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Tecnologia Agrícola

Prof.ª Juçara Elza Hennerich

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Prof.ª Juçara Elza Hennerich

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

H515t
Hennerich, Juçara Elza
Tecnologia agrícola. / Juçara Elza Hennerich. – Indaial: UNIASSELVI,
2020.
222 p.; il.
ISBN 978-65-5663-006-9
1. Tecnologia. - Brasil. 2. Sistema agrícola. – Brasil. Centro
Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 600

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! A busca pela tecnologia permeia o desenvolvimento
humano desde seus primórdios e tem na produção de alimentos um papel
fundamental na manutenção da vida como a conhecemos. Em sua definição,
tecnologia é a teoria geral e/ou o estudo sistemático de técnicas, processos,
métodos, meios e instrumentos da atividade humana, o que nos permite en-
tender que até a técnica de seguir o fluxo migratório de animais em busca de
alimentos, ainda na era nômade do ser humano, já fazia parte da busca e da
construção da tecnologia.

O desenvolvimento de técnicas ocorreu mais intensivamente após a


fixação do homem em determinado território, quando, pela observação e ne-
cessidade de produzir o alimento para sua sobrevivência, domesticou plantas
e animais, selecionou sementes, aprendeu a observar a natureza e relacioná-
-la à produção vegetal e animal. Assim, começou a desenvolver ferramentas
de pedra, depois de madeira, culminando no surgimento da metalurgia.

Fato é que o agricultor sempre buscou adequar e criar formas de pro-


duzir mais e melhor. Essa busca passou a ser mais ampla com o advento da
Revolução Industrial – tornando-se um objetivo dos Estados e do setor priva-
do – e mais intensiva com a Revolução Verde, trilhando um caminho de con-
solidação da agricultura como forma de manutenção da sociedade em geral.

Através dessa busca, chegamos à tecnologia embarcada, ao uso de


satélites e computadores de bordo, à gestão de fatores e informações diversas
e à integração de recursos pela conectividade, que culminam no aumento e
melhoria da produção.

Nesse momento da história, com um imenso território de conheci-


mento a ser explorado, devemos voltar novamente nossos olhos para a ob-
servação e o estudo de métodos e processos, dentre eles aqueles que prepa-
ram o capital humano para atuar junto ao agricultor.

Nas próximas páginas deste material, você, acadêmico, terá diversas


informações que têm o objetivo de instigar e inspirar sua construção de co-
nhecimento, desde a fundamentação da mecânica agrícola até o uso de fon-
tes alternativas de energia. A busca, porém, não se encerra nesta publicação,
dada a contínua produção de pesquisadores, instituições privadas, públicas,
de ensino e extensão, do próprio agricultor e da sociedade em geral que,
apesar de cada vez mais automatizada, sempre terá o capital humano como
gestor, propulsor e objetivo final de sua construção.

III
Desejamos a você, acadêmico, um ótimo percurso de estudo. Que o
material aqui exposto possa somar ao objetivo de desenvolvimento de tec-
nologias para uma produção de alimentos em quantidade e qualidade, que
corresponda às necessidades de alimentação da sociedade, mas que também
atenda às questões ambientais, sociais e econômicas de todos nós!

Bons estudos!
Professora Juçara Elza Hennerich.

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

IV
V
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

VI
Sumário
UNIDADE 1 – FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL.............1

TÓPICO 1 – MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA......................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................3
2 MECÂNICA AGRÍCOLA.......................................................................................................................3
2.1 FÍSICA APLICADA À MECANIZAÇÃO.......................................................................................4
2.1.1 Características mecânicas da relação solo máquina..............................................................8
2.2 SISTEMA INTERNACIONAL DE ITENS DE MEDIDA.............................................................10
2.3 ABRIGO E OFICINA RURAL.........................................................................................................13
2.3.1 Espaço físico..............................................................................................................................14
2.3.2 Fatores a serem considerados. . .............................................................................................16
2.3.3 Partes constituintes..................................................................................................................16
2.3.4 Equipamento e ferramentaria.................................................................................................18
2.3.5 Instrumentos de medida.........................................................................................................19
2.3.6 Segurança na utilização dos equipamentos.........................................................................20
2.4 ESTRUTURA DE MANUTENÇÃO DA PROPRIEDADE RURAL...........................................21
2.5 ELABORAÇÃO DE PLANOS DE MANUTENÇÃO E REPAROS............................................21
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................25
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................27
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................28

TÓPICO 2 – PRODUÇÃO E CONSUMO DE ENERGIA NA AGRICULTURA..........................31


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................31
2 ENERGIA NA AGRICULTURA.........................................................................................................31
2.1 PERSPECTIVAS E REALIDADE DA AGRICULTURA NACIONAL NA PRODUÇÃO
E NO CONSUMO DE ENERGIA...................................................................................................33
2.2 FONTES DE PRODUÇÃO E USO DE ENERGIA NO MEIO RURAL......................................35
2.3 ENERGIA DERIVADA DO PETRÓLEO.......................................................................................38
2.4 ENERGIA ALTERNATIVA E RENOVÁVEL................................................................................40
2.4.1 Biomassa....................................................................................................................................40
2.4.2 Eólica..........................................................................................................................................42
2.4.3 Solar............................................................................................................................................42
2.5 BALANÇOS ENERGÉTICOS AGROPECUÁRIOS......................................................................43
2.5.1 Métodos e formas de conversão e utilização de energia....................................................45
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................48
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................50
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................51

TÓPICO 3 – SISTEMA DE SEMEADURA..........................................................................................53


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................53
2 SEMEADURA ........................................................................................................................................53
2.1 SISTEMA DE SEMEADURA CONVENCIONAL.......................................................................54
2.2 SISTEMA DE SEMEADURA DIRETA...........................................................................................55
2.2.1 Características de solo determinantes para a relação solo máquina................................56

VII
2.3 MÁQUINAS PARA SEMEADURA DIRETA................................................................................57
2.3.1 Considerações anteriores à semeadura.................................................................................57
2.3.2 Semeadoras-adubadoras.........................................................................................................58
2.3.3 Componentes............................................................................................................................60
2.3.4 Sistema de corte........................................................................................................................61
2.3.5 Sistema de abertura de sulcos................................................................................................61
2.3.6 Dosagem e distribuição de fertilizantes................................................................................61
2.3.7 Dosagem e distribuição de sementes....................................................................................62
2.3.7.1 Velocidade periférica dos discos dosadores................................................................62
2.3.7.2 Tubo de descarga das sementes.....................................................................................62
2.3.7.3 Compatibilidade do disco em relação às sementes.....................................................62
2.3.7.4 Sistema de controle de profundidade de semeadura.................................................63
2.3.8 Sistema de aterramento e cobertura do sulco......................................................................63
2.3.9 Sistema de compactação do solo............................................................................................63
2.3.10 Sistema de acabamento da semeadura...............................................................................63
2.3.11 Velocidade da operação de semeadoras e distribuição longitudinal de sementes.......64
2.4 PLANEJAMENTO DA OPERAÇÃO AGRÍCOLA DE SPD.......................................................64
2.4.1 Construção de fluxograma e dimensionamento do sistema..............................................64
2.5 CARACTERÍSTICAS E FINALIDADES DAS CULTURAS DE INTERESSE
ECONÔMICO...................................................................................................................................65
2.6 SIMPLIFICAÇÕES DO SPD E A SUSTENTABILIDADE DA PRODUTIVIDADE
AGRÍCOLA........................................................................................................................................65
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................67
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................70
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................71

UNIDADE 2 – TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS....................73

TÓPICO 1 – ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS.............................75


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................75
2 ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS..................................................75
2.1 DESCRIÇÃO DE SISTEMAS DE INSTRUMENTAÇÃO DISPONÍVEIS NO MERCADO.......76
2.2 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA INSTRUMENTAÇÃO ELETRÔNICA EM TRATORES.......80
2.2.1 Medida de velocidade e patinamento...................................................................................86
2.2.2 Medida de fluxo de combustível...........................................................................................89
2.2.3 Medida de área trabalhada.....................................................................................................90
2.3 APLICAÇÕES PRÁTICAS DE INSTRUMENTAÇÃO ELETRÔNICA EM MÁQUINAS
AGRÍCOLAS......................................................................................................................................90
2.3.1 Pulverização..............................................................................................................................91
2.3.2 Semeadura . ..............................................................................................................................95
2.3.3 Medida de vazão de calda em pulverizadores....................................................................96
2.3.4 Medida de fluxo de sementes em semeadoras....................................................................97
2.4 MEDIDA DE PERDAS DE GRÃOS EM COLHEDORAS...........................................................98
2.5 ADEQUAÇÃO DO USO DA TECNOLOGIA À TIPOLOGIA DE PRODUÇÃO....................99
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................101
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................104
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................105

TÓPICO 2 – EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO...................................107


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................107
2 EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO.......................................................109

VIII
2.1 PRINCIPAIS OPERAÇÕES DESENVOLVIDAS PELA AGRICULTURA DE PRECISÃO.....111
2.2 EQUIPAMENTOS MAIS UTILIZADOS NAS OPERAÇÕES...................................................111
2.2.1 Barra de luzes.........................................................................................................................112
2.2.2 Sensores e atuadores..............................................................................................................113
2.2.3 Piloto automático...................................................................................................................116
2.2.4 Computador de bordo...........................................................................................................119
2.3 SISTEMAS COMERCIAIS DA AGRICULTURA DE PRECISÃO............................................120
2.4 MAPAS DE ATRIBUTOS DE SOLO.............................................................................................122
2.5 MAPAS DE RENDIMENTO E DE CUSTOS...............................................................................125
2.6 APLICAÇÃO DE PRODUTOS EM TAXA VARIÁVEL.............................................................127
2.7 DIAGNÓSTICO DE FALHAS E CORREÇÃO DE EQUIPAMENTOS...................................128
2.8 USO DE VEÍCULOS AÉREOS NÃO TRIPULADOS (VANT) NA AGRICULTURA
DE PRECISÃO.................................................................................................................................129
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................132
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................136
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................137

UNIDADE 3 – AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA....................141

TÓPICO 1 – AVIAÇÃO AGRÍCOLA..................................................................................................143


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................143
2 AVIAÇÃO AGRÍCOLA......................................................................................................................143
2.1 REGULAMENTOS E NOÇÕES DE AERODINÂMICA...........................................................144
2.2 CARACTERÍSTICAS DO AVIÃO AGRÍCOLA..........................................................................150
2.3 PISTAS E ESTRUTURA DE ABASTECIMENTO: REQUISITOS BÁSICOS...........................154
2.4 TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO COM AVIÃO.......................................................................160
2.5 VOO DO AVIÃO AGRÍCOLA: NOÇÕES DE PILOTAGEM E MANOBRAS........................162
2.6 ELABORAÇÃO E FISCALIZAÇÃO DO GUIA DE APLICAÇÃO..........................................165
2.7 RELATÓRIO DE APLICAÇÃO.....................................................................................................166
2.8 LEGISLAÇÃO E SEGURANÇA DE USO DA AVIAÇÃO AGRÍCOLA.................................169
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................172
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................175
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................177

TÓPICO 2 – TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA.................................................................................179


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................179
2 TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA.....................................................................................................179
2.1 PLANEJAMENTO DO CICLO PRODUTIVO E A INFLUÊNCIA NA PÓS-COLHEITA......182
2.2 EQUIPAMENTOS PARA SECAGEM DE GRÃOS, FIBRAS E PLANTAS.............................184
2.3 EQUIPAMENTOS PARA LIMPEZA DE GRÃOS E SEPARAÇÃO DE IMPUREZAS..........192
2.4 EQUIPAMENTOS PARA MOVIMENTAÇÃO E ACONDICIONAMENTO DE
PRODUTOS AGRÍCOLAS.............................................................................................................193
2.5 EQUIPAMENTOS PARA ARMAZENAMENTO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS................197
2.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE PÓS-COLHEITA DE FRUTAS E HORTALIÇAS......................198
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................201
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................205
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................207

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................209

IX
X
UNIDADE 1

FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO
NA PROPRIEDADE RURAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os fundamentos da mecanização agrícola na propriedade rural;

• compreender a mecanização como parte constituinte da rotina agrícola;

• conhecer as principais fontes de energia na utilização de máquinas agrícolas;

• entender e relacionar os principais passos da semeadura direta com o


adequado planejamento na propriedade rural;

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

TÓPICO 2 – PRODUÇÃO E CONSUMO DE ENERGIA NA AGRICULTURA

TÓPICO 3 – SISTEMA DE SEMEADURA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico! Neste tópico, vamos abordar os fundamentos da mecani-


zação na propriedade rural. Deste modo, após uma breve introdução e conceitu-
ação, veremos suas principais fontes de energia, suas aplicações, noções gerais da
implantação e gestão de uma oficina rural.

A mecanização na agricultura é tão antiga quanto a própria intenção do


homem em cultivar alimentos. Desde os primórdios, desenvolver equipamentos
a fim de amenizar a intensidade e o esgotamento físico do agricultor foram na-
turalmente sendo buscadas e aprimoradas. No entanto, foi após a Revolução In-
dustrial, no século XVIII, que essa busca se intensificou, modificando o cenário
agrícola de forma irreversível.

A produção de alimentos sempre foi dependente das relações do homem


com o ecossistema, além das próprias variações da natureza, já que é uma atividade
aberta. Assim, está exposta às intempéries e variações de clima e sujeita a fatores
como água, solo, luz, temperatura e todas as suas inúmeras e complexas relações.

Dessa forma, a busca por quantidade e qualidade de alimentos é paralela


à busca pelo aprimoramento de equipamentos e máquinas que, além de facilitar
os processos de produção, sejam eficientes, de baixo custo e adaptáveis às dife-
rentes regiões e condições econômicas, ambientais e sociais do agricultor.

A correta caracterização e conhecimento da mecanização agrícola é um


instrumento muito importante no gerenciamento das expectativas e objetivos do
agricultor junto a sua propriedade rural. A correta escolha, utilização e manuten-
ção dos seus maquinários são definitivos para o sucesso de sua produtividade e,
consequentemente, de sustentabilidade da produção agrícola.

2 MECÂNICA AGRÍCOLA
A mudança de uma agricultura de subsistência para uma responsável por
alimentar a população urbana – a qual teve início com as mudanças sociais da Re-
volução Industrial - atribui, até a atualidade, a necessidade constante do aumento

3
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

de produtividade. Nas últimas décadas, essa necessidade junta-se a outras inú-


meras cobranças e responsabilidades, como a redução de impactos ambientais, a
busca de qualidade nos produtos finais, as relações justas com mão de obra, a busca
e concretização de novos mercados, e a constante redução de custos de produção.

Neste sentido, cada setor que compõe um processo produtivo deve ser
exaustivamente conhecido, entendido e planejado pelo agricultor e pelos demais
envolvidos no processo produtivo.

A mecânica das máquinas agrícolas surge nesse cenário como um compo-


nente capaz de proporcionar eficiência, redução de trabalho e resultados na pro-
dutividade. Contudo, quando não observado e valorizado de forma adequada,
pode resultar na elevação do custo de produção, má qualidade de produto e até
na falência financeira de uma propriedade rural.

Compreender a mecânica das máquinas agrícolas é o primeiro passo para


entender a mecanização nesse importante e amplo contexto da produção rural.
Cada componente de um sistema mecânico tem sua função, especificidades de
uso e manutenção e relações com a energia a ser utilizada ou produzida. A meca-
nização agrícola é um ramo da engenharia mecânica e como tal tem sua base de
idealização e uso relacionada à física e susceptível as relações de uso e manuten-
ção gerenciadas pelo condutor.

E
IMPORTANT

Boa parte dos problemas relacionados à mecanização poderiam ser evitados


pela simples leitura dos manuais de uso e manutenção das máquinas, bem como pela
capacitação dos operadores.

2.1 FÍSICA APLICADA À MECANIZAÇÃO


Muitos são os conceitos da física que fundamentam a mecânica, mas aqui
nos concentraremos nos principais: força, energia e potência. Estes são, de forma
simplificada, condutores, formadores dos demais processos, resultados e conse-
quências de um sistema mecânico.

Fernandes (2017) apresenta a definição de Mecânica Aplicada como um


ramo da Engenharia que procura estabelecer fórmulas e coeficientes compatíveis
com a natureza e condição de cada material, com base nos princípios e leis básicas
da mecânica teórica.

4
TÓPICO 1 | MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

A Tabela 1 relembra algumas definições da física que são importantes


para a compreensão da mecânica básica.

TABELA 1 – DEFINIÇÕES DE FÍSICA BÁSICA


Item Definição Fórmula
Força Ação que um corpo exerce sobre outro, tendendo a mudar ou F = m.a
modificar seus movimentos, posições, tamanhos ou formas. F: força
m: massa do corpo
a: aceleração adquirida
Trabalho Está associado a um movimento e a uma força. Toda vez que T = F.d
uma força atua sobre um corpo produzindo movimento, rea- T: trabalho (J)
lizou-se trabalho, grandeza física relacionada à transferência F: força (N)
de energia devido à atuação de uma força. d: deslocamento (m)
Torque Grandeza física associada ao movimento de rotação de um T = F.r
corpo em razão da ação de uma força. É o produto de uma T = torque
força por um raio. F = Força perpendicu-
lar ao ângulo com r
r = raio
Potência Quantidade de trabalho realizado em uma unidade de tempo P = T/Δt
ou a taxa de energia em função do tempo. P: potência média (W)
T: trabalho (J)
Δt: intervalo de tem-
po (s)
Inércia Resistência que todos os corpos materiais opõem a uma mu- M = I.α
dança de movimento. A quantidade I é co-
O momento de inércia relaciona-se tanto com a massa quanto nhecida como o mo-
com o raio da trajetória circular. mento de inércia do cor-
po e a sua unidade no
SI é kg.m2.
Peso (carga) Força gravitacional de atração exercida pela Terra sobre um P = m.g (g = 9,8 m/s2)
corpo. Força na vertical (carga). P: peso
M: massa
g: gravidade
Força Força que aparece na direção radial quando um corpo está F = m.a
Centrípeta em movimento curvilíneo, ou seja, a força resultante sobre ac = v2/r ou ac = ω2.r
um corpo em um movimento circular. Fc = m.v 2 /r ou Fc =
m.ω2.r
Fc: Força centrípeta
ac: aceleração centrí-
peta
m: massa
r: raio
v: velocidade
ω: velocidade angular
FONTE: Adaptado de Fernandes (2017, s.p.)

As definições de física básica perfazem qualquer implemento ou máquina


agrícola. Embora durante a sua utilização não se percebam as particularidades e
propriedades da física em ação, ela pode ser medida ou encontrada em todas as
situações, vejamos alguns exemplos a seguir (PEÇA, 2012):

5
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

a) Em um trator parado, em equilíbrio sobre o solo (Figura 1), podemos observar


as forças da física. Suponhamos que o trator em questão tem 2,2 m de distância
entre os eixos e pesa 24,5 kN sem lastro, estando o centro de gravidade a 0,80
m do eixo traseiro.

FIGURA 1 – FIGURA HIPOTÉTICA DE UM TRATOR EM EQUILÍBRIO

FONTE: Peça (2012, p. 9)

Nessa situação, o sistema de forças é constituído pelo peso próprio do


trator e pelas forças de contato com o solo. Na prática, esses pontos podem in-
fluenciar diretamente na compactação do solo, no equilíbrio e facilidade de des-
locamento do trator, na segurança do manobrista, na energia gasta nas operações,
entre outros pontos.

b) Em outra perspectiva podemos visualizar a geração da força de trabalho, que


neste caso é exemplificada pela tração animal (Figura 2), sendo um importante
instrumento de medição da produção de energia utilizada no desenvolvimento
e na mensuração de máquinas e equipamentos.

6
TÓPICO 1 | MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

FIGURA 2 – ILUSTRAÇÃO DE GERAÇÃO DE FORÇA POR TRAÇÃO ANIMAL

FONTE: Peça (2012, p. 12)

Peça (2012) desenvolve o cálculo da tração produzida pelo animal pela


distância e finaliza com a energia gerada. Esse material é indicado na íntegra nas
leituras complementares.

No exemplo anterior, a tração produzida pelo cavalo ao longo de 30 m


de deslocamento em movimento uniforme produziu energia mecânica
potencial da carga igual a: mxgxh = 1500Nx30m = 45000J. O trabalho
de uma força foi transformado em energia mecânica potencial (PEÇA,
2012, p. 14).

É importante lembramos da potência dos motores utilizada nas máqui-


nas. Sejam elétricos ou de combustão, eles são os responsáveis por originar toda
forma de movimento delas, em que a potência é fruto do movimento pela veloci-
dade angular. O motor é responsável pela transformação da energia potencial do
combustível (ou elétrica) em energia mecânica, na forma de potência disponível
no eixo de manivelas. Nos tratores, por exemplo, a potência disponibilizada pode
ser utilizada de maneiras variáveis, conforme a necessidade da operação (FOLLE;
FRANZ, 1990):

• força de tração (barra de tração);


• torque de um eixo rotativo (tomada de potência);
• energia de pressão hidráulica (tomada hidráulica).

O objetivo dos exemplos acima é observar que em cada momento, movi-


mento realizado ou planejado no uso de máquinas e implementos, a física está
embutida. Portanto, possuem especificações, limites, capacidades e exigências
de peso, tração, trabalho e energia que devem ser conhecidas e respeitadas pelo
operador, bem como pelo responsável pelo planejamento das operações/ações

7
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

na propriedade rural. Conhecer a máquina é o primeiro cuidado do produtor, o


qual deve ser feito antes de ele executar ou desenvolver uma ação. Esse exercício
constante pode melhorar a eficiência das operações, reduzir custos, melhorar a
qualidade dos produtos entregues, proporcionar segurança ao operador, além de
ampliar a vida útil da máquina.

2.1.1 Características mecânicas da relação solo-máquina


Entre as inúmeras relações possíveis e existentes entre a mecânica agrícola
e o ambiente, optamos por detalhar aqui a relação entre o solo e a máquina. Essa
escolha está diretamente relacionada à importância da relação na sustentabili-
dade da agricultura, considerando os aspectos ambientais, sociais e econômicos.

Um solo compactado e erroneamente manejado pode causar problemas


diretos na produtividade das lavouras. No entanto, ele também pode causar pro-
blemas indiretos no assoreamento dos rios, na qualidade da água e na continui-
dade da agricultura como a conhecemos.

Para prevenir esses problemas, é essencial conhecer a dinâmica dos solos


que, segundo Balastreire (1990, p. 1): “pode ser definida como a relação entre as
forças que são aplicadas e a resultante reação do solo. Por esse motivo, ela pode
ser considerada uma combinação da ciência do solo e da mecânica”.

O solo está sujeito à ação de elementos naturais como o vento, a água e ou-
tras fontes. Contudo, é necessário considerar as reações dinâmicas que ocorrem
durante a tração ou movimentação mecânica e afetam não somente o solo, mas
também o projeto e o uso das máquinas que o manuseiam. Nesse sentido, tração
é definida como a força derivada do solo para puxar uma carga (BALASTREIRE,
1990). A força exercida sobre o solo é proveniente de um mecanismo de tração,
como uma roda ou esteira, por exemplo. Quando há uma interação entre o solo e
a movimentação mecânica promovida pela máquina, essa interação é variável de
acordo com o tipo de ação/máquina e do tipo de solo. Essas variáveis compõem a
resistência dinâmica do solo para prover tração.

São propriedades que influenciam nas dinâmicas do solo (BALASTREI-


RE, 1990):

• Tensões no solo e sua distribuição: o solo é considerado um material granu-


lar, caracterizado pela apresentação de poros distribuídos de forma variável e
também grânulos de material de origem, originando a chamada tensão normal
do solo e de cisalhamento, respectivamente. Os valores dessas tensões podem
ser calculados por modelos matemáticos, e não só recebem a influência da má-
quina ou implemento, como também compõem a definição da força de tração

8
TÓPICO 1 | MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

necessária e possível, considerando as variáveis de tensão. A umidade, o ma-


terial de origem, a estrutura do solo, o atrito entre as partículas e destas com
as moléculas de água e o peso do próprio solo e de cargas externas comporão
conjuntamente as forças de tensão. A forma de distribuição desta tensão tam-
bém é um componente variável, principalmente quando consideramos cargas
externas, podendo atingir o perfil do solo em diferentes intensidades, seja no
ponto de contato, na profundidade ou na extensão.

• Deformações no solo e sua distribuição: a aplicação de uma força ao solo


produz deformação, movimento ou os dois, isolados ou conjuntamente. A
deformação é resultado da aplicação de tensões mencionadas no item anterior,
e pode variar em grau de intensidade e de distribuição, conforme as variáveis
já consideradas para as tensões.

• Relações tensão-deformação: a relação mais conhecida e difundida é a elas-


ticidade, que, por sua vez, depende do material de origem, da distribuição
de macro e microporos e do comportamento desses dentro do solo durante
a aplicação de uma carga. Após a descarga, eles se expandem, deslocando o
solo (HILLEL, 1998; HILLEL; KROESBERGEN; HOOGMOED, 2002). Ainda,
podemos acrescentar as propriedades do material de origem, tamanho de par-
tículas, estado de decomposição do material orgânico, a fração mineral, além
da umidade do solo. Todos esses componentes e suas correlações podem afetar
a elasticidade dos solos e, portanto, suas relações de tensão e deformação (SO-
ANE, 1990; O'SULLIVAN, 1996).

• Resistência do solo: capacidade ou habilidade de um determinado solo resistir


a uma força aplicada. Uma das formas mais simples de se conferir a resistência
de um solo é avaliar os parâmetros envolvidos em suas características e condi-
ções de escoamento de água. Quanto maior a capacidade de resistência, menos
factível aos processos de compactação este solo será.

• Escoamento no solo: de maneira simplificada, é o estado de ruptura ou de-


formação permanente do solo, que ocorre quando as tensões ou deformações
excedem os valores de escoamento. Como as propriedades anteriores, o escoa-
mento também está relacionado com as inúmeras variáveis apresentadas, bem
como com suas interrelações.

As propriedades mecânicas dos solos, como já vimos, possuem particu-


laridades e especificidades relacionadas a diferentes fatores. Além disso, elas são
importantes na determinação das operações agrícolas, principalmente naquelas
ligadas ao tráfego de máquinas que podem, quando feitas indiscriminadamente,
ocasionar a compactação dos solos, sobretudo na compactação superficial, redu-
zindo os espaços de ar e água e aumentando a compressão do solo.

9
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

Quando a capacidade de suporte de carga do solo é ultrapassada


ocorre a compactação. No entanto, nem todos os solos respondem do
mesmo modo, alguns solos toleram maiores pressões antes de atingir
o nível de deformação irreversível. O comportamento físico-mecâni-
co diferente se deve a variações nas características do solo, como a
densidade inicial, o teor de argila, o conteúdo de material orgânico e
de água e mais recentemente considerada, a composição mineralógica
(SANTOS, 2016, p. 1).

A compactação do solo pode causar dificuldades no desenvolvimento do


sistema radicular das plantas, o que gera redução na sua capacidade produtiva e
capacidade de armazenamento e disponibilização de água e nutrientes, resistência
aos processos mecânicos, necessidade de maior energia para a sua realização, au-
mento das temperaturas do solo, além do escorrimento superficial do solo.

Desta forma, conhecer e considerar as propriedades dos solos em seus pla-


nejamentos e operações é mais do que buscar resultados ambientais, é potencializar
os aspectos produtivos e de rentabilidade financeira da propriedade rural.

2.2 SISTEMA INTERNACIONAL DE ITENS DE MEDIDA


O Sistema Internacional de Unidades (SI) foi adotado no Brasil em agosto
de 1962 e tem seu emprego observado e previsto nos mais variados setores da
sociedade. Apesar de seu caráter unificador, o SI não é uma convenção imutável
pois, as suas definições, relações e simbologias estão sujeitas aos avanços da pes-
quisa e tecnologia, sob a chancela da metrologia.

Segundo o BIPM (Bureau International des Poids et Mensures), em novembro


de 2018 foram acordadas redefinições no Sistema Internacional de Unidades, as
quais foram publicadas em maio de 2019. Os 60 Estados-membros do BIPM de-
cidiram unanimemente pela revisão do Sistema Internacional de Unidades (SI),
mudando a definição mundial do quilograma, do ampere, do kelvin e do mol.

As constantes da natureza, como a velocidade da luz, possuem valores


imutáveis ao longo do tempo e do espaço. Isso nos permite atribuir a essas cons-
tantes valores exatos. Da mesma forma, as unidades de quilograma, ampere, kel-
vin e mol passaram a ter valores imutáveis ao longo do tempo e espaço, como já
ocorria com a velocidade da luz. As novas unidades são do mesmo tamanho, mas
definidas de forma precisa e sem incerteza de edição associada. A nova revisão
impactou em quatro das sete unidades de base:

• O quilograma será definido em termos da constante de Planck (h).


• O ampere será definido em termos da carga elementar (e).
• O kelvin será definido em termos da constante de Boltzmann (k).
• O mol será definido em termos da constante de Avogadro (NA).

10
TÓPICO 1 | MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

A Figura 3 demonstra as sete unidades de referência do SI com as mudan-


ças definidas.

FIGURA 3 – UNIDADES BÁSICAS DE REFERENCIA PARA O SI

FONTE: Adaptado de BIPM (2019)

As sete grandezas de base, que correspondem as sete unidades de base,


são: comprimento, massa, tempo, corrente elétrica, temperatura termodinâmica,
quantidade de substância e intensidade luminosa. As grandezas de base e as uni-
dades de base se encontram listadas, com seus símbolos, na Tabela 2.

TABELA 2 – GRANDEZAS DE BASE E SUAS ESPECIFICAÇÕES


Grandeza de base Símbolo Unidade de base Símbolo
Comprimento l,h,r,x metro m
Massa M quilograma kg
Tempo, duração T segundo s
Corrente elétrica I,i ampere A
Temperatura termodinâmica T Kelvin K
Quantidade de substância N Mol mol
Intensidade luminosa Iv candela cd
FONTE: <http://www.inmetro.gov.br/consumidor/pdf/Resumo_SI.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2020

11
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

Das grandezas expostas na Tabela 2 e suas interrelações, surgem as deri-


vações, sendo as principais listadas na Tabela 3.

TABELA 3 – DERIVAÇÕES DAS GRANDEZAS DE BASE MAIS COMUMENTE UTILIZADAS E SUAS UNIDADES
Grandeza derivada Símbolo Unidade derivada Símbolo
Área A Metro quadrado. m2
Volume V Metro cúbico. m3
Velocidade v Metro por segundo. m/s
Aceleração a Metro por segundo ao quadrado. m/s 2
Número de ondas σ, ṽ Inverso do metro. m-1
Massa específica ƿ Quilograma por metro cúbico. Kg/m3
Densidade superficial ƿA Quilograma por metro quadrado. Kg/m2
Volume específico υ Metro cúbico por quilograma. m3/kg
Densidade de corrente j Ampere por metro quadrado. A/m2
Campo magnético H Ampere por metro. A/m
Concentração C Mol por metro cúbico. Mol/m3
Concentração de massa r,g Quilograma por metro cúbico. Kg/m3
Luminância Lv Candela por metro quadrado. Cd/m2
Índice de refração n Um. 1
Permeabilidade relativa µr Um. 1
FONTE: <http://www.inmetro.gov.br/consumidor/pdf/Resumo_SI.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2020

Algumas derivações recebem nomes específicos, listados na Tabela 4.

TABELA 4 – UNIDADES DERIVADAS COM NOMES ESPECIAIS NO SI


Grandeza derivada Nome da uni- Símbolo da Expressão em termos
dade derivada unidade derivada de outras unidades
Ângulo plano radiano rad m/m = 1
Ângulo sólido esterradiano sr m2/m2 = 1
Frequência hertz Hz s-1
Força newton N m kg s-2
Pressão, tensão pascal Pa N/m2 = m-1 kg s-2
Energia, trabalho, quantidade de calor joule J N m = m2 kg s-2
Potência, fluxo de energia watt W J/s = m2 kg s-3
Carga elétrica, quantidade de calor coulomb C sA
Diferença de potencial elétrico volt V W/A = m2 kg s-3 A-1
Capacitância farad F C/V = m-2 kg-1 s4 A2
Resistência elétrica ohm Ώ V/A = m2 kg s-3 A-2
Condutância elétrica siemens S A/V = m-2 kg-1 s3 A2
Fluxo de indução magnética weber Wb V s = m2 kg s-2 A-1
Indução magnética tesla T Wb/m2 = kg s-2 A-1
Indutância henry H Wb/A = m2 kg s-2 A-2
Temperatura Celsius grau Celsius o
C K
Fluxo luminoso lumen 1m cd sr = cd
Iluminância lux 1x lm/m2 = m-2 cd
Atividade de um radionuclídio becquerel Bq s-1

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TÓPICO 1 | MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

Dose absorvida, energia específica gray Gy J/kg = m2 s-2


(comunicada), kerma
Equivalente de dose, equivalente de sievert Sv J/kg = m2 s-2
dose ambiente
Atividade catalítica katal kat s-1 mol
FONTE: <http://www.inmetro.gov.br/consumidor/pdf/Resumo_SI.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2020

Algumas unidades são utilizadas de forma tão comum que são parte do
cotidiano e, embora não sejam consideradas integrantes do SI, são aceitas popu-
larmente. Podemos conferir algumas na Tabela 5.

TABELA 5 – ALGUMAS UNIDADES NÃO SI


Grandeza Unidade Símbolo
Tempo Minuto min
Hora h
Dia d
Volume Litro L ou l
Massa Tonelada t
Energia Elétronvolt eV
Pressão Bar bar
milímetro de mercúrio mmHg
Comprimento angstrom2 Â
milha náutica
Força Dina dyn
Energia Erg erg
FONTE: <http://www.inmetro.gov.br/consumidor/pdf/Resumo_SI.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2020

DICAS

Se quiser saber mais sobre o Sistema Internacional de Unidades, leia o resumo


da edição de 2019, disponível em: https://bit.ly/2ScYywl. Acesso em: 13 mar. 2020.

2.3 ABRIGO E OFICINA RURAL.


A utilização de máquinas agrícolas, intensificada no Brasil durante a Re-
volução Verde da década de 1970, teve naquele período o objetivo principal de
aumentar a produtividade, bem como, transversalmente, a capacidade de am-
pliação de área cultivada pelos agricultores. Muitos agricultores, na época, inex-

13
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

perientes na aquisição, no uso e na manutenção de máquinas – como tratores,


colhedora de grãos e semeadora-adubadora – acabaram por aumentar custos, da-
nificar equipamentos, reduzir a vida útil das máquinas, danificar seus produtos e
sub ou superestimar seu maquinário.

Desde então, as máquinas agrícolas passaram a fazer parte do cotidiano


do produtor rural, que buscou conhecimento e profissionalização. Assim, muitos
agricultores optam por manter em suas propriedades um espaço adequado para
abrigar o maquinário e para realizar a sua manutenção, o que neste item chama-
remos de abrigo e/ou oficina rural. Esse espaço deve ser pensado para executar a
manutenção de implementos, tratores e máquinas, serviços de soldas, regulagens,
trocas de peças, pequenas construções mecânicas e demais serviços necessários
para o bom andamento das operações no campo, além de abrigar as máquinas
das intempéries naturais.

2.3.1 Espaço físico


Devemos registrar que caso o produtor possua condições de espaço físico
e/ou financeiras, deve optar por espaços específicos para o abrigo das máquinas
e para a oficina rural. Ambientes separados facilitam o trânsito das máquinas, a
organização do ambiente e o trabalho a ser desenvolvido. Os espaços devem, po-
rém, ser próximos um ao outro para evitar trânsito e gastos desnecessários. Se a
opção for por um ambiente único, ele deve ser organizado de forma a comportar
separadamente cada ação (abrigo/oficina), bem como ser articulado em termos de
disposição e de espaço para proporcionar o bom andamento dos dois objetivos.
Trataremos aqui da situação ideal de ambientes separados.

Abrigo de máquinas: instalações que permitem guardar as máquinas e


os implementos agrícolas. Podem ser construídas com estruturas sofisticadas ou
bastantes simples, tendo como objetivo principal a proteção do maquinário aos
raios solares, chuvas, ventos, geadas, granizos e demais possíveis ações do tempo
e clima, os quais podem causar danos. Alguns itens a serem considerados são:

• adequação às especificidades de tamanho e manobra dos diferentes tipos de


máquinas;
• estar em um ponto central da área rural para deslocamento;
• local seco e arejado;
• possuir amplo e adequado espaço de manobra;
• manter estrutura elétrica e hidráulica adequadas;
• possuir rampa, água e depósito de combustíveis.

Lembrando que todos os itens devem ser considerados dentro dos pa-
râmetros de segurança necessária aos operadores. Os abrigos devem estar ade-
quadamente equipados para atender às necessidades específicas de cada tipo de
máquina.

14
TÓPICO 1 | MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

Oficina mecânica: o tamanho e objetivo da oficina serão determinados


pela necessidade da propriedade rural. Pode ser um local para reparos simples
e rotineiros no maquinário ou um local mais amplo e equipado, caso o produtor
rural tenha um grande número de máquinas e equipe de trabalho ou no caso de
fazendas mais distantes de centros urbanos, nas quais podem ser atendidas ne-
cessidades mais complexas. Embora os reparos de maior complexidade devam
ser feitos por especialistas ou pela assistência técnica especializada, em alguns
casos, em fazendas com grandes estruturas, esses são feitos na propriedade. Con-
siderando esse ponto, o primeiro grande desafio deve ser o planejamento da ofi-
cina, no qual deve-se considerar o inventário de máquinas e equipamentos, bem
como os relatórios de manutenção e demanda por serviços.

A edificação deve ser de preferência em alvenaria, com as portas de


frente uma para outra e janelas que permitam a iluminação e ventilação,
o telhado deve proteger as máquinas do sol, da chuva e outros agentes
nocivos, as paredes necessitam ser sólidas a fim de resistir às vibrações
dos equipamentos. Já o piso deve ser em concreto e inclinado o suficien-
te para facilitar o movimento das máquinas e o escoamento das águas
de lavagem. Devem ser previstas instalações de ar comprimido, instala-
ções elétrica e hidráulica, bem como uma estação para recolhimento de
fluidos poluentes (ALONÇO; GASSEN; MEDEIROS, 2009, p. 3).

Outros pontos e considerações importantes são (TEIXEIRA e RUAS, 2006):

Piso: deve ser de cimento para evitar a formação de pó e proporcionar


uma resistência que permita o apoio de equipamentos com segurança, como, por
exemplo, o macaco hidráulico, que suporta cargas elevadas. Além disso, deve
oferecer aderência suficiente para que os equipamentos pesados não deslizem e
não causem acidentes.

Recomenda-se que o piso da oficina seja construído a uma altura de apro-


ximadamente 10 cm acima do piso do pátio para evitar entrada de água da chuva
e facilitar o escoamento da água de lavação.

Espaço: deve ser amplo o suficiente de modo a permitir a adequada movi-


mentação das máquinas e o livre trabalho do operador em volta delas. A oficina
deve ser cercada por paredes até o teto. A altura do pé direito e a entrada princi-
pal devem permitir a livre passagem de todas as máquinas existentes no abrigo
visando à realização dos reparos.

Luminosidade e arejamento: deve possuir janelas com área total de 20%


da área interna (50% com abertura para ventilação). Pouca luminosidade e areja-
mento aumentam os riscos de acidentes e proporcionam a formação de umidade
e oxidação. É indispensável a iluminação artificial com lâmpadas em altura míni-
ma de 3,5 m e dispostas adequadamente no ambiente.

15
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

2.3.2 Fatores a serem considerados.


Para a execução adequada das operações, as máquinas e equipamentos
exigem manutenção e cuidados permanentes. Sendo assim, realizar revisões pre-
ventivas pode aumentar a vida útil e facilitar o trabalho do operador.

Outro cuidado importante é a correta leitura e atenção aos manuais de


instruções. Normalmente, neles estão os procedimentos adequados e a periodi-
cidade de manutenção para o melhor aproveitamento da máquina ou do equipa-
mento. Assim, utilizar esse material como parte do planejamento de manutenção
pode agilizar e garantir suas operações.

Muitas vezes, entretanto, não é dada a devida importância às infor-


mações ali contidas, sendo os manuais esquecidos ou simplesmente
não lidos pelo operador ou responsável pelo maquinário. Há que se
considerar também a linguagem dos manuais, nos quais geralmente
estas operações são demasiadamente detalhadas, sendo compreendi-
das quase que exclusivamente por especialistas. Caso não sejam ob-
servadas as recomendações constantes, poderão ocorrer problemas
que podem levar a necessidade de consertos mais frequentes, com
custos elevados e paradas não programadas. Quando da compra de
uma máquina ou implemento usado, que não se possui o manual de
instruções, o proprietário deve procurar informar-se sobre as peculia-
ridades do modelo adquirido, na falta destas informações, deve seguir
orientações gerais de manutenção de máquinas semelhantes (ALON-
ÇO; GASSEN; MEDEIROS, 2009, p. 5).

A manutenção pode ser corretiva quando o operador impõe o uso inade-


quado, um dano acidental ocorre durante a operação ou a manutenção preven-
tiva não é feita ou feita de forma incorreta, causando desgaste na máquina ou
em seus componentes. Nesse momento, é importante que o operador conheça os
procedimentos a seguir e encontre na oficina as ferramentas e equipamentos para
o rápido e correto conserto.

A qualificação dos profissionais da equipe de operação é muito relevante


nessa hora, pois um conserto inadequado pode causar mais danos, elevar ainda
mais os custos e atrasar as operações. Lembrando que, na atividade agrícola, o atra-
so em um calendário de operações pode significar o comprometimento da safra.

2.3.3 Partes constituintes


Como já mencionado anteriormente, as oficinas devem atender às deman-
das das propriedades rurais. Portanto, aqui também vale a indicação de adequa-
ção a cada realidade. De maneira geral, recomenda-se que uma oficina rural com-
porte: ferramentaria, escritório, almoxarifado, enfermaria, cantina e banheiros
(TEIXEIRA; RUAS, 2006).

16
TÓPICO 1 | MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

Ferramentaria: recomenda-se que seja um ambiente fechado, com acesso


restrito, onde serão guardadas as ferramentas quando não estiverem em uso. A
organização desse espaço é primordial, podendo garantir a eficiência do trabalho,
a rapidez e evitando extravio e danos nas ferramentas. A manutenção da ordem
e disposição das ferramentas é uma forma eficiente de auxiliar o operador a bus-
car aquela determinada ferramenta sempre no mesmo local – e encontrá-la! Não
somente encontrá-la no local determinado, mas encontrá-la limpa e em condições
de uso. Desta forma, organizar a ferramentaria é um dos passos mais importantes
na concepção de uma oficina rural.

Almoxarifado: pode ser chamado de depósito. Nele, estarão guardadas as


peças de reposição de máquinas e implementos, insumos específicos para o seu
funcionamento correto, ferramentas extras para substituição periódica e demais
itens necessários para a continuidade dos trabalhos da oficina (filtros, correias, ro-
lamentos, fusíveis, parafusos, porcas, pinos, contrapinos, lâmpadas etc.). A ordem
e planejamento de disposição dos itens nesse ambiente também são essenciais para
que ele seja funcional e garanta a preservação dos itens. Deve ser um ambiente
arejado, com acesso restrito que funcione como um ponto de apoio à equipe de
operadores. Desta forma, o controle dos itens e sua adequada reposição são funda-
mentais para que os trabalhos possam ser realizados de forma e na época correta.

Escritório: como já frisado anteriormente, o planejamento e monitoramen-


to das atividades é imprescindível para a eficiência das operações. Nesse sentido,
o escritório é o local em que se fará todo o controle de maquinário, como número
de horas trabalhadas, datas de manutenções, determinação de custos operacio-
nais, controle de horário de trabalho dos funcionários, planejamento de reposi-
ções, consertos e aquisições. É importante que o escritório seja um ambiente de
acesso restrito e que tenha um responsável.

Enfermaria: acidentes são evitáveis, porém, possíveis. Desta forma, toda a


oficina deve ter um espaço para prestar os primeiros socorros quando necessários.
Esse ambiente deve ser reservado e possuir obrigatoriamente os produtos mínimos
para um atendimento emergencial. Para o planejamento desse espaço, o produtor
poderá se informar com profissionais da área, como bombeiros ou médicos locais.
Um treinamento em primeiros socorros deve ser feito com a equipe de operadores
para que, se necessário, eles possam realizar de forma correta o socorro à vítima.

Cantina e Sanitário: proporcionar ambiente adequado aos funcionários


também é parte das ações para a eficiência do trabalho final. Assim, a criação e
manutenção de espaços como cozinha ou cantina, sanitários e vestiários propor-
cionam qualidade do ambiente e das condições de trabalho da equipe.

17
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

2.3.4 Equipamento e ferramentaria


Entender a diferença entre equipamento e ferramenta pode auxiliar desde o
planejamento até o funcionamento deste, que é o espaço em que o trabalho da oficina
encontra alicerce, a base para os trabalhos a serem executados.

Equipamento: tudo aquilo que serve para equipar. É o conjunto de apetre-


chos ou instalações necessários à realização de um trabalho, uma atividade ou uma
profissão.

Ferramenta: instrumento necessário para a realização de um trabalho.

Em uma oficina rural, são fundamentais: chaves de fenda, chaves de fenda


cruzada (Phillips), alicates, martelos e marretas (Tabela 6). Para Alonço, Gassen e
Medeiros (2009), estojos completos de chaves fixas e estrela devem ser considerados
essenciais. Na Figura 4 estão demonstrados esses itens, além de uma sugestão de
organização de ferramentas básicas.

FIGURA 4 – SUGESTÃO DE FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DE FERRAMENTAS BÁSICAS EM UMA


OFICINA RURAL

FONTE: <https://bit.ly/2VIe5X9>. Acesso em: 23 mar. 2020

LEMBRETE

Regras de ergonometria – como a altura da bancada (aproximadamente 90


cm), uso de banquetas ou cadeiras, entre outras – devem ser respeitadas, pois irão propor-
cionar ao operador conforto e saúde de trabalho.

18
TÓPICO 1 | MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

A Tabela 6 lista estrutura, equipamentos e ferramentas consideradas bási-


cas para o bom funcionamento de um espaço de oficina rural.

TABELA 6 – PRINCIPAIS USOS E ITENS DA FERRAMENTARIA


Itens Uso
Fosso Permite ao operador posicionar-se abaixo da máquina para realizar a operação
de manutenção ou conserto.
Elevador Permite elevar o maquinário para dar acesso à parte inferior pelo operador.
Bancada Mesa resistente em que serão realizados consertos básicos e manuseios de fer-
ramentas.
Macaco Utilizado para levantar e manter levantados equipamentos, máquinas ou suas
hidráulico partes como forma de realizar o conserto.
Grua Movimentar ou erguer equipamento, máquina ou suas partes.
Ferramentas de Realizam movimentos de rotação quando aplicada força em seu manejo: chaves
torção de fenda, Phillips, Allen, de boca etc.
Ferramentas de Manejadas por meio de impacto com o objetivo de conseguir força superior à
percussão obtida por pressão manual: martelos, marretas, bigorna, punções etc.
Ferramentas de Utilizadas para segurar peças e realizar cortes: alicates, morsa, grampos etc.
pressão
Ferramentas de Utilizadas para corte de outros elementos, podem ser classificadas pelo tipo de
corte corte: cisalhamento (tesoura), abrasão (lixas, esmeril), percussão (talhadeiras),
desbaste ou levantamento de cavaco (serras, brocas), esmagamento (talhadeiras
e corta frio).
Ferramentas de Utilizadas para a limpeza de peças e elementos de máquinas: escovas de aço,
limpeza raspadores, limpadores de bicos injetores etc.
FONTE: Adaptado de Romo (2014)

Vale salientar que, atualmente, uma gama de empresas presta serviços de


delivery em propriedades rurais de oficinas móveis, as quais podem ser adquiri-
das por produtores rurais. Normalmente, são compostas por uma seleção básica
de ferramentas e equipamentos e podem ser uma alternativa interessante, princi-
palmente para pequenas e médias propriedades rurais.

2.3.5 Instrumentos de medida


Os instrumentos de medida considerados básicos em uma oficina rural
são: trena, paquímetro, micrômetro, compasso e multiteste para tomadas elétri-
cas. Os itens e detalhes de uso estão na Tabela 7.

19
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

TABELA 7 – PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE MEDIDA PARA UMA OFICINA RURAL


Item Descrição
Trena Usada para medir distâncias. Pode ser retrátil, que consiste em uma fita de metal,
plástico ou fibra de vidro enrolada em um invólucro. As unidades de medidas das
trenas são: centímetros, milímetros, polegadas e pés.
Paquímetro Utilizado para medir a distância entre dois lados simetricamente opostos em um
objeto, permite uma precisão decimal de leitura através do alinhamento dessa escala
com uma medida da régua. Apresenta uma precisão menor do que o micrômetro
Micrômetro Utilizado para medir a distância entre dois lados simetricamente opostos em um
objeto. O funcionamento do micrômetro baseia-se no deslocamento axial de um
parafuso micrométrico com passo de alta precisão dentro de uma rosca ajustável.
Multímetro ou Usado para medir e avaliar grandezas elétricas, pode ter mostrador analógico (de
Multiteste ponteiro) ou digital. Utilizado na bancada de trabalho (laboratório) ou em serviços
de campo, incorpora diversos instrumentos de medidas elétricas em um único
aparelho, como voltímetro, amperímetro e ohmímetro por padrão e capacímetro,
frequencímetro, termômetro, entre outros como opcionais, conforme o fabricante
do instrumento disponibilizar.
FONTE: Adaptado de Alonço, Gassen e Medeiros (2009)

Os instrumentos de medição devem ser aferidos periodicamente e manti-


dos acondicionados em locais apropriados. Além disso, os operadores devem ser
capacitados para o uso, manuseio e interpretação desses instrumentos.

2.3.6 Segurança na utilização dos equipamentos


O uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) é obrigatório aos
operadores de máquinas agrícolas e seu uso estende-se dentro das oficinas rurais,
na manipulação de ferramentas e equipamentos e no trabalho em geral.

No entanto, algumas ferramentas e equipamentos exigem maior cuidado,


em virtude da facilidade e possível gravidade de acidentes. Os cuidados básicos
em algumas operações estão descritos a seguir:

Operações de solda: deve-se utilizar máscaras com lentes protetoras con-


tra a radiação ultravioleta, luvas, avental e botas.

Uso de policorte ou esmeril: óculos contra fagulhas, avental, luvas, botas


e abafadores de ruídos.

Torno mecânico: óculos contra fagulhas, avental, luvas e botas. Além dis-
so, não se deve usar roupas largas ou outros acessórios que possam se prender
nas partes móveis do equipamento.

Uso de solventes: aventais apropriados, óculos, luvas nitrificadas, másca-


ras e botas impermeáveis.

20
TÓPICO 1 | MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

De maneira geral, a manutenção e limpeza dos equipamentos auxiliam na


segurança dos operadores. Operações de lubrificação, verificação do estado das
correias, rolamentos, catracas, desgaste de dentes ou afiação de partes cortantes,
entre outras, devem estar previstas no planejamento da oficina, bem como o uso,
treinamento e manutenção dos extintores.

De acordo com Teixeira e Ruas (2006), a maior parte dos acidentes em


oficinas rurais são causados por falhas humanas. Segundo os mesmos autores, as
causas mais graves e frequentes de acidentes nesses ambientes são:

Não utilizar os EPIs adequados, usar equipamentos sem treinamento


prévio adequado, usar equipamentos em velocidade que não seja a ade-
quada para a operação ou em desacordo com as especificações do fabri-
cante, consertar ou fazer a manutenção em equipamentos energizados,
posicionar-se de modo inadequado para realizar a operação, realizar a
operação em ambiente impróprio (TEIXEIRA E RUAS, 2006, p. 15).

Ao administrador ou responsável pela oficina cabe a tarefa de supervisio-


nar e exigir o cumprimento das regras de segurança do ambiente, lembrando que
o proprietário pode ser responsabilizado legalmente pelos acidentes ocorridos no
local de trabalho.

2.4 ESTRUTURA DE MANUTENÇÃO DA PROPRIEDADE RURAL.


Além das estruturas de abrigo de máquinas e oficina rural, as proprie-
dades possuem uma variedade de estruturas que devem ser consideradas tanto
para manutenção quanto para o planejamento dos trabalhos. Algumas dessas es-
truturas estão listadas a seguir:

• alojamentos;
• casas de passagem;
• cercas e portões;
• depósitos de combustíveis;
• estruturas de lazer.

Todas devem ser periodicamente consideradas nos processos de manu-


tenção e possuem suas funções interligadas direta ou indiretamente aos resulta-
dos pretendidos de eficiência produtiva.

2.5 ELABORAÇÃO DE PLANOS DE MANUTENÇÃO E


REPAROS
Os planos de manutenção devem ser adaptados à realidade de estrutura
(pessoal e física) de cada propriedade. No entanto, são itens principais na obtenção
de resultados pretendidos, visto que são responsáveis por manter a propriedade fun-
cionando de maneira adequada. Por isso, diferentes fatores devem ser considerados.
21
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

O planejamento e o controle adequado dos sistemas mecanizados exi-


gem informações adequadas com relação à capacidade de trabalho, o
que nem sempre é possível. Enquanto que em outras áreas da enge-
nharia como, por exemplo, na área mecânica, o desempenho dos equi-
pamentos pode ser obtido com razoável grau de precisão, nas ativi-
dades agrícolas isso nem sempre é possível. Fatores como topografia,
tipo de solo, clima, variações no material a ser trabalhado interferem
na capacidade de trabalho e consequentemente no planejamento dos
sistemas (MILLAN, 2017).

Na atualidade, alguns programas de computador auxiliam de forma efi-


caz os administradores na elaboração de planos específicos às diferentes reali-
dades agrícolas. Contudo, considerando a diversidade de situações, é necessário
que opções sejam disponibilizadas tanto para fazendas altamente tecnológicas
quanto para propriedades de agricultura familiar, que possivelmente são despro-
vidas de tecnologias mais avançadas.

Nesse sentido, o fluxograma (Figura 5) apresentado a seguir mostra uma


perspectiva geral da necessidade de visão da propriedade rural para a elaboração
de um plano de reparos e manutenção eficaz. O fluxograma, desenvolvido e apre-
sentado por Millan (2017) com base no trabalho de Mialhe (1974), apresenta uma
visão desde a constatação da necessidade até a aquisição. Ele deve ser conside-
rado no planejamento da manutenção, visto que é a partir do conhecimento das
especificações de cada máquina que ela deve ser inserida em um planejamento
específico de manutenção e possíveis reparos.

22
TÓPICO 1 | MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

FIGURA 5 – FLUXOGRAMA GERAL PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS DE REPAROS E MANUTENÇÕES

FONTE: Millan (2017, p. 4)

Apesar de o fluxograma apontar para o que podemos chamar da fase ini-


cial de uma tomada de decisão, o intuito do seu uso está no entendimento da
necessidade de avaliação e planejamento de maneira ampla e holística, incluindo
ações externas, que influenciarão dentro da fazenda. Entendermos o quanto a
manutenção correta e periódica das máquinas e equipamentos está inserida na
gestão como um todo e o quanto atrasos, serviços mal executados, falta de repa-
ros e/ou condições adequadas de trabalho influenciarão todo o fluxo de ações. A
elaboração de planos específicos para a manutenção de máquinas e equipamen-
tos agrícolas auxiliarão nesse processo.

23
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

A fim de facilitar o controle sobre a manutenção das máquinas agrícolas


recomendasse a formulação de planos de manutenção. Para tanto, faz-se
necessária uma leitura detalhada dos manuais de operação e manutenção
que acompanham os equipamentos. Como o objetivo final de um plano
de manutenção é possuir um relatório que permita uma rápida visua-
lização das operações já realizadas e daquelas por realizar, utilizam-se
planilhas com as operações referentes a um tipo de período (diário, se-
manal, mensal etc.) conforme o caso. Neste sentido, o responsável pela
organização da tarefa deverá agrupar as operações com os indicadores de
tempo (ALONÇO; GASSEN e MEDEIROS, 2009, p. 9).

Alonço, Gassen e Medeiros (2009) enfatizam a necessidade do uso de pla-


nilhas com a periodicidade adequada (diárias, semanais ou mensais) para cada
máquina da propriedade. Apesar de parecer um trabalho excessivamente minu-
cioso, é uma ferramenta de gestão eficiente e necessária para zelar o patrimônio
do agricultor e garantir a produtividade e eficiência financeira.

24
TÓPICO 1 | MECÂNICA APLICADA À MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

LEITURA COMPLEMENTAR

RESISTÊNCIA ESPECÍFICA À TRAÇÃO NA OPERAÇÃO DE


ESCARIFICAÇÃO DO SOLO EM CAMADAS DE FORMA SIMULTÂNEA

José R. F. Gassen
Airton dos S. Alonço
Ulisses B. Baumhardt
Mateus P. Bellé
Gustavo J. Bonotto.

Vem-se observando, nos últimos anos, uma intensificação na busca por


soluções agrícolas que visem à preservação do meio ambiente e à conservação do
solo, o que se revela como grande desafio face à necessidade de altas produtivi-
dades das culturas e racionalização dos custos de produção. Uma das consequên-
cias desta necessidade é a crescente demanda de energia associada à intensifica-
ção do uso de máquinas agrícolas mais robustas e maiores devido às exigências
do sistema de semeadura direta, afetando, de forma significativa, a compactação
do solo, a qual atua direta e indiretamente de modo negativo sobre a produtivi-
dade das culturas, visto que modifica diversos atributos físicos do solo, entre os
quais se destacam: densidade, resistência à penetração, macro e microporosidade
e capacidade de retenção de água.

A compactação do solo é um processo em que a porosidade e a permeabili-


dade são reduzidas, a resistência mecânica é aumentada e muitas mudanças ocor-
rem na estrutura do solo (Soane; Ouwerkerk, 1994). Segundo Flowers e Lal (1998), a
principal causa da compactação em solos são as condições de tráfego das máquinas
usadas nas operações agrícolas, tais como operações de preparo, semeadura, tratos
culturais e colheita. Para Drescher et al. (2011), esse adensamento do solo nas áreas
agrícolas pode interferir diretamente no desempenho de máquinas e implementos
agrícolas promovendo uma ampliação na demanda de potência para tração. Foloni et
al. (2003) concluíram, em um estudo sobre o efeito da compactação do solo no desen-
volvimento aéreo e radicular de cultivares de milho, que: (i) a compactação do solo
comprometeu o desenvolvimento das plantas de milho híbrido e da variedade na
mesma intensidade; (ii) apesar de alterar a distribuição do sistema radicular ao longo
do perfil do solo, o impedimento físico em subsuperfície não diminuiu a produção
total de raízes de milho; (iii) o diâmetro médio radicular apresentou alta correlação
com o crescimento de raízes no solo compactado; e (iv) o sistema radicular do milho
não é capaz de romper uma camada compactada de solo com resistência mecânica
da ordem de 1,4 MPa. Beutler e Centurion (2004) verificaram, ao pesquisar o efeito da
compactação do solo no desenvolvimento radicular e na produtividade da soja, em
latossolo vermelho de textura média, que houve diminuição na produtividade e em
determinada profundidade ocorreu uma redução na densidade das raízes.

Collares et al. (2006) encontraram, em experimento na cultura do feijoeiro,


influência direta da compactação na redução da produtividade desta cultura

25
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

enquanto Beutler et al. (2004) obtiveram, avaliando a influência da compactação


na produtividade e altura do sistema radicular em arroz de sequeiro, redução
na produtividade e restrição ao crescimento das raízes. Como técnica potencial
para solucionar esse problema, tem-se a escarificação, que promove o
rompimento dessas camadas compactadas ou adensadas. Para Machado et al.
(2005), a operação de escarificação consiste em mobilizar o solo a determinada
profundidade até trinta centímetros, tendo uma mobilização superficial mínima
e mantendo a cobertura do solo. Por não provocar inversão de camadas do solo,
essa operação proporciona menor desagregação, sendo que os resíduos vegetais
ficam depositados na superfície do solo facilitando, assim, o controle da erosão,
melhorando potencialmente a infiltração e a retenção de água, tal como a estrutura
e a porosidade do solo quando comparada aos preparos do solo convencionais. Ao
mencionarem a parte ativa do escarificador (as ponteiras), esses mesmos autores
a dividiram em dois tipos, estreita, com largura de 4 a 8 cm e larga ou alada,
com dimensões acima destas. Nicoloso et al. (2008), em experimento de campo
realizado em quatro áreas, no município de Santa Rosa, região Noroeste do Rio
Grande do Sul, consideraram a escarificação mecânica como alternativa eficiente
para melhorar as condições físicas do latossolo de textura muito argilosa quando
associada à escarificação biológica, auxiliando na prevenção da reconsolidação
do solo. Na busca de uma operação mais eficiente, Godwin (2007) destaca que
a busca pela redução da demanda de tração de um implemento não deve ser o
objetivo mais importante, mas sim reduzir a resistência específica operacional
expressa pela relação da força de tração com a área de solo mobilizado.

Assim, objetivou-se neste trabalho desenvolver e analisar uma ferramenta


para o rompimento do solo em camadas simultâneas, ou seja, se a profundidade
de trabalho de um escarificador tem influência significativa no desempenho do
implemento, então é possível romper o solo em camadas de modo simultâneo a
fim de que a eficiência do equipamento melhore, alcançando menor resistência
específica para cada velocidade de trabalho testada.

FONTE: Adaptado de GASSEN, José R. F. et al. Resistência específica à tração na operação


de escarificação do solo em camadas de forma simultânea. Revista Brasileira de Engenharia
Agrícola e Ambiental, v. 18, n. 1, p. 116-124, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1415-
43662014000100015. Acesso em: 23 mar. 2020.

26
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A mecânica agrícola está inserida no cotidiano da produção rural e é um com-


ponente decisivo para a sustentabilidade da propriedade. Desta forma, o pla-
nejamento, tanto de uso quanto de manutenção, é fundamental.

• As propriedades físicas são atuantes na concepção e no uso das máquinas agrí-


colas. Ainda, elas podem ser reconhecidas nas propriedades dos solos e na re-
ação dos solos ao manejo.

• A compactação do solo pode causar dificuldades no desenvolvimento do sistema


radicular das plantas, reduzindo: sua capacidade produtiva, de armazenamento
e disponibilização de água e nutrientes, bem com sua resistência aos processos
mecânicos, o que requer maior energia para sua realização. Além disso, pode
ocorrer aumento das temperaturas e escorrimento superficial do solo.

• A implementação de espaços adequados, como abrigos e oficinas, nas proprie-


dades rurais é um cuidado necessário e diferencial para o alcance dos objetivos
de rentabilidade e sustentabilidade dela.

• A capacitação de operadores de máquinas e o planejamento de manutenções e


reparos devem ser itens considerados obrigatórios no fluxograma de planeja-
mento da propriedade rural.

27
AUTOATIVIDADE

1 A teoria mecânica está presente no cotidiano das propriedades rurais asso-


ciada às ações desenvolvidas pelas máquinas e equipamentos agrícolas. Sen-
do assim, analise as afirmativas a seguir, assinalando V para as verdadeiras
e F para as falsas:

( ) Mecânica aplicada é um ramo da engenharia que procura estabelecer fór-


mulas e coeficientes compatíveis com a natureza e a condição de cada mate-
rial com base nos princípios e leis básicas da mecânica teórica.
( ) Torque é uma grandeza física associada ao movimento de rotação de um
corpo em razão da ação de uma força, sendo assim T= f/m, em que torque é
igual à força dividida pela massa.
( ) É correto afirmar que mesmo parado e sem movimentação, um maquinário
exerce forças sobre o solo passíveis de resultar na compactação do solo.
( ) A potência é fruto da velocidade angular e está diretamente relacionada ao
trabalho gerado em motores de combustão, como, por exemplo, de tratores
agrícolas.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) V – F – V – V.
b) ( ) F – V – V – V.
c) ( ) V – F – F – V.
d) ( ) F – F – V – V.

2 Entre as inúmeras relações possíveis e existentes entre a mecânica agrícola e


o ambiente, está a relação solo-máquina. Sobre essa relação, analise as afir-
mativas a seguir e assinale a CORRETA:

( ) O solo está sujeito à ação de elementos bióticos, como o vento e a água, que
podem afetar a desse solo em relação às operações mecânicas aplicadas para
o cultivo agrícola.
( ) A interação entre o solo e a ação mecânica promovida pela máquina varia
de acordo com o tipo de ação/máquina, e não com o tipo de solo.
( ) As variáveis ação/máquina e o tipo de solo compõem a resistência dinâmica
do solo para prover tração.
( ) Os valores que compõem a tensão e sua distribuição no solo são definidos
especificamente pelo componente tipo de solo, independentemente da ação/
máquina.

28
3 As propriedades mecânicas dos solos possuem particularidades e especifici-
dades relacionadas a diferentes fatores. Além disso, elas são importantes na
determinação das operações agrícolas, principalmente naquelas ligadas ao
tráfego de máquinas que podem, quando feitas indiscriminadamente, oca-
sionar a compactação dos solos. Sobre a questão, analise as afirmativas a
seguir e marque a alternativa CORRETA.

I- A compactação promovida pelo uso inadequado de máquinas é principal-


mente a superficial, que reduz os espaços de ar e água e aumenta a com-
pressão do solo.
II- Quando a capacidade de suporte de carga do solo é ultrapassada, ocorre a
compactação com a redução de espaços internos para água e ar.
III- Alguns tipos de solo, como os arenosos, são mais factíveis à compactação
pelo uso inadequado de máquinas.
IV- A compactação do solo pode causar dificuldades no desenvolvimento do
sistema radicular das plantas, redução na capacidade de armazenamento e
disponibilização de água e nutrientes, aumento das temperaturas do solo e
escorrimento superficial do solo.

a) ( ) Todas as afirmativas estão corretas.


b) ( ) Somente a afirmativa IV está correta.
c) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.

4 Sobre o SI e as alterações ocorridas recentemente, classifique V para as sen-


tenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) A nova revisão compreende 4 das 7 unidades derivadas do SI.


( ) As novas unidades alteraram seus tamanhos e estarão suscetíveis a altera-
ções ao longo do espaço e tempo.
( ) As unidades modificadas foram o quilograma, o ampere, o kelvin e o mol.
( ) As novas unidades são do mesmo tamanho, mas definidas de forma precisa
e sem incerteza de edição associada.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) F – F – V – V.
b) ( ) V – F – F – V.
c) ( ) V – F – V – V.
d) ( ) F – V – V – F.

5 A adequação de um espaço para abrigo e manutenção das máquinas agríco-


las pode possibilitar sua conservação e o melhor desempenho nas operações.
Contudo, alguns pontos devem ser considerados para a obtenção dos resul-
tados. Nesse sentido, marque com X as opções INCORRETAS.

29
( ) O piso deve ser de cimento para facilitar a limpeza e possibilitar a seguran-
ça nas operações de manutenção.
( ) A amplitude de espaço deve ser planejada de acordo com a necessidade de
movimentação das máquinas e para que o operador possa trabalhar livre-
mente em volta delas.
( ) A luminosidade deve ser calculada considerando a luz natural, com o uso
de janelas e portas, sem necessidade de iluminação artificial.
( ) As revisões devem ser tanto preventivas quanto curativas. Para tal, deve-se
considerar somente a percepção do operador.

30
UNIDADE 1
TÓPICO 2

PRODUÇÃO E CONSUMO
DE ENERGIA NA AGRICULTURA

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmicos! Neste tópico, abordaremos a produção e consumo de ener-
gia na agricultura. Vamos discutir as principais fontes energéticas, os balanços ener-
géticos dos processos produtivos e as formas de conservação e preservação de ener-
gia na busca da sustentação da produção agrícola.

A relação da sociedade atual com a energia pode ser observada como uma
fonte de grande preocupação para muitos. No entanto, o consumo de energia parece
estar alheio às ações, como algo natural e inesgotável. Na agricultura, esse cenário pa-
rece ainda mais preocupante, pois o consumo de energia fóssil está presente desde a
produção (insumos, maquinários e embalagens) até a disponibilização dos produtos
na mesa do consumidor (secagem, beneficiamento, embalagens e transporte).

A energia transformou-se em um fator de produção na agricultura, sendo


considerada um insumo essencial nos processos produtivos, o que amplia a preocu-
pação frente aos alertas oficializados por inúmeras instituições de pesquisas, além
da própria observação dos sistemas naturais. Eles evidenciam uma crise energética
sobre a qual se concentram demandas de pesquisas e estudos para potencializar o
uso de energias alternativas e formas de economizar a energia fóssil utilizada.

2 ENERGIA NA AGRICULTURA

Na década de 1970, a agricultura brasileira passou por uma grande trans-


formação, chamada de Revolução Verde, que mudou sua matriz energética. Até
então voltada para uma agricultura de subsistência, em que a força de trabalho
era principalmente humana e animal, a agricultura adotou máquinas e insumos
externos e passou a ser impulsionada pelo uso de combustíveis fósseis em suas
operações distribuídas ao longo das cadeias produtivas.

Tal processo, no âmbito chamada Revolução Verde mudou os sistemas


monoculturais, caracterizando-os pelas sementes selecionadas, inserção
dos agrotóxicos, fertilizantes químicos, mecanização, melhoramento ge-
nético que promoveram uma série de mudanças tanto na agricultura
quanto no setor de produção de insumos. Isto gerou grandes transfor-
mações na história da agricultura (MEDEIROS, 2010, p. 13).

31
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

As transformações geradas na agricultura espalharam-se pelos diferentes


elos das cadeias produtivas. Contudo, podemos considerar como definitiva a
mudança da matriz energética do setor.

Neste sentido, a implantação da agricultura moderna ampliava-se, a


intensidade energética considerando as diversas etapas do processo. O
desmatamento e a preparação do solo exigiam uma atividade prepara-
dora, uma vez que a acidez da terra exigia calcareamento e aplicação
de fertilizantes para se tornar produtiva. Alterna-se também, a nature-
za de energia produtiva de cereais: substituía a energia ecológica, de
natureza renovável - solar e hídrica - pela energia fóssil – dos fertili-
zantes – apresentadas como combustíveis não renováveis, buscando
ganhos de produtividade (MEDEIROS, 2010, p. 16).

Com as transformações, a mecanização, já em plena expansão desde a Revo-


lução Industrial, espalhou-se pela agricultura. O surgimento dos tratores, das seme-
adoras, colhedoras, pulverizadores, tornou o trabalho no campo mais fácil, menos
penoso, fato é também que este processo excluiu aqueles produtores rurais que não
tinham recursos para adquirir as tecnologias propostas, bem como reduziu a mão
de obra ocupada na agricultura, empurrando contingentes para as cidades e regiões
metropolitanas.

Algumas reflexões são importantes nesse processo. É fato que ocorreu um


aumento na produtividade, no entanto, precisamos mensurar os custos sociais, eco-
nômicos e ambientais desse aumento no intuito de entender os problemas e as fontes
de perda de energia gasta na produção do alimento final. Nesse sentido, Roel (2002,
p. 58) faz uma análise do período de implantação do pacote tecnológico no Brasil:

No período de 1964 a 1979 ocorreu um aumento de consumo de ferti-


lizantes minerais solúveis em 1.243%, de pesticidas em 421%, de má-
quinas agrícolas em 389%, enquanto, no mesmo período, o aumento
de produtividade agrícola (média de 15 culturas) foi de apenas 4,9%.

Ainda neste cenário, David (2000) apud Roel (2002) afirma que a distribuição
da renda na agricultura proposta pela revolução verde, concentrou, cerca de, 66%
dos lucros para indústria (insumos e máquinas), 19% para comércio e apenas 11%
dos lucros para o agricultor.

Corroborando neste sentido, Cipolla (1975) estimou que em 1940 a par-


ticipação da energia fóssil representava apenas 20% da produção agrícola e, na
revolução verde, esse índice passou para 80%, porque a industrialização desen-
volveu-se com base na disponibilidade crescente de energia mecânica (oriunda
de energia fóssil), por unidade de trabalho (MEDEIROS, 2010).

Estes processos afirmados continuaram e se intensificaram, seja pelo in-


cremento nos pacotes tecnológicos ou pela expansão destes para as diferentes
áreas da produção. A conversão de energia em produção é um dos assuntos mais
estudados da atualidade, conciliar, interligar os conceitos de eficiência produtiva

32
TÓPICO 2 | PRODUÇÃO E CONSUMO

e eficiência energética é um desafio, não só pela matriz energética fóssil predo-


minante na agricultura, mas também pela metodologia a ser adotada e que possa
conciliar tanto a energia gasta diretamente como aquela gasta de forma indireta.

2.1 PERSPECTIVAS E REALIDADE DA AGRICULTURA


NACIONAL NA PRODUÇÃO E NO CONSUMO DE ENERGIA
Um dos primeiros alertas sobre a realidade do consumo de energia na
agricultura foi feito por Steinhart & Steinhart (1974 apud Castanho Filho e Chaba-
ribery, 1982), que concluíram em seus estudos que nos Estados Unidos, na déca-
da de 1970, eram necessárias nove calorias fósseis para produzir uma caloria final
no prato do consumidor.

Nesse mesmo sentido, Guerra (2009) identificou que a produção de uma


caloria de proteína de soja consome duas calorias de combustível fóssil, e Medei-
ros (2010) elevou esta análise à produção de carne.

Na produção de carne são consumidas 78 calorias de combustível fóssil


para se produzir 1 caloria de proteína de carne. Logo, a produção de pro-
teína de carne requer 39 vezes mais energia que a soja, demonstrando que
a cadeia alimentar do ser humano depende de recursos energéticos como
os combustíveis fósseis e seus derivados (MEDEIROS, 2010, p. 45).

Os índices elevados do consumo de energia na produção de carne estão cen-


trados principalmente na produção da ração consumida pelos animais, que passa
pelo processo de cultivo, preparo de solo, semeadura, tratos culturais, colheita, trans-
porte e armazenagem, além de todo o processo de industrialização da carne posterior
ao abate – não computado pelo autor (MEDEIROS, 2010).

O Brasil possui um sistema energético fortemente ligado ao uso da energia


fóssil, como carvão, gás natural e petróleo que, além de fontes não renováveis, são
responsáveis por uma grande quantidade de emissão de gases nocivos para a at-
mosfera. Nesse sentido, inúmeros esforços estão sendo direcionados para a mudança
dessa matriz energética, buscando uma bioenergia sustentável e a captura de carbo-
no da atmosfera alcançada por ela.

Segundo dados do balanço energético de 2019 (ano base 2018), o Brasil utili-
za, atualmente, 45,3% de energia de fontes renováveis e 54,7% de fontes não renová-
veis, das quais 34,4% são do petróleo. A Tabela 8 mostra a oferta de energia no Brasil
e sua variação entre 2018 e 2019 (MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA, 2019).

33
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

TABELA 8 – OFERTA INTERNA DE ENERGIA NO BRASIL 2018/2017


Fonte (Mtep)* 2017 2018 Δ 18 / 17
RENOVÁVEIS 126,2 130,5 3,4%
Energia hidráulica 35,0 36,5 4,1%
Biomassa da cana 49,8 50,1 0,7%
Lenha e carvão vegetal 24,0 24,1 0,6%
Eólica 3,6 4,2 14,4%
Solar 0,072 0,298 316,1%
Lixívia e outras renováveis 13,8 15,4 11,8%
NÃO RENOVÁVEIS 167,0 157,9 -5,5%
Petróleo e derivados 106,3 99,3 -6,5%
Gás natural 37,9 35,9 -5,4%
Carvão mineral 16,8 16,6 -0,9%
Urânio (U3O8) 4,2 4,2 -0,5%
Outras não renováveis 1,8 1,8 -0,1%
FONTE: <https://bit.ly/3bJT0ks>. Acesso em: 23 mar. 2020

NOTA

Mtep – Tonelada equivalente de petróleo (tep): unidade de energia. A tep é utiliza-


da na comparação do poder calorífero de diferentes formas de energia com o petróleo. Uma
tep corresponde à energia que se pode obter a partir de uma tonelada de petróleo padrão.

Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS para 2030, difundi-


dos intensamente pela Organização das Nações Unidas – ONU, estão promovendo
e intensificando esse debate por meio de diversas campanhas em nível mundial.

Se o atual ritmo de consumo continuar, em 2050 será necessário 60%


a mais de comida, 50% a mais de energia e 40% a mais de água. Para
responder a demanda dos 9 bilhões de habitantes do planeta em 2050,
são necessários
esforços concentrados e investimentos que promovam essa transição
global para sistemas de agricultura e gestão de terra sustentáveis. Es-
tas medidas implicam no aumento de eficiência do uso dos recursos
naturais – principalmente a água, energia e terra – mas também na
redução considerável de desperdício de alimentos (SILVA, 2015, s.p.).

O processo de produção de cultivos energéticos pode ser impulsionado


com a destinação e uso de políticas públicas que possam incentivar não só o agri-
cultor, mas todos os setores da sociedade, inclusive a pesquisa, indústria e comér-
cio a gerar e utilizar a bioenergia sustentável.

Um primeiro esforço concreto feito nesse sentido foi a instituição, em ju-


nho de 2010, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
do programa ABC – Agricultura de Baixo Carbono, que tem como objetivo aliar

34
TÓPICO 2 | PRODUÇÃO E CONSUMO

a produção de alimentos e a bioenergia para promover a redução dos gases de


efeito estufa, estabelecendo metas para 2020 (SILVA; BUENO, 2011).

Visando a adoção de processos tecnológicos, que possam vir a neu-


tralizar ou mesmo minimizar os efeitos dos gases de efeito estufa no
campo, pelos agricultores, o programa ABC incentiva seis iniciativas
básicas como metas e resultados previstos até 2020, como: plantio di-
reto na palha; recuperação de pastos degradados; integração lavou-
ra-pecuária-floresta; plantio de eucalipto e de pinus; substituição de
fertilizantes nitrogenados pela fixação simbiótica de nitrogênio e trata-
mento de resíduos animais (SILVA; BUENO, 2011, p. 1061).

Nessa mesma linha, a Política Nacional de Biocombustíveis – RenovaBio,


instituída pela Lei nº 13.576/2017, está sendo anunciada como um novo marco
legal dos biocombustíveis no Brasil.

RenovaBio é uma política de Estado que objetiva traçar uma estratégia


conjunta para reconhecer o papel de todos os tipos de biocombustí-
veis na matriz energética brasileira, tanto para a segurança energética
quanto para mitigação e redução de emissões de gases causadores de
efeito estufa (BELOTTE et al. 2018, p. 25).

O caminho em direção às fontes de energias limpas e renováveis é defi-


nido e definitivo, tanto pela urgência quanto pela demanda social crescente pela
sustentabilidade. Contudo, ainda estamos a passos lentos na colheita de resulta-
dos das poucas políticas públicas e/ou iniciativas privadas nesse sentido. Além
de cientes de que o caminho a mudança de matriz energética é amplo, complexo
e envolve muitos atores, devemos considerar a gama de interesses econômicos
globais e transversais à economia de mercado.

2.2 FONTES DE PRODUÇÃO E USO DE ENERGIA NO MEIO


RURAL.
O ecossistema, em sua própria natureza, possui diversas fontes de energia
disponíveis e utilizadas pelo ser humano desde a Antiguidade. A primeira delas
é o alimento que, ao ser ingerido, proporciona ao ser humano e animais a força
necessária para a realização de tarefas e movimentos básicos do corpo. A busca
constante por novas fontes de energia que pudessem facilitar o trabalho cotidiano
teve um grande impulso com a descoberta do fogo, que passou a ser a fonte de ca-
lor usada no aquecimento pessoal, no cozimento dos alimentos e na iluminação.

Além do fogo, os animais foram – e ainda são – fontes de energia, força físi-
ca e muscular usadas no desenvolvimento de trabalhos, como transporte, aração de
solo, entre outros que possibilitam e otimizam as atividades agrícolas há séculos. As
principais espécies são os equinos, bovinos e muares, os quais ainda hoje são utiliza-
dos em muitas propriedades rurais de pequenas áreas e produção de subsistência.

35
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

A água e o vento já eram utilizados como fonte de energia de embarcações


desde as civilizações antigas e proporcionaram grandes revoluções nas socieda-
des, tanto na agricultura quanto nas questões geopolíticas e econômicas. A água,
em especial, proporcionou a irrigação de áreas e a utilização de diques, monjolos
e rodas d’água. Essas técnicas foram se expandindo (em parte graças à navega-
ção) e se aperfeiçoando, resumindo a busca do ser humano pelo suprimento de
suas necessidades, ou seja, pelo aprimoramento das fontes energéticas. Nesse
contexto, surgem os moinhos de vento:

O uso dos moinhos como ferramentas fornecedoras de energia neces-


sária à produção de diversos produtos representaram uma protoin-
dustrialização e um caminho irreversível na utilização de recursos
técnicos que melhoraram os rendimentos produtivos do ser humano.
Marcando o início dos empreendimentos capitalistas energéticos, que
impulsionou no avanço da infraestrutura energética com a participa-
ção da energia mecânica colaborando com o desenvolvimento econô-
mico da Europa Ocidental (MEDEIROS, 2010, p. 35).

Então, o processo de geração de energia pode ser entendido como uma


forma de o homem transformar a natureza. Foi assim na utilização do carvão
mineral durante a Primeira Revolução Industrial (século XVIII) e na descoberta
da energia elétrica e do petróleo, na Segunda Revolução Industrial (século XIX)
(CORREIA, 2016). Sempre utilizadas como forma de potencializar a produção e
facilitar os processos de geração de tecnologia, alcançaram resultados positivos,
mas ampliaram a emissão de gases nocivos à atmosfera.

O uso do petróleo como base do desenvolvimento começou a ser questio-


nado a partir de 1973, quando os principais países produtores (Arábia Saudita,
Kuwait, Irã, Iraque e Venezuela) uniram-se e, entre outras medidas, aumentaram
os preços e reduziram a perspectiva de produção, o que ocasionou a chamada
primeira crise do petróleo.

Seguiram-se ao episódio questionamentos não somente sobre economia e


desenvolvimento, mas também sobre o caráter finito dessa fonte de energia que
dita regras no mercado mundial. Em um gesto pioneiro, o Brasil lançou o Programa
Nacional do Álcool (PROÁLCOOL) em 1975, uma forma de produção tida como
limpa, renovável e em larga escala, que logo chama a atenção do mercado global.

A produção de álcool se modernizou ao longo do tempo e hoje é pro-


duzido de diversas fontes tais como: cana-de-açúcar, milho, beterraba,
bagaço de cana para o etanol de 2º geração, dentre outros. O etanol re-
presenta parte significativa na matriz energética brasileira, porém a falta
de políticas públicas para a produção e utilização desse combustível nos
leva a um impasse, quanto à política de preços (CORREIA, 2016, p. 1).

O uso dos combustíveis fósseis mantém-se até a atualidade como princi-


pal fonte de energia tanto nos processos agrícolas quanto industriais. De acordo
com Medeiros (2011, p. 36), eles são produtos “de origem mineral constituído por

36
TÓPICO 2 | PRODUÇÃO E CONSUMO

um grupo de substâncias formado de composto de carbono, o carvão mineral,


o petróleo e o gás natural geralmente empregado para alimentar a combustão”.

Da mesma forma, mantém-se globalmente a ênfase na discussão e bus-


ca de fontes renováveis de energia. Algumas alternativas já estão disponíveis e
sendo utilizadas em escala considerável, como a energia eólica, solar, das marés
e biomassa de diferentes fontes. A Figura 6 apresenta o diagrama Ennio, que es-
quematiza e descreve as fontes de energia renováveis e não renováveis.

FIGURA 6 – DIAGRAMA ENNIO, ENERGIAS RENOVÁVEIS E NÃO RENOVÁVEIS

FONTE: Ignácio (2007) apud ARMANDO (2013, p. 4)

O consumo do setor agropecuário brasileiro em 2018 foi de 11tep (Plano


Decenal de expansão de energia, 2019), abaixo dos setores de serviços, residencial,
transportes e industrial respectivamente. No entanto, como já mencionado, uma
parte difícil de mensurar, mas significativa em termos de consumo de energia
é a do setor industrial e de transportes, que estão diretamente ligados ao setor
agropecuário e correspondem à produção de insumos, ao processamento e
transportes agropecuários.

37
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

2.3 ENERGIA DERIVADA DO PETRÓLEO


O petróleo, substância oleosa, é uma combinação de hidrocarbonetos em
estado líquido, com temperatura e pressão específicas. Ele possui compostos sul-
furados, nitrogenados, oxigenados, resinas, asfaltenos e metálicos, como ferro,
cobre e zinco. Sua composição varia conforme a amostra analisada, porém, de
maneira geral é de 82% de carbono, 12% de hidrogênio, 4% de nitrogênio, 1% de
oxigênio, 0,5% de sais e 05% de metais (ANAP, 2017).

Originário da decomposição de matéria orgânica por bactérias em am-


biente de baixo oxigênio, o petróleo se forma em reservatórios, normalmente ro-
chas porosas (em condições especificas de pressão), isoladas do ambiente. Geral-
mente, ele pode ser encontrado em bacias sedimentares, no assoalho oceânico e
fundo de mares ou lagos, sempre em ambientes de pressão específica (AGÊNCIA
NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEL, 2016).

A mistura extraída do solo precisa ser separada em diversos processos até


que possa ser utilizada como os derivados conhecidos popularmente. A separação é
feita pelo aquecimento do petróleo bruto, e os subprodutos precisam passar por pro-
cessos de refino, que são processos químicos que tornarão as substâncias adequadas
para o consumo. A Tabela 9 apresenta os principais produtos do petróleo e seus usos.

TABELA 9 – PRINCIPAIS PRODUTOS, COMPOSIÇÕES E USOS, DO PETRÓLEO

Produto Composição e uso


Gás residual com 1 a 2 átomos de carbono, usado para aque-
Gás de petróleo
cimento e para a indústria.
Gás Liquefeito de
Com 3 a 4 átomos de carbono, usado principalmente para cozinhar.
Petróleo – GLP
Com 5 a 10 átomos de carbono, é um produto intermediário
Nafta que irá se transformar em gasolina ou servirá de matéria-
-prima para a indústria petroquímica.
Com 5 a 8 carbonos, é utilizada como combustível para
Gasolina motores do ciclo Otto*. É uma nafta que se transformou em
gasolina por outros processos químicos.
Com 11 a 12 carbonos, é usado principalmente como com-
Querosene
bustível para turbinas de jatos, além de outras aplicações.
Com 13 a 18 carbonos, é um combustível usado principal-
mente em transporte rodoviário e aquaviário, em motores
Óleo diesel
do ciclo diesel, além de ser utilizado também em termoelé-
tricas e para aquecimento.
Com 26 a 38 carbonos, é usado principalmente na lubrificação
Óleo lubrificante
de motores e engrenagens e como matéria-prima para graxas.

38
TÓPICO 2 | PRODUÇÃO E CONSUMO

Até 39 carbonos, é utilizado principalmente como fonte de


Óleo combustível
calor no segmento industrial.
Até 80 carbonos, servem como material inicial para a fabri-
Resíduos cação de outros produtos. Nesta faixa de compostos mais
pesados estão: coque, asfalto, alcatrão, breu, ceras e outros.
FONTE: Adaptado de Agência Nacional do Petróleo (2019)

O uso do petróleo na agricultura pode ser observado no uso de embalagens


plásticas, sacos, recipientes, mangueiras e elementos hidráulicos de sistemas de irri-
gação; cobertura e vedação de silos; dutos de ventilação; cobertura de estufas; telas de
sombreamento; lonas para transporte, estocagem, secagem e proteção; telas plásticas
para quebra ventos; proteção de flores, frutos e caules; cobertura de solos; e filmes
para uso diversos. De maneira indireta, ele é usado na produção de rações e aditivos
alimentares para animais e na produção de insumos para o cultivo vegetal.

A dependência da produção agropecuária no uso intensivo de máquinas


agrícolas concentra, nessa atividade, o consumo mais expressivo de combustível
fóssil. O óleo diesel – que abastece tratores, colhedoras, pulverizadores e demais
máquinas e equipamentos utilizados na agricultura – parece longe de ser passí-
vel de substituição, seja pela dificuldade de produção em massa de uma fonte de
energia sustentável, seja pela falta de interesse da indústria fabricante em mudar
sua matriz energética, seja pela própria característica de potência de explosão do
óleo diesel e sua adaptabilidade ao peso e tração das máquinas agrícolas.

Fato é que o uso dos combustíveis fósseis está tão arraigado na produção
rural que, além da contribuição para emissão de gases, a agricultura está sujeita
a qualquer transformação que o mercado desses combustíveis possa sofrer. Por
exemplo, um aumento do preço no mercado global refletirá rapidamente em toda
a cadeia produtiva, inclusive nos preços ao consumidor. Dessa forma, além da
dependência energética está a dependência econômica.

Devemos, no entanto, fazer uma ponderação sobre o fluxo de gastos e


produção de energia na agricultura, considerando que a propriedade rural pro-
duz alimentos utilizados inclusive na produção de biocombustíveis, cumprindo
um papel de geradora de energia. Então, o problema parece estar no longo da
cadeia de serviços e processamento dos produtos gerados na propriedade e, por
extensão, na própria sociedade que usufrui e demanda esses produtos e serviços
sem considerar os gastos energéticos.

39
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

DICAS

Os diversos usos dos diferentes combustíveis fósseis são abordados de forma de-
talhada no vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UkxZzSBX2-w. Confira!

2.4 ENERGIA ALTERNATIVA E RENOVÁVEL


A busca por alternativas de energia limpa e sustentável obedece à tríade
socialmente justa, ambientalmente correta e economicamente viável, três dimen-
sões difíceis de conciliar com um modelo de desenvolvimento baseado no cres-
cimento econômico. Desta forma, mudar a percepção de consumo e produção,
aliada a políticas públicas que impulsionem o desenvolvimento sustentável está
na base de um processo de transição de fontes energéticas.

Esse processo está em andamento, mesmo que seja a passos lentos, se con-
siderarmos que as energias renováveis já são mais de 44% do consumo nacional.
No entanto, desenvolvendo tecnologias de adaptação e fundamentação desse novo
paradigma de desenvolvimento, a agricultura passa aos poucos a utilizar fontes
como a energia solar, eólica, de biomassa e de biocombustíveis em seu cotidiano.

2.4.1 Biomassa
Baseada no uso de produtos orgânicos considerados descartáveis, a ener-
gia de biomassa mostra-se como uma alternativa apropriada não só pela geração
da própria energia, como também pelo uso de material normalmente considera-
do sem utilidade nos processos produtivos.

A biomassa tem sido utilizada com fonte para geração de energia, por
ser considerada limpa, visto que as emissões de CO2 são baixas e reu-
tilizam rejeitos que não teriam valor comercial, por isso são considera-
das também renováveis, visto que utilizam produtos que sempre serão
gerados a partir da decomposição de materiais orgânicos. A partir da
Biomassa podemos gerar diversas formas de energia a partir de diver-
sos processos como, por exemplo: o Biogás, Etanol, Biodiesel, Pellets e
Briquetes (CORREIA, 2016, p. 54).

A energia produzida pela biomassa pode vir de diferentes fontes, sendo


o lixo orgânico uma delas. Para a agricultura, é importante considerar o conceito
de cultivos ou culturas energéticas, que podem ser florestais, forrageiras, oleagi-
nosas (como soja, dendê, entre outras), cana-de-açúcar e microalgas, embora essa
lista se amplie constantemente considerando as inúmeras pesquisas no setor.

40
TÓPICO 2 | PRODUÇÃO E CONSUMO

É importante lembrarmos que o processo de obtenção da biomassa pas-


sível de geração de energia nem sempre segue os princípios da sustentabilidade.
Dessa forma, alguns questionamentos sobre o assunto têm se difundido junto aos
pesquisadores, como o uso do carvão vegetal e de outros subprodutos florestais,
bem como da soja, resíduos de processamento agroindustrial, subprodutos da
produção animal e até mesmo de matéria orgânica de sistema de esgoto.

São produtos possíveis a partir da energia de biomassa:

Biogás: é um gás incolor, composto basicamente por 60 a 75% de metano


(CH4) e 30 a 40% de dióxido de carbono (CO2) e outros gases. É considerado altamen-
te poluente se liberado na natureza, “chegando a ser 21 vezes mais poluente que o
CO2 e altamente explosivo” (FARIA, 2012, p. 2). É produzido durante a degradação
anaeróbia da matéria orgânica.

Na agricultura, a produção de biogás está principalmente associada à produ-


ção de suínos e aves, com diferentes modelos e formas de captação, desde sistemas
pequenos para a agricultura familiar até grandes estruturas de captação. O biogás é,
normalmente, transformado em energia elétrica, passível de utilização nas proprie-
dades rurais ou de redistribuição para centrais elétricas.

Etanol ou álcool etílico (C2H5OH): conhecido por ser utilizado como combus-
tível para automóveis, o etanol pode ser anidro ou hidratado (0,5 e 5% de água respec-
tivamente). O hidratado é aquele normalmente utilizado nos postos de combustível.

A produção de etanol através da biomassa tem encontrado resistências e pro-


porcionado intensos debates pelo uso de produtos alimentícios como milho e soja,
considerados produtos nobres para o consumo humano, o que pressupõe uma subs-
tituição das culturas agroalimentares para a geração de energia.

Biodiesel: composto oleaginoso, combustível e capaz de proporcionar o fun-


cionamento de motores, podendo substituir o óleo diesel proveniente do petróleo.

O biodiesel, como o próprio nome já sugere é um combustível derivado


de fontes oleaginosas renováveis, produzido a partir de gorduras ani-
mais e principalmente de óleos vegetais. Atualmente no Brasil, o biodie-
sel de origem vegetal é produzido da mamona, dendê, canola, girassol,
amendoim, soja e do algodão. E os de origem animais geralmente são
produzidos de sebo bovino e gordura suína (CORREIA, 2016, p. 72).

Algumas alternativas, como o reuso de óleo de cozinha, têm sido testadas


e consideradas viáveis. Além disso, dados de pesquisas atribuem ao biodiesel uma
redução de 75% nas emissões de gases causadores do efeito estufa (CORREIA, 2016).

41
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

2.4.2 Eólica
A energia eólica utiliza a força dos ventos para proporcionar energia cinéti-
ca que, por sua vez, será transformada em energia, normalmente elétrica. Também
pode ser armazenada em baterias ou formar sistemas híbridos utilizando turbinas
eólicas ou aerogeradores.

O Brasil possui considerável capacidade de geração de energia eólica, que


em 2018 representou 14,4% da oferta de energia no país e segue com perspectivas
de ampliação nos próximos anos. Além de ser considerada uma fonte de energia
limpa, ela possui perda considerada zero no decorrer de sua produção (BEN, 2019).

A energia eólica não contamina o ambiente (água, solo, ar), e os ventos


não se esgotam. A energia eólica pode ser utilizada como complemen-
tar à energia hidrelétrica, a qual atualmente é predominante no Brasil
e gera impactos ambientais, sociais etc. Apesar de não serem possíveis
outras edificações no entorno dos parques, em função da estrutura que
exige o sistema, é possível realizar atividades agrícolas, caso seja viá-
vel pelo terreno (KASPARY e JUNG, 2015, p. 12).

A produção de energia eólica possui vantagens relacionadas ao custo de


instalação e manutenção quando comparadas à energia hídrica, além de ser um
importante componente de desenvolvimento socioeconômico. Estudos mostram
que a capacidade de produção também está em locais remotos, como o Nordeste
do Brasil, onde as formas de produção de energia e agropecuárias são limitadas.

2.4.3 Solar
De maneira geral, o sol é fonte indispensável na geração de energia, seja
pela essencialidade na produção de biomassa ou pelo funcionamento do próprio
ecossistema. De maneira direta, a energia solar pode ser captada e transformada
em energia elétrica e/ou de aquecimento. A forma atualmente mais utilizada para
intermediar essa conversão é o uso de células fotovoltaicas que formam painéis,
os quais atuam como transdutores capazes de converter luz em energia.

Atualmente, as células fotovoltaicas mais utilizadas são feitas de silí-


cio, que pode ser dividido em 3 grupos: monocristalizado, com grau
de pureza em 98% e 99%, razoavelmente eficiente do ponto de vista
energético e de custo, precisa ser associado a outro semicondutor de
pureza 99,99999% para funcionar como célula fotovoltaica; policrista-
lizadas são mais baratas que a monocristalizadas e menos puras redu-
zindo a eficiência energética, apesar de ter a mesma forma de fabrica-
ção das monocristalizadas, são produzidas com menos rigor; Silício
Amorfo possui alto grau de desordem na estrutura dos átomos e com
isso tem eficiência energética menor que os mono e policristalizados,
devido a isso as células passam por uma degradação nos primeiros
meses de uso, o que reduz ainda mais a eficiência ao longo da vida
útil, apesar disso, tem sido uma tecnologia forte e de baixo custo na
produção de fotovoltaicos tanto no processo de fabricação quanto nas
propriedades elétricas (CORREIA, 2016, p. 41).

42
TÓPICO 2 | PRODUÇÃO E CONSUMO

Para transformação em energia térmica, de maneira simplificada, o processo


pode ser realizado de duas formas:

Captores: são pequenas estruturas capazes de captar luz e conter temperatu-


ras menores que 100 0C, normalmente utilizadas em residências, pequenos hotéis e
demais estruturas de menor demanda.

Concentrador solar: aplicado a sistemas que demandam maiores tempera-


turas, sua estrutura captadora é formada por uma superfície refletora com espelhos
em forma parabólica ou esférica no intuito de coletar de área maior, concentrar e
transmitir a energia. Ele pode ser utilizado para a geração de vapor e energia elétrica.

Para além dos processos térmicos acima, a radiação solar pode ser diretamen-
te convertida em energia elétrica pelo uso das células fotovoltaicas.

No Brasil, os investimentos em energia solar ainda são limitados. Assim, as pes-


quisas concentram-se em reduzir os custos de implantação e ampliar a relação de custo e
eficiência, atualmente entre 32 e 45%. Em contraponto, muitos estudos mostram a viabi-
lidade de uso desse sistema no país, considerando os índices de radiação solar possíveis
de captação e sua considerável incidência durante as diferentes estações do ano.

Nesse aspecto, a afirmação de Flórez (2010) corrobora com as perspectivas de


ampliação do uso da energia solar. O autor afirma que a energia solar absorvida pela
Terra em um ano é equivalente a vinte vezes a energia armazenada em todas as re-
servas de combustíveis fósseis no mundo e dez mil vezes superior ao consumo atual.

Mesmo com as restrições tecnológicas e econômicas, a capacidade instalada


de geração de energia solar aumentou 44% em 2019 (BEN, 2019), um incremento de
21% na sua produção em cenário geral de uso energético. As projeções indicam a
continuidade desse processo de crescimento.

Na agricultura, a energia solar começa a ser utilizada de forma mais intensa,


devido principalmente ao incentivo de algumas empresas integradoras na produção
de carne. Assim, passa a ser um cenário mais comum encontrar painéis solares na
produção de aves, leite e suínos. Além da redução de custos com a energia, o agri-
cultor passa a ter mais segurança contra possíveis falhas na rede elétrica que possam
comprometer sua produção.

2.5 BALANÇOS ENERGÉTICOS AGROPECUÁRIOS


A agricultura é produtora de fontes de energia renováveis, como girassol,
cana-de-açúcar, milho, soja, forrageiras, lenha, carvão, entre outras. Em outro as-
pecto, essa mesma produção consume energia não renovável em suas operações.
Desta forma, entender o balanço entre produção e consumo de energia é impor-
tante para a avaliação da viabilidade e correção, mitigação de perdas, ajustes e
inovação de técnicas.

43
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

Tanto o consumo quanto a produção a serem considerados no balanço


energético de uma propriedade têm enorme variabilidade, como os processos e
técnicas utilizadas por cada produtor, os recursos disponíveis na propriedade, o
local, a região de produção e de acordo com cada cadeia produtiva.

Segundo Andrade et al. (2018), a produção da agricultura corresponde


a 24% da matriz energética nacional com um consumo de 4,2% de energia es-
sencialmente não renovável (óleo diesel, fertilizantes, agrotóxicos e demais insu-
mos). Os números registram um saldo positivo no balanço energético nacional,
porém, como já mencionado, o aparente equilíbrio não contempla a energia gas-
ta nos processos de agroindustrialização e produção dos insumos utilizados na
agricultura. Ainda, vale mencionar que 4,2% de energia de fontes não renováveis
correspondem a mais que a produção total da segunda maior usina hidroelétrica
do mundo, a Itaipu (ALBIERO, 2015).

Carvalho e Faria (2015), em um estudo sobre a eficiência energética da


produção de soja em Primavera de Leste, constataram um indicador médio de
3,97, muito inferior à média nacional. Os autores observaram que a maior parte
da energia que compõe a entrada no sistema está nos insumos externos.

Desta forma, percebe-se que o complexo químico-industrial é o gran-


de fornecedor de energia para a sojicultura. Somando as participações
médias dos adubos (59,0%), dos agrotóxicos (24,9%), dos combustíveis
(7,7%) e das máquinas (0,6%), tem-se 92,2% da energia exógena in-
corporada no sistema produtivo somente de insumos industriais. As
fontes biológicas se limitam a 7,7% com a participação das sementes,
sendo a mão de obra infinitesimal (CARVALHO e FARIA, 2015, p. 85).

Os autores corroboram outros resultados que demonstram a concentração de


energia no uso de insumos externos e apontam um caminho para a reversão desse
quadro, o qual é o desenvolvimento de pesquisas e trabalhos de extensão com o ob-
jetivo de reduzir a dependência de insumos externos e investimentos na diversidade
produtiva, na melhoria das condições de solo e na eficiência no uso de tecnologias.

Sá et al. (2013) desenvolveram um extenso trabalho de avaliação do ba-


lanço energético da produção de grãos, carne e biocombustíveis em sistemas es-
pecializados e mistos. Entre as conclusões dos autores, está a melhor eficiência
energética dos cultivos mistos.

Nas pastagens avaliadas, o retorno em energia foi cem vezes superior


à energia investida ao longo do período avaliado. Apesar de não haver
diferença acentuada de produtividade animal, entre os sistemas [...] o
balanço energético na pastagem consorciada foi superior ao do mono-
cultivo de gramínea, em decorrência do menor consumo associado ao
investimento energético em fertilizantes e corretivos. Este valor repre-
sentou 27,71% na pastagem em monocultivo de gramínea e 12,68% na
pastagem consorciada (Sá et al., 2013, p.1326).

44
TÓPICO 2 | PRODUÇÃO E CONSUMO

Outro resultado apresentado pelo estudo foi a eficiência do uso do biocom-


bustível e das operações de conservação de solo pelo uso do plantio direto na palha.

É importante lembramos que a eficiência energética não está somente re-


lacionada ao menor gasto de energia para a produção de maior quantidade de
energia alimentar, mas também está relacionada à menor emissão de gases noci-
vos para a atmosfera, os quais potencializam o efeito estufa e culminam na influ-
ência da própria sustentabilidade da vida na biosfera.

2.5.1 Métodos e formas de conversão e utilização de


energia
A energia utilizada nos processos de produção agrícolas é resultado das
transformações as quais foram submetidas. De maneira geral, a energia é enten-
dida como a capacidade de realização de determinada ação ou trabalho. Essa
capacidade varia de acordo com a fonte energética e também com a forma de
conversão usada para disponibilizá-la ao objetivo proposto. Em cada um dos
itens acima, pontuou-se algumas dessas fontes e suas formas de conversão para
o interesse da agricultura.

Podemos converter energia de biomassa, por exemplo, em térmica, gás


ou etanol, da mesma forma que a solar pode ser convertida em elétrica ou térmi-
ca e assim por diante. Assim, assume-se a afirmativa anterior de que o homem
converte e transforma os recursos naturais em energia conforme sua necessidade
e demanda, aprimorando processos e tecnologias em busca da maior eficiência.

O aproveitamento da biomassa pode ser feito por meio da combustão


direta (com ou sem processos físicos de secagem, classificação, com-
pressão, corte/quebra etc.), de processos termoquímicos (gaseificação,
pirólise, liquefação e transesterificação) ou de processos biológicos (di-
gestão anaeróbia e fermentação) (ANEEL, 2013, p. 1).

A Figura 7 mostra um organograma dos processos de conversão da bio-


massa e ilustra esta diversidade de caminhos e possibilidades.

45
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

FIGURA 7 – DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DOS PROCESSOS DE CONVERSÃO ENERGÉTICA DA


BIOMASSA

FONTE: ANEEL (2013, p. 87)

Um organograma semelhante poderia ser elaborado para diferentes fon-


tes de energia dada sua flexibilidade e, ao mesmo tempo, especificidade de con-
versão, sempre considerando a tecnologia disponível para tal, bem como a efici-
ência do processo.

A Tabela 10 contempla os processos de conversão e a tecnologia utilizada


para as principais fontes de energia da atualidade.

46
TÓPICO 2 | PRODUÇÃO E CONSUMO

TABELA 10 – FORMAS DE CONVERSÃO E TECNOLOGIA PARA AS PRINCIPAIS FONTES DE


ENERGIA
Fonte energética Conversão Tecnologia
Térmica (calor de baixa temperatura). Coletor solar.
Térmica (calor a média/ alta temperatura). Coletor concentrador.
Energia solar Fotovoltaica (energia elétrica). Painéis fotovoltaicos.
Energia mecânica. Aerobombas, moinhos.
Energia Eólica Energia elétrica. Aerogeradores.
Energia das ondas Energia elétrica. Turbinas (hidráulica ou de ar).
Energia das marés Energia elétrica. Turbina hidráulica.
Combustão. Fornos, caldeiras.
Fermentação metânica (biogás). Digestor anaeróbico.
Energia de Pirólise (carvão vegetal). Câmaras de carbonização.
biomassa Gaseificação (gás de baixo/médio PCI). Gaseificador.
Baixa entalpia (água quente a 30-80 ºC). Água injetada na superfície.
Energia
geotérmica Alta entalpia (energia elétrica). Turbina a vapor.
Energia hídrica Energia elétrica. Turbina hidráulica.
FONTE: Adaptado de Nhambiu (2013, p. 21-54)

Na Tabela 10 estão consideradas a energia das marés, das ondas e geo-


térmicas, as quais não foram trabalhadas neste material, mas estão adiantadas
em pesquisas que comprovam e viabilizam seu uso, afirmando mais uma vez a
diversidade de possibilidades de geração de energia disponíveis para o estudo e
aplicação na agricultura e demais setores da sociedade.

47
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

LEITURA COMPLEMENTAR

BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL 2019 (BEN 2019)

Destaques de Energia por Fonte – ano base 2018

Este artigo apresenta, resumidamente, a análise dos principais movimen-


tos referentes à produção e ao consumo de energia em 2018 em comparação com
o ano anterior, para as principais fontes energéticas: petróleo, gás natural, energia
elétrica, carvão mineral, energia eólica, biodiesel e produtos da cana.

Energia Eólica

A produção de eletricidade a partir da fonte eólica alcançou 48.475 GWh


em 2018, equivalente a um aumento de 14,4% em relação ao ano anterior, quando
se atingiu 42.373 GWh. Em 2018, a potência instalada para geração eólica no país
expandiu 17,2%. Segundo o Banco de Informações da Geração (BIG), da Agência
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o parque eólico nacional atingiu 14.390
MW ao final de 2018.

Biodiesel

Em 2018, a produção de B100 no país cresceu 24,7% em relação ao ano


anterior atingindo o montante de 5.350.036 m³. O percentual de B100 adicionado
compulsoriamente ao diesel mineral atingiu 10,0%. A principal matéria-prima foi
o óleo de soja (63%), seguido do sebo bovino (12%).

Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento


(MAPA), a produção de cana-de-açúcar no ano civil 2018 alcançou 624,5 milhões
de toneladas, queda de -1,7% em relação ao ano civil anterior, quando a moagem
foi 635,6 de milhões de toneladas.

Em 2018, a produção nacional de açúcar foi de 29,3 milhões de toneladas,


redução de 23,1% em relação ao ano anterior, enquanto a fabricação de etanol su-
biu 19,9%, atingindo um montante de 33.198 mil m³. Deste total, 71,4% referem-se
ao etanol hidratado: 23.693 mil m³. Em termos comparativos, houve um expres-
sivo aumento de 48,1% na produção deste combustível em relação a 2017. Já a
produção de etanol anidro, que é misturado à gasolina A para formar a gasolina
C, registrou uma queda de 18,7%, totalizando 9.505 mil m³.

48
TÓPICO 2 | PRODUÇÃO E CONSUMO

Energia Elétrica

A geração de energia elétrica no Brasil em centrais de serviço público e


autoprodutores atingiu 601,4 TWh em 2018, resultado 2,0% superior ao de 2017.
As centrais elétricas de serviço público participaram com 83,2% da geração total.
A geração hídrica, principal fonte de produção de energia elétrica no Brasil, cres-
ceu 4,9% na comparação com o ano anterior.

A geração elétrica a partir de não renováveis representou 17,6% do total


nacional, contra 20,8% em 2017. A autoprodução (APE), em 2018, participou com
16,8% do total produzido, considerando o agregado de todas as fontes utilizadas,
atingindo um montante de 101,2 TWh. Desse total, 57,6 TWh não foram injetados
na rede, ou seja, produzidos e consumidos pela própria instalação geradora, usu-
almente denominada como APE clássica.

A autoprodução clássica agrega as mais diversas instalações industriais


que produzem energia para consumo próprio, a exemplo dos setores de papel e
celulose, siderurgia, açúcar e álcool, química, entre outros, além do setor energé-
tico. Neste último, destacam-se os segmentos de exploração, refino e produção
de petróleo. Importações líquidas de 35,0 TWh, somadas à geração nacional, as-
seguraram uma oferta interna de energia elétrica de 636,4 TWh, montante 1,7%
superior a 2017. O consumo final foi de 535,4 TWh, representando uma expansão
de 1,4% em comparação com 2017.

As fontes renováveis representam 83,3% da oferta interna de eletricidade


no Brasil, que é a resultante da soma dos montantes referentes à produção nacio-
nal mais as importações, que são essencialmente de origem renovável. Do lado do
consumo final, houve uma evolução de 1,4%, atingindo um total de 535,4 TWh,
com destaque para o setor industrial e residencial, que participaram com 37,5% e
25,4% respectivamente.

FONTE: Adaptado de EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (BRASIL). Balanço Energético Nacional


2019: ano base 2018. Rio de Janeiro: EPE, 2019. Disponível em: https://bit.ly/2VJtmGY. Acesso
em: 20 dez. 2019.

49
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O uso de energias renováveis já corresponde a mais de 44% (2018/2019) do


consumo nacional. Podemos entender isso como uma resposta positiva (lenta)
ao desenvolvimento e adoção de tecnologias que buscam viabilizar fontes de
energia limpas e renováveis para uso nos diferentes setores da sociedade.

• A energia produzida pela biomassa pode vir de diferentes fontes, entre as


quais o lixo orgânico, cultivos ou culturas energéticas, como florestais, forra-
geiras, oleaginosas (soja, dendê, entre outras), cana-de-açúcar e microalgas,
entre outras. Contudo, é importante lembrarmos que o processo de obtenção
da biomassa é consumidor de energia, e nem sempre segue os princípios da
sustentabilidade.

• A produção de energia eólica possui vantagens relacionadas ao custo de insta-


lação e manutenção quando comparadas a energia hídrica, além da possibili-
dade de desenvolvimento socioeconômico pela possibilidade de produção em
diferentes regiões.

• A energia solar oferece grandes possibilidades de uso pela sua disponibilidade


em todo o território nacional, no entanto, ainda oferece desafios relacionados
ao custo de implantação e à eficiência de conversão.

• A agricultura é produtora de fontes de energia renováveis e consumidora des-


sas mesmas fontes, principalmente das não renováveis. Dessa forma, entender
o balanço entre produção e consumo de energia é importante para a avaliação
da viabilidade e correção, mitigação de perdas, ajustes e inovação de técnicas.

50
AUTOATIVIDADE

1 Os índices elevados de consumo de energia não renovável na agricultura


são atribuídos ao uso externo de insumos e a mecanização agrícola. Neste
sentido, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) O aporte de energia para a produção de carne está centrado principal-


mente na produção da ração consumida pelos animais, que passa por todo
o processo de cultivo, preparo de solo, semeadura, tratos culturais, colheita,
transporte e armazenagem.
b) ( ) O Brasil possui um sistema energético fortemente ligado ao uso da
energia fóssil, como carvão, gás natural e petróleo, que apesar de não reno-
váveis, são responsáveis por uma pequena quantidade de emissão de gases
considerados nocivos para a atmosfera.
c) ( ) Segundo dados do balanço energético de 2019 (BEN, 2019), o Brasil uti-
liza atualmente um percentual abaixo de 50% de energia de fontes renová-
veis e acima de 50% de fontes não renováveis, principalmente do petróleo.
d) ( ) A produção de insumos, rações, fertilizantes e agrotóxicos, com o uso
da mecanização a base de produtos do petróleo, são considerados os maio-
res consumidores de energia na agricultura do Brasil.

2 Sobre a energia solar, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) O sol é fonte indispensável na geração de energia, seja pela essencialidade


na produção de biomassa ou pelo funcionamento do próprio ecossistema.
b) ( ) A forma atualmente mais utilizada para intermediar esta conversão é
o uso de células fotovoltaicas que formam painéis, os quais atuam como
transdutores capazes de converter luz em energia.
c) ( ) Captores e concentradores solares são mecanismos utilizados para
converter energia solar em energia térmica.
d) ( ) O baixo custo de implantação e a eficiência na conversão tornam a
energia solar acessível e de alto índice de adesão pela sociedade em geral.

3 A energia produzida pela biomassa pode vir de diferentes fontes, desde


resíduos vegetais até animais. Além disso, ela concentra grandes esforços
de pesquisa e desenvolvimento, atualmente. Sobre a energia de biomassa,
analise as afirmativas a seguir e assinale a alternativa CORRETA:

I- Entre os produtos possíveis, a energia de biomassa compreende o biogás,


o etanol e os biocombustíveis.
II- A principal fonte de produção de biogás por biomassa instalada no Brasil
atualmente vem da produção animal, sendo produzida pela degradação
aeróbia da matéria orgânica.

51
III- O etanol pode ser anidro ou hidratado, dependendo do percentual de
água adicionado no processamento.
IV- Entre os biocombustíveis possíveis na produção de energia por biomassa
está o biodiesel usado em motores para substituição de produtos derivados
do petróleo.

a) ( ) Todas as alternativas estão incorretas.


b) ( ) A alternativa II e III estão corretas.
c) ( ) A alternativa II está incorreta.
f) ( ) As alternativas I, II e IV estão corretas.

4 A produção agrícola gera gasto e, ao mesmo tempo, produção de energia.


Neste sentido, é CORRETO afirmar que:

I- O consumo e produção de energia dependem das especificidades de cada


sistema produtivo.
II- Sistemas que realizam os chamados cultivos energéticos, ou seja, produ-
zem matéria para a produção de biomassa, não estão isentos de balanços
energéticos negativos.
III- O desequilíbrio nos balanços energéticos é atribuído ao uso de insumos
externos e à mecanização agrícola.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Todas as alternativas estão corretas.


b) ( ) Somente a alternativa III está correta.
c) ( ) A alternativa II está incorreta.
d) ( ) As alternativas I e II estão corretas.

5 Sobre os processos de conversão de energia, assinale a alternativa


INCORRETA:

a) ( ) A energia eólica é convertida em energia mecânica e/ou elétrica.


b) ( ) A energia solar pode ser convertida em energia de baixo e médio aque-
cimento e em energia elétrica.
c) ( ) A energia hídrica é convertida em energia elétrica pelo uso de turbinas.
d) ( ) A energia de biomassa é convertida por processos mecânicos.

52
UNIDADE 1
TÓPICO 3

SISTEMA DE SEMEADURA

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico! No Tópico 3 desta unidade, vamos discutir sobre o sistema de


semeadura. Desta maneira, vamos abordar as técnicas e características de semeadura
direta e convencional. Aprofundaremos nossos estudos na semeadura direta, maqui-
nário e cuidados para que essa operação inicial no ciclo produtivo possa ser realizada
de forma adequada a garantir o sucesso da colheita e a qualidade dos produtos.

A semeadura sempre foi o ato determinante em um sistema de produção e,


com a evolução da produção vegetal, passou a fazer parte de um sistema, ou seja, um
complexo de ações realizadas para culminar na deposição da semente no solo e no
seu desenvolvimento. Desta forma, um sistema de semeadura compreende ações de
preparo e manejo dos solos com o objetivo de adequar suas condições físicas, quími-
cas e biológicas para uma perfeita germinação e desenvolvimento do vegetal.

Atualmente, o sistema de semeadura predominante é o Sistema de Plantio


Direto (SPD), conhecido também como sistema de plantio direto na palha, caracteri-
zado principalmente pela camada vegetal sobre a superfície do sol. Ele foi desenvol-
vido a partir do Sistema de Plantio Convencional (SPC), o qual foi muito difundido
durante a Revolução Verde e tinha como objetivo a busca de aumento da produção,
porém sem considerar os efeitos nocivos ao solo e aos recursos ambientais.

2 SEMEADURA
A semeadura pode ser considerada o momento inicial de um processo
de produção vegetal. Ela é tão importante que mesmo que o solo apresente boa
nutrição, esteja fisicamente adequado e a semente seja de boa qualidade, se a
operação no ato de deposição da semente for feita de forma errônea, seja pelo es-
paçamento inadequado, profundidade ou densidade não recomendadas àquela
espécie, as implicações serão vistas na hora da colheita, afetarão o rendimento, a
qualidade do produto final e, portanto, a rentabilidade da produção. Desta for-
ma, conhecer e dominar as técnicas e processos de semeadura é fundamental
para o sucesso da produção agrícola.

53
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

A operação de semeadura é precedida pelo planejamento, conhecimento


do ciclo e especificidades da cultura em questão, análise e preparo do solo e es-
colha das técnicas a serem utilizadas. Atualmente, o Sistema de Plantio Direto na
Palha (SPD), comprovadamente eficiente em termos de produtividade, conser-
vação e manejo de solo, concentra nossos esforços de conhecimento. No entanto,
a semeadura convencional ainda está em uso em determinadas regiões do país,
bem como é considerada a mais adequada ao cultivo de algumas espécies vege-
tais. A forma de semeadura está relacionada diretamente com a forma de prepa-
ro do solo, convencional ou em SPD. O preparo do solo, por sua vez, comporta as
operações realizadas anteriormente à semeadura com o objetivo de proporcionar
melhores condições de recepção, germinação e brotação da semente.

2.1 SISTEMA DE SEMEADURA CONVENCIONAL


O sistema de semeadura convencional está relacionado à forma de preparo do
solo. O preparo convencional ou intensivo do solo pressupõe as operações a seguir:

• Subsolagem: revolvimento do solo em maior profundidade (de 15 a 35 cm)


que tem por objetivo promover a descompactação e o rompimento de adensa-
mento de solo em profundidade, normalmente usado para romper o chamado
“pé de arado”, superfície de compactação causada pelo uso intensivo da aração
nesse sistema.

• Aração: operação de inversão de leiva do solo feita na profundidade variável


de 10 a 30 cm, dependendo do objetivo e, consequentemente, da regulagem
feita no arado e no seu acoplamento ao trator. O objetivo da aração é promo-
ver o revolvimento do solo, influenciando na aeração e na porosidade do solo,
rompendo crostas e camadas compactadas.

• Gradagem: operação realizada normalmente como complementar à aração. Ela


promove o destorroamento, nivelamento do solo e incorporação superficial de
restos culturais, atuando na aeração e na porosidade do solo. A gradagem tam-
bém é utilizada em preparo reducionista do SPD, como veremos adiante.

• Plantio: deposição da semente no solo previamente preparado, feito com o uso


de semeadoras-adubadoras específicas.

O sistema de Plantio Convencional (PC) possui suas variáveis e adapta-


ções a cada espécie vegetal, bem como a cada realidade de solo, região e disponi-
bilidade de equipamentos pelo agricultor.

Utilizado na produção de grãos em grande escala até a década de 1980, o


preparo de solo convencional atualmente está limitado, principalmente à produ-
ção de tubérculos, visto a sensibilidade deles à umidade, necessidade de aeração

54
TÓPICO 3 | SISTEMA DE SEMEADURA

e a forma de colheita. O cultivo de hortaliças também tem forte adesão ao PC. Em-
bora em fase de transição, muitos horticultores usam o PC e ainda acrescentam o
uso da enxada rotativa como forma de pulverizar e destorroar ainda mais o solo.

O aparente benefício da aeração, promovida pelo PC, contrapõe o rompi-


mento dos agregados, a aceleração da decomposição da matéria orgânica (redu-
zindo o fluxo de disponibilização de nutrientes e afetando a macro e microfauna
do solo), a ampliação de volume de poros e facilita o desenvolvimento do sistema
radicular. Porém, reduz a capacidade de retenção de água e potencializa as possibi-
lidades de lixiviação. A superfície livre de plantas indesejadas ou resíduos vegetais
facilita a semeadura (menor exigência de força) e, em muitos casos, a colheita. No
entanto, expõe o solo aos efeitos da oscilação de temperaturas, ao impacto das go-
tas de chuva e, portanto, aos processos erosivos e de perdas frequentes.

2.2 SISTEMA DE SEMEADURA DIRETA


O sistema de semeadura direta está, da mesma forma que o PC, relaciona-
do à forma de preparo do solo. De maneira simplificada, consiste em depositar a
semente em um solo sem revolvimento e protegido com uma camada de palha,
contendo resíduos vegetais na superfície.

O SPD surge com questionamentos às consequências negativas do PC, os


quais foram potencializados na década de 1980 por técnicos, agricultores e pes-
quisadores. Concebido como uma prática conservacionista, o SPD passou a ser
praticamente unanimidade na produção de grãos, principalmente soja e milho,
como forma de assegurar a sustentabilidade do uso agrícola do solo.

A utilização do sistema de preparo conservacionista proporciona re-


dução dos custos de produção e maior economia de combustível em
função da ausência das operações de preparo, permitindo melhor ra-
cionalização no uso de máquinas e implementos. O plantio direto é
uma técnica de cultivo conservacionista em que a semeadura é efetu-
ada sem as etapas do preparo convencional da aração e da gradagem
(ORMOND, 2013, p. 22).

O plantio direto na palha é apenas uma etapa do SPD, nominado de sis-


tema justamente por propor um sistema de ações coordenadas e interligadas
sempre direcionadas à estabilização do solo como organismo vivo e base para o
desenvolvimento vegetal.

A primeira exigência do SPD é a manutenção da cobertura de solo por


plantas em desenvolvimento e/ou resíduos vegetais. A cobertura tem o objetivo
de proteger o solo da ação de intempéries, chuva e oscilação de temperaturas,
evitando o escorrimento superficial, a erosão e a perda de partículas e nutrientes.
Indiretamente, também ameniza o assoreamento dos rios e evita gastos desneces-
sários como o replantio (comum no PC) ou operações desgastantes (energetica-
mente) de combate a pragas e plantas indesejadas.

55
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

A adaptação ao novo sistema foi um processo gradual, tanto para os agri-


cultores e técnicos quanto para a indústria de máquinas, implementos e insumos,
podendo ser tida como uma mudança na matriz de produção na agricultura.

As etapas do SPD podem ser definidas e organizadas da seguinte forma:

• Eliminação de ações de revolvimento de solo.


• Planejamento da rotação de culturas, prevendo no calendário agrícola espécies
para colheita e comercialização, adubação verde e espécies para manejo e co-
bertura de solo.
• Uso de máquinas específicas para o sistema, como as semeadoras-adubadoras
- desenvolvidas para reduzir o revolvimento do solo unicamente à abertura do
sulco de plantio.
• Manutenção e monitoramento constante do sistema, com planejamento a mé-
dio e longo prazo.

Os benefícios do SPD com o decorrer do tempo e correto manejo, são es-


tendidos a estruturação e fertilidade do solo, desenvolvendo equilíbrio e susten-
tabilidade no espaço tempo.

DICAS

Conheça a história do plantio direto no Brasil no vídeo disponível em: https://


www.youtube.com/watch?v=x0n-G-1xo4o.

2.2.1 Características de solo determinantes para a


relação solo máquina
O SPD pressupõe o conhecimento do solo de cada área a ser utilizada para
o plantio. Esse é um fator indispensável que deve ocorrer desde o planejamento
de implantação até o monitoramento e condução.

É recomendável que, antes da implantação do SPD, seja feito um diag-


nóstico e análise do solo. Caso o solo esteja muito compactado ou desgastado por
anos de PC, deve ser feito o revolvimento, se necessário em nível de subsolagem.
Essa ação deve ser precedida do imediato plantio de uma espécie de cobertura,
essencial para que se rompam as camadas de compactação profundas, o que irá
facilitar o equilíbrio do sistema a médio e longo prazo. Nesse momento, também
deve ser feita a análise química do solo e, se necessária, a calagem e adubação.

56
TÓPICO 3 | SISTEMA DE SEMEADURA

O tipo de solo, argiloso ou arenoso, também é importante para a relação do


solo e da máquina, visto que em solos argilosos a força exigida para as operações é
maior. Da mesma forma, em solos arenosos e mais suscetíveis à ruptura mecânica,
a degradação pode ser mais abrupta e extensiva, exigindo maior cuidado na regula-
gem da abertura de sulco, na deposição de semente, no adubo e no corte de palhada.

Considerando as especificidades de cada solo e a realidade de cada proprie-


dade, a regulagem da semeadora-adubadora e o planejamento da semeadura deve
ser feito com antecedência e capacitação prévia.

2.3 MÁQUINAS PARA SEMEADURA DIRETA


Diversos fatores podem interferir na produção vegetal. No entanto, aque-
les que estão relacionados com a qualidade de semeadura são definitivos e, na
maioria das vezes, irreparáveis. Assumindo que o sucesso da cultura está relacio-
nado a sua correta implantação, entender os mecanismos de uma semeadora-a-
dubadora, os sistemas de regulagem, corte, abertura e compactação do sulco de
plantio são primordiais para a qualidade e rentabilidade da produção.

2.3.1 Considerações anteriores à semeadura


No SPD, o manejo e a manutenção dos resíduos vegetais na superfície do
solo, provenientes de restos de culturas anteriores ou de espécies de cobertura, é
a forma direta de reduzir danos pela erosão, seja por desagregação das partículas
ou por perda de solo. Sendo assim, o manejo anterior à semeadura está relaciona-
do ao manejo desses restos culturais ou das plantas de cobertura.

O manejo incorreto da cobertura pode ocasionar:

a) Má distribuição da palhada, criando pontos de excesso e outros de falta de co-


bertura, focos de proteção de bancos de sementes e de germinação de plantas
indesejáveis.
b) Após a germinação das plantas indesejáveis, os pontos de excesso de palhada
podem servir como abrigo para elas, dificultando o acesso dos herbicidas utili-
zados no controle.
c) Os pontos de excesso podem ser pontos de embuchamentos das semeadoras,
em especial no plantio com espaçamentos reduzidos.
d) Nos pontos de escassez de cobertura pode haver o impacto da chuva, a desa-
gregação dos agregados do solo e ainda a fluidez da água por baixo da cober-
tura, ampliando ainda mais o problema.
e) Distribuição desuniforme em diferentes profundidades das sementes e da adu-
bação.

Para evitar os problemas acima, deve-se realizar o manejo correto da


espécie de cobertura ou dos resíduos, prevendo o corte em altura caso necessário,
57
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

a redistribuição e o manejo anterior à floração (espécies de cobertura com risco de


ressemeadura indesejada). Essas ações poderão assegurar condições corretas de
semeadura, uniformidade de cultivo e produção.

O manejo das espécies de cobertura pode ser feito por tombamento (uso
do rolo faca) ou por dessecação. O importante é que seja feito no momento correto
visando à manutenção de quantidade e qualidade de palhada. O manejo mecânico
não é obrigatório caso se opte pelo plantio com a espécie de cobertura em pé, com
prévio dessecamento.

Na manutenção de resíduos de culturas anteriores, é importante que o saca-


-palhas da colhedora esteja bem regulado, permitindo a distribuição dos resíduos
de forma uniforme e adequadamente picados (regulagem do picador de palhas).

O manejo das plantas de cobertura e de resíduos culturais deve con-


siderar sempre o tempo de permanência dos resíduos sobre a super-
fície do solo, ciclos e estágio fenológico das culturas e das plantas de
cobertura, necessidades de corte ou não da palha, possibilidades de
liberação de aleloquímicos, infestação por plantas daninhas, condi-
ções climáticas da região e liberação de nutrientes (imobilização ou
mineralização), teor de água no solo no momento do manejo, presença
de sulcos nas áreas a serem trabalhadas, sentido de deslocamento do
equipamento e direção do acamamento, entre outros (SIQUEIRA &
CASÃO JR., 2007).

No manejo dos resíduos, é importante conhecer os ciclos da cultura a ser


instalada e da cultura anterior ou da espécie de cobertura como forma de realizar o
correto planejamento das operações, tanto de manejo quanto de semeadura.

Em propriedades com integração lavoura e pecuária, esse manejo é mais


delicado. A retirada dos animais no tempo adequado para que a planta de cober-
tura – que neste caso também alimenta os animais – possa se recuperar e fornecer a
qualidade e quantidade de cobertura necessária para a cultura seguinte e o cuidado
com a lotação e o manejo animal também devem ser observados para evitar piso-
teio excessivo e a compactação superficial que pode ser provocada pelos animais.

Por fim, a escolha correta da forma de manejo do resíduo, do grau adequa-


do de decomposição da palhada e da regulagem da semeadura somada aos demais
cuidados irá proporcionar a adequada condição para a semeadura.

2.3.2 Semeadoras-adubadoras
As semeadoras foram as máquinas que mais necessitaram de adequações
com a mudança do PC para o SPD. O corte da cobertura vegetal para a abertura do
sulco, o mínimo revolvimento de solo no sulco, o corte em profundidade e a abertura
suficiente para acomodar adequadamente a semente foram os principais desafios.

58
TÓPICO 3 | SISTEMA DE SEMEADURA

Os novos modelos passaram a ser compostos por discos de corte, hastes


sulcadoras, discos duplos, rodas controladoras de profundidade, discos ou rodas
aterradoras e rodas compactadoras.

As semeadoras-adubadoras de plantio direto são máquinas que re-


alizam a implantação de culturas anuais através da semeadura em
terrenos onde não foi realizado o preparo periódico do solo e com a
presença de cobertura vegetal. Mobilizam o mínimo necessário o solo,
apenas nas linhas de semeadura. Assim, é possível realizar a semeadu-
ra logo após a colheita da cultura anterior. Normalmente as unidades
das semeadoras são conjugadas as unidades adubadoras, daí o nome
semeadora-adubadora (SIQUEIRA, 2008, p.3).

O sistema de semeadura direta exige que as semeadoras-adubadoras se-


jam: versáteis, para serem utilizadas em culturas com variedades de tamanho e
formato de semente; resistentes, para suportarem maiores pressões no corte de
cobertura e força de resistência do solo; precisas na abertura do sulco, sem causar
movimentação excessiva de palhada ou de solo; resistam ao embuchamento, com
o correto corte da palhada; precisão no controle de profundidade da semente e do
adubo (LANDERS, 1994).

Para que a semeadora-adubadora responda adequadamente às exigên-


cias, é importante que o operador seja capacitado e que a manutenção e as regu-
lagens sejam minuciosamente observadas. Outro fator importante é o conheci-
mento pelo operador dos fatores que afetam a semeadura, bem como o domínio
sobre o funcionamento da máquina.

Os principais problemas que podem ocorrer com o uso das semeadoras-a-


dubadoras são (SIQUEIRA, 2008):

• corte irregular da vegetação;


• embuchamentos;
• abertura inadequada dos sulcos;
• aderência do solo aos componentes;
• profundidade de semeadura desuniforme;
• cobertura deficiente do sulco de semeadura e contato inadequado do solo so-
bre as sementes.

O desempenho eficiente das semeadoras também está ligado à qualidade


da semente a ser utilizada, principalmente no que se refere à uniformidade de
formato e tamanho, pois tamanhos ou formatos desuniformes podem causar fa-
lhas no preenchimento dos alvéolos dos discos e, portanto, falhas na semeadura
e posteriormente no stand da cultura, culminando na redução da produtividade.

As semeadoras-adubadoras evoluíram com a própria evolução do SPD


e, atualmente, possuem variações de acordo com a cultura, com o nível de tec-
nologia, com o tamanho da propriedade, além da divisão entre semeadoras de
precisão e de fluxo contínuo.

59
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

Semeadoras-adubadoras de precisão: distribuem as sementes espaçadas


a distâncias supostamente homogêneas no sulco de semeadura (milho, soja, fei-
jão, algodão, sorgo etc.).

Semeadoras-adubadoras de fluxo contínuo: distribuem sementes sem


precisão no sulco, normalmente apropriadas para trabalhar com sementes de
menor tamanho (trigo, aveia, centeio, arroz, azevém etc.), podendo ser montada
ou de arrasto.

Multissemeadoras-adubadoras: possibilita a distribuição das sementes


em precisão e fluxo contínuo, podendo ser montadas ou de arrasto.

Semeadoras-adubadoras de precisão com kit de forragem: apropriadas


para o uso em propriedades com integração lavoura-pecuária, são semeadoras de
precisão que permitem a distribuição de sementes muito pequenas, como são as
de forrageiras (brachiarias).

2.3.3 Componentes
São componentes gerais de uma semeadora-adubadora de precisão:

• chassi ou barra porta-ferramenta;


• sistema de engate e acoplamento ao trator;
• sistema de transporte;
• reservatórios para sementes e fertilizantes;
• sistema de acionamento e transmissão;
• sistemas de dosagem e distribuição de sementes e fertilizantes;
• unidades de semeadura;
• marcadores de linha e estribos.

As unidades de semeadura são compostas por:

• unidade de corte da vegetação;


• abridores de sulco para fertilizante;
• abridores de sulco para sementes;
• sistema de controle de profundidade de sulcos para sementes;
• sistema de aterramento do sulco;
• sistema de compactação do solo sobre as sementes.
• pantógrafo: sistema de paralelogramo (pantógrafo) com duas barras verticais,
uma fixa e outra articulada e duas horizontais paralelas articuladas, permitin-
do à unidade semeadora adequação às irregularidades do terreno (flutuação).

A Figura 8 apresenta uma ilustração dos principais componentes de uma


semeadora-adubadora.

60
TÓPICO 3 | SISTEMA DE SEMEADURA

FIGURA 8 – COMPONENTES PRINCIPAIS DE UMA SEMEADORA-ADUBADORA

FONTE: Nagaoka e Nerbass Filho (2007, p. 53)

2.3.4 Sistema de corte


O sistema de corte é composto por discos de corte que cortam a palha e
abrem um sulco, sobre o qual os outros componentes trabalharão (liso, ondulado
ou recortado). O corte adequado da palhada é importante para a uniformidade e
qualidade da semeadura.

2.3.5 Sistema de abertura de sulcos


A abertura de sulcos é realizada pelos sulcadores (discos duplos e hastes).
As hastes, que podem ser retas, inclinadas ou em formato parabólico, com pon-
teiras em forma de cunha, fazem o corte no solo. O tubo condutor de fertilizantes
normalmente está acoplado na parte posterior da haste, possibilitando depósito
em maior profundidade.

2.3.6 Dosagem e distribuição de fertilizantes


Apoiados na estrutura geral da máquina, eles normalmente são basculan-
tes para permitir a limpeza e lavagem. Ainda, acondicionam o produto, o qual
passa por um dosador, é direcionado ao tubo condutor e deste para o solo. Exis-
tem várias opções de dosadores de fertilizante no mercado brasileiro.

61
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

2.3.7 Dosagem e distribuição de sementes


Os mecanismos distribuidores de sementes mais frequentes são os discos
horizontais e os pneumáticos.

O tipo de dosador utilizado, além de afetar a distribuição de semen-


tes, pode interferir na qualidade de semeadura, em função de danos
mecânicos ocasionados às sementes. Na maioria das semeadoras de
precisão brasileiras, a dosagem de sementes é realizada por discos
horizontais alveolados, que têm a função de capturar, individualizar,
dosar e liberar as sementes (SIQUEIRA, 2008, p. 19).

O sistema de dosagem e distribuição normalmente utiliza o sistema pneu-


mático de vácuo e pressão para realizar o trabalho.

2.3.7.1 Velocidade periférica dos discos dosadores


A velocidade dos discos dosadores é importante na uniformidade de
distribuição e, consequentemente, na uniformidade da área de produção. Altas
velocidades periféricas ocasionam maior probabilidade de falhas, pois podem
dificultar a deposição da semente no alvéolo. Outro fator a ser considerado é a
uniformidade de tamanho e formato das sementes. No entanto, para a definição
da velocidade, a razão, de forma simplificada, é de que quanto maior o diâmetro
do disco, menor sua velocidade.

2.3.7.2 Tubo de descarga das sementes


Tubos responsáveis por conduzir a semente até o solo, sobre os quais é im-
portante considerar: a proximidade de alcance do tubo no solo, o diâmetro e o ma-
terial do tubo, que pode ampliar a possibilidade de danos por ricocheteamento.

2.3.7.3 Compatibilidade do disco em relação às sementes


A correta escolha e uso do disco (número, forma e diâmetro dos furos)
deve considerar as características da semente quanto à classificação Além de ofe-
recer várias opções de discos, as semeadoras devem conter informações gravadas
no disco quanto à peneira adequada para compor o conjunto, as peneiras são
indicadas nos lotes da semente adquirida em acordo com os processos de benefi-
ciamento e classificação da mesma (SIQUEIRA, 2008).

62
TÓPICO 3 | SISTEMA DE SEMEADURA

2.3.7.4 Sistema de controle de profundidade de semeadura


A profundidade de depósito da semente deve ser adequada para cada
espécie. Assim, é um fator importante na eficiência do plantio por interferir dire-
tamente na germinação.

O controle da profundidade de deposição das sementes é feito na


maioria das semeadoras-adubadoras de precisão através de articula-
ção com furos ou entalhes de regulagem. O controle da profundidade
ideal é o independente para cada linha de semeadura. As rodas de
controle, duas em cada linha, devem ser instaladas na semeadora em
sistema balancim (SIQUEIRA, 2008, p. 24).

2.3.8 Sistema de aterramento e cobertura do sulco


Cobrir corretamente a semente é fundamental para proteger e aumentar
sua superfície de contato com o solo, favorecendo a germinação. No SPD, esse
processo deve ser feito com precisão para não causar grande alternação no solo
e palhada no entorno do sulco, evitando a exposição dele. Para a execução dessa
tarefa, as semeadoras-adubadoras usam pequenas angulações nas rodas de con-
trole de profundidade e de compactação, visando retornar o solo e a palha para
seus locais de origem. Alguns modelos utilizam dois discos aterradores côncavos
ou planos com a parte traseira convergente para melhor acomodar o solo revolvi-
do pelo sulcador e pelo disco de corte.

2.3.9 Sistema de compactação do solo


Na finalização do processo de semeadura, a roda compactadora fará o
pressionamento do solo junto à semente como forma de normalizar o contato
com a água e com os nutrientes do solo. Nessa operação, também são eliminados
possíveis bolsões de ar.

2.3.10 Sistema de acabamento da semeadura


Trabalho realizado por discos aterradores ou por rodas aterradoras de
formato cônico. É importante observar a regulagem correta para que a pressão
seja feita lateralmente ao sulco, evitando compactação da superfície – o que pode
dificultar a germinação da semente.

63
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

2.3.11 Velocidade da operação de semeadoras e


distribuição longitudinal de sementes
A velocidade de deslocamento na hora do plantio deve estar entre 4,5 a 6,0
km/h (SIQUEIRA, 2008). Ela deve ser imposta conforme o tipo de semente e de dosa-
dor do sistema de distribuição, já que velocidades exageradas podem comprometer a
acomodação das sementes nos discos e, consequentemente, a qualidade da semeadura.

2.4 PLANEJAMENTO DA OPERAÇÃO AGRÍCOLA DE SPD


Todo o bom planejamento parte de uma análise operacional. Entendendo as
características da propriedade e conhecendo as necessidades operacionais de cada
ação a ser desenvolvida, o planejador terá condições de efetivar seu planejamento.

Diversos modelos teóricos e pré-elaborados estão disponíveis para o uso


de técnicos e agricultores. No entanto, esses modelos precisam ser adaptados à
realidade de cada propriedade. Assim, devem ser considerados objetivos, metas,
condições econômicas, ambientais e até mesmo culturais, mão de obra, tempo,
formas de seleção de indicadores de avaliação, monitoramento e replanejamento
sempre que for necessário. O planejamento não é estático, já que a agricultura
possui variáveis, sendo as de clima e mercado as mais importantes a serem con-
sideradas. Desta forma, readequar e realocar as ações devem estar no próprio
planejamento como uma ação prevista.

Planejar o SPD em uma propriedade envolve conhecer todos os aspectos


físicos dela, incluindo as aspirações, o objetivo do produtor e minuciosamente o
próprio SPD.

2.4.1 Construção de fluxograma e dimensionamento do sistema


O modelo de fluxograma e o dimensionamento do sistema de SPD devem
conter os itens básicos apresentados na Figura 9. No entanto, um fluxograma de-
talhado deve ser parte do planejamento da propriedade. As operações devem ser
colocadas em calendários mensais e, se necessário, semanais, com designação de
responsável e relato de execução.

Planilhas computadorizadas podem ser utilizadas e prioritariamente ali-


mentadas. Dependendo do nível tecnológico da propriedade, podem ser utiliza-
dos programas específicos de planejamento existentes no mercado.

64
TÓPICO 3 | SISTEMA DE SEMEADURA

FIGURA 9 – FLUXOGRAMA PARA PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DO SPD

FONTE: A autora

2.5 CARACTERÍSTICAS E FINALIDADES DAS CULTURAS DE


INTERESSE ECONÔMICO
A escolha das culturas que serão as principais do sistema deve ser feita
antes do planejamento da rotação de culturas do SPD, visto que seus ciclos estão
diretamente relacionados à implantação e manejo das culturas de cobertura.

A consideração do mercado, suas possibilidades e características também


devem ser estudadas e conciliadas à aptidão da propriedade e da cultura de
produção do agricultor.

Condições financeiras, de maquinário e disponibilidade de mão de obra


podem influenciar nessa escolha e, portanto, consideradas na decisão.

2.6 SIMPLIFICAÇÕES DO SPD E A SUSTENTABILIDADE DA


PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA.
Atualmente, em muitas propriedades rurais, os produtores optam por
uma simplificação questionável do SPD. Esse processo ocorre principalmente em
sistemas de integração entre lavoura e pecuária, em que o mau manejo da carga
animal e das espécies de pastejo provoca uma compactação superficial no solo.

65
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

Diante da situação, o produtor faz uso da grade niveladora ou em alguns casos


da grade aradora para descompactar o solo. O revolvimento do solo, mesmo que
superficialmente, descaracteriza o SPD e expõe o sistema à erosão laminar, perda
de solo, redução de camada de cobertura e de seu tempo de permanência, visto
que provoca o corte e leve incorporação, acelerando a degradação.

Em contraponto o planejamento das atividades poderia evitar essa neces-


sidade, pois a correta carga animal, retirada em períodos de chuva e de 30 a 40
dias antes do manejo da palhada já seriam suficientes para resolver a questão.

66
TÓPICO 3 | SISTEMA DE SEMEADURA

LEITURA COMPLEMENTAR

COMPACTAÇÃO DO SOLO EM SISTEMA DE PLANTIO


DIRETO NA PALHA

Altamir Mateus Bertollo


Renato Levien.

Resumo

O presente estudo tem como objetivo desenvolver uma revisão


bibliográfica de pesquisas que abordam as modificações na estrutura do solo
e produção de grãos em áreas compactadas pela ação do tráfego de máquinas
em Sistema de Plantio Direto (SPD) na palha. Com base nos estudos analisados,
considera-se que o solo é composto por frações minerais, orgânicas e pelo espaço
de vazios. A organização dos componentes influencia na capacidade de condução
e armazenamento de ar e água no sistema. As práticas de manejo alteram a
estrutura do solo, seja pela ação de compactação imposta pelo tráfego ou pela
ação de revolvimento resultante dos mecanismos sulcadores das semeadoras e,
em condição de manejo intensivo do solo, pela aração/escarificação. Quando o
crescimento do sistema radicular das plantas encontra restrição pela presença de
camadas compactadas, seu desenvolvimento é prejudicado. A estrutura de poros
do solo pode ser formada pela ação do sistema radicular das plantas sucessoras,
fauna do solo e/ou de implementos mecanizados. Em condições de sistemas
de uso conservacionistas, a rotação de culturas possibilita a formação de poros
contínuos, importantes para a condutividade hidráulica e troca de gases com a
atmosfera. Por fim, a rotação de culturas proporciona proteção da superfície do
solo e possibilita melhores condições estruturais ao solo.

Palavras-chave: Estrutura do solo. Porosidade. Desenvolvimento radicular.

O solo é um recurso natural de fundamental importância para a produção


de alimentos e matérias-primas. Por ser um sistema trifásico (sólido, líquido e
gasoso) e dinâmico, é essencial que suas características químicas, físicas e bioló-
gicas sejam preservadas. Para isto, faz-se necessário o uso de técnicas de manejo
conservacionistas, que incrementem a qualidade do sistema.

Para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States


Department of Agriculture – USDA), qualidade do solo é definida como a capaci-
dade que o solo possui para desempenhar as funções agrícolas e a capacidade de
preservação dessas funções para o uso futuro (USDA, 2016). Em uma publicação
de 1997, a Sociedade Americana de Ciência do Solo (Soil Science Society of America
– SSSA) (KARLEN et al., 1997) elaborou um material para estimular a discussão
entre seus membros do tema qualidade do solo. E, em uma metáfora, os integran-
tes da SSSA conceituaram a qualidade do solo como um “banco de três pernas”,
em que a função e equilíbrio dos três componentes principais o sustentam, por
meio da conservação da atividade biológica, da qualidade do ambiente e da saú-
de das plantas e animais.
67
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA MECANIZAÇÃO NA PROPRIEDADE RURAL

A qualidade do solo é geralmente considerada levando-se em conta aspec-


tos físicos, químicos e biológicos. É uma forma de avaliação do grau de degradação
do solo e, também, para distinção entre práticas de manejo. Dexter (2004) caracte-
riza como exemplos de má qualidade física do solo quando há na área um ou mais
dos seguintes parâmetros: baixa infiltração de água no solo, escoamento superfi-
cial, densidade elevada, aeração reduzida e pouco desenvolvimento radicular.

A estrutura do solo é o resultado de um arranjo sistematizado entre seus


componentes sólidos, minerais e orgânicos. É no seu sistema físico em que ocorrem
as interações entre os gases e a solução do solo (SOUZA et al., 2014), em que a sua
estrutura está mais suscetível a ações de manejo ou práticas culturais que resultem
em degradação do sistema. Sequinatto et al. (2014) avaliaram a qualidade de um
argissolo, em SPD, submetido a práticas de manejo recuperadoras de sua estrutura
física, dentre essas o uso de plantas de cobertura. Os autores observaram que a
densidade e a porosidade do solo são sensíveis às mudanças do manejo do solo, os
quais foram considerados bons indicadores da qualidade do solo.

Uma técnica de manejo que contribui para a melhoria da estrutura do solo é


por meio do uso de plantas, que proporcionam a formação de bioporos com varia-
dos tamanhos, os quais auxiliam na difusão de gases no solo, na movimentação de
água e no crescimento das raízes. O desenvolvimento radicular destas plantas auxi-
lia na melhoria do estado de agregação do solo. Em Uma visão sobre qualidade do solo,
Vezzani e Mielniczuk (2009) destacam que os sistemas agrícolas que favorecem a
qualidade do solo são aqueles que utilizam plantas intensamente, de preferência de
espécies diferentes, sem o revolvimento do solo. Desta forma, é possível constatar
a importância do SPD para o ambiente solo.

A degradação do solo está associada ao manejo inadequado dos recursos


naturais. No setor agrícola, as causas que mais contribuem para esta degradação
são o monocultivo, queimadas da cobertura florestal e vegetação nativa, práticas
de manejo que não proporcionam a proteção adequada ao solo e degradam a
estrutura (aração e gradagem), o excesso de tráfego de máquinas e o manejo de
animais acima da capacidade de suporte de carga nas áreas de pastagens (CHA-
VES et al., 2012).

A prática de manter os resíduos culturais na superfície do solo, sem incor-


poração, traz benefícios para o ambiente. Para as propriedades físicas, contribui na
proteção da estrutura do solo ao impedir a ação direta das gotas de chuva sobre a
superfície e auxiliar na regulação térmica (FURLANI et al., 2008). Devido à reflexão e
absorção de energia solar incidente, diminui as perdas de água por evaporação (GILL
et al., 1996) e colabora nas propriedades químicas e biológicas por meio da liberação
de nutrientes e exsudatos ao se decomporem.

Através da rotação de culturas, tem-se uma diversidade de resíduos que


são depositados na superfície do solo. A taxa de decomposição desses materiais
varia entre as diferentes culturas, principalmente em razão da sua composição
química quanto aos teores de lignina, hemicelulose, celulose e polifenóis, e às
relações entre constituintes, como carbono e nitrogênio (C/N) (AITA; GIACOMI-

68
TÓPICO 3 | SISTEMA DE SEMEADURA

NI, 2003). Quando permanecem na superfície do solo, os resíduos apresentam


menor decomposição do que quando são incorporados ao solo (ALCÂNTARA et
al., 2000).

Ao comparar diferentes tempos de adoção do SPD, Mazurana (2015) cons-


tatou que houve modificações na estrutura do solo. Essas variações não foram pas-
síveis de identificação pela análise das variáveis físicas isoladas, e sim pela análise
de variáveis físicas que atuam em processos, como fluxos de água e ar. Tais modifi-
cações ocorreram nas camadas superficiais do solo, onde se concentra a maior parte
do sistema radicular das culturas.

No entanto, associado aos benefícios que o SPD traz ao solo, há relatos de


formação de camadas compactadas, provocadas por um conjunto de negligencias,
de forma que ocorrem modificações no desenvolvimento radicular das culturas.

A compactação do solo é a redução do volume de uma massa de solo,


reduzindo o volume de poros. No entanto, nem todos os poros são reduzidos de
forma semelhante. Os poros maiores são reduzidos primeiro em tamanho, e a
compactação cessa quando o solo se torna suficientemente forte para suportar o
esforço aplicado (RICHARD et al., 2001). Essa diminuição do tamanho e da distri-
buição dos maiores poros altera a característica de retenção e fluxo de água e ar.

A estrutura do solo e o estado de compactação são fatores importantes


que influenciam o crescimento radicular das plantas. A estrutura do solo é hete-
rogênea, tanto espacial como temporariamente, devido aos efeitos do meio am-
biente, manejo do solo e crescimento da planta. A compactação do solo é um
fenômeno que envolve inter-relações significativas entre as propriedades físicas e
biológicas mais reconhecidas dos solos (VEREECKEN et al., 2016). O espaço dos
poros do solo, a resistência mecânica e a disponibilidade de nutrientes são todos
modificados pela compactação do solo. As raízes que crescem nos solos geral-
mente experimentam uma mistura de solo desestruturado e com compactação
(WHITMORE; WHALLEY, 2009).

A compactação de solo em camadas geralmente limita o crescimento das


raízes e a eficiência do uso dos recursos. A variação espacial na resistência mecâ-
nica afeta o grau de agrupamento das raízes (GAO et al., 2016). Geralmente, as ca-
madas densas são localizadas nas regiões mais profundas do perfil do solo, devido
aos efeitos do preparo anterior ao SPD, e manifestam-se por camadas de solo com
maior densidade (MOREIRA et al., 2016).

Nessas condições, os sistemas radiculares que enfrentam zonas compacta-


das de solo têm a oportunidade de se desenvolver em zonas de solos com menor
restrição. Mesmo em solos compactados, áreas de menor impedância mecânica
são encontradas devido a fendas de encolhimento, canais formados pela fauna
do solo, crescimento radicular de culturas ou vegetação anteriormente cultivada
(JIN et al., 2013).

FONTE: Adaptado de BERTOLLO, A. M.; LEVIEN, R. Compactação do solo em Sistema de Plantio


Direto na palha. Pesquisa Agropecuária Gaúcha, v. 25, n. 3, p. 208-218, 2019. Disponível em
https://bit.ly/2SiBfBb. Acesso em 16 mar. 2020.
69
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A semeadura é tão importante no processo produtivo que mesmo que o solo


apresente boa nutrição, esteja fisicamente adequado e a semente seja de boa
qualidade, se a operação no ato de deposição da semente for feito de forma
errônea, seja pelo espaçamento inadequado, profundidade ou densidade não
recomendadas àquela espécie, as implicações serão vistas na hora da colheita,
afetarão o rendimento e a qualidade do produto final e, portanto, a rentabili-
dade da produção. Desta forma, conhecer e dominar as técnicas e processos de
semeadura é fundamental para o sucesso da produção agrícola.

• O Sistema de Plantio Direto (SPD) é um sistema conservacionista de solo que


proporciona a redução de processos erosivos, o aumento da fertilidade do solo,
a melhoria nas condições de aeração e retenção de água e, consequentemente,
melhores índices de produtividade.

• No SPD, o manejo e a manutenção dos resíduos vegetais na superfície do solo,


provenientes de restos de culturas anteriores ou de espécies de cobertura, é a
forma direta de reduzir danos pela erosão, seja por desagregação das partí-
culas ou pela perda de solo. Sendo assim, o manejo anterior à semeadura está
relacionado ao manejo desses restos culturais ou das plantas de cobertura.

• O manejo incorreto da cobertura de solo no SPD pode ocasionar a má distri-


buição da palhada, criando pontos de excesso e de falta de cobertura, focos de
proteção e germinação de plantas indesejadas, o que dificulta a ação dos herbi-
cidas, provocando embuchamentos das semeadoras, reduzindo a eficiência da
semeadura e propiciando processos erosivos.

CHAMADA

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pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

70
AUTOATIVIDADE

1 O preparo do solo pode ser realizado dentro das concepções do Plantio


Convencional (PC) ou do Sistema de Plantio Direto (SPD). Considerando as
diferenças entre os dois formatos, analise as afirmativas a seguir e, assinale
a alternativa CORRETA:

I- O SPD é considerado um sistema conservacionista de produção por ser


capaz de somar benefícios de combate à erosão e incrementos na produti-
vidade com menores impactos ambientais.
II- O PC exige um preparo anterior à semeadura, com operações de subsola-
gem, aração e gradagem.
III- No SPD, a cobertura do solo, além do menor efeito erosivo, proporciona a
redução de plantas invasoras.
IV- O SPD exige do agricultor equipamentos específicos, como o uso de seme-
adoras-adubadoras providas de sistema de corte de palhada.

a) ( ) Somente as alternativas II e IV estão corretas.


b) ( ) Somente a alternativa III está incorreta.
c) ( ) Todas as alternativas estão corretas.

2 O uso das semeadoras-adubadoras do SPD exige conhecimento e capacitação


do operador, podendo apresentar entre os principais problemas o corte irre-
gular da cobertura de solo. Assinale as alternativas que podem ser considera-
das os principais problemas no uso de semeadoras-adubadoras no SPD.

a) ( ) Embuchamentos.
b) ( ) Abertura inadequada dos sulcos.
c) ( ) Revolvimento excessivo e pulverização do solo
d) ( ) Aderência do solo aos componentes de corte.
e) ( ) Distribuição de sementes de maneira desuniforme tanto na linha como
em profundidade de sulco.

3 O desempenho eficiente das semeadoras-adubadoras no SPD está ligado


à qualidade da semente a ser utilizada. Sobre a relação entre a semente e a
máquina, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Os discos dosadores de sementes possuem alvéolos de tamanho e for-


matos homogêneos, exigindo das sementes a mesma homogeneidade em
relação ao formato e tamanho.
b) ( ) A escolha do disco dosador correta e adequada a cada cultura é fator
decisivo na qualidade de semeadura.
c) ( ) Os tubos dosadores devem ser em diâmetro e altura adequados em re-
lação ao solo para evitar danos por ricocheteamento.
d) ( ) A regulagem dos sistemas de corte da semeadora não tem influência na
precisão da deposição das sementes do solo.
71
4 Sobre o sistema de aterramento e cobertura de sulco e da semeadora e
adubadora de SPD, assinale as alternativas CORRETAS.

a) ( ) Ele não possui uma forma de regulagem específica.


b) ( ) Tem por objetivo garantir a correta abertura do sulco e deposição da
semente.
c) ( ) Garante maior contato da semente com o solo e a água, proporcionando
melhores condições de germinação.
d) ( ) Se regulados erroneamente, podem causar compactação superficial,
prejudicando a germinação.

5 A profundidade de depósito da semente deve ser adequada para cada espé-


cie, sendo um fator importante na eficiência do plantio por interferir direta-
mente na germinação. Assinale os componentes da semeadora envolvidos
diretamente na definição da profundidade de deposição da semente.

a) ( ) Disco de corte.
b) ( ) Rodas de controle.
c) ( ) Sulcador.
d) ( ) Velocidade de operação.
e) ( ) Todos os componentes acima.

72
UNIDADE 2

TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM
SISTEMAS AGRÍCOLAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer as principais tecnologias em aplicação nos sistemas de produção


agrícola;

• entender como a eletrônica embarcada e a agricultura de precisão


funcionam, se complementam e atuam no desenvolvimento da produção
vegetal;

• relacionar e conhecer os principais equipamentos da agricultura de


precisão.

• compreender os principais elementos e desafios da automação de


máquinas agrícolas;

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

TÓPICO 2 – EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

73
74
UNIDADE 2
TÓPICO 1

ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmicos! Iniciamos a segunda unidade de estudos de Tecnologia
Agrícola. Nesta unidade, conheceremos as tecnologias de aplicação em sistemas
de cultivo vegetal. Iniciaremos pelo tópico de eletrônica embarcada em máquinas
agrícolas, no qual você entenderá o que é e como a automação das máquinas agrí-
colas e suas aplicações práticas em diferentes operações são necessárias na busca
da eficiência produtiva da agricultura.

Na década de 1980, com os desdobramentos da Revolução Verde, o setor


de máquinas e mecanização, em busca de elementos para aumentar a produti-
vidade e a uniformidade dos cultivos vegetais, começou a juntar fundamentos
da engenharia mecânica com eletrônica e computação para obter resultados sem
precedentes, que vislumbraram a automação das máquinas agrícolas. Essa bus-
ca é responsável pelo grande avanço em automação de máquinas e sistemas na
agricultura, e proporciona inúmeros resultados diretos e indiretos de melhoria de
produção e vida no meio rural.

Em outro parâmetro, o desenvolvimento e a aplicação de tecnologias pas-


saram a ser consideradas um elemento de inserção e competitividade no mercado
agropecuário, fazendo frente à escassez de mão de obra, à necessidade de otimiza-
ção da produção e, em um viés paralelo, à busca da sustentabilidade no meio rural.

2 ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS


Toda a máquina que possui qualquer sistema eletroeletrônico montado
em uma aplicação móvel é compreendida como uma máquina com tecnologia
eletrônica embarcada. Esta definição é importante para evitar a confusão entre
eletrônica embarcada, computadores de campo e agricultura de precisão. Sendo
assim, seguem as definições a seguir:

Eletrônica: parte da física dedicada ao estudo do comportamento de cir-


cuitos elétricos ou a fabricação deles (FERREIRA, 1989).

Instrumentação eletrônica: consiste em equipar uma máquina para a ob-


tenção de dados de desempenho, com o objetivo de estudo, ensaios e pesquisas.

75
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

Computadores de campo (de bordo): com características de softwares e


hardwares, são projetados para funções específicas de controle e gestão de equi-
pamento de precisão.

Eletrônica embarcada: todo o sistema eletroeletrônico montado em uma


aplicação móvel, como automóvel, máquina agrícola, navio, avião etc. Proporcio-
na o desenvolvimento da tecnologia de aplicação nas áreas de monitoramento,
gerenciamento, segurança e eficácia, além de proporcionar a prática da agricul-
tura de precisão.

A eletrônica embarcada em tratores agrícolas, por exemplo, pode ser en-


tendida como um sistema o qual executa funções que variam conforme o fabri-
cante. No entanto, geralmente são sistemas de monitoramento das atividades re-
alizadas, que através de displays digitais ou analógicos, informam ao operador
– durante a operação – sobre o andamento da máquina, o consumo, a velocidade,
a produção, o deslocamento etc. Em alguns casos, os sistemas realizam o armaze-
namento desses dados para a posterior análise.

Equipamentos de Agricultura de Precisão: equipamentos desenvolvidos


visando a eficiência das operações agrícolas, como controladores de aplicação,
barras de luz, monitores de plantio, colheita etc., os quais resultam da junção
entre a eletrônica embarcada e o uso dos computadores de campo. Os equipa-
mentos operam como sistemas e normalmente possuem um conjunto eletrônico
de sensores, antenas e válvulas, que são ligados a um computador para controle
por software específico para cada função.

Agricultura de Precisão (AP): um sistema de gerenciamento agrícola ba-


seado na variação espacial e temporal da unidade produtiva que visa o aumento
de retorno econômico, a sustentabilidade e a minimização do efeito ao ambiente
(MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2014).

A agricultura de precisão compreende o uso e a operacionalização dos sis-


temas de automação e equipamentos agrícolas na busca da eficiência produtiva,
incluindo conceitos de monitoramento, avaliação e gestão de informações.

2.1 DESCRIÇÃO DE SISTEMAS DE INSTRUMENTAÇÃO


DISPONÍVEIS NO MERCADO
Um sistema de instrumentação é composto por tecnologias específicas e
complementares e equipamentos para a obtenção de dados de desempenho com o
objetivo de estudo, ensaios e pesquisas, além de diagnosticar e avaliar as operações.

As operações previstas ou pretendidas dentro de um contexto de agri-


cultura de precisão individualizam os objetivos de intervenção de forma a ma-
ximizar os resultados de cada fração dos processos de cultivo. Os instrumentos

76
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

que compõem os sistemas proporcionam os dados iniciais para cada leitura de


resultados, que posteriormente irá munir o agricultor de informações importan-
tes para o planejamento e tomada de decisão.

Atualmente, as demandas apontadas para a aplicação de sistemas de au-


tomação estão concentradas em máquinas e implementos agrícolas, irrigação,
criadouros, processamento, armazenamento e transporte de produtos agrícolas,
e construções rurais e ambiência (SOUSA; LOPES; INAMASU, 2014).

O uso da eletrônica embarcada na agricultura tornou-se cada vez mais co-


mum e frequente, como em colhedoras de grãos, nas quais é utilizado o sistema
GPS para indicar a posição dentro da lavoura. O GPS é associado à instrumentação
do sistema e a uma série de sensores eletrônicos, que avaliam a produtividade e a
relaciona com a posição exata da máquina dentro do talhão. O processo é capaz de
disponibilizar ao agricultor a construção de mapas de produtividade, além de for-
necer outras informações, como umidade dos grãos e perdas de colheita.

Assim, pode-se entender a AP e os componentes que a possibilitam como


o uso de uma escala de amostragem das variáveis envolvidas e a busca da preci-
são na execução das tarefas para as novas práticas, demandando tecnologias de
informação e comunicação que as viabilizem em custo e eficiência (STEINBER-
GER; ROTHMUND; AUERNHAMMER, 2009).

O objetivo da individualização dos fatores de produção caminha para a


ampliação da frequência e do número de amostragem a fim de tratar a área produ-
tiva planta a planta ou talhão a talhão, de acordo com suas especificidades. Dessa
forma, considera fatores gerais, como custo e benefício da precisão e valoriza ainda
mais o gerenciamento das unidades agrícolas, tanto nos aspectos específicos da
produção em questão quanto nos aspectos gerais, como no contexto espaço-tempo.

Entre as tecnologias que podem ser consideradas como o estado da


arte para automação de máquinas e implementos agrícolas destacam-
se: sensores que permitem aferir variáveis agronômicas em campo
através de sensoriamento local ou remoto; sistemas de aplicação de
insumos em taxa variável e sistemas que realizam sensoriamento,
processamento (tomada de decisão) e atuação durante o movimento
da máquina (ALVES, 2016, p. 14).

Com a evolução dos sistemas eletrônicos, surgiu a necessidade de padro-


nização da eletrônica embarcada, atualmente viabilizada pela implantação da
ISO 11.783, também conhecida como ISOBUS.

A padronização é fundamental para viabilizar a eletrônica embarcada


em máquinas e implementos agrícolas na medida em que evita a dupli-
cação de instalação, elimina obsolescência por compatibilidade, possibi-
lita intercambiabilidade, reduz custo de manutenção, libera o agricultor
de fornecedores exclusivos de sistemas comerciais e pode permitir a
simplificação da integração de informações com sistemas computacio-
nais externos às máquinas (SOUSA; LOPES; INAMASU, 2014, p. 214).

77
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

A instrumentação das máquinas agrícolas pode ser considerada como um


processo fundamental – e de certa forma inicial – que compreende a coleta de in-
formações que irão alimentar os sistemas, culminando na efetivação da tecnologia
embarcada.

A tecnologia embarcada começou a ser utilizada na década de 1980 com


o uso de sistemas de controles automáticos. Após, foi incrementada na década de
1990 com a incorporação dos receptores GNSS – Sistemas de Navegação Global por
Satélites (Global Navigation Satellite Systems), conhecidos no Brasil como GPS (Geo-
graphic Positioning System), e o uso de monitores gráficos na cabine dos tratores, os
quais são munidos de sistemas capazes de mapear as variáveis de desempenho da
máquina e agronômicas da lavoura (SOUSA; LOPES; INAMASU, 2014).

As informações geradas pelos processos de georreferenciamento podem re-


sultar no mapeamento de pontos específicos para a coleta de informações e amos-
tras de áreas de cultivo, elaboração de mapas de variabilidade, interpretação e to-
mada de decisões.

LEMBRETE

Georreferenciamento: determinação de coordenadas geográficas durante a


coleta de informações de locais específicos.

É importante considerar que os dados coletados pelos sistemas de georre-


ferenciamento são a base de vários desdobramentos relacionados à adequação e
inovação tecnológica que formam a agricultura de precisão e alimentam os siste-
mas de gestão das propriedades.

No final da década de 1990, no Brasil, as indústrias internacionais de tra-


tores trouxeram a eletrônica embarcada em máquinas de grande porte
como as grandes colhedoras, já com capacidade para realizar mapea-
mento da lavoura durante a operação, ou seja, apresentaram a eletrô-
nica embarcada em máquina para geração de mapa georreferenciado
de variável e identificar a variabilidade espacial, como, por exemplo,
colhedoras com sistema de mapeamento da produção agrícola. Desde
então, a pesquisa em tecnologias para veículos agrícolas e a busca por
inovações para atender às necessidades das novas práticas agrícolas cul-
minou em alguns produtos comerciais que, atualmente, constituem o
estado da arte das tecnologias para automação de máquinas agrícolas.
Dentre essas tecnologias, destacam-se a Tecnologia de Aplicação à Taxa
Variável (Variable Rate Technology - VRT), sistemas On-The-Go e Piloto
Automático (SOUSA; LOPES; INAMASU, 2014, p. 219).

78
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Os dados coletados, como umidade e perdas de colheita, podem ser utili-


zados durante a própria operação, fornecendo ao operador parâmetros para ajus-
tar a velocidade de trabalho e a correção de dados de produtividade.

Além do uso de dados em tempo real, a análise e a interpretação dos da-


dos armazenados e carregados em um Sistema de Informações Geográficas (SIG)
podem ser manipuladas e organizadas para a apresentação em mapas, os quais,
por sua vez, podem ser sobrepostos a imagens, formando mapas de produtivida-
de, fertilidade, custos etc. com precisão e clareza, facilitando a tomada de decisão
do agricultor. Como exemplo de descrição de um sistema de instrumentação,
pode-se utilizar o mapa de produtividade (Figura 1 e Figura 2).

FIGURA 1 – MAPAS DE FERTILIDADE GERADOS A PARTIR DO USO DE SOFTWARES AGRÍCOLAS


EM UMA ÁREA DE PRODUÇÃO DE LARANJAS

Nota: (a) pontos (variabilidade espacial) de fertilidade ao longo da área; (b) manchas de
fertilidade.
FONTE: Molin e Mascarin (2007, p. 265)

Os sistemas devem ser alimentados com as informações adequadas para


gerar resultados confiáveis, que só serão úteis se aplicados como base para as
devidas operações de correção. Lembrando que a agricultura de precisão é uma
ferramenta e não resolve sozinha os problemas levantados.

79
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

FIGURA 2 – MAPAS DE FERTILIDADE DE UMA ÁREA DE SOJA, RELACIONANDO OS PONTOS DE


ALTA, MÉDIA E BAIXA PRODUTIVIDADE

FONTE: Santi et al. (2012, s.p.)

Os componentes e equipamentos eletrônicos utilizados para gerar o mapa


de produtividade podem variar em posição, formato e tecnologia, de acordo com
os fabricantes da colhedora. Para exemplificar, em algumas máquinas é necessá-
ria a instalação de um sensor de fluxo no elevador de grãos limpos, bem como o
uso de um sensor específico para medir a umidade do grão. Já a posição do ponto
de localização na área é obtida por meio de um receptor de GPS, o qual determi-
nará a latitude e a longitude da máquina no momento da leitura.

Todas as informações geradas são enviadas a um dispositivo de memória


para a posterior geração das análises de limitações e erros. Após, são finalmente
enviadas para a elaboração dos mapas.

A consideração do mapa nas operações agrícolas pode reduzir custos com


fertilizantes e corretivos, proporcionando a sua aplicação localizada, reduzindo o
custo energético e contribuindo para a sustentabilidade da produção.

2.2 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA INSTRUMENTAÇÃO


ELETRÔNICA EM TRATORES
A instrumentalização das máquinas agrícolas proporciona a configura-
ção de informações para o dimensionamento e a racionalização das operações e

80
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

dos próprios conjuntos mecânicos, entre outros aspectos. Desse modo, facilita a
programação e amplia a capacidade de rendimento do trabalho. Nesse sentido, o
trator foi uma das primeiras máquinas a receber os esforços da pesquisa e desen-
volvimento de sistemas de instrumentalização eletrônica.

O trator é uma invenção de 1850, que começou a se popularizar na agri-


cultura após a Primeira Revolução Industrial. Naquela época, o objetivo era obter
um automotor capaz de realizar tarefas de tração para aliviar o uso de animais
e da própria força humana na realização de tarefas. O nome trator tem origem
inglesa e significa motor de tração.

Com a Revolução Verde, o trator se transformou em uma fonte de potência


e tração. Atualmente, o trator pode ser considerado uma máquina-base para o de-
senvolvimento da agricultura, principalmente na produção de cereais. Assumiu o
protagonismo de grande parte das operações de cultivo e, portanto, o centro de mui-
tos testes, avaliações e processos de aprimoramento de tecnologias, não só de cunho
mecânico e eletrônico, como de gestão econômica na propriedade rural também.

De acordo com Frantz (2011), o custo com mecanização agrícola varia de


20 a 40% do custo total de produção, dependendo da intensidade de uso e da
espécie cultivada. O trator está envolvido no preparo do solo, na semeadura, nos
tratos culturais e, dependendo da cultura, nas ações diretas e indiretas de colheita
e comercialização. Portanto, no centro desses custos.

Como conceito, o trator agrícola é uma máquina autopropelida, com ca-


pacidade de manutenção em superfícies, tração e transporte, além de fornecer
potência mecânica para movimentar máquinas e implementos agrícolas (MIA-
LHE, 1996).

Os tratores são movidos por motores de combustão interna e pela con-


versão da energia gerada pela queima de combustíveis fósseis em trabalho. Ao
configurar o trabalho de um trator, é importante conhecer as estruturas que o
compõem (Figura 3) e sobre as quais esse trabalho gerado está alicerçado, princi-
palmente o sistema de rodados, a tomada direta de força (TDP), a barra de tração
e o sistema hidráulico.

81
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

FIGURA 3 – COMPONENTES BÁSICOS DE UM TRATOR AGRÍCOLA

FONTE: Santos Filho e Santos (2006, p. 6)

A partir da estrutura básica e das demandas registradas com a própria


evolução da agricultura, a instrumentalização dos tratores agrícolas foi – e ainda
é – o objetivo de diversas pesquisas e empresas do setor. As modificações e cria-
ções estão normalmente direcionadas ao aumento da eficiência do trabalho e à
redução dos custos energéticos que, entre outros fatores, está ligada à redução de
perdas de potência na tração pelas rodas, no eixo TDP e no sistema hidráulico. A
Figura 4 mostra um esquema de concentração e distribuição das perdas em um
trator agrícola em trabalho.

82
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

FIGURA 4 – DISTRIBUIÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE USOS E PERDAS EM UM TRATOR AGRÍCOLA

FONTE: Pirot e Vaitilangom (1987) apud Mantovani; Leplatois e Inamassu (1999, p. 1.245)

Dessa forma, o desempenho de um trator agrícola e sua máxima eficiên-


cia têm relação com o monitoramento, registro, análise, adequação mecânica da
operação e até mesmo com a área e a espécie de cultivo.

O desempenho de um trator agrícola pode ser avaliado pela força e


potência desenvolvida na barra de tração, potência e torque na tomada
de potência, eficiência de tração, patinagem das rodas motrizes e con-
sumo de combustível (SILVA; BENEZ, 1997, p. 5).

Para exemplificar, descrevemos entre os esforços de melhoria e automatiza-


ção dos tratores relacionados ao monitoramento das perdas de potência, o realiza-
do por Schlosser et al. (2001) que utilizou a instrumentação eletrônica de aquisição
de dados. Nesse caso, ela era formada por um conjunto de sensores para medir a
velocidade das rodas e a velocidade do trator (radar), além do uso de uma célula de
carga, conexões, cabos e um condicionador de sinais, junto com um programa de
aquisição de dados e um sistema de armazenamento no computador.

O estudo teve por objetivo estudar o fenômeno de vibrações decorrentes


da interferência entre eixos em um trator com Tração Dianteira Auxiliar (TDA),
considerando que vibrações entre eixos podem causar gasto desnecessário de po-
tência – portanto, de combustível – danos no equipamento e prejuízos ao trabalho
pretendido. A Figura 5 ilustra de maneira geral a disposição de diferentes sensores
instalados no trator e conectados a um sistema de aquisição de dados, conforme o
exemplo descrito.

83
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

FIGURA 5 – ILUSTRAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE SENSORES PARA AQUISIÇÃO DE DADOS


RELACIONADOS AO TRABALHO DO TRATOR

FONTE: Mantovani, Leplatois e Inamassu (1999, p. 1.243)

De maneira geral, os sensores enviam os sinais coletados a uma central de


armazenamento. Os sistemas que armazenam os dados são diversos no mercado
e, muitas vezes, criados, adaptados ou manipulados de acordo com o objetivo ou
necessidade do trabalho em questão.

O armazenamento de dados assume grande importância na instrumen-


talização das máquinas agrícolas, visto que comporta todos os dados que serão
base para as análises necessárias. Dessa forma, veja a seguir, alguns exemplos de
registradores de dados e seus direcionamentos na utilização em tratores, ressal-
tando que o uso pode ser adequado a diferentes máquinas agrícolas:

• Datalogger micrologger CR 23X equipado com uma placa SDMINT8 SN:2094,


usado para aumentar a quantidade de canais de entrada de sensores. Esse siste-
ma de armazenamento de dados foi utilizado em um trator Valtra BM 100 4x2
TDA para determinar o desempenho dinâmico do trator, utilizando biodiesel
destilado etílico e metílico (SORANSO, 2006).

• Datalogger CR 23X, utilizado para armazenar, a uma frequência de 20 Hz, os


sinais analógicos (célula de carga) e de pulso (patinamento, radar, consumo de
combustível e rotação) e o desempenho energético de um conjunto trator-se-
meadora (TRINTIN et al., 2005).

• Datalogger CR 10, usado pela capacidade de armazenamento e de progra-


mação. Possui um teclado com visor alfanumérico que, além de auxiliar na
programação, também possibilita o monitoramento dos dados em tempo real
(MANTOVANI; LEPLATOIS; INAMASSU, 1999).

A variação de datalogger (registrador de dados) é concebida conforme a


necessidade e o objetivo do registro. Contudo, em todas as suas versões, os data-
loggers são registradores de dados equipados por sensores.

84
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Um datalogger (registrador de dados) é um gravador de dados eletrô-


nicos, que armazena os dados de sensores em um intervalo de tempo
pré-definido ou conforme uma lógica de programação interna ou ain-
da conforme um comando externo. Um datalogger diferencia-se de um
sistema de aquisição de dados por ser um equipamento único, possuir
uma baixa taxa de amostragem e alta capacidade de armazenamento
de dados. De maneira geral, o datalogger utiliza um circuito eletrônico
baseado em um microprocessador para controle e memórias de arma-
zenamento não voláteis para armazenamento de dados. Geralmente
são pequenos e alimentados por baterias. Através de portas de co-
municação é possível fazer a aquisição dos dados armazenados para
um computador, por exemplo, onde os dados podem ser analisados
e tratados convenientemente. Alguns dataloggers possuem ainda uma
interface com LCD (Display de Cristal Líquido) e um teclado para faci-
litar a programação, alteração de parâmetros e visualização dos dados
armazenados (RUSSINI, 2009, p. 30).

Ainda com o objetivo de minuciar a instrumentalização eletrônica, a Tabe-


la 1 detalha os componentes de um registrador de dados e contorna uma amplitu-
de de funcionalidades e a operacionalização do sistema como um todo.

TABELA 1 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E COMPONENTES DE UM DATALOGGER


Componentes Detalhamento
Entradas e Saídas Determinam a quantidade e o tipo de entradas elétricas para sinais de sen-
sores e chaves de controle, além da quantidade e tipo de saídas elétricas
para controles de atuadores, sinalizadores e outros equipamentos.
Podem ser entradas ou saídas digitais, analógicas ou específicas para deter-
minadas aplicações. Os níveis de tensão e corrente dessas entradas e saídas
devem ser bem observados para evitar danos ao datalogger.
Memória de Capacidade e tipo de memória utilizada para o armazenamento do pro-
Armazenamento grama principal (quando o datalogger for programável) e dos dados dos
sensores.
Taxa de Amostragem Intervalo de tempo em que os dados são digitalizados. Esse tempo determina
o intervalo de tempo mínimo em que os dados podem ser coletados, gerencia-
dos ou programados conforme o objetivo da ação, máquina ou’’ implemento.
Precisão Todas as precisões dos dados das entradas e saídas são especificadas indi-
vidualmente de acordo com a padronização internacional e a necessidade
em questão.
Interfaces de Canais de comunicação com outros equipamentos elétricos. Elas podem ser
Comunicação de diversas naturezas e formas necessárias à recepção de dados.
Alimentação Tensão e corrente nominal de alimentação dos circuitos eletrônicos, com ou
sem alimentação dos sensores e atuadores ligados ao datalogger.
Grau de Proteção Ambientes agressivos requerem dataloggers herméticos, com grau de pro-
teção elevado.
FONTE: Adaptado de Russini (2009)

85
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

Uma diversidade de trabalhos e ações dos tratores podem ser estudadas,


monitoradas e desenvolvidas sob o uso de instrumentos eletrônicos para os mais
diferentes e específicos objetivos. Dessa forma, conhecer esses instrumentos e a
mecânica da máquina é fundamental para o alcance de resultados que contribu-
am com o processo de precisão na produção agrícola.

2.2.1 Medida de velocidade e patinamento


A velocidade de um trator está relacionada primeiramente a seu peso,
potência, capacidade de deslizamento, força de tração, entre outros fatores ca-
racterísticos de cada modelo, marca e função. Da mesma forma, a velocidade in-
fluencia diretamente nas variáveis de realização de trabalhos de um trator.

Para o estudo do comportamento mecânico do trator em operação de


campo, é necessário que se conheça três ramos da física, a estática, a
cinemática e a dinâmica. A estática deve abordar a questão do peso
e sua distribuição, assim como a localização do centro de gravidade
[...] Uma abordagem da dinâmica nos facilitaria entender a relação so-
lo-veículo, estudando todas as forças e os sistemas. Também poderia
apoiar os estudos de transferência de peso em atividade de desloca-
mento e tração, assim como estudar os limites de trabalho, em situa-
ções de estabilidade lateral e longitudinal. A cinemática nos apoiaria
no entendimento do funcionamento da roda, do patinamento e da ma-
nobrabilidade do trator por seu raio de giro (SCHLOSSER, 2001, p. 1).

A velocidade, portanto, não pode ser entendida ou considerada de forma


isolada, sendo a relação peso/potência definitiva para a correta análise e expecta-
tiva do produtor em relação ao dinamismo de suas operações em campo.

Nessa perspectiva, os tratores podem ser leves ou pesados. Os leves po-


dem receber lastragem para aumentar seu peso e sua capacidade de aderência e
tração, porém têm limite para a execução de operações que exijam grande capa-
cidade de tração e suporte. Os tratores pesados são recomendados para terrenos
mais firmes, pois refletem melhor a potência do motor e a capacidade de tração.
Seja qual for a realidade de uma propriedade rural, esses ponderamentos devem
ser realizados antes da aquisição de um trator, conciliando a necessidade das
operações, as condições do solo e as exigências de cultivo.

Atualmente, o peso dos tratores vem diminuindo e a potência, em relação


ao peso, aumentando. Isso é consequência do uso de novos materiais na fabrica-
ção das peças e componentes, como alumínio, plástico e fibra de vidro, o que, em
uma relação direta, reflete no consumo de energia e na possibilidade de compac-
tação dos solos. O correto uso da lastragem, da potência e da velocidade é funda-
mental para a eficiência energética e de trabalho de um trator.

Shlosser et al. (2005) afirmam que, para tarefas pesadas, em que a exigên-
cia de força de tração é maior, a relação peso/potência permanece em torno de 60
kg/kW, enquanto para as tarefas mais leves está em torno de 35 kg/kW.

86
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Nessa perspectiva, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos


Automotores (ANFAVEA) criou uma classificação específica para os tratores com
rodas e tração dianteira (TDA), de acordo com sua potência. São considerados
tratores de classe I aqueles com potência de até 36,9 kW, classe II de 37 a 73,9 kW,
classe III de 74 a 146,9 kW e classe IV com potência superior a 147 kW.

Francetto (2017) realizou um estudo que estabelece alguns parâmetros


para a potência e peso de acordo com a lastragem. Assim, entre outras análises,
foi verificada uma necessidade maior de lastro em tratores de maior potência.

Tratores da mesma classe são dimensionados para realizar tarefas dis-


tintas, por apresentarem relações desiguais, necessitando de adaptações
para determinados trabalhos. Observa-se que em todas as classes, os
maiores valores das médias da relação entre o peso e a potência estão
presentes nos tratores lastrados, com maior significância para os tratores
englobados nas classes II e III. Na primeira, os valores entre lastrados e
sem lastro obtiveram uma diferença de 134,61%, enquanto que para a
segunda permaneceu em 121,40%. Ressalta-se o fato de que nas classes
I e IV essas diferenças foram sutis, de modo que para a primeira foi de
100,32% e de 101,01% para a segunda (FRANCETTO et al., 2011, p. 4).

Dessa forma, feitas as considerações sobre peso e potência, a velocidade


pode ser entendida e definida de forma a buscar a eficiência da operação. Por
exemplo, para velocidades de operação entre 6 e 8 km/h em um trator com TDA,
a relação peso-potência deve estar entre 60 e 80 kg/W no mínimo, já que “relações
menores indicam que o trator deve ser lastrado, ou operado a maior velocidade,
o que nem sempre é possível pelas características do implemento que está sendo
utilizado” (SCHLOSSER et al., 2005, p. 3). Nessa perspectiva, a Tabela 2 apresenta
dados de material técnico de alguns modelos de tratores nacionais, relacionando
a potência à velocidade de trabalho de 6 km/h.

Ainda, segundo Schlosser et al. (2005), as reflexões sobre o tema devem


partir do conceito de velocidade crítica para dimensionar os aspectos relativos à
velocidade, peso/potência e operação.

E
IMPORTANT

Velocidade crítica: velocidade mínima que deve trabalhar um trator em seu


peso original para aproveitar de forma eficiente a potência do motor.

87
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

TABELA 2 – DADOS DE ALGUNS MODELOS DE TRATORES NACIONAIS, RETIRADOS DE


MATERIAL TÉCNICO E CALCULADOS PARA A VELOCIDADE DE TRABALHO DE 6 KM/H
Relação de
Peso sem Potência bruta Peso suplementar Velocidade
Modelo peso/potencia
Lastro (kg) no Motor (cv) Recomendado (kg) Crítica (kg/cv)
(Kg/cv)
100 3100 71,4 2537 43,42 10,91
292 3430 77,3 2615 44,37 10,57
299 4884 97,1 1885 50,30 7,95
985 4650 73,6 241 63,18 6,31
5700 3355 62,6 1562 53,59 8,79
7500 5720 103,0 1163 55,53 7,22
FONTE: Schlosser (2001, p. 3)

A tabela acima nos permite fazer uma importante reflexão sobre a perda
de energia na forma de potência pelos motores de tratores.

A potência do motor jamais poderá ser aproveitada integralmente em


trabalhos de tração a 6 km/h, pois o peso recomendado para a las-
tragem é muito superior ao que normalmente se pode adicionar, so-
mando-se lastros metálicos e água. Também se nota que, com o seu
peso original, poucos modelos avaliados podem aproximar-se ao uso
integral de potência do motor a baixas velocidades. Os tratores com
alta velocidade crítica são muito versáteis, enquanto que os tratores
com velocidade crítica baixa são adequados para o trabalho pesado,
embora tenham que carregar peso "morto", quando estiverem fazendo
operações de baixa exigência de potência. Estima-se em aproximada-
mente 1200 a 1500 kg o lastro máximo que é possível adicionar a um
trator (SCHLOSSER, 2001, p. 3).

O patinamento do trator é outro fator ligado diretamente ao seu desempe-


nho, as suas relações de eficiência, velocidade, peso e potência. Antes dessas rela-
ções, é importante o entendimento de que o patinamento está baseado no conjunto
de pneus do trator. Esse conjunto é formado pelos pneus e aros que, juntos, são
responsáveis pela transmissão da potência do motor para o conjunto trator e solo.

Dessa forma, os cuidados com os pneus devem ser considerados, em pri-


meiro plano, na manutenção e regulagem, a considerar: a adequação da pressão
interna para cada tipo de operação, o uso de modelos indicados pelo fabricante, a
correta lastragem, a adequação do implemento à potência do trator agrícola e os
cuidados no armazenamento do trator e dos pneus (FRANTZ, 2011).

Considerando o conjunto de pneus, podemos definir o patinamento, que


“representa, em termos percentuais, o deslizamento da banda de rodagem dos
pneus motrizes do trator sobre uma superfície de apoio” (FERREIRA et al., 2000,
p. 254) e a relação desse com a força de tração, a qual é proveniente da interação
superfície do pneu e solo acrescida de uma força de autopropulsão. É essa força
que, dependendo das características dos rodados e do solo, deve ser capaz de
vencer a resistência oferecida pelo conjunto de fatores, deslocando a carga da
barra de tração na velocidade adequada à operação (MIALHE, 1980).

88
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Um patinamento excessivo pode aumentar o gasto energético do trator,


reduzindo a força de tração e, por fim, a eficiência da operação. Da mesma forma,
sem patinamento, o trator fica muito leve e, ao exercer força de tração, terá um
patinamento excessivo. O patinamento está ligado ao lastro, peso e potência do
trator e diretamente à força de tração necessária para determinada operação. O
valor do patinamento para se obter a máxima eficiência de tração deve ficar entre
8 a 10% para solos sem mobilização, 11 a 13% para solos revolvidos e de 14 a 16%
para solos arenosos (ASAE, 1989).

Os sistemas eletrônicos de medição, como visto no item anterior, são capa-


zes de, pelo uso de sensores específicos, normalmente magnéticos, captar pulsos.
Esses pulsos são transmitidos para os programas de dados e analisados com base
em parâmetros determinados. Após, são disponibilizados ao operador para que
ele possa realizar as adequações nas regulagens, velocidade e peso necessárias
para que o trator seja capaz de promover o correto patinamento na velocidade de
trabalho adequada para alcançar a eficiência da operação.

2.2.2 Medida de fluxo de combustível


O consumo de combustível dos tratores agrícolas é umas das variáveis
que mais compromete o fluxo de energia nas operações de produção agrícola.
Ele está relacionado ao uso e peso de lastro, demanda de carga na barra de tra-
ção, pneus, velocidade de operação e às condições de solo. Conhecer os dados e
controlar essas variáveis é fundamental para evitar consumo desnecessário e o
consequente aumento de custos de produção. Nesse sentido, o monitoramento
do fluxo de combustível pode ser usado como um alerta ao operador de que algo
está sendo realizado em desacordo com a operação pretendida ou com a regula-
gem aferida dos equipamentos envolvidos.

A medida do fluxo de combustível é realizada pelo fluxômetro:

O fluxômetro é um medidor de fluxo ou vazão de líquidos e gases.


Existem vários tipos de fluxômetro, sendo que os mais comuns usam
engrenagens dispostas no caminho do fluxo a ser medido. Quanto
maior for o fluxo, maior é a rotação das engrenagens. No caso de um
fluxômetro eletromecânico, a rotação de uma engrenagem é converti-
da em tensão (saída proporcional) ou em pulsos por unidade de fluxo
(saída por pulsos) (RUSSINI, 2009, p. 39).

Os pulsos gerados pelo fluxômetro (Figura 6) são convertidos em medi-


das de vasão, as quais podem ser em L/h-1, que não considera a temperatura e a
potência desenvolvida; kg/h-1, que apesar de considerar a temperatura, não re-
laciona à potência; ou g.kW.h-1, que relaciona a unidade de massa à unidade de
potência (Russini, 2009).

89
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

FIGURA 6 – SISTEMA DE ENGRENAGENS DO FLUXÔMETRO

FONTE: Oval Corporation (2008) apud Russini (2009, p. 39)

O fluxômetro é apenas uma parte do sistema de monitoramento de con-


sumo de combustível nos tratores, pois também podem ser considerados os sen-
sores para medição de temperatura, a célula de carga para a medida de força de
tração, as caixas de acomodação de registros, além de sistemas de aquisição e
análise de dados.

2.2.3 Medida de área trabalhada


A medição da área trabalhada durante uma operação é a base para cálcu-
los de rendimento de trabalho por tempo, de consumo de energia por operação,
de capacidade efetiva e teórica da máquina, além da avaliação econômica e do
planejamento de operações.

A medição é uma operação simples e básica realizada por um receptor


GPS que determina a posição atual e anterior além do tempo entre elas, possibili-
tando o cálculo da velocidade e demais variáveis. O GPS faz parte de um sistema
automático de aquisição de dados no qual uma unidade de aquisição de dados
monitora os sensores (GPS, consumo de combustível) e filtra os dados antes de
serem armazenados na memória de bordo, geralmente através de um relógio in-
terno, associando a informação à data e hora de sua obtenção. Assim, insere mais
detalhes no banco de dados da área.

2.3 APLICAÇÕES PRÁTICAS DE INSTRUMENTAÇÃO


ELETRÔNICA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS
A tecnologia incorporada às máquinas agrícolas é cada vez mais ampla,
rápida e dinâmica, exigindo de gestores, produtores e operadores atualizações
constantes para aproveitar todos os recursos que a máquina oferece. Dessa for-
ma, a tecnologia melhora a qualidade da operação, evita perdas desnecessárias,
aumenta a produção e reduz os custos operacionais.

Com a automação das máquinas agrícolas, algumas operações receberam


maior intensidade de possibilidades e modificações, entre elas a pulverização e a se-
meadura.

90
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

2.3.1 Pulverização
Pulverização consiste na distribuição de uma substância líquida em deter-
minada superfície. Em pequenas partículas, a substância atinge a área desejada,
seja ela foliar ou de solo.

Na agricultura, a pulverização é conhecida desde o período de 1800,


quando os agricultores utilizavam a lavação de folhas para evitar doenças em
plantas. Na ocasião, ela era feita através do uso de escovas, seringas e, posterior-
mente, com bombas manuais (CHAIM, 1999). O processo foi evoluindo com o
desenvolvimento dos agrotóxicos, principalmente com a descoberta do DDT e
uma gama de organoclorados na década de 1940. Esse processo de evolução foi
acompanhado do desenvolvimento e do aprimoramento das formas de aplicação.

Atualmente, a pulverização é utilizada para a aplicação e distribuição de pro-


dutos agroquímicos, nutrientes ou fertilizantes de maneira geral. Ela pode ser feita
por terra ou por via aérea, sendo por terra a mais utilizada na produção vegetal.

O objetivo da pulverização é distribuir o produto na quantidade correta e


no local desejado, auxiliando no combate a pragas e doenças, insetos e outras es-
pécies indesejadas, além de possibilitar a distribuição de fertilizantes, perfazendo
no atual sistema agrícola uma ferramenta fundamental de produção.

Os pulverizadores podem ser manuais, elétricos ou a combustíveis, sendo


mais utilizados em culturas de maior extensão aqueles com motores movidos por
combustíveis fósseis, principalmente óleo diesel. Nesta categoria, destacam-se os
pulverizadores de barras (principalmente para cereais, verduras e legumes), além
dos autopropelidos e atomizadores (culturas perenes).

De maneira geral, são componentes dos pulverizadores: tanque ou reser-


vatório em que a calda fica armazenada, bomba, agitador mecânico ou hidráulico,
filtros, manômetro, regulador de pressão, mangueiras, conjunto de acionamento,
dispositivo de aplicação e bicos de pulverização. Com a automação das máquinas
agrícolas, atualmente, também podem ser considerados como componentes os
medidores de volume aplicado, o localizador GPS, os sistemas de controle remo-
to, entre outros dispositivos de monitoramento e coleta de dados.

A escolha de um pulverizador deve considerar inicialmente a cultura ou


culturas vegetais que serão alvos do uso do equipamento e a área a ser trabalha-
da. Com relação à área, deve-se considerar especialmente a capacidade de ar-
mazenamento do produto, cuja adequação reflete na eficiência econômica das
operações. Independentemente da tecnologia a ser utilizada na ação, as questões
de manutenção das máquinas (Tabela 3) devem ser priorizadas.

91
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

TABELA 3 – PRINCIPAIS PRÁTICAS DE MANUTENÇÃO DE PULVERIZADORES


Operação Objetivo
Garantir a remoção de qualquer residual de agroquímico de forma a evitar
Limpeza (tanque, contaminações de operadores e do meio ambiente, bem como reações di-
bicos, gatilho e filtros) versas aos produtos utilizados. Os equipamentos de proteção individual
devem ser utilizados inclusive na limpeza.
Garantir que o produto seja utilizado de forma e na quantidade correta,
verificando a pressão, tipos e condições dos bicos, e vazão. Além de pro-
Regulagem e
ceder a ação de regulagem e calibração, é importante e possível, pelo uso
calibração
de equipamentos de precisão, fazer o monitoramento e análise dos dados
obtidos.
A troca de bicos deve receber atenção prioritária, pois eles devem ser
adequados ao tipo de aplicação e cultura e estar em perfeitas condições de
Troca de bicos e peças
uso para evitar prejuízos financeiros e técnicos. Da mesma forma, deve-se
observar a máquina como um todo, tendo atenção ao desgaste, quebra ou
desajuste de peças.
FONTE: A autora

Para que as ações de monitoramento, adequação e avaliação das operações


de pulverização possam ser corretamente feitas, os parâmetros devem ser conheci-
dos e definidos. Entre os principais parâmetros da pulverização, estão: dose, volu-
me de aplicação por área, cobertura, tamanho das gotas, pressão, vento, temperatu-
ra e umidade relativa do ar, deriva, tipo e condições dos bicos de aplicação.

Os bicos do pulverizador têm papel fundamental na aplicação. Portanto,


a sua escolha deve ser realizada com pleno conhecimento das possibilidades, das
adequações e dos resultados a serem alcançados.

Basicamente, os bicos podem ser do tipo: leque, cone, de impacto ou com


indução de ar. Dessa forma, proporcionam gotas de tamanhos diferentes, pa-
drões específicos de propagação de jato e exigem faixa de pressão de trabalho
específica. O produtor deve ficar atento aos manuais do fabricante, nos quais es-
ses dados são considerados e as indicações de uso são feitas com boa margem de
precisão (Figura 7).

92
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

FIGURA 7 – TABELA DEMONSTRATIVA DO FABRICANTE RELACIONANDO CATEGORIAS E


ESPECIFICIDADES DOS BICOS DE PULVERIZAÇÃO

FONTE: Mestreagro (2020, s.p.)

93
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

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Na Figura 7 é possível observar a adequação e a indicação de diferentes


bicos e pontas de acordo com o produto agroquímico a ser utilizado. Ainda, é
possível observar dados da fase de desenvolvimento da planta e a perspectiva
de vazão esperada. Por exemplo, o uso do bico BD 02, com pressão de 3,1 bar,
proporciona uma vazão de 0,82 l/min e 246 l/ha a uma velocidade de 4 km/h,
com tamanho de gota média (250 a 350 micras). De posse dessas informações, o
planejamento e a adequação das operações de pulverização podem ser realizados
de forma eficiente.

Com a automação das máquinas agrícolas, deve-se considerar o uso cres-


cente do GPS e do controle remoto de processos. Nesse sentido, o mercado já
proporciona as opções de máquinas automotrizes, dos conceitos e técnicas da
agricultura de precisão, de aplicativos e smartphones, além do crescente cuidado
com os recursos naturais na operacionalização dos processos de pulverizações.

Máquinas automotrizes: com chassi e motor próprio, elas têm grande ca-
pacidade de armazenamento e permitem que um grande volume de calda seja
pulverizado sem a necessidade de parar a máquina. Ainda, proporcionam o uso
do dispositivo GPS para mapear e rastrear o processo e das barras de controle
hidráulicas.

Smartphones e aplicativos: alguns aplicativos já desenvolvidos auxiliam


na escolha dos bicos de pulverização, no cálculo de vazão e na adequação a espé-
cies e estágio de desenvolvimento.

94
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Fundamentos da agricultura de precisão: são utilizados sistemas de co-


leta de dados, GPS, sensores e outras tecnologias para promover uma distribui-
ção variável de insumos. Com a agricultura de precisão, apenas as áreas que
realmente demandam vão receber um determinado produto em determinada
quantidade.

Sustentabilidade: é a preocupação com a quantidade de produto utilizado


e com o seu destino. Os pulverizadores, quando bem empregados, são capazes de
otimizar a produtividade e garantir que o agricultor tenha controle de tudo o que
está sendo usado na sua lavoura.

2.3.2 Semeadura
Na Unidade 1 desta disciplina, o tema semeadura foi detalhadamente
apresentado e discutido. Dessa forma, aqui trazemos algumas questões adicio-
nais referentes à precisão, adequação e automação do conjunto trator-semeadora.

Para SENAR (2015, p. 8) a semeadura adequada possui três principais ca-


racterísticas:

1. mínima diferença entre as quantidades de sementes depositadas no


solo e as emergidas; 2. espaçamento uniforme; 3. o tempo necessário
para emergência de todas as plântulas é mínimo e uniforme. Como se
pode perceber, a qualidade de semeadura é obtida pela interação de vá-
rios fatores, tais como: bom desempenho dos componentes de corte, sul-
cadores, compactadores, dosadores e distribuidores das semeadoras-a-
dubadoras em condições variadas de velocidade e condições de solo.

O monitoramento das operações agrícolas pode acrescentar elementos va-


liosos antes, depois e durante a safra. No caso da semeadura, o monitoramento
tem grande valia, especialmente durante a operação de plantio, quando ainda é
possível identificar qualquer irregularidade e corrigi-la; e após a emergência das
plantas, quando é possível identificar as irregularidades, mas não as reverter,
apenas usá-las como base para o planejamento da próxima operação.

Esses dados são obtidos e configurados através de softwares e sensores,


os quais determinam as características da semeadura e fornecem dados de diver-
sas características, que são analisadas em tempo real para o acompanhamento a
distância ou diretamente em monitores acoplados nos tratores. O salvamento dos
dados na memória para a posterior análise também é possível.

95
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

2.3.3 Medida de vazão de calda em pulverizadores


O volume de calda transportado em um intervalo de tempo é a relação
que determina a vazão de uma operação de pulverização, normalmente expressa
em l/min, que pode ser medida na bomba e na ponta de pulverização.

A vazão é medida pelo fluxômentro montado na linha de pressão. Ele mede a


quantidade de calda que passa pelo comando em direção às barras de pulverização.

A medida da vazão é exibida diretamente no monitor do pulverizador


(autopropelidos) e pode ser acompanhada em tempo real pelos operadores, pro-
porcionando a identificação e correção ou adequação de diferentes variáveis,
como um bico ou ponta entupida ou danificada, um filtro que deve ser trocado
ou limpo, mudança de condições ambientais ou fases vegetativas, índices de in-
festação por talhão ou por área pré-determinada.

Ainda que haja o uso e sejam disponibilizados instrumentos e equipamen-


tos que automatizam os processos da operação de pulverização, é importante rea-
lizar a calibração ou verificação da vazão da máquina. O objetivo dessa calibração
é atualizar a vazão informada no monitor de acordo com a real vazão da máquina.

Na calibragem, a vazão deve ser verificada em pelo menos duas pontas


por seção da barra. Assim, são determinadas as médias individuais, as quais são
multiplicadas pelo número de pontas, resultando na vazão total da barra. Portan-
to, o valor obtido deve ser informado no monitor.

Considere os itens abaixo para a realização da calibragem (SENAR, 2015):

a) lave e limpe os componentes do circuito;


b) abasteça o pulverizador de água;
c) ligue a bomba;
d) acelere o motor diesel na rotação de trabalho;
e) posicione a pulverização no modo manual;
f) abra a pulverização total da barra;
g) ajuste uma pressão intermediária para o tipo de ponta;
h) colete a vazão em litros por minuto de, no mínimo, duas pontas de cada seção
da barra;
i) calcule a média da vazão das pontas em l/min;
j) multiplique a vazão média pelo número de pontas da barra, obtendo a vazão
total.

É importante lembrar que a variedade de marcas e modelos de pulve-


rizadores disponíveis no mercado proporciona diferenças entre os recursos de
automação ofertados ao agricultor. Alguns modelos, por exemplo, possuem um
controlador de pulverização capaz de manter a dose de defensivo em litros por
hectare (l/ha) desejada pelo usuário, independentemente das variações de veloci-
dade do pulverizador.

96
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Para isso, o equipamento realiza a leitura dos pulsos dos sensores de roda
e vazão para calcular, a velocidade de deslocamento do pulverizador e a vazão de
líquido nas barras de pulverização respectivamente.

O controlador calcula, então, a dose real em l/ha, a partir da equação mos-


trada, e compara com o valor desejado. Se diferente, o controlador atua
no regulador de pressão do comando de pulverização aumentando ou
diminuindo a pressão e, consequentemente, a vazão nas barras de pulve-
rização, para manter sempre a dose pelo usuário em l/ha desejada. Isso
garante economia de produto, cobertura eficiente da lavoura e riscos mí-
nimos de contaminação ambiental (MENEZES; MARTINS, 2009, p. 26).

Nesse caso, o controlador visualiza no monitor a leitura – disponibilizada


por um sensor – do nível do tanque de abastecimento em função da quantidade
de calda e da vazão realizada.

2.3.4 Medida de fluxo de sementes em semeadoras


A manutenção do correto fluxo de sementes desde o reservatório até o
solo é fundamental para a instalação da cultura, uniformidade de stand e renta-
bilidade da produção. Dessa forma, medir e monitorar o fluxo de sementes faz
parte da rotina de plantio da agricultura moderna.

Através da automação das máquinas agrícolas, estão disponíveis softwa-


res para serem utilizados como ferramentas de acompanhamento dos parâmetros
referentes à operação de semeadura.

As leituras de dados são realizadas pelo uso de um sensor de massa no in-


terior do tubo que leva a semente até o solo, o que possibilita a leitura de quantas
sementes estão caindo em um determinado intervalo de tempo e a distância entre
elas. Todos os dados analisados são apresentados em um monitor no interior da
cabine do trator, podendo também ser acessados a distância em tempo real.

Entre as informações disponibilizadas pelo sistema estão: a densidade


de plantas (plantas/ha), o percentual de sementes liberadas de forma individual,
percentual de sementes que estão caindo dentro do espaçamento determinado,
área semeada e a ser semeada, espaçamento médio entre as sementes, velocidade
de deslocamento da máquina durante a semeadura, entre outros dados que per-
mitem ao operador parar, recomeçar e providenciar regulagens de acordo com
seus objetivos de produtividade.

97
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

DICAS

Você poderá acompanhar uma aula prática de regulagem de semeadoras!


Confira no link: https://www.youtube.com/watch?v=E_kIIZeY1Q8&t=11s.

2.4 MEDIDA DE PERDAS DE GRÃOS EM COLHEDORAS


O processo de colheita de espécies vegetais é suscetível a perdas relacio-
nadas à interação da máquina e da planta. Essas perdas podem ser maiores ou
menores, de acordo com a condição de manutenção da máquina, do porte das
plantas, do estágio de desenvolvimento e das características da própria espécie
(altura de inserção de vagens, número e características de ramificações).

Esse aspecto adquire maior importância quando há um atraso na co-


lheita, pois retardamentos muito prolongados acarretam perdas na
qualidade e na quantidade produzidas, especialmente sob condições
de alta umidade e temperatura elevada. É importante destacar que,
quanto mais tempo a planta permanecer em ponto de colheita no cam-
po, maior será a probabilidade da ocorrência de abertura das vagens,
seja por fatores genéticos de cada cultivar ou induzida (chuva de gra-
nizo ou torrencial, ventos fortes entre outros), o que acarreta a deiscên-
cia parcial ou total dos grãos (SILVEIRA; CONTE, 2013, p. 7).

Os métodos manuais de cálculo de perda de colheita, muito usados em


propriedades agrícolas que não possuem colhedoras de alta tecnologia, exigem
muito esforço físico e tempo do agricultor, porém são importantes para a ava-
liação da colheita e do estado da máquina, sendo utilizados como base para o
planejamento das próximas safras.

Atualmente, máquinas colhedoras possuem modernos sistemas automa-


tizados, detalhados na Tabela 4, que coletam e processam dados e, entre outras
possibilidades de análise, permitem a elaboração de mapas de produtividade em
tempo real. Os mapas de produtividade podem individualizar áreas de acordo
com sua produtividade, permitindo ao produtor conhecer a variabilidade espa-
cial e temporal de sua área produtiva.

O uso de softwares específicos possibilita o armazenamento dos dados e


sua exibição no monitor da máquina em tempo real. Apesar da automação, os cui-
dados com a regulagem e calibragem dos sensores e mecanismos que compõem a
colheita são essenciais para evitar dados errôneos ou interpretações equivocadas.

Os mecanismos que compõem uma colhedora são: corte, alimentação, tri-


lha, separação e limpeza, os quais devem funcionar de forma sincronizada para
proporcionar a correta trilhagem dos grãos, evitando perdas e danos de colheita.

98
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Normalmente, os componentes gerais de um sistema automatizado da co-


lhedora são: sensor de velocidade do fluxo de massa, sensor de placa de impacto
e sensor de umidade (Tabela 4).

TABELAS 4 – COMPONENTES DOS SISTEMAS DE AUTOMAÇÃO DE COLHEDORAS DE GRÃOS


Sensor Finalidade
Sensor de velo- Sistema baseado na medição da velocidade do fluxo da massa de grãos que
cidade do fluxo atravessa um tubo de dimensões conhecidas. Nesse caso, mede-se a velocidade
da massa do fluxo por meio de micro-ondas e calcula-se a densidade média da massa de
grãos. Este sistema tem a vantagem de não interferir na velocidade do fluxo da
massa e ter bom tempo de resposta. No entanto, pode ser acometido por varia-
ções na inclinação da colhedora durante o deslocamento no campo. Portanto, é
preciso um sensor de inclinação para corrigir esse erro.
Sensor de placa Outro sistema utilizado pelas empresas para a medição da produtividade nas
de impacto colhedoras é a placa de impacto, que intercepta a quantidade do fluxo de grãos.
Quanto maior o impacto ou deslocamento da placa, maior é a produtividade no
local colhido. A placa deve passar por constantes limpezas a fim de evitar acú-
mulo de sujeira e, consequentemente, erros na coleta de informações.
Sensor de umi- Para que o mapa de produtividade represente a produtividade
dade com base no peso dos grãos no estado seco, é necessário medir a umidade em
que estão sendo colhidos. Para tanto, utiliza-se um sensor de umidade, normal-
mente localizado entre o meio e a saída do elevador de grãos.
FONTE: SENAR (2015, p. 17)

Os resultados são disponibilizados nos monitores da cabine da colhedora,


que são ligados a computadores de bordo, os quais coordenam as informações
captadas pelos sensores. As informações são armazenadas em cartões de memó-
ria e podem ser disponibilizadas por conexões sem fio para o acompanhamento a
distância pelos agricultores.

2.5 ADEQUAÇÃO DO USO DA TECNOLOGIA À TIPOLOGIA


DE PRODUÇÃO
As facilitações e a precisão de dados proporcionada pelo uso da tecnolo-
gia na agricultura são inegáveis. Assim, o aumento e regulação da produtividade,
a ampliação das áreas cultivadas, entre outros benefícios também devem ser con-
siderados. No entanto, as particularidades que envolvem o uso dessas máquinas
automatizadas e altamente tecnológicas não podem ser ignoradas, sob a perspec-
tiva de causar prejuízos a médio e longo prazo à agricultura de forma geral.

Alguns pontos a serem considerados na adequação das propriedades


agrícolas à tecnologia são:

99
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

• condições econômicas para aquisição e manutenção das máquinas;


• capacitação dos agricultores e operadores para a correta manutenção, aplica-
ção e interpretação dos dados coletados;
• disponibilidade de assistência técnica especializada ao alcance geográfico e finan-
ceiro para a resolução de possíveis problemas, sejam mecânicos ou eletrônicos;
• adequação de aptidão de solo, declive e acesso físico das propriedades a deter-
minada tecnologia;
• adequação da espécie vegetal à tecnologia disponibilizada;

Atento às condições de adaptabilidade, o agricultor poderá utilizar com


segurança a tecnologia proposta e, de forma ampla, os seus resultados.

100
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

LEITURA COMPLEMENTAR

REDES EMBARCADAS EM MÁQUINAS E IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS:


O PROTOCOLO CAN (CONTROLLER AREA NETWORK) E A ISO11783
(ISOBUS)

Rafael Vieira de Sousa


Eduardo Paciência Godoy
Arthur José Vieira Porto
Ricardo Yassushi Inamasu

Introdução

O desenvolvimento de sistemas computacionais e o desenvolvimento de re-


des computacionais para integração destes sistemas foram conquistas tecnológicas
marcantes do século XX, que influenciaram direta ou indiretamente os diversos seto-
res de atividade humana.

Pesquisas em diversas áreas da ciência têm possibilitado o surgimento de no-


vas tecnologias que ampliam as definições clássicas de sistema computacionais e de
redes computacionais. Sistemas computacionais baseados em dispositivos ópticos,
ou ainda, baseados em interações moleculares são exemplos da diversidade destas
novas tecnologias.

Neste documento, um sistema computacional, ou simplesmente computador,


em sua forma mais elementar, deve ser entendido como um conjunto formado por
unidade de processamento, unidade de armazenamento e unidade de interface de en-
trada e saída para interação com sistemas externos. Tais unidades são compostas por
circuitos elétricos analógicos e/ou digitais e por programas computacionais. Por sua
vez, uma rede computacional, ou simplesmente rede, deve ser entendida como um
conjunto computadores com circuitos elétricos analógicos e/ou digitais e programas
computacionais de interface, que permitam a comunicação entre estes computadores,
através de um ou mais meios físicos, utilizados para propagação de informação.

Outros dois conhecimentos importantes para entendimento de redes digitais


de comunicação de dados são o conceito de Bit e o processo de transmissão de infor-
mações binarizadas. As informações em redes digitais trafegam no formato binário,
ou seja, as informações são representadas (codificadas) por bits e transmitidas nesse
formato. Assim, pode-se afirmar que o bit (simplificação para dígito binário, BInary
digiT em inglês) é a menor unidade de informação e pode ter dois valores, 0 ou 1, ou
verdadeiro ou falso, ou neste contexto quaisquer dois valores mutuamente exclusivos.

A transmissão dos bits (comunicação digital) através de um meio físico con-


siste, geralmente, na variação de uma característica de um sinal de acordo com os
zeros e uns que representam a informação. Pode-se ilustrar a comunicação digital
através do processo para transmissão da letra S (informação) em um sistema simples
mostrado na figura. Nesse processo, podemos identificar as seguintes etapas:
101
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

a) codificação: para transmitir a letra S, representa-se (codifica-se) essa letra por


um número binária, por exemplo, 0101 0011 (informação digital);

b) transmissão: varia-se a tensão elétrica sequencialmente (pulsos) em um extre-


mo do condutor através de uma chave simples. A variação ocorre com uma
determinada frequência e em dois níveis, 0V e 5V, sendo que 0V representa o
bit 0 e 5V representa o bit 1.

c) recepção: a variação da tensão (pulsos) pode ser medida no outro extremo do


condutor e a informação digital interpretada.

EXEMPLO DE UM DE UM SISTEMA PARA TRANSMISSÃO DIGITAL

FONTE: SOUSA et al. (2007, p. 10)

A informação digital é transmitida pelo sistema da figura através da ope-


ração da chave que, quando aberta elimina a fonte de sinal (pilha) do circuito
impondo 0V aos terminais do instrumento de medida no outro extremo do meio
condutor (bit 0). Quando a chave é fechada a fonte de sinal é inserida no circuito
impondo 5V aos terminais do instrumento de medida (bit 1).

Em sistemas de comunicação, o volume de tráfego em redes digitais é


geralmente descrito em bits por segundo (b/s), que no exemplo da figura rela-
ciona-se com a frequência com que a chave opera. Por exemplo, “um modem de
56 kpbs é capaz de transferir dados a 56 kilobits em um único segundo” (o que
equivale a 7 kilobytes, 7 KB, com B maiúsculo para denotar a unidade em bytes e
não a bits 1 byte é um conjunto de oito bits).

Redes de Computadores

Com a finalidade de facilitar a compreensão, o projeto e a implementação


de uma rede de computadores, a estrutura de uma rede é dividida em níveis ou

102
TÓPICO 1 | ELETRÔNICA EMBARCADA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS

camadas que têm a função de oferecer determinado serviço para camada imedia-
tamente superior. Assim, uma camada é constituída por um conjunto de circuitos
eletrônicos e/ou programas que implementam determinados serviços a uma ca-
mada superior, formando uma interface transparente entre as camadas, ou seja,
a camada superior utiliza os serviços de uma camada inferior, sem a necessidade
da camada superior ter informações sobre a implementação dos serviços pela ca-
mada inferior. A divisão em camadas e a implementação de serviços transparen-
tes permitem que uma determinada camada em um computador se comunique
com uma camada análoga em outro computador, trocando informações sem a
necessidade de conhecerem de que forma as camadas inferiores implementam a
comunicação.

O conjunto de regras e convenções que uma camada utiliza para se comu-


nicar com a camada análoga em outra máquina é denominado protocolo. Uma
camada pode ser constituída por um ou mais protocolos, que são definidos de
forma a implementarem os serviços de cada camada.

A International Organization for Standardization – ISO propôs um modelo


para a estrutura de camadas de uma rede. Este modelo é denominado Modelo de
Referência OSI (Open Systems Interconnection), ou simplesmente modelo OSI, e foi
sugerido com o intuito de padronizar internacionalmente o projeto de redes. O
modelo OSI foi definido com sete camadas, que são: física, enlace de dados, redes,
transporte, sessão, apresentação e aplicação.

Indústrias, universidades, associações de normas e outros grupos interes-


sados em integrar sistemas computacionais em redes específicas para aplicações
próprias têm desenvolvido padrões em que utilizam os conceitos do modelo OSI.
Muitos desses padrões são desenvolvidos com apenas alguns protocolos ou ca-
madas, proporcionando a cada usuário desenvolver outros protocolos e cama-
das, para criar, desta forma, uma rede adequada à aplicação desejada. Existe um
número grande de padrões para atender as necessidades de aplicações diversas,
como por exemplo, em redes de computadores pessoais, sistemas de comunica-
ção de voz e imagem, sistemas de posicionamento, sistemas de instrumentação e
sistemas de automação e controle em veículos, plantas industriais e residências,
entre outros.

[...]

FONTE: Adaptado de SOUSA, R. V. et al. Redes Embarcadas em Máquinas e Implementos


Agrícolas: o Protocolo CAN (Controller Area Network) e a ISO11783 (ISOBUS). São Carlos: Embrapa
Instrumentação Agropecuária, 2007. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/15427557.
pdf. Acesso em: 23 mar. 2020.

103
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Um sistema de instrumentação é composto por tecnologias específicas


e complementares, além de equipamentos para a obtenção de dados de
desempenho, com objetivo de estudo, ensaios, pesquisas, além do diagnóstico
e avaliação das operações.

• Com a Revolução Verde, o trator transformou-se em uma fonte de potência e


tração, podendo ser considerado uma máquina-base para o desenvolvimento
da agricultura. É o centro de muitas pesquisas e ações de instrumentalização
eletrônica, em que as modificações e criações estão direcionadas para o aumento
da eficiência do trabalho e à redução dos custos energéticos.

• De maneira geral, nos processos de automatização de máquinas agrícolas, os


sensores são dispostos em locais estratégicos e enviam os sinais coletados a
uma central de armazenamento. Existem diversos sistemas que armazenam os
dados no mercado, que muitas vezes são criados, adaptados ou manipulados
de acordo com o objetivo ou necessidade do trabalho em questão.

• A medição da área trabalhada durante uma operação é a base para cálculos


de rendimento de trabalho por tempo, de consumo de energia por operação, e
de capacidade efetiva e teórica da máquina, além de avaliação econômica e do
planejamento de operações.

• As facilitações e a precisão de dados proporcionadas pelo uso da tecnologia


na agricultura é um fato consolidado, assim como o aumento e a regulação da
produtividade e a ampliação das áreas cultivadas, entre outros benefícios. No
entanto, as particularidades que envolvem o uso dessas máquinas não podem
ser ignoradas, sob a perspectiva de poder causar prejuízos a médio e longo
prazo à agricultura de forma geral.

104
AUTOATIVIDADE

1 Sobre a eletrônica embarcada em máquinas agrícolas, é CORRETO afirmar


que:

a) ( ) Máquinas móveis ou estacionárias que possuem um sistema eletroele-


trônico montado são reconhecidas como máquinas com tecnologia eletrôni-
ca embarcada.
b) ( ) A instrumentação eletrônica consiste em equipar uma máquina para
o exclusivo armazenamento de dados de desempenho com o objetivo de
informação pós-operação.
c) ( ) Equipamentos de agricultura de precisão são equipamentos desenvol-
vidos para buscar a eficiência das operações agrícolas e resultam da junção
entre a eletrônica embarcada e o uso dos computadores de campo.
d) ( ) Computadores de campo são computadores com programas usuais de
qualquer área da informatização de dados.

2 As operações previstas ou pretendidas dentro de um contexto de agricultu-


ra de precisão individualizam os objetivos de intervenção de forma a ma-
ximizar os resultados de cada fração dos processos de cultivo, sendo que
os instrumentos que compõem os sistemas proporcionam os dados iniciais
para cada leitura de resultados. Sobre essa afirmação, assinale a alternativa
INCORRETA:

a) ( ) A individualização de objetivos corresponde ao tratamento segmenta-


do de uma área ou cultura, de forma a diagnosticar e tratar de forma pon-
tual suas deficiências ou potencialidades.
b) ( ) A intervenção individual para maximizar os resultados corresponde a
uma possível economia de insumos e energia no tratamento de um talhão
ou planta específica, sem generalizar diagnósticos.
c) ( ) Maximizar os resultados de cada fração dos processos significa tratar
a área de forma global, usando um diagnóstico, dado ou leitura específica
como base para o tratamento de um todo.
d) ( ) Os instrumentos que compõem os sistemas proporcionam a obtenção
dos dados iniciais para cada leitura de resultados. Esse conjunto de instru-
mentos corresponde exclusivamente ao uso de sensores e à transmissão dos
dados coletados para uma central de informações.

3 O uso de GPS (Geographic Positioning System) nos sistemas eletrônicos em-


barcados proporciona a determinação dos pontos de localização em ope-
rações agrícolas. Com base nessa afirmativa, marque com X os resultados
diretos e indiretos possíveis de serem alcançados com o uso do GPS:

105
a) ( ) Determinação do tamanho da área.
b) ( ) Determinação do tempo de execução das operações.
c) ( ) Mensuração do custo das operações.
d) ( ) Determinação dos teores de umidade de grãos.
e) ( ) Determinação dos índices foliares.

4 O datalogger (registrador de dados) é um gravador de dados eletrônicos que


armazena os dados de sensores em um intervalo de tempo predefinido,
conforme uma lógica de programação interna ou comando externo. Sobre
os principais componentes e características de um datalogger, assinale a
alternativa INCORRETA.

a) ( ) As entradas e saídas podem ser digitais, analógicas ou específicas para


determinadas aplicações.
b) ( ) Memória de armazenamento é a capacidade e tipo de memória utiliza-
da para o armazenamento do programa principal (quando o datalogger for
programável) e dos dados dos sensores.
c) ( ) A taxa de armazenagem é considerada o intervalo de tempo em que os
dados são digitalizados. Esse tempo determina o intervalo de tempo míni-
mo em que podem ser coletados os dados.
d) ( ) Alimentação é o termo usado para determinar a tensão e a corrente no-
minal de alimentação dos circuitos eletrônicos.
e) ( ) O grau de proteção necessário para obtenção de dados confiáveis preconi-
za o fato de que independentemente do ambiente, o datalogger é capaz de reali-
zar o armazenamento sem necessidade de adaptações ou maiores cuidados.

5 O patinamento do trator é um fator ligado diretamente ao seu desempenho,


as suas relações de eficiência, velocidade, peso e potência. Nesse sentido,
marque V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

a) ( ) O patinamento está baseado no conjunto de pneus do trator. Formado pe-


los pneus e aros, o conjunto de pneus do trator é responsável pela transmissão
de potência do motor para o conjunto trator-solo.
b) ( ) Entre os cuidados com os pneus, estão: a adequação da pressão interna a
cada tipo de operação, o uso de modelos indicados pelo fabricante, a correta
lastragem, a adequação do implemento à potência do trator agrícola e os cui-
dados no armazenamento do trator e dos pneus.
c) ( ) O patinamento não interfere nos gastos energéticos do trator. Pelo contrá-
rio, quando o patinamento é intensificado, ele é capaz de intensificar a força de
tração e proporcionar a redução desses gastos.
d) ( ) Retirando toda a capacidade de patinamento, o trator fica leve e, ao exercer
força de tração, terá um patinamento reduzido e força de tração ampliada.

106
UNIDADE 2 TÓPICO 2

EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmicos! Neste tópico, discutiremos a agricultura de precisão,
suas principais operações e equipamentos, e os sistemas disponíveis no mercado.

A produção agrícola vista nos primórdios, que tinha o objetivo de sub-


sistência, passou, a partir da Revolução Verde, a ocupar grandes áreas de terra,
a utilizar insumos e maquinários, e a demandar tecnologias cada vez mais espe-
cíficas e adequadas às questões regionais, à espécie de cultivo e aos diferentes
mercados.

Ainda, vista de forma homogênea em uma área de produção, a agricultu-


ra alcançou altos índices de produtividade e caminhou para a profissionalização
do campo. Nesse limiar, o caminho para a especialização produtiva configurou-
-se na chamada Agricultura de Precisão (AP), que passou a trabalhar as especifi-
cidades dos componentes produtivos e a individualização na busca da precisão e
potencialidade produtiva.

A agricultura de precisão considera a variabilidade de atributos fundamen-


tais à produção agrícola para cada talhão da propriedade. Os componentes solos,
fertilidade, uso de insumos e gestão deixam de ser analisados por médias e passam
a ser analisados de forma individual para cada parte singular da produção. A re-
lação entre agricultura de precisão e automação de máquinas agrícolas é estreita e
codependente, visto que a AP usa a automação em sua operacionalização.

No inicio da década de 1930, nos Estados Unidos, despontaram os primei-


ros conceitos de AP, que foram concretizados e disseminados a partir da década de
1980, quando microcomputadores, sensores e sistemas de rastreamento terrestres
e via satélite surgiram, assegurando a aplicação e a disseminação dos métodos de
determinação e gestão da variabilidade espaço-temporal (COELHO, 2005).

No Brasil, as primeiras ações de pesquisa na área da AP foram realiza-


das na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São
Paulo (ESALQ/USP) em 1997, e expandiram-se, com o apoio da USP, para a Uni-
versidade Estadual Paulista (UNESP), Embrapa, Fundação ABC, Instituto Agro-
nômico do Paraná (Iapar) e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), além
de empresas privadas do setor agrícola e tecnológico, cooperativas agrícolas e,
isoladamente, para alguns produtores rurais (EMBRAPA, 2018).
107
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

A agricultura de precisão é a tecnologia cujo objetivo consiste em au-


mentar a eficiência, com base no manejo diferenciado de áreas na agri-
cultura. A agricultura de precisão não consiste simplesmente na habili-
dade em aplicar tratamentos que variam de local para local, porém, ela
deve ser considerada com a habilidade em monitorar e acessar a ativi-
dade agrícola, precisamente em um nível local, tanto que as técnicas de
agricultura de precisão devem ser compreendidas como uma forma de
manejo sustentável, na qual as mudanças ocorrem sem prejuízos para as
reservas naturais, ao mesmo tempo em que os danos ao meio ambiente
são minimizados (TSCHIEDEL; FERREIRA, 2002, p. 160).

Apesar do fato de a AP tratar de especificidades, o tema também deve ser


visto de maneira abrangente, sistêmica e multidisciplinar (Figura 8), como uma
designação global dada a sistemas tecnológicos integrados que permite a leitura
e o acompanhamento remoto das informações sobre os componentes e operações
de produção, e compará-los a parâmetros predefinidos, que embasarão com pre-
cisão as decisões de produtores e operadores, visando a expansão dos conceitos
de variabilidade de espaço-tempo, além da sustentabilidade dos ecossistemas
ambientais, produtivos e econômicos.

FIGURA 8 – ESQUEMA ILUSTRATIVO DA AGRICULTURA DE PRECISÃO

FONTE: HEXASTEP (2020, s.p)

108
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

Os itens seguintes abordarão os componentes e suas especificidades e con-


tribuições para a precisão na agricultura e para a rentabilidade e sustentabilidade.

2 EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO


Os equipamentos para a agricultura de precisão correspondem aos instru-
mentos que comportam as tecnologias necessárias e disponíveis para a operacio-
nalização da AP.

Para Coelho (2005), as tecnologias disponíveis podem ser agrupadas em


seis principais categorias: computadores e programas, GPS (sistema de posicio-
namento global), SIGs (Sistemas de Informação Geográfica), sensoriamento re-
moto, sensores e controladores eletrônicos de aplicação.

Grande parte das tecnologias utilizadas na AP foi concebida para as mais


diferentes áreas e adaptadas para a necessidade das operações da AP.

TABELA 5 – PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE USO DA AGRICULTURA DE PRECISÃO


Instrumento Descrição Uso
Computadores velozes, munidos de
eficientes programas responsáveis por
Elaboração de gráficos e mapas de
armazenar, manipular e analisar uma
colheita, levantamento de dados de
variada gama de dados que devem ser
culturas e amostragem sistematiza-
Computadores e processados para fornecer informações
da de solos, além do fornecimento
programas para a tomada de decisões. Os progra-
de dados sobre a variabilidade das
mas podem variar em complexidade,
culturas e solos em uma determina-
indo de simples, para elaboração de
da área.
mapas, a complexos, capazes de anali-
sar múltiplas camadas de dados.
Conjunto de programas, equipamen- Análise espacial das relações de ob-
tos, metodologias, dados e usuários jetos geográficos pela combinação e
Sistemas de Infor- integrados de forma a tornar possível processamento de dados (gráficos e
mações Geográfi- a coleta, o armazenamento, o proces- alfanuméricos) de diversas fontes,
cas – SIGs samento e a análise de dados georre- produção de mapas, sobreposição
ferenciados, bem como a produção de de camadas e mapas diferentes, e
informação derivada de sua aplicação. simplificação de análises.
A aplicação na agricultura depende
Possibilita determinar a posição ge- do uso de antena, receptor e cabos
ográfica em qualquer parte do globo para a conexão do receptor a outros
Sistema de Posi-
terrestre. Recebe os sinais emitidos via equipamentos, como monitores de
cionamento Global
satélite e os transforma em informação colheita, equipamentos para avaliar
– GPS
disponível para os sistemas de infor- propriedades dos solos e cultura, e
mação. controladores para a aplicação de in-
sumos a taxas variáveis.

109
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

Possibilita acessar uma variabili-


dade espacial e temporal dentro de
uma área em uma propriedade, ba-
cia hidrográfica ou região.
Proporciona a aquisição de informa- Usado para uma variedade de apli-
ções a respeito de algum objeto sem cações, que vão desde a avaliação
Sensoriamento estar em contato físico com ele. Envol- do estado nutricional e hídrico em
Remoto ve um conjunto de técnicas e procedi- plantas até a detecção de plantas
mentos tecnológicos, como o uso de daninhas e insetos. Pode fornecer
sensores e unidades de controle. informações sobre propriedades
dos solos, diferenças entre tipos de
estresses abióticos das plantas (água
ou nutricional) e estimar a produção
relativa das culturas.
Quantificação de propriedades dos
solos: matéria orgânica; pH; umi-
Instrumentos que transmitem impul-
dade; profundidade do horizonte
sos elétricos em resposta a estímulos
superficial.
físicos, tais como calor, luz, magnetis-
Identificação de variáveis de mane-
mo, movimento, pressão e som. Utili-
jo: tipo e intensidade de ocorrência
zando computadores para armazenar
de plantas daninhas para aplicação
Sensores o impulso emitido pelo sensor, o GPS
intermitente de herbicidas; detecção
para medir a posição e o SIG para ana-
de estresses abióticos para a aplica-
lisar e mapear os dados, qualquer in-
ção de fertilizantes; população de
formação gerada pelo sensor pode ser
plantas e produção das culturas.
detalhadamente mapeada com o uso
Colheita: quantidade de grãos, umi-
das tecnologias complementares.
dade de grão e suporte para mapea-
mento de produtividade.
Sistemas eletrônicos de controle que
Componente de um sistema automa- variam em graus de precisão. São
tizado (computadores de bordo) no disponíveis para taxa variável de
Controladores
qual a informação armazenada é usa- distribuição de calcário, fertilizantes
Eletrônicos de
da para influenciar o estado do siste- (sólidos e líquidos), sementes, apli-
Aplicação
ma para a aplicação localizada de in- cação de herbicidas e inseticidas, ir-
sumos. rigação, aplicação de esterco e vários
equipamentos de preparo do solo.
FONTE: Adaptado de Coelho (2005)

E
IMPORTANT

A separação ou visão isolada dos instrumentos utilizados na AP é possível e


aconselhável. No entanto, de maneira prática, esses instrumentos são usados de forma
complementar e conjunta, podendo ser vistos como instrumentos de manipulação e aná-
lise conjunta do determinado resultado pretendido.

110
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

2.1 PRINCIPAIS OPERAÇÕES DESENVOLVIDAS PELA


AGRICULTURA DE PRECISÃO
Como visto na Figura 8, diversas técnicas podem ser utilizadas na AP em
culturas comerciais, muitas em fase de desenvolvimento e outras em plena aplicação
a campo. A abordagem para o uso das técnicas da AP pode ser dada por duas ações
principais, das quais se desdobram outras técnicas.

Abordagem 1 – Aplicação de dosagens de fertilizantes e corretivos na ins-


talação ou manutenção da cultura: as aplicações são feitas de acordo com a recomen-
dação de uso para cada local do campo de produção. São utilizados distribuidores
de fertilizantes e corretivos que fazem a regulagem da dosagem automaticamente,
obedecendo às informações processadas no mapa de fertilidade. Os chamados dis-
tribuidores VRT (Variable Rate Technology), são as máquinas usadas para essas aplica-
ções predeterminadas.

Abordagem 2 – Mapeamento de produtividade: elaboração de mapas que


ilustram minunciosamente a produtividade da cultura em cada ponto do talhão, o
que proporcionará o manejo adequado para cada talhão, além de produzir um amplo
banco de dados para o estudo e diagnóstico de locais e causas de baixa fertilidade.

2.2 EQUIPAMENTOS MAIS UTILIZADOS NAS OPERAÇÕES


Como visto nos itens anteriores, vários instrumentos são considerados bá-
sicos e de uso conjunto para a obtenção e a análise dos dados na AP. Nos itens a
seguir, alguns desses instrumentos serão detalhados, considerando as principais
operações do cultivo vegetal.

DICAS

Você encontra uma explanação prática de como usar um kit básico para a
agricultura de precisão, com dicas importantes sobre a instalação e o uso das tecnologias,
no link: https://www.youtube.com/watch?v=1fPjy0KDCQA.

111
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

2.2.1 Barra de luzes


Uma das ferramentas de grande eficácia da agricultura de precisão é a orien-
tação das máquinas agrícolas de forma a evitar a sobrepassagem e, ao mesmo tempo,
precisar a adjacência das faixas de passagem dos insumos, adubos e corretivos.

Por métodos convencionais, a aplicação em faixas adjacentes pode ser feita


pelo uso de marcadores de espuma, pela orientação das fileiras de plantio, pelos ris-
cadores de solo, entre outros. O objetivo desses métodos é evitar a sobreposição, o
consequente aumento de custo e falhas, as quais podem comprometer a eficiência da
distribuição do insumo ou controle fitossanitário. Nesse sentido, a AP desenvolveu
novas técnicas, ferramentas e conceitos, dentre eles a barra de luzes (Figura 9).

FIGURA 9 – MONITOR COM A DISPOSIÇÃO DA BARRA DE LUZES PARA A MARCAÇÃO DE


OPERAÇÃO

FONTE: Tecnoparts (2020, s.p)

A barra de luzes, como as demais tecnologias da AP, tem seu funcionamen-


to ligado a outros equipamentos, como o painel luminoso (display), o controle com
botões de acionamento e o receptor GPS (Sistema de Posicionamento Global).

O painel luminoso é um conjunto de luzes (LEDs) que se acendem na


medida em que o veículo se afasta do alinhamento predeterminado, in-
dicando ao operador a correção necessária no percurso. É comum tam-
bém a existência de um visor que pode informar ao operador qual o erro
em metros em relação ao alinhamento predeterminado, qual o tiro da
aplicação, dentre outras informações (BAIO; ANTUNIASSI, 2003, p. 1).

Os equipamentos embarcados nos modelos mais avançados são capazes


de operar tanto em linha reta quanto curva, fazendo com eficiência as manobras
de final de linha. Para operá-lo, inicialmente o operador deve localizar os pontos
inicial e final em um alinhamento de referência. A partir desses pontos, o equipa-
mento detectará automaticamente a manobra final do alinhamento, indicando o
posicionamento seguinte.

112
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

A tecnologia da barra de luzes é comumente utilizada para pulverizações aé-


reas e na pulverização terrestre, através do uso dos autopropelidos e pulverizadores
de barras. Outro uso em expansão da barra de luzes é na distribuição de corretivos
de solo a lanço. Na semeadura, o equipamento pode fazer uma acentuada diferença,
porém exige o uso de um GPS geodésico, o qual dispõe de precisão milimétrica, mas
tem um custo elevado de aquisição, o que deve ser considerado pelo agricultor.

Entre as vantagens do uso das barras de luzes, estão:

Maior utilização do GPS na propriedade, diluindo seu custo, maior


acurácia no alinhamento, possibilidade de retorno ao ponto de parada
da aplicação, pode ser utilizada durante a noite, pode ser utilizada em
qualquer estágio de desenvolvimento da cultura, a barra de luz não
possui problemas com tiros longos, pode-se aumentar a velocidade
da aplicação, sua utilização melhora a ergonomia para o operador, a
barra de luz não tem problema com a velocidade do vento (BAIO; AN-
TUNIASSI, 2003, p. 1).

As vantagens do uso do equipamento, principalmente as relacionadas à


precisão, dependem da habilidade do operador em corrigir, se necessário, a rota
de aplicação e da precisão do GPS no fornecimento da informação de posicio-
namento. Em um estudo comparativo realizado por Baio e Antuniassi entre o
método de marcação por espuma e um autopropelido com barra de luzes, os
resultados foram favoráveis para o uso da tecnologia da AP.

Foi comparada a precisão média obtida com o marcador de linha por


espuma e uma barra de luz instalada com um GPS Trimble Ag110 em
um pulverizador autopropelido operando em reta e em curva. Nesse
trabalho, foi observado que a precisão da barra de luz operando em
reta foi de 0,40 m e operando em curva foi de 0,60 m, enquanto que a
precisão obtida com o marcador de linha foi de 1,0 m (BAIO; ANTU-
NIASSI, 2003, p. 2).

Diante da eficiência da tecnologia, o agricultor deve realizar cálculos para


conferir seu custo e benefício. Além disso, deve realizar a capacitação do opera-
dor para obter o máximo de vantagem possível com o uso da barra de luzes.

2.2.2 Sensores e atuadores


Os sensores podem ser definidos como conversores de grandezas físicas
em sinais elétricos, enquanto atuadores são componentes que realizam a conver-
são da energia elétrica, hidráulica e pneumática em energia eletrônica ou mecâni-
ca (Figura 10). Como componente desse conjunto, a unidade de controle é respon-
sável pelo gerenciamento e monitoramento dos parâmetros de operacionalização
necessários para a realização das tarefas.

113
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

Os sensores e atuadores ou transdutores são utilizados em conjunto. Para


diferenciá-los, podemos associar a palavra sensor a perceber; e atuador a levar a
frente, ou seja, o sensor detecta e transforma em sinal, e o atuador grava e transfe-
re para outro sistema de forma convertida. Todo atuador possui um sensor, e boa
parte dos sensores têm, de maneira embutida, atuadores. Os sensores são capazes
de detectar e sinalizar luz, calor, movimento, umidade, pressão ou qualquer ou-
tra variável detectável em um ambiente.

FIGURA 10 – EXEMPLIFICAÇÃO DE UM SENSOR E ATUADOR

FONTE: Silveira (2018, s.p. )

Os sensores podem ser ativos ou passivos:

Ativos: medem pela emissão de energia para o ambiente ou pela modifi-


cação promovida pela energia no respectivo ambiente (sensores de laser, ultras-
som, contato).

Passivos: não emitem, apenas recebem energia do ambiente (sensores óp-


ticos).

Pelo tipo de grandeza mensurada, os sensores podem ser de distância


(laser, ultrassom), de posicionamento absoluto (GPS), ambientais (temperatura,
umidade) e de inércia (aceleração, velocidade). A Tabela 6 exemplifica alguns mo-
delos de sensores com os estímulos de entrada e sinais de saída.

114
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

TABELA 6 – EXEMPLOS DE FORMATO DE SENSORES DE ACORDO COM O ESTÍMULO E SINAL


Sensores Estímulo Sinal

Onda (amplitude, fase,


Acústico polarização), espectro e
velocidade de onda.

Carregamento, corrente,
Elétrico tensão, permissividade e
condutividade.

Campo magnético, fluxo


Magnético magnético e permeabili-
dade.

Onda (Amplitude, fase,


polarização), velocidade de
Óptico onda, índice de refração,
emissividade, absorção e
refletividade.

Temperatura, fluxo, calor


Térmico específico e condutividade
térmica.

Posição (linear, angular),


aceleração, força, massa,
Mecânico
densidade, momento, tor-
que e orientação.

FONTE: Silveira (2018, s.p.)

Atuadores: a potência mecânica gerada pelos atuadores é responsável


pela sua movimentação. Para tal, é enviada aos elos pelos sistemas de transmis-
são, proporcionando a movimentação. Os atuadores são classificados pelo tipo de
energia que utilizam em hidráulicos, pneumáticos e eletromagnéticos.

Unidade de controle: responde pelo gerenciamento e monitoramento dos


parâmetros operacionais requeridos para realizar tarefas. Os comandos de movi-
mentação enviados aos atuadores são originados de controladores de movimento
e baseados em informações obtidas pelos sensores (FELIZARDO; BRACAREN-
SE, 2005). Assim, são capazes de oferecer aos atuadores sinais de erros, que serão
transmitidos aos sistemas.

Tanto as unidades de controle quanto os atuadores são ferramentas de-


senvolvidas para viabilizar os dados e sinais detectados pelos sensores. Dessa

115
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

forma, fazem parte dos sistemas de sensoriamento. De maneira geral, a vasta


quantidade de sensores disponíveis no mercado pode ser dividida em dois gru-
pos: direto e remoto. Ambos têm por finalidade obter dados eletronicamente para
a automatização de processos ou para tomada de decisões. A Tabela 7 apresenta
as principais aplicações dos sistemas de sensoriamento na agricultura.

TABELA 7 – PRINCIPAIS APLICAÇÕES DOS SISTEMAS DE SENSORIAMENTO NA AGRICULTURA


Área de aplicação Detalhamento
Utilizados para desenvolver índices de vegetação, como indicadores de
crescimento da cultura; do estado nutricional e da produtividade; reflec-
tância espectral de culturas (sinais de estresses bióticos e abióticos do
Índices de vegetação
ambiente); avaliação do estado nutricional; estimação do crescimento e
monitoramento das condições da planta; e estimativa de produtividade
das culturas.
Usado para medições das características do solo em escala de campo e em
Características
tempo real. Esta aplicação proporciona agilidade e eficiência, com obten-
de solo
ção de dados in situ (nas condições reais de campo).
Realizada com o auxílio de GPS, tem sido utilizada para determinar a tex-
tura e outras propriedades do solo. Obtém significativa correlação com o
Condutividade elétrica resultado de análises dessas características com os laboratórios e integra os
efeitos da argila (tipo e quantidade) e teores de sal (cátions e ânions solúveis).
Considera toda a massa de solo, representando bem a condição real.
Levantamento de características do solo, como o teor de matéria orgâ-
nica, com o uso de técnicas de mapeamento por sensoriamento remoto,
importantes para a tomada de decisões técnicas do produtor. Permite
Outros levantamentos
acompanhar o dinamismo das alterações rápidas do ambiente da lavoura
com a coleta dessas informações, que podem ser a base para a aplicação
dos insumos adequados em tempo real.
FONTE: Adaptado de SENAR (2015)

A diferença entre sensoriamento direto e indireto está no contato ou não


com o elemento a ser sinalizado. Por exemplo, o sensoriamento direto é realizado
pelo contato físico do sensor com o solo, planta, fruto, umidade, pH etc. Já o re-
moto é atribuído à observação indireta, como a observação terrestre ou aquática
a distância, que resulta em imagens aéreas e imagens de satélites (SENAR, 2015).

Embora automatizado, o sistema de sensoriamento somente terá êxito


com a correta postura do operador na manutenção das máquinas, na leitura e
interpretação dos dados e na calibração periódica dos sensores. A calibração deve
ser feita de acordo com o manual do fabricante e, em alguns casos, varia conforme
a cultura em questão e/ou a operação a ser realizada. Mas, atenção: não calibrar
significa comprometer a qualidade e a confiabilidade dos dados gerados.

2.2.3 Piloto automático


Há algum tempo, imaginar um trator ou colhedora movimentando-se ou
realizando uma operação sem o condutor era impossível. No entanto, a AP já uti-
liza esse instrumento para garantir eficiência em suas operações.

116
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

O mecanismo consiste em um controlador de direção acoplado ao trator,


que recebe informações do satélite por meio de uma antena instalada no
teto do equipamento e as envia diretamente para as válvulas eletrônicas
que comandam a direção do equipamento. Esse comando aciona os ci-
lindros hidráulicos que, por sua vez, determinam o direcionamento das
rodas. Além de evitar falhas nas aplicações ou sobreposição entre passa-
das, proporciona maior conforto ao operador, cuja finalidade principal
passa a ser monitorar o equipamento (SENAR, 2015, p. 66).

O uso do piloto automático permite o desenvolvimento do trabalho se-


guindo linhas previamente desenhadas pelo sistema de posicionamento, bem
como armazenar os dados para operações futuras, integrando as operações auto-
matizadas na bases de dados da AP. Diferentes modelos de tratores e máquinas
podem receber o sistema de pilotagem automático, que é eletrohidráulico e de
simples instalação e manutenção.

A operacionalização do piloto automático demonstra a evolução das téc-


nicas de uso do GPS, somando esse a outras técnicas de automação, como o uso
do sistema RTK (Real Time Kinematic):

Onde o sinal de correção, a ser utilizado nas passagens é obtido a


partir de uma base fixa, que corrige o posicionamento dado pelo si-
nal dos satélites e repassa ao receptor móvel (trator e outros veículos
agrícolas) via comunicação de rádio em ondas UHF, garantindo uma
acurácia estática no posicionamento em torno de 0,025 m (OLIVEIRA;
MOLIN, 2011, p. 335).

O sistema é eficaz, porém, depende da capacidade do operador de criar


uma linha de referência que definirá o espaçamento entre as passadas. A partir
dessa linha, o software do sistema RTK replica linhas para ambos os lados do ve-
ículo, sendo o posicionamento corrigido automaticamente. A correção de trajeto
é realizada utilizando o sensoriamento do volante e do rodado. Dependendo do
nível tecnológico do modelo do equipamento, o operador poderá acompanhar os
dados e assumir o controle durante as manobras de cabeceira (OLIVEIRA; MO-
LIN, 2011). O sistema de pilotagem automática pode ser do tipo elétrico, como
nos primeiros modelos, ou hidráulico, que é o mais atual. Assim como outras téc-
nicas da AP, esse sistema é utilizado em conjunto com outras tecnologias, como
a barra de luzes e os mapas de produtividade, além do sistema de sensoriamento
e georreferenciamento.

Entre os benefícios dos sistemas de piloto automático estão (RAUPP,


2012):

• Menor estresse para o operador, que pode monitorar de forma mais segura e pre-
cisa outros equipamentos utilizados em sua jornada de trabalho.
• Maior produtividade, ao permitir maiores velocidades de operação, inclusive du-
rante a noite.
• Maior acurácia no seguimento das trajetórias previamente definidas durante todo
o dia, reduzindo custos e melhorando a utilização do solo.

117
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

• Capacidade de seguir qualquer tipo de trajetória existente no campo (retas, curvas,


pivô), com uma margem de erro inferior a cinco centímetros.
• Operar nas faixas de velocidades compreendidas entre 3 e 25 km/h.
• Tempo de aproximação a trajetória inferior a dez segundos, com baixa sobrepas-
sagem.
• Zelo pela segurança do condutor.
• Robustez, sendo capaz de operar nos mais variados modelos de máquinas agríco-
las e em qualquer tipo de solo (planos e acidentados).
• Fácil instalação e manutenção.

Um sistema hidráulico de pilotagem automática geralmente consiste em


uma válvula hidráulica conectada a um cilindro de direção do veículo, que será
responsável pelo acionamento do sistema. De maneira mais detalhada, um piloto
automático, dependendo do fabricante e da máquina, é composto por:

Um sensor (rotativo e absoluto) é instalado em uma das rodas do veí-


culo para obtenção do ângulo das mesmas. [...] a posição absoluta do
veículo é obtida via receptores GPS instalados sobre a cabine (ou na área
mais elevada e livre de obstáculos do veículo) enviando continuamente
as informações de localização geográfica (latitude e longitude), orienta-
ção em relação ao norte geográfico da Terra e a velocidade (em módulo)
do veículo, para o computador de bordo (RAUPP, 2012, p. 16).

Portanto, as informações passarão para a decodificação e cálculo de erro


da trajetória (sistemas DGPS ou RTK), que é mensurado em relação às informa-
ções armazenadas no sistema de dados do veículo. Nesse momento, deve-se con-
siderar a velocidade do veículo sob responsabilidade do operador, que está em-
basada nas informações do protocolo CAN.

O controlador deve então realizar a leitura do sensor de posição das


rodas, e calcular a lei de controle em tempo hábil, enviando o sinal de
comando para os atuadores. Além destas funções, o circuito do contro-
lador deve obter a inclinação do veículo (ângulos de roll e pitch), além
de gerenciar rotinas de segurança, enviando esses dados, e qualquer
outra informação que seja de interesse do agricultor ou do projeto
(RAUPP, 2012, p. 16).

A Figura 11 ilustra o fluxo de informações do sistema de pilotagem automá-


tica de um trator, desde a recepção dos dados até o processamento dos parâmetros.

118
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

FIGURA 11 – FLUXO BÁSICO DE INFORMAÇÕES NO FUNCIONAMENTO DO PILOTO


AUTOMÁTICO

FONTE: Raupp (2012, p. 16)

Em todo o sistema, estão envolvidos vários modelos matemáticos, tanto


para a interpretação quanto para a leitura dos dados, como o que ocorre no sen-
soriamento de ângulo de inclinação do veículo e na correção de erros de coorde-
nadas de posicionamento de GPS. As teorias da física e matemática dão o suporte
desde a coleta até a interpretação dos dados finais na maioria dos sistemas de AP.

DICAS

No link https://bit.ly/2zKUAVf, você terá acesso ao artigo Uso de piloto auto-


mático na implantação de pomares de citros, de Tiago Oliveira e José Molin, que traz uma
importante discussão sobre o uso dessa tecnologia! Confira!

2.2.4 Computador de bordo


Os computadores de bordo são equipamentos capazes de transformar as
informações geradas pelos demais componentes da AP, como GPS, sensores, atu-
adores etc. em dados que possam ser compreendidos e interpretados pelo opera-
dor e/ou agricultor. Pode-se dizer que eles estão entre as ferramentas e os objeti-
vos de cada operação da AP. Por exemplo, em uma operação de pulverização, o
GPS determina as coordenadas iniciais de localização. O sistema de sensoriamen-
to sinaliza dados, como velocidade de movimentação e consumo de combustível,
que são enviados a um sistema de computador de bordo para gerar informações,
como o tempo necessário para desenvolver a operação (velocidade/km) e o custo
da operação. De posse desses dados, o operador ou gestor pode realizar diversos
desdobramentos, como área/dia/hora a ser trabalhada, prever valores necessários
para as diferentes operações de uma safra ou fase, entre outras ações que podem
ser importantes na tomada de decisões.

119
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

Os computadores de bordo também podem informar níveis de combustí-


vel, a temperatura, estimar a necessidade de manutenção, mostrar erros de per-
curso e de desenvolvimento, proporcionar conexão com redes de comunicação e
monitoramento remoto (wi-fi, Bluetooth, GPRS, DoR), entre outras informações.
São equipamentos imprescindíveis para o sistema de piloto automático, de barra
de luzes, de gestão e de produção e interpretação de mapas de variabilidade es-
paço-temporal.

Os computadores de bordo (Figura 12) das máquinas agrícolas normal-


mente estão fixados nas cabines das colhedoras, tratores e pulverizadores auto-
propelidos. Eles são compostos por sistemas de armazenamento e processamento
de dados, softwares e outras programações específicas, como o datalogger, que já
visto em itens anteriores.

FIGURA 12 – EXEMPLO DE COMPUTADOR DE BORDO ACOPLADO A UM TRATOR AGRÍCOLA

FONTE: Deere (2019, s.p.)

É importante ressaltar a capacidade do computador de bordo na integra-


ção das informações da máquina. Portanto, para o uso agrícola, ele deve ter o
implemento de vedação de poeira e água e resistência à vibração e trepidação.

2.3 SISTEMAS COMERCIAIS DA AGRICULTURA DE PRECISÃO


Para Inamasu e Bernardi (2014) a AP, apesar dos intensos processos de
aperfeiçoamento, ainda preserva elementos que necessitam ser aprimorados. Os
autores apresentam um organograma (Figura 13) com a pretensão de listar cau-

120
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

sas a serem consideradas diante da variabilidade e do grau de dificuldade envol-


tos na visão pontual das especificidades dos sistemas produtivos.

Os autores citam Molin (2004), que lista causas de variabilidade e grau de


dificuldade para a sua intervenção e conclui que muitas das prováveis causas são
do tipo que não permitem intervenções, e sim exigem a convivência.

FIGURA 13 – CICLO DA AGRICULTURA DE PRECISÃO EM TRÊS ETAPAS

FONTE: Inamasu e Bernardi (2014, p. 23)

Com a crescente exigência e demanda por aprimoramento e resultados, o


consumo das tecnologias da AP está em amplo processo de crescimento. O uso
dos autopropelidos e das colhedoras cada vez mais automatizadas coloca os ins-
trumentos da AP nas propriedades agrícolas em diferentes proporções e deman-
da pesquisas de desenvolvimento cada vez mais adequadas às questões ambien-
tais, com um reduzido custo de aquisição pelo agricultor.

Nesse sentido, ocorrem esforços também para a otimização do uso dos


instrumentos da AP, conforme ilustra a Figura 13. O fluxo em 3 etapas deve ser
seguido, analisado e aplicado pelo produtor. A aquisição e o correto uso dos equi-
pamentos não terão seu aproveitamento máximo caso o produtor não faça a cor-
reta leitura, interpretação, planejamento e aplicação dos resultados obtidos.

121
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

2.4 MAPAS DE ATRIBUTOS DE SOLO


Os mapas de atributo de solo são um importante instrumento para o al-
cance da precisão. Eles permitem ao agricultor diagnosticar, do ponto de vista
químico e físico, parte a parte de sua área produtiva e proceder à correção e tra-
tamento necessários, de acordo com cada leitura. Para atender a essa perspectiva,
consolida-se no mercado a tecnologia de aplicação à taxa variável VRT (Variable
Rate Technology), desenvolvida em máquinas agrícolas para permitir a aplicação
controlada de insumos. Ela é utilizada na fertilização, mas também em pulveriza-
ções e algumas operações específicas de plantio.

Normalmente, necessitam de controle automático de velocidade e re-


ceptor GNSS instalado na máquina agrícola para reconhecimento da
coordenada geográfica de onde se localiza. Contam com um sistema
computacional de apoio prévio para estudo e geração de mapa de re-
comendação (SOUSA; LOPES; INAMASU, 2014, p. 216).

A tecnologia VRT normalmente é aplicada em conjunto com o piloto au-


tomático, ampliando ainda mais a precisão. O mapeamento dos solos é uma das
aplicações da AP mais utilizadas. Obtido por análises de solo, ele proporciona a
tomada de decisão sobre adubação em taxas variáveis.

A aplicação de fertilizantes e corretivos em taxa variável, diferente do tra-


tamento por médias da agricultura convencional, proporciona melhor produtivi-
dade e eficiência no uso de nutrientes, resultando em uma redução da poluição
ambiental (BERNARDI et al., 2004). A Figura 14 mostra um comparativo do nível
de cálcio em uma área usando a amostragem por média (B) e a amostragem pelas
técnicas da AP (A).

122
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

FIGURA 14 – NÍVEL DE FERTILIDADE DO ELEMENTO CÁLCIO EM AGRICULTURA DE PRECISÃO


(A) E AMOSTRAGEM TRADICIONAL (B). BELA VISTA DO PARAÍSO, 2013

FONTE: Almeida (2016, p. 60)

Os mapas (A) e (B) da Figura 14 permitem, em rápida interpretação, con-


cluir que:

O mapa de teor de Ca para AT e AP numa área de 8,34 ha, onde foi


observado 0,63 cmolc dm-³ de cálcio em AT, índice considerado baixo
(ALVARES et al., 1999a). Em AP, em torno de 0,75 ha obtiveram-se ní-
veis de cálcio de 1,05 a 1,25 cmolc dm-³, considerados valores médios
para o elemento. Já os outros 7,59 ha da AP apresentaram níveis de
0,41 a 1,04 cmolc dm-³ Ca, valores considerados baixos. Podemos ob-
servar que se realizada a calagem através da agricultura tradicional
haverá um desperdício de calcário numa área de 0,75 ha onde os níveis
são considerados médios, não necessitando de aplicação do mesmo
(ALMEIDA, 2016, p. 58).

Esses e muitos outros resultados evidenciam a eficácia da AP relacionada à


amostragem de solos, pois possibilita a correção adequada, o consequente aumento
de rentabilidade, além de assegurar o uso eficiente dos recursos financeiros.

Uma das metodologias mais utilizadas para a amostragem de solo na AP


é a amostragem com malhas regulares. De maneira geral, o que mais varia nesse
tipo de amostragem é a forma de retirada do solo da área de amostragem, que
pode ser manualmente com o uso de um enxadão, até com equipamentos de AP
acoplados aos tratores.

123
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

É importante considerar que a principal diferença entre a amostragem


de solo realizada na agricultura convencional e na AP é o critério de coleta e a
representatividade das amostras, que estão naturalmente interligadas. O critério
da AP é a variabilidade, normalmente dada pelos mapas de variabilidade, e a
representatividade está vinculada ao número de amostras por área. Por exemplo,
na agricultura convencional, uma gleba com 10 hectares pode ser considerada ho-
mogênea e compor uma única amostra, composta ou não. Já na AP, essa mesma
área corresponderia a uma amostra composta subdividida em subglebas de 1, 2
ou 2,5 hectares, considerando os mapas de variabilidade.

Esta subdivisão é o que se pode chamar de malha de amostragem ou


grade de amostragem. É como se pegássemos a área e colocasse sobre
ela uma malha quadriculada, onde cada quadricula corresponde a 1
hectare por exemplo. Neste caso, dentro desta gleba teríamos, portan-
to, 10 subglebas ou 10 grades de amostragem. Para cada subgleba será
georreferenciado um ponto central. Neste ponto central será realizado
uma amostragem de solo, outros pontos serão amostrados para com-
por a amostra representativa, pode-se coletar dentro desta subgleba
de 20 a 30 pontos aleatórios para compor a amostra composta desta
subárea ou fazer uma amostragem pontual na qual as subamostras são
coletadas em um raio de 3 a 6 m do ponto central. Portanto neste caso,
seriam realizadas 10 amostragens de solo para esta área de 10 hectares
com uma grade de 1 hectare (OLIVEIRA, 2013, p. 1).

Quanto menor o quadro de amostra, mais preciso o processo. Contudo, não


há uma regra geral. Assim, a definição deve partir da indicação técnica perante a
análise dos mapas de variabilidade de produtividade, por exemplo, ou da análise
visual de diferenças de textura e estrutura. Nessa definição, o agricultor deve consi-
derar também o custo do processo, seja da coleta ou posterior à análise laboratorial.

A malha amostral pode variar quanto ao formato, podendo ser triangular,


quadricular, retangular ou hexagonal (Figura 15).

A configuração de malha mais difundida é a quadricular, tanto pela maior


simplicidade de geração nos diferentes softwares, quanto pela maior fa-
cilidade de orientação e localização dos pontos amostrais no campo. Ma-
lhas retangulares são preferidas quando a variabilidade espacial dos atri-
butos do solo é mais pronunciada em uma direção (ex. Leste para Oeste).
Isso pode ser observado em área com declive. Desta forma, utilizando
malha retangular [...] os pontos amostrais poderiam ser dispostos mais
próximos na direção transversal ao declive (maior variabilidade espacial)
e ser dispostos mais espaçados na direção longitudinal ao declive (menor
variabilidade espacial) (SANTI et al., 2016, p. 83).

124
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

FIGURA 15 – ILUSTRAÇÃO DAS ETAPAS DE ELABORAÇÃO DO MAPA AMOSTRAL PARA A


REALIZAÇÃO DA COLETA DE SOLO

FONTE: SANTI et al. (2016, p. 84)

A sequência do processo pressupõe a escolha de um laboratório de con-


fiança e, de posse dos resultados, a emissão dos mapas de fertilidade que, por sua
vez, nortearão a aplicação dos fertilizantes e corretivos em taxa variável.

SANTI et al. (2016) alertam para um aspecto importante relacionado ao


uso e a aplicação de tecnologias, refletindo que, em algumas ocasiões, uma gama
de tecnologias não é mais eficiente que a observação do agricultor ou técnico.
Segundo os autores, isso significa “ir à lavoura, de talhão por talhão, e observar
problemas que não aparecem em análises de solo, e consequentemente não se
identifica como fator limitante, como a erosão laminar ou em sulcos ou a falta de
biodiversidade edáfica” (SANTI, et al., 2016, p. 260).

2.5 MAPAS DE RENDIMENTO E DE CUSTOS


Os programas de coleta e análise de informações que compõem os siste-
mas de informação da AP são importantes instrumentos de gestão das proprie-
dades. Todas as informações são processadas e geram dados, como rendimento

125
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

e custo por área trabalhada, por cultura, por operação, por hora, entre outros
diversos recortes que o gestor queira analisar. O acompanhamento e a análise
desses dados pelo agricultor deve considerar que, entre os elementos a serem
considerados na gestão, um deles é a análise pontual sobre o custo de aquisição
e manutenção da AP, tecnologia que ainda apresenta custos considerados eleva-
dos, os quais precisam ser diluídos em seus benefícios de maneira eficiente, o que
pressupõem o conhecimento detalhado de sua composição e variabilidade.

Uma das bases para esses sistemas de gestão são os mapas de produtivida-
de e rendimento, capazes de gerar informações sobre custos, lucro e espacialização
da produtividade ou rendimento, conforme melhor visualizado na Figura 16.

FIGURA 16 – EXEMPLO DE ESPACIALIZAÇÃO DOS VALORES DE PRODUTIVIDADE DE GRÃOS (KG


HA-1)

Nota: (A) receita líquida (R$ ha-1) (B) da cultura da soja, safra 2010/11.
FONTE: Russini, et al. (2016, p. 131)

A Figura 16 é resultado de um estudo de caso desenvolvido pelos autores


no Rio Grande do Sul. Ainda que os resultados tenham sido considerados acima
da nacional, o mapeamento de custos e produção forneceu importantes informa-
ções sobre a variabilidade dentro da área de cultivo. Segundo os autores:

O mapeamento dos custos de produção, receitas e resultados econô-


micos fornecem informações importantes para subsidiar futuras es-
tratégias de manejo e investimentos na área. Indica-se a análise eco-
nômica de pelo menos 3-4 safras, incluindo diferentes culturas, para
obter padrões consistentes de variabilidade espacial da lucratividade
da lavoura. Com base nisso, sub-regiões da lavoura (zonas) menos
lucrativas devem ser manejadas diferentemente de sub-regiões mais
lucrativas (Russini et al., 2016, p. 136-134).

126
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

Esta é a função, de maneira simplificada, dos mapas de produtividade:


permitir ao agricultor precisão no uso de técnicas de manejo, em que a AP pre-
coniza a visão “talhão a talhão” ou “planta a planta”, e englobar essa visão aos
aspectos de gestão financeira da propriedade.

As metodologias de coleta de informações que baseiam os mapas são es-


pecíficas de cada cultura. Para grãos, por exemplo, sensores instalados na pla-
taforma de colheita e no elevador de grãos fundamentam os principais dados,
norteados pelas informações dos programas de georreferenciamento, que aferem
os aspectos de localização espacial.

É importante salientar que se discute atualmente a avaliação do solo via


imagens de satélite e drones, usando os princípios da reflectância (radiação re-
fletida ou emitida), ou o uso de sensores que medem a condutividade elétrica
do solo e mensuram as suas condições físico-químicas. Esses métodos já apre-
sentam resultados compatíveis com os métodos tradicionais e trazem vantagens
importantes aos produtores. No entanto, ainda precisam de estudos de aferição
e especialização que os habilite, entre outros aspectos, a diferenciar as causas das
diferenças de reflectância para assegurar suas leituras e interpretações.

2.6 APLICAÇÃO DE PRODUTOS EM TAXA VARIÁVEL


A aplicação de insumos a taxas variadas pode ser utilizada para fertilizan-
tes, corretivos, agrotóxicos, produtos biológicos, para a adubação no processo de
semeadura, tendo como base os mapas de produtividade e, mais recentemente,
para a aplicação de fertilizantes em tempo real e o sensoriamento do estado nutri-
cional das plantas. As metodologias de aplicação em taxa variável estão em pleno
uso na AP, porém, em constante processo de aprimoramento e aferição, buscando
melhor sinalizar e interpretar os dados.

Atualmente, os sensores de vegetação são ópticos e utilizados para men-


surar o teor de nitrogênio das plantas. De maneira simplificada, atuam pela de-
tecção e mensuração das bandas de absorção da clorofila e espectros de luz re-
lacionados à coloração da vegetação, pré-relacionando, por exemplo, sintomas
como o amarelecimento das plantas à falta de nitrogênio (RUSSINI et al., 2016).
O mesmo autor alerta que, apesar de estudos que certificam o uso desses pa-
râmetros como eficientes para a determinação do estado nutricional da planta,
alguns cuidados devem ser tomados em relação a condições associadas, como
a influência de fatores bióticos e abióticos, aos quais se pode atribuir a causa do
amarelecimento das plantas.

Para a aplicação em taxa variável, após a aquisição dos dados, interpreta-


ção e determinação das quantidades específicas para cada talhão analisado (ma-
nualmente ou de forma automatizada), esses dados devem ser transferidos em
arquivo digital para os programas de computação de bordo que, devidamente

127
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

configurados, irão utilizar os dados de posicionamento global (GPS) para deter-


minar a localização da máquina e do referido ponto do mapa de prescrição. As-
sim, o computador enviará os sinais para os atuadores, que farão a regulagem
de vazão de acordo com cada equipamento de aplicação (PEREIRA, 2019). Esse
procedimento se repetirá ao longo do deslocamento da máquina por toda a área
mapeada.

2.7 DIAGNÓSTICO DE FALHAS E CORREÇÃO DE


EQUIPAMENTOS
O diagnóstico de falhas na AP é um processo contínuo de análise de da-
dos e imagens. Ele pode iniciar pela correção do posicionamento dado pelo DGPS
(correção via satélite submétrico), que se faz necessário em virtude do erro de
precisão nos sistemas GPS, calculado entre 5 e 10 m. Sendo assim, na agricultura,
os três tipos de GPS mais precisos são:

DGPS (correção via satélite, submétrico), GPS absoluto com correção


por algoritmo (também submétrico, mas possui uma degradação da
precisão em relação ao tempo, mas funciona muito bem para direcio-
namento manual), e o RTK (“Real Time Kinematic”, milimétrico). Claro
que dependendo da precisão desejada para uma determinada aplica-
ção na agricultura é necessária uma ou outra tecnologia de correção
dos erros GPS. Por exemplo, não é preciso GPS RTK para fazer mapas
de produtividade do algodão, mas certamente é necessário para fa-
zer “plantio do adubo” técnica com grande expansão no oeste baiano
(ANTUNIASSI et al., 2016, p.2).

A correção dos dados de posicionamento ocorre, portanto, de forma auto-


mática com o uso do DGPS, sistema indispensável no uso do piloto automático e
em aplicações em taxa variada.

Alguns programas em uso nos computadores de bordo realizam a teleme-


tria das máquinas com a referida tecnologia remota. Pela telemetria, o gestor pode
ficar atento a dados de consumo fora do normal, como de combustível, falhas na
queda de sementes, na umidade dos grãos em colheita, quedas de produtividade,
entre outros aspectos que podem apontar falha mecânica, de aferimento ou fun-
cionamento dos sensores envolvidos. Os programas de telemetria podem apontar
rapidamente o problema sinalizado e, em alguns casos, dar um diagnóstico das
causas possíveis. Logo, o alerta ao gestor ou diretamente ao operador pode garantir
a correção, evitando problemas de manejo e garantido a eficiência produtiva.

A referida possibilidade reforça ainda mais a necessidade de o gestor


acompanhar detalhadamente os relatórios, realizar o monitoramento e avaliar as
operações em campo.

128
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

2.8 USO DE VEÍCULOS AÉREOS NÃO TRIPULADOS (VANT)


NA AGRICULTURA DE PRECISÃO
O termo VANT é utilizado para designar Veículos Aéreos Não Tripulados
controlados remotamente. Em consenso mais recente da ANAC, surgem as Aero-
naves Remotamente Pilotadas (RPAS), tidas como um subgrupo dos VANT. Inter-
nacionalmente, RPAS deriva da sigla Remotely Piloted Aircraft System e é o termo
técnico e padronizado pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI)
para se referir aos sistemas de aeronaves remotamente pilotadas e utilizadas com
propósitos não recreativos. O termo drone é popularmente utilizado para qualquer
veículo aéreo não tripulado e não é reconhecido formalmente (PEDROSA, 2015).

O uso das RPAS na agricultura atende uma das necessidades mais laten-
tes da AP, a disponibilização de informações de forma rápida e precisa, consi-
derando principalmente os estágios críticos das culturas relacionados a ataques
de insetos, fungos e/ou outros organismos indesejáveis na produção. Portanto, o
rápido diagnóstico pode indicar o nível de dano e a forma/urgência de reação de
manejo. Outro aspecto atribuído as RPAS é a redução do uso e custos com com-
bustível e, indiretamente, de danos físicos à cultura.

Inicialmente, os primeiros exemplares apresentavam algumas restrições


de uso pela dificuldade de manutenção e suporte de carga, necessitando do au-
mento do número de voos, principalmente em áreas maiores de terra, comuns na
AP. Com o aprimoramento da tecnologia, além da ampliação da capacidade de
carga, realizou-se a adaptação nas RPAS de câmeras simples ou de comprimentos
de onda vermelho, verde e azul (RGB). Essa nova funcionalidade ampliou o leque
de possibilidades de uso e aplicação da tecnologia.

A utilização de câmeras RGBs deu início ao conceito de “ver por cima”,


que consiste em realizar vistorias rotineiras na lavoura, como falhas de
plantas, focos de doenças, processos erosivos entre outras aplicações.
Essa ferramenta passou a ser utilizada baseando-se nos conceitos bási-
cos do sensoriamento remoto (JORGE; INAMASU, 2014, p. 110).

O uso de câmeras auxilia na verificação de focos de doenças e ataque de


organismos danosos, bem como na verificação de falhas de plantio e elaboração
de mapas de ataque ou incidência. Mais recentemente, com o surgimento dos
sensores de leitura vegetal, o uso de RPAS ganhou uma ampliação de perspecti-
va, passando a utilizar sensores ópticos embarcados.

A adaptação de sensores vegetação em RPAS, teve uma maior aceitação


pelo fato de que as leituras com os mesmos normalmente são feitas ma-
nualmente pelo usuário, ou em certos casos, são adaptados nas máqui-
nas agrícolas no momento da aplicação de insumos, ou que apresentam
a limitação, de leituras que necessitam ser feitas em outros estágios da
cultura sem afetar a logística operacional das máquinas e o aumento de
custos com combustível (JORGE; INAMASU, 2014, p. 109).

129
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

Existem variações de modelos utilizados na agricultura (Figura 17), po-


rém, os componentes básicos são comuns para a operacionalização das RPAS.

• Aeronave: modelo físico de veículo aéreo.


• Estação de controle em solo: Ground Control Station (GCS), é a base para planejamen-
to e acompanhamento da missão e do trabalho realizado remotamente, permitindo
a visualização do mapa da área.
• GPS: sistema de posicionamento global acoplado, determina a localização espacial
do veículo e das operações.
• Unidade de navegação inercial: o veículo não aceita comandos de movimento dire-
tamente ligados ao GPS devido à grande margem de erro. Por isso, recorre a uma
unidade de navegação inercial (IMU) para garantir uma melhor precisão da posição.

FIGURA 17 – ILUSTRAÇÃO DE MODELOS MAIS COMUNS DE RPAS

FONTE: Andrade (2013, p. 113)

O mesmo autor pontua as etapas que devem ser consideradas na utilização


de uma RPA na agricultura de precisão:

• planejamento de voo;
• voo com sobreposição;
• obtenção das imagens georreferenciadas;
• processamento das imagens;
• geração de mosaico;
• análise em uma ferramenta GIS;
• geração de relatórios.

130
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

O custo dessa tecnologia está cada vez mais acessível ao agricultor. No en-
tanto, o agricultor deve planejar, calcular e se capacitar para adquiri-la de forma
a utilizar todo o seu potencial.

131
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

LEITURA COMPLEMENTAR

AGRICULTURA DE PRECISÃO NO RIO GRANDE DO SUL

Resumo

A agricultura brasileira tem passado por uma série de transformações


visando tornar os sistemas produtivos mais competitivos diante de uma conjun-
tura econômica desfavorável. Esse novo momento da agricultura exige que os
agricultores invistam cada vez mais na tecnificação e gestão de suas atividades.
Nesse cenário, a agricultura de precisão (AP) tem desempenhado um papel im-
portante devido ao constante aprimoramento de suas técnicas e ferramentas em
nível de campo, bem como o desenvolvimento de novas tecnologias referentes à
eletrônica embarcada em máquinas agrícolas, com o intuito de se obter melhor
qualidade, otimização e redução dos custos de produção.

Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo demonstrar através


de estudos de caso, a importância da análise e da viabilidade econômica da apli-
cação das técnicas de AP. Diversos trabalhos realizados nessa área demonstram
vantagens na utilização da AP, porém muitos agricultores desconhecem ou de
certa forma negligenciam a análise econômica no processo de implantação de
novas técnicas em suas propriedades ou aquisição de máquinas e equipamentos.
A utilização das técnicas de AP independe do tamanho da propriedade, porém
o nível de investimento e de recursos irá depender diretamente do tamanho e da
capacidade de investimento de cada agricultor.

Os resultados dos estudos de caso apresentados demostraram que a


adoção de ferramentas de AP, tais como a aplicação de fertilizantes em taxa vari-
ada apresenta viabilidade e retorno do investimento a curto e médio prazo, mas
alertam para a questão do planejamento, pois a AP envolve muito mais que o
simples aumento no rendimento das culturas, racionalização no uso de insumos
e redução nos custos de produção. Assim, dependendo da capacidade de investi-
mento do produtor rural, muitas vezes é preferível terceirizar algumas atividades
em vez de investir em mão de obra e máquinas/equipamentos. Além disso, ver-
ificou-se que a AP tem uma grande potencialidade como ferramenta de gestão
rural, gerando informações que podem subsidiar a tomada de decisão dos produ-
tores frente às futuras estratégias de manejo e investimentos.

Palavras-chave: gerenciamento rural, manejo localizado, planejamento de inves-


timentos, tecnologia, viabilidade econômica.

Introdução

A agricultura brasileira vem passando por intensas transformações,


baseadas na modernização e intensificação dos processos produtivos. Dentre os
agentes dessas transformações, destaca-se a agricultura de precisão (AP).

132
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

Desde sua introdução no Brasil, no final da década de 90, até os dias atu-
ais, a AP tem constantemente evoluído, possibilitando ao produtor rural sua apli-
cação nas diferentes etapas do processo produtivo e como uma ferramenta de
gerenciamento agrícola.

As ferramentas da AP têm sido amplamente adotadas em áreas de pro-


dução de grãos e cereais no centro-sul do Brasil. Mais recentemente, a AP tem
expandido para áreas de algodão, cana-de-açúcar, café, citros e outras frutíferas,
hortaliças e espécies florestais.

Os principais responsáveis por impulsionar o crescimento da AP são as


universidades e os órgãos de pesquisa que geram as informações e dão o respaldo
técnico/cientifico às ferramentas adotadas no campo, bem como as empresas de
prestação de serviços e de máquinas agrícolas que atuam diretamente com o pro-
dutor rural e no desenvolvimento de novos equipamentos e aparatos tecnológicos.

Novas tecnologias requerem, em geral, maiores investimentos, no entan-


to, nem sempre esses investimentos em tecnologias garantem maior rentabili-
dade ao agricultor. Neste sentido, torna-se muito importante o conhecimento,
capacidade interpretação e correlação entre fatores técnicos e econômicos envol-
vidos no planejamento dos investimentos e atividades agrícolas. No que se refere
ao gerenciamento no uso de fertilizantes, em uma área piloto do Projeto Aqua-
rius – UFSM, Amado et al. (2006) verificaram que a utilização das ferramentas da
AP permitiu uma racionalização no uso e na quantidade de fertilizantes de 53%
quando comparado ao sistema tradicional utilizado na propriedade para as cul-
turas como soja, milho e trigo. Os autores destacaram que essa economia no uso
de fertilizantes deveu-se a um bom histórico de adubação na área. Por outro lado,
em outra área do Projeto Aquarius, os autores verificaram que mesmo obtendo
uma redução de 25% no uso de fertilizantes, o custo operacional da AP foi maior
comparado à agricultura convencional.

Para Werner (2007), a comparação entre a AP e agricultura tradicional, per-


mitiu inferir que houve uma redução de 0,3% nos custos de produção de soja, au-
mento na margem líquida em 14,8% e na rentabilidade da cultura em 0,6% em
relação à agricultura tradicional. Cherubin et al. verificaram que a utilização de
ferramentas de AP proporcionou uma redução de 3,8% dos custos de produção re-
lativos a aplicação de corretivos e fertilizantes em taxa variável na cultura do milho.
Nesse estudo todas as operações foram terceirizadas. Mainardi (2015), estudando
os custos de produção na utilização das técnicas de AP na cultura do arroz irrigado
verificou aumento de 30,2% nos custos de produção quando comparado ao siste-
ma convencional de cultivo, no entanto, obteve um aumento de produtividade de
14,3% e lucratividade 10,8% superior em relação ao sistema convencional.

A maior parte dos estudos realizados contemplam análises econômicas


comparando a AP e agricultura convencional através de estudos de caso e/ou
simulações. Neste sentido, salienta-se que para a realização da análise da viabili-
dade econômica, diversos outros fatores devem ser levados em consideração, tais

133
UNIDADE 2 | TECNOLOGIAS DE APLICAÇÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

como aqueles que fazem parte do ciclo de AP e outros que não estão diretamente
envolvidos com aplicação das técnicas, por exemplo, as máquinas e implementos
agrícolas que muitas vezes não estão prontamente disponíveis na propriedade e
que devem ser adquiridos.

Muitos questionamentos surgem no que se refere ao tamanho de


propriedade e nível tecnológico do agricultor para que essas técnicas tornem-
se economicamente viáveis. A resposta não é tão simples, necessitando de um
estudo detalhado visando apontar as principais alternativas para cada caso,
conforme as condições econômicas e nível tecnológico do produtor e o tamanho
das áreas de cultivo. Embora a AP possa ser aplicada em qualquer condição citada
anteriormente, deve-se atentar ao grau de intervenção e aplicação das técnicas,
pois será diferente em cada situação, em que muitas vezes torna-se mais viável
terceirizar partes do processo, em vez de investir em mão de obra, máquinas e
equipamentos.

Diante disso, o objetivo deste artigo foi apresentar uma abordagem eco-
nômica da AP, visando orientar e instigar o interesse de técnicos e pesquisados
que atuam com AP. Para tanto, a seguir serão apresentados dois estudos de caso.
O primeiro ilustra a viabilidade econômica da utilização de ferramentas de AP
comparada com a agricultura tradicional, e o segundo demonstra a potencialida-
de da AP como uma ferramenta de gestão rural.

Desenvolvimento e principais avanços

Diante da atual situação econômica do Brasil, os produtores rurais estão


cada vez mais preocupados com custos de produção. As atenções estão voltadas
diretamente para a otimização das atividades visando uma posterior redução dos
custos. O custo relacionado com a mecanização das operações agrícolas tem assu-
mido uma parcela significativa dos custos finais de produção.

Entretanto, isso não significa necessariamente que os gastos no sistema


produtivo aumentam em função do incremento de tecnologia embarcada nas
máquinas agrícolas. Deve-se atentar que tais avanços tecnológicos permitem ex-
plorar de forma mais produtiva um determinado conjunto mecanizado, tendo-se
muitas vezes aumentos no rendimento e na capacidade operacional.

A AP utilizada nas lavouras comerciais esta diretamente relacionada com


a mecanização, necessitando constante adequação e renovação de máquinas e im-
plementos, de modo que permita a otimização de todas as etapas do ciclo da AP
em nível comercial. Nesse ponto, a análise dos custos deve levar em consideração
o custo envolvendo esse aparato tecnológico, bem como os ganhos no rendimen-
to operacional das atividades agrícolas.

134
TÓPICO 2 | EQUIPAMENTOS PARA AGRICULTURA DE PRECISÃO

A análise econômica não pode partir de um único ponto de observação,


ou seja, envolvendo apenas os fatores agronômicos. É necessária uma análise
conjunta entre o retorno obtido nos parâmetros agronômicos em função da apli-
cação das técnicas de AP, com os custos demandados pela aquisição, renovação,
manutenção, depreciação e operação dos conjuntos mecanizados utilizados no
processo. Essa análise permite dimensionar de forma correta e precisa se o pro-
dutor rural realmente está tendo retorno do capital investido.

FONTE: Adaptado de SANTI, A. L. et al. Agricultura de precisão no Rio Grande do Sul. 1. ed. Santa
Maria: CESPOL, 2016. Disponível em: https://www.ufsm.br/cursos/pos-graduacao/santa-maria/
ppgap/wp-content/uploads/sites/526/2019/01/AP_RS.pdf. Acesso em: 23 mar. 2020.

DICAS

Consulte o conteúdo completo! São 13 capítulos que tratam de agricultura de


precisão e estão disponíveis em: https://www.ufsm.br/cursos/pos-graduacao/santa-ma-
ria/ppgap/wp-content/uploads/sites/526/2019/01/AP_RS.pdf .

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135
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A agricultura de precisão considera a variabilidade de atributos fundamentais


à produção agrícola para cada talhão da propriedade. Os componentes solos,
fertilidade, uso de insumos e gestão deixam de ser analisados por médias
e passam a ser analisados de forma individual para cada parte singular da
produção.

• Os equipamentos para a Agricultura de Precisão (AP) correspondem aos


instrumentos que comportam as tecnologias necessárias e disponíveis para
a operacionalização da AP, sendo as principais categorias: computadores
e programas, GPS (sistema de posicionamento global), SIGs (sistemas de
informação geográfica), sensoriamento remoto, sensores e controladores
eletrônicos de aplicação.

• A abordagem para o uso das técnicas da AP pode ser dada por duas ações
principais, das quais se desdobram outras técnicas: a aplicação de dosagens
de fertilizantes e corretivos na instalação ou manutenção da cultura, e o
mapeamento de produtividade.

• Os sensores podem ser definidos como conversores de grandezas físicas


em sinais elétricos, enquanto os atuadores são componentes que realizam a
conversão da energia elétrica, hidráulica e pneumática em energia eletrônica
ou mecânica.

• O uso do piloto automático permite o desenvolvimento do trabalho seguindo


linhas previamente desenhadas pelo sistema de posicionamento, bem como
permite armazenar os dados para operações futuras, integrando as operações
automatizadas a bases de dados da AP.

• Os computadores de bordo são equipamentos capazes de transformar as


informações geradas pelos demais componentes da AP, como GPS, sensores,
atuadores etc. em dados operacionais que possam ser compreendidos e
interpretados.

• O acompanhamento e a análise dos dados da AP são de grande importância


para o agricultor. Entre os elementos a serem considerados na gestão, está
uma análise pontual sobre o custo de aquisição e manutenção da própria AP,
tecnologia que ainda apresenta custos considerados elevados e que precisam
ser diluídos em seus benefícios de maneira eficiente, o que pressupõe o
conhecimento detalhado de sua composição e variabilidade.

136
AUTOATIVIDADE

1 A Agricultura de Precisão (AP) considera a variabilidade de atributos


fundamentais à produção agrícola para cada talhão da propriedade. Nesse
sentido, analise as seguintes afirmativas e assinale a alternativa CORRETA.

I- Na AP, os componentes solos, fertilidade, uso de insumos e gestão deixam


de ser analisados por médias e passam a ser analisados de forma individual
com variedade de amostragem e de dados para cada realidade de talhão,
cultura, operação.
II- Não há relação entre a AP e a automação de máquinas agrícolas, sendo esta
última restrita a operações de plantio.
III- Apesar do fato de a AP tratar de especificidades, ela deve ser vista como
um conceito abrangente, sistêmico e multidisciplinar, pertinente a uma
designação global dada a sistemas tecnológicos integrados.
IV- A automação de máquinas agrícolas é um processo complementar que
proporcionou a aplicabilidade da AP.

a) ( ) Todas as alternativas estão corretas.


b) ( ) Somente a alternativa II está incorreta.
c) ( ) As alternativas I e II estão incorretas.
d) ( ) As alternativas I e III estão corretas.

2 As tecnologias disponíveis para a Agricultura de Precisão (AP) são agrupadas


nas categorias: computadores e programas; GPS (sistema de posicionamento
global); SIGs (sistemas de informação geográfica; sensoriamento remoto;
sensores; controladores eletrônicos de aplicação. Sobre essas categorias,
relacione as colunas de acordo com sua função nos sistemas da AP. Em
seguida, assinale a alternativa CORRETA:

1- Computadores e programas.
2- Sistemas de Informações Geográficas – SIGs.
3- Sistema de Posicionamento Global – GPS.
4- Sensoriamento Remoto.
5- Sensores.
6- Controladores Eletrônicos de Aplicação.

( ) Instrumentos que transmitem impulsos elétricos em resposta a estímulos


físicos, tais como: calor, luz, magnetismo, movimento, pressão e som.
( ) Componente de um sistema automatizado (computadores de bordo) no
qual a informação armazenada é usada para influenciar o estado do sistema.
( ) Responsáveis por armazenar, manipular e analisar uma variada gama de
dados que devem ser processados a fim de fornecer informações para a to-
mada de decisões.

137
( ) Proporciona a aquisição de informações a respeito de algum objeto sem
estar em contato físico com ele
( ) Possibilita determinar a posição em qualquer parte do globo terrestre.
( ) Conjunto de programas, equipamentos, metodologias, dados e pessoas (usu-
ários) perfeitamente integrados de forma a coletar, armazenar e processar infor-
mações.

a) ( ) 5 – 6 – 1 – 4 – 3 – 2.
b) ( ) 6 – 5 – 4 – 2 – 1 – 3.
c) ( ) 4 – 2 – 3 – 1 – 5 – 6.
d) ( ) 2 – 1 – 3 – 5 – 6 – 4.

3 A abordagem para o uso das técnicas de AP pode ser dada inicialmente por
duas ações principais das quais se desdobram outras técnicas. Sobre essas
abordagens, assinale a alternativa CORRETA.

a) ( ) A Abordagem 1 trata da aplicação de insumos sob taxas variáveis, que é


realizada com base em análises de valores médios da área total de cultivo.
b) ( ) As recomendações para a Abordagem 1 são referentes ao uso do piloto
automático nas operações, tendo como regra básica a correção dos dados de
GPS pelo DGPS.
c) ( ) Os chamados distribuidores VRT (Variable Rate Technology) são programas
baseados no sensoriamento remoto e na análise das coordenadas geográficas.
d) ( ) O mapeamento de produtividade ilustra o detalhamento da produtivi-
dade da cultura referente a cada talhão, que dará base para a análise de
custo e de correção de fertilidade.

4 Sobre sensores e atuadores, assinale F para as sentenças falsas e V para as


verdadeiras. Em seguida, assinale a alternativa CORRETA:

( ) Os sensores podem ser definidos como conversores de grandezas físicas


em sinais elétricos, enquanto atuadores são componentes que realizam a
conversão da energia elétrica, hidráulica e pneumática em energia eletrônica
ou mecânica.
( ) A unidade de controle é um componente a parte, responsável por captar e
sinalizar os parâmetros diretamente aos sensores, que farão o seu gerencia-
mento e monitoramento para a operacionalização e a realização das tarefas.
( ) Todo atuador possui um sensor, e boa parte dos sensores estão embutidos
nos atuadores.
( ) Os atuadores podem ser ativos ou passivos, sendo que os passivos não
emitem, mas recebem energia do ambiente.
( ) A potência mecânica gerada pelos atuadores é responsável pela sua movi-
mentação e, para tal, é enviada aos elos pelos sistemas de transmissão pro-
porcionando a movimentação.

138
a) ( ) V – V – F – V – F.
b) ( ) V – F – F – F – V.
c) ( ) F – V – V – V – V.
d) ( ) F – V – F – F – V.

5 Os computadores de bordo são equipamentos capazes de transformar as


informações geradas pelos demais componentes da agricultura de precisão.
Sobre os computadores de bordo, assinale V para as sentenças verdadeiras e
F para as sentenças falsas. Em seguida, assinale a alternativa CORRETA:

( ) São fontes de informações para os computadores de bordo: o GPS, sen-


sores e atuadores, que emitem os dados para que possam ser convertidos
diretamente pelo computador de bordo em operações mecânicas
( ) Os computadores de bordo sinalizam dados, como velocidade de movi-
mentação e consumo de combustível, que, enviados para o DGPS, são trans-
formados em informações para o operador.
( ) Os sistemas de computador de bordo podem gerar informações, como o
tempo necessário para desenvolver a operação (velocidade/km) e custo da
operação, importantes para a gestão e planejamento de operações.
( ) Os computadores de bordo são imprescindíveis para o sistema de piloto
automático, de barra de luzes, de gestão e de produção e interpretação de
mapas de variabilidade espaço-temporais.

a) ( ) F – V – V – F.
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) V – V – F – V.

139
140
UNIDADE 3

AVIAÇÃO AGRÍCOLA E
TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer a aviação agrícola e sua aplicação como ferramenta de


desenvolvimento na agricultura;

• entender o complexo legislativo que envolve as operações aeroagrícolas;

• conhecer os componentes básicos de uma aeronave agrícola, suas funções


e noções de tecnologia de aplicação;

• compreender o fluxograma dos produtos agrícolas na pós-colheita,


componentes e procedimentos básicos;

• entender os procedimentos e estruturas envolvidas na pós-colheita de


grãos, frutas e hortaliças.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – AVIAÇÃO AGRÍCOLA

TÓPICO 2 – TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

141
142
UNIDADE 3
TÓPICO 1

AVIAÇÃO AGRÍCOLA

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmicos! Neste tópico, vamos falar sobre aviação agrícola, usada
principalmente nas pulverizações aéreas. Abordaremos os regulamentos, a lega-
lização das operações e as características da tecnologia. Após, faremos um resu-
mo do tópico e autoatividades. Bons estudos!

A aviação agrícola consiste no uso de veículo aéreo para a aplicação ou


distribuição de produtos agrícolas em determinada área rural. Os produtos vão
desde insumos até sementes e repovoamento de peixes em rios, embora a ati-
vidade seja mais conhecida na agricultura pelo uso de produtos fitossanitários,
principalmente herbicidas, fungicidas e inseticidas. As aplicações aéreas evitam
a compactação do solo e o amassamento das plantas e proporcionam um melhor
aproveitamento em relação ao tempo e custo. Assim, de maneira geral, oferece
ganho operacional ao produtor.

As pulverizações aéreas exigem cuidados específicos e acordados em le-


gislação, haja vista seu potencial poluidor relacionado à deriva de produtos tóxi-
cos. No sentido de minimizar esse potencial, o uso minucioso da tecnologia ade-
quada de aplicação e da correta aplicação da legislação são fundamentais, tanto
para viabilizar a tecnologia econômica e tecnicamente quanto para a preservação
dos ecossistemas, incluindo a saúde da população.

2 AVIAÇÃO AGRÍCOLA
O primeiro voo agrícola no Brasil foi realizado em Pelotas, no Rio Grande
do Sul, em 19 de agosto (dia nacional da aviação agrícola) de 1947. O objetivo do
voo foi combater uma nuvem de gafanhotos no município (SINDAG, 2015). A
partir disso, essa tecnologia foi aprimorada gradativamente até se transformar
em uma ferramenta eficiente e cada vez mais utilizada na produção vegetal.

Somente na década de 1960 é que se iniciou o processo de discussão e


estudo para a regulamentação da atividade, sendo a sua primeira normatização a
edição do Decreto-Lei nº 917, de outubro de 1969 (SINDAG, 2015).

Segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA)


a aviação agrícola é:

143
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

Um serviço especializado que busca proteger ou fomentar o desen-


volvimento da agricultura por meio da aplicação em voo de fertilizan-
tes, sementes e defensivos, povoamento de lagos e rios com peixes,
reflorestamento e combate a incêndios em campos e florestas. Regida
pelo Decreto Lei nº 917, de 7 de setembro de 1969, e regulamentada
pelo Decreto nº 86.765, de 22 de dezembro de 1981, a aviação agrícola
brasileira pode ser conduzida por pessoas físicas ou jurídicas que pos-
suam certificado para esse tipo de operação (MINISTÉRIO DA AGRI-
CULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2018, p. 1).

A aviação agrícola permaneceu sem um veículo específico até 1970, quando o


primeiro avião agrícola fez seu voo inaugural. Desde então, a atividade foi alavanca-
da por empresas privadas e alcançou níveis tecnológicos avançados, tendo inclusive
uma legislação específica, o que será contextualizado no decorrer deste tópico.

DICAS

Caro acadêmico, você terá acesso a um vídeo com dados gerais sobre a aviação
agrícola no link: https://www.youtube.com/watch?v=N32UtDtSo1E. Vale a pena conferir!

2.1 REGULAMENTOS E NOÇÕES DE AERODINÂMICA


A atividade aeroagrícola está regulamentada por um conjunto de decre-
tos, regulamentos e normativas específicas, que são válidas em território nacional.

a) Legislação e regulamentação: o marco inicial da regulamentação da atividade


aeroagrícola foi obtido pelo Decreto-Lei nº 917, de 1969, e pelo Decreto
Regulamentador nº 86.765, de 1981, além de portarias complementares, emitidas
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, das quais podemos
destacar a Instrução Normativa nº 2, de 2008, que manifesta as normas técnicas
e de trabalho da aviação agrícola.

Outros órgãos reguladores importantes são a Secretaria de Aviação Civil,


a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e o Ministério da Defesa Comando
da Aeronáutica. Juntos, eles são responsáveis pela Lei nº 7.565/1986, que define o
Código Brasileiro de Aeronáutica, pelas Portarias nº 190 e 890, de 2001, pelo Regu-
lamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica (RBHA-91), de 2003, que define
as regras gerais para as operações de aeronaves civis, e pelo Regulamento Brasilei-
ro da Aviação Civil (RBAC-137), de 2012, que trata da certificação e dos requisitos
operacionais para as operações aeroagrícolas, o qual foi atualizado em 2019.

144
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

A íntegra do conjunto de normas e regulamentos está indicada como lei-


tura complementar ou como dica de estudo no decorrer deste tópico. Na Tabela
1, faremos um apanhado geral da legislação, destacando seus principais tópicos.

TABELA 1 – PRINCIPAIS ASPECTOS NORMATIVOS E DE LEGISLAÇÃO PARA AVIAÇÃO AGRÍCOLA


Operadores Os operadores de aviação agrícola se dividem em três categorias principais: aqueles
vinculados a empresas de aviação agrícola como prestadores de serviço; operado-
res privados, vinculados diretamente a agricultores; e aqueles vinculados a órgãos
públicos. Todos devem estar registrados no Ministério da Agricultura e na Agência
Nacional de Aviação Civil (ANAC) e obter deles a autorização para operar.
Os pilotos devem ter habilitação técnica específica, após capacitados em um Curso
de Formação de Piloto Agrícola (CAVAG) e habilitados pela ANAC.
As aeronaves As aeronaves devem ser homologadas na categoria aeroagrícola.
Os aviões agrícolas devem ter sua operação acompanhada, em terra, por um técni-
co em agropecuária habilitado por um curso de especialização (Curso de Executor
em Aviação Agrícola – CEAA).
As empresas Cada empresa de aviação agrícola deve manter sob contrato um Engenheiro Agrô-
nomo como Responsável Técnico (RT).
Devem estar registradas na ANAC e apresentar até o 15º dia do mês subsequente
um relatório mensal assinado pelo RT.
Devem informar a localização geográfica de pouso e decolagem, bem como man-
ter um local específico, como um pátio de descontaminação, para realizar a limpe-
za das aeronaves após a operação.
As aeronaves agrícolas não necessitam operar a partir de aeródromos homologa-
dos. Podem operar em áreas improvisadas a critério do operador, desde que não
interfiram no tráfego aéreo controlado.
Os produtos e Somente produtos fitossanitários com registro nos órgãos competentes e sob pres-
aplicações crição agronômica podem ser aplicados por aeronaves agrícolas.
As aplicações devem respeitar as distâncias: 500 metros de povoações, cidades, vilas,
bairros e mananciais de captação de água para abastecimento de populações; 250
metros de mananciais de água, moradias isoladas e agrupamentos de animais. Os
moradores da área devem ser avisados antecipadamente da realização da operação.
FONTE: Adaptado de Sindag (2011).

A fiscalização da atividade é atribuída ao MAPA por meio dos fiscais


agropecuários, os quais devem ter concluído o Curso de Coordenador em Avia-
ção Agrícola e ser reconhecidos e certificados pelo próprio órgão.

DICAS

Você encontrará o Decreto-Lei nº 917/69 e sua regulamentação no link:


https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-917-7-outubro-
-1969-375251-norma-pe.html. Leia com atenção!

145
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

b) Noções de aerodinâmica: a definição teórica de aerodinâmica trata do estudo do


movimento de fluidos gasosos (RODRIGUES, 2016), teoria que parece distante
das relações com aeronaves. No entanto, devemos lembrar que a aeronave é um
corpo sólido em ação em um espaço de gases: a atmosfera. Desta forma, a sua
operação e concepção estão totalmente submersas nas teorias aerodinâmicas,
mais especificamente nas forças que esses gases exercem sobre a aeronave.

O estudo dos fenômenos que envolvem a aerodinâmica é de funda-


mental importância para o projeto global da aeronave, pois muitos as-
pectos estudados para se definir a melhor configuração aerodinâmica
da aeronave serão amplamente utilizados para uma melhor análise de
desempenho e estabilidade da aeronave, bem como para o cálculo es-
trutural, uma vez que existem muitas soluções de compromisso entre
um bom projeto aerodinâmico e um excelente projeto total da aerona-
ve (RODRIGUES, 2016, p. 15).

De maneira simplificada, quatro forças são atuantes na relação entre ar e


corpo sólido em movimento (Figura 1): o peso ou gravidade, a tração, a sustenta-
ção e a resistência ao avanço.

FIGURA 1 – QUATRO FORÇAS ATUANTES EM UM CORPO SÓLIDO EM MOVIMENTO NO AR

FONTE: <https://bit.ly/2SldtEL>. Acesso em: 24 mar. 2020.

• Peso ou gravidade (massa): a gravidade exerce atração sobre os corpos. Dessa


forma, o peso é a resultante dessa atração em relação à massa do corpo físico.
No caso específico da aeronave, esse peso comporta todas as suas partes físicas,
incluindo o combustível, a carga e os passageiros, Esse peso é direcionado para
um centro de gravidade e comporta todas as suas partes físicas, incluindo o
combustível, a carga e os passageiros.

Em voo, uma aeronave gira sobre o centro de gravidade, e o sentido


da força do peso dirige-se sempre para o centro da terra. O peso e a
sua distribuição fazem variar o centro de gravidade de uma aeronave
durante o voo e por isso o piloto deve constantemente ajustar os con-
troles, ou transferir o combustível entre os depósitos, para manter a
aeronave equilibrada (VICENTE, 2008, p. 1).

146
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

Assim, a carga de uma aeronave necessita ser planejada para não alterar
o centro de sua gravidade. Esse é um fator delicado quando se considera o con-
sumo e o peso inconstante de combustível, ou seja, o peso não é fixo e irá alterar
durante o voo pelo consumo de energia combustível. A força de sustentação ne-
cessária deve estar localizada o mais próximo possível do centro de gravidade.
Em outro ângulo, o peso atrai o avião para baixo pelo efeito da gravidade e se
opõe à sustentação ao atuar verticalmente para baixo em função do centro de
gravidade (VICENTE, 2008).

Segundo o mesmo autor, o peso e a gravidade também atuam em relação


à velocidade, visto que cargas desbalanceadas podem causar cauda ou nariz pe-
sado, o que obriga o piloto a alterar o posicionamento do leme de profundidade.
Isso, por sua vez, aumenta a deflexão na área frontal, reduzindo a velocidade.

• Sustentação: a força de sustentação se opõe à força de gravidade ou peso,


atuando verticalmente e sustentando o avião no ar.

A maior parte da sustentação do avião é gerada pelas asas. Na sua des-


locação no meio atmosférico, a asa funciona como um plano inclinado,
a diferença de pressões entre as superfícies inferior e superior atira a
asa para cima. O ar em movimento tem de percorrer mais caminho
por cima da asa do que por baixo. Se a velocidade do ar aumenta por
cima da asa, a pressão estática diminui, passa a ser menor que na parte
inferior forçando a subida da asa na direção da pressão mais baixa
(ALFAIATE, 2008, p. 1).

A força de sustentação é produzida pelo efeito aerodinâmico do ar que


age na asa durante o deslocamento. Nesse momento, o ar escoa com mais veloci-
dade pela parte superior da asa (extradorso), que possui uma curvatura maior do
que na parte inferior (intradorso).

Este fenômeno é designado por efeito de Bernoulli, graças à forma e


orientação dos perfis aerodinâmicos, a asa é curva na sua face superior
e está angulada em relação às linhas de corrente incidentes. Por isto,
as linhas de corrente acima da asa estão mais juntas que abaixo, pelo
que a velocidade do ar é maior e a pressão é menor acima da asa (o
aumento da velocidade do ar reduz a pressão estática), ao ser maior
a pressão abaixo da asa, gera-se uma força resultante acima chamada
sustentação. A diferença de pressões entre as duas superfícies produz
70% da sustentação. O impacto da pressão na superfície inferior pro-
duz os restantes 30% da sustentação (ALFAIATE, 2008, p. 3).

Conforme o mesmo autor, algumas características e propriedades podem al-


terar a sustentação da asa, como o aumento do ângulo de ataque, a forma do perfil, a
velocidade, o tamanho da asa e a densidade do ar.

A força de sustentação define a habilidade de um avião em se manter em voo


e é utilizada como forma de vencer o peso da aeronave. Nessa relação física estão
envoltos principalmente a terceira lei de Newton e o princípio de Bernoulli. A lei e o
princípio se aplicam no deslocamento da asa pelo ar. Nesse processo, parte do ar é
direcionada para a parte superior e outra parte para o inferior da asa (Figura 2).
147
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

FIGURA 2 – ESCOAMENTO DO AR PELA ASA

FONTE: Rodrigues (2008, p. 16)

Como afirmado anteriormente, o ângulo formado pela aerodinâmica da


asa é fundamental para a sustentação da aeronave.

Se existir um ângulo positivo entre a asa e a direção do escoamento,


o ar é forçado a mudar de direção, assim, a parcela de escoamento na
parte inferior da asa é forçada para baixo e em reação a essa mudança
de direção do escoamento na parte inferior da asa, a mesma é força-
da para cima, ou seja, a asa aplica uma força para baixo no ar e o ar
aplica na asa uma força de mesma magnitude no sentido de empurrar
a asa para cima. Essa criação da força de sustentação pode ser expli-
cada pela terceira lei de Newton, ou seja, para qualquer força de ação
aplicada existe uma reação de mesma intensidade, direção e sentido
oposto (RODRIGUES, 2008, p. 17).

A velocidade do ar é maior na parte superior da asa porque as partículas de


ar percorrem uma superfície maior do que as que incidem na parte inferior. Assim,
a pressão estática na superfície superior é menor do que na superfície inferior, o que
cria uma força de sustentação de baixo para cima. Essa constatação é explicada pelo
princípio de Bernoulli, que é definido da seguinte forma: "se a velocidade de uma
partícula de um fluido aumenta enquanto ela escoa ao longo de uma linha de corren-
te, a pressão dinâmica do fluido deve aumentar e vice-versa" (ALFAIATE, 2008, s.p.).
Esses conceitos permitem compreender o porquê dos aviões se sustentarem no ar.
Segundo Alfaiate (2008), são fatores que influenciam a sustentação do avião:

• as asas com maior comprimento e maior curvatura têm maior sustentação;


• uma asa comprida e estreita tem melhor sustentação que uma asa curta e larga;
• pontas de asas mais pequenas desenvolvem menos vórtice e, por isso, menos arrasto;
• a razão entre a envergadura e a corda média é o alongamento. Quanto maior o
alongamento, maior a eficiência;
• quanto mais rápido é o avião, maior a sustentação;
• as altas velocidades do ar fluem mais rápido em torno das asas, decrescendo a
pressão na superfície superior e aumentado o impacto na inferior;
• a densidade do ar varia com a altitude, a temperatura e a umidade;
• quanto maior é a densidade do ar, maior é a sustentação;
• os hipersustentadores, como os flaps, slots e slats, são superfícies móveis que se
destacam nas asas para reduzir a velocidade nas aterragens e nas descolagens.
Quando acionados, aumentam o arrasto e a sustentação pelo aumento da su-
perfície e da curvatura da asa.

148
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

Tração: a força de tração é proporcionada por uma hélice, um reator ou por


um motor. Ela é a força que puxa ou empurra o avião para a frente e que se opõe à
resistência ao avanço.

Atualmente, a aviação utiliza motores convencionais, de quatro tempos, e


motores de reação, turbojatos e turbofan (aviação em elevada altitude). Os moto-
res convencionais são basicamente semelhantes aos motores de automóveis, utili-
zando cilindros os quais geram a energia que impulsiona a hélice.

Os motores de reação funcionam de acordo com a terceira lei de Newton


– ação e reação –, em que a ação se situa na expulsão dos gases para trás, provo-
cando a reação do deslocamento do avião para frente (turbojato e turbofan).

O sistema em si utiliza-se de um conjunto de pás na parte da frente,


formando o primeiro compressor e a parte de trás, segundo compres-
sor da turbina, e no meio contendo uma câmara de combustão, onde
se dará a queima da mistura de ar comprimido com o combustível [...]
que aumentará ainda mais a pressão dos gases originando uma saída
dos mesmos muito forte. Neste caso, está presente a força de empuxo
devido ao deslocamento dos gases (UFRGS, 2016, p. 2).

Os motores de reação são utilizados em aeronaves maiores, para voos co-


merciais, podendo conter até quatro motores a reação, próprios para grandes ve-
locidades e altitudes. Os modelos aeroagrícolas utilizam motores convencionais.

Resistência ao avanço ou arrasto: força que se opõe ao movimento da


aeronave. É a resistência do ar à progressão do movimento e se opõe à tração
produzida pelo motopropulsor. Essa força depende de alguns fatores, como a
forma do corpo da aeronave, sua rugosidade e o efeito resultante da pressão entre
a parte inferior e superior da asa. O arrasto pode ser dividido em arrasto de atrito,
de forma e induzido (Tabela 2).

TABELA 2 – TIPOS DE ARRASTO E RESPECTIVAS DEFINIÇÕES


Está relacionado às características da superfície da aeronave, sendo ela lisa ou
áspera. Quanto mais próximo dela o ar estiver, forma-se uma camada limite, que se
Arrasto de move de forma laminar se a superfície for lisa ou, se for rugosa ou áspera, ocorrerá
atrito um fluxo de ar turbilhonado, aumentando o arrasto. Preferencialmente, as aerona-
ves são feitas com um material mais liso na sua área externa, possibilitando econo-
mia e melhor rendimento em voo.
Está relacionado à área na qual o ar colide frontalmente, quando ocorre a chamada
deflexão (desvio do ar pelo corpo físico da aeronave). Dessa forma, a aerodinâmica
Arrasto de das partes que compõe um avião deve ser arredondada ou ter o efeito de flechas,
forma evitando superfícies retas perpendiculares ao deslocamento. O arrasto de forma
depende de alguns fatores, como a densidade do ar, velocidade e área frontal do
corpo.
Está relacionado à diferença de pressão entre a parte superior e inferior da asa. O ar
Arrasto
que está no intradorso (parte inferior) tende a fluir para o extradorso (parte supe-
induzido
rior), originando um turbilhonamento na ponta da asa. Com isso, é provocada uma
resistência ao avanço do avião, diminuindo a sustentação.
FONTE: Adaptado de UFRGS (2016)

149
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

Existem alguns dispositivos para corrigir a força de arrasto, como os win-


glets, localizados nas pontas das asas, principalmente em aviões mais modernos,
que impedem a passagem de ar de cima para baixo.

DICAS

Observe a aerodinâmica de um avião agrícola em deslocamento no link: ht-


tps://www.youtube.com/watch?v=i64uvNziAsg.

2.2 CARACTERÍSTICAS DO AVIÃO AGRÍCOLA


Segundo Araújo (2018) a frota de aeronaves agrícolas cresceu 3,74% em
2018, registrando junto à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) um aumen-
to de 3,7% no número de empresas no setor (253), somando 585 produtores ru-
rais com aeronaves próprias, um aumento de 3,5% em relação ao ano anterior.
Até 2019, contabilizou-se 2.194 aeronaves registradas no país. Segundo o mesmo
autor, desta frota de aeronaves, 2.182 são aviões e 12 helicópteros, além de pro-
tótipos e aeronaves pertencentes ao governo ou autarquias federais e estaduais,
como bombeiros e força aérea nacional.

O estudo mostra que o estado de Mato Grosso possui o maior número de


aeronaves do país (494) e o maior número de operadores privados (233). O Rio
Grande do Sul, que possui a segunda maior frota (427), manteve a frota de 2017 e
abriga o maior número de empresas prestadoras de serviço nessa área (72). Entre
as empresas, a EMBRAER tem 58% do mercado, mantendo variantes do primeiro
modelo de avião agrícola – o Ipanema – movido a etanol. Contudo, são crescen-
tes os números de novos modelos que utilizam turboélices, principalmente de
empresas norte-americanas, que já são mais de 18% da frota nacional. Com maior
capacidade de carga e potência a categoria está em consolidação junto à realida-
de de mercado nacional. Em um cenário mundial, a frota brasileira é a segunda
maior, atrás apenas do EUA, que possuem 3,6 mil aeronaves.

Os números demonstram que a agricultura nacional está em crescente


adesão ao uso da aviação agrícola, impulsionados pela expansão da agricultura
de precisão, entre outros fatores. Mhereb e Norder (2018) apresentam um pano-
rama nacional em relação ao uso da aviação agrícola e salientam a contradição e
a escassez de dados no setor. Segundo os autores:

150
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

Em 2011, o Sindag estimava a área total pulverizada pelos aviões em


20 milhões de hectares, o que corresponderia a 15% de toda aplicação
de agrotóxicos no Brasil. Ao considerar somente as áreas cultivadas
atendidas pela aviação agrícola, o Sindag chegou à estimativa de 6,7
milhões de hectares (Cartilha Técnica da Aviação Agrícola, 2011). Em
2016, dados da ANAC, com base nas estimativas elaboradas pelo Sin-
dag, colocaram a aviação agrícola como responsável por 25% de toda
aplicação de agrotóxico no país, estimando 72 milhões de hectares
de área total pulverizada, um aumento de 3,5 vezes em quatro anos
(MHEREB; NORDER, 2018, p. 6).

Entre as culturas vegetais atendidas, estão, respectivamente: a soja (8,1


milhões de hectares), a cana de açúcar (2,4 milhões de hectares), milho (1,6 mi-
lhões de hectares), arroz (0,8 milhão de hectares), algodão (0,42 milhão de hecta-
res) e laranja (0,27 milhão de hectares) (ANTUNIASSI, 2016).

De maneira geral, as aeronaves agrícolas são pequenas, leves e realizam


voos baixos, próximos ao solo, para evitar o máximo possível a deriva de produ-
tos e insumos, muitas vezes realizando manobras consideradas perigosas para
a aviação convencional. No cenário nacional, a classificação das aeronaves está
relacionada à potência e capacidade de carga.

Dentro do segmento existem três principais categorias de aeronaves dis-


poníveis: leve = PA-18 e similares; média = Ipanema e similares, pesada
= air tractor e similares. As aeronaves utilizadas para a pulverização nas
lavouras têm capacidade variada, em função do uso ao qual se desti-
nam. Entre os aviões médios (com reservatório para até 900 litros) estão
o Piper Pawnee, Cessna AG-Wagon, Ag-truck e o Ipanema. Dentre os
aviões de maior capacidade, de 1000 a 4000 litros, existem o Air Trac-
tor e o Trush, aviões importados de ampla utilização em áreas extensas
tais como as encontradas no Mato Grosso, Goiás, Oeste Baiano ou Nor-
te de Minas Gerais. Na categoria das aeronaves de grande porte, que
costumam ser pouco utilizadas, temos ainda o Grumann, um biplano
agrícola ou o Dromader (HANGAR33, 2015, p. 1).

Entre as informações básicas sobre a aplicação aérea, é importante regis-


trar que a tecnologia de aplicação corresponde, de maneira geral, à tecnologia
de aplicação terrestre (estudada na Unidade 2 deste material). Assim, as precau-
ções na escolha dos bicos, pontas de bicos, preparação da calda, manutenção das
barras de aplicação, verificação da vazão e no uso da tecnologia embarcada, do
DGPS e dos computadores de bordo, em regra, seguem os mesmos princípios das
aplicações terrestres. Com essa consideração, a Figura 3 mostra os componentes
de uma aeronave agrícola.

151
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

FIGURA 3 – COMPONENTES PRINCIPAIS DE UMA AERONAVE

FONTE: Amorim (2015, s.p.)

Em complementação à Figura 3, a Tabela 3 nomina e descreve os compo-


nentes e funções básicas na estrutura de um avião agrícola.

TABELA 3 – PRINCIPAIS COMPONENTES E FUNÇÕES BÁSICAS DA ESTRUTURA DE UM AVIÃO


AGRÍCOLA
Componente Função
É a espinha dorsal do avião, seja ela rotativa ou fixa. Gera a força de sustentação
Asa
que permite ao avião o voo.
Motor Elemento fundamental para vencer a força de arrasto e proporcionar o movimento.
Compõe a estrutura aerodinâmica e permite efetuar nele a acomodação de pessoas,
Charuto
cargas e aparelhagem necessária para o controle do avião.
É composto por pequenas asas que ficam próximas ao estabilizador vertical, o qual
Estabilizador
tem o objetivo de fazer com que a cauda do avião se levante ou abaixe, fazendo com
horizontal
que o avião aumente ou diminua a altitude em relação ao solo.
Estabilizador Tem a função de estabilizar o avião nas curvas, fazendo com que ele não faça uma
vertical curva derrapada.
Localizado na parte traseira do estabilizador horizontal, é uma superfície móvel
Profundor que se movimenta para cima e para baixo. Quando acionado pelo manche do pilo-
to, faz o avião levantar ou abaixar o nariz.
É o conjunto de rodas que serve de apoio para o avião no solo. A parte que fica no meio
Trem de
do avião, geralmente embaixo da asa, é chamada de trem principal, enquanto a que
pouso
fica na parte dianteira é o trem do nariz. Podem ser de pneus ou flutuadores (anfíbios).
Compartimento em que são acondicionados os insumos agrícolas. Possui capacida-
Hopper
de variável, conforme a marca e modelo.
Cabine de Local onde fica o piloto. Deve ter altura e estrutura adequada para permitir os equipamen-
comando tos de computador de bordo e para o conforto e condição de realização das manobras.
GPS Para localização Geográfica.
Altímetro Indica a altitude da aeronave em relação ao nível do mar (unidade: pés ou metros).
Barra de pul- Localizada ao longo das asas, é responsável por distribuir o produto ao longo da
verização disposição dos bicos.

152
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

Bicos Estrutura final de distribuição dos produtos ao longo de uma área agrícola.
Barra de Instrumento da agricultura de precisão que impulsionou a pulverização aérea, evi-
luzes tando áreas sobrepassadas ou sem produto.
Presente no bordo de fuga (parte traseira da asa) e próximo à ponta da asa, é uma su-
Aileros perfície móvel que se movimenta para cima e para baixo. Quando o aileron esquerdo
sobe, o direito desce. Esse sistema permite que o avião incline as asas para o lado.
Leme de Fica na parte traseira do estabilizador vertical. É uma superfície móvel que se movimenta
direção para a esquerda e para a direita, permitindo que o nariz do avião vire para os lados.
É uma parte interna dos motores turbojato, turbofan e turboélice. É o coração da
Turbina aeronave. Além de gerar a energia necessária para levantar voo, também alimenta
outros sistemas da aeronave.
Bordo de
A parte frontal da asa que recebe o primeiro impacto do ar durante o deslocamento.
ataque
Bordo de
A parte traseira da asa, por onde o ar escoa.
fuga
É o corpo do avião, que abriga as cabines de comando e de passageiros. Nela, são
Fuselagem
fixadas a asa, a empenagem, o trem de pouso e outros sistemas do avião.
Localizada na cauda do avião, é o conjunto de superfícies composto pelo estabiliza-
Empenagem
dor horizontal, profundor, estabilizador vertical e leme de direção.
É o volante do avião. Quando o piloto puxa o manche, ele movimenta o profundor
Manche
e o avião levanta o nariz.
Localizado no bordo de fuga da asa, mas próximo à fuselagem, o flape é um dis-
positivo hipersustentador. Quando é estendido, ele aumenta a curvatura da asa,
Flape
dando mais sustentação ao avião. O flape é utilizado durante pousos e decolagens,
permitindo que o avião voe com velocidade mais baixa.
É outro dispositivo hipersustentador, porém localizado na parte da frente da asa
Slat (bordo de ataque). Quando é estendido, o slat altera o fluxo de ar sobre a asa, per-
mitindo mais sustentação em baixa velocidade.
Fica na parte superior da asa (extradorso). Quando o avião pousa, uma placa se levanta
Spoiler
no meio da asa. O spoiler é um freio aerodinâmico, que aumenta a resistência do ar.
FONTE: Adaptado de Todos a Bordo (2017)

As estruturas complementares da aeronave estão ligadas diretamente a


sua função que, segundo a legislação, pode compreender as atividades de aplica-
ção de defensivos agrícolas, aplicação de fertilizantes, semeaduras, povoamento
de águas, combate a incêndios em campos e florestas e outros empregos que vie-
rem a ser aconselhados.

DICAS

Confira detalhes práticos do uso das aeronaves na produção agrícola no ví-


deo: https://www.youtube.com/watch?v=x0t0429oaAo.

153
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

2.3 PISTAS E ESTRUTURA DE ABASTECIMENTO: REQUISITOS


BÁSICOS
A aviação agrícola está submersa em legislações pontuais e complemen-
tares relacionadas ao trafego aéreo e às questões ambientais. Dessa forma, tra-
taremos neste item, de forma separada e complementar, as regulamentações re-
lacionadas às pistas de pouso e decolagem e às estruturas de abastecimento e
descontaminação das aeronaves.

a) Pistas de pouso e decolagem: as atividades de aeronaves para fins agrícolas


não exige um registro específico das áreas de pouso de decolagem. No entanto,
exige a localização geográfica dessas áreas que devem ser informadas no rela-
tório operacional ou no certificado de operador agrícola – quando a pista em
questão já estiver registrada como aeródromo. O Regulamento Brasileiro de
Aviação Civil (RBAC) nº 137 regulamenta o uso de pistas registradas ou não
(de pouso eventual) na ANAC e estabelece os procedimentos necessários para
a segurança da operação.

DICAS

No link da ANAC, você encontrará a legislação vigente sobre o uso e o


cadastro de aeródromos: https://bit.ly/3cXyjla. Confira!

É importante salientar que, quando o aeródromo é privado, o operador deve


ter a autorização para o seu uso e considerar que ele deve ser utilizado somente como
suporte à operação, e não como sede operacional da empresa, visto que, em sua maio-
ria, os aeródromos não possuem as estruturas necessárias para abastecimento e des-
contaminação. Nesse sentido, é expressamente proibida a estocagem de agrotóxicos
em aeródromos públicos, sendo permitida somente naquele destinado à operação
em andamento e observadas as normas de saúde pública e preservação ambiental.

As pistas de pouso e decolagem podem ser de terra, asfalto, concreto, pedra


ou grama. Devem ser planas e de dimensões adequadas para suportar a necessidade
do percurso para alcançar voo e aterrissagem. Além disso, devem considerar a neces-
sidade de arremeter em caso de urgência.

A definição do local de instalação de uma pista de pouso e decolagem deve


considerar a altitude e os ventos, as temperaturas e a incidência de nevoeiros. São in-
desejáveis ventos laterais e opostos, os quais podem causar dificuldades e acidentes
nas operações. O comprimento da pista para pouso deve considerar que a aeronave
pouse e pare em 60% do comprimento de pista disponível para pouso. Diversos fato-
res devem ser considerados na escolha ou construção de uma pista, como:
154
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

• Características do avião: capacidade de aceleração, capacidade de alçar voo,


carga alar (relação da área da asa por unidade de peso), capacidade de frena-
gem após atingir determinada velocidade e a resistência dos pneus.
• Da operação: do peso bruto de decolagem, das condições operacionais especí-
ficas como posição dos flapes e tipo de pneu.
• Da pista: declividade da pista e condições de atrito do pavimento.
• Das condições atmosféricas: altitude (pressão), temperatura do ar externo e
vento (direção e intensidade).

A recomendação geral é de que a pista tenha ao menos 1800 m de compri-


mento, considerando áreas de segurança nas extremidades e laterais (Figura 4).

FIGURA 4 – DESENHO REPRESENTATIVO DAS ESTRUTURAS MÍNIMAS DE UMA PISTA DE


POUSO E DECOLAGEM

FONTE:<https://bit.ly/3aOEaYQ>. Acesso em 23 mar. 2020.

b) Estruturas de abastecimento: a estrutura de abastecimento de uma operação de


aviação agrícola pode referir-se ao abastecimento da aeronave com combustível
ou para abastecimento com produto a ser aplicado.

Com relação ao abastecimento com combustível, o primeiro passo é de-


terminar a quantidade necessária para a operação. Assim, deve-se considerar a
distância do voo (horas) e a capacidade do tanque de reabastecimento, o peso da
aeronave, o peso da carga total e a capacidade do tanque de cada modelo/mar-
ca a ser utilizado na operação. Ainda, é importante considerar uma quantidade
de combustível como faixa de segurança, caso a aeronave não consiga abastecer
na próxima parada esperada. O extremo cuidado durante o abastecimento de ae-
ronaves é necessário devido ao risco de contaminação, uma vez que combustíveis
contaminados ou adulterados podem causar falhas no motor e acidentes aéreos.

Os aeródromos ou pista de pouso e decolagem devem ter uma estrutura


chamada UAA – Unidade de Abastecimento de Aeronaves, que podem ser de
duas categorias:

• O Caminhão Tanque Abastecedor (CTA): é um veículo constituído de tanque


sobre chassi, carretéis de mangueira e sistemas de bombeamento, filtragem,
medição e controles, destinado a transportar o combustível do Parque de
Abastecimento de Aeronaves (PAA) até a aeronave e efetuar seu abastecimento
(RANP 18, 2006).
155
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

• O Servidor de Hidrantes (SRV): o SRV é outro tipo de veículo de abastecimento


de aeronaves que realiza a mediação entre uma rede de hidrantes de combus-
tível e o veículo aéreo. Essa rede é, em geral, composta por tanques, bombas e
filtros, que se conectam por tubulações até o pátio onde estacionam os aviões.
A função do servidor de hidrantes é filtrar, medir e transferir o combustível
entre a rede e a aeronave (RANP 18, 2006).

Como em qualquer ação de manipulação de combustíveis, alguns cuida-


dos devem ser priorizados. No caso da aviação, dois são essenciais para garan-
tir o grau de pureza necessário do combustível. São eles: o laudo de qualidade,
emitido pela empresa de abastecimento, e o teste de pureza, que confirma alguns
minutos antes do início do processo que o combustível não está contaminado por
água ou por materiais particulados.

Em outro ângulo, o abastecimento ou reabastecimento estão diretamente


ligados ao rendimento da operação, que é uma das principais vantagens do uso
de pulverizações aéreas. Nesse sentido, Santos (2005) desenvolveu um trabalho
relacionando vantagens e limitações do uso de pulverizações aéreas e terrestres,
no qual é possível verificar a importância da capacidade de carga de combustível
e de insumo do modelo e marca da aeronave escolhido e da localização da unida-
de de abastecimento para o rendimento da operação.

A pulverização com aeronaves agrícolas (aviões e helicópteros) é o


grande trunfo da atividade, pela rapidez de execução, quando a com-
paramos com os pulverizadores terrestres tratorizados de barras ou
turbo pulverizadores. Um avião médio, tipo IPANEMA, operando
com sua carga operacional de 500 litros (carga máxima operacional
total de 700 litros) pulverizando um volume de 15 litros/hectare (BVO)
ou 50 litros/hectare (citros), poderá apresentar um rendimento apro-
ximado de 100 Ha e 50 Ha por hora respectivamente, tendo-se a pista
de pouso e decolagem há uma distância máxima de 5 km do centro da
área a ser pulverizada e a extensão do “tiro” (comprimento de cada
passada) com um mínimo de 500 metros. Um trator auto propelido de
barras pulverizando o volume de 100 litros em uma lavoura de soja ou
um turbo pulverizador pulverizando um volume de 500 litros de calda
em uma lavoura de citros, apresentarão um rendimento médio de 350
hectares/dia e de 25 hectares/dia em 10 horas de trabalho respectiva-
mente, em condições normais de operação com as máquinas. No caso
dos turbo e pulverizadores terrestres, em condições de chuvas inten-
sas ou solos encharcados a operacionalidade torna-se bastante crítica
ou não executável. O que não ocorreria para as aeronaves agrícolas,
tornando-as bastante vantajosas (SANTOS, 2005, p. 2).

Atualmente, muitos aeródromos utilizam módulos de abastecimento mó-


veis que facilitam o processo e a rapidez da operação (Figura 5).

156
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

FIGURA 5 – EXEMPLO DE MÓDULO DE ABASTECIMENTO MÓVEL

FONTE: <https://bit.ly/3f28vq2>. Acesso em: 9 fev. 2020.

De maneira geral, um módulo de abastecimento (Figura 5) é constituído


por uma bacia de contenção, tanque de armazenamento e skid de descarga e abas-
tecimento, dotado de válvulas para operações de enchimento e descarga.

FIGURA 6 – ELEMENTOS CONSTITUINTES DE UMA UNIDADE DE ABASTECIMENTO

01 – Tanque
02 – Bacia de contenção
03 – Skid
04 – Tampa da boca de visita
05 – Respiro
06 – Medidor Volumétrico (NKL)
07 – Extintor de incêndio
08 – Engate rápido para descarga
09 – Pontos de aterramento
10 – Olhais de içamento
11 – Placa de identificação do tanque.

FONTE: Arxo (2016, s.p.)

157
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

A escolha da empresa abastecedora e a certificação da qualidade das uni-


dades de abastecimento de aeronaves escolhidas devem estar entre os procedi-
mentos de planejamento das operações ou da contratação da empresa que execu-
tará a ação. No momento do abastecimento, uma ferramenta muito importante é
o piloto que irá acompanhar o procedimento, o qual deve ter conhecimento dos
procedimentos para a verificação do cumprimento das etapas que, por sua vez,
envolvem sua própria segurança.

c) Pátio de descontaminação: após um período de vazio legal, o MAPA publicou,


em 2 de janeiro de 2008, a Instrução Normativa nº 2 (IN 2), a qual estabelece em
seu artigo 5º que:

[...] os restos de agrotóxicos remanescentes no avião e as sobras de


lavagem e limpeza da aeronave ou dos equipamentos de apoio no solo
somente poderão ser descartados em local apropriado, o pátio de des-
contaminação, observados os modelos próprios, aprovados pelo Mapa
[...] (BRASIL, 2008, s.p.).

O novo modelo de pátio de descontaminação estabelece quatro requisitos


básicos para sua construção e operacionalização:

• piso de escorrimento;
• tanque de decantação;
• reator de ozonização;
• leito de volatização.

A IN 2 de 2008, em seu artigo 7º, estabelece nos mínimos detalhes um


modelo padrão (Figura 7) para os pátios de descontaminação, informando até
mesmo a espessura e a composição dos materiais a serem utilizados. Conside-
rando que todas as regras impostas referenciam à proteção do solo e dos lençóis
freáticos em uma análise básica do modelo, segue conceitualmente o relatado por
Furtado e Hoff (2017) sobre os principais pontos do padrão:

• uso de processo oxidativo por ozônio como indutor da aceleração da degrada-


ção do agrotóxico que acelera a mineralização dos compostos orgânicos, con-
vertendo-os em CO2, H2O e ácidos minerais, como o HCl.
• uso de tanque de retenção do efluente depois de sua passagem pelo sistema
de oxidação, o que impede o descarte direto sobre o meio ambiente e propicia
a evaporação, eliminando, assim, o excesso de água e gerando como resíduo
final somente os compostos mineralizados.

Ainda, segundo Furtado e Hoff (2017), o sistema evita o lançamento dos


agrotóxicos no ecossistema e promove a decomposição dos princípios ativos que
possam estar presentes nos efluentes, considerando sua retenção em ambiente
impermeabilizado até que os compostos tóxicos sejam mineralizados.

158
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

FIGURA 7 – MODELO PADRÃO DE PÁTIO DE DESCONTAMINAÇÃO SEGUNDO A IN 2 DE 2008

FONTE: Brasil (2008, s.p.).

O processo de responsabilização das empresas e usuários da aviação agrí-


cola pelos impactos causados ao ecossistema envolve (VILELA, 2017):

• tríplice lavagem: três lavagens sequenciais do tanque da aeronave, além da


aplicação das caldas resultantes na lavoura. Essa operação reduz em 99,9% a
concentração dos defensivos da calda de lavagem.
• tratamento do resíduo da lavagem final com o ozônio: a ozonização, método
pioneiro do Brasil, é atualmente o método mais adequado para a degradação
das caldas residuais dos agrotóxicos nas águas de lavagem.
• recolhimento do resíduo não oxidado em tanque adequado para a degradação
por solarização e hidrólise em local adequado.
• a calda da lavagem final, que em média tem 200 litros quando proveniente de
avião agrícola ou pulverizador, é coletada em um reservatório de decantação e
bombeada para um equipamento descontaminador. Circula através de um cir-
cuito hidráulico de forte agitação, em que recebe ozônio (O3), um gás agressivo
159
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

que destrói as moléculas dos agrotóxicos por oxidação, além de vírus, fungos e
bactérias nocivos ao homem, plantas e animais. Após esse procedimento, a água
resultante já pode ser transferida para o tanque de contenção e evaporação.

A Figura 8 ilustra uma possível distribuição dos diferentes e complemen-


tares elementos de um pátio de descontaminação para aeronaves.

FIGURA 8 – MODELO ILUSTRATIVO DE DISTRIBUIÇÃO EM UM PÁTIO DE DESCONTAMINAÇÃO

FONTE: <https://bit.ly/3aKEGac>. Acesso em: 12 fev. 2020.

Além das especificidades acima relatadas, vale constar que:

• as estruturas do pátio de descontaminação devem ser aprovadas pelo MAPA;


• as embalagens utilizadas e vazias devem obrigatoriamente ser devolvidas ao
seu proprietário para serem por ele destinadas, conforme legislação específica;
• as empresas ficam obrigadas a entregarem aos contratantes as embalagens
após realizar a tríplice lavagem;
• o pátio de descontaminação das aeronaves agrícolas deverá ser construído sob
orientação de técnico habilitado e em local seguro em relação à operação aero-
náutica e à contaminação ambiental.

2.4 TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO COM AVIÃO


A aplicação de um produto fitossanitário tem por objetivo a colocação da
quantidade mínima do ingrediente ativo sobre o alvo para a obtenção da máxima
eficiência, evitando a contaminação de áreas adjacentes e sendo capaz de con-
trolar de maneira efetiva o problema a que se destina (CHAIM, 2009). Para essas
160
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

operações no Brasil, a maior parte dos agricultores utiliza pulverizadores terres-


tres de funcionamento hidráulico (conforme o Tópico 2 da Unidade 2).

No entanto, a aplicação terrestre envolve problemas como a compactação


de solo, perdas por amassamento, limite de desenvolvimento vegetal para a en-
trada das máquinas e baixa capacidade operacional. Considerando esses aspec-
tos, o uso da aviação para as operações agrícolas tem vantagens consideráveis,
tanto econômicas quanto técnicas.

Com relação à tecnologia de aplicação, os fundamentos básicos são os


mesmos da aplicação terrestre, porém algumas especificidades devem ser consi-
deradas como pontos críticos (Tabela 4) a serem observados (ANDEF, 2010):

TABELA 4 – PONTOS CRÍTICOS E TECNOLOGIA DE CONTROLE DE APLICAÇÃO AÉREA


Pontos críticos Tecnologia de aplicação aérea
A faixa de deposição em uma pulverização aérea é proporcional à extensão das
asas da aeronave, à velocidade, à rota e ao deslocamento do voo. Característica
específica para cada tipo ou modelo do avião em uso, representa um fator de
grande influência nos resultados inadequados ou de baixa eficiência devido à
preocupação geral no rendimento da operação em detrimento da qualidade
Faixa de deposição de deposição adequada sobre o alvo desejado. Faixas maiores do que permite
a aerodinâmica do voo reduzem a efetividade e a eficiência do produto nos
cruzamentos das faixas nas pontas das asas. Voos muito baixos, além de tornar
a deposição das gotas irregular, ocasionam maiores concentrações de produto
no alvo de deposição sob a área correspondente à “barriga” do avião. Redução
ou fechamento de bicos nas pontas das asas evita perdas da pulverização por
influência dos vórtices e não reduz a faixa de deposição.
Parâmetro característico para modelo/tipo de cada avião que permite o me-
lhor desempenho das gotas de pulverização através de uma deposição mais
uniforme sobre e dentro da massa foliar da cultura em aplicações em pré e
pós-emergência, respectivamente, nos cultivos agrícolas. Voos muito próxi-
Altura do voo
mos ao solo ou topo da cultura ocasionam distorções na deposição das gotas
de pulverização. Derivas longas das gotas deverão ser corrigidas pelo ângulo
das barras/bicos de pulverização. Voos muito altos podem causar perdas e
contaminação pela deriva.
A quantidade de bicos nas barras de pulverização dos aviões agrícolas varia
de modelo/tipo de avião. De maneira geral, para aviões similares ao IPANE-
MA, são recomendados de 40 a 42 bicos para cultivos anuais. Para aviões
Tipo e número de maiores, as barras poderão ter mais bicos. Como recomendação geral, po-
bicos de-se usar bicos de jato plano (ex.: leque) para aplicações de pré-emergên-
cia (herbicidas de pré-emergência) e de jato cônico vazio para aplicações de
pós-emergência (inseticidas, fungicidas, herbicidas de pós-emergência, des-
secantes, maturadores, fitorreguladores e nutrientes foliares).
Artifício técnico que permite controlar a deriva das gotas geradas durante a
aplicação, ajustando seus diâmetros para reduzir as perdas por evaporação,
Ângulos dos bicos e
de acordo com a variação das condições climáticas, principalmente da umi-
linha de voo
dade relativa do ar. A variação do ângulo dos bicos será de 90º a 180º, sempre
em relação à linha de voo do avião.
A aplicação correta e adequada de um defensivo está na escolha das gotas
adequadas às condições climáticas locais, principalmente a umidade relativa
do ar. Gotas de pulverização que se elevam ou se deslocam para fora da área
Deriva
de aplicação deverão ser evitadas. Deslocamentos laterais das gotas dentro
da área de aplicação são necessários para melhorar a penetração e deposição
dentro da massa foliar das culturas.
FONTE: Adaptado de ANDEF (2010)

161
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

Para Justiniano (2014) a pulverização aérea é uma ferramenta para exten-


sas áreas com alto rendimento operacional em curto espaço de tempo. O autor
define algumas vantagens e desvantagens para a pulverização aérea. Entre as
vantagens, temos:

• rápida aplicação em áreas extensas (maior capacidade operacional);


• condições do solo não limitam a aplicação;
• baixo volume de calda;
• altura da cultura não dificulta aplicação.

Entre as desvantagens da pulverização aérea, o autor lista:

• custos de aquisição e manutenção de equipamentos elevados;


• limitações: obstáculos (postes, árvores), tamanho e formato das áreas;
• alto potencial de deriva (vento é limitante);
• gerenciamento da operação.

De maneira geral, o uso adequado dos bicos, pontas e a pressão da apli-


cação são fundamentais em qualquer aplicação de produto fitossanitário. Nas
aplicações aéreas, esses quesitos redobram seu requerimento de atenção, pois é
fato que, quando não utilizada a correta tecnologia de aplicação, a pulverização
aérea pode provocar danos ao ecossistema e à saúde da população em virtude do
seu potencial de deriva.

O controle das pragas agrícolas só será efetivo se a geração e distribui-


ção das gotas for adequada, o que se obtém por meio de um bico/ponta
de pulverização selecionado em função da posição e tipo do alvo bio-
lógico, das condições climáticas e do volume e pressão de trabalho. Os
maiores problemas ocorrem com o uso de aeronaves agrícolas (aviões
e helicópteros) nas quais as resultantes aerodinâmicas do equipamen-
to em voo podem modificar o diâmetro, a dispersão e deposição das
gotas (SANTOS, 2006, p. 2).

O mesmo autor salienta que, em razão da velocidade das aeronaves, a


turbulência, especialmente à relacionada aos vórtices das pontas das asas, pode
causar perdas estimadas em 30% das gotas geradas pelos bicos fixados nas barras
presas às asas. A correção desse fator está relacionada à observação das questões
climáticas, do momento correto da aplicação, do ajuste adequado dos bicos e das
influências aerodinâmicas do avião na geração, distribuição e deposição das go-
tas, além das características do alvo biológico e da responsabilidade profissional
do piloto/empresa prestador dos serviços (SANTOS, 2006).

2.5 VOO DO AVIÃO AGRÍCOLA: NOÇÕES DE PILOTAGEM


E MANOBRAS
As operações da aviação agrícola são normalmente realizadas com um
mínimo de infraestrutura, como em pistas não pavimentadas. Assim, são realiza-

162
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

das dezenas de decolagens por dia e com o máximo de carga possível nos perío-
dos mais quentes, como em safras de verão.

Um piloto aeroagrícola enfrenta inúmeras adversidades, tais como horá-


rios concentrados em quatro ou cinco meses de trabalho ao ano e longos períodos
diários, podendo chegar a 90 decolagens e pousos em um único dia, ou até 12
horas de operação em um dia. Somando-se o desgaste da própria operação, as
manobras em baixa altitude e o uso de pistas reduzidas, são fatores que exigem
do piloto ainda mais perícia e exatidão de manobras (PRADO, 2002).

O operador é uma peça essencial no resultado das operações aéreas, sen-


do considerado por muitos autores como uma parte integrante do sistema de
aplicação. Nesse sentido, a adequada certificação, capacitação e formação são, de
certa forma, o aval para uma operação eficiente.

A grande parte dos operadores segue o Procedimento Operacional Pa-


drão (POP), que é implantado conforme a legislação nacional junto a empresas e
aeródromos.

O Procedimento Operacional Padrão (POP) tem por objetivo descrever


um roteiro padrão para a prática eficaz e segura da aplicação aérea. O
procedimento descrito envolve diretamente o piloto agrícola e indireta-
mente o coordenador, secretaria de operações, técnico executor, auxiliar
de pista e mecânico de manutenção de aeronaves. [...] entre as respon-
sabilidades do piloto agrícola, estão: a correta execução dos serviços de
aplicação, seguindo rigorosamente os critérios técnicos e normativos
da empresa e dos órgãos reguladores sem se distanciar da segurança
de voo, seguir o fluxograma operacional; do coordenador, a integração
com os pilotos e demais membros do departamento operacional sem se
desviar das funções descritas em seu POP (FARIA, 2017, p. 26).

Durante o treinamento, o piloto terá conhecimento de uma série de roti-


nas de inspeção pré-voo (inspeção interna e externa) para, então, assumir a po-
sição na cabine e seguir a sequência de manobras necessárias para a operação.
Neste sentido, pode-se considerar a sequência de manobras padrão em cursos
de pilotagem, regidas pelo manual de padronização de manobras adotado pelas
escolas e aeroclubes, que relaciona como procedimentos e manobras básicas as
sequências a seguir:

• Acionamento do motor, operação no solo: taxiamento, cheque de motor, decola-


gem que pode ser normal, decolagem curta sem obstáculos, decolagem curta com
obstáculos, decolagem sem flape.
• Após o cheque de motor, o piloto fará a subida, seguida do nivelamento na área
de instrução. Após, fará as manobras necessárias para a execução de sua atividade.
• Manobras gerais: curvas, pequena inclinação, média inclinação (padrão), grande
inclinação, coordenação; redução e aumento de velocidade; voo planado com e
sem flape; estol com e sem motor; “s” sobre estrada; “8” ao redor de marcos; glissa-
das; descida para o tráfego; tráfego padrão; perna do vento; través da cabeceira em

163
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

uso; perna-base; arremetida no ar; arremetida na aproximação final; arremetida


no solo; final pouso normal; pouso sem flape; pouso curto; aproximação de 90°;
aproximação de 180°; aproximação 360°.
• Manobras após o pouso: corte do motor, abandono.

Embora em ambiente de rotina, o operador deve seguir todos os passos


que antecedem a operação, o que garante a eficiência do trabalho e a segurança
da atividade.

De forma estratificada, podemos dizer que primeiro acontece, a fase de


preparação para o voo: cálculo de área pulverizada; interação das condi-
ções meteorológicas; carga do avião (calibragem); etapas que precedem
o voo; conferência dos equipamentos; verificação da jornada de trabalho
(tempo para cumprir a demanda); checagem geral da aeronave; aferi-
ção dos equipamentos; e verificação das condições de segurança da ae-
ronave. Com o voo em execução: controlar a saída do produto (bicos/
barra); observar a área todo o tempo (presença de obstáculos); atenção
à quantidade de combustível (geralmente abastecem menos para não
pesar a aeronave e assim comprometer o desempenho da máquina) e
finalização do voo: aterrissagem; recolhimento da aeronave; verificação
e conferência de possíveis danos durante a atividade e, enfim, descanso
em alojamentos nas próprias propriedades contratantes ou hotéis cir-
cunvizinhos (FARIA, 2017, p. 45).

Como parte da rotina de operação, cabe ressaltar a importância da realização


de um estudo prévio, em que devem ser observados pela equipe os seguintes itens:

• desempenho anormal de alguma aeronave;


• condições da pista de pouso;
• atritos entre pilotos e auxiliares técnicos;
• dificuldades com os equipamentos agrícolas instalados nas aeronaves;
• funcionamento dos equipamentos de apoio à operação;
• novos obstáculos na área de aplicação;
• condição das acomodações, alimentação e higiene;
• pressões externas ou reconhecidamente autoprovocadas;
• qualidade e estrutura de apoio à equipe;
• e dificuldades logísticas diversas.

Muitos dos acidentes na aviação agrícola estão relacionados à falta de pla-


nejamento e à execução de manobras perigosas.

Na última década, os tipos mais comuns de acidentes na aviação agrí-


cola foram os seguintes: perda de controle em voo – 23,7%, falha de
motor em voo – 18,9%, colisão em voo com obstáculo – 17,1%, perda
de controle no solo – 15,1%, manobras a baixa altura – 8,2% e pane seca
– 3,8%. Com relação às fases de operação aerogrícola mais comumen-
te associadas aos acidentes, estes foram os números para o período
observado: curva de reversão (balão) – 30,6%, passagem de aplicação
(tiro) – 22,1%, pouso – 19,6%, Decolagem - 10,6% e translado – 2,6%
(SIPAER, 2016, p. 18).

164
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

Entre os fatores que contribuem para as estatísticas (2015), o mesmo autor


pontua o julgamento de pilotagem (16,75%), a supervisão gerencial (13,33%), o
planejamento de voo (12,99%), a aplicação de comandos (8,38%), a manutenção
da aeronave (5,45%) e a indisciplina de voo (4,32%) (SIPAER, 2016).

2.6 ELABORAÇÃO E FISCALIZAÇÃO DO GUIA DE


APLICAÇÃO
A elaboração e a fiscalização do guia de aplicação estão vinculadas res-
pectivamente à empresa ou ao usuário da atividade e aos órgãos reguladores
MAPA e CREAs. Nesse sentido, o Decreto nº 86.765, de dezembro de 1981, em
seu art. 6º estabelece que:

As empresas somente poderão obter registro e operar em território na-


cional, desde que atendam às seguintes exigências: I. Ter autorização
de funcionamento do Ministério da Aeronáutica; II. Possuir engenhei-
ro agrônomo, responsável pela coordenação das atividades a serem
desenvolvidas com o emprego da Aviação Agrícola, devidamente re-
gistrado no CREA; III. Possuir pilotos devidamente licenciados pelo
Ministério da Aeronáutica e portadores de certificado de conclusão de
curso de Aviação Agrícola, desenvolvido ou reconhecido pelo Ministé-
rio da Agricultura e devidamente homologado pelo Departamento de
Aviação Civil - DAC; IV. Possuir responsáveis pela execução dos tra-
balhos de campo, que deverão ser técnicos em agropecuária, de nível
médio, possuidores de curso de executor técnico em Aviação Agrícola,
desenvolvido ou reconhecido pelo Ministério da Agricultura; V. pos-
suir aeronave equipada dentro dos padrões técnicos estabelecidos pe-
los Ministérios da Agricultura e da Aeronáutica (BRASIL, 1981, p. 1).

Complementar ao decreto acima, está a orientação técnica Coordenação


Geral de Agrotóxicos e Afins (CGA) nº 01/2011, o qual estabelece que os órgão es-
taduais de defesa sanitária vegetal são responsáveis pela fiscalização da emissão
e uso do guia de aplicação, que deve ser emitido por profissional habilitado pelo
uso de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Ainda sobre a habilitação,
o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA), pela Resolução nº
377, 28 de setembro de 1993, resolve:
Art. 2º - As atividades de Aviação Agrícola referentes à aplicação aérea
de agrotóxicos e outros insumos serão precedidas de "Guia de Aplica-
ção", preparadas por Engenheiro Agrônomo que a assinará. § 1º - En-
tende-se por "Guia de Aplicação" o documento referente à aplicação
do agrotóxico ou do insumo agrícola onde constam as informações
necessárias antes, durante e após o voo, inclusive dados da receita
agronômica e o número da ART. § 2º - Não será necessário incluir o
relatório de bordo na "Guia de Aplicação", podendo ser emitido sepa-
radamente. Art. 3º - Para cada Guia de Aplicação corresponderá uma
Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) que deverá ser efetiva-
da até a data de realização do serviço (CONFEA, 1993, p. 20).

A guia de aplicação deve conter no mínimo:

165
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

• nome do usuário e endereço;


• cultura e área ou volumes tratados;
• local da aplicação e endereço;
• nome comercial do produto usado;
• quantidade empregada do produto comercial;
• forma de aplicação;
• data da prestação do serviço;
• precauções de uso e recomendações gerais quanto à saúde humana, animais
domésticos e proteção ao meio ambiente;
• identificação e assinatura do responsável técnico, do aplicador e do usuário.

2.7 RELATÓRIO DE APLICAÇÃO


Pela Instrução Normativa nº 2, de 3 de janeiro de 2008, o MAPA estabele-
ceu a obrigatoriedade de emissão e apresentação de relatórios de atividades aero-
agrícolas. Estes estão previstos em dois formatos: relatório mensal de atividades
(Figura 9) e relatórios operacionais de serviços realizados (Figura 10). Segundo a
legislação, os relatórios possuem as seguintes especificidades:

[...] V – o relatório operacional dos serviços realizados deverá ser man-


tido à disposição da fiscalização na base operacional ou no escritório,
da jurisdição dos trabalhos, durante o período constante da autoriza-
ção; e VI – o relatório mensal, de atividades da empresa aeroagrícola
com sede em outra unidade da federação, deverá ser encaminhado à
SFA no respectivo estado onde atuou, até o décimo quinto dia do mês
subsequente, sem prejuízo das informações a serem prestadas a SFA
da unidade da federação onde é registrada (IN 2, 2008, p. 6).

FIGURA 9 – MODELO DE RELATÓRIO MENSAL DE ATIVIDADES

FONTE: Brasil (2008, s.p.)

166
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

FIGURA 10 – FORMULÁRIO DE RELATÓRIO OPERACIONAL

FONTE: Brasil (2008, s.p.)

Em seu art. 9º, a IN nº 02/2008 determina que o relatório operacional deve


estar em campo no momento da realização das operações, podendo ser dispo-
nibilizado aos membros da equipe e para possíveis fiscalizações. A normativa
estabelece que deve constar no relatório:

I- nome da empresa operadora aeroagrícola, pessoa física ou jurídica e número


de registro no MAPA;
II- nome do contratante;
III- localização da propriedade, município e unidade da federação, da área do
serviço;
IV- tipo de serviço a ser realizado;
V- cultura a ser tratada;
VI- área tratada em hectare;
VII- nome do produto a ser utilizado, classe toxicológica, formulação e dosagem
a ser aplicada por hectare, número do receituário agronômico e data da emissão,
quando for o caso;
VIII- tipo e quantidade de adjuvante a usar, quando for o caso;
IX- volume de aplicação em litros ou quilograma por hectare;
X- parâmetros básicos de aplicação, relacionados com a técnica e equipamentos
de aplicação a serem utilizados, como a altura do voo, largura da faixa de depo-
sição efetiva, limites de temperatura, velocidade do vento e umidade relativa do
ar, modelo, tipo e ângulo do equipamento utilizado;
XI- croqui da área a ser tratada, indicando seus limites, obstáculos, estrada, redes
elétricas, aguadas, construções, norte magnético e coordenadas geográficas em
pelo menos um ponto;
XII- data e hora da aplicação, demonstrando os horários do início e término da
aplicação;

167
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

XIII- direção das faixas de aplicação (tiros) e o sentido do vento;


XIV- dados meteorológicos de temperatura, umidade relativa do ar e velocidade
do vento, no início e ao final da aplicação;
XV- localização da pista através de georrefenciamento;
XVI- prefixo da aeronave;
XVII- indicar se a aplicação foi realizada com uso do Sistema de Posicionamento
Global Diferencial (DGPS);
XVIII- e outras observações necessárias.

Algumas informações devem ser preenchidas antes e outras durante a


operação. O relatório deve ser assinado e datado pelo responsável técnico, sendo
concedidos dez dias para a sua entrega, a contar da data da operação. No relató-
rio, deve estar anexada uma cópia da receita agronômica do produto fitossanitá-
rio utilizado, a qual deve ser arquivada com os documentos da empresa.

É importante lembrar que muitas aeronaves possuem o sistema do DGPS,


com capacidade de gravação de dados e emissão de relatório. Nesse caso, uma
cópia do mapa da aplicação deverá ser arquivada com o relatório operacional.
Para finalizar, os relatórios operacionais devem ser arquivados pelas empresas
pelo prazo mínimo de dois anos.

A IN 2/2008 (Brasil, 2008, s.p.) também discorre sobre o relatório mensal


de atividades, que deve utilizar as informações dos relatórios operacionais e se-
guir as instruções a seguir:

I- O campo reservado para identificação da entidade deverá anotar o nome, ende-


reço, mês, ano e número de registro no MAPA.
II- Na coluna UF, anotar a sigla da Unidade da Federação onde realizou o traba-
lho.
III- Na coluna município, indicar o nome do município onde trabalhou.
IV- Na coluna tipo de serviço, indicar o serviço realizado, que pode ser aplicação
de fertilizantes, inseticidas, herbicidas, semeadura ou outros.
V- Na coluna cultura, indicar o nome da cultura em que realizou a atividade, ou
seja, indicar em qual cultura foi realizado o serviço.
VI- Na coluna área, indicar o número de hectares trabalhados em uma atividade
numa determinada cultura, durante o mês relatado, no final da coluna somar os
hectares trabalhados, para obter o total mensal.
VII- O campo destinado à informação dos produtos utilizados está dividido em
cinco colunas, devendo relacionar apenas nomes comerciais, sem identificar do-
sagem ou quantidade aplicada.
VIII- Na coluna reservada à identificação das aeronaves, relacionar o prefixo des-
tas, utilizadas pela pessoa física ou jurídica, nas operações descritas no mês.
IX- Na parte inferior do relatório, existe espaço reservado para colocar local, data
e assinatura, com identificação do diretor da empresa e do engenheiro agrônomo
responsável técnico, conforme determina o art. 14, § 2º, do Decreto nº 86.765, de
1981.

168
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

2.8 LEGISLAÇÃO E SEGURANÇA DE USO DA AVIAÇÃO


AGRÍCOLA
A legislação que contempla as operações aeroagrícolas forma um com-
plexo de instruções, orientações e decretos de diferentes órgãos envolvidos. De
maneira geral, as disposições básicas foram abordadas ao longo deste tópico.
Dessa forma, listamos os pontos principais, de forma pontuada, do arcabouço
legislativo que baseia a atividade direcionada ao uso de produtos fitossanitários
em operação aérea. Lembrando que a consulta e o conhecimento minucioso deve
ser realizado para o aprofundamento da atividade aeroagrícola.

a) Legislação sobre o uso de agrotóxicos (Lei Federal nº 7.802, de 11/07/1989):


dispõe sobre o uso e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins.

Art. 4. As pessoas físicas e jurídicas que sejam prestadoras de serviços


na aplicação de agrotóxicos... ficam obrigadas a promover os seus re-
gistros nos órgãos competentes, do Estado ou do Município.
Art. 10. Compete aos Estados e ao Distrito Federal, nos termos dos
arts. 23 e 24 da Constituição Federal, legislar sobre o uso, a produção,
o consumo, o comércio e o armazenamento dos agrotóxicos, seus com-
ponentes e afins, bem como fiscalizar o uso, o consumo, o comércio, o
armazenamento e o transporte interno. (BRASIL, 1989, p. 2-4).

b) Decreto Federal nº 4.074, de 04/01/2002: regulamenta a Lei nº 7.802, de 11 de


julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a
embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a
propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final
dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a
fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências.

c) Orientação Técnica CGA nº 01/2011: baseada nas competências definidas para


a fiscalização de agrotóxicos da Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, conforme
artigo 4º – que trata das empresas prestadoras de serviço – orienta os órgãos
estaduais a adotar procedimentos para a fiscalização do uso de agrotóxicos em
aviação agrícola.

d) Fiscalização: Decreto-Lei nº 917, de 7 de setembro de 1969; Decreto nº 86.765,


de 22 de dezembro de 1981; Instrução Normativa nº 2, de 3 de janeiro de 2008;
Instrução Normativa SARC nº 7, de 20 de setembro de 2004, alterada pela IN nº
42, de 12 de setembro de 2007, estabelecendo que:

A fiscalização, bem como a aplicação de sanções as empresas infra-


toras deverá ocorrer de acordo com a legislação específica do Estado
no qual a empresa encontra-se instalada, conforme o art. 10 da Lei
7.802de 11 de julho 1989 (MAPA, 2011, s.p.).

169
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

NOTA

No site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, você irá en-


contrar todo o sistema de legislação federal sobre o uso, comercialização e a aplicação de
agrotóxicos, confira em: http://www.agricultura.gov.br/assuntos/insumos-agropecuarios/
insumos-agricolas/agrotoxicos/legislacao/legislacao do

e) Fiscalização estadual: deve considerar as disposições legais sobre a emissão


de receituário agronômico da Lei Federal nº 7802, de 11 de junho de 1989, que,
no art. 13, determina que a venda de agrotóxicos e afins aos usuários será feita
através de receituário próprio.

Ainda, o Decreto Federal nº 4.074, de 4 de janeiro 2002, em seu Capitulo I


e Capitulo IV, trata das disposições preliminares e define que receita ou receituá-
rio é a prescrição e orientação técnica para a utilização de agrotóxico ou afim por
profissional legalmente habilitado.

f) Fiscalização Estadual – CDA: as Coordenadorias de Defesa Agropecuária


(CDA) tratam também sobre o tipo, uso e disponibilidade de Equipamentos de
Proteção Individual (EPI). Nesse sentido, é importante lembrar que o empre-
gador é responsável pelo uso de EPI dos seus funcionários. Em caso de irregu-
laridades, o empregador será autuado. Da mesma forma, o funcionário que se
recusa a usar EPI pode ser demitido por justa causa.

São pontos importantes da legislação sobre EPI:

• o proprietário deve fornecer EPI completo, em perfeitas condições e exigir que


o funcionário use de maneira correta;
• a equipe de campo que trabalha em contato direto com agrotóxicos deverá
obrigatoriamente usar os equipamentos de proteção individual.

g) Fiscalização Estadual relacionada ao depósito de agrotóxicos: a empresa que


somente presta serviço na aplicação de agrotóxicos:

• não armazena produtos, já que o produto é entregue no momento da aplicação;


• armazena produtos de clientes para a respectiva aplicação e deve possuir de-
pósito que obedeça às normas da ABNT NBR 9843-3 e manter arquivadas as
respectivas receitas agronômicas.

A empresa que comercializa agrotóxico, além de prestar o serviço de apli-


cação deve:

170
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

• ter registro na CDA como comerciante de agrotóxicos;


• possuir depósito que obedeça às normas da ABNT NBR 9843-2;
• se emissor de receitas, recolher as ARTS sobre as receitas emitidas.

h) Fiscalização Estadual (CDA) relacionada a embalagens vazias: para empresas


que somente prestam serviços na aplicação de agrotóxicos, as embalagens vazias
utilizadas deverão ser obrigatoriamente devolvidas aos seus proprietários
já tríplices lavadas para serem destinadas, conforme legislação específica. A
responsabilidade pelo armazenamento e devolução das embalagens vazias
(quando existirem) é do proprietário rural contratante do serviço de aplicação
aérea de agrotóxicos. Para empresas que comercializam agrotóxicos além de
prestar serviços de aplicação, armazenar e destinar as embalagens conforme os
procedimentos da legislação são de responsabilidade da empresa.

i) Fiscalização Estadual – CDA relacionada a distâncias de aplicação: as normas


relacionadas a distâncias de aplicação estão na IN nº 2, de 3 de janeiro 2008, e
devem estar nas bulas e rótulos dos agrotóxicos utilizados. Em resumo:

• É proibida aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a uma distância


inferior a 500 metros de povoações e mananciais de captação de água para
abastecimento público.
• É proibida a aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a uma distância
inferior a 250 metros de mananciais de água, moradias isoladas, agrupamentos
de animais e de vegetação suscetível a danos.
• É importante constar que, nas aplicações realizadas próximas às culturas sus-
cetíveis, os danos serão de inteira responsabilidade da empresa aplicadora.

171
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

LEITURA COMPLEMENTAR

PANORAMA DA AVIAÇÃO AGRÍCOLA NO BRASIL

Perspectivas

A despeito de algumas crenças sobre a iminente substituição dos vetores


aéreos (aviões e helicópteros) por drones (veículos não tripulados), acredita-se
que tal processo, embora provável, não se dará de forma tão acelerada, ao menos
no Brasil. Em outras palavras, os aviões e helicópteros ainda serão os principais
responsáveis pela pulverização aérea das lavouras brasileiras. Assim, se consi-
derarmos a presença majoritária dessas máquinas tripuladas por ao menos uma
década, este manual já terá mais do que cumprido sua finalidade.

Essa perspectiva se respalda em várias questões de natureza técnica, eco-


nômica e também política. A despeito dos avanços tecnológicos e dos empreen-
dimentos já consolidados na área de desenvolvimento de drones, o fato é que
nossas áreas cultiváveis vão demandar equipamentos de grande capacidade para
serem mais eficientes que os atuais vetores.

Ainda sobre a questão técnica, há de se pensar no desenvolvimento e im-


plementação de uma legislação que regulamente a operação dos veículos não tri-
pulados, de forma a cumprir com os requisitos mínimos de segurança operacional.

Por fim, a indústria da aviação agrícola alimenta uma cadeia produtiva


que emprega muitas pessoas. Logo, uma mudança dessa natureza tem de ser
equacionada, ou ao menos deveria ser, por meio de um planejamento de médio
a longo prazo.

Operação heliagrícola

Em complemento às perspectivas expostas anteriormente, observa-se,


desde 2015, o ressurgimento no Brasil da pulverização aérea envolvendo heli-
cópteros. O cenário de grandes incertezas políticas e econômicas, frequentes em
intervalos de oito anos quase que regularmente, gera circunstâncias propícias à
reorientação do mercado, conforme as novas e eventuais demandas.

Para exemplificar essa situação, ao fim da década passada e início da pre-


sente, notou-se uma grande procura por cursos de piloto de asas rotativas. Mui-
tas escolas de pilotagem surgiram para atender a demanda promissora da aviação
executiva e também da operação em plataforma de petróleo. Contudo, a atividade
econômica encolheu e muitos helicópteros de instrução pararam de gerar receita.

Considerando a versatilidade do helicóptero, capaz de rapidamente ser


convertido para outra missão, bem como a demanda do praticamente inabalá-
vel agronegócio, juntou-se a necessidade com a oportunidade. Logo, percebe-se
claramente boas perspectivas para esse nicho, caso bem gerido e regulamentado.
172
TÓPICO 1 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA

A fiscalização

Há muito se escuta sobre as deficiências na fiscalização da atividade aero-


agrícola. É verdade que problemas burocráticos e de natureza técnica podem ter
gerado descréditos e descrenças afins, no entanto, quaisquer deficiências têm de
ser analisadas em um contexto maior.

Com essa premissa, é necessário esclarecer que o número de servidores


públicos encarregados de fiscalizar a operação aeroagrícola é ínfimo e infinita-
mente menor que o (no mínimo) razoável. Ainda, também se faz necessário men-
cionar que nem os países mais desenvolvidos possuem servidores em número
condizente com as respectivas demandas.

Assim, é preciso equacionar o problema com “os pés no chão” e prag-


matismo. Isto é, o número de servidores não vai aumentar. O que deve ocorrer
é o aperfeiçoamento dos servidores e dos processos, de forma a “fazer mais com
menos”. Essa tendência no gerenciamento de recursos humanos é geral, pública
e privada. Nessa mesma linha de aperfeiçoamento, o que deve aumentar não é a
fiscalização, mas o nível de educação.

Quando se fala em educação, na verdade devemos englobar a ética, o pro-


fissionalismo e o acatamento das leis, normas e regulamentos. Em resumo, quan-
to mais cultura, menos necessidade de fiscalização.

Nota

São numerosas as investigações de ocorrências aeronáuticas, envolvendo


a aviação agrícola, em que estão evidenciadas violações e exibicionismos, que
provam a deficiência cultural na operação aeroagrícola. Algumas tão engenhosas
que dificilmente seriam detectadas, nem pela mais rigorosa fiscalização.

Por esta razão, é preciso que todos reconheçam suas deficiências e limita-
ções, antes de apontar o problema alheio. Assim, precisamos fazer, primeiramen-
te, a nossa parte, sempre lembrando que antes dos direitos existem os deveres.
Aliás, no dicionário o dever vem antes do direito também!

O ambiente aeroagrícola

A agricultura se desenvolve em um ambiente rural, ou seja, afastada dos


grandes centros urbanos. Assim, a operação aeroagrícola nesse contexto é muito
sensível às limitações logísticas, operacionais e de infraestrutura. Em curtas pa-
lavras, o ambiente é quase hostil ao desenvolvimento seguro da atividade aérea.

Muitas são as pressões sobre os envolvidos na atividade de pulverização


aeroagrícola; meteorologia, cobranças do patrão, cobranças do dono da lavoura,
prazos para cumprimento dos compromissos, obstáculos físicos na área de apli-

173
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

cação, pistas em mau estado, condições de aeronavegabilidade do equipamento,


intervalo de tempo exigido para a aplicação oportuna do produto, condição física
do aeronavegante entre tantas outras.

Assim, se a informalidade for a lei em um ambiente isolado e sujeito a


tantas restrições, criam-se as condições favoráveis à improvisação e obviamente
a supramencionada fiscalização passa a não ser bem-vinda, ainda que obviamen-
te necessária. Essa contextualização é importante, pois muitos são atraídos para
esse universo aeroagrícola, sem ter a noção exata do que vai encontrar, sobretudo
o piloto agrícola.

Por que piloto agrícola?

O piloto, de forma geral, já é ou nasce motivado. Contudo, o ambiente da


aviação agrícola é bem diferente daquele normalmente imaginado pelos inician-
tes na carreira. Uns cresceram nesse ambiente, trabalhando com ou por serem
parentes de pilotos agrícolas. Outros, todavia, são atraídos para o segmento em
virtude das poucas oportunidades de mercado e do retorno financeiro. Exata-
mente para estes últimos valem muitas reflexões.

A aviação agrícola opera em locais remotos e longe dos grandes aeroportos,


suas estruturas e rotinas. Existe a compensação financeira, mas a atividade cobra
um preço caro: desgaste físico e psicológico, afastamento prolongado de casa e dos
familiares, altos riscos associados ao voo à baixa altura, conforto inexistente ou mo-
desto e estrutura precária para atendimento a eventuais emergências e muito mais.

Parece óbvio, mas ainda que muitos recursos financeiros já tenham sido
comprometidos com a formação até aquele momento, os pilotos, antes de iniciar
um Curso de Aviação Agrícola (CAVAG), devem ser muito bem esclarecidos so-
bre a realidade que lhes espera. Ainda, vale também a lei da oferta e da procura.
Ou seja, pode ser que nem todos os pilotos agrícolas recém-formados consigam
emprego. Aí, mais recursos serão comprometidos sem retorno. A aviação agrícola
também seleciona seus pilotos. lembrem-se disso.

FONTE: SIPAER. Manual de boas práticas da aviação agrícola. Brasília, 2016. Disponível
em: http://sindag.org.br/wp-content/uploads/2017/01/Manual-de-Boas-Pr%C3%A1ticas-da-
Avia%C3%A7%C3%A3o-Agr%C3%ADcola.pdf. Acesso em: 12 fev. 2020.

174
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A aviação agrícola consiste no uso de veículo aéreo para a aplicação ou dis-


tribuição de produtos agrícolas em determinada área rural. Os produtos vão
desde insumos até sementes e repovoamento de peixes em rios.

• As operações aéreas devem considerar as relações aerodinâmicas do avião. Nesse


sentido, a aeronave é um corpo sólido em ação em um espaço de gases, a atmosfe-
ra, onde está submetido às forças que esses gases exercem sobre a aeronave.

• Os números demonstrar que a agricultura nacional está em crescente adesão ao


uso da aviação agrícola, impulsionada, entre outros fatores, pela expansão da
agricultura de precisão.

• De maneira geral, as aeronaves agrícolas são pequenas, leves e realizam voos


baixos, próximos ao solo, de forma a evitar o máximo possível a deriva de pro-
dutos e insumos, muitas vezes realizando manobras consideradas perigosas
para a aviação convencional.

• As estruturas complementares da aeronave estão ligadas diretamente a sua


função. Segundo a legislação, a função pode compreender: as atividades de
aplicação de defensivos agrícolas, aplicação de fertilizantes, semeaduras, po-
voamento de águas, combate a incêndios em campos e florestas, e outros em-
pregos que vierem a ser aconselhados.

• O Regulamento Brasileiro de Aviação Civil (RBAC) nº 137 regulamenta o uso


de pistas registradas ou não (de pouso eventual) na ANAC, bem como estabe-
lece os procedimentos necessários para a segurança da operação.

• O modelo de pátio de descontaminação é obrigatório e estabelece quatro requi-


sitos básicos: piso de escorrimento, tanque de decantação, reator de ozoniza-
ção, leito de volatização.

• Com relação à tecnologia de aplicação, os fundamentos básicos são os mesmos


da aplicação terrestre, porém algumas especificidades devem ser consideradas
como pontos críticos a serem observados.

• De maneira geral, o uso adequado dos bicos, pontas e a consideração da pres-


são de aplicação são fundamentais em qualquer aplicação de produto fitossa-
nitário. Nas aplicações aéreas, esses quesitos redobram seu requerimento de
atenção, pois é fato que, quando não utilizada a correta tecnologia de aplicação,
a pulverização aérea pode provocar danos ao ecossistema e à saúde da popula-
ção dado seu potencial de deriva.

175
• O operador é uma peça essencial no resultado das operações aéreas, sendo
considerado por muitos autores como uma parte integrante do sistema de apli-
cação. Nesse sentido, a adequada certificação, capacitação e formação são, de
certa forma, o aval para uma operação eficiente.

• Muitos dos acidentes na aviação agrícola estão relacionados à falta de planeja-


mento e à execução de manobras perigosas.

176
AUTOATIVIDADE

1 A atividade aeroagrícola está regulamentada por um conjunto de leis e re-


gulamentos específicos no plano nacional. Sobre a legislação que envolve as
operações aeroagrícolas, analise as afirmativas a seguir e marque a alterna-
tiva CORRETA:

I- Os pilotos ou operadores de aviões agrícolas devem ter habilitação técnica


específica, recebida depois de capacitados e habilitados pelas empresas con-
tratantes.
II- Operadores de aviação agrícola se dividem em três categorias principais, de
acordo com a instituição de vinculação: empresas de aviação agrícola (presta-
dores de serviço); operadores privados (agricultores) e órgãos públicos.
III- As aeronaves devem ser homologadas na categoria aeroagrícola e os operado-
res certificados pela ANAC para, então, proceder às operações.
IV- Os aviões agrícolas devem ter sua operação acompanhada, em terra, por um
técnico em agropecuária habilitado por um curso de especialização (Curso de
Executor em Aviação Agrícola – CEAA), que poderá também ser o responsá-
vel técnico pelos procedimentos da operação.

a) ( ) As alternativas I e III estão incorretas.


b) ( ) As alternativas I e IV estão incorretas.
c) ( ) As alternativas III e IV estão corretas.
d) ( ) Todas as alternativas estão corretas.

2 As empresas atuantes na aviação agrícola são responsáveis por diversas


ações junto aos órgãos reguladores para a realização das operações de pul-
verização aérea. Das alternativas a seguir, marque um X nas que represen-
tam essas responsabilidades legais.

a) ( ) A empresa deve estar registrada na ANAC e apresentar até o 15º dia do


mês subsequente um relatório mensal assinado pelo RT.
b) ( ) A empresa deve informar a localização geográfica da pista de pouso e
decolagem, independentemente do registro da pista junto à ANAC.
c) ( ) Os órgãos reguladores são responsáveis pela manutenção dos pátios de
descontaminação anexos às pistas de pouso e decolagem, sejam elas formais
ou informais.
d) ( ) Em caso de irregularidade e contaminação de áreas vizinhas ao local de
aplicação, as empresas podem ser responsabilizadas pelos danos ocasiona-
dos a humanos, animais ou vegetais.

3 As empresas aeroagrícolas devem manter distâncias mínimas de áreas po-


pulosas e de cursos d’água. Sobre as distâncias a serem obedecidas para a
aplicação de produtos fitossanitários, marque com X a alternativa INCOR-
RETA.

177
a) ( ) Devem ser considerados 500 metros de distância de povoações, cidades
e vilas ou bairros.
b) ( ) Devem ser considerados 50 metros de distância dos mananciais de
água, moradias isoladas e agrupamentos de animais.
c) ( ) Os moradores das áreas vizinhas devem ser avisados antecipadamente
da realização da operação.
d) ( ) Devem ser considerados 500 metros de distância dos mananciais de
captação de água para abastecimento de populações.

4 São quatro forças atuantes na relação ar e corpo sólido em movimento: o


peso ou gravidade, a tração, a sustentação e a resistência ao avanço. Sobre
essas forças, marque com X nas alternativas corretas.

a) ( ) No caso específico de uma aeronave, o peso considera todas as partes


físicas da aeronave, incluindo o combustível, a carga e os passageiros, sendo
estabelecido de forma distribuída nos pontos de ação de cada componente.
b) ( ) A força de sustentação se opõe à força de gravidade ou peso, e atua
verticalmente sustentando o avião no ar.
c) ( ) A força de sustentação define a habilidade de um avião se manter em
voo e é utilizada como forma de vencer o peso da aeronave. Nesse processo,
parte do ar é direcionada totalmente para a parte inferior da asa.
d) ( ) A força de tração é proporcionada pela hélice, por um reator ou motor,
e é a força que puxa ou empurra o avião para frente e que se opõe à resis-
tência ao avanço.
e) ( ) A força de arrasto depende da forma do corpo da aeronave, da sua rugo-
sidade e do efeito resultante da pressão entre a parte inferior e superior da asa.

5 A aviação agrícola está submersa em legislações pontuais e complementa-


res relacionadas ao trafego aéreo e às questões ambientais. Nesse sentido,
sobre as questões que envolvem as regulamentações relacionadas a pistas
de pouso e decolagem e as estruturas de abastecimento, assinale com X a
alternativa INCORRETA.

a) ( ) O Regulamento Brasileiro de Aviação Civil regulamenta o uso de pis-


tas registradas ou não (de pouso eventual) na ANAC, bem como estabelece
os procedimentos necessários para a segurança da operação.
b) ( ) É expressamente proibida a estocagem de agrotóxicos em aeródromos pú-
blicos, não sendo permitido nem aquele destinado à operação em andamento.
c) ( ) Os aeródromos ou pistas de pouso e decolagem devem ter ao menos
uma unidade de abastecimento de aeronaves.
d) ( ) A manipulação de combustíveis exige cuidados no caso da aviação,
como a garantia do grau de pureza pelo laudo de qualidade e das estruturas
legais de combate a vazamentos e combustão.

178
UNIDADE 3
TÓPICO 2

TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

1 INTRODUÇÃO

Caros acadêmicos, neste tópico, abordaremos a tecnologia pós-colheita de


produtos agrícolas, suas generalidades e especificidades, principalmente em relação
a grãos, frutas e verduras. Assim, serão discutidos, processo, etapas, instrumentos e
estruturas utilizadas. Ao término do tópico, estarão disponíveis o resumo e autoati-
vidades para sua melhor compreensão!

Devemos considerar inicialmente que o processo de pós-colheita de alimentos


compreende o espaço desde a saída do produto da lavoura até a sua disponibilização
para consumo. Cada espécie vegetal ou animal requer procedimentos e tecnologias
específicas para sua manutenção pós-colheita, que estão ligadas às características fi-
siológicas de cada espécie e a normas e regulamentos que regem a produção e con-
sumo de alimentos.

Secagem, triagem, armazenamento, acondicionamento e transporte são eta-


pas que podem compor o caminho do produto desde a colheita até o consumo. Téc-
nicas que podem conservar as condições organoléticas físicas e químicas dos produ-
tos podem ser aplicadas em cada uma das etapas, e subetapas do processo. Dessa
forma, o conhecimento minucioso dessas etapas e das características dos produtos é
decisivo para a rentabilidade da produção agrícola e para a qualidade do alimento
produzido.

2 TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA
Após a colheita dos produtos agrícolas, um conjunto de técnicas passa a ser
utilizado com o objetivo de preservar, conservar e até melhorar as condições do pro-
duto para o consumo. O termo pós-colheita refere-se ao estudo e conjunto dessas
técnicas.

Técnicas capazes de manter íntegros os tecidos e processos fisiológicos e bio-


químicos desses produtos são cada vez mais estudadas e aplicadas tanto a produtos
comestíveis quanto a não comestíveis, como flores e plantas ornamentais.

Entre as técnicas utilizadas para a manutenção da qualidade dos alimen-


tos, está o uso de temperaturas baixas, atmosfera modificada, atmosfera controlada,

179
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

limpeza, sanificação e a combinação dessas técnicas. Vale ressaltar que os processos


não térmicos estão em crescente estudo e aplicação em diferentes etapas da pós-
-colheita. Em geral, esses métodos proporcionam a redução do uso de energia e
melhor retenção de nutrientes e sabor em boas condições de sanificação. Entre os
métodos não térmicos, podemos registrar o uso da alta pressão, os pulsos elétri-
cos, o aquecimento ôhmico, a irradiação, a engenharia genética e a biotecnologia.

Ainda, entre os métodos de pós-colheita, deve-se observar aqueles que evi-


tam injúrias e danos na própria colheita e no decorrer da cadeia. Esses podem ace-
lerar os processos de deterioração da qualidade do produto final.

A pós-colheita está baseada nas diferentes funções fisiológicas dos tecidos


vegetais, considerando que essas funções permanecem após a colheita, porém des-
conectadas da fonte geradora de energia e utilizam as reservas (compostos orgâni-
cos e substratos), como os açúcares e amido, para a manutenção dessas funções, en-
tre elas a respiração. Contudo, como resultado da respiração pós-colheita, diversas
transformações são desencadeadas, como a perda de peso, volume, aroma e valor
nutritivo, além da consequente redução de tempo de viabilidade de consumo.

Nesse sentido, no desenvolvimento e escolha de tecnologias pós-colhei-


ta, é fundamental conhecer os fatores que afetam a respiração, dentre os quais se
destacam a temperatura, composição atmosférica e estresse físico. Ainda, podemos
considerar a incidência de luz, estresse químico, radioativo, aquoso, reguladores de
crescimento e ataque de micro-organismos patogênicos.

Em outro ângulo, a qualidade da pós-colheita está relacionada às questões


de cultivo e colheita, como a escolha da região, microclima, cultivo, espaçamento,
preparo do solo, disponibilidade de água e nutrientes, manejo integrado de pra-
gas e doenças, determinação do ponto de colheita para, então, passar ao manuseio
pós-colheita. Os métodos de controle e tratamento pós-colheita variam de acordo
com a espécie a ser tratada e também podem ser divididos entre físicos, culturais,
biológicos e químicos.

Métodos culturais:

São os cuidados na realização das operações e no manuseio dos produtos


no cultivo, colheita, transporte e casa de embalagens.

Métodos físicos:

a) Termoterapia: imersão ou pulverização em água quente, vapor aquecido ou ar


seco aquecido, normalmente elevando a temperatura a 50 a 55 ºC, dependendo do
produto em questão. É usado principalmente no processamento dos produtos.

b) Refrigeração: é o mais antigo método físico, utilizado principalmente no con-


trole de doenças em produtos frescos. Pode variar de temperaturas negativas
a de manutenção, entre 10 e 15 ºC. É importante ressaltar que, na maioria das

180
TÓPICO 2 | TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

ocasiões, as baixas temperaturas não destroem os patógenos, porém retardam


ou inibem seu desenvolvimento.

c) Irradiação: consiste na exposição dos alimentos à radiação ionizante. Como


efeito, promove a ionização, resultando em alterações químicas e biológicas,
podendo induzir a formação de produtos radiolíticos, como glicose, ácido fór-
mico e dióxido de carbono. É utilizada com êxito na conservação de alimentos
pela redução de processos fisiológicos, como brotação, maturação e envelheci-
mento. No Brasil, o uso da radiação é regido pela Resolução nº 21 da ANVISA,
de 26 de janeiro de 2001, que, entre outros aspectos, obriga a identificação dos
produtos irradiados pelo uso da expressão "alimento tratado por processo de
irradiação", inclusive quando um alimento irradiado é utilizado como ingre-
diente em outro produto (ANVISA, 2001). O uso da Radura (Figura 11), símbo-
lo internacional de identificação do uso da irradiação, é opcional internamen-
te no Brasil, porém obrigatório em diversos países, sendo exigido em muitos
destinos de exportação. A Radura deve ser acompanhada da frase “alimento
tratado com radiação”.

FIGURA 11 – LOGOTIPO OBRIGATÓRIO PARA ALIMENTOS IRRADIADOS

FONTE: Alves (2016, p. 15)

Controle químico:

a) Pré-colheita: deve-se usar produtos registrados para cada espécie e proceder


a todos os cuidados e exigências legais relacionadas, desde o uso de EPIs até o
cumprimento dos períodos de carência.

b) Pós-colheita: podem ser utilizados produtos residuais e/ou sistêmicos. Entre


as desvantagens do uso do controle químico, está a permanência de resíduos e/
ou odor nos vegetais, o possível surgimento de estirpes resistentes do patóge-
no e o risco de fitotoxidez.

Controle biológico:

Faz uso de micro-organismos saprófitos como antagonistas aos patógenos


que possam ser prejudiciais aos alimentos em pós-colheita. São estratégias para
uso do controle biológico o uso da microflora benéfica existente na superfície dos
vegetais e a introdução de espécies antagonistas no ambiente de acondiciona-
181
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

mento ou diretamente no alimento. Os antagonistas podem agir pela produção


de antibióticos, secreção de enzimas, competição por nutrientes ou induzindo a
ativação de mecanismos de defesa do hospedeiro.

a) Vantagens: seguro para homem, animais e ambiente (antagonistas biodegra-


dáveis).

b) Desvantagens: sensibilidade dos antagonistas às condições ambientais, eficá-


cia limitada de biocontrole em situações em que vários patógenos estão envol-
vidos ou sob alta pressão de doença.

Controles alternativos:

a) uso de produtos naturais (ex.: óleos essenciais);

b) biofungicidas não seletivos: bicarbonato de sódio ou potássio, cloreto de cálcio;

c) cloro;

d) ceras, entre outros.

Segundo Pereira (2013), os danos pós-colheita ocorrem em diferentes ní-


veis, de acordo com as etapas da cadeia produtiva. Os procedimentos realizados
na colheita são responsáveis por 4 a 12% de ocorrência dos casos; seguido das
casas de embalagem, que variam de 5 a 15%; no transporte, de 2 a 8%; na co-
mercialização, de 3 a 10%; no consumo, de 1 a 5%; e finalmente pelas doenças de
pós-colheita, de 15 a 50%.

2.1 PLANEJAMENTO DO CICLO PRODUTIVO E A INFLUÊNCIA


NA PÓS-COLHEITA
A base da tecnologia pós-colheita é a preservação, a conservação do produ-
to após sua retirada da lavoura. Dessa forma, os fatores que mais influenciam no
sucesso da preservação estão relacionados às condições do produto no momento
da colheita. Produtos que apresentam danos mecânicos, doenças e falhas de desen-
volvimento terão menos possibilidades de, independentemente da tecnologia apli-
cada na pós-colheita, chegarem a condições ideais na mesa do consumidor. Sendo
assim, as técnicas de produção e manejo aplicadas desde o preparo do solo até a
colheita são fatores importantes e determinantes para o processo de pós-colheita.

São fatores de pré-colheita (Tabela 5): as práticas culturais (semeadura,


pH do solo, plantio, espaçamento, irrigação, controle de plantas daninhas, aduba-
ção, fertirrigação, poda, controle fitossanitário, raleamento); e os fatores ambien-
tais (temperatura, umidade, radiação, precipitação e vento), além dos aspectos
relacionados às técnicas de colheita (CHITARRA, 1990).

182
TÓPICO 2 | TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

TABELA 5 – FATORES PRÉ-COLHEITA RELACIONADOS À QUALIDADE DE PÓS-COLHEITA DE


PRODUTOS VEGETAIS
Fatores Descrição e indicações
Deve-se escolher cultivares adequados às condições de mercado, clima e solo e con-
siderar a sua capacidade de reter qualidade na fase de pós-colheita pela expressão
de suas características genéticas, bioquímicas e fisiológicas endógenas e físicas. Em
Seleção de cultivares tolerantes a condições climáticas extremas e a doenças de ciclo produtivo
variedades e pós-colheita, deve-se observar o potencial produtivo, duração dos estádios de de-
senvolvimento (vegetativo, reprodutivo), características do fruto e do grão (forma-
to, peso médio), aspectos de comercialização, características agronômicas, suscep-
tibilidade a doenças e pragas, conservação pós-colheita, resistência ao transporte,
procedência e disponibilidade das sementes e preferência do mercado consumidor.
A época de semeadura influencia nos atributos finais do produto. Uma semeadura
tardia pode resultar em uma colheita de frutos com o grau de maturação inadequa-
do e afetar a sua tolerância ao manuseio e ao armazenamento. Além dos fatores
climáticos, é importante considerar a variação estacional dos preços do produto. De
Semeadura e
maneira geral, os plantios mais adensados tendem a proporcionar maiores produ-
espaçamento
ções por área e frutos com pesos médios menores. Plantios superadensados podem
provocar danos à qualidade dos frutos, provocando competição entre plantas, re-
dução da circulação de ar, aumento dos efeitos climáticos (temperatura, umidade)
e favorecendo a instalação e disseminação de patógenos.
Deve-se assegurar o atendimento à necessidade nutricional da planta e das condi-
ções físicas do solo para o seu desenvolvimento. Solos compactados ou encharca-
Solo
dos provocam danos ao desenvolvimento da planta e, consequentemente, à quali-
dade do produto final.
O monitoramento das áreas de plantio deve fazer parte das técnicas de controle fi-
tossanitário. Determinar o melhor momento para o uso de produtos fitossanitários
e sua real necessidade evita perdas e gastos desnecessários. Deve-se observar a épo-
Controle
ca de aplicação (biologia da praga, o ciclo da doença e o estágio de desenvolvimen-
fitossanitário
to da planta), a carência do produto (prazo entre a última aplicação do agrotóxico
e a colheita ou comercialização) e a toxidade (classe tóxica, uso de EPIs, indicação
de uso). Todo o uso de produto fitossanitário deve obedecer à legislação vigente.
Pulverizações químicas com substâncias sintéticas reguladoras do crescimento são
utilizadas para manipular o desenvolvimento, a qualidade e características pós-co-
lheita. Entre as substâncias mais utilizadas, estão: aquelas capazes de liberar etile-
Uso de
no, que atua no amadurecimento dos frutos; a aplicação de ácido giberélico (GA3),
fitormônios
que em cereais pode melhorar a qualidade dos frutos, retardar a maturação e o
tempo de colheita; e o Ethrel ou Ethephon (iniciação da floração e amadurecimento
controlado, aceleração da abscisão), entre outros.
Os fatores climáticos e ambientais podem garantir uma colheita adequada ou po-
dem ser decisivos para a perda da colheita ou redução da qualidade do produto
Fatores
final. Entre os fatores ambientais que mais afetam a produção vegetal, estão a tem-
climáticos e
peratura e luminosidade (desenvolvimento), o vento (danos mecânicos), a precipi-
ambientais
tação (desenvolvimento e produção) e a umidade (incidência de doenças, pragas e
qualidade do produto).
Processo traumático que pode causar danos mecânicos os quais comprometem a
pós-colheita. Deve ser feita no momento adequado de maturação fisiológica, com
Colheita
o uso de instrumentos e máquinas adequadas e em condições de clima e umidade
indicadas à espécie.
FONTE: Adaptado de Senhor et al. (2009)

183
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

Todos os procedimentos realizados desde o momento de tomada de


decisão pela espécie a ser cultivada irão influenciar direta ou indiretamente na
qualidade pós-colheita e devem ser considerados no planejamento produtivo. A
pós-colheita é um processo produtivo que forma a base para a continuidade do
objetivo produtivo: a mesa do consumidor.

2.2 EQUIPAMENTOS PARA SECAGEM DE GRÃOS, FIBRAS E


PLANTAS
A secagem é uma das etapas de pré-processamento dos produtos agríco-
las que objetiva retirar a água do produto vegetal. Segundo Dalpasquale (2012,
p. 1), a secagem:

Pode ser definida como um processo em que há trocas simultâneas de


calor e massa entre o ar do ambiente de secagem e os grãos. Nos casos
gerais, entretanto, define-se secagem como a operação unitária respon-
sável pela redução do teor de umidade de certo produto até um nível
considerado seguro para o armazenamento. Entende-se como seguro
o nível de umidade abaixo do qual a atividade respiratória dos grãos e
legumes é reduzida, e o ataque de insetos e fungos é dificultado. Esse
nível varia para os diferentes tipos de produtos agrícolas, mas, para
as condições brasileiras e grãos e legumes mais comuns, compreende
uma faixa entre 10% e 14% de umidade, expressa em base úmida.

A secagem dos produtos agrícolas é fundamental para a viabilidade da pro-


dução vegetal, pois permite a antecipação da colheita e a armazenagem por longos
períodos sem danos aos produtos, minimiza perdas no campo e impede o desen-
volvimento de micro-organismos e insetos prejudiciais ao produto (SILVA, 2008).

Os princípios da secagem de produtos agrícolas estão baseados na retirada


de água decorrente da diferença de pressão de vapor d’água entre a superfície do
produto a ser secado (Pg) e o ar que o envolve (Par) (Figura 12), considerando que,
para que a secagem ocorra, Pg deve ser maior que Par. Além desse princípio básico,
a secagem depende do sistema utilizado e das características do produto, como
grãos maiores ou menores, camadas protetoras e características dos tecidos vege-
tais (SILVA, 2008).

184
TÓPICO 2 | TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

FIGURA 12 – REPRESENTAÇÃO ILUSTRATIVA DA MOVIMENTAÇÃO DE ÁGUA EM UM


PROCESSO DE SECAGEM MILHO

FONTE: Silva (2008, p. 110)

Não há uma classificação oficial sobre os sistemas de secagem, já que eles


são desenvolvidos e adaptados para as mais diferentes variações econômicas, ge-
ográficas, de produto e de mercado. Para fins teóricos, usaremos a classificação de
Silva (2008) representada na Tabela 6.

TABELA 6 – CLASSIFICAÇÃO DE MÉTODOS DE SECAGEM DE PRODUTOS AGRÍCOLAS


Sistemas Natural: no campo, na própria planta.
de Artificial Ventilação Terreiros e paióis
secagem Natural Secagem solar
Outros
Ar Natural
Ventilação Altas Temperaturas Quanto aos Camada Fixa
Forçada fluxos Cruzados
Contra Correntes
Cascata
Rotativo
Fluidizado
Solar Hídrico
Quanto à Intermitentes
operação Contínuos
Baixas temperaturas
Sistemas combinados
Seca-aeração
Convecção
FONTE: Silva (2008, p. 113)

Na secagem natural, o produto é exposto à radiação, temperatura, umida-


de e ventos. Em ambiente aberto, consiste na secagem do produto no campo ou
na própria planta, sem interferência do homem. Esse é um método mais demora-
do, que favorece perdas devido a condições climáticas, contaminações de insetos
e micro-organismos, e requer cuidados especiais de manipulação e higiene.

185
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

Ao contrário da secagem natural, a secagem artificial normalmente é de-


senvolvida em ambientes protegidos, com componentes mecânicos ou manuais
de movimentação e aquecimento do produto.

A secagem artificial é caracterizada pela utilização de processos manu-


ais ou mecânicos tanto no manejo do produto quanto na passagem do
ar através da massa de grãos. [...] Em alguns secadores o ar de secagem
é movimentado por meio de correntes convectivas. Na secagem com
ventilação forçada, podem-se empregar baixa temperatura, alta tem-
peratura, secagem combinada e outros (SILVA, 2008, p. 115).

Uma das formas mais comuns de secagem é a secagem com ventilação


forçada, na qual podemos utilizar temperaturas baixas (natural ou até 10 ºC aci-
ma da temperatura ambiente) e altas (maior que 10 ºC acima da temperatura
ambiente), além de sistemas combinados em que o processo inicia em alta tempe-
ratura e finaliza em baixa.

Os sistemas de secagem artificial com ventilação forçada exigem fontes de


energia para a realização do processo, que podem ser o próprio sol, a lenha, o gás,
o óleo, o vapor e a energia elétrica, ou o uso de sistemas mistos de aquecimento
com energia solar, que fornecem uma alternativa sustentável com possibilidade
de adaptação a instalações de pequeno porte.

a) Equipamentos para a secagem de grãos

Os equipamentos utilizados na secagem de grãos estão normalmente


acondicionados em uma Unidade Beneficiadora de Grãos (UBG), em que uma sé-
rie de processos subsequentes são desenvolvidos, sendo os principais a recepção,
limpeza, secagem e armazenagem (Figura 13).

186
TÓPICO 2 | TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

FIGURA 13 – ESQUEMA ILUSTRATIVO DA SEQUÊNCIA DE ETAPAS DE PRODUÇÃO E PRÉ-


PROCESSAMENTO EM UMA UBG

FONTE: Embrapa (2015, s.p.)

A recepção dos grãos ocorre em moegas graneleiras, de onde são envia-


dos para o processo de limpeza (retirada de impurezas físicas) e seguem para a
secagem e armazenagem. As principais etapas estão descritas abaixo.

• Recepção: momento da classificação dos grãos, em que é feita a identificação


da qualidade dos grãos que estão sendo recebidos e medidos o percentual má-
ximo de umidade e impurezas.

• Limpeza: retirada e/ou redução da quantidade de impurezas, matérias estra-


nhas, restos culturais e grãos trincados, ardidos ou quebrados. A limpeza é
feita com base nas propriedades físicas dos grãos – como forma, peso, tamanho
e velocidade terminal do produto – até alcançar o valor técnico de 1% de impu-
rezas (WEBER, 2005). Os métodos de limpeza dos grãos podem ser manuais ou
mecanizados, sendo que os manuais são os mais simples e utilizam o vento e/
ou peneiras com malhas diferenciadas para realizar a separação. Já a limpeza
mecanizada é realizada através de equipamentos que possuem em geral dois
processos, a insuflação/ventilação e a peneiração dos grãos. A insuflação tem
por fim retirar as impurezas mais leves, enquanto a peneiração dos grãos obje-
tiva retirar as impurezas maiores e menores, de acordo com as classificações de
cada tipo de produto (DALPASQUALE, 2012).

187
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

• Secagem de grãos: a secagem é o que define a possibilidade de armazenamen-


to dos grãos. Não é possível o armazenamento sem haver o rebaixamento da
umidade original de colheita. Normalmente, sugere-se uma umidade entre 12
e 14% como padrão para armazenagem, dependendo do tipo do grão (WEBER,
2005). O MAPA apresenta o requerimento de umidade adequada para armaze-
nagem de diferentes tipos de grãos, sendo a soja 18%, o milho 26%, trigo 20%,
arroz 24%, e sorgo 20% (BRASIL, 2010).

A secagem artificial é realizada em secadores, estruturas desenvolvidas


para abrigar o produto e os equipamentos necessários para o processo. O formato
mais utilizado no Brasil é de secador tipo torre, que pode apresentar diferentes
possibilidades de sistemas, modelos de secagem e variáveis, principalmente em
relação ao fluxo do ar e do produto.

A secagem artificial é realizada em secadores, estruturas desenvolvidas


para abrigar o produto e os equipamentos necessários para o processo.

Os secadores mais comuns são os do tipo torre, de fluxo cruzado, fluxo


concorrente, fluxo contra corrente e fluxo misto. Entre essas opções,
o modelo de secador mais utilizado pelas unidades armazenadoras
brasileiras, é o secador de fluxo misto ou secador do tipo cascata, dis-
ponibilizado com capacidades horárias de secagem de 15 a 250 t/horas
(SILVA, 2006, p.1).

Na Figura 14, é possível verificar um exemplo de modelo de secador grãos


do tipo torre, seus componentes principais e a disposição das etapas de secagem.

188
TÓPICO 2 | TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

FIGURA 14 – SECADOR TIPO TORRE E SEUS COMPONENTES

FONTE: Embrapa (2015, s.p.)

De maneira geral, o objetivo da secagem é uma movimentação da massa


de grãos relacionada ao contato com o ar aquecido. Os secadores, quanto ao fluxo
de ar e grão, podem ser do tipo contínuo e/ou intermitente.

• Secadores de fluxo contínuo: os grãos passam apenas uma vez pelo secador,
que é utilizado quando a umidade relativa dos grãos no momento da entra-
da não ultrapassa 18%.

• Secadores intermitentes: os grãos passam várias vezes pelo secador devido à


umidade relativa dos grãos ser elevada, acima de 18%.

• Secadores cascatas e fluxos cruzados: são os mais comuns na secagem de


grãos. Os secadores cascata são compostos por calhas com extremidades fecha-
das e abertas, forçando a passagem de ar pelos grãos. Os grãos descem entre as
calhas e o ar aquecido passa entre as camadas de grãos, diminuindo a umidade
de maneira uniforme. Estes secadores podem ter fluxos concorrentes, mistos
ou cruzados. Nos secadores de fluxos cruzados, os grãos ficam em movimen-
to, passando entre a estrutura composta por metal perfurado. A circulação no

189
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

fluxo cruzado não é uniforme, por isso os grãos mais próximos às chapas ten-
dem a secar mais rápido, prejudicando a conservação. Neste tipo de secagem,
a atenção deve se concentrar no controle da temperatura que tende a se elevar
rapidamente durante o processo.

NOTA

Deve-se considerar que cada grão possui diferentes características químicas e


físicas, o que influencia no desempenho de cada tipo de secador. Outros fatores de interfe-
rência são os teores de água, as condições ambientais e o tipo de fonte de energia. Dessa
forma, é importante planejar o tipo de secagem aliado ao tipo de grão produzido.

Em uma perspectiva geral, um secador é composto por:

• Funil de carga: tem a função de receber o cereal e distribuí-lo uniformemente


na câmara de secagem.
• Torre de secagem: tem a finalidade de conter os grãos, que serão secos. Em seu
interior, ocorre a evaporação e a extração da umidade através de ar quente. Na
torre, estão as câmaras de secagem e resfriamento.
• Câmara de decantação: permite a separação dos grãos e das impurezas. Está
normalmente localizada na parte lateral do secador.
• Sistema de descarga: o sistema de descarga é constituído pelo quadro de des-
carga e funil de descarga.
• Registros de ar: usado no controle da temperatura do ar de secagem.
• Ventiladores: auxiliam na distribuição do ar entre os grãos e no processo de
decantação.

Outros componentes dos secadores são os difusores de ar, as escadas e


plataformas de acesso e os sistemas de retenção de partículas.

As tecnologias adotadas para o funcionamento das etapas de secagem variam


entre os modelos e marcas de solos existentes no mercado e o objetivo de cada produtor.

a) Equipamentos de secagem de fibras e plantas

As plantas e fibras vegetais são um recurso renovável com diversas apli-


cações, como na construção civil, naval, indústria têxtil, área da saúde, entre mui-
tas outras. Podem ser utilizadas em tecidos, na fabricação de fios e cordames,
compostas em substituição aos fabricados em madeira ou materiais sintéticos na
indústria alimentícia, humana e animal.

190
TÓPICO 2 | TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

O objetivo do processo de desidratação é a diminuição da quantidade de


água da planta. Dessa forma, os princípios da secagem são os mesmos da seca-
gem de grãos, pois aliam temperatura, movimento e especificidades dos produ-
tos a serem secados, como fibras, plantas e resíduos vegetais. Os desidratadores
variam de acordo com a fonte de calor e a capacidade de secagem entre caseiros
e industriais.

Os secadores solares são utilizados normalmente em pequenas produções


para secagem de alimentos, fitoterápicos e fibras artesanais. Possuem o limitante
de depender das condições climáticas (sol e umidade) para efetivar o processo de
secagem/desidratação.

Os secadores artificiais podem usar fontes de energia elétrica, calor (quei-


ma de resíduos sólidos) e combustíveis. São mensurados conforme a demanda
(especificidades dos produtos e de produção) e classificados como de contato di-
reto ou indireto com o calor.

Um dos secadores mais utilizados para a secagem de plantas e resíduos é


o secador rotativo. Constituído por um casco cilíndrico com comprimento de 4 a
10 vezes superior ao diâmetro e levemente inclinado em relação à horizontal. O
material sólido permanece em rotação dentro do tambor ou cilindro, que aque-
cido promove a secagem. Esse formato, a princípio pode ser utilizado tanto para
pequenas produções quanto para proporções industriais. A Figura 15 ilustra os
princípios e componentes básicos de um secador rotativo.

FIGURA 15 – PRINCÍPIOS E COMPONENTES BÁSICOS DE UM MODELO ROTATIVO DE


SECAGEM DE VEGETAIS

FONTE: Silveira (2017, s.p.)

191
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

NOTA

É importante verificar a diversidade de materiais vegetais destinados à seca-


gem e as especificidades de cada um. Folhas, talos, raízes e frutos possuem diferentes
níveis de água em sua composição. Esses são fatores primordiais na escolha do método,
da temperatura e do tempo de secagem.

2.3 EQUIPAMENTOS PARA LIMPEZA DE GRÃOS E


SEPARAÇÃO DE IMPUREZAS
O objetivo do processo de limpeza de grãos é reduzir o teor de impurezas,
matérias estranhas, restos culturais e grãos trincados, quebrados ou ardidos do
lote a um nível aceitável para a armazenagem e comercialização. O processo é
prévio à etapa de secagem, garantindo a qualidade de grãos, reduzindo a umi-
dade e minimizando as contaminações, uniformizando a massa de grãos para os
processos de aeração e/ou secagem. Um lote de grãos pode ter diferentes teores
de impurezas, determinados na maioria das vezes pelos procedimentos na co-
lheita e transporte. Esses teores são determinados no momento da classificação,
fazendo o uso de diferentes peneiras com malhas determinadas para cada tipo de
grão. As peneiras são utilizadas em etapas de pré-limpeza e limpeza. Os equipa-
mentos que compõem esse processo atuam com base nas propriedades físicas do
grão, como tamanho, forma, peso e velocidade terminal.

Os métodos de limpeza dos grãos podem ser manuais ou mecani-


zados. Os métodos manuais são os mais simples, e podem utilizar o
vento para separar as impurezas dos grãos, assim como peneiras com
malhas apropriadas para os diferentes produtos. A limpeza mecaniza-
da pode ser realizada com o auxílio de máquinas com ventilação, com
peneiras cilíndricas, e através do método mais comum, que utiliza má-
quinas de ar e peneira. As máquinas de limpeza com ventilador e pe-
neira constituem um dos sistemas mais eficiente de limpeza de milho
a granel esse sistema de limpeza atua por peneiramento, no qual são
retiradas as impurezas maiores e menores, e por aspiração onde são
retiradas as impurezas leves através do ventilador (JOSCIL, 2010, p. 6).

Cada tipo de grão possui um complexo de peneiras adequado às suas


características físicas e, portanto, determinantes para o modelo de equipamento
utilizado no processo. Como forma de exemplificar o processo, a Figura 16 mos-
tra a composição básica de uma máquina de limpeza de trigo.

192
TÓPICO 2 | TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

FIGURA 16 – MÁQUINA DE LIMPEZA DE GRÃOS DE TRIGO

FONTE: Embrapa (2016, s.p.)

Em todos os modelos, o uso de ar forçado ou natural com o conjunto de


peneira é fundamental para a adequada limpeza dos grãos.

2.4 EQUIPAMENTOS PARA MOVIMENTAÇÃO E


ACONDICIONAMENTO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS
A transferência e movimentação da massa de grãos de um local para outro
em sentido ou direção deve ser realizada de forma a conservar a qualidade, com
menor dano mecânico possível dentro da unidade de beneficiamento de grãos. Já
em uma unidade de beneficiamento de sementes, esse dano deve ser totalmente
evitado, visto que qualquer dano pode comprometer a germinação.

O teor de água ou grau de umidade, o ângulo de repouso ou talude natu-


ral e o peso específico aparente dos grãos são propriedades físicas que afetam e
determinam a capacidade dos equipamentos de movimentação nas unidades de
beneficiamento.

A Tabela 7 apresenta os principais equipamentos e as características ge-


rais da movimentação de grãos.

193
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

TABELA 7 – CARACTERÍSTICAS E PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS USADOS NA MOVIMENTAÇÃO


DE GRÃOS

FONTE: Milman (2002, p. 73)

Os tipos de transportadores de grãos dentro do processo de secagem po-


dem ser (MILMAN, 2002):

Elevadores de caçambas: projetados para movimentar produtos no sen-


tido vertical, são constituídos de caçambas fixadas sobre uma correia estendida
entre duas polias posicionadas na vertical (Figura 17). As caçambas podem pos-
suir diferentes formatos e serem construídas de materiais metálicos, plásticos ou
metálicos com revestimento plástico.

194
TÓPICO 2 | TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

FIGURA 17 – COMPONENTES DE UM ELEVADOR TIPO CAÇAMBA

FONTE: Milman (2002, p. 82)

195
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

Correias transportadoras (fitas transportadoras): movimentam os produ-


tos no sentido horizontal. Podem desenvolver o transporte com inclinação 12°, afe-
tando a eficiência operacional. São constituídas por uma correia estendida entre os
tambores motriz e de retorno, e apoiadas sobre vários roletes. Para fins agrícolas,
são comercializados no Brasil equipamentos com capacidade de 30 a 320 t/h.

Transportador helicoidal (rosca sem-fim ou caracol): utilizado no trans-


porte horizontal, vertical e inclinado. É frequentemente empregado em descargas
de silos, máquinas de pré-limpeza e secadores. Podem apresentar-se sem reves-
timento ou instalados em calhas abertas e tubulares. Podem ser fixos ou móveis
quando são montados sobre rodas. Operacionalmente, são versáteis, porém, têm
alta probabilidade de ocorrência de danos mecânicos aos grãos.

Transportadores de corrente (redler): aplicados no transporte de produ-


tos na horizontal ou em inclinações de até 40°. No entanto, nessas condições a
capacidade operacional decresce em 33%.

Transportador vibratório: a estrutura básica de um transportador vi-


bratório excêntrico envolve uma calha de transporte disposta sobre um grande
conjunto de molas responsáveis pela vibração e movimentação da calha. Tudo
isso funciona a partir do acionamento de um motor elétrico acoplado a um eixo
excêntrico apoiado sobre mancais.

Transportador pneumático: projetado para atender ao transporte de pós,


pastas ou grãos, com pressão e velocidade variáveis, de acordo com o produto a
ser transportado. Permite transportar tanto no sentido vertical quanto no hori-
zontal, a distâncias de até 500 m e volumes de até 200 ton/h ou de acordo com o
projeto de instalação.

De maneira geral, deve-se considerar que, segundo Milman (2002, p. 73):

As várias atividades que constituem o pré-processamento devem ser


integradas, a fim de permitir o movimento de grãos com o mínimo de
interrupção. As capacidades dos equipamentos devem ser coerentes
com o fluxo de grão, e sua localização deve levar em conta a obter-se
o máximo proveito do espaço, porém permitindo o fácil acesso aos
mesmos para inspeção e reparos, e a possibilidade de expansão, isto é,
ser flexível e prever aumentos futuros.

O mesmo autor afirma que: “pode-se dizer que não existe o melhor trans-
portador, mas o melhor transportador para cada situação”. Assim, reafirma a
necessidade de adaptação e planejamento do sistema de beneficiamento, o qual
deve estar alicerçado à realidade de cada produtor.

196
TÓPICO 2 | TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

2.5 EQUIPAMENTOS PARA ARMAZENAMENTO DE


PRODUTOS AGRÍCOLAS
Na armazenagem de produtos agrícolas, são utilizados armazéns, silos e
depósitos de estruturas complexas ou simples, com grãos armazenados a granel
ou em sacas. Seja qual for a forma de armazenagem, é importante considerar que
ela deve manter a qualidade dos grãos pelo maior tempo possível. Por isso, o
grau de secagem, o isolamento da umidade e a proteção de micro-organismos e
insetos devem ser priorizados e monitorados.

Os requisitos para a armazenagem de grãos estão estabelecidos na Lei nº


9.973, de 29 maio de 2000, e na Instrução Normativa nº 24, de 9 de julho de 2013,
que tratam da temperatura, aeração e outros fatores importantes para garantir a
qualidade dos grãos armazenados.

NOTA

Caro acadêmico, é importante consultar os links a seguir para ter acesso à


legislação que regulamenta os processos de armazenagem de grãos. Lei nº 9.973, de 29
maio de 2000: https://bit.ly/2SlvR0f. Instrução Normativa nº 24, de 9 de julho de 2013:
https://bit.ly/2VTf2fk.

De maneira geral, as principais formas de armazenamento de grãos são:

Armazenamento de grãos em silos de bolsa: conhecidos como bags, são al-


ternativas àqueles construídos em estrutura metálica. É preciso que os grãos estejam
secos para que não estraguem. Este tipo de silo pode sofrer mais com ataques de
animais e pragas agrícolas, danificando uma grande quantidade de grãos.

Armazenamento em silos metálicos: podem ser caracterizados como unida-


des produtoras de armazenagem de grãos. Eles podem ser individuais e são carac-
terizados por serem versáteis. Geralmente unitários, recebem produtos da lavoura
localizada na fazenda. Possuem baixa cadência operacional (menor frequência de
entrada e saída de grãos) e alto investimento, visto que serve somente como pré-ar-
mazenamento. Este tipo de silo pode ser coletivo ou embutido em silos secadores,
este último normalmente com grande capacidade de armazenamento, sendo usado
em cooperativas e empresas privadas.

A armazenagem pode compreender diversas operações de acordo com o tipo


de grão, o objetivo do armazenamento, o tempo de permanência e a estrutura de
armazenagem:

197
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

As operações de armazenamento e de manutenção dependem do pró-


prio sistema de conservação, e podem incluir movimentação, acondi-
cionamento, aeração, transilagem, intrasilagem, expurgo, combate a
roedores, proteção contra o ataque de pássaros e retificação da seca-
gem e/ou limpeza. O tipo de manutenção a aplicar, sua periodicidade
e sua intensidade ficam na dependência de resultados observados ao
longo do período de armazenamento e das medidas de controle de
qualidade obtidas em testes (MILMAN, 2002, p. 158).

NOTA

A colheita deve ser realizada em momento próprio e de forma adequada,


pois o retardamento e as danificações mecânicas podem determinar a colheita de grãos
com qualidade já comprometida ou com pré-disposição para grandes perdas durante o
armazenamento.

2.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE PÓS-COLHEITA DE FRUTAS E


HORTALIÇAS
A principal consideração sobre procedimentos pós-colheita de frutas e
verduras está na perecibilidade. Em geral, são produtos altamente perecíveis,
com pouco tempo de prateleira e que exigem condições de resfriamento, emba-
lagem e transporte específicas e conjuntas para assegurar as condições físicas,
nutricionais e de sabor.

Em meio a essas especificidades, o mercado consumidor apresenta mu-


danças e tendências alimentares construídas ao longo dos processos históricos,
culturais, sociais e econômicos. Nesse sentido, Vasconcelos e Melo Filho (2010)
destacam algumas funções estratégicas que os processos de colheita e pós-co-
lheita de frutas e hortaliças devem desempenhar, como a melhora da qualidade
sensorial, a conservação e manutenção do frescor dos alimentos, a preservação do
valor nutricional, a maior praticidade dos produtos e flexibilidade para consumo,
a redução de resíduos e perdas, o aumento da produtividade e flexibilidade na
produção, a melhora da segurança dos alimentos, uso e desenvolvimento de sis-
temas de controle mais eficientes, além do uso e desenvolvimento de processos
mais sustentáveis de produção relacionados à embalagem, transporte e ao pró-
prio acesso aos alimentos.

De maneira geral, além dos procedimentos corretos na pré-colheita e co-


lheita, para a conservação adequada das frutas e hortaliças devem ser evitados
produtos doentes, muito imaturos ou passados e danos físicos ou mecânicos. A
Figura 18 ilustra as etapas de fluxo em uma unidade de beneficiamento de um
produto hortifrutigranjeiro desde a recepção até o consumo.

198
TÓPICO 2 | TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

FIGURA 18 – FLUXO DO FUNCIONAMENTO DE UMA UNIDADE DE BENEFICIAMENTO DE


HORTIFRUTIGRANJEIROS

FONTE: Embrapa (2017, s.p.)

O resfriamento é uma importante etapa do processo de beneficiamento.


Vale ressaltar que o resfriamento pode ocorrer antes e/ou depois da embalagem.
O resfriamento é responsável pela inibição da produção do etileno. Além disso,
reduz as perdas de água, inibe o desenvolvimento de doenças e prolonga a vida
de prateleira dos produtos. Contudo, aumenta a perecibilidade e exige adequa-
ção, monitoramento e regulação de temperatura.

A primeira etapa do processo de pós-colheita é a seleção dos produtos,


como já visto, retirando aqueles doentes e/ou com danos mecânicos. Essa sele-
ção pode ocorrer em duas etapas, sendo a primeira na colheita e a segunda na
unidade de beneficiamento. As demais etapas do processo de pós-colheita e seus
procedimentos estão descritos na Tabela 7.

199
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

TABELA 8 – PROCEDIMENTOS BÁSICOS DE PÓS-COLHEITA


Etapas Contextualização Procedimentos
Limpeza de Os equipamentos utilizados na limpeza dos di- Uso de água com a adição de
utensílios versos utensílios usados na colheita e no manu- detergentes, classificados como
seio das frutas e hortaliças devem estar em bom tensoativos (qualidade umectan-
estado de conservação para facilitar as etapas te), alcalinos (ação dissolvente de
de limpeza e desinfecção. Os contentores utili- resíduos sólidos e emulsionan-
zados e reutilizados na colheita, transporte e es-
te), ácidos (incrustações e sais),
tocagem de produtos frescos devem ser limpos sequestrantes (depósitos de sais)
e, quando necessário, desinfetados. e fosfatos (resíduos proteicos).
Desinfecção Reduz a população de micro-organismos pre- Uso de amônia quaternária, com-
sentes em uma superfície higienizada para ní- postos inorgânicos de cloro, iodó-
veis próximos a zero. foro, ácido peracético, peróxido
de hidrogênio.
Resfriamento O pré-resfriamento consiste na rápida remoção Resfriamento a ar (câmeras
pós-colheita do “calor de campo” de produtos altamente frias), água e/ou gelo.
perecíveis, antes que sejam processados, arma-
zenados ou transportados a longa distância.
O tempo requerido para um pré-resfriamento
adequado pode variar de 30 minutos a 24 horas
após a colheita. É importante conhecer o prin-
cípio de cada método de resfriamento a fim de
identificar os riscos potenciais associados.
Métodos de Existem vários métodos de conservação, cuja es- Armazenamento refrigerado,
conservação colha depende do tipo de produto e da disponi- revestimentos comestíveis, ce-
bilidade de recursos econômicos ou tecnológicos. ras e embalagem.
FONTE: Adaptado de Cenci (2006)

Além das considerações da tabela acima, é importante considerar as ques-


tões relacionadas ao transporte dos produtos, observando que (CENCI, 2006):

a) os reboques e recipientes devem estar livres de sujeira e de partículas de alimen-


tos;
b) odores fétidos podem indicar contaminação microbiológica e práticas de limpe-
za insatisfatórias;
c) as unidades de transporte não devem conter qualquer condensação de água e
não devem estar úmidas;
d) lacres herméticos são altamente recomendados para evitar a contaminação am-
biental durante o transporte;
e) se o produto fresco exigir refrigeração durante o transporte, o equipamento de
refrigeração deverá estar operando de maneira adequada, com dispositivos de
monitoração de temperatura devidamente implementados.

200
TÓPICO 2 | TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

LEITURA COMPLEMENTAR

COLHEITA, BENEFICIAMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE


FRUTAS E HORTALIÇAS

Marcos David Ferreira

Introdução

A colheita, o beneficiamento e a classificação de frutas e hortaliças para o


mercado in natura têm sofrido diversas modificações nos últimos anos. O mercado
tem mudado com uma procura constante por qualidade, praticidade, inovações e,
em especial, pela busca de um alimento seguro em relação à sanidade e contami-
nações patológicas. O termo “alimento seguro” pode causar controvérsia com a
terminologia “segurança alimentar”, mas é o mais adequado quando aplicado no
sentido da obtenção de um alimento manipulado, dentro de condições higiênicas
e sanitárias apropriadas; o segundo termo é utilizado para o suprimento de ali-
mentos. A versão em inglês, food safety, alimento seguro, e food security, segurança
alimentar, pode auxiliar na identificação dessas diferenças. O intercâmbio, seja de
pessoas ou produtos, entre países aumentou intensamente nos últimos anos, sen-
do corriqueiro em diversas nações – inclusive no Brasil, com expressiva produção
agropecuária – encontrar em uma refeição alimentos de diversas origens.

Desta forma, uma contaminação alimentar, como a recentemente ocorrida


na Alemanha, com Escherichia coli, pode causar prejuízos enormes, não só à econo-
mia, mas também à saúde da população – nesse caso, com internações hospitalares
e morte de várias pessoas. Portanto, a aplicação de Boas Práticas Agrícolas (BPA) e
outras técnicas de monitoramento da qualidade são fundamentais em uma produ-
ção agrícola. Neste caso, a rastreabilidade do hortifrúti produzido é essencial para
uma garantia de qualidade para o consumidor. Investimentos e pesquisas nessa
área devem ser realizados com o intuito de melhoria do sistema comercial existente.

A aplicação de tecnologias para que o consumidor receba um produto


padronizado, limpo e com um número mínimo de defeitos tem ocorrido, porém
o processo ainda não está completo, não só em relação à sanidade, conforme men-
cionado, mas também quanto à aplicação de técnicas para melhorar a conservação
pós-colheita do produto, por exemplo, minimizando os impactos sofridos pelos
frutos. Uma das etapas a ser considerada mais crítica em relação a aplicações de
tecnologia no sistema – colheita, beneficiamento, classificação e envio do produto
para consumidor – é a colheita. A colheita e/ou retirada do fruto ou hortaliça,
seja da planta ou do solo, ainda são feitas, em muitos casos, como há décadas
atrás. Em relação a hortifrútis, se tirarmos uma fotografia em preto e branco em
um campo focalizando somente a colheita, haverá dúvida quanto ao período em
que essa foto ocorreu. Por se tratar de produtos que requerem muito cuidado no
momento da colheita, a colheita manual é muito demandada, porém as condições
oferecidas para o colhedor, assim como os equipamentos, podem remontar a dé-
cadas atrás. No caso brasileiro, com a diminuição da mão de obra disponível para
esse serviço, alterações nesse modelo são de enorme importância.
201
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

Continuando com a nossa visão nesse sistema, caso ampliemos esse foco
para o campo de produção, a diferença entre épocas é nítida; e, se compararmos
a outros processos, como a classificação, esta diferença é maior ainda, pois a
aplicação de tecnologias para a padronização, com a introdução de equipamentos
eletrônicos com visão computacional, causaram diversas mudanças. Mas, se
observarmos no beneficiamento a etapa de limpeza, notaremos que o uso e a
reutilização de recursos naturais são em muitas situações, complicados: aplicação
excessiva de água, com baixa ou nenhuma reutilização, muitas vezes despejando-a
diretamente em córregos e rios. O presente artigo tem como objetivo atualizar
algumas informações e técnicas relativas à colheita, beneficiamento e classificação
de frutas e hortaliças, complementando o livro Colheita e Beneficiamento de Frutas
e Hortaliças, do editor técnico Marcos David Ferreira, publicado em 2008, pela
Embrapa. Desta forma, serão abordados os temas mencionados com informações
adicionais e com enfoques diferenciados daqueles mencionados naquele livro.

Colheita

A colheita de frutas e hortaliças pode ser realizada em três modalidades:


(1) Colheita manual; (2) Colheita auxiliada – equipamentos de auxílio e (3) colhei-
ta mecanizada (FERREIRA; MAGALHÃES, 2008).

A colheita manual continua sendo a mais comumente utilizada no Brasil


e em muitos países com disponibilidade de mão de obra de baixo custo. Todavia,
com as mudanças socioeconômicas e ascensão das classes sociais mais baixas a
condições de ensino e estudo, ela se torna cada vez mais escassa para trabalhos
manuais em condições físicas extremas, como a exposição ao sol, chuva etc. Desta
forma, é fundamental o desenvolvimento de alternativas para a colheita manual
tradicional, que proporcionem melhores condições de trabalho e melhoria da efi-
ciência do sistema.

Colheita manual

A colheita manual utiliza sensibilidades natas ao ser humano, como visão


e tato, e um colhedor bem treinado pode realizar a colheita com eficiência. Porém,
observa-se que esse treinamento nem sempre ocorre e, como esta mão de obra é
sazonal, é importante que seja realizado com frequência. Verifica-se também que,
além do treino para a colheita per se, com, por exemplo, a não colheita de frutos
com defeitos etc. Também é fundamental o conhecimento das Boas Práticas Agrí-
colas (BPA) e da manipulação do fruto, evitando impactos excessivos. Estudos
desde meados do século XX já apontavam diferenças na qualidade de frutos na
gôndola do consumidor daqueles provenientes de colhedores mais ou menos cui-
dadosos (MITCHELL et al., 1964).

Desta forma, apesar da importância da colheita no sistema produtivo,


poucas empresas preocupam-se, nesse treinamento inicial, com estes três pontos:

202
TÓPICO 2 | TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA

(1) padrão de colheita do produto;


(2) boas práticas agrícolas;
(3) impactos.

Apesar do grande avanço do Brasil como fornecedor mundial de alimentos,


devido a avanços tecnológicos, ainda é muito comum, em relação às principais fru-
tas e hortaliças, observar colheitas sendo realizadas como há 30 e 40 anos atrás, sem
os cuidados principais listados acima. Para algumas culturas, tal situação pode ser
agravada nos locais onde se realizam a colheita e classificação concomitantemente,
portanto, o treinamento é fundamental. Por exemplo, para o morango destinado
ao consumo fresco, a colheita e classificação são realizadas nesta situação – simul-
taneamente. Porém, para uma eficiência do sistema, além do preparo prévio do
colhedor para isso, é fundamental que o campo de produção esteja com boa unifor-
midade, pois em muito auxiliará a qualidade final desse produto.

Ferreira (1994), trabalhando com alternativas para classificação de moran-


gos no estado da Flórida, EUA, relata que morangos têm o potencial de serem clas-
sificados em linhas de beneficiamento, a despeito da sensibilidade a danos físicos,
e que esta é mais relacionada à força de compressão (manuseio) do que à força do
impacto (quedas). Dessa forma, alternativas podem ser geradas para melhoria do
sistema, além dos treinamentos mencionados acima. Atualmente, existem no mer-
cado diversos aparelhos e suprimentos que podem ajudar no processo de colheita,
não só na melhoria da eficiência deste, tornando mais competitivo, com melhor
fornecimento de condições para o produto, como também para o colhedor. As sa-
colas de colheita vêm sendo utilizadas para diversas culturas no Brasil há muitos
anos, porém a sua qualidade, do ponto de vista de proteção ao fruto e condição
física para o colhedor, ainda é muito discutível. Em geral, utilizam-se sacolas de
lona, com somente uma alça, sendo que o ideal são sacolas com maior suporte para
as costas do operador.

Colheita com equipamentos de auxílio – plataforma móveis

A colheita com equipamentos de auxílio à colheita – com o uso de pla-


taforma móvel – pode ser considerada uma importante alternativa para países
como o Brasil, em que a mão de obra torna-se cada vez mais escassa e é funda-
mental o fornecimento de melhores condições de trabalho. Conforme já mencio-
nado, a colheita de frutas e hortaliças para o consumo in natura é predominante-
mente desempenhada de forma manual, sem o uso de equipamentos de auxílio.
Tal fato ocorre principalmente devido à sensibilidade do produto ao manuseio e
à demanda por colheitas múltiplas. Nos últimos anos, no Brasil, têm sido reali-
zados estudos para a elaboração de equipamentos que auxiliem a colheita com o
objetivo de diminuir seu tempo e os custos de produção, melhorando as condi-
ções de trabalho com menores custos sociais. Outro benefício buscado por esses
equipamentos refere-se a concentrar em campo todas as etapas colheita, benefi-
ciamento e classificação –, com uma economia de tempo e custos operacionais.
Esses estudos têm sido realizados em algumas culturas, e aqui serão abordados
equipamentos para auxílio à colheita de tomate de mesa e laranja.

203
UNIDADE 3 | AVIAÇÃO AGRÍCOLA E TECNOLOGIAS DE PÓS-COLHEITA

A colheita auxiliada para tomate de mesa é um desafio, pois ele é cultiva-


do com tutoramento, ou seja, estaqueado ou envarado, caracterizado por colheitas
múltiplas, enquanto que o tomate para o consumo industrial é cultivado sem tuto-
ramento, em cultivo rasteiro, com colheita única (CANÇADO JÚNIOR et al., 2003).
Portanto, perante essa conjuntura, foi desenvolvido na Faculdade de Engenharia
Agrícola da Universidade Estadual de Campinas, com financiamento da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, o projeto Unidade Mó-
vel de Auxílio à Colheita – UNIMAC, para colheita, beneficiamento, classificação e
embalagem do tomate de mesa no campo, reformulando o sistema tradicional exis-
tente desde a colheita até o consumidor final. O equipamento UNIMAC consta de
uma plataforma móvel de 7,63 metros de comprimento por 3,60 metros de altura,
autopropelida, a qual se movimenta em campo realizando as operações de colhei-
ta, beneficiamento, classificação e embalagem (FERREIRA et al., 2007). O objetivo
principal deste equipamento foi o de melhorar a situação atual onde o produto co-
lhido é transportado para uma unidade de beneficiamento, promovendo redução
significativa do tempo requerido para a colheita e beneficiamento, bem como o de
diminuir o manuseio e, com isso, a incidência de impactos, além de promover co-
lheitas múltiplas em condições ergonômicas de trabalho para os colhedores.

Para a cultura da laranja, a situação é diferenciada da mencionada ante-


riormente. O Brasil é o maior produtor de laranja do mundo. A safra nacional de
laranja em 2008 totalizou 18.538,084 toneladas (454,4 milhões de caixas de 40,8
kg), da qual São Paulo participa com 78,4% da produção (IBGE, 2009). O setor ci-
trícola brasileiro, somente no estado de São Paulo, gera mais de 500 mil empregos
diretos e indiretos (AZEVÊDO, 2003).

Cerca de 60% do suco que circula no mercado mundial são de origem bra-
sileira, em particular de laranjas e demais cítricos cultivados em São Paulo (IBGE,
2009). A colheita manual para citros é atualmente a mais utilizada na totalidade
das propriedades, e é comparativamente mais difícil de ser executada do que a de
outros produtos, em razão da altura e arquitetura da planta, da desuniformidade
de maturação e da exigência do mercado (MASCARIN, 2006). A escassez da mão
de obra e as transformações econômicas sofridas pelo país levaram várias empre-
sas, em especial do interior de São Paulo, a buscarem alternativas. Dessa forma,
nos últimos anos, plataformas de auxílio à colheita têm sido testadas no interior
do estado de São Paulo, verificando a possibilidade de uso alternativo para a
colheita manual. O objetivo comum dos equipamentos testados é o de realizar a
colheita da laranja em plataformas, de maneira ágil e proporcionando condições
adequadas aos operadores.

FONTE: Adaptado de FERREIRA, M. D. Tecnologias pós-colheita em frutas e hortaliças. São Carlos:


EMBRAPA, 2011. Disponível em: https://bit.ly/3f84Wyw. Acesso em: 26 mar. 2020.

204
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Entre as técnicas utilizadas para a manutenção da qualidade dos alimentos,


está o uso de temperaturas baixas, atmosfera modificada, atmosfera controla-
da, limpeza, sanificação e a combinação dessas.

• Entre os métodos não térmicos, podemos registrar o uso da alta pressão, os


pulsos elétricos, o aquecimento ôhmico, a irradiação, a engenharia genética e a
biotecnologia.

• No desenvolvimento e escolha de tecnologia pós-colheita, é fundamental co-


nhecer os fatores que afetam a respiração, entre os quais se destacam: a tem-
peratura; composição atmosférica; estresse físico; incidência de luz; estresse
químico, radioativo e aquoso; reguladores de crescimento; e ataque de micro-
-organismos patogênicos.

• Os métodos de controle e tratamento pós-colheita variam de acordo com a es-


pécie a ser tratada e podem ser divididos entre físicos, culturais, biológicos e
químicos, além de métodos alternativos.

• Os fatores de pré-colheita são primordiais para a qualidade do produto, entre


os quais se pode citar: as práticas culturais, os fatores de ambientais e os aspec-
tos relacionados às técnicas de colheita.

• A secagem de produtos agrícolas é fundamental para a viabilidade da produ-


ção vegetal. Ela permite a antecipação de colheita, minimiza perdas no campo,
permite a armazenagem por longos períodos sem danos aos produtos e impe-
de o desenvolvimento de micro-organismos e insetos prejudiciais ao produto.

• Os equipamentos utilizados na secagem de grãos estão normalmente acondi-


cionados em uma unidade beneficiadora de grãos, em que uma série de pro-
cessos subsequentes são desenvolvidos. Os principais são: recepção, limpeza,
secagem e armazenagem.

• Deve-se considerar que cada grão possui diferentes características químicas e


físicas, o que influencia no desempenho de cada tipo de secador.

205
• É importante constar a diversidade de materiais vegetais destinados à secagem
e as especificidades de cada um. Folhas, talos, raízes e frutos possuem diferen-
tes níveis de água em sua composição, que são fatores primordiais na escolha
do método de secagem, da temperatura e do tempo de secagem.

• A principal consideração sobre procedimentos pós-colheita de frutas e verdu-


ras está na perecibilidade e na qualidade de chegada do produto ao processo
de beneficiamento, acentuando a importância das boas práticas de pré-colheita
e colheita.

CHAMADA

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206
AUTOATIVIDADE

1 Entre as técnicas utilizadas para a manutenção da qualidade dos alimentos,


estão o uso de temperaturas baixas, atmosfera modificada, atmosfera con-
trolada, limpeza, sanificação e a combinação dessas. Considerando essas
técnicas, assinale com X a alternativa INCORRETA.

a) ( ) O uso da temperatura pode, pelo resfriamento, retardar o amadureci-


mento e ampliar o tempo de prateleira. No entanto, pode acelerar a deterio-
ração do produto, caso usada temperatura, tempo ou método de exposição
inadequado.
b) ( ) A etapa de limpeza está associada tanto aos equipamentos utilizados
nas unidades de beneficiamento quanto aos implementos de transporte,
que em contrário podem causar a contaminação dos produtos.
c) ( ) Temperaturas incorretas podem causar sérios danos fisiológicos aos
produtos, reduzindo sua qualidade ao consumidor.
d) ( ) O uso do resfriamento deve ser feito somente após o processo de em-
balagem dos produtos.

2 Mesmo após a colheita, os produtos mantêm a vida em seus órgão e teci-


dos. Sobre essa afirmação, assinale com X as alternativas CORRETAS.

a) ( ) As funções fisiológicas dos tecidos vegetais permanecem após a co-


lheita, porém desconectadas da fonte, a planta mãe. Para sua manutenção,
é imprescindível a utilização fontes artificiais de nutrição.
b) ( ) Os produtos, após a colheita, fazem uso dos açúcares e amido reserva-
dos nos próprios tecidos vegetais para a manutenção das funções fisiológi-
cas, entre elas o amadurecimento.
c) ( ) Após a colheita, o processo fisiológico de respiração do produto vegetal
cessa.
d) ( ) Como resultado da respiração pós-colheita, diversas transformações
são desencadeadas, como a perda de peso, volume, aroma e valor nutritivo,
além da consequente redução de tempo de viabilidade de consumo.

3 Nas considerações sobre pós-colheita, é importante considerar os fatores


da pré-colheita. Sobre esses fatores, analise as afirmativas abaixo e marque
com X a alternativa CORRETA.

I- Entre os fatores de pré-colheita, estão as práticas culturais e os fatores de


ambientais, além dos aspectos relacionados às técnicas de transporte.
II- A seleção de variedades é um fator pré-colheita. Nele, deve-se considerar
a escolha de cultivares tolerantes a condições climáticas extremas e a doen-
ças, além de observar o ciclo produtivo, as características de pós-colheita e
o potencial produtivo.

207
III- Os plantios mais adensados tendem a proporcionar maiores produções
por área e frutos com pesos médios menores, pois plantios superadensa-
dos podem provocar danos à qualidade dos frutos.
IV- O monitoramento das áreas de plantio deve fazer parte das técnicas de con-
trole fitossanitário, que pode determinar o melhor momento para uso desses
produtos e sua real necessidade, evitando perdas e gastos desnecessários.
V- Entre os fitormônios mais utilizados, estão as substâncias capazes de li-
berar etileno, que atua no crescimento das raízes, promovendo a melhor
fixação da planta e a absorção de nutrientes.

a) ( ) As alternativas I, II e V estão corretas.


b) ( ) Somente a alternativa V está incorreta.
c) ( ) Todas as alternativas estão incorretas.
d) ( ) Somente as alternativas II e V estão corretas.

4 A secagem de produtos agrícolas é fundamental para a viabilidade da pro-


dução vegetal. Sobre esse tema, marque com X a alternativa INCORRETA.

a) ( ) A secagem permite a antecipação da colheita, minimiza perdas no cam-


po, permite a armazenagem por longos períodos sem danos aos produtos e
impede o desenvolvimento de micro-organismos e insetos prejudiciais.
b) ( ) Os princípios da secagem de produtos agrícolas estão baseados na re-
tirada da água decorrente da diferença de pressão de vapor d’água entre a
superfície do produto a ser secado e o ar que o envolve.
c) ( ) A secagem depende do sistema utilizado, e não das características do
produto, independentemente do tamanho dos grãos, das características das
camadas protetoras e dos tecidos vegetais.
d) ( ) Não há uma classificação oficial sobre os sistemas de secagem, pois
eles são desenvolvidos e adaptados para diferentes variações econômicas,
geográficas, de produto e de mercado.

5 Além das considerações e procedimentos básicos da pós-colheita, é impor-


tante considerar as questões relacionadas ao transporte dos produtos. So-
bre o tema, assinale com X a afirmativa INCORRETA.

a) ( ) Os reboques e recipientes devem estar livres de sujeira e de partículas


de alimentos.
b) ( ) Odores fétidos podem indicar contaminação microbiológica e práticas
de limpeza insatisfatórias.
c) ( ) As unidades de transporte não devem conter qualquer condensação de
água e não devem estar úmidas.
d) ( ) Lacres herméticos não necessariamente contribuem para a redução
dos índices de contaminação ambiental durante o transporte, sendo seu uso
não indicado como forma de reduzir custos desnecessários.
e) ( ) Se o produto fresco exigir refrigeração durante o transporte, o equi-
pamento de refrigeração deverá conter dispositivos de monitoramento de
temperatura.

208
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Biomassa. 2013. Disponível
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