Você está na página 1de 7

Imposto de Importação (Tarifa Aduaneira)

BASE LEGAL:
CF/88: 153, I, e 153, §1º;
CTN: arts. 19 e 22;
DL 37, de 18/11/66, que continua em vigor, com diversas alterações.
Decreto 4543, 26/12/02: Regulamento Aduaneiro
Legislação esparsa
FATO GERADOR: Dentre os impostos atribuídos de forma expressa à União (art.153 da CF), em
primeiro lugar aparece o imposto de importação, também conhecido por “tarifa aduaneira”.

Tal imposto grava a introdução, no território nacional, de bens procedentes de outros países
(art.19 do CTN).

Destaca-se, porém, que não basta o simples ingresso físico da mercadoria no território
nacional para restar caracterizado o fato gerador, já que para a incidência do imposto de
importação os bens devem estar destinados a nele permanecer de forma definitiva. Assim,
mercadorias transportadas de um país para outro por embarcação ou aeronave que simplesmente
faça uma escala no Brasil, bem como as mercadorias estrangeiras que ingressam no território
nacional tão-somente para participar de feiras ou exposições (retornando à origem depois de
cumprida sua finalidade), são situações que não autorizam a incidência do imposto de importação.
Em se tratando de mercadoria despachada para consumo, considera-se ocorrido o fato gerador na
data do registro, na repartição competente, da declaração feita para o desembaraço da mercadoria
(arts. 23 e 44 do Dec. – Lei n.37/66).

RETORNO DE MERCADORIA NACIONAL OU NACIONALIZADA: Para fins de incidência do


imposto de importação, considera-se-á também estrangeira a mercadoria nacional ou nacionalizada
que retornar ao País, salvo se:
1) enviada em consignação e não vendida no prazo autorizado;
2) devolvida por motivo de defeito técnico, para reparo ou substituição;
3) devido a modificações na sistemática de importação por parte do país importador;
4) por motivo de guerra ou calamidade pública;
5) por outros fatores alheios à vontade do exportador.

COMPETÊNCIA: Por implicar nas relações entre o Brasil com o exterior, seu trato foi conferido com
a União, já que somente esta exerce a soberania (Estados Federados são autônomos e não
soberanos) capaz de manter um critério uniforme de tratamento em relação às importações
praticadas em todo território nacional. No mais, com reflexos na totalidade de economia nacional, as
importações tornaram o Brasil devedor do estrangeiro, e seus valores figuram no passivo da
respectiva balança comercial, ao passo que as exportações o fazem credor e figuram no ativo da
mesma balança.
A balança comercial é o conjunto das importações e exportações de um país.

FUNÇÃO EXTRAFISCAL: A função do imposto de importação e predominantemente extrafiscal, ou


seja, visa muito mais disciplinar uma situação econômica e proteger a indústria nacional do que
servir como instrumento de arrecadação (função fiscal dos impostos).
O imposto de importação costuma ser dividido em três categorias:
a) geral ou autônoma: aquela que se aplica a quaisquer mercadorias, sem distinção
nenhuma;
b) diferencial ou especial: a que estabelece distinções em razão da natureza dos
produtos;
c) convencional ou de reciprocidade: a que resulta de acordo bilateral ou multilateral
entre os países interessados. Como exemplo maior deste tipo de tarifa alfandegária costuma-se citar
o GATT – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (firmado em 1947 na Suíça e do qual o Brasil é
signatário), cuja função é de “estabelecer e administrar regras para o procedimento em comércio
internacional, ajudar os governos a reduzir tarifas alfandegárias ou aduaneiras e abolir as barreiras
comerciais entre as partes contratantes”.
No âmbito regional, temos o Mercosul – Mercado Comum do Sul.

TRATADOS INTERNACIONAIS: Os tratados internacionais são celebrados pelo Presidente da


República, mas para serem incorporados ao ordenamento jurídico nacional dependem de referendo
do Congresso Nacional, via Decreto Legislativo (art. 49, I, da CF), e de promulgação e publicação
por decreto do Presidente da República. A partir de sua incorporação, o tratado internacional tem
força de lei ordinária (v. art.98 do CTN) e como tal está sujeito ao controle de sua
constitucionalidade.
Atualmente, em razão do Mercosul, as alíquotas do Imposto de Importação estão relacionadas
na Tarifa Externa Comum (TEC), tabela que utiliza nomenclatura comum a todos os países
integrantes do Tratado.
Pelo sistema alfandegário denominado protecionista funda-se na teoria de que deve ser criada uma
situação de privilégio para a produção nacional em face da similar estrangeira, a fim de compensar
desigualdades econômicas.

VALOR DO IMPOSTO: A cobrança do imposto se faz com base na classificação dos produtos
importados, conforme fixado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e exposto na listagem
denominada Tarifa Aduaneira Brasil (TAB). A fixação de valor mínimo deve decorrer de ato com
motivação expressa (Súmula 97 do extinto TFR).

ALÍQUOTA ESPECÍFICA: A base de cálculo do imposto de importação, quando a alíquota é


específica, é a quantidade de mercadoria, expressa na unidade de medida adotada pela lei
tributária. Por alíquota específica entende-se aquela que prevê importâncias fixas, aplicáveis em
relação aos modos de apresentação do produto importado (x por comprimento, x por peso etc. – art.
20, I, do CTN e art. 2º do Dec. – Lei n. 37/66).

ALÍQUOTA AD VALOREN: Quando a alíquota é ad valorem (art. 20, II, do CTN), a base de cálculo
é a expressão monetária do produto importado, sobre a qual incide um percentual. O valor do
produto consta da fatura comercial expedida no lugar de origem da mercadoria. O Fisco,
porém, não é obrigado a aceitá-lo, podendo optar pelo chamado “preço normal”, definido
como sendo aquele que o produto, ou seu similar, alcançaria ao tempo da importação, em
uma venda em condições de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do
produto no País.
Na hipótese da alíquota ad valorem, a autoridade alfandegária também pode recorrer ao “preço de
referencia” (fixado pela Secex, quando ocorrer acentuada disparidade nos preços de importação de
produtos de diversas origens, de tal maneira que prejudique a produção do similar nacional) ou à
“pauta de valor mínimo” (quando o preço do produto importado for de difícil aplicação ou se
verifique a prática de dumping).
O dumping consiste na união de exportadores (e muitas vezes dos exportadores e seus respectivos
governos) para introduzirem, no exterior, determinados produtos, por preços inferiores aos de
marcados no país de origem, ou mesmo abaixo de seu preço de custo, com o intuito de aniquilar a
concorrência no país de destino. Por essa razão, as tarifas aduaneiras ou alfandegárias não devem
observância ao princípio da anterioridade, sendo deferido ao Poder Executivo alterar, nos limites da
lei, as alíquotas dentro de um mesmo exercício financeiro.

DATA DA OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR: Conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal


(RE 73.419), a alíquota aplicável é aquela contemporânea da efetiva introdução do produto no
estrangeiro no território nacional (REGISTRO SISCOMEX).

Por fim temos por base de cálculo o preço da arrematação do produto apreendido ou
abandonado que é levado a leilão. Há que observar a inexistência de fraude, como no caso citado
por Aliomar Baleeiro em que o importador retira uma carta de um baralho a fim de afastar outros
arrematantes e adquirir o bem por preço vil, pagando um imposto mínimo, hipótese que, em sendo
conhecido o importador, pode ser ele chamado a pagar a diferença do imposto.

Contribuinte: É contribuinte do imposto de importação:


a) importador, (assim considerada qualquer pessoa física ou jurídica que promova a entrada de
mercadoria estrangeira destinada a permanecer de forma definitiva no território nacional) ou quem a
lei a ele equiparar;
b) o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados;
c) o destinatário de remessa postal internacional indicado pelo respectivo remetente (art.31, II, do
Dec. – Lei n.37/66); e
d) o adquirente da mercadoria entrepostada.
Para efeito do cálculo do imposto, os valores em moeda estrangeiros devem ser convertidos
em moeda nacional, à taxa de câmbio vigente no momento da entrada, no País, da mercadoria
importada (no caso da mercadoria despachada para consumo deve ser considerado o câmbio do
dia do registro, na repartição competente, da declaração de desembaraço aduaneiro). Nesse sentido
as Súmulas 46 e 47 do extinto Tribunal Federal de Recursos.
1) O drawback: forma de proteção da indústria nacional pela qual o produtor, por ocasião da
exportação do produto acabado, é ressarcido do imposto incidente sobre a importação de insumos
de origem estrangeira. Na prática pode ser efetivado via suspensão (susta-se o pagamento do
imposto do bem estrangeiro destinado exclusivamente à produção de produto nacional que será
exportado), isenção (dispensa do imposto de importação do produto estrangeiro em quantidade
necessária à elaboração do produto nacional a ser exportado) e restituição (concessão de crédito
fiscal do valor do imposto que incidiu sobre produto estrangeiro utilizado na elaboração do produto
nacional exportado).

2) A cláusula da nação mais favorecida: os países contratantes de acordo de comércio obrigam-


se a conceder um ao outro a mesma vantagem que conceder a uma terceira nação, estranha ao
tratado. É um dos principais pontos do GATT.

3) As uniões aduaneiras: tratados pelos quais dois ou mais países consentem em adotar tarifas
mútuas ou idênticas, a fim de formarem um bloco econômico.

4) A colis (encomenda) postaux (postal): é um processo simplificado de importação (dispensa o


despachante aduaneiro), feito via serviços de correio dos países de origem e destinatário da
mercadoria importada. Recebendo a mercadoria, o correio do país destinatário expede um aviso ao
destinatário, que comparecendo preenche um formulário próprio para a liberação do produto.

Pena de perdimento

Decreto-Lei 1.455/76: pena de perdimento.


“Art 23. Consideram-se dano ao Erário as infrações relativas às mercadorias:
I - importadas, ao desamparo de guia de importação ou documento de efeito equivalente, quando a
sua emissão estiver vedada ou suspensa na forma da legislação específica em vigor;
II - importadas e que forem consideradas abandonadas pelo decurso do prazo de permanência em
recintos alfandegados (...)
§ 1o O dano ao erário decorrente das infrações previstas no caput deste artigo será punido com a
pena de perdimento das mercadorias.” (Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002)

Pena de perdimento: constitucional?

CF/88, Art. 5º (...)


XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: (...)
b) perda de bens; (...)
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.

Por tal razão, em matéria sumulada, o Supremo Tribunal Federal já consignou que "é inadmissível a
apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos" (Súmula 323). Como
conseqüência da posição do Pretório Excelso, os Tribunais uniformizaram sua jurisprudência,
sempre prestigiando a Súmula e impedindo que o Fisco utilizasse da apreensão de mercadorias
para coagir o contribuinte a efetuar o pagamento do tributo tido como devido. Neste sentido:

A Fazenda Pública só poderá cobrar seus créditos através de execução


fiscal e na forma da Lei nº 6.830/80, não tendo a autoridade administrativa
autorização para apreender, reter e leiloar mercadorias para receber multas e taxas
– Súmula nº 323 do STF. [01] (Grifou-se).

Não obstante, recente decisão proferida pelo Supremo Tribunal na ADIn 395-0 (DJ 17.08.2007) tem
espalhado notícia que a Corte teria adotado nova postura, revisando sua jurisprudência, na medida
que teria autorizado a Fazenda Pública reter mercadoria desacompanhada de documentação
idônea.

A ementa do julgado tem a seguinte redação:

Ação Direta de Inconstitucionalidade. Art. 167, §7º, da Constituição de São


Paulo. Inocorrência de Sanções Políticas. Ausência de afronta ao art. 5º, inciso XIII,
da Constituição da República.

1. A retenção da mercadoria, até a comprovação da posse legítima daquele


que a transporta, não constitui coação imposta em desrespeito ao princípio do
devido processo legal tributário.

2. Ao garantir o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, o art.


5º, inciso XIII, da Constituição da República o faz de forma absoluta, pelo que a
observância dos recolhimentos tributários no desempenho dessas atividades impõe-
se legal e legitimamente.

3. A hipótese de retenção temporária de mercadorias prevista no art. 163,


§7º, da Constituição de São Paulo, é providência para a fiscalização do
cumprimento da legislação tributária nesse território e consubstancia exercício do
poder de polícia da Administração Pública Fazendária, estabelecida legalmente para
os casos de ilícito tributário. Inexiste, por isso mesmo, a alegada coação indireta do
contribuinte para satisfazer débitos com a Fazenda Pública.

4. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente [02].

Pena de perdimento

Poderia a lei criar novas hipóteses de pena de perdimento?

STF parece entender que sim, desde que se aplique o devido processo legal (RE 251.008-Ag, Rel.
Min. Cesar Peluzo).
Mesmo com este entendimento, o devido processo legal deve ser judicial, e jamais administrativo.

Você também pode gostar