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O Mito do Inglês Britânico

Quando alguém fala “inglês britânico” a ideia que vem à cabeça da grande maioria
das pessoas é que se trata do inglês falado na Inglaterra, Escócia, País de Gales e
Irlanda. Outros também listam Austrália, Canadá, África do Sul, Índia e outros países
que, no passado, foram colonizados pela coroa britânica.

Fazer essa relação é um grande erro. Afinal, o inglês britânico não pertence a esses
países. Na verdade, no círculo científico, a gente diz que o inglês britânico nem
existe. Ou seja, inglês britânico é algo que colocaram na cabeça das pessoas! Logo,
não pode ser relacionado a um país ou outro.

Inglês Britânico e Received Pronuncation

É comum as pessoas associarem o inglês britânico à variante conhecida


como Received Pronunciation (RP). Infelizmente, essa relação sinônima não deve
ser tida como uma verdade absoluta; pois, RP é apenas uma das inúmeras variantes
do inglês britânico.
O termo Received Pronunciation foi usado pela primeira vez como sinônimo de inglês
britânico padrão em 1926 na segunda edição do English Pronouncing Dictionary,
compilado pelo foneticista londrino Daniel Jones. Na primeira edição, em 1917, ele
havia usado o termo Public School Pronunciation. Já na segunda, achou melhor
mudar.
A RP era o inglês usado no sistema educacional de todo o Reino Unido. Vale dizer
que o termo “received” aqui significa “aprovado”, “aceito”. Essa era então a variante
usada formalmente nos órgãos públicos, nas relações comerciais, nos documentos
oficiais etc. Era o inglês correto, bonito, bem falado, puro, aprovado, aceito como
padrão.

Se essa era a variante ensinada no sistema educacional britânico, o mundo de


ensino de língua inglesa também a usaria. Os materiais de ensino eram produzidos
no Reino Unido e os professores nativos eram os melhores para ensinar a língua pelo
mundo. Foi assim que o RP ganhou força e fama. Essa variante era a cara do inglês
britânico formal. Logo, era o inglês a ser ensinado a todo mundo no mundo todo.

Foi assim que a Received Pronunciation ficou conhecida como sinônimo de “inglês
britânico”. Foi assim também que o inglês britânico ganhou fama de ser mais bonito,
mais puro, mais limpo, mas perfeito, mais correto, mais sem gírias e vícios que o
inglês americano e outras variantes.

Received Pronunciation: críticas


Atualmente, os linguistas e foneticistas dizem que a Received Pronunciation é coisa
do passado. Não totalmente do passado; mas, uma variante do inglês que não mais
satisfaz os anseios de um modelo padrão da língua inglesa.

Por quê?

Para boa parte dos falantes de inglês, a Received Pronuncation é considerada um


tipo de inglês usado apenas por gente metida a besta, gente de nariz empinado,
gente cheia de frescuras. Dá até para dizer que rola um certo preconceito com quem
usa a Received Pronunciation o tempo todo.
Um bom número de linguista concorda com essa avaliação popular da Received
Pronunciation. Alguns dizem que essa variante é característica dos indivíduos de
classe alta do século vinte. Portanto, não é mais tão bem aceita nos dias de hoje.

Outros linguistas atualmente chamam essa variante de BBC Pronunciation. Pois, é a


variante usada pelos apresentadores da maior emissora de rádio e televisão do
Reino Unido: a BBC (British Broadcasting Company).
Tem ainda alguns que preferem usar o nome Oxford English. Devido ao fato de ser
o inglês característico do pessoal que passa pela Oxford University. Já outros
preferem chamar apenas de General English ou Standard British English. Tem
também o termo Non-Regional Pronunciation para dizer que se trata de uma
variante sem marcações típicas de uma região ou outra.
Enfim, o fato é que o termo Received Pronunciation tem conquistado novos rumos
dentro da linguística e consequentemente do mundo de ensino de língua inglesa.
Hoje em dia, os livros mantêm um padrão; mas, já são bem mais abertos para as
diferenças regionais e até as mencionam em suas páginas.

Outros Tipos de Inglês Britânico

Acima enfatizamos a Received Pronunciation por ser a variante que muitos


consideram ser o inglês britânico propriamente dito. Vale repetir que essa coisa de
inglês britânico único, verdadeiro e absoluto não existe da forma como gostaríamos
que existisse. Afinal, há dentro do Reino Unido muitas outras variantes.
Quando falamos de “inglês britânico” temos de entender que o Reino Unido é
formado por quatro países: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.

Cada um desses países possui vários sotaques (variantes) da língua inglesa.


a Inglaterra as variantes podem mudar de uma cidade para outra. Às vezes, até
mesmo dentro de uma única cidade podemos nos deparar com variantes diferentes.
Assim, no norte da Inglaterra encontramos as variantes conhecidas como Cheshire,
Lancastrian, Scouse, Pitmatic, Cumbrian, Mackem, Mancunian e outras. No sul,
temos Received Pronunciation, Cockney, Estuary, Kentish, Multicultural London,
Sussex etc.

Na Escócia, podemos dividir o inglês falado por lá em Insular Scots, Northern Scots,
Central Scots e Southern Scots. Sendo que dentro dessas divisões há ainda as
subdivisões. O mesmo vale para o País de Gales e a Irlanda do Norte.

Quais são as diferenças?


Essas variantes geralmente apresentam diferenças no modo como um som é
pronunciado. Claro que há também diferenças em palavras, expressões, gírias etc.

Há ainda – em menor número – diferenças na estrutura gramatical. Mas, geralmente


as diferenças estão mesmo nos sons (pronúncia e sotaque).
Uma exemplo aqui é o som do /r/ em “car”. Muitos acham que o som puxado do “r”
em “car” é característico do inglês americano. Mas, é bom saber que no Reino Unido
há vários locais onde o /r/ em “car”, “heart”, “door”, “there” é pronunciado da
mesma forma como no inglês americano.

Outro som tido como exclusivamente americano é o som do /t/ em “gotta”, que vira
um “r” como em “agora” no português. Anote aí que é possível encontrar muitos
britânicos fazendo a mesma coisa.
Diferenças entre ortografias GB e EUA
No que diz respeito à ortografia (conjunto de regras que definem a forma correta de
escrever) da língua inglesa, também é possível estabelecer um certo padrão entre as
diferenças.
Observe as imagens abaixo e conheça as principais diferenças ortográficas entre as

duas principais variantes da língua inglesa.

Terminações -se e -ce

Terminações -er e -re

Sequências -or e -our

Terminações -ed e -t
Sequências -k e -que

Terminações -yze, -ize, -yse, -ise

Sequências -ll e -l

Terminações -g e -gue
Outras diferenças ortográficas

Diferenças entre gramática GB e EUA


Quando o assunto é gramática, as diferenças são bastante variadas.

Vejamos os principais exemplos.

Concordância verbal
Uma das diferenças entre a gramática americana e a gramática britânica está

relacionada com a concordância verbal das frases.

Na gramática britânica, por exemplo, quando nos referimos a um grupo, podemos

fazer a concordância no singular ou no plural. Já na gramática americana, apenas é

correta a concordância no singular.

Exemplos:

•Inglês americano: Brazil was the World Cup champion in 2002. (O Brasil foi o

campeão da Copa do mundo em 2002.)

•Inglês britânico: Brazil was the World Cup champion in 2002. ou Brazil were the

World Cup champion in 2002. (O Brasil foi o campeão da Copa do mundo em 2002.)
Was: 1ª pessoa do singular do verbo to be no Simple Past.

Were: 3ª pessoa do plural do verbo to be no Simple Past.

Uso do Present Perfect (Presente perfeito)


Outra diferença entre as duas variantes da língua tem a ver com o uso do Present

Perfect.

Nos Estados Unidos, esse tempo verbal é utilizado para fazer referência a uma ação

que ocorreu em um passado recente e se estendeu até o presente. No Reino Unido

ele é frequentemente utilizado no lugar do Simple Past.

Além disso, no inglês britânico esse tempo verbal é comumente utilizado com

advérbios.

Em frases com already (já), just (apenas; acabou de) ou yet (ainda), os britânicos

costumam usar o Present Perfect e os americanos, o Simple Past.

Exemplos:

•Inglês americano: I already saw this movie. (Eu já vi esse filme.)

•Inglês britânico: I have already seen this movie. (Eu já vi esse filme.)

Saw: Simple Past

Have...seen: Present Perfect

Leia também sobre:

•Present Perfect

•Simple Past

•Past Perfect
•Advérbios em Inglês

•Horas em inglês

Uso de have e have got


Relativamente aos verbos, outra diferença entre o inglês do Reino Unido e o inglês

dos Estados Unidos tem a ver com a forma de expressar posse.

Enquanto nos Estados Unidos é mais comum o uso de have/has, no Reino Unido as

formas have got/has got são mais utilizadas.

Exemplos:

•Inglês americano: I have a house on the beach. (Eu tenho uma casa na praia.)

•Inglês britânico: I have got a house on the beach. (Eu tenho uma casa na praia.)

É importante referir que ambas as formas existem nos dois países e têm o mesmo

significado.

Diferenças no vocabulário

As diferenças entre o inglês dos Estados Unidos e o inglês do Reino Unido também

abrangem o uso de palavras diferentes para fazer referência às mesmas coisas.

Observe a tabela abaixo e consulte alguns exemplos.


Diferenças entre pronúncias GB e EUA
Uma das diferenças mais acentuadas entre as duas principais variantes da língua

inglesa consiste nas peculiaridades do sotaque britânico x americano.

A pronúncia de algumas letras específicas tende a caracterizar as variantes.

A letra T que ocorre no meio da palavra é um exemplo disso. Enquanto no inglês

britânico ele é pronunciado como /t/, no inglês americano ele tem um som parecido

com /r/, ou seja, no caso da palavra water (água), por exemplo, observe como é a

pronúncia de cada país.

•Inglaterra: /uótâr/

•Estados Unidos: /uórâr/

Como diferenciar o sotaque americano e


britânico

Identificar se o sotaque que você está ouvindo é americano ou britânico é uma tarefa
relativamente simples.
A pronúncia americana é a mais usada atualmente. Seu som puxa mais o “r” e é mais
encontrado na mídia, principalmente quando falamos de séries, filmes e músicas.
Já a pronúncia britânica é considerada um pouco mais seca. Há muitos que preferem o
inglês britânico por considerar seu som mais charmoso e até sofisticado, mas as
diferenças podem deixar a versão mais difícil de entender para quem aprendeu a versão
americana.

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