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Citologia de líquidos cavitários

Curso de Biomedicina
Prof. Marianna Boia
Líquidos cavitários
• Existem 3 cavidades no corpo humano que são forradas por membranas:
• Cavidade pleural
• Cavidade peritoneal
• Cavidade pericárdica

• Essas membranas são chamadas de mesotélio e são formadas por uma monocamada de
células mesoteliais e uma fina camada de tecido conjuntivo fibroso.

• Além disso essas membranas possuem 2 estruturas, uma mais interna, chamada de visceral e
uma mais externa, chamada de parietal.
Líquidos cavitários
• Líquidos que preenchem regiões do corpo compartimentalizadas por 2
membranas serosas – visceral e parietal.
• O líquido situado entre essas membranas é chamado de líquido seroso.
• Função: Lubrificação da superfície das membranas e órgão que são revestidos por
elas, diminuindo o atrito e facilitando a movimentação.
• São 3 os líquidos cavitários estudados:
• Líquido pleural – 30 mL
• Líquido pericárdico – 20 a 50 mL
• Líquido peritoneal – 100 mL
Categorização das efusões
• Efusão
• Acúmulo de fluidos nos espaços intermembranares.
• São classificados em:
• Transudatos
• Ocorrem durante várias alterações sistêmicas que perturbam a filtração e reabsorção dos fluidos cavitários.
• As causas mais conhecidas são problemas cardiovasculares que alteram a pressão sanguínea, doenças hepáticas que
alteram a síntese de proteínas capazes de manter a pressão osmótica do sangue e síndrome nefrótica.

• Exsudatos
• Ocorrem em processos que resultam em danos nas paredes dos vasos sanguíneos e nas membranas das cavidades do
corpo. Pode envolver a diminuição da reabsorção do líquido acumulados pelo sistema linfático.
• As causas principais são processos infecciosos, inflamatórios e neoplásicos. Hemorragia interna também pode levar a
formação de exsudato.

• Para fazer a diferenciação devemos avaliar o aspecto da amostra e o resultado de algumas


análises bioquímicas.
Fluido pleural
• A pleura é composta por duas camadas, a visceral e a parietal, as quais deslizam
uma sobre a outra e são separadas por uma fina película de líquido, em um
espaço denominado cavidade pleural.

• O líquido contido na cavidade é chamado de fluido pleural.

• Trata-se de um ultrafiltrado do plasma, a partir de uma microcirculação pleural.

• É um líquido límpido e amarelo pálido, que pode apresentar composição e


volume diferentes em razão da presença de processos patológicos
Fluido pleural
• Derrames pleurais ocorrem quando o fluido se acumula dentro da
cavidade pleural em torno do pulmões.

• A cavidade pleural normalmente contém menos de 30 mL de fluido.

• Fatores que contribuem para a formação e a remoção de fluido


pleural incluem a função de drenagem do sistema linfático e de troca
de fluidos nos capilares.
Fluido pleural

• Os fluidos entram no saco pleural quando há um aumento da pressão


hidrostática capilar ou uma diminuição na pressão osmótica do
plasma.

• A coleta do líquido pleural fornece amostra para exames laboratoriais,


e ajuda na melhora dos sintomas, além de permitir melhor visualização
dos pulmões e da cavidade pleural em procedimentos radiológicos.
pulmão pulmão traqueia
Diagrama da toracocentese.

• Com a paciente na posição sentada, procura-se um


espaço intercostal abaixo do nível do derrame.
• Após assepsia do local e anestesia, é feita a coleta de
20 a 50 mL de líquido pleural, dividindo-o em frascos
com alíquotas de 10 mL.
• Também pode ser realizada uma punção de alívio,
substituindo a seringa por um equipo de soro
adaptado em frasco ou bolsa para redução do
derrame.
• É possível drenar até 1.500 mL.

Fonte: Adaptada de Lechner, Matuschak e Brink (2013, p. 177); Mayeaux (2011, p. 154).
• A primeira parte da análise do líquido pleural terá como objetivo realizar a
sua caracterização em transudato ou exsudato.
• transudato — quando ocorre um desequilíbrio entre as pressões com aumento do
ultrafiltrado de plasma pela membrana pleural, aumento da pressão hidrostática
dos capilares pulmonares e diminuição da pressão osmótica.

• exsudato — quando ocorre uma lesão, inflamação das pleuras ou processo


neoplásico.

• Critérios de Light
• Critérios de Light

• relação DHL sérica/pleural


• menor ou igual a 0,6 em transudatos e menor que 2/3 da concentração sérica máxima

• maior do que 0,6 em exsudatos ou maior que 2/3 da concentração sérica máxima

• relação proteína total sérica/pleural


• menor ou igual a 0,5 em transudatos

• maior do que 0,5 em exsudatos

• A presença de qualquer um dos critérios de exsudato é suficiente

para sua caracterização.


• Se o quadro clínico for compatível com transudato e o resultado
laboratorial mostrar exsudato, especialmente com valores limítrofes (p.ex.
relação de proteínas = 0,51 ou relação de DHL = 0,62), e o paciente estiver
em uso de diurético, pode-se tratar de falso positivo para exsudato.
• Nesses casos deve-se aplicar outro marcador com maior especificidade
• relação albumina sérica/pleural ≤ 1,2 favorece exsudato.

• Aspecto visual do líquido pleural


• transudatos - límpido, amarelo claro

• exsudatos - turvos ou purulentos; branco leitoso; hemorrágico avermelhado

• Em alguns casos o aspecto e coloração irá orientar a solicitação de exames


complementares.
• No derrame por exsudato poderá complementar o diagnóstico:
• Glicose
• Possui dosagem semelhante ao plasma.
• Valores abaixo de 60 mg/dL ou abaixo de 2/3 da dosagem sérica sugerem infecções, presença de
leucócitos, doenças neoplásicas.

• Amilase
• Níveis elevados sugerem pancreatite, fístulas esofágicas ou neoplasias nos tecidos que sintetizam a
enzima.

• Proteínas totais
• acima de 3,0 g/dL sugere exsudato.
• abaixo de 2,5 g/dL sugere transudato.
• No derrame por exsudato poderá complementar o diagnóstico:
• Contagem global
• Leucócitos >1.000/mm³ e hemácias >100.000/mm³ indicam exsudato.

• Contagem diferencial
• Aumento de neutrófilos é comum em infecções bacterianas, fase inicial de tuberculose pleural,
empiemas, colagenoses, pancreatite, derrame parapneumônico e embolia pulmonar.
• Aumento de eosinófilos sugere empiemas, infecções parasitárias, malignidades e alguns derrames
idiopáticos.
• Aumento de linfócitos sugere tuberculose em estágio mais avançado, infecções virais e neoplasias.
• Aumento de monócitos são vistos em processos crônicos e podem acompanhar aumento de outros
tipos celulares.
• Aumento de plasmócitos são identificados em mielomas múltiplos.
• No derrame por exsudato poderá complementar o diagnóstico:
• LDH
• acima de 200 U/L sugere exsudato

• Investigações microbiológicas
• Principais agentes bacterianos
• S. aureus, S. pneumoniae, Haemophilus influenza, M. tuberculosis, Enterobacterias e anaeróbios.
• Principais agentes fúngicos
• Aspergillus spp.
• Parasitas diversos

• Citologia oncótica
• São investigadas metástases de outros tecidos.
• Mesotelioma – tumor do mesotélio que reveste o pulmão.
Líquido ascítico ou peritoneal
• Líquido biológico contido entre as membranas parietal e visceral que
formam o peritônio.
• Tem como função:
• lubrificação e proteção contra atrito,
• mantém a posição de órgãos por meio de ligamentos,
• pode atuar como fluido transportador de células e fluidos durante resposta
inflamatória e reparo tecidual, e atuar como camada protetora contra
microrganismos.

• O líquido peritoneal normal tem aspecto amarelo pálido.


Derrame peritoneal

• Um derrame peritoneal é o acúmulo de líquido peritonial, também


chamado de ascite, na cavidade abdominal.

• O fluido pode se acumular no abdômen conforme resultado de um


distúrbio clínico ou por um edema (acúmulo de líquido nos tecidos).
Ascite
• Definição
• acúmulo de mais de 20 ml de fluido na cavidade peritoneal.

• Causa mais comum é a hipertensão portal.


• A hipertensão portal é vista principalmente em pessoas com cirrose.

• O diagnóstico é feito por exame clínico e por exames de imagem.

• O tratamento é direcionado à sua causa, juntamente com restrições dietéticas de sódio, uso de
diuréticos, restrição alcoólica e ingestão de albumina.

Imagem: Douglas Bastos. Quais são os tratamentos para a ascite?https://drdouglasbastos.com.br/ascite-tratamentos/


• Pode ser removida por paracentese abdominal.

• Também ocorre na doença hepática crônica pela diminuição na pressão


coloidal plasmática causada pela perda de função hepática, que diminui a
síntese de proteínas.
• A remoção de mais de 1000 mL de
ascite pode causar hipovolemia e
choque.
Peritonite
• Inflamação do peritônio. Na maioria dos casos ela surge como uma
complicação da ascite.
• Causada por bactérias intestinais que acham seu caminho até o peritônio
por disseminação linfática ou ruptura intestinal.
• Sintomas
• febre, dor abdominal e ascite notável.
• todo paciente diagnosticado com ascite que apresente esses sintomasdeve ser
investigado para peritonite.
• Diagnóstico é feito pela análise microbiológica do líquido peritoneal.
Análise do líquido peritoneal ou líquido ascítico
• Análise física
• Cor e aspecto
• opalescente ou leitoso, turvo, hemorrágico e esverdeado

• Contagem das células


• Global e diferencial
• Como a coleta pode apresentar sangue devido a punção, recomenda-se remover 1
PMN a cada 250 hemácias presentes no líquido.
• V.R. < 250 leucócitos/mm³
Análise do líquido peritoneal ou líquido ascítico
• Bioquímica
• Glicose
• V.R. > 50 mg/dL

• LDH
• V.R. < 50% níveis séricos

• Amilase
• V.R. < 50% níveis séricos

• Colesterol e triglicerídeos
• Bilirrubina
• Indicado para líquidos de coloração marrom-escura.
• Acima de 6 mg/dL indicam fístula biliar ou intestinal alta.
Análise do líquido peritoneal ou líquido ascítico
• Os analitos dosados no líquido ascítico incluem:
• proteínas totais,
• albumina,
• determinação do gradiente de albumina soro-ascite (GASA)
• Esse gradiente resulta de uma subtração entre o valor da dosagem de albumina no soro
(albumina sérica) e o valor da dosagem de albumina no líquido.

albumina sérica – albumina líquido ascítico = GASA (g/dl)

Importante para avaliar a causa do derrame

GASA ≥ 1,1g/dl = hipertensão portal, com 97% de acurácia (transudatos)


Fluido pericárdio
• A parede do coração é constituída por três diferentes camadas:
• pericárdio - membrana que envolve o coração
• miocárdio - músculo cardíaco
• endocárdio - revestimento interno das cavidades do coração

• O pericárdio é uma membrana dupla, semelhante a um saco, que


reveste e protege o coração, separando-o de outras estruturas
anatômicas que ocupam a parte centra da cavidade torácica, o
mediastino.
Fluido pericárdico
• O líquido pericárdico funciona como um lubrificante para os
movimentos do coração. É encontrado em pequenas
quantidades, geralmente contém menos de 50 mL de fluido
entre as duas camadas do pericárdio.

• Derrames pericárdicos são um acúmulo de líquido ao redor o


coração.

• O procedimento para remover o excesso líquido pericárdico,


pericardiocentese, é perigoso e raramente realizado.
Fluido pericárdico
• O procedimento é necessário para se obter a amostra para investigação
microbiológica e citológica.
• O líquido pericárdico normal é amarelo claro e transparente.
• Os derrames aparecem por dano ao mesotélio e geralmente são exsudatos.
• Pode ser hemorrágico em processos infecciosos, traumas, distúrbios da
coagulação e acidentes durante a punção.
• A análise do fluido irá auxiliar no diagnóstico e monitoramento de processos
infecciosos, inflamatórios, hemorrágicos e neoplásicos.
Coleta dos líquidos cavitários

• Punção por agulha fina:


• O líquido também é dividido pelos setores de bioquímica/imunologia,
microbiologia e citologia.

• Para a citologia o frasco deve conter anticoagulante (citrato de sódio ou EDTA).

• Caso seja necessário realizar a avaliação do pH pelo aparelho de gasometria, a


coleta deve ser por seringa contendo heparina.
Análise microbiológica
• Segue os mesmo princípios da análise microbiológica do líquor.

• Para cada tipo de amostra existem patógenos mais frequentemente isolados.

• Líquido pericárdico
• Haemophilus influenzae
• Mycobacterium tuberculosis

• Líquido peritoneal
• Escherichia coli
• Pneumococci
Análise citológica

• Deve ser realizada:


• Contagem global de leucócitos e hemácias

• Contagem diferencial de leucócitos

• Descrição de outros tipos celulares presentes na amostra


• Por exemplo: células mesoteliais
Linfocitose por tuberculose. Drs. Prolla and Diehl's INTERESTING CASE OF THE MONTH May 2003 case A. http://www.geocities.ws/jcprolla/case_05A_2003_answer.html
Linfocitose por tuberculose.

Imagem: Drs. Prolla and Diehl's INTERESTING CASE OF THE MONTH May 2003 case A. Pleural fluid:
tuberculosis, lymphocytosis. http://www.geocities.ws/jcprolla/case_05A_2003_answer.html http://www.geocities.ws/jcprolla/
Citologia do Líquido Pleural:

1 – Linfócitos
2 – Macrófagos residentes
3 – Neutrófilos apoptóticos

O macrófago residente é observado em líquidos cavitários


sem infecções e sem inflamação.
Apresenta pouca capacidade fagocitária, mas pode ser
facilmente ativado.

Imagem: Portal Lab Cursos. https://www.facebook.com/portallabcursos/photos/m%C3%AAs-dos-l%C3%ADquidos-


biol%C3%B3gicos%EF%B8%8Fcitologia-do-l%C3%ADquido-pleural1-linf%C3%B3citos2-macr%C3%B3fagos/585601028535333/
Citologia do líquido pleural no “derrame pleural
hemorrágico”

A - eritrófago com hemácias fagocitadas


B - macrófago
C - células mesoteliais
D - janela mesotelial – espaço mais claro entre duas
células mesoteliais

Eritrófagos: surgem entre 12 a 24 horas após o derrame


hemorrágico, fagocitando as hemácias e
permanecendo por 4 a 7 dias no líquido pleural.

Macrófagos no líquido pleural: O processo de migração


dos monócitos da corrente sanguínea para os tecidos
permite a diferenciação dos monócitos em macrófagos
residentes.

Imagem: Portal Lab Cursos. https://www.facebook.com/portallabcursos/photos/citologia-do-l%C3%ADquido-pleural-no-derrame-pleural-


hemorr%C3%A1gicoa-eritr%C3%B3fago-com-tr%C3%AAs/884987205263379/

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