Você está na página 1de 114

Accelerat ing t he world's research.

O Homem Delinquente Cesare


Lombroso
Marcos Junior

Related papers Download a PDF Pack of t he best relat ed papers 

I S (,0 lV' RT UA I CRÍT ICA DO DIREIT O PENAL


It alo Fernandes

O Cavaleiro no século XX: As Represent ações da Cavalaria Medieval em AS Brumas de Avalon (1983)
Lucas Trévia de Oliveira

A permanência da filosofia na obra adorniana. Um est udo sobre o significado da filosofia após a sua n…
amaro fleck
.;::;
~~~' .;1\/,

'".
,-

Cesare Lombroso

D a d o s I n te r n a c io n a is d e C a ta lo g a ç ã o n a P u b lic a ç ã o (C IP )
( C ã m a r a B r a s ile ir a d o L iv r o , S p ' B r a s il)

L o m b ro so , C e sa re , 1 8 8 5 -1 9 0 9 . o HOM EM D E L IN Q U E N T E
O h o m e m d e lin q ü e n te / C e s a r e L o m b r o s o ;
tr a d u ç ã o S e b a s tiã o J o s é R o q u e . - S ã o P a u lo :
Íc o n e , 2 0 0 7 . - ( C o le ç ã o f u n d a m e n to s d e d ir e ito )

T ítu lo o tig in a l: U o m o d e lin q u e n te .


IS B N 9 7 8 -8 5 -2 7 4 -0 9 2 8 -5

1 . A n tr o p o lo g ia c r im in a l 2 . C r im e s e c r im in o s o s
3 . C r im in o lo g ia 4 . D ir e ito - F ilo s o f ia I . T ítu lo . . Tradução e Seleção:
lI . S é tie . S e b a s tiã o José R oque
.. A d v o g a d o e A s s e s s o r J u r íd ic o E m p r e s a r ia l
P r o f e s s o r d a U n iv e r s id a d e S ã o F r a n c is c o ,
0 7 -1 2 5 8 C D U - 3 4 3 .9 1 • • •c a m p i" d e S ã o P a u lo e B r a g a n ç a P a u lis ta
tr P r e s id e n te d a A s s o c ia ç ã o B r a s ile ir a d e A r b itr a g e m - A B A R
Í n d ic e s p a r a c a tá lo g o s is te m á tic o : L A u to r d e 2 6 o b r a s ju r íd ic a s
1. D e lin q ü e n te s : A n tr o p o lo g ia c r im in a l: Á r b itr o e M e d ia d o r
D ir e ito p e n a l 3 4 3 .9 1

r
fi1<
l' r e im p r e s s ã o - 2 0 1 0

--Icone
j
i
i edi.tora

I
I

I
- - - - - - ~ ._ - ---~ -~ ------~ -
;
II
@ C o p y rig h t 2010.
Íc o n e E d ito ra L td a .

T ítu lo O rig in a l
L 'U o m o D e lin q u e n te

T ra d u ç ã o
S e b a stiã o Jo sé R o q u e

V ID A E OBRA DE CESARE LOM BROSO


C a p a e D ia g ra m a ç ã o
A n d ré a M a g a lh ã e s d a S ilv a
1 . B io g r a fia d e C e s a r e L o m b r o s o - 2 . O b r a s - 3 . A E s c o la
R e v isã o P o s itiv a d o D ir e ito P e n a l - 4 . I d é ia s s u c e s s o r a s à s d e L o m b r o s o
R o sa M a ria C u ry C a rd o so 5 . S u p e r a ç ã o d a M e d ic in a 'L e g a llo m b r o s ia n a
;
~-

1 . B io g ra fia d e C e sa re L o m b ro so
P ro ib id a a re p ro d u ç ã o to ta l o u p a rc ia l d e sta o b ra ,
d e q u a lq u e r fo rm a o u m e io e le trô n ic o , m e c â n ic o , C e sa re L o m b ro so n a sc e u m i c id a d e d e V e ro n a , b e m
in c lu siv e a tra v é s d e p ro c e sso s x e ro g rá fic o s, c o n h e c id a c o m o a te rra d e R o m e u e Ju lie ta , e m 1 8 3 5 . Q u is
se m p e rm issã o e x p re ssa d o e d ito r e stu d a r m e d ic in a , m a tric u la n d o -se n a U n iv e rsid a d e d e P a v ia ,
(L e i n º 9 .6 1 0 /9 8 ). la u re a n d o -se e m 1 8 5 8 , a o s 2 3 a n o s. P ro fissio n a lm e n te , fo i
m é d ic o , e in te le c tu a lm e n te u m filó so fo .
~ C om eçou o e x e rc íc io d a m e d ic in a im e d ia ta m e n te ao
T o d o s o s d ire ito s re se rv a d o s p e la se r la u re a d o m é d ic o , e sp e c ia liz a n d o -se m a is n a p siq u ia tria .
, A o se r n o m e a d o d ire to r d o m a n ic ô m io n a c id a d e d e P e sa ro ,
•.
ÍC O N E E D IT O R A LTDA.
I in ic io u su a lig a ç ã o c o m o s d o e n te s m e n ta is, a q u e m d e d ic o u
R u a A n h a n g u e ra , 5 6 - B a rra F u n d a
!';'
g ra n d e p a rte d e se u s e stu d o s e su a v id a . Im p o rta n te fo i su a
C E P 0 1 1 3 5 -0 0 0 - S ã o P a u lo - S P t
v iv ê n c ia p siq u iá tric a , a o re la c io n a r a d e m ê n c ia c o m d e lin -
F o n e !F a x .: (1 1 ) 3 3 9 2 -7 7 7 1 ••f q ü ê n c ia . S u a s e x p e riê n c ia s n e ssa á re a fo rn e c e ra m a e le a s
w w w .ic o n e e d ito ra .c o m .b r ~ b a se s p a ra a p ro d u ç ã o d e su a o b ra G ê n io e L o u c u r a , p u b lic a d a
li
II
e -m a i!: ic o n e .le n d a s@ ic o n e e d ito ra .c o m .b r fiJ em 1870.

.J.•.
I
I

!
C edo tam bém passou a ser m édico da penitenciária de quem L om broso fala constantem ente. A E scola P ositiva do
T urim e de outras cidades; foi nom eado m édico m ilitar, o D ireito P enal surgiu com a vida de L om broso, no século X IX .
que justifica seu vínculo intelectual com os delinqüentes e
U m apego positivo aos fatos, por exem plo, é o estudo
os m ilitares, m orm ente os m arinheiros. G rande parte de suas
dedicado às tatuagens, com base nas quais L om broso fez elas-
pesquisas contou com a-participação-de m arinheiros.
sificaçãodos aiversõs tipos de crim inosos. "D edicou ex;íus~ tivos
A os 30 anos assum e a cátedra na F aculdade de M edi- estudos a essa questão, investigando centenas de casos e lou-
cina de T urim , que só deixou no final de sua vida. vando-se nos estudos sobre as tatuagens, desenvolvidos por
vários cientistas, com o L acassagne, T ardieu, de P aoli, e até
2. O bras m esm o os da antiga R om a. F ato constatado e positivo é que
os dem entes, em grande parte, dem onstram tendência à
• 1874 -G ênio e loucura tatuagem , a par de outras tendências estabelecidas, com o a
• 1876 -O hom em delinqüente insensibilidade à dor, o cinism o, a vaidade, falta de senso
• 1891 -O delito m oral, preguiça, caráter im pulsivo .

• 1891 -O anti-sem itism o e as ciências m odernas O utro apego científico, para justificar suas teorias, foi
a pesquisa constante na m edicina legal, dos caracteres físicos
• 1893 -A m ulher delinqüente, a prostituta e a m ulher
e fisiológicos, com o o tam anho da m andíbula, a conform ação
,. norm al
do cérebro, a estrutura óssea e a hereditariedade biológica,
• 1893 -A s m ais recentes descobertas e aplicações da
referida com o atavism o. O crim inoso é geneticam ente deter-
psiquiatria e antropologia crim inal
m inado para o m al, por razões congênitas. E le traz no seu
• 1894 - O s anarquistas âm ago a rem iniscência de com portam ento adquirido na sua
• 1894 - O crim e, causas e rem édios evolução psicofisiológica. É um a tendência inata para o crim e.
P elas idéias de L om broso, e é o ponto m uito criticado
3. A E scola P ositiva do D ireito P enal de sua teoria, o crim inoso não é totalm ente vítim a das cir-
cunstâncias sociais e educacionais desfavoráveis, m as sofre
L om broso não foi só criador da A ntropologia C rim inal, pela tendência atávica, hereditária para o m al. E nfim , o delin-
m as suas idéias revolucionárias deram nascim ento a várias qüente é doente; a delinqüência é um a doença.
iniciativas, com o o M useu P siquiátrico de D ireito P enal, em
T urim . D eu nascim ento tam bém à E scola P ositiva de D ireito
, A reação desfavorável à teoria lom brosiana baseia-se
na consideração de que ele despreza o livre-arbítrio e não
P enal, m ovim ento de idéias no D ireito P enal, constando da
deve o crim inoso ser responsabilizado, um a vez que ele não
form a positiva de interpretação, baseada em fatos e inves-
tem forças para lutar contra seus ím petos. E ssa idéia seria a
tigações científicos, dem onstrando inspiração do positivism o
~ form a de defesa dos advogados crim inalistas. T odavia,
de A ugusto C om te. M ais precisam ente, a escola de L om broso

I
L om broso não era defensor dos crim inosos; o crim inoso de
é a do positivism o ev.olucionista, inspirada por D arw in, de
ocasião deveria ser segregado da sociedade, por ser perigo

~-
c o n s ta n te p a ra e la . E le n ã o fa la e m p e n a d e m o rte , m as se 4. Id é ia s s u c e s s o ra s à s d e L o m b ro s o
m o s tra fa v o rá v e l a e la e à p ris ã o p e rp é tu a .
É p a te n te a in flu ê n c ia d e L o m b ro s o s o b re s e u s p o s te rio -
N um o p ú s c u lo p u b lic a d o em 1 8 9 3 , d e n o m in a d o As
re s , n a s á re a s d o D ire ito P e n a l, d a C rim in o lo g ia e d a M e d ic in a
~mais recen.cesflescobercase aplicações d a psiquiatria e antropologia L e g a l. É p rin c ip a lm e n te n a A n tro p o lo g ia C rim in a l, c iê n c ia
criminal, L o m b ro s o e x p re s s a o s e g u in te p e n s a m e n to : d a q 'u a l'e lê fo i o fu n d a d o r, 'é o m a c o la b o n iç a o â in d a em v id a
d e F e rri e G a ro fa lo , que L o m b ro s o assum e papel d e m a io r
" N a re a lid a d e , p a ra o s d e lin q ü e n te s -n a to s re le v â n c ia . Ín tim a s u c e s s o ra d e le fo i s u a filh a , G in a L o m b ro s o
a d u lto s não há m u ito s re m é d io s ; é n e c e s s á rio F e rre ro , b ió g ra fa e c o la b o ra d o ra , re s p o n s á v e l p e la d iv u lg a ç ã o
is o lá -lo s p a ra s e m p re , nos casos in c o rrig ív e is , e in ic ia l d e s u a s id é ia s . A liá s , G in a c o la b o ro u com o pai em
s u p rim i-lo s quando a in c o rrig ib ilid a d e o s to rn a v á ria s o b ra s .

d e m a s ia d o p e rig o s o s " . O u tra filh a d e L o m b ro s o , P a o la , n o ta b iliz o u -s e na peda-


g o g ia e n a p s ic o lo g ia in fa n til, e s c re v e n d o n u m e ro s a s h is tó ria s
in fa n tis e c ria n d o a p s ic o lo g ia in fa n til, c o m n ítid a in flu ê n c ia
A pesar d a c ru e z a e a d u re z a d e s e u p e n s a m e n to , Lom -
d e s e u ilu s tre p a i. O m a rid o d e P a o la , n o tá v e l c rim in a lis ta
b ro s o p ro c u ra s e r b ra n d o c o m a s p a la v ra s , m a s o tre c h o a c im a
M á rio C a rra ra , e s c re v e u v á ria s o b ra s d e D ire ito P e n a l e C rim i-
e x p o s to n o s fa z ,e n te n d e r q u e a ú n ic a s o lu ç ã o é a m o rte ou,
n o lo g ia . C a rra ra fo i a in d a o d ire to r do M useu d e P s iq u ia tria
quando m u ito , a p ris ã o p e rp é tu a .
e C rim in o lo g ia , c ria d o p o r L o rn b ro s o . e m 1 8 9 8 . L o m b ro s o
T o d a v ia , v a m o s . re p e tir. q u e L o m b ro s o . n ã o c o n s id e ra
. te v e c in c o filh o s , m a s s ó G in a e P a o la a d q u irira m fa m a . G in a
d e s c u lp á v e l o c o m p o rta m e n to d e litu o s o , causado p o r te n d ê n - p o r s u a v e z fo i c a s a d a c o m o h is to ria d o r G u ilh e rm e F e rre ro ,
c ia s h e re d itá ria s . N ão apenas o s tra ç o s fís ic o s e c e rta s fo rm a s g ra n d e d iv u lg a d o r d a te o ria lo m b ro s ia n a .
b io ló g ic a s le v a m o ser hum ano a o c rim e . O u tra s c a u s a s e x is -
In fe liz m e n te , a fa m ília d e L o m b ro s o s o fre u p e rs e g u iç ô e s
te m e e s ta s p o d e m m a s c a ra r o u a n u la r a s te n d ê n c ia s m a lé -
p o r s e r d e o rig e m is ra e lita , sendo o b rig a d a a re fu g ia r-s e na
v o la s d e c e rto s in d iv íd u o s . N ã o s e ju s tific a a re n ú n c ia à lu ta ,
S u íç a , o que v e io a tru n c a r o tra b a lh o d e d iv u lg a ç ã o das
p o r p a rte d o d e lin q ü e n te e d o s q u e e s te ja m a s u a v o lta , c o n tra
o b ra s d o m e s tre . A p rin c íp io , a Itá lia fa s c is ta n ã o tin h a c o n o -
o s fa to re s c o n g ê n ito s o u in a to s q u e o in c lin a m p a ra a v id a
ta ç ã o a n ti-s e m ita , m a s o tra ta d o com a A le m a n h a n a z is ta
d e litu o s a . fe z o p a ís a c o m p a n h a r a p e rs e g u iç ã o a o s ju d e u s ; e m b o ra L o m -
O s fa to re s e x tra s s ã o m u ito v a ria d o s : o c lim a , o g ra u b ro s o já fo s s e fa le c id o , s u a fa m ília s o fre u a s c o n s e q ü ê n c ia s
• d e c u ltu ra e c iv iliz a ç ã o , a d e n s id a d e d e p o p u la ç ã o , o a lc o o - d a o rig e m .
lis m o , a s itu a ç ã ó e c o n ô m ic a , a re lig iã o . A c o n s id e ra ç ã o dada O s s u c e s s o re s m a is im p o rta n te s d e L o m b ro s o e p a rtic i-
a e s s e s fa to re s to rn a p é tre o u m C ó d ig o P e n a l p a ra u m v a s to p a n te s d o tra b a lh o e d o s e s tu d o s d o g ra n d e m e s tre , fo ra m
p a ís , p o is e m c a d a re g iã o p re d o m in a m fa to re s m u ito d ife re n te s . G a ro fa lo e F e rri. R a ffa e lle G a ro fa lo (1 8 5 1 -1 9 2 0 ) fo i c o m
M a is d e u m s é c u lo d e p o is , p a re c e q u e a s id é ia s d e L o m - L o m b ro s o e F e rri fu n d a d o r d a E s c o la P o s itiv is ta d o D ire ito
b ro s o ganham c o rp o (p e lo m enos n o B ra s il a tu a l. P e n a l e d a C rim in o lo g ia ; e le c o n s id e ra v a e s ta c o m o o con-

li'l
I'
1'1'1 .,~;4.,..
"" ~ ~ -~

:J
junto de conhecim entos referentes ao crim e e ao crim inoso.
seu esforço e pelo tipo de educação que receber. O ser hum a-
Seus estudos previram a form ação da Psicologia Crim inal.
no é, portanto, fruto do m eio em que vive e se desenvolve.
Por outro lado, Enrico Ferri (1856-1929), professor da Ele pode nascer doente, m as a doença pode ter cura, o que,
U niversidade de Turim , era advogado crim inalista e pendeu ~?ttás, Lom !:>Joso nunç~J)egou. ,,~_
m aispara0 aspecto sociológiéô;~éoque atesta sua m ais i~por-
Segundo os crim inalistas, o autor de um crim e deveria
tante obra: Sociologia Criminal, publicada em 1892. Fez parte ser então encam inhado a um m édico e não a um juiz. O utros
da com issão elaboradora do Código Penal italiano, m as o afirm am que m uitos crim inosos se recuperam e outros en-
projeto dessa com issão foi substituído por outro. Ferri form ou traram na vida crim inal em fase adiantada de sua vida, tendo
com G arofalo, Ferrero, Carrara, G ina e Paola, os grandes revelado anteriorm ente vida norm al. Poderíam os estar gene-
vultos da Escola Positiva do D ireito Penal, m as esta escola ralizando alguns fatos isolados. É a razão pela qual a Escola
teve poucos seguidores, um a vez que as idéias da M edicina Positiva do D ireito Penal teve curta duração, e sua revives-
Legal evoluíram para outra direção. cência, m uitos anos m ais tarde, m udou os critérios adotados,
a princípio, por Lom broso.
5. Superação da M edicina Legal Lom brosiana Todavia, o m undo todo reverenciou a figura de Lom -
"
,; broso, com o a cidade de São Paulo, que deu o nom e de "Pro-
O s m odernos cultores da M edicina Legal consideram
fessor César Lom broso" a um a rua no bairro do Bom Retiro.
fracas as teorias lom brosianas. A s pesquisas nos crânios e
Entretanto, são incontáveis os m éritos de Lom broso,
esqueletos não chegam a form ar segura conclusão sobre as
segundo reconhecem os próprios críticos. Estudou apaixo-
correlações da ossatura com o com portam ento psicológico.
nadam ente, m as com seriedade e dedicação, durante anos e
O s fatos são insuficientes para autorizar a tendência heredi-
sem esm orecim ento, o crim e e suas causas, bem com o a figura
tária (atávica) de um ser hum ano para a vida crim inal, cau-
do crim inoso. M uitas de suas conclusões tornaram -se rele-
sada pela conform ação física.
vantes e úteis ao direito. É m arcante seu em penho à procura
A s pesquisas de Lom broso ocorreram por volta de 150 das causas do crim e e seus rem édios; procurou ainda conhecer
anos atrás, quando não havia recursos suficientes para os o crim inoso e suas diferenças do ser hum ano com um e norm al.
exam es, com o por exem plo, o D N A . Lom broso não pôde
É conveniente ainda ressaltar que não apenas os fatores
contar com dados m ais seguros e científicos em que pudesse
atávicos, hereditários, influenciaram a tendência para o
se basear.
t. crim e. O m eio am biente, a educação, o clim a e vários outros
A lguns de seus críticos se apegam até m esm o na litera- fatores foram analisados e invocados por Lom broso. O livre-
tura, com o a história dos irm ãos corsos: eram xifópagos e do t' arbítrio não foi colocado à m argem . H á pois um com plexo
m esm o sangue; nasceram ligados e foram separados. Todavia, •..l'I' de fatores influenciando a form ação do delinqüente.
viveram em am bientes diferentes e cada um form ou seu tipo •• U m fato, porém , foi confirm ado pela psicologia m oder-
de personalidade. Portanto, pode o crim inoso nascer com
na e por m uitas teorias m édicas e psicológicas: há correlação
certos caracteres degenerados, m as poderá m odificar-se por
entre o físico e o psíquico, ou seja, a conform ação física pro-

,I'

11:1, '"~ti,-(.""i'"
voca caracteres psicológicos e psiquiátricos, e vice-versa. P or
outro lado, os sucessores de L om broso defenderam a teoria
de que fatores psicológicos influenciam a form ação fisiológica
e os caracteres físicos. P or exem plo, a vida crim inal acaba na
form ação de caracteres fís;cos,~de iiC fõrm a que o crim inoso
pode trazer na face os traços reveladores de sua vida facino-
rosa. D a m esm a form a com o estados de angústia, inveja, in-
conform ism o, revolta, vingança, ódio, desavenças na fam ília,
no trabalho e dem ais am bientes em que vive o ser hum ano,
podem causar transtornos na sua fisiologia, com o diabete, ,
úlceras, desacertos de pressão, hipertensão arterial, aum ento Indice
da, taxa de colesterol e outros fatores patológicos.

1. O S D E L IT O S E O S O R G A N IS M O S IN F E R IO R E S , 21
1. A s aparências do delito nas plantas e nos anim ais, 2I
2. O delito no m undo zoológico, 23
3. M orte para o uso das fêm eas, 24
4. M orte por defesa, 25
5. M orte por cobiça, 25
6. M ortes belicosas, 26
7. C anibalism o sim ples, 26
8. C anibalism o com infanticídio e parricídio, 26

2. T A T U A G E N S NOS D E L IN Q Ü E N T E S , 29
1. C olaboradores, 29
2. C rim inosos, 32
3. O bscenidade, 33
4. M ultiplicidade, 34
5. P recocidade, 36
6. A ssociação. Identidade, 36
7. C ausas: R eligião - Im itação - E spírito de vingança -
" O ciosidade - V aidade - E spírito gregário - P aixão -
I ;..,"
1, P ichação - P aixões eróticas - A tavism o, 37
I lili ~. 13
:''t" -ç
'F<.,o("'"'I''''~''''~
':i ~.-<'F,-",t!;!

8 . T atu ag em n o s d em en tes, 4 4 1 0 .V aid ad e,6 8


9 . T rau m as, 4 5 1 1 . A lco o lism o e jo g o , 6 9
1 2 . T en d ên cias o b scen as, 7 0
1 3 . Im itaçõ es, 7 0
..3 . S O B R E A S E N S IB IL ID A D E G E R A L , 4 7 ..
. , .. ~ .-T 4 .'D eseh v o lv iin en to d a d erriên ciã"rrió raC 7 r" ~~
1 . A n alg esia, 4 7
2 . S en sib ilid ad e g eral, 4 8
6 . C A S U ÍS T IC A (d e d elito s n o s m en in o s), 7 3
3 . A lg o m etria, 4 8
4 . S en sib ilid ad e táctil, 4 9
7 . S A N Ç Õ E S E M E IO S P R E V E N T IV O S D O C R IM E D O S
5 . V isão , 4 9
M E N IN O S , 8 5
6 . A cu id ad e v isu al, 5 0
7 . S en sib ilid ad e m ag n ética, 5 0
8 . S en sib ilid ad e m eteó rica, 5 0 8. D A S PEN A S, 87
9 . D in am o m etria, 5 1 1 . O s p rim ó rd io s d as p en as, 8 7
1 0 . C an h o tism o , 5 1 2 . V in g an ça p riv ad a, 8 8
1 1 . A n o m alias d a m o b ilid ad e, 5 2 3 . V in g an ça relig io sa e ju ríd ica, 8 9
:tl
,".
'I" 4 . P rep o tên cia d o s ch efes. D elito s co n tra as p ro p ried ad es, 8 9
K' 4 . S O B R E A S E N S IB IL ID A D E A F E T IV A , 5 3 5 . T ran sfo rm ação d a p en a. D u elo , 9 1
1 . A u sên cia d ela (L acen aire e M artin ati), 5 3 6 . C astig o . R estitu ição , 9 3
2 . T ro p p m an n e B o u tellier: In d iferen ça à p ró p ria m o rte, 5 4 7 . O u tras cau sas d a co m p en sação , 9 3
3 . O s crim in o so s d ian te d a ex ecu ção , 5 6 8 . P o sses p atrim o n iais, 9 4
4 . C o n clu são , 5 8 9 . C h efes, 9 5
1 0 . R elig ião , 9 5
5 . A D E M Ê N C IA M O R A L E O S D E L IT O S E N T R E A S 1 1 . S eitas, 9 6
C R IA N Ç A S , 5 9
1 2 . A n tro p o fag ia ju ríd ica, 9 7
1 . C ó lera, 5 9
1 3 . C o n clu são , 9 7
2 . V in g an ça, 6 1
3 . C iú m es, 6 1
9 . S U IC ÍD IO D O S D E L IN Q Ü E N T E S , 99
4 . M en tiras, 6 2
5 . S en so m o ral, 6 4 1 . F req ü ên cia. T em p eratu ra, 9 9
6 . A feto , 6 5 2 . P risão . É p o ca d a d eten ção d o s d elin q ü en tes, 100
ti
7 . C ru eld ad e, 6 6 3 . Im p rev id ên cia e im p aciên cia, 1 0 1

I
8 . P reg u iça e ó cio , 6 7 4 . R elaçõ es co m a ten d ên cia ao crim e, 1 0 3
9 . G íria, 6 8 " 5 . A n tag o n ism o , 1 0 4

14 (~, 15
:" '~ ~ - .
~
, , • • •;O ~ '"
r

6. Suicídio indireto e misto, 105 11. Assassinos, 142


7. Suicídio por superstição, 105 12. Ociosos e vagabundos, 143
8. Suicídio simulado, 106 13. Delinqüentes geniais, 144
9. Suicídio duplo, 107 14. Delinqüentes científicos, 148
1O.'SuiCídio nos~dementesáimiri.osos, 108 '~ 15. Comparação com a inteligência âcis deriú,;ntes;--150

10. AFETOS E PAIXÕES NOS DELINQÜENTES, 1I 1


13. REINCIDÊNCIA PRÓPRIA E IM PRÓPRIA. M ORAL
1. Afetos, 111 DOS DELINQÜENTES, 153
2. Instabilidade, 113 1. Estatísticas italiana, russa e francesa das reincidências, 153
3. Vaidade, 113 2. Reincidência e sistemas prisionais. Crimes nas prisões, 154
4. Vaidade do delito, 114 3. Reincidência e instrução, 156
5. Vingança, 115 4. Reincidência imprópria: Reincidência segundo os vá-
6. Crueldade, 116 rios crimes - Reincidentes jovens - Provérbios popula-
7. Vinho e jogo, 118 res - Senso moral, 156
8. Outras tendências, 121 5. Remorsos, 160
9. Comparação com os dementes, 124 6. Não sentem, ainda quando compreendem o mal. Idéia
10. Comparação com os selvagens, 125 da justiça freqüentemente certa, 163
7. Injustiça recíproca, 167

11. A RELIGIÂO DO DELINQÜENTE, 127 8. Comparação com os dementes, 169


9. Comparação com os selvagens, 170
10. Origem provável da justiça, 171
12. INTELIGÊNCIA E INSTRUÇÂO DOS DELIN-
QÜENTES, 133
14. ]ARGÂO (GÍRIA), 173
1. Dados estatísticos, 133
1. Atributos substitutos, 173
2. Preguiça, 135
2. Documentos históricos, 174
3. Inconstância mental, 136
3. Desfiguração de palavras, 174
4. Imprevidência, 136
4. Palavras estrangeiras, 175
5. Especialistas do delito, 138 5. Arcaismos, 175
6. Envenenadores, 140 6. Caracteres e índole das gírias, 175
7. Pederastas, 140 7. Difusão, 176
8. Estupradores, 141 ~;-- 8. Gênesis do jargão, 177
I 9. Ladrões, 141 9. Gíria em sociedades, 177
I! 10. Estelionatários, '142 10. Caracteres: extravagâncias, 178
I ~
~
I 1!
''I 16 u.. '-- .
4R'o~ ..••.•...
17
Il~
11
I!" , ,"'.
E;"';:'.
-- -" --- .._-- _ .. - ------ - '---- . .~ ~ ----
-----,----.
fl,
.'
11. Causa: contato, 179
(

19. Atividade doentia, 207


12. Causa: tradição, 179 20. Pretensões de diferenças, 207
13. Causa: atavism o, 180 • 21. Prem editação, 208
14. Causa: prostitutas, 181 22. Espírito de associação, 209
15. Dem entes, 182 ~",.
23. Vaidade ao deli io~210" .
24. Sim ulação, 211
~ 15. ASSOCIAÇÃO PARA O M AL, 185 25. Sintom atologia da dem ência m oral nas outras, 211
1. Banditism o, m áfia e cam orra, 185
26. Histologia patológica da dem ência m oral, 211
2. Sexo, idade, condição, 186
27. A hereditariedade da dem ência m oral, 212
3. Organização, 186
4. Cam orra, 187
17. FORÇA IRRESISTÍVEL NO ÍNTIM O DOS DELIN-
5. M áfia, 188
6. Código dos crim inosos, 190
.,. QÜENTES M ORAIS, 217
~ 1. Força irresistível, 217
2. Força irresistível dos crim inosos. Confissões, 220
i: 16. DEM ENTES M ORAIS E DELINQÜENTES NATOS, 193 3. Outros exem plos de crim inosos, 220
1. Justas hesitações, 193 4. Livre arbítrio, 223
t.~!
1 > 2. Estatísticas dos dem entes m orais, 195
:;1 "
3. Peso, 196
4. Crânio, 196
5. Fisionom ia, 197
6. Insensibilidade à dor, 198
7. Tato, 199
8. Tatuagem , 199
9. Reação etílica, 199
10. Agilidade, 200
11. Sexualidade, 200
12. Senso m oral, 200
13. Afetividade, 203 J
14. Altruísm o, 203
15. Vaidade excessiva, 204
I
16. Inteligência, 204

l' 18
17. Astúcia, 206
18. Preguiça, 206 ,,'
I
1t
1% <-
19
!t
'!', ," ., ...• ,'~'"' '.
',' -
', ,,! ~ """-"'~..
.
r

,-
,

1. Os D E L IT O S E OS

O R G A N IS M O S IN F E R IO R E S

1. P.s .aparências d o delito nas plantas e n o s animais


delito n o mundo zoológico - 3 . Morte para o uso
2. O
das fêmeas - 4 . Morte por defesa -- 5 . Morte por cobiça
ó. Mortes belicosas - 7 . Canibalismo simples
8. Canibalismo com infanticídio e parricídio

1 . A s a p a rê n c ia s do d e lito nas p la n ta s e nos a n im a is

A pós te r E s p in e s a p lic a d o o e s tu d o d a z o o lo g ia à s c iê n -

c ia s s o c io ló g ic a s e A g n e tti à s e c o n ô m ic a s e H o u g la n à s p s ic o -

ló g ic a s , e ra n a tu ra l que a nova e s c o la p e n a l, que ta n to se

se rv e d o s m o d e rn o s e s tu d o s s o b re a e v o lu ç ã o , p ro c u ra sse a p li-

cação d e le s à a n tro p o lo g ia c rim in a l, e te n ta s s e , a n te s , fa z e r

d e le s o p rim e iro fu n d a m e n to . R e a lm e n te , à m in h a p rim e ira

te n ta tiv a a e s te p ro p ó s ito se g u e -se lo g o o u tra de L acassagne

e um e s tu d o , q u e , s e p o d e ria d iz e r, q u a s e c o m p le to , d e F e rri.

A ta re fa p a re c e bem s im p le s ; d ir-s e -ia a n te s , dar um

o lh a r s u p e rfic ia l a o s fe n ô m e n o s n a tu ra is com apenas o s m ío -

p e s c rité rio s hum anos, p a ra 's e v e r c o m o o s a to s re p u ta d o s ,

21
..•.•. .- ....•••• - .,....- ,. ----- . -~ -- - '~ 7 - _ .- ._ ,

J;,
,
nós, com o m ais crim inosos, sejam os m ais naturais. S ão " se m ais que as crinas cruzadas deixam escapar o inseto m iúdo
lifusos e freqüentes nas espécies anim ais e até nas plantas, que não servia para sua nutrição.
, ndo-nos com o bem disse R enan na natureza o exem plo N as Pinguicoles, as gotas de água não fazem encrespar
'"ais im placável.insensibilidacle e clfl IT laiqJi111or~ Jidad~ ~ '., as folhas e nem absorvem a substância sólida que não seja
Q uem não conhece as belas observações que, depois
ot'
orgâci~ a. O s fluídos não';';itrogénados~ m as densos,provocam ..
~ '

'arw in, D rude, K olm , R ies e W ill, fizeram sobre as plantas a secreção das glândulas, m as não copiosa nem ácida, en-
lÍvoras, em não m enos do que onze espécies de droserá- quanto que m uito copiosa e fatal seja a secreção e o rápido
, quatro de saracênias, cinco de nepentáceas, onze de ultri- encurvam ento quando se trata de um corpo azotado (com o
rias, além do Cephalotus follicularis, que com etem verda- de um inseto).
;.os assassinatos entre os insetos. Q uando, por exem plo, A Genlisea ornara prende os pequenos anim ais precisa-
inseto, por m enor que seja, até m esm o m ais leve do que m ente com o os pescadores usam na arm adilha para a enguia .
.,i m ilésim o de gram a fica sobre o disco folhar de um a dro-
':a e parece que nem sem pre isso acontece por acaso, m as
2. O delito no m undo zoológico
,crai com o odor de certas secreções da folha, é, por esta

r4:
.~ ,;;tam ente envolvido e com prim ido por num erosos tentá- T anto m ais clara se torna a analogia quando se passa ao
; .•. : '.los, cerca de 192 por folha, que se com prim em nas costas m undo zoológico. E já pelos crim es de m orte entre os anim ais,
~~
.
,',' 1 dez segundos, e atingem em um a hora e m eia o centro da
..• ~-
F erri pôde distinguir não m enos de 22 espécies, das quais não
}
~j ;("na. S ó se relaxam quando a vítim a estiver m orta e parcial- poucas são análogas àquela contem plada nas nossas coletâneas.
'"."... " 'ente digerida, graças a um ácido e um ferm ento m uito aná-
~ -;
A ssim , a m orte pela procura de alim ento, da qual creio
,C ;oà nossa pepsina, segregada em grande quantidade pelas
inútil dar exem plos, tantos são eles com uns, e correspon-
'Jndulas. E stas glândulas agem sobre o tentáculo vizinho e
deriam aos nossos delitos por causa da fom e ou da carestia.
us circunstantes, com m ovim ento sim ilar, crê D arw in, àque-
D a m esm a form a, os m aus-tratos e a m orte pela chefia do
do m oto reflexo nos anim ais.
grupo, que seriam os nossos delitos por am biç~ o e outros, e
• Q uando um inseto pousa de um lado do disco folhar, que se vêem nos cavalos, touros e veados.
tentáculos circunstantes se curvam sobre o ponto de exci-
B asta um a m acaca entrar na jaula de um jardim zooló-
ção, em qualquer parte que seja; o im pulso m otor, quando gico, as com panheiras exam inam os m úsculos e os dentes
defende de um a ou m ais glândulas, atravessa o disco, pro- dela, exam inando os lábios para ver se é o caso de respeitá-
~ ga-se até a base dos tentáculos vizinhos, age por sua vez
la, ou se a possam m altratá-la im punem ente. A i dos m acacos
ÍJre um ponto de excitação, aum enta a secreção das glându- pequenos e débeis, de dentes curtos, ou vacilantes, se não
" e a acidifica, e estas por sua vez, agem sobre o protoplasm a.
encontrarem protetores que gostam de proteger e acariciar
N a Dionea muscípula não se provocam as contrações os pequenos, ainda que sejam de espécies diferentes.
i
's crinas hom icidas com sopro ou corpo líquido, m as apenas O m acaco que tenha dente m ais robusto e m ais longo
,m corpo sólido, que sejam nitrogenados e úm idos. N ota- é adulado, esfregado, acariciado pelos m ais débeis; as hom e-
\
23
I"",
."i~l.J.l i,.;-,';" .•.
""~n.
".~
••
~
f"
n a g e n s se e ste n d e m ta m b é m à su a p ro le , a in d a q u e se ja fe ia o s d o is a d v e rsá rio s, e n tre la ç a n d o c o m v ig o ro so g o lp e d e c a b e -
e ra q u ític a .
••
ç a o s se u s c h ifre s, n ã o c o n se g u e m m a is p a ra r e su c u m b e m .
-.
O s g o rila s c o stu m a m te r u m só c h e fe , u m m a c h o a d u l-
to . A ra z ã o é a d e q u e o m a is fo rte c a ç a se m p re o s o u tro s e o s
4 . M o rte ~ e ,< > rd e fe sa
m a ta ~ 'O s jo v e n s m a ê h o s; d e p 6 isq ü e c i-e s'c e m 'e a .d q tiire m ~ ' -
to d a a su a fo rç a , a ta c a m o s v e lh o s e n ã o se d e tê m e m m a tá - S a b e -se q u e o s h a b ita n te s d e u m a c o lm é ia n ã o a c e ita m
lo s q u a n d o q u e re m liv ra r-se d e le s. O s rarpans, c a v a lo s se lv a - a b e lh a s e stra n g e ira s e m se u m e io . U m a p ic u lto r p e g o u u m a
g e n s d a R ú ssia , se b a te m c o m irrita ç ã o p e lo c o m a n d o , que a b e lh a e a c o lo c o u n o m e io d e o u tra s q u e e sta v a m d e se n ti-
c a b e a u m só . n e la n a e n tra d a d a c o lm é ia . E sta s c a íra m so b re a in tru sa in -
A s a b e lh a s só tê m u m a ra in h a e se a c a so su rg ire m a lg u - v o lu n tá ria , m a ta ra m -n a e a a tira ra m fo ra d o lo c a l. P o d e a c o n -
m a s c o n c o rre n te s, e sta s sã o m o rta s. T a m b é m é c o lo c a d a à te c e r q u e u m a ra in h a te n d o -se p e rd id o , v o lta n d o do vôo
m o rte a v e lh a ra in h a q u a n d o n a sc e a su a riv a l. A v e lh a so b e - n u p c ia l, se in tro d u z a n u m a c o lm é ia a lh e ia , c u ja e n tra d a e ste ja
ra n a , p o r su a v e z , fa z to d a s a s te n ta tiv a s p a ra to rn a r im p o ssív e l m a l p ro te g id a ; nada p o d e ria sa lv á -la d a m o rte c e rta ,p e la
; fo m e , p o r su fo c o o u p o r v e n e n o .
a a sc e n sã o a o tro n o d e su a riv a l; p re c ip ita -se n o s a p o se n to s ,
q u e g u a rd a m a ra in h a -la rv a , fe re e m a ta to d a s a s h a b ita n te s. É sa b id o q u e o s m a c h o s tê m a ú n ic a m issã o d e fe c u n d a r
a ra in h a , e n q u a n to q u e a s a b e lh a s o p e rá ria s p ro v ê m à m a n u -
te n ç ã o d a so c ie d a d e d e la . P o ré m , n o o u to n o , a o fim d o v e rã o ,
3 . M o rte p a ra o u so d a s fê m e a s
u m a v e z te rm in a d o o v ô o n u p c ia l e c o m e ç .a n d o a e sc a sse z d e
P a ra to d o s o s a n im a is d e g e ra ç ã o se x u a l é tã o c o m u m a lim e n to s, a s o p e rá ria s a p u n h a la m o s m a c h o s c o m se u s fe r-
a lu ta d o s m a c h o s p a ra sa tisfa z e r o in stin to d e p ro c ria ç ã o ou rõ e s, o u o s e x p u lsa m d a c o lm é ia , q u a n d o e n tã o e le s m o rre m
a p o ssa r-se d a fê m e a e e ste fa to d e u o rig e m à h ip ó te se d a rw i- d e frio e m e la n c o lia .
n ia n a d a e sc o lh a se x u a l.

C o m o a m o r c re sc e o c iú m e e o ó d io c o n tra o riv a l; 5 . M o rte p o r c o b iç a


c o m b a te m -se a sp e ra m e n te e a té o s m a is tím id o s to rn a m -se
o u sa d o s e lu ta d o re s. O s le õ e s, o s tig re s, o s ja g u a re s, o s le o p a r- A s fo rm ig a s, q u e c ria m o s a fíd io s p a ra c h u p a r a d o c e
d o s sã o te rrív e is n a s lu ta s a m o ro sa s. H e rn e c o n ta q u e o s b o is se c re ç ã o d e le s, p re fe re m c o m a ra p in a c u id a r d e se u re b a n h o .
a lm isc a ra d o s se c o n fro n ta m d e fo rm a tã o e n c a rn iç a d a nos F o re l o b se rv o u u m a c o lô n ia d e fo rm ig a s exeere a g re d ir in tre p i-
m o m e n to s d e e x c ita ç ã o se x u a l q u e m u ito s m o rre m e a s fê - d a m e n te d o is n in h o s d e o u tra s d u a s e sp é c ie s. D e p o is d e h a v e r
m e a s e n tã o e x c e d e m , n e ssa e x c ita ç ã o , os m achos e m a lta e x te rm in a d o m u ito s in im ig o s, a s a ssa lta n te s se p re c ip ita ra m
p ro p o rç ã o . B re h m fa la d a s lu ta s a m o ro sa s d o s g a to s, d o s so b re o s filh o te s q u e a li c re sc ia m e d e ra m c a ç a d e sa p ie d a d a
c a n g u ru s, d o s c a m e lo s. O s c e rv o s e o s a lc e s e stã o e n tre o s à s fo rm ig a s, p a ra a p o d e ra r-se d o s a fíd io s d e la s.
m a is e n c a rn iç a d o s litig a n te s. O s c e rv o s d a V irg ín ia sã o tã o Ig u a lm e n te e n c a rn iç a d a s sã o a s g u e rra s e m p re e n d id a s
fe ro z e s n a lu ta q u e tra v a m d u ra n te o d ia in te iro , e , à v e z e s, d e te m p o s e m te m p o s p e la s fo rm ig a s a m a z ô n ic a s p a ra c u id a r

,
24
J_ 25
I
l'
d o m a io r n ú m e r o
q u e e la s c r ia m
p o s s ív e l d e c r is á lid a s d e f o r m ig a s e s c r a v a s ,
e m r e g im e d e s e r v id ã o . P e lo m e s m o m o tiv o
J e m m u ita s e s p é c ie s
r o s , u m a in f e r io r id a d e
a n im a is , c o m o e m a lg u n s p o v o s b á r b a -
d o c o rp o p o d e se r c a u sa d e d e sp re z o
a s f o r m ig a s sanguines a s s a lta m o s n in h o s d a s a m a z o n a s e e m - ~ e v e rg o n h a . V im o s u m a g a lin h a que tin h a . a lg u n s f ilh o te s .1 .

p re e n d e m e x p ~ d iç õ e ~ p le p a s d e p e r ip é c ia s . '"<'- d é b e is - e d õ e n te s , àbandon~r o ~ in h o c ~ m a p a r te sã de sua


~ p r o le , sem s e in c o m o d a r com a s o r te d a q u e le s pequenos

6 . M o r te s b e lic o s a s l ,
in f e liz e s ..,

í, C om o c e r to s p á ssa ro s ro m p e m s e u o v o e d e s tr o e m
T o d o s s a b e m q u e m u ito s a n im a is , a in d a q u e d a m e s m a seu n in h o quando p e rc e b e m que fo ra m to c a d o s ; com o
e s p é c ie , tr a v a m , f r e q ü e n te m e n te ,
d a s in d ir e ta m e n te
g u e r r a e n tr e s i, d e te r m in a -
p e la lu ta p o r s u a s o b r e v iv ê n c ia , m as com
I
I
c e r to s r a to s d e v o r a m
E n tr e os m acacos,
s e u s f ilh o te s q u a n d o
a s fê m e a s d o hapales
s ã o p e r tu r b a d o s .
com em a cabeça e
\
. o f im im e d ia to d e m a ta r p o r m a ta r . É f a to s u g e s tiv o que o jo g a m s e u s f ilh o s c o n tr a u m a á rv o re , q u a n d o e s tã o c a n s a d a s
.;;-
g o r ila , la n ç a n d o - s e
c o m p a rá v e l
a o c o m b a te ,
a o d o s e lv a g e m ,
s o lta
e s e a r r e m e te
um g r ito d e g u e rra ,
s o b r e o in im ig o II
d e le v á - lo s .

;'"

':t,
t\.
c o m a f ú r ia e o e x c e s s o d o h a b ita n te
m e n to
d a f lo r e s ta . M a s , o s e n ti-
d e e x c lu s ã o e d e o p o s iç ã o n ã o s e m a n if e s ta e m p a r te I
~.
,-

"'".;;.,
. a lg u m a tã o n o tá v e l

7 . C a n ib a lis m o
c o m o e n tr e

s im p le s
a s f o r m ig a s e o s c u p in s .

•,
:.in .

" M a lg r a d o o p r o v é r b io , o s lo b o s s e c o m e m e n tr e s i; a s s im
a c o n te c e ta m b é m c o m o u tr o s a n im a is : u m e n g o le o o u tr o .
N o z o o ló g ic o d e L o n d r e s , d u a s s e r p e n te s v iv ia m na m esm a
g a io la ; u m d ia o g u a r d a d o z ô o te v e te m p o d e s a lv a r a s e r p e n te
m e n o r q u e já e s ta v a n a g o e la d a m a io r .
I
8 . C a n ib a lis m o com in f a n tic íd io e p a r r ic íd io I L
,-

ú n ic a
T am bém
f a n ta s ia
m a te r n o
p a r a o s a n im a is , n o ta r a m
s o b r e a f o r ç a in a ta do sangue,
e f ilia l s o f r e g r a v e s d e s m e n tid o s
H ouseau e F e r r i, a
so b re o a m o r
p e la o b s e r v ã n c ia
II "

d o s J a to s m a is c o m u n s . I
-!
A s f ê m e a s d o s c r o c o d ilo s com em , m u ita s vezes, seus
,< '.
,1,
f ilh o te s q u e n ã o s a b e m ;. n a d a r . M a s , é p r e c is o o b se rv a r que ~, ti.,
N
~l 'iV"'
<,(-
~ ,z:
26 27
"1',t~.
••.•~
-;!< ~ .

-- - -~ .•. i; '",,*I.
",.~ ...••.
~- ~ - - - - - - - --- ---~ ----------
r
•,

._ -;::" : . _ ~ , '" ,. ~ - _ . ~ . ~ . . - - .

2. TATUAGENS NOS D E L IN Q Ü E N T E S

1 . C o la b o ra d o re s o - 2 . C rim in o so s - 3 . O b sc e n id a d e
4 . M u ltip lic id a d e - 5 . P re c o c id a d e - 6 . A sso c ia ç ã o .
':-, '::.~~ Id e n tid a d e - /. C a u sa s: R e lig iã o - Im ita ç ã o - E sp írito
d e v in g a n ç a - O c io sid a d e - V a id a d e - E sp írito g re g á rio _
";,,,.
P a ix ã o - P ic h a ç ã o - P a ix õ e s e ró tic a s - A ta v ism o
8 . T a tu a g e m n o s d e m e n t e s - 9 . T ra u m a s

1 . C o la b o ra d o re s

T e m o s tra ta d o a té a g o ra d o s c a ra c te re s s o m á tic o s dos


d e lin q ü e n te s e m g e ra l, h a v e n d o e n o rm e d ific u ld a d e d e te r
s o b re a m e s a a n a tô m ic a e m e s p é c ie , e ta m b é m a s ilu s tra ç õ e s
e m á lb u m fo to g rá fic o , d o c u m e n to s q u e d is tin g u e m o s d e lin -
q ü e n te s -n a to s d o s h a b itu a is o u d o s o c a s io n a is . V im o s c o m o
o s c a ra c te re s d ife re n c ia d o re s d o h o n e s to vêm d im in u in d o e
ta m b é m d e sa p a re c e n d o nos d e lin q ü e n te s m e n o re s, por
p a ix ã o e s o b re tu d o n o s d e lin q ü e n te s d e o c a s iã o .

O q u e c o rre s p o n d e b a s ta n te à q u e la g ra n d e d iv e rs id a d e
e m re la ç ã o à re in c id ê n c ia c rim in a l, d a q u a l in s is te F e rri n o s
s e u s e s t u d o s s o b r e L im ite s d a A n tro p o lo g ia C rim in a l, q u e m u d a -

29
I'.~
ra m a o rie n ta ç ã o
c o n e c ta n d o -a
q u e e u h a v ia im p rim id o
c o m a p rá tic a fo re n s e .
a e s ta p e s q u is a ,
.~
'"l

.1
v e z n o te i
ponesa,
a fig u ra in te ira
com
d e u m a m u lh e r
u m a flo r n a m ã o , e , o u tra
v e s tid a de cam -
v e z , v i u m b re v e
~ v e rs o d e a m o r.
D e s te s h o m e n s q u e c o n c e n tra m n o o rg a n is m o h u m a n o
~
ta n ta s a n o m a lia s , c o m o n o s c rim e s , ta n ti'L c o o s tã n c ia .o a s r~ L n - O s s ím b o lo s d e g u e rra s ã o o s m a is fre q ü e n te s n o s m ili-
c id ê n c ia s , p re te n d o e s tu d a r a b io lo g ia e a p s ic o lo g ia . E c o m e - 'f
.~
ta re s e é riâ i:ú ra l; c o m o o s q u e c o n c e rn e m à p ro fis s ã o
tu a d o , e s ã o d e s e n h a d o s c o m ta l fin u ra e re a lis m o n a s m in ú -
d o ta -
ç a re i d a c a ra c te rís tic a q u e é m a is p s ic o ló g ic a d o q u e a n a tô - i
m ic a : a ta tu a g e m . ~ c ia s , q u e tra z e m à m e n te a m in u c io s a p re c is ã o d a a rte e g íp c ia

U m a d a s c a ra c te rís tic a s m a is s in g u la re s do hom em


I e m e x ic a n a .

A q u e le s q u e tra z e m e s s a c a ra c te rís tic a s ã o g e ra lm e n te


p rim itiv o

o p e ra ç ã o
o u e m e s ta d o
q u e s e s o b re p õ e a e s ta ,
q u e re c e b e u
d e s e lv a g e ria
a n te s
e x a ta m e n te
c irú rg ic a
é a fre q ü ê n c ia
do que
em
e s té tic a ,
d e u m a lín g u a o c e â n ic a ,
I p ie m o n te s e s e lo m b a rd o s , O s s ím b o lo s , d e p o is , s e re d u z e m à
é p o c a d o a lis ta m e n to , e s c rita e m c ifra s , c o m o p o r e x e m p lo
o nom e d e ta tu a g e m . T am bém na Itá lia e s ta p rá tic a se 1 8 6 0 , o u n a d a ta d e u m a b a ta lh a m e m o rá v e l, à q u a l a s s is tira
e n c o n tra d ifu n d id a sob o nom e de marca, sinal, m as só o s o ld a d o ; o u a a rm a d o p ró p rio c o rp o ; o u a to d a s e s s a s c o is a s
n a s ín fim a s c la s s e s s o c ia is ; n o s c a m p o n e s e s , m a rin h e iro s , re u n id a s . U m c a n h ã o d a n d o tiro s ; o u d o is c a n h õ e s c ru z a d o s
" o p e rá rio s , p a s to re s , s o ld a d o s , e m a is a in d a e n tre o s d e lin - I n u m triâ n g u lo s u p e rio r, o u u m a p irâ m id e d e b a la s n u m triâ n -
.~,~
.. , q ü e n te s ; e s ta , p e la g ra n d e fre q ü ê n c ia , c o n s titu i um novo
I g u lo in fe rio r, s ã o s ig n o s p re fe rid o s d a a rtilh a ria d e c a m p a n h a ,
;-:

':.•. ': e e s p e c ia l c a rá te r a n a tô m ic o -le g a l, e d o q u a l d e v e re i d e p o is d a e s p é c ie d o s q u e s e rv ira m n a Á u s tria . U m m o rte iro d e b o m -


';; '.
','
m e ocupar
ta d o
lo n g a m e n te ,
e e x a m in a d o ,
s e e x p lic a no hom em
m a s n ã o s e m a n te s
p e la ju s ta
n o rm a l.
c o m p a ra ç ã o ,
haver
de que m odo
le v a n -

I !I
b a é o s ig n o d a a rtilh a ria

m a rin h e iro s .
d e te rra ; u m a b a rc a , u m b a rc o
v a p o r, u m a â n c o ra s ã o o s s in a is p re fe rid o s p e lo s fu z ile iro s e
D o is fu z is e m c ru z , d u a s b a io n e ta s
s ã o s ím b o lo s p re d ile to s d a in fa n ta ria ;
e n tre la ç a d a s
o c a v a lo , d a c a v a la ria .
a

C onsegui a lc a n ç a r is to c o m o e s tu d o d e 9 .2 3 4 in d iv í-
U m a v e z e n c o n tre i u m c a v a lo n u m c a v a le iro e u m e lm o n u m
duos, d o s q u a is 3 .8 8 6 s o ld a d o s h o n e s to s e 5 .3 4 8 c rim in a is ,
e x -b o m b e iro .
o u m e re triz e s o u s o ld a d o s d e lin q ü e n te s , e n tre e le s 2 0 0 m u lh e -
re s , 3 7 8 fra n c e s e s e is s o g ra ç a s a a ju d a e p a c iê n c ia d e m a is D e p o is d o s s ím b o lo s p ro fis s io n a is , o s p re d o m in a n te s
de um a dezena d e m é d ic o s . s ã o o s d a re lig iã o , e é n a tu ra l a quem conhece o e s p írito
d e v o to d e n o s s o p o v o . T o d a v ia , d e v o a c re s c e n ta r q u e m u ito s
O lh a n d o o s v e rd a d e iro s s ím b o lo s , a q u e a s ta tu a g e n s
d e le s fo ra m fe ito s a n te s d e e n tra r n a m ilíc ia , e que são
a lu d e m , o c o rre u -m e d is tin g u ir ta tu a g e m s o b re o a m o r, re li-
fo rn e c id o s p e lo s p a s to re s d a L o m b a rd ia o u p e lo s p e re g rin o s
g iã o , g u e rra e p ro fis s ã o . S ã o tra ç o s e te rn o s d a s id é ia s e d a s
d e L o re to . C o n s is te , o m a is d a s v e z e s , d e u m a c ru z p o s ta e m
p a ix õ e s p re d o m in a n te s n o h o m e m d o p o v o . O s d e a m o r e ra m
c im a d e u m a e s fe ra , e m u m c o ra ç ã o (lo m b a rd o s ).
com uns e n tre o s lo m b a rd o s e p ie m o n te s e s . São o nom e ou

'I".~;.
a s in ic ia is d a m u lh e r a m a d a , e s c rito s e m le tra s m a iú s c u la s ; D esenho quase e x c lu s iv o d o s h a b ita n te s d a E m ilia -
ou a época d o p rim e iro a m o r; o u u m o u m a is c o ra ç õ e s tre s p a s - R o m a g n a e d a p o p u la ç ã o d e C h ie ti e d e Á q u ila é o c o n ju n to
sados por um a fle c h a ; ou d u a s m ã o s q u e s e a p e rta m . Uma d e trê s le tra s IH S c o m u m a c ru z n o a lto . À s v e z e s , e s s e

30 31

J , .i.'..;.
,~.,
~•,1 ,'>,';;
rj
sím b o lo e n c o n tra -se e m in d iv íd u o s d e o u tra s re g iõ e s, c o m o ' .• d e v irilid a d e , e e ra n a a rm a d a p ie m o n te sa a d o ta d o s p e lo s
c a la b re se s, lo m b a rd o s, q u e fo ra m a A n c o ra e d e p o is a L o re to , m a is c o ra jo so s.
p o r a c a so o u d e p ro p ó sito , ta lv e z e m p e re g rin a ç ã o , e re c o rd a m
a ssim a c o n te c im e n to fe liz n a p ró p ria c a rn e . 1 O e stu d o m in u c io so d o s v á rio s d e se n h o s a d o ta d o s p e lo s
d e lin q ü e n te s d e m o n stra c o m o a lg u m a s v e z e s a ssu m e m não
o' E n tre 'o s v á rio s d e se n h o s, a lg u n s sã o d e p o u c o sig n ifi- ~ "t só 'e sjje c ia l fre q ü ê n c ia , m a s u m 'c u n h 6 to â b p a rtic u la r, c rim i~
c a d a , c o m o flo r, á rv o re , a n e lo u a s p ró p ria s in ic ia is. O u tro s n a l. R e a lm e n te , e m q u a tro so b re 1 6 2 d e le s a ta tu a g e m ex-
sã o m a is im p o rta n te s; u m c o m o re tra to d a ra in h a d e N á p o le s p rim ia e stu p e n d a m e n te o â n im o v io le n to , v in g a tiv o , o u tra ç o
e a p a la v ra G a e ta , e ra c o m o rg u lh o m o stra d o p o r u m v e te - d e d e sp u d o ra d o s p ro p ó sito s. U m tin h a , n o p e ito , n o m e io d e
ra n o , u m b o u rb o n . C in c o v e z e s n o te i u m d e se n h o m u ito b iz a r- d o is p u n h a is, in sc rito o triste c h iste : " ju ro v in g a r-m e " ; e ra
ro , q u e m e fo i re v e la d o , o ra fig u ra n d o u m a ta rã n tu la , o ra u m a n tig o m a rin h e iro p ie m o n tê s, e ste lio n a tá rio e h o m ic id a
u m a rã , q u a tro v e z e s e m n a p o lita n o s, c in c o v e z e s e m sic ilia - p o r a to d e v in g a n ç a . U m v ê n e to , la d rã o e re in c id e n te , tin h a
n o s, su je ito s d e se re m filia d o s à C a m o rra : m a s n ã o m e fo i n o p e ito a s p a la v ra s: " m íse ro e u , c o m o d e v e re i a c a b a r? " , lú g u -
p o ssív e l sa b e r o sig n ific a d o p re te n d id o , n e m e u fic a ria su r- b re s p a la v ra s q u e re c o rd a v a m a q u e la s ta m b é m lú g u b re s q u e
p re so e m a c re d ita r q u e fo sse u m re c o n h e c im e n to , c o m o , se F e lip e , o e stra n g u la d o r d e m e re triz e s, tin h a d e se n h a d o , m u i-
não m e engano, u m n ã o m u ito d ife re n te , tin h a m o s c a rb o - to s a n o s a n te s da condenação, n o b ra ç o d ire ito : " n a sc id o
n á rio s e m 1 8 1 5 . U m a rtilh e iro tin h a ,u m a se re ia , q u e a p e rta v a so b m á e stre la " . T a rd ie u n o to u u m m a rin h e iro , já e n c a rc e -
u m p e ix e n a s m ã o s, d e se n h a d a c o m e sm e ro d e u m a m in ia - ra d o , c o m a ta tu a g e m : " se m e sp e ra n ç a " , e m la rg a s le tra s n a
tu ra , d e c o r v e rm e lh a e a z u l. T rê s in d iv íd u o s q u e e stiv e ra m fro n te . D ir-se -ia q u e o d e lin q ü e n te te m g ra v a d o n a p ró p ria
n a le g iã o e stra n g e ira n a Á fric a tin h a m u m a m e ia -lu a ; d o is c a rn e o p re ssá g io d e se u fim . O u tro c o lo c o u n a fro n te : " m o rte
o u tro s, v in d o s d a Á fric a , o ste n ra v a m a fig u ra d e u m tu rc o a o s b u rg u e se s" , so b o d e se n h o d e u m p u n h a l.
c o m o c e tro n a m ã o e u m a fa ix a n o d o rso .

3 . O b sc e n id a d e
2 . C rim in o so s
O u tro in d íc io n o s o fe re c e a o b sc e n id a d e d o d e se n h o ,
É e sp e c ia lm e n te n a triste c la sse d o h o m e m d e lin q ü e n te o u a re g iã o d o c o rp o e m q u e a ta tu a g e m v e m se n d o p ra tic a d a ,
q u e a ta tu a g e m a ssu m e u m c a rá te r p a rtic u la r, e e stra n h a te n a - c o m o o s p o u c o s q u e m o stra ra m d e se n h o s o b sc e n o s, o u tra ç a -
c id a d e e d ifu sã o . V im o s já , c o m o a tu a lm e n te n a m ilíc ia , o s d o s e m p a rte s im p u d ic a s, e ra m fre q ü e n te s e n tre a n tig o s d e se r-
d e te n to s a p re se n ta m u m a fre q ü ê n c ia o ito v e z e s m a io r de to re s e n c o n tra d o s n o s c á rc e re s. E m 1 4 2 d e lin q ü e n te s, e x a m i-
ta tu a g e n s d o so ld a d o liv re ; a o b se rv a ç ã o to rn a -se tã o c o m u m , n a d o s p o r m im ,c in c o tin h a m ta tu a g e n s n o p ê n is. T rê s tra z ia m
q u e u m d e ste s, so lic ita d o p o r m im p o r q u e n ã o tin h a ta tu a - a o lo n g o d o p ê n is a fig u ra d e m u lh e r; u m tin h a d e se n h a d o
g e m , re sp o n d e u -m e : " p o rq u e sã o c o isa s q u e fa z e m o s c o n d e - n a g la n d e o ro sto d e m u lh e r; u m tin h a a in ic ia l d e su a a m a n te ,
n a d o s" . S o u b e p o r u m ilu stre m é d ic o m ilita r, c o m o o s ta tu a - o u tro u m m a ç o d e flo re s. E sse s fa to s re v e la m n ã o só a im p u d i-
d o s se c o n sid e ra m , a priori, c o m o m a u s m ilita re s. E sta m o s c ic ia , m a s a e stra n h a in se n sib ilid a d e d e le s, p o r se r e sta u m a
lo n g e d a é p o c a e m q u e a ta tu a g e m c o n sid e ra v a -se p ro v a d a s re g iõ e s m a is se n sív e is à .d o r.

32 33

L~
~
U m m o r to p o r e s f a q u e a m e n to tin h a o b ra ç o e o p e ito em to d a s a p a r te s d o c o r p o . O b se rv e i n e le s 1 0 0 s in a is n o s
ta tu a d o s com desenho d e m u lh e r e s suspendendo a s s a ia s . "1 b ra ç o s, n o tr o n c o e no abdom e, c in c o n a s m ã o s , tr ê s n o s
O u tr o q u e tin h a e s ta d o n a le g iã o e s tr a n g e ir a , d e p o is d e p r a ti- •• d e d o s , o ito n o p ê n is , tr ê s n a c o x a .
c a r h o m ic íd io ta tu o u s e u m e m b r o v ir il n o b r a ç o . L a c a s s a g n e , 1
t, .._. _ _ . L a c a s S ! lg n g , e m 3 6 7 t! ltu a d o s .e n c o n tr o u :
•••••••••••• _. __ ••••• _ •• 0 .0 ••••••
u m n o s d o is " '_
e n l 1 " :3 3 3 ta tu a g e h s â F ttim in O s O s ; e h c o n tr o u O h z e 'n ó p ê n is ,- = ="
b r a ç o s e n o v e n tr e a p e n a s , q u a tr o n o s d o is b r a ç o s e n a s c o x a s ,
2 8 0 e m b le m a s a m o r o s o s , o u m e lh o r lú b r ic o s : b u s to d e m u lh e r , j o ito n o p e ito , q u a tr o s 6 n o v e n tr e , o n z e n o p ê n is , 2 9 e m
• m u lh e r n u a , f ig u r a s q u e r e le m b r a m c o ito e m p é ; m a is u m a
I to d o o c o r p o , 4 5 n o s d o is b r a ç o s e n o p e ito , 8 8 s 6 n o b r a ç o
s é r ie d e c e n a s e r ó tic a s im p o s s ív e is d e se re m d e s c r ita s . No ! d ir e ito , 5 9 só n o e sq u e rd o , 1 2 7 s ó n o s d o is b r a ç o s . O u tr o ,'
v e n tr e , e m b a ix o d o u m b ig o p r e f e r e m
c o s , c o m o in s c r iç õ e s d e s s e tip o : " to r n e ir a
s e m p r e a s s u n to s
d o a m o r", "p ra z e r
lú b r i-
I
1
q u e tin h a p a s s a d o m u ito s a n o s e m p r is ã o , n ã o tin h a , f o r a a s

I f a c e s e a s c o s ta s , u m a s 6 s u p e r f íc ie la r g a q u e n ã o e s tiv e s s e
d a s m u lh e r e s " , "venham , s e n h o r ita s , à to r n e ir a d o a m o r",
" e la p e n s a e m m im " . T ã o v a r ia d o é o s e n tim e n ta lis m o que I ta tu a d a .
c im a , u m a s e r p e n te
N a te s ta e s ta v a e s c r ito " m á r tir d a lib e r d a d e "
d e o n z e c e n tím e tr o s e s o b o n a r iz u m a
e, em

",
f a z a s m u lh e r e s h is té r ic a s

O s p e d e r a s ta s , te n d o
b a b a re m -se

m a io r
to d a s .

te n d ê n c ia q u e o s o u tr o s
I
\
c r u z q u e tin h a

T a r d ie u o b s e r v o u
te n ta d o c a m u f la r c o m tin ta .

u m la d r ã o ta tu a d o to ta lm e n te com
~:

,.,~~
p a r a a g r a d a r a o u tr e m , tê m m a is ta tu a g e n s , e ta lv e z d a s e s p e - ! u n if o r m e d e a lm ir a n te . Um p o e ta s e n tim e n ta l tin h a , a lé m
c ia is . Q u a tr o d e le s , p e s q u is a d o s por L acassagne, tin h a m as I,
i:.l>_~.
..~ :- . j
d e ta tu a g e m o b s c e n a , u m n a v io n o b r a ç o e s q u e r d o , c o m d u a s
><:'-,-
;:~' m ãos m a rc a d a s, as duas com in ic ia is e em c im a d e la s a in ic ia is d a a m a n te e e m b a ix o o d a m ã e ; n o p e ito u m a s e r p e n te
!;t- in s c r iç ã o " a a m iz a d e u n e d o is c o r a ç õ e s " . Q u a tr o o u tr a s in i- I,
e d u a s b a n d e ir a s ; n o b r a ç o d ir e ito o u tr a s e r p e n te , um a ânco-
'.~t'
t
c ia is d o a m a n te e s o b u m c o r a ç ã o in f la m a d o o u c o m a p a la v r a
" a m iz a d e " . Q u a tr o vezes o nom e d o a m ig o ; e m u m c a s o o
i r a , e u m a m u lh e r v e s tid a to ta lm e n te .
a n é is n o s d e d o s , u m a c o b r a n o b r a ç o d ir e ito e u m a b a ila r in a
O u tr o hom em tin h a

s e u n o m e e , e m c im a , o r e tr a to d e le . P e d e r á s tic a ta m b é m me n o e sq u e rd o .
p a r e c e a in s c r iç ã o " a m ig o d o c o n tr á r io " .
O lu g a r d a ta tu a g e m , e s o b r e tu d o o n ú m e r o , s ã o d e g r a n -
É p ro v á v e l q u e e s te s f o s s e m a q u e le s p r is io n e ir o s em d e im p o r tâ n c ia a n tr o p o ló g ic a , p o r q u e p r o v a m a v a id a d e in s tin -
que L acassagne e n c o n tr o u , n a s n á d e g a s , s ím b o lo s lú b r ic o s ; tiv a q u e é c a r a c te r ís tic a n o c r im in o s o . U m la d r ã o v e n e z ia n o
u m o lh o e m c a d a n á d e g a , u m m e g a n h a c tu z a n d o u m a b a io - I tin h a n o b r a ç o d ir e ito u m a á g u ia d e d u a s c a b e ç a s , a o la d o o
""f n e ta q u e s u s te n ta u m a b a n d e ir o la e m q u e e s tá e s c r ito "não i n o m e d a m ã e e o d a a m a n te L u ig ia , c o m e s ta e p íg r a f e , s in g u -
. e n tr a " , u m a s e r p e n te q u e s e d ir ig e a o â n u s . la r p a r a u m la d r ã o : " L u ig ia , c a r a a m a n te , m e u ú n ic o c o n f o r to " !

4 .' M u ltip lic id a d e

O u tr o c a r a c te r ís tic o d o s d e lin q ü e n te s , q u e tê m e m c o -
I
I b r a ç o d ir e ito
O u tr o
g o s, u m a c ru z , u m c o ra ç ã o
tr a z ia n o p e ito e n o s b r a ç o s tr ê s in ic ia is d e a m i-
p e rfu ra d o .
u m p á ssa ro c o m u m c o ra ç ã o
O u tr o la d r ã o tin h a n o
n o b ic o , e s tr e la s ,
u m a â n c o ra e u m m e m b ro v ir il. U m vagabundo tin h a d o is
m u m c o m o s s e lv a g e n s e o s m a r in h e ir o s é o d e im p r im ir d e s e -
.:.{
v a so s, d u a s c ru z e s, u m c a c h im b o , r o s to d e b e d u ín o , nom e
n h o s n ã o s ó n o s b r a ç o s 'e n o p e ito , c o m o é d e u s o g e r a l, m a s o u so b re n o m e .

34
~: 35
"~ :~u.:
;~ar.
r
\1
lid a d e
T o d a e ssa m u ltip lic id a d e é n o v a p ro v a d a p o u c a se n sib i-
à d o r, q u e o s d e lin q ü e n te s tê m e m c o m u m com os
nJ A ssim , 2 2 tin h a m a d a ta d e a p re se n ta ç ã o
m e n to c o m o m ilita r, 2 4 a in ic ia l d e se u n o m e , 7 o n o m e d e
e e n g a ja -

se lv a g e n s. , a m ig o s o u d e a m a n te s, 1 2 o sig n o d e u m a p ro fissã o , u m m ilita r


..
'f~
o d e u m so ld a d o , o u tro d e u m a b a n d e ira , o te rc e iro o da
á g u ia a u st1 -ia e a "'u rn g a fib à ld in õ ' a D u sto d e G a rib a ld i; um
5 . P re c o c id a d e 1 m a rin h e iro o ste n ta v a u m a â n c o ra e u m n a v io .
O u tro fa to q u e d istin g u e a ta tu a g e m d o s d e lin q ü e n te s A v a n ta g e m q u e p o d e n o s tra z e r e ssa re v e la ç ã o in v o -
é a p re c o c id a d e ; se g u n d o T a rd ie u e B e rc h o m , a ta tu a g e m n ã o lu n tá ria é tã o c o n h e c id a d o s d e lin q ü e n te s q u e o s m a is sa g a z e s
se o b se rv a , n a F ra n ç a , a n te s d o s 1 6 a n o s e m p e sso a s n o rm a is. e v ita m ta tu a r-se o u te n ta m re m o v e r a s e x iste n te s e d o is d e le s
E n tre ta n to , e n c o n tra m o s ta tu a d o s a p a rtir d e 5 a té 2 0 a n o s; m e c o n fe ssa ra m a re m o ç ã o . O u tro s m u d a ra m o s v e lh o s d e se -
I
n h o s, so b re p o n d o n o v a s, c o m v á ria s c o re s. E m 8 9 ré u s ta tu a -
e n tre 3 7 8 c rim in o so s, h a v ia 9 5 ta tu a d o s n e ssa fa ix a e tá ria .
!\
B a ttiste le , e m N á p o le s, 1 2 2 ta tu a d o s n o g ru p o
n o to u d o s, 71 fo ra m ta tu a d o s n o s c á rc e re s o u n o re fo rm a tó rio , o ito

d e 3 9 4 m e n o re s d e u m re fo rm a tó rio , 3 1 d o s q u a is e ra m o s
p io re s; u m d e le s, p o r 'e x e m p lo , tra n sfe rid o d o re fo rm a tó rio I n a c a se rn a , q u a tro
D e 5 0 ta tu a g e n s,
n o s sa n tu á rio s, q u a tro n a p ró p ria c a sa .
3 7 e ra m c o lo rid a s d e a z u l, 6 d e v e rm e lh o ,

I
1 d e p re to , 6 d e a z u l e v e rm e lh o .
p o r se r in c o rrig ív e l, a n te s d e p a rtir tra ç o u n a p a re d e , p a ra
a lg u n s a m ig o s, e x o rta ç ã o v e e m e n te p a ra p e rd u ra re m n o m a l;
e sse s a m ig o s e ra m to d o s ta tu a d o s. 7 . C a u sa s

S e ria c u rio so a o a n tro p ó lo g o p e sq u isa r a c a u sa p e la


6 . A sso c ia ç ã o . Id e n tid a d e q u a l se m a n té m n a s c la sse s b a ix a s e n a s c rim in o sa s e ste u so
tã o p o u c o v a n ta jo so e a té p re ju d ic ia l. V a m o s te n ta r, e n tre ta n to .
E sse s fa to s m o stra m -n o s c o m o o s e stu d o s d a ta tu a g e m
p o d e m c o n d u z ir a lg u m a s v e z e s a o s tra ç o s d e a sso c ia ç õ e s c ri-
m in o sa s; n o te i q u e m u ito s c a m o rrista s tra z ia m sin a l p a rtic u - A - Religião
la r; u m tin h a n o b ra ç o u m a lfa b e to m iste rio so q u e d e v ia se rv ir
A re lig iã o , q u e p o d e ta n to n o s p o v o s e q u e ta n to te n d e
p a ra c o m u n ic a r-se
o s d e te n to s a d o ta m
se c re ta m e n te , c o m o n u m c á rc e re e m q u e
u m a lfa b e to p a ra e sc re v e r u m jo rn a l se -
II a c o n se rv a r o s a n tig o s h á b ito s e c o stu m e s, c o n trib u iu c e rta -
j m e n te p a ra m a n te r e sse u so . A q u e le s q u e se ja m d e v o to s d e
c re to , se g u n d o L a c a ssa g n e .
u m sa n to a c re d ita m q u e , te n d o -o n a p ró p ria p e le , d ã o -lh e
T am bém o s d e se n h o s d e ta tu a g e m que nada tê m d e p ro v a d e a fe to . S a b e m o s q u e o s fe n íc io s ta tu a v a m -se n a fro n te
p a rtic u la r, q u e to rn a m c o m u m in te ira m e n te o s d e lin q ü e n te s c o m sím b o lo s d iv in o s. N a ilh a M a rsc h a ll a c re d ita -se q u e se
c o m o s c id a d ã o s, p a sto re s, m a rin h e iro s, podem se r ú te is à d e v e p e d ir a D e u s p e rm issã o p a ra ta tu a r-se , e , p o r isso , só o s
Ju stiç a e à m e d ic in a le g a l: a ju d a m e x a ta m e n te p a ra re v e la r a sa c e rd o te s fa z e m e sse se rv iç o . E n tre o s m e m b ro s d a ig re ja
id e n tid a d e d o in d iv íd u o , a su a re g iã o , o s a c o n te c im e n to s im - I
O rto d o x a , a m u lh e r q u e n ã o te n h a ta tu a g e m n ã o g o z a rá d a
p o rta n te s d e su a v id a . e te rn a sa n tid a d e .
[

I
36 37
d"_'"
O s p rim itiv o s c ris tã o s u s a v a m g ra v a r c o m fo g o o n o m e o a n o d o fa to , 1 8 6 8 , e u m v a s o n o " b ra ç o q u e d e v e g o lp e a r"
d e C ris to o u a c ru z n o s b ra ç o s e n a p a lm a d a m ã o , q u e s ã o o s e m e d e c la ro u q u e a iria c o n s e rv a r p o r 1 0 0 m il a n o s , a té q u e
m a is u s a d o s e n tre n ó s . E n tre 1 0 2 d e lin q ü e n te s ta tu a d o s , 31 fo s s e v in g a d o , m a ta n d o a q u e le p o lic ia l.
tin h a m desenhos re lig io s o s . A té 1 6 8 8 , e ra u s o d o s c ris tã o s ,
q u e fic a v a m e m B e lé m , ta tu a r-s e n o s a n tu á rio .
D - Ociosidade
A o c io s id a d e te m s u a p a rte n is s o . É p o r is s o q u e se
B - Imitação n o ta m n u m e ro so s desenhos n o s d e s e rto re s , n o s p ris io n e iro s ,
n o s p a s to re s , n o s m a rin h e iro s . E n c o n tre i 7 1 e m 8 9 q u e e ra m
A segunda c a u s a é a im ita ç ã o . U m b o m s o ld a d o Lom -
ta tu a d o s n o c á rc e re . O s e m b le m a s d e p e n d e m d a fa n ta s ia dos
b a rd o , q u e tin h a a ta tu a g e m d e u m a s e re ia , d iz ia -m e rin d o ,
ta tu a d o s , que s e to rn a fre q ü e n te nos c á rc e re s, s e ja p a ra
" v e ja , n ó s s o m o s c o m o a s o v e lh a s ; não podem os ver um de
g a n h a r o u s ó p a ra s e d is tra ir: " is s o fa z p a s s a r o te m p o " , d is s e -
n ó s fa z e r u m a c o is a , q u e não o im ite m o s lo g o , a in d a que
m e um d e le s , e o u tro : " g o s to d e d e s e n h a r e não havendo
c o m o ris c o d e n o s p re ju d ic a r" . P ro v a c u rio s a d e s s a c a u s a é o
p a p e l, a d o to a p e le d e m e u s c o m p a n h e iro s " . M u ito s ig n o ra -
fa to d e q u e a m iú d e u m b a ta lh ã o in te iro tra z d e s e n h o ig u a l,
vam o s ig n ific a d o d a p ró p ria ta tu a g e m , que, m u ita s vezes,
com o p o r e x e m p lo , u m c o ra ç ã o .
re p re s e n ta v a a re p ro d u ç ã o de um desenho q u a lq u e r: g a z e la
N um a p ris ã o , la p re so s tin h a m fe ito ta tu a g e m p a ra s e lv a g e m , g a lo , c h in ê s , s e re ia . A o c io s id a d e fo i c e rta m e n te
im ita r u m c o le g a , c o m a e x p re s s ã o n o b ra ç o : " p a s d e c h a n c e "
u m a d a s c a u s a s d e s s a s ta tu a g e n s .
(se m c h a n c e ). U m d e le s d is s e q u e o fe z p o rq u e to d o s n o c á r-
c e re a tin h a m . E m u m re g im e n to , c o m b o a p a rte d o s m e m b ro s
E - Vaidade
ta tu a d o s c o m o s e m b la n te d e C ris to , p o rq u e u m s o ld a d o d e s s e
re g im e n to é d e v o to d e C ris to e re a liz a e ssa o p e ra ç ã o por M a is a in d a in flu e n c ia a v a id a d e . T am bém a q u e le s q u e
pouco d in h e iro e u m a ra ç ã o d e p ã o . n ã o s ã o a lie n is ta s sabem q u e e s ta p re p o te n te p a ix ã o , q u e s e
e n c o n tra e m to d a s a s c la s s e s s o c ia is , e ta lv e z a té n o s a n im a is ,
p o s s a im p e lir a s a ç õ e s m a is b iz a rra s e m a is to rp e s . É p o r is s o
C - Espírito de vingança
q u e o s s e lv a g e n s , que andavam n u s , p o s s u ía m os desenhos

H á ta tu a g e n s p o r e s p írito d e v in g a n ç a . U m fe ro z h o m i- n o p e ito , e os nossos, que s e v e s te m , p in ta m a q u e la p a rte

c id a e x ib ia d iv e rs a s ta tu a g e n s n o s b ra ç o s (c a v a lo , ã n c o ra , m a is e x p o s ta e m a is fá c il d e s e r v is ta , c o m o o b ra ç o , e m a is o

e t c .) , m a s p o r c o n s e lh o d o p a i a s fe z a p a g a r, p o r n o ta p a rti- d ire ito q u e o e sq u e rd o .


c u la r que p o d e ria fa c ilita r s e u re c o n h e c im e n to em caso de U m v e lh o s a rg e n to p ie m o n tê s m e d is s e q u e n a a rm a d a ,
d e te n ç ã o . M a s , a n o s m a is ta rd e , a o s e r p e g o p e la p o líc ia , e em 1 8 2 0 , n ã o h a v ia s o ld a d o in tré p id o , e s o b re tu d o o s b a ix o s
opondo re s is tê n c ia a e la , u m d o s p o lic ia is o a g a rro u d e ta l o fic ia is , q u e n ã o s e ta tu a s s e m p a ra d e m o n s tra r c o ra g e m em
m o d o q u e o d e ix o u c o m o o lh o a v a ria d o . E n tã o e le , n ã o c u i- s u p o rta r a d o r. N a N ova Z e lâ n d ia a ta tu a g e m é v e rd a d e iro
dando d a p ru d ê n c ia re fe z a ta tu a g e m n o b ra ç o d ire ito , com I b ra sã o d e n o b re z a de que não podem d e s fru ta r o s p le b e u s ,

t
~ 39
38 I
~-~ .
Jl A t:,
!1l __~.
~.
1

nem ta m p o u c o o s c h e fe s podem o rn a t-s e com c e rto s dese- H - P ic h a ç ã o


nhos quando n ã o te n h a tid o s u c e s s o num e m p re e n d im e n to .
A s p a re d e s , d iz e m o s p ro v é rb io s , são os m apas dos de-
m e n te s , a s g ra fite s d e P o m p é ia s ã o v e rd a d e ira s ta tu a g e n s das
F - E s p ír ito gregário
'-. .~,--~ .. -"'"~.:,~. == . _ .~ p a re d e s . A s s im ,.e m u m a e s ta v a p in ta d o u m c o ra ç ã o e n tre a .• -
C o n trib u i ta m b é m o e s p írito g re g á rio , e c o m o m e fiz e ra m fra s e " p s ic h ê " e q u e ria d iz e r q u e P s ic h ê e ra o c o ra ç ã o d e le .
s u s p e ita r a lg u m a s in ic ia is d o s in c e n d iá rio s d e M ilã o , e m o u tro s S ã o e x a ta m e n te p ic h a ç õ e s a n á lo g a s a s ta tu a g e n s v is ta s nas
desenhos o e s p írito d e s e c ta ris m o . D e p o is d o e x e m p lo d a rã e d a p a re d e s d a s p ris õ e s , com o cabeça d e m u lh e r, de advogados,
ta tâ n tu la , e u n ã o fic a ria c o m m e d o d e a c re d ita r q u e o g ru p o d e nom es p ró p rio s com a in s c riç ã o e m b a ix o : " d e z a n o s d e tra -
c a m o tris ta s te n h a a d o ta d o ta m b é m e s te n o v o g ê n e ro d e o rn a - b a lh o s fo rç a d o s " . O u tro e s c re v e u : "condenado à m o rte , in o -

II
m e n to p rim itiv o , c o m o d is tin tiv o d e s u a fa c ç ã o , c o m o a d o ta v a o s c e n te " ; e le tin h a a ta tu a g e m de um a m u lh e r a rm a d a com
a n é is , c o rre n te s e c e rto s tip o s d e b a rb a . E n tre o s s e lv a g e n s das espada, com a in s c riç ã o a b a ix o : " lib e rd a d e " .
Ilh a s M a rc h e s i, a ta tu a g e m d is tin g u e a s v á ria s fa c ç õ e s in im ig a s : N o s e m b le m a s -m e tá fo ra s , o e s p írito d o p o v o e v id e n c ia -
u m a te m u m triâ n g u lo , o u tra s u m o lh o . T a m b é m a s trib o s n e g ra s s e . A s n a tu re z a s pouco e v o lu íd a s p ro c u ra m s e m p re re p re s e n -
\
s e d is tin g u e m p e lo c o rte q u e e le s fa z e m n a fa c e . O u tta s trib o s
tê m v in te c o rte s d e c a d a la d o d o ro s to , s e is p a ra c a d a b ta ç o , s e is
. p a ra a s p e rn a s , q u a tro p o r p e ito , a o to d o 9 1 . N a Id a d e M é d ia
Ii ta ç õ e s o b je tiv a s
ç õ e s a b e rto s ,
d a s a lv a ç ã o
d e u m a id é ia ; d e p o is
e s tre la s ,
o u d a m a rin h a ;
s in a is d e b o m
m ãos
a fre q ü ê n c ia
o u m a u a g o u ro ,
e n tre la ç a d a s com o
d o s c o ra -
â n c o ra s
s in a l
h a v ia .ta tu a g e n s e s p e c ia is p a ra o s a rte s ã o s , os desenhos de sua I d e a m o r e c o m u m a v io la ; p u n h a l n a re g iã o m a m á ria e s q u e r-
;,
p ro fis s ã o , c o m o n a F ra n ç a , o s 's a p a te iro s e o s a ç o u g u e iro s . d a , q u e s im b o liz a um fe rim e n to m o rta l o u a b e rto , havendo
a b a ix o a lg u m a s g o ta s d e s a n g u e .
G - Paixão O e m b le m a m a is c o m u m é a v io le ta ; a o in v é s , s e ria a
e s p é c ie p re v a le n te n a flo ra , c o n ta n d o -s e e m m a is d e 9 7 flo re s
A té u m c e rto p o n to devem c o n trib u ir ta m b é m o s e s tí-
u m a s ó m a rg a rid a , s e te e n tre ro s a s e flo re s e x ó tic a s e 3 9 v io -
m u lo s d a s m a is n o b re s p a ix õ e s hum anas. Os rito s da casa
le ta s c o m a in s c riç ã o : " a m im , a v o c ê , à m in h a m ã e , à irm ã ,
p a te rn a , a im a g e m d o s a n to p a d ro e iro , a in fâ n c ia , a a m ig a
a u s e n te ,
tin u a m e n te ,
é c o is a m u ito n a tu ra l q u e re to rn e m
fa to s m a is v iv o s d a le m b ra n ç a .
e re c o rre m , con-
I a M a ria " .
c o n tra
F re q ü e n te m e n te ,
s o b re a flo r e s u a s p é ta la s
o re tra to d a m u lh e r
e e m b a ix o
am ada
o seu nom e.
en-

N a s c la s s e s c iv is e n c o n tre i u m a s ó ta tu a g e m , p o r a s s im
Paixões eróticas
d iz e r e n d ê m ic a : fo i e n tre o s c o le g ia is d e u m c o lé g io b a s ta n te
re n o m a d o d e C a s te lo m o n te , em quase v in te ra p a z e s no m o- {

'
C o n trib u e m , e n tre o u tra s , a s p a lx o e s a m o ro s a s , ou
m e n to e m q u e e s ta v a p a ra fe c h a r, s e fiz e ra m ta tu a r com dese- m e lh o r, a s e ró tic a s , com o d e m o n s tra m a s fig u ra s o b s c e n a s e
n h o s q u e a lu d ia m à m e m ó ria d o d ile to c o lé g io , c o m o p o r e x e m - ::e t: a s in ic ia is a m o ro s a s d e n o s s o s d e lin q ü e n te s e d a s m e re triz e s .
'. "~'{'
p lo , o n o m e d o d ire to r o u d e u m c o le g a . T o d o s ig n o ra v a m que -

N a O c e a n ia a lg u m a s m u lh e re s desenham a v u lv a com s ím -
a ta tu a g e m fo s s e u s o d é 'b á rb a ro s e condenados à p ris ã o .
".

..
â':~
-1j,

,
j,>
,.~
- '; . . " , ; " r ~ '~ ;
,C {\

,,"':; b o lo s o b s c e n o s . A s m u lh e re s ja p o n e s a s , h á a lg u n s a n o s , ta tu a -

40
~
~:~. -~ :~ ~ .

IE ..
,; . "• .- k _

i~;' 'r'".-. 41
;.'.: ',,: .ít;;.
.
1
v a m a s m ã o s c o m sin a is a lu siv o s a se u s a m a n te s, q u e c o b ria m Atavismo
quando o tro c a v a m p o r o u tro .
A p rim e ira , a p rim e iríssim a c a u sa d a d ifu sã o d o u so d a
A s in d íg e n a s se ta tu a m c o m lin h a s e sp e c ia is e c ic a triz e s
ta tu a g e m , e n tre n ó s, c re io q u e se ja o a ta v ism o (h e re d ita rie -
p a ra d e m o n stra ç ã o d e se re filx irg e n _ sg llp re te n d e n te sd e ç ,a sa :
m e n to . T am bém nos hom ens a ta tu a g e m c o in c id e m u ita s- 1
, ,'d a d e ); oua e sp é c ie d e -a ta v ism o -h istó ric o , q u e é a tra d iç ã o , I
v e z e s c o m a v irilid a d e ; é u m in d íc io , e ta lv e z , c o m o im a g in a v a
, c o m o se a ta tu a g e m fo sse u m d o s c a ra c te re s e sp e c ia is d o h o -
m e m p rim itiv o e do hom em e m e sta d o d e se lv a g e ria .
D a rw in , u m m e io d e o p ç ã o se x u a l.
N a s g ru ta s p ré -h istó ric a s e n o s se p u lc ro s d o a n tig o E g i-
A s p ro stitu ta s á ra b e s e x ib e m c ru z o u flo r n a s fa c e s e
, to se v ê e m o s e stile te s q u e se rv e m a in d a a o s se h .a g e n s m o d e r-
n o s b ra ç o s, e â n c o ra s n o s se io s, n a v irilh a , n a v u lv a e n a s , n o s p a ra ta tu a r-se . O s a ssírio s, se g u n d o L u c ia n o , o s d á c io s e
p á lp e b ra s. E m trê s c a so s, o n o m e e a s fe iç õ e s d e u m a m a n te i
sa m a to s, se g u n d o P lín io , p in ta v a m fig u ra s n o c o rp o e n a fro n -
n u m b ra ç o e u m a m u lh e r n o o u tro , E ste sím b o lo d a s p a ix õ e s,
te e n a s m ã o s o s fe n íc io s, e o s h e b re u s c o m lin h a s, q u e c h a m a -
lig a d o à m enor se n sib ilid a d e d o lo ro sa e x p lic a o sa c rifíc io
v a m "sin a l d e D e u s".
m o n e tá rio a q u e se su b m e te m p a ra se fa z e r ta tu a r.
1 E n tre o s b ritâ n ic o s o u so e ra d e ta l fo rm a d ifu n d id o
E m P a ris e L y o n , o s ta tu a d o re s p ro fissio n a is tê m o fic in a ,

II
l"!
,;"
q u e o p ró p rio nom e "b ritâ n ic o " p a re c e te r d e riv a d o d e le .
w.1 ,r' á lb u n s d e d e se n h o s e c o b ra m b e m p e lo tra b a lh o . Q uando
f"., n ã o u sa m tin ta n a n k in , q u e p ro v o c a m enos re a ç ã o e d u ra E le s m a rc a v a m , d isse C é sa r, fig u ra s c o m fe rro n a c a rn e d o s
~ '~
m e n in o s, e c o lo ria m o s g u e rre iro s c o m tin ta s, p a ra to rn á -lo s
f:~~
1;0~
m a is, u sa m o c a rm in , q u e p ro d u z v iv a irrita ç ã o e c o c e ira ,
m a is te rrív e is n a g u e rra . O s e sc o c e se s, d iz Isid o ro , d e se n h a -
c o m g ra v e s in c o n v e n ie n te s.
I vam com e sp e to s e stra n h a s fig u ra s n o c o rp o . O s so ld a d o s
I E sse e stím u lo d a p a ix ã o , lig a d o a o e x a to c o n h e c im e n to
ro m a n o s o ste n ta v a m n o b ra ç o d ire ito o n o m e d o im p e ra d o r
d o s p o rm e n o re s, p a ra a q u e le s q u e , te n d o p o u c a in te lig ê n c ia , a
e a d a ta d o e n g a ja m e n to n o e x é rc ito .
d e sc re v e m , e x p lic a ria a su tile z a q u e m e fa z e m re c o rd a r a d o s e g íp -
c io s, c h in e se s e m e x ic a n o s, p a ra o s q u a is, n o s se u s m o n u m e n to s N ã o h á , p e n so , se lv a g e m q u e n ã o se ja m a is o u m e n o s
ta tu a d o . O s p a riá g u a s p in ta m o ro sto d e a z u l n o s d ia s d e
a n tig o s p o d e -se d istin g u ir m u ito b e m a fo rm a d o s a n im a is e I
v e g e ta is e o s in stru m e n to s q u e d e se ja v a m re tra ta r, E ssa p e rfe iç ã o
d o s d e se n h o s m e le m b ra a d e lic a d e z a d a s c a n ç õ e s p o p u la re s, e m II fe sta e d e se n h a m
n e g ro s d istin g u e m -se ,
triâ n g u lo s, a ra b e sc o s n a s fa c e s. O s p o v o s
d e trib o a trib o , e sp e c ia lm e n te os B am -
q u e a p a ix ã o , à s v e z e s, su p e ra o s e la b o ra d o s a rtifíc io s d a a rte . b a ra s, fa z e n d o c o rte s h o riz o n ta is o u v e rtic a is n o ro sto , n o

P o d e -se ta lv e z , e n tre o s n o sso s, e c e rta m e n te


g e n s, a n u d e z , c o m o fo rm a d e m a n to
n o s se lv a -
e o rn a m e n to . R e a l-
I p e ito e n o s b ra ç o s. O s g u e rre iro s "k a firs" tê m o p riv ilé g io d e
fa z e r lo n g o c o rte n a s p e rn a s, q u e to rn a m in d e lé v e l c o lo rin d o -

'm '~ n te , o s m a rin h e iro s, q u e v ã o n u s n o p e ito e b ra ç o s, e a s I o d e a z u l. O s "b o rn u s" d a Á fric a c e n tra l d istin g u e m -se por

m e re triz e s q u e fre q ü e n te m e n te se d e sp o ja m d e su a s v e ste s,


i
, v in te c o rte s d e c a d a la d o d o ro sto ; se is e m c a d a b ra ç o , q u a tro
sã o a q u e le s q u e m a is p re fe re m e sse u so ; e ta m b é m o s m in e iro s n o p e ito , e tc .; a o to d o 9 1 .

e c a ip ira s. P o r o u tro la d o , e m u m h o m e m v e stid o , a v a n ta g e m


~i
i:: c;W.-'.
N a s Ilh a s M a rsh a ll a s m u lh e re s sã o ta tu a d a s n o s o m b ro s
d a ta tu a g e m n ã o te ria ~ ~ z ã o d e e x istir, n ã o se ria o b se rv a d a . e n o s b ra ç o s; o s h o m e n s e sp e c ia lm e n te o s c h e fe s, n a s c o sta s,
,-t1-'.,'~.

m
~:~,_.-.
42 43
- -'"" - ~ '
- - - - _ .- -~ ------ ._ - - - - - - - - - - - - - - - - '- - - - - _ . _ - - - - - - - - ~ - - - - - - -

n o lo m b o , n o tó ra x , o re lh a s. N o T a iti, a lg u m a s m u lh e re s na ç ã o p re g re ssa , d a p re se n ç a d a ta tu a g e m , m o rm e n te se fo i e m
v u lv a e no abdom e (u m a tin h a d e se n h a d o sím b o lo s o b sc e - p e sso a e stra n h a à c la sse d o s m a rin h e iro s, d o s m ilita re s, d o s
n o s); o s h o m e n s p o r to d o o c o rp o , a té n o n a riz , c o u ro c a b e lu - p e sc a d o re s, e q u e te n h a a d o ta d o d e se n h o o b sc e n o o u m ú l-
do, g e n g iv a s, e fre q ü e n te m e n te , n a sc e m g a n g re n a s p e lo tip lo , o u a in d a fa ç a a lu sã o a a lg u m a fo rm a d e v in g a n ç a , o u
c ~ rp ó . P á ra -p ro i:e g e t q u e ii:n e n h a sid o o p e ra d o sã o -re c e ita d o s d e d e se sp e ro . ~ _ _ "_,~ " .' '" ,_ _ _ ~ _ ~ . _ ~_~-"
_ .. " _
d ie ta e re p o u so . O ta tu a d o r é re sp e ita d o e a c o lh id o , re c o m -
C e rta m e n te , a p re d ile ç ã o p o r e ste c o stu m e b a sta rá
p e n sa d o c o m p re se n te s, c o m p o rc o s.
p a ra d istin g u ir o d e lin q ü e n te d o d e m e n te , m a lg ra d o te n h a
N a s ilh a s M a rc h a ta tu a g e m é u m a v e stim e n ta e um em com um com e le a fo rç a d a re c lu sã o e a v io lê n c ia das
sa c ra m e n to . D o s 1 5 a o s 1 6 a n o s c o lo c a -se n o s ra p a z e s u m a p a ix õ e s o u o lo n g o ó c io . D e v id o a isso , e le re c o rre a o s m a is
c in tu ra e se c o m e ç a a ta tu a r n o s d e d o s, n a s p e rn a s, m a s se m - e stra n h o s p a ssa te m p o s: a fia p e d ra s, c o rta a s v e stim e n ta s,
p re e m u m b o m lu g a r sa g ra d o . T o d a fa m ília ric a te m o se u fa z ta tu a g e n s.
m a q u ia d o r q u e tra n sm ite a h o n ra ria d e p a i p a ra filh o , d e
T a m b é m o e g ré g io D e P a o li e m Notas sobre a Tatuagem
m o d o q u e n a m o rte d o p rim e iro é n e c e ssá rio e sp e ra r a lg u n s
no Manicômio d e Gênova (1 8 8 0 ), e n c o n tro u 1 9 ta tu a d o s e n tre
a n o s p a ra q u e o se g u n d o p o ssa su c e d ê -lo . À s m u lh e re s, m e s-
2 7 8 d e m e n te s, m a s d e sse s 1 9 , 1 1 e ra m p ro v e n ie n te s das
. m o a s p rin c e sa s, fa z e m só n o s p é s e se e m b a ix o o d e se n h o é
p risõ e s. E n tre o s o u tro s 8 , u m p e rte n c ia à C a m o rra d e G ê n o v a
d e lic a d o , 'n o ro sto g ro te sc o e h o rrív e l, p a ra fa z e r m e d o .
e ta n to e ste c o m o o u tro s 5 fo ra m ta tu a d o s quando a tu a v a m
A , ta tu a g e m é a v e rd a d e ira ' e sc ritu ra d o se lv a g e m , o n a m a rin h a e n o e x é rc ito . D o is fo ra m ta tu a d o s n o m a n ic ô m io ,
. p rim e iro re g istro . d o e sta d o c iv il. C o m c e rta s ta tu a g e n s, os m a s d e sse s,. u m e ra m a rin h e iro e fo i ta tu a d o a se u p e d id o
d e v e d o re s le m b ra m a o b rig a ç ã o d e se rv ir o c re d o r p o r d e te r- p a ra m o stra r-se b e m a o s se u s c o m p a n h e iro s; a su a ta tu a g e m
m in a d o te m p o , e in d ic a v a m a q u a lid a d e e o n ú m e ro dos ob- q u e e x a m in e i e ra D e u s n u m triâ n g u lo e u m a n jo v o a n d o , o q u e
je to s re c e b id o s e m g a ra n tia . O s ja p o n e se s ta tu a m o c o rp o , in d ic a a n a tu re z a d e se u d e lírio .
d e se n h a n d o le õ e s, d ra g õ e s e sím b o lo s o b sc e n o s.
A in flu ê n c ia p o is d o a ta v ism o e d a tra d iç ã o p a re c e -m e 9. Traumas
c o n firm a d a a o e n c o n tra r a ta tu a g e m d isse m in a d a e n tre o s h a -
b ita n te s d o c a m p o , o s c a ip ira s e o s p a sto re s, tã o te n a z n a s a n tig a s O u tro sin a l q u e p o d e to rn a r-se p re c io so a o m é d ic o
tra d iç õ e s e d e v ê -la já a d o ta d a n a Itá lia , e sp e c ia lm e n te p e lo s le g ista p o r, d istin g u ir u m m a la n d ro e u m la d rã o de um ho-
p ie m o n te se s e lo m b a rd o s; o s p o v o s c e lta s e ra m o s ú n ic o s n a a n tig a m e m h o n e sto e p a c ífic o c id a d ã o , é a fre q ü ê n c ia d a s c ic a -
E u ro p a q u e tin h a m c o n se rv a d o e ste u so d e sd e o te m p o d e C é sa r. triz e s n a c a b e ç a e n o s b ra ç o s. C o n te i só 1 7 d e le s e m 3 9 0 , e
a n te rio re s à é p o c a e m q u e fo i c o m e tid o o d e lito . E isso se
a p lic a ta m b é m à s p ro stitu ta s. P a re n t-D u c h a te le t, em 391
8 . T a tu a g e m n o s d e m e n te s ,
., m e re triz e s a b rig a d a s e m h o sp ita is p o r g ra v e s d o e n ç a s não
T u d o o q u e fo i d ito b a sta p a ra d e m o n stra r à m e d ic in a
I. ;, sifilític a s, e n c o n tro u 9 0 , u m q u a rto d o to ta l, a tin g id a s por
1" ,
le g a l q u e isto d e v e a ju a a r c o m o in d íc io lo n g ín q u o d e d e te n -
.
fI'. ~ .'. .
..•. _ 'r." ,~~.
. ..:d n .
~.~':';.,,~
fe rim e n to s e c o n tu sõ e s g ra '(e s.

44 -.~t~-.\'i'"",,'~
~ : f ( .t +,'t, " 45
t;ji;~
... t';.f-~ t- ..
'1
i
~
•,
.~

1
.=<-_--
.•. ~ . ,.. - -= -

~
,./'

3 . SOBRE A SENSIBILIDADE GERAL


.'
1. Analgesia - 2 . Sensibilidade geral - 3 . Algometria
.."
~
'h-'
- k ,. 4. Sensibilidade tátil- 5 . Visão - 6 . Acuidade visual
t1,1i<-'-t
N ••
s:~ 7. Sensibilidade m a g n é t i c a - 8 . Sensibilidade meteórica
9, Dinamometria - 10. C a n h o t i s m o
::-2 ::4 ,
~..~!<:.;' 1 1 . A nU1nalias d a mobilidade
W'"•.
S~
"ts::'<f.!' "
" ', '
f ''w ,
~ .;: 1 . A n a lg e s ia

A s in g u la r p re fe rê n c ia d o s d e lin q ü e n te s por um a ope-


ra ç ã o tã o d o lo ro s a e fre q ü e n te m e n te lo n g a e p e rig o s a com o
a d a ta tu a g e m e a g ra n d e fre q ü ê n c ia n e le s d e tra u m a s , le v a -
ra m -m e a s u s p e ita r que h a ja n e le s um a s e n s ib ilid a d e à d o r,
m a is a b a fa d a do que a das pessoas com uns. É o q u e a c o n te c e
ta m b é m e n tre o s a lie n a d o s .

In te rfo g a n d o o s v ig ila n te s e m é d ic o s c a rc e rá rio s , c o n s e -


g u i c a ta lo g á r a lg u n s c a s o s d e v e rd a d e ira a n a lg e s ia (in s e n s ib ili-
d a d e à d o r) m a s , n a m a io r p a rte d a s v e z e s , tra ta m -s e d e d e lin -
q ü e n te s a lie n a d o s ou quase. U m v e lh o la d rã o , p o r e x e m p lo ,
d e ix o u -s e a p lic a r um fe rro q u e n te no e s c ro to , sem dar um
I
I p io , e d e p o is p e rg u n to u s e e s ta v a te rm in a d a a o p e ra ç ã o , com o
;,.J '

.! ;'~~' s e n ã o s e tra ta s s e d e le . O u tro , com a m á x im a a p a tia , d e ix o u

"',
I ,::
'.
A ~.~ 47
:ªL1i{;:~..
rI,

que lhe am putasse um a perna, e depois, tom ando o m em bro toU total insensibilidade quando houve pressão dolorosa sobre
cortado entre as m ãos e fazendo piada sobre ele. Um ladrão o dorso da m ão, m as entre os delinqüentes a sensibilidade
condenado já treze vezes recusava-se a trabalhar sob o pretex- zero atingiu 4 e em outros foi bem fraca a sensibilidade.
to de dores na perna direita; o m édico lhe disse que haveria •
,
='-~' necessidadede-am putá-lae
concordância dele. Algum
colocar,um a de m adeira, com ao
tem po depois, o enferm eiro da ,
"-~--,
• 4:- Sensioilidade tátil ~... -, _. -'"'":7" -- _.~::::-

prisão descobriu que ele tinha realm ente séria lesão na perna, Num conjunto de 27 indivíduos sãos encontrei 8 com
m as era a esquerda. Evidentem ente era um im becil, que bloqueio m aior na esquerda e só 5 com bloqueio na direita,
depois foi internado num m anicôm io. sendo em parelhado em 14; em m édia 2,2 no lado direito e
2,0 no esquerdo, ao contrário do que ocorre com os crim i-
1 nosos, nos quais o lado em que prevalece a resistência é o
2. Sensibilidade geral I
direito, em 10 sobre o núm ero de 37, sendo 20 nos dois lados
O argum ento da sensibilidade dolorífica dos delinqüen- 1 e só em 7 se nota m aior insensibilidade no esquerdo.
tes era m uito im portante e delicado para que pudéssem os ! Olhando o tato no tocante aos vários crim es, encontra-
nos contentar com dados com pletam ente aproxim ativos e m os a seguinte estatística sobre a sensibilidade obstruída:
não controlados pela experiência direta.
Exam inam os 66 delinqüentes, dos quais 56 eram reinci- • Ladrões: Direita: 1,60 Esquerda: 1,78
dentes ou habituais e 4 ocasionais; havia ainda um a prostituta
• Agressores: 2,30 2,00
e 2 ladrões alienados m entais e 3 alcoólatras. Esse exam e foi
não apenas para averiguar a insensibilidade à dor, m as tam -
• Assaltantes: 1,92 1,74
bém a sensibilidade geral e topográfica. • Estelionatários: 1,58 1,80
Estudando esta últim a com o sim ples contato de dedo,
foi ela encontrada em 38 dos 66. Em 46, em que se notou a 5. Visão
diferença entre os dois lados, em 16 no lado direito e em 12
Quanto à vista, o Dr. Bono, em inteligente estudo no
no esquerdo; em 18 em am bos os lados.
m eu laboratório, em 227 crim inosos, a m aior parte adoles-
centes, encontrou 15 daltônicos (6,6), ou seja, cego às cores,
3. Algom etria o dobro do que encontrou em 800 estudantes (3,09) da
M ais im portante é o estudo da dor, conseguido pelo m esm a faixa etária e em 590 operários (3,89).
m eu m étodo de algom etria (apertão) do são e do alienado, Tam bém Holm gren em 321 crim inosos encontrou 56
com experiência no dorso da m ão. A m édia de sensibilidade daltônicOS, enquanto a m édia geral era de 32. Esta descoberta
em 21 hom ens norm ais foi de 49,1, enquanto nos delin- torna-se tanto m ais im portante, porque todo dia m ais se vai
qüentes foi de 34,1. Nos,hom ens norm ais, nenhum apresen- apurando com o no processo de sensação das cores tom a um a
.
" :~.
,',

':-,.~ ..;v_
.a..
>. ~""::~
,,,,,,,,'w:l<. 49
48 :fr~~.
W":'I\:ol'".
,it >'%'...1
" ..
L
I ,,~
i til-.,
p arte im p o rtan te o céreb ro em co n fro n to co m a retin a, e 9 . D in am o m etria b
p o rq u e as p esq u isas d e S ch m itz m o straram q u e m u ito s d esses • :'

d eficien tes têm g rav es d istú rb io s n o sistem a n erv o so , ep i- ~ Q u em q u iser in d ag ar as co n d içõ es d a fo rça m u scu lar
l d o s d elin q ü en tes n ão co n seg u e, m esm o co m p erfeito s d in a-
'1"1

... -..•",+
lep sia, co réia, trau m as m en tais.
=- <"'~.-; 'c'. ~ ::.~ -~ -.~ .-'--7 -= -.-'- ,.,. --""._-"-.'-"""""~---.-' ~ m ô m etro s (ap arelh o .d estin ad o ,a .m ed ir.aJo rça .m u scu lar),

6 . A cu id ad e v isu al \ fazer seq u er u m a id éia ap ro x im ativ a, tratan d o -se d e in felizes


en fraq u ecid o s p ela lo n g a d eten ção o u p ela in ércia. A cresce
I
I
S o b o p o n to d e v ista crim in al d ev o o u tro s d ad o s p recio so s ain d a q u e p o r essa fo rm a d e m alig n id ad e, q u e é o caráter
à co rtesia d o D r. B an o , q u e, ex am in an d o 3 8 0 o lh o s d e 1 9 0 d elin - co n stan te d e su a ex istên cia, eles fin g em serem m ais d éb eis

I
q ü en tes, o s m ais n o v o s in tern ad o s em refo rm ató rio s e alg u n s jo - d o q u e são . N ão reag em ao d in am ô m etro q u an to p o d eriam .
v en s m en o res d e 2 6 an o s, lad rõ es o u b an d o leiro s, 2 estelio n atário s, P u d e v erificar em A n co n a, n as casas d e d eten ção , em q u e
co n fro n tav a co m 2 2 0 o lh o s d e o u tro s jo v en s co etân eo s h o n esto s, eles ex ercem trab alh o co n tín u o , a fo rça m u scu lar se m o stra
» in tern ad o s n o in stitu to ag ríco la B o n afo u rs, su jeito s à m esm a
lim itação d e lib erd ad e e ao m esm o tratam en to , o b tev e resu ltad o s
!I m ais en érg ica
trab alh a.
d o q u e n o s lo cais em q u e p o u co o u n ad a se

;.

'I
q u e d em o n stram a fraca acu id ad e v isu al d o s d elin q ü en tes. C aracterística d e m u ito s crim in o so s é a ex trao rd in ária
J~
f,t, ag ilid ad e, esp ecialm en te n o s assaltan tes; assim era o C e-

~.
gp,: 7 . S en sib ilid ad e m ag n ética ch in i, o P ietro rro , o R o ssig n o l, q u e fu g iu n ão só d o cárcere,
;:&, I m as p ro cu ro u ain d a a ev asão d e su a am an te n o m esm o d ia.
~•..-:~: E n q u an to
ciam en co b ertas,
as v árias esp écies d e sen sib ilid ad e p erm an e-
a m ag n ética é, ao rev és, m ais v iv a. É cu rio so
E ssa ag ilid ad e assem elh a-se à m acaq u ice, co m o a d e M aria
P ierin o , q u e trep av a n as árv o res e d elas saltav a so b re o s
q u e ao in v erso d o q u e o co rre n as p esso as n o rm ais, ao m en o s, telh ad o s, en trav a n as casas e p o d ia assim su b trair-se à ação
seg u n d o n o ssa ex p eriên cia, h o u v e seis q u e se m o straram sen - I d a p o lícia.
sív eis ao ím ã n a n u ca, três n a fro n te e n ão em o u tras reg iõ es
d o co rp o . E m d o is, o ím ã tin h a p ro d u zid o v erm elh ão em to d o
•l, 1 0 . C an h o tism o
o ro sto , em b o ra esse n ão ap resen tasse q u alq u er sen sação .
••
• F ato cu rio so é q u e a d in am o m etria ap resen ta p ro p o rção
8 . S en sib ilid ad e m eteó rica m ais elev ad a d e can h o to s, o u q u e ten h am m ais fo rça n a m ão
esq u erd a d ó q u e n a d ireita. E sses d ad o s m e fazem su sp eitar
O u tra sen sib ilid ad e esp ecial é a d a v ariação m eteó rica, d iferen ça d e m o v im en to m en o r n a d ireita d o q u e n a esq u erd a.
q u e tem sid o en co n trad a b em clara em 1 9 d e 1 0 2 ex am in ad o s: D ig o q u e su sp eito ap en as, p o rq u e p o u cas p ro v as d in am o -
u m em 7 h o m icid as e saltead o res, 1 0 em 4 7 lad rõ es, 2 em 2 5 m étricas já b astam p ara co n v en cer d e q u e d ão id éia d e fo rça
ag re'sso res, 3 em 1 0 estelio n atário s, 2 em 7 v ad io s, 2 em 6 e ain d a m esm o d a d estreza m u scu lar e q u e to d o m o d o n em
estu p rad o res. D estes, 8 acu sam p ro stração , 7 frio , 6 trem o res sem p re co rresp o n d em à am b id estria (am b id estro é q u em u sa
n o co rp o , 7 to rn aram -se ag ressiv o s. a d ireita e a esq u erd a d e fo rm a ig u al).

50
51
",.,
J

1 1 . A n o m a lia s d a m o b ilid a d e ,
I
,.

í
J á o e s tu d o d e V irg ílio , q u e s o b re 1 9 4 c rô n ic o s e n c o n tra
u m a c o ta p ro p o rc io n a l e n o rm e d e e p ilé tic o s , a tá x ic o s e m o r-
m e n te
p e ita r
n o s la d rô e s
co~o
e m c o n fro n to
a 'm o b i l i d a d e
com h o m ic id a s ,
s e ja -m u ito a n ô m a l~
fa z -m e su s-
n e le s p a ra le la -
.~,
,
I
m e n te à s e n s ib ilid a d e . É fre q ü e n te s o b re tu d o a e p ile p s ia .
"

i
I, 4 . SOBRE A SENSIBILIDADE AFETIVA
r
! 1 . A u s ê n c ia d e la (L a c e n a ir e e M a r t i n a t i )

I 2. T roppm ann, B o u te llie r : In d ife r e n ç a à p r ó p r ia m o r t e


3 . O s c r i m i n o s o s d i a n t e d a e x e c u ç ã o - 4 . C o n c lu s ã o

1 . A u s ê n c ia d e la

G e ra l q u a n to à s e n s ib ilid a d e à d o r fís ic a (e ta lv e z e fe ito


in d ire to d e s ta ), a s e n s ib ilid a d e a fe tiv a é ta m b é m g e ra l n o s
c rim in o s o s . N ã o é q u e n e s te s o s e fe ito s c a la m c o m p le ta m e n te ,
c o m o im a g in a m o s m a u s ro m a n c is ta s , m a s o s q u e m a is in te n -
s a m e n te b a te m n o c o ra ç ã o d o s se re s h u m a n o s, a o in v é s , m a is
n e le s p a re c e m m u d o s , e s p e c ia lm e n te a p ó s o d e s e n v o lv im e n to
d a p u b e rd a d e .

O p rim e iro a apagar é o s e n tim e n to da c o m p a ix ã o


p e la d e sg ra ç a a lh e ia , que há, segundo a lg u n s p s ic ó lo g o s ,
m u ita ra iz n o n o s s o e g o ís m o . L a c e n a ire c o n fe ssa v a não te r
p ro v a d o nenhum a a v e rsã o a a lg u m c a d á v e r, com o se fo sse

I
o de seu g a to . " A v is ã o de um a g o n iz a n te não p ro d u z em
m im q u a lq u e r e fe ito . E u m a to um hom em com o bebo um
copo d e v in h o ."
;"., '\
'f ; t _ ~ .

52 :L~
~ ¥ { :: 53
.'l.~.""
k - .'"
. -
-,
I

I
É realm ente com pleta a indiferença diante das próprias
de seus delitos. É o
I B outellier, aos 21 anos, m atou a m ãe com 50 facadas e
sentindo-se cansado, deitou-se ao lado do cadáver da m ãe e
,
vítim as e ante o sanguinário testem unho
! dorm iu tranqüilam ente, e, ao acordar, tom ou sua refeição. C lau-
caráter constante de todos os delinqüentes habituais, que bas-
taria para distingui-lo do caráter do hom em norm al. M arti-
.
~
sen e L uck falavam de seus delitos perante o tribunal com tanta

II
nari visava sem pestanejar a fotografia dà própria m ulher, cons- . frieza el:iariqüilidáde, com o se fossem testem unhas e não autores:' .
'"ratava a identidade dela, e tranqüilam ente lhe dava um golpe, E sta estranha apatia, essa insensibilidade ante a desventura
com o se depois lhe pedisse perdão, que não lhe seria concedido. alheia, devida talvez ao egoísm o, o ponto de partida para a falta
de com paixão, não raro a conserva para si m esm a, pois, em bora
L a M arquet jogou num poço a própria filha, para poder
tenham sido encontrados facilm ente alguns casos, com o o da
acusar a vizinha que o ofendera. V itou envenenou o pai, a

I
M arquesa de B rinvilliers, A ntonelli, B oggia, V allet, B ourse, que
m ãe e o irm ão para herdar um a ninharia. M ilitelo, m uito
foram tom ados de terror diante da execução deles, a m aior parte
jovem , assim que com etera hom icídio de um seu com pa-
nheiro e am igo, estava tão pouco com ovido, que tentou I• conserva um a singular frieza e indiferença até a sua últim a
hora. M ostram -se assim isentos do am or à própria conservação,
subornar 'os serviçais que tentaram im pedir seu ato. I
que é a m ais universal e o m ais forte instinto do ser hum ano.
~ ,~
r Pantoni, nosso em érito facínora, m e contou que quase
\I
e
2. T roppm ann e B outellier: Indiferença à própria m orte
todos os assaltantes e hom icidas cam inhavam à m orte brin-
A ssim se explica com o T roppm ann pediu, do cárcere, cando. U m assaltante de V oghera com o seu últim o pedido,
I
",1'

'i? ao seu irm ão, com o se pedisse um a laranja, ácido prússico e poucos m inutos antes de m orrer, para com er um frango cozido
..;:t éter para m atar seus carcereiros. C om o tivesse ânim o de re- e com eu-o calm am ente. U m outro quis escolher, entre três
'. carrascos, o seu, que cham ava de "professor". V alle, o assas-
produzir, acreditando auxiliar sua própria defesa, a cena da
horrível m atança, da qual foi só ele o autor e a testem unha sino da cidade de A lessandria, que tinha ferido de m orte
sobrevivente de seu grosseiro projeto, forneceu-m e os porm e- dois ou três de seus com panheiros por puro capricho, en-
nores dele em que duas de suas vítim as já eram cadáveres e quanto o levavam ao patíbulo, gritava a plena voz: "N ão é
as outras quatro levantavam desesperadam ente as m ãos sob verdade que a m orte seja o pior de todos os m ales".
• os seus golpes. Para com pletar com o últim o torm ento, calu- O rsolato, levado à pena capital, acenava, zom bando a
nia a vítim a após m atá-la, e ainda tenta provar, ou m elhor, quantas m oças que via pelo cam inho, que, se fosse livre, repe-
acusar com o autor da carnificina o próprio pai, o pobre K ink, tiria seus horrendos crim es. D um olard, ao padre que o exor-
com essa expressão: "E assim aconteceu que K ink, o pai m ise- I tava ao arrependim ento antes de m orrer, cobrou um a garrafa
rável que m e enveredou à perdição, m atou toda a sua fam ília".
I de vinho que lhe tinha prom etido
que quis fazer foi recom endar
dias antes. A últim a coisa
à sua m ulher e cúm plice para
i
Q ualquer delinqüente de ím peto ou de ocasião sentiria
horror de um a cena sim ilar e teria necessidade de apagá-la da cobrar um crédito de 37 liras.
jr
m em ória de todos, e ele, ao contrário, tenta eternizá-la, entrando
:t ".:y O s livros estão cheios de epigram as de delinqüentes
a com placência ao crim e"que é especial nesse tipo de pessoas. i.l;"~ levados ao cadafalso. C om en,ta-se sobre aquele assassino que
~
...•."M3'
~
_. -
, .•....t-..•....
"""'-
::- ~.:.'....,"';'
54 ,_.~~:J:ftlji' 55
t~ tJ
:';;.;j'illl"
.•.•
T I
i
'i
d iz ia a o se u c o m p a rsa q u e se la m e n ta v a d a so rte : "N ã o sa b ia
C la ir tin h a m g a n h o m e d a lh a d e v a lo r m ilita r e m c a m p o d e
q u e e stá v a m o s su je ito s a u m a d o e n ç a a m a is!" U m p o e ta n a
b a ta lh a . C o p p a jo g o u -se d e sa rm a d o d e fu z il e m m e io a o n o sso
R ú ssia , R y le se ff, d e sc o n te n te c o m a d e m o ra d e su a e x e c u ç ã o
b a ta lh ã o , m a ta n d o e sa in d o ile so . F o i m o rto e x a ta m e n te p e lo s
d e v id o à le n tid ã o d a fo rc a , e x c la m o u : "N e m m e sm o e n fo rc a r i se u s c o m a n d a d o s, q u e n ã o tiv e ra m c o ra g e m d e a c o m p a n h á -
se sa b e n e ste p a ís!" .i lo n a q u e la a v e n tu ra im p o ssív e l e te m ia m a v in g a n ç a p o r p a rte
C la u d e o b se rv o u o s ú ltim o s m o m e n to s d e m u ito s c o n -,
'( d e le . O u tro c h e fe d e q u a d rilh a , P a lm ie ri, fe z -se m a ta r, la n ç a n -
d e n a d o s à d e c a p ita ç ã o , V e rg e r se p re o c u p a v a c o m su a s o b ra s ! d o -se n o m e io d a s b a la s. M a sin i, F ra n c o lin o , N in c o , C a n o sa ,
m é d ic a s. L a P o m m e ra is d a v a a u la s d e h ig ie n e a o s c a rc e re iro s. P e rc u o c o , p re fe rira m a m o rte c o m o h e ró is, à p risã o ,
B o c a rm é , a o c a rra sc o q u e o a d m o e sta v a q u e já tin h a p a ssa d o T o d a v ia , a m a io r p a rte d o s d e lin q ü e n te s se d istin g u e
a h o ra m a rc a d a , fa z ia h u m o r: "N ã o se in q u ie te ; se m m im p e la g ra n d e v e lh a c a ria quando e n fre n ta m o p e rig o a sa n g u e
n ã o se c o m e ç a !" frio e in e sp e ra d o . P o u c o s a n o s a trá s, o in tré p id o q ü e sto r de
R avenna, S e ra fin i, m a n d o u , c h a m a r u m d o s m a is te m id o s
3 . O s c rim in o so s d ia n te da execução a ssa ssin o s, q u e se g a b a v a d e q u e re r m a tá -lo . P ô s-lh e u m re -

E sta in se n sib ilid a d e é p ro v a d a p e la fre q ü ê n c ia dos ho-


t v ó lv e r n a m ã o e lh e m a n d o u
m a s e le fo i-se e m b o ra se m n a d a fa z e r.
q u e e x e c u ta sse su a p ro m e ssa ,

m ic id a s pouco
d e d u z d a s d iv e rtid a s
in stru m e n to s
d e p o is d a c o n d e n a ç ã o c a p ita l, p e lo q u e se
p a la v ra s q u e , n o ja rg ã o , se re fe re m
e a o s e x e c u to re s d a p e n a , o u se ja , d o s c a rra sc o s,
aos II T am bém E la m -L in d s
, m a is fe ro z e s e n c a rc e ra d o s
fe c h o u -se n a c e la c o m
e q u e lh e h a v ia p ro m e tid o
um dos
m a tá -
lo e m a n d o u -lh e fa z e r a b a rb a . D e sp e d iu -o a p ó s, d iz e n d o :
e d o s re la to s q u e fa z e m n o s c á rc e re s e m q u e o e n fo rc a m e n to •I
i "S a b ia q u e su a in te n ç ã o e ra m a ta r-m e , m a s e u o d e sp re z o
é o te m a p rin c ip a l. E ste é u m d o s m a is p o te n te s a rg u m e n to s ! d e m a is p a ra a c re d ita r q u e v o c ê se ja c a p a z d e ta n to . S ó e se m
p a ra a a b o liç ã o d a s p e n a s d e m o rte . A p e n a c a p ita l c e rta - !
a rm a s e u so u m a is fo rte d o q u e v o c ê s to d o s ju n to s".
m e n te d issu a d e d o c rim e u m n ú m e ro b e m e sc a sso d e fa c ín o - I
O m e sm o E la m , q u a n d o u m a re v o lta se m a n ife sta v a
ra s. T a lv e z se ja m e n o r d e o u tra s
im ita ç ã o
c a u sa s q u e o s in d u z e m ,
q u e d o m in a p e sso a s v u lg a re s e a o tip o d e h o rre n d o
p re stíg io c ria d o e m to rn o d a "v ítim a d a ju stiç a ", a o a p a re lh o
a

I e n tre o s se u s d e te n to s, a c a lm o u -a
d e le s. E m S in g -S in g , 9 0 0 d e te n to s
c o lo c a n d o -se
tra b a lh a v a m
n o m e io
no cam po

lú g u b re e so le n e e m u ito a d a p ta d o a e stim u la r a e stra n h a I se m c o rre n te s, v ig ia d o s só p o r 3 0 g u a rd a s; ju stific o u


ilu stre d irig e n te : "O h o m e m d e so n e sto é um hom em
a q u e le
e sse n -
v a id a d e d o s c rim in o so s e q u e le v a a té a v e n e ra r o c o rp o d e le s,
c o m o se fo sse m d e m á rtire s e sa n to s.
I, c ia lm e n te v il e p a tife ".

É p ro v á v e l q u e o s a to s d e c o ra g e m d o s m a lfe ito re s
E m 167 condenados à p e n a c a p ita l n a In g la te rra ,
tin h a m a ssistid o à ú ltim a e x e c u ç ã o . E sta in se n sib ilid a d e
164
p e la s
I ja m só o e fe ito d a in se n sib ilid a d e e d a in fa n til im p e tu o sid a d e ,
se -

d o re s p ró p ria s e d e o u tro s e x p lic a c o m o a lg u n s d e lin q ü e n te s I


J~_.
q u e n ã o o s d e ix a c re sc e r o u te m e r u m p e rig o se g u ro e q u e o s
c e g a d ia n te d e u m o b je tiv o a a tin g ir, o u d e u m a p a ix ã o p a ra
p o ssa m te r c o m e tid o a to s q u e p a re c e m se r d e e x tra o rd in á ria . "
sa tisfa z e r. E ssa in se n sib ilid a d e , q u e n ã o fa z p a re c e r a e le s tã o
c o ra g e m . P o r isso H o lla n d , D o in e a u , M o ttin o , F ie sc h i, S a n ti- \
~~,"j;'- ""''';;''~'
g ra v e a m o rte d o a lh e io e a p ró p ria , ju n to c o m o ím p e to das
"1'.. •...;';
':;.'";~
'
.•.--<
_ _ .~
..~~ ..
"

56
57
~~f;'
"".'I~',~-

)i~~:

p a ix õ e s , e x p lic a a pouca ou nenhum a c o rre s p o n d ê n c ia e n tre


a g ra v id a d e d o d e lito e d a d e s u a c a u s a . A s s im , u m c o n d e n a d o
m a to u o o u tro p o rq u e ro n c a v a m u ito a lto . N a p e n ite n c iá ria
d e A le s s a n d ria , u m p re s id iá rio fe riu d e m o rte u m o u tro , p o r-
q u e n ã o q u is e n g ra x a r-lh e o s s a p a to s . M a rk e n d o rf m a to u seu
b e n fe ito r p a ra ro u b a r-lh e u m p a r d e b o ta s . E s ta in s e n s ib ili-
d a d e m o ra l d o s d e lin q ü e n te s e x p lic a o u tro fa to c o n tra d itó rio :
a fre q ü e n te c ru e ld a d e e m in d iv íd u o s q u e a lg u m a s v e z e s p a re -
cem ser capazes de boas ações.

4. C o n c lu s ã o
5. A D E M Ê N C IA M ORAL E O

D E L IT O ENTRE AS C R IA N Ç A S
E m s u m a , a a b e rra ç ã o d o s e n tim e n to é a n o ta c a ra c te -
rís tic a dos c rim in o s o s , com o d o s d e m e n te s , podendo um a
1 , C ó le r a - 2 . V in g a n ç a - 3 , C iú m e s - 4 . M e n tir a s
g ra n d e in te lig ê n c ia c o in c id ir com u m a te n d ê n c ia c rim in o s a
e d e m e n te , m as nunca com ín te g ro s e n tim e n to a fe tiv o . Is to
5 , S e n s o m o r a l- 6. A fe to - 7, C r u e ld a d e - 8, P r e g u iç a e ó c io

fo i o b s e rv a d o p o r P u g lia e d e p o is p o r P o le tti. Is to ta m b é m
9 , G ír ia - 1 0 . V a id a d e - 1 1 . A lc o o lis m o e jo g o
1 2 . T e n d ê n c ia s o b s c e n a s - 1 3 . I m ita ç ã o
fic a d e a c o rd o c o m o fa to d e q u e c e rta m e n te te rá s e n s ib iliz a d o
• os m eus le ito re s desde o s p rim e iro s c a p ítu lo s : q u e a s a lte ra -
1 4 . D e s e n v o lv im e n to d a d e m ê n c ia m o r a l.

ç õ e s d a te s ta p re d o m in a m m a is d o q u e a s d a s fa c e s , q u e a d a
cabeça e d o s o lh o s s o b re to d a s a s o u tra s .
1 . C ó le ra
A s a lte ra ç õ e s fa c ia is , e s p e c ia lm e n te a s o c u la re s , a o in -
v é s d o s e n tim e n to , q u e ta n to s ã o fre q ü e n te s e in s e p a rá v e is É u m fa to fu g id io ta lv e z a o s o b s e rv a d o re s , e x a ta m e n te p e la
no v e rd a d e iro c rim in o s o -n a to , e que tê m , d e o u tra p a rte , s u a s im p lic id a d e e fre q ü ê n c ia , e a p e n a s le v a n ta d o p o r M o re a u ,
um a base o rg â n ic a . T em c e rta m e n te um a conexão com a P e re z e B a in , q u e o s g e rm e n s d a d e m ê n c ia m o ra l e d a d e lin q ü ê n c ia
s e n s ib ilid a d e o b tu s a e n a q u e la re a ç ã o , o ra e x c e s s iv a o ra m u ito e n c o n tra m -s e , n ã o e x c e p c io n a lm e n te , m a s n o rm a lm e n te n a s p ri-
escassa. C o n s e g u im o s re c o lh e r p ro v a s e x p e rim e n ta is d is s o . m e ira s id a d e s d o s e r h u m a n o . N o fe to , e n c o n tra m -s e fre q ü e n te -
M as e s te a rg u m e n to é bem v ita l, ra z ã o p e la qual não nos m e n te c e rta s fo rm a s q u e n o a d u lto s ã o m o n s tru o s id a d e s . O m e-
s e n tim o s n o d e v e r d e re to rn a r m a is m in u c io s a m e n te n a s p ró - n in o re p re s e n ta ria com o um ser hum ano p riv a d o d e s e n s o m o ra l,
x im a s c o n s id e ra ç õ e s . e s te q u e s e d iz d o s rre n ó lo g o s u m d e m e n te m o ra l, p a ra n ó s , u m
d e lin q ü e n te -n a to . H á n is s o to d a a v io lê n c ia d a p a ix ã o .

P e re z d e m o n s tra a fre q ü ê n c ia e a p re c o c id a d e d a c ó le ra
n a s c ria n ç a s . N o s p rim e iro s .d o is m e s e s e le s m o s tra m com o
I
I ,
58
t ~ :.'i ~ 59

1i
I
"

i
",
m o v im e n to d a s s o b ra n c e lh a s , d a s m ã o s , v e rd a d e iro s acessos • Uma m e n in a , que e ra u m ta n to v io le n ta , to rn o u -s e
d e c ó le ra , q u a n d o n ã o q u e re m to m a r b a n h o , q u a n d o q u e re m •
)
b o a c o m 2 a n o s . V i o u tra , d e 1 1 m e s e s to rn a r-s e fu rio s a p o r-
pegar u m o b je to . A u m a n o d e id a d e a s u a c ó le ra le v a -o a
q u e n ã o c o n s e g u ia to rc e r o n a riz d o a v ô , e u m a o u tra de 2
b a te r n a s p e s s o a s , q u e b ra r p ra to s , jo g á -lo s c o n tra quem os
f
t,
a n o s p o rq u e v iu u m m e n in o c o m m a m a d e ira ig u a l à s u a ; p ro -
d e s a g ra d a , p re c is a m e n te com o o s s e lv a g e n s . É com o os i c u ro u m o rd ê -lo e to rn o u -s e d o e n te p o r trê s d ia s , O u tra d e 2
d a c o ta s , q u e e n tra m e m fu ro r q u a n d o m a ta m o s b is õ e s , c o m o
a n o s tin h a ta l a c e s s o d e ra iv a q u a n d o a c o lo c a v a m p a ra d o rm ir.
o s fid ja n e s q u e s e m o s tra m , nas em oções, m u ito e x c ita d o s ,
f Um m e n in o de 1 5 m e s e s m o rd ia a m ãe quando lh e
m as pouco te n a z e s (P e re z ).
i d a v a b a n h o . U m o u tro d e 3 a n o s , a fa s ta d o d a s a la d e ja n ta r,
A c ria n ç a s e e n ra iv e c e q u a n d o s o fre d o r o u q u a n d o te m
jo g o u -s e p o r te rra n o v ã o d a p o rta , d a n d o g rito s fe ro z e s . A
n e c e s s id a d e

h á b ito s ,
d e d o rm ir o u d e m o v e r-s e , q u a n d o
fa z e r c o m p re e n d e r
o u s e q u e re m
ra iv a o d o m in a q u a n d o
o u s e lh e in te rro m p e m
im p e d i-lo
não pode se
a lg u m de seus
d e c h o ra r, d e d e s a b a fa r. A
é o b rig a d o a fa z e r fe s ta p a ra o s e s tra -
I c ó le ra p o rta n to é u m s e n tim e n to e le m e n ta r no ser hum ano,
q u e d e v e s e r d irig id a , m a s n ã o s e d e v e e s p e ra r q u e s e ja e x tra íd a .

2 . V in g a n ç a
n h o s , o u v e m in te rro m p e r d u a s c ria n ç a s q u e s e b a te m . F re -
~
q ü e n te m e n te a c a u s a é , a b s u rd a : p o rq u e d o m in a n e le s , c o m o E s s e s c a s o s m o s tra m a , fre q ü ê n c ia e a p re c o c id a d e do
b e m d is s e P e re z , a o b s tin a ç ã o e a im p u ls iv id a d e , que bem se s e n s o d a v in g a n ç a n o s m e n in o s . P u d e v e r ta m b é m aos 7 ou
v ê e m q u e m s e la v a , s e d e s p e , o u v a i d o rm ir. E a c ó le ra e n tã o 1 8 m e s e s u m m e n in o a rra n h a r a a m a d e le ite q u a n d o p ro c u ra v a
to m a a e x p re s s ã o a g u d a d o c a p ric h o , d o c iú m e , d a v in g a n ç a , I re tira r a te ta . C o n h e c i u m m e n in o h id ro c e fá lic o , d e d e s e n v o l-
e p re ju d ic a o d e s e n v o lv im e n to d e le s , p rin c ip a lm e n te n o s p re -
! v im e n to e e n te n d im e n to ' ta rd io , q u e s e irrita v a à m a is le v e
d is p o s to s a d o e n ç a s c o n v u ls iv a s e a tin g e p ro p o rç õ e s e s p a n to s a s . a d v e rtê n c ia a té a id a d e d e 6 a n o s . S e p u d e s s e g o lp e a r a q u e le
C e rto s ra p a z e s , d is s e M o re a u e m 1 8 8 2 , n ã o p o d e m e s ta r q u e o tin h a irrita d o , te r-s e -ia tra n q ü iliz a d o ; s e n ã o c o n tin u a v a
u m s ó m o m e n to n a e x p e c ta tiv a d a s o rte p ro c u ra d a , sem en- a g rita r. M o rd ia a s m ã o s , a to q u e e u o v i re p e tir, q u a n d o não
tra r e m c ó le ra . E le c o n h e c e u u m m e n in o d e 8 a n o s , in te lig e n - p o d ia v in g a r-s e d a a m e a ç a fe ita a e le . À s v e z e s re a g ia m u ita s
tís s im o , q u e à m ín im a o b s e rv a ç ã o d o s p a is o u d e e s tra n h o s , h o ra s a p ó s a s ú b ita irrita ç ã o e s e m p re p ro c u ra v a g o lp e a r o u -
e n tra v a e m c ó le ra v io le n ta ,
q u e lh e c a ía à s m ã o s e q u a n d o
q u a n to s o b je to s p o d ia a p a n h a r.

N ã o s e p o d ia p õ r n o b e rç o
tra n s fo rm a n d o e m a rm a tu d o o
s e v ia im p o te n te ,

u m m e n in o
q u e b ra v a

de 4 m eses a
I tro s n o p o n to e m q u e fo ra a tin g id o o u a m e a ç a d o .
tís s im o , s o b re tu d o
s u p o s to ó d io . M e lh o ro u
s e a c re d ita s s e s e r p u n id o
a o s la a n o s . O u tro
s im o a o s 4 a n o s , a té b a te r n a m ã e e m p le n a ru a . A o s 1 1 a n o s
E ra v io le n -
o u s e r a lg o d e
q u e e ra fe ro c ís -

to rn o u -s e d ó c il e b o m .
n ã o s e r c o m a u x ílio d e o u tra s pessoas. A os 6 m eses a m ãe
te n to u c o lo c á -lo e n tre a lm o fa d a s n o p ró p rio le ito , m a s o fu ro r
t
re c o m e ç a v a quando ia p a ra o b e rç o . C o m 1 a n o e ra a le g re , I 3 . C iú m e s
1,<
m a s a in d a te n a z e m c e rto s h á b ito s , c o m o p o r e x e m p lo , ser .1 _ • •,.
~' •• i, É c o m u m a to d o s o s a n im a is e s e m o s tra ta m b é m n o s
c o lo c a d o n o le ito p e lo ~ s e u p a i. •• I' C~F~.-

1.
~ -~ i.~ _ ", s e re s h u m a n o s m a is c a lm o s . O ra e x p lo d e com o in c ê n d io ,
':,.t.,-
,.~
~...~.,';<
60 ~
-.f -t! ~ -; 61
..•.. .. ...•..
:.~:tJíi;!+.. ;.
- - ..

.Is_i".
""-
':~;'
~,

I
!j
"l'

i
11
não parecer que a m erecem . O utras vezes m entem por causa
ora am oita com o cinza. P ode ter com o excitante o am or, m as 1',
,
t,.;I'
da m erenda, fingindo não a ter com ido antes e sob a im pressão
tam bém a posse. É violento nos m eninos. P erez notou o ciúm e de um a forte dor após um a queda, ou para m ostrarem -se
1:11

i~
num que não só era cium ento de quem chegasse perto de sua f fortes, ou querendo im aginar-se não estarem na aviltante

I
am a-de-leite, m as tam bém um objeto, para não cedê-lo a outrem . posição em que estão. O u ainda por ciúm e (um a m enina,
_ F énélon escreveu: "N os m eninos o ciúm e é m ais vio- vendo a m ãe acariciar seu irm ãozinho, inventou que foi agre-
. lento do que se im agina e há m uitos que em agrecem insensi- dida por ele); ou por preguiça (por exem plo, não querendo

I
velm ente ao sentir-se m enos acariciados do que outros. T ie- fazer algum a coisa dizem estarem doentes). E u m e recordo
dem ann, em um m enino de 22 m eses observou que queria ter, com tal pretexto, evitado por m eses um a enfadonha lição
ser louvado quando fosse louvada sua irm ã, e batia nela se de aritm ética; tinha 5 ou 6 anos, enganando até os m édicos.
não lhe cedia de súbito o que ela ganhava. U m garoto de 3 D epois dos 3 ou 4 anos, eles m entem por m edo de serem
anos, que falava com grande prazer da futura irm ã, quando punidos e a isso são levados da m aneira com que são interro-
a viu nascer e ser acariciada logo perguntou se ela devia gados e pressionados para darem a resposta. F reqüentem ente
.•... m orrer logo. m entem para satisfazer a vaidade. H á m eninos que por vai-
1.-
~ V i esse sentim ento desenvolvido no prim eiro m ês, nos dade se dão prêm ios im aginários. U m a m enina se dava ao
E
{
prim eiros dias do nascim ento em um a m enina que não to- gosto de narrar a si m esm a fábulas em que se tornava rainha
m ava m ais o leite quando via sugado o outro seio pela irm ã I e ficava absorta com elas todo o dia.
~~:---
~ gêm ea, razão porque era separada im ediatam ente. C om 4 U m a das razões das freqüentes m entiras deles é a im -
anos, ela não com ia m ais se via pela janela um a m enina vesti-
~ pulsividade e o senso m enos com pleto, m enos profundo do
"'<l'. da com o ela. C om 14-15 anos, depois de um grave tifo, com e- verdadeiro, que custa m enos para eles do que para os outros
çou a tornar-se boa; era porém m uito tarde. A os 25 anos, em dissim ulá-los, m udá-los diante de um objetivo, m esm o
m ais hipócrita que boa, com crânio hidrocéfalo e hiperestesia leve de atingir, exatam ente com o nos selvagens e delinqüen-
histérica. V albust fala de um m enino de 6 anos, cium ento de tes. P or isso, vê-se aplicar a dissim ulação, da qual acreditam os
seu irm ãozinho, que apresentava freqüentem ente aos próprios que sejam incapazes pessoas m ais m aduras. C onheci um a
pais a faca para que o m atassem . m enina que, com 4 anos, roubava o açúcar com tanta destreza
que não se deixava surpreender, e depois fazia crer que a

4. M entiras ladra fosse .a servente.


U m passo a m ais e vim os outra que só para criar
M ontaigne dizia que a m entira e a obstinação crescem
rum or em torno dela fingia expelir secreções vaginais e
nos m eninos tanto quanto seu corpo. P erez o adm ite e aduz \ enganou por anos m édicos experim entados. O utra, de 5
com o causa prim eira a facilidade que tem os em enganar as
crianças desde os prim eiros m eses para tranqüilizá-los, lavá-
J: ou 6 anos, ouviu a m ãe adotiva ler em um jornal um pro-

-
cesso escandaloso; alguns dias depois ela inventou que
los, etc. E les m entem p;lra conseguir aquilo que lhes foi proi- ('I.

~ ,1', ~,-. '


fôra m olestada obscenam ente pelo pai e pelo avô. Iniciou-
bido; m uitas vezes para evitarem um a repreensão ou para ~t,._",:'4'-'
~
...'?': 63
, .', 't.,.,.
62 ~ ; . ""'"
~/Ii: t".ff:i;:~.
;i.~"
'.1
I
I
I
se um g ra v e p ro c e s s o , a ré que os exam es d e m o n s tra ra m
u m m e n in o d e 4 a n o s q u e tin h a d ito m e n tira s fo i p u n id o
q u e tu d o e ra m fá b u la s ; ú ltim o e ú n ic o o b je tiv o e ra p ro v o c a r
p e la m ã e c o m c a s tig o n a a d e g a , m a s e le a in d a d is s e : " M e -
b a ru lh o e m to rn o d e s i.
!
re c ia b e m p io r" . A o in v é s , p u n id o p e la a v ó , c o m s im p le s
B o u rd in , q u e fo i e n c a rre g a d o d e fa z e r tra b a lh o e s p e c ia l

Ii
a b a n d o n o n u m q u a rto e s c u ro , n ã o s e a d a p ta v a , ju lg a v a -s e
s o b re a m e n tira e n tre o s m e n in o s , c o n ta -n o s q u e u m m e n in o in ju s tiç a d o e g rita v a .
in v e n to u te r u m c o rp o e s tra n h o n o o u v id o e g rita v a d e d o r,
A d o r p e lo c a s tig o , p o rta n to , n o s m e n in o s , v a ria s e g u n -
p a ra c h a m a r a a te n ç ã o s o b re s i. O u tro , com o m esm o fim ,

I
d o a s p e s s o a s q u e o a p lic a m . A id é ia d e ju s tiç a , d e p ro p rie -
s im u lo u um a doença c o m p lic a d a . D o is m e n in o s de 5 ou 6
d a d e , v e m a o m e n in o a p ó s h a v e r p ro v a d o a dor de ser desa-
a n o s , n a m e s a , e s ta b e le c e ra m a c o rd o e n tre e le s d e e s c o n d e r
p ro p ria d o e te r o u v id o d iz e r q u e is to é m a u . O d e ia g e ra lm e n te

I
da m ãe um pequeno c rim e d e u m d e le s (d e te r d e rru b a d o
a in ju s tiç a , p rin c ip a lm e n te quando e le p ró p rio a s e n te . P a ra
v in h o n a to a lh a ), e c o m is s o im p e d i-lo d e ir a o te a tro , que
e le , e la c o n s is te e m u m d e s a c o rd o e n tre o m o d o h a b itu a l d e
fo ra p ro m e tid o s ó a e le . tra ta m e n to e o a c id e n ta l.
U m a m e n in a d e a p e n a s 3 a n o s , c u ja m ã e p ro ib iu de
E m c irc u n s tâ n c ia s n o v a s e s tá e m p le n a in c e rte z a . U m
e s m o la r c o m id a d is s e a u m a s e n h o ra : " S e m e d e s s e n e g a rá à
m e n in o le v a d o d e s u a c a s a a P e re z m o d ific o u s e u s h á b ito s
..m ã e h a v e r a c e ita d o " ..É a m b ic io s a , e , d e s e ja n d o ser bem ves- t
JI
s e g u n d o a n o v a s itu a ç ã o : com eçou a d irig ir a fú ria d o s g rito s
tid a , d is s e à m ã e : ''A q u e la s e n h o ra m e re p re e n d e u por ser
e s ó o b e d e c ia a e s s a fú ria . O s e n s o m o ra l é , p o rta n to , um a
in d e c e n te " . E n tre ta n to n ã o e ra v e rd a d e . Q uando fo i re p re -
d a s fa c u ld a d e s m a is s u s c e tív e is d e s e r m o d ific a d a p e lo a m -
e n d id a por essa nova m e n tira negou v e e m e n te m e n te . E la
í b ie n te m o ra l. A noção d o b e m o u d o m a l q u e é o g e rm e
m e s m a u m d ia n e g o u
E s te c a s o é fre q ü e n te
te r a lm o ç a d o
n o s m e n in o s .
p a ra te r n o v o a lm o ç o .
i in te le c tu a l d e la n ã o s e c o n s ta ta a n te s dos 6 aos 7 m eses.

I
;
P e re z v iu u m m e n in o d e 7 m e s e s , c u ja m ã e tin h a
q u e e ra e rra d o g rita r q u a n to
e n s in a d o
to rn a v a b a n h o . A o re v é s , q u a n to
5 . S e n s o m o ra l , m a is g rita v a m a is s e irrita v a , o b s tin a v a e c h o ra v a .

O p rim e iro a c e n o d o s e n s o m o ra l é q u a n d o c o m p re e n -
O s e n s o m o ra l fa lta c e rta m e n te n o s m e n in o s n o s p ri-
d e m c e rta s a titu d e s e c e rta s e n to n a ç õ e s q u e te n h a m o b je tiv o
m e iro s m e s e s e a té n o p rim e iro a n o d e v id a . P o r is s o , o b e m
re p re s s iv o , q u a n d o com eçam a obedecer por m edo ou por
e o m a l é o q u e fo r p e rm itid o o u p ro ib id o p e lo p a i o u p e la
h á b ito . O in te re s s e , o a m o r p ró p rio , a p a ix ã o , o d e s e n v o lv i-
m ã e , m a s , a lg u m a v e z , s e n te m por si quando u m a c o is a s e ja
m e n to d a in te lig ê n c ia e d a re fle x ã o d e te rm in a m a e x te n s ã o
m á . D is s e u m m e n in o a P e re z : "É v il m e n tir e desobedecer
d o b e m e d o m a l e m a is , ta lv e z , a s im p a tia , a fo rç a d o e x e m p lo ,
- is to d e s a g ra d a à m am ãe". D iz ia u m g a ro to : " Q u a n d o cho-
o m e d o d a re p re e n s ã o ; d e to d o s e s s e s e le m e n to s s e fo tm a a
ro , m a m ã e m e p õ e a d o rm ir e e n tã o m e d á u m a a lm o fa d a " .
c o n s c iê n c ia m o ra l. O m e s m o p o d e s e r m a is o u m e n o s e n c a m i-
A s s im fa z e m p e la s a ç õ e s m o ra is o u e n c o n tra m a quem os
n h a d o s e g u n d o a s a titu d e s d o c a rá te r e d o s a c id e n te s do m o-
lo u v e . U m m e n in o d e 2 a 5 a n o s a c re d ita v a te r fe ito b e m .
m e n to . A filh a d e L u ig i F e rri d is s e -lh e u m d ia : " S in to q u e
D iz ia : " O m u n d o d ir8 .: é u m b o m ra p a z " (P e re z ). U m a v e z
h o je n ã o p o s s o s e r b o a " .

64
65
;:r-
:'t,

6. A feto
t G eralm ente ele prefere o m al ao bem ; é m ais cruel que

É escassa neles a afeição. Provam sim patias sobretudo tf bom , porque experim enta assim m aior em oção e pode provar

pelos rostos belos e por aqueles que procuram um prazer,


.com o por exem plo, pelos pequenos anim ais que se deixam
,
,
a sua ilim itada potência, e por isso o vê rom per com prazer
os objetos inanim ados. Ele se diverte em cortar anim ais, m atar
m oscas, bater nos cães, sufocar pássaros, revestir besouros
prender, e antipatia, sobretudo pelos objetos novos que cau-
de cera quente, prolongar a agonia de seres vivos por m eses
~ sam m edo. N ão sentem afeto e tam bém depois dos 7 anos os J inteiros.
m eninos esquecem a própria m ãe, a quem aparentavam am ar. ,
I
U m m enino de 4 anos perdeu seu m elhor am igo; o pai deste, Foi um m enino que inventou a gaiola de junco e de
tom ou-o nos braços soluçando, m as ele de súbito lhe disse: vim e, a ratoeira, a rede para as borboletas, e m il outros en-
"A gora que Pedro está m orto, o senhor m e dará o seu cavalo genhos de destruição, disse-m e um cientista. D isse ainda o
e seu tam bor, não é verdade?" D r. Blatin que viu engenhosos garotos jogar tênis com peque-
T nos besouros, que eles jogavam de um para outro com a
Q uando alguém acredita no am or deles, no fundo,
raquete. N o m ês de julho de 1865, na arena de M onte-de-
. com o as m ulheres venais, revelam não ser ligados a nada, a
não ser por bens e pela esperança de receber novos, e o am or
M arsan, vim os m eninos de uns 10 anos lançarem -se furiosa-
m ente contra touros quase m ortos e m atá-los a golpes de
.~, se vai quando lhe apareça qualquer esperança de vantagem .
~ ;.~ . espada. Em M úrcia, na Espanha:vim os rapazes descerem na
H á algum as exceções. E você está, anjinho m eu, entre aqueles
~~. arena e fazerem serviço de m atador.
cujos olhos doces, vivazes, brilham ainda no sepulcro e que
'~;<
não parecem desfrutar, m as conviver com os outros!
~,
••• M as a raridade dos casos, com o dos poucos selvagens, bons, 8. Preguiça e ócio
os \V edas, os santala, confirm a a regra, tanto m ais que, quase
O utro' caráter que torna sem elhante o m enino ao
sem pre, exatam ente porque exceção precoce de sensibilidade
não pode perm itir um bom desenvolvim ento do organism o. delinqüente nato é a preguiça intelectual, o que não exclui a
atividade pelo prazer e pelo jogo. Eles fogem de um trabalho
contínuo e sobretudo a um novo trabalho a que se sentem
7. Crueldade
desadaptados. Q uando constrangidos a um estudo fazem o
"Esta é sem piedade", disse da natureza dos m eninos prim eiro esforço, repetem sem pre esse, m as evitam outros,
' •. La Fontaine, o fiel pintor da natureza. A crueldade é, de pela m esm a lei da inércia pela qual não gostam de m udar de
fato, um dos caracteres m ais com uns do m enino. Broussais atividade o=uconhecer fisionom ias novas. Isto porque o inte-
'" disse que não há quase garoto que não abuse de sua força lecto nosso sofre com toda sensação enérgica nova, enquanto
sobre aqueles que são m ais velhos do que ele. Tal é o seu
prim eiro m ovim ento, m as os lam entos da vítim a o detém
i
.L..
se apraz com as antigas, ou com as novas que sejam de pouca
im portância.
quando não é nascido para a ferocidade até que um novo , I:";", •.,À s vezes, não se revela a verdadeira preguiça m uscular.
~J~'-'~~.
im pulso instintivo não"o faça com eter um novo erro. '!f~~~Contrasta m as não contradiz com essa tendência, a de m udar
~t".",.
,"'---~'"
li' .;r .. "<;
"f' . ,;-"_

I'('~'~
66 4 ;~ ;
67
:';~--4: ...
,
1--


O s m e n in o s se fa z e m p e tu la n te s d e sd e 7 e 8 m e se s,
,
1 ~;,
".:
c o n tin u a m e n te d e p o sto , d e te r n o v a s d o id ic e s, e n c o n tra r-
se ju n to a m u ito s c o m p a n h e iro s, m a lg ra d o se ja m p o u c o a fe i- d ã o -se b o ta s e c h a p é u s e lu ta m p o r n ã o q u e re r p e rd ê -lo s. V i
ç o a d o s u m c o m o o u tro , fa z e n d o o rg ia s, d e v o z e s e m o v im e n - c a so s p a re c id o s d e m e n in o s q u e se re v e la ra m d e p o is d e p o u c o
t, engenho e pouca p re c o c id a d e , a 9 ou la m e se s c h o ra re m
to , p rin c ip a lm e n te c o m o fo i n o ta d o d o s m e te o ro ló g ic o s, o
d ia p rim e iro d o s te m p o ra is, e n ã o ra ra s v e z e s n a s c o sta s d o s p a ra q u e fo sse m v e stid o s c o m d e te rm in a d a ro u p a v isto sa .
v e lh o s, d o s c re tin o s e d o s c o m p a n h e iro s m a is d é b e is. U m , d e 2 2 m e se s q u e ria ro u p a a z u l, u m o u tro d iz ia se m p re

Isto , c o m o n o s d e lin q ü e n te s,
g u iç a . E le s se to rn a m
n ã o c o n tra sta c o m a p re -
a tiv o s d ia n te d e u m p ra z e r fá c il d e c o n -
1 q u e q u e ria ro u p a d e c a sa m e n to .
F a z e m -se o rg u lh o so s d o p a i p ro fe sso r, c o n d e , e m p re sá rio ,
se g u ir e m u m d a d o m o m e n to . A m am a s in o v a ç õ e s quando e tc . H á a lg u n s q u e , m e sm o se n d o re strito s, re v e la m p a ra a s a m ig a s
e sta s n ã o sa c rifiq u e m o s m io lo s e q u a n d o sa tisfa z e m o p ra z e r e m p ro p o rç ã o re le v a n te , p a ra se p a ssa r p o r ric o s. O s m e n in o s
d o m ú tu o c o n ta to q u e n ã o te m re la ç ã o d ire ta c o m a in te n - m a is ig n o ra n te s n ã o a d m ite m ja m a is se re m re p re e n d id o s, g e ra l-
sid a d e d o a fe to e q u e e x a ta m e n te a ssim se o b se rv a n o s c rim in o so s. \ m e n te p e lo s m e stre s, p e la in c a p a c id a d e . E x p lic a m a s re p re e n -
sõ e s c o m fa lsa s ra z õ e s, se m p re e stra n h a s a o s p ró p rio s e rro s.

9 . G íria \ T o d o s a c re d ita m su p e ra r o s o u tro s n a s p e q u e n a s o p e ra -

I
ç õ e s .. O b se rv o u P e re z u m m e n in o q u e n o b a la n ç o g rita v a :
"'-..
E sse h á b ito te m a té in tro d u z id o e n tre e le s u m a e sp é - " O h ! V e ja m c o m o m e b a la n ç o b e m ! C o m o v o u fa c ilm e n te ;
c ie d e g íria , c o m o s sin a is d e m ã o s d ife re n te s p a ra su b tra ir-se n in g u é m p o d e fa z e r c o m o e u !" . T o d a v ia , o s se u s c o m p a n h e i-
à p re ssã o d o s su p e rio re s, q u e n o te i e m u so n o s m u ito s c o lé g io s ro s ta m b é m fa z ia m . E is a í u m a ilu sã o tra z id a p e lo a m o r-p ró p rio .
e e sc o la s p ú b lic a s, e n tre m e n in o s d e 7 a 1 2 a n o s. A p e rso n a lid a d e n o g a ro to v a i a té o e g o ísm o , à p re -

1 0 . V a id a d e
I su n ç ã o , a té o p e d a n tism o , e fre q ü e n te m e n te c o m te n d ê n c ia
à sim p a tia , à te rn u ra e à c re d u lid a d e o q u e c o n trib u i a o d e se n -

T a m b é m e ste fu n d a m e n to d a m e g a lo m a n ia e d a c rim i-
I
I
v o lv im e n to d o se n so m o ra l. A id é ia d a p e rso n a lid a d e
e sb o ç a d a n o p rim e iro a n o , c o m o n a s fe ra s. E n tre
é apenas
os 2 e 4
n a lid a d e n a ta , q u e é a v a rie d a d e e x c e ssiv a , a p re o c u p a ç ã o a n o s, o se n tim e n to p e sso a l a firm a -se a té o e x a g e ro . Um
d e si m e sm o , é e n o rm e
q u e o s p rin c íp io s
n o s m e n in o s.
d e ig u a ld a d e
E m d u a s fa m ília s, e m
sã o in a to s n o s g e n ito re s, os 1 g a ro to d e 2 6 m e se s g rita v a p o r q u a lq u e r a rra n h ã o . T om ado

I!
d e a m o r-p ró p rio , m o d ific o u -se , e m e sm o g o lp e a d o , n ã o se
filh o s a in d a a o s 3 a n o s re v e la v a m a s p re te n sõ e s, d ife re n ç a s q u e ix a v a e le v a v a tu d o p e lo la d o c ô m ic o . U m d ia n ã o q u is
d e c la sse s so c ia is, e tra ta v a m c o m a rro g â n c ia o s p o b re s. a p re n d e r a le r d ia n te d e u m a g a ro ta d iz e n d o : " E la ri d e m im !"
U m a m e n in a m u ito ta c itu rn a , d e m e d ío c re d e se n v o lv i-
m e n to in te le c tu a l, educada p o r m ã e b o n íssim a , c h e ia de t 11. A lc o o lism o e jo g o
id é ia s n o b re s, b rin c a n d o c o m a filh a d a se rv e n te , im p u n h a -
;{
lh e p re te n so s se rv iç o s e a re p re e n d ia . H á n e ssa a titu d e um Q uem v iv e n a a lta so c ie d a d e n ã o te m id é ia d a p a ix ã o
p o u c o d e im ita ç ã o , m a s a in d a m u ita id é ia d e g ra n d e z a . ~~Q~'~'::.i.
~
".; :.' :.~
q u e tê m a s c ria n ç a s p e lo á lc o o l, m a s n a b a ix a so c ie d a d e é
:' -.~f" ~
"',
'" '::' t'F,:~:
~:.:.. 69
68 '!*J~?,::+:'~
*!i ttil(::';;-.t-~,
~ - .< ,~ l;.,_
rr
I

I
m uito óbvio observar até os lactentes tom arem vinho e licor Por pouco, disse M arc, um m eu am igo de infância não
com vontade toda especial e os genitores se divertirem em sucum biu ao jogo do enforcado. Tendo assistido na cidade
vê-los cair na em briagues (M oreau). M uitas vezes os presidiá-
i de M etz a um a execução, ele e outros com panheiros pensa-
.rios m e contaram que se em briagavam desde a infância e ram em im itá-lo. Ele foi escolhido com o paciente, outro com o
diante dos genitores. A paixão pelo jogo é um a nota caracte-

I
confessor e um outro com o o carrasco. Prenderam -no no
.' rística da vida infantil. balaústre de um a escada e, com o foram perturbados no jogo
deles, fug(ram , esquecendo o pobre garoto, que teria m orrido
12. Tendências obscenas se alguém 'que chegou a tem po não o soltasse e o reanim asse.
O s m eninos têm em com um com os selvagens e os
N em quando lim itado pelo desenvolvim ento incom -
delinqüentes a m esm a previdência: um futuro que não seja
pleto faltam as tendências obscenas desde a prim eira idade,
de 3 a 4 anos. Em todos os asilos foram apresentados um ou
I im ediato ou não pareça assim , não tem qualquer influência

I
;t;-
sobre a im aginação deles. Ter um prazo após oito dias ou
'. dois m eninos dedicados ao onanism o. Todos os am ores anô- após um ano é igual para eles.


m alos e m onstruosos, com o quase todas as tendências crim i- !
lf'>
''j-''

5.:.;,
~}
~,
nosas, têm princípio na prim eira idade .
II 14. D esenvolvim ento da dem ência m oral

D o conhecim ento dos fatos descritos e narrados, tem -se


~.'fZ 13. Im itação
.'-'>' ..
~~ a natural explicação de com o a dem ência m oral se originou só
.•:..
~.•1'"
~.
A té a form a de cam inhar
m eninos, são efeito da im itação,
e de falar, escreve Perez, nos
e naturalm ente se im ita o
por falta de todo freio nos excessos desde a infância, cujos m aus
hábitos não interrom pidos pela educação, seria com o um a conti-
bem com o o m al. U m a m enina que tinha o pai irascível, aos nuação. Esses m eninos, disse C am pagne falando dos candidatos
15 m eses com eçava a enrugar a sobrancelha à m aneira do à dem ência m oral, são insensíveis aos louvores e às censuras.
pai e gritar a seu m odo. A os 3 anos dizia a um com quem N ão sentem quando o seu com portam ento se torna penoso à
discutia: "C ale-se, você não m e deixa term inar a frase", exata- !
sua fam ília. Ficam indisciplinados, descuidados, briguentos.
m ente com o o pai. H á portanto im itações m orais antes que O ócio, o onanism o e o deboche, as excitações de todo tipo
nós possam os perceber. são os grandes estágios que percorrem aquela exaltação, dita
,; U m idiota, disse G al!, depois de ver m atar um porco, dem ência racional, que os leva irresistivelm ente à ação.
pensou logo depois em degolar um hom em e o degolou. Prós- A crueldade foi notada na prim eira juventude de C a-
pero Lucas cita o exem plo de um m enino de 6 a 8 anos que racala, de Luiz XI e C arlos IX, que fazia torturar anim ais .
.sufocou seu irm ão m ais jovem. Q uando o pai e a m ãe entra- Tam bém de Luiz XIII que am assou entre duas pedras a cabeça
ram e tom aram conhecim ento do ocorrido, ele jogou-se nos de um passarinho, e tanto se irritou contra um gentil hom em
braços deles chorando e declarando ter desejado im itar o que lhe era antipático que fingiu m atá-lo. Feito rei, divertia-
diabo, que tinha estr~.ngulado Pulcinel!a. se em assistir a agonia dos protestantes condenados a m orte.

70 71

Sendo a dem ência m oral e as tendências crim inosas


unidas indissoluvelm ente, explica-se porque quase todos os
grandes delinqüentes tiveram que m anifestar suas m edonhas
tendências desde a prim eira infância. L a L afarge estrangulava
frangos desde criança com grande prazer. Feuerback conta o
caso de um parricida que gostava de fazer girar os frangos em
torno de si depois de cegá-los. D um bey aos 7 anos era ladrão.
A ssaltante B , com 9 anos, já era ladrão e estuprador. C artou-
che aos 11 anos era ladrão. C rocco aos 3 anos divertia-se em
depenar aves vivas.
L ocatel1i observou que a tendência ao furto se m ani- 6. C A SU ÍST IC A (D E D E L IT O S NOS M E N IN O S)
festa na idade m ais tenra; com eça com pequenas subtrações
dom ésticas e progride. O s assassinos tornam -se tais de re-
pente e tam bém em idade jovem . D e outro m odo, observou E is por que a cota dos delitos nos m eninos é m ais do
R ousse1 em sua grandiosa obra Inquérito sobre a Menoridade - que escassa, dos quais apontam os alguns.
1883, no que se refere à França, a prostituição tem um a larga
cota dc m cnorcs: 1.500, por exem plo, em 2.582 prostitutas 1. V im ont, no seu Tratado de Frenologia -1838 - fala de
detidas em 1877. E m B ordeaux, continua ele, notava-se que um m enino de 11 anos que convidou um garoto de 5 para
461 prostituíam -se por situação fam iliar ou por corrupção passear em um brejo e chegando lá bateu nele, enfiou-lhe
direta (32) dos pais, apenas 14 por perversão de seus instintos, um bastão no reto e depois o afogou. A cusado do crim e, não
entre outras a filha de um engenheiro e a de um rico presidente. só o negou, m as acusou outros m eninos.

2. E m 15.6.1834, na cidade de B el1esm e, retirou-se de


um poço o cadáver de um a m enina de 2 anos. D ois dias depois
foi retirado do m esm o poço um garoto de 2 anos e m eio. U m a
jovem de 11 anos, conhecida por hábitos perversos, não encon-
trava m eninos m enores do que ela sem bater neles ou atorm entá-
los de m il m odos cruéis. E la tinha atirado sucessivam ente no
poço os dois m eninos fazendo-os cair com um em purrão (M oreau).

3. O T ribunal do Júri de D oubs julgou um incendiário de


8 anos que ateou fogo na casa de sua aldeia e tudo isso, com o
confessou, só para divertir-se e ilum inar os m eninos (M oreau).

72 I 73
~
~.
w-
4 . U m b a n d id o e sc o c ê s, c o n d e n a d o p o r a n tro p o fa g ia ,
U v iv o s, a o s 8 a n o s c o m e ç o u a ro u b a r. N e to d e u m a ssa ssin o ,
d e ix o u u m a m e n in a q u e a o s 1 2 a n o s e ra u m a fe ro z a n tro p ó - ~ g a b a v a d e tê -lo se g u id o n o s g o lp e s d e le e te r o rg a n iz a d o b a n d o
:...
fa g a . P e rg u n to u e la : "E p o r q u e te r d e sg o sto ? S e to d o s so u - J: d e la d rõ e s d a s e sm o la s d a s ig re ja s, e te r ro u b a d o a m iú d e a
b e sse m c o m o é b o a a c a rn e h u m a n a ,
filh o s" (M o re a u ).
to d o s c o m e ria m o s se u s
~i
~t
p a rte q u e p e rte n c ia a se u s c ú m p lic e s m e n o re s, o que deu

./ c a u sa a e le s p a ra q u e o d e n u n c ia sse m .

bundo,
5 . A .M ., d e 1 1 a n o s, d e tid o p e la o ita v a v e z c o m o v a g a -
d e c la ro u q u e e ra b e m n u trid o
m a s q u e se n te n e c e ssid a d e
se m p re d a m ã e se fo r e n c a m in h a d o
e c u id a d o p e lo s p a is,
d e se r liv re e q lle e le se lib e rta rá
a e la . E stá n o se u sa n g u e ;
I
I
9.
~i
L B ., de G ênova, c râ n io a m p lo , fro n te e stre ita , ta -
tu a d o n o b ra ç o c o m a fra se : "M o rte a o s v is, e v iv a a a lia n ç a "
(ro u b o u d e sd e o s 8 a n o s). G a tu n o , te m se te irm ã o s, d o s q u a is
trê s e stã o p re so s.
p re fe ria fic a r n a c a sa d e c o rre ç ã o q u e fic a r n a p ró p ria c a sa .
I I
1 0 . U m c e rto G., d e fa m ília h o n e sta , com 7 anos co-
6 . E m L a g n y , d o is m e n in o s,
1 0 , te n d o m o tiv o d e ra n c o r c o n tra
u m d e 1 3 a n o s, o u tro
u m se u c o m p a n h e iro
de
de
t m e ç o u a ro u b a r n a e sc o la , e sp o lia n d o a té o s p ro fe sso re s. T e v e

.~ 7 a n o s, c o n v id a ra m -n o a n a d a r n a m a rg e m d o M a rn e , em
~ u m a irm ã su sp e ita d e fu rto e litig io sa . C h e g o u a sim u la r p e -
.~ .:
",',
.\ ra n te a ju stiç a m a u tra ta m e n to , p a ra fa z e r e n c a rc e ra r se u s p a is .
::.,.. lu g a r a fa sta d o . Jo g a ra m -n o e m lu g a r p ro fu n d o e a g o lp e s d e

~;
p é e d e p e d ra re p e lira m
g u in te ,
a te n ta tiv a d e sa lv á -lo . N o d ia se -
u m d e le s, o m e n o r, c o n fe sso u a v e rd a d e (M o re a u ).
I
I 1 1 . U m m e n in o , L .P ., a o s 1 9 a n o s se m o stro u e ste lio -
J. I n a tá rio h a b ilíssim o , la d rã o c o m te n ta tiv a d e h o m ic íd io , p e r-
fe ita a p a tia m o ra l, e sta tu ra a lta , te sta p e q u e n a a lo n g a d a , se m
7 . A o s 1 3 a n o s, B .A ., b ra q u ic é fa lo , ín d ic e 8 7 , o x c é fa lo , í• b a rb a , n a riz d e sp ro p o rc io n a l e re c u rv o . F ilh o d e a lc o ó la tra e
c o m o lh o s o b líq u o s, z ig o m a s sa lie n te s, m a n d íb u la s v o lu m o sa s,
! m ã e la sc iv a , c o m a v ô m a te rn o su ic id a . C o m a id a d e d e 3
o re lh a s d e a sa , c o m p a p o , fe riu m o rta lm e n te c o m u m fa c ã o I a n o s, a n d a n d o c o m se rv e n te s n o m e rc a d o , c o m e ç o u a ro u b a r
n o c o ra ç ã o u m c o m p a n h e iro q u e lh e n e g o u d in h e iro v e n c id o c e sta s d e d in h e iro , p e ix e s, fru ta s, e se g u iu ro u b a n d o e m c a sa ,
n o jo g o . C o m 1 2 a n o s já e ra e n c o n tra d o n o s p ro stíb u lo s. d e p o is n a e sc o la .

I
S e is v e z e s fo i c o n d e n a d o p o r fu rto . T in h a u m irm ã o la d rã o ,
u m a irm ã m e re triz e a m ã e c rim in o sa . E ra re lig io so , p o is fre -
1 2 . O b a n d id o a n tro p ó fa g o F . S a lv a to re , d e C a tâ n ia ,
q ü e n ta v a a o m e n o s a s ig re ja s, m a s n u n c a d isse a o c o n fe sso r
q u e , p o r trê s v e z e s, sim u lo u d e m ê n c ia , m e d e ix o u e m le m -
o s d e lito s c o m e tid o s.
! b ra n ç a e sc rita c o m o já n o s 6 a n o s ro u b a sse d o s p a is a s re fe i-
[ ç õ e s, p a ra d a r a o s c o m p a n h e iro s. M a is ta rd e , a o s 9 a n o s,
8 . M a in e ro , u m m e n in o d e fisio n o m ia p re c o c e e d e se n - ro u b a v a d o re sta u ra n te p e ç a s in te ira s d e q u e ijo . E m u m a lid e
v o lv im e n to e sc a sso , u m a v e z q u e a o s 1 2 a n o s a p a re n ta v a 6;
i; .. p o r jo g o c o m u m a m ig o , a rra n c o u -lh e u m p e d a ç o d a o re lh a ,
'[
f ~.
a ltu ra

74
d e 1 ,2 4 m , o re lh a s d e a sa , z ig o m a s sa lie n te s, o lh o s

~~.""~.
1._~~~i.'
";li c,' ;".t~
m a lg ra d o o p a i fo sse h o n e stíssim o e o c a stig a v a p o r sa n ta s

75
~ - ---_ ._ - - - - '" '- - - ~ - - - ~ - - - _

'r
'J
I
r a z õ e s p a r a c o r r ig i- lo . A o s 1 4 a n o s f e r iu c o m u m f a c ã o g r a v e -

iI
V á r ia s v e z e s , te n to u s u ic id a r - s e d e v á r ia s m a n e ir a s . T i-
m e n te u m c o m p a n h e ir o d e jo g o . C o m f a ls a c h a v e ro u b o u o n h a e s tr a n h a s p r á tic a s r e lig io s a s ; q u a n d o ia p a s s e a r , à s v e z e s
d in h e ir o d o p a i. A o s 1 9 a n o s m a to u um hom em . c a ia d e jo e lh o s . N ã o q u e r ia c o m e r g o r d u r a s e m d ia s d e v ig ília ,

1 3 . D e u m a m ã e h is té r ic a d e g r a n d e ta le n to e p a i ta m -
I a p e s a r d a s c o n c e s s õ e s e c le s iá s tic a s . Q u a n d o
à m is s a f o r a d a s f e s ta s r e c a lc itr a v a , a p e la n d o
q u e r ia m le v á - lo
a té a o s in s u lto s .
b é m ta le n to s o
u m c a p a c ita d o ,
m a s b iz a r r o e a b u s a d o r
o u tr o a lie n a d o ,
d o tr a b a lh o ,
d e r iv a r a m q u a tr o
d o is tio s ,
f ilh o s : u m I C o m e tid o p o r é m o a to a n te s n a r r a d o , e m b o r a n ã o m o s -
tr a s s e a r r e p e n d im e n to e d is s e s s e q u e e s ta v a p r o n to a c o m e te r
h o n e s tís s im o ,
m ic íd io c o m e tid o
m e r c a n tis ,
m e n in o
u m e x c e s s iv a m e n te

d e s d e jo v e m
r a q u ític o
la s c iv o , s u ic id a a p ó s o h o -
p o r p a ix ã o ; u m b r a v ís s im o n a s n e g o c ia ç õ e s
a v e s s o a q u a lq u e r
c o m f r o n te e s tr e ita ,
e s tu d o ; u m o u tr o
f o i la d r ã o tã o te n a z a
I o u tr a

a lf a b e to
v e z o d e lito ,
e n c o n tr o u m odo
s u p o r to u
d e c o m u n ic a r
c u ja s le tr a s e r a m
p á lid a , e r a s u je ito a f r e q ü e n te s
c a lm a m e n te

r e p r e s e n ta d a s
c o n v u ls õ e s
a p r is ã o .
a o c o m p a n h e ir o
P o ré m ,
com
p o r g o lp e s . D e c o r
n o s m ú s c u lo s d a s
um

p o n to d e r o u b a r a té o r e ló g io e o s o b je to s q u e e n c o n tr a v a na f a c e s , d o s d e d o s e d o tr o n c o . D e c a b e lo s lo ir o s , o r e lh a s d e a s a .
c a s a d o s p a is . A o s 1 6 a n o s s e f e z h o n e s to , ta lv e z p e lo g r a n d e 1
c u id a d o d a m ã e . T o rn o u -se h a b ilís s im o n a s n e g o c ia ç õ e s . ! 1 5 . B .R ., d e 7 a n o s e m e io , m o r e n a , in d o le n te , e s tr á -
. b ic a , m a c r o c é f a la , d e m ã e d e s o r g a n iz a d a e p o u c o b e n é v o la à
-i
1 4 . E n tr e d o is m e n in o s c e g o s e n c o n tr a d o s e m u m in s ti- f ilh a e n a d a a f e iç o a d a a o m a r id o d o e n tio , pegava em casa
tu to p r iv a d o o c u lta v a r e c íp r o c o m a l- e s ta r . U m a ta r d e , p a s s a n -
d o a c o n v e rsa r, c h e g a ra m à s v ia s d e f a to . O m a is d é b il, p o r é m
I la r a n ja s e c o n f e ito s q u e v e n d ia p o r d in h e ir o . C o m p r a v a
q u e d o s c o m d in h e ir o ro u b a d o da casa da m ãe. D eu um a vez
b r in -

a s s o c ia d o a o u tr o c o m p a n h e ir o q u e a n te s h a v ia p r e v e n id o , !
f
d u a s lir a s , o u tr a v e z 5 0 c e n ta v o s , a u m a c o m p a n h e ir a p a ra
d o m in o u s e u a d v e r s á r io : e n q u a n to u m o se g u ra v a p e la s p e r - te r u r n a m e d a lh a . T ir o u d a ir m ã u m a m o e d a d e o u r o d e v in te
n a s , e le o e s g a n a v a , ta n to q u e o te r ia m a ta d o s e o b a r u lh o - lir a s e m o s tr o u - a à c o m p a n h e ir a d iz e n d o tê - la g a n h o d e p r e -
1
não tiv e s s e f e ito a c o r r e r o u tr a s p e s s o a s . E s te é d e 1 2 a n o s , s e n te ; d e p o is - r e c o lo c o u - a n o lu g a r , c o m m e d o d e s e r d e s c o -
~
f ilh o d e u m c id a d ã o h o n e s to , e m b o r a ig n o r a n te . D e sc u ra d o b e r ta . Q u a n d o s o u b e q u e s e r ia in te r r o g a d a a d v e r tiu a c o m p a -
.!
na sua educação, f o i a b r ig a d o c o m 8 a n o s e d e m o n s tr o u m e- 1 n h e ir a p a r a q u e d is s e s s e a h is tó r ia a o s e u m o d o e in v e n to u
l u m a f á b u la .

i,~
m ó r ia e x tr a o r d in á r ia , a ta l p o n to d e r e c o r d a r - s e d e u m a lis ta
d e n o m e s n a o rd e m e m q u e f o r a m p r o n u n c ia d o s .

E n tr e ta n to , a educação c o n s e g u ia a m a n s a r s ó e m a p a - 16. Obscenidade - J á tin h a d ito q u e n ã o f a lta m a o s m e -


r ê n c ia o s e u g ê n io o r g u lh o s o e s e lv a g e m . L o g o s e f e z n o ta r n in o s c a s o s d e p r e c o c e o b s c e n id a d e . H á m u ito te m p o e u tin h a
q u e n ã o s ó r e a g ia c o m o s c o m p a n h e ir o s p e la m e n o r o fe n sa , t. o b se rv a d o q u e to d o s o s c a s o s d e f o r m a m o n s tr u o s a de am or
m a s ta m b é m p e la s a d m o e s ta ç õ e s in f r in g id a s p e lo s s u p e r io r e s , sexual ( m e n o s o s o r ig in a d o s d a d e c r e p itu d e ) s ã o in ic ia d o s
q u e , p a r a e le , e r a m s e m p r e in ju s ta s . P a ra c a u sa r danos aos n a id a d e im p ú b e r e e ju n to c o m o u tr a s te n d ê n c ia s c r im in a is .
o b je to s d o in s titu to , u J 'la v e z f o i v is to p o r ta l m o tiv o jo g a r T a l e r a o c a s o d e B , la d r ã o q u e a o s 9 a n o s e s ta v a s u je ito
u m a m e ia n a la tr in a . . a c o n tín u a s e re ç õ e s e e s tím u lo s d e ta l m o d o e x a g e ra d o s a

76 77
r
!
,
{

p o n to d e c o n d u z i-lo
E le já a p re s e n ta v a
a o e s tu p ro quando v ia ro u p a s ín tim a s .
e s s e e s tra n h o s in to m a n a p rim e ira in fâ n c ia ,
•, a q u e le e não o u tro s . P o d e ria
c o is a s , m a s s ó p e g a ria a v e n ta is .
te r à d is p o s iç ã o
P o r q u a tro
m ilh a re s
v e z e s fo i c o n d e -
de

aos 3 ou 4 anos, quando andando


c o le g a s c o m a v e n ta is b ra n c o s . O c o n ta to
n o re fo rm a tó rio v ia s e u s
c o m ro u p a s b ra n c a s
f n a d o a b re v e p e n a p o r fu rro .

.i
p ro v o c a v a -lh e p ra z e r c o m o s e fo s s e o c o n ta to c o m o u tra m u -
t 1 8 . S in g u la r fo i o c a s o d e M .X ., d e 1 4 a n o s , q u e te m
lh e r. F o i e s ta a c a u s a d e o u tro s e s tu p ro s e d a n e c e s s id a d e
c o n tín u a d e c o ito e p a ra s a tis fa z ê -lo te rm in o u c o m o la d rã o . I fim o s e e p re p ú c io m a is lo n g o q u e a g la n d e , n a s c id o d e g e n i-

I
to re s n e u ró tic o s , q u a s e d e m e n te s . D e in te lig ê n c ia p re c o c e
E le fo i a tin g id o , quando c ria n ç a , na cabeça por um d e s d e c ria n ç a . J á lia c o m 3 a n o s , m a s d é b il d e fo rç a , d e 6 a
fo rte tra u m a e s o fre u lo n g a m e n te c o m e le , e c o m o d e h á b ito , 8 a n o s e ra d o ta d o d o h á b ito in s tin riv o e s tra n h o , d e o lh a r
d e s c e n d ia d e n e u ro p á tic o s ; a m ã e s o fria d e e m e c ra n ia , a irm ã o s p é s d a s m u lh e re s , p a ra v e rific a r s e n ã o h a v ia p re g o n o
e ra h is té ric a , o a v ô m o rre u d e q u e d a d e â n im o e m s e g u id a a s a p a to d e la s , e a v is ta d a q u e le s p re g o s o e n c h ia d e e x tra o r-
'. u m d e s a s tre fin a n c e iro , a a v ó m o rre u e n v e n e n a d a , u m p rim o d in á rio p ra z e r.
é s e m i-im b e c il, u m irm ã o b a lb u c ia n re .
A p o s s a v a -s e d o s c a lç a d o s d e d u a s d e s u a s p rim a s p a ra
~f.\ N ã o s e p o d e a c re d ita r, a p rin c íp io , d a v e ra c id a d e das c o n tá -la s e re c o n tá -la s . À n o ite , n a c a m a , p e n s a v a n o s a p a te i-
.~~
':'~. s u a s c o n fis s õ e s , p o r s e tra ta r d e u m c rim in o s o q u e p o d e te r ro q u e o s fa z ia e n a to rtu ra d e u m a g a ro ta e m q u e o s p re g o s
~ir" s e u s in te re s s e s e m u m a s im u la ç ã o , quando m e vi em duas e n tra v a m n o p é , c o m o n o s c a v a lo s , e , a o m e s m o te m p o , s e
:~.. ~ : h is tó ria s d e M a g n a n e C h a rc o t,
c o m a m in h a in te rp re ta ç ã o ,
q u e o fe re c e m
p ro v a v e lm e n te
ta n ta a n a lo g ia
n ã o tã o s e g u ra s .
m a s tu rb a v a . F o i e n tã o e s te o p o n to d e p a rtid a q u a s e p re d o m i-
~; n a n te , s e b e m q u e p re fe ria a v is ta d o s s a p a to s d e m u lh e re s à s
'tt
"t? re la ç õ e s s e x u a is . F o i p re s o e n q u a n to s e m a s tu rb a v a e m fre n te
1 7 . O u v i fa la r d e u m c a m p o n ê s de 37 anos, com pai a u m a s a p a ta ria .
a lc o ó la tra , tio a lie n a d o , m ã e e irm ã n e rv o s a s e m e la n c ó lic a s ,
F a z a ju s ta r a im a g in a ç ã o à v e rd a d e desses a m o re s
u m irm ã o d e m e n te , e le m e s m o c o m p ro b le m a s c e fá lic o s . A o s
p a ra d o x a is , a a n a lo g ia c o m o u tro s d e s c rito s p o r m im n o s
1 5 a n o s , v e n d o s e c a r a o s o l, u m a v e n ta l b ra n c o , a p o s s o u -s e
a lie n a d o s , e , o q u e é p rin c ip a l, a a n a lo g ia re c íp ro c a . Todos
d e le , e n ro lo u -o n o c o rp o e s e m a s tu rb o u . D e p o is d a q u e le
e s s e s a m o re s s e n o ta m e m n e u ro p á tic o s , e m u ito n o s c rim i-
d ia , n ã o p o d ia v e r a v e n ta is s e m u s á -lo s c o m o m e s m o o b je -
nosos, por a p ro x im a ç ã o , e s e m p re ou quase s e m p re ,
tiv o , jo g a n d o -o s fo ra a p ó s . Q u a n d o v ia a lg u m a p e s s o a c o m
m a s tu rb a d o re s . E m to d o s se vê, com o o c o rre n a s m a n ia s
a v e n ta l, n ã o s e e x c ita v a , m a s à v is ta d e s s a c e n a s e g u ia a trá s
im p u ls iv a s e n a s id é ia s s is te m a tiz a d a s , um a dada sensação
d e le p a ra d e rru b á -lo .
q u e o s a tin g iu n o m o m e n to d a in fâ n c ia , e n q u a n to nos de-
E m 1 8 6 1 o s p a is o p u s e ra m n a m a rin h a , e , d e fa to , n ã o m a is fa v o re c e a e re ç ã o c o m o d e s e jo s e c u n d á rio , por asso-
v e n d o a v e n ta is s e a c a lm o u . T o d a v ia , e m 1 8 6 4 , re to rn a n d o à c ia ç ã o de id é ia s que s u b s titu e m a id é ia -m ã e e pouco a
v 'id a a n tig a , re p e tia a e s tra n h a te n d ê n c ia e ro u b o u o u tra v e z pouco age com o c e rto s v íru s , não s ó fix a n d o , m a s in v a -
u m a v e n ta l. À n o ite , p e n s a n e le , a o d ia , im a g in a -o ta l c o m o d in d o o o rg a n is m o a té d o m in á -lo , a to rn a r-s e irre s is tív e l,
lh e a p a re c e u p e la p r~ ~ e ira v e z e s e s e n te le v a d o a ro u b a r im p e lin d o a té a a to s c rim in o s o s .

78 79
,[..,..,..
r '
~
t
19. Amor precoce - E to d o s esses am o res se fo rm aram I
~
2 2 . Z am b aco n o s d escrev e u m a m en in a d o m in ad a por
o u g erm in aram ao m en o s n a p rim eira in fân cia. O p rim eiro estran h a p aix ão o n an ística e crim in al. N .R ., d esd e a id ad e
J
d esd e 3 o u 4 an o s, sen d o a p reco cid ad e u m o u tro d e seu s d e 1 0 an o s, co m ar d e m atu rid ad e p reco ce n a fisio n o m ia e
1
caracteres. A in v ersão d o sen so g en ital fo i n o tad a q u ase sem - • n o trato , v aid o sa, o rg u lh o sa, p rep o ten te n o s jo g o s, fazia-se
p re p reco cem en te ao s 8 an o s, p o r ex em p lo ,
W etfalia. E is n o v o s ex em p lo s.
n o d o en te de

I p erd o ar as v io lên cias co m as carícias e am ab ilid ad es, esp ecial-


m en te co m o s m en in o s q u e p referia. D esd e o s 5 an o s m o stro u
ten d ên cias ao fu rto , até p o r o b jeto s q u e p o d eria o b ter facil-

I
P .R . co m eço u a sen tir o im p u lso p ara d esfru tar a v ista
m en te, m as n eg av a o b stin ad am en te o s fu rto s.
d e h o m en s n u s, m o rm en te d e su a g en itália e d esd e en tão
ten tav a v estir-se d e m u lh er. D esd e essa h o ra m an ifesto u -se D e im ag in ação q u en te, am av a a b eleza, m as d esd e-
a ten d ên cia ao s fu rto s. U m d ia, p o r ex em p lo , ro u b o u um n h av a D eu s. C o m 8 an o s co m eço u a so frer d e leu co rréia
tin teiro d o p ro fesso r. N asceu d e u m p ai v elh o e tev e u m a (co rrim en to b ran co ), q u e se atrib u i ao o x iú ro , ju n to co m o

I
av ó ex cên trica. A d u lto , era b astard o , p ro g n ato , m as co m o re- em ag recim en to . N o to u -se d esd e en tão q u e p ro cu rav a iso lar-
lh as v o lu m o sas. se em u m a cab an a co m m en in o s p ara jo g ar, m as, em v ez d isso ,
m astu rb av a-se co m eles.

2 0 . U m a m en in a, q u e eu tiv e so b tratam en to , p reco cís- i A o s 9 an o s, as ex cessiv as m astu rb açõ es p ro v o caram


i in ch aço d a v u lv a. E x p erim en to u as ch ico tad as, m as estas a
sim a n a fisio n o m ia, filh a d e m u lh er h o n esta, m as d e av ó ,.
lasciv a, p rim o crim in o so e av ô alco ó latra, m an ifesto u d esd e to rn aram 'estú p id a, falsa e feia, sem p ro v eito . D e n ad a ad ian -
o s 1 3 an o s ten d ên cia à m astu rb ação , sem ced er às cen su ras,
j to u a cam isa d e fo rça, n em a ág u a fria, co m q u e ten tav a
p rim eiram en te acalm ar-se. A p arte su p erio t,d o co rp o em ag re-
n em às am eaças, n em ao tratam en to m éd ico . A o in v és, d o J
cia, m as a in ferio r d esen v o lv ia m ais. B o lin av a-se d ian te d as
m esm o in stru m en to q u e ad o tav a p ara in jetar an afro d isíaco , I,, o u tras e d izia: "P o r q u e m e p riv ar d e u m p razer tão in o cen te?".
u sav a p ara se m astu rb ar.
'

,
1-
E d ep o is: "S ei q u e é in co n v en ien te, m as n ão p o sso fazer d e

I
m en o s". À s v ezes se arrep en d ia, ch o rav a ao v er as lág rim as
2 1 . D e u m p ai co n v u lsio n ário , ep ilép tico , d e fam ília
d a m ãe, m as d ep o is era to m ad a d e n o v o s acesso s. E n q u an to
d e n eu ro p ático s, n asceu u m a sen h o ra p eq u en a, d o lico céfala,
u m p ad re a aco n selh av a, ela se m astu rb av a co m a so tain a.
in telig en te, m en stru ad a ao s 1 2 an o s. C o m 8 an o s, in stru íd a
p o r u m a co leg a, co m eço u a m astu rb ar-se
tam b ém ap ó s o m atrim ô n io p rin cip alm en te
e co n tin u o u assim
q u an d o g ráv id a.
T ev e d o ze filh o s, d o s q u ais cin co m o rto s p reco cem en te, q u a-
II' ' '
I
C h eg o u a q u eim ar o clitó ris, m as in u tilm en te.

q u alq u er u m . S eria cap az d e m atar q u em m e im p ed isse. N a-


D izia ela:
h o rrív el ter v o n tad e d e fazer e n ão p o d er. É p ara to rn ar lo u co

t. q u ele m o m en to so u p risio n eira d e u m a v ertig em . N ad a v ejo ,


tro m al co n stitu íd o s n a cab eça, h id ro céfalo s, co m d eficien - f
tes d isp o siçõ es m o rais, im p etu o so s e v io len to s. U m d eles, te
If'.,
n ad a tem o p ara fazê-lo ".
R eco rd o -m e de J u m a d o m éstica q u e se m astu rb av a
in telig en te, co m 7 an o s se m astu rb av a co m m u ita in sistên - .t~
cia, e o u tro , tard io d ~ in telig ên cia, d esd e a id ad e d e 4 an o s -:-~~:~. q u an d o m en in a. M ais tard e a m estra p ro ib iu -a d e to car a

e m eio . - .
~,,,
.' ~~,'" p ú b is, o q u e ag u ço u su a cu rio sid ad e. D aí p o r d ian te to cav a-

~~/ 81
80 '" .' o"':!"

-""'-'-,--
•••. - Oi.!'.

~
r,I
s e s e m p r a z e r m a s p o r p u r a c u r io s id a d e . D e p o is s e im a g in o u - A h! m am ãe, is to é p a r a m im d e e n o r m e d e sp ra z e r.
e s ta r d o e n te e , p o r d iv e r tim e n to a p lic o u c a ta p la s m a e e sfre - P o d e r e i à n o ite m a tá - la c o m u m f a c ã o ,"
gava com u m b a s tã o a s p a r te s pudendas. D e p o is , o s d e s e jo s
- " P o r q u e v o c ê n ã o f e z is s o q u a n d o e s ta v a d o e n te ? "
lh e v ie r a m e m h o r a s d e te r m in a d a s . C o rro m p e u a ir m ã q u e
- " M a m ã e , p o r q u e v o c ê e s ta v a c o n tin u a m e n te g u a r d a d a ,"
tin h a 4 a n o s e q u e n ã o s e n tiu p r a z e r a n ã o s e r q u a n d o a tin g iu
8 a n o s . D e p o is s e d e p r a v o u c o m m e n in o s . - " E p o r q u e n ã o o f e z d e p o is ? "

- " P o r q u e v o c ê tin h a o s o n o le v e e p e lo m e d o d e q u e
v o c ê m e v is s e p e g a r o f a c ã o " .
2 3 . E s q u ir o l e M a r c n a r r a m d o is c a s o s c u r io s o s e m q u e
ju n to c o m a s te n d ê n c ia s o b s c e n a s , e e m p a r te p o r c a u s a d e s ta s , - " M a s , s e v o c ê m e m a ta s s e , n ã o te r ia m in h a s c o is a s ,

m a n if e s ta v a m - s e a s v e le id a d e s m a tr ic id a s . U m a m e n in a d e s c r ita p o is tu d o f ic a r ia p a r a te u p a i" .

p o r E s q u ir o l e r a lú c id a e d e in te lig ê n c ia p re c o c e , d a n d o -n o s - " A h ! S e i q u e in f e liz m e n te p a p a i m e f a r ia p a r a r n a


a s s im u m e x e m p lo c o m p le to d e d e m ê n c ia m o r a l e d e c r im in a li- p r is ã o , m a s a m in h a in te n ç ã o é m a tá - lo ta m b é m ,"
d a d e . E r a v iv a z n o a s p e c to , d e c a b e lo s c a s ta n h o s , n a r iz a c h a -
ta d o , m o s tr o u - s e d e sd e o s 5 a n o s p re o c u p a d a c o m a id é ia d e
2 4 . E r e a lm e n te T a m b u r in i e S e p p illi n o s f a la v a d e u m
m a ta r a m ã e , p a r a p o d e r liv r e m e n te m e s c la r - s e c o m o s m e n in o s .
c e r to tip o a q u e m a f o r ç a ju n ta v á r io s d e s e jo s . C e r to S ., n e to
A m ã e , e s ta v a a d o e n ta d a p e la d o r , e e la lh e c o n f e s s o u
, e f ilh o d e a s s a s s in o s e e s tu p r a d o r e s , c o m c r â n io a s s im é tr ic o ,
q u e a s u a m o r te n ã o a d e s a g r a d a v a , p o is a s s im p o d e r ia e n tr a r p e r f e ita a n a lg e s ia , p a ra poder te r d in h e ir o p a ra u m a v id a
n a p o s s e d e s u a s c o is a s . sensual e m q u e e ra p re c o c e e p a ra n ã o s e r c o n s tr a n g id o a
- "Q uando d e sp re g a re m s e u s v e s tid o s , o q u e f a r e i? r e to r n a r à r u d e v id a d o s c a m p o s , e n v e n e n a r a o p a i, e p e n s o u e m
C om s e u d in h e ir o c o m p ra re i o u tr o s . E d e p o is ? A n d a r e i com m a ta r u m a m u lh e r q u e o tin h a d e n u n c ia d o , M a tq u ta m b é m o
os hom ens. ir m ã o e tu d o f e z c o m ta l h a b ilid a d e q u e n in g u é m te r ia s u s p e i-

- V o c ê n ã o s a b e o q u e é a m o r te . S e u e u tiv e s s e q u e ta d o s e n ã o s e tr a ís s e e m s u a s m e m ó r ia s : e r a u m im b e c il m o r a L
m o rre r n e s ta n o ite , r e s s u s c ita r ia am anhã. O Senhor não E a in d a b e m q u e s e p o d e d iz e r q u e e s te s s ã o c a s o s d e
m o rre u e r e s s u s c ito u ? d e m ê n c ia : q u e e s s e s o b s e r v a d o s c o m o a d u lto s , s e r ia m a b s o lu -
- O Senhor r e s s u s c ito u p o rq u e e ra D e u s, m as você ta m e n te c o n s id e r a d o s c r im in o s o s . D e q u a lq u e r m o d o , p ro -
n ã o r e s s u s c ita r á ; a m in h a ir m ã m o r r e u e n ã o v o lto u m a is . v a m n ã o p o d e r c o lh e r - s e n a p r im e ir a r e v o lta d e le s a d if e r e n ç a
e n tr e o d e lito e a d e m ê n c ia .
- C o m o fa re i p a ra m o rre r?

- S e você andasse num a s e lv a e u m e e s c o n d e r ia no


m a to , s o b a s f o lh a s e n a h o r a que você passasse f a r ia c o m
q u e c a ís s e e lh e m e te r ia um punhal n o c o ra ç ã o .

- N ã o p e n se q u e e u n ã o a n d a re i n u n c a e m u m b o sq u e
p a r a f a z e r - m e m a ta r ! '

82 ,
l, "! 83
lii
,c ,:' o - o " ,'
';'.fr~:.;:x
,'t';';~~'
1 ':'I/t'tlr'

.!l~"~
; l' + I " '~ .- _ .
- ~V;';',,-~'
l,'"S ,
ft_.~L.*,"
,',~
..•...
.
,

:'
',:' ""

:: ': .~
r '.
I
I.

1:'-
I~
t- '~"-
t ;';, . 7. SANÇÕES E M E IO S P R E V E N T IV O S
I '
I D O C R IM E D O S M E N IN O S
I, .
t~ i~
f,,.,,...;.';•••..• '
I' -c ,.
F ic a e n tã o d e m o n s tr a d o
c r im in o s o s a r a iz d o c r im e r e m o n ta
que em u rn a c e r ta c o ta
d e s d e o s p r im e ir o s a n o s d o
de

I- n a s c im e n to , in te r v e n h a m o u n ã o c a u s a s h e r e d itá r ia s ,
d iz e r m e lh o r , q u e s e h á a lg u n s c a u s a d o s p e la m á e d u c a ç ã o , e m
o u p a ra

I'
,
m u ito s n ã o in f lu i n e m m e s m o a b o a . A s u a g r a n d e a ç ã o b e n é f ic a
~
s u r g e e x a ta m e n te d o f a to d e s e r g e r a l a te n d ê n c ia c r im in o s a n o
1 .-

,
I m e n in o , d e m o d o q u e s e m e s s a e d u c a ç ã o n ã o s e p o d e r ia e x p lic a r
a n o r m a l m e ta m o r f o s e q u e a c o n te c e n a m a io r p a r te d o s c a s o s .
I .-'
.1 "

~,_."' .• 's. D e r e s to , e n te n d e m o s por educação, a lé m d a s s im p le s


f" ,.
I ... in s tr u ç õ e s te ó r ic a s q u e r a r a m e n te a ju d a m , ta m b é m a o s a d u l-
~ to s , p a r a q u e m v e m o s tã o p o u c o a p o n ta r a lite r a tu r a , o s d is -
I c u r s o s , a s a r te s d ita s m o r a liz a d o r a s . M e n o s a in d a , a v io lê n c ia ,
, ; com que m a is e m a is s e r e a lç a m o s h ip ó c r ita s , tr a n s f o r m a
n ã o o v íc io e m v ir tu d e , m a s o v íc io e m u m o u tr o v íc io . H á
, r e a lm e n te um a s é r ie d e m o v im e n to s r e f le x o s s u b s titu in d o
.,," ,"
!
.~~
_ ,~ ,.t..:;~ ; le n ta m e n te o u tr o s que fo ra m causas d ir e ta s ou ao m enos
rO"_~-
1,,1."';; f a v o r á v e is à m a n u te n ç ã o d a s te n d ê n c ia s m a ld o s a s , e is s o p o r

~.; -i" m e io d a im ita ç ã o , d o s h á b ito s g r a d u a lm e n te in tr o d u z id o s c o m


~ ii;,:~ '.a c o n v iv ê n c ia c o m p e s s o a s h o n e s ta s e c o m p re c a u ç õ e s bem
l-"""~~~-
iJ"'&I'.
,,~""'~.-
.

85
r:r-
t
orientadas para evitar que surja em terreno adequado à proli-
.1
feração de idéia fixa que vem os tornar-se tão fatais na infância. t
Tam bém a sanção aqui não se m ostra tanto eficaz com o

I
certos m eios preventivos, tais com o condições favoráveis do ar,
da luz e de espaço, de alim entação, com prevalência, por exem plo,
de vegetais nas privações sanguinárias dos alcoólatras, abstinência
com pleta e, em determ inados casos, de prudente ginástica sexual. I

I
O corre evitar os fáceis ciúm es para im pedir a violência im -
pulsiva, acalm ar o orgulho precoce com provas palpáveis e tão
fáceis de revelar a hum ana espécie infantil, inferioridade, cultivar
o intelecto por via dos sentidos e do coração, com o faz adm iravel- 8. DAS PEN A S
m ente o sistem a Froebeliano. H á crianças tristes, violentas,
m asturbadoras, porque estão doentes de raquitism o, de oxiúros, 1. O s prim órdios das penas - 2. V ingança privada
etc. e a cura hem atológica ou verm ífuga só é feita por correção.

I
3. V ingança religiosa e jurídica - 4. Prepotência dos chefes.

..
~) Im pedir a conjunção fecunda dos alcoólatras e dos cri- D elitos contra as propriedades - 5. Transform ação da pena.
..
""0.°
m inosos seria pois a única prevenção do delinqüente nato, D uelo - 6. C astigo. Restituição - 7. O utras causas da
i~ que, quando é tal, com o se vê em nossa história, nunca se com pensação - 8. Posses Patrim oniais - 9. C hefes
~~A m ostra
Roussel,
suscetível de cura. Se com Bargoni, com Benelli, com
com Barzillai e com Ferri encontram os
casos de correção, que com triste discussão
censuráveis
poder-se-ia dizer
I
;
10. Religião - 11. Seitas - 12. Antropofagia
13. C onclusão
jurídica

I
de oficial correção, acreditam os que seria de enorm e vanta;
gem do país, em vez do m anicôm io crim inal, m elhor ainda 1. O s prim órdios das penas
seria um a casa de abrigo perpétuo de m enores afetados pelas
1
tenazes tendências crim inosas e da dem ência m oral. D e tudo o que tem os exposto, com eça a se ver com o as
Para esses, o m anicôm io crim inal torna-se útil quase
( penas se originaram : por m eio do próprio abuso do m al e graças a
tanto e m ais do que nos adultos,
os efeitos das tendências
pois sufoca no nascim ento
que não levam os em consideração
I novos delitos. N ão havendo ainda conceito do delito, não se so-
nhava sequer com as sanções penais. A vingança era não só per-
m itida m as, antes, um dever. N as ilhas Caraíbas, a adm inistração

I.
a não ser quando se tornam fatais. Essa idéia não é algo novo
- ou revolucionário. Sob um a form a m ais radical e m enos hu- da justiça não era feita pelo príncipe; a pena se reduzia a um a
m anitária, a Bíblia já a havia ordenado ao pai apedrejar o filho "' .. . vingança pessoal do ofendido e de seus am igos: quem se crê lesado
_ o.£:

...,.."
_..

....
~

faz justiça com o pode e não deixa que outros se introm etam .

'
m aldoso. A educação pode im pedir os que nasceram bons de •.•.
.
: '.:co

passarem da crim inalidade infantil transitória para a habitual. D o ponto de vista sociológico, os indígenas da Califór-
/
O s que nasceram m aus nem sem pre se conservam m aus. nia seriam quase exem plos para os fulganis. V ivendo ainda

86 87
nr--
n a a n a r q u ia ig u a litá r ia , e le s n ã o c o n h e c ia m o u tr o s d ir e ito s a a v in g a n ç a s o b r e o u tr o b ra n c o q u a lq u e r . P e lo v is to , c o m o
não s e r o s d o s m a is f o r te s . T o d o s o s v íc io s , to d o s o s d e lito s to d a m o r te d e r iv a d e u m m a le f íc io c a u s a d o e d e v e s e r v in -
f ic a m s e m p u n iç ã o , e , a n te s , n o p e n s a m e n to d e le s , n ã o h á g a d a , e x p lic a - s e e s s a c o n tín u a s é r ie d e d e v e r e s s a n g u in á r io s
v íc io s n e m h á d e lito s . C a d a u m d e v e d e f e n d e r - s e c o m o p u d e r. q u e d e v e m s e r c u m p r id o s . C a d a u m e x e r c ia p o r s i a r e a ç ã o e
A s s im d e sc re v e o je s u íta B a e g e r t, q u e v iv e u e n tr e e le s p o r a sanção p e n a l; s 6 m a is ta r d e p a s s o u a e x e r c ê - I a d e a c o rd o
d e z e s s e te a n o s . E n tr e o s to n g a n is , e s c r e v e u M a r in e r , n ã o h á c o m s u a tr ib o . A v in g a n ç a a q u e s e r e d u z ia e s s a r e a ç ã o e ra
p a la v r a s p a ra e x p r im ir a id é ia d e ju s tiç a e d e in ju s tiç a , de u m d e v e r r e lig io s o e c ív ic o .
c r u e ld a d e e d e s u m a n id a d e . O f u r to , a v in g a n ç a , o r a p to e
a s s a s s in a to , n ã o s ã o c o n s id e r a d o s p o r e le s , e m m u ita s c ir c u n s -
3 . V in g a n ç a r e lig io s a e ju r íd ic a
tâ n c ia s , c o m o d e lito s .

A v in g a n ç a e r a a p a ix ã o dos deuses d e W a lh a la , do

2 . V in g a n ç a p r iv a d a d e u s d o s h e b re u s e ta n to s o u tr o s . G u d r u n a , q u e p a r a v in g a r
o s ir m ã o s m o r to s p o r Á tila , m a to u u m f ilh in h o d e le e o f e z
O s á r a b e s b e d u ín o s n ã o q u e re m q u e o h o m ic id a s e ja c o m e r o c o r a ç ã o , e r a to m a d o c o m o m o d e lo d e v ir tu d e . N a B í-

t
f e r id o p e lo s o b e r a n o ; q u e r e m f a z e r g u e r r a a e le e à s u a f a m ília b lia , r e c o n h e c e - s e , e n tr e p e s s o a s p r iv a d a s , o d ir e ito e o d e v e r
e a tin g ir a q u e le s q u e e le s e s c o lh e r e m , d e p r e f e r ê n c ia o c h e fe d e v in g a r o s a n g u e , is to é , a m o r te d e p a r e n te p r 6 x im o , a in d a
d a f a m ília , a in d a q u e e le s e ja in o c e n te . O s a b is s ín io s e n tr e g a m q u e p o r im p r u d ê n c ia . N a s le is g e r m â n ic a s m a is v e lh a s d á - s e
. o m a ta d o r a o m a is ín tim o p a r e n te d o m o r to , q u e p o d e p u n i- .~ u m a a u to r iz a ç ã o ilim ita d a à v in g a n ç a . N a s le is b á r b a r a s v ê - s e
lo a o s e u b e l ta la n te . E n tr e o s c u r d o s , s e n in g u é m la m e n ta r a v in g a n ç a s e r to m a d a c o m o m e d id a o f ic ia l. T a m b é m a p e n a ,
u m h o m ic íd io , e s te f ic a o r d in a r ia m e n te im p u n e ; O ll são os If c o m o n o s a n im a is e n o s s e lv a g e n s , c o m e ç a c o m o c a r á te r d e
v iz in h o s que devem o b te r a re p a ra ç ã o ; to d a v ia , é m a is v in g a n ç a , o u s e ja , c o m o e s p é c ie d e d e lito . A r e a ç ã o c o n tr a o
h o n ro so v in g a r - s e p o r si m e sm o d o q u e re c o rre r à ju s tiç a . m a is f o r te e p r e p o te n te im p e le a v in g a n ç a p o r a s s o c ia ç ã o e
s e e s ta s tr iu n f a m , o d e lito to r n a - s e u m in s tr u m e n to m o r a l.
E n tr e o s k u r a n g o s , o h o m ic íd io é p u n id o c o m a m o r te ,j;

P o r é m , e s ta v in g a n ç a n ã o e r a ju s tiç a ; e ra u m a re a ç ã o
d o h o m ic id a ,
in d e n iz a n d o
m as o condenado
o s a m ig o s
p o d e se m p re se re sg u a rd a r,
e p a r e n te s d o m o r to ; a q u e s tã o é
ir q u e v a r ia v a e x a ta m e n te d e a c o r d o c o m a g r a v id a d e d a o f e n s a

c o n s id e r a d a in d iv id u a l, s e m q u e a lg u é m p e n s e n o in te r e s s e
.,-:1' e , o q u e é p io r , d a s u s c e tib ilid a d e d a v ítim a e d e s e u s p a r e n te s e
~ :-t

~ a m ig o s . D e p o is , q u a s e s e m p r e s e r e d u z ia à m o r te o u a o ta liã o ,
s o c ia l. E s te c o n c e ito to r n a v a a ju s tiç a d e s s a f o r m a g r o s s e ir a ,
e a in d a e x is tia e m v á r io s lo c a is d a Á f r ic a . N ã o h á m a is d e lito
.\ .
"'c -;;.' o lh o p o r o lh o , d e n te p o r d e n te ( D e u te r o n ô m io ) , m u tila ç ã o

m a s a p e n a s d a n o s a o c h e f e o u a u m p a r tic u la r .
~. d o s d e d o s o u à r e s titu iç ã o d o o b je to f u r ta d o .

O s a u s tr a lia n o s s e n te m c o m g r a n d e v io lê n c ia a p a ix ã o
d a v in g a n ç a q u e e le s s a tis f a z e m in d if e r e n te m e n te e m c im a d e 4 . P r e p o tê n c ia d o s c h e fe s. D e lito s c o n tr a a s p r o p r ie d a d e s
q u a lq u e r m e m b r o d a tr ib o a q u e p e r te n c e o o fe n so r. S e , p o r
A s s im c o m o a v id a h u m a n a te m pouco v a lo r p a r a o s
e x e m p lo , u m in d íg e n a ' f o i o f e n d id o p o r u m b r a n c o , b a s ta - lh e
p o v o s p r im itiv o s , a m o r te d e s p e r ta v a re a ç ã o m enor ou ne-

88
89
~I~
nhum a, n e m s e to rn a v a u m c rim e g ra v e , s e n ã o fo s s e p e rp e - s e c o rta r e m p e d a ç o s a n a v a lh a d a s o o u riv e s q u e a d u lte re o

tra d a c o n tra u m c h e fe o u u m s a c e rd o te q u e re p re s e n ta v a o u ro , p o rq u e na L ei das D oze T ábuas c o n d e n a -s e à fo rç a

D e u s n a te rra , o u e n tã o , s e tiv e s s e s id o c a u s a d a p o r u m e s tra - quem à n o ite c o rta s s e a s s e a ra s , e o in c e n d iá rio à fo g u e ira .

• n h o à trib o . V ic e -v e rs a , e la n ã o e ra n u n c a c o n s id e ra d a g ra v e - P e rm itia -s e c o rta r o c o rp o d o s d e v e d o re s in a d im p le n te s e

m e n te d e litu o s a s e fo s s e c a u s a d a p e lo c h e fe o u p e lo s a c e rd o te . e ra líc ito a o p a i m a ta r o filh o . P o r 3 0 0 m o e d a s a lg u é m p o d ia


s e r a b s o lv id o p o r te r q u e b ra d o osso de um hom em liv re e 1 5 0
U m q u im b u n d o q u e m a to u u m e s c ra v o pagou o seu
d e u m s e t)l.? (q u e m n ã o p u d e s s e p a g a r n ã o e s c a p a v a d a p e n a ).
d e lito s a c rific a n d o u m b o i, c u jo s a n g u e la v o u o d e rra m a d o
p e lo e s c ra v o . N a Á fric a , e n tre o s a c h a n te s , m a ta r u m e s c ra v o N a P o lin é s ia e s ta b e le c e u -s e u m a g ro s s e ira m o ra lid a d e :

é a ç ã o to ta lm e n te in d ife re n te , m a s o h o m ic íd io c o n tra um o fu rto e o a d u lté rio e ra m tid o s c o m o m a io re s d e lito s e p u n id o s


g ra n d e p e rs o n a g e m a tra i p a ra o a s s a s s in o a p e n a d e m o rte , fre q ü e n te m e n te c o m a m o rte . N a N o v a Z e lâ n d ia d e c a p ita v a -
p e rm itin d o -s e a o c u lp a d o m a ta r-s e . A o re v é s , n ã o s e p u n ia s e o la d rã o e a c a b e ç a e ra d e p e n d u ra d a n u m a c ru z . E n tre ta n to ,
nunca c o m a m o rte u m d o s filh o s d o re i, q u a lq u e r q u e fo s s e c o m o o s c h e fe s c e n tra liz a v a m a ju s tiç a , e le s n ã o a e x e rc ia m , a
.' n ã o s e r s e o s c rim e s fo s s e m c o m e tid o s c o n tra e le s . N a Á fric a ,
o s e u d e lito .
e n tre o s c a fre s , o fu rto e ra re a lm e n te p u n id o c o m c a s tig o s e
.' '.
". N a s ilh a s F id ji a p e n a lid a d e ju ríd ic a v in d a d a h ie ra rq u ia
ta m b é m c o m a m o rte , c o m o ta m b é m o a d u lté rio . P o r o u tro
~• q u e d o m in a v a a s o c ie d a d e , e a g ra v id a d e d e u m d e lito v a ria
""~ lj segundo o g ra u s o c ia l d o c u lp a d o , c o m o n o s e s ta tu to s m e- la d o , a v id a h u m a n a e ra m u ito p o u c o p ro te g id a : o m a rid o p o d ia
~t; -,
m a ta r a m u lh e r p o r m o tiv o s fú te is . N o T ib e te , o la d rã o p o d ia
d ie v a is . O fu rto c o m e tid o p o r u m p o p u la r é m u ito m a is g ra v e

I
~>
j:t." d o q u e o h o m ic íd io c o m e tid o p o r u m c h e fe . to rn a r-s e e s c ra v o d a v ítim a d o ro u b o . E m L o b u k e e n tre o s
;'!';!j
'R ~i a s te c a s o fu rto e ra p u n id o c o m a m o rte . N a A m é ric a , e n tre o s
U m a v e z p o ré m , c o m o c re s c im e n to d o n e p o tis m o e
-~ g u a ra n is , d o is d e lito s s ã o s e v e ra m e n te p u n id o s : são as duas
p e la fo rç a d a s a rm a s n a s in v a s õ e s g u e rre ira s , e m v e z d a trib o , ,!.,
'., fo rm a s d e a te n ta d o s à p ro p rie d a d e : o fu rto e o a d u lté rio . N a
o s c h e fe s s e fiz e ra m p ro p rie tá rio s d e tu d o . O fu rto c o n tra
Á s ia , e n tre o s m o n g ó is , o s tib e ta n o s e o s b irm a n e s e s , o fu rto
e le s , p e la p rim e ira v e z , to rn o u -s e d e lito , e c o m o e ra m e le s
O i~
e ra c o n s id e ra d o c o m o c rim e m a is g ra v e d o q u e o h o m ic íd io .
q u e d ita v a m e a p lic a v a m a s le is , to rn o u -s e o m a io r d o s d e lito s .
-- D o m e s m o m o d o q u e o a d u lté rio , quando e ra a d a n o d e le s e
c a s o p e s s o a l, p a s s o u d e p o is a s e r a p lic a d a a e le a m e d id a p u - 5 . T ra n s fo rm a ç ã o da pena. D u e lo
n itiv a e ta m b é m quando s e tra ta v a d e o u tra s pessoas. P or
A v irtg a n ç a e a p e n a , c o n fu n d in d o -s e u m a c o m a o u tra ,
" is s o o fu rto é q u a s e s e m p re o lh a d o c o m o m a is c rim in o s o do
re d u z ia -s e a u m fe rim e n to ta l q u e b a s ta s s e p a ra re s s a rc ir a
'. q u e o a s s a s s in a to d e s d e q u e n ã o im p lic a s s e a p ro p rie d a d e e
o s in te re s s e s d o s c h e fe s . C o m o b e m o b s e rv a F e rri, h á ra ç a s , v ítim a o u s e u s a m ig o s , o u a d o r c a u s a d a a o o fe n d id o . M as,

c o m o a d o s d a ia c h is , p a ra a s q u a is o h o m ic íd io é a d e fe s a d a a p lic a v a -s e n a tu ra lm e n te , segundo o s im p u ls o s e in s tin to s


d e c a d a u m e d e a c o rd o com o dano.
h o n ra , e n q u a n to tê m h o rro r a o fu rto e à m e n tira .
N o C ó d ig o d e M a n u s e d e c la ra a m o rte p o r q u a lq u e r A s s im c o m o p ro v a v e lm e n te a s re a ç õ e s s e m p re m a io re s

d e lito s e c u n d á rio , ig u 'â l a o d e d e s fo lh a r u m a p la n ta . O rd e n a - q u e s e s u c e d ia m , u m a à o u tra , te ria m te rm in a d o p o r e x tin g u ir

91
90
W, f~-
"'I,
:
••
;

". o.,

a trib o , e sta , p a ra p o d e r d u ra r n a su a e stru tu ra , e sta b e le c e u 6 . C a stig o . R e stitu iç ã o


u m a le i a n te e ssa s re a ç õ e s e e ssa s v in g a n ç a s in fin ita s; d iria ,; ~ ;

u m rito q u e tin h a m u ito d a s p rim itiv a s, m ~ s q u e a p re se n ta v a E m itig a n d o se m p re m a is o s â n im o s e to rn a n d o a v id a


já u m a m itig a ç ã o , u m a fo rm a o rd e n a d a . E a ssim q u e v e m o s h u m a n a m a is p re c isa e , a o m e sm o te m p o , p re c io sa a p ro p rie -
n o T a iti o h o m ic id a se r a ta c a d o p e lo s a m ig o s d a v ítim a ; e le d a d e , a c a b a ra m p o r e n c o n tra r a c o m p e n sa ç ã o n ã o m a is n o s
se d e fe n d e c o m o e sc u d o , e , se fo r v e n c id o , to d a s a s su a s fe rim e n to s, m a s n a re stitu iç ã o g a ra n tid a à trib o . E , e m c o m -
p o sse s to rn a m -se p re sa d e le s. E v id e n te m e n te , h á n isso a re - p e n sa ç ã o , se g u e m -se a s m e sm a s n o rm a s d a v in g a n ç a ; v a ria v a
p ro d u ç ã o ra d ic a liz a d a d a v in g a n ç a p e sso a l. a ssim , se g u n d o o g ra u so c ia l d o o fe n so r e d o o fe n d id o . E n tre

A lg u m a s v e z e s, sã o e m m u ito s a a p lic a r e ssa p e n a ; u m , o s a ssin o s e o s a c a n tis, q u e m ro u b a sse e sta v a su je ito a m u lta .

p o r e x e m p lo , fe riu tra iç o e ira m e n te e m d u e lo u m m e m b ro d a T am bém n o T ib e te a p lic a v a -se a p e n a , o u m e lh o r, a m u lta

trib o v iz in h a e n q u a n to e ste se a b a ix a v a p a ra c o lh e r a a rm a ; a o s p a re n te s d o la d rã o .

d e p o is, c a n sa d o d a v id a d e v a d ia g e m , o fe re c e u -se à p u n iç ã o . O s a c a n tis p re n d e m q u e m ro u b a o re i, q u e m a b u sa d e


C in c o a m ig o s d a v ítim a , a q u in z e p a sso s d e d istâ n c ia , te n ta - su a s e sc ra v a s o u c o n d e n a m à m o rte q u e m v io la r su a s m u lh e -
ra m g o lp e á -lo c o m a la n ç a ; q u a n d o e le fo i a tin g id o em um a re s e q u e m a c u sa fa lsa m e n te . Q uem m a ta u m e sc ra v o , p a g a
p e rn a d e c la ro u q u e a re p a ra ç ã o e ra su fic ie n te e o fe rid o se o p re ç o a o p ro p rie tá rio d e le , q u e m m a ta r um hom em liv re
re tiro u ju n to à su a trib o . d e c la sse in fe rio r p a g a o v a lo r d e se te e sc ra v o s e ta m b é m
q u e m d e stru ir u m m a rc o d e fro n te ira . P a ra u m fu rto d e p o u c o
N o m e sm o d ia , c in c o m u lh e re s a p a re c e ra m n a q u e le
lo c a l, fiz e ra m u m se m ic írc u lo , c o m p o rre te n a m ã o . S u rg ira m
d e p o is trê s h o m e n s a rm a d o s d e e sc u d o s; e ra m e le s a c u sa d o s
ir v a lo r, se fo r a b a sta d a a fa m ília d o ré u , e la se rá re sp o n sa b i-
liz a d a ; e sta p o d e rá m a tá -lo se fo r in c o rrig ív e l.

d e a ssa ssin a to e m u m a trib o v iz in h a . A s m u lh e re s d e v e ria m Q uando o se r h u m a n o n ã o p o ssu ía c o m o se u a n ã o se r o


re c e b e r, c o m o p u n iç ã o , g o lp e s n a c a b e ç a , m a s q u a tro d e la s p ró p rio c o rp o , a c o m p e n sa ç ã o p o r to d o d e lito e ra a m o rte o u a
só fiz e ra m sim u la ç ã o . A q u in ta m u lh e r, m a is c u lp a d a , fo i e s- fe rid a e m d u e lo , m a s q u a n d o se m u n iu d a p ro p rie d a d e , e c o n si-
b o rd o a d a se ria m e n te . L e sso n v iu u m a a c u sa d a d e fe itiç a ria se r d e ra v a -se n o d e lito , m a is d o q u e tu d o , o d a n o c a u sa d o , e n c o n -
g o lp e a d a n a c a b e ç a d e m o d o a fic a r q u a se m o rta (H o v e la q u e ). tro u -se n o s v a lo re s a c o m p e n sa ç ã o m a is v a n ta jo sa . V e m o s a in d a
,.
q u e , e n tre o s a fe g ã o s, d o z e m u lh e re s e ra m a c o m p e n sa ç ã o p o r
A s p u n iç õ e s a ssu m e m p a p e l d e rix a s, o u m e lh o r, e m
u m h o m ic íd io , se is a m u tila ç ã o d a m ã o , d a o re lh a o u d o n a riz ,
d u e lo s o u d e b a ta lh a s, q u e n e sse s p a íse s sã o fo rm a d o s. As
trê s p o r u m d e n te . O A lc o rã o p re sc re v e v in te c a m e lo s p o r
trib o s se c o m u n ic a m p rim e iro , fo rn e c e m a rm a s a o a d v e rsá rio ;
u m h o m ic íd io , e , n a B íb lia , q u e m ro u b o u u m b o i é c o n d e n a d o
a u m sin a l a tira m -se a s a z a g a ia s; a p ó s u m c e rto n ú m e ro de
a p a g a r c in c o se já o p e rd e u e d o is se a in d a o b o i e stiv e r v iv o .
m o rto s se d ã o a s m ã o s e te rm in a m . O u , à s v e z e s, lu ta m a té o
fim . C o m o se v iu , a s p rim e ira s fo rm a s d e p e n a s le g a liz a d a s
fo ra m , d e fa to , d u e lo s o u b a ta lh a s c o n tra u m c u lp a d o p re su - 7 . O u tra s c a u sa s d a c o m p e n sa ç ã o
m id o c o m o se n o ta n o s a n im a is: rix a s d e u m o u d e p o u c o s,
P a ra a tra n sfo rm a ç ã o d a v in g a n ç a e m c o m p e n sa ç ã o
tra n sfo rm a d a s d e p o is. c ;m ritu a is ju ríd ic o s.
c o n trib u iu o p ró p rio e x a g e rç > d a v in g a n ç a . E n tre o s g ra c a s, a
"
92
93
--~_. - .•.. -._ -~ - ~..._ -----
II'r.-'
~t

;;
v in g a n ç a e ra p e rm itid a por um a n o e m e io a o s p a re n te s e '.' 9 . C h e fe s
.,.
..
r
a o s p re s e n te s a o d e lito . D e p o is d e tra n s c o rrid o e s s e te m p o ,
A d ic io n e -s e q u e fo ra m m a n tid a s as penas quando os
n ã o s o b ra v a o u tro m e io d e v in g a n ç a a n ã o s e r a v ia ju d ic iá ria .
p riv ilé g io s q u e tin h a m o s c h e fe s e o s s a c e rd o te s s e m u d a ra m
P e rm itia -s e a v in g a n ç a p e s s o a l c o m o u m a e x p lo s ã o d e c ó le ra ;
p a ra a s c o m p e n s a ç õ e s . N o T ib e te , o ric o p o d e re m ir u m h o m i-
p o ré m , quando e ra p a s s a d o u m c e rto te m p o , s ó s o b ra v a o
c íd io , p a g a n d o in d e n iz a ç ã o a o ra já , a o s g ra n d e s fu n c io n á rio s
dano p e s s o a l, que d e v e ria ser com pensado. T am bém na
e à fa m íli:;l d o m o rto . S e fo r p o b re , o h o m ic id a p o d e s e r a ta d o
•• m e n o s re m o ta le g is la ç ã o d o g u la th in g s e n a s le is irla n d e s a s
a o c a d á v e r d a v ítim a e jo g a d o n a á g u a . E m U g a n d a , e ra c o n -
p o d ia -s e v in g a r c o m a m o rte a lg u m d a n o o U fe rim e n to , desde
denado à m o rte quem d e ix a s s e a p a re c e r a p e rn a a o s e n ta r
que não e s tiv e s s e c ic a triz a d o ; quando s e tra ta s s e só de
d ia n te d o re i, o u n ã o e s tiv e s s e v e s tid o d e a c o rd o c o m o p ro -
c o n tu s ã o , n ã o s e p o d e ria v in g a r a n ã o s e r n a q u e le m o m e n to .
to c o lo , o u s e to c a s s e n o re i e n a s s u a s v e s te s o u n o tro n o .
P o r is s o s e v ê q u e s e o fe rim e n to e ra le v e , c o m e ç a v a , a um
c e rto p o n to , a s u b tra ir-s e à v in g a n ç a , q u e e ra n a tu ra lm e n te N o ta -s e e m tu d o is s o a in flu ê n c ia d o p o d e r d e s p ó tic o ,
p ro p o rc io n a l à causa. q u e , u m a v e z in ic ia d o , a tin g e o a b s u rd o , m a s p a re c e c e rto q u e
m u ito s d e s s e s d e lito s d e le s a -m a je s ra d e tiv e s s e m s id o in v e n -
4., A s s im a le i m o s a ic a p e rm itia a o v in g a d o r m a ta r o h o m i-

~r-
~,
:"'.:•..•.
c id a , a in d a
p ro v ia
q u e fo s s e o c rim e
trê s c id a d e s
apenas c u lp o s o ,
d e a s ilo a fa v o r d o c u lp a d o .
m a s d e p o is
No F u e ro
ta d o s p e lo re i, c o m o m a is ta rd e s e v iu c o m o s C é s a re s . C o n ta
S p e k e q u e u m o fic ia l n ã o e s ta v a n a C o rte v e s tid o c o m e le g â n -
1 f .J
c ia , e p o d e ria p e rd e r a c a b e ç a , m a s , e n tre ta n to , a p e n a fo i s u b s -
~. )u z g o e s p a n h o l n ã o s e p e rm itia a pena de talião a o s d e lito s
:C ; .. titu íd a p o r u m a m u lra e m a n im a is , c o m o c a b ra s , g a lin h a s , e tc .
1:;r.t'" d o c h e fe p o rq u e a re p a ra ç ã o e x c e d ia à o fe n s a . E n ã o s e c o n -
! : '~
"'..-o i"
-;"Y..( c o rd a v a a in d a s e o d e fu n to n ã o c o n ta s s e c o m u m p a re n te
~ 1 0 . R e lig iâ o
m u ito d e s p ro v id o d e m e io s .

C o m o s e m p re , a re lig iã o a tu a p a ra u s u fru ir e p e rp e tu a r
8. P osses p a trim o n ia is o u s o e a s s im fo i a p rim e ira a p re v a le c e r-s e m a is d o e le m e n to
te o c rá tic o d o q u e o d o g u e rre iro ; e s s a p e rp e tu a ç ã o v e io a té
S o b re tu d o c o n trib u iu a v a n ta g e m s o b re v in d a e a posse
n ó s . E m s e g u id a , o in s tru m e n to m a is p o d e ro s o à re a ç ã o c o n tra
d e u m a p ro p rie d a d e , c o m a q u a l s e p o d e ria m com pensar m a is
o s d e lito s , b e m e n te n d id o , s e m p re te n d o c o m o p re fe rê n c ia o s
p ro p o rc io n a lm e n te os danos. E s s a d is p o s iç ã o , por sua vez, ,
d e lito s s U lie rs tic io s o s , q u e , p a ra n ó s , n ã o s e ria m n e m m e s m o
a u m e n to u o p o d e r d o s c h e fe s , q u e e ra m c o m p e te n te s p a ra '
c o n tra v e ~ ç õ e s , fo ra m , d e p o is d o s c h e fe s , o s s a c e rd o te s , fre -
d e te rm in á -lo s e in frin g i-lo s . U m a v e z in tro d u z id o o uso da
q ü e n te m e n te ta m b é m c o n s id e ra d o s m é d ic o s e a d iv in h o s . Is o -
com pensação, e m v e z d a v in g a n ç a , p a ra o h o m ic íd io v in h a
la d o s o u a lia n d o -s e a o s c h e fe s , to m a v a m c o m o p re te x to não
• n a tu ra lm e n te a in te rv e n ç ã o d a te rc e ira p e s s o a d a a u to rid a d e , ,:::".,;.
s ó to d o d e lito o u p e c a d o , m a s ta m b é m to d o d e s a s tre , to d a
q u e d e v ia fix á -la . V in h a ta m b é m a e x te n s ã o d o m e s m o s is te - ,."""".
~" m o rte , to d a e s ta ç ã o d o a n o , p a ra m o s tra r q u e d e v ia h a v e r'
m a a to d o s O s o u tro s d e lito s , q u e s e m p re s e re s o lv e m n a a p re -
a lg u m p e c a d o p a ra s e r p u n id o . E s c o lh ia m u m a v ítim a , p e rs e -
c ia ç ã o d e u m d a n o re a l.
g u ia m o s c u lp a d o s v e rd a d e iro s o u s u p o s to s , e a c re s c e n ta v a m

94 95
-1-.

a p ró p ria a u to rid a d e - e e m m e io a to d a in ju stiç a , fre q ü e n te - I 1 2 . A n tro p o fa g ia ju ríd ic a


m e n te condenavam o v e rd a d e iro ré u . i
N o C ó d ig o de M anu, o re i e ra a u to riz a d o a dar aos I M a is b ru ta l, c e rta m e n te , m a s d a m e sm a fo rm a in ju sto e

b râ m a n e s to d o s o s p ro d u to s d a s m u lta s. O c o stu m e d e ssa s I c rim in o so é o o u tro m e io d e re p re ssã o q u e fo i a a n tro p o fa g ia ju rí-


d ic a , c o m o a c h a m o u L e to u rn e a u . A ssim , v e m o s c o m o o s a d ú l-
m u lta s d e v e te r sid o b e m fo rte , ta n to q u e já n a B íb lia se e n -
te ro s, o s la d rõ e s n o tu rn o s e o u tro s d e sse tip o , e ra m , e n tre o s b a ta s,
c o n tra m a s p a la v ra s "p e c a d o " e "c u lp a ", sin ô n im o s d e "sa c ri-
condenados a se re m c o m id o s p e lo p o v o . A se n te n ç a e ra in a p e -
fíc io " q u e se fa z p a ra o p e c a d o e p a ra a c u lp a . D e ssa in flu ê n c ia
lá v e l, m a s p o d ia se r re ta rd a d a d o is o u trê s d ia s p a ra se r e x e c u -
te o c rá tic a , o s fa m o so s "Ju íz o s d e D e u s" m e d ie v a is, c o m sin -
ta d a n o lo c a l e m q u e a c o rre sse o p ú b lic o . P a ra o a d u lté rio , p o d e -
g u la r u n ifo rm id a d e fo ra m a d o ta d o s p o r to d o s o s p o v o s p rim i-
ria se r re ta rd a d a a té q u a n d o o s p a re n te s d a s p a rte s p u d e sse m
tiv o s. Q u a n d o fa lta v a m te ste m u n h a s a u tê n tic a s, com o não
to m a r p a rte n o fe stim . O m a rid o tin h a d ire ito a o m e lh o r p e d a ç o .
p o d ia p a re c e r ju sto à s p o p u la ç õ e s q u e c o n fu n d ia m a re lig iã o
c o m a ju stiç a , e o s ju íz e s c o m o s p a d re s, re fe ria -se a D e u s, O condenado e ra d e p e n d u ra d o num a e sta c a e a um

c h e fe d o s c h e fe s, q u e g o v e rn a o d e stin o d o s se re s h u m a n o s. d a d o sin a l a m u ltid ã o se p re c ip ita v a so b re e le e sq u a rte ja n d o -

N a A n tíg o n e , d e S ó fo c le s, a lg u é m d e m o n stra n ã o se r c ú m - o com m achado o u c u te lo , o u só c o m unhas e d e n te s. Os

p lic e d e u m d e lito a o e m p u n h a r u m fe rro q u e n te e a tra v e ssa r pedaços a rra n c a d o s e ra m d e v o ra d o s im e d ia ta m e n te , c ru s e

a s c h a m a s. sa n g u in o le n to s: e le s e ra m m o lh a d o s c o m u m a m istu ra p re p a -
ra d a a n te s e m u m a c u ia d e c o c o e fe ita c o m su c o d e lim ã o ,
sa l, e tc . N o s c a so s d e a d u lté rio , o m a rid o tin h a d ire ito de
11. S e ita s e sc o lh e r o p rim e iro bocado. E ta n ta e ra a b rig a q u e m u ita s
v e z e s u n s fe ria m o s o u tro s n o s c h o q u e s.
A lg u m a s v e z e s c o n trib u í p a ra e ssa tra n sfo rm a ç ã o e p a ra
a in tro d u ç ã o da pena o su rg im e n to d e a lg u m a a sso c ia ç ã o T a m b é m n a s Ilh a s B o w se d e v o ra v a m o s a ssa ssin o s e e ste
se c re ta , m u ita s vezes com a p a rê n c ia re lig io sa , com uns nas é o c o stu m e d a P o lin é sia , o n d e fo i c o n sta ta d o o c a n ib a lism o
ra ç a s p o u c o e v o lu íd a s e n o s p a íse s m a l d e se n v o lv id o s e o p ri- ju ríd ic o , q u e , se g u n d o B o u rg a re l, p ra tic a v a -se ta m b é m n a N o v a
m id o s p e la tira n ia . S ã o , a o m e n o s, o s d é b e is, que to c a d o s C a le d ô n ia , c o m o v in g a n ç a p ú b lic a , c o n tra o s c o n d e n a d o s à m o r-
p e lo d e se jo d e re a g ir c o n tra a p re p o tê n c ia d o s m a is fo rte s, te , e q u e , se g u n d o M a rc o P ó lo , e ra u sa d o e n tre o s tá rta ro s. Q u e m
c o m e te m d e lito s q u e , n o fu n d o , sã o a p lic a ç õ e s g ro sse ira s d a p o d e rá sa b e r q u a n ta s se n te n ç a s te rã o sid o p ro v o c a d a s p e la g u la ,
p e n a , in stru m e n to s e sp ú rio s m a s e fic a z e s d a m o ra l e p o r isso p e lo a p e tite p o r u m b ife h u m a n o ? E q u a n to e ssa h o rrív e l p rá tic a
a c a b a m u ita s v e z e s p o r triu n fa r. c rim in o sa q u e se c o n se rv o u q u a n d o a c iv iliz a ç ã o e ra u m p o u c o
m a is a v a n ç a d a , p ô d e c o n trib u ir p a ra e rra d ic a r o s d e lito s?
A ssim o c o rre u , a p rin c íp io , c o m a C a m o rra , q u e e ra u m a
e sp é c ie d e d e fe sa d o s p re p o te n te s re g im e n ta is c o n tra o s p re p o -
te n te s a n a rq u ista s. E a ssim fo ra m n a Á fric a o s sin d ig is, a sso c ia - 1 3 . C o n c lu sã o
ç õ e s se c re ta s p a ra fa z e r o s d e v e d o re s p a g a re m . E ssa s a sso c ia ç õ e s
..t..•. R e c o rd a n d o tu d o : re c o rd a n d o com o o im p u lso que
a p a re n te m e n te m o ra liz í\d o ra s, n o fu n d o , sã o c rim in o sa s.
m a is c o n trib u iu p a ra a re a ç ã o c o n tra o d e lito fo i o d a v in -

96
97
V"-
'
..,", ~.,.'
'1 :'

g a n ç a ; c o m o a p ro m is c u id a d e
a o in c e s to in tro d u z id o
d a lib id o fo i e lim in a d a
p o r u m a fa n ta s ia
tiria e p o lig e n ia , o rig in a d a p e la p re d ile ç ã o
g ra ç a s
d e n o b re z a , p o lia n -
q u e tin h a o c h e fe
l t
'li

í
'.

'j1
o u o m a is p re p o te n te d a trib o p o r d e te rm in a d a m u lh e r. A s s im
ta m b é m a c o n te c e ria e m u m h a ré m p e la v io lê n c ia de um
.a m a n te , e m a is ta rd e p e la a g re s s iv id a d e e m a io r p re d o m ín io
~ d e u m c h e fe . D o m o d o q u e e ra d e lito to c a r n a m u lh e r do
c h e fe , n ã o e ra to c a r n a s o u tra s m u lh e re s .
C om o a p e n a p e lo fu rto c o m e ç o u a a p a re c e r s o b re a
p re v a lê n c ia d a s c o n q u is ta s d o s c h e fe s o u d o s m a is p re p o -
te n te s , q u e q u e ria m c o n s e rv a r a s p o s s e s s u rru p ia d a s e não 9. S U IC ÍD IO D O S D E L IN Q Ü E N T E S
d iv id i-la s c o m o s m a is fra c o s , c o m o e ra s o b re tu d o d o fu rto
c o n tra a p ro p rie d a d e d o s c h e fe s q u e s e in ic ia v a a ju s tiç a ,
1 . F req ü ên cia . T em p era tu ra - 2 . P risã o . É p o ca d a d eten çã o
c o m o ta m b é m s e in ic io u a re a ç ã o c o n tra o a d u lté rio d o ro u b o d o s d elin q ü en tes - 3 . Im p revid ên cia e im p a ciên cia
tiO .
r.1
L
d a s m u lh e re s d o s c h e fe s - p o d e -s e c o n c lu ir, s e m q u e p a re ç a 4 . R ela çõ es co m a ten d ên cia < to crim e - 5 . A n ta g o n ism o
'-~'
.•.:..
~ ~- u m a b la s fê m ia , q u e a m o ra lid a d e e a p e n a n a s c e ra m , e m g ra n - 6 . S u icíd io in d ireto e m isto 7 . S u icíd io p o r su p erstiçã o
~~.
'. .,;,.... d e p a rte d o c rim e . 8 . S u icíd io sim u la d o - 9. S u icíd io d u p lo
1 0 . S u icíd io n o s d em en tes crim in o so s.
""; •.
I
! 1 . F re q ü ê n c ia . T e m p e ra tu ra

A in s e n s ib ilid a d e a u x ilia , e n fim , p a ra e x p lic a r u m fe n ô -


m e n o , q u e , c o m o b e m a d v e rtiu M o rs e lli, é q u a s e c a ra c te rís -
tic o d o d e lin q ü e n te : a m a io r fre q ü ê n c ia d o s u ic íd io . D e fa to ,
o s u ic íd io n o s d e lin q ü e n te s s e g u e a s le is d a o s c ila ç ã o , q u e s e
n o ta e m to d o s o s h o m e n s , ta is c o m o :
• A - p re v a lê n c ia n o s e x o m a s c u lin o ;
• B - n o s s o lte iro s e v iú v o s ;
..
'';''-'-f
• C - n a id a d e e n tre 2 1 e 3 1 a n o s ;
• D - in c re m e n to n a s p o p u la ç õ e s c iv is e n a s e m q u e o
I
s u ic íd io e s tá e m a u m e n to , m a is fre q ü e n te na
;..,.'
S a x ô n ia e n a D in a m a rc a .

98 99
;rl--
Para distinguir m ais m inuciosam ente a cota de suicídios • 11 nos prim eiros m eses da detenção
com etidos pelos grandes delinqüentes, calcula-se um a base • 7 no prim eiro ano de detenção
de 4,52 por m edo da justiça, 2,65 por vergonha, rem orso,
• 7 no segundo ano de detenção
preguiça, 2,4 nos hom ens e 1,47 nas m ulheres, 0,96 apreensão
pelas penas disciplinares nos soldados e o desgosto pelo • 7 no terceiro ano de detenção
serviço m ilitar. • 4 depois do terceiro ano de detenção

2. Prisão. Época da detenção dos delinqüentes Por isso, abundam m uito m ais nos cárceres judiciários
do que em outros e m ais entre aqueles que devem cum prir
A m aior freqüência dos suicídios não se pode crer que
pequenas condenações. A o revés, ele não se nota entre os
seja só o efeito da condenação ou da tortura, causada pela
condenados só há quinze dias. Esta freqüência parece tríplice
longa prisão, ou pela falta de m aior convívio. A penas é sen-
se nós ajuntarm os os num erosos casos de suicídio tentados
sívelo aum ento dos suicídios nas prisões celulares em com pa-
nas prisões, que na Inglaterra sobem ao triplo e entre nós
ração com as m istas. Isto se coaduna, certam ente, nas prisões
quase ao dobro dos suicídios consum ados.
celulares pela m inoria e notando-se o m aior núm ero nos •
. Evidentem ente esta freqüência de suicídios, entre os
denunciados (Itália: 38% ) e entre os condenados, inúm eras
.. delinqüentes, na prim eira fase da Teclusão, e tam bém antes
vezes, se não exclusivam ente, nos prim eiros m eses da detenção.
'da.condenação, e por condenações leves, depende de um a
A ssim , em M azas, em 79 suicídios, ocorreram :
. tendência especial. A ntes de tudo, dessa insensibilidade, dessa
15 - do 2 Q ao 5 Q dia da entrada faltado instinto de conservação, de que, pouco atrás, aduzi-
10 - do 5 Q ao 10 Q dia da entrada m os tantas provas, e que aparece nos estranhos m odos de
Q
8 - do 1O º ao 15 dia da entrada suicídio, com o do uxoricida G ranié, m orto depois de 63 dias
5 - do 15 Q ao 20 Q dia da entrada de com pleto jejum . É tam bém o caso de Bruno, citado por H off-
m ann, que se m atou engolindo um enornle pedaço de osso.
2 - do 20 Q ao 25 Q dia da entrada
5 - 25 Q ao 30 Q dia da entrada
3. Im previdência e im paciência
25 - do 1Q ao 2 Q m ês da entrada
4 - do 2 Q ao 3 Q m ês da entrada D eve-se adicionar nisso a im previdência e a im paciên-
2 - do 3 Q ao 6 Q m ês da entrada cia que os dom ina. Para eles, preferem suportar um m al gravís-
sim o e rápido a um m al leve e por m uito tem po. Eles acham
1 - no 12 Q m ês da entrada.
m enos dura a m orte do que ver insatisfeitas as próprias pai-
xões m om entâneas. La Lescom bat escreveu à sua am ante,
A estatística das prisões européias
suicídios ocorridos, os seguintes dados:
apresenta, em 36 -
,. ':\T'
exortando-o a m atar seu m arido. "N ão tem o a m orte; farei
de bom grado o sacrifício da vida para que fique aliviada
t':'-~f
100
~ :ll>.\..
.~ =--=
"Ibi,~~
101
; ,ôl'ri"
'->\:••
~
.'.'i,.'
i..
. :'.
T
desse bárbaro que eu odeio. Se eu vir você ao voltar, darei f 4. R elações com a tendência ao crim e
m il vidas por você".
"D ou adeus ao m undo, porque viver com um a paixão
I• C om o aconteceu com m ais freqüência o suicídio dos

é pior do que m il m ortes", escreveu D elitala antes de tornar-


i crim inosos, por paixão, é fácil de ser com preendido. U m
pouco é pelo rem orso pela operação executada, um pouco
se hom icida e depois suicida. M ackenzie, não tendo podido t pela perda do objeto caro, quando se trata da am ante m orta.
seduzir um a jovem , fez com que ela se suicidasse e depois,
denunciado o seu cúm plice, suicidou-se. C om enta-se
rapaz que um dia antes de ser posto em liberdade enforcou-
de um I Em todos os réus o suicídio é, ora um a válvula de segurança,
ora um a crise e um suplem ento
dente ou apenas potencial.
da tendência ao delito evi-
Para alguns é um a espécie de
se, dizendo a um com panheiro de pena que se aborrecia de- t instrum ento de reabilitação do delito praticado ou a praticar,
m ais e, por isso, deviam enforcar-se.
Em diversos deles, principalm ente nos alcoólatras, o
I um a form a de desculpa perante os outros e a si m esm o, que
dem onstre a violência irresistível da paixão que os im pele,
~- suicídio ocorre quase autom aticam ente, quase sem causa, ou a força do arrependim ento que está atrás deles.
l.
por um capricho, com o no caso que verem os em breve, de Q ue verdadeiram ente o delito seja um a relação estreita
~- '!'< um carrasco da N ova C aledônia, que se enforcou porque com a tendência ao suicídio, bem o dem onstram , com suas
,k,i m udaram sua guilhotina preferida. H á outro, contado por confissões, Lacenaire e Trossarello. "H ouve um dia em que
.:1;~~.: M orselli, que se m atou porque achou horrível o chão. H ouve não tive outra alternativa a não ser o suicídio ou o delito.
~~l~'outro que se jogou no rio Pó, sem qualquer causa aparente. Perguntei-m e se eu era vítim a de m im m esm o ou da sociedade
t!_~~
.
":-i'!
<
D obus, antes de m atar a am ante, tinha-lhe escrito: "Es-
tou pronto a dar o m eu sangue por você; antes m orrer do
que deixá-la". D avid, antes de golpear a cunhada disse: "Eu
! e depois que conclui que era um a vírim a da sociedade eu a golpeei."
Estudando os anais judiciários de 1852, D espine pôde
ver um verdadeiro antagonism o entre delito e suicídio. N os

I
m e m atarei, m as prim eiro falarão de m im ". E pouco depois: 14 bairros franceses, que apresentaram , em 100 denunciados,
"A cunhada não m e am a, m as se arrependerá disso; com prei m ais delitos contra a pessoa, não se encontrou senão 14 suici-
dois revólveres, um para m im , outro para ela". das em 460 m il habitantes. A o revés, em 14 outros que deram
Tam bém a M arquesa de B rinvilliers tentou várias vezes m enos de crim es de sangue, houve 14 suicídios em 170 m il
o suicídio; envenenou-se um a vez para provar a eficácia do habitantes. A C órsega, célebre pela sua tradição sanguinária,
contraveneno (singular prova da im paciência deles). Tentou em 100 denunciados, 83 por crim es contra a pessoa e um
m ais tarde para dem onstrar seu am or a Santacruz, a quem suicídio em 55 m il habitantes. O bairro de Sena dá em 100
enviou diretam ente carta assim redigida: "A chei oportuno denunciados 17 só por delitos contra a pessoa e um suicídio
para 2.341 habitantes.
term inar m inha vida; por isso será dotada de veneno que r
--você m e vendeu a preço tão caro e você notará nisso com o \" Enquanto a m aior tendência ao suicídio se encontra
eu a sacrifiquei voluntariam ente. N ão prom eto, porém , que vou ..•...
o.
,. na R ússia, no N ordeste há no B áltico 65 suicídios para um
esperá-lo antes de m orrer para dar-lhe o extrem o adeus" (pa- .•.1.+'" m ilhão, em Petroburgo 102 e no Sudeste em Poltava 50 e em
lavras estas que nos fazem entrever a sim ulação de suicídio). ,-...:I;l~ Podólia 44, geralm ente nos G overnos do O este o hom icídio
. ~r •
• ~t'-'"

102
-~
joo-;'~ -
_"o..~
,., .~,~,
---:; ~{'1"'1:l
'rt'< ~~,,"1
103
~ ).,
,'.' _ _ IF""
,11
j\~

~i
."'f'
t."
W4'
- .~ c ~~>

a u m e n ta em d ir e ç ã o o p o s ta . A R ú s s ia e u r o p é ia pode ser
".'t:
d iv id id a e m d u a s p a r te s s e g u n d o s u a te n d ê n c ia a o h o m ic íd io . ..;.'. " 6 . S u ic íd io in d ir e to e m is to

U m a a b r a n g e o L e s te e o S u l d a R ú s s ia , c o m m u ito h o m ic íd io .
A o c o n tr á r io , e m a lg u n s c a s o s r e a lm e n te r a r ís s im o s n ã o
Na o u tr a , N o r o e s te d o B á ltic o eao S u d e s te d a P o d ó lia , a J é m a is o s u ic íd io q u e p r e s e r v a o h o m ic íd io , m a s e s te é a c a u s a
te n d ê n c ia a o h o m ic íd io
m e n o s d o q u e n o s U r a is .
c h e g a a o m ín im o . U m a v e z e m e io
! d a q u e le . G e n te v il, lo u c a m e n te s u p e r s tic io s a e d e s e jo s a d e

!
m o r r e r , m a ta p a r a s e r c o n d e n a d a à m o r te e liq u id a r - s e p e la s
m ã o s d e o u tr e m . E s tr a n h a f o r m a d e e g o ís m o e d e p a ix ã o
5 . A n ta g o n is m o r e lig io s a . D e s p in e r e c o lh e u q u a tr o d e s s e s c a s o s . P o r e x e m p lo ,
J o b a r t e r a u m jo v e m c o m e r c ia n te , q u e , d e v id o à v id a d is s o -
I s s o e x p lic a b a s ta n te bem p o rq u e a e s ta tís tic a s o c ia l
.f;_ .•
lu ta , c o n tr a iu d é b ito s e s e r v iu - s e d a c a ix a a lh e ia . O r e m o r s o
tin h a n o ta d o u m a e s p é c ie d e a n ta g o n is m o e n tr e a c if r a d o s
f e z n a s c e r n e le a id é ia d o s u ic íd io , m a s m u d o u p a r a h o m ic íd io
d e lito s de sangue e a d o s s u ic íd io s , e p o rq u e e s te s ú ltim o s , : ~."
p o r a s c e tis m o , q u e lh e te r ia d a d o te m p o d e a r r e p e n d e r - s e . A
e s c a s s e ia m n o s p a ís e s m a is q u e n te s , onde o s p r im e ir o s são
p r in c íp io pensou e m a lis ta r - s e e c o m u m a in f r a ç ã o fa z e r-se
m a is n u m e r o s o s , c o m o p o r e x e m p lo , n a E s p a n h a , C ó rse g a e
f u z ila r d e p o is d e m a ta r o P r e s id e n te d a R e p ú b lic a . F in a l-
e n tr e n ó s n a s p r o v ín c ia s m e r id io n a is e in s u la r e s .
m e n te , c o m u m a f a c a d a , m a ta u m a jo v e m g r á v id a , e p e r m a -
.h'"

'~.
-.
O c o n tr á r io o c o r r e n a I tá lia d o N o r te e C e n tr a l, onde
l - ~ '- \ . n e c e p a r a d o e m s e u p o s to , d iz e n d o a o m a r id o : " N e m m e s m o
m u ito s h o m ic íd io s f o r a m , p o d e - s e d iz e r , p r e v e n id o s , e d im i-
conheço v o c ê s ; s o u u m m is e r á v e l; m a te i p a r a s e r m o r r o " .
n u íd o s d o q u e o s s u ic íd io s . E x p lic a - s e
e .a s c o n tr a v e n ç õ e s
f r e q ü e n te s
n o s c á rc e re s
a in d a c o m o o s d e lito s
sã o , c o m o v e re m o s,
n o s p a ís e s e m q u e m a is s ã o o s s u ic íd io s . O m e s m o
m enos l
,:- M a r g a r id a , d e 2 3 a n o s , s e n d o la n ç a d a n a C a s a d e R e c u -
p e ra ç ã o , e x p e r im e n to u ta l d e s p r a z e r q u e r e s o lv e u c o m e te r
u m h o m ic íd io p a ra se r c o n d e n a d a à m o r te . F o i d e ix a d a ju n to
s e d ig a , e m g e r a l, d o s p a ís e s e é p o c a s m a is c iv iliz a d a s e em f, -,
p" com u m a im b e c il e lh e c o r to u a g a r g a n ta com u m fa c ã o .
q u e a c u ltu r a c r e s c e , e n g r o s s a a c if r a d o s s u ic íd io s ( n a F r a n ç a
"
" Q u is a c a b a r c o m a e x is tê n c ia d e la , m a s p e n s e i q u e , m a ta n d o
d e 1 8 2 6 a 1 8 6 6 a u m e n ta r a m q u a s e u m tr ip lo ) e d im in u iu a
o u tr a p e s s o a , p e r d e r ia ig u a lm e n te a v id a , m a s te r e i te m p o
d o h o m ic íd io .
d e a rre p e n d e r-m e e D e u s m e p e rd o a rá ". D e p o is d o d e lito ,
O n ú m e r o m a io r d o s d e lin q ü e n te s s u ic id a s r e c o lh e - s e
r e z o u p a r a D e u s e d o r m iu tr a n q ü ila . Q uando a c o n v e n c e ra m
e n tr e a q u e le s q u e c o m e te r a m in f r a ç õ e s c o n tr a a pessoa (2 4
d e q u e , e m v e z d e te r c o n q u is ta d o o p a r a ís o , te r ia a tr a íd o a
n a I tá lia ) e c o n tr a a o rd e m p ú b lic a ( 1 2 ) , o u m u ito s (1 2 ), ir a d e D e u s , c h o r o u a m a r g a m e n te .
c o n tr a a p r o p r ie d a d e .

O r a é n a tu r a l q u e q u a n to m a is o s u ic íd io s e ja a u m e n -
7 . S u ic íd io p o r s u p e r s tiç ã o
ta d o , e x o r b ita n te , d im in u ir ã o o s h o m ic id a s ; ta n to m e n o r s e r á
o n ú m e ro d e d e lito s c o n tr a a p e sso a . S e a M a rq u e sa d e B re - O u tr a v e z , c o m o e r a o c a s o d e N a g r a l, a lg u n s c o m e te m
v illie r s e L a c e n a ir e tiv e s s e m s e s u ic id a d o r e a lm e n te , quando u m a s s a s s in a to p o rq u e e s tã o cansados d e v iv e r e n ã o tê m
te n ta r a m , p o r e s s a r a z ã 9 .te r ia m e c o n o m iz a d o o n ú m e r o d e v ítim a s . f o r ç a d e s u ic id a r - s e . E s ta p a r e c e ta lv e z a c a u s a d o te n ta d o
r e g ic íd io d e P a s s a n a n te , pouco a p ro fu n d a d o na sua causa
104
105
"\
q u e d e v ia e s tu d a r. V e n d o -m e , d is s e e le a o q u e s to r, m a ltra ta d o p o is , a s s a s s in o u -a , d e u s u m iç o a o re v ó lv e r e s e fe riu , p a ra
p e lo s m e u s p a trõ e s , sendo a m in h a v id a s o m b ria , a n te s de p o d e r a le g a r u m a p ro v a d a in te n ç ã o d e m a ta r-s e . Q uando a
s u ic id a r-m e , b ro to u -m e a id é ia d e " a te n ta r c o n tra a v id a d o g u a rd a e n c a rre g a d a d e p re n d ê -lo , c o m o v id a , o fe re c e u -lh e
" re i, n a s e g u ra n ç a d e q u e , e m to d o c a s o , e s ta ria m o rto . o p o rtu n id a d e d e jo g a r-s e d a p o n te , re c u s o u -s e , a le g a n d o q u e
lá h a v ia m u ita g e n te .

8 . S u ic íd io s im u la d o
II E s s a e s tra n h a te n d ê n c ia te m , n o s p re s id iá rio s , fre q ü e n -
te m e n te 'p o r c a u s a , o p ra z e r d a v in g a n ç a c o n tra o s g u a rd a s ,
O ser hum ano m u ito m a is te n d e a s im u la r e fin g ir a lg u - o s d ire to re s , a e s p e ra n ç a d e la n ç a r s o b re e le s a s u s p e iç ã o d e
m a a ç ã o p a ra a q u a l s e s e n te in c lin a d o . A s s im s e e x p lic a o h a v e r im p e lid o a o d e s e s p e ro , fa z ê -lo fa la r d e s i, m u d a r d e
c o m o e n tre o s d e lin q ü e n te s , m u ito s s ã o o s s im u la d o re s de c á rc e re . O u tra c a u s a , s o b re tu d o , é a in c lin a ç ã o a o fin g im e n to ,
s u ic íd io , q u e fa z e m e m s i .s im p le s c o rte s s u p e rfic ia is , ta n to q u e fa z d o c á rc e re u m v e rd a d e iro te a tro . P a ra q u e m e s tiv e r
q u e N ic h o ls o n d e c la ro u q u e , d e trê s s u ic íd io s te n ta d o s no s o lto é u m m e io ta n to m a is p re fe rid o , p o rq u e m e lh o r c o rre s -
c á rc e re , d o is s ã o s im u la d o s . E le c h e g a a d u v id a r, a té , q u e p o n d e à s u b ita n e id a d e e à v io lê n c ia d a ín d o le d e le s q u a n d o
I
ta m b é m a lg u n s d o s s u ic íd io s c o n s u m a d o s p e rte n c ia m a essa q u e re r a tin g ir d e te rm in a d o o b je tiv o , o u ju s tific a r a s i m e s m o s
~~ e s p é c ie e c ita u m q u e s e e n fo rc o u n a h o ra e m q u e d e v ia s e r e a o s o u tro s u m h o m ic íd io o u s im u la r u m a lu ta . A s s im fe z o
~;,I;i le v a d o p e lo s g u a rd a s e m o rre u , te n d o o s g u a rd a s chegado, C ic a re lli q u e fo i s u rp re e n d id o quando ro u b a v a M a ria , s u a
'1lt" e v e n tu a lm e n te , m u ito ta rd e . v ítim a fe rid a , o u p a ra e s c o n d e r-s e d a ju s tiç a , c o m o fe z B ra n c a rd .

,~
\~
'-"I!>
Q u e e u m e re c o rd o , o a s s a s s in o d r. B ra n c a rd , que não O fa ls o s u ic íd io é , e n tã o , u m a e s p é c ie d e á lib i p ro c u ra d o
s ó s im u lo u o s u ic íd io e s c re v e n d o c a rta s a o s s e u s p a re n te s , e m o u tro m u n d o . F re q ü e n te m e n te e le s a g e m c o m o c ria n ç a s
a m ig o s , a o irm ã o , e m q u e re c o m e n d a a o ú n ic o a m ig o o s e u v ic ia d a s , q u e s im u la m m a ta r-s e o u fe rir-s e p a ra c o a g ir o s
c ã o , m a s d e ix o u p re p a ra d o o e p itá fio : " A q u i re p o u s a u m fra n - p a re n te s a c e d e r a o s d e s e jo s d e le s .
c ê s q u e fo i in fe liz , J u lio B ra n c a rd . G ra n d e s d e s v e n tu ra s m an-
c h a ra m s u a ju v e n tu d e . S e m p re fo i e le to m a d o p e la tris te z a .
9 . S u ic íd io duplo
V is ita n te s , d e d iq u e m -lh e u m a lá g rim a " .
R e c o rd o -m e a in d a d a e n v e n e n a d o ra e a d ú lte ra D u b la s - H á s u ic íd io s -h o m ic íd io s , o u m e lh o r, s u ic íd io s p o s te rio -
s o n , q u e , d e s c o b e rta , e n v e n e n o u -s e c o m o m a rid o , s e u c ú m p lic e ,
re s a o s h o m ic íd io s , q u e p e rte n c e m , e s s e n c ia lm e n te a o s d e lito s
d e o rg ia s e d e d e lito s , m a s a d v e rtin d o a n te s , c o m m u ita s c a rta s , p o r p a ix ã o , q u e s ã o a c ris e fin a l e q u e s ã o o s g ra n d e s p a ro x is -
a s a m ig a s , p a ra q u e a s a lv a s s e m a te m p o , com o re a lm e n te m o s d o a m o r, n a id a d e m a is jo v e m , n o s s o lte iro s , e n o s m a is
a c o n te c e u . A s s im ta m b é m a c o n te c e u ta lv e z , a o m e n o s d u a s m a d u ro s p o r e x c e s s o d e a m o r filia l: p a rric íd io -s u ic íd io .
v e z e s , e n tre a s m u ita s te n ta tiv a s d a m a rq u e s a d e B rin v illie rs . A s s im , o c a b o R e n o u a rd , d e 2 3 a n o s , e n a m o ra -s e de
D a v id , a n te s d e m a ta r, p o r a m o r in s a tis fe ito , a c u n h a d a , u m a flo ris ta , c o n s o m e o q u a n to te m , re d u z -s e à m is é ria e lh e
v á ria s v e z e s fa lo u a e la e a o s o u tro s e m s u ic id a r-s e . E s c re v e u - p e rg u n ta a té q u e p o n to o s e g u iria . O u v in d o -a re s p o n d e r:
lh e a n te s : " R e c e b a o s < h te u s b e ijo s a n te s q u e e u m o rra " . D e - " A té a m o rte " , p re p a ro u tu d o p a ra o d u p lo s u ic íd io . P o u c o s

106 107
T
i
d ia s d e p o is se fe rira m , o u m e lh o r, e le fe riu -a c o m a u to riz a ç ã o D a n ie l V o lk u e d , d u a s v e z e s so ld a d o , fo rm o u , e m 1 7 5 3 ,
d e la e a p ó s a si m e sm o , d e ix a n d o so b re a m e sa u m e sc rito e sta n h a s id é ia s so b re o h o m ic íd io . A id é ia d e g o z a r a b e a titu d e
e m q u e sa u d a v a m o s a m ig o s. E le tin h a p a i e irm ã a ta c a d o s a n im a -o a m a ta r p a ra se r m o rto , d e p o is d e fa z e r a s p a z e s
d a m a n ia su ic id a . c o m D e u s. U m d ia d e p o is d e d iv id ir a re fe iç ã o com duas
M u ito c o m o v e n te n a F ra n ç a fo i o c a so d o o fic ia l m e n in a s d e g o la u m a c o m fa c ã o p re p a ra d o u m d ia a n te s, e
sa n itá rio B ancai (1 8 3 5 ), q u e , v o lta n d o d e u m a e x p e d iç ã o d e p o is fo i e n tre g a r-se , n a rra n d o c o m o a in q u ie ta ç ã o que o
lo n g ín q u a , e n c o n tro u a e sp o sa , q u e fic a ra m ã e . O s a m o re s tin h a d o m in a d o tin h a d e sa p a re c id o n o m o m e n to d o c rim e .
se re a ta ra m , m as não podendo c o n tin u a r e m d e so n ra , com - D o rm iu d e p o is tra n q ü ila m e n te . Foi condenado.
b in a ra m um d u p lo su ic íd io , c u jo s p re p a ra tiv o s d u ra ra m U m a jo v e m d e D e p tfo rd , p e rto d e L o n d re s, S a ra D i-
d ia s in te iro s; e le so b re v iv e u e re n o v o u a te n ta tiv a duas c k e n so n , fo i e n c o n tra d a , u m d ia , b a n h a d a n o p ró p rio sa n g u e ,
v e z e s. F o i a b so lv id o . e e ste n d id a a o la d o d e se u s d o is filh o s, q u e e la tin h a d e g o la d o .
A lg u m a ra ra v e z o d u p lo su ic íd io p o r p a ix ã o se a sso c ia O p a i, o p e rá rio , e ra h á m u ito te m p o d o e n te e a g o ra a fa m ília
e c o n fu n d e c o m c rim e p u ro , c o m o n o c a so d o D e n u re . São e sta v a re d u z id a à m isé ria . S a ra , p a ra liv ra r se u s filh o s d a a n -
h o m e n s c o n stra n g id o s a o su ic íd io p a ra su b tra ir-se a u m a p e n a g ú stia d e u m a e x istê n c ia tã o triste , c o m o te v e q u e c o n fe ssa r
in fa m a n te , e in d u z e m o s m a is c a ro s a se g u ir a so rte d e le s. n o a to d e su a p risã o , a rm o u -se d e u m a n a v a lh a , c o rto u o
p e sc o ç o d o s d o is m e n o re s q u a n d o d o rm ia m e fe riu le v e m e n te
o te rc e iro , d a n d o -lh e te m p o d e fu g ir e c o rre r n a ru a e d a r o
1 0 . S u ic íd io n o s d e m e n te s c rim in o so s
a la rm e . E la , n o e n ta n to , a sse g u ra -se d a m o rte d e su a s v ítim a s
O su ic íd io é , p o ré m , m a is fá c il a in d a d o q u e n o s d e lin - e q u e r se g u ir o d e stin o d e la s. D á u m a n a v a lh a d a n o p e sc o ç o ,
q ü e n te s p u ro s, n o s p o r p a ix ã o , a in d a m a is n o s d e m e n te s- m a s fa lta -lh e c o ra g e m e só fa z u m a le v e in c isã o . U m m é d ic o ,
c rim in a is, Isto é n a tu ra l. O su ic íd io , se n d o fre q ü e n te nos e n v ia d o p a ra e x a m in a r o e sta d o m e n ta l d e S a ra , d e c la ra -a
d e m e n te s, se rá ta n to m a is n o s d e lin q ü e n te s e d e v e se r a in d a c o m o a fe ta d a d e m a n ia in te rm ite n te .
m a is n a q u e le s q u e sã o u m e o u tro ju n ta m e n te , ta n to m a is se Z a n e tti, q u e fe riu p o r v in g a n ç a d u a s v e z e s n o e sp a ç o
fo r e x c ita d o p o r u m a fo rte p a ix ã o . d e se te a n o s M a g g io to , d e q u e m tin h a sid o d e sp e d id o , e p o r
V e m o s d e sse je ito o P a lm ie ri, a ssa lta n te e d e m e n te e d u a s v e z e s fe ito a p e n a s o fe rim e n to , te n ta v a su ic id a r-se ; tin h a
trê s v e z e s su ic id a . T a m b é m M a ssa g lia , u m se m i-d e m e n te , que sid o já in te rn a d o n o m a n ic ô m io d e S ã o S é rv u lo , e m V e n e z a .
se c o n fe ssa v a c u lp a d o d e 1 2 8 d e lito s, m a s e ra só d e 4 0 , te n ta r E d ig a -se a ssim d o s su ic id a s e p a rric id a s a lc o ó la tra s V a le ssin a ,
d a r m o rte a si m e sm o jo g a n d o -se d o a lto . B u sa la , d e p o is d e C a lm a n o , q u e d e sp e rd iç a m tu d o , la n ç a m -se so b re se u s filh o s
m a ta r o irm ã o , te n ta r a fo g a r-se , e p e rg u n ta r p rim e iro : se o e o s m a ta m , d o s q u a is fa la re m o s m a is ta rd e .
tin h a m a ta d o , " p o rq u e a g o ra m e a fo g o ; se n ã o fo r, c o n su lto
u m a d v o g à d o " . D e lita la , d e m e n te , o u m e lh o r, se m i-d e m e n te ,
d e u -se trê s tiro s d e re v ó lv e r
v á rio s h o m ic íd io s,
na cabeça
d o s 'q u a is a in d a fa la re m o s ..
d e p o is d e c o m e te r J~c
. '~,:"" ,
(:.: ,i«.~'.
' •.
;~ ~->;r.-
108 iJ!i:;:;
109
~
'~r

\
I

II 10. AFETOS E P A IX Õ E S N O S D E L IN Q Ü E N T E S
I

~.; :1:- L 1 . A fe to s - 2 . In sta b ilid a d e - 3 . V a id a d e - 4 . V a id a d e d o d e lito


5 . V in g a n ç a - 6 . C ru e ld a d e -7 . V in h o e jo g o

I
.~
jI;-o " r . .,

:.~ . 8 . O u tra s te n d ê n c ia s - 9 . C o m p a ra ç ã o c o m o s d e m e n te s
.•~, ')/;.'t
1 0 . C o m p a ra ç ã o c o m o s se lv a g e n s.
;."õ f' I
~ $ r.;''''j;
,-
~" '& ,C
I
,
,1 , ,! 1 . A f e to s

i
,1 ~ S e r ia p o ré m g ra v e e rro su p o r que to d o s o s s e n tid o s
I te n h a m s id o e x tir p a d o s d o s c r im in o s o s . À s v e z e s , a lg u m
I s o b r e v iv e a o d e s a p a r e c im e n to d o s o u tr o s . T ro p p m a n n , que
tin h a m a ta d o ta n to m u lh e r e s c o m o c r ia n ç a s , c h o ro u a o o u v ir
o nom e de sua m ãe. O ' A vanzo, que assou e com eu a b a r r ig a
d a p e rn a d e u m h o m e m , com punha v e r s o s d e a m o r . B e z z a tti
a m a v a a m u lh e r e o s f ilh o s . L a S o la , q u e a m a v a o s f ilh o s " u m
p o u c o m a is q u e o s g a tin h o s " , c o m o e la d is s e , e q u e f e z m a ta r
o a m a n te , e r a a f e iç o a d a a o c ú m p lic e A z z a r io e c o m p ô s o b r a s
d e v e r d a d e ir a c a r id a d e , f ic a n d o , p o r e x e m p lo , n o ite s in te ir a s
n a c a b e c e ir a d e p o b r e s m o r ib u n d o s .

L a c e n a ir e , n o d ia e m q u e m a to u L a C h a rd o n , s a lv o u ,
/
e n f r e n ta n d o p e r ig o , u m g a to q u e e s ta v a p a r a c a ir d o te to , e


~':~";
.
:.,.' '.
- - ,." ~ '

,h ~ .
,,;'; 111
\l-
i
\
poupou Scribe que o havia socorrido. O s ciganos, que são 2. Instabilidade
delinqüentes natos, estelionatários, têm vivíssim o afeto
fam iliar, e as m ulheres (não na Índia) têm senso singular de •
I,
N a m aior parte, entretanto, os nobres afetos dos delin-
qüentes vão tom ando sem pre um traço doentio, excessivo e .
pudor. A "lacki" (integridade virginal) é a coisa m ais preciosa

I
que tu tens; não vás perdê-la", dizem as zíngaras às suas filhas. instável. Pissem bert, por um am or platônico, envenenou sua
esposa. A M arquesa de Brinvilliers m atou o pai para vingar
N oelle, por am or ao filho preso, fez-se pianista célebre,
seu am ante, m atou os parentes para enriquecer os filhos. Cur-
a protetora, e com o a cham avam , a "m ãe dos ladrões". O

I
ti e Sureau m ataram as m ulheres porque não queriam se re-
assassino M oro, piem ontês, vestia e dava banho nos seus
com por com elas. M abille, para alegrar os am igos im provisa-
garotos. Feron, assim que com etia um crim e, corria para os
filhos de sua am ante e presenteava-os com doces. M aino
, dos de urna cantina executou um assassinato. M aggiu m e disse:
''1\ causa de m eus delitos é porque sou m uito levado pela
della Spinetta era fiel e apaixonado e foi preso por causa da
m ulher. Pela sua esposa o terrível Spadolino se fez assaltante,
M orcino ladrão, Castagna

am ante.
envenenador.

Por obra desta foi preso e durante


O ferocíssim o
Franco gastava m ilhares de liras para que nada faltasse à sua
o processo só se
I am izade; não posso ver um am igo ser ofendido sem vingá-lo".
Se quiserm os exem plos de pouca estabilidade dos afe-
tos, recordem os G asparone, que declara ter-se feito assassino
por m uito am or à sua am ante, a qual, poucos dias depois a
m atou com as próprias m ãos, por causa de urna sim ples sus-
preocupou em salvá-la.
peita. O utro, Thom as, que am ava desm esuradam ente a m ãe,
M icaud era tão enam orado e cium ento de sua am ásia
m as num acesso de cólera jogou-a da sacada.
que fazia traços de .gesso nos sapatos para im pedir que se
M artinati tinha am ado ardentem ente por anos um a
afastasse de casa. H olland confessa ter com etido hom icídio
m ulher, m as após dois m eses de casam ento já pensava em
para enriquecer a m ulher e o filho que ele am ava. "Eu assim
m atá-la. A s prostitutas que se deixam agredir até sangrar
fiz pelo m eu pobre m enino." N ão se pode ler, sem se
por seus am antes, m as, por um pretexto fútil, de repente, os
espantar, as palavras do assassino D e Cosim i: "Tantos beijos
abandonam e com o m esm o calor assum em novo am or.
ao m eu m enino. Ele será direito com o o pai, porque o lobo
gera o lobinho".
3. V aidade
Parent D uchatelet m ostrou que se m uitas prostitutas ~
perdem inteiram ente laços de fam ília, há algum as que pro- Em lugar de afetos fam iliares e sociais, que se encontram
vêm , m esm o com desonra, o pão dos filhos, de seus velhos apagados ou desligados nos delinqüentes, as outras paixões res-
pais ou seu com panheiro. Têm portanto verdadeira, exces- tantes dom inam com constante tenacidade. Prim eiro, entre
siva paixão por seus am antes. U rna dessas infelizes, após l' todos, o orgulho, ou m elhor, a consideração excessiva pela
ter quebrado um a perna saltando de urna janela para fur- 1;__ própria pessoa, que notam os crescer no vulgo, na razão inversa
:l1}.><-
tar-se aos golpes de seu am ante, retornou a ele. A gredida do m érito. É com o se na psique se repetisse a norm a que dom ina
F
de novo, teve um braço fraturado, m as não perdeu o in- -''t.'~,~; no m oto-reflexo, sem pre m ais ativo quanto m ais dim inui a ação
($ .•
tenso afeto. --
t;~f'~'.~' dos centros nervosos, m as que adquire proporções gigantescas.

~~~
112 :fr~!~ 113
:if;1!Jt.
A vaidade dos delinqüentes supera à dos artistas, dos capaz de cometer um homicídio, indicou o sacerdote que
literatos e das mulheres galantes, Na cela de La Galla encon- saiu da igreja e pouco depois, em pleno dia, o matou. Matou
trei escrito pela mão dele: "Hoje, 24 de março, La Galla apren- só para provar que era capaz de matar.
deu a fazer as meias", Crocco procurava salvar o irmão, dizen-
Os bandos de ladrões ingleses, disse Mayhew, cotejam
do: "Senão a estirpe de Crocco será perdida", A denúncia
um com os outros os seus golpes. Gabam-se de superar o
capital, a própria condenação, não comoviam Lacenaire,
rival; garantiriam, se pudessem, as páginas dos jornais.
como a crítica de seus sofríveis versos, e o medo do desprezo
Cotto as prostitutas, dividem-se em vários graus profis-
, público, Disse ele: "Não temo ser odiado, mas ser desprezado",
sionais; atribuem-se pertencer a um grau superior, e a frase "Você
Satisfazer a própria vaidade e brilhar no mundo é o
é mulher de uma lira" é tida como ofensa máxima. Também nas
que mal se chama "figurar"; é a causa mais comum dos mo-
prisões, os ladrões de milhares de liras riem do ladrãozinho vulgar.
dernos delitos, Denaud e sua amante mataram, ele a esposa,
Os homicidas, ao menos na Itália, acreditam-se superiores aos
ela o marido, para poderem se casar e conservar a "reputação"
ladrões e aos assaltantes. Os falsários se crêem superiores aos
no mundo. O equivocado ponto de honra: não poder pagar
homicidas e evitam contatos com eles. Por outro lado, os
;. suas dívidas, foi o ponto de partida dos crimes de Faella.
,.
J

assaltantes desprezam os gatunos. Um deles, recusando-se a


to: Quando um famigerado ladrão adotou um certo tipo sentar-se ao lado de um ladrão vulgar, disse: "Posso ser também
:l1'
'~~ .• de colete e de gravata, os seus comparsas o tomaram como um ladrão, mas, graças a Deus, sou um homem respeitável".
;~, modelo. Yidocq, em um bando de 22 ladrões presos num só
!i!~ Vasco, que, com I9 anos, matou uma família inteira,
~ ~- dia, encontrou 20 que vestiam colete da mesma cor.
-'1"
deliciava-se quando ouvia dizer que toda Petrogrado falava
•• 4. Vaidade do delito
dele. "Creio que agora verão meus colegas da escola se eram
justos quando diziam que eu jamais seria alguma coisa na vida."
Grellinier, um ladrão barato, gabava-se, perante o Tri-
São vaidosos da própria força, da própria beleza, da
bunal, de imaginários delitos para poder equiparar-se a um
própria coragem, das mal conquistadas e pouco duradouras
grande assassino. Mottino e Rouget contam em sofríveis ver-
riquezas, e o que é mais estranho e mais triste, da própria
habilidade em delinqüir. Escreveu o ex-presidiário Yidocq: I sos seus crimes. Lemaire, De Marsilly, Yidocq, Winter, De
''A princípio, os delinqüentes se gabam como se fosse uma !\. Cosimi, Lafarge e Collet transmitiram a história da vida deles ..
glória", E outro diz: "Na sociedade, teme-se a infâmia, mas em
uma massa de condenados a única vergonha é não ser infame. L 5. Vingança
É. um escarpe (assassino); é por isso o maior dos elogios". i Natural conseqüência de uma vaidade ilimitada, de
Foi morto, há anos atrás, em uma cidade da Romagna,
sentimento desproporcional da própria personalidade, é a
um sacerdote de índole terna, e não tinha inimigos. Por isso F~"
I".,, própria inclinação à vingança por causas mínimas. Tínhamos
não se podia suspeitar do possível autor do crime. Era um ._.i~
visto como um presidiário matou o outro porque não quis
rapaz que, para demonstrar aos próprios colegas ter ânimo

114
~I~-
!~~-
lustrar-lhe os sapatos. Ledue matou um amigo porque o con-

115
iIi
, ..
.l't.;,
.; ..
'.;-:t.
~';
d e n a ra p o r ro u b a r só um a c a ix a d e fó s fo ro s . M ilite llo , por m e s m a c o is a . G a le to a s s a s s in o u u m a m e re triz p a ra fu rta r, e c o m o
um a pequena o fe n s a d o c o m p a n h e iro d e in fâ n c ia , m e d ito u e s ta s ó tiv e s s e u m re ló g io , d e ra iv a c o m e u a c a rn e d e la . C a rp in -
s o b re e la e d e p o is o m a to u , achando q u e e le m e re c ia a m o rte . te ri, p a s to r e c ria d o r d e p o rc o s , d ó c il e b o m a té o s 1 8 a n o s ,
s e n d o in s u lta d o p o r u m c o m p a n h e iro , to m o u -s e d e re p e n te fe ro z
A m esm a te n d ê n c ia s e m o s tra nas p ro s titu ta s . D is s e
P a re n t: " d ir-s e -ia que o senso d a p ró p ria b a ix e z a excede o a a rre b e n to u -lh e a cabeça. T o m o u -s e s a lte a d o r, c o m e te u 29

o rg u lh o e o a m o r p ró p rio d e la s q u e le v a m a u m g ra u e x c e s s i- h o m ic íd io s e m m e n o s d e n o v e a n o s e m a is d e c e m a s s a lto s .

v o " . A c ó le ra é fre q ü e n te n a s m e re triz e s e por causas m a is E x p e rim e n ta n d o e s s e h o rro ro s o p ra z e r d e s a n g u e , e s te


le v e s , por um a c e n s u ra , p o r e x e m p lo , d e a lg u m a c o is a que s e to rn a u m a n e c e s s id a d e , a ta l p o n to que o ser hum ano não
fic o u fe ia ; s ã o , q u a n to a e s s a q u e s tã o , m a is in fa n tis do que as p o d e d o m in á -lo , e , c o is a e s tra n h a , n ã o s ó n ã o s e n te v e rg o n h a ,
p ró p ria s c ria n ç a s ; s e n tir-s e -ia m d e s o n ra d a s s e n ã o re a g is s e m . m a s ta m b é m s e to rn a u m a g ló ria . M is tu ra -s e a in d a um pouco

E s ta v io lê n c ia d a s p a ix õ e s , m o rm e n te d a v in g a n ç a , que d a e s tra n h a v a id a d e d o d e lito q u e n ó s v e m o s n a v id a d e to d o s

u ltra p a s s a a té m e s m o o a m o r p ró p rio , e x p lic a m u ito s re q u in - e le s . M o rib u n d o S p a d o lin o s e la m e n ta v a d e te r m a ta d o só

te s d e fe ro c id a d e , com um d o s p o v o s a n tig o s e s e lv a g e n s , m as 99 hom ens, sem te r c o m p le ta d o um a c e n te n a . T o rto ra se

ra ro s e m o n s tru o s o s p a ra n ó s . v a n g lo ria v a d e te r m a ta d o d o z e s o ld a d o s e tin h a â n im o de


a tin g ir a 1 0 0 . N o d ia e m q u e n ã o p o d ia m a ta r a lg u é m dego-
la v a . T e n d o s e q ü e s tra d o u m p o b re q u e n a d a p o d ia re n d e r lh e
6 . C ru e ld a d e
d is s e : " P o is b e m , v o c ê n o s d a rá s e u s a n g u e , e lh e d e u 2 8 fa c a d a s " .

H o je e m d ia , c o m m u ita fre q ü ê n c ia o d e lin q ü e n te s e e n fu - P a re c e que nesses c a s o s m is tu ra m -s e fre q ü e n te m e n te


re c e s e m c a u s a o u s ó p e lo lu c ro . E m 8 6 0 fu rto s c o m a rro m b a m e n to um a p a ix ã o sensual que p ro v o c a e x c ita ç ã o quando se vê
c o m e tid o s e m L o n d re s h á d e z a n o s , s ó c in c o e ra m s e g u id o s d e sangue, e n c o n tra n d o -s e e s ta s c e n a s s a n g u in á ria s m is ta s c o m
v io lê n c ia p e s s o a l. O s s a n g u in á rio s q u e m a ta m p o r m a ta r são a s d e e s tu p ro , ou nos hom ens fo rç a d o s à c a s tid a d e , com o
o lh a d o s com c a u te la , d is s e F re g ie r, p e lo s s e u s c o m p a n h e iro s . p a d re s , p re s id iá rio s , s o ld a d o s , p a s to re s , o u lo g o a p ó s o a d v e n -
C o n tu d o , in c ita d o s à p a ix ã o d a v in g a n ç a e d a c u p id e z in s a tis fe ita to d a p u b e rd a d e . H á o u tro s , te n d o c o m o c a u s a o e x e rc íc io de
o u d a v a id a d e o fe n d id a , o s in s tin to s c ru é is do ser hum ano fu n ç õ e s d e c o n ta to com sangue, com o a ç o u g u e iro s , ou que
p rim itiv o re to m a m
m o ra l lh e a n u la o h o rro r
à to n a fa c ilm e n te , e n q u a n to
e a d o r p e lo s s o frim e n to s
a in s e n s ib ilid a d e
a lh e io s .
l
'\
o b rig a m a u m a p ro fu n d a
o u o e s p e tá c u lo d e o u tra s
s o lid ã o , c o m o o s p a s to re s ,
c ru e ld a d e s ,
c a ç a d o re s ,
e , m a is d o q u e tu d o , a

T am bém re to m a a fe ro c id a d e d e n o s s o s s a lte a d o re s e a h e re d ita rie d a d e . M u ito s fa c ín o ra s p a s s a ra m p o r e s s a s fu n ç õ e s ..

s e lv a g e ria d a s re g iõ e s o n d e e le s s ã o fre q ü e n te s (tiv e ra m quase A d ic io n a -s e e n fim u m a e s p é c ie d e a lte ra ç ã o p ro fu n d a


s e m p re c o m o c a u s a u m a v in g a n ç a a c u m p rir). C oppa e ra p o b re d a p s iq u e , q u e é v e rd a d e ira m e n te p ró p ria d o s d e lin q ü e n te s
e b a s ta rd o . V o lta n d o à s u a re g iã o c o m u n ifo rm e b o u rb õ n ic o fo i e d o s d e m e n te s , e que o s s u je ita a um a ira s c ib ilid a d e sem
in s u lta d o e a g re d id o p e lo s c id a d ã o s , e p o r is s o ju ro u v in g a r-s e e, ,!'~A".
...••
o :. ,
. .;..-.--,
~ ~ ' .. ~ ,'
c a u s a , q u e o s c a rc e re iro s conhecem b e m e q u e e n c o n tra m o s
d e fa to , m a ta v a o s d e s u a re g iã o . M a s in i, p o r ig u a l ra z ã o , a m a n ti- n o s a n im a is e n o s s e lv a g e n s , m a s to d o s tê m "um a h o ra fe ia "
nha c o n tra . o s d e P a te rn o . T o rto ra com o s d e S a n fe le fa z ia a n o d ia , n a q u a l n ã o s a b e m d o m in a r-s e .

116 117
-l-

F o i n o tad o p o r to d o s q u e, q u an to à fero cid ad e e cru el-


I in fam e ativ id ad e e to d as p ara en trar n a o rg ia d e seu s p o u co s
d ad e,
su p eram
as p o u cas m u lh eres
o s h o m en s.
afetad as p o r essas características,
A s façan h as q u e criaram o b an d itism o
I
i
só b rio s am an tes. "S em o lico r, n ó s n ão p o d em o s lev ar a v id a a
q u e so m o s o b rig ad o s", d izia u m d eles. T o d av ia, h á ex ceçõ es e se
i
n a B asilicata, em P alerm o o u P aris n ão se p o d e d escrev er. en co n tram lad rõ es e p ro stitu tas, so b retu d o estelio n atário s
ab stêm io s o u m o rig erad o s. D izia-m e u m estelio n atário : "N esta
7 . V in h o e jo g o p ro fissão n ão se p o d eria trab alh ar sen d o b êb ad o ".
B em '1 :)o u co S , ao rev és, são o s m alfeito res q u e n ão sen -
D ep o is d o p razer d a v in g an ça e a v aid ad e satisfeita, o
tem v iv íssim a a p aix ão p elo jo g o , E screv eu F reg ier: "E sses
d elin q ü en te n ão en co n tra d eleite m aio r d o q u e o v in h o e o
in felizes q u e se co n ten tam co m tão p o u co , q u an :d o têm o ca-
jo g o . A p aix ão p elo álco o l é p o rém m u ito co m p lex a, p o r ser
sião d e se ap ro v eitar d o s o u tro s, são to m ad o s d e u m a esp écie
cau sa e efeito d o crim e. T ríp lice cau sa, ao co n trário , q u an d o
d e fú ria d e g asto s q u an d o alg u m a rap in a in esp erad a o s co lo ca
se p en sa q u e o alco ó latra d á o rig em a filh o s d elin q ü en tes, e o
n a p o sse d e alg u m a so m a m ais elev ad a. A s em o çõ es d o jo g o
álco o l é tam b ém o in stru m en to e u m a razão d o crim e. A lg u n s
são as m ais caras q u e eles têm . E sta p aix ão o s seg u e n as p ri-
d elin q ü em p ara em b riag ar-se, o u p o rq u e, co m a b eb ed eira o s
sõ es. S ão citad o s caso s d e p risio n eiro s q u e, d ep o is d e h av er
i: " -v elh aco s p ro cu ram a co rag em n ecessária ao s ato s n efan d o s,
fi p erd id o , em u m m o m en to , o p ro d u to d e u m a sem an a d e tra-
;;.-
""
""-d ep o is u m arg u m en to p ara fu tu ra ju stificação , e co m a p reco ce
b alh o , co n seg u em jo g ar u m , d o is e até três m eses an tecip ad o s.
,.~
ilJi .•
..•• ii:. em b riag u ez sed u zem o s jo v en s ao d elito . P o rém , m ais d o q u e
.'/. O q u e m ais? O s m éd ico s d a casa d e d eten ção d e S ain t
~l:. tu d o , p o rq u e o b ar é o p o n to d e en co n tro d e seu s cú m p lices,
;.~
;fl

..~ ;,-:-s u a sed e n atu ral, em q u e n ão só se p ro jeta m as se u su fru i o M ich el o b serv aram u m p reso q u e, d o en te, jo g av a a m ag ra
-}J- ração d e so p a o u v in h o , até q u e m o rreu d e in an ição . B eau -
d elito , e p ara m u ito s é o ú n ico e v erd ad eiro d o m icílio .
seg u i era d e tal fo rm a m erg u lh ad o n a p aix ão d o jo g o a p o n to
A d icio n e-se en fim q u e o b ar é o b an co e b an q u eiro fiel,
d e esq u ecer-se d a ex trem a ex ecu ção q u e o esp erav a. A co n -
em m ão s d o q u al o d elin q ü en te d ep o sita o ren d im en to m al
teceu ao b an d o d e L em aire jo g ar p o r d o is d ias em seg u id a
p erceb id o . E m 1 8 6 0 , em L o n d res, co n tav am -se 4 .9 3 8 b ares, em
q u e eram en co n trad o s só lad rõ es e p ro stitu tas. E m 1 0 .0 0 0 crim es i
j.
sem p arar. E m 3 .2 8 7 h o m icíd io s
fo ram cau sad o s
e ferim en to s
p elo jo g o . A s p ro stitu tas
n a Itália, 1 4 5
são ap aix o n ad as
san g ren to s n a F ran ça, 2 .3 7 4 fo ram co m etid o s n o s b ares, E m
p elo jo g o d as cartas, esp ecialm en te p ela tô m b o la.
4 9 .4 2 3 crim in o so s d e N o v a Y o rk , 3 0 .5 0 7 eram alco ó latras; 8 9 3
.~~ ão en tre 1 .0 9 3 p reso s d a A lb ân ia. E m T o rin o , d ez an o s atrás, ! tin h a
O falsário D u ran d
ed u cad o
n arro u ao m éd ico co m o su a m ãe o
n o jo g o , n o q u al ela d issip av a seu s b en s.
;o rg an izav a-se u m b an d o co m o ú n ico o b jetiv o d e ro u b ar g arrafas. I "Q u an d o ela p erd ia, co m íam o s tristem en te o p ão seco . D ep o is
É ao álco o l q u e p ro v av elm en te d ev em o s atrib u ir certas
d o en ças q u e v em o s rep etir n o s d elin q ü en tes e n as p ro stitu tas.
L d e u m a n o ite d e jo g o , co stu m av a m an ter-m e aco rd ad o to d a
a n o ite p ara ten tar sen ão o p razer d e g an h ar, ao m en o s o d a
D isse P aren t-D u ch atelet: "O s rico s ab u sam d o ch am p ag n e, o s
v itó ria. E sto u aq u i p o rq u e tiv e o ô n u s d e rep arar a p erfíd ia
p o b res d o ag u ard en te, p rim eiro p ara afastar as tristes lem b ran ças,
d e u m a carta. P ara m im as cartas eram sereias; a v ista d e
d ep o is p ara co n q u istar \Im m o m en tân eo v ig o r, n ecessário à
u m a "d am a" m e cau sav a u m sen tid o m ág ico ; era p ara m im

118 119
r
8 . O u tr a s te n d ê n c ia s
m a is a g r a d á v e l d o q u e q u a lq u e r p in tu r a . Q uando m a is a r d ia
o jo g o , e u , a p e r ta n d o a m ã o n o c o ra ç ã o , s e n tia - m e tr e m e r
O s d e lin q ü e n te s tê m , e m b o r a m e n o s v iv a , o u tr a s te n -
d e a n s ie d a d e . S e a s o r te s e to r n a v a a d v e rsa , e u , s e m s e n tir ,
d ê n c ia s , c o m o à m e s a , a o e r o tis m o , à d a n ç a . U m d o s p o u c o s
e n te r r a v a as unhas n a c a r n e ." E a s s im d iz e n d o , m o s tr a v a ao
la d r õ e s q u e m e c o n f e s s a r a m s e u c r im e e r a u m to s c a n o q u e a o
m é d ic o o s s in a is d a a n s ie d a d e , q u e o tin h a jo g a d o n a p r is ã o . d is c o r r e r s o b r e c o m id a , c o m e ç a v a a s o lu ç a r e m e d iz ia q u e h a v ia
A p a ix ã o p e lo jo g o e x p lic a a c o n tín u a c o n tr a d iç ã o que com eçado a ro u b a r p a ra c o m p ra r m a c a rrã o . C h a n d e le t não
m e x e c o m a v id a d o s m a lf e ito r e s , a q u a l, d e u m la d o m a n if e s ta p o d ia f ic a r q u ie to n o c á r c e r e , a n ã o s e r c o m a a m e a ç a d e lh e s e r
a a v id e z d e s e n f r e a d a p e la s c o is a s d o s o u tr o s , d e o u tr o o des- d im in u íd a a c o m id a . Os la d r õ e s jo v e n s , d iz ia F a u c h e r,
c u id o e m d is s ip a r o m a l c o n q u is ta d o d in h e ir o , ta lv e z , ta m b é m c o m e ç a ra m ro u b a n d o f r u ta s e c a rn e ; m a is ta r d e pequenas
p o rq u e m u ito f a c ilm e n te c o n q u is ta d o . E x p lic a com o quase m e r c a d o r ia s , q u e r e v e n d ia m p a r a c o m p r a r d o c e s . N o v e e n tr e
to d o s o s m a lf e ito r e s , m a lg r a d o possuam , à s v e z e s, e n o rm e s d e z la d r õ e s to r n a r a m - s e ta is p o r s e r e m s e d u z id o s p e lo s m a is
so m a s, p e rm a n e c e m q u a s e s e m p r e p o b r e s . A o jo g o d o f u r to , v e lh o s c o m a o f e r ta d e f r u ta s o u d e p ã o , s e f o s s e m m is e r á v e is , e
e sc re v e M a y h e w , p e rd e -se s e m p r e . T u d o te r m in a e m o r g ia e s e f o s s e m r ic o s , c o m m e r e tr iz e s , im p u ls io n a n d o - o s a o d e lito .
em despesas com a ju s tiç a . M ayhew conheceu um la d r ã o L u c k e s e f e z a s s a s s in o p e la p a ix ã o p o r b a ile s . H o lla n d e C o s ta
g e n ia l, q u e tin h a n a m e n te o s m é to d o s m a is g e n ia is d e f u r to , f o r a m d a n ç a r n a n o ite d o h o m ic íd io c o m e tid o . M u ito s e m P a r is
c o n h e c ia to d o s o s ju íz e s d a I n g la te r r a , to d o s o s a r tig o s do e e m T u r im f iz e r a m - s e la d r õ e s p a r a p a g a r e n tr a d a e m e s p e tá c u lo s .
C ó d ig o Penal e a h is tó r ia d o s d e lito s d o s ú ltim o s 25 anos, i . R a r a m e n te o d e lin q ü e n te e x p e r im e n ta v e r d a d e ir a p a i-
I
m as nem p o r is s o a m e a lh o u u m s ó to s tã o . I x ã o p e la m u lh e r . Seu am or é m a is c a r n a l e s e lv a g e m , um

com um
P o r o u tr o
p a re c e
la d o , a quem e s tu d a
n ã o s e r a a v id e z p o r s i u m im p u ls o
a v id a d o m a lf e ito r
a o d e lito . !
I a m o r d e b o r d e l, q u e s e v e r if ic a n u m
em L o n d re s d o is te r ç o s
p r o s tíb u lo ( c e r ta m e n te
d e s s e s s ã o c o v is d e m a lf e ito r e s ) e
A a v id e z e n tr a apenas p o rq u e s e m d in h e ir o n ã o p o d e r ia m I.
f. te m p o r e s p e c ia l c a r a c te r ís tic a a p r e c o c id a d e e a in te r m itê n c ia
s a tis f a z e r à s b r u ta is p a ix õ e s . O a v a r e n to é in c lin a d o a o c r im e . q u e o s f a z p a s s a r r a p id a m e n te d o a m o r a o ó d io m a is in te n s o .

P a r e n t c a lc u la v a s e r e m r a r ís s im o s o s c a s o s d e p r o s titu ta s E x e m p lo c lá s s ic o é o d e A s s u n ta d e A n g e lis , q u e . m a l s e c a s o u

e n r iq u e c id a s ; a m a io r ia te r m in a n o s a b r ig o s d e m e n d ic id a d e . E s s a jo g o u - s e n o s b r a ç o s d e s e u a n tig o a m a n te . Q uando e s te c a iu

p o b r e z a in te r m ite n te , e x p o n d o -o s a o s e x c e s s o s o p o s to s , é u m a e m e x tr e m a p o b re z a , r e to r n a a o m a r id o e quando o a n tig o

I
a m a n te s e a p r e s e n ta , m a ta - o c o m o ito p u n h a la d a s .
d a s p r in c ip a is c a u s a s d a m o r te p r e c o c e d e le s . E la é n o tá v e l p o r q u e
in d u z in d o a v e r s ã o e s u s p e iç ã o n a s o u tr a s p e s s o a s é o b s tá c u lo a o s L o c a te lli c o n h e c e u u m g a tu n o q u e a o s n o v e a n o s ro u -
s e u s p r o p ó s ito s d e s o n e s to s . T o d a v ia , d e v e ta m b é m p a r tic ip a r a b a v a , n ã o p a r a s a tis f a z e r g u lo d ic e , m a s d a r p r e s e n te s às suas
n a m o r a d in h a s , d e ta l f o r m a q u e d e f u r to e m f u r to to r n o u - s e
f a lta d e c u id a d o d a f a m ília , e s o b r e tu d o a in é r c ia e a p a tia , q u e é
u m d o s e s p e c ia is c a r a c te r e s d e le s , c o m o é d o s p o v o s s e lv a g e n s .
I. a o s q u in z e a n o s u m d o s m a is d e s c a r a d o s h a b ita n te s d a s p r i-
C r e io d e v e r te r tr a ç a d o a q u i e s te c a r á te r d o s d e m e n te s , p o r q u e s õ e s e d o s b o r d é is , e c o m p r o n tu á r io a b e r to n a ju s tiç a , q u e
b e m s e h a r m o n iz a c o m u m ju s to p r o v é r b io , s e g u n d o o q u a l a f a r ia in v e ja a o m a is f ic h a d o m a lf e ito r . O g a tu n o ro u b a v a p a ra
p u r e z a d o c o r p o s e r ia o i! íÍ c io d a p u r e z a d o â n im o . a lim e n ta r s u a in te m p e s tiv a te n d ê n c ia à lib e r tin a g e m , com a

120 121
r-
fuga im petuosa dos seus quinze anos e com a paixão que um A lgum as raras vezes, tam bém os assassinos com uns,
de sua idade teria aplicado nos m ais clam orosos e solícitos por exem plo, Franco, M ontely, Pom m erais, D em m e, parece-
passatem pos da adolescência. ram nutrir um afeto único e potente e um am or verdadeira-
B runo G alli, com apenas vinte anos m ata a golpes de por- m ente ideal, com o m ostraram em poucos versos de bandidos
rete a própria benfeitora e rouba sua casa. Para quê? Para dar sicilianos e corsos, m as casos raríssim os, aos quais podem os
presentes a um a m ulher da vida. C om m ãos ainda ensangüen- dar pouco crédito quando pensam os no estranho sentim enta-
tadas afogava sua libido em ter os braços de um a prostituta que lism o daqvele tatuado, do qual dem os alguns traços.
" presenteava com algum as quinquilharias roubadas da assassinada. M enos óbvio é encontrar o am or platônico e entre os
O utro hom icida e assaltante, certo G uido, com pouco m ais ladrões; M ayhew diz que os ladrões de L ondres não cantam
de vinte anos, depois de haver consum ado o hom icídio de um canções obscenas, m as as sentim entais. A s ladras, unidas sem -
velho casal, para depredá-los de tudo que possuíam , corre afanoso pre em m atrim ônio m ais ou m enos legítim o, am am ver seus
e sequioso ao bordel em que m orava sua am ante e a faz depositária. am antes ornados de correntes de ouro, enquanto elas se ves-
tem bem , e os ajudam quando estão doentes ou presos, e lhe são
Faz apenas poucos m eses, nossos tribunais
de três jovens, precocem ente depravados,
ocuparam -se
os quais foram I- fiéis, quando a prisão não for m uito duradoura. A s prostitu tas

l
,<" repelidos de um bordel por estarem desprovidos de dinheiro,
"',.
têm um am or que as distingue das m ulheres norm ais. São apaixo-
;:: agrediram e depredaram do relógio e de poucas liras o prim eiro nadas pela dança, pelas flores e pelo jogo. São dadas ao tribadism o.
~
~. que encontraram e precisam ente um cocheiro de pequena E ntretanto, esses prazeres do jogo, da gula, do sexo, etc., e
;~; cidade. O assassino T avolino não podia estar um dia sem m ulher. até o da vingança, são interm ediários de um m áxim o, que m ais

~~~ C ibolla, desde garoto, roubava para poder esbanjar nos bordéis. do que todos predom ina o da orgia. E sses seres tão avessos à
D o m oedeiro falso A m élio, constava num processo, ter tantas sociedade têm um a estranha necessidade de vida social, um a vida
"" de alegria, barulhenta, agitada, sensual, no m eio de seus cúm plices,
am antes, que poderiam form ar um a fila de um a cidade a outra"
W olff, logo que com etia um assassinato, instalava-se a verdadeira vida de orgia. C reio que e os prazeres da gula e do

em um bordel e fazia desfilar todas as prostitutas. D unant, vinho sejam um pretexto para dar-lhes desafogo, por isso, m algrado
perguntado se ele am ava deveras a m ulher cujo m arido tinha .•. o evidente perigo, apenas com etido um hom icídio, ou efetuada
.",,',. um a evasão após um a longa prisão, retom am àquele lugar.
m atado, respondeu: "O h! Se você a tivesse visto nua!". G ui-
guand m atou o pai e a irm ã para gastar o pouco dinheiro que
I""•...•."
.' "',..
.. "-,,.,," T am ~ém as prostitutas têm necessidade de agitação e estré-
, possuíam com um a prostituta. H ardouin, M artinati e Paggi, pito, de associar-se e até na penitência conservam a num erosa
~I-~"

com etiam adultério sob os olhos das m ulheres.


E m geral, porém , o am or carnal se m anifesta logo nos
':~~E loquacidad~, o desejo de fazer barulho (Parent D uchatelet).
N ão falo de m uitas outras paixões, que, segundo hábitos
ladrões. D ura exageradam ente m ais do que nos estelionatários, .I-f"~
.. e inteligência dos delinqüentes podem variar indefinidam ente
envenenadores e em alguns assassinos. E m m uitos estupradores a da m ais infam e, com o a pederastia, até a m ais nobre: da m ú-
veia erótica m uitas vezes passa de um estado de sem i-im potência sica, da coleção de livros, quadros, m edalhas, flores, paixões
a acessos violentos e poúéo duradores e m ais periódicos. especiais. A s m ais singulares paixões podem ser encontradas

122 123
vi."....
n e le s, c o m o ta m b é m n a s p e sso a s n o rm a is. C o n tu d o , o que O u tro c a so : B ru n o G a lli, a ta c a d o d e lo u c u ra c o m p a re -
d istin g u e a s p a ix õ e s d e le s é a fo rm a in stá v e l, se m p re im p e - sia , c o n fe sso u n a su a v id a p u b lic a d a n o m e u Diário do Hospício
tu o sa e v io le n ta , p a ra sa tisfa z e r à p rim e ira q u e v ie r, m e n o s de Pesara: " A s g ra n d e s d e sv e n tu ra s e n d u re c e m o c o ra ç ã o . E u
to d o p e ilsa m e n to d o fu tu ro . P a re n t, a o sa b e r d a g ra v id e z d a q u e c h o re i a o v e r u m a g o ta d e sa n g u e , a g o ra fic o im p a ssív e l
irm ã , d isse : " Q u a n d o v ie r o m e n in o , e u o m a ta re i; é um a à v ista d o m a is a tro z e sp e tá c u lo " . U m o u tro , L .M ., e sc re v e u :
c o isa c h a ta le v á -lo a o b a n h o , m a s te n h o m in h a s id é ia s fix a s" . " O u ç o fa la r d e fe lic id a d e d o m é stic a , d e a fe to re c íp ro c o e n tre
E le s n ã o v ê e m a s c o n se q ü ê n c ia s d o d e lito , v ê e m só o p e sso a s, m a s e u n ã o p o sso p ro v a r c o isa a lg u m a d isso " .
p re se n te , o ú n ic o p ra z e r d e d e sa fo g a r su a re v o lta d a p a ix ã o . D e sse C o n tu d o , o s a lie n a d o s ra ra m e n te tê m p a ix ã o p e lo jo g o
la d o , o h o m e m n ã o h a b itu a d o a o c rim e e q u e o c o m e te p o r u m a e p e la o rg ia , fre q ü e n te m e n te o s m a lfe ito re s a d q u ire m ó d io
fo rte p a ix ã o , a v iz in h a -se a o d e lin q ü e n te c o m u m . L e m a ire d isse p e la s p e sso a s q u e rid a s, c o m o m u lh e r e filh o s. E n q u a n to o
a o ju iz q u e sa b ia b e m q u e c a iria n a s m ã o s d e le , m a s n o e n ta n to d e lin q ü e n te n ã o p o d e v iv e r se m c o m p a n h ia e a p ro c u ra , m e s-
. tin h a d e sfru ta d o d a v id a , e q u e n ã o te ria a c e ita d o a v id a m o c o m risc o , o s d e m e n te s p re fe re m se m p re a so lid ã o e fo g e m
acom panhada d e p o ssib ilid a d e d e d e sfru ta r. E le tin h a a p e n a s d o c o n v ív io c o m o s o u tro s. A s su b le v a ç õ e s sã o m u ito ra ra s
n e c e ssid a d e d e d in h e iro , te n ta v a u m g o lp e a in d a o m a is d u v id o so . n o s m a n ic ô m io s ta n to q u a n to sã o fre q ü e n te s n a s p risõ e s.
D u ra n te a p rim e ira n o ite d e p risã o , o a ssa ssin o L a c e -
n a ire se o c u p a v a , n ã o d o p ró p rio fa ta l d e stin o , m a s d a c a m isa
1 0 . C o m p a ra ç ã o com o s se lv a g e n s
i'.•..
d e fo rç a q u e lh e c o m p rim ia o s rin s, d a c o rre n te p e sa d a ; e sta s
. e ra m a s d o re s q u e . lh e . a rra n c a v a m p ro te sto s c o n tra a h u m a n i- M u ito m a is q u e a o s d e m e n te s, o d e lin q ü e n te , e m re la -
d a d e . L a T ro ssa re llo fa la , e m u m a c a rta a o c o m issá rio T o rti, ç ã o à se n sib ilid a d e e à s p a ix õ e s, a v iz in h a m -se a o s se lv a g e n s.
d e u m a d e c isã o d e a n d a r re sig n a d o d e e n c o n tro à m o rte o u T am bém a se n sib ilid a d e m o ra l é a b ra n d a d a o u a n u la d a nos
a o e rg á stu lo , e d e p o is su b ita m e n te n e m o d e se jo d e u m x a le se lv a g e n s. O s C é sa re s d a ra ç a a m a re la se c h a m a m T a m e r-
p a ra fa z e r o tra je to n o in v e rn o ! lõ e s; o s m o n u m e n to s d e le s sã o p irâ m id e s de cabeças hum a-
n a s se c a s. D ia n te d o s su p líc io s c h in e se s, D io n ísio e N e ro
fic a ria m p á lid o s.
9 . C o m p a ra ç ã o com o s d e m e n te s
" T o d a v ia , o n d e to d o s m a is se e x c e d e m é n a im p e tu o si-
P o r m u ita s d e ssa s c a ra c te rístic a s, a p ro x im a m -se o s d e lin - d a d e e in sta b ilid a d e d a s p a ix õ e s. O s se lv a g e n s, d isse L u b b o c k ,
q ü e n te s d o s a lie n a d o s, c o m o s q u a is rê m e m c o m u m a v io lê n c ia tê m p a ix õ e s rá p id a s, m a s v io le n ta s. T ê m a c a ra c te rístic a das
e a in sta b ilid a d e d e a lg u m a s p a ix õ e s, a fre q ü e n te in se n sib ilid a d e c ria n ç a s, c o m a s p a ix õ e s e a fo rç a d o s h o m e n s. O s se lv a g e n s,
d o lo rífic a e m a is a fe tiv a , o se n so e x a g e ra d o d o " e u " e a lg u m a s d isse S c h a ffh a u se n , e m m u ito s a sp e c to s sã o c o m o a s c ria n ç a s;
v e z e s a p a ix ã o d o á lc o o l e a n e c e ssid a d e d e re c o rd a r o c rim e se n te m v iv a m e n te e p e n sa m pouco; am am o jo g o , a d a n ç a ,
c o m e tid o . A lto n , e p ilé p tic o , a tra i u m a m e n in a e a fa z e m p e d a - o s o rn a m e n to s; sã o c u rio so s e tím id o s. N ã o tê m m u ita c o n s-
ç o s; v o lta d e p o is p a ra la v a r a s m ã o s e e sc re v e n o se u d iá rio : c iê n c ia d o p e rig o . N o fu n d o , sã o v e lh a c o s, v in g a tiv o s e c ru é is
" H o je , m o rta u m a m e n Ílla , o te m p o e ra b e lo e c a lm o " . n a v in g a n ç a . U m c a c ic o , v o lta n d o d e u m a e x p e d iç ã o m a lo -

124 125
-f'
." " ",','o

grada, esrava com seu filho nas pernas. Para afogar a raiva,
pega-o pela perna e o arrem essa contra a rocha.
Tam bém nesses é fortíssim a a paixão pelo jogo, sem
que seja viva a avidez. Tácito conta que os bárbaros germ anos,
depois de haver jogado nos dados todos os seus haveres, che-
gavam a vender até a si próprios. O vencedor, ainda que
_, fosse m ais jovem e m ais forte do que o adversário, deixava- I ,.'
,;':

se levar e vender aos estrangeiros. H á, entre os chineses,


m uitos que em penham no jogo até a últim a roupa de inverno,
a ponto de m orrer m ais tarde de frio. Q uando não houver
m ais roupa, em penham os próprios m em bros. 11. A R ELIG IÃ O DO D ELIN Q Ü EN TE

Encontram -se nos selvagens a velhacaria m isturada


com a coragem e a insensibilidade. N as Ilhas A ndam ane os "~

;c- esposos ficam unidos até que venha o filho; depois podem A credita-se há m uito tem po que os delinqüentes sejam
''':r

procurar outros am ores. O alcoolism o, apenas introduzido,


i todos irreligiosos, pois que a religião parece ser o freio m ais
C t
~t chega a dizim ar raças inteiras, até m esm o nos clim as m eridio-
"'~•.. potente dos delitos. O fato é, porém , que m uitos dos chefes
t"-."
nais que não sofrem tanto essa influência. Por um a aguar- de quadrilha ou os m ais despudorados delinqüentes, com o

t;
,lI''''-
dente, um negro selvagem vende não só os com patriotas,
m as até a m ulher e os filhos.
Lacenaire, Lem aire, M andrin, G asparone ou delinqüentes
das grandes cidades, encontram um m odo de liberar-se desse
.~"~
.•. últim o freio ao im pulso das grandes paixões. A m aior parte
O s indígenas da A ustrália foram m ais destruídos pelo
deles porém , m orm ente os do interior do país, é constituída
crim e do que pelas arm as européias. O s m auris, de 120.000
de ateus, em bora tenha sido form ada em favor deles um a
em 1849 eram , em 1876,47.060; o álcool foi a ruína deles e
religião sensual e acom odatícia que faria do D eus da Paz e
explica a índole perniciosa aparente das doenças deles. E
da Justiça, um benévolo tutor dos crim es.
aqueles povos em que a selvageria e a religião têm im pedido
de conhecer as substâncias inebriantes que substituíram o C asanova observa que todos aqueles que vivem de
~"". atividades ilícitas confiam na ajuda de D eus. Todo ladrão
álcool por outros m eios singulares de em briaguez.
'1 tem sua devoção, diz o provérbio. E nós, em 20480 tatuagens
" A preguiça é ainda um dos caracteres dos selvagens.
O s neocaledônios odeiam qualquer trabalho: "Sofrer por
...
i;.
nos delinqüentes encontram os 238 com sím bolos religiosos.
t
N a gíria, D eus é o "Prim eiro de M aio", a alm a a "perpétua".
sofrer é m elhor m orrer sem trabalhar". A ssim eles dizem ,
O que m ostra a crença deles em D eus e na im ortalidade da
repetindo quase literalm ente a confissão de Lem aire. -i'.,

." :~
~ T ,;;~
.'''':'t''''"
alm a é que até na gíria espanhola a Igreja é a "Saúde".
O s assassinos alem ães acreditando-se seguros de toda
-~ suspeição costum am defecar no local em que com etem o
,1':~,
;;~
'~~
126 127
crim e. O s ciganos, após o hom icídio, acreditam obter o perdão
ao cárcere de Pisa, recusaram obstinadam ente de com er na
divino vestindo por um ano a m esm a cam isa usada na hora
sexta-feira de quaresm a.
do delito. E m um a curiosa canção, em gíria, divulgada por
B iondelli, um ladrão responde a quem lhe objeta com o o A m aior parte dos ladrões de L ondres, disse M ayhew ,
furto ofende os princípios religiosos, que um santo ladrão, confessa acreditar na B íblia. N ão é m uito; os ladrões e os
São D im as, crucificado junto com Jesus C risto, foi para o cam orristas napolitanos faziam m agníficos dons a São Pascoal,
céu, a convite de Jesus. T ortora, que tinha m atado doze solda- do que se enriquecia o belo convento. H á poucos anos atrás,
dos com as próprias m ãos e tam bém um padre (m as dizia que o arcebispo publicava, com o nos revelou o patriota V incenzo
tinham sido excom ungados), achava-se invulnerável, porque M aggiorani, nas portas da catedral, a "com ponenda", isto é,
levava um a hóstia no peito. a lista dos preços de indenização à Igreja, para purgar qualquer
crim e com etido.
O s fam igerados incendiários da França tinham adotado
um a série de ritos religiosos para o nascim ento e o casam ento O s assassinos B ertoldi, pai e filho, costum avam assistir
dos m em bros do bando. T inham , um pouco por paródia, um à m issa, prostrados de joelhos, com o olhar para baixo. U m
pouco de sério, seu tipo de capelão, que presidia às núpcias, napolitano de24 anos,.que m atou seu pai a golpes de porre te ,
balbuciando algum as orações em latim . A cerim ônia nupcial era devoto de um a certa "Senhora da Serra": "E certo foi
consistia, além dessas orações, no dever im posto aos dois que ela m anteve m inha m ão, pois ao prim eiro golpe, m eu
esposos de saltar sobre dois bastões cruzados, suspensos pelo I pai caiu por terra". Q uando
despedaçou
M aria Forlini, que estrangulou
um a m enina para se vingar dos pais dela ou pro-
e
chefe do bando;
esposar-se.
este os interrogava se am bos pretendiam
I nunciar a pena capital, virou a seu advogado: "A m orte não
é coisa algum a; quero salvar m inha alm a. Salva m inha alm a,
O curioso era que o divórcio era severam ente proibido
1
e só passou a ser perm itido após ser legalm ente adotado pelas iI o resto não m e im porta".

leis revolucionárias francesas. E m 1670 as envenenadoras pari- ,-


I
B oggia, estripador, condenado em M ilão, com o culpado
sienses de alta classe benziam a m issa diabólica com pó de ! de 33 assassinatos, assistia diariam ente à m issa, segurava o
incenso para obter a m orte do m arido ou a fidelidade do am an- pálio toda vez que saía fora o Santíssim o Sacram ento; estava
te. U m "padre" rezava a m issa sobre o ventre de um a prosti- presente a todas as cerim ônias religiosas, pregava continua-
tuta grávida e degolava o feto, cujo sangue e cujas cinzas ser- m ente a m oral e a religião cristã e não havia confraria religiosa
viam de filtros. Só V oisin m atou 2.500 dessas pequenas vítim as. à qual não pertencesse.

O bando M anzi era carregado de am uletos. O bando 1, Y idocq encontrou um a dupla de ladrões que m andou
C aruso colocava no bosque e nas grutas im agens sacras, dian- rezar um a m issa por m elhores dias, pois há m eses não conse-
te das quais acendia velas. V erzeni, estrangulador de três m u- ..;--~ guia sucesso. G iovanni M io e Fontana, antes de m atar o ini-
lheres, era dos m ais assíduos e sinceros freqüentadores da ;1; m igo deles iam confessar-se. M io, disse após o hom icídio:
,l~"
~•••.'t "D eus não quis incom odar-se, nem o padre; porque vou m e
igreja e do confessionário; ele veio de um a fam ília não só , .. 0",

religiosa, m as beata. O s com panheiros de L a G ala, levados .'i~ incom odar?" M arc, um jovem parricida napolitano, carregado
". de am uletos, confessou a m im e a m eus alunos que para exe-

128
129
.~.:,1
,,.Ci'>
"!I' H ',
4: ,'.1;',
'#< :::;"',
curar o horrível crim e, invocou a ajuda da "Senhora da Serra". +.....-.:;,.
V igna B i, antes de m atar o m arido ajoelhou-se para orar à .~'L~:'~ tada, que lhe desse a com unhão com a hóstia consagrada .
. 'I.~ ._ .~ U m ladrão, form ado na Escola La Salle, escondia seus furtos
V irgem M aria, para que lhe desse força para executar o crim e.
;.[:t;,.. atrás do quadro de La Salle, o fundador da escola que ele
M ichielin, recebendo o plano de um assassinato, disse ao .....•..
fora educado. Ele acreditava ser m ais seguro seu furto sob o
~ com parsa: "V erei e farei aquilo que D eus te inspirou". G all
patrocínio desse m eio-santo.
conta sobre um ladrão que roubou para erguer um a capela e >, ...;.
~ M uitas das prostitutas, disse Parente, assum em a posi-
roubou m ais para m obiliá-la. C onta ainda de um bando de
:~;~.:
<-.",~ ção de irreligiosas com outras de sua espécie e colegas de
assassinos que acreditava rem ir seus assassinatos recitando ....:
o padre-nosso para cada vítim a, bem com o de um certo Eltis, orgias, m as no fundo não são assim , conform e atestam nu-
que, após m atar sua m ulher, acreditava-se isento de todo m erosas observações. U m a delas estava no fim da vida, e o
pecado m andando rezar um a m issa. ~I,
•••.
~ sacerdote, recusando-se a entrar na casa infam e, fez com
itI'-

Lacollange, enquanto estrangulava sua pobre am ásia,


, .~~. que as dem ais se cotizassem para que a m oribunda pudesse
',';- ser transportada e m antida fora do prostíbulo. D epois, para
dava absolvição em "articolo m ortis", e com a venda dos ~~,
;~.. ~ m andar rezar inúm eras m issas para um a com panheira fale-
1,.
("r
objetos roubados pagou para rezar um a m issa por ela. Tam bém ~~. cida, despenderam sugestiva som a.
""': :~[.J:
~ ".
-$ ~ D on V icente de A ragão assassinou um estudante, não esque-
7:~' .1,',';'
,,-, cendo de prim eiro dar a absolvição. Q uem m ais religiosa, ou ,.,.,.~, U m a outra, tendo um filho doente, acendia velas benzi-
~ diria, beata, do que a M arquesa de B rinvilliers, que a sangue 'n.,.;-: das para pedir sua cura. U m a m eretriz napolitana, em louvor
~l.
>-
frio, e m uito tem po antes de ser presa, catalogava por escrito, a Santa B rígida, abstinha-se de sua atividade às terças-feiras.
~'
~¥="! nas confissões secretas de seus pecados, junto ao parricídio, Segundo a últim a estatística judiciária, as paixões reli-
~'¥-
aos incêndios, aos envenenam entos. giosas foram , entre nós, razões de delito em 40 casos e a
E de M endaro, uxoricida, que cam inhou à m orte superstição em 226. E não falo dos m uitos casos (exem plos
de B oggia, D esrues, M icaud) em que a religião era provavel-
~ cantando do "D e Profundis", e de M artinati, que deixou pas-
m ado até o capelão carcerário pela sua exagerada devoção? ., m ente um engodo para enganar o público e desviar os suspei-
D e M o, assassino, que era cham ado e dito por todos "O San- tos da Justiça. Todavia, quem desse tem po quisesse deduzir
to"? B ourse, apenas praticado um furto ou um hom icídio, que a religião tenha fornecido um incentivo aos delitos faria
andava de joelhos na igreja? A jovem G alla, ao jogar a m echa ,1', .
im aginação tão am pla e exagerada quanto absurda e ridícula.
incendiária sobre a casa do am ante foi ouvida ao gritar: "Q ue Seria 1 dar m uito valor aos delinqüentes, cujas paixões
D eus e a B eata V irgem façam o resto"? -...,.. sensuais m uito breve caem por terra, fazê-las originar das
:.~ •. aspirações delicadas e sublim es da religião ou das profundas
A m ulher de Parency, enquanto o m arido m atava um
velho para roubá-lo, orava a D eus para que tudo fosse bem . m editações dos filósofos. Eu com pararia a religião dos delin-
à:\,

M asini, com os seus, encontrou três conterrâneos, entre eles '\:.:, .••
,".-~\
qüentes a um freio frágil e relaxado, que não im pediria um
~,
um sacerdote; de um cortou o pescoç.o com um facão m al cavalo caprichoso enfurecido e rebelado de ir à sua baia, des-
afiado, e ao sacerdote/ordena com a m ão ainda ensangüen- prendendo-se de tudo que o fizesse m anter-se na linha, que
: ..~,t"
I,
~ não o guiasse, portanto, para o bem ou para o m al, se não
~~'

130 ,~.
-. ,:1Pir<to<
._ ...•.~;: 131
..f:=;,~"
.~.rp~"
""':.;
O ',,
'"o
~ '-li"'"'
talvez para iludir quem passa por perto. Q uanto ao ateísm o ,
~ 'io

dos crim inosos, só posso atribuir às togas doutorais e aos


grossos livros, com que os enganadores escondem e enfeitam
a própria ignorância.

..I'l'

12. IN T E L IG Ê N C IA E
., ~.
IN ST R U Ç Ã O D O S D E L IN Q Ü E N T E S

1. D ados estatísticos - 2. P rem iça - 3. Inconstância m ental


., .
- 5. E specialistas do delito
. 4. Im previdência
6. E nvenenadores - 7. P edem sras - 8. E stupm dores
I
9. L adrões - 10. E stelionatários - I L. A ssassinos
I
I2. O ciosos e vagabundos - 13. D elinqüentes geniais
14. D elinqüentes científicos - 15. C om paração
com a inteligência dos dem entes

1. D ados estatísticos

E m bora a lesão m ais im portante dos delinqüentes esteja


no sentim ento, e pela correlação que passa entre todas as
funções com o entre todas as partes do sistem a nervoso (e
..;
vim os com o é frágil tam bém a m obilidade), tam bém a inte-
ligência apresenta neles anom alias sugestivas.
S e se pudesse extrair um a m édia da potência intelectual
dos delinqüentes com a segurança com que se obtém da m e-

;..,;'
'-:l.i'it.
j'Tk- dida do crânio, creio que se chegaria a igual resultado, ou
t.'.'.:~
;-l~ ; seja, encontrar-se-ia um a m édia inferior ao norm al.
!:. li

132 ,,~ 133


;i "$')fÇ~
i:.J&:
T
O s e s p a n h ó is , p e la p rim e ira v e z n a E u ro p a , te n ta ra m 2. P re g u iç a
e s ta b e le c e r e s ta m e d id a : no exam e d e 2 3 .6 0 0 d e l i n q ü e n t e s
M a is s e s e n te n o ta r a fra q u e z a d e e n e rg ia d a m e n te
re v e la ra m -s e o s s e g u in te s dados:
p a ra u m tra b a lh o c o n tín u o e a s s íd u o , e n ã o s e v ê o u tro id e a l,
a n ã o s e r a a u s ê n c ia d e q u a lq u e r tra b a lh o . O s la d rõ e s fra n -
• 6 7 ,5 4 % - c o m in te lig ê n c ia sã;
ceses se cham am e n tre e le s " p e g re s " (p re g u iç o s o s ). O o c io s o
• 1 0 ,1 7 % - c o m i n t e l i g ê n c i a pouco sã; é a n te s d e tu d o , le g a lm e n te , u m a v a rie d a d e d e c rim in o s o s e
• 1 8 ,8 0 % - c o m i n t e l i g ê n c i a m á; ta lv e z a q u e le q u e m a is c o m u m e n te p o v o a a s p ris õ e s .

• 0 ,7 5 % - c o m in te lig ê n c ia p é s s im a ; O s c ig a n o s , e m b o ra in d u s trio s o s , sã o se m p re p o b re s,

• 2 ,7 1 % - c o m i n t e l i g ê n c i a n ã o id e n tific a d a . p o rq u e n ã o g o s ta m d e tra b a lh a r, s e n ã o o q u a n to b a s ta p a ra
n ã o m o rre r d e fo m e . O s la d rõ e s , e s c re v e Y id o c q , n ã o q u e re m
a to s o u q u a lq u e r tra b a lh o q u e e x ija m e n e rg ia e a s s id u id a d e .
Ig n o ra -se p o ré m q u a is c rité rio s fo ra m a d o ta d o s p a ra
N ão podem e não sabem fa z e r o u tra c o is a a n ã o s e r ro u b a r.
se chegar a e s s a d e lic a d a c la s s ific a ç ã o .
L e m a ire d iz ia a o ju iz : " e u fu i s e m p re o c io s o ; é v e rg o -
F e r r u s , e m 3 .6 3 2 e n c a r c e r a d o s c h e g o u a e s s e s r e s u l t a d o s :
n h o s o , e u e n te n d o , m a s e u s o u m o le n o tra b a lh o . P a ra tra b a -
lh a r é p re c is o e sfo rç o : n ã o p o sso e n e m q u e ro fa z ê -lo . N ã o
• 1 .6 0 7 - c o m b o m t a l e n t o ; s in to e n e rg ia a n ã o se r p a ra fa z e r o m a l. E u n ã o n a s c i p a ra

• 1 .2 4 9 - c o m c a p a c i d a d e in te le c tu a l m é d ia ; tra b a lh a r; p re firo s e r c o n d e n a d o à m o rte " (D e s p in e s ) .

• 3 7 - c o m c a p a c id a d e s u p e rio r; A causa p rim á ria d o s d e lito s d e L a c e n a ire fo i c e rta -


m e n te a p re g u iç a . L e v a v a -a m a is a lé m , d iz ia o s e u p ro fe s s o r
• 3 4 5 - c o m c a p a c id a d e p o u c o d e s e n v o lv id a ;
d e in fâ n c ia , de não q u e re r le v a n ta r à n o ite p a ra s a tis fa z e r
• 3 3 9 - c o m c a p a c id a d e lim ita d a ;
a s p ró p ria s n e c e s s id a d e s . D o rm ia b e m n o m e io d a im u n d íc ie ,
• 3 5 - re a lm e n te im b e c is . lo n g a m e n te , e s ó a p ó s s u c e s s iv a s cham adas d e c id ia s a ir d o
le ito . N em a s p u n iç õ e s in frin g id a s a e le , n e m o d e sp re z o

N ic h o ls o n c a lc u la 6 5 5 p o r 1 .0 0 0 o s d é b e i s d e m e n t e que lh e d e m o n s tra v a m o s c o m p a n h e iro s , b a s ta v a m p a ra

e n tre o s l a d r õ e s ; 1 6 5 p o r 1 .0 0 0 e n t r e o s h o m i c i d a s ; 1 2 5 e n tre c o rrig i-lo . T odas as ocupações ou tra b a lh o e ra m p a ra e le

o s in c e n d iá rio s , e 4 5 p o r 1 .0 0 0 e n t r e o s e s tu p ra d o re s . u m s u p líc io . J a c q u a rd m a to u o p a i p o rq u e o re p re e n d ia p e la
s u a v a d ia g e m .
N ão é sem ra z ã o que quase to d o s , com o p re te n d e
T o m p s o n , s e ja m d e e s c a s s o in te le c to , o u d e m e n te s , o u im b e c is É ta lv e z p o r is s o q u e q u a s e to d o s o s g ra n d e s m a la n -

(e le s q u e s e to rn a m d e m e n te s em 2 % e im b e c is e m 1 2 % ), d ro s , ta m b é m o s d e ta le n to , re s u lta m d e p ro c e s s o s d e te re m

m as em to d o s , ta m b é m n o s c rim in o s o s g e n ia is , h á u m la d o tid o m á p a rtic ip a ç ã o n a e s c o la , com o Y e rz e n i, A g n o le tti

n o q u a l a in te lig ê n c ia é d e fe itu o s a . e o u tro s . A a v e rsã o a o tra b a lh o é u m a d a s c a ra c te rís tic a s


ta m b é m d a s p ro s titu ta s ; nove em dez nada fa z e m d u ra n te

I 135
L
134
"1'' '-

o d ia . S o b re 4 1 .9 5 3 condenados p e lo s trib u n a is ita lia n o s ,


I
e q u e s e d e ix a m m a n ip u la r e in d a g a r c o m o s e fo s s e m c ria n ç a s .
2 .4 2 7 e ra m m e n d ig o s . N a F ra n ç a , e m 7 6 .6 1 3 d e n u n c ia d o s ,
1 1 .3 6 7 e ra m o c io s o s .
I
,
i
" O s la d rõ e s s ã o tã o e s tú p id o s q u e n ã o te n ta m fa z e r-s e e s p e rto s
c o m o u tro s . M u ito s , m a lg ra d o e u s o u b e s s e s e r d e la to re s , c o n - •.
ta v a m -m e o s p ro je to s d e le s " . (V id o c q )

3 . In c o n s tâ n c ia m e n ta l E s s a s c o n fis s õ e s fá c e is d e p e n d e m , e m g ra n d e p a rte ,

O u tro e fe ito d a in te lig ê n c ia d o s c rim in o s o s é a s in g u la r I ta m b é m d o h á b ito


a m ig a v e lm e n te
q u e o s d e lin q ü e n te s
e c o n fia r n o p rim e iro
tê m d e a s s o c ia r-s e
q u e e n c o n tra , apesar
in c o n s tâ n c ia e m o b ilid a d e d o e s p írito . N a S u íç a c a lc u la -s e
d e q u e a s im p le s e x p re s s ã o e a g íria p a re c e m to rn a r seu
q u e 4 4 ,0 9 % s ã o o s d e lin q ü e n te s
tâ n c ia m e n ta l. É d ifíc il, e s c re v e u
q u e d e lin q ü ira m p o r in c o n s -
P a re n t, fa z e r-s e u m a id é ia
I in te rlo c u to r
a m o r à o rg ia e n tre
p ro p e n s o a o c rim e . A e s ta im p re v id ê n c ia ,
c ú m p lic e s , e x p lic a m p o rq u e
e ao
re to rn a m ,
d a in c o n s tâ n c ia d a s p ro s titu ta s ; n ã o s e p o d e id e n tific a r a a te n -
m e s m o d e p o is d e a fa s ta r-s e , a o lu g a r a o q u a l e ra m a v e s s o s
ç ã o d e la s ; n ã o s e p o d e c o n s e g u ir q u e fa ç a m u m ra c io c ín io
d e c o n v iv e r, s e ja p o rq u e s e ja m e s c ra v o s d a p a ix ã o m o m e n -
lo n g o . Is to e x p lic a a im p re v id ê n c ia e a p o u c a p re o c u p a ç ã o
tâ n e a , s e ja p o rq u e não podem s u b tra ir-s e d e s a tis fa z e r a
d e la s p a ra c o m o fu tu ro .
O m e s m o e fe ito a c o n te c e c o m o s d e lin q ü e n te s , que
I u m d e s e jo
p o s s ib ilid a d e
fa v o rá v e l.
de um a
A in d a m a is , p o rq u e
d e s g ra ç a , quando
e le s p re v ê e m
n ã o já p a te n te , e,
a

são de um a
N ic h o ls o n
m o b ilid a d e e de um a
fa la d e u m p ris io n e iro ,
c re d u lid a d e s in g u la r.
a o q u a l o c o m p a n h e iro
I
I •
ao m enos
p a re c e
não a v a lia m
a te n u a d a , d ilu íd a .
a g ra v id a d e d e la , q u e s e m p re lh e

tin h a dado a e n te n d e r que to d a s as vezes que o m é d ic o i


I Um e fe ito d a im p re v id ê n c ia d e le s e d a fa lta d e to d a
passava p e lo c o rre d o r, e ra o b rig a tó rio c o lo c a r o s p é s fo ra
d a c e la p a ra a in s p e ç ã o . L e m b ro -m e d e u m p a ra q u e m o I c o n s c iê n c ia d o m a l é a te n d ê n c ia
m e n to s , a p e g a n d o -s e a o s p o rm e n o re s
d e d e fe n d e r-s e c o m a rg u -
s o b re o m o d o c o m q u e
m o v im e n to p a ra m e d ir-lh e o c râ n io p a re c ia d e ta l fo rm a I p ra tic a ra m o c rim e q u e e n fim o c o n firm a m , e só conseguem
p e rig o s o
m e -ia
e d ia b ó lic o ,
m a ta d o .
q u e , s e n ã o fo s s e m o s g u a rd a s , te r-
1- d e s v ia r u m p o u c o a a te n ç ã o d o p o n to p rin c ip a l. A s s im fe z
c o m ig o C a v a g lia , fa la n d o d o a s s a s s in a to d e s e u c h e fe e c ú m -
p lic e . A s s im ta m b é m a c o n te c e u c o m M a n a ra , q u e s u s te n ta v a
4 . Im p re v id ê n c ia n ã o h a v e r d a d o 1 4 g o lp e s e m s u a v ítim a , m a s 1 3 .

O s m a io re s d e lin q ü e n te s , s e ta m b é m u s a m d e g ra n d e
E s ta in c o n s tâ n c ia m e n ta l e x p lic a p o r q u e o s la d rõ e s
h a b ilid a d e p a ra p re p a ra r o s d e lito s , n ã o s a b e m m a is d o q u e
fa la m , e a té c o m a p o líc ia , s o b re s e u s d e lito s e c o m o d iz o
g u a rd á -la p a ra m a is ta rd e e te rm in a m , e m b ria g a d o s p e la im -
p ro v é rb io com um n o s m e io s c a rc e rá rio s :
p u n id a d e , p o r p e rd e r to d a p ru d ê n c ia e tra ir-s e . T e m o s ta m -
b é m n o F a lla c i u m a p ro v a s e g u ra .
" O p ró p rio ré u , s e m q u a lq u e r in s is tê n c ia , .~

~ - ; ,~ -
S ã o , e m s u m a , p o u c o ló g ic a s e im p ru d e n te s ; e não só
in a d v e rtid a m e n te s e m a n ife s ta " (A rio s to ) . -o i " '_
m u ita s v e z e s h á d e s p ro p o rç ã o e n tre o d e lito e a c a u s a , m a s
- h á , q u a s e s e m p re , u m e rro n a e x e c u ç ã o , e rro d e q u e , c o m

136 137
-l-
p o u c a s in c e r id a d e , o s a d v o g a d o s a p r o v e ita m - s e p a ra d e m o n s- s a f a d o s d o q u e h á b e is e s e a s c o m b in a ç õ e s d e le s s ã o e n g e -
tr a r a in o c ê n c ia d e s e u s c lie n te s . P o r m a is q u e o d e lin q ü e n te I nhosas, f a lta m - lh e s a c o e r ê n c ia e a te n a c id a d e .
s e ja h á b il, h á n a e x e c u ç ã o d o c r im e , a im p r e v id ê n c ia , que é
I
I A penas a tin g e m o o b je tiv o im e d ia to , q u e é f r e q ü e n te -
p a r te d e s e u c a r á te r . A v io lê n c ia e a p a ix ã o p r e p o te n te põem m e n te o d a s a tis f a ç ã o d e u m a n e c e s s id a d e m a te r ia l m om en-
um véu a o c r ité r io . A té o p ra z e r d e e x e c u ta r o d e lito , de tâ n e a , a c a b ru n h a m -se , a té q u e n o v o s a p e tite s o s la n c e m a
\
a p r o v e ita r a e x e c u ç ã o d e le , d e c o m u n ic a r a o s o u tr o s a n o tíc ia , I novos e m p r e e n d im e n to s . P o r é m , n ã o é a s s im q u e s e f a z e m
s ã o c a u s a d e ta is e r r o s n a e x e c u ç ã o . f o r tu n a s . "
L a fa rg e , u m a e n v e n e n a d o ra , m andou a o m a r id o um a M u ita s v e z e s p a re c e e x tr a o r d in á r ia a h a b ilid a d e de
m a c a rro n a d a envenenada, m a s ju n to u um a c a r ta p e d in d o a lg u n s d e lin q ü e n te s . C o n tu d o , s e o lh a r m o s b e m , c e s s a to d a
a o m a r id o p a r a e x p e r im e n tá - la . N ão pensou q u e o m a r id o m a r a v ilh a . E le s s e d ã o b e m p o r q u e r e p e te m f r e q ü e n te m e n te
f o s s e in te r p r e ta r q u e fo sse só p a ra e x p e r im e n ta r . A lé m do os m esm os a to s . T am bém o s id io ta s , em um m o v im e n to
m a is , a c a r ta d e n u n c io u a a u to r a d o a tr o z d e lito . c o n tin u a m e n te r e p e tid o , podem p a r e c e r h a b ilís s im o s . E n tr e
R ognoni m a to u o ir m ã o e p ro c u ro u u m á lib i, m a s s e o s la d r õ e s , h á a q u e le s q u e s ó a ta c a m a s lo ja s e o u tr o s s ó a s
esqueceu d e la v a r a s m a r c a s de sangue n a p r ó p r ia ro u p a , c a s a s . A lé m d is s o , e n tr e e le s m e s m o s h á a s s u b d iv is õ e s do
1 c d e ix o u , d u r a n te a execução d o d e lito , a c e so o fo g o , q u e in f a m e tr a b a lh o . A s s im , Y id o c q f a la d o s la d r õ e s d e c a s a s q u e
l:' p o d e r ia c o n d u z ir o s p o lic ia is e o s v iz in h o s p a ra o lo c a l e e n tr a m num a a v e n tu r a , o u s e ja , te n ta m m u d a r d e e s p e c ia li-
...,~
.;: d e s c o b r ir o s tr a ç o s d o c r im e . E sse e rro é s e m e lh a n te ao d a d e . F a la a in d a d e o u tr o s q u e p r e p a r a m p o r lo n g o te m p o o
~~
.
de R o s s ig n o l, que g u a rd o u no seu baú duas b e n g a la s de d e lito , p e g a n d o u m a p a r ta m e n to v iz in h o .
••
M
s u a v ítim a .
E s c r e v e L o c a te lli q u e o s m a lf e ito r e s q u a s e s e m p r e tê m
F u s il f u g iu a te m p o d e p o is d e c o n s u m a d o o c r im e d e um m é to d o p r ó p r io e r e a lm e n te e s p e c ia l d e c o m e te r suas
ro u b o , tr o c a n d o de nom e e m s e g u id a , m a s d e p o s ito u o d i- v e lh a c a r ia s . N ã o to d o s , p o r e x e m p lo : o s a s s a lta n te s , ao espo-
n h e ir o ro u b a d o n a C a ix a E c o n ô m ic a e m s e u p s e u d ô n im o e lia r s u a s v ítim a s usam p a la v r a s a m e a ç a d o ra s que a c re n ç a
n ã o p ô d e d e p o is r e tir a r p o r te r d e p o s ita d o em nom e de pessoa p o p u la r s e m p r e p õ e n a b o c a d e le s . T a m b é m la d r õ e s h a b ilís -
in e x is te n te . O a s s u n to te v e q u e s e r c o m u n ic a d o à p o líc ia , s im o s e m a r r o m b a m e n to s , la d r õ e s q u e a o m a is le v e r u m o r
q u e id e n tif ic o u o a u to r d o r o u b o . m a n tê m - s e e m f u g a , e la d r õ e s q u e s e r ia m c a p a z e s d e in tr o -
d u z ir - s e e m u m a s a la d e c o n v e r s a ç ã o p le n a d e g e n te ; la d r õ e s
q u e tê m ta 'n ta le v e z a d e m ã o a ta l p o n to d e s e r e m c a p a z e s d e
5 . E s p e c ia lis ta s d o d e lito
ro u b a r a c a m is a d o c o r p o d e u m h o m e m s e m q u e e s te s e d ê
C o m e n ta - s e q u e s e o s m a lf e ito r e s c é le b r e s tiv e s s e m c o n ta d is s o , e d e p o is , e n tr e ta n to , n ã o te r a a u d á c ia d e tr a n s -
I
I')
a p lic a d o n o tr a b a lh o h o n e s to a m e s m a in te lig ê n c ia e p e rse - p o r a s o le ir a d e u m a c a s a o u d e u m a lo ja d e ix a d a s e m v ig ilâ n -
v e ra n ç a q u e a p lic a r a m n o d e lito , te r ia m c h e g a d o a a lta s p o s i- ..:~ : c ia . H á a in d a la d r õ e s que ro u b a m tu d o que chegar à sua
ções, m as não é o q u e a c o n te c e . E le s tê m g ra n d e ta le n to , .~'. m ã o , e la d r õ e s q u e n ã o s e d ig n a m a in c o m o d a r - s e c o m c o is a s
m a s é p a r a o d e lito ; é RÓ d e lito q u e e le s o a p lic a m . S ã o m a is '~
~ d e p o u c o v a lo r , c o m o ta m b é m la d r õ e s e s p e r tís s im o s n o c o m e -
,~.
~
138

~. IIf' 139
'7j!'"
I
ti m enta de roubo de gado não tendo a audácia de im pedir a I que viajando em país estrangeiro. N ão saberem os com pre-
fuga de um a galinha.
t ender, nem acreditarem os, sem a correspondência
por C asper e Tardieu, com o os am ores infam es possam se
revelada

6. Envenenadores ! m isturar com tanto rom antism o e m isticism o.


O s atentados deles quase nunca se concentram sobre
O s envenenadotes são quase todos das classes m ais um indivíduo só; às vezes, ao contrário, entre m uitos e quase
elevadas, e de cultura acim a da com um , m édicos ou quím icos, contem poraneam ente. M enos estranho é ver com o esses de-
de aspecto sim pático; são sociáveis, persuasivos. Estes até
fascinam as suas vítim as, escolhidas entre os grupos m ais sele-
I! linqüentes, se forem de classes elevadas, am am os trabalhos
e as roupas fem ininas. O s uniform es e a postura ornada de
cionados, ou m ulheres, m orm ente as m ais lascivas. A segu-
rança da im punidade é um a espécie de volúpia no delito;
i bijuterias, com os om bros descobertos e com cabelos encara-
colados, se ligam aos m aus hábitos. Tam bém gestos esquisitos
im pulsiona-os a golpear m ais pessoas e operar quase sem pre I pela arte fazem recolher quadros, flores, estátuas, perfum es,
sem um a razão. É o caso da Lam bi, que além do m arido e dos I. quase extraindo por atavism o, junto com vícios e gostos da
filhos, envenenou um a am iga e até um a vizinha, com a qual
não tinha qualquer relação de interesse.
I antiga G récia. São m uitas vezes honestos ao m enos, e côns-
cios de serem culpados até ante si m esm os, lutam longam ente
É o caso tam bém de Zw anziger, que envenenou além com infam es inclinações, lam entam -nas, deploram -nas e as
de pessoas de seu serviço, a com panheira, que parecia ser escondem . O s de classe inferior am am a vida de baixo nível,
-sua prim eira afeição. Q uase todos tiveram com o m otivação - preferem odores fortes, adotam nom es fem ininos e são o ins-
a cupidez, o am or, porém m ais ainda a luxúria. H ipócritas, trum ento dos furtos m ais vulgares, m ais atrozes assassinatos
calm os, dissim uladores, até o últim o instante da vida protes- e chantagens.
tam pela própria inocência, e levam para o túm ulo o segredo
de sua culpa. Em nosso tem po, é bem rara a associação com
8. Estupradores
outro cúm plice, enquanto há alguns séculos atrás acontecia
o contrário nas altas classes da França e de R om a antiga, M uitos estupradores têm os lábios grossos, cabelos
onde esse delito assum e form a epidêm ica, especialm ente abundantes e negros, olhos brilhantes, voz rouca, alento vivaz,
entre as m ulheres. freqüentem ente sem i-im potentes e sem i-alienados, de genitá-
lia atrofiada ou hipertrofiada, crânio anôm alo, dotados m uitas
vezes de cretinice e de raquitism o.
7. Pederas tas

O s pederastas freqüentem ente de elevada cultura e ta-


1 _ 9. Ladrões
lento (funcionários, m estres), ao contrário dos prim eiros, têm
um a estranha necessidade de associar-se no delito e form ar
I
O s ladrões, que, com o as m eretrizes, são apaixonados
verdadeira congregaçãQ ;'que se reconhece, num olhar, ainda
I' i' por cores berrantes: am arel.o, verm elho, azul, por berlo-
- .
~
140 :~~'----"._~-
. '"¥'
. 141
<~:
,zli;!;-
";';.,
-rrr-

ques, c o rre n te s , e a té p o r b rin c o s , s ã o o s m a is ig n o ra n te s m a is a u d á c ia e fo rç a m u s c u la r d o q u e a in te lig ê n c ia . O que


d a e s p é c ie d e lin q ü e n te . Q uase s e m p re a s s u s ta d o s e te m e - p a re c e g ra n d e h a b ilid a d e é e fe ito d a re p e tiç ã o d e u m a m e s m a
ro s o s d e s e re m p e g o s d e s u rp re s a , a p ro v e ita m to d a o c a s iã o s é rie d e a to s . B o g g ia in d u z s u a v ítim a , d irig e -a à a d e g a o u a o
p a ra m udar o d is c u rs o . F a z e m -s e a m ig o s e c o n fid e n te s ao p o rã o e a m a ta n u m s ó g o lp e . D u m o lla rd p ro m e te à s v ítim a s
p rim e iro q u e e n c o n tra m e c o n v e rs e m n a g íria , c o m o d ig n o u m tra b a lh o , le v a -a s a u m lu g a r e rm o , ro u b a -a s , e s tra n g u la -
; c o le g a . A c re d ita m nos sonhos, n o s p re s s á g io s , nos d ia s a s e a s s e p u lta . S o ld a ti a tra i a s v ítim a s a lo c a l a fa s ta d o , e s tu -
n e fa s to s . N ã o ra ra s v e z e s d e m o n s tra m a m o re s ro m â n tic o s , p ra -a s e q u e im a o s c a d á v e re s . C la u d e a d ic io n a : " u m a s in g u la r
m as p re fe re m s e m p re a s p ro s titu ta s , que s ã o a s n a tu ra is p a rtic u la rid a d e n o s a s s a s s in o s é a d e s e re m , fo ra d a fu n ç ã o '
a lia d a s d e le s . d e le s , a s p e s s o a s m a is a le g re s d o m u n d o , p ro c u ra m a n te s d e
E s c re v e u Y id o c q q u e q u e m c o n v iv e c o m p ro s titu ta s é tu d o a c o m p a n h ia d o s c ô m ic o s " .
,-
I

um la d rã o o u u m e s p iã o . T e n d e m a a s s o c ia r-s e n o c rim e ;
~
.'
v iv e m bem n o m e io d o s ru m o re s e d o s g rito s d a s g ra n d e s 1 2 . O c io s o s e vagabundos
c id a d e s ; fo ra d e la s s ã o c o m o p e ix e fo ra d a á g u a . S ã o in c a p a z e s
d e u m tra b a lh o c o n tin u a d o , m e n tiro s o s d e s c a ra d o s , e pouco O já c ita d o L o c a te lli e s c re v e u : " 0 o c io s o e v a g a b u n d o
:: s u s c e tív e is d e c o rre ç ã o , e s p e c ia lm e n te s e m u lh e r, n a m a io ria é quase s e m p re d e h u m o r h ilá rio e a le g re , ra z ã o p e la q u a l

i. m e re triz e s . e le é o p a lh a ç o p re d ile to d o s la d rõ e s e a s s a s s in o s , n o s c á rc e -
re s . E le é , m e lh o r d iz e n d o , s ó b rio e d e te m p e ra m e n to c a lm o ,
~ I
I
"
~ ra z ã o p o rq u e s e a fa s ta d a s a lte rc a ç õ e s c la m o ro s a s , e s o b re -
1 0 . E s te lio n a tá rio s
li tu d o d a s rix a s e d o s a n g u e . C onheci a lg u n s d e le s , c o n d e -
O s e s te lio n a tá rio s s ã o c o m o o s jo g a d o re s (e s te s s ã o fre - l. nados um a dezena d e v e z e s à p ris ã o . E n d u re c id o s a n te o
q ü e n te m e n te ) s u p e rs tic io s o s , e s p iritu o s o s , m u ito . la s c iv o s . e s p e tá c u lo c o tid ia n o d a s m is é ria s e d a s m a ld a d e s h u m a n a s ,
M a is c a p a z e s d o q u e o s o u tro s c rim in o s o s , de um a boa ou a rre p ia m -s e à n o tíc ia d e u m a s s a s s in a to , e c e n s u ra m v iv a e
p é s s im a a ç ã o . S ã o c a ro la s e h ip ó c rita s , c o m a r d o c e e b e n e v o - a b e rta m e n te o a u to r e m p le n o c o n s ó rc io c a rc e rá rio , com
le n te , v a id o s o s , e , p o r is s o , p ró d ig o s c o m a m a l c o n q u is ta d a ; . ris c o d a s e g u ra n ç a .
riq u e z a , m u ita s v e z e s d e m e n te s o u s im u la d o re s d e d e m ê n c ia , .-.~
1'""-
" N a e s c a la d a d e lin q ü ê n c ia , d ific ilm e n te e le s u ltra p a s -
o u o s d o is c a s o s ju n to s . ""Í'!" s a m o s p rim e iro s p o s to s , n ã o p o rq u e lh e s im p o rta a c e n s u ra
I
d a o p in iã o p ú b lic a , m a s p o rq u e re p u g n a v e rd a d e ira m e n te
i-
11. A s s a s s in o s l'.~:. a o â n im o d e le s u ltra p a s s a r a m a is g ra v e o fe n s a à s p e s s o a s e à

O s a s s a s s in o s a p re s e n ta m , c o m e s tra n h o s , m o d o s d o c e s
h p ro p rie d a d e . N ã o m e le m b ro d e a lg u m o c io s o q u e te n h a a le -
g a d o , p o r ju s tific a ç ã o p ró p ria , a fa lta d e fo rç a m u s c u la r (s a lv o
e c o m p a s s iv o s , a r c a lm o . S ã o p o u c o v o lta d o s a o v in h o , m a s n o c a s o d e m o lé s tia ), e n q u a n to to d o s o u q u a s e to d o s a le g a m ,
m u ito a o a m o r c a rn a l. M o s tra m -s e a u d a z e s e n tre e le s , a rro - p a ra e s c u s a r-s e , a d ific u ld a d e d e e n c o n tra r tra b a lh o de sua
g a n te s , s o b e rb o s d o s p ró p rio s d e lito s , n o s q u a is d e s p e n d e m e s p e c ia lid a d e . N ã o p o u c o s d o s h a b itu a d o s à o c io s id a d e abo-

142 143
1"
m inam

grandes
o trabalho,
são dom inados
m ovim entos
m anufaruras
não só pela fadiga m aterial
pelo tédio insuportável
m usculares,
condena
a que a divisão
o operário.
m as porque
da uniform idade
do trabalho
O utros
dos
nas
ociosos,
I
I
de vezes e fez cair nas m ãos da Justiça um a centena de delin-
qüentes e traçar com suas m em órias um a verdadeira psicolo-
gia do delito. Tam bém o era o C agliostro que roubava e ta-
peava príncipes e reis, e quase se fazia passar por um hom em
ao invés de trabalhar na especialidade para a qual foram pre- inspirado, um profeta.
parados, preferem até arriscar a saúde e a vida em em presas G ênio especial tinha o N orcino e o Pietrotto, que ne-
m uito perigosas. nhum a prisão da Toscana conseguiu m anter preso por m ais
U m certo G uido, sapateiro de profissão, dem onstrando de um m ês. Fugiam depois de avisar seus carcereiros. E tam -
invencível repugnância pela avareza e pelo com prom eti- bém o D uboisce, que, não só conseguiu, depois de um a
~,.
m ento, às vezes andava esm olando com um a perna dobrada, condenação à m orte, evadir-se, m as levou tam bém sua
de m odo a sim ular um a incurável contrarura. A rriscava a am ante, da prisão.
vida paradar caça aos gatos no teto dos vizinhos em plena G R uschovich, alto e destro pessoalm ente, de olhos
noite rigidam ente invernal. Procurava anim ais que pertur- inteligentes e sagazes, falava perfeitam ente árabe, grego, ro-
bassem , arriscando-se a m ordidas e arranhões a tal ponto de m eno e alem ão. Era conhecedor de ciências físicas, especial-
dilacerar a pele. m ente da quím ica. N ão era tam pouco ignorante das belas
Eles não são, de ordinário, suscetíveis de violentas pai- j letras e sobrerudo da história e da m edicina. C ondenado em
xões eróticas, das paixões que têm o poder de im pelir ao 1845, pelo Tribunal de Trieste, à prisão, e depois pela C orte "
."
-.,;.,
delito os verdadeiros m alfeitores. M ayhew divide-os em m en- C rim inal de Londres, a seis anos de servidão penal por crim e
dicantes navais, m ilitares, m ostradores de docum entos
sim uladores de doenças e m udez. A necessidade
cansar e as alegrias descuidadas,
caráter deles, tornam -nos
artísticas,
estranhos inventores
falsos,
de não se
que form am
de profissões,
o I
"I..•.....
~
de falsificação, conseguiu com nova falsidade, não só ser liber-
tado da prisão, m as tam bém obteve indenização de 200 libras
esterlinas. la conseguir m ais 500 quando
era falsa a carta de um a alta autoridade
foi descoberto
endereçada
que
à R ainha
que ninguém fora deles adota, porque ninguém tem o instinto da Inglaterra, contando que um inglês fora condenado à
do ócio espiriruoso. U m especializou-se em dar bofetões tão
f revelia por falsidade, encontrando-se no fim da vida em um

t
barulhentos com o os de um a briga e que atraíam a m ultidão, hospital de Paris e tinha sido declarado culpado pela falsidade
m as sobretudo os policiais. atribuída a R uschovich.
Fugindo da Inglaterra, refugiou-se na B élgica, onde sob
13. D elinqüentes geniais ".~
o nom e de O sm anJussuf envolveu-se em im putação de assas-
, , .+
~ :.:; sinato e falsidade com A llah-B ey. N a França, sob o nom e de
'1«
N ão se pode negar, todavia, que apareçam , cá e lá, de- Frank W eber, apresentou-se em Paris aos banqueiros B laques
linqüentes verdadeiram ente geniais, criadores de novas for-
m as de delito, autênticos inventores do m al. C ertam ente era
it" com um a letra de 800 libras, com assinarura
em presa e conseguiu
falsa de um a
receber 400 libras. Por este fato e por
hom em genial o Y idocq;,que conseguiu evadir-se um a vintena outras três falsificações foi processado pelo Tribunal de Paris.

144 145
r-
C onseguiu, porém , fugir para a Itália, m unido de passaporte
I
E m V iena, em 1869, foi preso um ladrão que inventou
da legação italiana, com nom e fictício. 32 instrum entos para abrir fechaduras secretas. E m S ing-S ing,
,
P ara obter esse passaporte, ele escreveu ao prefeito de no cárcere judiciário, um detento construiu um a destilaria
M elegnano para ter um a certidão de nascim ento, dizendo que com restos de m açãs e batatas da m erenda carcerária. C on-
seus genitores em igrando da L om bardia o tinham levado criança tudo, tam bém esses delinqüentes geniais apresentavam falta
para a A m érica. P ouco depois a m orte atingiu seus genitores,
sem m ais saber de sua fam ília, pois os registros foram queim ados
_nas guerras que assolaram a região. D a resposta do P refeito forjou
I de previdência
infam es. T am bém
característica
ou de astúcia para levar a cabo seus desígnios
no gênio deles aparece
dos delinqüentes. O R uschovich,
a inconstância
de cuja inte-
a carta que apresentou à legação italiana. ligência extraordinária já havíam os falado aqui, escreveu no
Indo a M ilão, exerceu ilegalm ente a m edicina, distri- I
cárcere à sua am ante para que fizesse desaparecer de certos
buiu rem édios grátis aos pobres, discutia em reuniões com lugares do seu apartam ento, diversos objetos que pudessem
outros m édicos; tratou de um advogado com sucesso e nam o- com prom etê-lo. P ediu ainda para que, de diversas origens,

I
•.."'"
rou sua filha, preparando até o casam ento, ao m esm o tem po fizessem chegar às m ãos da autoridade cartas que pudessem
em que m antinha am ores com um a m eretriz. desviar os traços do culpado. T odavia, os encarregados do

O m esm o L ocatelli conhece um ladrão que sabia de I envio das cartas não com preenderam a sutileza do plano, e a

J-'
.J
.!:..
cor as disposições do C ódigo P enal e do C ódigo de P rocesso
P enal, não só o italiano, m as tam bém o austríaco sobre os
II polícia na posse daquelas cartas exam inou
o apartam ento
m inuciosam ente
nos pontos indicados e acabou encontrando
~.. quais fazia confrontos m uito argutos. E le dava consultas aos assinaturas de em presas e estudos caligráficos para im itá-los,

.
,.
~ próprios colegas, que o cham avam de "doutor em direito" e carim bos e sobretudo o passaporte m ostrado em L ivorno ao
tinham nele m ais confiança do que nos verdadeiros advogados. banqueiro U zielli, sobre o qual o estudo dos peritos caligrá-
ficos levantou a falsidade com etida, m udando o nom e do
B aum ont esvaziou, em pleno dia a caixa da polícia t .~ m orto C harles R eadly para o de B eadham .
francesa, fazendo-se de guarda durante um a operação, com o r.'.>

se fosse um a sentinela, da verdadeira guarda de honra. O utro, C onheci um ladrão de tão bela inteligência, que tinha
.- o Jossas, m editava anos inteiros, levantando o sistem a de !,-
l.
podido até fazer carreira na área científica com o na vida so-
cial, m as tam bém nesta faltava a m obilidade. U m traço de
fechadura com expedientes sofisticados. U m caixa que nunca i'.:.:,;.-
l~.,:
havia m ostrado a chave a quem quer que seja, um dia fez t::"- espírito, um epigram a, fazia-lhe às vezes de recom endação.
}
com Jossas um passeio no cam po e no m eio do cam inho en- H abilíssim o em im itar, era porém incapaz de criar. G ranjeava
[-
contraram um a m ulher grávida, que lhes pediu socorro por
estar com hem orragia no nariz. H avia necessidade de um r:.
~: •.._
a estim a pública só com a fácil verbosidade,
eloqüência quando
que se tornava
era anim ado por algum a paixão.
objeto m etálico para furar um tum or e o caixa lhe em prestou .k -.. E m sum a, geralm ente, todos estes, tam bém os gênios
a chave, do que aproveitou Jossas para fazer um m olde, com o
o qual fez cópia da chave, que lhe perm itiu roubar a caixa de
t
._""',~~
-'" . ..f~4i
:~}t~::~
~~"
têm m ais safadeza (com o os selvagens)
talento. N ão têm coerência
e m ais espírito, não
nem continuidade no trabalho
um a em presa. ;/ psíquico - potente, m as de ím pl"to - e quase nunca perseverante.

146 147
TI
1 4 . D e lin q ü e n te s c ie n tífic o s I in sp ira ç ã o , sã o m e n o s fre a d a s p e lo s c rité rio s d a v e rd a d e e
I
p e la s se v e ra s d e d u ç õ e s d a ló g ic a . D e v e m o s in c lu ir e n tre o s
É p o r isso q u e , m a lg ra d o o g ê n io te n h a u m a e sp é c ie d e I d e lin q ü e n te s B o n fa d io , R o u sse a u , A re tin o , C e re sa , F ó sc o lo
n e u ro se c o n g ê n ita , c o m o a c rim in a lid a d e , m u ito e sc a sso s sã o II
e ta lv e z a té B y ro n . E n ã o fa lo d o s te m p o s p o r d e m a is a n tig o s
o s d e lin q ü e n te s no m undo c ie n tífic o . D e ste s a in d a , a lg u n s I
e d e p a íse s se lv a g e n s, e m q u e o b a n d itism o e a p o e sia se
n ã o sã o b e m a c e rta d o s. N ã o p u d e re c o lh e r c o m se g u ra n ç a , a
não se r o d e B a c o n e , c u jo s d e lito s d e p e c u la to fo ra m em I d a v a m a s m ã o s; c o m o m o stra m o s p o e m a s d e K a le iv a P e a g e

g ra n d e p a rte e fe ito d e d e b ilid a d e d e c a rá te r, m a is d o q u e d e I H e lm b re c h t. M a is c rim in o so s a in d a p a re c e q u e fo ra m A lb e r-

â n im o p e rv e rso ; d e S a lú stio e d e S ê n e c a , a c u sa d o s ta m b é m
I g a ti,c o m e d ió g ra fo p e rte n c e n te à a lta a risto c ra c ia e fo i u x o ri-

e ste s, m a s se m p ro v a , d e p e c u la to . F o i ta m b é m o c a so d e I c id a p o r c iú m e ; M u re tto , q u e fo i c o n d e n a d o p o r d e lito lib id i-


I n o so n a F ra n ç a , e C a sa n o v a , q u e p ro je to u u m e n g e n h o so e
C re m a n i, c é le b re ju rista e p e n a lista , q u e m a is ta rd e se tra n s-
e x tra o rd in á rio e sq u e m a d e m a te m á tic a , fin a n ç a s e c o m u m a
fo rm o u e m fa lsá rio ; d e D e m m e , p o te n te ta le n to c irú rg ic o e
v id a v o lta d a a o e stu p ro e a o e ste lio n a to so b re o s q u a is d e ix o u
ta m b é m la d rã o e e n v e n e n a d o r. N enhum m a te m á tic o , ne-
u m re la to c o m p le to e c ín ic o d e su a s m e m ó ria s.
nhum n a tu ra lista , q u e e u sa ib a , a o m e n o s d e p rim e ira lin h a ,
F ra n ç o is V illo n , fa m o so p o e ta fra n c ê s, e ra d e h o n ra d a
so fre u c o n d e n a ç ã o p o r d e lito c o m u m . S a b e -se só d e C e sa l-
fa m ília e re c e b e u e sse n o m e (v illo n = g a tu n o , la d rã o ) q u a n -
p in o , q u e p o r u m c rim e d e q u e se ig n o ra a n a tu re z a , p e rd e u
d o se to rn o u c é le b re n a v e lh a c a ria - à q u a l fo i le v a d o p e lo
a n o b re z a . É ta m b é m o c a so d e A v ic e n a , u m e p ilé p tic o , e na
jo g o e p e la s m u lh e re s. C o m e ç o u ro u b a n d o o b je to s d e p o u c o
v e lh ic e , in q u ie to e e x a g e ra d o n o ó p io , q u e d iz ia q u e a filo so fia
v a lo r, ta n to p a ra o fe re c e r u m b o m re p a sto à s su a s a m ig a s e
n ã o g a ra n te u m v iv e r h o n e sto , n e m a m e d ic in a c o n se rv a a
a o s c o m p a n h e iro s d e ó c io , e sp e c ia lm e n te v in h o . O m a io r
sa ú d e . N a Á u stria , n o s c o n ta M e sse d a g lia , a c la sse q u e a p re -
fu rto c o m e tid o p o r e le , re a lç a d o p e la fa m a , fo i q u a n d o um a
se n to u , e m 1 4 a n o s, m e n o r n ú m e ro d e d e lito s é a d e d ic a d a
a m a n te , e m c u ja s c o sta s v iv ia , c o m o é c o stu m e e n tre os
às ocupações c ie n tífic a s.
la d rõ e s, c o lo c o u -o n a ru a , à n o ite e m p le n o in v e rn o . A n-
N a d a d e a n o rm a l h á n e sse s c a so s. O h o m e m p ro p e n so dava a rm a d o c o m v a le n tõ e s p a ra a to s d e b a n d itism o a té
a re sp ira r a se re n a a tm o sfe ra d a c iê n c ia , q u e é p o r si o o b je tiv o q u e fo i p re so p e la se g u n d a vez e por pouco n ã o fo i c o n -
e o d e le ite , h o m e n s e x p e rim e n ta d o s n o s c rité rio s d a v e rd a d e d e n a d o à m o rte .
c o n se g u e m m a is fa c ilm e n te d o m in a r a s p a ix õ e s b ru ta is, e L u c ia n i n a Itá lia e L e sfro is n a In g la te rra , o p rim e iro o
n a tu ra lm e n te re p u g n a m a to rtu o sa e e sté ril v ia d o d e lito . m a n d a n te e o se g u n d o o a ssa ssin o , e ra m d istin to s jo rn a lista s,
P o r o u tro la d o , e ssa , m a is d o q u e a s o u tra s c a u sa s, a p o n ta m m a s e ste p a re c e q u e e ra to x ic ô m a n o .
o d e lito c o m o n ã o só in ju sto e iló g ic o , m a s ta m b é m im p ro -
T o d o s e sse s c a so s n ã o sã o d e e sp a n ta r. P a ra o s p ro fissio -
fíc u o , re to rc e n d o se m p re c o n tra q u e m o tiv e r c o m e tid o .
n a is, a c iê n c ia n ã o é u m fim , m a s u m m e io , se n ã o h o u v e r
M e n o s fa v o rá v e l se a p re se n ta a c rim in a lid a d e n o s lite - o u tra fo rç a q u e b a ste p a ra d o m a r a s p a ix õ e s. N ã o h á m e lh o r
.,
ra to s e a rtista s. E m m u ito s d e ste s a s p a ix õ e s, p re v a le c e n d o
.~ - e stím u lo q u e o c o rra p a ra fo rn e c e r a rm a s a o d e lito , a o q u a l a
b e m m a is, p o rq u e e n tra m e n tre o s m a is p o te n te s fa to re s d a ~
•. p ro fissã o o fe re c e à s v e z e s .u m e m p u rrã o , fa c ilita n d o , por
-''"0
148 ~;:;;
~.
,"'**, . 149
1
e x e m p lo , o e n v e n e n a m e n to a o s m é d ic o s , a fa ls id a d e aos m ú s ic a : b a s ta c ita r B e e th o v e n , G ounod, D o n iz e tti, Schuh-
advogados, o a te n ta d o a o p u d o r a o s m e s tre s . m a n n , M o z a rt.
G ra n d e p a rte d a s m e re triz e s é v e rd a d e ira m e n te ile - Q u a n to a o n ív e l d e in s tru ç ã o , p o d e -s e d iz e r q u e c o m o
[fa d a . E m 4 .4 7 0 n a F ra n ç a , P a re n t e n c o n tro u apenas 1 .7 8 0 e la fa v o re c e a a lg u m a s m in g u a d a s e s p é c ie s d e c rim e s , ta m b é m
q u e s a b ia m a s s in a r o p ró p rio n o m e e s ó 1 1 0 tin h a m in s tru ç ã o a u m e n ta m a lg u m a s d e m ê n c ia s , c o m o p o r e x e m p lo , a s d o e n -
s u p e rio r. T o d a v ia , e s ta m e s m a re la ç ã o n ã o h á e m L o n d re s , ç a s , o a lc o o lis m o , a s m a n ia s lite rá ria s , d im in u in d o o u tra s ,
o n d e p a ra 3 .4 9 8 p ro s titu ta s ile tra d a s h a v ia 6 .0 5 2 q u e s a b ia m c o m o a s d e m o n o m a n ia s e a s m o n o m a n ia s re lig io s a s e e p id ê -
le r e e s c re v e r im p e rfe ita m e n te , 3 5 5 q u e s a b ia m le r e e s c re v e r m ic a s , a s m a n ia s h o m ic id a s e dando a to d a s u m c o lo rid o
bem e 2 2 c o m in s tru ç ã o s u p e rio r. m e n o s v io le n to e ig n ó b il.

1 5 . C o m p a ra ç ã o c o m a in te lig ê n c ia d o s d e m e n te s

C o n fro n ta n d o , e m re la ç ã o à in te lig ê n c ia , o s d e m e n te s
c o m o s d e lin q ü e n te s , v e m o s n a q u e le s p re v a le c e r b e m m e n o s

!
a p re g u iç a . E n tre o s d e m e n te s s e m o s tra um a a tiv id a d e
e x a g e ra d a m a s e s té ril, q u e s e c o n s u m a e m a s s o n â n c ia e u fô -
n ic a , e m tra b a lh in h o s in ú te is e im p ro fíc u o s . C onheci um a
d e m e n te q u e re c o b ria d e p a p e l o s tijo lo s e a té o s u rin ó is , e
a m a rra v a o s liv ro s p o r a m o r à s im e tria , e c o rta v a às vezes
\
p a rte d e u m te x to .
O s d e lin q ü e n te s n ã o d e s e n v o lv e m s u a a tiv id a d e a não
s e r p o r p ró p ria s , d ire ta s e im e d ia ta s v a n ta g e n s , m a is p a ra o
m a l d o q u e p a ra o b e m . V ic e -v e rs a , e n q u a n to e s s e s tê m p o u -
q u ís s im a ló g ic a , o s m o n o m a n ía c o s a tê m d e s o b ra . P o r is s o , é
m a is fá c il e n c o n tra r a lie n a d o s d e a lto s a b e r d o q u e e n tre o s
d e lin q ü e n te s . E b a s ta d iz e r q u e a p e n a s a lg u n s , c o m o B a c o n e ,
S a lú s tio e S ê n e c a s e in c lin a ra m p a ra o c rim e , m a s p o d e m o s
c ita r C o m te , A m p e re , N e w to n , P a s c a l, T a s s o , R o u s s e a u e
ta n to s o u tro s com o m a is ou m enos m e la n c ó lic o s e
m o n o m a n ía c o s .
O s p in to re s , a o c o n trá rio , p a re c e m -m e abundar m a is
e n [fe o s d e lin q ü e n te s d o q u e e n tre o s a lie n a d o s . C o n tu d o ,
d e fo rm a b e m d ife re n te a C G n te c e c o m o s g ra n d e s m e s tre s d a

150 151
- _ . ,o ,_ _ • ~ _ _ • ~ • _

-I~

\,

13. R E IN C ID Ê N C IA P R Ó P R IA E IM P R Ó P R IA .

M ORAL DOS D E L IN Q Ü E N T E S

1 . E sta tístic a s ita lia n a , ru ssa e fra n c e sa d a s re in c id ê n c ia s


2 . R e in c id ê n c ia e siste m a s p risio n a is. C rim e s n a s p risõ e s
3 . R e in c id ê n c ia e in stru ç ã o - 4 . R e in c id ê n c ia im p ró p ria :
R e in c id ê n c ia se g u n d o o s v á rio s c rim e s, R e in c id e n te s jo v e n s,
P ro v é rb io s p o p u la re s, S e n so m o ra l - 5. R e m o rso s
6 . N ã o se n te m a in d a q u a n d o c o m p re e n d e m o m a l. Id é ia
d a ju stiç a , fre q ü e n te m e n te c e rta - 7 . In ju stiç a re c íp ro c a
8 . C o m p a ra ç ã o com o s d e m e n te s - 9. C o m p a ra ç ã o
c o m o s se lv a g e n s - 10. O rig e m p ro v á v e l da ju stiç a .

1 . E s ta tís tic a s ita lia n a , ru ssa e fra n c e sa das re in c id ê n c ia s

,~ T odas a s e s ta tís tic a s p e n a is são u n â n im e s em m o s tra r


~ a c o n s tâ n c ia e a fre q ü ê n c ia se m p re m a io r d a s re in c id ê n c ia s

n o s d e lin q ü e n te s . V e rd a d e é q u e e m a lg u n s p a ís e s a re in c id ê n -

c ia p a re c e m u ito e s c a s s a . Is to d e p e n d e , n ã o d a fa lta d e re in c i-

d ê n c ia , m a s d a fa lta d e re g is tro , por não haver a rq u iv o ju d i-

;..-'" c iá rio o u e q u iv a le n te . R e a lm e n te , e s s a s c ifra s s e v ê e m aum en-

ta r n o s p ró p rio s p a ís e s c o m ( ')a p e r f e i ç o a m e n t o d o s in s titu to s

153
T
jurídicos e com a introdução dos registros. Na Itália, de 1876 sem na própria casa, e os companheiros ficam felizes de revê-
a 1880, os reincidentes condenados pelos tribunais aumen- lo e saudá-lo com a alcunha de "viajante".
raram de 18 a 19,45%. Os condenados pelo tribunal do júri Bréton (Presídios e Presidiários - 1875) fala de um mise-
subiram em 1878 a 13%, em 1880 a 21,5% e 1882 a 22%. rável que cometeu pequenos furtos para voltar à prisão, mas,
Portanto, em doze anos dobraram. Entre os condena- em vez do cárcere comum, foi parar numa solitária. Lamen-
dos, foi observado em quatro anos (de 1872 a 1875) um au- tava-se: "A justiça me tapeou e não me acolhem mais nesta
mento de reincidentes de 17 a 21%;"Enfim, do ano de 1870 província" .
a 1879, enquanto os condenados por uma só vez cresciam Queixava-se o chefe de bando Hessel, encarcerado 26
na proporção de 100 a 121, os reincidentes aumentavam na vezes, que o cárcere não o tivesse melhorado e não pudesse
proporção de 100 a 176. querer a liberdade, que era a miséria e a fome. Ele respondeu
Na França, o acusado reincidente (tribunal de júri) no depoimento: "Tranqüilizai-vos para que tenhamos dez
t~

aumentou só 10% em 1826, mas em 1850 a 28%. Em 1867, ": dedos; não sofreremos miséria a céu aberto. Onde vocês
isto é, 17 anos após, depois que foram introduzidas as estatís- O" encontrarão melhor abrigo do que na cadeia? Eu vi uma fa-
l-:\
ticas judiciárias foram a 42%. Em 1871-1875,44%, em 1876, mília inteira de ciganos ser condenada 16 vezes por vadiagem.
44%, em 1877,48%, em 1878, 49%, e em 1879, 50%.
t'7-', Na boa estação saía e mendigava com ar ameaçador; no inver-
•••. ..;1;
'"t

Na Bélgica, calcula-se 70% para os reincidentes em no fazia-se prender para encontrar pão e roupa: a prisão tor-
.j;..
t nou-nos melhores? Se tivéssemos encontrado modo de viver
1869-1871. Na Dinamarca, nos estabelecimentos penais em
largamente em todas as estações, certamente teríamos pre-
1872-1874 notaram-se 74% para os homens e 71% para as
ferido o ar livre".
mulheres, de reincidentes. Na Prússia, havia uma cifra osci-
lante entre 77 e 80% nos saídos dos estabelecimentos penais
"i ~ Sobretudo, parece constante a reincidência nas mulhe-
de 1871 a 1877 para os homens e 74 a 84% para as mulheres. res. Como veremos mais adiante, as reincidências repetidas
são mais freqüentes do que nos homens. Prostitutas, disse

2. Reincidência e sistemas prisionais. Crimes nas prisões


_.
~j;-.
Parent Duchatelet, poucas há que tenham realmente se arre-
'!f"~~."
..--v ~ pendido. Vêem nos casos de penitência um modo de melhorar
Não há sistema carcerário que salve os reincidentes; 'I" >.
.::1.,f<ii--.,. as condições delas. E Tocqueville observou que na América as
't:~ moças dadas à delinqüência são muito mais incorrigíveis do
ao contrário, as prisões são as causas principais deles. Brétig- .•"j:r'.
neres De Courtelles atesta que em Clairvaux, 506 reinciden- fli./, que os rapazes.
tes por furto e vadiagem só tinham agido para poder encontrar .'~:r.1. Nem tampouco se deve esperar que a melhoria dos
uma vida mais fácil na prisão. Em 115 presos, 17 declararam I'" sistemas
.~~1"", " carcerários possa prevenir ou diminuir a reincidên-
não haver tomado qualquer precaução na prática do crime, cia. Na França, em 100 liberados da prisão em 1859, 33 ho-
porque tinham necessidade de estar um ou dois anos na pri- mens e 23 mulhúes retornaram no ano seguinte. Na Prússia,
são, para restaurar a saúde gasta na orgia. Os reincidentes, atesta-se oficialmente, não ter a solitária favorecido aos réus
continuou ele, entram na prisão contentes, como se entras- por paixão, os quais não são verdadeiros criminosos habituais,

154 155
T
e d e fa to s o b e d e 6 0 a 7 0 % o n ú m e ro d o s re in c id e n te s , c ifra d o ré u e a s u a c u lp a b ilid a d e , o u s e ja a d is tin ç ã o q u e o s c ó d ig o s
e s ta d e 7 0 % q u e s e te m e x a ta m e n te n a B é lg ic a , e m L a u v a in , e n riq u e c e m : a re in c id ê n c ia p ró p ria e im p ró p ria . E s ta ú ltim a ,
onde o s is te m a c e lu la r é a p lic a d o há doze anos. d e re s to , é s e m p re a m a is e s c a s s a . A c u m u la re a lm e n te a re in -
c id ê n c ia p ró p ria e n tre nós em 1 8 7 2 -1 8 7 5 , bem e n te n d id o
3 . R e in c id ê n c ia e in s tru ç ã o c o m e x c e ç ã o d o s d e lito s d e ím p e to , o s q u a is n ã o tê m , a b e m
d iz e r, q u a s e n u n c a re in c id ê n c ia .
S e p o u c a in flu ê n c ia o s s is te m a s p ris io n a is tê m n a re in c i-
A c ifra d o s re in c id e n te s to rn a -s e s e m p re m a io r s e fo re m
d ê n c ia , a ju d a m e n o s (e u m a c o is a s e lig a à o u tra ) o g ra u d e
c o n s id e ra d o s a lg u n s g ru p o s d e c rim e s , n o s q u a is e s te s s e
in s tru ç ã o . A o in v é s , e s te p a re c e a u m e n ta r a re in c id ê n c ia .
re p e te m e e m q u e n ã o re in c id ir to rn a -s e quase um a exceção.
D e n tro e m p o u c o v e re m o s c o m o a in s tru ç ã o , que segundo
Is s o s e v e rá n a e s ta tís tic a d o s re in c id e n te s de 1874 a 1878,
c rê e m p e s q u is a d o re s s u p e rfic ia is d e s s e a s s u n to , s e ja u m a p a -
d a q u a l a p a n h e i o s c rim e s d e ín d o le re a lm e n te p o lític a (e x p u l-
n a c é ia d e d e lito s , é u m a d a s c a u s a s d a re in c id ê n c ia e , p e lo
s ã o d e re fu g ia d o s e s tra n g e iro s , d e lito s d e im p re n s a ) e não
m enos, u m d e s e u s fa to re s in d ire to s .
re a lm e n te d e d e lin q ü ê n c ia n o s e n tid o a n tro p o ló g ic o (a rm a s
Q u e m , c o m o L o c a te lli, q u e in d a g a c o m o p o d e a c o n te - p ro ib id a s ), e a ju n ta n d o c rim e s e d e lito s tid o s c o m o c a te g o ria
c e r e s s a in flu ê n c ia p e rn ic io s a d a in s tru ç ã o , n o ta rá q u e o d e lin - q u e p ro p o rc io n a m a m á x im a re in c id ê n c ia .
q ü e n te n a p ris ã o a p re n d e c o m a a rte d e fe rre iro o u d o c a líg ra -
P o n d o à p a rte o s q u e s e to rn a m c rim e s d e e n fu re c e r o s
fo o s m e io s d e d e lin q ü ir c o m m e n o r p e rig o e m a io r v a n ta g e m .
p a rtid o s p o lític o s o u q u e s e d e v a m à m u ito m in u c io s a p o líc ia
-N o ta rá , a in d a , q u e .o .a g re s s o r s e tra n s fo rm a e m fa ls á rio , o
fra n c e s a (re b e liã o ), p o d e -s e d iz e r q u e e s ta s c ifra s re p re s e n ta m
la d rã o e m e s te lio n a tá rio o u m o e d e iro fa ls o . N ã o h á , p o d e -s e
a c o ta d o s d e lin q ü e n te s n a to s . E q u e m a s e s tu d a s e m le v a r
d iz e r, e n tre a s v á ria s c a te g o ria s , n a d a a lé m d e m e n o r g ra u d e
e m c o n s id e ra ç ã o a d ife re n ç a d o s d e lito s , c o m o fa z e m o s , d e d u -
c u ltu ra p a ra o c rim e , s e n d o p s ic o lo g ic a m e n te e m u ita s v e z e s
z in d o a s ta b e la s d e F e rri, a c h a q u e re s o lv e m e m re v o lta d a s
a n a to m ic a m e n te ig u a is u n s a o s o u tro s .
fo rç a s a rm a d a s e a s s o c ia ç õ e s p a ra d e lin q ü ir, fu rto s , v a d ia g e m ,
E is p o r q u e v e m o s , s e g u n d o B e ttin g e r, q u e o s re in c id e n - fe rim e n to s , b ig a m ia , v e ria m e m u m a re a ç ã o b e m m a is e s c a s s a
te s a b u n d a m s e m p re e n tre o s d e lito s d e re fle x ã o e m a is e n tre o s a s s a s s in a to s , o s m o e d e iro s fa ls o s , o s p a rric id a s , o s in c e n d iá -
a q u e le s c o n tra a p ro p rie d a d e , d a n d o o s fu rto s 2 1 % , a ra p in a rio s , o s h o m ic id a s , o s e s tu p ra d o re s , o s fa ls á rio s , fa ls o te s te -
1 0 % , o s h o m ic íd io s só de 5 a 3% . m u n h o , tra p a ç a s , a m e a ç a s , e m ú ltim o , a fa lê n c ia fra u d u le n ta
e a e x to rs ã o .

4 . R e in c id ê n c ia im p ró p ria : R e in c id ê n c ia segundo o s v á rio s À s e s ta tís tic a s a d ic io n a m -s e a s m o rte s , n u m e ro s ís s im a s ,


c rim e s - R e in c id e n te s jo v e n s - P ro v é rb io s p o p u la re s - g ra ç a s à s o rg ia s h a b itu a is n o s d e lin q ü e n te s , e a d o s d e lito s
S enso m o ra l n ã o a d m itid o s o u p u n id o s p e la m a io r h a b ilid a d e a d q u irid a
~ •.I't!t::' n a s p ris õ e s , te rm in a p o r c o n c lu ir q u e o n ú m e ro d o s re in c id e n -
E s te fa to é d e a lta im p o rtâ n c ia p o rq u e n o s in d ic a o
te s re a is n e s s e g ru p o d e c rim in o s o s d ife re u m p o u c o d o s re v e -
q u a n to é in ú til, n o q u e d iz re s p e ito à m o ra lid a d e v e rd a d e ira
la d o s . M a is e x a ta m e n te is to q u e r d iz e r q u e não há quase

156
157
:"17.' .-.'' .
"1 :>

alg u m d eles q u e n ão seja rein cid en te. E n isso m e ap raz en co n - rio d e seu s d elito s, eu m e g ab o d eles. R o u b ei, m as, m ais d e
trar-m e d e aco rd o co m u m ilu stre ad v ersário , o T an cred i, q u e la m il liras: atacar a p eso tão g ran d e creio ser m ais esp ecu -
escrev eu n a su a d o u ta o b ra: O Delito e a Uberdade da Vontade- lação d o q u e u m fu rto . E ch am am d e ch av es falsas as q u e
1 8 7 5 : "A rein cid ên cia é b astan te a reg ra g eral p ara o s co n d e- n ó s em p reg am o s, m as eu as ch am o ch av es d e o u ro p o rq u e se
n ad o s, m al ap en as se en co n tram em lib erd ad e". L em b ro -m e ab rem o s co fres d o s rico s sem esfo rço ".
d e h av er lid o a esse p ro p ó sito , q u e ap en as saíd o d a p risão , E u m o u tro seu d ig n o co leg a d isse: "F eia ação d e ro u b ar,
o n d e estev e p o r ro u b ar v in te liras d e u m co m p an h eiro de d izem o s ;u tro s, n ão eu ; eu ro u b o p o r in stin to . P ara q u e u m
cela, ro u b o u sessen ta n a m esm a circu n stân cia, d e u m o u tro . h o m em n asce n esse m u n d o ? P ara d esfru tá-lo . S e n ão ro u b asse
O q u e m ais im p o rta é q u e a co n sciên cia p o p u lar sen ten - n ão p o d eria d esfru tá-lo , p o rtan to , n ão p o d eria v iv er. N ó s
cio u h á sécu lo s: so m o s n ecessário s ao m u n d o co m o eles. S e n ão fô ssem o s n ó s,
o S em el m alu s sem p er m alu s = Ig u al ao m al é sem p re q u e n ecessid ad e h av eria d e ju ízes, d e ad v o g ad o s, d e carce-
o m al. reiro s. S o m o s n ó s q u e o s m an tem o s".

o O s lad rõ es n ão se arrep en d em jam ais. ~~i'


L acen aire, acen an d o ao cú m p lice A v ril, d izia: "E n ten d i

o Q u em co m eça m al, term in a p io r. -,


, :;.
q u e p o d íam o s m istu rar ju n to s a n o ssa "in d ú stria". H á, p o r-
;. tan to , co n clu ía o p ro cu rad o r d o rei, h o m en s p ara q u em o
~ o V izio p er n atu ra, fin alia fo ssa d u ra = V ício p o r n atu - -:"'iI~
~ assassín io n ão é u m a n ecessid ad e ex trem a, m as u m a tarefa
.,.,- reza, term in a n a fo ssa d u ra. ....
~.~ q u e se p ro p õ e, d iscu te e ex am in a co m o u m ato q u alq u er .
~. o Q u em d e u m v ício q u er se ab ster, p eça a D eu s n ão T o rto ra, a q u em n o jú ri o acu sav a d e lad rão : "q u e lad rão !
". o o b ter.
L ad rõ es são o s n o b res d a cid ad e e eu , m atan d o -o s, só d o u a
eles o q u e m erecem ".
M au d sley escrev eu q u e o v erd ad eiro lad rão , p o d e -se D isse H essel ao s ju ízes: "N ó s so m o s u m o rg u lh o so ch efe
d izer, co m o d o p o eta q u e n asce tal e se to rn a tal. É co m o
d e b an d o . D eu s n o s en v io u à terra p ara p u n ir o s av aro s e o s
crer q u e se p o d erá refo rm ar o q u e se fo rm o u p o r su cessiv as rico s; n ó s so m o s u m a esp écie d e flag elo d iv in o . E , além d o
- g eraçõ es. E cita C h atterto n q u e n a p risão o u v ia lad rão d ecla- m ais, sem n ó s o q u e fariam o s ju ízes?" V ê-se, em su m a, in -
rar q u e ain d a q u e tiv esse se to rn ad o m ilio n ário , co n tin u aria v erter-se co m p letam en te a id éia d o d ev er. E les se ju lg am n o
a ro u b ar. N o v e en tre d ez d o s co n d en ad o s são assim . .-- d ireito d e ro u b ar, e m atar, e q u e a cu lp a seja d a so cied ad e,
O sen so m o ral falta n a m aio ria d eles. M u ito s n ão co m - tan to q u e D eu s o s d eix a ag ir à v o n tad e. E ch eg am até a atri-
p reen d em realm en te a im o ralid ad e d a cu lp a. U m lad rão m ila- b u ir m érito ao d elito .
n ês m e d isse: "E u n ão ro u b o , ap en as tiro d o s rico s o q u e O s assassin o s, p rin cip alm en te o s p o r v in g an ça, ach am
so b ra p ara eles. E , além d o m ais, n ão ro u b am o s ad v o g ad o s, q u e p raticam ação h o n esta e alg u m as v ezes h eró ica, ain d a q u e
o s n eg o cian tes? P o r q u e só a m im acu sam e n ão a eles?" p eg u em a v ítim a n a em b o scad a. A ssim , M artin elli, ao esti-
U m tal R o ssatti, d e q u em d escrev i a fisio n o m ia m e m u lar u m m an d atário a m atar u m d e seu s in im ig o s, ig u alav a
d isse: "eu n ão im itarei m eu s co m p an h eiro s, q u e fazem m isté- a su a in fam e ação à d o s an tig o s ro m an o s, q u e v in g av am co m

158 159
- - --~ --- - - - - ._ - - - - - - - - - - - - - - - - - -
"TI<:

sangue a honra ofendida. A culpa, ao contrário, era dos ou-


rosas em todos os m om entos. T odavia, se eles sentissem deve-
tros, que se opunham aos seus desejos. O B ., que era dado ao
ras rem orso, veriam justiça na pena, confessariam o fato, prin-
banditism o desde jovem , e na com panhia de S chiavone, tinha
cipalm ente pessoas benévolas e estranhas ao tratam ento que
m atado um a dúzia de hom ens, lam entava-se de ter sido con-
infringem a eles. S ~ntiriam prim eiro a necessidade de expan-'
denado a vinte anos. P ara ele, dez bastavam pois que, se m atou
dir-se, de justificar-se perante a sociedade, com m il e um a
tantos, era seu dever. P orém , ele tinha m atado tam bém tantas
razões, que o ser hum ano sem pre encontra em sua defesa.
m ulheres, tendo dito que elas m ereciam por rer rentado fugir.
M as a tenaz, obstinada negação do próprio delito dem onstra
que eles nunca se arrependem .
5. R em orsos ~
O s poetas fantasiam as im agens turbadas dos hom icidas

F ala-se freqüentem ente


delinqüentes.
de m uitos dos rem orsos
P or isso, poucos anos antes, os sistem as penais
dos -
I'
e D espines disse: "N ada se parece tanto ao sono do justo
com o o sono do assassino". M uitos m alfeitores revelaram ,

tom avam com o ponto de partida o arrependim ento dos culpa- ,~


,:' realm ente, arrependim ento,
cálculos hipócritas
m as eram
com que pretendiam
extravagâncias
usufruir as nobres
ou

dos. M as, quem conviveu, ainda por pouco tem po, no m eio
~",,- ilusões dos filantropos, e apagar ou m elhorar as condições
desses infelizes, adquire a certeza de que eles não têm rem orso. 1
presentes.
S egundo E lam e T ocqueville, os piores detentos são os que ik.;
1:'
A ssim , L acenaire, depois da prim eira condenação,
.m elhor se com portam nas prisões, porque tendo m ais talen to
do que outros e por serem m ais bem tratados conseguem 1,.
-~~

,-'
escrevia ao am igo V igouroux, para pedir proteção e dinheiro:
sim ular honestidade.

O s carcereiros dizem que é m ais fácil transform ar um


I:: "Infelizm ente só m e resta o arrependim ento. V ocê poderá
alegrar-se dizendo que reconduziu um hom em do cam inho
do crim e, para o qual não nasceu, pois sem você eu teria
cão num a raposa do que um ladrão num cavalheiro. T om psom L,_ continuado a carreira infam e". P oucas horas depois com etia
observou que, em 410 assassinos 1 só verdadeiram ente estava 1:-:'"
um novo furto e planejava um assassinato. A o m orrer
arrependido, e 2 entre 30 m ulheres infanticidas. E u estudei ~ ;.-

declarou não haver jam ais com preendido o que seja rem orso.
390 deles, não econom izando qualquer m eio para ganhar a ~
confiança, e apenas 7 adm itiram ter com etido delito e 2 se
~j E m P ávia, R ognoni pronunciou no júri palavras com o-
orgulhavam de suas ações. T odos os outros negavam veem en-
~~r ventes que aludiam ao seu arrependim ento. R ecusou vários
",o
tem ente e falavam da injustiça dos outros, das calúnias, da ,-lt ' dias o vinho, alegando que ele recordava o sangue de seu
,,',"

inveja de que foram vítim as. ~ii:..,. irm ão, assassinado por ele. N o entanto, procurava na prisão
l-:~ ~ ~ '
y~ contatos com outros condenados. Q uando alguns destes m os-
U m filósofo m uito m ais célebre do que seus m éritos, o
C aro, escreveu: "V ejam com o os próprios crim inosos acham .-
1" ,- travam repúdio às suas propostas, am eaçava-os com as pala-
vras: "Já m atei quatro, e pouco m e im porto em m atar o quinto".
justa a pena; eles negam o delito m as concordam com a pena".
I~~
O pinião ridícula, ainda m ais absurda. A trevem -se a negar L ê C lerc se declarou arrependido perante o tribunal

um fato de que eles m ~sm os constituem testem unhas dolo- ',I.~."~{


. -'';:~~
..... que o condenou à m orte, e que teria m erecido que lhe cortas-
sem os pulsos, m as andando à execução, balbuciava ao seu
'.'" " - c "'
",,'
.:i" _ ,"
160
.~~>.
. ~~
;::.

J::.,. .•-
, 161
_.,
~

com panheiro: "V eja que fom os traídos porque não desconfia- rou que ainda naquele m om ento lhe vinha a idéia de lascívia
m os devidam ente de B . A h! Se o tivéssem os m atado .... !".
e de vingança. E aludindo ao seu m arido: "Poderia ele perm a-
H á nos tem orsos sim ulados um a desculpa para os deli- ,.+ necer no m eio daqueles que m e odiaram ?"
tos. M ichielin assim justificava o golpe de graça dado à sua
E ncontrei um só caso de verdadeira m etam orfose
. vítim a: "V ê-la naquele estado causava-m e tanto rem orso,
m oral em um delinqüente nato. A peguei-m e à pessoa de
.'
que a em brulhei para não lhe ver o rosto".
L em aire disse: "N ão m e arrependo, a não ser. de não
•. U . M elicone,
subm icrocéfalo,
40 anos, assaltante, com tio dem ente,
olhos turvos, lábios sutis, que após 20 anos
crânio

ter sido hábil em m atar todos (pai e filho). Se depois de conde- de pena teve alucinações religiosas, e se acreditou revestido
nado pudesse divertir-m e e passear, paciência; m as, antes que . ~. .,

de um a m issão em louvor a N ossa Senhora, cuja im agem


trabalhar prefiro m orrer". E recusou advogado, lendo ele pró- lhe aparecia na cela. A dem ência lhe tinha apagado todos
prio sua defesa, que era a apologia do hom icídio. "A gi com ,'-
.•. :,ç.<"
os traços de tendência crim inosa, fazendo dele um apóstolo
'I,'
prem editação, na em boscada. N ão peço indulgência; piedade e filantropo.
será m anifestação de desprezo, por isso a devo repelir". E staria J~~.
. arrependido, portanto, se lhes tivesse deixado m odo de .;y•.
6. N ão sentem , ainda quando com preendem o m al. Idéia
~~- divertir-se. A venain pediu o favor de ser enterrado com
*;.
~~~
~.
L em aire, que tinha falado tão bem .
A lgum a vez a aparência do rem orso (precisam ente a
.~ '
''1('"
..
.: r. \
,~
da justiça, freqüentem ente

N ão raram ente
c~rta

alguns vislum bram a m aldade de suas


7~' som bra que os rom ancistas preferem ) é um efeito de alucina- ações, m as não porque as avalia com o nós. Por exem plo,
t, .'''~~'
ções e ilusões alcoólicas. Philippe e L ucke, logo depois de D om bey escrevia, após seu prim eiro assassinato: "E spero que
,
$
com etido o delito, viam as som bras de suas vítim as; eram
;f'.'>
~ todos m e perdoem essa m aluquice". R ouet, saindo para o
presas dos acessos do alcoolism o e chegou a dizer após a
,~~
"";,$: patíbulo, para onde o levou um assassinato com furto, m ur-
condenação: "Se não m e m andassem a C aiena, teria repetido m urava: "Fazer m orrer um hom em por tão pouco!".
o golpe". ~~,'
Q uando o juiz perguntou a A nsalone: "V ocê não se
A lgum as vezes, o que parece rem orso é apenas o efeito toca de ao m enos haver roubado um cavalo?" R espondeu
do m edo da m orte, ou de um a idéia religiosa que tom a a ela: "C om o ,poderia considerar isto um furto? Poderia um
form a, m as quase nunca a substância do arrependim ento. O chefe de bando andar a pé?".
exem plo talvez m ais clássico, vim os na M arquesa de B rinvi- O utros acreditam que a m alvadeza da ação seja dim i-
lliers, que parecia ao venerando Poirot um m odelo de penitên- nuída ou justificada pelas boas intenções, com o H olland, que
cia, e escrevia nas últim as horas ao seu m arido: "M orro de
m atava para dar o que com er à m ulher e ao filho. O u então
um a m orte honesta procurada por m eus inim igos". Q uem
da im punidade de outros que com eteram crim es piores"espe-
assim declara é um a parricida e fratricida. E quando o confes-
cialm ente se foram cúm plices, ou pela falta de um a determ i-
sor convidou-a a m udar aquela conversa, confessou-se inca-
nada prova ou de sua insuficiência, ou de ser acusado de um
paz de pensar de form a diferente. C onduzida à m orte, decla-
delito diferente daquele realm ente com etido. A contece então

162
163
q u e s e a rre m e tia v io le n ta m e n te
fo s s e e s ta q u e tiv e s s e c o m e tid o
c o n tra
o d e lito .
a ju s tiç a , com o se filó s o fo s d o c rim e e o s la d rõ e s e n riq u e c id o s ,
p ro s titu ta s ,
a s s im c o m o a s
fa z e n d o to d o o p o s s ív e l p a ra q u e s e u s filh o s n ã o
II
O s la d rõ e s d e L o n d re s , o b s e rv a M a y h e w , a c re d ita m que o s s ig a m n a tris te c a rre ira . Q u e m a is ? H á o s q u e a in d a p re -
n ã o c a u s a m m a is m a le fíc io d o q u e o s fa lid o s . A c o n s u lta c o n - v e n d o a s p e n a s n ã o s ó a s o lh a m c o m d e s d é m , m a s a s to m a m
tín u a d o s p ro c e s s o s c rim in a is e d o s jo rn a is o s p e rs u a d e de c o m o ra z ã o d a m a is re fin a d a c ru e ld a d e .
que há tra ta n te s ta m b é m n a a lta s o c ie d a d e . P o b re s c o m o R a ffa e le P e rro n e , ju n to c o m s e u irm ã o F o rtu n a to , se
s ã o d e in te lig ê n c ia c o n fu n d e m a re g ra c o m a e x c e ç ã o , e d e d u - a lte rc a n d o c o m u m ta l F ra n c h i, g o lp e a ra m -n o a m a rte la d a s .
z e m d is s o n ã o p o d e r s e r m u ito m a ld o s a u m a a ç ã o q u e é c o m e - R a ffa e lle v e n d o q u e a v ítim a a in d a d a v a s in a is d e v id a , p is o -
tid a p o r ric o s e p o r is s o n ã o b a s ta ria p a ra c o n d e n á -lo s . E s c re - te o u -o d iz e n d o : " V o c ê n ã o e s tá m o rto ? T a n to q u e d e v o p e g a r
v e u o a s s a s s in o R a y n a l n o s e u liv ro Desgraça e Sorte: "S abendo p o r v o c ê 2 5 o u 3 0 a n o s d e g a le ra , e n tã o q u e ro a c a b a r c o m v o c ê !"
que 3 /4 d a s v irtu d e s s o c ia is s ã o v íc io s m e d ro s o s , c re m o s ser
N ã o é o c rité rio , n e m a c o n s c iê n c ia d a v e rd a d e , n e m o
m e n o s ig n ó b il o a s s a lto b ru s c o a u m ric o d o q u e a c o n d e n a ç ã o
s e n tim e n to ju ríd ic o , e m s u m a , q u e fa lta s e m p re a e le s , s e
c a u te lo s a d a fra u d e . D ife re n te d e m u ito s q u e m is tu ra m a
b e m q u e s e re v e la a a titu d e d e c o n fo rm a r-s e a e s te c rité rio .
p ro b id a d e d e le s à e s p e s s u ra d o c ó d ig o , n ã o q u e re n d o a d a p ta r
D is s e H o rw ic k : "U m a c o is a é te r c o n h e c im e n to te ó ric o de
a m in h a in te lig ê n c ia à m a la n d ra g e m , m e fiz b a n d id o " .
u m fa to , o u tro é a g ir e m c o n s e q ü ê n c ia ; p o rq u e o c o n h e c i-
O la d rã o G ia c o s a d iz ia q u e h á d u a s ju s tiç a s n o m u n d o : m e n to s e tra n s fo rm a e m d e s e jo v o lu n tá rio , c o m o o s a lim e n to s
a " n a tu ra l" , o u s e ja , a q u e p ra tic a v a quando d a v a a a lg u n s e m c a rn e e s a n g u e , o q u a l re q u e r u m fa to r: o s e n tim e n to ; e
p o b re s u m a p a rte d o s o b je to s ro u b a d o s , e a " c o m p o s ta " , is to e s te fa lta n e le h a b itu a lm e n te .
é , a p ro te g id a p e la le i s o c ia l, a q u e e le n ã o lig a v a .
Q uando s ã o re u n id o s e q u e s ó o s e n tim e n to d e le s n ã o
T o d a v ia , é m is te r c o n v ir q u e a id é ia d o ju s to e d o in ju s to s e o p o n h a , m a s te n h a u m d ire to in te re s s e (v a id a d e s a tis fe ita ,
n ã o é a p a g a d a , p le n a m e n te , e m to d o s o s d e lin q ü e n te s , m as m a io r s e g u ra n ç a ) p a ra fa z e r triu n fa r a ju s tiç a , e n tã o a p lic a m
e s ta s e to rn a e s té ril, p o rq u e é m a is c o m p rim id a n a m e n te do a e n e rg ia que usam p a ra fa z e r o m a l. E m u m a re u n iã o de
q u e é s e n tid a n o c o ra ç ã o e é s e m p re s u fo c a d a p e la p a ix ã o e jo v e n s la d rõ e s , p ro m o v id a e m L o n d re s p o r u m filó s o fo d o
p e lo h á b ito . c rim e , fo ra m s a u d a d o s c o m p a lm a s e a p la u s o s o s re in c id e n te s
P re v o s t, fa la n d o d o a u to r a in d a d e s c o n h e c id o dos ho- d e 1 0 a 2 0 v e z e s . U m la d rã o c o n d e n a d o p e la v ig é s im a v e z fo i
m ic íd io s c o m e tid o s , d iz ia : " A e s te a g u ilh o tin a não deve a c o lh id o c o m o h e ró i e m triu n fo . P o ré m , q u a n d o o p re s id e n te
fa lta r" . L e m a ire d iz ia : " S e i q u e fa ç o m a l; s e a lg u é m v ie s s e a e n tre g o u -lh e um a m oeda d e o u ro p a ra tro c a r e m d in h e iro
m im e m e d is s e s s e q u e fa ç o b e m , e u lh e re s p o n d e ria : "você é n o b a n c o , m a s o h e ró i n ã o re to rn o u . A in q u ie ta ç ã o e ra g ra n d e
u m c a n a lh a c o m o e u , m a s n ã o p o r is s o , s e g u iria o b o m c a m in h o " . e c o m e ç a ra m a g rita r e m c o ro : " S e n ã o v o lta r, n ó s o m a ta -
N o ta -s e q u e a s m e re triz e s re p e le m a le itu ra d e liv ro s re m o s , m a s e le re to rn o u c o m a s o m a d e v id a , p a ra a le g ria g e ra l.
obscenos, com o os condenados à p ris ã o re p e le m o s re la to s E s te la d o b o m d a s p a ix õ e s d e le s p o d e c o lo c a r-n o s no
d e a ç õ e s in ju s ta s o u in fa m e s . U m a p ro v a q u e m u ito s c o m p re - c a m in h o p a ra o b te r a m e lh o ria d o d e lin q ü e n te , to m a n d o -o
endem s e r d o m a u c a rií.'in h o , n ó s a te m o s ta m b é m ao ver os p e lo la d o d a p a ix ã o e d o c a p ric h o m a is d o q u e d o la d o d a

164 165
3;~'1'
'". .,:',;!J-~
.•"':,
~!ti
•.. ,
.. '. ~
••
-' ..•~ ...• .
razão; m ais com a com oção, com a estratégia dos sentim entos
do que com a ginástica intelectual ou com a catequização
...
~.t"'~
."~'
,'~ .. m ulta em dinheiro. A cabra não se paga em dinheiro m as com
sangue, disse o condenado encarregado de neo-jurista. Em
pedantesca, com o se faz (com desperdício de tem po e de seguida, com golpes furiosos de pedra e estilete m atou-o e jogou
dinheiro) nas prisões. o cadáver pelos despenhadeiros da ilha. A cabra, colocada
A ssim , A nderson, condenado perigoso, considerado in- no m eio do pátio, serviu de terrível exem plo aos ladrões.
corrigível, tornou-se um cordeiro quando M oconoch o em - D ois am igôs de Sabbia tiveram a vida poupada a m uito custo
pregou para dom ar touros selvagens, e retornou a ser o terror porque dem onstraram isenção de cum plicidade no furto.
,-~
da colõnia penal quando foi reconduzido à cadeia e ao ócio. % ;;~
U m certo C entrella, acusado de ter posto a m ão no
;,
Em M oscou, colocaram para julgar os atos dos delinqüentes, ~ -~
que não era seu, tendo provado lum inosam ente seu álibi, foi
l~
os próprios com panheiros, e foram encontrados vereditos de ~tMilt".o.o absolvido depois de longa detenção, m as foi expulso da com is-
fazer corarem os nossos jurados. U m a vez, tendo com etido ~
.( são legislativa, da qual era m em bro, pois que essa com issão
, pequeno furto um delinqüente jovem instigado por um velho _;<t~\
<+'.:i'<'
não queria que um seu m em bro tivesse sido posto sob suspeita
ladrão, foi ele condenado a 40 chibatadas e o velho ladrão a 80. ~:~~~
por ter infringido o código de honra.
;:.~. O s ladrões de Londres são exatíssim os nas repartições, ,.~ 4;
.•...;

.'
-p.
e quando alguém se m ostra infiel é m orto ou denunciado
polícia. N a Ilha de Santo Estevão, em 1860, os condenados,
à """,
;:,'t""
':,rt 7. Injustiça recíproca
;l:'<'i'••
..;
c' ''''~.,

~-- ;,~
deixados a si m esm os, para não correr O perigo de m orrerem '~
N ão é que essa espécie de m oral e de justiça relativa,
i&;:' ,'.:~~'
.~ :
de fom e com o furto das escassas provisões e de serem truci- saída de im proviso no m eio de um a coletividade injusta seja
'I;" .~
dados todos pelas lutas intestinas entre puglieses e calabreses, ~ '::)~ forçada e efêm era. Q uando, em vez de ser favorecido, for
, :t{
~,
lutas que um a custódia regular não poderia m oderar, form u- prejudicado o interesse de alguém , ou se a desordem provoca
laram um código draconiano com posto pelos chefes dos parti-
dos rivais que foi aplicado por estes últim os com extraordi- ~-
,
,. ~
paixão, então este critério de verdade, que não se apóia no
senso m oral, chega rapidam ente.
nária severidade. A ssim , Pasquale O rsi, por um leve furto de A o contrário do que m uitos crêem , os delinqüentes,
'I",f
farinha, foi condenado a 50 chicotadas e trinta dias de restrição. ., ''''-'''!<'-~ na m aioria das vezes, faltam à lealdade com os próprios com -
.t""i-.•
U m outro,
com panheiro
que tinha roubado
foi condenado
duas bengalas de um
a girar por toda a ilha com essas '.a:
:,o'
panheiros e até com os cúm plices da m esm a fam ília, Enquan-
to eles acham ignóbil e infam e a delação, quando conseguem ,
bengalas am arradas no corpo. Era condenado à m orte quem ~~i,;.,. a dano de outrem , por um a dessas contradições que se observa
m atasse um com panheiro, quem som ente am eaçasse e ofen- ;~ : m uitas vezes no coração hum ano, não hesitam em delatar os
-desse a pessoa e o patrim ônio dos guardas ou dos "ilhéus". ,.:~, outros. O que é um instrum ento precioso para a justiça, é
Essa norm a salvou a honra das m ulheres e a vida dos guardas, ,!t um a das causas das contínuas turbulências e das vinganças
e foi a causa da m orte de vários condenados.
.~l=, que ocorrem nas prisões.
Por exem plo, um tal de Sabbia tinha roubado um a ca- Esses delatores agem para m elhorar um pouco a sua
bra. D escoberto, pregáva em vão de pagar o crim e com um a posição ou para piorar a inveja dos outros, e não serem os

166 167
ú n ic o s a s o fre r, o u p a ra v in g a r-s e d e u m a v e rd a d e ira o u im a g i- v in te s e q u a z e s . F u z ilo u o irm ã o p o r te r d e m o lid o u m c a s e b re
n á ria d e la ç ã o . O c é le b re c h e fe a s s a s s in o H a a s d e c la ro u que s e m s u a o rd e m .
e le a rre b a n h a v a c ú m p lic e s e x a ta m e n te p a ra n ã o s e r, n o c a s o
N esse m esm o s is te m a a d o ta d o p e lo s p re s id iá rio s de
d e s e r d e s c o b e rto e p re s o , c o n d e n a d o s o z in h o . N o p ro c e s s o
S a n to E s te v ã o , u n s c a u s a ra m fe rim e n to s a o u tro s , p o r v in -
A rtu s , e m B e llu n o , e ra h o rrív e l v e r o s filh o s la d rõ e s d e p o re m
gança, te n d o o c a s io n a d o fa m o s o p ro c e s s o . P re c is a m e n te o
c o n tra o p a i, a p o n ta n d o a s c irc u n s tâ n c ia s m a is a g ra v a n te s ,
c h e fe d e s s a e s tra n h a c o m is s ã o " ju ríd ic a " , p a ra v in g a r-s e d e
in v e n ta n d o a té fa ls id a d e s .
u m c e rto F e d e le , q u e , c io s o d e s u a fo rç a m u s c u la r, m o s tra v a -
E n tre o s la d rõ e s , e s c re v e V id o c q , p o u c o s há que não
s e p o u c o re s p e ito s o , a p u n h a lo u -o c o m a p ró p ria m ã o , p ro i-
c o n s id e ra m um a s o rte s e r c o n s u lta d o p e la p o líc ia . Q uase
b in d o a u m a p a tru lh a q u e o s u rp re e n d e ra n a p rá tic a d o c rim e ,
to d o s s e d e s d o b ra m e m q u a tro p a ra d a r a e la p ro v a d e z e lo .
d e d a r n o tíc ia a a lg u é m . T ã o frá g il e in c o n s ta n te é n o s m a lfe i-
O s m a is z e lo s o s e ra m o s q u e m a is tin h a m a te m e r p o r p ró p ria
to re s e s ta h o n e s tid a d e re la tiv a , e s s a p s e u d o ju s tiç a , que nasce
c o n ta . A lé m d o m a is , o s la d rõ e s n ã o tê m in im ig o s m a is c ru é is
s ó d e u m m o m e n tâ n e o in te re s s e o u d e u m a fu g a z p a ix ã o ,
d o q u e o s a n tig o s c o n d e n a d o s , q u e a p lic a m o m á x im o c u id a d o
m a is v io le n ta , m a s m e n o s ig n ó b il.
n a p ris ã o d e u m a m ig o . N a fa lta d e fa to s v e rd a d e iro s , são
c a p a z e s d e im a g in a r o u tro s , e , o q u e é m a is e s tra n h o , são ca-
p a z e s d e a trib u ir a o s o u tro s o s p ró p rio s d e lito s , m esm o com 8 . C o m p a ra ç ã o com o s d e m e n te s

o ris c o d e e le s v a le re m c o n tra si m esm os.


S e n ó s c o m p a ra rm o s a m o ra l d o s d e lin q ü e n te s com a
A e s te re s p e ito , u m a c e rta B a illy e u m c e rto O n a s te d o s d e m e n te s , e n c o n tra re m o s c u rio s a s d ife re n ç a s e a n a lo g ia s .
fo ra m c o n d e n a d o s trê s v e z e s p o r d e lito s q u e tin h a m d e c la ra d o O d e m e n te m a is ra ra m e n te n a s c e m a ld o s o e im o ra l. E le a s s im
c o m o s e n d o d o s o u tro s . O s la d rõ e s d e L o n d re s , q u e ta n to se s e to rn a e m u m a d e te rm in a d a é p o c a d a v id a , s e g u in d o -s e a
re v o lta m c o n ta o s d e la to re s , s ã o o s p rim e iro s a tra íre m -s e um a doença que m uda o u m o d ific a o s e u c a rá te r, e que o
u n s a o s o u tro s . L a c e n a ire , a o d e n u n c ia r o s s e u s c ú m p lic e s , a s s e m e lh a a o c rim in o s o . E le s e n te a lg u m a s v e z e s re m o rs o ,
a p o n ta v a c irc u n s tâ n c ia s q u e p o d ia m c a u s a r d a n o s a e le p ró - o rg u lh a -s e d e s e u s d e lito s , o u d e c la ra s e n tir-s e c o n s tra n g id o
p rio , B o u s c a u t fe z p re n d e r to d o s o s c o m p a n h e iro s d o s fa m o - .à v id a to rta , m a lg ra d o s u a v o n ta d e . S e c o m e te u m d e lito ,
s o s b a n d o s d e in c e n d iá rio s d a F ra n ç a . C a ru s o fo i n o s s o a u x ílio re c o n q u is ta , q u a s e p o r u m a c ris e re m o ta , a lu c id e z d e id é ia s
m a is ú til c o n tra o s b a n d id o s ; por pouco não causou a p ris ã o e o s e n s o d o ju s to , q u e o le v a a c o n fe s s a r n o s trib u n a is , n ã o
d e C ro c c o . c o m o c in is m o d o d e lin q ü e n te m as com a expansão de peca-
B u rk e , p e rg u n ta d o p o r H a re c o m o fa ria s e fa lta s s e m as d o r a rre p e n d id o .
v ítim a s , re s p o n d e u : " E m to d o c a s o , re s ta m n o s s a s m u lh e re s
O q u e d is s e m o s a c im a p a re c e s e r o c a s o d e V e rg e r, d a
e n o s s o s c ú m p lic e s " . D o s n o s s o s c h e fe s d e b a n d o , que eu
A .R ., d e L iv i, d e D o s s e n a d i B iffi. E le s s e p u s e ra m s o b o m a n to
s a ib a , s ó S c h ia v o n e tra ta v a c o m ju s tiç a o s s e u s p o u c o h o n ra -
~' d o s c o m p a n h e iro s d a p ris ã o o u d o s a d v o g a d o s , d is s im u la ra m
d o s s u p e rv is io n a d o s . O s d e m a is e ra m p re p o te n te s e in ju s to s ", ,. o p ró p rio d e lito (V e rz e n i, F a rin a ), n ã o e x p u s e ra m nunca a
c o m o s p ró p rio s c ú m p ,h c e s . C o p p a , p o r le v e fa lh a d e g o lo u
"ISt,' h a b ilid a d e n e m a te n a c id a d e d o d e lin q ü e n te h a b itu a l.

168 :~~
':'~ 'f"t":;: 169
",i,~,
'-~;fttt'
Q uem m a ta p o r u m a v io le n ta com oção d e â n im o , e n - E m T a iti, o in f a n tic íd io e r a q u a s e u m c o s tu m e r e lig io s o ,
q u a n to s e to r n a com um a im p r e v id ê n c ia d e to d o a c o n te c i- c u ja s m ã e s m a ta v a m c e r c a d e d o is te r ç o s d e s e u s f ilh o s . O s
m e n to f u tu r o , d if e r e p e lo s ú b ito a r r e p e n d im e n to que se segue p a ta g ô n io s c o s tu m a m a lim e n ta r - s e d a p e r n a d o s in im ig o s , e ,
a o d e lito e p e lo d e s e jo d e d a r u m d e sa fo g o com o f a to de quando h á f a lta d e s te s , pegam a s m u lh e r e s m a is v e lh a s d a
d e n u n c ia r - s e à ju s tiç a . tr ib o , su fo c a m -n a s n a fu m a ç a e as com em to ta lm e n te . Os
bechuanos quando q u e re m p re n d e r u m le ã o n o la ç o , d e s s e s

9 . C o m p a ra ç ã o com o s s e lv a g e n s que a p r e c ia m a c a rn e hum ana, jo g a m n a fo ssa c o m o is c a


u m a m u lh e r e u m m e n in o .
N enhum r e m o r s o p o r é m a p r e s e n ta o hom em s e lv a g e m ;
e s te n o r m a lm e n te s e g a b a d e s e u s d e lito s . P a r a e le , a ju s tiç a é
1 0 . O r ig e m p ro v á v e l da ju s tiç a
s in ô n im o d e v in g a n ç a , d e f o r ç a . P a r a o s g a u le s e s (C é sa r: D e
B e llo G a llic o ) , o s f u r to s c o m e tid o s f o r a d a c id a d e n ã o r e p r e s e n - C e r ta m e n te f o i s ó d o d a n o g e r a l c a u s a d o p e la p r e p o tê n -
ta v a m in f â m ia . E n tr e o s a lb a n o s o h o m ic íd io n ã o é d e lito ; f o r te c ia d e p o u c o s q u e d e v e te r n a s c id o a p r im e ir a id é ia d a ju s tiç a
q u e r d iz e r ju s to , e d é b il q u e r d iz e r f e io . S c h ip e ta r o se gabava e d a le i. N e s te a s p e c to , o c u r io s o c ó d ig o in v e n ta d o p e lo s
d e h a v e r r o u b a d o , c o m o s e tiv e s s e p r a tic a d o u m a a ç ã o h e r ó ic a . p r e s id iá r io s d e S ã o E s te v ã o , p e la g r a v id a d e d a s p e n a s re c o rd a
O s s c ió ia s o lh a m o v íc io c o m o s e f o s s e v ir tu d e ; o h o m ic íd io m u ito bem a s le is m e d ie v a is e a dos povos p r im itiv o s . Por
c o m r a p in a é u m m e io d e s e d is tin g u ir . N a s d a n ç a s , n a s f e s ta s , e le , p o d e - s e m o s tr a r p o r q u a l s é r ie d e e v e n to s n e c e s s á r io s
o g u e r r e ir o c o n ta o s a s s a s s in a to s c o m e tid o s e s e c o b r e d e g ló r ia s . tin h a m s a íd o o s c ó d ig o s dos povos b á rb a ro s, com o r e v e la

A a n tr o p o f a g ia é u m d o s c o s tu m e s m a is c o m u n s dos u m n o v o p o n to d e a n a lo g ia e n tr e o s s e lv a g e n s e o s d e lin q ü e n te s .

s e lv a g e n s . O hom em n a s I lh a s F e e g e é r e f e r id o com o lo n g o
p o r c o . N a A u s tr á lia , O b f ie ld n ã o e n c o n tr o u s e p u ltu r a de m u-
lh e r e s e c o n c lu iu d is s o q u e o s p a is e o s m a r id o s a s m a ta v a m
a n te s q u e f ic a s s e m v e lh a s e m a g r a s , e d e m a u s a b o r . P o u c a s
d e la s f o r a m e n c o n tr a d a s v iv a s , s e m q u e e s tiv e s s e m m a rc a d a s
d e c ic a tr iz e s p e lo c o r p o .

N a lín g u a d o s p e r u v ia n o s " m ir c a " s ig n if ic a c o m e r o s p r ó -


p r io s p a is . N a m ito lo g ia d e le s h a v ia u m d e u s p a r a o s p a r r ic i-
d a s a n tr o p ó f a g o s : " m ir c ik - c o y llo n " . O h a b ita n te da N ova Z e-
lâ n d ia u s a u m a h o r r ív e l p a la v r a , q u e , tr a d u z id a s ig n if ic a m a ta r
u m a c r ia n ç a n a s v ís c e r a s d a m ã e , p a r a d e p o is c o m ê - la . E n tr e
o s f e e g is , m a ta r o s g e n ito r e s é u m c o s tu m e . O s f ilh o s , q u a n d o
c r ê e m c h e g a d o o te m p o , d ã o o a v is o a e le s , e d e p o is , e m c o m -
p a n h ia d o s p a r e n te s , m a ta m ;n o s e m o n ta m u m a la u ta m e s a .

170
171
"I~

II l
'I
I
I
11

; 11
".~I

14. J A R G Ã O (G ÍR IA )

1. A tributos substitutos - 2 . D ocum entos históricos


,3. D esfiguração de palavras - 4 . P alavras estrangeiras

i
5. A rcaísm os - 6 . C aracteres e índole das gírias - 7 . D ifusão
8. G ênesis do jargão - 9. G íria em sociedades
10. C aracteres: extravagâncias - 1 1 . C ausa: contato
1
12. C ausa: tradição - 1 3 . C ausa: atavism o

I
14. C ausa: prostitutas - 15. D em entes

i
I
iI'
1 . A trib u to s

U m
m a z e a s s o c ia d o ,
s u b s titu to s

d o s c a ra c te re s

é o u s o d a lin g u a g e m
p a rtic u la re s
c o m o a c o n te c e

to d a
d o d e lin q ü e n te
se m p re n o s g ra n d e s

p a rtic u la r, em que o lé x ic o
c o n tu -
c e n tro s ,

é m u-
I
i
dado c o m p le ta m e n te , e n q u a n to n o c o s tu m e g e ra l, o tip o g ra -
t
I m a tic a l e s in tá tic o c o n se rv a -se ile s o . E s ta m u ta ç ã o vem de
v á rio s m odos. O m a is p ró x im o e c u rio s o , e que a p ro x im a a
~ g íria à lín g u a p rim itiv a , é o d e c h a m a r o o b je to p e lo s s e u s a tri-

'n
b u to s , c o m o " s a lta d o r" p o r c a b rito , " m a g ra " o u " c e rta " a m o rte .
!7 .
" O ja rg ã o é que a u x ilia o filó s o fo p a ra p e n e tra r nos se-

~ .- - > g re d o s do â n im o dessas in fe liz e s c ria tu ra s , m o s tra n d o -n o s ,

"":
1;1, ;"

:f:v
173

d.'-
',. .- ,

"',-.'~. .- - .....,
;. .
.r",'"r,.,o,","~ .:"
p o r e x e m p lo , q u e id é ia s e f a z d a ju s tiç a , d a v id a , d a a lm a e d a
a g ír ia n ã o e v ita a lo n g á - lo ; com a in te r c a la ç ã o d e a lg u m a
~"
m o r a l. A a lm a , d e f a to , é c h a m a d a d e " f a ls a " , a v e r g o n h a de
s íla b a , s e g u n d o n o r m a s f ix a s ; is s o a lo n g a s e m p r e a p a la v r a .
"v e r m e Iho n a "11
e s a n g u m. o s a , Ilu""é
veu o c o rp o , "1"1
ve oz a ua. i,~
I' A te n d ê n c ia m a is c o m u m é , p o r é m , a d e a b r e v ia r .
O advogado é cham ado d e "b ra n c ã o ", c o m o a q u e le q u e d e v e
"
"
I
lim p a r a c u lp a d e le s . !

A lg u m a s v e z e s , a tr a n s f o r m a ç ã o
e m p r o c e s s o q u e s e p o d e r ia d iz e r d e " s e m e lh a n ç a
m e ta f ó r ic a c o n s is te
d e rru b a d a ",
f~
I.
4 . P a la v r a s e s tr a n g e ir a s

A s p a la v r a s e s tr a n g e ir a s s ã o f o n te v a s ta d o lé x ic o : h e -
c o m o p o r e x e m p lo , " s a b e d o r ia " p o r s a l, p o r in f lu ê n c ia do sen- J~ b r a ic a s n o ja r g ã o g e r m â n ic o ; a le m ã e s e f r a n c e s e s n o s ita lia -
tid o d e lín g u a s a lg a d a d o s m a le d ic e n te s , p r ó p r ia d o s d e lin - n o s ; ita lia n o s e c ig a n o s n o s in g le s e s . A lín g u a h e b r a ic a , ou
q ü e n te s ,m a is r ic o s d e e s p ír ito d o q u e d e ju íz o . O u tr o e x e m p lo m e lh o r , a ju d ia , d e u a m e ta d e d a s p a la v r a s d o ja r g ã o h o la n d ê s
é a lo c u ç ã o " e n g o lir u m p e r iq u ito " , s ig n if ic a n d o to m a r um e c e r c a d e u m q u a r to d o a le m ã o : e u c o n te i 1 5 6 n o c o n ju n to
g o le d e a b s in to , le m b r a n d o a a lu s ã o à c o r , já q u e a m b o s s ã o de 700.
v e rd e s. A s m e r e tr iz e s re c e b e m o nom e d e " h o te l" , a lu s ã o a
q u e to d o s p o d e m usar desde que paguem .
5 . A r c a ís m o s
j~'
~l'J'':;''
2 . D o c u m e n to s h is tó r ic o s ":r«< O m a is c u r io s o c o n tin g e n te d o s ja r g õ e s é d a d o p e la s
c: .~.
1."
~ p a la v r a s a n tiq u a d a s e p e r d id a s c o m p le ta m e n te n o s lé x ic o s
J.

".
".
L
d a lh a
À s v e z e s , a m u d a n ç a d e n o m e c o n s titu i v e r d a d e ir a
h is tó r ic a q u e m e r e c e r ia f ic a r n a lín g u a com um ,
m e-
em I "
v iv o s . U m avanço a r c a ic o
h ie r ó g lif o s é o te r m o " s e r p e n te "
q u e re c o rd a a té o s te m p o s
p a r a d e s ig n a r " a n o " , c o m o o
dos

p a r te consegue. M u ita s e x p re ssõ e s d a lín g u a d e m a la n d r o s s á b a d o é o " d ia d o v e lh o " e te r r a é " m ã e " ; e a in d a " b r e v iá r io "

~.
p e n e tr a m n a lín g u a e r u d ita . M u ita s p a la v r a s f o r a m c r ia d a s , p o r le tr a .
com o e n tr e o s s e lv a g e n s , p o r o n o m a to p é ia , com o " tiq u e -
ta q u e " , d e s ig n a n d o r e ló g io . O u tr a s tr a n s f o r m a ç õ e s c o n s is te m j..
6 . C a r a c te r e s e ín d o le d a s g ír ia s
e m a u to m a tis m o s r e s u lta n te s d e r e p e tiç ã o d e s íla b a s , c o m b i-
~."
. n a d o s c o m s u p r e s s õ e s , m e tá te s e s e o u tr a s . '!•.••
E s s e s a r c a ís m o s s ã o ta n to m a is s in g u la r e s quando se
;.'1

'~
.. p e n sa n a g ra n d e m o b ilid a d e e m u ta b ilid a d e d a s e x p re ssõ e s
I~;. d e g ír ia . P o r is s o v i e m P a v ia e T o r in o in tr o d u z id a s e m udadas
3 . D e s f ig u r a ç ã o d e p a la v r a s ~.i
g r a n d e q u a n tid a d e d e s ig n if ic a d o s , c o m o p o r e x e m p lo , " g r ã "
O u tr a f o n te d e s s e lé x ic o v e m d a d e s f ig u r a ç ã o f o n é tic a
p o r la d r ã o , " m ic h ig o " p o r r a p a z , " p ila a " p o r d in h e ir o , " s p ig a "
d a s p a la v r a s , m a is f r e q ü e n te m e n te por um d e sse s g ra n d e s
p o r r u a , " g ia n " p o r s o ld a d o . É im p o r ta n te n o ta r a e s tr a n h a
p rõ c e sso s q u e o g ra n d e M a r z o lo c h a m a v a d e f a ls a r e d u ç ã o
r iq u e z a d e s in ô n im o s p o r c e r to s o b je to s q u e m a is in te r e s s a m
e tim o ló g ic a . O u tr a s d e f o r m a ç õ e s s ã o d e v id a s p e la ju n ç ã o de
a o s d e lin q ü e n te s , e a s s im s e r e v e la o ín tim o d o â n im o d e le s .
d e s in ê n c ia s a u m e n ta tiv a s , e p r in c ip a lm e n te p e jo r a tiv a s .
A s s im C o u g n e t e R ig h in i e n c o n tr a r a m 1 7 p a la v r a s p a r a d e s ig -
Q uando s e tr a ta d e e s c < ;> n d e ro s ig n if ic a d o d e u m v o c á b u lo , n a r " g u a r d a ! O u " p o lic ia l" .

174
175
:1

o jargão. francês tem 44 sinônim as de em briaguez, 20


de beber e 8 de vinha, enquanto. tem 19 para água e 36 para
arigem . A explicação., ao. m enas pelas m uitas sem elhanças
idealógicas, está na analagia das candições. R ealm ente, a
I
dinheiro. O s delinqüentes têm necessidade de bans alhas (e jargão. das tugs indianas apresenta cam pleta sem elhança
nós vim as que têm alheiras m ais capazes). Par isso. cham am ideológica cam as nassas, e está excluída claram ente toda
as alhas de "ardentes", "m iragem " e autras. H á tendência relacianam enta deles cam as nassas velhacas.
para anim alizar, bestializar as cais as hum anas: pele é "cauro, Q uanta à sem elhança fanética, m ais rara~ cantribui a
baca é "bica", braça é "asa". M algrada tanta sinaním ia e tanta cantínua m abilidade das crim inasas, que, au para fugir à Jus-
transferência de sentida, m algrada não. esteja sujeito a can- tiça e para surpreender suas vítim as, au par um a verdadeira
troles, m algrada às m últiplas fantes de que deriva, lange de paixão. de vagabundagem , m udam sem pre de residência, e
ser rica, a jargão. é pabre. O trabalha de purificação. que num a im portam as expressões de um país em autro.
língua vem , em parte, por abra da autoridade canstituída e
recanhecida, academ ias, literatos, professores, que se cum pre
8. G ênesis da jargão.
só pela usa, par um a espécie de seleção. feita na seu vaca-
bulária. M uitas lacuções têm vida efêm era, e, nascida de um Tadas explicam a arigem da jargão. da m alandro cam a
capricho. au de um a circunstância, m arre cam esta. C ausa necessidade de fugir às investigações paliciais. C erta é que
tam bém da pabreza e da carência das idéias está na im beci- esta fai a principal causa, especialm ente pela inversão. das
lidade das delinqüentes, m ais ricos de espírita da que de talento. palavras que tenham usa m uito camum e na canstituiçãa de
" nam es cam pronam es diferentes, cama "m am ãe" par eu. N a
7. D ifusão. dialeto sarda, a jargão. se cham a "cabertanza".
Se a jargão. não. far a gênese espantânea, certam ente a
O utro caráter curiasa da jargão. é a am pla difusão.. En-
arganism a e a natureza têm sem elhança cam as línguas e as
quanto. tada região. da Itália tem dialeto. própria e um calabrês
dialetas; estes são. farm adas e deform adas par si m esm as, de
não. pade cam preender a dialeto. Lam barda, as ladrões da
acarda cam a lugar; a clim a, as castum es e autros canta tos.
C alábria usam a m esm a léxica usada na Lam bardia. A ssim ,
E assim as jargões não. são., cama se crê, um fenôm eno. excep-
as dais cham am a vinha de "clara", a pão. de arton, cam isa cianal m as universal. Tadas as profissões têm seu jargão. pró-
de "lim a". O jargão. de M arselha é igual ao. de Paris. Esse
pria, que, da aplicação. técnica, se estende a autras de qual-
fato, se é fácil de ser cam preendida na A lem anha e na França,
quer natureza. Par exem plo., um m édica nas dirá que a am ar
é bem m enas cam preendida na Itália, principalm ente na Itália
é um vício.cardíaca, um quím ica que seu am ar está a 40 graus.
de alguns anas atrás, dividida par barreiras palíticas e al-
fandegárias.
9. G íria em saciedades
A analagia é m ais estranha quando. se vê estender-se
entre pavas diversas: a italiana e a alem ão. cham am de "bran- A tendência para farm ular um jargão. própria se vê nas
quinha" e "blanker" a neve, tanta que B arrow chegau à dúvi- indivíduas detidas num a m esm a aperaçãa crim inasa, m or-
da de que tadas as lingua'gens ardilasas devem ter a m esm a m ente se hauver algum equívo.ca, e m ais naqueles canstrangi-

176 177
d o s a u m a v id a n ô m a d e ou a um a d e te n ç ã o te m p o r á r ia e g e m e m c ir c u la ç ã o e e n a lte c ê - la . E la é e s tim u la d a p e lo e s p ír ito
s u b m e tid o s a s u je iç ã o , o u e m f a c e d o p ú b lic o . C o m a lin g u a - e p ig r a m á tic o e ir ô n ic o , q u e s e c o m p r a z c o m a s q u e v a i e n c o n -
g e m e s p e c ia l a f ir m a m a p r ó p r ia v id a c o m u m ; o u s e s u b tr a e m tr a n d o , ta n to m a is quando s e ja m e s tr a n h a s , obscenas e
à v ig ilâ n c ia d e o u tr e m . A s s im e n c o n tr e i, n u m a m e s m a c o le ti- e x tr a v a g a n te s .
v .id a d e , u m a g ír ia d e f a x in e ir o s , o u tr a d e v in h a te ir o s , dos
A te n d ê n c ia à s tr a n s f o r m a ç õ e s f o n é tic a s , c o m o s e v iu
lix e ir o s , d o s p e d r e ir o s , g ír ia a n á lo g a e f r e q ü e n te m e n te id ê n -
n o s e x e m p lo s a q u i r e f e r id o s , é q u a s e s e m p r e ir ô n ic a e b o b a .
• tic a à d o s c r im in o s o s .
P o ré m , a ir o n ia s e m a n if e s ta ta m b é m com r e la ç ã o à id é ia
Q u a n to s n ã o d e v e m s e n tir im p u ls o d e f o r m u la r e m u m a s e m im p lic a ç ã o c o m a p a la v r a , n e m c o m a h o ~ o f o n ia , nem
lin g u a g e m p a r tic u la r a s p r ó p r ia s id é ia s , u m a g e n te q u e te m c o m a p r o x im a ç ã o f o n é tic a . E ssa p ro p e n sã o q u e s e v ê n o la d o
h á b ito s , in s tin to s tã o e s p e c ia is e que ta n ta s pessoas tê m a r id íc u lo d o s f a to s é c o n s e q ü ê n c ia d o h u m o r h ilá r io e e x tr a v a -
te m e r e a e n g a n a r! A c r e s c e n te - s e q u e e s s a g e n te se re ú n e g a n te , q u e c o n s ta ta m o s n o s o c io s o s e v a g a b u n d o s , c la s s e d e
se m p re nos m esm os c e n tr o s , p r is õ e s , p r o s tíb u lo s , h o té is , e in d iv íd u o s em que s e r e c r u ta m ta n to s d e lin q ü e n te s e que
n ã o a d m ite m s o c ie d a d e c o m a q u e le s q u e n ã o te n h a m a m es- s ã o o s v e r d a d e ir o s d iv u lg a d o r e s d o ja r g ã o . D a m o s e x e m p lo s
m a te n d ê n c ia . U n s c o m o u tr o s s e c o n f r a te r n iz a m c o m im p r e - d e a lu s õ e s ir ô n ic a s n a s q u a is a m e n te não f o i g u ia d a p e la
~ v id ê n c ia e f a c ilid a d e e x tr a o r d in á r ia s , e n c o n tr a n d o e x a ta - a n a lo g ia d o s o m , m a s d a r e la ç ã o d e id é ia s .
'.", m e n te n a g ír ia u m a f o r m a d e r e c o n h e c im e n to , u m a p a la v r a
~.
~
d e o r d e m . S e n ã o u s a s s e m s e u ja r g ã o , a n e c e s s id a d e de expan- 11. C ausa: c o n ta to
1:: d ir - s e tu m u ltu o s a m e n te , q u e é u m a d a s c a r a c te r ís tic a s d e le s ,
~ s e e x p o r ia m u ito c e d o à s in v e s tig a ç õ e s p o lic ia is e p r e v id ê n c ia H á p a r tic ip a ç ã o , e c o n s id e r á v e l, d o s c o n ta to s com pes-
d e s u a s v ítim a s . s o a s e s tr a n h a s à r e g iã o o u à c o le tiv id a d e , q u e a b r ig a a in f o r tu -
n a d a e q u a se se m p re n ô m a d e p r o f is s ã o . I s to e x p lic a p a r c ia l-
m e n te a f r e q ü ê n c ia d e p a la v r a s h e b r a ic a s e c ig a n a s n o s ja r g õ e s
1 0 . C a r a c te r e s : e x tr a v a g â n c ia s
a le m ã e s , in g le s e s , e tc . D e o u tr a p a r te , e s s e s c o n ta to s pode-

D eve a in d a c o n tr ib u ir p a ra a p ro p a g a ç ã o d a g ír ia a r ia m e s c la r e c e r a u n id a d e d o ja r g ã o ita lia n o , n o m e io d a v a r ie -


d a d e d e s e u s d ia le to s .
g ra n d e m o b ilid a d e d e e s p ír ito e de sensações, p a r a a s q u a is ,
ju n ta d a u m a p a la v r a n o v a , n a s m u ita s c ir c u n s tâ n c ia s d a o r g ia ,
o u f r a s e e s tr a n h a , a b s u r d a m e s m o , m a s v iv a z , p ic a n te ou ex- 12. C ausa: tr a d iç ã o
tr a v a g a n te , p a r a f a z e r o ja r g ã o tr a n s m itir - s e . E , d e p o is , o e te r -
n iz a m e m s u a lin g u a g e m . M a s , q u a n ta in f lu ê n c ia te m a tr a d iç ã o , tr a n s m itid a de
s é c u lo e m s é c u lo ; b a s ta r ia p a r a d e m o n s tr a r a s c u r io s a s p a la -
C o m o o s p e d a n te s r e c o lh e m a m o r o s a m e n te e rro s g ra -
f", v ra s bem a n tig a s , e n c o n tr a d a s no ja r g ã o , com o " a r to n " ,
m a tic a is o u e x p re ssõ e s m a is r a r a s n o u s o c o m u m , a s s im o s
"L
,L
" le n z a " , e tc . a q u e a c e n a m o s p o u c o a tr á s e a s a lu s õ e s a f a to s
d e lin q ü e n te s e n r iq u e c e m a lin g u a g e m d e a lg u m e s tu d a n te -
h is tó r ic o s quase e s q u e c id o s . A s tr ê s lo c u ç õ e s : "passer em
z in h o p e r d id o n o m e io d ~ le s . T e n d e m a c o lo c a r e s s a lin g u a -
lu n e te " ( p a s s a r p e la lu a ) , " f a ir e u m tr o u à la lu n e " (fa z e r u m

178
179
I

'"~il
t:
buraco na lua), "m ontrer le cul" (m ostrar o traseiro"), que o porque são selvagens, vivendo no m eio da florescente civili-
jargão adota com o sinônim o de "falir", pertencem à tradição zação européia. A dotam , então, com o os selvagens, freqüen-
histórica. F oi a pena e castigo dos falidos m ostrar as partes tem ente a onom atopéia, o autom atism o, a personificação dos
traseiras em público e batê-las no chão. E m F lorença, no objetos abstratos. E vem em m inha ajuda nisso as belas pala-
M ercado V elho, conservou-se até há pouco (e talvez se con- vras de B iondelli:
serve ainda) a pedra sobre a qual se fazia sentar os falidos,
cham ada popularm ente de "pedra dos falidos" ou "pedra dos
"P or que os hom ens de várias estirpes, sepa-
caloteiros". A ssociam -se às três expressões precedentes, com o
rados por barreiras naturais e políticas, nos secretos
efeito de tradição "andorinha de praia" por "policial". A praia
conciliábulos, seguiram o m esm o cam inho, e form a-
era local dos suplícios. ram secretam ente m ais línguas, ainda que diferentes
E sta influência da tradição é confirm ada pelo fato de no som na raiz, m as se fizeram idênticas na sua
que o jargão, exatam ente com as expressões atuais, rem onta essência! O hom em estúpido, privado de senso
à época antiqüíssim a, encontrando-se traços dela até em 1350 m oral e abandonado às perversas inclinações natu-
na A lem anha (A vé- L allem ant). O léxico do jargão intitulado rais, que form a um a nova língua, é pouco diferente
"m odo novo de entender a língua zerga", publicado em V e- do hom em selvagem , que faz os prim eiros esforços
neza, em 1549, m ostra-nos com o quase todas as expressões na sociedade. N as línguas prim itivas abundam as
usadas naquela época conservam -se ainda com o "m aggio" onom atopéias: os nom es de anim ais são expressos
= D eus; "perpetua" = alm a, "cantare" = falar, "dragão" = doutor. no jargão do m esm o m odo, em bora figurado".
C om o esses infelizes, que não têm fam ília, possam trans-
m itir tão fielm ente as tradições e expressões, não é bem com - E u acrescentarei (e talvez serei m uito ousado) que até
preensível. C ontudo, fato análogo, m ais evidente, está nas ta- a desfiguração pela redução etim ológica, e pela inversão da
tuagens. O ferecem ainda um a espécie de hieróglifos, cham ados sílaba, é natural na língua, com o por exem plo, "lobo" de
"zink", sinais que usam os incendiários para revelar o lugar de "w olf", e tam bém a fusão de dois significados etim ológicos:
encontro ou apontar o lugar do golpe, e que foram transm itidos cabelo de "caput" (cabeça) e pêlo de "pilus". P or isso as ex-
de tem pos bem antigos, talvez anteriores às escrituras (A vé- pressões de jargão, com o "m am ãe" (terra) que reproduzem a
L allem ant). E não vem os, por outro lado, entre os soldados e m itologia da deusa da fartura, e de "serpente" (ano), que
m arinheiros, estes tam bém sem fam ília, e m uitas vezes sem renova o hieróglifo egípcio, eu o interpretarei, antes da pes-
pátria, revelarem -se usos e tradições de tem pos m uito rem otos? quisa dos eruditos, com o retom o psicológico da época antiga.

13. C ausa: atavism o 14. C ausa: prostitutas


,
.+
A cim a de tudo pode o atavism o. E les falam diversa-
';r.
".e:t
P arece que as prostitutas, em bora um as sejam tanto
m ente porque sentem diver~ am ente; falam com o selvagens I",., parecidas com os delinqüentes, não têm propriam ente um

_.
'<0'",;'

:l~
180 181
1'1;1<">"
1.<'1~:<'
II
ja rg ã o , m a s o tin h a m n o s te m p o s a n tig o s . A lín g u a e ró tic a
c ia tu s " e s ta v a tra d u z id a " a b a s ta d i" , q u e o d e m e n te e n te n d e u
I
d o s é c u lo X V I e ra v e rd a d e iro ja rg ã o d a s p ro s titu ta s : o a to
" à b a s T a rd y " , o u s e ja , a m e s m a p ro n ú n c ia d e " a b a s ta rd i" . O
s e x u a l tin h a 3 0 0 s in ô n im o s , a s p a rte s s e x u a is 4 0 0 , p ro s titu ta
v ic ia tu s e ra a tra d u ç ã o d e u m a h o m o fo n ia .
1 0 3 e e ra n o s te m p o s d a a n tig a R om a, onde e la s tin h a m um
N em o d e lin q ü e n te nem a p ro s titu ta podem s e r c o n s i-
ja rg ã o d e g e s to s . Segundo se re fe re Sêneca, in tro d u z in d o o
d e ra d o s c o m o d e m e n te s ; é p o r is s o q u e s ã o d irig id o s c o n s c ie n -
dedo m é d io n a o u tra m ã o fe c h a d a a lu d e -s e à s o d o m ia .
te m e n te à v id a to rta . O s d e lin q ü e n te s tê m p o ré m a lg u m a
A lg u m a p a rte d o ja rg ã o é u s a d a , a in d a h o je , n o s p ro s tí-
p a rc e la d e d e m ê n c ia . A s p ro s titu ta s por um a im a g in a ç ã o
b u lo s : b a s ta ria re c o rd a r a fre q ü ê n c ia d e p a la v ra s q u e a lu d e m
d e s e q u ilib ra d a , p e la irrita b ilid a d e im b e c il, m a s a m b o s p e la
a c o ito . A p ró p ria p ro s titu iç ã o d e a lto b o rd o d e P a ris te m
v a id a d e e x u b e ra n te , p o r a q u e le s e n tim e n to q u e s e p o d e ria
u m a e s p é c ie d e ja rg ã o , c o m o " c o c o te " = g a lin h a , d e s ig n a n d o
cham ar com a e x p re ssã o d e T a in e : " h ip e rtro fia do eu".
u m a p ro s titu ta o u m u lh e r p o r d e m a is lib e ra l. " P e re D o u illa rd
E a in d a a lin g u a g e m d e le s o p ro v a , c o m a a b u n d â n c ia
é o m a n te n e d o r d e u m a m u lh e r (c o ro n e l); " p is te u r" (c o rre to r
d a s m e tá fo ra s , c o m o s o u s a d o s tra s la d o s , c o m a s s e q ü ê n c ia s d a s
d e h o té is ) é o hom em q u e s e g u e a m u lh e r p e la v id a .
h o m o fo n ia s , jo g o d e p a la v ra s , tro c a d ilh o s , com um liris m o
d e id é ia s e m q u e a ra z ã o d e q u e m fria m e n te o e x a m in e , s e v a i
];< 15, D e m e n te s
p e rd e n d o . A fra s e " te r a s id é ia s d e s c o o rd e n a d a s " , e u fe m is m o

-
',t,'
N o s d e m e n te s n ã o s e e n c o n tra u m ja rg ã o , m a s a c ria ç ã o d a lín g u a v u lg a r p a ra in d ic a r o e s ta d o
m u ita s v e z e s a p lic á v e l ta m b é m
m e n ta l
a o d e lin q ü e n te .
d o d e m e n te , é

.'
-~.
fre q ü e n te
causa,
d e p a la v ra s
é e s p e c ia l p a ra
p o r h o m o fo n ia
e le s . E a q u i m e
e p a la v ra s
a p ra z c ita r
novas, sem
a lg u m a s
:;: n o ta s de um o b se rv a d o r, q u e , m a lg ra d o não s e ja a lie n is ta ,
v iu m a is lo n g e q u e m u ito s a lie n is ta s . A lin g u a g e m b u rle s c a
d á m u ita s v e z e s u m a id é ia s e m n e x o a p a re n te . P o d e -s e d iz e r
que há fa lta de nexo? N ão! O d e m e n te vê na sua fé rv id a
im a g in a ç ã o c e rta s re la ç õ e s d e id é ia s que escapam de nós,
ta lv e z p o r s e re m m u ito lig e ira s , fu g a z e s , lo n g ín q u a s . L e m b ro -
m e d e u m jo v e m fra n c ê s a fe ta d o p e la d e m ê n c ia , p a ra q u e m
a fa m ília tin h a dado um a io e v ig ila n te s a c e rd o te de nom e
T a rd y , q u e o jo v e m n ã o a p re c ia v a , p o r o u tro la d o , u m ó tim o
e re s p e itá v e l hom em . A p ó s a lg u m te m p o , o jo v e m passou a
cham ar seu p re c e p to r com o nom e d e " V ic ia tu s " sem que
n in g u é m p u d e sse c o m p re e n d e r q u e n e x o p o d e ria h a v e r e n tre .,
e s s e v o c á b u lo

la tin o -fra n c ê s
la tin o

d o irm ã o
e a a u s te ra
A p ó s a lg u n s a n o s , c o n s e g u ira m
d o jo v e m
pessoa a quem

d e m e n te ,
e ra a p lic a d o .
d e s c o b rir q u e n u m d ic io n á rio
a p a la v ra " v i-
i
:,1 ;t.
•••>¥.
~.
182 II
.~~~ 183
15. A S S O C IA Ç Ã O PARA O M AL

1. Banditismo, máfia e camorra - 2 . Sexo, idade, condição


3. Organização - 4 . Camorra - 5 . Máfia
6. Código dos criminosos

1 . B a n d itis m o , m á fia e c a m o rra

E s s a a s s o c ia ç ã o p a ra o m al é um d o s fe n ô m e n o s m a is
im p o rta n te s do tris te m undo do c rim e , não s6 p o rq u e no
m a l s e v e rific a a g ra n d e p o tê n c ia d a a s s o c ia ç ã o , m a s p o rq u e
d a u n iã o d e s s a s a lm a s p e rv e rs a s b ro ta um fe rm e n to m a lig n o
que fa z re s s a lta r a s te n d ê n c ia s s e lv a g e n s . E s s a s te n d ê n c ia s ,
re fo rç a d a s por um a e s p é c ie d e d is c ip lin a e p e la v a id a d e do
d e lito , im p e le a u m a a tro c id a d e q u e re p u g n a ria à m a io r p a rte
d o s in d iv íd u o s is o la d o s .

C om o s e ria n a tu ra l, ta is s o d a líc io s se fo rm a m m a is
a m iú d e onde abundam o s m a lfe ito re s , com a im p o rta n te ex-
ceção de que e le s re fre ia m a te n a c id a d e e a c ru e ld a d e em
c e rto s p a ís e s , tra n s fo rm a n d o -o s em a s s o c ia ç õ e s e q u ív o c a s ,
,.
"1~, p o lític a s o u m e rc a n tis . O o b je tiv o d a s a s s o c ia ç õ e s m a ld o s a s

" 'I;~;
-.;;.~ é quase se m p re o de a p ro p ria r-s e do a lh e io , a s s o c ia n d o -s e

~
~ : 185
•••
g'
•••
,.

com bom núm ero de pessoas exatam ente para fazer frente à A lgum as vezes, notou-se nos grandes bandos verda-
defesa legal.
deira subdivisão de trabalho. U m atua com o carrasco, outro
. O utrora, foram notadas associações para abortos, para com o chefe, com o secretário, com o caixeiro-viajante, algum a
envenenam ento, e, em alguns lugares, foram notadas para a vez enferm eiro ou m édico. T odos seguem um a espécie de
pederastia, que encobtiam o vício com a aparência de ternura, código ou de ritual, que, m esm o sendo im pessoal, form ado
e até m esm o para o hom icídio sem fins lucrativos, só pelo espontaneam ente e não por escrito, é seguido à risca.
prazer de fazer o sangue jorrar, com o foi o caso dos "E sfaquea- c E ntre bandidos de R avena havia um a espécie de hierar-
dores de L ivorno", e ainda para o canibalism o e o estupro quia; estes, com o tam bém os cam orristas, cham avam de
por fanatism o religioso dos sicários russos. "m estre" os seus chefes, e, antes de deliberarem sobre algum
fato atroz, faziam juram ento sobre um punhal. A ntes de
2. S exo, idade, condição m atar, m andavam freqüentem ente um aviso à vítim a, com
am eaça sim bólica.
A s condições dos m alfeitores associados correspondem ,
naturalm ente, às do m aior núm ero de delinqüentes. O s do
4. C am orra
sexo m asculino têm a m áxim a predom inância, em bora se en-
contrem esporadicam ente bandos chefiados por m ulher, A m ais com pleta organização é dada por esse bando
com o o de L uiza B ouviers, que dirigiu por volta de 1828 um perverso, que dom ina N ápoles, com o nom e de C am orra.
bando de ladrões. V erem os nas m ulheres, porém , inclinação C onstitui-se quando se agrupam vários presidiários e ex-presi-
~ para m ales dom ésticos; predom inavam há tem pos em R om a diários; em pequenos grupos independentes entre si, m as
e P aris associações para o envenenam ento. sujeitos a um a vida hierárquica.
A idade dos m alfeitores é quase sem pre a da m ocidade; A C am orra não podia tom ar graves providências sem
entre 900 bandidos da B asilicata e a C am pânia 600 eram consultar os m em bros reunidos em assem bléia, que discutia
m enores de 25 anos. com a m esm a gravidade e acerto as pequenas m inúcias com o
as questões de vida ou de m orte. A ssistido por um auditor,
3. O rganização um tesoureiro e um secretário, o m enos ilustrado de seus
subordinados, deveria indicar o desafeto, regular as lides,
O bserva-se que m uitos bandos de m alfeitores, em bora , .~ propor à assem bléia as punições que variam da perda parcial
inim igos da ordem e da sociedade, apresentam um a espécie ir.. ou total dos despojos, os roubos, à censura ou até à m orte, ou
de organism o social. Q uase todos têm um chefe, arm ado de • m esm o ao perdão .
poder ditatorial que, com o nas tribos selvagens, depende m ais
íl A ssim é cham ado o fruto das regulares extorsões dos
de seus dotes pessoais do que da turbulenta aquiescência fi.
1£... jogadores, dos bordéis, dos vendedores de m elancias, de jor-

II
dos dem ais, e todos têm afilhados externos ou protetores em
~>

1 nais. M ais do que todas essas, as dos prisioneiros, que eram o


caso de perigo. ;/
m ais aproveitado provento; bastava entrar um na prisão,
~.. '

186
187
- - - - - - - _ .~ ~
~ --~ . - -

d e v e r ia
to d o s
p a g a r o " ó le o p a r a a m a d o n a " ;
o s se u s h a v e re s. D e v ia
pagava u m d é c im o
p a g a r p a ra b e b e r, p a ra
de
c o m e r,
O n o v o " c o m p a n h e ir o "
ju n to
a p r e s e n ta v a - s e
a u m a m e s a e m q u e s e e n c o n tr a
p e r a n te
o r e tr a to
d o is " ir m ã o s "
o u a p in tu r a
I~

p a r a jo g a r , p a r a v e n d e r , p a r a c o m p r a r . O s m a is d e s p r o te g id o s d e u m s a n to o u d e u m a s a n ta e lh e s e s te n d e o b r a ç o d ir e ito .
e ra m c o n s tr a n g id o s a vender a m e ta d e d e s u a r e f e iç ã o ou O s ir m ã o s f a z e m u m f e r im e n to n a m ã o o u n o b ra ç o d o c o m p a -
p a r te d e s u a r o u p a p a r a p o d e r f u m a r o u jo g a r . n h e ir o q u e d e r r a m a s a n g u e s o b r e a im a g e m d o s a n to . D e p o is ,
O c ó d ig o d e le s n ã o e r a f o r m u la d o nem e s c r ito , m as com a cham a d a v e la , q u e im a o r e tr a to . F a z o ju r a m e n to de
n e m p o r is s o d e ix a v a d e s e r s e g u id o m in u c io s a m e n te . O con- s e r v ir à M á f ia a n te a s c h a m a s d o r e tr a to d o s a n to ~ ~ .'
denado não p o d ia m a ta r um c o le g a sem a p e r m is s ã o do Q uem f a lta s s e a o ju r a m e n to e r a d e c la r a d o " in f a m e " , o
" c a p o " . N ã o p o d ia r e la c io n a r - s e c o m a p o líc ia . E r a c o n d e n a d o q u e s ig n if ic a s e r c o n d e n a d o à m o r te d e n tr o e m b r e v e , a in d a q u e
à m o r te quem tr a ís s e a " s o c ie d a d e " o u ro u b a sse o u m a ta s s e e s te ja p r e s o . A lg u n s s e s u ic id a m o u e n lo u q u e c e m p e lo te r r o r
se m o rd e m d o s c h e f e s o u q u e v io la s s e a m u lh e r d e le s . T a m - d o f u tu r o .
b é m m o r r ia q u e m r e c e b e s s e o r d e m d e m a ta r e n ã o a c u m p r ia .
A lg u m a s d e s s a s o r g a n iz a ç õ e s , b a se a n d o -se n a s in g u la r
te n a c id a d e r itu a l e n a te n d ê n c ia c a v a lh e ir e s c a , o u n o c o lo r id o

5 . Máfia p o lític o o u r e lig io s o q u e a lg u m a s v e z e s a s s u m ia m p o d e r ia m


la n ç a r d ú v id a s s o b r e s u a n a tu r e z a e s s e n c ia lm e n te c r im in o s a .
A M á f ia é u m a v a r ia n te d a C a m o rra , c o m m a is in te n s i' É f a to p a te n te q u e e la s m o s tr a r a m a lg u n s la m p e jo s d e g e n e r o -
d a d e n o s e g r e d o e in c id ê n c ia e m c la s s e s m a is s u p e r io r e s . A tu a s id a d e , c o m o p o r e x e m p lo , c o m o s p r is io n e ir o s p o lític o s , s o b
m a is f o r a d a s p r is õ e s e e m n ív e is m a is e le v a d o s . O s m a f io s o s o G o v e rn o d o s B o u rb o n s. C o m o já v im o s , o f e r e c e r a m e f ic a z
u s a m lin g u a g e m h e r m é tic a e c o n c is a . F ie lm e n te s e g u e m to d o s p r o te ç ã o a o s m a is d é b e is , m a s e s s a p r o te ç ã o é c o m o u m v e r n iz ,
!

a s r e g r a s d o s e u c ó d ig o , a n ô n im o ,
Á",
te r r iv e lm e n te o b e d e c id o , p a r a e n c o b r ir a s a ç õ e s m a ld o s a s , p a r a c o m b a te r a s le is r e p r e s -
I
I
da "O M E R T r e v e la d o p o r C r u d e li e M a g g io r a n i e que se s o r a s d o c r im e , s o b o m a n to d e c o m b a te r o G o v e rn o . E , r e a l-

I
e x p r e s s a e m c e r to s d ita d o s p o p u la r e s , com o "a quem nega o m e n te , o s c a m o r r is ta s e m a f io s o s s e lig a r a m a o s r e v o lu c io n á -
pão, você nega a v id a " . O s a r tig o s p r in c ip a is desse c ó d ig o r io s n o s te m p o s d o G o v e r n o d o s B o u rb o n s, e a o u tr o s m o v i.
s ã o : a b s o lu to s ilê n c io s o b r e o s d e lito s c o m e tid o s p o r o u tr e m , ;
m e n to s d e o p o s iç ã o . ,
a o b r ig a ç ã o d e p r e s ta r f a ls o te s te m u n h o p a ra c o n f u n d ir a
P o r o u tr o la d o , o s m a is r e f in a d o s m a la n d r o s se m p re
J u s tiç a , o p o r-se à p o líc ia p a r a f a z e r a p a g a r o s tr a ç o s , andar

II
tiv e r a m u m a c e r ta a u r é o la d e c a v a lh e ir is m o , u m p o u c o p e la
a rm a d o , tr a v a r d u e lo a q u a lq u e r p r e te x to , r e a g ir à to d a
g e n e r o s id a d e q u e c o m u m e n te c a r a c te r iz a o hom em m uscu-
o f e n s a . D e v e r ia a ju d a r c a d a ir m ã o m a f io s o a r e a g ir à s o f e n s a s
lo s o , u m p o u c o p e la n e c e s s id a d e d e te r a s im p a tia do povo
e a ju d a r o s q u e c a ís s e m n a s m ã o s d a J u s tiç a e fo rm a r um
s im p le s , q u e lh e d á s o c o r r o e a b r ig o . N o f u n d o , a C a m o r r a e
p e c ú lio p a r a c u s te a r a d e f e s a d e le s .
£
a M á f ia s ã o v a r ia n te s d a m a la n d r a g e m v u lg a r . B a s ta d iz e r
A e n tr a d a
r itu a l. N o p e r ío d o
d e n o v o m e m b ro
d e in ic ia ç ã o
d a M á f ia o b e d e c ia
e ra c h a m a d o d e "c o m p a re "
a um .~".
j:i..,:_c • q u e o s c a m o r r is ta s e o s m a f io s o s a p r e s e n ta m o s c a r a c te r e s
j
p r ó p r io s d o s d e lin q ü e n te s c o m u n s , c o m o p o r e x e m p lo , g o s -

g
(c o m p a d re ) n u m a s e s s ã o e s p e c ia l d a " a s s e m b lé ia d o s s ó c io s " .
.~.
ta m d e u s a r jó ia s e a n é is , v e s tir q u a s e q u e u m u n if o r m e , u s a m

...I~,
188 -~ - 189
":'.;. .•. y:
a g ír ia p e c u lia r d e le s , c h a m a m d e ir m ã o s e u s c o le g a s d e d e lin - c r a v o s e m s u a te r r a p e lo s r ic o s ; p o r is s o n ã o s e
q ü ê n c ia , b e ija m - s e e n tr e s i. p o d e rá nunca n u tr ir u m ó d io p r o f u n d o c o n tr a

A C a m o rra e a M á f ia tê m s u a s e d e p r in c ip a l n a s p r is õ e s , to d o s o s p a r tid o s p o lític o s , to d o s ig u a lm e n te des-

c o m o a m a io r ia d o s d e lin q ü e n te s d o c r im e o r g a n iz a d o . E n tr e - p r e z ív e is . T o d a p r o p r ie d a d e c o n q u is ta d a com o
tr a b a lh o d e o u tr e m é ile g ítim a . A s o c ie d a d e de-
ta n to , e le s s e m o s tr a m im p la c á v e is p a r a c o m o s in im ig o s .
c la r a o s r ic o s f o r a d o s d ir e ito s h u m a n o s , e , p a ra
c o m b a tê - lo s , to d o s o s m e io s s ã o b o n s , s e m e x c e -
6 . C ó d ig o d o s c r im in o s o s tu a r o f e r r o , o f o g o e n e m m e s m o a c a lú n ia " .

A in q u ie ta b a le la d e n o s s o s é c u lo p e n e tr o u n a s o r g a n i-
z a ç õ e s c r im in o s a s . P o r is s o , c r e io q u e s e o b s e r v o u em nosso V in h a m e m s e g u id a o s v á r io s a r tig o s d o c ó d ig o , r e p e -
te m p o v e r d a d e ir o c ó d ig o e s c r ito num a q u a d r ilh a d e P a r is ; tin d o a s n o r m a s g e r a is d a M á f ia e d a C a m o r r a , p re sc re v e n d o
e s s e c ó d ig o lim ita a 1 4 o n ú m e r o d e m e m b r o s e im p õ e c e r to s a o b r ig a ç ã o d e g u a r d a r s e g r e d o , d e c u m p r im e n to d o s e n c a rg o s
m é to d o s o p e r a c io n a is n a p r á tic a d o s c r im e s , c o m o d e s e m b a - im p o s to s p e la M ã o N e g r a , s o b p e n a d e s e r c o n s id e r a d o tr a i-
ra ç a r d e ro u p a s q u e p o ssa m c o n s titu ir in d íc io s o u tr a ç o s d a d o r , n e g a r e m p ú b lic o q u a lq u e r lig a ç ã o c o m a M ã o N e g r a o u
a ç ã o o u s a p a to s q u e r a n g e m , c a m in h a r p a r a tr á s p a r a ilu d ir a s s im p a tia c o m s u a c a u s a , p a s s a r p e lo n o v ic ia d o .
in v e s tig a ç õ e s , usar a p e lid o s ou nom es f a ls o s , n ã o d e ix a r
a n o ta ç õ e s d o p r ó p r io p u n h o , e v ita r a m a n te s d u r a d o u r a s , usar
l
, a r m a s s ó e m c a s o d e n e c e s s id a d e . A m a io r p a r te d a s in f r a ç õ e s
a e s s e c ó d ig o p o d e le v a r o in f r a to r à m o r te .
1
N a E spanha r e c e n te m e n te d e s c o b r iu - s e u m a e x te n s a
q u a d r ilh a com o nom e de M Ã O NEGRA, c o m p o s ta por
v is io n á r io s , q u e n ã o v ia m s o lu ç ã o p a r a a p o b r e z a s e n ã o nas
c a tá s tr o f e s s o c ia is . S e u c ó d ig o d e c la r a v a o o b je tiv o d e d e f e n -
d e r o s p o b r e s e o p r im id o s c o n tr a s e u s c a r r a s c o s e e x p lo r a d o r e s
d e s e u tr a b a lh o . P r o je ta m u m v e r n iz s o c ia l, b e n e f ic e n te , p o lí-
tic o - id e o ló g ic o , p a r a e n c o b r ir a s m a n if e s ta ç õ e s d e p e r v e r s i-
d a d e e b a ix e z a d e s u a s o p e r a ç õ e s . A a b e r tu r a d e s e u c ó d ig o
tr a z u m c o n s id e r a n d o f ilo s ó f ic o :

" A te r r a e x is te p a r a o b e m - e s ta r dos ho-


m e n s , q u e tê m ig u a l d ir e ito d e p o s s u í- la ; o a tu a l
o r d e n a m e n to s o c ia l e m v ig o r é in íq u o . O s tr a b a -
lh a d o r e s p r o d u z e m ; 'm a s s ã o m a n tid o s com o es-

190 191
;"~

,.~

16. DEM ENTES M O R A IS

E D E L IN Q Ü E N T E S NATOS
"t
..i:;

':,~ 1 . J u sta s h e sita ç õ e s - 2 . E s t a t í s t i c a s d o s d e m e n te s m o ra is


,;;
3 . P e so - 4 . C râ n io - 5 . F isio n o m ia - 6 . In se n sib ilid a d e à d o r
" 7 . T a to - 8 . T a tu a g e m - 9 . R e a ç ã o e tílic a - 1 0 . A g ilid a d e
1 1 . S e x u a lid a d e - 1 2 . S e n so m o ra l - 1 3 . A fe tiv id a d e
~ 1 4 . A ltn d sm o - 1 5 . V a id a d e e x c e ssiv a - 1 6 . In te lig ê n c ia
I'
1 7 . A stú c ia - 1 8 . P re g u iç a - 1 9 . A tiv id a d e d o e n tia
2 0 . P re te n sõ e s d e d ife re n ç a s - 2 1 . P re m e d ita ç ã o - 2 2 . E sp írito
d e a sso c ia ç ã o - 2 3 . V a id a d e d o d e lito - 2 4 . S im u la ç ã o
2 5 . S in to m a to lo g ia d a d e m ê n c ia m o ra l n a s o u tra s

.' 2 6 . H isto lo g ia p a to ló g ic a d a d e m ê n c i a m o ra l
2 7 . A h e re d ita rie d a d e n a d e m ê n c ia m o ra l
r"

1 . J u s ta s h e s ita ç õ e s

A n te s de passar a o e s tu d o do d e lin q ü e n te -d e m e n te ,
f.: d e v e m o s c o m e ç a r a tra ta r, o u m e lh o r, e x c lu ir d e s s a c la s s e o d e -

:'\'
~.
lin q ü e n te m o ra l, d o q u a l já h a v ía m o s tra ta d o a o e s tu d a r o
, t.;!\ d e lin q ü e n te -n a to . S o b re o p rim e iro , o nosso le ito r ou o ho-
'- ," , ~:
~ .:' -"'","';,X
m em com um , e x p e rim e n ta rá , c e rta m e n te , g ra n d e re p u g n â n -

,,~;'f~
'.~ ~

.-1 '''''''~~, 193


~,j£~
cia em aceitar essa fusão. A ssim acham os porque som os das com o o de Faella, Zerbini, V erzeni, G uiteau, que tornam im -
várias gerações acostum adas a considerar o réu tão m ais res- possível discernir linha diferencial entre dem ência e crim e,
ponsável quanto m aior for a sua culpa. os estudos dos novos caracteres dados pelos m ais recentes
H á em nós a necessidade de vingança e o tem or de autores, com o K rafft-Ebbing, H ollander, Savage, M endel, so-
deixar o réu livre, em razão de sua tem ibilidade, e tam bém bre a dem ência m oral, os m ais especiais por m im descobertos
não se conhecia ou im aginava outro m odo de paralisar os no delinqüente-nato, com o insensibilidade geral e à dor, ano-
m alefícios de sua ação, a não ser com o cárcere e a m orte. m alias nos reflexos, o canhotism o, a atipia do crânio e m iolos,
Isto porque, enfim , o sentim ento de vingança e do m edo, m udaram com pletam ente m inhas convicções. I
juntam ente com o hábito, que é um dos m aiores de nossos
I
tiranos, m odificavam com pletam ente nosso juízo e não nos 2. Estatísticas dos dem entes m orais
deixavam entrar em outra form a de explicação. Eu, com o já
fiz referência, estava ainda entre esses quando redigi as duas U m a das provas indiretas da identidade da dem ência
prim eiras edições desta obra, e até m esm o a terceira. m oral com a crim inalidade, e que explica as dúvidas m ais
com uns entre os alienistas, é a grande escassez dos dem entes
A origem , m ais congênita ou na idade juvenil do delito,
m orais nos m anicôm ios e, vice-versa, a grande freqüência
sua m aior difusão com a civilização, os grandes centros, a
nos cárceres. D agonet, em 3.000 dem entes não encontrou
hereditariedade m enos intensa da dem ência e da neurose, a
m ais do que 10 ou 12 casos. A driani em Perugia, Palm ieri em
aparente boa saúde, a m aior robustez, estatura m ais elevada,
, Siena, em 888 dem entes não os encontraram ; R agi só encon-
m aior volum e de cabelos, a fisionom ia especial, e as paixões
$... trou 2 dem entes m orais em 924, e Salem i-Pace 6 em 1.152.
'. e instintos do réu-nato, recordam com pletam ente a fisiono-
m ia, o hom em selvagem , bem m ais que o alienado, especial- A escassez dos dem entes m orais nos m anicôm ios e a sua
m ente a preguiça e paixão da orgia e da vingança, que, quase abundância nos cárceres são enfim um a prova indireta da
sem pre falta a este últim o. identidade da crim inalidade com a dem ência m oral, unida à
presença de todos os seus sistem as no decurso de m uitas doenças
Tudo isto, unido ao horror instintivo diante da idéia
m entais. É o que explica com o nos encarceram entos 25% dos
do perigo social que parece causar a confusão de uns com os
dem entes devem tornar m uito incertos os alienistas sobre a
outros, e a tão perigosa com placência da própria criação, m e
real existência dessa form a psiquiátrica e tantos os m édicos
tinham convencido, antes e depois que eu tinha colocado a
legais obrigados a trabalhar com fatos de segura dem onstração.
luz, m uito m ais a diferença do que a analogia entre aquelas
A lém disso, contribuíram para as contradições dos ob-
duas infelizes condições patológicas da psique. E no m eio ao
servadores que julgaram a essencialidade de certos sintom as,
m ais com pleto acordo de am igos e adversários sobre este
preocupados com os caracteres de um ou de outro entre os
assunto, o Ú IÚ CO a não põr-se de acordo ou ser posto era eu próprio.
poucos casos que tinham às suas m ãos. Todavia, rebuscando
A sucessiva distinção entre o delinqüente de ocasião e
os casos m ais clássicos recolhidos desses autores, tem os um
o habitual, o apoio universal conseguido pela proposta do
conjunto de caracteres que reproduzem m uito bem aqueles
m anicôm io crim inal, a descoberta de sem pre novos casos, que dem os sobre o delinqüente nato.

194
195
_ ..~
"
.'c
3. P eso ré u n a to . A n te s M o re i, d e p o is L e g ra n d d e S a u lle e a g o ra

E m 1 4 d e m e n te s m o ra is d e A v e rs a , 9 tin h a m c o n s titu i- I K ra fft-E b b in g , a p o n ta m a fre q ü ê n c ia e m m a c ro c é fa lo s de


i fre q ü e n te s c ris ta s ó s s e a s d o c râ n io , d e c râ n io s m u ito a lo n -
ç ã o ro b u s ta e b o a n u triç ã o . V e rz e n i m e d ia 1 ,6 6 m . p e s a n d o
• g a d o s o u m u ito a rre d o n d a d o s , e n a s fa c e s a d e s p ro p o rç ã o '
6 8 k ., C h ia p p in i
ro b u s to , e m b o ra
1 ,6 3 m . e 6 1 k ., o e s b irro d o L iv i e ra b e m
houvesse a lg u n s m a is frá g e is . S o b re 37
! e n tre a s d u a s m e ta d e s d a fa c e , lá b io s v o lu m o s o s , b o c a g ra n d e ,

d e m e n te s m o ra is , 2 2 e ra m d e p e s o e ro b u s te z ig u a lo u m a io r
I d e n te s m a l c o n fo rm a d o s c o m p re c o c e c a íd a n a s fo rm a s m a is

a o n o rm a l, c o m o e m m u ito s d e lin q ü e n te s . I g ra v e s , v o lta


c a m p a in h a
p a la tin a
da g a rg a n ta
a s s im é tric a
a lo n g a d a
o u e s c o n d id a ,
e b ífid a ,
re s trita ;
a u m e n to
a
e -.
A c re s c e n te -s e q u e n o e s tu d o d o s e p ilé p tic o s h e re d itá - I d e s ig u a ld a d e d a s o re lh a s . T o d a s a n o m a lia s , e s p e c ia lm e n te
rio s , A m a d e i e n c o n tra e n tre o s s in a is d a d e m ê n c ia degene- I a s d o c râ n io , q u e te m o s e n c o n tra d o n o s c rim in o s o s .
ra tiv a e d a s h e re d itá ria s u m a u m e n to m a io r d e p e s o . P o r q u e I
n ã o s e e n c o n tra c o m p le ta m e n te o a u m e n to de. peso, que é
S . F is io n o m ia
p re v a le n te , m a s n ã o g e ra l n o s c rim in o s o s , depende p ro v a -
v e lm e n te do pequeno n ú m e ro d o s c a s o s o b s e rv a d o s .
A fis io n o m ia d o s fa m o s o s d e lin q ü e n te s re p ro d u z iria
q u a s e to d o s o s c a ra c te re s do hom em c rim in o s o : m a n d íb u la s

4 . C râ n io v o lu m o s a s , a s s im e tria fa c ia l, o re lh a s d e s ig u a is , fa lta d e b a rb a
n o s h o m e n s , fis io n o m ia v iril n a s m u lh e re s , â n g u lo fa c ia l b a i-
Q u a n to à s m e d id a s d o c râ n io , e s ta m o s ta m b é m re d u z i-
x o . E m n o s s a s ta b e la s fo to lito g rá fic a s d o á lb u m g e rm â n ic o
dos a poucos c a s o s , q u e n ã o b a s ta m c e rta m e n te p a ra d a r- o b s e rv a r-s e -á q u e 4 e n tre 6 d o s d e m e n te s m o ra is tê m v e rd a -
n o s u m c rité rio s e g u ro p a ra a n a lo g ia . E m 1 4 d e m e n te s m o ra is d e iro tip o c rim in a l. M e n o re s s ã o ta lv e z a s a n o m a lia s n o c râ n io
d e V irg ílio e n c o n tra m o s u m a c a p a c id a d e c râ n ic a d e 1 .4 5 0 e n a fis io n o m ia d o s id io ta s , e m c o n fro n to c o m o s c rim in o s o s ,
n a s m u lh e re s , 1 .5 3 8 n o s h o m e n s , c o m o m á x im o d e 1 .6 9 3 e o q u e s e e x p lic a ria p e lo m a io r n ú m e ro d e d e m e n te s m o ra is ,
m ín im o d e 1 .5 1 8 .J u s tific a re m o s a d ia n te e s ta fa lta d e a n a lo g ia , a o m e n o s n o m a n ic ô m io , s u rg id o s n a id a d e ta rd ia , m o tiv a d a
a q u e c o n trib u iu a in d a m a is q u e o p e s o a e s c a s s e z d e s s a s p o r tifo , e tc . P a ra e s te s , a fis io n o m ia n ã o te v e te m p o p a ra
m e d id a s . P o r o u tro la d o , C a m p a g n e te ria (e e u c re io e x a g e ro ) to m a r fe iç ã o s in is tra m e n te , c o m o n o s ré u s n a to s . E le s fre -
e n c o n tra d o 1 2 v e z e s e m 1 3 o c râ n io d im in u íd o e e s c o n d id o q ü e n te m e n te acom panham e s s a s d e fo rm id a d e s q u e s ã o p ró -
o o c c ip ita l n o s d e m e n te s m o ra is . K ra fft- E b b in g e L e g ra n d d e p ria s n a s p a ra d a s d e d e s e n v o lv im e n to , o u d a d e g e n e ra ç ã o : e
S a u lle fa la m d a fre q ü e n te m ic ro e n c e fa lia . É u m fa to d e s e ta is e ra m e x a ta m e n te a s lo u c u ra s c u id a d a s p o r S a le m i-P a c e
n o ta r q u e o s m ic ro e n c é fa lo s to rn a d o s a d u lto s , m a is a in d a e B o n v e c c h ia to .
q u e a p e rd a d a in te lig ê n c ia , m o s tra m a p e rv e rs ã o d o s a fe to s
É n e c e s s á rio re c o rd a r q u a n to p a ra a fis io n o m ia dá
d o s e n s o m o ra l.
e x e m p lo o m ilita r, o p a d re , o s a c ris tã o , u m d a d o e n d e re ç o
É fre q ü e n te m e n te g e ra l o a c o rd o d e n ã o a d m itir nos c o n tin u a d o desde a p rim e ira in fâ n c ia em m e io a com pa-
d e m e n te s m o ra is a g ra n d e fre q ü ê n c ia d a s a n o m a lia s c râ n ic a s n h e iro s d o m a l, q u e p la s m a a fa c e , o o lh a r, c o m u m s in a l
e fis io g n o m ô n ic a s , q u e v im o s c a ra c te riz a d a s m u ita s v e z e s n o ",f'
com um , d e c o rre n te d a c o n v iv ê n c ia p ro lo n g a d a e im p o s ta
J'
í:"'
.",_'t

196 z- 197
.~ i.
~ I
•••••• T_
reformatórios e no cárcere. A ela se adiciona a modifi- É portanto a analgesia (insensibilidade à dor) um dos caracte-
lO especial pelo medo da surpresa, das apreensões de uma res mais freqüentes do demente moral, como também dos
" que é fora da lei. Esta última é a ra;:ão com que justa- criminosos natos. Lembro-me como nos poucos casos de his-
'1te me explicava o ilustre astrônomo Tacchini, a fisiono- terias hipnóticas com a desintegração da personalidade, a
., habitual de alguns bandidos nos países em que o bandi- irrupção das tendências imorais se manifestasse muitas ve;:es
"110 não fosse protegido pela população. na completa anestesia e analgesia.

Insensibilidade à dor 7. Tato

M elhor ainda se houver analogia nas anomalias funcio- Da sensibilidade tátil bem pouco foi estudada nos de-
lis constatadas por Legrand de Saul1e, Krafft-Ebbing, Bon- mentes morais, mas é curioso que de 4 observados por Amadei
.,cchiato: estrabismo, nistagmo, motoconvulsismo de rosto, e Tonnini um apresentava mancinismo sensório. Outro caso
':asia em leve grau, pé eqüino, hiperestesia temporânea e de Berti o revelava como o mais saliente e um ou dois demen-
, .:riódica, exagero ou falta de excitamento genérico, intole- tes morais por mim examinados, para os quais se teria notado
: :'incia dos alcoólatras. 4 em 8 e 5 em 9, foi admitido por Cal1isto Grandi que os
Entre os caracteres biológicos poder-se-ia crer que a apresentou.
:
_. :malgesia e a anestesia fossem privativas dos criminosos, mas
:. ;lS últimas histórias recolhidas na ciência provam precisa- 8. Tatuagem
': :nente o contrário. Comuniquei como na prática privada en-
Nem mesmo a tatuagem, que parece tão característica
"' contrei um demente moral que, mesmo tendo blenorragia,
no delinqüente, pode ser excluída dos verdadeiros dementes
continuava a cavalgar e fe;: uma escalada alpina, e ria en-
morais, visto que se constatarmos os belos casos de De Paol1i,
quanto lhe era extraído um membro. Renaudin relata o caso
achamos que a maior parte di;: respeito a dementes morais.
de um jovem, a princípio bom, e, de repente, se fe;: estranha-
O único demente moral que pude encontrar no manicômio
mente perverso. Embora não fosse reconhecido absoluta-
de Turim era tatuado, e, por outro lado, os mais astutos delin-
mente demente, tornou-se insensível; voltando depois de
qüentes recusam a tatuagem, tanto que todo ano vemos uma
um certo tempo à vida sensata de antes, sua sensibilidade
cifra menor dela.
cutânea foi reintegrada, mas, recaindo na perversão moral
até o homicídio, recaiu também na insensibilidade.
9. Reação etílica
Tamburini e Seppil1i, no estudo de um fratricida, parri-
cida e demente moral, acharam-no analgésico. Assim é que , A única prova feita com hidrosfigmógrafo em um de-
furando, com um alfinete, as carnes, a língua, a fronte, não mente moral revela identidade da escassa reação etílica, e
1-
viam nele sinais de dor. Um dos examinados apresentou dimi- L;,. Krafft-Ebbing notou também reação etílica irregular, como
nuta sensibilidade elétrica n<!opalmae outro no dorso da mão.
tI' ',
,. ainda nenhuma reação dos akoólatras à 1m.

198 -
~
;~ ~ 199
i~" "
1 0 . A g ilid a d e A s noções d e in te re s s e p e s s o a l d o ú til o u d o n o c iv o ,
d e d u z id o s d a ló g ic a p u ra , podem s e r n o rm a is ; vem daí um
Em trê s d e m e n te s m o ra is n o te i a a g ilid a d e e x a g e ra d a
frio e g o ís m o , q u e re n e g a o b e lo , o b o m , a a u s ê n c ia de am or
que em u m c a s o e ra v e rd a d e ira m a c a q u ic e , e fic a c o n fo rm e
. filia l (n ~ c ;rd a m o s a q u e le a le m ã o que m a to u a m u lh e r e a
o q u e n o ta m o s n o s c rim in o s o s , d o s q u a is tín h a m o s e s q u e c id o ,
m ã e p a ra poupar a e la s a s d o re s d a d o e n ç a ), a in d ife re n ç a
m a s a g o ra re c o rd a m o s a s fa m o sa s e v a sõ e s d e S h e p p a rd e de
p a ra com a in fe lic id a d e a lh e ia . S e e le s e n tra m em c o lis ã o
H a g g a rd .
com a le i, e n tã o a in d ife re n ç a se m uda em ó d io , v in g a n ç a ,
fe ro c id :ld e , n a p e rsu a sã o d e e s ta r n o d ire ito d e fa z e r o m a l.
1 1 . S e x u a lid a d e
E le s tê m n o ç ã o d a c u lp a b ilid a d e e m c e rto s c a s o s d a d o s ,
A p re c o c id a d e d a p e rv e rsã o s e x u a l, o e x a g e ro s e g u id o m as é um a noção re a lm e n te a b s tra ta e quase m e c â n ic a da
d a im p o tê n c ia , já tin h a m s id o n o ta d o s p o r K ra fft- E b b in g n o s le i. E le s fa la m d e o rd e m , ju s tiç a , m o ra lid a d e , re lig iã o , h o n ra ,
d e m e n te s m o ra is , c o m o p o r m im . E le s tê m a n o m a lia p a te n te p a trio tis m o , fila n tro p ia (v o c á b u lo s p re fe rid o s d o v o c a b u lá rio
d o s in s tin to s , p rin c ip a lm e n te o s s e x u a is , fre q ü e n te m e n te p re - d e le s ), m a s o q u e lh e s fa lta é e x a ta m e n te o s e n tim e n to re la -
m a tu ro s o u a n ti-n a tu ra is , o u p re c e d id o s d e a to s fe ro z e s , s a n - tiv o à q u e la s p a la v ra s . É n e s ta fa lta q u e s e e n c o n tra a e x p lic a -
g u in á rio s . N ó s , a lé m d e re c o rd a rm o s v á rio s c rim in o s o s , le m - ç ã o d e p e n s a m e n to s tã o e s tra n h o s e c o n tra d itó rio s so b re o s
b ra m o s ta m b é m a p re c o c id a d e s e x u a l n o ta d a n o s la d rõ e s e o m e s m o s fa to s e e s ta é a ra z ã o p e la q u a l e m v ã o s e te n ta con-
e x a g e ro s e x u a l d o s a s s a s s in o s e a e s tra n h a e s c o lh a d o s e s tu - v e n c ê -lo s d e s e u s e rto s , d a im o ra lid a d e d e s e u s a to s , d o a b s u r-
p ra d o re s e d o s m e n in o s a n ô m a lo s . d o d a s o p in iõ e s , a in ju s tiç a d e s u a s a m b iç õ e s .

Em sum a, n is to se e n c e rra o se g re d o p ro v o c a n te da

12. S enso m o ra l p e rp é tu a lu ta d e le s c o n tra a fa m ília e a s o c ie d a d e . S ã o in d iv í-


d u o s s u s c e tív e is d e u m a s u p e rfic ia l in s tru ç ã o in te le c tu a l, m as
Q u a n to à ín d o le m o ra l, à a fe tiv id a d e , a a n a lo g ia , é in - d e c id id a m e n te re b e ld e a um a v e rd a d e ira educação m o ra l,
c o n te s te , e e u n ã o te n h o a e s c o lh e r s e n ã o a s d e s c riç õ e s d e ix a - c u ja b a s e p re c íp u a é e x a ta m e n te a d o s e n tim e n to .
d a s p e lo s m a is e n c a rn iç a d o s a d v e rs á rio s d a m in h a e s c o la , p a ra
O s d e m e n te s m o ra is s ã o in fe liz e s c o m a d e m ê n c ia no
d e m o n s trá -la sem poder s e r ta c h a d o d e p a rc ia lid a d e . São,
s a n g u e , c o n tra íd a n o a to d a c o n c e p ç ã o ; n u trid a n o s e io m a -
e s c re v e K ra fft-E b b in g e S c h ü Ile r, u m a e s p é c ie d e id io ta s m o ra is
te rn o . F a lta m -lh e s o s e n tim e n to a fe tiv o e s e n s o m o ra l; n a s c e -
q u e n ã o p o d e m d ig n a r-s e a c o m p re e n d e r o s e n tim e n to m o ra l,
ra m p a ra c u ltiv a r o m a l e p a ra c o m e tê -lo . E s tã o se m p re em
ou se por educação o d e v e sse m , e ssa c o m p re e n sã o d e te v e -s e
g u e rra c o n tra a s o c ie d a d e , s ã o in d iv íd u o s q u e fre q ü e n te m e n te
n a fo rm a te ó ric a s e m tra d u z ir-s e n a p rá tic a . S ã o d a ltô n ic o s ,
fig u ra m nas a g ita ç õ e s p o lític a s . F a la n d o d o s d o is c a s o s d e
c e g o s m o ra is , p o rq u e a re tin a p s íq u ic a d e le s to rn a -s e in c a p a z
d e m e n te s , o s d o is tip o s s ã o d o ta d o s d e fe liz e p ro n ta m e m ó ria ,
d e fo rm u la r ju íz o e s té tic o . D e o u tra p a rte , fa lta a e le s a fa c u l-
de engenho a g u d o , d e m u ita s e v a riá v e is im a g in a ç õ e s ; to d o s
d a d e d e u tiliz a r n o ç õ e s d e e s té tic a , d e m o ra l, d e m o d o q u e o s
s ã o e g o ís ta s e c o m d e fic iê n c ia a b s o lu ta d e s e n tim e n to s a fe ti-
in s tin to s la te n te s n o fu n d o d ll-to d o h o m e m le v a m v a n ta g e m .
v o s . A s s im c o m o to d a s n o s s a s a ç õ e s s ã o re g u la d a s p e lo s s e n ti-

200
201

.• 0lIIiili.
m e n to s , e le s s e d e ix a m g u ia r u n ic a m e n te p e lo in s tin to , só se 1 3 . A fe tiv id a d e
p re o c u p a m c o m o p re s e n te , d e s p re z a n d o o fu tu ro .
É p ró p rio d o s d o is tip o s d e c rim in o s o s o ó d io , a in d a q u e
A pós um a tris te a ç ã o , s ã o in d ife re n te s com o se não
s e m c a u s a , e n a tu ra lm e n te a in d a n i~ ;s Ó d io , in v e ja e v in g a n ç a
fo s s e m o s a u to re s , d o rm in d o u m s o n o tra n q ü ilo . N a s c o n v e r-
quando a c a u s a s e ja le v e . E s s e s d o e n te s , e s c re v e u M o te t, s ã o
s a s e m a lta v o z , e n fá tic a s , n o s e s c rito s , e n c o n tra m -s e fra s e s
e s tim u la d o s p e lo d e s e jo d e c a u s a r o m a l. In c a p a z e s d e v iv e r
s o n o ra s , e lo q ü e n te s , e s p iritu o s a s , m as sem nenhum s e n ti-
e m fa m ília , d a q u a l fo g e m p o r m o tiv o s fú te is o u s e m m o tiv o ,
m e n to . Q u a lq u e r in fe lic id a d e que g o lp e ie a lg u m p a re n te
p re fe re m d o rm ir d e b a ix o d a p o n te d o q u e n a c a s a p a te rn a .
ín tim o , c o n h e c id o o u a m ig o , o s c o m o v e . F a la m d e v irtu d e e
U m g a ro to d e 1 0 a n o s , d e o lh o s n e g ro s e e x p re s s ã o d e s c a ra d a ,
d e v íc io , m a s s ã o fra s e s q u e re p e te m , d a s q u a is c o n h e c e m o
s e m p re a v e s s o à e s c o la , jo g o u u m c o m p a n h t;iro na água, só
s ig n ific a d o , m a s n ã o o s e n te m ; p o r is s o , p ra tic a m a to s v irtu o -
p a ra v ê -lo a fo g a r-s e . E ra filh o d e u m la d rã o . N o c á rc e re c o rta v a
s o s s ó p o r v a id a d e .
a s c o b e rta s e n e n h u m a p u n iç ã o e ra s u fic ie n te p a ra im p e d i-lo .
B ra n c a le o n e re tra ta o lo u c o m o ra l: v a riá v e l d e c a rá te r,
C a ta rin a B (e s c re v e B o n v e c c h ia to ) fa la m a l d o s o u tro s
v e rs á til, e x c ê n tric o , p a ra d o x a l, s is te m a tic a m e n te h o s til a to d a
e s e d iv e rte c o m is s o e s p e c ia lm e n te s e a o fe n d e m , m a s ta m -
" te n d ê n c ia m o ra liz a d o ra , in d e c is o n o s p ro p ó s ito s , e x tre m a -
bém se chegam p e rto d e la . O d e ia c a d a u m q u e s e ja b e m d is -
- m e n te e x c itá v e l, in s e n s ív e l à s a le g ria s d o m é s tic a s , in a c e s s ív e l
p o s to , c o m o s e e s tiv e s s e fa z e n d o d e s fe ita a e la , o u a in d a s e
à s d o ç u ra s d o a fe to , in s tin tiv a m e n te le v a d o à re b e liã o , à e x -
a lg u é m lh e fiz e s s e a lg u m b e m . U m d ia p e d iu p a ra q u e a d e i-
'7 tra v a g â n c ia e a o e s c â n d a lo . D e c la ra a lta m e n te n ã o a c re d ita r
x a s s e m e s p a n c a r d o is c ã e s . P o r q u ê ? p e rg u n ta ra m -lh e . P o rq u e
n a v irtu d e , s u s te n ta n d o c o m u m lu x o d e e ru d iç ã o e d e ló g ic a ,
m e irrita v ê -lo s a c a ric ia r o s o u tro s !
a s te o ria s m a is im o ra is , a s m a is le s iv a s à d ig n id a d e hum ana e
à o rd e m s o c ia l.
14. A ltru ís m o
L e v a d o a a v a lia r ju s ta m e n te o b e m e o m a l e a v a lo riz a r
a s re la tiv a s c o n s e q ü ê n c ia s , e s tim a n a tu ra lm e n te a h ip o c ris ia e V e rd a d e é n ã o ra ra m e n te , e m v e z d e e x c e s s iv o e g o ís m o ,
a m e n tira quando p u d e r tira r p ro v e ito d e la s . A o d e c a n ta r a s e n o ta a ltru ís m o . H o lla n d e r conheceu u m a d e m e n te m o ra l
s u a c o ra g e m e n o tra b a lh o d e d e fe s a , d e s c u id a d a s re g ra s q u e te n to u o s u ic íd io a p ó s a m o rte d e u m a a m ig a . F a la ta m -
c o m u n s d a p ru d ê n c ia , d e s c o n h e c e n d o o q u a n to d is s o lh e p o d e bém de um ra p a z q u e , m a lg ra d o u m a v id a d e o rg ia s e d e
s e to rn a r d a n o s o . R e p re s e n ta n d o u m m o d o d ife re n te d o v e rd a - v io lê n c ia d o e n tia , e ra e x c e le n te filh o e irm ã o .
d e iro , p o u c o p e rc e b e a d e s o rd e m d e p e rc e p ç ã o e re p ro d u ç ã o L e g ra n d d e S a u lle n o s fa la d e u m a m ã e q u e , c o m p re -
d a s id é ia s e a c a p a c id a d e d e re s is tir a o s im p u ls o s p e rv e rs o s . te x to d e p re s e rv a r o filh o d a s ífilis o u d e o u tro m a l, e n c a m i-
O s c a ra c te re s q u e a p o n te i n o h o m e m d e lin q ü e n te n a to n h a v a -o a a m o r c a rn a l d e fo rm a ra c io n a l, n o d iz e r d e la . U m
re p e te m e x a ta m e n te e s te q u a d ro . L e m a ire d iz ia : " S e i q u e fiz p a c ie n te m e u , c o m o p re te x to d e fa z e r s e u s filh o s e s tu d a re l1 1 ,
m a l, s e a lg u é m m e d is s e s s e q u e fiz b e m , d iria q u e s e tra ta d e n ã o lh e s c o n c e d ia te m p o p a ra d o rm ir, n e m m e s m o q u a n d o
u m c a n a lh a , m a s n ã o p o d e ria fa z e r d e o u tra fo rm a " . L a c e n a ire a d o e c e ra m . Q uando u m d e le s m o rre u , n ã o s e s u rp re e n d e u e
la m e n ta v a a m o rte d o s o u ti6 s c o m o s e fo s s e a d e u m g a to . v o lto u e m b re v e a e s s a c ru e l e d u c a ç ã o .

202 203
.•.~
.
..~
1 5 . V a id a d e e x c e ssiv a F e rla n d , G ra y , p o r e x e m p lo , a d m ite m u m e n fra q u e c im e n to
e m a is o u tro s u m a irre g u la rid a d e . M o re i e n c o n tra n e le s u m a
N isso e n tra a in d a a m e d ita ç ã o re lig io sa , q u e jo g a n a s
a titu d e in te le c tu a l e sp e c ia l,_ fa c ilid a d e e m e sc re v e r e fa la r e
c o sta s d e D e u s a p ró p ria in se n sib ilid a d e e q u e e la b o ra a té
n a p ro d u ç ã o a rtístic a , su p e ra d a fre q ü e n te m e n te p o r te n d ê n - .
u m a le i: a e x c e ssiv a v a id a d e , p a ra a q u a l g a sta m e e x c e d e m a
c a rid a d e , p a ra a tra ir a e stim a p ú b lic a , o u e n tã o m o stra r ou c ia s p a ra d o x a is. C am pagne n o to u n a e x tra v a g â n c ia d e le s a
fa lta d e se n so c o m u m .
sim u la r riq u e z a . E sta m e g a lo m a n ia , o u se ja , a e x c e ssiv a v a i-
dade, é p ró p ria ta n to n o s c rim in o so s n a to s com o n o s d e -" .." .~ ~ . T am bém K ra fft-E b b in g ,.e llq u a n to n ã o e n c o n tra ano-
m e n te s m o ra is. A g n o le tti re p e tia c o n tin u a m e n te : "É D eus ." m a lia s d e in te lig ê n c ia , c o n fe ssa q u e e le s sã o sim p le s'd e e sp í-
q u e m e p e rm ite so b re v iv e r p a ra p u n ir o s se u s d e tra to re s" . rito , a b su rd o s, se m p ru d ê n c ia n a p rá tic a d e c rim e s, m a s te rm i-
" F o i D e u s q u e fe z m o rre r u m d e se u s a d v e rsá rio s" . É c u rio so n a m p o r a c re d ita r c o m o v e rd a d e iro s o s fa to s q u e in v e n ta m ,
a té p a ra a h istó ria d a re lig iã o v e r o q u a n to é com um a trib u ir e a a trib u ir a si m e sm o s o s a c o n te c im e n to s o c o rrid o s com
a D e u s o s p ró p rio s im p u lso s, ta lv e z p o r se re m irre sistív e is. o u tra s p e sso a s.
A ssim d iz o d e lin q ü e n te G u id e a u : " E u n ã o p o sso se r lo u c o ; E le s tê m , e sc re v e B a tta n o li, n o s d o is c a so s, u m a v a sta
D e u s n ã o e sc o lh e se u s o p e rá rio s e n tre o s lo u c o s" . c o rre n te d e c o g n iç õ e s, m a s sã o se m p re sa p ie n te s m e n in o s;
A o q u e p a re c e , e le s se ju lg a m o s re p re se n ta n te s de D eus e sc re v e u , fa la n d o c o m g ra ç a , c o m b rio , m a s c o m o p a p a g a io s
n a te rra . in stru íd o s e e n g e n h o so s. E sse s c a ra c te re s c o n tra d itó rio s que
T ra te i d e u m q u e a ssin a v a n ã o SÓ c a rta s, m a s c a m b ia is, se e n c o n tra m e x a ta m e n te n o s c rim in o so s d e riv a m d o fa to
c o m fa lso s títu lo s n o b iliá rq u ic o s, e se g a b a v a d e te r tid o c o m o d e q u e n e m to d o s o s d e m e n te s m o ra is sã o .e n q u a d ra d o s n u m
a m a n te s se n h o ra s c o n h e c id a s d a so c ie d a d e e m q u e v iv ia e , m e sm o p a d rã o , c o m o n e m m e sm o to d o s o s c rim in o so s. C o m o
e le p ró p rio , fo rja v a c a rta s a m o ro sa s, c o m b e la le tra d e m u - a c o n te c e c o m o s a n im a is, q u e , q u a n to m a is n u m e ro so s, m a is
lh e re s e e n v ia d a s a o e n d e re ç o d e le , e d e p o is a s m o stra v a se in d iv id u a liz a m e o fe re c e m m a io r e m a is re a lç a d a v a rie d a d e ,
im p ru d e n te m e n te a se u s c o m p a n h e iro s. a té a d iv id ir-se e m su b e sp é c ie s, d a m e sm a fo rm a a c o n te c e
c o m o s d e m e n te s m o ra is e m re la ç ã o à in te lig ê n c ia , fic a n d o
se m p re a le v ia n d a d e , a a stú c ia , c o m o o c a rá te r p rin c ip a l.
1 6 . In te lig ê n c ia
A d ife re n ç a d e riv a ta m b é m d o fa to d e q u e te n d o e le s
Q u a n to à in te lig ê n c ia , c e rta m e n te n ã o é tã o a p a g a d a e n g e n h o v iv a z d e sd e jo v e m , v ã o e n to rp e c e n d o n a id a d e a d u l-
c o m o o se n tim e n to e o a fe to . M a s, p e lo v ín c u lo que une ta e q u e , e sta n d o su je ito s a c o n g e stõ e s c e re b ra is, d e v e m a p re -
Ito
, d a s a s fu n ç õ e s p síq u ic a s, n ã o se p o d e d iz e r q u e se ja c o m p le - se n ta r n a tu ra lm e n te e rro s in te le c tu a is v a ria d o s. P o r isso se
ta m e n te sã . S e m u ito s p siq u ia tra s e stã o d e a c o rd o , e sp e c ia l- p o d e re c o lh e r n o s p e sq u isa d o re s g ra d a ç õ e s que vão de ho-
m e n te P ritc h a rd , P in e l, N ic o lso n , M a u d sle y , T o m a ssia , e m m e n s d e g ê n io (q u e sã o ra ríssim o s e n tre o s c rim in o so s) a té
e n c o n tra r n o s c rim in o so s u m a in te g rid a d e p e rfe ita , c o m e x - o s se m i-im b e c is, c o m o sã o g ra n d e p a rte d o s la d rõ e s e d o s
c lu sã o n ã o a p e n a s d e a lu c in a ç õ e s e ilu sõ e s, m a s ta m b é m de im b e c is, e n tre o s q u a is n ã o h e sita e m c o lo c a r G ra n d i d i M o r-
d e fe ito e d e so rd e m , m u ito s o u tro s, a o c o n trá rio , Z e lle , M a c - se lli, q u e fo i c o n d e n a d o .

204 205

~.
j.

B a tta n o li d e sc re v e u m q u e e ra v e rd a d e iro p o e ta e L iv i 1 9 . A tiv id a d e d o e n tia


e m su a to sc a lin g u a g e m u m v e rd a d e iro filó so fo e p ic u rista .
V e rd a d e é q u e S c h u le d isse se re m o s d e m e n te s m o ra is
A v e rig ü e i q u e e sta v a ju n to n a a p lic a ç ã o té c n ic a a m a is a lta
e stra n h a m e n te e x c itá v e is, c o m o p e ro sid a d e e x c e ssiv a a lte r-
a v a lia ç ã o so c ia l e a o s g ra u s m a is e le v a d o s, m a lg ra d o so -
n a d a c o m in é rc ia e in d isc ip lin a , c o n tín u a in q u ie tu d e , in c o n -
fre sse ta m b é m n a ju v e n tu d e , d e fre q ü e n te s fa se s d e a m n é -
te n ta b ilid a d e , a té h a v e r a tin g id o se u o b je tiv o e se tra n q ü ili-
sia , e u m a e stra n h a te n d ê n c ia a o su ic íd io , e m a is ta rd e fo sse
z a m . D e p o is re to rn a m in q u ie to s, a tiv o s n a p ro fissã o a lg u m a s
" J::Q lh id o a té c o m e rro s d e lin g u a g e m e d e m a n ia s d e p e rse -
v e z e s, m a s c o m o m e n in o s n a v id a : "E stà c a ra c te rístic a que
g u iç ã o . P o r o u tro la d o , te n h o u m c a so d e in te lig ê n c ia tã o
p a re c e c o n tra d itó ria m a s n ã o é to ta lm e n te , p o rq u e a p a re c e
d é b il, a p o n to d e a p ro x im a r-se d a im b e c ilid a d e , e m b o ra so u -
b e sse e sc re v e r b e m . n o s p rim e iro s p e río d o s d a v irilid a d e e fa lta e m m u ito s, e n c o n -
tra -se e m m u ito s g ra n d e s c rim in o so s, c o m o p o r e x e m p lo , L a -
c e n a ire , G a sp a ro n e , A lb e rti, q u e a tin g ira m fre q ü e n te m e n te
1 7 . A stú c ia
e le v a d a s p o siç õ e s so c ia is. A a tiv id a d e d e le s e x p lic a -se a p e n a s
n o m a l. E m fa m ília d iz K ra fft-E b b in g , a te n a c id a d e e m e la n -
U m a ra z ã o p e la q u a l ta n to s sã o le v a d o s a a c re d ita r q u e
1..
e ste ja in ta c ta a in te lig ê n c ia d o d e m e n te m o ra l é p o rq u e to d o s c o lia d e le s sã o o te rro r d e se u s p a is. N a e sc o la , o e sfo rç o

sã o a stu to s, h a b ilíssim o s n a p rá tic a d o s d e lito s e n a ju stific a - d e le s p a ra se fa z e re m e x p u lsa r é d e e x tra o rd in á ria fin e z a .

tiv a d e le s. A ssim , a C a te rin a , d e S a le m i-P a c e n e g a d e im e - S e se o c u p a m , lo g o se to rn a m la d rõ e s, re v é is a q u a lq u e r


"~ d ia to a te n ta tiv a d e c o rru p ç ã o e su b tra iu -se à p risã o , ju stifi- d isc ip lin a , c o m o a q u a lq u e r tra b a lh o n o c á rc e re . M u ito s sã o
t,.
=:;; c a n d o c o m o te m o r d e se r a g re d id a p e la s filh a s. A ssim ta m - sim p le s d e e sp írito , fre q ü e n te m e n te a b su rd o s, e n e g lig e n c ia m
bém L .M . d e C a p e lli, te n d o v isto p a rtir d e u m a c a sa u m a q u a lq u e r p ru d ê n c ia n o s a to s. M e n tiro so s, m as acabam por
v iú v a q u e a a lu g a ra , o c u p o u -a c o m o su a , m a n d a n d o a se r- a c re d ita r c o m o v e rd a d e iro tu d o q u e in v e n ta m . T u d o isto
v e n te v e n d e r o s m ó v e is e fu g iu , q u a n d o fo i d e sc o b e rta . a c o n te c e c o m o s la d rõ e s m e n o re s e a u m a b o a p a rte d o s d e -
m a is la d rõ e s.

1 8 . P re g u iç a
2 0 . P re te n sõ e s d e d ife re n ç a s
N ã o fa lta a p re g u iç a p a ra o tra b a lh o n o s d e m e n te s m o-
ra is, e m c o n tra ste c o m a a tiv id a d e e x a g e ra d a n a s o rg ia s e n o O s c a ra c te re s q u e , c o m fa tig a n te a n á lise , o s a n a lista s
m a l, e x a ta m e n te c o m o n o s c rim in o so s n a to s. S e i d e u m q u e c h e g a ra m a e n c o n tra r p a ra d istin g u ir o s d e m e n te s m o ra is
p e rm a n e c ia a se m a n a in te ira n o le ito , m a s e ra c a p a z d e e sta r d o s d e lin q ü e n te s n a to s só c o n se g u e m c o n firm a r a a n a lo g ia .
1 0 d ia s e m b a ile s o u e m p a sse io s fo ra d e c a sa . O u tro a le g a v a K ra fft-E b b in g n o ta o a n d a m e n to p ro g re ssiv o d a c ó le ra m o r-
m il d o e n ç a s p a ra n ã o tra b a lh a r. E m g e ra l, d isse K ra fft-E b b in g , b u s n o s d e m e n te s m o ra is - e n ó s re c o rd a m o s a a ssim c h a m a d a
fa lta m -lh e s a tiv id a d e , e n e rg ia , q u a n d o n ã o se tra ta r d a sa tis- "e sc a la d o c rim e ". E sc re v e P in e l q u e m o stra m na execução
fa ç ã o d e se u s d e se jo s im o ra is. O d e ia m o tra b a lh o h o n e sto . d e a to s im p u lsiv o s, im p re v id ê n c ia , c ru e ld a d e m o n stru o sa , c i-
A m e n d ic id a d e e a v a d ia ~ ín sã o a v o c a ç ã o d e le s. n ism o , g a b a n d o -se d e p o is d o . c rim e , se m re m o rso , m a s, e le s

206 207
p ró p rio s , c o n fe ssa m a p ó s q u e e s s e s c a ra c te re s s e e n c o n tra m p o r e la p a ra a p ro je ta d a e x c u rs ã o . A s s im a c o n te c e u . E le n ã o
n o s v e rd a d e iro s c rim in o s o s . fo i re c o n h e c id o e quando e s ta v a p e rto d o S e n a te n to u d e rru -

D is tin g u e m -s e , d iz K ra fft-E b b in g , d o s c rim in o s o s co- b a r a c a rru a g e m n o rio ; s ó e n tã o a fa m ília s e d e u c o n ta do

m u n s p o r h a v e r a fe iç õ e s c e re b ra is , c o n g ê n ita s o u a d q u irid a s , lo g ro , e o d o id o fo i e n v ia d o p a ra o m a n ic ô m io .

h e ra n ç a d e -a lc o o lis m o , e p ile p s i~ l o u c u r a , t r a u ~ r i i .a s - c é r e b r a i s ; ~Em u m m a n ic 6 ~ i~ p riv a d o d e P a ri~ :~ o ~ tro d o id o a fi~ ~


m e n in g ite o u a tro fia s e n il, d e m ê n c ia s e n il, a lte ra ç õ e s fu n c io - um pedaço d e fe rro , e sc o n d e u d u ra n te q u in z e d ia s , c o m o
n a is d o s is te m a n e r V D S Oo u d o d e s e n v o l v i m e n t o d o c o rp o , q u a l m a to u a filh a d o d ire to r, g rita n d o lo g o a p ó s : " M e fiz e ra m
e s tra b is m o , p é e q ü in o , m á c o n fo rm a ç ã o d a g e n itá lia . S ã o p re - o q u e q u is e ra m ; e u m e v in g u e i" . Im p o rta n tís s im o é esse caso
d is p o s to s às doenças c e re b ra is , à s c o n g e s tõ e s , in to le râ n c ia s n a rra d o p o r A d ria n i.
n o s a lc o ó la tra s , v a rie d a d e d e h u m o r, e x a g e ro d a s p a ix õ e s . U m c e rto d e m e n te , n o q u a l p re v a le c ia a id é ia d e riq u e -
S c h u le e s c re v e q u e s ã o filh o s d e lo u c o s , c o m fre q ü e n te s z a e v a le n tia , e a to s d e v io lê n c ia , u m d ia , d e p o is d e s im u la r
a n o m a lia s d o c râ n io , d o s e x o , d o p a la d a r, d a lín g u a , e x p o s to s c o m p le ta tra n q ü ilid a d e , a n te s d e e sc u re c e r, pede p a ra ser
à irrita ç ã o d o s n e rv o s, s o n a m b u lis m o , c o n fu sõ e s, lo u c u ra s d e ix a d o um pouco d e te m p o n o q u a rte irã o a n te s d e e n tra r
p e rió d ic a s , h ip o c o n d ria , n a s p rim e ira s o c a s iõ e s , n a p u b e r- n o a p o s e n to . A p ro v e ito u a o c a s iã o p a ra fa z e r u m p a c o te de
dade, nas doenças g ra v e s . V e re m o s tu d o is s o n o s ré u s n a to s . s u a s ro u p a s e a g a s a lh o s , q u e d e ix a fo ra d o p ró p rio a p o s e n to .
E s p e ra q u e v e n h a o g u a rd a d a ro n d a e d iz q u e lá e s ta v a p a ra d o
p a ra c a u s a r-lh e m edo. A vançou um p a s s o e lh e v ib ro u um
2 1 . P re m e d ita ç ã o
fo rte g o lp e c o m u m a b a c ia , d e rru b a n d o -o p a ra le v a r a s c h a v e s
F a la -s e d a p re m e d ita ç ã o , d a d is s im u la ç ã o , d a a rte c o m e fu g ir. C o n fe s s o u d e p o is , c o m a m á x im a in d ife re n ç a , a p re -
q u e o s v e rd a d e iro s c rim in o s o s s e e s c o n d e m e n q u a n to dem en- m e d ita ç ã o , e c o n to u c o m o n a q u e le d ia tin h a a c e rta d o com
te s m o ra is c o m e te ria m to d o m a le fíc io à s c la ra s , com o se o u tro a lie n a d o q u e já te n ta ra a fu g a o u tra v e z . E la m e n ta v a -
tiv e s s e m o d ire ito d e fa z ê -lo . A d ic io n a -s e q u e n ã o ra ra s v e z e s s e d e n ã o te r p o d id o p ra tic a r o h o m ic íd io .
o s d e m e n te s m o ra is , c o m o o s d e lin q ü e n te s c o m u n s p re p a ra m
o á lib i, p re m e d ita m o c rim e , c o m e te m -n o não p o r ím p e to
2 2 . E s p írito d e a s s o c ia ç ã o
in e s p e ra d o , m a s p o r v in g a n ç a o u lu c ro , a s s o c ia n d o -s e fre -
q ü e n te m e n te c o m s e u s c o m p a rs a s . N o ta -s e q u e to d a s a s c o n - E s te é u m fa to o c o rrid o n o m a n ic ô m io d e M a rs e lh a
fu s õ e s d o m a n ic õ m io nascem d o s a lie n a d o s , q u e in d u z e m os 1 0 a n o s a trá s , em q u e d o is d e m e n te s p ro g ra m a ra m m a ta r
o u tro s a o s m a le s , e n g a n a m -n o s e d e n u n c ia m o s s u p e rio re s e o s s e rv e n te s , a p o ssa r-se d a s c h a v e s e fu g ire m . E s s e fa to b a s -
s ã o s e m p re in c lin a d o s à s re b e liõ e s . ta ria p a ra m o s tra r a p o s s ib ilid a d e q u e n ã o s ó o s d e m e n te s

A ubanel n a rra c o m o u m d e le s q u e o d ia v a a fa m ília d e m o ra is , m a s ta m b é m o s d e m e n te s com uns s e a c e rta m e n tre

s u a m u lh e r, s a b e n d o q u e e la d e v e ria fa z e r u m a v ia g e m a P a ris , e le s , e c o n s p ira m c o m o o s e n c a rc e ra d o s, e n o s re v e la m a in d a

d is fa rç o u -s e e a lu g o u u m a c a rru a g e m q u e a c o n d u z ia p e ra n te q u a n ta te n a c id a d e v in g a tiv a re p o u sa n e le s , ta n to q u a n to

a s a íd a d a o d ia d a f a m í l i a ,' a r g u m e n t a n d o que s e ria s e rv id a n o s d e lin q ü e n te s .


,
208 •..- ';
'.-11'"
209

.-u ..
t'á.i:<
N en h u m d o s au to res citad o s n o to u um fato que
E ssas p erg u n tas d en u n ciaram -n o p elo crim e e d em o n s-
en co n trei n o s d elin q ü en tes co m freq ü ên cia, co m o ex ata-
traram a n ecessid ad e d e falar d o p ró p rio d elito e d eix ar u m a
m en te n o m aio r n ú m ero d e crim in o so s: o d esejo d e v iv er
lem b ran ça d ele p o r escrito . C o m o b em ad v ertem T am b u rin i
n o seio d a so cied ad e q u e eles freq ü en tam , em b o ra d etestem ,
e S ep p illi, o q u e d izer d aq u ele d em en te citad o p o r M au d sley ,
p rin cip alm en te--'so cied ad e~ d e h o m en s d a m esm a sú cia:-.---~ -".~
q u e, assim q u e m ato u ú Ín am en in a, lav o u as m ão s, e escrev eu
R eco rd am o -n o s d e u m certo R o sa, q u e estran g u lo u sem
n o seu d iário : "M o rta, u m a m en in a era b o a e q u en te".
cau sa u m a n eta, d ep o is p o r v in g an ça, m atg u n o m eu m an i-
cô m io u m alien ad o . M as, n ão p o d ia v iv er iso lad o . A ssim
q u e o co lo q u ei n u m a cela, am eaço u e d ep o is ten to u estran - 2 4 . S im u lação
g u lar-se, e teria p erp etrad o o su icíd io , se n ão o tiv esse co lo -
A té a freq ü ên cia d a sim u lação d e d em ên cia, q u e en co n -
cad o n o m eio d e u m g ru p o , ao q u al era h o stil, m as d o q u al
tram o s m u itas v ezes n o s crim in o so s, en co n tra-se an o tad a em
n ão se p o d ia afastar.
alg u m as o b serv açô es d ilig en tes.

2 3 . V aid ad e d o d elito
2 5 . S in to m ato lo g ia d a d em ên cia m o ral n as o u tras
T am b ém a v aid ad e d o d elito , o u m elh o r, o estran h o
A o b jeção , q u e m u itas d o en ças m en tais têm em seu
d esejo d e etern izá-lo n as an o taçõ es, tem o s n o tad o co m m u itas
sistem a d e ten d ên cias p ró p rias d a d em ên cia m o ral, n ão traz
p ro v as, q u e rev elam esp ecial ten d ên cia d o s crim in o so s. Foi
q u alq u er p reju ízo à ex istên cia d ela, co m o o s caso s d e ín d o le
p o ssív el o b serv á-la p elo estu d o acu rad o d e alg u n s caso s em
sifilítica, satu rn in a, h istérica n ão trazem à ex istên cia d a p ara-
~ q u e o d iag n ó stico d a d em ên cia m o ral era in d iscu tív el. Ao
lisia, d a ep ilep sia, d a d em ên cia.
rev és, ex am in ad o s n o s réu s co m u n s, o s caso s serv em p ara
d ar in d ício freq ü en te, e alg u m as v ezes, u m a ex p licação do
crim e. A ssim , u m d em en te m o ral, d ep o is d e ter to m ad o to d as 2 6 . H isto lo g ia p ato ló g ica d a d em ên cia m o ral
as p recau çõ es p ara esco n d er o fratricíd io e o p arricíd io , red ig ia
N o s três caso s d e d em ên cia m o ral, em q u e se fez au tó p -
essas lin h as secretam en te:
sia, fo ram en co n trad as m en in g ite e ap o p lex ia av an çad as n o s
v aso s. F altam -n o s estu d o s av an çad o s so b re este assu n to . M as,
- "Q u al é o d estin o d e m in h a m ãe, e q u e m o rte d ev erá u m a v ez reco n h ecid a a an alo g ia co m o u tras n eu ro p ato lo g ias,
ter? S e co n seg u irei elim in á-la co m arsên ico ; se n ão , d e q u e so co rrem -n o s as p recio sas o b serv açõ es d e A rn d t d e q u e "m u i-
m o d o e q u an d o ?
tas célu las g an g lio n ares são n o s n eu ró tico s em estad o d e
- E m q u e an o m o rrerá, e d e d o en ça, n ão se sab en d o ? d esen v o lv im en to in ferio res co m o n o s rép teis, n a salam an d ra.
C o n seg u irei m atá-la; e d e q u e m o d o , o u n ão co n seg u irei!
E m alg u n s o "cilin d er ax is" se ap resen ta m ais su til o u
- O m eu d estin o , q u al será?" co b erto d e g rân u lo s sem su ficien te iso lam en to co m resp eito
;..,-"
às p artes q u e o circu n d am ,. p ara o s q u ais a ex citação m ais
I'~
210 J'<
211
I. :r.
~
facilm ente se irradia; falta realm ente em parte destes, algum as fazem -se a princípio tím idos e após se entregam aos vícios
vezes, e é substituída pela acum ulação de células protoplasm ática. com energia que antes aplicavam aos estudos. Procuram com
altos ganhos com pensar a hum ilhação da glória perdida, e
-
:'''"...
im pacientes do êxito, um pouco fechados no raciocínio, exe-
2 7. A hereditariedade na dem ência m oral
cutam cinicam ente qualquer obra m aldosa.+E m .outros ter-
A prova m ais segura é no desenvolvim ento, na origem m os, a puberdade só, sem outra, foi a causa das tendências im orais.
da doença. T anto do delinqüente nato com o o dem ente m oral R ecordem os, a propósito, o caso de V erzeni, L em aire e
datam quase sem pre da infância e da puberdade. L ivi escre- outros, em que n'enhum a outra causa a não ser esta, a de que
veu: "os dem entes m orais nascem plasm ados naturalm ente estam os falando, explica a tendência estranham ente perversa.
para o m al". Savage distingue, com o M endel e K rafft- E bbing, T am bém involução da idade senil e a decadência da atividade
um a form a de dem ência m oral prim ária, que se m anifesta genital podem indicar, provocar de repente, o recrudesci-
freqüentem ente dos 5 aos 11 anos, com o furto, caráter excên- m ento desta tendência e dar um a explicação, com o era o
trico, com aversão aos costum es fam iliares, agitabilidade, in- caso de G arrayo, a princípio virtuoso e honestíssim o e após
capacidade de educação, crueldade e cinism o extraordinário, os 40 anos um assassino, estuprador de nove m ulheres, ou
sexualidade precoce devido à qual são m asturbadores desde m elhor, um necrom aníaco.
o início da vida. A hereditariedade, a descendência de dem entes, en-
R ecordo-m e de dois que na idade de 4 anos com eçaram contra-se tam bém neles, m as exatam ente com o verem os nos
a ser o desespero dos próprios pais, com furtos, m entiras, delinqüentes natos, em proporção m enor do que nos com uns,
ódio à m ãe, aos irm ãos, e um no com ércio e outro na arit- enquanto é em m aior proporção a cifra dos pais egoístas,
m ética tinham singular habilidade. T odi conta a história de viciosos e crim inosos. V ê-se que a influência hereditária da
um a m enina que picava os olhos dos cavalos e dos cães de dem ência não é tão grande quanto a do vício e da crim ina-
sua casa, e tornou-se m ãe e m ulher desnaturada. D epois se lidade - exatam ente com o nos crim inosos - e recordarei
revelou um a dem ente m oral. A ssim tam bém aconteceu com sobretudo o tipo m ais clássico de dem ência m oral, que tinha
um rapaz que arrancava a língua dos pássaros. C onstatam os avô hom icida por C iúm e, tio incendiário e pai estuprador e
exatam ente com o os delinqüentes natos apresentam as ten- que m atou um a m ulher para testar um fuzil.
dências im orais m uito precoces. A continuação da prim eira R ecordam os a dem ente m oral, citada por Salem i-Pace, com
idade, que é a m ais clara explicação, nos dá a chave de sua m ãe adúltera e pai crim inoso; C atarina, citada por B onvecchiato,
difusão, visto que no fundo é um a continuação, seja por causa com pai beberrão; F.A .,de G .B . V erga, com pai de caráter grosseiro,
patológica, seja por um estado fisiológico. irm ão pederasta, um outro ladrão, um outro epiléptico e irm ã
A lgum as vezes há o recrudescim ento na puberdade. im becil; a M aria, de C antarano, com irm ão vagabundo e dois
E screvem T odi e L egrand de Saulle que sem elhantes casos pacientes m eus que tiveram m ãe obscena e pai beberrão.
parece que na infância são dotados de extraordinário gênio É precisam ente esta expressão um pouco m enor que
artístico e apego aos estudos;"m as quando vem a puberdade encontram os nos delinqüentes cuja hereditariedade da de-

212
\~ 213
m ência não ultrapassa a 22% , enquanto nos dem entes co- Tive, em longo tratam ento, um jovem que confirm a
m uns vai além de 50% , se bem que seja m aior talvez nos essa observação. Filho de pai alcoólatra, de m ãe erótica e
grandes culpados, com o Faella, A lberti, etc. É esta m esm a com tendência suicida, m uito estranho, com avô suicida, ir-
proporção m enor que a que Som m er verificou nos dem entes m ãos honestíssim os, era ele o predileto dos pais e m orm ente
crim inosos-"em confronto com os outros. de um a"ca"m areira que o protegia encontrando sem pre um a" 11

Enquanto os dem entes com uns têm 30% de heredita- desculpa às m alvadezas dele. Encam inhou-se ao furto desde
riedade, os dem entes crim inosos têm 22% , m as nestes a here- a infância. C om três anos, indo ao m ercado, apropriava-se
ditariedade é m ais realçada, nos vários ram os colaterais, e de peixes, frutas, cestas de dinheiro. Q uando cresceu, gastava
m ais nos casos com avô, pai, tio dem entes e todos os irm ãos em guloseim as o quanto conseguia furtar da m ãe ou da cam a-
neuróticos, outros com avô, m ãe e irm ãs dem entes, o pai reira, que não faziam caso. N a escola apoderava-se dos objetos
beberrão, três irm ãs dem entes. dos com panheiros.

A influência direta dos alcoólatras é notada por C am - Isto se com preende do quanto vim os no início, sobre
pagne seis vezes, e três juntos com doentes venéreos. N ós já as tendências crim inosas dos m eninos que apresentam fisiolo-
c a encontram os e m elhor a encontrarem os no delito. gicam ente um estado sim ilar à dem ência m oral, de m odo
K rafft-Ebbing falava dos afetados pela m eningite, trau- que quando não encontram circunstâncias favoráveis à trans-
m as na cabeça, com o causa da dem ência m oral, e nós verem os form ação norm al em hom em honesto, essas tendências perduram .
com o o sejam de tendência ao delito, com o por exem plo, o Este estado patológico se faz com o tem po costum eiro,
,; furto, indicado por A crell, M orei, O all, e que recordam os a em sum a, tam bém quando o indivíduo não teria tendências
• freqüência do traum a na cabeça dos delinqüentes; 7% segun- especiais ao delito, quando não seria um hom em com o todos
do m inha pesquisa, e os 21 em 58 de D el B ruck, os 3 em 28 os outros, m as, m ais facilm ente o atinge a influência hereditá-
casos de Flechs. N arrei a história de um ladrão depois de um ria. Isto explica os casos de crim inosos aparentem ente natos
traum a na cabeça. A inda recentem ente, A rduin notou um a com o tais e sem anom alias de crânio ou das faces.
fratura no crânio em um que encontrou entre 19 assassinos. A ssim se explicam essas dem ências m orais dos déspo-
Im portantíssim a sobre todas é a cota, escassa é ver- tas, seja do trono, com o a grande parte dos C ésares, seja do
dade, m as provada com certeza, de dem entes m orais, que poder, com o M arat, seja com o os tiranos da república hispa-
surgiram de um a educação m aldosa. H olandêr e Savage no-am ericana, os quais, de tranqüilos e até hum anos que
fazem notar a freqüência de estado m órbido naqueles que eram a princípio, ante o contato com o poder ilim itado, com
por dem asiada bondade ou negligência dos pais não conta- ou sem influência hereditária, tornaram -se cruéis, m esm o
ram com os freios na infância, nem se habituaram àqueles sem vantagem própria, m as por puro capricho.
lim ites que a lei im põe e pelos quais um hom em se form a Im portantíssim os são os casos notados por V ergílio, 2
m oralm ente. A contece igualm ente em alguns delinqüentes, vezes em 14 e por C am pagne, 7 vezes em 15, e um notado
especialm ente nos países selvagens e pouco civilizados, por Salem i-Pace, um por Todi, em que a dem ência m oral se
com o é o costum e da vingança. encontra seguida de infelicidade profunda ou de vivas im pres-

214 215
li
1-

sões p s ic o ló g ic a s . A s s im , T o d i c o n ta o caso de um a boa


e m p re g a d a que te n d o p e rd id o u m a m e n in a , fo i to m a d a de
d e m ê n c ia m o ra l c o m te n d ê n c ia a d e s e n te rra r o s c a d á v e re s
d a s c ria n ç a s .
. .- . - - - - - ~ = ~ _ , _ _. _.,,.. . w 'O -' _ _ • • • _.. ~ ~ ,~ __ • __ . ~~~ . _' __ -:--:'.:''''''_ ' .. '''~ :" ," ,''''''~
- - ~
.. ------ .-
- - -...~ - - _..
_ - - - - _ .- - - - ':::" ~ - ._ - = - ..- - - :::: O : : : - ': : ': - : : = : - '- ': - : ~ c '-

- - - . - A . p a ~ a d i - d o d ~ ~ e i . '; o l v i m e n r o d o s - ê e n t r o s p s f q { iiê o s ....

fo i p ro v o c a d a , com o a c o n te c e a a lg u m a s doenças m e n ta is ,
por causas p s íq u ic a s e m v e z d e fís ic a s , m a s o s e fe ito s s ã o o s
m esm os. E v id e n te m e n te , a d e m ê n c ia m o ra l s e v a i c o n c a te -
nando c o m u m g ru p o d e c rim in o s o s , ta m b é m e sse s se m g ra n -
d e s a n o m a lia s : o u p o r p a ix ã o o u p o r o c a s iã o . ~
17. FORÇA IR R E S IS T ÍV E L N O IN T IM O

DOS DEM ENTES M O R A .I S

1. Força irresistível- 2 . Força irresistível nos criminosos.


Confissões - 3 . Outros exemplos d e criminosos
4. Li~'re-arbítrio

1 . F o rç a irre s is tív e l

D e s ta p e rv e rtid a a fe tiv id a d e , d e s te ó d io excessivo e


s e m c a u s a , d e s ta fa lta o u in s u fic iê n c ia d e fre io s , d e s ta te n d ê n -
c ia h e re d itá ria m ú ltip la d e riv a a irre s is tib ilid a d e d o s a to s d o s
d e m e n te s m o ra is . S c h u le e sc re v e u que e le s tê m u m fu n d o
d e irrita b ilid a d e p ro n ta p a ra e x p lo d ir c o m o u m v u lc ã o . N ã o
podem d irig ir à s u a v o n ta d e o s im p u ls o s d o c iú m e , d a s e n -
s u a lid a d e , s e m p o d e r re s is tir a e le s . S ã o in g ra to s , im p a c ie n te s ,
v a id o s o s , desde s e u s a to s m a is m a ld o s o s . P in e l fa la d e u m
d e m e n te m o ra l q u e , m a l e d u c a d o , s e h a b itu o u a o s ú ltim o s
e x c e s s o s ; o s c a v a lo s q u e n ã o lh e s e rv e m , o s m a ta ; quem se
opõe na p o lític a é p o r e le e s p a n c a d o ; se um a se n h o ra lh e
re sp o n d e jo g a -a n o p o ç o .

216 217
's m o tiv o s m a is fú te is , d is s e T a b u rin i a re s p e ito de D e p o is , a u m a s é rie re p e tid a d e s s e s a c e s s o s , a ju n ta -s e
,e n te m o ra l, q u a n d o fo re m o b s tá c u lo s p a ra a c o n s e - o h á b ito d o p ró p rio a to . A s s im é q u e n a a p a rê n c ia , fa lta a
..:s u a s a m b iç õ e s , b a s ta m p a ra fa z ê -lo e x p lo d ir e m a c e s - p ro p o rc io n a lid a d e e n tre a c a u s a e o e fe ito e h á a ç õ e s q u e à
ile ra , d o s q u a is n ã o h á m a is fre io . C o m o n o s m e n in o s p rim e ira v is ta n ã o p a re c e m depender d e u m m o tiv o . E is a q u i
is fiã o -h á p ro p o rç ã o e titre a re -a -ç ã o 'e 'o 'm o tiv o que os ~ '= ~ t . 7 _ - _ ~ - ~ . e x p liG a d a s 'a q u e la s ' e s tra n h a s 'te n d ê n c ia s " o b s c e n a s ;" p a ra d o - ,-_ o . ----' • • =
, A s s im , a s m a is le v e s c a u s a s d e ó d io c o n tra a lg u é m x a is , q u e v im o s s u rg ir n a in fâ n c ia e m in d iv íd u o s p re d is p o s to s
a s c e r n e le s im p u ls o s irre s is tív e is d e m a ta r seu desa- p e la h e re d ita rie d a d e , te n d ê n c ia q u e , a in d a q u e à p rim e ira
e s ta lh e v ir a o s lá b io s u m a fó rm u la d e in s u lto , s e n te - v is ta " is o la d a s e s e m le s õ e s d e o u tra s fu n ç õ e s a 'fe tiv a s n ã o
10 a re p e ti-la c e n te n a s de vezes. p o d e ria m c o n s titu ir-s e sem u m s u b s tra to d e s e n s ib ilid a d e

m a m b o s , e s c re v e o p a d re B a tta n o li, fa la n d o de seus p e rv e rtid a .

'n e n te s m o ra is , re v e la -s e u m e s fo rç o p a ra re fre a r e a T a m b é m a q u i s e e n c o n tra , e n tã o , c o m o n o s o u tro s d e -


n c ia p a ra c o n s e g u ir c o n tro lá -lo s . F a lta m a e le s p re v i- m e n te s m o ra is u m a h e re d ita rie d a d e e m la rg a e s c a la d e a lie -
c' p ru d ê n c ia . O s c o n s e lh o s , a s a d v e rtê n c ia s , o s c a s tig o s n a ç õ e s e d e v íc io s , u m a p re c o c id a d e s e x u a l a c im a d a m é d ia ,
,,-s e in ú te is a e le s . q u e p re d is p u n h a o o rg a n is m o n o p rim e iro a c id e n te à g e rm i-

','!o c ê o b s e rv o u o F ra n c is c o ? T o d a s a s p e rip é c ia s passa- nação d a id é ia fix a q u e a p e n a s o c a s o d e te rm in a , ou se, ao

'ja s a s d ific u ld a d e s e n c o n tra d a s p a ra s a ir, s e is a n o s d e c o n trá rio , c rim in o s a , m o n s tru o s a , c o m o a d e V e rz e n i, L e g ie r,

, ~ 'o , o s c o n s e lh o s e a s o ra ç õ e s d a d o s a n te s d a p a rtid a , e tc . A a n a lo g ia é ta n to m a is c la ra d e s d e q u e m u ito s d e le s , p o r

" n e s s a s , o s p ro te s to s q u e lh e fiz e ra m , v a le ra m p a ra q u ê ? e x e m p lo , a g a ro ta m a s tu rb a d o ra , re fe rid a p o r E s q u iro l, já tin h a

'--e s m o d ia e m q u e s a iu d o m a n ic ô m io , fo i re c la m a r e im p u ls o s o b s c e n o s ju n to c o m o s c rim in o s o s , c o m o o fu rto .

" a r b rig a p o r u m b o rd ã o d e n e n h u m v a lo r. E o n d e ? N o O s e rro s d a a fe tiv id a d e n ã o s e re v e la m p o rq u e e s tã o


, h o s p ita l d o q u a l fo i e n v ia d o a S ã o S é rv u lo . n o m e io d a p e n u m b ra d a e n o rm id a d e d o s fa to s im p u ls iv o s ,

)e tu d o is s o s e e n te n d e q u e s e a fo rm a im p u ls iv a n ã o é q u e , c re s c e n d o d e fo rm a d e s p ro p o rc io n a l à c a u s a , fa z e m e s -

,r s ó a o s d e m e n te s m o ra is , o c e rto é q u e n ã o s e p o d e d iz e r q u e c e r o g e rm e d e q u e s e o rig in a m o u p o rq u e re a lm e n te se

\ fa lta a e le s . É n a tu ra l p o rq u e o s m io lo s s ã o p re d is p o s to s c o n c e n tra m s ó e m u m a d a d a d ire ç ã o , a p a re c e n d o n o rm a l

_i n u triç ã o d e s d e o n a s c im e n to , e d e p o is n e le s s e ra d ic a e
e m o u tra .

u m a d a q u e la s m il te n d ê n c ia s m ó rb id a s q u e s e m a n ife s ta m A s s im , c o m o V e rz e n i e c o m a S a c c a m a n te c a s to d a a
,s e to d o s n ó s n u m a h o ra m á d o d ia , e s p e c ia lm e n te n a in fâ n - p e rd a d a a fe tiv id a d e s e m a n ife s ta p o r p e río d o s , e n o b á rb a ro
~ d e s g a s ta m n a s b o a s tê m p e ra s e s o b u m a b o a e d u c a ç ã o . m o d o d e e s tra n g u la m e n to fe m in il, m a s a a p a tia q u e m o s tra -
1E rá rio ,p e rm a n e c e m q u a n d o s ã o fa v o re c id a s p e lo o rg a n is - ra m a p ó s o d e lito , p e lo s p a is , p e la v ítim a , e p e lo p ró p rio s u -
d o a b a n d o n o , o u e x p lo d e m n e c e s s a ria m e n te e m in d iv í- p líc io , m o s tra q u e a a fe tiv id a d e e ra le v a d a fo ra d a s te n d ê n c ia s
,1 u e c a la m to d o s o s s e n tim e n to s a ltru ís ta s . S ã o v iv o s e e s p e c ia is q u e o s im p e lira m a o c rim e .
5, e m q u e n ã o h á o u tra fo rç a q u e d e te rm in e a ç ã o d ife re n - N ã o é , e m s u m a , a n ã o s e r q u e s tã o d e g ra u , q u e s tã o d e
'e s , to d o s o s m o tiv o s irp .p e le m a o m a l e n e n h u m ao bem . a c id e n te d e d ire ç ã o a u m a d a d a c o rre n te , a n te s q u e e m o u tra

219
I
I ••
d ire ç ã o , m a s o fu n d o é se m p re n e u ro ló g ic o ; é se m p re u m a N a c a sa d e d e te n ç ã o d e M ilã o , h á p o u c o s m e se s fo i
p a ra d a d o d e se n v o lv im e n to d e a lg u m a s fa c u ld a d e s que pe~- m o rto u m c a rc e re iro tã o d ó c il q u e n ã o e ra o d ia d o p o r n e -
m anecem n o e sta d o in fa n til; e , c o m o n a in fâ n c ia , se tra n sfo r- nhum d o s se u s e n c a rc e ra d o s. In te rro g a d o o h o m ic id a so b re
m am su tilm e n te e m a ç ã o , se m q u e se p o n h a u m fre io d o o m ó v e l d e se u d e lito , d isse q u e n ã o tin h a ó d io c o n tra su a
ra c io c ín io e a p re v id ê n c ia d e p o ssív e is d e sg ra ç a s e o h o rro r v ítim a , m a s q u e se n tia n e c e ssid a d e d e m a ta r a lg u é m , e te ria
d o o fe n d id o se n so m o ra l. ta m b é m m a ta d o o d ire to r d o p re síd io se o tiv e sse e n c o n tra d o .
E ra u m a ssa lta n te c o m u m , filh o d e u m m a lfe ito r.

2 . F o rç a irre sistív e l d o s c rim in o so s. C o n fissõ e s F e lic ia n i e n c o n tro u p e lo c a m in h o u m d e le g a d o com


q u e m n ã o tiv e ra q u a lq u e r c o n ta to ; p e rg u n to u -lh e o nom e e
C o m o tu d o isso se e n c o n tra e x a ta m e n te n o s c rim in o -
o u v iu q u e se c h a m a v a B ia n c h i, a o q u e F e lic ia n i lh e g rito u :
so s, já m o stre i c o m a s e sta tístic a s n a m ã o e c o m a o b se rv a ç ã o " T e d o u o s n e g ro s" ! (B ia n c h i e m ita lia n o é " b ra n c o s" ); só
d e o u tro s; e m e lh o r te ria p o d id o , só re c o lh e n d o a s c o n fissõ e s p o r e sta c o in c id ê n c ia o a p u n h a lo u .
d e le s. A ssim m e d isse u m la d rã o : " N ó s te m o s o fu rto n o sa n -
N a ó tim a Revista das Disciplinas Carcerárias e n c o n tra -
g u e ; se v e jo u m a a g u lh a n ã o p o sso fa z e r d e m e n o s d e p e g á -
m o s e sta c u rio sa c o n fissã o d e u m ta l V isc o n ti, condenado
la , a in d a q u e d e p o is e ste ja d isp o sto a re stitu í-la " . O g a tu n o
já v in te v e z e s p o r fu rto : " S e i q u e m e q u a lific a m com o um
B ru n o m e d isse q u e te n d o ro u b a d o d e sd e o s d o z e a n o s p e la
-la d rã o e sp e rto , m a s e u so u a p e n a s u m la d rã o d e se sp e ra d o ,
e stra d a , ro u b a d o n o c o lé g io , e sta v a n a im p o ssib ilid a d e de
- a quem fa lta a c o ra g e m d e tira r a v id a . E m 1 8 6 1 c o m e c e i
,I a b ste r-se d o fu rto , a in d a q u e e stiv e sse c o m o b o lso c h e io . S e
c o m e ste lio n a to , e d a í p a ra d ia n te . À m e d id a q u e a u m e n ta v a
n ã o , e ra d ifíc il d o rm ir e à m e ia -n o ite é c o n stra n g id o a ro u b a r
a condenação, to rn a v a -m e se m p re m a is d ifíc il e n c o n tra r
o p rim e iro o b je to q u e lh e v e n h a à m ã o .
tra b a lh o . C om ecei a b e b e r e e m b ria g a r-m e . B ebendo, me
D e h a m c o n fe ssa v a a L a u v e rg n e u m a p a ix ã o irre sistív e l se n tia a liv ia d o e n ã o m e c u ra v a m a is d e m in h a s in fe lic i-
p e lo fu rto . D iz ia : " N ã o m a is ro u b a r se ria p a ra m im c o m o d a d e s. C a m in h a v a p a ra a a v e n tu ra o lh a n d o à d ire ita e à
n ã o m a is v iv e r. O fu rto é u m a p a ix ã o q u e a rd e c o m o o a m o r, e sq u e rd a e quando a lg u m a c o isa su rg ia n o m e u c a m in h o ,
e quando o sa n g u e m e so b e à c a b e ç a e m e v a i a o s d e d o s, ro u b a v a e se m o lh a r, p o rq u e q u e ria se r p re so . E fu i. S e n ã o
c re io q u e ro u b a ria a m im m e sm o , se p u d e sse " . fo sse p re so , te ria c o n tin u a d o a ro u b a r e ro u b a re i de novo
se fo r liv re . N o m o m e n to e m q u e ro u b o , e x p e rim e n to um
3 . O u tro s e x e m p lo s d e c rim in o so s g ra n d e p ra z e r, m a s u m p ra z e r q u e p a ssa a n te s d e d e ix a r lu g a r
a u m a n o v a a g ita ç ã o . O a p e tite m e fa lta , n ã o d u rm o m a is;
H á u m a p a rte d o s d e lin q ü e n te s n o s q u a is o p ro c e sso v o lto a beber e e is-m e e m a le rta p a ra ro u b a r. S in to que
d o a to c rim in o so a ssu m e , a b so lu ta m e n te , a fo rm a e a te n a c i- a g o ra n ã o p o d e re i d e ix a r e sse m a ld ito v íc io ; c re io q u e se
d a d e d a m a n ia im p u lsiv a . V ã o a d ia n te a lg u n s e x e m p lo s. P o n - fo sse ric o e b e b e sse a lg u m d ü r, m a is p o r d e se jo ro u b a ria
tic e lli o b se rv o u o a to d e u m la d rã o tísic o , n a a g o n ia , su rru p ia r ig u a lm e n te . N e ste c a so p o ré m re stitu ire i a o p re ju d ic a d o o
u m c h in e lo d o v iz in h o e e sç o n d ê -Io n o le ito . q u e lh e tiv e r to m a d o ."

220 221
•••
- - -- ~ -~ ------- -- --- ~ - - - - - - _ . - - - _ .~ .- - - - - - - -

E a d ia n ta : " C r e io a s s im q u e a J u s tiç a m e f a r ia u m f a v o r A s s im a c o n te c e u c o m o s o u tr o s s e is , m a s p o r b o a in te n -
s e m e d e ix a s s e p a r a s e m p r e n o c á r c e r e e m q u e m e e n c o n rro , ç ã o . E le q u e r ia e n r iq u e c e r a c iê n c ia , c o n s e r v a n d o - lh e te s o u -
d a n d o -m e um a ocupação q u a lq u e r . N ã o h a v e n d o m a is h o n r a , r o s . S e e u f iz m a l, f a ç a m d e m im o q u e q u is e r e m , m as não
n a p r is ã o e s ta r ia m e lh o r d o q u e n o s e io d a c o m u n id a d e . O . d iv id a m o s m e u s liv r o s . N ã o é ju s to p u n i- lo s p o r m im . E a o
s u s te n to q u e m e d ã o é u m p o u c o e s c a s s o , m a s o a c h o ó tim o . p r e s id e n te q u e lh e p e r g u n to u c o m o p ô d e a te n ta r c o n tr a c r ia -
A s d u a s c o b e r ta s e o c o lc h ã o d e p a lh a m e g a r a n te m um sono tu r a s d e D e u s : " O s h o m e n s s ã o m o r ta is ; o s liv r o s p r e c is a m
tr a n q ü ilo . A s o lid ã ( ) m e a g r a d a . T endo o ç o ra ç ã o fe c h a d o se r c o n se rv a d o s p o is s ã o a g ló r ia d e D e u s " . E n ã o la m e n to u
a o s a f e to s , n a d a m a is a n s e io d o q u e o r e p ~ u s o " . sua condenação à m o r te ; s 6 la m e n to u s a b e r q u e o e x e m p la r
A lg u m a c o is a p o d e d is tin g u ir o e s ta d o d e â n im o d e s s e s q u e e le a c r e d ita v a s e r ú n ic o n ã o o e r a ( D e s p in e ) .
in d iv íd u o s , q u e s ã o v e r d a d e ir o s c r im in o s o s , d o e s ta d o d e â n i- E m E s tr a s b u r g o , f o r a m e n c o n tr a d o s a s s a s s in a d o s d o is
m o d o s d e m e n te s m o r a is , a ta c a d o d e te n d ê n c ia s in s tin tiv a s in d iv íd u o s , sem que se soubesse a ra z ã o ; p re so p o u c o s a n o s
ir r e f r e á v e is ? d e p o is o a b a d e T r e p .k , c o n f e s s o u tê - lo s m a ta d o s ó p e lo p r a z e r
. P ie r o tin h a o c a p r ic h o d e r o u b a r to d o s o s o r n a m e n to s d e v ê - lo s m o r r e r . Q u a n d o e r a r a p a z tin h a le v a d o d o is m e n in o s
d a s s e p u ltu r a s , a té lá p id e s q u e su p e ra v a m su a s fo rç a s. E s- a o b o sq u e ; e n fo rc o u -o s e o s q u e im o u . Foi condenado ( G a ll) . \.
p a lh a v a o s o b je to s r o u b a d o s ju n to a o s a m ig o s . E r a o p r im e ir o T o d o s e s s e s in d iv íd u o s a q u i r e f e r id o s fo ra m c o n d e n a -
a p ô r o s o u tr o s s o b r e a s p is ta s d o p r ó p r io f u r to . E n in g u é m o dos, m as quem n ã o v ê n e s s e s c a s o s q u e o d e lito s e c o n f u n d ia
ju lg a v a u m a lie n a d o . c o m o f o r m a im p u ls iv a d o s d e m e n te s m o r a is ?
D o n V ic e n te d e A r a g o n a , a p ó s a a b o liç ã o d a s c o r p o r a -
ç õ e s , m o n to u u m a liv r a r ia . V e n d ia liv r o s p o u c o p r e c io s o s , m a s 4 . L iv r e - a r b ítr io
" n â o s e d e s f a z ia d o s r a r o s . E m u m le ilã o ju d ic iá r io , u m c e r to P a s -
to t p ô d e , s u p e r a n d o - o n a o f e r ta , c o m p r a r u m liv r o q u e e r a c a r ís - N a s p e s s o a s s ã s é liv r e a v o n ta d e , c o m o d iz a m e ta f ís ic a ,
s im o . P o u c o s d ia s d e p o is , P a s to t e s u a c a s a e s ta v a m e m c h a m a s . m a s o s a to s s ã o d e te r m in a d o s p o r m o tiv o s q u e c o n tr a s ta m
D a li a a lg u n s m e s e s , o ito c a d á v e r e s f o r a m e n c o n tr a d o s n a ru a ; c o m o b e m - e s ta r s o c ia l. Q u a n d o s u r g e m , s ã o m a is o u m e n o s
e ra m e s tu d a n te s abonados e tin h a m d in h e ir o n o b o ls o . D o n f r e a d o s p o r o u tr o s m o tiv o s , c o m o o p r a z e r d o lo u v o r , o te m o r
V ic e n te f o i p r e s o ; d e c la r o u q u e s e u s liv r o s p r e d ile to s n ã o p o d e - da sanção, d a in f â m ia , d a I g r e ja , o u d a h e r e d ita r ie d a d e , ou
r ia m f ic a r d is p e r s o s , m a s r e c o lh id o s n a B ib lio te c a d e B a r c e lo n a . d e p r u d e n te s h á b ito s im p o s to s p o r u m a g in á s tic a m e n ta l c o n -
C o n f e s s o u te r s id o in d u z id o p o r P a s to t p a r a le v a r - lh e u m liv r o tin u a d a , m o tiv o q u e n ã o v a le m m a is n o s d e m e n te s m o r a is
e e x p o r tá - lo , e tê - lo e s tr a n g u la d o e p o s to f o g o n a c a s a d e le . o u n o s d e lin q ü e n te s n a to s , q u e lo g o c a e m n a r e in c id ê n c ia .
N um o u tr o d ia , u m c o m p r a d o r q u is a d q u ir ir u m a p r im e ir a
e d iç ã o d a s m a is p r e c io s a s ; e le p r o c u r o u d is s u a d i- lo , m a s o o u tr o
I.
in s is tiu e p a g o u o q u a n to f o i p e d id o . A r r e p e n d e u - s e d e r e p e n te
e f o i a tr á s d o c o m p r a d o r p a r a q u e lh e d e v o lv e s s e o liv r o m a s
e s te r e c u s o u ; m a to u - o a p ó s 1 1 led a r a a b s o lv iç ã o " in e x tr e m is " .

222 223
',;-L

Você também pode gostar