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O que é zona primária e zona secundária para fins de determinação do território aduaneiro?

R – Para fins de determinação do território aduaneiro, a zona primária pode ser compreendida
como uma área demarcada por uma autoridade aduaneira local (Delegado ou Inspetor da RFB)
tais como os pátios, terminais, áreas de verificação de bagagens, lojas francas, fábricas, lojas
comerciais e afins.

Já a zona secundária, é tudo aquilo que não está incluído na zona primária. A zona secundária
compreende o resto do território nacional (a parte do território aduaneiro que não foi
demarcada como zona primária), sendo determinada por exclusão, pois na zona secundária
estão incluídas as águas territoriais e o espaço aéreo Área de Controle Integrado – ACI,
incluindo ainda entrepostos, depósitos, terminais, depósitos de remessas postais
internacionais, águas territoriais, áreas terrestres e espaço aéreo, nos termos do art. 3º RA.

Incide IPI sobre a revenda de produtos importados sem industrialização? Fundamente com
base na legislação, doutrina e jurisprudência.

R – Sim, é constitucional a incidência de IPI sobre a revenda de produtos importados sem


industrialização. Em decisão prolatada pelo STF em agosto de 2020, este decidiu que os
produtos importados estão sujeitos a uma nova incidência do IPI, quando ocorre sua saída do
estabelecimento do importador na operação de revenda, por mais que não tenham sofrido
industrialização no Brasil. Ademais, sustentou-se que o IPI não incide sobre a industrialização
em si, mas sobre a operação com produtos industrializados, sendo esse o único limite imposto
pela CF/88 ao legislador ordinário para a eleição das hipóteses de incidência do imposto, este
exposto no tema 906 do STF.

Inclusive, de acordo com o artigo 46, inciso II, do CTN, o IPI tem como fato gerador a saída do
produto industrializado do estabelecimento do importador, já que a ausência de operação de
industrialização no Brasil em relação ao produto importado não impede a cobrança do IPI na
revenda pelo importador.

Ainda sobre o tema, podemos citar o julgado abaixo:

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO TRIBUTÁRIO.RECURSO


REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. IMPOSTO SOBRE PRODUTOS
INDUSTRIALIZADOS - IPI. FATO GERADOR. INCIDÊNCIA SOBRE OS IMPORTADORES NA
REVENDA DE PRODUTOS DE PROCEDÊNCIA ESTRANGEIRA. FATO GERADOR AUTORIZADO PELO
ART. 46, II, C/C 51, PARÁGRAFO ÚNICO DO CTN. SUJEIÇÃO PASSIVA AUTORIZADA PELO ART.
51, II, DO CTN, C/C ART. 4º, I, DA LEI N. 4.502/64. PREVISÃO NOS ARTS.9, I E 35, II, DO
RIPI/2010 (DECRETO N. 7.212/2010).1. Seja pela combinação dos artigos 46, II e 51, parágrafo
único do CTN - que compõem o fato gerador, seja pela combinação do art. 51, II, do CTN, art.
4º, I, da Lei n. 4.502/64, art. 79, da Medida Provisória n. 2.158-35/2001 e art. 13, da Lei n.
11.281/2006 - que definem a sujeição passiva, nenhum deles até então afastados por
inconstitucionalidade, os produtos importados estão sujeitos a uma nova incidência do IPI
quando de sua saída do estabelecimento importador na operação de revenda, mesmo que não
tenham sofrido industrialização no Brasil. 2. Não há qualquer ilegalidade na incidência do IPI
na saída dos produtos de procedência estrangeira do estabelecimento do importador, já que
equiparado a industrial pelo art. 4º, I, da Lei n. 4.502/64, com a permissão dada pelo art. 51, II,
do CTN.3. Interpretação que não ocasiona a ocorrência de bis in idem, dupla tributação ou
bitributação, porque a lei elenca dois fatos geradores distintos, o desembaraço aduaneiro
proveniente da operação de compra de produto industrializado do exterior e a saída do
produto industrializado do estabelecimento importador equiparado a estabelecimento
produtor, isto é, a primeira tributação recai sobre o preço de compra onde embutida a
margem de lucro da empresa estrangeira e a segunda tributação recai sobre o preço da venda,
onde já embutida a margem de lucro da empresa brasileira importadora. Além disso, não
onera a cadeia além do razoável, pois o importador na primeira operação apenas acumula a
condição de contribuinte de fato e de direito em razão da territorialidade, já que o
estabelecimento industrial produtor estrangeiro não pode ser eleito pela lei nacional brasileira
como contribuinte de direito do IPI (os limites da soberania tributária o impedem), sendo que
a empresa importadora nacional brasileira acumula o crédito do imposto pago no
desembaraço aduaneiro para ser utilizado como abatimento do imposto a ser pago na saída do
produto como contribuinte de direito (não-cumulatividade), mantendo-se a tributação apenas
sobre o valor agregado. 4. Precedentes: REsp. n. 1.386.686 - SC, Segunda Turma, Rel.
Min.Mauro Campbell Marques, julgado em 17.09.2013; e REsp. n. 1.385.952 - SC, Segunda
Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 03.09.2013. Superado o entendimento
contrário veiculado nos EREsp.nº 1.411749-PR, Primeira Seção, Rel. Min. Sérgio Kukina,
Rel.p/acórdão Min. Ari Pargendler, julgado em 11.06.2014; e no REsp. n.841.269 - BA, Primeira
Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 28.11.2006.5. Tese julgada para efeito do art.
543-C, do CPC: "os produtos importados estão sujeitos a uma nova incidência do IPI quando de
sua saída do estabelecimento importador na operação de revenda, mesmo que não tenham
sofrido industrialização no Brasil".6. Embargos de divergência em Recurso especial não
providos. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008.
(EREsp 1403532/SC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/10/2015, DJe 18/12/2015)

A concessionária AutoShow Ltda., sediada em São Paulo, SP, planeja importar um


automóvel para ser utilizado como veículo de test drive e para transporte dos
empregados, integrando o seu ativo não-circulante (imobilizado). O veículo não será
revendido. A empresa calcula o PIS e a COFINS com base no regime não-cumulativo
(com desconto de créditos).

Calcule os valores bruto e líquido (com potenciais créditos) da operação de importação

Dados:

NCM/SH: 8703.24.10

Valor FOB: R$ 400.000,00

Frete: R$ 70.000,00

Seguro: R$ 30.000,00
Alíquota II: 35%

Alíquota IPI-Imp: 35%

Alíquota PIS-Imp.: 2,62%

Alíquota COFINS-Imp.: 12,57%

Alíquota ICMS: 18%

R - O sale price da operação será o montante de R$ 1.203.902,44, onde o CIF (valor da


mercadoria + frete internacional + seguro internacional) será de R$ 500.000,00.

Acerca do somatório dos tributos, temos o valor de R$ 703.902,44, considerando que o valor
de R$ 175.000,00 refere-se ao II, R$ 236.250,00 refere-se ao IPI, R$ 13.100,00 refere-se ao PIS,
R$ 62.850,00 refere-se a COFINS e R$ 216.702,44 refere-se ao ICMS.

Como o produto não será revendido e passará a integrar o ativo imobilizado da empresa,
existe potencial crédito de ICMS e PIS/COFINS. Dessa forma, a empresa concessionária
AutoShow Ltda pode conseguir o crédito no importe de R$ 216.702,44, a título de ICMS, R$
13.100,00, a título de PIS e R$ 62.850,00, a título de COFINS, o montante é de R$ 292.652,44
de crédito, o que, retirando do valor bruto exposto, resultará no valor líquido da operação no
montante de R$ 911.250,00.

4 - Discorra sobre a cláusula de não discriminação do acordo GATT e seu impacto para o PIS-
Importação e a COFINS-importação.

R – A cláusula de não discriminação do acordo GATT é basicamente uma cláusula que, em


linhas gerais, garante o tratamento mais favorável já concedido a um terceiro à contraparte de
um acordo-base, conforme disciplina o art.98 do CTN. Ainda, sua origem remonta à Carta de
Havana, oportunidade em que os Membros se comprometeram a "não discriminar os
investidores estrangeiros". Quando a cláusula foi positivada no acordo que criou a Organização
Mundial do Comércio (OMC), o Acordo Geral sobre Comércio e Tarifas (GATT) de 1994, o
tratamento NMF tornou-se recorrente em múltiplos acordos a níveis bilateral, regional e
multilateral, tanto no comércio internacional quanto em investimentos.

Não obstante, os impostos e outros tributos internos, assim como leis, regulamentos e
exigências relacionadas com a venda, oferta para venda, compra, transporte, distribuição ou
utilização de produtos no mercado interno e as regulamentações sobre medidas quantitativas
internas que exijam a mistura, a transformação ou utilização de produtos, em quantidade e
proporções especificadas, não devem ser aplicados a produtos importados ou nacionais, de
modo a proteger a produção nacional.

Em relação ao impacto para o PIS-Importação e a COFINS-importação, de acordo com o STJ, o


princípio do tratamento nacional não se aplicaria ao PIS-Importação e Cofins-Importação,
conforme REsp 1.437.172/RS, já que, PIS/Cofins-importação é tributo interno.

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