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LASSALE, F. A Essência da Constituição. 4. ed. Rio de Janeiro: Líber Juris, 1998.

Yann Melo Santos da Silva


Leonardo Neves de Oliveira

"A Essência da Constituição" é uma obra escrita por Ferdinand Lassalle, autor alemão
do século XIX conhecido por suas contribuições para o pensamento político e jurídico. Esta
análise crítica abordará alguns pontos fundamentais do livro.
O livro foi escrito em 1862, em um momento de agitação política na Alemanha, marcado pelo
Movimento de Março. Lassalle estava interessado em questões de direitos políticos e sociais,
o que fica evidente em sua obra.

Lassalle argumenta que a Constituição não é um documento estático, mas sim uma expressão
da luta de classes e das relações de poder em uma sociedade. Ele enfatiza a importância da
constituição econômica, afirmando que a propriedade é a essência da Constituição. O autor
argumenta que, por trás de qualquer Constituição escrita, existem forças econômicas que
desempenham um papel mister na formação e na natureza dessa Constituição. Ele identifica a
propriedade como o fator determinante na configuração da Constituição de um país. Segundo
Lassalle, a classe detentora de propriedade influencia profundamente o processo
constitucional, formando as leis e instituições de acordo com seus interesses econômicos.

A visão de Lassalle é profundamente influenciada pela teoria do materialismo histórico,


associada a pensadores como Karl Marx. Ele acredita que a propriedade, especialmente a
propriedade dos meios de produção, é o cerne das relações de poder em uma sociedade.
Assim, a estrutura econômica de uma nação determina amplamente o caráter de sua
Constituição e das leis que dela emanam.

Essa tese de Lassalle levanta questões importantes sobre a verdadeira natureza da democracia
e da igualdade em uma sociedade. Ele argumenta que, enquanto os direitos políticos podem
existir formalmente em uma Constituição, eles podem ser ineficazes na prática se a estrutura
econômica da sociedade for altamente desigual. Portanto, ele insta à consideração não apenas
dos direitos políticos, mas também dos direitos econômicos e sociais como parte integrante de
qualquer Constituição verdadeiramente democrática e igualitária.
Uma abordagem crítica ao argumento central da obra de Lassalle pode incluir os seguintes
pontos: Sua tendência a reduzir a formação da Constituição a uma única variável, a
propriedade. Essa simplificação extrema pode negligenciar outros fatores importantes, como
questões culturais, sociais, étnicas e históricas que também influenciam a estrutura política de
um país. Sua visão determinista de que a propriedade é a única força por trás da Constituição
pode ser considerada excessivamente rígida. Isso não leva em consideração situações em que
sociedades podem promulgar leis e Constituições que desafiam seus interesses econômicos.
A abordagem de Lassalle pode parecer minimizar o papel da participação popular e da
vontade democrática na formação de uma Constituição. Em muitos casos, as constituições
refletem as aspirações e valores de uma sociedade, independentemente das estruturas
econômicas predominantes.
A tese do autor pode não considerar adequadamente a evolução das constituições ao longo do
tempo. As sociedades podem mudar, e suas Constituições podem evoluir para refletir novas
realidades e valores, independentemente da estrutura de propriedade existente. As
Constituições variam significativamente em todo o mundo, com diferentes modelos e
princípios em ação. A visão de Lassalle não leva em consideração a ampla diversidade de
sistemas constitucionais e como eles se relacionam com as características específicas de cada
sociedade.

Em conclusão, "A Essência da Constituição" apresenta uma tese central intrigante,


argumentando que a propriedade desempenha um papel fundamental na formação das
Constituições. No entanto, ao analisar criticamente essa tese, surgem preocupações quanto à
simplificação excessiva e ao determinismo econômico subjacente à sua teoria.

Lassalle pode ser elogiado por chamar a atenção para a interação entre estrutura econômica e
política em uma sociedade. Sua obra destaca a importância das questões socioeconômicas na
formação de leis e instituições. No entanto, essa abordagem pode ser considerada redutiva,
negligenciando outros fatores que moldam as Constituições, como a cultura, a história e a
vontade popular.

Além disso, a visão determinista de Lassalle pode subestimar a capacidade das sociedades de
evoluir e adaptar suas Constituições em resposta a mudanças nas circunstâncias e nos valores.
Isso pode ser observado em democracias maduras que promulgam leis e Constituições que
refletem os desejos de suas populações, independentemente das estruturas de propriedade.

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