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Feira de Santana - BA
2021
RELAÇÕES ENTRE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO E COMUNISMO A
PARTIR DE WALDEN II
Feira de Santana – BA
2021
Folha de Aprovação
Banca Examinadora:
(Carvalho Neto, 2002). O Behaviorismo Radical é a filosofia proposta por Skinner (1945) para
Stevens, por exemplo). Essa filosofia é também o braço teórico e histórico da Análise do
dessa ciência (Carvalho Neto, 2002), enquanto a Análise Aplicada do Comportamento descreve
comportamentos que são socialmente relevantes (Baer, Wolf & Risley, 1968).
estabelecem relações entre si, e que, portanto, podem formar comunidades e sociedades a partir
de relações sociais, existe a possibilida de intervenções que têm como objetivo resolver
foi posta por Skinner em 1978, ao defender que a Análise Experimental do Comportamento
Tratar de questões sociais com base na ciência do comportamento é uma tarefa que
esteve presente desde os primórdios dessa ciência, nos anos 40. Skinner, em 1948, escreveu o
romance Walden II influenciado por leituras prévias e experiências que havia tido, tais como o
contato com o livro Freedom's Ferment, de Alice Tyler (1944), além de, obviamente, o Walden
1
de Thoreau (1854). No ano em que o livro foi idealizado, 1945, Skinner conversou com um
amigo sobre os jovens americanos que estavam na Segunda Guerra Mundial, e de que modo
esses jovens poderiam viver melhor quando retornassem da guerra. Ele acreditava que havia
alternativas ao modo de vida americano, e que a experimentação seria uma boa forma de
colocar em prática outras formas de sociedade (Altus e Morris, 2009). Quando publica o livro,
em 1948, Skinner ilustra um modo de sociedade guiado pelo planejamento cultural, ou seja, a
buscando garantir um bom convívio e felicidade dos membros daquela sociedade (Rocha,
2018).
A respeito disso, foram publicados alguns trabalhos que se utilizam do Walden II para
fazer análises, como por exemplo, o de Glenn (1986), um estudo sobre metacontingências em
Walden II1. Mais recentemente, temos trabalhos que se utilizam do Walden II para discutir
sobre outras formas de sociedade possíveis, como por exemplo o de Lopes (2020), que faz
comparações com o anarquismo, e o de Nobuhara e Lopes (2021) que se utiliza mais uma vez
Aristóteles sobre política, que abarca: as formas de governo; as características das populações
Há outros trabalhos na área que estabelecem aproximações com assuntos sociais, como,
por exemplo, Bogo e Laurenti (2012) que discutem sobre modelos de ciência (moderno e pós-
moderno), relacionando-os à ciência do comportamento, para, a partir disso, discutir como cada
modelo pode praticar intervenções distintas na sociedade. Holpert (2004) revisou 122
1
Metacontigência é “uma relação contingente entre 1) contingências comportamentais entrelaçadas recorrentes
que têm um produto agregado e 2) eventos ambientais ou condições selecionadoras” (Glenn et al., 2016). Por
exemplo, para produzir uma música (produto agregado) cada membro de uma banda fica sob controle do
comportamento e dos estímulos gerados pelos demais membros (contingências entrelaçadas). O que seleciona o
entrelaçamento são eventos selecionadores, como aplausos, casa noturna lotada, vendas.
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publicações de analistas do comportamento referente a questões sociais entre 1991 e 2000,
sendo que 60 desses artigos versavam sobre o tema “Ciência”, ou seja, das questões éticas,
(1990), sobre o controle de resíduos, o de Johson e Geller (1984) sobre o uso do cinto de
sociais que realizaram uma intervenção que resultou em uma nova prática cultural nos
sociológicas específicas, como é o caso dos trabalhos de Ulman (1991) e de Castro (2016). O
primeiro analisa relações entre Marx e Skinner, ou mais especificamente, entre o socialismo
transformação da sociedade.
progresso social e que a tecnologia comportamental está disponível para aqueles que querem a
transformação do mundo para ser livre de exploração, opressão, pobreza, guerra e degradação
ambiental (Ulman, 1991). Castro (2016), por sua vez, analisou trabalhos que fazem relação
contradições entre essas duas áreas. O material analisado pelo autor demonstra que não há uma
concepção única nem do behaviorismo nem do marxismo, porém a discussão final gira em
3
torno de que ambos podem contribuir para a emancipação humana. Para o autor, um aspecto
ser uma ferramenta para tratar de questões que abarquem o funcionamento das sociedades,
partindo-se da perspectiva de que as ciências devem produzir conhecimentos que sejam úteis
para a sociedade. Em consonância com Abib (2001, citado por Laurenti, 2012) a efetividade
éticas e políticas que se traduzam em projetos que promovam um mundo mais igualitário e
Para que isso seja possível, um caminho é o diálogo entre a Análise do Comportamento
e outras áreas que se debruçam sobre maneiras de produzir uma possível mudança social.
Então, estudar essas áreas pode nos levar a pensar em como elas podem contribuir para a
atualmente. Isso é visto no trabalho de Lopes (2020), por exemplo, que se utiliza do livro
ser considerada anarquista, dividindo a análise em três categorias: economia, política e cultura.
Por fim, o autor chega à conclusão de que Walden II não seria uma anarquia por conta do fator
político, pois ainda mantém uma classe dominante (os planejadores), que se difere de todos os
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desenvolvidos/pesquisados em laboratório) numa pequena comunidade (Nye, 1992). Como
objetivo é comparar a sociedade de Walden II à sociedade comunista. Para fazer uma análise
podem ser consideradas utópicas. O conceito de utopia, do grego ou topos (ou seja, não-lugar)
não é abordado aqui a partir de um idealismo, como na ficção de Thomas More (1516). Não se
trata, portanto, de utopia como um lugar impossível ou um sem-lugar. Em vez disso, parte do
conceito de que ela (a utopia) é uma força motriz por trás de uma práxis, é o ciclo dialético
(Fernandes, 2016).
Esse conceito de utopia é utilizado fundamentado no fato de que os autores das obras
analisadas propunham sociedades que pudessem se concretizar. Isto está claro em Skinner,
cuja intenção era descrever a ideia básica de uma sociedade em experimentação, mostrando a
afirmar: “estou dando a você um sonho utópico (...)? Em certo sentido, sim. Mas utopias se
O mesmo pode ser visto em Marx, “afirmando que as ideias comunistas podem ajudar
a superar a ideia de propriedade privada, mas a realidade requer a atividade comunista a fim de
atividade, ou seja, a prática, é central na construção de uma sociedade comunista, para que ela
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disso, de acordo com Castro (2016), os trabalhos comparando a Análise do Comportamento
brasileira. Com isso, o objetivo deste trabalho é analisar o livro Walden II: uma sociedade do
futuro (Skinner, 1972) e estabelecer relações entre esta obra e o modo de organização de uma
sociedade comunista, tendo como base obras de Karl Marx e Friedrich Engels, apresentando
Método
Walden II e a sociedade comunista e, a partir daí, fazer análises que permitam que a Análise
do Comportamento contribua com a sociedade, este trabalho trata-se de uma pesquisa teórica.
A seleção dos textos analisados foi feita partindo-se do problema de pesquisa, ou seja,
consideradas utópicas. Diante disso, nos próximos tópicos serão apresentadas as obras que
Para essa análise, foi feita a escolha do livro Walden II: uma sociedade do futuro
utópica, podendo, portanto, ser comparada à sociedade comunista, pois as duas ocupam um
não-lugar.
ser convencido sobre a comunidade; além dele, há Frazier que é apresentando como um
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comunidade e a defende ao longo da trama, apresentando argumentos que dão características
questionador sobre as práticas da comunidade; e dois casais: Steve e Mary e Rodge e Bárbara.
Esses personagens são os principais da trama, sendo que ela, na maior parte do tempo, gira em
livro apresenta uma batalha de ideias entre Frazier e Castle para conquistar a adesão de Burris.
Nesse caso, Frazier representaria o caráter mais prático da tecnologia comportamental; Castle
representaria o mentalismo e Burris seria o personagem que está aberto a ouvir as ideias de
Sociologia e comunismo
comunista. Ele foi proposto nos Congressos da Liga dos Comunistas, dos quais Marx e Engels
faziam parte, em Bruxelas, no ano de 1847. O contexto no qual foi produzido partiu da
Ao final do manifesto, Marx e Engels (1848/2015) vão falar dos estudos socialistas e
comunistas, abordando suas “sentenças positivas sobre a sociedade futura” (p.34), tais como:
produção.
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socialistas alemães. A incorporação desse material para a análise se justifica a partir do que
Este documento é um dos raros textos de Marx que tratam da sociedade comunista do futuro,
da qual ele define duas etapas distintas: a que leva ainda as marcas de nascença da velha
sociedade, estruturada pelo ‘igual direito’ – a cada um segundo seu trabalho –e a fase superior,
baseada no generoso princípio que parece resumir em si toda a força utópica do marxismo –
‘de cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades. (Löwy, 2012,
p.14)
Diante disso, fica claro que neste livro Marx discorre sobre a sociedade comunista,
apresentando suas carateristícas e singularidades, por essa razão ele é relevante para esse
trabalho.
Inicialmente, foi feita uma leitura do Manifesto do Partido Comunista (Marx & Engels,
1848/2015) e das cartas contidas no livro “Crítica ao Programa de Gotha” (1875/2012) para
sociedade futura”) citadas no tópico anterior. Para tanto, foram feitos fichamentos dos dois
primeiros tópicos do Manifesto e das cartas (ver apêndice A), destacando alguma característica
geral e descrevendo suas especificações, ou seja, buscando trechos que expliquem como seria,
II.
(ver apêndice B), com a finalidade de dar melhor visualização às caracteristícas, sendo possível
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Após essa etapa, foi feita a leitura do livro “Walden II” (Skinner, 1948/1972),
enviesada pelas premissas básicas da sociedade comunista e foram feitos fichamentos dos
definidas.
Resultados e Discussão
Tabela 1
Categorias de análise e sua descrição - comunismo
Categoria Descrição
Fase de transição É uma fase em que a sociedade começa a
construir um novo tipo de organização,
diferente da ordem capitalista vigente e
implementa um novo modo de produção,
novos ideais, novos repertórios
comportamentais. Ela não está inteiramente
desprendida de comportamentos - públicos e
privados - que existiam na fase anterior, mas
está caminhando para isso.
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Agricultura e Indústria Esses setores funcionam juntos visando a
supressão da oposição entre campo-cidade e
a melhoria da força produtiva para o bem da
sociedade.
Fase de Transição
decorrência da distinção entre as classes) propicia meios para uma revolução do proletariado.
Dessa forma, essa classe de trabalhadores estabelece domínio social, político e econômico a
partir de uma violenta derrubada da burguesia. Essa luta pelo poder acontece a nível nacional,
objetivo de revolucionar o modo de produção (que até então é capitalista). Essas intervenções
serão adaptáveis de país a país; mas, de maneira geral, incluem a expropriação da propriedade
privada e a utilização de suas rendas para propósitos públicos. O objetivo é abolir a propriedade
privada e tomá-la para que seja usada como um bem-comum, ou seja, havendo a socialização
das propriedades privadas, que podem ser terras, máquinas e tudo aquilo que seja de uso do
Na sociedade de Walden II, por sua vez, a fase de transição se justifica porque é evidente
que não se desprenderam totalmente da cultura da qual vieram. Para novos/as membros/as, há
que ser feito um processo de convencimento; algumas mulheres, por exemplo, têm que se
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adaptar a uma maior igualdade de trabalho que existe em Walden II, em comparação com a
Diante disso, têm-se que eventos privados advindos da cultura, que são muito
enraizados nas pessoas, não se alteram automaticamente mudando o modo de produção, por
exemplo, pois é um processo que vai se dando conforme as pessoas vão experenciando um
novo modelo de sociedade. Desse modo, em Walden II existe um código de conduta, o Código
Walden, o qual novos/as membros/as aceitam seguir quando entram para a comunidade, com
construção de um ser humano apto a viver em grupo. A fundação de Walden II, por exemplo,
nunca é lembrada em público, porque desencorajam o senso de história, para que não haja
favoritismo pessoal e para que todos ajam pelo bem da comunidade. Então, existem técnicas
materiais e psicológicas que fazem com que a comunidade exista, sendo que essas técnicas,
comunidade.
No que se refere ao espaço físico, compraram a terra a um baixo preço, pois liquidaram
impostos atrasados. É mencionada também uma fase de planejamento, indicando que o modo
como funcionaria o trabalho, por exemplo, foi pensado anteriormente. Quanto a uma possível
expansão de Walden II, se caracterizando como uma transição mais ampla (um município
inteiro se transformando, por exemplo), é reconhecido que certo despotismo seria utilizado
inicialmente, de forma temporária, para se obter o melhor governo para todos/as. Ainda assim,
há a defesa de que as pessoas são livres, porque ninguém é obrigado/a a viver em Walden II,
mas a ideia de uma liberdade plena é ilusória, pois os seres humanos sempre estão se
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possibilidade de operar sob a ciência do comportamento, é melhor os individuos se
comportarem sob ela do que deixar a humanidade sob um controle acidental ou enviesado.
Então, temos que na perspectiva marxista a fase de transição se dará por meio de uma
sem caráter político e de revolução, apenas compraram uma terra e construiram as instalações.
Nas duas comunidades, entretanto, percebemos o desejo de mudança para um modo de vida (e
de produção) mais justo, que não explore os seres humanos. Além disso, é perceptível que com
Por exemplo, há o debate sobre questões como gênero, sexualidade e raça em Cuba, e
foram identificadas práticas machistas, homofóbicas e racistas na ilha mesmo após a revolução
deste deve se atentar tanto para os avanços advindos por conta da revolução, quanto para a
manutenção da ordem social, que ainda é presente (Barreto, Hudson & Andrade, 2017). Ou
seja, é imprescindível que as intervenções práticas, desde já, devem ser no sentido de promover
Trabalho
ser humano, aquela que nos diferencia de outros animais, ao mesmo tempo em que é a fonte
dos valores de uso, ou seja, aquilo que o ser humano produz para satisfazer suas próprias
necessidades, sejam elas de qualquer tipo. O fruto do trabalho, visto de forma coletiva, deve
ser o produto social total, de modo que esse trabalho acumulado (a junção das forças naturais
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Do produto social total do trabalho, devem-se deduzir (1) os custos da administração,
que diminuirão a medida em que a nova sociedade se desenvolver (2) a fração que dê garantia
aos direitos básicos (educação, saúde, etc) que crescerá a medida que a nova sociedade se
desenvolver e (3) um fundo de reservas para pessoas que são impossibilitadas de trabalhar.
Na sociedade comunista do futuro não haverá trabalho assalariado, esse dará lugar à
sejam indissociados; o trabalho não será um simples meio de sobrevivência humana e sim uma
doméstico é feito por todos/as, e o trabalho de reprodução social fica mais igualitário e menos
denso, por conta da divisão de tarefas e da engenharia doméstica, que é uma forma de
alcance de todos (socialização dos meios de produção) como consequência de uma vida
cooperativa.
As pessoas pagam 4 (quatro) créditos por dia de trabalho (1200 créditos-trabalho por
ano), dessa forma têm acesso aos bens e serviços da comunidade. Os valores dos créditos são
mudados de acordo com as necessidades da comunidade, de forma que não visam o lucro, mas
também os agradáveis (como cuidar dos jardins) e os desagradáveis (como limpar esgoto), e
para isso há o ajuste dos valores dos trabalhos, de modo que trabalhos desagradáveis têm
valores altos e trabalhos agradáveis têm valores baixos; mas essa esquematização não é fixa,
porque é interessante que todos trabalhem em tudo. Os/as planejadores/as, por exemplo, devem
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pagar parte do seu crédito em trabalhos manuais, estritamente. Entretanto, ninguém trabalha
naquilo que não quer ou que não tem competência para (um transportador de ovos que quebra
muitos ovos, por exemplo). As pessoas não sofrem de trabalho excessivo e não são exploradas.
ampliar, enriquecer e desenvolver o próprio trabalhador, pois é através do trabalho útil que
então, cumpre um papel mais abrangente, mais social, e é necessário para o desenvolvimento
da sociedade como um todo, para aumentar suas forças produtivas e garantir uma riqueza
coletiva, e não individual. Dessa forma, não haverá trabalho assalariado, e sim uma produção
cooperativa que permitirá o ser humano se desenvolver em diversas esferas, em que trabalho
Do mesmo modo ocorre em Walden II, na qual os indivíduos aceitam trabalhar para o
bem da comunidade, sendo que terão suas necessidades atendidas através dos serviços
públicos. Além disso, suas potencialidades são fortalecidas, pois podem trabalhar em muitas
funções diferentes, de modo que não ficam estagnados em um trabalho alienante, e assim
patrão, por exemplo. Dessa maneira, as pessoas se sentem mais úteis, adquirem mais
habilidades em diversas áreas e não têm necessidade de ficarem vinculadas a apenas um tipo
de trabalho.
facilita bastante fazer esse tipo de trabalho, que não é considerado muito criativo. O trabalho
de reprodução social, que na sociedade capitalista é designada para mulheres, ganha um caráter
bem menos sexista, no qual todos os membros da sociedade são responsáveis pelo cuidado com
as crianças e com os afazeres da casa. Davis (2016) coloca uma questão interessante sobre o
problema do trabalho doméstico, no sentido de que, apenas desvincular esse tipo de trabalho
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do sexo feminino não altera a natureza opressiva que está inserida nele. A autora defende que
nem mulheres nem homens deveriam perder horas de vida em algo que “não é nem é
estimulante, nem criativo e nem produtivo” (Davis, 2016, p. 226). Uma possível situação
cozinha.
Administração Pública
Numa sociedade comunista, é incoerente falar em Estado, visto que este serve para o
momento da transição socialismo-comunismo, no qual o proletariado vai fazer uso dele para
submeter seus adversários, tentando superar o modelo atual desse Estado, que é burguês, e
Porém, não se trata de uma perspectiva anarquista, porque “Estado” não deve ser
vinculado à autoridade e poder (Musto, 1874/2014, p. 209) – apesar de ser assim que
federativo, ou Estado formado a partir de sua base (Musto, 1874/2014, p. 211), executando
uma administração pública para segurança, iluminação pública, água potável e todo um
sobre a base de novos ideais; para isso, faz-se necessária, portanto, a tomada do Estado vigente
pelos/as trabalhadores/as.
visando alcançar um acordo geral sobre as leis organizadoras das sociedades, intervenções estas
que começam na fase de transição e vão diminuindo a medida que o acordo geral vai
sociedade; isso porque (1) vão ser necessários mais serviços públicos para satisfazer as
força coletiva (Musto, 2014/1876, pp. 217-218), ou seja, a administração pública deve servir
estado geral da comunidade. Os/as administradores/as, por sua vez, indicam nomes para os/as
Planejadores/as escolherem e cuidam das divisões das várias áreas e serviços. Por exemplo,
Pessoal, de Comportamento Grupal, entre outros. Para ocupar essas funções, as pessoas devem
ter habilidade e preocupação pelo bem estar da comunidade, pois não são eleitos/as pelos/as
Para utilizar os bens e serviços de Walden II, as pessoas pagam com trabalho. As/os
administradoras/es trabalham através de meios engenhosos, que se configuram como fato e não
como teoria, que tem justificação experimental. A sociedade funciona de forma democrática,
controlam por um período de tempo determinado. Não é possível nem necessário um acúmulo
de riqueza em Walden II, já que os/as membros/as recebem serviços médicos (de boa qualidade
burguês/capitalista. Portanto, essa categoria está vinculada ainda com a Fase de Transição, que
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na perspectiva marxista entende-se como socialismo. A administração dos setores da
sociedade (iluminação pública e segurança, por exemplo) será feita a partir da socialização
dos meios de produção, de modo que todos tenham acesso. Para isso, ferramentas legislativas
vão ser usadas, para que aos poucos sejam construídos novos ideais, até que essa ferramenta
não mais seja necessária, ou seja, esse tipo de controle por leis não será necessário pois os
membros da sociedade se comportarão com ideais diferentes. Por outro lado, ferramentas
administrativas serão cada vez mais usadas, pois as necessidades de toda a população devem
ser sanadas, de modo que a administração pública sirva aos interesses da sociedade e não a
interesses privados.
Pública, pois o objetivo também é o bem estar da comunidade, de modo que também não
duas sociedades, em que seus membros recebem serviços públicos (assistência médica,
educação alimentação, lazer) de qualidade e trabalham segundo suas capacidades para o bem
comum.
Economia
herança, dentre outras medidas feitas na fase de transição, que irão subsidiar a instalação de
um banco nacional com capital do próprio Estado, funcionando como centralizador de crédito
nas mãos da administração pública, que vai gerir os serviços públicos seguindo os interesses
do capital dela, de modo que todo trabalho tem que oferecer o retorno para a própria
comunidade. Os créditos-trabalho são um tipo de dinheiro, mas não são moedas nem notas,
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apenas lançamentos em uma conta. Há ajuste do valor do crédito para que os gastem com um
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margem de segurança econômica. Os produtos são coletivizados, as pessoas evitam posses
desnecessárias, e propagandas que incentivam o consumismo não são expostas em Walden II.
meios de produção, os recursos ficarão num banco que atenderá aos interesses da comunidade,
subsidiando os serviços públicos. Walden II, por sua vez, não é uma comunidade
autossuficiente, mas o trabalho que cada indivíduo faz deve retornar à sociedade, pois o
Agricultura e Indústria
em desuso, visando uma associação entre agricultura e indústria, tendo como objetivo superar
comunidade e deve ser feito por todos/as, havendo, dessa forma, certa supressão da oposição
entre campo e cidade, pois os dois são considerados importantes e nenhum trabalho nesses
modo que tanto a agricultura quanto a indústria devem ser aprimoradas, efetivando uma
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produção cooperativa, em que os meios de produção serão socializados/coletivizados. Em
Walden II há ainda a industrialização do trabalho doméstico, o que traz muitos benefícios para
a vida social.
Educação
Nas obras sobre comunismo que foram analisadas, a educação é entendida a partir de
uma perspectiva de educação social, em lugar da educação doméstica, com garantia do direito
à educação pública e gratuita para as crianças, em lugar da exploração a qual seus pais as têm
O cuidado com as crianças, em Walden II, é obrigação de todos/as, por isso o trabalho
ajustam as crianças em séries pré-determinadas, pois cada criança tem o seu desenvolvimento,
e lhes são ensinadas as técnicas de aprender a pensar. As crianças trabalham desde cedo, mas
isso é levado como um esporte ou brincadeira (não há especificação de que tipo de trabalho é
esse). Elas aprendem na prática da própria Walden II, a educação continua indefinidamente,
Até os seis anos de idade, as crianças já receberam toda a educação ética. Além disso,
superior recebem uma educação especial e há comunicação com faculdades externas para que
acessível à toda população, o que lhe dá um caráter de promover mais atividades práticas para
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as crianças, para aprenderem com a experiência das próprias comunidades. Não há exploração
de qualquer tipo, nem das crianças nem de suas famílias, mas já há trabalho produtivo,
rígidos, o que pode garantir qualificação em diversas áreas para jovens e crianças.
Considerações Finais
A sociedade descrita por Skinner, Walden II, possui características muito semelhantes
à sociedade comunista do futuro. Das categorias elencadas nesse trabalho, somente uma
diverge mais explicitamente nas duas comunidades, que é a chamada Fase de Transição. Todas
essenciais; a Economia organizada de modo que não haja acumulação de capital; a Agricultura
o comunismo há de se passar pelo socialismo, sendo que esse processo não tem um tempo de
duração determinado. Em Walden II não há uma transição tão gradual entre as sociedades, de
modo que algumas pessoas planejaram, colocaram em prática e foram se adaptando a partir da
experimentação.
Diante do que foi exposto, pode-se refletir sobre o papel da Análise do Comportamento
Holland (1974/2016) traz contribuições nesse sentido, expondo que os/as analistas do
comportamento comumente exercem práticas que estão alinhadas com interesses dos
governantes que nos controlam, como por exemplo instituições militares, escolares e
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passividade. Entretanto, o autor defende que a atuação pode e deve ser diferente, estando
população e desenvolver aplicações que serão úteis aos controlados, visando o contracontrole
(Holland, 1974/2016). Essas são ações iniciais que podem colocar a ciência do comportamento
humano num caminho diferente do qual está seguindo nos últimos anos. Ademais, ele ainda
que terão seu comportamento mudado” (Holland, 1975, citado por Dittrich, 2019), tese muito
Para que ocorra essa mudança, deve haver um planejamento da transição da sociedade
subjetivas que podem ser feitas na realidade imediata, pois como vimos ao longo desse
trabalho, a fase de transição entre duas sociedades carrega consigo ideais de velha sociedade
que devem ser combatidos, mas que não se modificarão de forma abrupta e automática. Então,
resposta de contracontrole exercida pode ser que o corpo estudantil forneça consequências
reforçadoras positivas para seus membros, como por exemplo, exponha as conquistas políticas
de até então, realize espaços culturais e artísticos, e desse modo, continuem fortalecendo as
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práticas de organização do grupo, além de outras consequências de longo que prazo que
nas sociedades atuais práticas que podem construir o comunismo ou outra sociedade de
(incluindo a Análise do Comportamento, se for o caso) para intervir na realidade. Ou seja, por
seus militantes, dos componentes de sua base política, da sociedade como um todo e de
agências controladoras. O próprio ato de tomar o poder do Estado numa ocasião de revolução
pode ser lido como o apoderamento de agências controladoras com o objetivo de estabelecer
23
por Skinner. A partir de pesquisas desse caráter é possível avaliar, inclusive, em que medida o
Referências
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1(1), 57-70.
Parker, & R. Spears (Eds.), Psychology and society: Radical theory and practice. 81-92.
27
Apêndices
Apêndice A
Fichamento do Livro
Livro:
Capítulo/Tópico/Carta:
Resumo:
Definição de características:
28
Apêndice B
Fase de transição
Administração Pública
Trabalho
Economia
Agricultura e Indústria
Educação
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