgA esteja positivo, pois, caso contrário, deficiência relativa de lactase do prematuro.
diagnóstico pode ser excluído.

e) Se anticorpo antitransglutaminase tecidual IgA estiver dez ➤ Deficiência congênita de lactase: é uma condição muito rara
vezes acima do limite superior e o anticorpo e caracteriza-se pela ausência de atividade da lactase no
antiendomísio IgA for positivo em pacientes HLADQ2 e/ou intestino. Manifesta-se já nos primeiros dias de vida, esteja a
DQ8, o diagnóstico pode ser confirmado, mesmo sem criança recebendo leite materno ou fórmula que contenha
biópsia intestinal. lactose. Há diarreia ácida, hiperemia perianal e pode haver
desidratação.
R. E aí: a biópsia é ou não é obrigatória? Depende da fonte... ➤ Deficiência primária de lactase adquirida (hipolactasia
Perceba que as recomendações mais atuais da ESPGHAN já tipo adulto ou deficiência ontogenética de lactase): é
podem aparecer em provas. Ainda que isso não seja um consequência de uma redução na atividade da lactase que
consenso universal, caso as características descritas na opção ocorre normalmente na maioria dos mamíferos. Este declínio
E estejam presentes, o diagnóstico pode ser estabelecido regular tem início na idade pré-escolar e se completa antes da
mesmo sem a biópsia. Cabe ressaltar que, nestes casos, deve adolescência. O quadro clínico irá variar de acordo com o
haver sintomatologia clínica compatível. Resposta: letra E. nível residual de lactase do paciente e com a quantidade de
lactose ingerida. É descrito que esta forma pode afetar
aproximadamente 70% da população mundial, mas essa
porcentagem varia de acordo com a etnia e com o costume
INTOLERÂNCIA À LACTOSE quanto ao uso de produtos lácteos na dieta.

➤ Deficiência relativa de lactase do prematuro (deficiência


neonatal de lactase ou deficiência do desenvolvimento de

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


lactase): corresponde à deficiência relativa de lactase Outras avaliações, menos empregadas, incluem a biópsia
observada em recém-nascidos com menos de 34 semanas de intestinal, para avaliação da atividade de lactase, e testes
gestação. Ocorre um incremento na atividade da lactase com a genéticos.
proximidade do termo. Por esta razão, os recém-nascidos pré-
termo, em comparação ao nascidos a termo, apresentam
digestão e absorção diminuída de lactose. Após o nascimento,
VIDEO_26_R3_PED_10
os níveis de lactase nos prematuros aumentam rapidamente,
mais do que o correspondente para fetos com a mesma idade
gestacional. TRATAMENTO
O objetivo do tratamento é melhorar os sintomas do paciente,
MÁ ABSORÇÃO SECUNDÁRIA DE mas sem comprometer o consumo de cálcio e vitamina D. O
consumo diário de ambos deve ser avaliado cautelosamente.
LACTOSE
Nos casos de má absorção secundária, o mais importante é o
São quadros que se estabelecem por alguma doença intestinal
manejo da causa base.
subjacente, que leve a uma diminuição da atividade digestiva.
Os processos infecciosos e inflamatórios que acometem as
vilosidades intestinais podem levar a isso. A lactase costuma ser A restrição da quantidade de lactose na dieta costuma ser o

a principal dissacaridase afetada, pois é secretada bastante para boa parte dos pacientes (lembre-se de que as

principalmente nas porções mais distais dos vilos. manifestações são dose-dependentes). Alguns derivados lácteos
têm teor reduzido de lactose.

As consequências clínicas de todas essas formas são Não costuma ser necessária a restrição de formulações
semelhantes. O quadro típico ocorre pela fermentação da medicamentosas que contenham lactose na sua composição.
lactose não digerida já descrita anteriormente. Podemos
ter o desenvolvimento de: diarreia, dor abdominal,
Existem também preparados de lactase que, quando ingeridos
distensão abdominal, flatulência e vômitos.
junto com alimentação, podem aumentar a tolerância ao leite.
Esta reposição enzimática, apesar de reduzir os sintomas, não é
capaz de digerir toda a lactose da dieta. É necessário avaliar a
VIDEO_25_R3_PED_10 resposta individual ao tratamento.

Veja só como isso aparece:


DIAGNÓSTICO
Na avaliação complementar, encontramos a presença de pH
fecal mais ácido (< 6) e presença de substâncias redutoras
(carboidrato não digerido), mas esses não são achados
específicos.

A investigação pode incluir, principalmente, a realização de


dois exames:

➤ Excreção respiratória de hidrogênio: cerca de 20% do


hidrogênio formado durante a fermentação será absorvido e
eliminado pelos pulmões, sendo medido pela cromatografia
gasosa. Para o teste, o paciente recebe lactose e é submetido à
coleta do ar expirado. São coletadas amostras em jejum e em
alguns intervalos. O valor basal de hidrogênio deve ser menor
que 10 ppm em condições adequadas de jejum, e considera-se
indicativo de má absorção o valor > 20 ppm de hidrogênio no
teste;
➤ Teste da absorção de lactose: o paciente consome uma
determinada quantidade de lactose e é posteriormente
submetido à avaliação de sua glicemia. Quando o aumento na
glicemia é baixo e surgem sintomas, o diagnóstico é
estabelecido.

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2019 RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2017
SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA
MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – SURCE UNICAMP – UNICAMP
No ambulatório, uma criança de 2 anos de idade chega com Paciente de 5 anos de idade, sexo masculino, apresentou
fezes líquidas, explosivas, ácidas, acompanhadas de quadro de diarreia com febre e vômitos por 3 dias, há 3
borborigmo, flatulência, dor abdominal e dermatite perineal. semanas. Os vômitos e a febre cessaram, porém, há 2
Os exames revelam pH baixo e presença de açúcares semanas mantém distensão abdominal e queixa de dor após
redutores. Qual a principal hipótese diagnóstica? a ingestão de leite de vaca integral com achocolatado. Come
bem outros alimentos, nega perda de peso. Assinale a
a) Intolerância à lactose. alternativa CORRETA:

b) Intolerância à sacarose.
a) Deve-se orientar dieta com exclusão da proteína do leite
c) Enterocolite infecciosa. de vaca.
d) Intolerância à proteína do leite de vaca. b) Deficiência tardia de lactase não é considerada prevalente
na maioria da população mundial.
R. Estamos diante de uma lactente que apresenta um quadro
c) Infecções por Giardia não predispõem à redução da
de diarreia. Temos uma informação no enunciado que deve
capacidade de digestão da lactose.
chamar nossa atenção: a descrição de dermatite na região
das fraldas. A descrição de hiperemia perianal é indicador de d) Intolerância transitória à lactose associa-se à hipolactasia
uma sobrecarga de lactose no conteúdo intestinal, pois o por lesão da mucosa intestinal decorrente infecções virais.
açúcar não absorvido sofre metabolização bacteriana no
intestino com formação de ácidos orgânicos e gases. R. O enunciado nos mostra um pré-escolar que apresentou
Confirmamos nossa hipótese pela pesquisa positiva de um caso típico de gastroenterite infecciosa há três semanas e,
substância redutora nas fezes. Os açúcares não digeridos desde então, mantém dor abdominal + distensão após a
levam a esta alteração na avaliação complementar. Os ingestão de leite de vaca. Este quadro é compatível com
pacientes apresentam dor abdominal em cólica associada à intolerância transitória à lactose. Durante uma infecção
diarreia osmótica com fezes explosivas. É possível que no intestinal aguda, a borda em escova dos enterócitos é lesada
início do quadro tenha havido um insulto infeccioso e o e, com ela, perde-se a lactase, enzima presente no topo das
quadro está se prolongando pela intolerância secundária, vilosidades intestinais. A consequência é a perda transitória
uma das condutas aceitáveis seria a redução do aporte de da capacidade de digerir a lactose do leite. Resposta: letra D.
lactose na dieta. Resposta: letra A.

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


camada mucosa; já a doença de Crohn pode acometer qualquer
RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2015 porção do trato gastrointestinal, desde a cavidade oral até o
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA ânus, e se caracteriza por um acometimento transmural. O
UNICAMP – UNICAMP quadro de doença de Crohn é o mais comum na população
pediátrica, exceto nos primeiros cinco anos de vida, quando a
Mãe chega ao consultório do pediatra contando que o filho de RCU é mais frequente.
7 anos, desde os 4 anos de idade, tem diarreia diariamente,
sempre no início da noite, acompanhada de dor abdominal
A suspeita diagnóstica costuma ser estabelecida a partir da
em cólica de forte intensidade e fezes explosivas. Já fez vários
combinação de algumas manifestações clínicas e achados
cursos de mebendazol sem sucesso. O diário alimentar revela
laboratoriais iniciais, mas o estabelecimento do diagnóstico
que a criança não toma café da manhã, almoça na escola e ao
depende de estudos de imagem e das endoscopias, com
chegar a casa às 17:00 toma um copo de leite ou um pote de
realização de biópsia.
iogurte ou pão com requeijão. Nega rinite, asma, dermatite
ou outros fenômenos alérgicos. Nega outras queixas.
Antecedentes familiares negativos para atopia. Exame físico
sem alterações, peso e altura normais para idade. Quanto a FISIOPATOLOGIA
este quadro, a alternativa CORRETA para a primeira hipótese
a ser aventada é: Os mecanismos exatos que levam aos quadros não são
completamente esclarecidos, mas está bem estabelecido que as
a) Doença celíaca. DII possuem substratos genéticos e ambientais. As crianças
diagnosticadas costumam ter uma história familiar positiva
b) Intolerância à lactose.
para a doença (atente para isso nos enunciados!) em até 20-30%
c) Alergia à proteína do leite de vaca. das vezes. A associação entre os fatores genéticos e ambientais
d) Giardíase. determina alterações na permeabilidade e na resposta imune
da mucosa intestinal a vários agentes, incluindo os micro-
organismos comensais ou patogênicos do trato digestório.
R. Observe que os sintomas são diretamente relacionados à
ingestão de leite e derivados, iniciando cerca de 30 minutos a
duas horas após a ingestão. As manifestações clínicas são Na maior parte dos casos, a RCU inicia-se no reto e depois se
compatíveis com o encontrado na má absorção da lactose. As propaga por contiguidade em direção proximal. A doença
outras condições são consideradas na avaliação de uma progride de forma contínua e é possível encontrar uma nítida
diarreia crônica, porém, na DC não haveria razão para as área demarcada entre a mucosa inflamada e a mucosa normal.
manifestações acontecerem apenas no horário descrito; nas Em quase metade dos pacientes, a doença fica restrita ao reto
parasitoses, o mesmo raciocínio se aplica e, além disso, o ou estende-se no máximo até o sigmoide. Como já dito, a doença
tratamento já foi feito; os quadros de alegria à proteína do de Crohn pode afetar todo o trato gastrointestinal, desde a boca
leite de vaca não são comuns nesta faixa etária. Resposta: até o ânus. Porém, ao contrário da RCU, o reto é geralmente
letra B. preservado.

VIDEO_28_R3_PED_10
DOENÇAS INFLAMATÓRIAS
INTESTINAIS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
De uma maneira geral, as manifestações iniciais na população
INTRODUÇÃO pediátrica incluem a dor abdominal e a diarreia.

VIDEO_27_R3_PED_10
Tais condições são menos comuns em nossa prática e,
DOENÇA DE CROHN
consequentemente, aparecem com menos frequência nas
As manifestações mais frequentes incluem a dor abdominal,
provas. O pico de incidência das Doenças Intestinais
perda de peso, parada de crescimento, anemia, diarreia, doença
Inflamatórias (DII) é dos 15 aos 30 anos, sendo que a menor
perianal, febre, artrite e lesões de pele. As aftas orais
parte desenvolve os quadros antes dos 20 anos. Ainda assim é
(estomatite aftosa) podem ser encontradas. A dor abdominal
importante que você reconheça as principais características
destas crianças costuma estar localizada no quadrante inferior
dessas doenças.
direito. As manifestações cutâneas podem incluir o eritema
nodoso* (mais comum na doença de Crohn do que na RCU). As
A DII compreende duas desordens principais: Retocolite alterações oculares também são descritas (a uveíte e a
Ulcerativa (RCU) e a doença de Crohn. Quando não é possível a episclerite, com dor e, às vezes, com diminuição da acuidade
distinção, diz-se que o paciente tem uma colite indeterminada. visual).
A RCU acomete o cólon e se caracteriza pela inflamação da
Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech
O baixo ganho ponderal (ou perda ponderal) e/ou atraso enzimas hepáticas, bilirrubinas e amilase, com o objetivo de
puberal podem estar presentes em ambas as formas, mas são detectar o envolvimento hepático e pancreático.
mais comuns na doença de Crohn. Cabe indicar que dada a
elevada prevalência de sobrepeso/obesidade, o paciente pode Os dois principais marcadores sorológicos que você precisa
não ter emagrecimento no momento do diagnóstico e isso não é conhecer são: p-ANCA e ASCA. O p-ANCA (anticorpo
o bastante para a afastarmos a possibilidade. A diminuição na anticitoplasma de neutrófilo, padrão perinuclear) é detectado
velocidade de crescimento pode ser a manifestação em 60-70% dos pacientes com RCU e em 5 a 10% dos pacientes
inicialmente observada. com DC. Em parentes de primeiro grau de pessoas com RCU
encontramos positividade para p-ANCA em 5 a 15%. Na
As manifestações extraintestinais são descritas em até um terço população geral, temos 2-3% de positividade de p-ANCA. O
dos pacientes com DII e são mais comuns naqueles que ASCA (Ac. Anti- Saccharomyces cerevisiae) é encontrado em
apresentam doença de Crohn perianal. Incluem os quadros de cerca de 60-70% dos pacientes com DC e apenas 10-15% dos
colangite esclerosante e espondilite anquilosante. pacientes com RCU. Na população geral, temos 5% de
positividade de ASCA. Estes marcadores podem ser usados de
forma auxiliar na diferenciação entre RCU e doença de Crohn,

RETOCOLITE ULCERATIVA mas não são definitivos para esta distinção.

As manifestações mais frequentes incluem sangue nas fezes, Quando o quadro clínico e a avaliação laboratorial inicial
diarreia, tenesmo e urgência para evacuar, dor abdominal, reforçam a suspeita de DII, o paciente deve ser submetido à
anemia, perda de peso, febre, artrite e lesões de pele. realização de exames de imagem e à colonoscopia com
realização de biópsias (incluindo, se possível, fragmento do íleo
As manifestações da colite, que também podem estar presentes terminal).
no paciente com a doença de Crohn, se traduzem por diarreia
que tipicamente contém sangue. Nos quadros mais insidiosos, a O método de imagem empregado irá variar em função da
diarreia inicialmente não terá sangue. experiência do serviço, sendo possível a realização de
enterografia com ressonância magnética ou opção com
O megacólon tóxico pode ser uma complicação em pacientes enterotomografia computadorizada. A ultrassonografia pode ser
com doença grave. Há febre e taquicardia e, ao exame, é usada em alguns centros.
possível encontrar diminuição de peristalse e dor à palpação
abdominal. A rotina de abdome agudo é característica com A endoscopia por vídeo cápsula vem sendo cada vez mais
dilatação de transverso ou cólon direito maior do que 5-6 cm e usada em adultos e permite a avaliação do intestino delgado. A
perda das haustrações. preocupação é na presença de possíveis estenoses, que
contraindicam esta abordagem.
A colangite esclerosante primária é a principal doença hepática
relacionada com a DII e é mais comum na RCU. A colonoscopia acompanhada de biópsia traz achados que
auxiliam na distinção entre as formas de DII:

Nas crianças que se apresentam com sangramento retal e ➤ Doença de Crohn: a manifestação inicial mais comum é a
sem diarreia, outras condições sempre devem ser
úlcera aftosa. Esta é circundada por um fino halo eritematoso
avaliadas, como: fissuras anais ou hemorroidas; pólipos;
de edema. Podem ser arredondadas ou longas e serpinginosas.
divertículo de Meckel; proctocolite induzida por proteína
Pode-se encontrar úlceras longitudinais e transversais
alimentar.
formando uma grade com áreas de mucosa normal. É o que se
chama de “desenho em ladrilho”. As áreas envolvidas estão
circundadas por mucosa normal . Outros achados que
sugerem DC: fístulas, estenoses, preservação do reto e
DIAGNÓSTICO doença saltatória (ou descontínua);

➤ RCU: inicialmente observa-se uma mucosa eritematosa,


VIDEO_29_R3_PED_10 edemaciada e granular, com perda da vasculatura normal. A
O diagnóstico é estabelecido pela combinação de dados clínicos, mucosa é friável e exibe um exsudato amarelado. Em doenças
alterações laboratoriais e nos exames de imagem e análises graves, há pequenas úlceras e sangramento espontâneo. Um
histopatológicas. achado importante é que a doença inicia-se no reto e
ascende continuamente . A partir de um momento, nota-se
A avaliação complementar indica anemia, hipoalbuminemia transição para mucosa normal e, então, todo o restante do
e/ou aumento da VHS ou da proteína C-reativa. O aumento da cólon proximal a este ponto é sadio.
calprotectina fecal é identificado nas crianças portadoras de DII
e se correlaciona com a presença de processo inflamatório na Para finalizar e partirmos para o tratamento, veja as principais
mucosa intestinal; auxilia na distinção entre a DII e causas não comparações entre estas condições na Tabela 5.
inflamatórias de diarreia. Sempre é feita a dosagem das

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


Nos pacientes com quadros mais leves, parte-se de medicações
TABELA 5: DPE
menos agressivas para mais agressivas ( step-up). Nesta
estratégia, os imunobiológicos (anti-TNF; infliximabe e
adalimumabe) são reservados para os pacientes
corticosteroides dependentes, refratários ou com resposta
insuficiente aos imunossupressores. Em alguns casos, pode ser
recomendada uma estratégia inversa ( top-down), isto é,
utilização deste tratamento já no início. As possíveis indicações
para isso incluem: ulcerações colônicas profundas na
ileocolonoscopia; doença extensa (pan-entérica); doença inicial
estenosante e penetrante; ou doença perianal grave, dentre
outros.

A terapia de nutrição enteral exclusiva, com o uso de


fórmulas elementares ou oligoméricas, durante cerca de oito
semanas, é capaz de suprimir a inflamação e promover a
cicatrização de mucosa. Pode ser indicada como tratamento
primário ou adjuvante para estes pacientes.

VIDEO_30_R3_PED_10

Figura 7.
Vamos rever os principais conceitos.

TRATAMENTO
O tratamento das DII tem o objetivo de promover a cicatrização
da mucosa, redução das complicações e a melhora na qualidade
de vida do paciente. É importante que isso seja feito em centros
de referência.

O tratamento inicial irá depender da gravidade do quadro


apresentado, como sugerido na Figura 7 .
Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech
RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2020 RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO
UNIFESP PAULO – SCMSP
Menino, 13 anos de idade, com baixa estatura, há 4 meses
Criança de 10 anos, previamente hígida, há 6 meses vem
apresenta dor abdominal diária. O exame de endoscopia
apresentando episódios recorrentes de fezes diarreicas
digestiva alta foi normal e a biopsia de intestino delgado
sanguinolentas, dor abdominal difusa, inapetência e
demonstrou mucosa com relação vilosidade/cripta de 4/1 e 5
emagrecimento. Ao exame físico, nota-se que não cresceu e
linfócitos intraepiteliais/100 enterócitos. A colonoscopia
que perdeu 15% do peso em relação à última consulta,
evidenciou inúmeras úlceras no íleo e ceco, cujas biopsias
realizada há 8 meses. O abdome está distendido, doloroso,
demonstraram presença de granuloma epitelioide não
principalmente em fossa ilíaca à direita, com descompressão
caseoso com pesquisa de bacilo de Koch negativa. Com base
brusca negativa. O hemograma revelou anemia hipocrômica
na principal hipótese diagnóstica, qual seria a conduta inicial
e microcítica, o protoparasitológico e a coprocultura
mais apropriada?
resultaram negativos, e a colonoscopia revelou alterações
inflamatórias segmentares de mucosa, com presença de
a) Dieta totalmente sem glúten
úlceras profundas, acometendo principalmente o cólon
b) Azatioprina ou 6-mercaptopurina ou metotrexate proximal e a região ileocecal, intercaladas com áreas de
mucosa normal, incluindo o reto. A principal hipótese
c) Dieta enteral exclusiva polimérica durante 8 semanas
diagnóstica é:
d) Corticosteroides tópicos deglutidos (fluticasona ou
budesonida)
a) Divertículo de Meckel.
e) Dieta rica em fibras, sem frituras ou cafeína
b) Doença de Crohn.

c) Tuberculose intestinal.
R. Nosso paciente tem critérios diagnósticos para doença de
Crohn. Quando pensamos no tratamento desses pacientes, d) Colite alérgica.
devemos levar em conta que os objetivos baseiam-se na
e) Retocolite ulcerativa.
modificação da história natural da doença, por meio da
cicatrização da mucosa, da redução das complicações e da
R. O enunciado nos traz algumas informações para a suspeita
melhora da qualidade de vida do paciente. Por isso, o
de uma DII: há diarreia sanguinolenta associada com perda
tratamento deve ser individualizado e ajustado a cada
ponderal. A descrição dos achados na colonoscopia, com
consulta, baseado na avaliação clínica e na condição atual do
alternância de áreas acometidas e áreas saudáveis é típico da
paciente. Nas formas leves e moderadas, sem sinais de
doença de Crohn. Resposta: letra B.
alarme, o esquema mais empregado é o escalonado ( step-up),
em que se usa inicialmente medicações menos agressivas,
deixando a terapia imunobiológica como última opção. As
terapias mais "agressivas" ficam reservadas a pacientes
dependentes, resistentes ou refratários aos corticoides.
Qualquer que seja a etapa de tratamento, a terapia de
suporte nutricional é parte integrante e fundamental, muitas
vezes induzindo a remissão mesmo sem o uso de medicações.
Em casos de doença ativa leve a moderada, a nutrição enteral
exclusiva é recomendada como terapia de primeira linha
para a indução de remissão, já que é capaz de promover a
cicatrização da mucosa, a recuperação da densidade mineral
óssea e a melhora do crescimento linear. A NEE consiste na
oferta de 120% da oferta diária de referência oral exclusiva
de fórmula polimérica e deve ser mantida durante cerca de
oito semanas. O paciente em questão não tem nenhum dos
fatores de gravidade descritos, por isso pode ser tentada,
inicialmente, a dieta enteral exclusiva polimérica durante
oito semanas. Resposta: letra C.

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


Acomete 1:20.000 nascidos vivos. Podem ser confundidos com
RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2016 os pacientes com fibrose cística, mas possuem um teste do suor
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – UH – normal e alterações esqueléticas típicas. Trombocitopenia e
UFPR anemia também são achados comuns. Muitos podem evoluir
para uma síndrome mielodisplásica.
Paciente de 12 anos, do sexo masculino, é avaliado por
apresentar queixa de evacuações amolecidas e com sangue, 5
vezes ao dia, há 4 meses. Refere também urgência e tenesmo.
Nega emagrecimento ou diminuição do apetite. Refere febre SÍNDROME DE PEARSON
ocasional, cerca de uma vez por semana, de 38°C. Recebeu
tratamento antiparasitário e antibioticoterapia no início do É uma doença mitocondrial cuja mutação afeta a fosforilação
quadro, sem melhora, apesar de coprocultura negativa. Com oxidativa. Manifesta-se com anemia macrocítica, sideroblastos
relação ao caso acima, assinale a alternativa CORRETA. em anel, trombocitopenia e insuficiência pancreática.

a) O exame complementar de escolha para confirmar o


diagnóstico é a colonoscopia.
LINFANGIECTASIA INTESTINAL
b) Na evolução, o paciente poderá apresentar colangite
esclerosante secundária. A linfangiectasia intestinal é uma doença caracterizada pela
obstrução dos vasos linfáticos intestinais, de natureza congênita
c) A presença de doença perianal ao exame físico, sugere o
(primária) ou secundária a alguma outra condição (como
diagnóstico de retocolite ulcerativa.
pericardite constritiva, insuficiência cardíaca congestiva,
d) O tratamento de escolha é o uso de probióticos. tuberculose abdominal, linfoma).
e) A colectomia de urgência é o tratamento de escolha.
Sua forma congênita está frequentemente associada a algumas
R. A grande pista para a suspeita de uma DII é associação de síndromes genéticas (Turner, Noonan e Klippel-Trenaunay). A
febre. Não há razão para se atribuir isto a um quadro linfa (rica em proteínas, gorduras e linfócitos) drena para a luz
infeccioso, posto que já foram feitos exames de coprocultura do intestino delgado, resultando em uma perda entérica destes
e foram negativos. Pensando nessa possibilidade, vejamos produtos. As consequências para o organismo são:
cada uma das opções. A opção A está correta; outros exames hipoalbuminemia, edema, ascite, deficiência de vitaminas
ainda serão feitos, mas diante da suspeita de DII, a lipossolúveis, hipogamaglobulinemia e linfocitopenia.
colonoscopia com biópsia deve ser indicada. A opção B está
errada; a colangite esclerosante primária é a complicação
associada aos quadros de DII. A opção C está errada; esta
alteração sugere o diagnóstico de doença de Crohn. A opção D
ABETALIPOPROTEINEMIA
e E estão erradas; o tratamento é um pouco mais “agressivo”
É uma doença autossômica recessiva, causada por uma
que o uso de probióticos e a cirurgia pode eventualmente ser
mutação no gene que codifica uma das lipoproteínas do
necessária, mas não de forma inicial na ausência de
quilomícron. Na abetalipoproteinemia não há quilomícrons,
complicações. Resposta: letra A.
nem VLDL, nem LDL e nem ApoB, em decorrência do defeito
genético que impede a formação destas estruturas a nível
linfático. Assim, vamos ter um quadro clínico caracterizado por
fezes esteatorreicas desde o nascimento, dificuldade de
OUTRAS CONDIÇÕES desenvolvimento e ganho ponderal, e deficit de proteínas
lipossolúveis, especialmente A, E e K. A carência das vitaminas
Diversas outras condições devem ser consideradas no leva aos quadros típicos das hipovitaminoses.
diagnóstico diferencial da diarreia e falaremos sobre muitas
delas em mais uma semana, ao estudarmos os distúrbios
gastrointestinais funcionais. A fibrose cística, outra importante
causa, será extensamente estudada em mais alguns meses. Por SÍNDROME DO INTESTINO
CURTO
enquanto, conheça as principais características de algumas
condições.

A síndrome do intestino curto é resultante da perda de uma


porção significativa do comprimento do intestino delgado, com
SÍNDROME DE SHWACHMAN- ou sem perda adicional de intestino grosso, resultando em um
quadro de má absorção generalizada ou de alguns nutrientes
DIAMOND isoladamente, dependendo da região acometida.

Síndrome autossômica recessiva caracterizada por insuficiência


Ao nascimento, o intestino delgado tem entre 200-250 cm,
pancreática exócrina, baixa estatura, neutropenia cíclica e
comprimento que aumenta para 300-800 cm na fase adulta. As
alterações esqueléticas.
Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech
ressecções durante a infância apresentam melhor prognóstico ➤ Síndrome do intestino curto congênita.
que aquelas realizadas na vida adulta, uma vez que ainda há
➤ Atresias intestinais múltiplas.
potencial para crescimento intestinal. Além da extensão
(comprimento) retirada, é também importante observar a ➤ Gastrosquise.
região intestinal ressecada, pois cada segmento é responsável
pela absorção específica de determinados nutrientes, e isso Ressecção Intestinal Cirúrgica
influencia a expressão clínica da síndrome de má absorção.
➤ Enterocolite necrosante.
De um modo geral, as ressecções de jejuno são mais bem
➤ Vólvulo com ou sem má rotação.
toleradas que as do íleo, pois este se adapta ao longo do tempo a
absorver água e nutrientes, tal como fazia o segmento proximal. ➤ Doença de Hirschsprung.
A retirada de íleo provoca profundas modificações na ➤ Peritonite meconial.
reabsorção de água e eletrólitos.
➤ Doença de Crohn.

Há diversas condições que podem levar ao quadro, como ➤ Trauma.


exemplificado abaixo na Tabela 6.

O tratamento inicial é feito com nutrição parenteral total por


TABELA 6: CAUSAS DA SÍNDROME DO INTESTINO CURTO. várias semanas, seguida de início de dieta enteral trófica
(hidrolisado proteico + triglicerídeos de cadeia média), com
Congênita progressão gradual para dietas de maior complexidade.

Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech


Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech

Você também pode gostar