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Sociologia

das Organizações
1. Introdução 4
Conceitos Básicos 6
Organização 6
Sociologia das Organizações 8

2. Estudo Sociológico das Organizações 11


O surgimento da Sociologia 12
O Estudo das Organizações 15
As Organizações como Agentes Sociais 19

3. A Sociedade e as Organizações 22
O Ser Humano e a Vida em Grupo 23
A Importância das Organizações 25
Principais Tipos de Organizações 28

4. Equipes e Empowerment 32
Natureza, Tipos e Estrutura de Grupos 32
Equipes 33
Empowerment 34
Os Componentes do Poder 36
O Poder e as Organizações 36
A Liderança Informal nas Organizações 39

5. Referências Bibliográficas 42

02
03
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

1. Introdução

Fonte: Brasil Escola1

A Sociologia surgiu no século XIX


como decorrência das profun-
das transformações nas sociedades
vocaram a necessidade de encontrar
alternativas que servissem como
modelo a um novo tipo de organiza-
ocidentais provocadas pela Revolu- ção social. E, para tanto, era neces-
ção Industrial que teve início na In- sário surgir uma ciência que estu-
glaterra e pela Revolução Francesa dasse os fenômenos que estavam
de 1789. ocorrendo, visando entendê-los, in-
A desestruturação da socieda- terpretá-los e propor alternativas vi-
de tradicional, com a perda de suas áveis (DIAS, 2008).
principais referências, que garantia Antes de apresentarmos a so-
um mínimo de estabilidade, como a ciologia das organizações, uma orga-
organização econômica baseada na nização por definição pode ser uma
agricultura, e a existência de um cla- empresa de administração pública,
ro domínio político da nobreza pro- uma empresa industrial, comercial

1 Retirado em https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/o-que-organizacao-social.htm

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

ou de serviços, uma associação de dade a forma de organização trazida


bairro, de empregados, de membros pela indústria, destacando-se o pa-
ou de clientes, um partido político pel dos empresários e da racionali-
ou qualquer outro tipo de grupo. Pa- dade científica como elementos no-
ra que esse grupo seja considerado vos de articulação de uma nova or-
uma organização ele deve estar devi- dem.
damente formalizado (oficialmente Nesse sentido, a nova forma de
ou não) e hierarquizado para asse- organização, que foi a indústria, pas-
gurar a cooperação e a coordenação sa a ocupar lugar de destaque na so-
de seus membros no cumprimento ciedade, principalmente pelo fato de
de determinados fins. que o aumento de produtividade
Segundo Cavalcanti (2011) ca- permitiu o atendimento de um nú-
da organização dessas, que são obje- mero maior de consumidores de
tos sociais, tem características e mo- produtos a que outrora somente as
dos de funcionamento diferentes classes superiores tinham acesso.
das outras, podendo ser classifica- Assim, ao lado da necessidade
das das formas mais variadas, a de- de estudar os novos fenômenos soci-
pender dos seus objetivos, das tec- ais trazidos pela industrialização, a
nologias utilizadas e dos mecanis- indústria por si mesma torna-se ob-
mos de autoridade e coordenação jeto de estudo das ciências sociais.
postos em prática. Esse fato mostra que a necessidade
Entre as formas de se estabele- de estudo da organização industrial
cer tais classificações estão: a natu- caminha concomitantemente com a
reza das tecnologias postas em práti- construção dessa nova ciência, a So-
ca em seu seio; as características do ciologia. Num primeiro momento, o
ambiente a que se encontram expos- estudo da indústria coube a uma
tas; o critério do principal beneficiá- vertente denominada Sociologia in-
rio das suas atividades; a natureza dustrial, que pode ser considerada a
do principal mecanismo de implica- precursora da disciplina.
ção ou, se preferirmos, de motivação As organizações são formadas
dos seus membros ou ainda, numa por grupos, ou por atores que pos-
perspectiva estrutural-funcionalis- suem dinâmicas específicas, perse-
ta, na função principal que desem- guem interesses nem sempre con-
penham num sistema social global. vergentes dependendo do contexto
Os precursores da Sociologia e em que estão inseridos e as organi-
os primeiros sociólogos vislumbra- zações dependem da cooperação
ram como núcleo dessa nova socie- desses grupos.

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

A convergência desses interes- significa uma ferramenta ou instru-


ses pode definir o sucesso de uma mento, fornece uma boa ideia do seu
organização tradicional, mas, ao significado. Nesse sentido, as orga-
mesmo tempo, pode estagnar a cria- nizações podem ser entendidas co-
tividade necessária a uma organiza- mo instrumentos utilizados pelo ho-
ção moderna, condenando-a a uma mem para desenvolver determina-
morte lenta mas irreversível, por das tarefas que não seriam possíveis
não conseguir superar as atuais for- de serem realizadas por um indiví-
mas de concorrência duo em particular.
Por outro lado, a divergência Essa característica instrumen-
de interesses pode ser o elemento tal é evidente nas práticas das pri-
pernicioso que trará o fracasso da meiras organizações formais das
organização ou, se bem trabalhado, quais se tem notícia, tais como aque-
pode vir a ser o impulso criativo que las que construíram as grandes pirâ-
trará para essa organização o suces- mides, os impérios da antiguidade,
so total. as igrejas e as armadas. Todavia, é
Pois bem, ao longo desta apos- com a invenção e proliferação das
tila procuraremos estudar as organi- máquinas, particularmente durante
zações do ponto de vista sociológico, a revolução industrial na Europa e
como se formaram, os principais ti- América do Norte, que os conceitos
pos de organizações e o poder e a de organização realmente se torna-
cultura no seio das mesmas, a natu- ram mecanizados. Devido ao uso das
reza dos grupos, as equipes e suas máquinas, especialmente na indús-
características, explicações acerca tria, foi necessário que as organiza-
do empowerment e suas aplicações ções se adaptassem às exigências
práticas também serão devidas isto das máquinas.
porque, na sua base, o gestor de pes- Há várias definições possíveis
soas necessita de um mínimo de co- de organização. Para Peter Drucker
nhecimento acerca deste campo de (1997), é um grupo humano, com-
atuação. posto por especialistas que traba-
lham em conjunto em uma tarefa co-
Conceitos Básicos mum. Embora seja uma criação hu-
mana, ela é feita para durar, por um
Organização período de tempo considerável. Se-
gundo o mesmo autor, ao contrário
A origem da palavra organiza- da sociedade, da comunidade ou da
ção, que deriva do grego organon e

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

família - os agregados sociais tradi-  A presença de um ou mais cen-


cionais - uma organização não é con- tros de poder que controlam os
cebida e baseada na natureza psico- esforços combinados da orga-
biológica dos seres humanos, nem nização, direcionando-os para
que sejam atingidos os objeti-
em suas necessidades biológicas.
vos propostos; esses centros
Drucker (1997) enfatiza o as- de poder devem reexaminar
pecto de que a organização é sempre continuamente as atividades
especializada, que ela é definida por da organização e, quando ne-
sua tarefa, pois só assim ela será efi- cessário, reordenar sua estru-
caz. Ao hospital cumpre a tarefa de tura, a fim de aumentar sua
cuidar de doentes; a escola concen- eficiência.
 Substituição de pessoal, quan-
tra-se em ensino e aprendizado; a
do não satisfaz aos padrões es-
orquestra toca música, etc. Em re- tabelecidos pela organização;
sumo, a sociedade, a comunidade e a nesse caso, pessoas podem ser
família são; e as organizações fazem. demitidas, sendo designadas
O sociólogo Anthony Giddens outras para as tarefas. A orga-
(2005) simplifica a definição nestes nização pode, também, pro-
termos: Uma organização é um mover uma realocação interna
do seu pessoal, através de
grande agrupamento de pessoas, es-
transferências e promoções
truturadas em linhas impessoais e (ETZIONE, 1973).
estabelecida a fim de atingir objeti-
vos específicos. No caso de um hos- No livro Comportamento ad-
pital, afirma que tais objetivos são a ministrativo, publicado em 1957,
cura de doenças e o oferecimento de Herbert Simon refere-se à organiza-
outras formas de atenção médica. ção como um complexo sistema de
Muitas outras definições cami- comunicações e inter-relações exis-
nham no mesmo sentido, tais como: tentes num grupamento humano.
As organizações são unidades Este sistema proporciona a cada
planejadas, intencionalmente estru- membro do grupo parte substancial
turadas com o propósito de atingir das informações, pressupostos, ob-
objetivos específicos e apresenta três jetivos e atitudes que entram nas
características: suas decisões, propiciando-lhes,
 Divisões de trabalho, poder e igualmente, um conjunto de expec-
responsabilidades de comuni- tativas estáveis e abrangentes quan-
cação, que são planejadas in- to ao que os outros membros do gru-
tencionalmente com o objetivo
po estão fazendo e de que maneira
de intensificar a realização de
objetivos específicos. reagirão ao que ele diz e faz.

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

Outra definição de organiza- ordenação de seus membros no


ções, de Srour (1998), afirma que cumprimento de determinados fins.
“podem ser definidas como coletivi- São objetivos para o Sociólogo:
dades especializadas na produção de estabelecer uma teoria sistemática
um determinado bem ou serviços”. das alterações comportamentais da
E para Megginson, Mosley e sociedade que interfiram direta ou
Pietri Jr. (1998), as organizações são indiretamente no desempenho, no
grupos de indivíduos com um objeti- sucesso, no fracasso ou na sobrevida
vo comum ligados por um conjunto das organizações.
de relacionamentos de autoridade- Para o administrador e para o
responsabilidade, são necessárias gestor de pessoas que atua no seio da
sempre que um grupo de pessoas organização, o estudo sociológico da
trabalhe junto para atingir um obje- mesma facilita o entendimento do
tivo comum. comportamento das organizações e
No estudo sobre comporta- dos grupos sociais internos e exter-
mento organizacional, Robbins nos, permitindo o desenvolvimento
(1999) define organização como um de projetos interferentes que resul-
arranjo sistemático de duas ou mais tem numa melhoria de seu desem-
pessoas que cumprem papéis for- penho e na garantia de seu sucesso.
mais e compartilham um propósito Cavalcanti (2011) cita as se-
comum. guintes metas de estudo da discipli-
na:
Sociologia das Organizações  Analisar o comportamento da
empresa, realizar previsibili-
A Sociologia das Organizações dade e criação de métodos de
é um ramo aplicado da sociologia trabalho;
que se ocupa de analisar os aspectos  Analisar o comportamento do
sociológicos de organizações, isto é, público interno individual-
de empresas, fundações, órgãos pú- mente e em grupo e prever a
blicos e congêneres. É a forma de co- influência no comportamento
da empresa;
nhecer e de pensar a natureza e a so-
 Analisar o comportamento do
ciedade segundo o enfoque organi- público externo individual-
zacional. mente e em grupo e analisar a
Para que esse grupo seja con- influência no comportamento
siderado uma organização ele deve da empresa;
estar devidamente formalizado (ofi-  Analisar influência do com-
cialmente ou não) e hierarquizado portamento de uma empresa
em outra;
para assegurar a cooperação e a co-

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

 Analisar influência do com-


portamento da empresa no
público externo e interno.

O estudo das organizações via


sociologia recebe contribuições de
várias outras áreas.
A psicologia e a psicologia so-
cial trazem elementos para a análise
das relações recíprocas e complexas
entre os indivíduos e as organiza-
ções, levando em consideração o seu
desenvolvimento psicológico, a sua
socialização, a estrutura da organi-
zação e o seu funcionamento.
A economia e as ciências de ge-
renciamento organizacional têm co-
mo propósito realizar uma análise
do impacto das organizações e de
suas dinâmicas internas, sobre as
decisões de alocação de recursos das
firmas e dos empresários e a com-
preensão das diferenças entre os
comportamentos realmente obser-
váveis dos responsáveis por decisões
e as teorias normativas da firma e da
decisão.
A ciência política procura por
em evidência as lógicas do funciona-
mento das grandes burocracias ad-
ministrativas e procura compreen-
der suas incidências sobre a elabora-
ção e sobre a execução das políticas
e da ação públicas (CAVALCANTI,
2011).

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

2. Estudo Sociológico das Organizações

Fonte: Veja Sociologia2

N o final do século XIX, com a


Revolução Industrial se espa-
lhando por todo o globo terrestre, os
Assim, a disciplina Sociologia
das Organizações nasce juntamente
com a Teoria das Organizações, e
estudos organizacionais tornaram- torna-se muito difícil desvencilhar
se cada vez mais necessários e de- uma da outra, sendo que ao longo de
senvolve-se, concomitantemente todo o século XX podemos afirmar
com a análise sociológica, uma ver- que o estudo sociológico das organi-
tente de teóricos, em sua maioria zações confunde-se com aquele rea-
engenheiros e gerentes, que produ- lizado em torno da Teoria das Orga-
zem uma literatura sobre as organi- nizações (DIAS, 2008).
zações e que no seu conjunto consti- Segundo Kirschner (2002) a
tuem a denominada Escola Clássica sociologia das organizações desen-
ou Tradicional. volveu-se nos anos 1960, em grande

2 Retirado em http://vejasociologia.blogspot.com/p/introducao-ao-estudo-sociologico-das.html

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

parte graças aos trabalhos desenvol- Segundo os autores, a inter-


vidos por Michel Crozier, a partir da venção sociológica tem um duplo al-
análise das relações de poder nas or- cance: ela reforça os laços sociais da
ganizações. Seu corpo teórico e me- empresa e ajuda na elaboração de
todológico foi enriquecido durante regras de funcionamento mais efica-
os anos 1970 e 1980, com a introdu- zes e mais legítimas, em lugares on-
ção dos conceitos de identidades e de predominam a coerção e o afasta-
culturas do trabalho (SAINSAU- mento. Para chegar-se a esse resul-
LIEU, 1977; 1987). A Sociologia das tado, o ponto de partida é um diag-
Organizações desenvolveu-se à par- nóstico das regulações sociais da
te da Sociologia do Trabalho; uma empresa, em que os problemas de
de suas limitações foi não considerar funcionamento são analisados em
a empresa como um sujeito que con- seus componentes organizacionais,
juga trabalho e organização. Preen- relacionais e culturais. Numa segun-
chendo esse vazio, as pesquisas rea- da etapa, a análise e as propostas de
lizadas durante a década de 1980 na solução por grupos são confrontadas
França, especialmente no LSCI (La- entre os atores, para definir novas
boratório de Economia e Sociologia decisões institucionais. Segundo os
do Trabalho), analisaram a cultura e autores do livro, a intervenção soci-
identidade das empresas, trazendo à ológica é antes de qualquer coisa
tona, dentre outros aspectos, o sis- uma intervenção pelo diagnóstico
tema social da empresa, a existência sociológico, pela produção de um co-
de redes formais e informais e, final- nhecimento científico local, formali-
mente, os diferentes mundos sociais zado e restituído aos atores numa
da empresa. perspectiva de aprendizagem.
Ao analisar o livro de Rite e
Uhalde (2001) “A intervenção socio- O surgimento da Sociolo-
lógica no mundo dos negócios: a gia
crise da regulação social”, Kirschner
explica que o sociólogo constrói um No século XVIII, o ocidente
tecido social entre os atores, na me- começou a sofrer profundas trans-
dida em que considera o estado das formações. Foram descobertas no-
culturas recebidas, as pressões ex- vas técnicas, que implicaram na cri-
ternas às quais é necessário reagir e ação de máquinas e equipamentos
os jogos de poder nas interações que revolucionaram o antigo modo
produtivas. de produção de mercadorias. Com a

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

Revolução Industrial, que teve início Auguste Comte (1798-1857) é


na Inglaterra, as formas antigas de considerado o pai da Sociologia, pois
organização mudariam radicalmen- estabeleceu claramente o campo de
te. Com o crescimento da população pesquisa da nova ciência como sen-
mundial, a demanda de produtos do a sociedade. A disciplina por ele
cresceu e ocorreram mudanças sig- criada teve continuidade com Her-
nificativas nas formas de produção e bert Spencer, Émile Durkheim e
de organização. Max Weber, entre outros, que foram
A Sociologia surgiu no século estabelecendo os limites de atuação
XIX num momento em que se con- da Sociologia.
solidava a primeira fase da Revolu- O estudo das interações huma-
ção Industrial. Suas abordagens ini- nas e da sociedade vai se tornando
ciais buscavam compreender o con- cada vez mais o ponto central de re-
texto da industrialização e o papel ferência para as ciências sociais.
desempenhado na sociedade pelas Entre os pontos em comum
novas e dinâmicas organizações em- que tinham entre si os primeiros so-
presariais e os seus principais agen- ciólogos (agrupados na denominada
tes: o empresário capitalista e o ope- Sociologia Clássica), encontra-se a
rário. Desenvolveu-se essa nova dis- importância que é dada à “indústria
ciplina primeiramente com o obje- como núcleo da organização social,
tivo de compreender as mudanças tanto em suas possibilidades de de-
que estavam ocorrendo na nova so- senvolvimento e progresso real para
ciedade que se erguia sob a influên- as condições de vida das pessoas in-
cia da indústria; em seguida, passou dividuais como em seu aspecto de
para uma abordagem analítica e crí- instituição que abriga e gera confli-
tica. tos nunca conhecidos em épocas an-
O surgimento da Sociologia ao teriores” (LUCAS MARIN, 2002, p.
longo do século XIX é possível por- 6).
que há uma crescente tomada de A partir da Revolução Indus-
consciência da existência de uma so- trial as organizações passaram a
ciedade complexa e dinâmica, gera- exercer um papel fundamental na vi-
dora de novos problemas sociais, da humana, a tal ponto que hoje se-
que gradativamente vai sendo consi- ria inconcebível pensar o cotidiano
derada como objeto de análise, em sem elas. De fato, estão presentes ao
cujo estudo se pode adotar o método longo de toda nossa vida e nos rela-
científico.

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

cionamos com diversas organiza- ocorrendo, visando entendê-los, in-


ções ao longo de um único dia, como terpretá-los e propor alternativas vi-
foram citadas anteriormente. áveis (DIAS, 2008).
Não há muita dificuldade em Os precursores da Sociologia e
identificarmos as organizações, no os primeiros sociólogos vislumbra-
entanto não é tão fácil estabelecer as ram como núcleo dessa nova socie-
diferenças entre elas ou em relação a dade a forma de organização trazida
outras formas sociais, como a famí- pela indústria, destacando-se o pa-
lia, os movimentos sociais e as co- pel dos empresários e da racionali-
munidades, por exemplo. dade científica como elementos no-
Este fato nos remete à necessi- vos de articulação de uma nova or-
dade de aprofundarmos a base con- dem.
ceitual através de estudos de organi- Nesse sentido, a nova forma de
zações concretas. Assim, o grande organização, a indústria, passa a
número de organizações, o papel ocupar lugar de destaque na socie-
que desempenham nos processos dade, principalmente pelo fato de
sociais e seu papel como agentes ou que o aumento de produtividade
opositoras de mudanças sociais as permitiu o atendimento de um nú-
converteram, portanto, em objeto de mero maior de consumidores de
estudo das ciências sociais de um produtos a que outrora somente as
modo geral, e da sociologia em par- classes superiores tinham acesso.
ticular (DIAS, 2008). Assim, ao lado da necessidade
A desestruturação da socieda- de estudar os novos fenômenos soci-
de tradicional, com a perda de suas ais trazidos pela industrialização, a
principais referências, que garantia indústria por si mesma torna-se ob-
um mínimo de estabilidade, como jeto de estudo das ciências sociais.
a organização econômica baseada Esse fato mostra que a necessidade
na agricultura, e a existência de um de estudo da organização industrial
claro domínio político da nobreza caminha concomitantemente com a
provocaram a necessidade de encon- construção dessa nova ciência, a So-
trar alternativas que servissem co- ciologia. Num primeiro momento, o
mo modelo a um novo tipo de orga- estudo da indústria coube a uma
nização social. E, para tanto, era ne- vertente denominada Sociologia in-
cessário surgir uma ciência que estu- dustrial, que pode ser considerada a
dasse os fenômenos que estavam precursora da disciplina.

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

O Estudo das Organizações transformações no sistema adminis-


trativo das administrações governa-
Podemos encontrar ideias re- mentais, e a importância que deu ao
levantes para o estudo das organiza- sistema administrativo racional-le-
ções ao longo de toda a história, no gal, contribuíram para reforçar as
entanto, os primeiros estudos siste- proposições desse conjunto de auto-
máticos do comportamento organi- res reunidos no que denominamos
zacional foram realizados no final do de Escola Clássica.
século XIX. Motivados pelas mu- Como uma reação a essas ver-
danças na estrutura social, que esta- sões tecnocráticas, os cientistas soci-
vam associadas com a industrializa- ais durante as décadas de 1930 e
ção e a crescente burocratização, in- 1940 passaram a se contrapor a essa
telectuais das mais diversas discipli- concepção racional-instrumental da
nas começaram a prestar mais aten- organização. Entre esses pesquisa-
ção às organizações e seus efeitos na dores, os psicólogos descobriram
vida social (SCOTT, 2004 apud motivos individuais mais comple-
DIAS, 2008). xos, e os estudos de antropólogos e
O conceito de organização tem sociólogos revelaram a existência
como ponto de partida a sociologia, não oficial de padrões informais de
mas tem vínculos com outras disci- cooperação, normas compartilhadas
plinas, tanto em termos de estudo e conflitos dentro de cada grupo e
quanto aplicação, que correspon- entre gerentes e trabalhadores
dem basicamente às ciências sociais (SCOTT, 2004 apud DIAS, 2008).
e do comportamento (Sociologia, Destacaram-se nesse período
Antropologia e Psicologia) e ao eco- os trabalhos de Elton Mayo sobre o
nômico empresarial (administração, comportamento das trabalhadoras
economia). de uma fábrica da Western Electric
As primeiras abordagens tive- e que constituem o marco inicial da
ram como foco principal a racionali- Teoria das Relações Humanas.
zação do processo de trabalho, dei- O que estava ausente nessas
xando num segundo plano (e até ig- abordagens iniciais tanto da Escola
norando) o ambiente externo da or- Clássica quanto da Teoria das Rela-
ganização e o papel dos grupos in- ções Humanas era a análise da orga-
formais no processo de trabalho, nização como uma unidade social,
destacando-se nesse período os tra- um agente diferenciado da socieda-
balhos de Taylor e Fayol. As análises de. Considerando este aspecto entre
e conclusões de Weber sobre as os primeiros que estudaram a orga-

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

nização como uma unidade de inte- A perspectiva do sistema raci-


resse estavam Barnard e Selznick, onal considera as organizações co-
que observaram que as organizações mo instrumentos que podem ser
não eram somente sistemas de pro- conscientemente manipulados e
dução técnica, mas também siste- moldados para realizar determina-
mas sociais adaptáveis que busca- dos fins. A perspectiva do sistema
vam sobreviver em seu meio ambi- natural vê a organização como um
ente (BARNARD, 1971 apud DIAS, sistema orgânico buscando sua so-
2008). brevivência, como coletividade que
Barnard dedicou bastante envolve espontaneamente processos
atenção à interdependência das es- indeterminados.
truturas formais e informais no inte- Na década de 1950, ainda des-
rior das organizações, o que lhe per- tacam-se como contribuição à Soci-
mitiu perceber que a função primá- ologia das Organizações, além dos já
ria do executivo não é projetar siste- citados, os trabalhos de Robert K.
mas eficientes, mas criar e promul- Merton (Estrutura burocrática e
gar visões morais relacionadas com personalidade), Talcott Parsons
a missão da organização que irão (Sugestões para um tratado socioló-
comprometer, de forma mais con- gico da teoria da organização), Phi-
creta, os seus integrantes. lip Selznick (Fundamentos da teoria
Selznick (1971), por sua vez, da organização) e Peter M. Blau (A
enfatizou que as organizações pode- dinâmica da burocracia), entre ou-
riam ser encaradas sob dois pontos tros, que foram reunidos por Etzioni
de vista, analiticamente distintos. no livro Complex organizations (or-
Por um lado, qualquer organização ganizações complexas) publicado
representa um sistema de relações em 1961 (ETZIONI, 1973).
que define a disponibilidade de re- Nesse mesmo período, um co-
cursos escassos e que podem ser ma- letivo de intelectuais de diferentes
nipulados em termos de eficiência e disciplinas reunidos no Instituto Ta-
eficácia. Por outro lado, constituem vistock (Inglaterra) construiu um
sistemas cooperativos e estruturas modelo sociotécnico de análise orga-
sociais adaptáveis. nizacional apresentado num relató-
Na década de 1950, Gouldner rio técnico elaborado por Frederick
(1959 apud DIAS, 2008) sintetizou Emery em 1959 e, posteriormente,
estas duas visões, identificando-as publicado por Emery e Trist em
com um sistema racional e um sis- 1960, que incorpora os aspectos so-
tema natural. ciais e técnicos numa perspectiva de

16
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

estudo das organizações como siste-  O estudo das organizações


mas abertos (DIAS, 2008). aborda a relação de uma estru-
Algumas limitações dos estu- tura organizacional, como uni-
dos sociológicos das organizações dade, com outras estruturas de
organizações, e com unidades
que vinham sendo feitos até então
sociais que não são organiza-
foram apontadas por Etzioni no final ções (coletividades), tais co-
da década de 1950, afirmando que: mo: família, comunidades,
“Com relação ao efetivo estudo grupos étnicos, classes sociais
das organizações, pode-se dizer - e e a própria sociedade.
isto se aplica também à sociologia de  As organizações são analisa-
organizações econômicas - que a das do ponto de vista de suas
relações com a personalidade
maioria dos estudos tende a focali-
e a cultura. Quanto à persona-
zar a unidade organizacional e as in- lidade, relacionam-se com as
ter-relações entre seus elementos e necessidades da estrutura or-
evidenciam uma tendência para ne- ganizacional e as necessidades
gligenciar suas relações com outras das personalidades dos parti-
unidades sociais, mesmo as signifi- cipantes. O estudo das rela-
cativas, como outras organizações e ções da organização com siste-
mas culturais abrange, por um
coletividades. Frequentemente, dá-
lado, as orientações de valor,
se ênfase às características genéricas as fontes de legitimação da au-
e aos processos de unidades da orga- toridade e as relações dinâmi-
nização, e não às estruturas específi- cas entre os ideais e objetivos
cas e aos processos dos vários subti- da organização e as necessida-
pos da organização” (ETZIONE, des da própria estrutura orga-
1973 apud DIAS, 2008). nizacional, e por outro lado
envolve os meios pelos quais
Etzioni (1973) considerava que o conhecimento é adquirido e
a sociologia organizacional era po- institucionalizado dentro das
tencialmente capaz de desenvolver organizações.
bases sadias para um estudo geral e  A relação entre as organiza-
comparativo das organizações e fo- ções e o meio ambiente inclui-
calizou o estudo das organizações de ria o estudo do comportamen-
acordo com quatro pontos de vista: to das organizações relaciona-
do com a capacidade biológica
 As organizações são analisa- e fisiológica, inclusive as ne-
das como unidades sociais, e o cessidades dos participantes e
interesse se divide entre o es- o estudo das respectivas adap-
tudo da estrutura formal e o da tações entre a organização e o
não formal. ambiente geográfico e físico.

17
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

Dias (2008) ressalta que para nizacional de três modos distintos,


alguns autores, a Sociologia das Or- tendo como referência básica: o in-
ganizações tem como conteúdo cen- divíduo, a organização e a ação da
tral o estudo de cinco grandes carac- organização na sociedade.
terísticas que são encontradas em Do ponto de vista do indiví-
todas as organizações: duo, os problemas objeto de estudo
 Alguns objetivos específicos são aqueles que dizem respeito às
que orientam os outros aspec- pessoas que pertencem à organiza-
tos estruturais e funcionais; ção, ao tipo e grau de participação,
 Uma rede de posições ocupa- seu comportamento, motivação, cul-
das por indivíduos substituí-
tura adquirida, identificação com a
veis;
organização etc.
 Uma dedicação responsável às
tarefas de sua posição por par- Quanto à organização, trata-se
te dos indivíduos que a ocu- de considerá-la um todo complexo, e
pam; o seu estudo foca a estrutura (hierár-
 Uma estrutura ou sistema es- quica, física, de dominação, das rela-
tável e coordenado de relações ções de poder), os diversos subsiste-
entre as diferentes posições; e, mas que contém (técnico, de nor-
 Um ou mais centros de poder mas, entre outros), a ideologia, os
que controlam a atividade da
organização e a dirigem para a fins, objetivos e metas. Incluem-se
realização de seus objetivos. nesse referencial, também, os pro-
cessos de cooperação, os conflitos, a
Atualmente, podemos afirmar comunicação, a influência do ambi-
que, especificamente, a sociologia ente externo na organização, entre
organizacional se preocupa em estu- outros.
dar as formas organizacionais como O terceiro modo de se aborda-
sistemas sociais em contínua intera- rem as organizações é considerá-las
ção com o seu ambiente externo, que enquanto atores sociais, partindo-se
gera efeitos em seus processos inter- do pressuposto de que são agentes
nos (os indivíduos, suas interações, ativos de transformações (sociais,
comportamentos, processos sociais econômicas, culturas etc.) que po-
básicos, relações de poder etc.) e na dem incluir tanto mudanças como
organização como um todo. manutenção de determinado status
Nesse contexto, e a partir da quo. Trata-se, em resumo, da ação
perspectiva, interesse e metodologia organizacional no seio da sociedade,
adotada pelo pesquisador, a sociolo- da relação com seu público externo,
gia pode abordar o fenômeno orga-

18
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

com as instituições públicas, priva- estrutura (privado ou público)


das e do terceiro setor, e da comuni- (DIAS, 2008).
dade que vive em seu entorno imedi- As organizações devem ser
ato. consideradas como agentes sociais
coletivos que influenciam e determi-
As Organizações como Agen- nam a vida de outros agentes (cole-
tes Sociais tivos e individuais).
Tomando como exemplo uma
As organizações, de um modo organização econômica (empresa),
geral, para alcançar seus objetivos temos como principais âmbitos em
devem se submeter às limitações im- que intervém:
postas pelo meio sociocultural do  Criação do mercado de traba-
qual fazem parte, cumprem um pa- lho, entendido como o conjun-
pel social como peças de um todo to de práticas que regulam a
complexo e articulado ao qual deno- contratação e o controle da ati-
minamos sociedade, desempenhan- vidade produtiva dos trabalha-
dores;
do funções sociais importantes e so-
 Contribuição eficaz e decisiva
cialmente legitimadas. para a estratificação social;
Por outro lado, as organiza-  Modificação do meio natural
ções modificam o ambiente onde es- ou ecológico, do qual toma
tão localizadas, e quanto maiores, seus recursos e sobre o qual in-
mais significativas são as modifica- tervém de muitos modos ao
ções que provocam, pois o entorno longo do processo produtivo;
das organizações mais poderosas es-
tá bem controlado por elas, é bastan- Através da produção de mer-
te estável e está formado por outras cadorias, ou seja, bens e serviços que
organizações com interesses seme- se oferecem ao mercado mediante
lhantes ou por interesses que elas um preço:
controlam.  Produz valores de uso, bens
úteis, que respondem a neces-
Assim, as organizações são
sidades individuais e coletivas,
agentes sociais que controlam deter- reais ou fictícias, naturais ou
minados bens, estabelecem novas criadas;
relações na sociedade onde estão in-  Produz valores de troca, cujos
seridas e provocam modificações no preços são construídos pelas
ambiente sociocultural. As organiza- empresas;
ções são protagonistas na sociedade,  Cria identidade, não somente
em todos os âmbitos em que esta se dentro das organizações, mas

19
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

também no contexto da socie-


dade, ao relacionar o consumo
de certos produtos com a posi-
ção social, ou com o pertenci-
mento a determinados setores
sociais. É a busca permanente
de novas formas de gosto co-
mo afirmação da própria iden-
tidade.

20
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

3. A Sociedade e as Organizações

Fonte: Medium3

S egundo Dias (2008) em toda a


história da humanidade, em
seus sucessos e seus fracassos, esti-
Hoje, mais do que nunca, o ser
humano depende das organizações,
e estas adquirem uma certa autono-
veram presentes organizações que mia relativa em relação ao indiví-
só foram reconhecidas como atores duo, pois constituem-se em agrupa-
sociais enquanto tais no século XX. mentos de relações sociais, que não
Sem as organizações o ser humano mudam substancialmente ao se
não conseguiria reverter a sua des- substituírem um ou alguns de seus
vantagem física em relação a outras membros.
espécies e não conseguiria atender Embora haja várias definições
às necessidades de milhões de seus de organização, que podem ser utili-
membros, entre outras realizações zadas em contextos diferentes, todas
que só se tornaram possíveis com a apresentam certas características
sua existência.

3 Retirado em https://medium.com/

22
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

comuns e configuram unidades soci- dos pelo instinto biológico, mas gra-
ais distintas e ativas como vimos na dativamente foram resistindo aos
unidade 1. outros predadores e aprendendo
O princípio fundamental de que, como indivíduos isolados, não
qualquer organização é uma divisão teriam grandes chances de sobrevi-
de trabalho, permitindo uma multi- vência. Assim, como um ser social
plicação das capacidades individu- que é, o homem passou a caçar em
ais. Surge assim um ente social que grupos, constituindo-se essa prática
apresenta um nível de produtividade uma condição essencial para a sua
que não é a soma das produtividades existência.
dos indivíduos que o compõem, é Com o sucesso obtido quando
muito maior. agrupados, restava aperfeiçoar cada
As organizações existem em vez mais a técnica, e assim foram or-
todos os setores da atividade huma- ganizando melhor as atividades de
na. Podemos encontrá-las com ca- caça, com o estabelecimento de fun-
racterísticas comuns tanto no setor ções diferentes para cada divisão de
público quanto no privado e, no en- tarefas, que poderiam ser executa-
tanto, existem características que das numa determinada sequência, o
distinguem as organizações públicas que permitia um melhor rendimen-
das privadas, e dentro destes setores to do grupo. Desse modo, a capaci-
podemos encontrar outras tipolo- dade de intervenção do homem na
gias organizacionais. natureza aumentou significativa-
As organizações, enfim, po- mente.
dem ser estudadas por vários ângu- Este aprendizado inicial, de
los, podendo ser consideradas como que em grupo poderia alcançar obje-
máquinas, organismos vivos, cultu- tivos e metas que não atingiria sozi-
ras, sistemas políticos instrumentos nho, se estendeu para outras situa-
de dominação entre outras metáfo- ções que não a obtenção de alimen-
ras que têm utilidade em contextos e tos. E assim, com o aumento da
disciplinas distintas. complexidade das sociedades huma-
nas, foram se constituindo inúmeros
O Ser Humano e a Vida em grupos sociais organizados para a
Grupo realização de tarefas específicas.
Deste modo surgiram as organiza-
Houve um tempo em que os ções.
seres humanos não se diferenciavam As primeiras organizações sig-
do restante dos animais e eram guia- nificativas das quais temos notícias

23
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

foram as organizações militares e re- nosso objetivo é o estudo das moder-


ligiosas. As primeiras eram funda- nas organizações e sua relação com
mentais para a sobrevivência das so- a sociedade, dando base ao trabalho
ciedades perante outros agrupa- do gestor de pessoas, e neste sentido
mentos humanos, e as organizações todas elas (as atuais) sofreram a in-
religiosas cumpriam a função de jus- fluência dos complexos processos
tificar as ações empreendidas pelas que surgiram com a Revolução In-
camadas dirigentes das sociedades dustrial. É nesse período, histórica e
e, fundamentalmente, explicar os fe- geograficamente determinado (final
nômenos desconhecidos. do século XVIII na Inglaterra e sé-
Com o crescente aumento po- culo XIX no restante da Europa e Es-
pulacional, e consequentemente tados Unidos), que surge um tipo de
com a necessidade de regulamentar organização econômica dos mais
a convivência humana nos núcleos importantes: a empresa, que no seu
urbanizados, surgiram as organiza- início era identificada exclusiva-
ções governamentais. mente com a fábrica.
Na Mesopotâmia, considerada A empresa, quando surgiu, era
o berço da civilização, os reis e seus uma instituição que pertencia a uma
palácios formavam a ponta de uma pessoa ou a um pequeno grupo, que
organização complexa, apoiada num também possuía o capital necessá-
aparelho burocrático, com fortes la- rio, as máquinas para produzir mer-
ços de dependência pessoal, com cadorias, e estas eram produzidas
uma administração altamente cen- para um mercado cada vez mais am-
tralizada, que não tinha contas a plo e abstrato. Para a produção des-
prestar senão ao rei em pessoa. sas mercadorias, era necessário o
Essas primeiras organizações emprego de trabalhadores, para ma-
tinham em comum o cumprimento nipularem as máquinas, e outros
de objetivos perfeitamente determi- empregados que controlassem os
nados, a divisão de tarefas e funções operários, capatazes, por exemplo;
entre seus membros e a existência de de forma simplificada era esta a fá-
um conjunto de normas e regras es- brica que assumia rapidamente a
pecíficas que eram obedecidas pelos posição de vanguarda das atividades
seus integrantes. econômicas (DIAS, 2008).
Assim, numa análise mais de- Do mesmo modo que na área
talhada poderemos encontrar diver- econômica aparece a empresa como
sos tipos de organizações em vários organização principal, em outras
períodos da história. No entanto, áreas aparecem também formas de

24
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

organização de complexidade cres- da manhã. Provavelmente, esse in-


cente, e que de uma forma ou de ou- divíduo se dirigirá ao local de traba-
tra terão na empresa uma referência lho (uma organização) através de
no que diz respeito a sua estrutura. um veículo produzido por organiza-
Assim, os empresários (ou pa- ções (seja um carro, um ônibus ou
trões ou industriais) e os operários uma bicicleta). Estudará em organi-
(proletários) formam o núcleo desta zações educacionais, se ficar doente
organização (a fábrica) à qual vão se será atendido em organizações hos-
incorporando gradativamente ou- pitalares e participará de cultos em
tras posições sociais, como técnicos organizações religiosas. Durante o
e empregados administrativos. fim de semana, assistirá a jogos de
Esta forma de organização ex- seu clube favorito (sua organização
pandiu-se por toda parte durante os esportiva), poderá participar de reu-
séculos XIX e XX, e em função de niões em organizações sem fins lu-
seu sucesso fez com que outras orga- crativos, quer sejam sociedades de
nizações adquirissem formas em- amigos de bairro, entidades ambien-
presariais. talistas ou filantrópicas. Ou frequen-
tará alguma atividade oferecida por
A Importância das Organiza- organizações de entretenimento e
ções lazer, como parques temáticos e ci-
nemas. Poderá ser multado por ex-
Para compreendermos o signi- cesso de velocidade por uma organi-
ficado das organizações, tomemos zação pública, que será a mesma que
como exemplo um conjunto de ativi- lhe garante a qualidade das vias de
dades que uma pessoa pode realizar tráfego, bem como a regularidade do
durante um curto período de tempo. sinal de trânsito. Nas eleições esco-
Um jornal que um indivíduo lê lherá os candidatos que forem ofere-
no início do dia foi editado por uma cidos pelas organizações políticas
organização jornalística, o leite que partidárias. À noite poderá assistir a
toma chega até a mesa através de um um programa de TV oferecido por
conjunto de organizações, começan- uma organização da área de comuni-
do pela empresa produtora do leite, cações. Esta associação das ativida-
passando pela empresa distribuído- des cotidianas com organizações po-
ra e a padaria, que é uma organiza- deria se estender muito mais, tal o
ção comercial que vende o produto. seu significado e importância nas
O mesmo ocorre com outros modernas sociedades.
produtos consumidos durante o café

25
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

Para Hall (2004), as grandes nômicas, que são empresas que pro-
transformações sociais na história duzem bens que serão utilizados por
têm sido essencialmente baseadas toda a sociedade; as organizações
nas organizações. A ascensão do Im- educacionais, que se encarregam de
pério Romano, a propagação do cris- reproduzir a cultura dominante num
tianismo e o crescimento e desenvol- determinado país; as organizações
vimento do capitalismo e socialis- políticas, que estruturam as relações
mo, e suas alterações, ocorreram de poder, e as organizações religio-
através das organizações. A elimina- sas, onde as pessoas buscam confor-
ção dos resíduos tóxicos, a energia to espiritual. Há muitas outras que
nuclear, terrorismo, desemprego, dependendo do tipo de sociedade
aborto, e todas as coisas que carac- podem assumir maior ou menor im-
terizam as sociedades contemporâ- portância (DIAS, 2008).
neas, não podem ser compreendidas No mundo cada vez mais com-
sem uma consideração e uma com- plexo em que vivemos, o número de
preensão dos seus contextos organi- organizações e a sua função têm
zacionais. crescido enormemente. Muitas or-
Nas diferentes sociedades hu- ganizações têm sofrido alterações na
manas, há diversos tipos de organi- sua função, outras não conseguem
zações e nem todos têm a mesma im- cumprir a sua função adequadamen-
portância social em cada uma delas. te.
Na Bolívia as organizações campo- As organizações governamen-
nesas têm um papel importante; já tais são um exemplo das que não
na Argentina são as organizações conseguem cumprir adequadamen-
sindicais; organizações esportivas te seu papel social, devido ao au-
de diversas modalidades têm impor- mento da complexidade das socie-
tância social significativa nos Esta- dades humanas e novos problemas
dos Unidos da América e na Espa- que surgem. Muitas das funções das
nha; as organizações cooperativas organizações governamentais vêm
desempenham um importante papel sendo assumidas por um, relativa-
em Israel; as organizações religiosas mente, novo tipo de organização,
muçulmanas no Irã; e diversas orga- que são as organizações não gover-
nizações do mesmo tipo no Brasil e namentais englobadas generica-
assim por diante. mente no terceiro setor da econo-
No conjunto das organizações mia, em contraposição ao setor pú-
existentes, há algumas que são es- blico e ao setor privado.
senciais, como as organizações eco-

26
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

De um modo geral, as organi- chamado terceiro setor que, diga-se


zações podem ser encontradas em de passagem, vem crescendo pro-
todos os setores da sociedade. Assim gressivamente. O quadro abaixo
podemos encontrá-las tanto no setor apresenta as principais característi-
público, quanto privado e ainda no cas dos três grandes tipos de organi-
zações.

Características dos Três Grandes Tipos de Organizações

- Administração Empresas Organizações Sociais


Pública (Setor Privado) (Terceiro Setor)
(Setor Público)

Modo primário Obrigatório Voluntário Voluntário


de filiação

Fundamentos Cidadania Propriedade Inscrição


da filiação Primária

Fundamentos Emprego Emprego Emprego


da filiação secundária

Tipos de Tarefa Geral Específica Específica


Estrutura primária Estrutura política Propriedade Estrutura
Participativa

Em qualquer uma dessas orga-  Em segundo lugar, estão volta-


nizações vamos encontrar como das para uma finalidade espe-
ideias comuns e implícitas: serem cífica.
formadas por pessoas, dividirem o  Em terceiro lugar, possuem
uma configuração racional
trabalho entre seus membros, perse-
com o objetivo de alcançar es-
guirem metas e objetivos que deve- sas metas específicas.
riam ser compartilhados por todos
seus integrantes. A cooperação como um ele-
Características mais peculia- mento essencial em qualquer orga-
res citadas por Maintz (1984): nização é destacada por Barnard
 Em primeiro lugar, consti- (1971 apud DIAS, 2008), que definiu
tuem formações sociais com as organizações como sistemas de
um número preciso de mem-
atividades coordenadas consciente-
bros e nas quais haverá uma
diferenciação interna das fun- mente entre dois ou mais indiví-
ções. duos.

27
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

Numa proposta de síntese, (organizações não governa-


Dias destaca cinco aspectos que os mentais), organizações filan-
sociólogos parecem estar de acordo trópicas, OSCIPs (organiza-
ções da sociedade civil de inte-
ao definirem o que é uma organiza-
resse público), fundações etc.
ção, e que são:
 Constituem conjuntos de indi- Estas diferenças estabelecidas
víduos ou grupos;
a partir dos objetivos encontram
 É orientada para atingir deter-
correlação em outros aspectos das
minados objetivos ou metas;
 É diversificada nas funções a organizações, como comprovado no
serem desempenhadas e há quadro apresentado anteriormente
uma hierarquia de autoridade; que deixa claro as semelhanças e di-
 É coordenada por uma orien- ferenças mais importantes entre
tação racionalizadora de todo elas.
o comportamento; As organizações públicas têm
 Apresenta uma certa continui- como finalidade principal a presta-
dade no tempo.
ção de serviços básicos aos cidadãos
ou a cobertura de setores estratégi-
Principais Tipos de Organiza-
cos definidos a partir do bem co-
ções
mum. Neste tipo de organização, o
As organizações também po- objetivo principal não é o benefício
dem ser classificadas quanto à sua econômico, mas a prestação de um
especificidade setorial e objetivo: serviço social como exigência do
 As organizações públicas se bem público. Devido às relações de
caracterizam por buscar o bem poder existentes em seu seio, apre-
comum como valor essencial; senta uma estrutura hierarquizada,
 A empresa privada busca antes com um sistema de posições fixas e
de tudo o interesse privado em consolidadas, que lhe impõe um cer-
sua expressão econômica; to grau de rigidez estrutural.
 As organizações sociais, reuni- As organizações sociais bus-
das num terceiro setor e que
cam objetivos de caráter solidário,
pretendem realizar interesses
privados, de conteúdo não de modo geral benéficos. Tanto as
econômico, ou interesses co- suas estruturas como os meios com
muns a certos setores da popu- que contam são otimizados para
lação que não encontram res- melhorar o alcance da organização.
posta na administração pú- Diferentemente da administração
blica. Aqui se incluem ONGs pública, cujo orçamento prevê o ne-

28
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

cessário para cobrir suas despesas atividades em: primárias, de


anuais, ou da empresa, que fixa o ob- lavoura e mineração; secundá-
jetivo econômico a ser alcançado, rias, de manufatura e proces-
samento; e terciárias, de servi-
nas organizações sociais faz-se uma
ço e comunicações. Elas aten-
previsão do que será necessário e se dem a algumas das mais bási-
buscam os meios humanos e materi- cas necessidades humanas, co-
ais em função das necessidades co- mo alimento, abrigo, vestuá-
locadas, de tal modo que os objetivos rio, entre outras. Elas também
se definem operacionalmente de proporcionam recompensas
acordo com os meios disponíveis. que constituem um estímulo
para que as pessoas mante-
Seu caráter voluntário, de orienta-
nham a ordem coletiva em
ção altruísta, impõe relações mais funcionamento.
horizontalizadas entre seus mem-  Organizações de manutenção:
bros, com uma estrutura menos hie- são aquelas que se dedicam à
rarquizada e mais flexível. socialização das pessoas para
As empresas privadas têm co- cumprir seus papéis em outras
mo objetivo final e principal o bene- organizações e na sociedade de
um modo geral. Podem ser
fício econômico, a partir do qual se
subdivididas entre as que têm
desenvolve sua estrutura, que se (a) função de manutenção, co-
adapta às situações novas de acordo mo em educação, doutrinação
com a necessidade de otimizar os re- e treinamento e (b) função de
cursos disponíveis. restauração, como as que exe-
Em seu clássico livro Psicolo- cutam atividades na área de
gia social das organizações, Daniel saúde (hospitais), de reforma e
reabilitação (presídios). Cons-
Katz e Robert Kahn (1970 apud
tituem estruturas de manuten-
DIAS, 2008) reconhecem, pelo me- ção da ordem social, e são res-
nos, quatro tipos de organizações ponsáveis pela integração nor-
baseadas nas funções, ou tipo de ati- mativa da sociedade.
vidade, em que estão empenhadas.  Organizações de adaptação:
 Organizações produtivas ou são as que criam conhecimen-
econômicas: são aquelas que to, desenvolvem e testam teo-
se ocupam da criação de capi- rias e, até certo ponto, utilizam
tal, da manufatura de merca- a informação para resolver
dorias e da prestação de servi- problemas existentes. As uni-
ços ao público de um modo ge- versidades (em suas atividades
ral ou a um segmento dele. Es- de pesquisa) e as organizações
tas organizações podem ser de pesquisa são exemplos.
subdivididas quanto às suas

29
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

 Organizações administrativas
ou políticas: são aquelas que se
dedicam a concessão, coorde-
nação e controle dos recursos,
pessoas e subsistemas.

Já Maintz (1984) preconiza


uma tipologia de organizações base-
ada em seus objetivos:
 Organizações voluntárias: cu-
jos objetivos se limitam à coe-
xistência de seus membros, a
sua atuação comum e à intera-
ção que ocorre (clubes, organi-
zações recreativas). Apresen-
tam uma estrutura democráti-
ca; as decisões ocorrem por
consenso ou votação; os diri-
gentes na maioria dos casos
são escolhidos pelos membros
ou são cooptados. Há pouca
formalização e diferenciação
na sua estrutura.
 Organizações estruturadas
com o objetivo de atuar de ma-
neira determinada sobre um
grupo de pessoas: podem ser
subdivididas em duas; uma
primeira, quando a incorpora-
ção do indivíduo é voluntária
(escolas, universidades, igre-
jas); e uma segunda, quando a
admissão é forçada (penitenci-
árias, hospitais psiquiátricos
etc.).

30
31
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

4. Equipes e Empowerment

Fonte: Software Avaliação4

Natureza, Tipos e Estrutura mente de quando trabalham sozi-


de Grupos nhas, daí, a necessidade de compre-
ender o comportamento grupal para

O grupo geralmente é reconheci-


do como uma importante uni-
dade de análise nos estudos das or-
melhor entendimento da organiza-
ção.
Os grupos podem ser formais
ganizações, principalmente no com- ou informais. Os primeiros são defi-
portamento organizacional. nidos pela organização com a atri-
Um grupo pode ser definido buição de tarefas específicas. Nestes
com duas ou mais pessoas intera- grupos, comportamentos apropria-
gentes e interdependentes que se dos são estimulados ao trabalho
juntam para alcançar determinados conjunto a fim de alcançar objetivos
objetivos particulares. organizacionais.
O comportamento de um gru- Os grupos formais podem ser:
po não é apenas a soma total dos de comando, de tarefa, temporários
comportamentos dos indivíduos que com prazos definidos.
o formam. As pessoas quando traba- Por outro lado, os grupos in-
lham em grupos agem diferente- formais são aqueles que surgem es-

4 Retirado em https://blog.softwareavaliacao.com.br/empowerment/

32
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

pontaneamente graças às relações Equipes


de interação entre as pessoas. Sua
natureza é tipicamente social. Ocor- Embora os termos equipe e
rem naturalmente no ambiente de grupo sejam utilizados de maneira
trabalho em resposta a necessidade intercambiável como diz Chiavenato
de contato social. Tendem a se for- (2004), há diferença entre os con-
mar ao redor de amizades e de inte- ceitos.
resses comuns. Enquanto o desempenho de
Estes grupos podem ser: pri- um grupo de trabalho é uma função
mários, de interesse, de amizade, de daquilo que os membros fazem co-
coalizões. Os grupos se caracterizam mo indivíduos; o desempenho de
por uma estrutura que modela o uma equipe inclui resultados indivi-
comportamento de seus membros e duais e o que é chamado de produto
torna possível a explicação e previ- do trabalho coletivo: aquilo que dois
são de boa parte do comportamento ou mais membros trabalhando jun-
dos indivíduos, assim como do de- tos produzem como uma contribui-
sempenho do grupo em si. As princi- ção real.
pais variáveis estruturais de um gru- O quadro abaixo apresenta um
po são: liderança formal, papéis, comparativo ou as diferenças entre
normas, status do grupo, tamanho, grupos de trabalho e equipes:
composição e seu grau de coesão.

DIFERENÇAS
Grupos de trabalho Equipes
Um forte e único líder Papéis compartilhados de liderança
Responsabilidade individualizada Responsabilidade individual e mútua
O propósito do grupo é o mesmo da organi- A equipe tem um propósito específico
zação

Os produtos do trabalho são individualizados Os produtos do trabalho são coletivos


Utiliza reuniões eficientes Encoraja reuniões abertas e constantes dire-
cionadas para solução de problemas

Há medida da eficácia de maneira indireta Medida direta pela avaliação dos produtos de
(desempenho financeiro dos negócios glo- trabalho coletivos
bais)

Fonte: Adaptado de Chiavenato (2004)

33
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

Segundo Manz e Sims (1996), Em um ambiente de negócios


as equipes devem possuir grau de in- caracterizado pela intensa competi-
dependência, autonomia, flexibili- ção global e pelo rápido surgimento
dade, poder de decisão. Essas carac- de novas tecnologias, abrir mão do
terísticas definem equipes que deci- controle centralizado parece ser a
dem suas tarefas para alcançar os solução viável que promove veloci-
objetivos definidos, formando equi- dade, flexibilidade e capacidade de
pes que se autogerenciam. As equi- decisão da organização.
pes autogerenciadas definem substi- As bases do empowerment
tuições de pessoal e possuem arbí- são:
trio da definição dos seus cronogra-  Poder - dar poder às pessoas,
mas, decidem quais serão seus líde- delegar autoridade e respon-
res, garantem a disponibilidade de sabilidade em todos os níveis
material, executam controle de qua- da organização, o que significa
dar importância e confiar nas
lidade, preparam orçamentos, reco-
pessoas.
mendam mudanças para o setor e  Motivação - proporcionar mo-
sugerem algumas para outros seto- tivação às pessoas para incen-
res, avaliam o aumento salarial, rea- tivá-las continuamente. Isso
lizam reuniões de segurança e tam- significa reconhecer o bom de-
bém avaliam o desempenho da em- sempenho, recompensar os re-
presa. sultados, permitir que as pes-
soas participem dos resultados
de seu trabalho e festejem o al-
Empowerment cance das metas.
 Desenvolvimento - dar recur-
Empowerment ou delegação sos às pessoas em termos de
de autoridade significa a descentra- capacitação e desenvolvimen-
lização de poderes pelos vários ní- to pessoal e profissional. Isso
veis hierárquicos da empresa, o que significa treinar continuamen-
se traduz em incentivos para a to- te, proporcionar informações e
conhecimento, ensinar conti-
mada de iniciativas em benefício da
nuamente novas técnicas,
empresa como um todo. criar e desenvolver talentos na
Para Chiavenato (2004, p. organização.
285) a ideia é dar às pessoas o poder,  Liderança - proporcionar li-
a liberdade e a informação para to- derança na organização. Isso
mar decisões e participar ativamen- significa orientar as pessoas,
te da organização. definir objetivos e metas, abrir
novos horizontes, avaliar o de-

34
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

sempenho e proporcionar re- em todas as sociedades e grupos so-


troação (CHIAVENATO, ciais. O poder é uma qualidade que
2004). um indivíduo ou grupo social possui
em relação a outros indivíduos ou
É importante dar poder às pes-
grupos. Constitui, portanto, um fe-
soas porque possibilita a criação de
nômeno social, e não individual. Sua
uma organização da aprendizagem
característica fundamental é que é
para que estas passem a ter a vanta-
um componente de uma relação so-
gem competitiva para se manterem
cial.
sustentáveis, e cabe ao gestor de pes-
Para Max Weber (1991), poder
soas, (valendo a dica para todos os
significa toda probabilidade de im-
tópicos discutidos até o momento e
por a própria vontade numa relação
que ainda serão apreciados), reco-
social, mesmo contra resistências,
nhecer, captar e movimentar dentro
seja qual for o fundamento dessa
da empresa, as pessoas aptas, espe-
probabilidade.
ciais, competentes e/ou que possam
Dahl (1957 apud DIAS, 2008)
vir a ter um desempenho favorável
elaborou uma definição de poder
em prol do sucesso da organização.
que pode ser considerada clássica
Um dos mais importantes pro-
nos estudos organizacionais: O po-
cessos sociais é a capacidade que
der de uma pessoa A sobre uma pes-
possuem os indivíduos e grupos so-
soa B é a capacidade de A de obter
ciais, entre os quais as organizações,
que B faça algo que não teria feito
de modificarem o comportamento
sem a intervenção de A.
de outros grupos ou pessoas. Esse
Um conceito chave para Cro-
processo social fundamental para os
zier e Friedberg (s.d. apud DIAS,
seres humanos, é que denominamos
2008) é o de poder, que, no plano
poder.
mais geral, implica sempre a possi-
A maior parte dos cientistas
bilidade, para alguns indivíduos ou
sociais compartilha da ideia de que
grupos, de atuar sobre outros indiví-
poder é a capacidade para afetar o
duos ou grupos. Desse modo, atuar
comportamento dos outros. O poder
sobre o próximo é entrar em relação
pode ser considerado como um
com ele; e é nesta relação onde se de-
meio, que o grupo ou indivíduo tem,
senvolve o poder de uma pessoa.
de fazer com que as coisas sejam re-
A ação de “A” sobre “B” é uma
alizadas por outros indivíduos ou
relação e não um atributo dos atores.
grupos.
Pensando assim, o poder é uma rela-
O poder ocorre em todas as re-
ção de força da qual um pode obter
lações sociais, e está disseminado

35
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

mais vantagem que o outro, mas na Com a democratização do acesso a


qual, por outro lado, esse depende um número enorme de informações,
do outro que se submete. depende da habilidade de cada um
influir sobre o comportamento de
Os Componentes do Poder outras pessoas.
A posse pura e simples do co-
O poder se manifesta, invaria- nhecimento não dá ao possuidor po-
velmente, através de pelo menos três der, ou seja, capacidade de influir
componentes: a força, a autoridade e em outrem. Só através da habilidade
a influência. Levando em considera- na manipulação desse conteúdo é
ção o aspecto da legitimidade, tería- que o indivíduo poderá transformá-
mos que o poder manifesto pela au- lo em fonte efetiva de poder.
toridade é legítimo, pois aceito pela O mesmo ocorre com a posse
sociedade, e nesse sentido teríamos de meios materiais (aqui não se in-
um exercício de poder legítimo, ba- cluem os meios materiais de destrui-
seado em três tipos “puros” de domi- ção, como as armas, que são instru-
nação: a autoridade burocrática ou mentos de coerção, portanto de for-
racional; a tradicional; e a carismá- ça), sejam eles quais forem e, depen-
tica (DIAS, 2008). dendo do lugar (do espaço) e do
A influência tem aumentado tempo, podem ou não transformar-
sua importância como um compo- se em fonte de poder. A posse de te-
nente do poder. lefone celular está bastante dissemi-
Um aspecto que deve ser con- nada hoje em dia, mas há regiões do
siderado é a posse de meios materi- planeta onde ainda é fonte de poder
ais ou não por parte de um grupo ou para quem o possui (ou seja, o poder
indivíduo que, utilizando de habili- depende do lugar).
dade na manipulação do que possui, Anteriormente, quando sur-
adquire maiores parcelas do poder, giu, esse tipo de comunicação dava
ou se constitui de fato numa fonte de ao seu portador poder no meio social
poder, modificando o comporta- em que estava, pois poucos o pos-
mento de outras pessoas de acordo suíam (aqui é o tempo que é consi-
com a sua vontade. derado).
São inúmeros os elementos
que podem se constituir em fonte de O Poder e as Organizações
poder. Dentre os vários, podemos
considerar a posse de conhecimen- Na estrutura de funcionamen-
tos como um dos mais importantes. to das organizações, a questão do

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

poder é fundamental, pois se trata rante seus seguidores. A liderança


de um sistema de relações sociais em pode ser considerada como uma for-
que existe permanentemente uma ma especial de poder, pois envolve a
hierarquização baseada em diferen- habilidade, baseada nas qualidades
tes capacidades dos indivíduos nas pessoais do líder, para obter a con-
posições que estes ocupam na orga- cordância voluntária de seus segui-
nização. dores em uma ampla variedade de
Segundo Dias (2008) o pro- assuntos.
blema do poder na interação entre Uma diferença importante
indivíduos era ignorado pela teoria com o poder é que a liderança envol-
racionalista clássica, pois o modelo ve a tomada de decisões, em geral
mecanicista da conduta humana em essenciais, portanto é mais que so-
que se apoiava, excluía as relações mente a manutenção da subordina-
complicadas e ambíguas que se de- ção de um grupo ou indivíduo. Outro
senvolvem em torno das relações de aspecto é que a liderança envolve
poder. mudança de preferências, procuran-
Levando-se em consideração do coincidir com as do líder.
essa questão do poder, podemos fa- Uma liderança constitui uma
lar numa organização como uma es- capacidade humana que permite in-
trutura hierárquica de poder. Sendo fluenciar os outros, em suas motiva-
este compreendido como a capaci- ções e competências. A característi-
dade que possuem os indivíduos de ca mais importante da liderança não
modificarem o comportamento de está na influência, mas em como se
outro ou de outros, teremos na base influencia, pois os chefes de uma or-
da organização aqueles que apresen- ganização, que possuem mandato
tam pouco poder, seja pessoal ou conferido pela posição que ocupam
institucional, e no topo aqueles que na estrutura organizacional, podem
apresentam maior poder, este sendo influenciar também e, no entanto,
institucional, mas também pessoal não possuírem a qualidade ou capa-
(pois permitiu ao seu possuidor cidade de liderança. O líder possui
acesso ao poder institucional). autoridade por si mesmo, indepen-
O conceito de liderança está dentemente do cargo que ocupa. Sua
estreitamente ligado aos de poder e influência no comportamento dos
autoridade, e supõe a aceitação efe- demais membros da organização vai
tiva e voluntária das ideias e com- muito além daquilo que lhe é exigido
portamento que o líder assume pe- formalmente.

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

Outro aspecto que deve ser le- viço dos demais membros da
vado em consideração é que o segui- organização, e que faça o pos-
dor do líder age porque quer, adere, sível para melhorar essas qua-
lidades em três âmbitos: do
imita ou o segue por livre e espontâ-
útil, do agradável e do bom.
nea vontade.
 Em segundo lugar, que a capa-
Os motivos que provocam a cidade de liderança, em sua di-
adesão ao líder podem ser vários: mensão ética, está ao alcance
sua personalidade, seu comporta- de qualquer pessoa, pois sua
mento, suas ideias e intenções. Ou raiz mais profunda está na
seja, sua pessoa, sua ação e algumas vontade daquele que a quer, e
circunstâncias que facilitam ou difi- em sua atitude no trabalho. Is-
to não quer dizer que toda pes-
cultam o surgimento da relação de soa vá ser líder, mas sim que
influência entre líder e colaborador. está em condições de o ser em
Um elemento chave na relação sua dimensão ética.
é a confiança que os líderes são capa-  Em terceiro lugar, no compor-
zes de gerar naqueles que os se- tamento do líder eticamente
guem. Assim, o comportamento do bom se percebe que a motiva-
seguidor será o resultado de sua con- ção transcendente está pre-
sente, se entende que atua no
fiança no líder, em sua pessoa, em
serviço para o bem dos de-
suas ações, ideias e intenções. mais, e não para benefício pró-
Desse modo a liderança pode prio exclusivamente.
ser compreendida como a capacida-
de de influenciar uma pessoa, den- Deste modo, conforme afirma
tro de uma relação interpessoal di- Dias (2008) somente quem se com-
nâmica, que leva o seguidor a aderir porta assim é capaz de incentivar
livremente à vontade do líder, apoi- que quem o segue livremente faça o
ado na confiança em que poderá sa- mesmo; que saia de si mesmo para
tisfazer assim suas necessidades de dar voluntariamente mais do que
bens úteis, agradáveis e éticos. dariam normalmente.
A dimensão ética da liderança No caso da liderança organiza-
tem importantes implicações práti- cional, as ideias e comportamento
cas. do líder se identificam com a realiza-
 Em primeiro lugar, que a capa- ção dos objetivos da organização, e é
cidade de liderança pode ser nesse contexto que se valoriza a ca-
adquirida e melhorada, sem- pacidade de liderança como uma
pre que a pessoa que queira ser qualidade necessária naqueles
líder esteja disposta a colocar
membros que detenham poder for-
as próprias qualidades ao ser-

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

mal de acordo com a estrutura hie- rança organizacional atuais, se-


rárquica, pois desse modo pode-se guem-se três consequências impor-
aumentar a eficácia no trabalho dos tantes para a gestão das organiza-
seus seguidores. ções:
Os estilos de liderança devem  Não existe um único estilo de
acomodar-se às situações específi- liderança eficaz; os líderes uti-
cas que vivem os seguidores e se de- lizam aquele que consideram
finem operacionalmente segundo que terá maior efetividade em
cada momento determinado.
suas aptidões ou capacidade para
 Os diversos estilos de lideran-
executar adequadamente a tarefa ça se encontram estreitamente
designada, e segundo suas atitudes relacionados com as caracte-
ou grau de disponibilidade para rea- rísticas individuais e grupais
lizá-la. Consequentemente, não dos indivíduos.
existe uma liderança ideal, válida  É necessário levar em conta o
para todos os casos, mas a situação grau de estruturação das tare-
concreta que vivem os indivíduos fas pela sua influência sobre os
demais fatores.
em seu grupo de trabalho exigirá a
aplicação de um estilo de liderança
A Liderança Informal nas Or-
determinado, que varia entre a dele- ganizações
gação de atribuições, a participação
na tomada de decisões, a persuasão Toda organização desenvolve
e a mera direção (DIAS, 2008). processos e operações diárias que
Os fatores que determinam a apresentam em algum momento
eficácia de um estilo de liderança po- ambiguidades e passam a constituir
dem ser agrupados em duas grandes problemas que devem ser resolvidos
categorias: de imediato para que o sistema con-
 Características do indivíduo: tinue a operar. Consequentemente,
localização de controle, capa- as pessoas ou setores que conse-
cidade de execução da tarefa,
guem resolvê-los possuem um maior
necessidade de sucesso, expe-
riência, necessidade de clare- poder.
za; Qualquer organização busca
 Fatores ambientais: tarefa do reduzir os imprevistos, neutralizan-
trabalhador, sistema de auto- do-os através da incorporação des-
ridade, grupo de trabalho. tes à rotina. Mas sempre haverá um
grau de incerteza presente, pois por
Nessa perspectiva situacionis- definição, imprevistos são o que são,
ta predominante nas teorias de lide- não podem ser previstos ou anteci-

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

pados com exatidão. É nesses mo- lideranças de grupos informais po-


mentos que surgem as lideranças in- dem se tornar tão poderosas e influ-
formais. entes em seu grupo que podem com-
O líder informal é aquele que petir com as lideranças formais esta-
tem a capacidade de trazer volunta- belecidas e amparadas pelas normas
riamente outras pessoas para se in- e regulamentos da organização.
tegrarem num processo de mudan-
ça. Essas lideranças são importan-
tes, pois em organizações, principal-
mente as maiores e complexas, a ca-
pacidade de dirigir e tomar decisões
não depende unicamente dos líderes
formais, que não podem estar em to-
dos os lugares ao mesmo tempo.
Podemos considerar a existên-
cia de pelo menos duas lideranças de
tipo informal: aquela orientada a ta-
refas e a orientada às pessoas.
O líder orientado às tarefas é o
que absorve positivamente a incer-
teza, ou seja, que soluciona proble-
mas e toma decisões.
O líder orientado às pessoas é
aquele que estabelece vínculos de
afeto com as pessoas do seu grupo
ou setor e que as ajuda e aconselha
nos problemas de índole pessoal.
A presença de líderes infor-
mais nas organizações é fundamen-
tal, embora seja difícil a identifica-
ção deles e do seu exato papel nos
processos internos. Todas as organi-
zações possuem redes informais nas
quais há pessoas que interagem de
tal modo que dão resposta a alguns
tipos de necessidades sociais. Essas

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SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

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